Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Era quase dia claro quando um dos meus amigos, sem ter conseguido o facultativo, deu-me dois comprimidos para dormir e conseguiu aconchegar-me nas brumas da inconsciência.
No dia imediato, levantei-me mais tarde.
Recebera autorização do General para guardar o leito.
Acordei um pouco mais calmo, embora febril.
Apresentei-me ao serviço activo.
Queria trabalhar para esquecer.
Cansar o corpo para amortecer a dor que me compungia.
Por outro lado, a indiferença tolhia-me os passos.
Todos esses anos ansiara por essa vitória como pelo ar que respirava, mas agora, de que adiantaria?
A paz com a Alemanha nada mais significava para mim.
Gostaria de voltar para casa, estar com os meus, encontrar um pouco de calor humano, de amizade, de conforto.
Infelizmente não era possível. Tinha que continuar e continuei.
Sempre que recordo esses dias, uma nuvem de dúvidas ensombre-me as lembranças.
Não consigo recordar-me com clareza.
Talvez me seja penoso e por isso meu subconsciente nega-se a revivê-las.
Só sei que a luta prosseguiu e a vitória nos sorriu conforme esperávamos.
Seguimos para outras cidades alemãs enquanto recebíamos notícias de que os russos obtinham vitórias sobre vitórias.
Por fim, a invasão da Capital.
O desaparecimento de Hitler provocou alegrias e hurras, mas meu coração estava frio e macerado para que a morte tão desejada do nosso inimigo pudesse provocar maiores explosões de alegria.
Se Ana estivesse viva, então sim, meu coração teria vibrado de felicidade.
Agora, de que me valia?
Sentia-me cansado.
Desejava voltar para casa.
Talvez pudesse esquecer.
No dia imediato, levantei-me mais tarde.
Recebera autorização do General para guardar o leito.
Acordei um pouco mais calmo, embora febril.
Apresentei-me ao serviço activo.
Queria trabalhar para esquecer.
Cansar o corpo para amortecer a dor que me compungia.
Por outro lado, a indiferença tolhia-me os passos.
Todos esses anos ansiara por essa vitória como pelo ar que respirava, mas agora, de que adiantaria?
A paz com a Alemanha nada mais significava para mim.
Gostaria de voltar para casa, estar com os meus, encontrar um pouco de calor humano, de amizade, de conforto.
Infelizmente não era possível. Tinha que continuar e continuei.
Sempre que recordo esses dias, uma nuvem de dúvidas ensombre-me as lembranças.
Não consigo recordar-me com clareza.
Talvez me seja penoso e por isso meu subconsciente nega-se a revivê-las.
Só sei que a luta prosseguiu e a vitória nos sorriu conforme esperávamos.
Seguimos para outras cidades alemãs enquanto recebíamos notícias de que os russos obtinham vitórias sobre vitórias.
Por fim, a invasão da Capital.
O desaparecimento de Hitler provocou alegrias e hurras, mas meu coração estava frio e macerado para que a morte tão desejada do nosso inimigo pudesse provocar maiores explosões de alegria.
Se Ana estivesse viva, então sim, meu coração teria vibrado de felicidade.
Agora, de que me valia?
Sentia-me cansado.
Desejava voltar para casa.
Talvez pudesse esquecer.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
CAPÍTULO XVIII - O caminho de Damasco
Sentado em confortável poltrona, em nossa sala de estar, passei o olhar através da vidraça vislumbrando o burburinho da rua.
Há flores na janela e o sol acende alegria em todos os olhares.
Faz apenas um ano que a guerra acabou, entretanto, nada mais a recorda.
Fico pasmado pela rapidez com que os homens recolhem os destroços e recomeçam a vida.
Aparentemente tudo voltou ao normal.
As escolas funcionam, as fábricas, as lojas, os divertimentos, numa explosão de progresso vertiginoso.
Parece que a longa tensão da luta se exterioriza na busca de emoções alegres e de novos horizontes.
Contudo, dentro de cada um existe ainda uma ferida que sangra.
Tenho 27 anos e sinto-me velho.
Terá alguém na Terra vivido tanto quanto eu?
De volta à vida normal, não mais quis estudar.
Acostumado à agitação e ao movimento não me encontrava em condições de trancafiar-me em uma sala de aula ao contacto com os livros.
De início trabalhei com meu pai que reabriu seu escritório de advocacia.
Mas, não conseguia adaptar-me.
Foi quando fui solicitado pelo governo a ingressar na diplomacia.
Minha folha corrida no exército durante a guerra, minhas aventuras e presença de espírito, granjearam a simpatia do Comando Militar.
O governo precisava formar urgentemente um corpo diplomático de confiança, à altura da França.
A guerra viera demonstrar que o exército francês não estava em condições de enfrentar um adversário como o alemão, mas, com a luta e os brios espicaçados tínhamos conseguido reconquistar pelo menos o respeito do resto do mundo.
Agora, após a vitória, havia necessidade de estabelecer condições seguras de paz, sem os riscos de antanho e o excesso de confiança que nos levar quase a ruína.
Para isto precisava o governo contar com elementos novos e experientes, mas, que não tivessem se filiado ao perigo do comunismo, fantasma que começava a infiltrar-se perigosamente contra nossa segurança política.
Compareci ao gabinete do Sr. Pierre Declair, Secretário do Ministro das Relações Exteriores e foi-me oferecido um cargo de confiança dentro do Palácio.
Aceitei. Confesso que sem muito entusiasmo.
Nada conseguia despertar-me emoções.
Esgotara-as todas. Esperava poder servir ao meu país de alguma forma.
Olhei as flores graciosamente dispostas no vaso da sala, um casa, aparentemente voltáramos aos velhos tempos.
Minha mãe já não trabalhava, contávamos com empregados.
Meu pai sorria com mais frequência e Gisele tornara-se uma moça alegre e bem disposta, embora suas amargas experiências a houvessem transformado em mulher, seu rosto delicado não possuía nenhum traço de amargura.
Estava tranquila e feliz.
Sua vida era repleta de actividades.
Ajudava o pai no escritório funcionando voluntariamente como secretária.
Sentado em confortável poltrona, em nossa sala de estar, passei o olhar através da vidraça vislumbrando o burburinho da rua.
Há flores na janela e o sol acende alegria em todos os olhares.
Faz apenas um ano que a guerra acabou, entretanto, nada mais a recorda.
Fico pasmado pela rapidez com que os homens recolhem os destroços e recomeçam a vida.
Aparentemente tudo voltou ao normal.
As escolas funcionam, as fábricas, as lojas, os divertimentos, numa explosão de progresso vertiginoso.
Parece que a longa tensão da luta se exterioriza na busca de emoções alegres e de novos horizontes.
Contudo, dentro de cada um existe ainda uma ferida que sangra.
Tenho 27 anos e sinto-me velho.
Terá alguém na Terra vivido tanto quanto eu?
De volta à vida normal, não mais quis estudar.
Acostumado à agitação e ao movimento não me encontrava em condições de trancafiar-me em uma sala de aula ao contacto com os livros.
De início trabalhei com meu pai que reabriu seu escritório de advocacia.
Mas, não conseguia adaptar-me.
Foi quando fui solicitado pelo governo a ingressar na diplomacia.
Minha folha corrida no exército durante a guerra, minhas aventuras e presença de espírito, granjearam a simpatia do Comando Militar.
O governo precisava formar urgentemente um corpo diplomático de confiança, à altura da França.
A guerra viera demonstrar que o exército francês não estava em condições de enfrentar um adversário como o alemão, mas, com a luta e os brios espicaçados tínhamos conseguido reconquistar pelo menos o respeito do resto do mundo.
Agora, após a vitória, havia necessidade de estabelecer condições seguras de paz, sem os riscos de antanho e o excesso de confiança que nos levar quase a ruína.
Para isto precisava o governo contar com elementos novos e experientes, mas, que não tivessem se filiado ao perigo do comunismo, fantasma que começava a infiltrar-se perigosamente contra nossa segurança política.
Compareci ao gabinete do Sr. Pierre Declair, Secretário do Ministro das Relações Exteriores e foi-me oferecido um cargo de confiança dentro do Palácio.
Aceitei. Confesso que sem muito entusiasmo.
Nada conseguia despertar-me emoções.
Esgotara-as todas. Esperava poder servir ao meu país de alguma forma.
Olhei as flores graciosamente dispostas no vaso da sala, um casa, aparentemente voltáramos aos velhos tempos.
Minha mãe já não trabalhava, contávamos com empregados.
Meu pai sorria com mais frequência e Gisele tornara-se uma moça alegre e bem disposta, embora suas amargas experiências a houvessem transformado em mulher, seu rosto delicado não possuía nenhum traço de amargura.
Estava tranquila e feliz.
Sua vida era repleta de actividades.
Ajudava o pai no escritório funcionando voluntariamente como secretária.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Desejava trabalhar e papai encantado a contratara.
A afinidade entre os dois era admirável.
Não precisavam falar muito para entenderem-se.
Mas, Gisele não parava aí.
Dedicava também grande parte do seu tempo ao atendimento de quantos lhe necessitassem dos cuidados na enfermagem, como na assistência aos desajustados do após guerra.
Não raro a procuravam em casa altas horas ou nos momentos mais impróprios solicitando ajuda.
A princípio não me agradaram essas interrupções inoportunas do nosso sossego, mas meu pai a incentivava e tivemos até algumas discussões por causa disso.
Não que eu lhe reprovasse o atender e ajudar os outros, mas no meu entender abusavam da sua boa vontade nada lhe dando ocasião de descansar.
Solicitado por mim a intervir, papai respondera com energia e firmeza:
— Sua irmã precisa socorrer os aflitos.
Feliz daquele que encontra sua tarefa e procura cumpri-la com coragem.
— Mas você não acha que ela está exagerando?
Que nossa casa parece um "Muro das Lamentações"?
Meu pai olhou-me com fixidez como querendo devassar-me o íntimo.
— Peço-lhe que a deixe fazer seu trabalho em paz.
Só assim poderá encontrar a serenidade que necessita.
Porque não faz o mesmo?
— Eu?!
- Sim. Você. Porque não a auxilia?
Meu filho, sinto em seu olhar a frieza do desencanto.
Estamos nesse mundo conturbado, fazemos parte dele sem que possamos sair por agora.
Esta guerra trouxe-nos muita dor.
Há muito sofrimento ainda nos nossos corações.
Sei que você sofreu um rude golpe que tornou seu coração insensível e sofrido.
Enquanto meu pai falava, minhas mágoas, Ana, Karl, a guerra, ensombreciam-me a fisionomia.
— Tenho direito agora de encontrar a paz.
Já cumpri com o meu dever.
Você esquece que este mundo não é estagnação, mas acção.
Nada pára, tudo se movimenta.
Quando a primeira guerra acabou, pensava como você que pudesse gozar relativa paz.
Entretanto, o mundo caminhou para nova luta. Nada pára.
— O que você diz é desalentador.
— Também pensei assim, até o dia em que li "O Livro dos Espíritos".
A afinidade entre os dois era admirável.
Não precisavam falar muito para entenderem-se.
Mas, Gisele não parava aí.
Dedicava também grande parte do seu tempo ao atendimento de quantos lhe necessitassem dos cuidados na enfermagem, como na assistência aos desajustados do após guerra.
Não raro a procuravam em casa altas horas ou nos momentos mais impróprios solicitando ajuda.
A princípio não me agradaram essas interrupções inoportunas do nosso sossego, mas meu pai a incentivava e tivemos até algumas discussões por causa disso.
Não que eu lhe reprovasse o atender e ajudar os outros, mas no meu entender abusavam da sua boa vontade nada lhe dando ocasião de descansar.
Solicitado por mim a intervir, papai respondera com energia e firmeza:
— Sua irmã precisa socorrer os aflitos.
Feliz daquele que encontra sua tarefa e procura cumpri-la com coragem.
— Mas você não acha que ela está exagerando?
Que nossa casa parece um "Muro das Lamentações"?
Meu pai olhou-me com fixidez como querendo devassar-me o íntimo.
— Peço-lhe que a deixe fazer seu trabalho em paz.
Só assim poderá encontrar a serenidade que necessita.
Porque não faz o mesmo?
— Eu?!
- Sim. Você. Porque não a auxilia?
Meu filho, sinto em seu olhar a frieza do desencanto.
Estamos nesse mundo conturbado, fazemos parte dele sem que possamos sair por agora.
Esta guerra trouxe-nos muita dor.
Há muito sofrimento ainda nos nossos corações.
Sei que você sofreu um rude golpe que tornou seu coração insensível e sofrido.
Enquanto meu pai falava, minhas mágoas, Ana, Karl, a guerra, ensombreciam-me a fisionomia.
— Tenho direito agora de encontrar a paz.
Já cumpri com o meu dever.
Você esquece que este mundo não é estagnação, mas acção.
Nada pára, tudo se movimenta.
Quando a primeira guerra acabou, pensava como você que pudesse gozar relativa paz.
Entretanto, o mundo caminhou para nova luta. Nada pára.
— O que você diz é desalentador.
— Também pensei assim, até o dia em que li "O Livro dos Espíritos".
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Fiz ligeiro gesto de enfado.
Eu que a princípio aceitara feliz aquela teoria da existência de um mundo onde iríamos após a morte do corpo, da preexistência da alma, da reencarnação, agora parecia muito distanciado dela.
— Acho que você está impressionando-se demais com essas teorias, que afinal, nem sequer foram comprovadas.
— A simples negação também não estabelece prova em contrário.
Para mim, Denizarth, não há nenhuma dúvida.
Tenho mais absoluta certeza do que afirmo.
— Continue com suas convicções se isto lhe dá paz e conforto.
Quanto a mim, embora não as negue, também não me causam boa impressão.
Parecem antes haver contribuído para desenvolver tanto em você como em Gisele certo fanatismo que acredito pernicioso.
Longe de irritar-se com minhas palavras, meu pai sorriu calmamente.
— É uma pena você não estar connosco.
Mas, estará um dia, tenho a certeza.
O tempo encarregar-se-á de tudo.
A tranquilidade dele exasperou-me:
— Porquê pensa assim? — perguntei irritado.
Porquê todos os caminhos levam à verdade.
Alguns são mais longos e tortuosos mas no fim vão dar no mesmo lugar.
Calei-me. Por dentro, o invejava.
Gostaria de ser igual a eles. Mas não era.
Esperei que se cansassem de trabalhar desinteressadamente em favor dos outros, ou que a ingratidão de alguns os desiludisse Porém, nada os demovia.
Ao contrário pareciam tão felizes interiormente, que os admirava.
