Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
CAPÍTULO XXI - Mensagem de Paz
Foi em uma tarde de outono que cheguei à Dresden, havia conseguido alguns dias de férias e depois de muito hesitar resolvi finalmente voltar à casa de Ana.
Confesso que não reconheci a cidade, que fora castigada duramente pelos bombardeios aliados.
Por toda parte havia euforia e trabalho, na faina de sua reconstrução.
Cheguei quase ao anoitecer e procurei um hotel sem coragem de aparecer a Frau Eva, sem aviso ou sem conhecer-lhe a opinião.
Apesar de tudo, eu temia-lhe o olhar acusador e as palavras amargas, que por certo, como Ludwig, me lançaria em rosto.
À noite, saí, pela cidade e, sem destino, admirava-me da quantidade de casas de diversões que funcionavam, da ruidosa alegria que reinava nos rostos, sem a aparência de um povo vencido e traumatizado.
Surpreendia-me a força de vontade para suplantar a dor e a tragédia, procurando sobreviver e esquecer.
No dia seguinte, pela manhã, mandei uma missiva à Frau Eva, marcando uma entrevista para a tarde daquele mesmo dia, perguntando-lhe se poderia receber-me.
Recomendei ao mensageiro que não voltasse sem resposta.
Foi com nervosismo e ansiedade que aguardei sua volta.
As horas não passavam e a cada minuto minha angústia aumentava.
Finalmente, regressou e indaguei aflito:
— Então?
— Não encontrei a casa, senhor. Não existe mais.
Perguntei, mas ninguém sabe o novo endereço.
Nervoso, tomei a carta que ele me estendia e meti-a no bolso amassando-a com raiva.
Dei uma moeda ao garoto e decidido, chamei um táxi e ordenei ao motorista que rumasse para casa de Ana.
Queria estar ali novamente não me conformava de não poder sequer saber dos detalhes
da tragédia, de visitar-lhes o túmulo, de falar com Frau Eva.
Precisava saber se Ana me havia perdoado.
Parecia-me que se Frau Eva me perdoasse, Ana certamente também me perdoaria.
Sempre solicitara a presença do espírito de Ana nas sessões que assistia.
Nunca ela viera, certamente não me tinha perdoado.
Eu sabia que os espíritos, dos que viveram na Terra, continuam a ser as mesmas pessoas no além da morte, com as mesmas simpatias ou ódios, permanecendo com a mesma personalidade.
Temia o juízo que Ana faria de mim. Se ela vivesse haveria de penetrar meu pensamento, saber da minha sinceridade.
Mas, só o silencio respondia aos meus brados de angústia.
Nem o conforto de rever sua mãe, de saber de seus últimos desejos, me restava.
Desci do táxi um pouco atordoado.
Parecia-me que a rua não era a mesma.
Mas, depois de certo tempo, identifiquei a casa vizinha da de Ana.
Foi em uma tarde de outono que cheguei à Dresden, havia conseguido alguns dias de férias e depois de muito hesitar resolvi finalmente voltar à casa de Ana.
Confesso que não reconheci a cidade, que fora castigada duramente pelos bombardeios aliados.
Por toda parte havia euforia e trabalho, na faina de sua reconstrução.
Cheguei quase ao anoitecer e procurei um hotel sem coragem de aparecer a Frau Eva, sem aviso ou sem conhecer-lhe a opinião.
Apesar de tudo, eu temia-lhe o olhar acusador e as palavras amargas, que por certo, como Ludwig, me lançaria em rosto.
À noite, saí, pela cidade e, sem destino, admirava-me da quantidade de casas de diversões que funcionavam, da ruidosa alegria que reinava nos rostos, sem a aparência de um povo vencido e traumatizado.
Surpreendia-me a força de vontade para suplantar a dor e a tragédia, procurando sobreviver e esquecer.
No dia seguinte, pela manhã, mandei uma missiva à Frau Eva, marcando uma entrevista para a tarde daquele mesmo dia, perguntando-lhe se poderia receber-me.
Recomendei ao mensageiro que não voltasse sem resposta.
Foi com nervosismo e ansiedade que aguardei sua volta.
As horas não passavam e a cada minuto minha angústia aumentava.
Finalmente, regressou e indaguei aflito:
— Então?
— Não encontrei a casa, senhor. Não existe mais.
Perguntei, mas ninguém sabe o novo endereço.
Nervoso, tomei a carta que ele me estendia e meti-a no bolso amassando-a com raiva.
Dei uma moeda ao garoto e decidido, chamei um táxi e ordenei ao motorista que rumasse para casa de Ana.
Queria estar ali novamente não me conformava de não poder sequer saber dos detalhes
da tragédia, de visitar-lhes o túmulo, de falar com Frau Eva.
Precisava saber se Ana me havia perdoado.
Parecia-me que se Frau Eva me perdoasse, Ana certamente também me perdoaria.
Sempre solicitara a presença do espírito de Ana nas sessões que assistia.
Nunca ela viera, certamente não me tinha perdoado.
Eu sabia que os espíritos, dos que viveram na Terra, continuam a ser as mesmas pessoas no além da morte, com as mesmas simpatias ou ódios, permanecendo com a mesma personalidade.
Temia o juízo que Ana faria de mim. Se ela vivesse haveria de penetrar meu pensamento, saber da minha sinceridade.
Mas, só o silencio respondia aos meus brados de angústia.
Nem o conforto de rever sua mãe, de saber de seus últimos desejos, me restava.
Desci do táxi um pouco atordoado.
Parecia-me que a rua não era a mesma.
Mas, depois de certo tempo, identifiquei a casa vizinha da de Ana.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Estava um pouco diferente, reformada, pintada de outra cor, mas era a mesma, Porém, ao lado não mais existia o portão de madeira vermelha.
Aproximei-me.
No lugar da casa graciosa e alegre, havia uma moderna construção que pelo tamanho, pela forma pareceu-me uma fábrica.
Do belo jardim, nada restara.
Só reconheci com um susto, a cerca dos fundos que eu mesmo ajudara a consertar e pintar.
Compreendi que a construção não terminada, me possibilitara ainda a emoção de revê-la.
Passei a mão pela testa como para afastar a dolorosa lembrança.
Permaneci algum tempo em contemplação emocionada.
Depois, animei-me, toquei a sineta.
Um homem em mangas de camisa surgiu na porta do centro.
Aproximei-me:
— Por favor. Preciso de uma informação,
O desconhecido acedeu:
— Pois não, Pode falar.
- Sou parente da família que morava aqui durante a guerra.
Naturalmente sabe para onde foram.
O homem abanou negativamente a cabeça.
— Não. Não sei. Não os conheci.
Aflito insisti:
— Não comprou a casa deles?
- É verdade. Mas o negócio foi feito pelo meu sócio indirecto.
Não sei para onde foram.
Ele ia entrar, mas eu inconformado segurei-o pelo braço.
Favor! É muito importante!
O nome e endereço do sócio.
Talvez ele possa ajudar-me.
Vi que meu interlocutor não era muito prestativo, mas vendo-me aflito deve tê-lo comovido porque declarou: Um momento.
Logo depois voltava com um cartão e ajuntava com ar preocupado.
Aqui está. Por que não procura a casa vizinha?
Os moradores são antigos e certamente poderão ser-lhe úteis.
Quem sabe até conheçam o paradeiro dessa família.
Agradeci sensibilizado. Guardei o cartão e fui bater na casa.
Conhecera Frau Hildegard e embora o receio de ser descoberto me tivesse obrigado a evitar a convivência dos vizinhos, ela era amiga de Frau Eva e vinha muitas tardes tomar chá em nossa saleta, trocando guloseimas caseiras tão a gosto das donas de casa alemãs.
Aproximei-me.
No lugar da casa graciosa e alegre, havia uma moderna construção que pelo tamanho, pela forma pareceu-me uma fábrica.
Do belo jardim, nada restara.
Só reconheci com um susto, a cerca dos fundos que eu mesmo ajudara a consertar e pintar.
Compreendi que a construção não terminada, me possibilitara ainda a emoção de revê-la.
Passei a mão pela testa como para afastar a dolorosa lembrança.
Permaneci algum tempo em contemplação emocionada.
Depois, animei-me, toquei a sineta.
Um homem em mangas de camisa surgiu na porta do centro.
Aproximei-me:
— Por favor. Preciso de uma informação,
O desconhecido acedeu:
— Pois não, Pode falar.
- Sou parente da família que morava aqui durante a guerra.
Naturalmente sabe para onde foram.
O homem abanou negativamente a cabeça.
— Não. Não sei. Não os conheci.
Aflito insisti:
— Não comprou a casa deles?
- É verdade. Mas o negócio foi feito pelo meu sócio indirecto.
Não sei para onde foram.
Ele ia entrar, mas eu inconformado segurei-o pelo braço.
Favor! É muito importante!
O nome e endereço do sócio.
Talvez ele possa ajudar-me.
Vi que meu interlocutor não era muito prestativo, mas vendo-me aflito deve tê-lo comovido porque declarou: Um momento.
Logo depois voltava com um cartão e ajuntava com ar preocupado.
Aqui está. Por que não procura a casa vizinha?
Os moradores são antigos e certamente poderão ser-lhe úteis.
Quem sabe até conheçam o paradeiro dessa família.
Agradeci sensibilizado. Guardei o cartão e fui bater na casa.
Conhecera Frau Hildegard e embora o receio de ser descoberto me tivesse obrigado a evitar a convivência dos vizinhos, ela era amiga de Frau Eva e vinha muitas tardes tomar chá em nossa saleta, trocando guloseimas caseiras tão a gosto das donas de casa alemãs.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Reconheci-a quando abriu a porta.
Mais velha e mais cansada, mas a mesma.
Emocionei-me. Era o primeiro elo com o passado.
Ela olhou-me fixamente e vi que estremeceu.
Assustou-se e fez menção de fechar a porta.
Certamente me reconheceu.
Segurei a maçaneta com força e implorei:
— Por favor, Frau Hildegard, preciso falar-lhe!
Não tenha medo de mim!
Vendo minha atitude humilde a angustiada, ela pareceu mais calma.
— Sua presença assustou-me — disse por fim.
Ando muito nervosa. Ainda não me refiz.
Procurei mostrar-me mais calmo.
— Não desejo assustá-la.
Preciso falar-lhe. Sei que poderá ajudar-me.
A velha senhora olhou-me nos olhos fixamente.
Depois, decidiu-se, abrindo a porta de par em par:
— Está certo. Pode entrar.
Com o coração aos saltos, entrei.
Aceitei a cadeira que me foi oferecida, não porque sentisse cansaço, mas porque a emoção amolecia-me as pernas.
- E então? — perguntei quando a vi sentada à minha frente em expectativa.
— O que deseja de mim? — inquiriu por sua vez.
- Quero notícias de Ana. Preciso saber de tudo.
Um Pouco admirada a velha senhora tornou:
- O que deseja dela? Não chega o mal que lhe fez?
Levantei-me angustiado:
- Não quero que pense assim.
Amo Ana, Sempre a amei.
Casei-me com ela porque a amava com sinceridade.
- Não sei se posso acreditar, A pobrezinha sofreu muito!
Vendo-a mencionar o sofrimento de Ana não me contive:
— O que aconteceu depois que parti?
Pode contar-me?
- Algumas coisas posso.
Entretanto, não creio que deva...
- Duvida da minha sinceridade?
Porque pensa que voltei senão para saber notícias, apesar deter certeza de que ela e Karl estão mortos?
Mais velha e mais cansada, mas a mesma.
Emocionei-me. Era o primeiro elo com o passado.
Ela olhou-me fixamente e vi que estremeceu.
Assustou-se e fez menção de fechar a porta.
Certamente me reconheceu.
Segurei a maçaneta com força e implorei:
— Por favor, Frau Hildegard, preciso falar-lhe!
Não tenha medo de mim!
Vendo minha atitude humilde a angustiada, ela pareceu mais calma.
— Sua presença assustou-me — disse por fim.
Ando muito nervosa. Ainda não me refiz.
Procurei mostrar-me mais calmo.
— Não desejo assustá-la.
Preciso falar-lhe. Sei que poderá ajudar-me.
A velha senhora olhou-me nos olhos fixamente.
Depois, decidiu-se, abrindo a porta de par em par:
— Está certo. Pode entrar.
Com o coração aos saltos, entrei.
Aceitei a cadeira que me foi oferecida, não porque sentisse cansaço, mas porque a emoção amolecia-me as pernas.
- E então? — perguntei quando a vi sentada à minha frente em expectativa.
— O que deseja de mim? — inquiriu por sua vez.
- Quero notícias de Ana. Preciso saber de tudo.
Um Pouco admirada a velha senhora tornou:
- O que deseja dela? Não chega o mal que lhe fez?
Levantei-me angustiado:
- Não quero que pense assim.
Amo Ana, Sempre a amei.
Casei-me com ela porque a amava com sinceridade.
- Não sei se posso acreditar, A pobrezinha sofreu muito!
Vendo-a mencionar o sofrimento de Ana não me contive:
— O que aconteceu depois que parti?
Pode contar-me?
- Algumas coisas posso.
Entretanto, não creio que deva...
- Duvida da minha sinceridade?
Porque pensa que voltei senão para saber notícias, apesar deter certeza de que ela e Karl estão mortos?
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Frau Hildegard soltou pequeno grito de susto:
- Estão mortos?
— Não sabia? — perguntei sentindo a louca esperança de um engano renascer dentro de ruim.
— Não. Não sabia.
Aproximei dela entre angustiado e esperançoso.
— Por favor! Conte-me o que sabe.
Se ela morreu, aqui, na casa, como pode ignorar?
Hildegard olhou-me fixamente e compreendeu toda ânsia que havia em mim, mas, percebi que hesitava.
- Frau Hildegard, por favor!
Que posso dizer para provar minha sinceridade?
Talvez que conhecendo toda a verdade possa ajudar.
Em poucas palavras contei-lhe tudo, e ajuntei:
- Peço-lhe por favor, senhora!
Esqueça a guerra, esqueça tudo o mais, lembre-se de que sou um homem angustiado e ajude-me!
Ela suspirou e pareceu tomar uma resolução.
Começou:
—- Acredito em você. Vou contar-lhe o que sei.
Apesar de você nunca ter sido comunicativo e até parecer que nos evitava, lhe dispensávamos simpatia.
E, a razão é clara, Ana sempre foi muito meiga e a amávamos bastante.
Vendo-a feliz, sentindo-a amada, nos sentíamos contentes.
Muitas vezes, observamos os passeios nocturnos que vocês faziam de mãos dadas, pelo jardim ou pelo parque vizinho.
Temíamos que um casamento nas circunstâncias do seu pudesse trazer-lhe sofrimentos porquanto sua atitude parecia-nos grave.
Mas os dois eram felizes e nós os queríamos muito.
Nunca suspeitamos da sua identidade.
Por isso, quando deu-nos a notícia da sua prisão.
