LUZ ESPÍRITA
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Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 17, 2012 9:48 am

Entre o Amor e a Guerra
ZIBIA M. GASPARETTO

DITADO PELO ESPÍRITO LÚCIUS

Romance mediúnico
ÍNDICE
PrólogoS


A organização socorrista
O campo de batalha – O Diário de Denizarth

O lar de Ludwig
O falso KurtMiller

As bodas
A prisão

Sevícias e libertação
Início da volta

A resistência
O disfarce

Finalmente o lar
A doutrina consoladora

A revelação
O atentado

A rendição alemã em Paris
A recompensa

A decepção
O caminho de Damasco

Duas almas se encontram
Uma esperança

Mensagem de paz
No caminho

A adopção
O presente de fim de ano

Cego fanatismo
O sublime perdão


Última edição por O_Canto_da_Ave em Qua Jan 02, 2013 10:43 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 17, 2012 9:49 am

Prólogo

Em que pese a dedicação e o amor de Deus e dos Espíritos luminares voltados com abnegação às tarefas sacrificiais em favor do progresso espiritual da humanidade, não se tem conseguido evitar a consumação da tragédia e da dor, nas manifestações das necessidades humanas a expandir-se através das suas experiências na conquista árdua dos valores morais e reais da vida.

Há séculos o Senhor vem derramando bênçãos e revelações consoladoras buscando orientar e educar os homens para conduzi-los à felicidade e à paz.

Entretanto, nos entrechoques do egoísmo e da ambição, do orgulho e da vaidade, vêm eles se degladiando mutuamente.

Guerras, lutas, crimes sociais, políticos, a estabelecerem toda sorte de consequências reparadoras e diligentes na reconquista do equilíbrio.

Abençoada dor que acorda a criatura!
Abençoada luta que cria condições de reajuste e de progresso!

Ideal sublime que nos faz pensar em um mundo sem dor nem guerra, onde todos se ajudem e se amem!

Onde o respeito e a amizade, a dedicação e o amor estabeleçam padrões de igualdade de direitos, e todas as classes sociais possam conviver sem digladiarem-se, com prejuízos recíprocos.

Onde todos se estimem e as fronteiras entre as raças e países sejam abertas, sem armas ou barreiras.

Onde a política seja utilizada visando o bem de todos no sagrado ministério do progresso!

Utopia!..., dirão muitos.

Parece-me ver o sorriso descrente da maioria, mas, eu respondo:
meta obrigatória do futuro.
Destino para o qual fomos criados. Evolução!

Entretanto, nada parece mais distante do panorama actual da Terra do que essa conquista.

O mundo conturbado geme envolto em crises e guerras, protestos e terror, cataclismos e sofrimentos.
A moral, parece ter desaparecido e o materialismo ganha novos surtos estabelecendo conflito, ovacionando o vício.

Todavia, a obra de redenção prossegue inexorável.

As leis da Justiça Divina, imutáveis dão a cada um segundo suas obras e o tempo, amigo constante, encarrega-se de restaurar a verdade na intimidade do ser.

A humanidade encontra-se dividida em dois grandes grupos:
os que sabem e os que ignoram.
Os que já entenderam e os que estão cegos.

Nós desejamos cerrar fileiras com aqueles que acreditam no futuro do espírito, no progresso da humanidade terrena e trabalham para apressá-lo, na certeza de que Deus nos faculta a alegria de colaborarmos em sua obra, muito embora estejamos conscientes da nossa inferioridade e dos nossos débitos perante as Leis Divinas.

E, justamente por termos tantas vezes sido soldados da violência, nos decidimos a batalhar pela paz.

Assim, nós, Espíritos desejosos de fazer o bem, nos reunimos em torno de instrutores abnegados e nos dispusemos ao trabalho, Dada um dentro do campo de actividades que nos compete.

Desta forma, atendendo aos dispositivos do nosso trabalho, nos reunimos em assembleia no plano espiritual.

Nossa arma, o amor;
nosso objectivo, o esclarecimento;
nosso desejo, a conquista da paz e da libertação do homem.

Que Jesus nos abençoe, Lucius

São Paulo, 30 de março de 1974.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 17, 2012 9:49 am

CAPITULO I - A organização socorrista

O céu estava estrelado e a noite agradável.

No imenso e acolhedor salão, nos reunimos como de hábito nos últimos dias, realizando nossa preparação para o ingresso no grupo de trabalhadores que em nossa colónia espiritual dispunha-se à colaborar em favor da paz.

Campos da Paz, agrupamento espiritual de acolhimento e socorro à humanidade terrestre, dedicava enorme contingente de auxiliares e benfeitores a essa tarefa, não só procurando restabelecer a paz na Terra, como recolhendo, assistindo e encaminhando as vítimas das guerras e das violências no mundo.

A Fraternidade das Enfermeiras Internacionais, dirigida pelo Espírito abnegado de Florence Nigthingale, envidava os maiores esforços nesse campo, desvelando-se em todos os sectores.

Era com profundo respeito que olhávamos seus vultos diligentes, trabalhando sem cessar, numa demonstração inegável de dedicação e renúncia.

Foi com emoção que ouvimos a prece da enfermeira Rose, iniciando a reunião e logo após, as palavras firmes da enfermeira Lee, concitando-nos à tarefa.

Descreveu-nos o que se passava no mundo, o horror que a ameaça constante de nova guerra despertava em cada coração.

Conhecíamos os problemas das mortes nos campos de batalha.
Conhecíamos em parte, a que arrastamentos as paixões podem conduzir o homem espicaçado pelo ódio e pela guerra.

Funda emoção nos acometeu quando ela concluiu:
Companheiros! Unamo-nos para lutar pela paz!

Nossa luta é de amor e alegria, de esperança e luz.
Sabemos que as casas de socorro do nosso plano, ainda abrigam espíritos dementados pela luta sangrenta.

Sabemos dos resgates dolorosos que muitos necessitam enfrentar ainda na restauração da paz que destruíram.

Sabemos que os homens precisam aprender a amar e a sentir Jesus com o coração.

A humanidade carece mais do que nunca do conhecimento da vida espiritual, da crença na reencarnação e na eficácia da Justiça Divina, que ninguém jamais conseguiu burlar!

É preciso que os homens saibam que toda quebra da paz representa duro esforço na restauração do eterno bem.

Companheiros!
E isso que precisamos falar aos homens, a cada coração, a cada lar, a cada Espírito.

Por isso nos reunimos aqui.
Vamos servir a Jesus unidos e confiantes, sem medo das falanges das trevas que se locomovem incessantemente envolvendo os homens na hora difícil que passa.

Deus é alegria e paz. Jesus é vitória do bem.

Trabalhemos e certamente unidos poderemos realizar com alegria e coragem novas sementeiras de amor.

Eu estava comovido, um entusiasmo enorme fortaleceu em meu coração o desejo da luta.

Depois da prece singela e comovente, a reunião encerrou-se e esperei a instrutora que iria designar-me a tarefa.

Continua...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 17, 2012 9:49 am

Continua...

A enfermeira Lee aproximou-se distendendo um sorriso:
- Estou contente por contarmos consigo.

Apertei a mão que me estendia com carinho.
- Sinto-me feliz por estar aqui.
Aguardo com alegria o momento de iniciarmos nossa tarefa.

— Sim, temos acompanhado o grupo com que você colabora na Terra e temos estado com eles no intercâmbio amigo.

Chegou a hora de seguirmos.
Você quer material para um novo livro endereçado aos nossos irmãos terrenos e acho que temos um caso especial.

Interessei-me:
- Já conseguiu?
— Sim. Venha comigo. Acompanhei-a.

Atravessamos o parque harmonioso e belo que circundava o local das reuniões e caminhamos alguns quarteirões.

Alcançamos um edifício claro e de linhas rectas.
Entramos, atravessamos o hall e ingressamos em pequeno salão onde um casal de aspecto moço, palestrava em voz baixa, ao lado de um menino aparentando uns 9 anos.

Apesar de serenos, eles estavam um pouco pálidos, demonstrando que convalesciam, O menino, embora em melhores condições espirituais, pois sua cabeça estava nimbada de luz, parecia preocupado e um pouco impaciente.