Gisele, sempre que eu me aproximava de ambos, dava-me a máxima atenção, compreendendo talvez o meu inconsciente ciúme por não poder alcançar a mesma satisfação que eles irradiavam.
Mas, eu percebia que era com as pessoas que a procuravam e com as quais se entretinha em confidências e gentilezas que seus olhos reflectiam aquela luz que eu quisera ver sempre quando ela me fitava.
Não interferi em suas actividades.
Mas, aquela tarde sentia-me muito só.
Havia uma hora que ela se entretinha em palestra com uma mocinha na saleta onde habitualmente atendia seus visitantes.
Eu e mamãe nunca interferíamos, mas aquele dia senti vontade de conversar um pouco.
Levantei-me e fui até lá, girei a maçaneta e alguns soluços provocaram-me ligeiro sobressalto.
Estava sendo indiscreto.
Resolvi voltar, mas, a voz de Gisele deteve-me:
— Acalme-se, Louise. Você fez o que podia.
Não acha melhor esperar um pouco?
O tempo favorece as soluções dos problemas emocionais como o seu.
Eu que a princípio aceitara feliz aquela teoria da existência de um mundo onde iríamos após a morte do corpo, da preexistência da alma, da reencarnação, agora parecia muito distanciado dela.
— Acho que você está impressionando-se demais com essas teorias, que afinal, nem sequer foram comprovadas.
— A simples negação também não estabelece prova em contrário.
Para mim, Denizarth, não há nenhuma dúvida.
Tenho mais absoluta certeza do que afirmo.
— Continue com suas convicções se isto lhe dá paz e conforto.
Quanto a mim, embora não as negue, também não me causam boa impressão.
Parecem antes haver contribuído para desenvolver tanto em você como em Gisele certo fanatismo que acredito pernicioso.
Longe de irritar-se com minhas palavras, meu pai sorriu calmamente.
— É uma pena você não estar connosco.
Mas, estará um dia, tenho a certeza.
O tempo encarregar-se-á de tudo.
A tranquilidade dele exasperou-me:
— Porquê pensa assim? — perguntei irritado.
Porquê todos os caminhos levam à verdade.
Alguns são mais longos e tortuosos mas no fim vão dar no mesmo lugar.
Calei-me. Por dentro, o invejava.
Gostaria de ser igual a eles. Mas não era.
Esperei que se cansassem de trabalhar desinteressadamente em favor dos outros, ou que a ingratidão de alguns os desiludisse Porém, nada os demovia.
Ao contrário pareciam tão felizes interiormente, que os admirava.
Gisele, sempre que eu me aproximava de ambos, dava-me a máxima atenção, compreendendo talvez o meu inconsciente ciúme por não poder alcançar a mesma satisfação que eles irradiavam.
Mas, eu percebia que era com as pessoas que a procuravam e com as quais se entretinha em confidências e gentilezas que seus olhos reflectiam aquela luz que eu quisera ver sempre quando ela me fitava.
Não interferi em suas actividades.
Mas, aquela tarde sentia-me muito só.
Havia uma hora que ela se entretinha em palestra com uma mocinha na saleta onde habitualmente atendia seus visitantes.
Eu e mamãe nunca interferíamos, mas aquele dia senti vontade de conversar um pouco.
Levantei-me e fui até lá, girei a maçaneta e alguns soluços provocaram-me ligeiro sobressalto.
Estava sendo indiscreto.
Resolvi voltar, mas, a voz de Gisele deteve-me:
— Acalme-se, Louise. Você fez o que podia.
Não acha melhor esperar um pouco?
O tempo favorece as soluções dos problemas emocionais como o seu.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Novos soluços.
— Não posso viver sem ele.
Não Posso... Se ele não voltar, eu me mato!
A voz de Gisele era doce, mas enérgica:
— Não fale assim, minha querida,
O que se passou não é irremediável.
Seja paciente e compreenderá que o caso não é tão grave assim.
- Você fala assim porque nunca sofreu como eu!
Senti vontade de protestar, mas receoso de ser surpreendido em tão desagradável posição, refugiei-me novamente na sala de estar, um tanto contrariado.
Afinal, porque minha irmã prendia-se a tão desinteressante companhia?
Devia estar terrivelmente maçada com uma palestra tão lamuriosa.
Senti-me frustrado também por não poder estar com ela, usufruindo-lhe a acolhedora presença.
Meia hora depois foi que ela pôde libertar-se da incómoda visita e procurou-me com alegria.
Seu rosto estava feliz e sereno.
Não havia nele nenhum sinal de tristeza ou cansaço.
— Finalmente deram-lhe um pouco de paz!
Gisele não pareceu compreender: — Paz?
— Sim. Ainda há pouco essa moça contava-lhe histórias lamentosas e tristes.
Não tive coragem de aproximar-me.
A fisionomia de Gisele assumiu atitude séria.
— A visita de Louise deu-me muito prazer.
Confiou em mim, e lamento não ter podido ajudá-la melhor.
Precisa muito de orações.
Não se esqueça disso à hora de suas preces costumeiras.
Senti-me um pouco embaraçado.
Antigamente, Gisele era fraca e precisava muito do meu apoio.
Era sempre ela a perguntar, e eu a responder.
Parecia que a tinha mais perto e que a compreendia melhor.
Mas agora, as coisas tinham se transformado.
Era ela quem respondia e eu quem perguntava.
Precisava esforçar-me por entendê-la e todas as vezes que pretendia orientá-la por julgá-la em erro, recebia nova ligação de amadurecimento e compreensão.
Tinha certo ciúme por vê-la bastar-se a si mesma, libertar-se da minha tutela amorosa e amparar-me moralmente com tanta segurança e superioridade.
— O caso de Louise é muito delicado.
Nunca se sabe a que extremos se pode chegar quando as paixões nos queimam a alma.
Uma sombra de melancolia cobriu-me o rosto um tanto amargurado. Lembrei-me de Ana.
Ao simples pensamento, meu coração sobressaltou-se e funda depressão brotou dentro de mim.
Minha irmã com carinho, tomou-me pelo braço e levantando-se na ponta dos pés, beijou-me a face com infinita ternura.
— Não posso viver sem ele.
Não Posso... Se ele não voltar, eu me mato!
A voz de Gisele era doce, mas enérgica:
— Não fale assim, minha querida,
O que se passou não é irremediável.
Seja paciente e compreenderá que o caso não é tão grave assim.
- Você fala assim porque nunca sofreu como eu!
Senti vontade de protestar, mas receoso de ser surpreendido em tão desagradável posição, refugiei-me novamente na sala de estar, um tanto contrariado.
Afinal, porque minha irmã prendia-se a tão desinteressante companhia?
Devia estar terrivelmente maçada com uma palestra tão lamuriosa.
Senti-me frustrado também por não poder estar com ela, usufruindo-lhe a acolhedora presença.
Meia hora depois foi que ela pôde libertar-se da incómoda visita e procurou-me com alegria.
Seu rosto estava feliz e sereno.
Não havia nele nenhum sinal de tristeza ou cansaço.
— Finalmente deram-lhe um pouco de paz!
Gisele não pareceu compreender: — Paz?
— Sim. Ainda há pouco essa moça contava-lhe histórias lamentosas e tristes.
Não tive coragem de aproximar-me.
A fisionomia de Gisele assumiu atitude séria.
— A visita de Louise deu-me muito prazer.
Confiou em mim, e lamento não ter podido ajudá-la melhor.
Precisa muito de orações.
Não se esqueça disso à hora de suas preces costumeiras.
Senti-me um pouco embaraçado.
Antigamente, Gisele era fraca e precisava muito do meu apoio.
Era sempre ela a perguntar, e eu a responder.
Parecia que a tinha mais perto e que a compreendia melhor.
Mas agora, as coisas tinham se transformado.
Era ela quem respondia e eu quem perguntava.
Precisava esforçar-me por entendê-la e todas as vezes que pretendia orientá-la por julgá-la em erro, recebia nova ligação de amadurecimento e compreensão.
Tinha certo ciúme por vê-la bastar-se a si mesma, libertar-se da minha tutela amorosa e amparar-me moralmente com tanta segurança e superioridade.
— O caso de Louise é muito delicado.
Nunca se sabe a que extremos se pode chegar quando as paixões nos queimam a alma.
Uma sombra de melancolia cobriu-me o rosto um tanto amargurado. Lembrei-me de Ana.
Ao simples pensamento, meu coração sobressaltou-se e funda depressão brotou dentro de mim.
Minha irmã com carinho, tomou-me pelo braço e levantando-se na ponta dos pés, beijou-me a face com infinita ternura.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
- Meu querido!
Esqueçamos as tristezas e vamos procurar a alegria.
A experiência e a dor são abençoadas riquezas com as quais a vida na Terra nos favorece o espírito.
Aprendamos a plantar a alegria para que nos tornemos fortes.
Sente-se aqui, a meu lado, e vamos conversar.
Tenho algumas coisas boas para contar-lhe.
Sorri.
Nunca pudera resistir ao seu sorriso.
Palestramos durante muito tempo.
Rimos, brincamos, como nos tempos antigos e esquecemo-nos de todos os nossos problemas.
Mesmo após o jantar continuamos juntos.
Senti-me feliz por estar a seu lado, vendo-a, sentindo-a, como a irmãzinha que sempre fora.
De repente, inesperadamente ela ficou séria.
Seu rosto empalideceu e seus olhos se fecharam.
Assustado perguntei:
- O que foi?
O que aconteceu? Sente-se mal?
Não me respondeu.
Passados alguns segundos, após reiteradas perguntas, quando já me dispunha a chamar por papai, ela pareceu despertar.
Sobressaltou-se e olhando-me com fixidez disse com energia:
— Preciso ir imediatamente.
Dê-me o casaco, Denis. Tenho que sair.
Assustado, quis impedi-la:
— Sair para onde a esta hora? Fazer o quê?
— Largue-me Denis. Preciso ir.
Depressa antes que seja tarde demais.
Levantou-se de um salto e soltou-se dos meus braços.
Apanhou um casaco e dispunha-se a sair.
Agira com tanta rapidez que eu não pudera evitar.
Preocupado, apanhei o sobretudo e dispus-me a acompanhá-la.
Onde iria?
A noite era fria mas minha irmã não se importava.
Caminhava a passos rápidos e precisos.
Sabia onde queria ir.
Acompanhei-a preocupado, tentando encontrar explicações para tal atitude.
Esqueçamos as tristezas e vamos procurar a alegria.
A experiência e a dor são abençoadas riquezas com as quais a vida na Terra nos favorece o espírito.
Aprendamos a plantar a alegria para que nos tornemos fortes.
Sente-se aqui, a meu lado, e vamos conversar.
Tenho algumas coisas boas para contar-lhe.
Sorri.
Nunca pudera resistir ao seu sorriso.
Palestramos durante muito tempo.
Rimos, brincamos, como nos tempos antigos e esquecemo-nos de todos os nossos problemas.
Mesmo após o jantar continuamos juntos.
Senti-me feliz por estar a seu lado, vendo-a, sentindo-a, como a irmãzinha que sempre fora.
De repente, inesperadamente ela ficou séria.
Seu rosto empalideceu e seus olhos se fecharam.
Assustado perguntei:
- O que foi?
O que aconteceu? Sente-se mal?
Não me respondeu.
Passados alguns segundos, após reiteradas perguntas, quando já me dispunha a chamar por papai, ela pareceu despertar.
Sobressaltou-se e olhando-me com fixidez disse com energia:
— Preciso ir imediatamente.
Dê-me o casaco, Denis. Tenho que sair.
Assustado, quis impedi-la:
— Sair para onde a esta hora? Fazer o quê?
— Largue-me Denis. Preciso ir.
Depressa antes que seja tarde demais.
Levantou-se de um salto e soltou-se dos meus braços.
Apanhou um casaco e dispunha-se a sair.
Agira com tanta rapidez que eu não pudera evitar.
Preocupado, apanhei o sobretudo e dispus-me a acompanhá-la.
Onde iria?
A noite era fria mas minha irmã não se importava.
Caminhava a passos rápidos e precisos.
Sabia onde queria ir.
Acompanhei-a preocupado, tentando encontrar explicações para tal atitude.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
A certa altura disse-me:
— É um pouco distante.
Chame um táxi, caso contrário chegaremos muito tarde.
Obedeci admirado e Gisele deu um endereço ao motorista.
Partimos apressados.
Minha irmã seguia calada, ar preocupado em verdadeira tensão emocional.
Finalmente chegamos.
Um prédio de apartamentos Ela subiu as escadas velozmente e eu assim que paguei o táxi a segui.
Tinha medo da sua palidez e do seu evidente mal-estar.
Frente a uma porta ela parou e tentou abri-la.
Estava trancada por dentro.
Tocou a sineta mas ninguém atendeu.
Gisele agarrou-se a mim ordenando-me.
— Depressa, Denis.
Vá ao zelador e mande abrir essa porta.
Depressa que pode ser tarde demais.
Não sei porque, obedeci.
Se foi pelo olhar ou pela energia de minha irmã.
O certo é que o zelador resmungando veio abrir a porta.
Gisele entrou correndo e acendeu a luz do quarto.
Deitada na cama, pálida como a morte, estava a jovem Louise que à tarde estivera em nossa casa.
Abeirando-se do leito Gisele colou o ouvido no peito da moça com ar preocupado.
Levantou-se rápida e dirigindo-se a nós dois apavorados não tínhamos ainda saído da surpresa.
- Depressa. Corram a buscar o médico.
Está viva, mas muito fraca.
O tempo é precioso.
Avisem que está intoxicada.
Esperem um pouco.
Com rapidez procurou sobre a cama, sobre a mesa-de-cabeceira e no chão, até que encontrou o que queria: um frasco.
— Digam que foi com isto.
Fiquei com receio de deixá-la ali, a sós com a pobre moça, mas o zelador não me parecia ágil o bastante para trazer o socorro necessário.
Sai com ele.
Pouco depois conseguíamos uma ambulância do Posto médico.
Trazido o socorro urgente, os primeiros cuidados foram logo ministrados.
Mas Louise estava mal.
Não tinha condições de ser removida.
— É um pouco distante.
Chame um táxi, caso contrário chegaremos muito tarde.
Obedeci admirado e Gisele deu um endereço ao motorista.
Partimos apressados.
Minha irmã seguia calada, ar preocupado em verdadeira tensão emocional.
Finalmente chegamos.
Um prédio de apartamentos Ela subiu as escadas velozmente e eu assim que paguei o táxi a segui.
Tinha medo da sua palidez e do seu evidente mal-estar.
Frente a uma porta ela parou e tentou abri-la.
Estava trancada por dentro.
