LUZ ESPÍRITA
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Reencarnação na Bíblia

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 16, 2012 9:56 am

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Aqui krisis (declinada para kriseos) pode outros significados (julgamento - expressando opinião de certo/errado ou sentença, condenação, punição, justiça, rectidão, colégio de juízes - identificado como o sinédrio) e outras que não vêm ao caso (separação, processo, disputa, selecção, escolha).

Por exemplo, "julgamento" ou condenação podem soar melhor.

Pastorino não vê lógica apenas para ele porque não é capaz de entender o outro contesto histórico da época.
Ou foi simplesmente arbitrário.

Anástasin reaparece no capítulo 11, durante o episódio da ressurreição de Lázaro:

João 11:24 Disse-lhe Marta: Sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia.
João 11:24 legei autw h marqa oida oti anasthsetai en th anastasei en th escath hmera

João 11:25 Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá
João 11:25 eipen auth o ihsouj egw eimi h anastasij kai h zwh o pisteuwn eij eme kan apoqanh zhsetai

"Último dia", "morrer", "viver".

Aqui a ideia dada dos ensinamentos de Jesus é bem diferente da que propõe Pastorino e valida a tradução para "ressurreição".

Isto é um dado importante e "ignorado" por ele.

30. Não posso fazer nada por mim mesmo (ou dúnamai egô poieín ap'emautou oudén): conforme ouço, escolho (kathôs akoúô krínô) e minha escolha é justa (kaì he krísis he emê dikaía estin) porque não procuro minha vontade (hóti ou zêtô tò thélêma tò emón) mas a vontade do que me enviou (allà tò thélêma tóu pémpsantós me).

Aqui a tradução dele se faz por demais "interessante":
no versículo imediatamente seguinte krisis muda de significado e é traduzido por "escolha", ao passo que no anterior, ela era "carma".

Muito improvável alguém que esteja fazendo um sermão use a mesma palavra, uma após a outra, com significados diferentes.
Isto, sim, não tem lógica.

No texto de Sabedoria do Evangelho 3, estes significados disparatados estão em secções diferentes (Cristo e sua Acção I e II, respectivamente), o que pode passar despercebido para um leitor desatento.

O que há de mais falho, depois, são as justificativa que ele dá para as escolhas de tais significados.

JULGAMENTO

Há um verbo grego (krínó) que é sistematicamente traduzido nas edições correntes por JULGAR;
e seu substantivo (krísis) é sempre transladado por JULGAMENTO ou JUÍZO.

Estudemos esses termos, que são de capital importância na compreensão do ensino de Jesus.

O verbo KRÍNÔ apresenta os sentidos básicos de:
separar, fazer triagem, escolher, decidir, resolver e,por analogia e extensão, julgar.

O substantivo KRÍSIS exprime fundamentalmente:
acção, separação, triagero, escolha, o resultado da acção de escolher, decisão, donde, por analogia e extensão, julgamento, ou juízo.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 16, 2012 9:57 am

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Analisemos, agora o sentido etimológico, que também importa.

Foram consultados: "Émile Boisacq,
Dictionnaire Étimologique de Ia Langue Grecque, 4.ª edição, Heidelberg, 1950"; Liddell & Scott,
Greek-English Dictionary", Oxford, 1897";
e "Sir Monier Monier-Williams, A Sanskrit-English Dictionary, Oxford, 1960", pág. 258 e 300.


KRÍNÔ e KRÍSIS (assim como o latim CERNO) vêm da raiz sânscrita KRI, que significa:
agir, fazer, causar, elaborar, construir, escolher, etc.

Dessa mesma raiz KRI deriva o substantivo sânscrito KARMA, que exprime:
acção, realização, efeito, resultado da acção escolhida, escolha, e cujo sentido é perfeitamente compreendido pelos estudiosos do espiritualismo, ou seja:
CARMA é a consequência (boa ou má) de uma acção (boa ou má) que a criatura tenha realizado por sua livre escolha.

Verificamos, pois, que traduzir sistematicamente KRÍNÔ e KRÍSIS por “julgar" e "julgamento" (sentidos analógicos e extensivos) é, em muitos casos, forçar o sentido e até desvirtuá-lo totalmente.