Vendo-nos, correu ao nosso encontro e abraçando a enfermeira disse:
— Você veio! Esperava com impaciência!
Precisamos ajudá-lo. Eu o amo tanto!

Precisamos fazer algo por ele!
— Certamente, meu filho - tornou ela com firmeza — confiemos em Jesus que não nos desampara.

O casal levantou-se e aproximou-se saudando-nos:
— Temos feito tudo, mas ele não fala noutra coisa.

O menino olhou ansioso para a enfermeira e explicou:
— Tenho sentido seus pensamentos de angústia e de dor.

Pensa em mim com frequência e não encontrou ainda a paz.
É preciso que ele saiba que não sofri. Ele não sabe.
Martiriza-se recordando minha morte!

Tem sofrido muito. Desejo ajudá-lo.
Eu lhe devo tanto, mas agora nada posso fazer.
Só Deus e vocês podem ajudar-me!

A enfermeira alisou-lhe os cabelos louros e com serenidade tornou:
— Você teria suficiente calma para vê-lo?
Poderia conter-se?

Continua...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 17, 2012 9:50 am

Continua...

— Certamente — volveu ele calmo.
Compreendo que minha tarefa na Terra era curta nesta encarnação e sinto-me bem.
Mas, não posso pensar em mim, enquanto ele sofrer.

A jovem senhora olhou-nos com emoção e pediu:
— Eu também gostaria de fazer algo por ele.
Temos orado, mas sua dor é enorme.
Todos lhe devemos tanto!

— Naturalmente.
A gratidão é um sentimento nobre e justo.
Apreciamos suas orações em favor do nosso amigo e delas necessitamos.

Sorrindo, olhou para mim dizendo:
— Este é nosso amigo Lucius que integra o grupo de trabalho que deverá participar do auxílio ao nosso tutelado.
Sorri comovido quando os três me olharam com esperança.

Ela continuou:
— Muito bem. Amanhã viremos buscá-lo para iniciarmos nossas providências em favor dele.
Há um grupo que presta socorros na Terra e iremos com eles.

Dirigindo-se ao menino tornou:
— Você virá connosco.
O rosto do pequeno iluminou-se.

— Quanto a vocês, ainda é cedo para reverem a paisagem terrestre.
Daqui, poderão orar mandando-nos pensamentos bons e optimistas.

Os dois recordaram imediatamente.
O rosto expressivo do menino atraía minha simpatia e sua vibração amorosa transmitia-nos grande sensação de paz.

Conversamos mais algum tempo e quando saímos não pude deter a curiosidade:
— Este menino desencarnou há pouco tempo?
— Sim. Há pouco mais de seis meses.

Sei o que pensa.
Com tanta luz porque ainda se detém em casa de tratamento?
É um Espírito abnegado e bom.

Poderia ter ido para planos mais altos, desenvolver sua forma física, tomar inclusive a aparência da encarnação anterior, mas, não quer fazê-lo porquanto deseja antes ajudar as pessoas que ama.

— O casal que o acompanha?
— Sim. Foram seus pais na Terra.
Mas, não têm ainda sua compreensão e a presença do filho lhes faz enorme bem.

Desencarnaram violentamente durante a segunda guerra mundial, deixando o filho órfão na Terra e passaram longos anos de sofrimentos e de revolta, de preocupação e de desequilíbrio.

Continua...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 17, 2012 9:50 am

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A presença do menino devolveu-lhes a alegria e ele vem com amor e carinho trabalhando seus corações, preparando-os para as revelações sublimes da vida maior.

Também, como viu, há alguém na Terra que ele ama muito e deseja ajudar.

— É o caso que me falou?
- Sim, Mas, não desejo truncar suas impressões dando meu parecer.
Amanhã iremos até lá e você mesmo tomará contacto com a realidade.

Apesar da curiosidade, não quis perguntar nada.
Chegamos ao prédio onde a enfermeira Lee residia.

Ao nos despedirmos ela sorriu dizendo:
— Amanhã às 20 horas.
- Está bem — respondi. — Até amanhã.

Foi com certa impaciência que esperei o dia imediato. Na hora exacta nos reunimos.
O menino nos esperava sereno, embora o brilho do seu olhar denunciasse alegria.

Juntamo-nos ao grupo de enfermeiras assistentes que acompanhariam alguns médicos que se dedicavam anonimamente ao socorro da humanidade sofredora.

Após comovente e delicada prece, partimos rumo ao orbe terreno.
Sempre me emociona rever Paris.

As recordações, apesar dos anos e dos séculos decorridos, acordam em nossos espíritos sentimentos doces e ternos.

Esquecemos os sofrimentos e as lutas, para conservar apenas a suave saudade de um local onde vivemos, amamos e aprendemos.

Era noite de verão.
Nosso grupo desmembrara-se permanecendo apenas o menino, a enfermeira Lee, uma assistente e eu.

Dirigimo-nos a uma casa não muito distante do centro.
Seu aspecto era bem cuidado.
Entramos.

Apesar do trato, o ambiente era triste e pesado.
Reuniam-se para o jantar.

Um casal idoso, uma jovem senhora e um menino, sentados ao redor da mesa comiam em silêncio e sem apetite.

Havia tristeza em cada semblante.
Denizarth precisa alimentar-se.
Novamente sem jantar...

Foi o comentário que ouvi da velha senhora, mas acompanhei o grupo que parecia familiarizado com a casa e dirigiu-se ao quarto.

Sentado em uma poltrona com a cabeça entre as mãos, um homem moço ainda, parecia imerso em tristes pensamentos.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 17, 2012 9:50 am

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Acercamo-nos dele. Não sentiu nossa presença.
A um gesto de miss Lee, voltei minha atenção para o cérebro do nosso amigo que estava envolto por grossa camada de fluído cinzento-escuro que descendo pelo epigastro alcançava também o plexo solar.

Era natural que não sentisse fome com as funções biológicas paralisadas e as glândulas gustativas impossibilitadas de activar o fluxo da mucosa estomacal.

— Observe sua mente — disse-me a enfermeira.
Fixei o frontal e pude, admirado, focalizar uma cena brutal.
— É só o que ele pensa — observou comovido o menino, afagando-lhe a cabeça com extremado carinho.

— Sim. É um caso de cristalização mental.
Temo-lo observado há algum tempo e agora nossos maiores determinaram auxílio directo e objectivo.
Nosso irmão é credor de grande estima no plano espiritual.

Olhei para ela curioso.
— Venha comigo um instante.
Vou dar-lhe o que precisa.

No canto do aposento havia uma escrivaninha e dentro da gaveta um caderno manuscrito.

— É o diário de Denizarth.
Leia-o. É a história que você procura.

— Agora?
— Sim. Você tem tempo.
O atendimento do nosso amigo vai deter-nos por aqui algumas horas. Fique à vontade.

Aproximei-me bem do móvel e concentrei firme o pensamento nas páginas do caderno que permanecia fechado dentro da gaveta.

Com respeito e carinho, devidos aos segredos daquele coração, a história ia começar...
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CAPITULO II - O campo de batalha

O Diário de Denizarth


Debaixo de um cerco odioso nos aglomerávamos qual corja esfaimada e sedenta na trincheira escura.

A noite interminável bramia à nossa volta, pactuando com o inimigo implacável, escondendo-o sorrateiramente dos nossos fuzis apontados e dos nossos olhos esbugalhados, querendo penetrar-lhes as sombras tenebrosas.

Respiração suspensa, todos os sentidos canalizados no olfacto e na audição.

As mãos nervosas crispadas na coronha. Uma sensação de enjoo e de terror.

Sabíamos que estávamos perdidos.
O inimigo nos encurralara em perigoso cerco.
Caváramos a trincheira e sabíamos que iria nos servir de cova.

Um gosto terrível de sangue nos subia à boca.
Éramos pouco mais de vinte, mas estávamos dispostos a vender caro a vida.

Os minutos sucediam-se lentamente.
Horrível aquele silêncio, aquele esperar, aquela tensão.

— Porque não vêm os miseráveis? — gritou alguém logo agarrado pelo capitão que nos chefiava.

— Todos estamos nervosos. Cale-se.
Não vamos precipitar os acontecimentos.