Naquele dia vimos chegar em Frau Eva uma patrulha e, admiramo-nos muito porque quando se foram, Ana sentiu-se doente e Eva veio procurar para um calmante que sempre uso.
Quando perguntei o que acontecia, soube que você tinha sido preso sob suspeita de espionagem, e que Ana cuja cumplicidade era veladamente insinuada sofrera terrível abalo.
Um frio desagradável percorria-me o estômago.
Pobre Ana! Quanto sofrera!
- Daquele dia em diante, começou para a pobre menina horrível sofrimento.
Muitas vezes Eva confessou-me sua dor e sua revolta, Ana foi ao quartel diversas vezes e a última, ao chegar a casa sofreu uma síncope, da qual custamos arrancá-la.
- Estão mortos?
— Não sabia? — perguntei sentindo a louca esperança de um engano renascer dentro de ruim.
— Não. Não sabia.
Aproximei dela entre angustiado e esperançoso.
— Por favor! Conte-me o que sabe.
Se ela morreu, aqui, na casa, como pode ignorar?
Hildegard olhou-me fixamente e compreendeu toda ânsia que havia em mim, mas, percebi que hesitava.
- Frau Hildegard, por favor!
Que posso dizer para provar minha sinceridade?
Talvez que conhecendo toda a verdade possa ajudar.
Em poucas palavras contei-lhe tudo, e ajuntei:
- Peço-lhe por favor, senhora!
Esqueça a guerra, esqueça tudo o mais, lembre-se de que sou um homem angustiado e ajude-me!
Ela suspirou e pareceu tomar uma resolução.
Começou:
—- Acredito em você. Vou contar-lhe o que sei.
Apesar de você nunca ter sido comunicativo e até parecer que nos evitava, lhe dispensávamos simpatia.
E, a razão é clara, Ana sempre foi muito meiga e a amávamos bastante.
Vendo-a feliz, sentindo-a amada, nos sentíamos contentes.
Muitas vezes, observamos os passeios nocturnos que vocês faziam de mãos dadas, pelo jardim ou pelo parque vizinho.
Temíamos que um casamento nas circunstâncias do seu pudesse trazer-lhe sofrimentos porquanto sua atitude parecia-nos grave.
Mas os dois eram felizes e nós os queríamos muito.
Nunca suspeitamos da sua identidade.
Por isso, quando deu-nos a notícia da sua prisão.
Naquele dia vimos chegar em Frau Eva uma patrulha e, admiramo-nos muito porque quando se foram, Ana sentiu-se doente e Eva veio procurar para um calmante que sempre uso.
Quando perguntei o que acontecia, soube que você tinha sido preso sob suspeita de espionagem, e que Ana cuja cumplicidade era veladamente insinuada sofrera terrível abalo.
Um frio desagradável percorria-me o estômago.
Pobre Ana! Quanto sofrera!
- Daquele dia em diante, começou para a pobre menina horrível sofrimento.
Muitas vezes Eva confessou-me sua dor e sua revolta, Ana foi ao quartel diversas vezes e a última, ao chegar a casa sofreu uma síncope, da qual custamos arrancá-la.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Ajudei a socorrê-la e muitas vezes a abracei soluçante.
Sem poder conter-me retruquei:
— Mas eu não queria que ela sofresse.
Eu a amava! Não quis fazer-lhe mal!
— Mas fez! Ela o queria muito.
Confiava em você e em seu amor.
Só a presença do filho conseguiu impedi-la de fazer uma loucura.
Ela conseguiu provar inocência perante o Capitão porque um general muito importante intercedeu em seu favor à instâncias de Frau Eva, sua aparentada.
Mas não era isso que a preocupava.
Quando ela acordou da síncope disse-nos entre lágrimas:
— "Apesar de tudo eu o amo! Seu sofrimento me enlouquece!
Sinto-me a última das mulheres, ele me enganou, serviu-se de mim como de um meio para alcançar seus fins, mas não importa, eu o amo!
— Filha procura esquecer — aconselhou Frau Eva, — Nunca mais você o verá.
Certamente vão matá-lo.
Um espião! Um inimigo da Alemanha!
- Como pode falar assim?
A mim não importa a guerra que enlutou minha juventude.
Não importa o que ele fez, não quero que morra, não quero!"
Emocionado, lutava por deter algumas lágrimas que teimosas afloravam-me aos olhos.
— Pobre Ana! — ajuntei rum suspiro.
— Sim. Pobre Ana.
Não era moça que esquecesse depressa.
Ela ainda nos disse:
"Estive com ele mamãe, Ele disse que me ama.
Eu acredito! Havia tanta sinceridade em seus olhos!
Ele me ama, eu sei.
Não importa se veio fazer de mim um instrumento útil a seus fins.
Isto foi o início.
Depois, eu sei que ele me amou!"
Emocionado pousei a mão no braço de Frau Hildegard:
— A senhora não sabe o conforto que me dá ouvir essas palavras!
Deus a abençoe por isso.
Ela sorriu com ar meio triste e por seus olhos passou um lampejo de ternura.
Sem poder conter-me retruquei:
— Mas eu não queria que ela sofresse.
Eu a amava! Não quis fazer-lhe mal!
— Mas fez! Ela o queria muito.
Confiava em você e em seu amor.
Só a presença do filho conseguiu impedi-la de fazer uma loucura.
Ela conseguiu provar inocência perante o Capitão porque um general muito importante intercedeu em seu favor à instâncias de Frau Eva, sua aparentada.
Mas não era isso que a preocupava.
Quando ela acordou da síncope disse-nos entre lágrimas:
— "Apesar de tudo eu o amo! Seu sofrimento me enlouquece!
Sinto-me a última das mulheres, ele me enganou, serviu-se de mim como de um meio para alcançar seus fins, mas não importa, eu o amo!
— Filha procura esquecer — aconselhou Frau Eva, — Nunca mais você o verá.
Certamente vão matá-lo.
Um espião! Um inimigo da Alemanha!
- Como pode falar assim?
A mim não importa a guerra que enlutou minha juventude.
Não importa o que ele fez, não quero que morra, não quero!"
Emocionado, lutava por deter algumas lágrimas que teimosas afloravam-me aos olhos.
— Pobre Ana! — ajuntei rum suspiro.
— Sim. Pobre Ana.
Não era moça que esquecesse depressa.
Ela ainda nos disse:
"Estive com ele mamãe, Ele disse que me ama.
Eu acredito! Havia tanta sinceridade em seus olhos!
Ele me ama, eu sei.
Não importa se veio fazer de mim um instrumento útil a seus fins.
Isto foi o início.
Depois, eu sei que ele me amou!"
Emocionado pousei a mão no braço de Frau Hildegard:
— A senhora não sabe o conforto que me dá ouvir essas palavras!
Deus a abençoe por isso.
Ela sorriu com ar meio triste e por seus olhos passou um lampejo de ternura.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
— Percebo sua sinceridade Ana tinha razão.
Contudo, naquele dia, não pensávamos assim.
Ela desejava inclusive pedir clemência e ajuda para você.
Foi a custo que conseguimos dissuadi-la.
Só lograria aumentar as suspeitas das S.S. sem nenhum êxito pondo em risco a posição de Ludwig e a própria segurança da família.
A pobre menina sofreu muito quando recebeu a notícia da sua morte.
Tivemos que fazer-lhe companhia dia e noite.
Eu ia muitas horas do dia estar com ela para que Eva descansasse.
A pobre menina lamentava-se muito:
— "Eles o mataram! Maldita guerra.
Envenenou nossas vidas, Um dia ainda pagarão por isso.
Foi a custo que ela conseguiu reiniciar a vida normal.
Era obrigada a trabalhar em uma fábrica de munições.
Acredito que um tal capitão Rudolf a perseguia e sempre desconfiou dela.
Onde quer que fosse sempre era observada discretamente Só encontrava um pouco de alegria e de paz ao lado de Karl, a quem cobria de carinhos e
de beijos.
Disse-me certa vez com lágrimas nos olhos referindo-se ao filho:
— "É bonito e terno como o pai.
Como se amariam se estivessem juntos!"
— Apesar de não concordar muito, calei-me.
Julgava-o morto, Que adiantaria argumentar?
Essa foi nossa vida naquele tempo.
Mas, como sabe, Dresden que tinha sido poupada foi de repente muito visada pelos bombardeios que em massa começaram a acontecer repetindo-se amiúde, destruindo tudo.
Foram momentos de horror e de sofrimento.
Meu marido resolveu ir para o campo e nos mudamos temporariamente para lá, onde permanecemos até o fim da guerra.
Quando regressamos para o Natal de 1945, encontramos a casa de Eva semi-destruída e fechada.
— Então, não sabe o que lhes aconteceu, nem onde estão?
— Infelizmente, não.
Todos os vizinhos partiram como eu e ninguém sabe informar.
Pensei que eles também tivessem fugido.
Contudo, a casa foi vendida.
Sempre quis ter notícias deles.
Não sabe sequer onde estão enterrados os mortos?
Posso ensinar-lhe o cemitério.
Entretanto, naqueles dias, que não sei se encontrará alguma indicação.
Contudo, naquele dia, não pensávamos assim.
Ela desejava inclusive pedir clemência e ajuda para você.
Foi a custo que conseguimos dissuadi-la.
Só lograria aumentar as suspeitas das S.S. sem nenhum êxito pondo em risco a posição de Ludwig e a própria segurança da família.
A pobre menina sofreu muito quando recebeu a notícia da sua morte.
Tivemos que fazer-lhe companhia dia e noite.
Eu ia muitas horas do dia estar com ela para que Eva descansasse.
A pobre menina lamentava-se muito:
— "Eles o mataram! Maldita guerra.
Envenenou nossas vidas, Um dia ainda pagarão por isso.
Foi a custo que ela conseguiu reiniciar a vida normal.
Era obrigada a trabalhar em uma fábrica de munições.
Acredito que um tal capitão Rudolf a perseguia e sempre desconfiou dela.
Onde quer que fosse sempre era observada discretamente Só encontrava um pouco de alegria e de paz ao lado de Karl, a quem cobria de carinhos e
de beijos.
Disse-me certa vez com lágrimas nos olhos referindo-se ao filho:
— "É bonito e terno como o pai.
Como se amariam se estivessem juntos!"
— Apesar de não concordar muito, calei-me.
Julgava-o morto, Que adiantaria argumentar?
Essa foi nossa vida naquele tempo.
Mas, como sabe, Dresden que tinha sido poupada foi de repente muito visada pelos bombardeios que em massa começaram a acontecer repetindo-se amiúde, destruindo tudo.
Foram momentos de horror e de sofrimento.
Meu marido resolveu ir para o campo e nos mudamos temporariamente para lá, onde permanecemos até o fim da guerra.
Quando regressamos para o Natal de 1945, encontramos a casa de Eva semi-destruída e fechada.
— Então, não sabe o que lhes aconteceu, nem onde estão?
— Infelizmente, não.
Todos os vizinhos partiram como eu e ninguém sabe informar.
Pensei que eles também tivessem fugido.
Contudo, a casa foi vendida.
Sempre quis ter notícias deles.
Não sabe sequer onde estão enterrados os mortos?
Posso ensinar-lhe o cemitério.
Entretanto, naqueles dias, que não sei se encontrará alguma indicação.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
- Em todo caso — retruquei desalentado — quero tentar, saber que é verdade, Ana e Karl morreram no bombardeio.
A casa destruída confirma essa versão.
Ana não terá podido abrigar-se.
Prestava serviços ao governo trabalhando na fábrica, Quando nos despedimos.
Que Deus guarde seus passos.
Abracei-a e argumentei:
- A você também. Deus guarde sua casa e todos os seus,"
Foi a última vez que a vi.
Deu-me adeus do portão e parece-me vê-la ainda quando olho ao lado e recordo sua casa alegre e acolhedora.
Nada mais tinha a fazer ali.
Deixei meu cartão com endereço de Paris e escrevi minha direcção em Berlim.
Se souber alguma coisa, — pedi — em qualquer tempo, escreva-me.
Peço-lhe por favor.
Frau Hildegard abraçou-me na despedida.
Compreendera. Era-lhe muito grato por isso.
— Deus a abençoe pelo muito que fez por mim, — considerei, beijando respeitoso a mão enrugada que ela me estendia.
A boa senhora abanou a cabeça enquanto dizia com seriedade:
— Odeio a guerra, monstro destruidor e sangrento que consegue amargar na vitória tanto quanto avilta na derrota.
Quem a estabeleceu e quem a consignou como recurso de patriotismo?
Quem conseguirá apagar o sangue que mancha e afoga os que sobreviveram e quem conseguirá destruir as lembranças, o horror, as atrocidades e a dor?
Quando saí, suas palavras ainda ecoavam-me no coração, Ela tinha razão.
Perdera um filho e diversos parentes nessa luta inglória.
Vira sua pátria destruída e aviltada pela crueldade do fanatismo sanguinário.
Vira-me a mim, vitorioso na guerra, derrotado pela sua força destruidora.
No fim, os governos acertam suas diferenças nos conluios das negociações políticas e seguem lado a lado, e nós, povos sofridos e espoliados nos sentimentos mais caros, quem nos ajudaria a recomeçar?
Apesar de tudo, conseguira saber notícias de Ana e a certeza de que ela me compreendera no desesperado esforço que fizera quando nos encontramos pela última vez, dava-me algum conforto.
Ana não morrera me odiando, não ensinara meu filho a odiar-me.
Revi mentalmente a figura de ambos, como os vira na última vez em casa e a saudade tornou-se-me insuportável.
Fui ao cemitério, apesar do entardecer e qual duende, entre temeroso e incerto, procurei inscrição por inscrição, lápide por lápide, Nada.
Com o coração apertado, voltei ao hotel e apesar do cansaço naquela noite quase não dormi.
No dia imediato, pela manhã, saí, Estava disposto a investigar mais.
Precisava descobrir exactamente tudo quanto acontecera com Ana.
A casa destruída confirma essa versão.
Ana não terá podido abrigar-se.
Prestava serviços ao governo trabalhando na fábrica, Quando nos despedimos.
Que Deus guarde seus passos.
Abracei-a e argumentei:
- A você também. Deus guarde sua casa e todos os seus,"
Foi a última vez que a vi.
Deu-me adeus do portão e parece-me vê-la ainda quando olho ao lado e recordo sua casa alegre e acolhedora.
Nada mais tinha a fazer ali.
Deixei meu cartão com endereço de Paris e escrevi minha direcção em Berlim.
Se souber alguma coisa, — pedi — em qualquer tempo, escreva-me.
Peço-lhe por favor.
Frau Hildegard abraçou-me na despedida.
Compreendera. Era-lhe muito grato por isso.
— Deus a abençoe pelo muito que fez por mim, — considerei, beijando respeitoso a mão enrugada que ela me estendia.
A boa senhora abanou a cabeça enquanto dizia com seriedade:
— Odeio a guerra, monstro destruidor e sangrento que consegue amargar na vitória tanto quanto avilta na derrota.