Tocou a sineta mas ninguém atendeu.
Gisele agarrou-se a mim ordenando-me.
— Depressa, Denis.
Vá ao zelador e mande abrir essa porta.
Depressa que pode ser tarde demais.
Não sei porque, obedeci.
Se foi pelo olhar ou pela energia de minha irmã.
O certo é que o zelador resmungando veio abrir a porta.
Gisele entrou correndo e acendeu a luz do quarto.
Deitada na cama, pálida como a morte, estava a jovem Louise que à tarde estivera em nossa casa.
Abeirando-se do leito Gisele colou o ouvido no peito da moça com ar preocupado.
Levantou-se rápida e dirigindo-se a nós dois apavorados não tínhamos ainda saído da surpresa.
- Depressa. Corram a buscar o médico.
Está viva, mas muito fraca.
O tempo é precioso.
Avisem que está intoxicada.
Esperem um pouco.
Com rapidez procurou sobre a cama, sobre a mesa-de-cabeceira e no chão, até que encontrou o que queria: um frasco.
— Digam que foi com isto.
Fiquei com receio de deixá-la ali, a sós com a pobre moça, mas o zelador não me parecia ágil o bastante para trazer o socorro necessário.
Sai com ele.
Pouco depois conseguíamos uma ambulância do Posto médico.
Trazido o socorro urgente, os primeiros cuidados foram logo ministrados.
Mas Louise estava mal.
Não tinha condições de ser removida.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Passei em casa e avisei que pernoitaríamos com a tresloucada moça.
Durante duas horas o médico permaneceu à cabeceira da enferma, lutando para libertá-la do medicamento ingerido.
— Agora, parece que está reagindo mais.
Entretanto, não sei ainda se escapará.
Confiemos em Deus.
Vai dormir ainda por muitas horas.
E dirigindo-se a uma mesa a um canto do aposento, empunhou a caneta e pediu:
— Preciso agora registar a ocorrência.
Como sabem, preciso notificar a polícia.
Em caso de morte, precisaremos documentar bem os acontecimentos.
Fiquei um tanto embaraçado.
Não conhecia Louise.
Mas, Gisele com calma, dirigiu-se ao médico:
— Pois não, doutor.
Vou prestar-lhe todas as informações de que disponho.
Antes, precisamos avisar sua família que não está a par do que está acontecendo.
- Ela não é sua parente?
— Não. Somos amigas.
— Mas, então, ela não reside aqui?
— Não.
— É sua casa?
— Não.
O médico estava admirado e havia uma ponta de desconfiança em sua voz ao perguntar:
— Mas, então, quem mora aqui?
Desta vez foi o zelador quem respondeu:
— Aqui é o apartamento do Doutor Antoine Labeli.
— O senhor Conhece essa moça?
— Bem.. a senhorita Loujse foi a namorada do Dr. Antoine.
Onde está ele?
- Viajando, doutor.
Não sei como essa moça conseguiu entrar aqui.
— Bem, doutor - esclareceu Gisele — Louise estava muito nervosa ultimamente e eu pressenti que ela pensava fazer alguma loucura.
Vivia desesperada.
Por isso vim até aqui e a encontramos caída no leito, já em estado grave.
- Ela a avisou de que ia praticar suicídio?
— Não propriamente, mas, temi que o fizesse.
Certamente terá deixado alguma carta ao Dr. Antoine, ou a seus pais.
O médico concordou e procuramos até que encontramos sobre a mesa da sala de estar dois envelopes.
Um a seus pais e outro ao Dr. Antoine.
Durante duas horas o médico permaneceu à cabeceira da enferma, lutando para libertá-la do medicamento ingerido.
— Agora, parece que está reagindo mais.
Entretanto, não sei ainda se escapará.
Confiemos em Deus.
Vai dormir ainda por muitas horas.
E dirigindo-se a uma mesa a um canto do aposento, empunhou a caneta e pediu:
— Preciso agora registar a ocorrência.
Como sabem, preciso notificar a polícia.
Em caso de morte, precisaremos documentar bem os acontecimentos.
Fiquei um tanto embaraçado.
Não conhecia Louise.
Mas, Gisele com calma, dirigiu-se ao médico:
— Pois não, doutor.
Vou prestar-lhe todas as informações de que disponho.
Antes, precisamos avisar sua família que não está a par do que está acontecendo.
- Ela não é sua parente?
— Não. Somos amigas.
— Mas, então, ela não reside aqui?
— Não.
— É sua casa?
— Não.
O médico estava admirado e havia uma ponta de desconfiança em sua voz ao perguntar:
— Mas, então, quem mora aqui?
Desta vez foi o zelador quem respondeu:
— Aqui é o apartamento do Doutor Antoine Labeli.
— O senhor Conhece essa moça?
— Bem.. a senhorita Loujse foi a namorada do Dr. Antoine.
Onde está ele?
- Viajando, doutor.
Não sei como essa moça conseguiu entrar aqui.
— Bem, doutor - esclareceu Gisele — Louise estava muito nervosa ultimamente e eu pressenti que ela pensava fazer alguma loucura.
Vivia desesperada.
Por isso vim até aqui e a encontramos caída no leito, já em estado grave.
- Ela a avisou de que ia praticar suicídio?
— Não propriamente, mas, temi que o fizesse.
Certamente terá deixado alguma carta ao Dr. Antoine, ou a seus pais.
O médico concordou e procuramos até que encontramos sobre a mesa da sala de estar dois envelopes.
Um a seus pais e outro ao Dr. Antoine.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
— Isto elimina toda as dúvidas Possíveis e esclarece a tese de suicídio — disse o médico.
Doutor, — disse minha irmã com voz suplicante — vou pedir-lhe um favor, especial.
Essa moça é de família honrada e muito boa.
E muito jovem.
Gostaria de poupar-lhes o vexame de uma notificação Policial ou um escândalo público.
O médico titubeou:
— A senhora sabe que é meu dever.
— Sei. Mas peço-lhe apenas alguns dias para ver se ela se recupera.
Se infelizmente isso não acontecer, o Sr. notificará a polícia.
Porém, se ela ficar fora de perigo, não há necessidade de promovermos Publicidade em torno do caso.
O médico Olhou Gisele surpreendido.
Parecia embaraçado Seu rosto moreno de traços bem delineados contraiu-se pensativo.
Era um homem alto, esbelto, aparentando quando muito seus 35 anos.
Gisele sentindo que ganhava terreno insistiu:
— Por favor, doutor! Sei que pode fazer isso.
Eu lhe peço!
Eu nunca soubera resistir aos seus olhos súplices e seu rostinho suave.
O médico não conseguiu:
Está bem. Concordo em esperar até amanhã.
Creio que será o suficiente.
A decisão está nessas próximas horas.
Se aguentar estará salva.
Gostaria, entretanto, que guardassem discrição da ocorrência minha responsabilidade proíbe-me de comprometer o Posto Médico ao qual pertenço.
- Certamente doutor — ajuntou ela.
Nosso amigo não contará a ninguém o que aconteceu aqui hoje.
Pode comprometer o Dr. Antoine.
— Certamente. Certamente.
O Dr. Antoine não gostaria de ver seu nome envolvido.
Ele pode despedir-me. Certo. Nada direi.
— Muito bem — disse o médico.
Agora preciso ir.
Aqui tem meu endereço.
Qualquer novidade podem chamar.
Virei imediatamente.
Gisele apanhou o cartão que o doutor lhe estendia e o acompanhou até a porta.
O zelador foi com ele e ficamos a sós com Louise na penumbra do quarto.
Doutor, — disse minha irmã com voz suplicante — vou pedir-lhe um favor, especial.
Essa moça é de família honrada e muito boa.
E muito jovem.
Gostaria de poupar-lhes o vexame de uma notificação Policial ou um escândalo público.
O médico titubeou:
— A senhora sabe que é meu dever.
— Sei. Mas peço-lhe apenas alguns dias para ver se ela se recupera.
Se infelizmente isso não acontecer, o Sr. notificará a polícia.
Porém, se ela ficar fora de perigo, não há necessidade de promovermos Publicidade em torno do caso.
O médico Olhou Gisele surpreendido.
Parecia embaraçado Seu rosto moreno de traços bem delineados contraiu-se pensativo.
Era um homem alto, esbelto, aparentando quando muito seus 35 anos.
Gisele sentindo que ganhava terreno insistiu:
— Por favor, doutor! Sei que pode fazer isso.
Eu lhe peço!
Eu nunca soubera resistir aos seus olhos súplices e seu rostinho suave.
O médico não conseguiu:
Está bem. Concordo em esperar até amanhã.
Creio que será o suficiente.
A decisão está nessas próximas horas.
Se aguentar estará salva.
Gostaria, entretanto, que guardassem discrição da ocorrência minha responsabilidade proíbe-me de comprometer o Posto Médico ao qual pertenço.
- Certamente doutor — ajuntou ela.
Nosso amigo não contará a ninguém o que aconteceu aqui hoje.
Pode comprometer o Dr. Antoine.
— Certamente. Certamente.
O Dr. Antoine não gostaria de ver seu nome envolvido.
Ele pode despedir-me. Certo. Nada direi.
— Muito bem — disse o médico.
Agora preciso ir.
Aqui tem meu endereço.
Qualquer novidade podem chamar.
Virei imediatamente.
Gisele apanhou o cartão que o doutor lhe estendia e o acompanhou até a porta.
O zelador foi com ele e ficamos a sós com Louise na penumbra do quarto.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Apanhei o cartão e li: Bertrand Duval — médico.
Ainda bem que ele resolveu esperar — comentei para encontrar assunto.
Sentados ao lado do leito, mil perguntas turbilhonavam-me a mente aflita.
Na calma e no silêncio profundo da noite, os últimos acontecimentos surgiam-me na forma de perguntas para as quais não encontrava resposta.
Eu estava profundamente comovido.
Revivia o passado.
Olhando Louise no leito, revia Gisele, seu drama, seu sofrimento.
Rezava para que ela se recuperasse.
Louise, naquele momento não era para mim uma desconhecida, mas minha própria irmã.
Entendi porque precisamos viver para poder aprender e compreender.
Se eu já não tivesse passado por isso, talvez naquele instante não houvesse sentido o problema da pobre moça.
Ele é boa pessoa — comentou Gisele referindo-se ao médico.
— Como sabe?
- Basta olhar para ele.
É uma criatura excelente.
Certas atitudes de minha irmã intrigavam-me, mas não era o médico que me interessava naquele momento.
Ainda não tinha conseguido entender como Gisele soubera que Louise estava à beira da morte.
Sem poder me conter perguntei:
— Como foi que você descobriu que ela tentara o suicídio?
Alguém a avisou?
Minha irmã olhou-me um pouco admirada:
— Sim. Eu vi Louise tomando o remédio e deitando-se para morrer.
— Como???! Se nós estávamos em casa conversando? Como pode ser?
Ela olhou-me com doçura:
— Há muitas coisas que ainda você não compreende, Denis Sou médium.
Tenho procurado obedecer aos mensageiros de Deus que se utilizam de mim para ajudar e socorrer os que sofrem.
Tanta luz, tanta paz, tanta alegria, tanta beleza colhi da doutrina de Jesus que agora estou empenhada em ajudar aos outros para que como eu, reencontrem a alegria de viver.
— Então é mesmo sério?
— Sim. Muito sério.
As pessoas, Denis, procuram o comodismo de uma religião de culto exterior tentando enganarem-se a si mesmas.
Como se a conquista do Reino de Deus dependesse das aparências.
No entanto, o Espiritismo vem nos esclarecer que a vida na Terra representa uma oportunidade de aprimoramento moral e espiritual, na aquisição das experiências que pouco a pouco nos transformarão de seres ignorantes e maus em seres equilibrados e felizes.
De que vale enganar-se a si mesmo desviando-se da finalidade maior da vida, colocando-se muitas vezes no comodismo da indiferença ou da negação sistemática, se ao fim de cada existência na Terra seremos julgados pelas nossas obras?
Ainda bem que ele resolveu esperar — comentei para encontrar assunto.
Sentados ao lado do leito, mil perguntas turbilhonavam-me a mente aflita.
Na calma e no silêncio profundo da noite, os últimos acontecimentos surgiam-me na forma de perguntas para as quais não encontrava resposta.
Eu estava profundamente comovido.
Revivia o passado.
Olhando Louise no leito, revia Gisele, seu drama, seu sofrimento.
Rezava para que ela se recuperasse.
Louise, naquele momento não era para mim uma desconhecida, mas minha própria irmã.
Entendi porque precisamos viver para poder aprender e compreender.
Se eu já não tivesse passado por isso, talvez naquele instante não houvesse sentido o problema da pobre moça.
Ele é boa pessoa — comentou Gisele referindo-se ao médico.
— Como sabe?
- Basta olhar para ele.
É uma criatura excelente.
Certas atitudes de minha irmã intrigavam-me, mas não era o médico que me interessava naquele momento.
Ainda não tinha conseguido entender como Gisele soubera que Louise estava à beira da morte.
Sem poder me conter perguntei:
— Como foi que você descobriu que ela tentara o suicídio?
Alguém a avisou?
Minha irmã olhou-me um pouco admirada:
— Sim. Eu vi Louise tomando o remédio e deitando-se para morrer.
— Como???! Se nós estávamos em casa conversando? Como pode ser?
Ela olhou-me com doçura:
— Há muitas coisas que ainda você não compreende, Denis Sou médium.
Tenho procurado obedecer aos mensageiros de Deus que se utilizam de mim para ajudar e socorrer os que sofrem.
Tanta luz, tanta paz, tanta alegria, tanta beleza colhi da doutrina de Jesus que agora estou empenhada em ajudar aos outros para que como eu, reencontrem a alegria de viver.
— Então é mesmo sério?
— Sim. Muito sério.
As pessoas, Denis, procuram o comodismo de uma religião de culto exterior tentando enganarem-se a si mesmas.
Como se a conquista do Reino de Deus dependesse das aparências.
No entanto, o Espiritismo vem nos esclarecer que a vida na Terra representa uma oportunidade de aprimoramento moral e espiritual, na aquisição das experiências que pouco a pouco nos transformarão de seres ignorantes e maus em seres equilibrados e felizes.
De que vale enganar-se a si mesmo desviando-se da finalidade maior da vida, colocando-se muitas vezes no comodismo da indiferença ou da negação sistemática, se ao fim de cada existência na Terra seremos julgados pelas nossas obras?
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
— Você fala com tanta certeza!
Gostaria de ser assim.
— Um dia você compreenderá, Espero que não seja tarde demais.
- O que quer dizer?