Apertou o soldado contra o peito abafando-lhe a voz.
0 rapaz soluçava em crise.
O ambiente a cada minuto mais e mais se tornava irrespirável.

De onde viriam primeiro?
Quando atacariam?
Mesmo que fôssemos atacados, nossos víveres se tinham reduzido consideravelmente.

Quase nada nos restava de alimentos e a água ia escasseando.
Alguns companheiros descansavam enquanto estávamos de vigília e despertaram da modorra em que se tinham envolvido para pseudo repouso.

Vieram render a guarda e por nossa vez nos debruçamos no fundo da trincheira para tentar descansar.

Impossível dormir.
Apesar de estarmos naquele inferno há pouco tempo, havíamos enfrentado muitos perigos, porém, jamais vivido instantes tão dramáticos.

A violência e o inesperado do ataque alemão,
nossas linhas desmanteladas, vencidas, não sabíamos sequer o que acontecera à nossa guarnição.

Não sei quanto tempo decorreu, se descansei ou dormi, só me recordo de que de repente as metralhadoras começaram a funcionar. De um salto, apertei o fuzil e dei no gatilho.

As granadas explodiram pouco além e alguns dos nossos, atingidos, rolaram entre gritos de dor e golfadas de sangue.
À ordem de sair e tentar um corpo a corpo, obedecemos incontinente.

Continua...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 17, 2012 9:51 am

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Na noite que já esmaecia aos primeiros dealbares da aurora, transformada em luz, ao ruído incessante da batalha, enfrentamos os inimigos conseguindo reconhecê-los pelo uniforme, onde a suástica brilhava terrivelmente.

Nesse instante, o brilho de uma lâmina atingiu-me o olhar.
Num segundo compreendi o perigo iminente.
Desviei rápido e a baioneta raspou-me o braço onde o sangue jorrou abundante.

Atraquei-me com o atacante num supremo esforço para defender a vida.
Rolamos ambos por um barranco e nossa luta era de vida e de morte.

A certa altura, meu antagonista bateu a cabeça em uma pedra atordoando-se por um segundo o que me deu tempo para abatê-lo a golpes do revólver que saquei rapidamente.

Nesse exacto instante vi imenso clarão, enquanto que sentindo dor aguda no ombro direito, perdi os sentidos.

Quando acordei, o dia já amanhecera de todo.
Acreditei sonhar. Sentia-me muito fraco.
A meu lado o alemão que eu atingira estendia-se morto.

O chão estava sujo de sangue e as moscas enxameavam sobre os corpos estendidos.

Vi diversos companheiros por perto. Todos mortos.
Não consegui levantar-me. Sentei-me a custo.
Estava tonto.
Pude ver, apesar disso, que estávamos em plena ribanceira.

Não nos tinham visto porque estávamos em terreno baixo, recuperara bem o equilíbrio quando ouvi ruído de motor.

Ao mesmo tempo, vozes falavam em alemão. Senti-me apavorado.
Eles ainda estavam por perto.
Se me vissem, por certo me matariam.
Não costumavam recolher feridos inimigos.

Apenas aprisionavam os que podiam seguir adiante para os campos de concentração e trabalhos forçados.

Não nos tinham visto porque estávamos em terreno baixo.
Havia árvores copadas a nos encobrir.

Por outro lado, se eu ficasse por ali, ferido e sem víveres condenava-me à morte lenta e sem esperanças de socorro.

Foi quando ocorreu-me uma ideia audaciosa.
Rápido, comecei a tirar a roupa empapada de sangue do soldado inimigo que derrubara.

A tarefa foi difícil porque eu estava sem forças, ferido;
o corpo do alemão era pesado e começava já a enrijecer-se.

Desnudei-o e gastei certo tempo em vesti-lo com minhas roupas e em vestir-me com as dele.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 17, 2012 9:51 am

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Para meu plano, precisava até das roupas íntimas.
De um dos bolsos caiu um retrato e o rosto inocente de uma adolescente deu-me estranha sensação de susto.

Parecia-me estar vivendo em outro mundo, em pesadelo terrível.
Guardei o retrato no bolso dele e quando senti que estava pronto, comecei a gemer alto.

Pelo ruído, percebi que livres da nossa presença, tinham acampado perto, alimentavam-se e cuidavam dos feridos.

Depois de muito gemer, fingindo-me mal, percebi que dois padioleiros, dando pela minha presença vieram até onde eu estava;
e calmos colocaram-me na maca.

Embora receoso, fechei os olhos fingindo estar sem sentidos.
O plano dera resultados.
Não desejava muito, apenas chance para viver.

Se fosse descoberto quando estivesse melhor, talvez ficasse prisioneiro por algum tempo ou se tivesse sorte, até a guerra acabar.

Contava enganá-los durante algum tempo.
De minha mãe eslava e meu pai francês herdara uma semelhança acentuada com o tipo ariano.

Só a morte iminente, o instinto de conservação, pôde dar-me calma, principalmente por saber que aquela era minha única saída, se quisesse sobreviver.

Colocaram-me ao lado de outra maca, sobre um caminhão.
Um enfermeiro, vendo-me gemer, deu-me água que bebi sôfrego.

Conservava-me calado.
Não podia falar sem me revelar, O pior é que não entendia nada do que diziam.

Resolvi guardar silêncio.
Tinha muita fome e extrema fraqueza. Perdera muito sangue.
O caminhão pôs-se em movimento.

Enquanto viajávamos percebi que o enfermeiro cansado recostara-se para dormir, Os Outros três feridos estavam em piores condições, dormindo ou desacordados
Levantei a cabeça e vi na mochila que estava ao lado da maca, um pedaço de pão.

Agarrei-o como quem agarra o maior bem do mundo.
Estava duro e mofado. Comi assim mesmo.
Senti-me reconfortado.
Para onde iríamos? Não sabia.

Adormeci, vencido pelo cansaço, apesar da dor aguda que sentia no ombro, e da situação perigosa e especialíssima em que estava envolvido.

Quando acordei, a princípio, não me recordei bem dos últimos acontecimentos.
Num sobressalto, de repente, rememorei tudo.
Relancei o olhar pelo quarto e vi que me encontrava em uma antiga casa solarenga, transformada em hospital.

O salão, onde certamente se tinham realizado muitas recepções festivas era cenário agora do traumatismo da guerra.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 17, 2012 9:51 am

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Algumas camas, dispostas de maneira a aproveitar melhor o espaço existente e macas, formavam a enfermaria em que me encontrava.

Alguns conversavam com alguma animação enquanto que outros gemiam em prostração e sofrimento.

Uma enfermeira, vendo-me abrir os olhos acorreu Pressurosa.
Era de fisionomia agradável, apesar da impossibilidade de entender-lhe as palavras.

Verificando o esforço que fazia para provocar uma resposta, procurei demonstrar completo alheamento.

Tomei, naquele momento crítico, a deliberação de simular um trauma psíquico.
Ela tentou com voz carinhosa provocar uma manifestação de minha parte.

Porém, conservei um mutismo obstinado.
Diante de sua insistência, fingi um ataque de terror, abrindo muito os olhos, fixando um ponto distante, demonstrando medo e sofrimento.

Com um gesto carinhoso, procurou acalmar-me.
Dirigiu-se em seguida a um homem que recém entrara no salão, de avental branco e fisionomia cansada.

Conversaram. Percebi que falavam de mim. Aproximaram-se.
Ele tomou-me o pulso, deu-me palmadinhas amigáveis no ombro que não estava ferido, em seguida voltou-se, deu algumas instruções à enfermeira retirando em seguida.

Suspirei aliviado, Parecia-me que não havia perigo imediato.
O mais cruel era não compreender o que diziam.
Saber se não haviam desconfiado de mim.

Assim, decorreram alguns dias.
Até quando poderia levar avante aquela farsa?
Estar em convivência directa com o inimigo me enojava.

Eram eles os assassinos dos meus companheiros.
Criaturas que eu aprendera a temer e a odiar.
Todavia, era minha vida que estava em jogo.

Mantinha-me em constante vigilância, a fim de que não viesse a fracassar demonstrando minha verdadeira identidade.

Sabia que o inimigo era astuto, mas a vontade de viver manteve-me calado.
Pelo menos, estava a salvo das lutas, meu ferimento sendo tratado, a alimentação razoável.