Quem a estabeleceu e quem a consignou como recurso de patriotismo?
Quem conseguirá apagar o sangue que mancha e afoga os que sobreviveram e quem conseguirá destruir as lembranças, o horror, as atrocidades e a dor?
Quando saí, suas palavras ainda ecoavam-me no coração, Ela tinha razão.
Perdera um filho e diversos parentes nessa luta inglória.
Vira sua pátria destruída e aviltada pela crueldade do fanatismo sanguinário.
Vira-me a mim, vitorioso na guerra, derrotado pela sua força destruidora.
No fim, os governos acertam suas diferenças nos conluios das negociações políticas e seguem lado a lado, e nós, povos sofridos e espoliados nos sentimentos mais caros, quem nos ajudaria a recomeçar?
Apesar de tudo, conseguira saber notícias de Ana e a certeza de que ela me compreendera no desesperado esforço que fizera quando nos encontramos pela última vez, dava-me algum conforto.
Ana não morrera me odiando, não ensinara meu filho a odiar-me.
Revi mentalmente a figura de ambos, como os vira na última vez em casa e a saudade tornou-se-me insuportável.
Fui ao cemitério, apesar do entardecer e qual duende, entre temeroso e incerto, procurei inscrição por inscrição, lápide por lápide, Nada.
Com o coração apertado, voltei ao hotel e apesar do cansaço naquela noite quase não dormi.
No dia imediato, pela manhã, saí, Estava disposto a investigar mais.
Precisava descobrir exactamente tudo quanto acontecera com Ana.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Empresa difícil.
Fui ao departamento de cadastro do serviço de recenseamento alemão, agora sob o controle aliado.
Lá, procedera a um levantamento sobre o número de mortos e desaparecidos, para que pudessem regularizar os registos oficiais.
Trabalho difícil e incompleto.
Lá, descobri que os desaparecidos eram considerados mortos.
Foi com paciência e determinação que procurei notícias de Ana ou de sua família, Nada.
Por dois dias me dediquei a essa tarefa sem obter nenhum resultado.
Não figuravam na lista dos habitantes da cidade.
Senti-me desanimado e cansado.
Afinal, para que procurar?
Sabia que Ana me tinha perdoado, Ela estava morta.
Que mais poderia esperar?
Mas, ao mesmo tempo, sentia necessidade de saber tudo e mesmo muito depois sofrer com ela.
Voltei a Berlim depois de ter saudosamente revisto a cidade, cuja feição bastante modificada na faina da reconstrução, não satisfez minha sede do passado.
Estava exausto e desalentado. Tudo inútil.
À noite, em preces, roguei a Deus a bênção do esquecimento.
Desejava apagar do meu coração aquele passado que me fazia sofrer.
Queria viver em paz, sem carregar o fardo amargo da saudade sem remédio.
Quando mais meu pensamento implorava a Jesus forças para esquecer, o rosto de Ana e de Karl, surgiram-me na memória e a dor recrudesceu dentro de mim.
Ana! gritei num soluço, — venha buscar-me, eu esquecer!
Endurecido pelos sofrimentos e lutas pelas quais passara atirei-me ao leito e sem poder conter-me, pus-me a saber como, adormeci e sonhei.
Com uma bela mulher, amável, cuja fisionomia muito me tocou, levou-me para agradável jardim onde o perfume das flores perfumava o ambiente, despertando-nos delicadas emoções.
Apesar da beleza do lugar, eu estava sombrio, envolvido com as sombras das preocupações inquietantes.
Sentei-me em um banco e a bela senhora, passando-me a mão pela testa com delicadeza disse-me com suave aceno:
Denizarth, não te deixes envolver pelo desânimo e pela falta de confiança em Deus que tudo sabe e determina em nosso favor.
Espera e confia!
Embora tocado pela suavidade, sem poder conter-me, murmurei todos os meus problemas, supliquei notícias de Ana.
Ela, num gesto amoroso, alisou novamente meus cabelos, tornou-se eu fora seu filho muito querido e ajuntou novamente:
— Não te deixes abater nem desanimar.
Principalmente, lembra-te de que Deus é Pai justo e bom. Espera e confia.
Há muitas criaturas que perderam seus pais e muitos entes que estão lacerados pela ruína das mais sérias necessidades e deslizes morais.
Fui ao departamento de cadastro do serviço de recenseamento alemão, agora sob o controle aliado.
Lá, procedera a um levantamento sobre o número de mortos e desaparecidos, para que pudessem regularizar os registos oficiais.
Trabalho difícil e incompleto.
Lá, descobri que os desaparecidos eram considerados mortos.
Foi com paciência e determinação que procurei notícias de Ana ou de sua família, Nada.
Por dois dias me dediquei a essa tarefa sem obter nenhum resultado.
Não figuravam na lista dos habitantes da cidade.
Senti-me desanimado e cansado.
Afinal, para que procurar?
Sabia que Ana me tinha perdoado, Ela estava morta.
Que mais poderia esperar?
Mas, ao mesmo tempo, sentia necessidade de saber tudo e mesmo muito depois sofrer com ela.
Voltei a Berlim depois de ter saudosamente revisto a cidade, cuja feição bastante modificada na faina da reconstrução, não satisfez minha sede do passado.
Estava exausto e desalentado. Tudo inútil.
À noite, em preces, roguei a Deus a bênção do esquecimento.
Desejava apagar do meu coração aquele passado que me fazia sofrer.
Queria viver em paz, sem carregar o fardo amargo da saudade sem remédio.
Quando mais meu pensamento implorava a Jesus forças para esquecer, o rosto de Ana e de Karl, surgiram-me na memória e a dor recrudesceu dentro de mim.
Ana! gritei num soluço, — venha buscar-me, eu esquecer!
Endurecido pelos sofrimentos e lutas pelas quais passara atirei-me ao leito e sem poder conter-me, pus-me a saber como, adormeci e sonhei.
Com uma bela mulher, amável, cuja fisionomia muito me tocou, levou-me para agradável jardim onde o perfume das flores perfumava o ambiente, despertando-nos delicadas emoções.
Apesar da beleza do lugar, eu estava sombrio, envolvido com as sombras das preocupações inquietantes.
Sentei-me em um banco e a bela senhora, passando-me a mão pela testa com delicadeza disse-me com suave aceno:
Denizarth, não te deixes envolver pelo desânimo e pela falta de confiança em Deus que tudo sabe e determina em nosso favor.
Espera e confia!
Embora tocado pela suavidade, sem poder conter-me, murmurei todos os meus problemas, supliquei notícias de Ana.
Ela, num gesto amoroso, alisou novamente meus cabelos, tornou-se eu fora seu filho muito querido e ajuntou novamente:
— Não te deixes abater nem desanimar.
Principalmente, lembra-te de que Deus é Pai justo e bom. Espera e confia.
Há muitas criaturas que perderam seus pais e muitos entes que estão lacerados pela ruína das mais sérias necessidades e deslizes morais.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Ajuda-os o mais que puderes.
Distribui amor e benefícios.
Que possas ver em cada criança órfã o teu filhinho perdido e em cada mulher necessitada, tua amada companheira.
Faz isto e então, um dia, quando menos esperares a felicidade há de sorrir-te novamente.
Senti uma onda suave e delicada, ténue e agradável, invadir-me o ser e logo após acordei.
Toda ânsia passado.
Apenas, restava impávido e triunfante meu amor por Ana.
Porém, estava sereno e refeito.
Lembrei-me do sonho de momentos antes.
Sabia que quando dormimos nosso espírito se desliga do corpo e pode entrar em contacto com os seres espirituais, receber deles ajuda e orientação, conforto e refazimento.
Acontecera comigo.
Tivera já por diversas vezes sonhos e ajuda, mas nunca com tanta lucidez e emoção como aquele.
Tinham se perdido na lembrança restando ao despertar, apenas a agradável sensação de bem-estar.
Mas, esse calara fundo dentro de mim.
Ainda sentia a mão suave daquela doce criatura alisando-me a fronte desalentada.
Recordei uma a uma as palavras ouvidas e reconheci-lhe razão.
Envergonhado do egoísmo que demonstrara pensando só em minha dor quando ao meu redor tantas criaturas sofriam e choravam abandonadas e aflitas, sem arrimo nem consolo.
Prometi a mim mesmo agir de modo diferente.
Não conseguiria esquecer Ana e Karl, mas estenderia esse amor a quantos precisassem da minha ajuda e da minha protecção.
Parecia-me que um novo caminho se abria diante de mim.
Um caminho onde ainda poderia viver e encontrar a paz, até que pudesse ir ter com Ana e Karl, quando Deus me chamasse.
Agradeci a Deus em prece calorosa e depois, emocionado, mas sereno, deitei-me novamente e adormeci.
Voltei a Berlim no dia seguinte.
Estava resolvido a não mais mexer em minha ferida.
Deliberadamente, procurei dar corpo ao projecto de servir de alguma forma e na ajuda aos órfãos de guerra e havia-os em quantidade.
Deliberei prestar alguns serviços voluntário.
Conhecia enfermagem e poderia colaborar onde fosse útil.
Reassumi meu posto e nos dias que se seguiram procurei informar-me quanto às organizações que deveria procurar.
Fui à Cruz Vermelha e apresentando-me à directora, expus-lhe meu desejo de colaborar.
Recebido com entusiasmo por ela, falei do desejo de auxiliar no atendimento aos órfãos.
Imediatamente fui encaminhado com uma carta de apresentação, a uma velha casa que escapara milagrosamente à destruição geral e que fora reparada pelo órgão e abrigava cinquenta crianças das mais variadas idades.
Distribui amor e benefícios.
Que possas ver em cada criança órfã o teu filhinho perdido e em cada mulher necessitada, tua amada companheira.
Faz isto e então, um dia, quando menos esperares a felicidade há de sorrir-te novamente.
Senti uma onda suave e delicada, ténue e agradável, invadir-me o ser e logo após acordei.
Toda ânsia passado.
Apenas, restava impávido e triunfante meu amor por Ana.
Porém, estava sereno e refeito.
Lembrei-me do sonho de momentos antes.
Sabia que quando dormimos nosso espírito se desliga do corpo e pode entrar em contacto com os seres espirituais, receber deles ajuda e orientação, conforto e refazimento.
Acontecera comigo.
Tivera já por diversas vezes sonhos e ajuda, mas nunca com tanta lucidez e emoção como aquele.
Tinham se perdido na lembrança restando ao despertar, apenas a agradável sensação de bem-estar.
Mas, esse calara fundo dentro de mim.
Ainda sentia a mão suave daquela doce criatura alisando-me a fronte desalentada.
Recordei uma a uma as palavras ouvidas e reconheci-lhe razão.
Envergonhado do egoísmo que demonstrara pensando só em minha dor quando ao meu redor tantas criaturas sofriam e choravam abandonadas e aflitas, sem arrimo nem consolo.
Prometi a mim mesmo agir de modo diferente.
Não conseguiria esquecer Ana e Karl, mas estenderia esse amor a quantos precisassem da minha ajuda e da minha protecção.
Parecia-me que um novo caminho se abria diante de mim.
Um caminho onde ainda poderia viver e encontrar a paz, até que pudesse ir ter com Ana e Karl, quando Deus me chamasse.
Agradeci a Deus em prece calorosa e depois, emocionado, mas sereno, deitei-me novamente e adormeci.
Voltei a Berlim no dia seguinte.
Estava resolvido a não mais mexer em minha ferida.
Deliberadamente, procurei dar corpo ao projecto de servir de alguma forma e na ajuda aos órfãos de guerra e havia-os em quantidade.
Deliberei prestar alguns serviços voluntário.
Conhecia enfermagem e poderia colaborar onde fosse útil.
Reassumi meu posto e nos dias que se seguiram procurei informar-me quanto às organizações que deveria procurar.
Fui à Cruz Vermelha e apresentando-me à directora, expus-lhe meu desejo de colaborar.
Recebido com entusiasmo por ela, falei do desejo de auxiliar no atendimento aos órfãos.
Imediatamente fui encaminhado com uma carta de apresentação, a uma velha casa que escapara milagrosamente à destruição geral e que fora reparada pelo órgão e abrigava cinquenta crianças das mais variadas idades.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Impressionei-me.
Apesar das cores claras e alegres das paredes e dos pertences pintados com amor, as crianças eram em grande maioria quietas e tranquilas.
Havia-os bem pequenos, entretanto, o silêncio e a quietude não me fazia sentir que visitava um lar infantil.
Falei sobre isso com a voluntária que me conduzia, mostrando-me as dependências da casa, uma senhora agradável e tranquila.
— Eu também me senti como o senhor quando vim pela primeira vez.
Mas temos que compreender que eles passaram por emoções terríveis.
Muitos que estão tranquilos e quietos, têm horríveis pesadelos nocturnos.
Vários viram seus pais mortos, seus lares destruídos.
Ainda não se recuperaram.
Precisam de amor, tanto quanto de alimentos e roupas.
Não compreendem o porque da tragédia.
Na sua inocência, nem sequer sabem o que lhes aconteceu.
Espelham o resultado nefando da irresponsabilidade daqueles que fomentam e criam a guerra.
Vítimas inocentes da maldade dos homens.
Senti-me comovido.
Aproximei-me de um menino que a um canto folheava uma revista sem muito interesse.
Vendo-nos chegar, levantou-se em atitude respeitosa, Era louro e franzino, aparentava 6 a 7 anos.
— Como é o seu nome? — inquiri.
— Hans — respondeu-me com polidez.
— Quantos anos tem?
- 8 anos — tornou ele com voz tranquila.
Minha acompanhante abraçou-o com carinho dizendo-lhe:
— Este é o senhor Denizarth, Veio visitar-nos, Deseja fazer parte da nossa família.
O menino volveu os olhos com repentino interesse e perguntou:
— Seus pais também morreram na guerra?
Senti-me tocado de emoção.
— Venha aqui, sente-se a meu lado.
Vamos conversar.
Quando o vi observando-me com interesse, seus pequenos olhos azuis, compreensivos e adultos, tive vergonha profunda de ter sido soldado.
De ter matado tantos pais de meninos como aquele.
A custo pude dominar-me e dizer:
— Não. Hans. Meus pais não morreram na guerra.
Mas, também perdi pessoas a quem amava tanto quanto a eles e que me deixaram órfão como você.
Perdi minha esposa a quem muito amava e um filho como você.
Se fosse vivo teria quase a sua idade.
Apesar das cores claras e alegres das paredes e dos pertences pintados com amor, as crianças eram em grande maioria quietas e tranquilas.
Havia-os bem pequenos, entretanto, o silêncio e a quietude não me fazia sentir que visitava um lar infantil.
Falei sobre isso com a voluntária que me conduzia, mostrando-me as dependências da casa, uma senhora agradável e tranquila.
— Eu também me senti como o senhor quando vim pela primeira vez.
Mas temos que compreender que eles passaram por emoções terríveis.
Muitos que estão tranquilos e quietos, têm horríveis pesadelos nocturnos.