— Ë muito difícil renascer na Terra.
Se não aproveitar essa chance para melhorar-se espiritualmente, certamente terá que esperar muito até que possa retornar.
Fiquei um pouco aborrecido:
— Você sabe que apesar de ter lutado durante a guerra, conscientemente nunca fiz nada de mal a ninguém.
Ela sorriu com doçura:
— Antes assim.
Só espero que você se empenhe em fazer o bem.
Senti-me contrafeito.
Pela mente desfilaram rapidamente certas cenas chocantes que me fora dado assistir e involuntariamente participar.
Assaltou-me subitamente o temor.
Podia realmente afirmar isso?
Permaneci calado durante alguns minutos, imerso nas profundezas dos meus pensamentos.
— Quer dizer que você pressentiu o gesto de Louise?
- Sim. Estávamos conversando quando de repente surgiu-me na mente a cena estarrecedora, Louise ingerindo a droga.
- E como soube onde ela estava?
Acaso já conhecia este lugar?
Gisele sacudiu a cabeça.
- Não. Quando vi a cena algo me impulsionou para ir ter urna força irresistível.
Quando estávamos na rua e eu o rumo a tomar ouvi distintamente este endereço.
- Ela ficará boa. — inquiri em um tom respeitoso.
Sua lógica era inegável.
Fosse quem fosse que a se avisado, certamente o fizera porque ela precisava e devia ajudar.
Sentia-me impressionado.
A prova, ou melhor, os factos eram concludentes.
Conhecia minha irmã, sabia-a incapaz de mentir-me.
E depois, como explicar de outra forma?
Eu partilhara dos acontecimentos.
Fora testemunha ocular. Como duvidar?
Quase sem querer pensei em Ana e Karl.
Encontrar-me-ia com eles algum dia em algum lugar?
Suspirei saudoso.
- Você acha mesmo que os mortos podem voltar?
— Voltar como?
— Voltar, como espíritos...
— Certamente.
— Você acha que Ana poderia vir ver-me?
Gostaria de ser assim.
— Um dia você compreenderá, Espero que não seja tarde demais.
- O que quer dizer?
— Ë muito difícil renascer na Terra.
Se não aproveitar essa chance para melhorar-se espiritualmente, certamente terá que esperar muito até que possa retornar.
Fiquei um pouco aborrecido:
— Você sabe que apesar de ter lutado durante a guerra, conscientemente nunca fiz nada de mal a ninguém.
Ela sorriu com doçura:
— Antes assim.
Só espero que você se empenhe em fazer o bem.
Senti-me contrafeito.
Pela mente desfilaram rapidamente certas cenas chocantes que me fora dado assistir e involuntariamente participar.
Assaltou-me subitamente o temor.
Podia realmente afirmar isso?
Permaneci calado durante alguns minutos, imerso nas profundezas dos meus pensamentos.
— Quer dizer que você pressentiu o gesto de Louise?
- Sim. Estávamos conversando quando de repente surgiu-me na mente a cena estarrecedora, Louise ingerindo a droga.
- E como soube onde ela estava?
Acaso já conhecia este lugar?
Gisele sacudiu a cabeça.
- Não. Quando vi a cena algo me impulsionou para ir ter urna força irresistível.
Quando estávamos na rua e eu o rumo a tomar ouvi distintamente este endereço.
- Ela ficará boa. — inquiri em um tom respeitoso.
Sua lógica era inegável.
Fosse quem fosse que a se avisado, certamente o fizera porque ela precisava e devia ajudar.
Sentia-me impressionado.
A prova, ou melhor, os factos eram concludentes.
Conhecia minha irmã, sabia-a incapaz de mentir-me.
E depois, como explicar de outra forma?
Eu partilhara dos acontecimentos.
Fora testemunha ocular. Como duvidar?
Quase sem querer pensei em Ana e Karl.
Encontrar-me-ia com eles algum dia em algum lugar?
Suspirei saudoso.
- Você acha mesmo que os mortos podem voltar?
— Voltar como?
— Voltar, como espíritos...
— Certamente.
— Você acha que Ana poderia vir ver-me?
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Senti uma onda de rubor subir-me às faces.
Não estivéssemos na penumbra e não teria coragem de perguntar.
— Claro que sim.
— Poderíamos pedir isso a Deus?
— Certamente.
Uma onda de entusiasmo tomou conta de mim.
— Então peça isso por mim, Gisele.
Nunca mais vi Ana depois do encontro numa prisão.
Eu a amo. Não quero que ela conserve de mim uma impressão errónea.
Por favor, ajude-me!
Tinha me sentado ao lado de Gisele e apanhara uma de suas mãos apertando-a com força na veemência da minha rogativa.
Ela passou a mão pelos meus cabelos num gesto de infinito carinho.
— Vamos pedir.
Entretanto, só Deus pode permitir ou não sua vinda.
Ela cerrou os olhos em oração e eu, coração aos saltos procurava as velhas preces decoradas da infância na expectativa do reencontro com Ana.
Minha irmã permaneceu assim por alguns instantes até que ligeiro tremor sacudiu-lhe os ombros delicados.
Olhou-me, mas seus olhos estavam parados, fixos e seus lábios entreabriram-se em doce sorriso:
— Olá, soldado 413 - disse ela com a voz um pouco modificada, mais grave.
Sobressaltei-me, Gisele não sabia meu número no destacamento no início da guerra.
— Você teve sorte, meu velho.
Pôde continuar no mundo.
Vim para dizer-lhe que também não posso queixar-me.
Não me reconhece?
— Não — respondi um pouco assustado.
— Sou o Atravessa, companheiro.
Meu coração bateu com força enquanto desenhou-se na minha mente a figura do amigo gaiato e querido de todos que ganhara esse apelido porque não havia barreira que não pudesse atravessar.
Por mais importante ou fechado que fossem os homens da nossa Companhia o soldado Jacques conseguia fazer amizade e conversar inclusive com os superiores.
Pelo seu temperamento especial, pela sua simpatia pessoal era muito estimado e sua morte em cerrada e sangrenta batalha em Sedan nos deixara bastante
impressionados.
Agora, quando menos esperava, depois de tantos anos e quando sua figura jazia esquecida no recôndito dos meus pensamentos eis que de maneira estranha e inusitada ele vinha a mim.
- Jacques?!! — murmurei quase sem querer.
— Sim. Sou eu.
Tive ordem para falar-lhe com a graça de Deus.
Sei que não esperava por mim.
Há muito desejo esta oportunidade.
Não estivéssemos na penumbra e não teria coragem de perguntar.
— Claro que sim.
— Poderíamos pedir isso a Deus?
— Certamente.
Uma onda de entusiasmo tomou conta de mim.
— Então peça isso por mim, Gisele.
Nunca mais vi Ana depois do encontro numa prisão.
Eu a amo. Não quero que ela conserve de mim uma impressão errónea.
Por favor, ajude-me!
Tinha me sentado ao lado de Gisele e apanhara uma de suas mãos apertando-a com força na veemência da minha rogativa.
Ela passou a mão pelos meus cabelos num gesto de infinito carinho.
— Vamos pedir.
Entretanto, só Deus pode permitir ou não sua vinda.
Ela cerrou os olhos em oração e eu, coração aos saltos procurava as velhas preces decoradas da infância na expectativa do reencontro com Ana.
Minha irmã permaneceu assim por alguns instantes até que ligeiro tremor sacudiu-lhe os ombros delicados.
Olhou-me, mas seus olhos estavam parados, fixos e seus lábios entreabriram-se em doce sorriso:
— Olá, soldado 413 - disse ela com a voz um pouco modificada, mais grave.
Sobressaltei-me, Gisele não sabia meu número no destacamento no início da guerra.
— Você teve sorte, meu velho.
Pôde continuar no mundo.
Vim para dizer-lhe que também não posso queixar-me.
Não me reconhece?
— Não — respondi um pouco assustado.
— Sou o Atravessa, companheiro.
Meu coração bateu com força enquanto desenhou-se na minha mente a figura do amigo gaiato e querido de todos que ganhara esse apelido porque não havia barreira que não pudesse atravessar.
Por mais importante ou fechado que fossem os homens da nossa Companhia o soldado Jacques conseguia fazer amizade e conversar inclusive com os superiores.
Pelo seu temperamento especial, pela sua simpatia pessoal era muito estimado e sua morte em cerrada e sangrenta batalha em Sedan nos deixara bastante
impressionados.
Agora, quando menos esperava, depois de tantos anos e quando sua figura jazia esquecida no recôndito dos meus pensamentos eis que de maneira estranha e inusitada ele vinha a mim.
- Jacques?!! — murmurei quase sem querer.
— Sim. Sou eu.
Tive ordem para falar-lhe com a graça de Deus.
Sei que não esperava por mim.
Há muito desejo esta oportunidade.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Desde que tombei no campo de batalha, tenho procurado de alguma forma contar aos companheiros que a vida continua.
Quando vivia na Terra não era místico, como você sabe, mas aqui despertando, entre a perturbação e o medo, mãos amigas me sustentaram.
Aos poucos a perturbação foi passando e a lucidez veio intensa e completa.
Oh! Meu caro amigo!
Como é bela a vida na essência plena sem o embotamento da carne!
A morte é um salto entre um estado e outro.
Mas, os problemas, a personalidade os sentimentos permanecem.
- Sente-se feliz? — perguntei admirado.
- Dentro das minhas condições de criatura ainda imperfeita, sinto-me relativamente feliz.
- Existe algo que o entristece?
— A lembrança dos meus erros e fracassos.
Porém, conforta-me saber que terei tempo e oportunidade para ressarci-los.
- De que forma?
— Através do trabalho em favor do próximo e da reencarnação.
- Isso é verdade?
Poderá reencarnar-se ainda na Terra?
- Sim. Com a misericórdia de Deus que a todos permite continuarei a apreender.
- Se a vida na Terra é necessária ao espírito para redimir-se, porque então os jovens morrem na guerra?
Porque Deus permite que vidas como a sua e dos nossos amigos sejam ceifadas tão cedo?
- Ah! Denizarth, também eu no início de minha volta à vida espiritual formulei essa pergunta.
Entretanto, meu amigo o guia espiritual contou-me que as guerras representam um círculo vicioso que os homens estabeleceram engolfados no egoísmo e na ambição, delimitando a Terra, estabelecendo fronteiras, difícil será agora sair.
Só o Evangelho do Senhor, assimilado cada coração terá força suficiente para rompê-lo.
Quanto as dívidas, com essa morte resgatarei pesado débito do passado.
Acredito que os outros também fossem devedores da Lei Divina.
- E os demais companheiros, estão todos juntos?
- Não. Alguns infelizmente estão em dolorosas condições.
Deixaram-se arrastar pelo ódio e não abandonaram o campo de batalha, surdos aos apelos dos irmãos socorristas.
Tomados de ódio, investiram contra o inimigo, mergulhando cada vez mais na perturbação e na dor.
Outros em apatia e inconsciência, foram removidos a postos de socorro.
Outros ainda, como eu, se refizeram e procuram no trabalho e no estudo a preparação para o futuro.
— E surpreendente — murmurei boquiaberto.
Não pude duvidar da presença de Jacques nem por um segundo.
Gisele assumira a postura, o jeito e até a maneira de expressar-se do meu amigo.
Olhando-a, como que o via através dela.
— Há ainda muitas coisas que você ignora e deve saber, espere e confie.
Deus tem sido misericordioso e bom também para você.
Quando vivia na Terra não era místico, como você sabe, mas aqui despertando, entre a perturbação e o medo, mãos amigas me sustentaram.
Aos poucos a perturbação foi passando e a lucidez veio intensa e completa.
Oh! Meu caro amigo!
Como é bela a vida na essência plena sem o embotamento da carne!
A morte é um salto entre um estado e outro.
Mas, os problemas, a personalidade os sentimentos permanecem.
- Sente-se feliz? — perguntei admirado.
- Dentro das minhas condições de criatura ainda imperfeita, sinto-me relativamente feliz.
- Existe algo que o entristece?
— A lembrança dos meus erros e fracassos.
Porém, conforta-me saber que terei tempo e oportunidade para ressarci-los.
- De que forma?
— Através do trabalho em favor do próximo e da reencarnação.
- Isso é verdade?
Poderá reencarnar-se ainda na Terra?
- Sim. Com a misericórdia de Deus que a todos permite continuarei a apreender.
- Se a vida na Terra é necessária ao espírito para redimir-se, porque então os jovens morrem na guerra?
Porque Deus permite que vidas como a sua e dos nossos amigos sejam ceifadas tão cedo?
- Ah! Denizarth, também eu no início de minha volta à vida espiritual formulei essa pergunta.
Entretanto, meu amigo o guia espiritual contou-me que as guerras representam um círculo vicioso que os homens estabeleceram engolfados no egoísmo e na ambição, delimitando a Terra, estabelecendo fronteiras, difícil será agora sair.
Só o Evangelho do Senhor, assimilado cada coração terá força suficiente para rompê-lo.
Quanto as dívidas, com essa morte resgatarei pesado débito do passado.
Acredito que os outros também fossem devedores da Lei Divina.
- E os demais companheiros, estão todos juntos?
- Não. Alguns infelizmente estão em dolorosas condições.
Deixaram-se arrastar pelo ódio e não abandonaram o campo de batalha, surdos aos apelos dos irmãos socorristas.
Tomados de ódio, investiram contra o inimigo, mergulhando cada vez mais na perturbação e na dor.
Outros em apatia e inconsciência, foram removidos a postos de socorro.
Outros ainda, como eu, se refizeram e procuram no trabalho e no estudo a preparação para o futuro.
— E surpreendente — murmurei boquiaberto.
Não pude duvidar da presença de Jacques nem por um segundo.
Gisele assumira a postura, o jeito e até a maneira de expressar-se do meu amigo.
Olhando-a, como que o via através dela.
— Há ainda muitas coisas que você ignora e deve saber, espere e confie.
Deus tem sido misericordioso e bom também para você.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Trabalhe.
Ajude Gisele na sua tarefa.
Rompa de vez a barreira da indiferença e do comodismo.
Deus preservou sua vida, procure usufruir proveitosamente essa bênção.
Não deixe o desânimo e a dúvida destruírem suas possibilidades de progresso.
Deus o abençoe.
Percebendo que ele se despedia, inquiri preocupado:
— Ana virá?
Gisele calou-se alguns segundos:
— Por ora, não é possível.
Confie em Deus, trabalhe, ore.
Que Deus o abençoe.
Um pouco decepcionado eu não disse mais nada, Gisele permaneceu silenciosa por alguns minutos, depois em voz alta fez uma prece de agradecimento a Deus pela presença de Jacques.