Às vezes, isolado, no silêncio forçado, jungido à solidão pela barreira de um idioma estranho, voltava-me para dentro de mim mesmo, recordando o passado feliz, a Universidade que não chegara a concluir, as doçuras do lar, entre uma irmã querida, uma mãe amorosa e um pai elegante, sóbrio, mas principalmente delicado, cortês, correcto e digno.

Fechava os olhos e as lembranças vinham-me à mente, tão nítidas que ao abri-los de novo, a princípio custava a reintegrar-me na dura realidade, no triste pesadelo que todos vivíamos.

Muitos se perguntam o porquê da guerra.
Alguns optam por ela, outros a planeiam no jogo desmedido das ambições.
Eu, porém, nem a planeara, nem tivera ambição política, nem sequer pudera optar.

Continua...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 18, 2012 9:10 am

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Vira minha pátria ameaçada e não tivera outra alternativa senão a de sair para salvaguardar nossos lares em perigo.

Jamais tivera vocação para armas de fogo, nem para matar, porém, vira-me na contingência de violentar minha natureza, para defender a própria vida e a dos companheiros.

A amizade, o trabalho de equipa, isso eu já conhecia.
Foi o que me ajudou a enfrentar a dureza das batalhas sem enlouquecer.

Não sentia ódio, mas com o correr do tempo, vendo amigos tombar esvaindo-se em sangue, vendo vilas e cidades subjugadas, mulheres violentadas, crianças mortas, meu coração começou a enrijecer e a pensar que o inimigo também matava sem remorsos e sem tristezas.

Não sei o que teria sido de mim naqueles dias sem a lembrança da minha felicidade perdida no convívio dos meus.
Os dias se sucederam e comecei a melhorar fisicamente com muita rapidez. O ferimento no ombro já estava bem e quase não doía.

Certo dia, notei que havia regozijo no ambiente. Não podendo compreender-lhes as palavras, aprendera a ler os sentimentos, a expressão das suas fisionomias.

Sabia quando estavam alegres e imaginava que estavam conseguindo novas vitórias.
O médico entrou em nossa enfermaria anotando nas papeletas de cada um, dando instruções e a enfermeira o assistia.

Chegando ao meu leito, deteve-se e conversaram, naturalmente sobre mim.
Parecia-me que decidiam sobre o meu destino porquanto estando em perfeitas condições físicas, não podia permanecer no hospital.

Entretanto, não podia voltar á linha de frente porquanto não estava no domínio da minha sanidade mental.

Controlando a ansiedade olhava-os indiferente, procurando demonstrar alheamento completo.
Na verdade, aquela convivência estreita com eles, tornara algumas palavras familiares aos meus ouvidos e intuitivamente começava já a compreendê-las.

Ouvi perfeitamente quando ele disse a palavra "volta".
Depois de alguns minutos, a enfermeira voltou e começou a arrumar meus poucos pertences.
Pela sua fisionomia amável percebi que não desconfiava de nada.

Era evidente que iam me mandar para outro lugar.
Para onde? Para a linha de frente?
Talvez eu pudesse fugir e reencontrar minha companhia.

Olhando-me com certa tristeza, a enfermeira ensaiou algumas perguntas.
Sorri para ela com ar estúpido, mas conservei me mudo.
Dando um suspiro resignado, nada mais disse.

Muitas vezes, para que a encenação se tornasse convincente, eu tomava atitudes esporádicas, iguais aos soldados que estavam no hospital.

Perfilava-me no cumprimento, batendo com força os calcanhares.
Aprendera a rir com eles, procurava copiar-lhes os costumes ao máximo.

Deu-me um uniforme limpo, uma capa, pois estávamos no inverno, uma mochila, algumas provisões e conduziu-me ao hall de entrada onde alguns soldados atendiam as ocorrências.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 18, 2012 9:11 am

Apontou-me para um dos oficiais que se postava atrás de uma mesa em atitude rígida.
Este olhou-me duramente e seu olhar deu-me calafrios.
Parecia querer penetrar fundo dentro de mim.
Olhei para ele, perfilei-me e fiz a continência nazista.

Pareceu-me mais tranquilo.
Rabiscou algumas palavras em um papel, assinou e a enfermeira colocou-o em minha mão, mostrando-me o bolso interno da jaqueta para que guardasse bem. Obedeci.

Outros também estavam aguardando a ordem de saída e a enfermeira recomendou-me a um deles, com certeza pedindo que me orientasse o soldado concordou.

Pouco depois, um caminhão estacionava diante do prédio e a uma ordem, embarcamos na carroçaria abrigada.

Ansiava por sair, para tentar verificar onde estava.
Era uma vila pequena e naquela manhã estava deserta, não sei se com alemães ou por falta de trabalho.

Foi com imensa tristeza que vi o caminhão afastar-se.
Consegui compreender que ainda precisava fugir, talvez alguém pudesse esconder-me.
Precisava sair do meio dos soldados sem despertar suspeitas.

Ai arquitectei um plano. Podia dar certo.
Ao passarmos frente a um tanque, simulando forte crise quis atirar-me para fora, pois o caminhão diminuiu a velocidade.

Todavia, fui dominado pelo braço forte do soldado a que tinha sido recomendado.
Com palavras evidentes de conforto procurou acalmar-me.

Nesse momento, meu terror era bem verdadeiro.
Não sabia estavam me levando. Era necessário fugir.
A custo acalmei-me esperançoso de que durante a viagem as oportunidades surgissem possibilitando a fuga.

Viajamos durante horas e, ao entardecer chegamos a Putshyaden.
Durante a viagem a oportunidade da fuga não se verificou.
Passávamos pelas linhas dominadas por eles e fugir seria arriscar a vida.

Resignado, procurei poupar energias, pois não sabia quando as necessitaria, mas queria estar em forma quando acontecesse.

Na estação de Putschyaden desembarcamos e na gare aguardamos o comboio que nos levaria rumo, para mim, ao desconhecido.

A estação era quase deserta e o silvo das locomotivas, não muito frequente.

Finalmente embarcamos.
Eu com o coração temeroso, vigiado pelo soldado inimigo dispensando-me desvelos de amigo, envolvido em terrível situação, deixei-me conduzir aparentando serenidade.

Para onde iria?
Para a morte, para a prisão, para a guerra?

No momento ignorava completamente meu destino.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 18, 2012 9:11 am

CAPITULO III - O lar de Ludwig

Viajamos toda a noite.
Apesar de bem agasalhados fazia muito frio e nossos corpos estavam gelados.

Sabia que estava em país inimigo.
Sentia-me inseguro apesar da farda que me cobria o corpo.

Durante dois dias viajamos naquele trem parando apenas de quando em quando, mas nosso capitão poucas vezes nos permitiu descer.

Convivendo com eles, perguntava constantemente se não estava dessa forma atraiçoando os meus amigos mortos, meus familiares queridos, minha pátria distante.

Mas, a vida é preciosa e enquanto a sentimos palpitar lutamos por conservá-la.
Sentia-me como um traidor.

Minha angústia não passava despercebida aos companheiros, mas notei que a achavam natural, considerando-me talvez um doente mental, tão comum ao deixar o campo da luta.

Apesar de tudo, foram cuidadosos comigo.
Para eles, eu representava um igual, e talvez cada um se sentisse temeroso de encontrar-se algum dia nas condições de desmemoriado.

Foi esse zelo que não me permitiu escapar durante o trajecto.
Numa manhã fria, cinzenta, desembarcamos finalmente em Dresdem.
Deus sabe o calafrio que me percorreu a espinha ao perceber que estávamos na Alemanha.

Meus companheiros mostravam-se alegres e efusivos.
Riam muito, apesar do cansaço.
A cidade pouco sofrera com a guerra.

Muita gente correu à estação procurando encontrar amigos, parentes, ou conhecidos entre os recém-vindos e muitos os encontravam.

Quando isso ocorria, soluços nervosos, risos incontroláveis chegavam aos nossos ouvidos.
Tal era a euforia da chegada que por um momento achei que poderia escapar naquele instante. Porém, para onde ir?

Por outro lado, temia que a uma investigação mais séria me descobrissem.
Fiquei parado sem saber o que fazer, mas, logo Ludwig, a quem eu fora recomendado pela enfermeira, conduziu-me pelo braço.