Os erros começam na afirmação que krisis e karma possuem a mesma raiz sânscrita KRI.
A verdade é que grego, sânscrito, latim, celta, persa antigo e germânico possuem todos uma origem comum: o indo-europeu.

Tal língua não deixou nenhum vestígio documental, porém pôde ser reconstituída através da comparação de suas línguas-filhas.
Nesta reconstituição, as raízes de krisis e karma se revelam diferentes no indo-europeu.

krisis - vem da raiz krei: peneirar, descriminar, distinguir
karma - vem da raiz kwer: fazer.

fonte The American Heritage® Dictionary of the English Language, http://www.bartleby.com/61/, buscar a etimologia das palavras crisis e karma.

Só isto já torna a argumentação sem base alguma, além de mostrar clara tendenciosidade.

Ainda que tivessem o mesmo radical de origem, o sentido das palavras muitas vezes muda com tempo e seria necessário garantir que não houve tal mudança.

Por exemplo, actual (inglês) e actual (português) possuem a mesma origem latina, mas seus significados distintos e pegam muitos estudantes.
A língua inglesa, talvez por ter importado tardiamente a palavra, mantém um significado mais próximo do original.

Ainda no capítulo IV do ESE, há a sugestão de que João Baptista era Elias, baseando-se nos versículos de Mt 11.12-15.

Tudo bem, se não fosse o fato de Elias nunca ter morrido, mas ascendido aos céus, arrebatado por um redemoinho (2 Rs 2.11).

O ministério de João era "no espírito e no poder de Elias" (Lc 1.17).
O suposto carácter da missão de Elias é muito trabalhado nos meios espiritualistas como “prova” da reencarnação dentro da Bíblia.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 16, 2012 9:57 am

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Há “poréns” e “senões” nestas interpretações.

Primeiro, as palavras utilizadas para “espírito” - pneuma em grego e rouah em hebraico – significam ao mesmo tempo “sopro e espírito”, sendo que este último não tem o sentido teológico que adquiriu com o tempo.

Segundo, qual era a verdadeira opinião dos primeiros cristãos a respeito desta passagem?

No segundo livro de Reis, a diferença entre espírito de “alma” (sentido mais comum hoje) fica bem patente:

2:9 E Eliseu respondeu: ”Que seja me dada uma dupla porção de seu espírito.”

2:14 Tomou o manto de Elias e bateu com ele nas águas, dizendo: "Onde está Iahweh, o Deus de Elias?"
Bateu nas águas, que se dividiram de um lado e de outro, e Eliseu atravessou o rio.

2:15 Os irmãos profetas viram-no a distância e disseram:
"O espírito de Elias repousa sobre Eliseu"; vieram ao seu encontro e se prostaram por terra, diante dele

Complementaria com a explanação feita quanto ao trecho de Lucas 9:7-8

“Herodes, o tetrarca, ouve tudo o que acontece.
Ele está perplexo, pois outros o dizem: ’Iohanam despertou dos mortos’

“E outros: ‘É Eliyahou que apareceu’, e outros ainda ‘Um inspirado dentre os antigos levantou-se’

Versão agora extraída da Bíblia de Chouraqui.

Este deve ter desenvolvido um raciocínio parecido com o de Pastorino para chegar até as palavras “despertou”, “levantou-se”.
Mas não quis transformar “levantar” em “regressar à Terra.”.

No entanto, esse verbo anístêmi apresenta outro sentido muito importante, e que geralmente é desprezado pelos hermeneutas, que procuram esconder as ideias originais dos autores, quando não estão de acordo com a sua, e isso até em obras "cientificamente" organizadas, e é o sentido de "reencarnar".

Realmente, a reencarnação é um "levantar-se" para reaparecer na Terra; é um "tornar a ficar de pé", e é sobretudo um "regressar ao lugar de sua vida anterior".

Nesse sentido foi bastante empregado pelos autores gregos.
Anotemos, todavia, que esse não era um verbo especializado nesse sentido, como o é, por exemplo, ensómatóô ou o substantivo paliggenesía.

Numerosas vezes é usado, mesmo nos Evangelhos, com a simples acepção de "levantar-se" do lugar em que se estava sentado
(cfr. Marc. 3:26; Luc. 10:25; At. 6:9, etc.).