Vendo-me calado, ela Sorriu com alegria dizendo:
— Não está grato a Deus pela presença do amigo querido?
— Sim. Estou surpreendido também...
Porque veio ele se evocamos Ana?
- Bem que o avisei.
Nós não sabemos a situação em que se encontram aqueles que evocamos.
Nem sempre podem atender nosso chamado.
Há muitos obstáculos que precisam transpor para manifestarem-se entre nós.
Se Ana viesse, talvez você duvidasse da veracidade da sua palavra, O que você recebeu hoje foi uma prova irrecusável da manifestação dos espíritos.
Não conheci seu amigo e nunca o vi referir-se a ele.
Não lhe conhecia o apelido nem as condições de vida que levou na Terra.
Nós pedimos o que queríamos e Deus atendeu-nos dando-nos não o que queríamos mas o que precisamos.
Enquanto Gisele falava mansamente, com ternura, uma serenidade, uma paz enorme invadiu-me o espírito.
Era verdade. Eu tivera a prova de que a vida continua.
Então, algum dia, em algum lugar, de alguma forma, tornaria a encontrar-me com Ana.
Poderia dizer-lhe tudo quanto guardava no mais recôndito do meu ser.
O espírito é eterno!
A morte perdeu seu mistério aterrador!
Como Deus é bom! Como a vida é bela!
E no silêncio penumbrado do quarto não me envergonhei de deixar cair livremente duas lágrimas.
Meu coração encontrara esperança e motivos para viver.
Segurei a mão de Gisele com gratidão e apertei-a com força.
Compreendiam-nos. Olhamos o rosto pálido de Lonise e pareceu-nos que dormia suavemente, respirando com mais regularidade.
Ajude Gisele na sua tarefa.
Rompa de vez a barreira da indiferença e do comodismo.
Deus preservou sua vida, procure usufruir proveitosamente essa bênção.
Não deixe o desânimo e a dúvida destruírem suas possibilidades de progresso.
Deus o abençoe.
Percebendo que ele se despedia, inquiri preocupado:
— Ana virá?
Gisele calou-se alguns segundos:
— Por ora, não é possível.
Confie em Deus, trabalhe, ore.
Que Deus o abençoe.
Um pouco decepcionado eu não disse mais nada, Gisele permaneceu silenciosa por alguns minutos, depois em voz alta fez uma prece de agradecimento a Deus pela presença de Jacques.
Vendo-me calado, ela Sorriu com alegria dizendo:
— Não está grato a Deus pela presença do amigo querido?
— Sim. Estou surpreendido também...
Porque veio ele se evocamos Ana?
- Bem que o avisei.
Nós não sabemos a situação em que se encontram aqueles que evocamos.
Nem sempre podem atender nosso chamado.
Há muitos obstáculos que precisam transpor para manifestarem-se entre nós.
Se Ana viesse, talvez você duvidasse da veracidade da sua palavra, O que você recebeu hoje foi uma prova irrecusável da manifestação dos espíritos.
Não conheci seu amigo e nunca o vi referir-se a ele.
Não lhe conhecia o apelido nem as condições de vida que levou na Terra.
Nós pedimos o que queríamos e Deus atendeu-nos dando-nos não o que queríamos mas o que precisamos.
Enquanto Gisele falava mansamente, com ternura, uma serenidade, uma paz enorme invadiu-me o espírito.
Era verdade. Eu tivera a prova de que a vida continua.
Então, algum dia, em algum lugar, de alguma forma, tornaria a encontrar-me com Ana.
Poderia dizer-lhe tudo quanto guardava no mais recôndito do meu ser.
O espírito é eterno!
A morte perdeu seu mistério aterrador!
Como Deus é bom! Como a vida é bela!
E no silêncio penumbrado do quarto não me envergonhei de deixar cair livremente duas lágrimas.
Meu coração encontrara esperança e motivos para viver.
Segurei a mão de Gisele com gratidão e apertei-a com força.
Compreendiam-nos. Olhamos o rosto pálido de Lonise e pareceu-nos que dormia suavemente, respirando com mais regularidade.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Quando o novo dia surgiu e os primeiros raios solares filtraram-se através das cortinas das janelas, Louise ainda continuava a dormir, Mas, seu sono era agora mais regular e tranquilo Podíamos ter esperanças.
Providenciei ligeira refeição para nós dois e aguardamos a presença do médico, que compareceu antes do que esperávamos.
Examinou a doente e seu rosto distendeu-se em alegre sorriso.
Vendo-nos ansiosos esclareceu: O coração aguentou bem.
Penso que o pior já passou.
Entretanto, seu estado ainda é precário,
Ela vai ser mãe, doutor esclareceu Gisele com seriedade.
Por isso mesmo, precisa tomar medicamentos para desintoxicar-se apliquei uma injecção agora, mas à tarde deverá tomar outra.
Posso aplicar — ofereci com boa vontade.
Fui enfermeiro.
- Está bem - esclareceu Gisele atenciosa.
Fique tranquilo.
Confesso que ontem saí preocupado, Vejo que ficou em muito boas mãos.
Ele era franco e amigo.
Sentimo-nos muito bem a seu lado.
O estado de Louise tinha melhorado, nos permita oferecer um café que o médico aceitou com prazer.
- É lamentável atender casos como este.
Infelizmente com grande frequência.
- A que atribui essa incidência? — perguntei admirado.
O medico pousou a xícara na mesa e olhou-me com firmeza:
- A imaturidade e à falta de orientação religiosa.
Surpreendi-me:
Um médico falando em "orientação religiosa.
Porquê? — perguntei sério — acredita que os sermões religiosos possam ajudar de alguma maneira, evitando os problemas emocionais?
O médico sorriu mas tinha firmeza na voz ao responder:
- Não falo do conceito de religião humana.
Falo de conhecimentos a respeito de Deus.
Das suas sábias Leis e da sua sábia Justiça.
Há muitos jovens que estão maduros na compreensão, instintivamente percebem como a vida age para disciplinar os nossos sentimentos.
Há entretanto aqueles que infelizmente são maioria, que apesar da idade avançada não passam de seres imaturos sem compreensão nem discernimento para disciplinar seus sentimentos, enfrentando as lutas da vida.
Gisele olhava para o rosto moreno e agradável do médico com surpresa e alegria.
Querendo compreender melhor ajuntei:
— Concordo que a maturidade em alguns não vem com a idade, mas acho difícil para o jovem a conquista do conhecimento filosófico da vida, de Deus, que o ajude a vencer com coragem seus próprios problemas.
Onde encontrar essa força?
Providenciei ligeira refeição para nós dois e aguardamos a presença do médico, que compareceu antes do que esperávamos.
Examinou a doente e seu rosto distendeu-se em alegre sorriso.
Vendo-nos ansiosos esclareceu: O coração aguentou bem.
Penso que o pior já passou.
Entretanto, seu estado ainda é precário,
Ela vai ser mãe, doutor esclareceu Gisele com seriedade.
Por isso mesmo, precisa tomar medicamentos para desintoxicar-se apliquei uma injecção agora, mas à tarde deverá tomar outra.
Posso aplicar — ofereci com boa vontade.
Fui enfermeiro.
- Está bem - esclareceu Gisele atenciosa.
Fique tranquilo.
Confesso que ontem saí preocupado, Vejo que ficou em muito boas mãos.
Ele era franco e amigo.
Sentimo-nos muito bem a seu lado.
O estado de Louise tinha melhorado, nos permita oferecer um café que o médico aceitou com prazer.
- É lamentável atender casos como este.
Infelizmente com grande frequência.
- A que atribui essa incidência? — perguntei admirado.
O medico pousou a xícara na mesa e olhou-me com firmeza:
- A imaturidade e à falta de orientação religiosa.
Surpreendi-me:
Um médico falando em "orientação religiosa.
Porquê? — perguntei sério — acredita que os sermões religiosos possam ajudar de alguma maneira, evitando os problemas emocionais?
O médico sorriu mas tinha firmeza na voz ao responder:
- Não falo do conceito de religião humana.
Falo de conhecimentos a respeito de Deus.
Das suas sábias Leis e da sua sábia Justiça.
Há muitos jovens que estão maduros na compreensão, instintivamente percebem como a vida age para disciplinar os nossos sentimentos.
Há entretanto aqueles que infelizmente são maioria, que apesar da idade avançada não passam de seres imaturos sem compreensão nem discernimento para disciplinar seus sentimentos, enfrentando as lutas da vida.
Gisele olhava para o rosto moreno e agradável do médico com surpresa e alegria.
Querendo compreender melhor ajuntei:
— Concordo que a maturidade em alguns não vem com a idade, mas acho difícil para o jovem a conquista do conhecimento filosófico da vida, de Deus, que o ajude a vencer com coragem seus próprios problemas.
Onde encontrar essa força?
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
O médico permaneceu em silêncio engolfado nos próprios pensamentos, depois explicou:
— Na verdade não é fácil.
É a experiência que amadurece o indivíduo.
Uns possuem mais experiência, outros menos.
Acredito que aquele que sabe, que viu, que sentiu, que passou, que analisou, que aprendeu, tem a obrigação moral de dar o testemunho, de ensinar, de ajudar.
Nesse caso sua teoria é falha.
Foram os adultos que mais viveram, portanto os mais experientes que fizeram a guerra e os jovens inocentes da população civil que foram mortos.
Quando falo de experiências vividas, não me refiro à idade física.
Falo do espírito eterno, não do corpo de carne que o reveste.
Troquei um olhar surpreendido com Gisele que parecia muito a vontade.
Ele continuou:
— Quando menciono as Leis de Deus, reporto-me ao estudo e a aplicação prática dos ensinamentos de Jesus.
Só eles nos poderão dar forças e maturidade.
— Alegro-me que pense assim, doutor — admitiu Gisele — partilhamos do mesmo ideal.
Acredito que o senhor também tenha estudado a filosofia Espírita.
— Não teria entrado nesse terreno se não tivesse observado que possuímos o mesmo ideal.
Ontem, quando a vi, percebi pelo seu modo de expressar-se, pelos factos que narrou que estava diante de uma companheira.
Permita-me apertar-lhe a mão.
Depois dos apertos calorosos de mãos que trocamos os três, sentimo-nos muito a vontade.
Os dois discorriam sobre a vida, suas dificuldades, seus méritos à luz do Espiritismo e eu, novato e ignorante os ouvia admirado.
Orgulhava-me de Gisele.
Expressava-se com firmeza e profundidade, equilíbrio e força.
Quem diria, tão jovem e tão tímida?
Decidimo-nos a ajudar Louise e o médico encarregou-se de tomar conta da paciente enquanto que eu e Gisele iríamos conversar com os pais da jovem, naturalmente aflitos, para preveni-los e acomodar a situação.
Realmente, estavam desesperados.
Receberam-nos entre lágrimas e com tato Gisele foi relatando o problema, procurando opinar o mínimo possível.
Choraram, dando expansão aos nervos abalados pela noite em claro.
Sabedores que a moça tentara suicídio, aterrados, só atentaram para o facto dele não se ter efectuado.
Diante desse perigo, aceitaram a gravidez da jovem sem nenhum preconceito, apesar de intransigentes e rijos na moral.
Foi-nos fácil conduzi-los ao apartamento de Antoine.
A cena tocante desses pais aflitos, que após se certificarem de que a vida da filha estava fora de perigo, nos cobriram de abraços agradecidos e lágrimas emocionadas, calou profundamente em meu coração.
Foi com a alma em festa e o peito cantando de alegria que saímos do apartamento, os três, Gisele, o médico e eu.
Há muito tempo que não me sentia daquela maneira.
Pareceu-me mesmo que naquele momento recomecei a viver!
— Na verdade não é fácil.
É a experiência que amadurece o indivíduo.
Uns possuem mais experiência, outros menos.
Acredito que aquele que sabe, que viu, que sentiu, que passou, que analisou, que aprendeu, tem a obrigação moral de dar o testemunho, de ensinar, de ajudar.
Nesse caso sua teoria é falha.
Foram os adultos que mais viveram, portanto os mais experientes que fizeram a guerra e os jovens inocentes da população civil que foram mortos.
Quando falo de experiências vividas, não me refiro à idade física.
Falo do espírito eterno, não do corpo de carne que o reveste.
Troquei um olhar surpreendido com Gisele que parecia muito a vontade.
Ele continuou:
— Quando menciono as Leis de Deus, reporto-me ao estudo e a aplicação prática dos ensinamentos de Jesus.
Só eles nos poderão dar forças e maturidade.
— Alegro-me que pense assim, doutor — admitiu Gisele — partilhamos do mesmo ideal.
Acredito que o senhor também tenha estudado a filosofia Espírita.
— Não teria entrado nesse terreno se não tivesse observado que possuímos o mesmo ideal.
Ontem, quando a vi, percebi pelo seu modo de expressar-se, pelos factos que narrou que estava diante de uma companheira.
Permita-me apertar-lhe a mão.
Depois dos apertos calorosos de mãos que trocamos os três, sentimo-nos muito a vontade.
Os dois discorriam sobre a vida, suas dificuldades, seus méritos à luz do Espiritismo e eu, novato e ignorante os ouvia admirado.
Orgulhava-me de Gisele.
Expressava-se com firmeza e profundidade, equilíbrio e força.
Quem diria, tão jovem e tão tímida?
Decidimo-nos a ajudar Louise e o médico encarregou-se de tomar conta da paciente enquanto que eu e Gisele iríamos conversar com os pais da jovem, naturalmente aflitos, para preveni-los e acomodar a situação.
Realmente, estavam desesperados.
Receberam-nos entre lágrimas e com tato Gisele foi relatando o problema, procurando opinar o mínimo possível.
Choraram, dando expansão aos nervos abalados pela noite em claro.
Sabedores que a moça tentara suicídio, aterrados, só atentaram para o facto dele não se ter efectuado.
Diante desse perigo, aceitaram a gravidez da jovem sem nenhum preconceito, apesar de intransigentes e rijos na moral.
Foi-nos fácil conduzi-los ao apartamento de Antoine.
A cena tocante desses pais aflitos, que após se certificarem de que a vida da filha estava fora de perigo, nos cobriram de abraços agradecidos e lágrimas emocionadas, calou profundamente em meu coração.
Foi com a alma em festa e o peito cantando de alegria que saímos do apartamento, os três, Gisele, o médico e eu.
Há muito tempo que não me sentia daquela maneira.
Pareceu-me mesmo que naquele momento recomecei a viver!
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
CAPÍTULO XIX - Duas almas se encontram
Engolfado em íntimos pensamentos, eu olhava sem ver o lugo crepitante da lareira.