Saímos da estação e alguns caminhões já nos esperavam para seguir ao alojamento.
Não podia ocultar meu nervosismo e Ludwig dirigia-me palavras de calma, temeroso talvez que eu lhe causasse problemas.

Por toda cidade notava-se o movimento de tropas e pujança dos armamentos, o que me causava imensa preocupação quanto à durabilidade da guerra.

Apresentamo-nos no alojamento e meu companheiro entregou ao encarregado a carta que o capitão lhe dera, naturalmente um relatório sobre meu caso.

Algumas palavras soavam já mais familiares aos meus ouvidos, como "memória" ou cumprimentos, "comida", "almoço'', ''jantar'', ''doente''.

Ouvi algumas referências ao meu caso enquanto o oficial com olhos astutos e penetrantes examinava-me impiedoso.

Consegui sustentar-lhe o olhar, procurando aparentar certa imbecilidade na fisionomia.

Parece que não desconfiou.
Devolveu-nos a carta e despediu-nos com a saudação protocolar que acompanhei sem balbuciar palavra, imitando os gestos do meu companheiro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 18, 2012 9:11 am

Ele olhou-me entre alegre e indeciso.
Coçou a cabeça e depois pareceu decidir-se.
Conduziu-me pelo braço à saída do alojamento.

Falava comigo contente, convidando-me a segui-lo.
Acompanhei-o com certo prazer.
Sentia enorme alívio por poder sair do destacamento.

Meu companheiro, olhos alegres, abraçava-me de vez em quando, dirigindo-me palavras que me pareciam amigas.
Era um rapaz jovem e seu rosto claro um tanto irritado pelo rigor do inverno, era regularmente bonito.

Seus louros cabelos anelados, davam-lhe traços de um adolescente.
Pela primeira vez reparei bem na sua fisionomia que agora se transformava pela alegria imensa que reflectia.
Na rua, eu estava com fome, mas não sabia usar o dinheiro que nos haviam dado no alojamento, nem pedir para comer.

Esperei que meu acompanhante também sentisse fome.
Entretanto, ele nem parecia sentir outra coisa além da impaciência.
Foi ai que compreendi: ele regressava à sua casa!

Embora odiasse todos os inimigos, não pude deixar de pensar de como me sentiria feliz se também estivesse regressando ao lar.

Calei meus sentimentos íntimos e dispus-me a segui-lo em silêncio como até ali.
Tomamos um táxi e dentro de uns quinze minutos paramos em pequena vila nos arrabaldes da cidade.

Ludwig, atirou uma moeda ao motorista e correu para o portão de madeira vermelha, encimado por uma sineta que ele tilintou sem parar.

Gritos femininos, latidos de cães, abraços, exclamações de alegria, beijos, soluços, lágrimas.
Mau grado meu ódio, meus companheiros mortos, meus problemas, senti-me comovido.

Era tanta alegria ao meu redor, tanto carinho, tanta manifestação de amor familiar, que algumas lágrimas desceram pelo meu rosto.

Foi quando deram pela minha presença.
Ludwig, abraçado à mãe ainda moça, de cabeça guarnecida por grossa trança sedosa, largo avental bordado, olhos azuis muito límpidos, contou-lhe minha história.

Logo a jovem de olhos tão azuis e cabelos sedosos como a mãe, traje semelhante, e a menina de sardas e duas tranças esvoaçantes a agitarem-se com seus movimentos irrequietos de criança alegre olharam-me com tristeza, talvez lamentando-me a sorte.

Fiquei corado, não sei se de vergonha ou de repulsa pela situação delicada em que me encontrava, quando a comovida senhora depositou em minhas faces dois sonoros beijos de boas vindas.

Era natural que assim fosse.
Estava contente com a volta do filho e sentia pena da minha solidão.
Cumprimentei desajeitado as mãos que me estendiam e procurei sorrir para aqueles rostos corados e emocionados.

Levaram-me a um pequeno quarto nos fundos da casa e recomendaram-me que estivesse a vontade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 18, 2012 9:12 am

Fiquei tranquilo. Parecia-me que por enquanto o perigo estava afastado.
A casa era modesta, mas muito limpa e bem cuidada.
Fazia já muito tempo que eu não tinha um quarto só para mim e uma cama limpa para dormir.

Tomei um banho, conforme me tinham indicado e voltei à sala em busca de algo para comer.

O cheiro de café, de presunto e pão quente, fazia-me por momentos esquecer meus problemas tornando distante tudo o mais que não fosse o conforto presente.

A mesa estava posta e Ludwig sentado convidou-me ao repasto.
A cabeceira da mesa, um ancião olhava-nos com pequeninos olhos penetrantes e lúcidos.

— Meu avô.
Compreendi o que Ludwig me disse.
Curvei a cabeça atencioso no cumprimento que havia aprendido a imitar e dei a saudação militar.

O velhinho, olhou-me sério e para surpresa minha não correspondeu ao meu cumprimento.
Novamente ouvi Ludwig contar minha história ao velho senhor que calmo sorvia sua xícara de chá.

Senti-me meio sem jeito. O velho não parecia impressionado com as palavras do neto.
Somente uma vez olhou-me fixamente continuando depois a tomar seu chá.

Confesso que foi com impaciência que tomei assento à mesa preparada com tanto carinho e deliciei-me com as iguarias caseiras.

Sentia-me envolvido por estranhos sentimentos, metido em uma aventura que só Deus sabia como haveria de terminar.

Sentia de certa forma inveja do meu companheiro por estar em casa, mas o mesmo tempo reconhecia que me tinham recebido como a um filho que regressasse depois de longa ausência.

Após o repasto, que para mim foi principesco, dirigi-me ao quarto e atirei-me ao leito.
Adormeci, um sono tranquilo como há muito não o fazia.

Acordei na manhã seguinte assustado e surpreso, ouvindo cantos alegres e uma voz infantil a chamar-me na janela do quarto:
- Kurt, Kurt, Kurt.

Era o nome que me haviam dado no hospital de campanha porquanto no bolso interno do meu uniforme havia as iniciais K. M. e ao qual eu me habituara a atender.

Abri a janela controlando o desejo que sentia de falar, conversar com alguém, de derrubar a tremenda barreira da solidão em que era forçado a viver e acenei-lhe uma saudação que ela retribuiu com algumas frases que não pude compreender.

Estava admirado.
Dormira o resto da tarde e a noite inteira sem acordar.
Senti que precisava de alguma forma mostrar-me grato pela hospedagem que me ofereceram.
Vesti-me. Entrei na cozinha onde me foi oferecido chocolate quente e pão preto com geleia.

Não vi Ludwig.
Tinha resolvido pagar minha hospedagem. Pensando bem, não podia dever favores ao inimigo, ao povo que eu desejava odiar por serem culpados dessa guerra que ceifara já muitas vidas, Desejei mostrar-me gentil e delicado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 18, 2012 9:12 am

Se algum dia viessem a descobrir, a verdade, haveriam de saber que um francês sabe sei fidalgo, cortês, agradecido e cavalheiro.

Sabia que a propaganda nefasta dos que forjam a guerra, havia disseminado coisas odiosas sobre os aliados e um secreto impulso impelia-me a mostrar que estavam sendo enganados.

Parecia-me que sobre meus ombros pesava naquele momento toda a honra e o orgulho do povo francês.

Além do mais, compreendia que estando os moços na linha de frente, todo o trabalho da retaguarda ficara a cargo das mulheres e dos velhos, que colaboravam para dar continuidade à vida de rotina, colocados frente a tarefas rudes e inusitadas.

Por isso não estranhei que estando praticamente no campo, tanto mãe como as filhas e com certeza também o avô estivessem à voltas com o trabalho duro.

Desci a rampa leve que conduzia ao quintal que pude verificar bastante extenso e procurei com o olhar encontrar algo que pudesse fazer.

Metida em grosseira calça de zuarte, a jovem irmã de Ludwig cortava lenha manejando com certa perícia pesado machado.

Sem hesitar, dirigi-me a ela, e silencioso como sempre, comecei a trabalhar continuando o serviço.