Qual a ideia original do autor?
Como saber o que havia na mente dele?


Pastorino, aqui, comete o erro de "forçar" uma opinião pessoal dele, tal como os autores tendenciosos que critica.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 17, 2012 9:42 am

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"Não estamos fazendo acusações levianas.
Para citar só um exemplo moderno, tomemos a obra "Lexique de Planton", publicada em dois volumes (1964) pelas edições "Les Belles letres"
(portanto editora crítica, da qual se espera fidelidade absoluta ao original).

Pois bem, nessa obra, preparada pelo padre Édouard des Places, jesuíta, não figuram anístêmi, nem egeíro, nem o substantivo anástasis, nem qualquer outra palavra que signifique reencarnação..."

Pastorino, Sabedoria do Evangelho 3, pg 88

A crítica faz sentido a um livro referente a Platão (suponho eu, pelo título), que acreditava em reencarnação.
O porém é que não está do filósofo grego, mas de: um semita da Síria.

O exemplo do estudo tendencioso está fora de contexto.
Deve-se buscar o sentido de anístêmi que o evangelista realmente tinha.

Ressurreição também pode ser “tornar a ficar de pé”, até mais do que reencarnação.

Autores gregos podem tê-la usado no sentido de “regresso”, mas:

“(...)ele está impregnado de cultura bíblica e nele, mais do que qualquer outro, a influência hebraica na expressão do pensamento é patente.”

“Ressaltou-se que o estilo de era semelhante ao de Flávio Josefo, que, como ele, estava impregnando da cultura da Bíblia e de hebraísmos...


Lucas, André Chouraqui

Quando citei estes dois versículos, quis mostrar que a ressurreição já era corrente naquele tempo e, e neste universo é mais provável “levantar da cova” do que “regressar” o sentido do autor.

Pastorino alega que no segundo versículo, tem de ser reencarnação porque no anterior já fora citada a ressurreição.
Acontece que, aqui, relata o que o povo diz e nada o impede de usar palavras com afinidades semânticas (levantar, despertar, por exemplo) para evitar citações repetitivas.

Pode ser uma questão estilo, apenas.

Assim como “É o Elias que deve vir” é tão expressivo quanto a nossa linguagem figurada “nesta confusão toda me pegaram para ser o Cristo”, mas isto não significa que eu seja Jesus reencarnado.

Em vez de solenemente citar para, em seguida, ignorar a possibilidade de interpretações com o sentido de "ressuscitar", "ressurgir" (outra variante de regresso à terra), vai uma análise de todos os trechos onde o verbo anístêmi aparece:

1:39 Naqueles dias levantou-se Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá,
1:39 anastasa de mariam en taij hmeraij tautaij eporeuqh eij thn oreinhn meta spoudhj eij polin iouda

4:16 Chegando a Nazaré, onde fora criado; entrou na sinagoga no dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.
4:16 kai hlqen eij nazara ou hn teqrammenoj kai eishlqen kata to eiwqoj autw en th hmera twn sabbatwn eij thn sunagwghn kai anesth anagnwnai

4:29 e, levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até o despenhadeiro do monte em que a sua cidade estava edificada, para dali o precipitarem.
4:29 kai anastantej exebalon auton exw thj polewj kai hgagon auton ewj ofruoj tou orouj ef ou h polij wkodomhto autwn wste katakrhmnisai auton

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 17, 2012 9:42 am

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4:38 Ora, levantando-se Jesus, saiu da sinagoga e entrou em casa de Simão; e estando a sogra de Simão enferma com muita febre, rogaram-lhe por ela.
4:38 anastaj de apo thj sunagwghj eishlqen eij thn oikian simwnoj penqera de tou simwnoj hn sunecomenh puretw megalw kai hrwthsan auton peri authj

4:39 E ele, inclinando-se para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou. Imediatamente ela se levantou e os servia.
4:39 kai epistaj epanw authj epetimhsen tw puretw kai afhken authn paracrhma de anastasa dihkonei autoij

5:25 Imediatamente se levantou diante deles, tomou o leito em que estivera deitado e foi para sua casa, glorificando a Deus.
5:25 kai paracrhma anastaj enwpion autwn araj ef o katekeito aphlqen eij ton oikon autou doxazwn ton qeon

5:28 Este, deixando tudo, levantou-se e o seguiu.
5:28 kai katalipwn panta anastaj hkolouqei autw

6:8 Mas ele, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem que tinha a mão atrofiada:
Levanta-te, e fica em pé aqui no maio. E ele, levantando-se, ficou em pé.