O inverno era rigoroso e chovia lá fora tornando ainda mais aconchegante a poltrona na qual eu me dispusera em confortável repouso.
Ana, Ana, onde você está?
Infelizmente, nunca obtivera suas noticias, embora as aguardasse com ansiedade.
Seis meses fazia que encontrara a certeza da sobrevivência do espírito após a morte.
Entretanto, de Ana, nem notícia.
Bertrand confortava-me com palavras amigas, aconselhando-me a esquecer.
Tornara-se muito nosso amigo e frequentava nossa casa com assiduidade.
Sua figura alegre, elegante, sua inteligência aliada a uma encantadora simplicidade, tinham conquistado o respeito e a amizade de meus pais.
Nossas palestras eram alegres e esclarecedoras e mamãe já não ralhava por abordarmos os temas espíritas.
Os acontecimentos, a mudança de Gisele, sua firmeza, seu carácter, tinham impressionado satisfatoriamente.
Bertrand tornara-se meu amigo particular e eu, saudoso e entristecido, não conseguia esconder-lhe meus sofrimentos, minhas saudades, minha dor.
Certo dia em que minha mágoa se acentuava, ele aconselhou:
— Você é jovem, Denizarth.
Não deve inutilizar sua vida por um mal que por ora não é possível sanar.
— Tudo isso eu já disse a mim mesmo.
Entretanto, à medida que o tempo passa e acentua-se a distância do passado, mais e mais suas lembranças me ferem o coração.
Tão jovem, tão cheia de vida! Karl era inocente!
Bertrand colocou a mão sobre meu ombro como para confortar-me:
— Todos nós pagamos pesado tributo a essa guerra.
Perdi minha família. Fiquei órfão de parentes.
Contudo, é preciso continuar.
A vida na Terra é uma passagem rápida e os nossos nos esperam mais além.
Sofrendo com nossos fracassos, exultando com nossas vitórias.
Muitas crianças e civis inocentes, muitos soldados que não desejavam a guerra sucumbiram ao massacre do povo judeu, tudo isso nos pode lançar à revolta e ao desespero se desconhecermos a justiça de Deus.
Todavia, ela funciona imperturbável e perfeita dando a cada um segundo suas obras.
— Quer dizer que Deus colaborou para que esses crimes fossem cometidos?
Que a Justiça Divina os delineou como punição daqueles que inocentes aos nossos olhos, eram culpados de crimes em anteriores existências na Terra?
— Absolutamente meu amigo.
Nosso conceito de Deus, nesse caso cairia por terra.
Ele seria pior do que nós próprios, O que quero dizer é que quando cometemos um crime ou um acto de crueldade, usando livre nosso arbítrio, automaticamente nos candidatamos a receber de volta aquelas forças negativas que arremessamos aos outros.
Engolfado em íntimos pensamentos, eu olhava sem ver o lugo crepitante da lareira.
O inverno era rigoroso e chovia lá fora tornando ainda mais aconchegante a poltrona na qual eu me dispusera em confortável repouso.
Ana, Ana, onde você está?
Infelizmente, nunca obtivera suas noticias, embora as aguardasse com ansiedade.
Seis meses fazia que encontrara a certeza da sobrevivência do espírito após a morte.
Entretanto, de Ana, nem notícia.
Bertrand confortava-me com palavras amigas, aconselhando-me a esquecer.
Tornara-se muito nosso amigo e frequentava nossa casa com assiduidade.
Sua figura alegre, elegante, sua inteligência aliada a uma encantadora simplicidade, tinham conquistado o respeito e a amizade de meus pais.
Nossas palestras eram alegres e esclarecedoras e mamãe já não ralhava por abordarmos os temas espíritas.
Os acontecimentos, a mudança de Gisele, sua firmeza, seu carácter, tinham impressionado satisfatoriamente.
Bertrand tornara-se meu amigo particular e eu, saudoso e entristecido, não conseguia esconder-lhe meus sofrimentos, minhas saudades, minha dor.
Certo dia em que minha mágoa se acentuava, ele aconselhou:
— Você é jovem, Denizarth.
Não deve inutilizar sua vida por um mal que por ora não é possível sanar.
— Tudo isso eu já disse a mim mesmo.
Entretanto, à medida que o tempo passa e acentua-se a distância do passado, mais e mais suas lembranças me ferem o coração.
Tão jovem, tão cheia de vida! Karl era inocente!
Bertrand colocou a mão sobre meu ombro como para confortar-me:
— Todos nós pagamos pesado tributo a essa guerra.
Perdi minha família. Fiquei órfão de parentes.
Contudo, é preciso continuar.
A vida na Terra é uma passagem rápida e os nossos nos esperam mais além.
Sofrendo com nossos fracassos, exultando com nossas vitórias.
Muitas crianças e civis inocentes, muitos soldados que não desejavam a guerra sucumbiram ao massacre do povo judeu, tudo isso nos pode lançar à revolta e ao desespero se desconhecermos a justiça de Deus.
Todavia, ela funciona imperturbável e perfeita dando a cada um segundo suas obras.
— Quer dizer que Deus colaborou para que esses crimes fossem cometidos?
Que a Justiça Divina os delineou como punição daqueles que inocentes aos nossos olhos, eram culpados de crimes em anteriores existências na Terra?
— Absolutamente meu amigo.
Nosso conceito de Deus, nesse caso cairia por terra.
Ele seria pior do que nós próprios, O que quero dizer é que quando cometemos um crime ou um acto de crueldade, usando livre nosso arbítrio, automaticamente nos candidatamos a receber de volta aquelas forças negativas que arremessamos aos outros.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Assim, estabelecemos a necessidade do sofrimento, as Leis de Deus permitem porque com eles nos tornaremos mais experientes.
Todavia, quando nós, ignorantes e reincidentes acrescentamos mais crueldade, mais maldade em nossos actos, estamos acumulando duras expiações que ninguém poderá sustar.
A Terra é um mundo de expiação e de provas, onde renascem espíritos ainda ignorantes e maus.
Nossa civilização tem se desenvolvido através do egoísmo, da ambição e da força bruta.
E a violência, estabelecendo clima de resgate colectivo, ocasiona catástrofe e destruição a crueldade do homem que torna nosso planeta triste, atingindo vidas para nós inocentes.
Contudo, serão inocentes?
Só Deus o sabe não nos Compete julgar.
Mas dessa maneira nunca mais sairemos desse círculo vicioso, Os assassinos de agora deverão morrer assassinados depois, isto não obriga uma mão a tornar-se por sua vez assassina?
Bertrand abanou a cabeça com serenidade:
Engana-se, existem muitas doenças que concedem ao espírito faltoso expiar suas faltas.
Nem sempre o assassino perece assassinado.
Muitas vezes aquele que enterrou a faca nas costas de um semelhante, sofre através da tuberculose, que lhe apunhala em dores lancinantes o tórax, dores mais atrozes do que ocasionou.
Deu um tiro na cabeça, no abdómen ou em outro lugar, pode possuir um tumor nesse local, que o fará sofrer dores e às vezes por mais tempo do que fez sofrer.
Depois, os as epidemias, tudo isso, causados pelo proceder do próprio homem, poderia fazê-lo purificar-se, redimir-se.
Mas, a crueldade e a ambição proliferam.
Pelo poder efémero na Terra, vemo-nos diante das maiores chacinas.
Então, Deus, em sua magnífica bondade através de suas Leis perfeitíssimas e justas, restabelece o equilíbrio que o homem imprevidente destruiu transmutando esse sofrimento em aproveitamento para o espírito.
Sua bondade transforma em frutos de aperfeiçoamento os resultados da nossa maldade.
Fiquei comovido e não esqueci suas palavras.
Nossas palestras repetiam-se amiúde.
Frequentávamos uma reunião de estudos espíritas em casa de um amigo do médico e Gisele apreciava muito essas reuniões, onde colaborava como médium.
Era sempre com o coração aos saltos que eu assistia as manifestações dos espíritos.
Ana poderia ser um deles.
Mas, minha expectativa frustrava-se todas as vezes. Ela não vinha.
A cada dia, meu amor por ela, longe de esmaecer, firmava-se.
Olhando as chamas mirabolantes da lareira, por um momento, senti-me na sala de Frau Eva.
Todavia, quando nós, ignorantes e reincidentes acrescentamos mais crueldade, mais maldade em nossos actos, estamos acumulando duras expiações que ninguém poderá sustar.
A Terra é um mundo de expiação e de provas, onde renascem espíritos ainda ignorantes e maus.
Nossa civilização tem se desenvolvido através do egoísmo, da ambição e da força bruta.
E a violência, estabelecendo clima de resgate colectivo, ocasiona catástrofe e destruição a crueldade do homem que torna nosso planeta triste, atingindo vidas para nós inocentes.
Contudo, serão inocentes?
Só Deus o sabe não nos Compete julgar.
Mas dessa maneira nunca mais sairemos desse círculo vicioso, Os assassinos de agora deverão morrer assassinados depois, isto não obriga uma mão a tornar-se por sua vez assassina?
Bertrand abanou a cabeça com serenidade:
Engana-se, existem muitas doenças que concedem ao espírito faltoso expiar suas faltas.
Nem sempre o assassino perece assassinado.
Muitas vezes aquele que enterrou a faca nas costas de um semelhante, sofre através da tuberculose, que lhe apunhala em dores lancinantes o tórax, dores mais atrozes do que ocasionou.
Deu um tiro na cabeça, no abdómen ou em outro lugar, pode possuir um tumor nesse local, que o fará sofrer dores e às vezes por mais tempo do que fez sofrer.
Depois, os as epidemias, tudo isso, causados pelo proceder do próprio homem, poderia fazê-lo purificar-se, redimir-se.
Mas, a crueldade e a ambição proliferam.
Pelo poder efémero na Terra, vemo-nos diante das maiores chacinas.
Então, Deus, em sua magnífica bondade através de suas Leis perfeitíssimas e justas, restabelece o equilíbrio que o homem imprevidente destruiu transmutando esse sofrimento em aproveitamento para o espírito.
Sua bondade transforma em frutos de aperfeiçoamento os resultados da nossa maldade.
Fiquei comovido e não esqueci suas palavras.
Nossas palestras repetiam-se amiúde.
Frequentávamos uma reunião de estudos espíritas em casa de um amigo do médico e Gisele apreciava muito essas reuniões, onde colaborava como médium.
Era sempre com o coração aos saltos que eu assistia as manifestações dos espíritos.
Ana poderia ser um deles.
Mas, minha expectativa frustrava-se todas as vezes. Ela não vinha.
A cada dia, meu amor por ela, longe de esmaecer, firmava-se.
Olhando as chamas mirabolantes da lareira, por um momento, senti-me na sala de Frau Eva.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Senti a presença de Ana, revi seu rostinho adorável.
Mas, durou um segundo logo a sensação desapareceu, deixando a tristeza e a solidão.
Se eu tivesse pressentido o que iria ocorrer, teria procurado fugir com Ana e Karl para algum lugar, onde pudéssemos esperar a guerra acabar.
Mil pensamentos remoíam-me a mente na inutilidade da minha exasperação.
Sobressaltei-me, vendo entrar Gisele acompanhada de Bertrand.
Abraçamo-nos.
Nosso amigo jantava connosco naquela noite.
Gisele foi preparar-se e ficamos os dois em agradável palestra.
— Você precisa distrair-se, Denizarth.
Tem vivido muito só.
Abanei a cabeça.
— Não posso, Bertrand. Sinto-me velho.
Não encontro mais prazer nos entretenimentos comuns.
Estou um pouco desgastado.
Invulnerável às emoções frívolas da sociedade.
— Em parte concordo.
Parece que tem havido certo exagero no comportamento da maioria, buscando emoções fortes nas orgias, com tal assiduidade, querendo viver numa noite todos os prazeres roubados por tantos anos de guerra.
Mas, não é a isso que me refiro. Você deve procurar companhia da sua idade.
Ir a teatros, interessar-se novamente pela vida e até, quem sabe, encontrar uma companheira que o faça feliz.
Suspirei sem querer.
- É cedo, Bertrand, muito cedo.
Mais tarde, quem sabe.
Por ora ainda não estou preparado.
Faria infeliz qualquer mulher.
Não consigo esquecer-me de Ana.
Que fazer? Só o tempo poderá ajudar-me.
Bertrand olhou-me sério.
- Respeito seu ponto de vista e o admiro.
Gostaria de vê-lo feliz, realizado, Por isso toco no assunto.
— Eu sei. Você é meu amigo!
— Sou. E quero saber sua opinião.
— Sobre o que?
— Sobre Gisele. Eu a amo!
Acha que ela me aceitaria como marido?
Mas, durou um segundo logo a sensação desapareceu, deixando a tristeza e a solidão.
Se eu tivesse pressentido o que iria ocorrer, teria procurado fugir com Ana e Karl para algum lugar, onde pudéssemos esperar a guerra acabar.
Mil pensamentos remoíam-me a mente na inutilidade da minha exasperação.
Sobressaltei-me, vendo entrar Gisele acompanhada de Bertrand.
Abraçamo-nos.
Nosso amigo jantava connosco naquela noite.
Gisele foi preparar-se e ficamos os dois em agradável palestra.
— Você precisa distrair-se, Denizarth.
Tem vivido muito só.
Abanei a cabeça.
— Não posso, Bertrand. Sinto-me velho.
Não encontro mais prazer nos entretenimentos comuns.
Estou um pouco desgastado.
Invulnerável às emoções frívolas da sociedade.
— Em parte concordo.
Parece que tem havido certo exagero no comportamento da maioria, buscando emoções fortes nas orgias, com tal assiduidade, querendo viver numa noite todos os prazeres roubados por tantos anos de guerra.
Mas, não é a isso que me refiro. Você deve procurar companhia da sua idade.
Ir a teatros, interessar-se novamente pela vida e até, quem sabe, encontrar uma companheira que o faça feliz.
Suspirei sem querer.
- É cedo, Bertrand, muito cedo.
Mais tarde, quem sabe.
Por ora ainda não estou preparado.
Faria infeliz qualquer mulher.
Não consigo esquecer-me de Ana.
Que fazer? Só o tempo poderá ajudar-me.
Bertrand olhou-me sério.
- Respeito seu ponto de vista e o admiro.
Gostaria de vê-lo feliz, realizado, Por isso toco no assunto.
— Eu sei. Você é meu amigo!
— Sou. E quero saber sua opinião.
— Sobre o que?
— Sobre Gisele. Eu a amo!
Acha que ela me aceitaria como marido?
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Sorri satisfeito.
Jamais poderia ter ouvido notícia melhor.