Vários viram seus pais mortos, seus lares destruídos.
Ainda não se recuperaram.
Precisam de amor, tanto quanto de alimentos e roupas.
Não compreendem o porque da tragédia.
Na sua inocência, nem sequer sabem o que lhes aconteceu.
Espelham o resultado nefando da irresponsabilidade daqueles que fomentam e criam a guerra.
Vítimas inocentes da maldade dos homens.
Senti-me comovido.
Aproximei-me de um menino que a um canto folheava uma revista sem muito interesse.
Vendo-nos chegar, levantou-se em atitude respeitosa, Era louro e franzino, aparentava 6 a 7 anos.
— Como é o seu nome? — inquiri.
— Hans — respondeu-me com polidez.
— Quantos anos tem?
- 8 anos — tornou ele com voz tranquila.
Minha acompanhante abraçou-o com carinho dizendo-lhe:
— Este é o senhor Denizarth, Veio visitar-nos, Deseja fazer parte da nossa família.
O menino volveu os olhos com repentino interesse e perguntou:
— Seus pais também morreram na guerra?
Senti-me tocado de emoção.
— Venha aqui, sente-se a meu lado.
Vamos conversar.
Quando o vi observando-me com interesse, seus pequenos olhos azuis, compreensivos e adultos, tive vergonha profunda de ter sido soldado.
De ter matado tantos pais de meninos como aquele.
A custo pude dominar-me e dizer:
— Não. Hans. Meus pais não morreram na guerra.
Mas, também perdi pessoas a quem amava tanto quanto a eles e que me deixaram órfão como você.
Perdi minha esposa a quem muito amava e um filho como você.
Se fosse vivo teria quase a sua idade.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Vendo-me tão emocionado, o menino, em um gesto muito particular tomou minha mão entre as suas apertando-as com força.
— Você estava com eles?
— Não — respondi num sussurro,
— Não tenha medo. Logo achará outro filho para cuidar.
Existem muitos que se sentem só.
Vendo o ar patético do menino procurei sair do assunto traumatizante:
— Pois por isso estou aqui.
Espero que seja meu amigo.
Juntos poderemos afastar de nós a tristeza e a solidão.
- Quero muito ser meu amigo e ajudar-me a sentir menos só - disse-me ele apertando-me a mão com desenvoltura.
Meu coração começou a bater forte.
Como seria bom se fosse meu filho — pedi — apresente-me aos seus amigos.
Fiquei por duas horas naquela casa singular e quando ia me um pouco chocado.
Fizera amizade com diversos meninos e meninas, nas duas alas da casa, mas o encontro face a face com uma realidade que desconhecia tornava-me um pouco alentado.
Seriam esses meninos recalcados e sofridos, amadurecidos na tragédia e na dor tão prematuramente?
Teriam condições de sobreviver emocionalmente e enfrentar a luta do dia à dia?
A revolta dominou-me o coração.
Contra quem? Não sabia, os homens talvez que estabeleceram guerras e destruição.
Aqueles rostinhos sérios e adultos não me saíam da mente, que podia fazer por eles?
Pensei em Gisele.
Sempre que tinha um problema desabafava com ela.
Naquele mesmo dia, escrevi-lhe longa carta extravasando meu desânimo e minha angústia, sentindo-me incapaz de os fazer novamente felizes.
Alguns dias depois veio a resposta.
Como sempre, minha irmã assistia-me com seu carinho.
Sua carta fez-me grande bem, principalmente num trecho que dizia o seguinte:
- "Não se martirize por algo que não tem remédio e cuja culpa não lhe cabe.
Se Deus os colocou em seu caminho, foi para que você os ame e os ajude.
O amor é a grande força reparadora das chagas da nossa alma e é com ele que apagamos todos os erros e sofrimentos.
A situação ai está. Você não a criou.
Mas, lembre-se também, que o importante é amar e ser amado.
Seja para eles o pai que perderam e eles cedo se transformarão no filho que você perdeu.
Os laços consanguíneos não devem representar obstáculo ao nosso amor, pois eles são frágeis e passageiros.
— Você estava com eles?
— Não — respondi num sussurro,
— Não tenha medo. Logo achará outro filho para cuidar.
Existem muitos que se sentem só.
Vendo o ar patético do menino procurei sair do assunto traumatizante:
— Pois por isso estou aqui.
Espero que seja meu amigo.
Juntos poderemos afastar de nós a tristeza e a solidão.
- Quero muito ser meu amigo e ajudar-me a sentir menos só - disse-me ele apertando-me a mão com desenvoltura.
Meu coração começou a bater forte.
Como seria bom se fosse meu filho — pedi — apresente-me aos seus amigos.
Fiquei por duas horas naquela casa singular e quando ia me um pouco chocado.
Fizera amizade com diversos meninos e meninas, nas duas alas da casa, mas o encontro face a face com uma realidade que desconhecia tornava-me um pouco alentado.
Seriam esses meninos recalcados e sofridos, amadurecidos na tragédia e na dor tão prematuramente?
Teriam condições de sobreviver emocionalmente e enfrentar a luta do dia à dia?
A revolta dominou-me o coração.
Contra quem? Não sabia, os homens talvez que estabeleceram guerras e destruição.
Aqueles rostinhos sérios e adultos não me saíam da mente, que podia fazer por eles?
Pensei em Gisele.
Sempre que tinha um problema desabafava com ela.
Naquele mesmo dia, escrevi-lhe longa carta extravasando meu desânimo e minha angústia, sentindo-me incapaz de os fazer novamente felizes.
Alguns dias depois veio a resposta.
Como sempre, minha irmã assistia-me com seu carinho.
Sua carta fez-me grande bem, principalmente num trecho que dizia o seguinte:
- "Não se martirize por algo que não tem remédio e cuja culpa não lhe cabe.
Se Deus os colocou em seu caminho, foi para que você os ame e os ajude.
O amor é a grande força reparadora das chagas da nossa alma e é com ele que apagamos todos os erros e sofrimentos.
A situação ai está. Você não a criou.
Mas, lembre-se também, que o importante é amar e ser amado.
Seja para eles o pai que perderam e eles cedo se transformarão no filho que você perdeu.
Os laços consanguíneos não devem representar obstáculo ao nosso amor, pois eles são frágeis e passageiros.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Quantos há que vivendo no mesmo lar não se estimam como irmãos?
A vida na Terra é efémera e embora a família corpórea seja bênção de Deus, nossos laços de amor devem subrepor-se a eles na extravasação dos nossos sentimentos, Mas, podemos tentar.
Quando deixamos a Terra, os laços consanguíneos desaparecem, prevalecendo na vida espiritual e eterna os elos da afinidade e do amor.
Deus o abençoe, irmão querido, nessa tarefa nova.
Persevere. Esteja com eles sempre que possa.
Dê-lhes amor, carinho, alegria.
Não estamos na Terra para julgar, mas para dar o nosso testemunho no aprendizado constante, Estou orgulhosa de você.
Não deixe que o egoísmo estabeleça barreiras convencionais.
Procure ver em cada orfãozinho o seu filho.
Dê-lhes amor, e Deus fará o resto."
Senti-me sereno, Gisele tinha razão.
Era egoísmo querer amar Karl, apenas porque nascera do meu sangue.
As outras crianças não eram iguais a ele?
Não tinham as mesmas necessidades de amor e segurança?
Percebi que estivera cego.
O preconceito e o personalismo não me fizeram enxergar bem o que Deus esperava de mim, Mas, agora eu sabia.
Sabia e haveria de prosseguir.
Desde esse dia, dediquei-me de corpo e alma aos órfãos.
Sempre que dispunha de algumas horas, ia àquela casa, procurando integrar-me no trabalho de assistência e de amor que se pretendia realizar.
Quis integrar-me no trabalho útil e desempenhei as mais variadas tarefas.
Colaborava na enfermagem no pequeno ambulatório. Ministrava-lhes aulas de diversas disciplinas escolares.
Auxiliava com entusiasmo nas actividades recreativas.
Quando podia, assistia ao culto religioso que o Pastor Evangélico ministrava, de quando em quando.
Aos poucos, fui conhecendo-os um a um, observando-lhes os dramas, as mágoas, os traumas e meu amor por eles aumentava dia a dia.
Talvez porque sentissem minha necessidade de amor, ou porque também a sentissem dentro de si, agarraram-se a mim com ternura e confiança.
Aos poucos, fui sentindo que me queriam bem, que me confiavam seus problemas e suas incertezas, que se apoiavam em mim com segurança e ternura.
Essa convivência alterou completamente o rumo da minha vida.
Quando os via acercarem-se de mim, com a mão buscando a minha e o rostinho ansioso desfeito em lágrimas, uma onda de calor aquecia-me o coração.
Abraçava-os, conversávamos e olhos nos olhos, eu procurava a cada dia devolver lhes a confiança em Deus, na sua bondade, nos homens e em si mesmos.
A tragédia deixara marcas profundas naqueles coraçõezinhos imaturos.
Muitas vezes, procurei na prece e no silêncio, enquanto esperavam a palavra certa no momento exacto.
A vida na Terra é efémera e embora a família corpórea seja bênção de Deus, nossos laços de amor devem subrepor-se a eles na extravasação dos nossos sentimentos, Mas, podemos tentar.
Quando deixamos a Terra, os laços consanguíneos desaparecem, prevalecendo na vida espiritual e eterna os elos da afinidade e do amor.
Deus o abençoe, irmão querido, nessa tarefa nova.
Persevere. Esteja com eles sempre que possa.
Dê-lhes amor, carinho, alegria.
Não estamos na Terra para julgar, mas para dar o nosso testemunho no aprendizado constante, Estou orgulhosa de você.
Não deixe que o egoísmo estabeleça barreiras convencionais.
Procure ver em cada orfãozinho o seu filho.
Dê-lhes amor, e Deus fará o resto."
Senti-me sereno, Gisele tinha razão.
Era egoísmo querer amar Karl, apenas porque nascera do meu sangue.
As outras crianças não eram iguais a ele?
Não tinham as mesmas necessidades de amor e segurança?
Percebi que estivera cego.
O preconceito e o personalismo não me fizeram enxergar bem o que Deus esperava de mim, Mas, agora eu sabia.
Sabia e haveria de prosseguir.
Desde esse dia, dediquei-me de corpo e alma aos órfãos.
Sempre que dispunha de algumas horas, ia àquela casa, procurando integrar-me no trabalho de assistência e de amor que se pretendia realizar.
Quis integrar-me no trabalho útil e desempenhei as mais variadas tarefas.
Colaborava na enfermagem no pequeno ambulatório. Ministrava-lhes aulas de diversas disciplinas escolares.
Auxiliava com entusiasmo nas actividades recreativas.
Quando podia, assistia ao culto religioso que o Pastor Evangélico ministrava, de quando em quando.
Aos poucos, fui conhecendo-os um a um, observando-lhes os dramas, as mágoas, os traumas e meu amor por eles aumentava dia a dia.
Talvez porque sentissem minha necessidade de amor, ou porque também a sentissem dentro de si, agarraram-se a mim com ternura e confiança.
Aos poucos, fui sentindo que me queriam bem, que me confiavam seus problemas e suas incertezas, que se apoiavam em mim com segurança e ternura.
Essa convivência alterou completamente o rumo da minha vida.
Quando os via acercarem-se de mim, com a mão buscando a minha e o rostinho ansioso desfeito em lágrimas, uma onda de calor aquecia-me o coração.
Abraçava-os, conversávamos e olhos nos olhos, eu procurava a cada dia devolver lhes a confiança em Deus, na sua bondade, nos homens e em si mesmos.
A tragédia deixara marcas profundas naqueles coraçõezinhos imaturos.
Muitas vezes, procurei na prece e no silêncio, enquanto esperavam a palavra certa no momento exacto.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Deus que sempre colocou em meus lábios uma boa solução do problema para eles, era conciliar tudo o que tinham vivido, com a bondade de Deus.
Muitos chegavam a perguntar onde estava Deus quando seus pais foram mortos diante de olhos esbugalhados e aflitos.
A criança tem uma noção de justiça muito mais objectiva que o adulto que a desvirtua de acordo com a malícia no modismo dos seus interesses pessoais.
A resposta era para uns difícil.
Foi então, que quase sem pensar, falei-lhes da lei divina, da reencarnação, da existência da vida após à morte.
Conhecimento obtido quanto lera sobre o Espiritismo, todas as palestras que tivera com papai e com Gisele sobre esse assunto, afloravam-me a mente nas explicações que dava aos meninos, queridos filhos do coração.
Os resultados foram surpreendentes. Tão surpreendentes que emocionado escrevi à minha irmã pedindo-lhe que me enviasse livros a respeito.
O ano passou depressa.
Surpreendido e emocionado compreendi que encontrara um motivo para viver.
Sentia-me útil e querido. Necessário e amado.
Não podia abandoná-los regressando a Paris.
Por isso, escrevi a alguns amigos influentes que me garantiram a permanência em Berlim o tempo que quisesse.
Aliás, meus superiores estavam muito satisfeitos com o exercício do meu cargo e sentiram-se contentes por eu desejar exercê-lo por mais tempo.
Era um cargo em que a maioria não gostava de permanecer longe da pátria.
Por isso, havia o revezamento.
Meu desejo vinha ao encontro dos seus próprios interesses.
Assim fui ficando.
Aos poucos percebi que precisava fazer algo mais por eles.
Embora os amasse muito, eles precisavam de um lar.
O lar é o esteio para o seu desenvolvimento, Estabelece condições de segurança e equilíbrio que nenhum outro ambiente pode dar.
Pensei também nos pais, sozinhos, órfãos de filhos que a guerra brutalmente também levou Eu encontrara a paz e calor, motivação e alegria, entre eles, por que não ensinar-lhes o caminho?
Falei com a direcção da casa que entusiasticamente me incentivou.
Elas procuravam fazer esse trabalho, mas com pouco sucesso.
Os pais eram muito mais intransigentes do que as crianças.
Fechavam em seu coração a imagem do filho morto e procuravam viver na mórbida memorização da sua lembrança, e se recusavam egoisticamente a receber outros filhos no coração, como se aqueles que tinham partido pudessem ser menos amados por isso.
Parecia-lhe falta de amor ao seu ente querido, extravasar o coração a outro ente solitário e triste.
Constatei que o egoísmo é o grande entrave à felicidade humana.
Resolvi lutar. Dediquei-me a esse trabalho com sinceridade e esforço.
Muitos chegavam a perguntar onde estava Deus quando seus pais foram mortos diante de olhos esbugalhados e aflitos.
A criança tem uma noção de justiça muito mais objectiva que o adulto que a desvirtua de acordo com a malícia no modismo dos seus interesses pessoais.
A resposta era para uns difícil.
Foi então, que quase sem pensar, falei-lhes da lei divina, da reencarnação, da existência da vida após à morte.