6:8 autoj de hdei touj dialogismouj autwn eipen de tw andri tw xhran econti thn ceira egeire kai sthqi eij to meson kai anastaj esth

8:55 E o seu espírito voltou, e ela se levantou imediatamente; e Jesus mandou que lhe desse de comer
8:55 kai epestreyen to pneuma authj kai anesth paracrhma kai dietaxen auth doqhnai fagein

9:19 Responderam eles: Uns dizem: João, o Baptista; outros: Elias; e ainda outros, que um dos antigos profetas se levantou.
9:19 oi de apokriqentej eipan iwannhn ton baptisthn alloi de hlian alloi de oti profhthj tij twn arcaiwn anesth

10:25 E eis que se levantou certo doutor da lei e, para o experimentar, disse: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
10:25 kai idou nomikoj tij anesth ekpeirazwn auton legwn didaskale ti poihsaj zwhn aiwnion klhronomhsw

11:7 e se ele, de dentro, responder: Não me incomodes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para te atender;
11:7 kakeinoj eswqen apokriqeij eiph mh moi kopouj parece hdh h qura kekleistai kai ta paidia mou met emou eij thn koithn eisin ou dunamai anastaj dounai soi

11:8 digo-vos que, ainda que se levante para lhos dar por ser seu amigo, todavia, por causa da sua importunação, se levantará e lhe dará quantos pães ele precisar.
11:8 legw umin ei kai ou dwsei autw anastaj dia to einai filon autou dia ge thn anaideian autou egerqeij dwsei autw oswn crhzei

11:32 Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas; e eis aqui quem é maior do que Jonas.
11:32 andrej nineuitai anasthsontai en th krisei meta thj geneaj tauthj kai katakrinousin authn oti metenohsan eij to khrugma iwna kai idou pleion iwna wde

15:18 Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti
15:18 anastaj poreusomai proj ton patera mou kai erw autw pater hmarton eij ton ouranon kai enwpion sou

15:20 Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.
15:20 kai anastaj hlqen proj ton patera eautou eti de autou makran apecontoj eiden auton o pathr autou kai esplagcnisqh kai dramwn epepesen epi ton trachlon autou kai katefilhsen auton

16:31 Abraão, porém, lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.
16:31 eipen de autw ei mwusewj kai twn profhtwn ouk akouousin oud ean tij ek nekrwn anasth peisqhsontai

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 17, 2012 9:42 am

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17:19 E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.
17:19 kai eipen autw anastaj poreuou h pistij sou seswken se

18:33 e depois de o açoitarem, o matarão; e ao terceiro dia ressurgirá.
18:33 kai mastigwsantej apoktenousin auton kai th hmera th trith anasthsetai

22:45 Depois, levantando-se da oração, veio para os seus discípulos, e achou-os dormindo de tristeza;
22:45 kai anastaj apo thj proseuchj elqwn proj touj maqhtaj euren koimwmenouj autouj apo thj luphj

22:46 e disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos, e orai, para que não entreis em tentação.
22:46 kai eipen autoij ti kaqeudete anastantej proseucesqe ina mh eiselqhte eij peirasmon

23:1 E levantando-se toda a multidão deles, conduziram Jesus a Pilatos.
23:1 kai anastan apan to plhqoj autwn hgagon auton epi ton pilaton

24:7 dizendo: Importa que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressurja.
24:7 legwn ton uion tou anqrwpou oti dei paradoqhnai eij ceiraj anqrwpwn amartwlwn kai staurwqhnai kai th trith hmera anasthnai

Vulgata Latina

24:7 dicens quia oportet Filium hominis tradi in manus hominum peccatorum et crucifigi et die tertia resurgere