A moça surpreendida a princípio, depois sorriu com satisfação e alívio.
Indicou-me a cinta grossa de couro onde deveria enfeixar a lenha e levá-la para a cozinha.

Apesar de não habituado com aquele serviço, o exercício fez-me bem ao espírito cansado.
Cheguei até a sentir desejos de cantar.
Controlei-me contudo, receoso de trair-me.

Para todos os efeitos eu era um neurótico de guerra que sob o traumatismo da luta havia perdido a fala e a memória.

Devia simular estar aprendendo as coisas o que foi fácil porquanto jamais havia rachado lenha.
Tão grande era o meu receio de ser descoberto que não me esquecia de simular em certos momentos um alheamento que estava longe de sentir.

Naquele dia trabalhei o quanto pude;
depois da lenha, o conserto do portão dos fundos, depois a caiação do galinheiro que naqueles dias duros era uma verdadeira mina de ouro.

Ludwig, pareceu satisfeito com minhas actividades.
Olhava-me com alegria por ver-me fazer o que ele não podia.
Sua licença não era grande e dentro em breve deveria voltar ao campo de luta.

Havia muitos negócios a resolver e segundo compreendi, a presença de uma moça que ele amava e com a qual desejava estar o máximo de tempo.

Confesso que foi-me dificílimo conseguir fingir.
A simplicidade do lar, a vida em família, fazia-me nostálgico e colocava-me fora do problema da guerra.

Contudo, à noite, reunidos em torno do rádio, a família discutia política e ouvia as últimas notícias.
Aprendi logo que cada alegria deles, deveria representar derrota para nós, os franceses.

Na verdade, eles venciam em toda linha.
Era nesses momentos que mais difícil se me tornava estar ali.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 18, 2012 9:12 am

Qualquer coisa dentro de mim queria gritar contra eles, dizer que os invasores, os ambiciosos, os ditadores, não podiam ganhar a guerra.

Mas, encerrado em meu mutismo habitual, muitas vezes fingi não ouvir as notícias mostrando-me indiferente e distante.

Fechava os olhos e fingia dormir, receoso de que pudessem ler neles toda minha revolta, toda minha angústia.

Até quando ficaria em casa de Ludwig?
Iria com ele quando expirasse o prazo da sua licença?
Ardia por saber, mas estava impossibilitado de perguntar.

Durante os dias que se seguiram consegui harmonizar-me com os costumes da família.

Percebi que sentiam-se bem com o auxílio que eu lhes prestava e principalmente por terem os homens em casa, o que lhes transmitia maior segurança.

Até o velho avô já me olhava com mais tolerância, embora nunca me tivesse dirigido a palavra.

Meus ouvidos estavam já se habituando ao alemão e na avidez em que me encontrava, percebia que o idioma aos poucos ia-se-me parecendo mais compreensível.

Decorridos os 8 dias da licença de Ludwig, a alegria retraiu-se diante de sua próxima partida. Eu não sabia para onde deveria ir.

Na véspera da sua partida, chamou-me com ar solene.
Atendi, indo encontrá-lo sério e triste. Levantou, o olhar firme, procurando falar devagar para que eu entendesse.

E, eu pude, mais fixando seus olhos do que entendendo-lhe as palavras, ver através deles a confiança, a determinação e a fé.

Despedia-se de mim, como de um companheiro e recomendava-me com gestos eloquentes que permanecesse em sua casa enquanto não pudesse lutar, uma vez que estava em condições de ajudar, nos trabalhos duros daqueles dias, aos seus familiares.

Compreendi tudo quanto me quis dizer, embora apenas pudesse entender algumas palavras.
Para ser sincero, não encontrava meios de fugir ao embaraço que a singularidade da situação me causava.

Na verdade, sentia-me como um ladrão, recebendo uma prova de confiança que não sabia se conseguiria cumprir.

Eu me considerava um inimigo, um intruso, e vindo de um campo tão tenebroso de batalha não me era fácil em tão pouco tempo, esquecer os companheiros mortos, as moças violentadas, as crianças abandonadas, o sorriso sendo substituído pelo terror da suástica tenebrosa a todos dizimando, concretizando a ambição de um líder endoidecido.

Naqueles dias, apesar da simplicidade do lar alemão recordar-me ao meu próprio lar, não podia desejar-lhes sorte e felicidade sem atraiçoar meus mais íntimos sentimentos.

Vencendo a desagradável impressão de falsidade e traição que a confiança de Ludwig me proporcionava, procurei demonstrar minha gratidão concordando em permanecer na casa até que estivesse em condições de voltar ao exército.

Não sabia se conseguiria enganá-los por muito tempo.
Tinham-me fotografado e tirado impressões digitais para posterior identificação.
Eu sabia que um dia, haveriam de constatar que minha ficha não constava dos seus registos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 18, 2012 9:13 am

Contudo, era sincero num ponto.
Não pretendia molestar a família de Ludwig.

Meu ódio contra o inimigo não me impedia de raciocinar que me competia respeitar o lar que me dera abrigo com tanta boa vontade.

Foi um dia muito triste para a família a partida de Ludwig.
O olhar de sua mãe brilhava mais do que o costume e mal tocou nas refeições.

As duas irmãs esforçavam-se por desanuviar o ambiente, porém, nada podia mudar tanto o olhar endurecido da mãe como o silêncio condenatório do avô.

No dia imediato, a rotina caseira desenvolveu-se pontualmente, embora os olhos vermelhos de Frau Eva revelassem uma noite mal dormida.

Porém, dos seus lábios finos e enérgicos não partiu uma queixa sequer.
Naquele dia, meditando na angústia e no sofrimento de todas as mães diante da brutalidade da guerra, pensando nos olhos azuis e suaves de minha mãe distante, que deveria estar pensando no filho ausente, senti-me no dever de dispensar-lhe atenções especiais.

Entretanto, Frau Eva olhava-me com vago rancor, talvez a se perguntar porque caprichos do destino, seu Ludwig partira e eu permanecia ali, protegido e tranquilo.

Senti seu pensamento e compreendi o egoísmo materno que coloca o "seu" filho em primeiro plano.
Trabalhamos muito naquele dia.
Parecia que Frau Eva queria cansar o corpo para não pensar na partida do filho.

Por isso, à noite, a menina Elga vencida pelo cansaço, cedo se recolheu e o velho avô, fumando seu cachimbo, parecia mais mudo do que o habitual;
a jovem Ana recolheu-se também;
somente Frau Eva costurava sem cessar, como se terminar o cerzido fosse caso de vida ou de morte.

Fui deitar-me. Era noite fria.
Comecei a ler um livro que apanhara na sala, mas não conseguia entender quase nada.
A luz bruxuleante da lâmpada a óleo não me deixava enxergar bem. Apaguei-a.

Por muito tempo permaneci engolfado em meus pensamentos íntimos.
Subitamente tive a atenção despertada por um soluço dolorido.

Prestei atenção.
Alguém chorava sentidamente.
A tensão da trincheira desenvolvera-me a audição e a noção de direcção.

Logo percebi que os soluços partiam do quarto ao lado onde Ana dormia.

Senti-me desagradavelmente impressionado.
Não gostava de ver mulher chorar.
O som continuava triste e abafado. Pobre moça.

Talvez tivesse ocultado seu sofrimento para não traumatizar a mãe, mas na solidão do seu quarto dava livre curso à sua mágoa diante da partida do irmão que naturalmente devia amar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 18, 2012 9:13 am

Mas, eu nada podia fazer.
Na delicada situação em que me encontrava não era a criatura indicada para consolar ninguém.

Limitei-me a ficar de olhos abertos no escuro, ouvindo os soluços doridos de Ana, pensando juventude de um povo, enlutando o coração das mães e das irmãs, das esposas e da nação.

E, sem poder conter a emoção, chorei.
Chorei de raiva, sentindo-me impotente diante da coragem destruidora da ambição humana que arrasta os povos às lutas fratricidas.

No dia seguinte levantei-me um pouco mais tarde.
A noite fora dura e os pesadelos voltaram a molestar-me, fazendo-me retornar à selvajaria das batalhas.

Encontrei as mulheres trabalhando silenciosas embora seus olhos estivessem vermelhos e pisados.
Fixei Ana que procedia a limpeza do quintal, manejando a vassoura com rapidez.