Conhecimento obtido quanto lera sobre o Espiritismo, todas as palestras que tivera com papai e com Gisele sobre esse assunto, afloravam-me a mente nas explicações que dava aos meninos, queridos filhos do coração.
Os resultados foram surpreendentes. Tão surpreendentes que emocionado escrevi à minha irmã pedindo-lhe que me enviasse livros a respeito.
O ano passou depressa.
Surpreendido e emocionado compreendi que encontrara um motivo para viver.
Sentia-me útil e querido. Necessário e amado.
Não podia abandoná-los regressando a Paris.
Por isso, escrevi a alguns amigos influentes que me garantiram a permanência em Berlim o tempo que quisesse.
Aliás, meus superiores estavam muito satisfeitos com o exercício do meu cargo e sentiram-se contentes por eu desejar exercê-lo por mais tempo.
Era um cargo em que a maioria não gostava de permanecer longe da pátria.
Por isso, havia o revezamento.
Meu desejo vinha ao encontro dos seus próprios interesses.
Assim fui ficando.
Aos poucos percebi que precisava fazer algo mais por eles.
Embora os amasse muito, eles precisavam de um lar.
O lar é o esteio para o seu desenvolvimento, Estabelece condições de segurança e equilíbrio que nenhum outro ambiente pode dar.
Pensei também nos pais, sozinhos, órfãos de filhos que a guerra brutalmente também levou Eu encontrara a paz e calor, motivação e alegria, entre eles, por que não ensinar-lhes o caminho?
Falei com a direcção da casa que entusiasticamente me incentivou.
Elas procuravam fazer esse trabalho, mas com pouco sucesso.
Os pais eram muito mais intransigentes do que as crianças.
Fechavam em seu coração a imagem do filho morto e procuravam viver na mórbida memorização da sua lembrança, e se recusavam egoisticamente a receber outros filhos no coração, como se aqueles que tinham partido pudessem ser menos amados por isso.
Parecia-lhe falta de amor ao seu ente querido, extravasar o coração a outro ente solitário e triste.
Constatei que o egoísmo é o grande entrave à felicidade humana.
Resolvi lutar. Dediquei-me a esse trabalho com sinceridade e esforço.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Começou então para mim uma luta hercúlea e sem tréguas.
O primeiro passo era a convivência.
A criança encanta e pela sua espontaneidade dificilmente poderá ser substituída pelos nossos argumentos.
Por isso, de início, resolvi aproximá-los.
Os pais solitários e tristes e os órfãos expectantes e mudos do nosso carinho e do nosso amor.
Não era tarefa fácil.
Os pais solidário fechavam-se no mutismo da dor fugindo ao convívio com seu semelhante.
Determinei iniciar meu esforço corajosamente.
Fui ao Bureau de recenseamento e procurei fazer um levantamento das famílias cujos membros haviam morrido na guerra.
Para isso, contei com o auxílio de alguns companheiros de trabalho que espontaneamente decidiram-se a colaborar comigo.
Uma semana depois tinha em mãos uma lista extensa e precisa, inclusive com dados pessoais completos.
Esse recenseamento meticuloso e detalhado foi a forma que o governo encontrou para actualizar os registos civis e as baixas.
Esse trabalho, para minha alegria, forneceu-me largo campo de acção.
Em reunião com a direcção da casa dos órfãos, estabelecemos um plano de acção.
Daríamos uma festa beneficente, com apresentação de programa artístico e cultural e convidávamos essas famílias relacionadas.
Fiquei incumbido de visitá-los pessoalmente, um por um, a fim de levar-lhes nosso amoroso convite.
Dispunha para isso de dois meses de prazo e como havia muitos nomes na lista, já no dia imediato iniciei meu trabalho.
Fui acompanhado por Berta, companheira dedicada e excelente voluntária da Cruz Vermelha.
A bem da verdade, devo dizer que ao preparar-me para a primeira visita, meu coração batia descompassado enquanto que um vazio no estômago provocava certo mal-estar.
Queríamos dar àqueles órfãos um lar feliz.
As famílias precisavam ser detalhadamente observadas e estudadas.
Desse dia em diante, Berta e eu passamos a viver praticamente em função do nosso programa de acção.
Tivemos momentos de emoções e de angústia, de entusiasmo e de euforia.
Berta era uma moça suave e prática. Dedicada e bondosa mas não conhecia nada sobre a vida espiritual e sobre a existência dos espíritos.
Em virtude das circunstâncias, sempre que fazíamos nossas visitas, havia oportunidade de falar sobre a sobrevivência do espírito, sobre a justiça de Deus através da reencarnação e nossa necessidade de progresso moral.
Ela permanecia muito quieta e pensativa enquanto eu procurava confortar aqueles corações amargurados, buscando reacender neles a chama da fé e da confiança em dias melhores, e na bondade infinita de Deus.
O conceito era novo para eles mas, apesar disso, surpreendentemente, muitos compreenderam e reforçaram meus argumentos, contando casos ocorridos com eles ou com membros de suas famílias, onde a manifestação dos espíritos era evidente.
Interessante notar, que eu, que fora distribuir fé e consolação recebera deles testemunhos incontestes da sobrevivência do espírito que me emocionaram e aqueceram o coração.
O primeiro passo era a convivência.
A criança encanta e pela sua espontaneidade dificilmente poderá ser substituída pelos nossos argumentos.
Por isso, de início, resolvi aproximá-los.
Os pais solitários e tristes e os órfãos expectantes e mudos do nosso carinho e do nosso amor.
Não era tarefa fácil.
Os pais solidário fechavam-se no mutismo da dor fugindo ao convívio com seu semelhante.
Determinei iniciar meu esforço corajosamente.
Fui ao Bureau de recenseamento e procurei fazer um levantamento das famílias cujos membros haviam morrido na guerra.
Para isso, contei com o auxílio de alguns companheiros de trabalho que espontaneamente decidiram-se a colaborar comigo.
Uma semana depois tinha em mãos uma lista extensa e precisa, inclusive com dados pessoais completos.
Esse recenseamento meticuloso e detalhado foi a forma que o governo encontrou para actualizar os registos civis e as baixas.
Esse trabalho, para minha alegria, forneceu-me largo campo de acção.
Em reunião com a direcção da casa dos órfãos, estabelecemos um plano de acção.
Daríamos uma festa beneficente, com apresentação de programa artístico e cultural e convidávamos essas famílias relacionadas.
Fiquei incumbido de visitá-los pessoalmente, um por um, a fim de levar-lhes nosso amoroso convite.
Dispunha para isso de dois meses de prazo e como havia muitos nomes na lista, já no dia imediato iniciei meu trabalho.
Fui acompanhado por Berta, companheira dedicada e excelente voluntária da Cruz Vermelha.
A bem da verdade, devo dizer que ao preparar-me para a primeira visita, meu coração batia descompassado enquanto que um vazio no estômago provocava certo mal-estar.
Queríamos dar àqueles órfãos um lar feliz.
As famílias precisavam ser detalhadamente observadas e estudadas.
Desse dia em diante, Berta e eu passamos a viver praticamente em função do nosso programa de acção.
Tivemos momentos de emoções e de angústia, de entusiasmo e de euforia.
Berta era uma moça suave e prática. Dedicada e bondosa mas não conhecia nada sobre a vida espiritual e sobre a existência dos espíritos.
Em virtude das circunstâncias, sempre que fazíamos nossas visitas, havia oportunidade de falar sobre a sobrevivência do espírito, sobre a justiça de Deus através da reencarnação e nossa necessidade de progresso moral.
Ela permanecia muito quieta e pensativa enquanto eu procurava confortar aqueles corações amargurados, buscando reacender neles a chama da fé e da confiança em dias melhores, e na bondade infinita de Deus.
O conceito era novo para eles mas, apesar disso, surpreendentemente, muitos compreenderam e reforçaram meus argumentos, contando casos ocorridos com eles ou com membros de suas famílias, onde a manifestação dos espíritos era evidente.
Interessante notar, que eu, que fora distribuir fé e consolação recebera deles testemunhos incontestes da sobrevivência do espírito que me emocionaram e aqueceram o coração.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Encontrei também os pessimistas, os desesperados, os cépticos.
Não desanimei. Procurei plantar minha semente.
A cada um relatei meu caso particular, falando-lhe da perda da esposa e do filho querido. Dos sofrimentos e da solidão.
Do conforto e da alegria que encontrara naquele lar colectivo.
Não entrei em detalhes íntimos, mas procurei dar-lhes a minha experiência, meu exemplo, no desejo de que como eu pudessem renascer para a vida e sentir novamente o prazer de viver.
Fui compreendido e abençoado por muitas mães comovidas, mas não era esse o meu objectivo.
Por isso, sob emoção e amizade, procurei interessá-los em nossa festa, Pedi-lhes que levassem bolos ou doces à guisa de colaboração.
O tempo foi passando, tão rápido que eu não sentia, surpreendi-me quando percebi que faltavam apenas oito dias para nossa festa.
As crianças estavam mais animadas com as perspectivas do espectáculo cuja primeira parte seria dada pelas próprias crianças e a segunda teria a participação de alguns artistas norte-americanos que a Cruz Vermelha conseguira convidar.
Programamos tudo para que sobrasse tempo entre um espectáculo e outro para que as famílias pudessem conversar com as crianças.
Havíamos marcado para as 14 horas em um domingo e as 13,30 algumas famílias começaram a chegar.
Eram conduzidas a uma sala onde algumas das nossas voluntárias procuravam entretê-los prestando-lhes os esclarecimentos solicitados.
Às 14,30 horas já havia pelo menos uns 10 casais, dos lares que nós visitáramos.
Fiquei comovido, Nossa directora saúdo-os agradecendo a presença com palavras simples e amigas.
Teceu comentários sobre o doloroso drama daquelas crianças e pediu-lhes com voz comovida que procurassem olhá-las com amor.
Pensem senhores, terminou ela — que se Deus os tivesse escolhido para levar ao invés dos vossos filhos, seriam eles que agora estaria aqui.
Solitários e tristes.
Vi que algumas senhoras, enxugaram uma lágrima e em meu coração acendeu-se alentadora, a chama da esperança.
Após as palavras amorosas da nossa directora, passamos ao pequeno salão onde o palco graciosamente arrumado convidava todos para a festa singela.
Talvez tenha me sentido emocionado porque o meu trabalho começava a existir, a florescer, abençoados frutos.
E possível que os bons espíritos procurando enternecer nossos corações para que pudessem aconchegar-se a um novo lar.
O certo é que havia um lastro de emoção incontida e de que a impressão de que muitos dos pais que estavam naquele instante, romperam a barreira rija do egoísmo e que sua dor não era nem a única, nem a maior.
As coisas se desenrolaram-se normalmente.
Conforme prevista, tímida a parte infantil do programa, nossos filhos do coração misturavam-se aos visitantes.
Tímidos e inibidos, mas algumas senhoras os procuraram e buscavam ideias travando relações.
O tempo passou rápido e no fim da tarde os casais foram se retirando, muitos deles nova visita, uns para trazer um livro, outros um brinquedo ou um objecto de uso pessoal, para seus novos amiguinhos.
Quando tudo terminou e reuni-me com Berta às nossas companheiras, a directora, com olhos brilhantes disse:
Graças a Deus, tudo correu bem.
Não desanimei. Procurei plantar minha semente.
A cada um relatei meu caso particular, falando-lhe da perda da esposa e do filho querido. Dos sofrimentos e da solidão.
Do conforto e da alegria que encontrara naquele lar colectivo.
Não entrei em detalhes íntimos, mas procurei dar-lhes a minha experiência, meu exemplo, no desejo de que como eu pudessem renascer para a vida e sentir novamente o prazer de viver.
Fui compreendido e abençoado por muitas mães comovidas, mas não era esse o meu objectivo.
Por isso, sob emoção e amizade, procurei interessá-los em nossa festa, Pedi-lhes que levassem bolos ou doces à guisa de colaboração.
O tempo foi passando, tão rápido que eu não sentia, surpreendi-me quando percebi que faltavam apenas oito dias para nossa festa.
As crianças estavam mais animadas com as perspectivas do espectáculo cuja primeira parte seria dada pelas próprias crianças e a segunda teria a participação de alguns artistas norte-americanos que a Cruz Vermelha conseguira convidar.
Programamos tudo para que sobrasse tempo entre um espectáculo e outro para que as famílias pudessem conversar com as crianças.
Havíamos marcado para as 14 horas em um domingo e as 13,30 algumas famílias começaram a chegar.
Eram conduzidas a uma sala onde algumas das nossas voluntárias procuravam entretê-los prestando-lhes os esclarecimentos solicitados.
Às 14,30 horas já havia pelo menos uns 10 casais, dos lares que nós visitáramos.
Fiquei comovido, Nossa directora saúdo-os agradecendo a presença com palavras simples e amigas.
Teceu comentários sobre o doloroso drama daquelas crianças e pediu-lhes com voz comovida que procurassem olhá-las com amor.
Pensem senhores, terminou ela — que se Deus os tivesse escolhido para levar ao invés dos vossos filhos, seriam eles que agora estaria aqui.
Solitários e tristes.
Vi que algumas senhoras, enxugaram uma lágrima e em meu coração acendeu-se alentadora, a chama da esperança.
Após as palavras amorosas da nossa directora, passamos ao pequeno salão onde o palco graciosamente arrumado convidava todos para a festa singela.
Talvez tenha me sentido emocionado porque o meu trabalho começava a existir, a florescer, abençoados frutos.
E possível que os bons espíritos procurando enternecer nossos corações para que pudessem aconchegar-se a um novo lar.
O certo é que havia um lastro de emoção incontida e de que a impressão de que muitos dos pais que estavam naquele instante, romperam a barreira rija do egoísmo e que sua dor não era nem a única, nem a maior.
As coisas se desenrolaram-se normalmente.
Conforme prevista, tímida a parte infantil do programa, nossos filhos do coração misturavam-se aos visitantes.
Tímidos e inibidos, mas algumas senhoras os procuraram e buscavam ideias travando relações.
O tempo passou rápido e no fim da tarde os casais foram se retirando, muitos deles nova visita, uns para trazer um livro, outros um brinquedo ou um objecto de uso pessoal, para seus novos amiguinhos.
Quando tudo terminou e reuni-me com Berta às nossas companheiras, a directora, com olhos brilhantes disse:
Graças a Deus, tudo correu bem.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Parece que conseguimos aproximá-los de nossos meninos. Confesso que organizando esse programa, que em tão boa hora nosso Denizarth idealizou, tinha em mente apenas os benefícios às nossas crianças.
Pelo muito que vivi, pelas experiências que tive, não podia estar optimista quanto à dedicação dos adultos, encastelados no seu egoísmo e na indiferença.
Entretanto, no decorrer da nossa festinha, pude observar comovida, o enternecimento dos nossos visitantes e considero que mesmo que eles não ofereçam seus lares aos nossos meninos, nos apoiarão e o que é importante, humanizarão seus espíritos endurecidos na dor e na angústia.