24:12 Mas Pedro, levantando-se, correu ao sepulcro; e, abaixando-se, viu somente os panos de linho; e retirou-se, admirando consigo o que havia acontecido.
24:12 o de petroj anastaj edramen epi to mnhmeion kai parakuyaj blepei ta oqonia mona kai aphlqen proj eauton qaumazwn to gegonoj

24:33 E na mesma hora levantaram-se e voltaram para Jerusalém, e encontraram reunidos os onze e os que estavam com eles,
24:33 kai anastantej auth th wra upestreyan eij ierousalhm kai euron hqroismenouj touj endeka kai touj sun autoij

24:46 e disse-lhes: Assim está escrito que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressurgisse dentre os mortos;
24:46 kai eipen autoij oti outwj gegraptai paqein ton criston kai anasthnai ek nekrwn th trith hmera

Pastorino: "Numerosas vezes é usado, mesmo nos Evangelhos, com a simples acepção de "levantar-se" do lugar em que se estava sentado
(cfr. Marc 3:26; Lc 10:25; At 6:29; etc.)"

Muito mais do que os três exemplos que ele dá, sendo apenas UM de Lucas!

Isto acima se refere apenas ao mesmo evangelista e não ocorre somente o sentido de "levantar", mas também de "ressurgir" e "ressuscitar", que fica patente nos versículos 11:32, 16:31, 24:7 e 24:46.

A presença e repetição do uso destes significados por Lucas torna a torna a tradução de Pastorino muito improvável.

Ele não mentiu, mas não falou toda a verdade.
Ele também tem a mesma parcialidade do jesuíta que criticou.
"Tradutor, traidor".

Verter um texto de um idioma para outro não é apenas enumerar eruditamente um glossário de palavras como um dicionário.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 18, 2012 9:40 am

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É entender uma cultura e uma época que não são seus.
É entrar na mente de outra pessoa, que expressa seus valores através de um estilo único.

Os pais da Igrejaos primeiros e tão desconhecidos teólogos

Analisando as Traduções Bíblicas, cap. XVII, citando Champlim

Também sabemos que, de maneira, limitada, alguns dos pais da igreja, como Orígenes, Justino Mártir e Clemente eram defensores dessa doutrina [transmigração das almas].

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
O que há realmente por trás dos escritos deles pode dar muito mais pano para manga.

Justino, Mártir

José Reis Chaves, A Reencarnação na Bíblia e na Ciência, cap. VI, 7ª ed., p. 213:

São Justino, mártir, autor de Apologia da Religião Cristã, também faz parte da lista de santos reencarnacionistas e sábios do cristianismo primitivo.

Segundo ele, “a alma habita corpos sucessivos, perdendo a memória das vidas passadas” (16)

e na nota de rodapé:

(16) A Reencarnação e a Lei do Carma, pág. 46, William Walker Atkinson, Editora Pensamento, São Paulo, SP.

Como podem ver, podemos constactar, posturas não muito agradáveis como fonte de pesquisa:

1. Mostra uma citação indirecta, evidenciando que ele não lera Justino.

2. Citações de citações tornam difícil a verificação posterior por parte dos leitores, quando não impossível.

3. Demonstra excessiva confiança e pouco senso crítico ao ler sua fonte intermediária.

O livro de Atkison realmente tem essa frase na página referida, só que não dá indicação nenhuma de que obra de Justino ela saiu.

O fio da meada estaria perdido, seu eu não a conhecesse de antes do livro de Geddes MacGregor, Reincarnation in Christianity, Ed. A Quest Book, cap. III:

According to de Dialogue with Trypho, he taught that human souls inhabit more than one body in the course of their earthly pilgrimage(13)

Que é quase uma versão inglesa do que traz Chaves.

A nota 13 fornece:
Dial. IV P.G. 6, cols. 481-484.

Diálogos com Trifão, cap IV.
Bem finalmente alguma referência mais precisa.
Encontrei outra fonte, agora online, que cita Justino http://www.near-death.com/experiences/origen07.html

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 18, 2012 9:40 am

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"E o que sofrem aqueles que são considerados indignos deste espectáculo?", disse ele?
"Eles são aprisionados no corpo de certos animais selvagens e esta é a punição deles."