Quantos anos poderia ter?
Talvez uns dezoito.
Seus olhos cinzentos estavam profundamente tristes.

Embora suas mãos estivessem maltratadas pelo trabalho duro, seu rosto era delicado, bem como seus cabelos trançados com simplicidade caindo-lhe pela espádua esquerda.

Mesmo vestida com roupas simples e folgadas, seu corpo era delicado não possuindo a robustez que eu imaginava como atributo das jovens alemãs.

Pensando nos seus doridos soluços, fui ajudá-la e confesso que teria gostado de confortá-la na sua dor.
Parece que Ana entendeu minha manifestação de conforto porque suavizou um pouco o olhar quando se dirigiu a mim.

Talvez tenha sido naquele dia que tudo começou;
não posso explicar, mas, a presença da jovem Ana principiou a chamar minha atenção de um modo especial.
Sentia sua presença quando estava na sala, e um calor me aquecia o coração quando lhe ouvia a voz cantante e suave.

Ainda hoje não posso explicar como aconteceu, nem que mistérios insondáveis conduzem o coração humano.

Talvez que para meu coração jovem e afectuoso, acostumado ao amor um tanto livre na minha terra, aquela abstinência forçada dos contactos afectuosos de uma mulher me tivessem conduzido os sentimentos de maneira tão imprevista quanto avassaladora.

Por vezes, nossas mãos se tocavam durante o trabalho e eu ficava imaginando tomá-la nos braços, amando-a com toda a força da minha juventude.

Ana também se emocionava com meu contacto.
Enrubescia e eu sentia que seu corpo tremia como folha agitada pelo vento.
Sabia que se a beijasse a teria submissa, entretanto, um certo pudor me interceptava os passos.

Afinal, ela era uma alemã! Uma inimiga!!
Onde estava meu patriotismo?
Amá-la não seria trair meus companheiros tripudiando sobre minha consciência?

Ao mesmo tempo, lembrava-me a invasão alemã violentando nossas mulheres, ofendendo os nossos sentimentos mais puros.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 18, 2012 9:13 am

Porque haveria de ter escrúpulos?
Não estaria no direito de fazer o mesmo?

A guerra perverte nosso raciocínio e a moral se reduz diante de tragédias e da crueza dos acontecimentos onde actuam os mais duros instintos.

Uma tarde, estava regressando do quintal onde terminara de rachar lenha para a lareira, enquanto Frau Eva e Elga serviam o café na sala em companhia de alguns vizinhos.

Ao entrar na despensa, esbarrei imprevistamente em Ana que ia sair.
Nosso choque foi tremendo.

Coloquei a lenha no chão e sentindo a emoção dominar-me, tomei-a nos braços, beijando-a com violência e apertando-a contra o peito.
Incontida emoção tomou conta de mim.

Beijei-a repetidas vezes, sentindo que Ana abandonava-se em meu braços.
Soltei-a a custo.

Enquanto ela saía da despensa procurando recompor seu rosto, eu lutei por dominar a emoção que me envolvia a alma.

Senti que precisava de Ana, e naquele momento daria tudo para tê-la de novo nos braços.
Contudo, não podia arriscar-me.
Estava bem protegido, naquela casa e na medida do possível desejava permanecer ali.

O que seria de mim em país estranho, sem poder falar, compreendendo quase nada, naquela época difícil, sem poder trabalhar?

Passaria dificuldades e talvez fosse até descoberto.
Mas, a excitação provocada por Ana era enorme e passei a desejar novamente estar a sós com ela.
Todavia, naquele dia não foi possível e por isso, embora ansioso tive que conformar-me.

Recolhi-me ao pequeno quarto de dormir.
Deitei-me. Não conseguia conciliar o sono.
Altas horas, alguém bateu levemente na porta.

Trémulo de ansiedade abri, quase não acreditando que meu desejo se realizasse.

Ana entrou rapidamente, envolta em uma manta.
Fechei a porta com mãos trémulas.

Ela esperou que eu a tomasse nos braços e a conduzisse ao leito e naquele instante tudo o mais foi esquecido.

O monstro da guerra, nossos problemas, nossas lutas, nossas decepções, tudo desapareceu da nossa vida, enquanto estávamos nos braços um do outro.

Eu não pensei em meus amigos mortos, nem nas jovens francesas desonradas, nem na França distante, nem na Alemanha odiada.

Naquele instante, sentia vibrar meu coração de amor e só a custo conseguia sofrear o desejo de dizer-lhe palavras de carinho e de ternura, de gratidão e de compreensão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 19, 2012 9:46 am

Há quanto tempo não sentia o carinho de uma mulher?
O tempo, quando vivemos no inferno da guerra, se eterniza e se alonga.
Parece que estávamos vivendo outra vida, em meio a um pesadelo insano e interminável.

Por isso esquecemos tudo no instante em que estávamos juntos.
Sabíamos que o amanhã era incerto.

Se Ana, diante dessa alternativa viera ao meu encontro, eu tinha mais certeza que de um momento para outro tudo poderia estar irremediavelmente perdido.

Achei natural que ela viesse e sua atitude comoveu-me profundamente, embora não ousasse confessar.
O amanhã por certo nos separaria, mas o hoje era nosso e deveríamos vivê-lo.

Procurei apagar da mente qualquer pensamento que pudesse lembrar O falso Kurt Milier, toldar nossa felicidade e a ela nos entregamos prazeirosamente.

E, quando alta madrugada, Ana se foi, fiquei ainda insone e perturbado mas senti novo calor banhando meu coração.

Um mês já fazia que Ludwig partira.
Nossa vida, apesar das actividades, dos racionamentos e dos problemas emocionais, corria em relativa calma.

Ana, sempre que possível ia ao meu quarto, embora guardasse as aparências durante o dia.
Não me envergonho de dizer que estava apaixonado por ela.
Dócil, meiga e suave!

Trabalhávamos juntos nas tarefas caseiras e sentíamo-nos felizes por estarmos próximos um do outro.
Uma noite, reunidos em torno do rádio transmissor, após as costumeiras palavras do Führer, algumas das quais eu já conseguia compreender, ouvimos desusado rumor à nossa porta.

Um carro parou e logo uma patrulha entrou casa a dentro, foram conduzidos por um sargento, que arrogante conversou com Frau Eva que diligente os fora receber.

Percebi que falavam a meu respeito e pensei ter chegado o meu momento.
Se pudesse, teria fugido.
Porém, o sargento dirigiu-se a mim proferindo a saudação militar.

Respondi com o gesto, procurando esconder a preocupação que me ia na alma.
Convidou-me a acompanhá-lo.

Vesti a túnica militar e procurando adoptar atitudes naturais, fui com eles, acenando para os que ficaram, com cordialidade.
Para onde me levariam? Teria descoberto alguma coisa?
Pela atitude amistosa do sargento, alimentei esperanças de poder ainda desta vez não ser descoberto.

No quartel, fui levado ao alojamento e fizeram-me entender que deveria apresentar-me ao posto médico às 7 horas da manhã do dia seguinte.

Dormi mal naquela noite.
A algazarra dos outros soldados, contando suas aventuras, fazendo piadas, irritava-me a incerteza, a insegurança tiravam-me o sono. O pouco que dormi, sonhei com as batalhas, revi amigos mortos, cenas sangrentas.

Acordei agitado, nervoso. Apresentei-me na enfermaria na hora aprazada.
Fui examinado meticulosamente Passei pelo Raio X, extraíram-me líquido do encéfalo e sangue para exame, fui levado à radioscopia.


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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 19, 2012 9:47 am

Sofri com os exames, principalmente por estar perfeitamente bem de saúde, bem demais, o que poderia causar suspeitas.
Redobrei a vigilância a fim de representar bem meu papel Procurava por vezes mostrar-me lúcido para depois fingir alheamento e tristeza.

Por três dias os médicos me examinaram, depois, para experimentar-me levaram-me a um treinamento de rotina com exercícios de tiro.

Eu sabia que não tinham desconfiado de mim.
Procuravam saber se eu estava em condições de voltar a activa.
Por isso, ao primeiro tiro dei sinais de extremo nervosismo e atirei-me ao chão simulando pavor.