Tinha notado o interesse dele.
Sabia que Gisele também o queria.
Levantei-me e o abracei com efusão.
— Bertrand. Que alegria!
Sinto-me muito honrado e feliz!
A voz dele estava trémula:
— Acha que me aceitará?
— Experimente falar-lhe.
— É. Pretendo fazê-lo, entretanto, é preciso que eu esclareça que já fui casado.
Olhei-o surpreendido Ele prosseguiu:
- Casei-me muito moço. Ela era 2 anos mais velha.
Infelizmente não fomos felizes.
Seus ciúmes envenenaram-me a existência e por fim nos separamos, Foi logo no início da guerra.
Aturdi-me com trabalho e procurei esquecer.
Quando a guerra acabou, soube que ela tinha sido encontrada morta em seu quarto, possivelmente intoxicada.
Procurei descobrir alguma coisa mais sobre ela, porque sentia-me responsável.
Ela dizia amar-me, mas, nossa vida em comum era impossível, tentei diversas vezes ajudá-la, mas nunca me permitiu.
Autoritária e intransigente, dizia amar-me mas às vezes penso que me odiava.
Nunca consegui entendê-la.
Amargurado, encontrei no Espiritismo conforto e paciência.
Pretendia viver ao seu lado, apesar de tudo, cumprir meu dever e ver se conseguia ajudá-la de alguma forma.
Porém, era tarde, quando regressei, estava morta.
Meus pais também morreram durante um bombardeio e meu único irmão morreu lutando.
As vezes, penso que deveria ter ajudado minha mulher a modificar-se.
Assim, quem sabe, talvez, ela ainda vivesse!
Isso me entristece!
— Você a amava?
— A princípio pensei que sim.
Depois, compreendi que não, contudo desejava ampará-la e protegê-la.
Não foi possível.
Olhei-o com simpatia.
Bertrand não gostava de falar de si.
Não sabia nada sobre seu passado.
Descobrira naquele momento que ele também vivera seu drama.
Jamais poderia ter ouvido notícia melhor.
Tinha notado o interesse dele.
Sabia que Gisele também o queria.
Levantei-me e o abracei com efusão.
— Bertrand. Que alegria!
Sinto-me muito honrado e feliz!
A voz dele estava trémula:
— Acha que me aceitará?
— Experimente falar-lhe.
— É. Pretendo fazê-lo, entretanto, é preciso que eu esclareça que já fui casado.
Olhei-o surpreendido Ele prosseguiu:
- Casei-me muito moço. Ela era 2 anos mais velha.
Infelizmente não fomos felizes.
Seus ciúmes envenenaram-me a existência e por fim nos separamos, Foi logo no início da guerra.
Aturdi-me com trabalho e procurei esquecer.
Quando a guerra acabou, soube que ela tinha sido encontrada morta em seu quarto, possivelmente intoxicada.
Procurei descobrir alguma coisa mais sobre ela, porque sentia-me responsável.
Ela dizia amar-me, mas, nossa vida em comum era impossível, tentei diversas vezes ajudá-la, mas nunca me permitiu.
Autoritária e intransigente, dizia amar-me mas às vezes penso que me odiava.
Nunca consegui entendê-la.
Amargurado, encontrei no Espiritismo conforto e paciência.
Pretendia viver ao seu lado, apesar de tudo, cumprir meu dever e ver se conseguia ajudá-la de alguma forma.
Porém, era tarde, quando regressei, estava morta.
Meus pais também morreram durante um bombardeio e meu único irmão morreu lutando.
As vezes, penso que deveria ter ajudado minha mulher a modificar-se.
Assim, quem sabe, talvez, ela ainda vivesse!
Isso me entristece!
— Você a amava?
— A princípio pensei que sim.
Depois, compreendi que não, contudo desejava ampará-la e protegê-la.
Não foi possível.
Olhei-o com simpatia.
Bertrand não gostava de falar de si.
Não sabia nada sobre seu passado.
Descobrira naquele momento que ele também vivera seu drama.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Quanta gente conhecemos nas mesmas condições?
Quantos que se cruzam connosco na via pública, parecendo-nos equilibrados e felizes, guardam uma chaga no coração?
— Você não teve culpa.
Estava na guerra cumprindo seu dever quando ela morreu.
Nunca lhe escreveu?
— Sim. Às vezes eu lhe escrevia pedindo notícias, mas raramente ela respondia.
— Nunca recebeu notícias dela como espírito?
— Através de um médium, não.
Mas tenho-a entrevisto algumas vezes, a meu lado.
Procura atingir-me.
Nesses momentos, oro com fervor em seu favor.
Então, ela se vai.
Fiquei calado, pensando.
Bertrand continuou:
— Denizarth. Agora sei o que é o amor.
Amo Gisele.
Seu espírito leal, nobre e puro, tocou-me fundo os sentimentos.
Sua figura, seu rostinho suave, tange as fibras mais profundas do meu ser.
Acha que posso esperar que ela aceite o que lhe posso oferecer?
Olhei-o nos olhos.
Havia um brilho húmido de emoção a lhe marejar o olhar.
— Converse com ela. Confidenciem-se.
Vocês foram feitos um para o outro.
Ambos têm um passado para esquecer.
Deus permita que isso aconteça.
Abraçamo-nos.
Gisele entrando na sala, olhou-nos admirada e curiosa.
O jantar ainda demoraria.
Convenci-os a dar uma volta e percebi que Gisele tremia ao abraçar-me na saída.
Ela pressentia que algo ia acontecer.
Talvez esperasse por isso.
Vendo-os sair lado a lado, ouvindo o ruído do carro que se distanciava, senti-me mais optimista.
Gisele merecia a felicidade.
Bertrand também.
Agradável calor percorreu-me o corpo.
Uma hora depois, voltavam de mãos dadas, rostos risonhos, olhares enternecidos.
Decidido, Bertrand conversou com meus pais naquela mesma noite e nosso jantar amigo e simples, transformou-se em íntima e agradável festa de noivado.
Quantos que se cruzam connosco na via pública, parecendo-nos equilibrados e felizes, guardam uma chaga no coração?
— Você não teve culpa.
Estava na guerra cumprindo seu dever quando ela morreu.
Nunca lhe escreveu?
— Sim. Às vezes eu lhe escrevia pedindo notícias, mas raramente ela respondia.
— Nunca recebeu notícias dela como espírito?
— Através de um médium, não.
Mas tenho-a entrevisto algumas vezes, a meu lado.
Procura atingir-me.
Nesses momentos, oro com fervor em seu favor.
Então, ela se vai.
Fiquei calado, pensando.
Bertrand continuou:
— Denizarth. Agora sei o que é o amor.
Amo Gisele.
Seu espírito leal, nobre e puro, tocou-me fundo os sentimentos.
Sua figura, seu rostinho suave, tange as fibras mais profundas do meu ser.
Acha que posso esperar que ela aceite o que lhe posso oferecer?
Olhei-o nos olhos.
Havia um brilho húmido de emoção a lhe marejar o olhar.
— Converse com ela. Confidenciem-se.
Vocês foram feitos um para o outro.
Ambos têm um passado para esquecer.
Deus permita que isso aconteça.
Abraçamo-nos.
Gisele entrando na sala, olhou-nos admirada e curiosa.
O jantar ainda demoraria.
Convenci-os a dar uma volta e percebi que Gisele tremia ao abraçar-me na saída.
Ela pressentia que algo ia acontecer.
Talvez esperasse por isso.
Vendo-os sair lado a lado, ouvindo o ruído do carro que se distanciava, senti-me mais optimista.
Gisele merecia a felicidade.
Bertrand também.
Agradável calor percorreu-me o corpo.
Uma hora depois, voltavam de mãos dadas, rostos risonhos, olhares enternecidos.
Decidido, Bertrand conversou com meus pais naquela mesma noite e nosso jantar amigo e simples, transformou-se em íntima e agradável festa de noivado.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
CAPITULO XX - Uma esperança?
Com as janelas do quarto abertas de par a par, gozando a beleza do sol que se espraiava atrevido sobre a cama, eu ia e vinha arrumando cuidadosamente uma maleta de viagem.
O ruído alegre da rua, nessa manhã de junho, convidáva-nos à alegria e ao optimismo, Sentia-me um pouco emocionado.
Ia para Alemanha, a serviço do Ministério.
Quando iria esquecer de Ana?
Partia tranquilo, apesar de ter que ficar um ano ausente, possivelmente.
Havia dois meses que Gisele se casara, vivendo em contagiante felicidade Bertrand comprara confortável residência que ambos haviam amorosamente decorado.
Com Bertrand cuidando dos meus, podia ausentar-me sem preocupações.
Finalmente, nossa vida familiar tornara-se feliz e amena.
Todos viviam alegres e agradecidos a Deus pelo milagre extraordinário de havermos conseguido atravessar a guerra fisicamente ilesos.
Essa sensação tornava-nos humildes diante de Deus e valorizava infinitamente cada momento de alegria que juntos desfrutávamos.
Minha mãe entrou trazendo algumas coisas embrulhadas.
— Preparei alguns docinhos.
São os seus preferidos Talvez você não os encontre na Alemanha.
Sorri.
Abracei-a bem-humorado:
— Com certeza. Só aprecio os que você faz.
Ela olhou-me envaidecida.
— Por algum tempo não vou poder fazê-los.
— O tempo passa depressa — ajuntei à guisa de consolo.
Dentro em breve estarei de volta.
Apesar das lágrimas furtivas de Gisele, que nos aguardava e de mamãe e das muitas recomendações, não me senti triste.
Precisava viajar um pouco para modificar a rotina sem emoções.
Pensei em minha vida à medida que o trem corria veloz, renovando as paisagens que eu contemplava distraído através da janela, gradativamente, sem querer eu ia levando meu pensamento de volta ao passado.
Havia momentos que eu reagia, procurando esquecer, mas invariavelmente meu amor por Ana, a lembrança de meu filho, conservavam-se intactas e contundentes dentro de mim.
Eu procurava outras mulheres.
Queria sair desse estado quase mórbido e deixar de reviver constantemente o passado com Ana que já se ia tornando distante.
Às vezes, um rostinho bonito, um corpo bem feito, lograva despertar-me algum entusiasmo, mas em pouco tempo surpreendia-me estabelecendo comparações constantes nas quais Ana sempre se salientava fazendo desaparecer o fugidio interesse inicial.
— Vou rever a Alemanha! — pensei emocionado.
Meu destino era Berlim, no lado em que os Aliados comandavam.
Mas, tinha intenções de ir a Dresden rever a casa de Ana e mesmo de longe, matar as saudades.
Com as janelas do quarto abertas de par a par, gozando a beleza do sol que se espraiava atrevido sobre a cama, eu ia e vinha arrumando cuidadosamente uma maleta de viagem.
O ruído alegre da rua, nessa manhã de junho, convidáva-nos à alegria e ao optimismo, Sentia-me um pouco emocionado.
Ia para Alemanha, a serviço do Ministério.
Quando iria esquecer de Ana?
Partia tranquilo, apesar de ter que ficar um ano ausente, possivelmente.
Havia dois meses que Gisele se casara, vivendo em contagiante felicidade Bertrand comprara confortável residência que ambos haviam amorosamente decorado.
Com Bertrand cuidando dos meus, podia ausentar-me sem preocupações.
Finalmente, nossa vida familiar tornara-se feliz e amena.
Todos viviam alegres e agradecidos a Deus pelo milagre extraordinário de havermos conseguido atravessar a guerra fisicamente ilesos.
Essa sensação tornava-nos humildes diante de Deus e valorizava infinitamente cada momento de alegria que juntos desfrutávamos.
Minha mãe entrou trazendo algumas coisas embrulhadas.
— Preparei alguns docinhos.
São os seus preferidos Talvez você não os encontre na Alemanha.
Sorri.
Abracei-a bem-humorado:
— Com certeza. Só aprecio os que você faz.
Ela olhou-me envaidecida.
— Por algum tempo não vou poder fazê-los.
— O tempo passa depressa — ajuntei à guisa de consolo.
Dentro em breve estarei de volta.
Apesar das lágrimas furtivas de Gisele, que nos aguardava e de mamãe e das muitas recomendações, não me senti triste.
Precisava viajar um pouco para modificar a rotina sem emoções.
Pensei em minha vida à medida que o trem corria veloz, renovando as paisagens que eu contemplava distraído através da janela, gradativamente, sem querer eu ia levando meu pensamento de volta ao passado.
Havia momentos que eu reagia, procurando esquecer, mas invariavelmente meu amor por Ana, a lembrança de meu filho, conservavam-se intactas e contundentes dentro de mim.
Eu procurava outras mulheres.
Queria sair desse estado quase mórbido e deixar de reviver constantemente o passado com Ana que já se ia tornando distante.
Às vezes, um rostinho bonito, um corpo bem feito, lograva despertar-me algum entusiasmo, mas em pouco tempo surpreendia-me estabelecendo comparações constantes nas quais Ana sempre se salientava fazendo desaparecer o fugidio interesse inicial.
— Vou rever a Alemanha! — pensei emocionado.
Meu destino era Berlim, no lado em que os Aliados comandavam.
Mas, tinha intenções de ir a Dresden rever a casa de Ana e mesmo de longe, matar as saudades.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Talvez que voltando àquele lugar eu me libertasse daquela obsessão.
À medida que o trem corria, sentia crescer minha ansiedade.
Depois da fronteira, admirei-me profundamente ao verificar a modificação das cidades alemãs, grandemente destruídas pelos bombardeios.
Em tão pouco tempo, apresentavam já aspecto bem diverso.
Muitas reconstruídas e outras tantas em construção.
Parecia imensa colmeia tal a operosidade que se notava no povo.
Tal como acontecera em meu pais, enterrar seus mortos, juntar os destroços, limpar o caminho e recomeçar.
Admirei-me da facilidade com que o homem consegue reagir para poder sobreviver.
A derrota e as acusações tremendas de crueldade que pesaram sobre a consciência desse povo, não foram suficientes para arrasá-los.
Encontrar-me novamente na Alemanha, sensibilizava-me bastante. O idioma, as fisionomias, o povo, tudo lembrava-me o passado, embora já os vestígios da guerra se tivessem apagado.
Cada menino que aparentasse 7 anos, prendia-me a atenção e eu procurava imaginar que Karl seria assim se estivesse vivo.
Atormentava-me pensar nisso, e inconscientemente, em cada moça que passava por mim, com ligeira semelhança com Ana, fazia-me bater o coração em indomável reflexo.
Fui para o apartamento que me fora reservado e procurei dormir.
Mas o sono não chegava. Agoniado, lembrei-me da oração que sempre me auxiliava a suportar essa mágoa.