Agradeço a Berta e a Denizarth o imenso trabalho e a dedicação e a todos que colaboraram o meu muito obrigada.
Que Deus os abençoe.
Nos olhos azuis da directora brilhava uma lágrima.
Cedendo a um impulso incontrolável tornei:
— Meus amigos. Só Deus pode realizar o que desejamos.
Só ele tem poderes para nos tirar do coração as dores e os sofrimentos passados, dando-nos o esquecimento e o calor de novas amizades que preencham o vazio dos entes queridos que partiram.
Aqui encontrei a paz, o amor e a alegria.
Mas, foi Deus quem guiou-me os passos até aqui.
E Ele espera que saibamos ajudá-lo a trazer para cá todos quantos se encontram vazios de amor e de esperança.
Ele espera que nossos meninos possam encontrar um lar.
Por isso ajudou-nos por isso está connosco.
Tenho a certeza de que será questão de dedicação e de tempo.
Conseguiremos o objectivo.
Acho que todos neste instante devemos agradecer a Deus e a Jesus por tudo quanto recebemos hoje.
O silêncio respeitoso com que fui ouvido incentivou-me a continuar banhado em serenidade inefável, murmurei comovido:
— Pai Celestial que tantos benefícios nos deste.
Que transformastes tudo quanto fazemos de mal em preciosas lições e recursos de aprendizado abençoe nossa casa, nossos filhos do coração e todos os colaboradores.
Permite senhor, que em teu nome possamos conseguir fosso objectivo.
Ajuda-nos a perseverar em nossos propósitos e abranda os corações enfermos dos irmãos solitários e dos lares destruídos.
Onde o desespero entrou.
Que possamos ser senhor, mensageiros da tua alegria, da tua vontade e do teu amor!
Calei-me uma brisa amena volatizava o ar, como se mãos invisíveis e amigas nos acariciasse a fronte.
Ninguém mais quis falar.
Cada um em seus olhos brilhantes e eloquentes apanhou seus objectos pessoais e com um simples "até logo" foi saindo tranquilo.
Nossa directora, a enfermeira Gertrudes, abraçou apertando-me as mãos com calor.
Saí, a noite descera de todo e as primeiras estrelas cintilavam no firmamento ia cansado, mas feliz.
Sentia vontade de cantar, de sorrir, de extravasar minha alegria.
Olhei o céu e pensei:
Ana, onde quer que se encontre deve estar feliz comigo. Karl também.
E, guardando fundo sentimento de paz e serenidade fui para Casa.
Pelo muito que vivi, pelas experiências que tive, não podia estar optimista quanto à dedicação dos adultos, encastelados no seu egoísmo e na indiferença.
Entretanto, no decorrer da nossa festinha, pude observar comovida, o enternecimento dos nossos visitantes e considero que mesmo que eles não ofereçam seus lares aos nossos meninos, nos apoiarão e o que é importante, humanizarão seus espíritos endurecidos na dor e na angústia.
Agradeço a Berta e a Denizarth o imenso trabalho e a dedicação e a todos que colaboraram o meu muito obrigada.
Que Deus os abençoe.
Nos olhos azuis da directora brilhava uma lágrima.
Cedendo a um impulso incontrolável tornei:
— Meus amigos. Só Deus pode realizar o que desejamos.
Só ele tem poderes para nos tirar do coração as dores e os sofrimentos passados, dando-nos o esquecimento e o calor de novas amizades que preencham o vazio dos entes queridos que partiram.
Aqui encontrei a paz, o amor e a alegria.
Mas, foi Deus quem guiou-me os passos até aqui.
E Ele espera que saibamos ajudá-lo a trazer para cá todos quantos se encontram vazios de amor e de esperança.
Ele espera que nossos meninos possam encontrar um lar.
Por isso ajudou-nos por isso está connosco.
Tenho a certeza de que será questão de dedicação e de tempo.
Conseguiremos o objectivo.
Acho que todos neste instante devemos agradecer a Deus e a Jesus por tudo quanto recebemos hoje.
O silêncio respeitoso com que fui ouvido incentivou-me a continuar banhado em serenidade inefável, murmurei comovido:
— Pai Celestial que tantos benefícios nos deste.
Que transformastes tudo quanto fazemos de mal em preciosas lições e recursos de aprendizado abençoe nossa casa, nossos filhos do coração e todos os colaboradores.
Permite senhor, que em teu nome possamos conseguir fosso objectivo.
Ajuda-nos a perseverar em nossos propósitos e abranda os corações enfermos dos irmãos solitários e dos lares destruídos.
Onde o desespero entrou.
Que possamos ser senhor, mensageiros da tua alegria, da tua vontade e do teu amor!
Calei-me uma brisa amena volatizava o ar, como se mãos invisíveis e amigas nos acariciasse a fronte.
Ninguém mais quis falar.
Cada um em seus olhos brilhantes e eloquentes apanhou seus objectos pessoais e com um simples "até logo" foi saindo tranquilo.
Nossa directora, a enfermeira Gertrudes, abraçou apertando-me as mãos com calor.
Saí, a noite descera de todo e as primeiras estrelas cintilavam no firmamento ia cansado, mas feliz.
Sentia vontade de cantar, de sorrir, de extravasar minha alegria.
Olhei o céu e pensei:
Ana, onde quer que se encontre deve estar feliz comigo. Karl também.
E, guardando fundo sentimento de paz e serenidade fui para Casa.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
CAPITULO XXIII - A adopção
Sentado em agradável poltrona, entretinha-me na leitura de um relatório de actividades do abrigo dos órfãos, que deveria ser lido na semana próxima a Nova York, sede da Cruz Vermelha, sobre nossas actividades no sector de encaminhamento dos tutelados.
Apesar de ser inverno e noite, eu fora até lá não só para estudar o relatório como para fazer companhia aos meninos.
Era sempre um prazer estar com eles, contar histórias, ensinar, dar um pouco de calor humano.
Sentia-me bem quando Hans me recebia reflectindo nos olhinhos azuis alegria e confiança.
Esperava-me invariavelmente na porta de entrada.
Era a primeira fisionomia amiga que eu via ao adentrar a ala onde residiam.
Tomava-me a mão, perguntava-me como passara o dia e conduzia-me a uma poltrona sentando-se na banqueta a meus pés e conversávamos sobre as novidades.
Depois, eu ia ver os demais, a ala das meninas e nos reuníamos todos na sala de estar onde procurava sempre conversar com eles, entretendo-os com jogos e brincadeiras.
Talvez por isso era sempre bem recebido com muitas demonstrações de alegria.
Lendo o relatório, sentia-me alegre e satisfeito.
Fazia um ano que déramos a primeira festinha, logo seguida de outras mais, e nosso trabalho continuou intensivo e o número de casais amigos, de mães solitárias que nos visitavam aumentou.
As crianças, pouco a pouco, começaram a ser adoptadas.
Nosso objectivo estava sendo alcançado.
E com o tempo, a casa foi ficando vazia.
Felizmente, não separamos os irmãos e encontramos famílias que os levassem juntos.
Só na última reunião, conforme o relatório, 6 crianças tinham encontrado um lar.
As campanhas em toda Europa se multiplicaram e nossos relatórios foram muito comentados em virtude do êxito alcançado.
Hans sentado na banqueta costumeira, lia uma revista infantil, copiando-me instintivamente a posição e o jeito.
Sorri. Era um menino bonito e inteligente.
Qualquer pai se orgulharia dele.
Porque não tinha ainda sido adoptado?
Olhei-o sério e perguntei:
— Hans, você gosta daqui, desta casa?
Ele levantou os olhos e sorriu:
— Claro. Agora é nosso lar.
- Eu sei. Mas um dia, você encontrará uma nova mãe e um novo pai a quem você ame e poderá ter novamente um verdadeiro lar.
De um salto o menino levantou-se e fitou-me assustado:
— Eu não quero ter mãe, As mulheres não nos compreendem.
Eu não preciso de mãe!
Não quero! Não quero!
Sentado em agradável poltrona, entretinha-me na leitura de um relatório de actividades do abrigo dos órfãos, que deveria ser lido na semana próxima a Nova York, sede da Cruz Vermelha, sobre nossas actividades no sector de encaminhamento dos tutelados.
Apesar de ser inverno e noite, eu fora até lá não só para estudar o relatório como para fazer companhia aos meninos.
Era sempre um prazer estar com eles, contar histórias, ensinar, dar um pouco de calor humano.
Sentia-me bem quando Hans me recebia reflectindo nos olhinhos azuis alegria e confiança.
Esperava-me invariavelmente na porta de entrada.
Era a primeira fisionomia amiga que eu via ao adentrar a ala onde residiam.
Tomava-me a mão, perguntava-me como passara o dia e conduzia-me a uma poltrona sentando-se na banqueta a meus pés e conversávamos sobre as novidades.
Depois, eu ia ver os demais, a ala das meninas e nos reuníamos todos na sala de estar onde procurava sempre conversar com eles, entretendo-os com jogos e brincadeiras.
Talvez por isso era sempre bem recebido com muitas demonstrações de alegria.
Lendo o relatório, sentia-me alegre e satisfeito.
Fazia um ano que déramos a primeira festinha, logo seguida de outras mais, e nosso trabalho continuou intensivo e o número de casais amigos, de mães solitárias que nos visitavam aumentou.
As crianças, pouco a pouco, começaram a ser adoptadas.
Nosso objectivo estava sendo alcançado.
E com o tempo, a casa foi ficando vazia.
Felizmente, não separamos os irmãos e encontramos famílias que os levassem juntos.
Só na última reunião, conforme o relatório, 6 crianças tinham encontrado um lar.
As campanhas em toda Europa se multiplicaram e nossos relatórios foram muito comentados em virtude do êxito alcançado.
Hans sentado na banqueta costumeira, lia uma revista infantil, copiando-me instintivamente a posição e o jeito.
Sorri. Era um menino bonito e inteligente.
Qualquer pai se orgulharia dele.
Porque não tinha ainda sido adoptado?
Olhei-o sério e perguntei:
— Hans, você gosta daqui, desta casa?
Ele levantou os olhos e sorriu:
— Claro. Agora é nosso lar.
- Eu sei. Mas um dia, você encontrará uma nova mãe e um novo pai a quem você ame e poderá ter novamente um verdadeiro lar.
De um salto o menino levantou-se e fitou-me assustado:
— Eu não quero ter mãe, As mulheres não nos compreendem.
Eu não preciso de mãe!
Não quero! Não quero!
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Olhei-o admirado sem saber o que responder.
Porque tanta revolta contra a mãe?
Senti que ele tinha um problema que talvez o tivesse impedido de ser escolhido pelos casais visitantes.
- Ninguém o obrigará a algo que o contrarie.
Tranquilize-se. Se quiser ficar aqui, pode ficar.
Mas, eu quis dizer que você é um menino e precisa do carinho de uma mãe em que você possa confiar.
Um pai que o ajude e oriente, nos rudes caminhos do mundo.
Já pensou como é triste a solidão?
Aqui têm vindo muitos amigos, pessoas que sofreram como nós e que desejam trocar carinho e ternura.
Não fez amizade com ninguém?
Hans não respondeu, olhou-me apenas e o brilho da mágoa e sofrimento que há muito não transparecia, reflectiu-se em seus olhos.
Depois, demonstrando tristeza infinita saiu da sala, refugiando e no dormitório.
Fiquei preocupado o que teria acontecido?
Teria feito mal em falar-lhe sobre aquele assunto?
Muitas crianças emotivas guardavam vivas lembranças dois pais e não queriam substitui-los no coração, como se isto os afrontasse.
Não compreendiam que temos capacidade de somar os afectos no coração sem que um apague o outro.
Talvez pensasse assim.
Aborreci-me Hans era-me particularmente querido.
Meu filho, se estivesse vivo, teria a sua idade.
Seu cabelo igual a família de Ana, no fundo, eu gostava dele como se fosse realmente.
Depois, o apego do menino, sua simpatia, emocionava-me o suficiente para saber que havia entre nós grande afinidade.
Fui procurar nossa directora.
D. Gertrudes na ala feminina em alegre palestra com as crianças, não canso de admirá-la.
Perdera quase toda a família na guerra, Gertrudes era uma apaixonada.
Trabalhara activamente durante a conflagração e dizia que seu trabalho ainda não havia terminado, apesar ter acabado.
Residia no prédio com as crianças e da sua figura enérgica e disciplinada, amava os seus meninos com profunda ternura.
Sabia como elevar-lhes o moral.
Sabia orientá-los com segurança e firmeza.
Vendo-me parado à entrada da sala, aproximou-se atenciosa:
- Se não está muito ocupada gostaria de falar-lhe um instante.
- Certamente, meu filho.
Venha para a saleta.
Acompanhei-a à pequena sala de estar contígua aos seus aposentos de dormir.
Quando nos sentamos fui directo ao assunto que me preocupava.
Porque tanta revolta contra a mãe?
Senti que ele tinha um problema que talvez o tivesse impedido de ser escolhido pelos casais visitantes.
- Ninguém o obrigará a algo que o contrarie.
Tranquilize-se. Se quiser ficar aqui, pode ficar.
Mas, eu quis dizer que você é um menino e precisa do carinho de uma mãe em que você possa confiar.
Um pai que o ajude e oriente, nos rudes caminhos do mundo.
Já pensou como é triste a solidão?
Aqui têm vindo muitos amigos, pessoas que sofreram como nós e que desejam trocar carinho e ternura.
Não fez amizade com ninguém?
Hans não respondeu, olhou-me apenas e o brilho da mágoa e sofrimento que há muito não transparecia, reflectiu-se em seus olhos.
Depois, demonstrando tristeza infinita saiu da sala, refugiando e no dormitório.
Fiquei preocupado o que teria acontecido?
Teria feito mal em falar-lhe sobre aquele assunto?
Muitas crianças emotivas guardavam vivas lembranças dois pais e não queriam substitui-los no coração, como se isto os afrontasse.
Não compreendiam que temos capacidade de somar os afectos no coração sem que um apague o outro.
Talvez pensasse assim.
Aborreci-me Hans era-me particularmente querido.
Meu filho, se estivesse vivo, teria a sua idade.
Seu cabelo igual a família de Ana, no fundo, eu gostava dele como se fosse realmente.
Depois, o apego do menino, sua simpatia, emocionava-me o suficiente para saber que havia entre nós grande afinidade.
Fui procurar nossa directora.
D. Gertrudes na ala feminina em alegre palestra com as crianças, não canso de admirá-la.
Perdera quase toda a família na guerra, Gertrudes era uma apaixonada.
Trabalhara activamente durante a conflagração e dizia que seu trabalho ainda não havia terminado, apesar ter acabado.
Residia no prédio com as crianças e da sua figura enérgica e disciplinada, amava os seus meninos com profunda ternura.
Sabia como elevar-lhes o moral.
Sabia orientá-los com segurança e firmeza.
Vendo-me parado à entrada da sala, aproximou-se atenciosa:
- Se não está muito ocupada gostaria de falar-lhe um instante.