Esfreguei o rosto na terra do chão para feri-lo um pouco, a fim de dar realismo ao meu drama interior.

Alguns homens me seguraram levantando-me conduzindo-me imobilizado.
Eu ia de olhos arregalados, rosto ardendo, sujo de terra e sangue, estrebuchando, ora rindo sinistro, ora chorando.

Aplicaram-me um sedativo, adormeci.
Quando acordei não sabia quanto tempo havia passado, fingi-me triste, esquivo, demonstrando não ouvir ou entender nada.

Fui novamente conduzido ao médico.
Fingi indiferença e alheamento.

Naquela mesma tarde soltaram-me, depois de me colocarem nas mãos um documento com fotografia e o nome de Kurt Milier, concedendo-me licença por incapacidade física.

Sai, com o coração palpitando de alegria.
Poderia ter-me ido embora dali para sempre.

De posse do documento não me seria difícil trabalhar aqui e ali para manter-me.
Porém, a figura de Ana surgia-me na mente como um imã a conduzir-me de retorno à casa de Ludwig.
Sentia ímpetos de voltar à França, procurar os meus.

Todavia sabia que os alemães tinham tomado Paris e estremecia ante a Possibilidade dos meus terem perecido na casa de Ana, eu poderia aguardar o momento propício de retornar à pátria.

Sem meios de locomoção caminhei muito e quando dei por mim estava diante do portão de madeira pintado ansiando por entrar e ouvir a voz cantante de Ana dizer o que eu mal entendia, mas que me pareciam ser a coisa que eu =jamais ouvira.

Frau Eva tomava chá ao lado do avô calado, Elga tecia e Ana avivava o fogo da lareira.
Vendo-me entrar, um pouco desajeitado, tiritando de frio, Eva estendeu-me uma xícara de chá, Elga ofereceu-me uma fatia de pão e Ana estendeu-me uma manta sobre as pernas.

Como posso explicar meus sentimentos naquele instante.
A amabilidade com que fora recebido, dava-me extraordinária sensação de conforto.

Parecia estar voltando ao lar, entretanto, aquele jamais poderia ser o meu, porquanto um mar de sangue nos separava e se soubessem a verdade, na certa me entregariam às autoridades.

Enquanto sorvia o chá, tentei afastar os pensamentos desagradáveis.
Ali, havia calor, havia paz, havia Ana e era preciso aproveitar enquanto durasse.

Não haveria mais de pensar senão no presente. Por enquanto o passado deixaria de existir.

Permaneceria mergulhado no esquecimento, até quando fosse preciso e eu pudesse sobreviver.


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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 19, 2012 9:47 am

CAPITULO V - As bodas

Estávamos em meados de junho de 1940.

A primavera Cobria de verde os campos de Dresden e o céu coloria-se de intenso azul envolvendo os corações dos homens numa vã tentativa de convidá-los a paz.

Na verdade, as coisas não eram fáceis para todos nós.

Se era verdade que a Alemanha vencera grandes Campanhas, conseguindo subjugar a Polónia a Checoslováquia a Bélgica e a França, encontrara grande e valente obstáculo aos seus planos absolutistas nas condições excepcionais de resistência da velha Bretanha, que sofria rude castigo, mas que dominada pela força coesa de Seu Povo não esmorecia, oferecendo lhes constantes dificuldades.

Apesar da aliança com a Itália, a Alemanha realizava prodígios de esforço para sustentação da luta, O racionamento era duro e muitas mulheres trabalhavam nas fábricas do exército, de munições e de confecções de roupas para os soldados Constatando o poderio bélico da Alemanha eu temia que a guerra já estivesse perdida.

Apesar disso, dolorosa sensação de decepção senti desabrochar no coração quando através do rádio a notícia do Armistício.

A França invadida, dominada, assinara Armistício com a Alemanha!
Vi o contentamento nos olhos das mulheres da casa na esperança de que a guerra acabasse ali.

Eu sentia, todavia, que aquela vitória representava apenas o começo, Sabia que a ambição Nazista não se contentaria com ela.
Temia que eles avançassem sempre até que pudessem ser derrotados.

Pensava na tristeza dos meus.
Na humilhação dos meus companheiros.
Na ocupação arrogante do inimigo.

Ouvira o apelo de De Gaulie para a reacção da França Livre, e vi-me inclinado a retornar ao lar.

Mas de que maneira podia fazê-lo?
O que adiantaria se os alemães dominavam Paris invadido a França, apesar do Armistício?

Estava resolvido a esperar que a guerra acabasse de verdade.
Pensava no espectáculo doloroso de ver os meus humilhados e vencidos sem nada poder fazer.

Ludwig não voltara para casa nenhuma vez e algumas poucas cartas suas, recebidas pela família com grande alegria provocaram sempre alívio mas, ao mesmo tempo, tensão.

Não sabíamos onde encontrava, porquanto não lhe era permitido contar-nos o local.
Sabíamos apenas que no sul da França.
Meu romance com Ana prosseguia.

Acredito que todos tenham compreendido nosso amor, porquanto ele extravasava nos nossos olhos, nos nossos gestos, na constante procura de proximidade que demonstrávamos.

Naqueles cinco meses de convivência, eu já compreendia regularmente o alemão.
Contudo, não me sentia com coragem de falar porquanto jamais conseguiria disfarçar minha origem pronunciando com perfeição as palavras.

Porém, com infinita paciência, Ana começou a ensinar-me a escrever o que me era relativamente fácil, procurando copiar-lhe as palavras.


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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 19, 2012 9:47 am

Julguei conveniente demonstrar certo embaraço para evitar desconfianças, mas era inacreditável como uma só palavra escrita podia transmitir nossos pensamentos.

Pude assim tomar conhecimento de muitas coisas sobre Ana.
Inclusive, que detestava a guerra, que amava as flores, a música, e a família, guardando sensibilizada todas as pequenas recordações de sua infância.

Pude saber também que seu pai fora gravemente ferido na guerra de 1914 e jamais se recuperara, vindo a falecer após muitos anos de sofrimentos acervos.

Que o avô pacifista por índole, tornara-se taciturno e fechado após a morte do seu único filho.
Odiava a guerra; por ele, seu neto teria fugido e desertado ao invés de servir.

Ludwig, como eu, deixara a Universidade para enfrentar a luta, porém, considerava a guerra uma necessidade para devolver à sua pátria as antigas glórias, restabelecendo seus domínios nos territórios que perdera com a derrocada.

Fora educado assim, nas escolas que cursara, aceitara os princípios nazistas de rearmamento e reorganização das forças armadas que colocassem seu país em condições de ser respeitado e temido por todo o mundo.

Quando Adolf Hitler restabeleceu o serviço militar obrigatório foi dos primeiros a se inscrever Frequentemente orgulhava-se disto.

Certa noite, ouvindo as notícias costumeiras, através do rádio, quase me revelei.
A Alemanha aceitara a colaboração da França ocupada assinando acordo com Petain.

Deu-me vontade de gritar, pelos meus amigos mortos, pelas inúmeras vidas, pelo imenso sofrimento de todo um povo humilhado e ferido.

Pensei em regressar.
Agora, não me seria difícil conseguir chegar a Paris, com os documentos que possuía.
Mas, como deixar Ana?

Habituara-me à sua meiguice, ao Seu rostinho redondo, ao seu olhar manso e húmido.
Nessa noite, Ana veio ter comigo.

Parecia assustada e aflita.
Estendeu-me um pedaço pequeno de papel onde à luz bruxuleante da vela pude ler sobressaltado: "Eu: mãe, você: pai!"

De repente, pareceu-me que o chão fugia debaixo dos pés.
Olhei para ela que esperava ansiosa minha reacção.
Fiquei aturdido.

Embora fosse uma probabilidade perfeitamente possível e até de certo modo comum, jamais estivera em minhas cogitações.

Olhei para Ana.
Seus olhos brilhavam emotivos e não tive coragem de demonstrar-lhe toda angústia que me envolvia o coração.

Procurei aparentar reconhecimento e afecto.
Abraçando-a com carinho, enquanto que a sua letra redonda traçava no papel as palavras.

"Eu te amo".
Impossível descrever minha emoção.
Que fazer? Contar-lhe a verdade?


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