Levei o pensamento a Deus com firmeza e emoção, murmurei sentida prece enquanto que uma lágrima rolou de meus olhos cansados.
Então, como que acariciado por suaves eflúvios, adormeci.
Nos dias que se seguiram, ocupei-me das tarefas para as quais fora designado pelo meu governo e nos departamentos e arquivos do nosso serviço de informações, fui acometido de imensa curiosidade.
Sabia que em grande maioria, os prisioneiros de guerra haviam sido libertados, O Tribunal de Nuremberg limitara-se a responsabilizar o alto Comando Alemão ao apurar os crimes de guerra que estarreceram o mundo.
Tinha quase certeza de que Ernest como Ludwig, apesar de oficiais e de haverem participado activamente das S.S. deveriam estar em liberdade.
Mas, mesmo assim, valendo-me das credenciais que possuía de livre ingresso nesse departamento, passei uma tarde inteira procurando o relatório do processo e a ficha de cada um.
Encontrei Ernest.
Estivera preso até o julgamento de Nuremberg aguardando deliberação dos juízes quanto ao seu destino.
Era acusado de participar da Associação de Preservação e Pureza da Raça Ariana, tendo trabalhado na arregimentação dos judeus, pesquisando e elaborando listas completas e minuciosas dos futuros prisioneiros.
Embora tendo sido evidenciada sua culpabilidade de acordo com a decisão dos juízes do Tribunal, como subalterno, fora restituído à liberdade em maio de 1946, portanto, há pouco mais de um ano.
À medida que o trem corria, sentia crescer minha ansiedade.
Depois da fronteira, admirei-me profundamente ao verificar a modificação das cidades alemãs, grandemente destruídas pelos bombardeios.
Em tão pouco tempo, apresentavam já aspecto bem diverso.
Muitas reconstruídas e outras tantas em construção.
Parecia imensa colmeia tal a operosidade que se notava no povo.
Tal como acontecera em meu pais, enterrar seus mortos, juntar os destroços, limpar o caminho e recomeçar.
Admirei-me da facilidade com que o homem consegue reagir para poder sobreviver.
A derrota e as acusações tremendas de crueldade que pesaram sobre a consciência desse povo, não foram suficientes para arrasá-los.
Encontrar-me novamente na Alemanha, sensibilizava-me bastante. O idioma, as fisionomias, o povo, tudo lembrava-me o passado, embora já os vestígios da guerra se tivessem apagado.
Cada menino que aparentasse 7 anos, prendia-me a atenção e eu procurava imaginar que Karl seria assim se estivesse vivo.
Atormentava-me pensar nisso, e inconscientemente, em cada moça que passava por mim, com ligeira semelhança com Ana, fazia-me bater o coração em indomável reflexo.
Fui para o apartamento que me fora reservado e procurei dormir.
Mas o sono não chegava. Agoniado, lembrei-me da oração que sempre me auxiliava a suportar essa mágoa.
Levei o pensamento a Deus com firmeza e emoção, murmurei sentida prece enquanto que uma lágrima rolou de meus olhos cansados.
Então, como que acariciado por suaves eflúvios, adormeci.
Nos dias que se seguiram, ocupei-me das tarefas para as quais fora designado pelo meu governo e nos departamentos e arquivos do nosso serviço de informações, fui acometido de imensa curiosidade.
Sabia que em grande maioria, os prisioneiros de guerra haviam sido libertados, O Tribunal de Nuremberg limitara-se a responsabilizar o alto Comando Alemão ao apurar os crimes de guerra que estarreceram o mundo.
Tinha quase certeza de que Ernest como Ludwig, apesar de oficiais e de haverem participado activamente das S.S. deveriam estar em liberdade.
Mas, mesmo assim, valendo-me das credenciais que possuía de livre ingresso nesse departamento, passei uma tarde inteira procurando o relatório do processo e a ficha de cada um.
Encontrei Ernest.
Estivera preso até o julgamento de Nuremberg aguardando deliberação dos juízes quanto ao seu destino.
Era acusado de participar da Associação de Preservação e Pureza da Raça Ariana, tendo trabalhado na arregimentação dos judeus, pesquisando e elaborando listas completas e minuciosas dos futuros prisioneiros.
Embora tendo sido evidenciada sua culpabilidade de acordo com a decisão dos juízes do Tribunal, como subalterno, fora restituído à liberdade em maio de 1946, portanto, há pouco mais de um ano.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Foi com justificável emoção que encontrei a documentação de Ludwig.
Seu rosto sério provocou-me ligeiro estremecimento.
Seus traços lembravam um pouco o rosto de Ana e ao mesmo tempo, a última e desagradável entrevista que tínhamos tido.
Não completara ainda 30 anos.
Lutara com bravura, tendo se distinguido em diversas batalhas, recebendo diversas medalhas.
Mandado para Paris logo no início da ocupação, por causa dos seus conhecimentos do idioma e da sua perícia no sector de planeamento e estratégia, economia e estatística, tomou parte activa nas actividades das S.S., principalmente no confisco dos bens dos presos, convertendo-os em recurso hábil para sustentação do poderio bélico alemão.
Não era mais surpresa o facto de que a matança dos judeus tinha servido mais à pilhagem de suas vultosas posses materiais do que propriamente ao aperfeiçoamento da raça ariana, apresentou apenas um véu acobertando a ambição desmedida e astúcia desastrosa de um punhado de visionários.
Fossem os judeus pobres e não teriam sofrido tanta perseguição e tantos golpes.
Apossavam-se deles para desapropriarem seus bens, amonavam-nos nos campos de concentração, mas, como sustentá-los?
Um país contra o mundo!
Teria condições de alimentá-los?
O que lhes valeria o dinheiro arrancado dos prisioneiros se teriam de consumi-lo na sua alimentação?
Essa foi a verdadeira causa do morticínio incessante e cruel.
Estabeleceu-se um círculo vicioso.
A guerra prosseguia.
A vitória tardava, consumindo recursos incalculáveis.
Novas frentes se abriram, havendo necessidade de ampliá-los ainda mais.
Então, a lista de judeus crescia ao mesmo tempo que a falta de espaço e de alimento os forçava a exterminá-los, sempre mais.
Existem coisas que nos chocam a sensibilidade, todavia, quando iniciamos a descida frente ao mal, e enveredamos pelo erro, nunca sabemos a que extremos podemos chegar.
Eles estavam tão envolvidos pelo fanatismo e pela ambição que com facilidade se tinham deixado levar por caminho do qual não mais poderiam sair sem esgotá-lo até o fim, ladeira abaixo, até encontrar as consequências dos seus actos.
Ludwig, era o génio que cuidava da "economia" alemã.
Não pesquisava nem tomava conhecimento das "listas" elaboradas.
Recebia os recursos confiscados e os equacionava e distribuía.
Prisioneiro de guerra no início de 1945, fora posto em liberdade também em maio de 1946.
A ficha trazia seu endereço e o nome dos seus familiares.
Meu coração bateu mais forte ao ler os nomes de Frau Eva e de Elga, de Ana e Karl.
O nome do avó não constava.
Vivo rubor assomou-me ao rosto ao ler a anotação:
Karl, filho de Ana Gruber e de pai desconhecido.
Não constava mais nada.
Seu rosto sério provocou-me ligeiro estremecimento.
Seus traços lembravam um pouco o rosto de Ana e ao mesmo tempo, a última e desagradável entrevista que tínhamos tido.
Não completara ainda 30 anos.
Lutara com bravura, tendo se distinguido em diversas batalhas, recebendo diversas medalhas.
Mandado para Paris logo no início da ocupação, por causa dos seus conhecimentos do idioma e da sua perícia no sector de planeamento e estratégia, economia e estatística, tomou parte activa nas actividades das S.S., principalmente no confisco dos bens dos presos, convertendo-os em recurso hábil para sustentação do poderio bélico alemão.
Não era mais surpresa o facto de que a matança dos judeus tinha servido mais à pilhagem de suas vultosas posses materiais do que propriamente ao aperfeiçoamento da raça ariana, apresentou apenas um véu acobertando a ambição desmedida e astúcia desastrosa de um punhado de visionários.
Fossem os judeus pobres e não teriam sofrido tanta perseguição e tantos golpes.
Apossavam-se deles para desapropriarem seus bens, amonavam-nos nos campos de concentração, mas, como sustentá-los?
Um país contra o mundo!
Teria condições de alimentá-los?
O que lhes valeria o dinheiro arrancado dos prisioneiros se teriam de consumi-lo na sua alimentação?
Essa foi a verdadeira causa do morticínio incessante e cruel.
Estabeleceu-se um círculo vicioso.
A guerra prosseguia.
A vitória tardava, consumindo recursos incalculáveis.
Novas frentes se abriram, havendo necessidade de ampliá-los ainda mais.
Então, a lista de judeus crescia ao mesmo tempo que a falta de espaço e de alimento os forçava a exterminá-los, sempre mais.
Existem coisas que nos chocam a sensibilidade, todavia, quando iniciamos a descida frente ao mal, e enveredamos pelo erro, nunca sabemos a que extremos podemos chegar.
Eles estavam tão envolvidos pelo fanatismo e pela ambição que com facilidade se tinham deixado levar por caminho do qual não mais poderiam sair sem esgotá-lo até o fim, ladeira abaixo, até encontrar as consequências dos seus actos.
Ludwig, era o génio que cuidava da "economia" alemã.
Não pesquisava nem tomava conhecimento das "listas" elaboradas.
Recebia os recursos confiscados e os equacionava e distribuía.
Prisioneiro de guerra no início de 1945, fora posto em liberdade também em maio de 1946.
A ficha trazia seu endereço e o nome dos seus familiares.
Meu coração bateu mais forte ao ler os nomes de Frau Eva e de Elga, de Ana e Karl.
O nome do avó não constava.
Vivo rubor assomou-me ao rosto ao ler a anotação:
Karl, filho de Ana Gruber e de pai desconhecido.
Não constava mais nada.
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Re: Série Lucius - Entre o Amor e a Guerra / Zibia Gasparetto
Admirei-me. Porque não constava a morte de Ana de Karl?
Teriam se desinteressado desse detalhe?
Por um momento violenta emoção tomou conta de mim.
Estariam vivos?
Estremeci e com a ficha na mão abordei um funcionário a quem perguntei:
— É possível que o nome de pessoas mortas apareçam na ficha, sem que se esclareça esse facto objectivamente?
Enquanto meu interlocutor atencioso percorria a ficha com o olhar, eu, com o coração batendo descompassado, aguardava seu pronunciamento.
— É possível, sim.
Os dados familiares são colectados através dos documentos dos próprios cadastrados ou pelos livros de registo do cartório civil.
Não pesquisamos dados familiares com minúcias.
Basta-nos apenas a composição nominal dos membros da família.
Profunda decepção transpareceu em meu rosto.
Evidenciou-se tanto que o rapaz, condoído, inquiriu:
— Procura encontrar alguém?
Era comum essa busca de após guerra e muitos valiam-se desses arquivos solicitando informações sobre soldados desaparecidos.
No meu caso, porém, não tive coragem para confessar.
Respondi, procurando dominar o desânimo:
— Não. Surpreendi-me ao ver nesta ficha o nome de uma pessoa que já morreu, sem que constasse aqui nenhuma anotação.
O funcionário sorriu:
— Para isso precisaríamos recorrer aos livros de óbitos que andam tão atrapalhados hoje em dia.
Seria uma calamidade e não teria nenhuma utilidade para nós, a não ser que o nosso cadastrado tivesse falecido.
Saí dali angustiado.
Por que afinal fora servir à curiosidade?
Porque reavivar mais a ferida que ainda sangrava tanto?
Procurei reagir.
Afinal, para que atormentar-se inutilmente?
Atirei-me com disposição ao trabalho, nos dias que se seguiram e procurei esquecer a mágoa que me consumia por dentro.
Tinha receio de ir a Dresdem.
Teria coragem para rever a casa de Ana, sem que a pudesse abraçar?
Teria coragem para visitar a laje fria, onde ela e Karl foram sepultados, derramando minhas lágrimas de saudades sem que o desespero me toldasse o raciocínio?
Talvez não tivesse forças e por isso eu adiava o reencontro com o cenário do passado com medo de enfrentar a dolorosa realidade.
Ana morta! Karl também!
Meu Deus, quanto sofrem os seres humanos!
Teriam se desinteressado desse detalhe?
Por um momento violenta emoção tomou conta de mim.
Estariam vivos?
Estremeci e com a ficha na mão abordei um funcionário a quem perguntei:
— É possível que o nome de pessoas mortas apareçam na ficha, sem que se esclareça esse facto objectivamente?
Enquanto meu interlocutor atencioso percorria a ficha com o olhar, eu, com o coração batendo descompassado, aguardava seu pronunciamento.
— É possível, sim.
Os dados familiares são colectados através dos documentos dos próprios cadastrados ou pelos livros de registo do cartório civil.
Não pesquisamos dados familiares com minúcias.
Basta-nos apenas a composição nominal dos membros da família.
Profunda decepção transpareceu em meu rosto.
Evidenciou-se tanto que o rapaz, condoído, inquiriu:
— Procura encontrar alguém?
Era comum essa busca de após guerra e muitos valiam-se desses arquivos solicitando informações sobre soldados desaparecidos.
No meu caso, porém, não tive coragem para confessar.
Respondi, procurando dominar o desânimo:
— Não. Surpreendi-me ao ver nesta ficha o nome de uma pessoa que já morreu, sem que constasse aqui nenhuma anotação.
O funcionário sorriu:
— Para isso precisaríamos recorrer aos livros de óbitos que andam tão atrapalhados hoje em dia.
Seria uma calamidade e não teria nenhuma utilidade para nós, a não ser que o nosso cadastrado tivesse falecido.
Saí dali angustiado.
Por que afinal fora servir à curiosidade?
Porque reavivar mais a ferida que ainda sangrava tanto?
Procurei reagir.
Afinal, para que atormentar-se inutilmente?
Atirei-me com disposição ao trabalho, nos dias que se seguiram e procurei esquecer a mágoa que me consumia por dentro.
Tinha receio de ir a Dresdem.
Teria coragem para rever a casa de Ana, sem que a pudesse abraçar?
Teria coragem para visitar a laje fria, onde ela e Karl foram sepultados, derramando minhas lágrimas de saudades sem que o desespero me toldasse o raciocínio?
Talvez não tivesse forças e por isso eu adiava o reencontro com o cenário do passado com medo de enfrentar a dolorosa realidade.
Ana morta! Karl também!
Meu Deus, quanto sofrem os seres humanos!
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