- Certamente, meu filho.
Venha para a saleta.
Acompanhei-a à pequena sala de estar contígua aos seus aposentos de dormir.
Quando nos sentamos fui directo ao assunto que me preocupava.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
- Gertrudes, gostaria de falar-lhe sobre Hans.
Pareceu-me com problemas.
E um menino inteligente, bonito, vivo.
Ninguém ainda quis adoptá-lo?
A directora não se surpreendeu, disse-me apenas:
- Sim. Já quiseram adoptá-lo.
Porém ele se recusou.
- Recusou? Como foi isso?
— Você não soube, mas o casal Wasserman demonstrou grande amizade por ele.
A principio, pareceu-me que Hans os estimava devotando-lhes especial simpatia.
Contudo, quando, a pedido dos interessados conversei com ele, reagiu com certa violência recusando o lar que se lhe oferecia.
Desde esse dia tornou-se arredio com todos os visitantes e algumas vezes tem se portado mal para com eles o que me surpreende.
— A mim também. Sempre foi bem-educado!
O que estará acontecendo com ele?
D. Gertrudes suspirou:
— Foi o que pensei.
Procurei descobrir e agora sei o motivo de tanta preocupação.
— Posso saber?
— Certamente.
Esperava um momento oportuno para falar-lhe a esse respeito.
Você sabe da nossa luta, tem se dedicado carinhosamente a essa tarefa.
Tem se esforçado por distrair e ajudar nossas crianças, tem dado seu amor e seu tempo em função deles.
Sabe também que só permitimos adopção em caso de afinidade e simpatia recíproca.
Caso contrário estaríamos desajustando ao invés de ajudar nossos meninos.
Procuramos dar de nós e acontece que as crianças sentem nosso carinho, nossa protecção, nosso apoio.
Por isso, nos dedicam afecto e amizade. É o que acontece com Hans.
Não quer ir para longe de você.
Estima-o como um verdadeiro pai.
As palavras da directora deixaram-me embaraçado.
— A mim? A senhora acredita que seja por minha causa que ele reage assim?
— Tenho a certeza. Observei-o bem.
Sente verdadeiro enlevo por você.
Quando você não está aqui, seu comportamento é sintomático.
Refere-se a você como se fosse seu filho, como se viesse vê-lo e juntos fazem companhia aos demais.
Sinto trazer-lhe esse problema, Denizarth, mas era inevitável na presente circunstância.
Pareceu-me com problemas.
E um menino inteligente, bonito, vivo.
Ninguém ainda quis adoptá-lo?
A directora não se surpreendeu, disse-me apenas:
- Sim. Já quiseram adoptá-lo.
Porém ele se recusou.
- Recusou? Como foi isso?
— Você não soube, mas o casal Wasserman demonstrou grande amizade por ele.
A principio, pareceu-me que Hans os estimava devotando-lhes especial simpatia.
Contudo, quando, a pedido dos interessados conversei com ele, reagiu com certa violência recusando o lar que se lhe oferecia.
Desde esse dia tornou-se arredio com todos os visitantes e algumas vezes tem se portado mal para com eles o que me surpreende.
— A mim também. Sempre foi bem-educado!
O que estará acontecendo com ele?
D. Gertrudes suspirou:
— Foi o que pensei.
Procurei descobrir e agora sei o motivo de tanta preocupação.
— Posso saber?
— Certamente.
Esperava um momento oportuno para falar-lhe a esse respeito.
Você sabe da nossa luta, tem se dedicado carinhosamente a essa tarefa.
Tem se esforçado por distrair e ajudar nossas crianças, tem dado seu amor e seu tempo em função deles.
Sabe também que só permitimos adopção em caso de afinidade e simpatia recíproca.
Caso contrário estaríamos desajustando ao invés de ajudar nossos meninos.
Procuramos dar de nós e acontece que as crianças sentem nosso carinho, nossa protecção, nosso apoio.
Por isso, nos dedicam afecto e amizade. É o que acontece com Hans.
Não quer ir para longe de você.
Estima-o como um verdadeiro pai.
As palavras da directora deixaram-me embaraçado.
— A mim? A senhora acredita que seja por minha causa que ele reage assim?
— Tenho a certeza. Observei-o bem.
Sente verdadeiro enlevo por você.
Quando você não está aqui, seu comportamento é sintomático.
Refere-se a você como se fosse seu filho, como se viesse vê-lo e juntos fazem companhia aos demais.
Sinto trazer-lhe esse problema, Denizarth, mas era inevitável na presente circunstância.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Passei a mão pelos cabelos, preocupado.
— O que posso fazer? — Perguntei aflito.
— Não sei.
Pense bem e tenho certeza de que achará a melhor solução.
Meio sem jeito balbuciei:
— É, vou pensar.
Saí da casa dos órfãos naquela noite, bastante preocupado.
Que podia fazer?
Não fui despedir-me de Hans, Não saberia o que dizer-lhe.
Se eu fosse casado, se tivesse um lar, tê-lo-ia adoptado prontamente, mas morava num apartamento onde pouco permanecia.
Tomava refeições em restaurante, o que certamente não era situação conveniente para uma criança.
Que fazer? Ao mesmo tempo, a afeição sincera e profunda do menino provocava-me incontida emoção.
Fui para casa. Pouco dormi naquela noite.
Remexia-me no leito e durante um pesadelo, voltei à enfermaria n.°2.
Vi o rostinho de Karl e ao mesmo tempo Hans, estendendo-me os braços e pedindo ajuda.
Pela manhã, apresentei-me ao consulado e não pude trabalhar.
Uma ansiedade enorme me dominava.
Assim que pude, ao entardecer fui ver o menino.
O ansioso de Hans não esperava-me como de costume, o que se passou comigo.
Quando o vi rostinho macerado e aflito, abracei-o com força e o chamei de meu filho e senti suas lágrimas molhando, quando dominamos a emoção, conduzi-o ao terraço onde nos sentamos.
Vi nele um homenzinho — disse-lhe — Já sabe o que quer.
- Quer ser meu filho para sempre?
De ir comigo para França?
Nos olhos de Hans passou um brilho intenso de emoção.
- Você quer mesmo que eu seja seu filho?
Não está só com pena porque preciso de você? Vivo muito só.
Quando todos tem um lar, eu estarei só.
Nós nos entendemos muito se você puder suportar-me os defeitos, seremos felizes seu rostinho distendeu-se em indisfarçável sorriso.
- Sabia que era com você que eu ia viver!
Eu o escolhi pai desde o primeiro dia.
Acha que procedi mal?
Acariciei-lhe os cabelos louros.
- Será por que sou viúvo?
Você não gosta das mulheres?
E se me casar um dia?
— O que posso fazer? — Perguntei aflito.
— Não sei.
Pense bem e tenho certeza de que achará a melhor solução.
Meio sem jeito balbuciei:
— É, vou pensar.
Saí da casa dos órfãos naquela noite, bastante preocupado.
Que podia fazer?
Não fui despedir-me de Hans, Não saberia o que dizer-lhe.
Se eu fosse casado, se tivesse um lar, tê-lo-ia adoptado prontamente, mas morava num apartamento onde pouco permanecia.
Tomava refeições em restaurante, o que certamente não era situação conveniente para uma criança.
Que fazer? Ao mesmo tempo, a afeição sincera e profunda do menino provocava-me incontida emoção.
Fui para casa. Pouco dormi naquela noite.
Remexia-me no leito e durante um pesadelo, voltei à enfermaria n.°2.
Vi o rostinho de Karl e ao mesmo tempo Hans, estendendo-me os braços e pedindo ajuda.
Pela manhã, apresentei-me ao consulado e não pude trabalhar.
Uma ansiedade enorme me dominava.
Assim que pude, ao entardecer fui ver o menino.
O ansioso de Hans não esperava-me como de costume, o que se passou comigo.
Quando o vi rostinho macerado e aflito, abracei-o com força e o chamei de meu filho e senti suas lágrimas molhando, quando dominamos a emoção, conduzi-o ao terraço onde nos sentamos.
Vi nele um homenzinho — disse-lhe — Já sabe o que quer.
- Quer ser meu filho para sempre?
De ir comigo para França?
Nos olhos de Hans passou um brilho intenso de emoção.
- Você quer mesmo que eu seja seu filho?
Não está só com pena porque preciso de você? Vivo muito só.
Quando todos tem um lar, eu estarei só.
Nós nos entendemos muito se você puder suportar-me os defeitos, seremos felizes seu rostinho distendeu-se em indisfarçável sorriso.
- Sabia que era com você que eu ia viver!
Eu o escolhi pai desde o primeiro dia.
Acha que procedi mal?
Acariciei-lhe os cabelos louros.
- Será por que sou viúvo?
Você não gosta das mulheres?
E se me casar um dia?
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Hans tornou-se sério, pensou um pouco e respondeu:
- Se você se casar um dia ela deve ser muito boa, como você.
Se serve para sua esposa servirá para minha mãe.
Abracei-o contendo o riso.
Eu bem sabia que Hans queria estar comigo, nada mais.
— Venha, vamos conversar com D. Gertrudes.
Quando ela nos viu entrar de mãos dadas seus olhos brilharam e seus lábios distenderam-se em alegre sorriso.
Imediatamente, externei meu desejo de adoptar Hans e ao mesmo tempo solicitei seu concurso para que eu pudesse fazê-lo.
— Certamente.
Sabia que você encontraria a forma melhor.
Pode contar com nossa colaboração no que for necessário.
Um pouco preocupado tornei:
— Receio que por agora eu não possa dar a Hans um verdadeiro lar.
Contudo, tomarei providências para arranjar uma governanta que possa cuidar de tudo.
— Muito bem. Faça como achar melhor.
Contudo, Hans é nosso amiguinho muito querido e sua presença entre nós será sempre motivo de alegria.
Pode deixá-lo em nossa casa o que quiser.
Senti-me mais tranquilo.
Precisava preparar acomodar tudo o mais que daria a Hans o conforto e o aconchego necessário.
Aquela foi para nós uma noite feliz, O riso aflorava no rostinho claro de Hans e a luz que brilhava em seus olhos dava nova sensação de felicidade Quando nos despedimos ele me disse com singular doçura:
— Até amanhã, papai.
Beijei-lhe a testa com incontida emoção.
- Até amanhã, meu filho,
Saí sereno e reconfortado.
Não me sentia mais sozinho A noites não pareceriam mais longas.
Sentia-me pai e essa sensação ocupava-me a mente enchendo meus pensamentos de uma nova responsabilidade que eu sentia presente e desejava assumir plenamente.
No dia seguinte começaram meus apuros de pai.
Fui a um jornal por um anúncio de emprego.
Desejava uma governanta.
As 17 horas, fui para casa aguardar as candidatas Vieram três de uma vez mas suas figuras não me inspiravam confiança.
Tinham aspecto rígido o que me desagradou Hans precisava encontrar uma amiga, não uma carcereira.
Apesar disso, não desanimei. Continuei procurando.
Não tinha pressa, o aconchego do lar da Cruz Vermelha onde o menino possuía amigos e companheiros deixava-me tempo para agir com cuidado.
- Se você se casar um dia ela deve ser muito boa, como você.
Se serve para sua esposa servirá para minha mãe.
Abracei-o contendo o riso.
Eu bem sabia que Hans queria estar comigo, nada mais.
— Venha, vamos conversar com D. Gertrudes.
Quando ela nos viu entrar de mãos dadas seus olhos brilharam e seus lábios distenderam-se em alegre sorriso.
Imediatamente, externei meu desejo de adoptar Hans e ao mesmo tempo solicitei seu concurso para que eu pudesse fazê-lo.
— Certamente.
Sabia que você encontraria a forma melhor.
Pode contar com nossa colaboração no que for necessário.
Um pouco preocupado tornei:
— Receio que por agora eu não possa dar a Hans um verdadeiro lar.
Contudo, tomarei providências para arranjar uma governanta que possa cuidar de tudo.
— Muito bem. Faça como achar melhor.
Contudo, Hans é nosso amiguinho muito querido e sua presença entre nós será sempre motivo de alegria.
Pode deixá-lo em nossa casa o que quiser.
Senti-me mais tranquilo.
Precisava preparar acomodar tudo o mais que daria a Hans o conforto e o aconchego necessário.
Aquela foi para nós uma noite feliz, O riso aflorava no rostinho claro de Hans e a luz que brilhava em seus olhos dava nova sensação de felicidade Quando nos despedimos ele me disse com singular doçura:
— Até amanhã, papai.
Beijei-lhe a testa com incontida emoção.
- Até amanhã, meu filho,
Saí sereno e reconfortado.
Não me sentia mais sozinho A noites não pareceriam mais longas.
Sentia-me pai e essa sensação ocupava-me a mente enchendo meus pensamentos de uma nova responsabilidade que eu sentia presente e desejava assumir plenamente.
No dia seguinte começaram meus apuros de pai.
Fui a um jornal por um anúncio de emprego.
Desejava uma governanta.
As 17 horas, fui para casa aguardar as candidatas Vieram três de uma vez mas suas figuras não me inspiravam confiança.
Tinham aspecto rígido o que me desagradou Hans precisava encontrar uma amiga, não uma carcereira.
Apesar disso, não desanimei. Continuei procurando.
Não tinha pressa, o aconchego do lar da Cruz Vermelha onde o menino possuía amigos e companheiros deixava-me tempo para agir com cuidado.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Havia ainda muitas crianças para serem adoptadas e enquanto isso não acontecesse o lar continuaria a ser mantido.
Procedíamos ainda a busca incessante dos parentes dos internados, para ver se podiam receber os órfãos.
Isso demandava tempo e paciência.
Por isso, não quis precipitar-me.
Aguardei pacientemente até que por intermédio de um casal que adoptara uma das nossas meninas e dos quais me tornara muito amigo, consegui contratar a Sra. Hilde que preencheu minhas pretensões.
Pessoa séria, uns 40 anos presumíveis limpa, rosto simpático gestos meigos.
Tomou conta do meu apartamento com mãos hábeis e em poucos dias transformou-o em um lar. Encantou-me realmente.
É triste chegar em casa, após um dia de trabalho e não encontrar fogo na lareira, nem cheiro agradável na cozinha.
Hilde, proporcionou-me de início, alegre sensação de não estar só, dando-me vontade de retomar o antigo hábito de ler ao lado da lareira, saboreando chá com bolinhos ou comer em horas certas.
Apesar disso, havia mil providências a tomar para que eu o pudesse adoptar realmente.
O facto de não estar oficialmente em meu país tornava o caso delicado, mas, nossos amigos da Cruz Vermelha tinham interesse em acomodar esses órfãos.
Preocupava-me o facto dele ser alemão e eu queria voltar a meu país.
Pude ver que a crueldade existia de parte a parte, porque o homem, nos campos de batalha, seja qual for, sente despertar seus instintos, mais primitivos e envolvido por certas circunstâncias, pode chegar à crueldade e à loucura.
Pude perceber que embora o Estado Maior Alemão e Hitler tenham abusado dessas alternativas no massacre sangrento, não só dos campos de batalha como no crime a soldo da cobiça e dos interesses militares, no morticínio de 6 milhões de judeus, o povo, enganado, aviltado e sofrido, além do peso dos conquistadores na invasão do seu país, teve que suportar o peso ainda maior da estarrecedora revelação desse hediondo crime que todo mundo civilizado repele e condena na alegação justa e decisiva do respeito ao homem no seu sagrado direito de viver.
Grande parte do povo alemão desconhecia esse facto.
Embora a perseguição fosse ostensiva e real eles não puderam imaginar a verdade.
Numa frase tão pessimista quanto real, alguém disse:
"Os grandes homens brigam e os jovens de ambos os lados morrem na luta.
Depois, a paz, o acordo e a retomada.
Novamente os grandes trocando relações de amizade e interesse.
E os nossos mortos?»
Procedíamos ainda a busca incessante dos parentes dos internados, para ver se podiam receber os órfãos.
Isso demandava tempo e paciência.
Por isso, não quis precipitar-me.
Aguardei pacientemente até que por intermédio de um casal que adoptara uma das nossas meninas e dos quais me tornara muito amigo, consegui contratar a Sra. Hilde que preencheu minhas pretensões.
Pessoa séria, uns 40 anos presumíveis limpa, rosto simpático gestos meigos.
Tomou conta do meu apartamento com mãos hábeis e em poucos dias transformou-o em um lar. Encantou-me realmente.
É triste chegar em casa, após um dia de trabalho e não encontrar fogo na lareira, nem cheiro agradável na cozinha.
Hilde, proporcionou-me de início, alegre sensação de não estar só, dando-me vontade de retomar o antigo hábito de ler ao lado da lareira, saboreando chá com bolinhos ou comer em horas certas.
Apesar disso, havia mil providências a tomar para que eu o pudesse adoptar realmente.
O facto de não estar oficialmente em meu país tornava o caso delicado, mas, nossos amigos da Cruz Vermelha tinham interesse em acomodar esses órfãos.
Preocupava-me o facto dele ser alemão e eu queria voltar a meu país.
Pude ver que a crueldade existia de parte a parte, porque o homem, nos campos de batalha, seja qual for, sente despertar seus instintos, mais primitivos e envolvido por certas circunstâncias, pode chegar à crueldade e à loucura.
Pude perceber que embora o Estado Maior Alemão e Hitler tenham abusado dessas alternativas no massacre sangrento, não só dos campos de batalha como no crime a soldo da cobiça e dos interesses militares, no morticínio de 6 milhões de judeus, o povo, enganado, aviltado e sofrido, além do peso dos conquistadores na invasão do seu país, teve que suportar o peso ainda maior da estarrecedora revelação desse hediondo crime que todo mundo civilizado repele e condena na alegação justa e decisiva do respeito ao homem no seu sagrado direito de viver.
Grande parte do povo alemão desconhecia esse facto.
Embora a perseguição fosse ostensiva e real eles não puderam imaginar a verdade.
Numa frase tão pessimista quanto real, alguém disse:
"Os grandes homens brigam e os jovens de ambos os lados morrem na luta.
Depois, a paz, o acordo e a retomada.
Novamente os grandes trocando relações de amizade e interesse.
E os nossos mortos?»
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Apesar de ser verdade eu não raciocinava assim.
A luta foi uma realidade.
Porém, acabou. O melhor é esquecer.
Para que continuar sofrendo o peso das reminiscências e dos ódios?
O Espiritismo abriu em meu coração uma compreensão neste particular.
Somos todos irmãos Espíritos criados por um pai.
A reencarnação é um facto.
Quantas vezes terei reencarnado.
Quantas vezes terei sido alemão russo, árabe, americano, italiano ou francês?
Quantas vezes terei defendido pátrias diferentes, esquecido de que tudo na Terra é transitório e só o mundo espiritual é o definitivo e o real?
Chamado a defender a Pátria, cumpri o meu dever e o fiz com coragem. Estou tranquilo.
Compreendo que quando estamos no mundo, temos de preservar e defender a bandeira que nos abriga.
Contudo isso não nos impede de ver em outros povos inimigos ou não, o ser humano, igual, propenso a errar ou a redimir.
Foi isso que compreendi.
Por isso não guardei rancor contra ninguém.
Mas outros não tinham ainda entendido e eu temia que Hans, na França, pudesse sentir-se não querido.
Mas, importava ajudá-lo e estarmos juntos.
Confiava que fazendo minha parte Deus faria o resto.
A luta foi uma realidade.
Porém, acabou. O melhor é esquecer.
Para que continuar sofrendo o peso das reminiscências e dos ódios?
O Espiritismo abriu em meu coração uma compreensão neste particular.
Somos todos irmãos Espíritos criados por um pai.
A reencarnação é um facto.
Quantas vezes terei reencarnado.
Quantas vezes terei sido alemão russo, árabe, americano, italiano ou francês?
Quantas vezes terei defendido pátrias diferentes, esquecido de que tudo na Terra é transitório e só o mundo espiritual é o definitivo e o real?
Chamado a defender a Pátria, cumpri o meu dever e o fiz com coragem. Estou tranquilo.
Compreendo que quando estamos no mundo, temos de preservar e defender a bandeira que nos abriga.
Contudo isso não nos impede de ver em outros povos inimigos ou não, o ser humano, igual, propenso a errar ou a redimir.
Foi isso que compreendi.
Por isso não guardei rancor contra ninguém.
Mas outros não tinham ainda entendido e eu temia que Hans, na França, pudesse sentir-se não querido.
Mas, importava ajudá-lo e estarmos juntos.
Confiava que fazendo minha parte Deus faria o resto.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
CAPÍTULO XXIV - O presente de fim de ano
Apesar da neve e do frio, saí da embaixada naquela manhã e apressado.
Ultimo dia do ano de 1948 e eu planeava ainda brincadeiras com Hans.
Havia 6 meses que o adoptara e dia a dia nos sentíamos mais amigos e felizes.
A presença alegre e amável do menino modificara minha vida extraordinariamente.
Meu apartamento agora tornara-se um lar, para onde eu me ia com alegria depois de um dia cansativo de trabalho.
Nossa bondosa e acomodada, nos facilitava a vida, com solicitudes e atenções.
Não coloquei Hans no colégio embora ele necessitasse continuar seus estudos.
Não pretendia demorar-me na Alemanha e preferia fazê-lo estudar na França.
Mas, não querendo que ele permanecesse inactivo, arranjei alguns professores que encarregaram-se de prepará-lo:
Uma velha senhora francesa ministrava-lhe aulas de francês, literatura e história.
Um funcionário da embaixada, duas vezes por semana ia à nossa casa para matemática e ciências.
Era o último dia do ano.
Precisara ir à embaixada por causa de uns papéis muito importantes, mas tendo tomado as providências devidas, saí porque aquele seria um dia cheio.
Precisava pegar Hans em casa para as compras que pretendíamos fazer.
A tarde, deveríamos ir à casa de Madame Genet que resolvera reunir seus diversos alunos para uma pequena festa de despedida uma vez que viajaria por duas semanas, suspendendo as aulas.
Eu a apreciava muitíssimo.
Era uma dama de grande educação e finura.
Tendo perdido seus haveres durante a guerra e só no mundo, vivia das aulas que ministrava com zelo e eficiência.
Hans, para agradar-me esforçava muito para aprender e fizera grandes progressos.
Conversávamos muito em francês que o ajudava bastante.
Eu era grato a Me. Genet, porque e ensinava não só o idioma, mas o espírito do povo francês.
Falava com tal entusiasmo e conhecimento ilustrando suas aulas que penetrara em Hans respeito e admiração pelo meu país que sentiu seu também dali por diante.
Isto me facilitava as coisas de sorte que eu era-lhe muito grato.
Apressei-me a ir para casa onde Hans me aguardava com alegria e ansiedade.
Abraçamo-nos como de costume enquanto ele me contava minúcias e particularidades referentes à reunião que teríamos em casa de Me. Genet.
— Você vai conhecer meus amigos.
Somos três do mesmo horário.
Creio que gostará deles.
Quanto aos outros, não os conheço, mas há meninas também...
— Muito bem, — respondi bem-humorado.
Creio que precisamos levar muitos presentes.
Os olhos de Hans brilharam de alegria.
Apesar da neve e do frio, saí da embaixada naquela manhã e apressado.
Ultimo dia do ano de 1948 e eu planeava ainda brincadeiras com Hans.
Havia 6 meses que o adoptara e dia a dia nos sentíamos mais amigos e felizes.
A presença alegre e amável do menino modificara minha vida extraordinariamente.
Meu apartamento agora tornara-se um lar, para onde eu me ia com alegria depois de um dia cansativo de trabalho.
Nossa bondosa e acomodada, nos facilitava a vida, com solicitudes e atenções.
Não coloquei Hans no colégio embora ele necessitasse continuar seus estudos.
Não pretendia demorar-me na Alemanha e preferia fazê-lo estudar na França.
Mas, não querendo que ele permanecesse inactivo, arranjei alguns professores que encarregaram-se de prepará-lo:
Uma velha senhora francesa ministrava-lhe aulas de francês, literatura e história.
Um funcionário da embaixada, duas vezes por semana ia à nossa casa para matemática e ciências.
Era o último dia do ano.
Precisara ir à embaixada por causa de uns papéis muito importantes, mas tendo tomado as providências devidas, saí porque aquele seria um dia cheio.
Precisava pegar Hans em casa para as compras que pretendíamos fazer.
A tarde, deveríamos ir à casa de Madame Genet que resolvera reunir seus diversos alunos para uma pequena festa de despedida uma vez que viajaria por duas semanas, suspendendo as aulas.
Eu a apreciava muitíssimo.
Era uma dama de grande educação e finura.
Tendo perdido seus haveres durante a guerra e só no mundo, vivia das aulas que ministrava com zelo e eficiência.
Hans, para agradar-me esforçava muito para aprender e fizera grandes progressos.
Conversávamos muito em francês que o ajudava bastante.
Eu era grato a Me. Genet, porque e ensinava não só o idioma, mas o espírito do povo francês.
Falava com tal entusiasmo e conhecimento ilustrando suas aulas que penetrara em Hans respeito e admiração pelo meu país que sentiu seu também dali por diante.
Isto me facilitava as coisas de sorte que eu era-lhe muito grato.
Apressei-me a ir para casa onde Hans me aguardava com alegria e ansiedade.
Abraçamo-nos como de costume enquanto ele me contava minúcias e particularidades referentes à reunião que teríamos em casa de Me. Genet.
— Você vai conhecer meus amigos.
Somos três do mesmo horário.
Creio que gostará deles.
Quanto aos outros, não os conheço, mas há meninas também...
— Muito bem, — respondi bem-humorado.
Creio que precisamos levar muitos presentes.
Os olhos de Hans brilharam de alegria.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
- Hilde já confeteou alguns bolos e tortas. Ficaram uma beleza!
— Ah! Então ela já preparou os doces!
— Já. Alguns para levarmos e outros para nós.
— Muito bem. Apresse-se que vamos almoçar e depois sair.
Quero que você escolha uma linda lembrança para Madame.
Além de algumas coisas para nós.
Conversamos ainda com entusiasmo até as 14 horas, quando saímos contentes.
Passamos um tarde agradável e voltamos para casa apenas para deixar alguns embrulhos e nos dirigimos à casa de Me. Genet.
A reunião fora marcada para as 17 horas e chegamos pontualmente.
A figura simpática de Madame nos recebeu com elegância e dignidade.
Na sala de estar um pouco antiquada mas arrumada com o bom gosto francês, algumas crianças e adultos conversavam com alegria e cordialidade.
Hans sentiu-se logo a vontade.
Encontrara um dos seus companheiros.
Trouxe-o pela mão e com um misto de alegria e orgulho me apresentou:
— Este é o meu melhor amigo Karl. Este é meu pai!
Olhei para o jovenzinho que me examinava com certa curiosidade.
Seus olhos eram azuis e lindos, seu rosto corado e sem querer recordar a figura doce e agradável de Ana.
Grande emoção apoderou-se de mim.
A custo, consegui recompor-me e Hans, um pouco impaciente tornou:
- Este é Karl, meu melhor amigo!
Eu estendi a mão para o menino dizendo com voz muda:
- Como vai, Karl?
- Bem — respondeu com simplicidade.
- Tenho muito prazer em conhecê-lo, Karl.
Quase que imediatamente perguntei:
— Quantos anos tem?
- Mas, sou muito crescido!
- Naturalmente. Já é um homenzinho.
De repente, uma suspeita, uma dúvida, começou a brotar de mim.
A idade do meu filho!
Seu rosto lembrava um pouco o de Ana e uma agitação imensa me dominou.
Precisava saber quem era esse menino.
E, se por um desses mistérios do acaso ele estivesse vivo?
E se Ludwig tivesse mentido?
Precisava descobrir.
— Ah! Então ela já preparou os doces!
— Já. Alguns para levarmos e outros para nós.
— Muito bem. Apresse-se que vamos almoçar e depois sair.
Quero que você escolha uma linda lembrança para Madame.
Além de algumas coisas para nós.
Conversamos ainda com entusiasmo até as 14 horas, quando saímos contentes.
Passamos um tarde agradável e voltamos para casa apenas para deixar alguns embrulhos e nos dirigimos à casa de Me. Genet.
A reunião fora marcada para as 17 horas e chegamos pontualmente.
A figura simpática de Madame nos recebeu com elegância e dignidade.
Na sala de estar um pouco antiquada mas arrumada com o bom gosto francês, algumas crianças e adultos conversavam com alegria e cordialidade.
Hans sentiu-se logo a vontade.
Encontrara um dos seus companheiros.
Trouxe-o pela mão e com um misto de alegria e orgulho me apresentou:
— Este é o meu melhor amigo Karl. Este é meu pai!
Olhei para o jovenzinho que me examinava com certa curiosidade.
Seus olhos eram azuis e lindos, seu rosto corado e sem querer recordar a figura doce e agradável de Ana.
Grande emoção apoderou-se de mim.
A custo, consegui recompor-me e Hans, um pouco impaciente tornou:
- Este é Karl, meu melhor amigo!
Eu estendi a mão para o menino dizendo com voz muda:
- Como vai, Karl?
- Bem — respondeu com simplicidade.
- Tenho muito prazer em conhecê-lo, Karl.
Quase que imediatamente perguntei:
— Quantos anos tem?
- Mas, sou muito crescido!
- Naturalmente. Já é um homenzinho.
De repente, uma suspeita, uma dúvida, começou a brotar de mim.
A idade do meu filho!
Seu rosto lembrava um pouco o de Ana e uma agitação imensa me dominou.
Precisava saber quem era esse menino.
E, se por um desses mistérios do acaso ele estivesse vivo?
E se Ludwig tivesse mentido?
Precisava descobrir.
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