"Near Death" é expert em fazer citações descontextualizadas, vide o link: http://ourworld.compuserve.com/homepages/jsuebersax/origen1.htm

Felizmente, eles disponibilizam um link para Diálogos com Trifão: http://www.earlychristianwritings.com/text/justinmartyr-dialoguetrypho.html, que no cap. IV:

“(...) Responda-me, porém, a isto: a alma vê [Deus] enquanto no corpo, ou depois de ter sido retirada dele?"

"Enquanto na forma de um homem, é possível para ela",
continuei, "alcançar isto por meio da mente;
mas especialmente quando ela foi posta livre do corpo e estando livre por si mesma, ganha posse do que estava habituada a amar contínua e plenamente."


"Ela lembra disto [a visão de Deus], então, quando está novamente no homem?"
"Parece-me que não", disse eu.

"Qual a vantagem, então, de eles terem visto[Deus]?
Ou tem o homem que viu mais do que aquele que não viu, a menos que ele se lembre do facto que viu?"
"Não sei dizer", respondi.

"E o que sofrem aqueles que são considerados indignos deste espectáculo?", disse ele?
"Eles são aprisionados no corpo de certos animais selvagens e esta é a punição deles."

"Sabem eles, então, que é por esta razão que eles se encontram em tais formas e que eles cometeram algum pecado?"
"Acho que não"

"Então este não colhem nenhuma vantagem de sua punição, ao que parece:
além disso, eu diria que eles não estão sendo punidos a menos que tenham consciência do castigo."

"De facto, não"

"Portanto as almas nem vêem Deus, nem transmigram de um corpo para outro, visto que elas saberiam porque estão sendo punidas e teriam depois medo de cometer mesmo o mais trivial pecado.
Mas que elas percebem que Deus existe e que justiça e piedade são honrosas, eu também concordo contigo",
disse ele.

"Tens razão", repliquei.

Justino (100 d.C? - 165), o Mártir, "Diálogos com Trifão", cap IV.

Aí que está, nos "Diálogos...", Justino narra a história (em primeira pessoa) de sua conversão.

Ao fazer aquela citação, Gregor e "near death" (e, por tabela, J.R. Chaves) pegam palavras de quando Justino ainda era pagão e, portanto, crente em algum tipo de reencarnação. Você pode até achar os argumentos de Trifão fracos, visto que segundo o espiritismo certo inatismo persiste, mas não é o caso aqui:
houve um caso que anglófonos chamariam de misquotation: textos fora de contextos.

Este autor também é citado por Severino Celestino da Silva como alguém tido por defensor de “maneira limitada” da transmigração das almas
(“Analisando... “, cap. XVII)

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 18, 2012 9:40 am

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Irineu de Lião

Irineu de Lião (130-202) redigiu em sua obra “Adversus haeresis” (Contra as heresias) violentas críticas a diversas seitas cristãs de sua época, especialmente aos gnósticos, que se opunham à hierarquização.

Até a redescoberta de parte da literatura gnóstica, sua obra foi uma das principais fontes de informações sobre estas seitas.

No cap. XXXIII do segundo tomo do livro, dirigiu-se à filosofia platónica:

Podemos solapar sua doutrina da transmigração de um corpo para outro corpo por este facto:
as almas não lembram nada de qualquer dos eventos que ocorreram em seus estados anteriores de existência.

Se tivessem sido elas originadas com esta característica, que elas devem ter experiência com todo tipo de acção, devem ter retido alguma lembrança das coisas que teriam previamente efectuado, que podem ser preencher o que ainda lhe fosse deficiente;
e não por ficarem vagueando, sem interrupção, pelas mesmas buscas, despendendo seu trabalho desgraçadamente em vão.

(...)Com referência a estas objecções, Platão (...) não tentou nenhum tipo de prova, mas simplesmente respondeu dogmaticamente que, quando as almas entram nesta vida, elas são induzidas a beber do esquecimento pelo (*) demónio que vigia sua entrada, antes que efectivamente entrem nos corpos.

Escapou-lhe que ele caiu em outra e maior complicação.
Se a taça do esquecimento, após ter sido ingerida, pode apagar a memória de todas as obras que foram feitas, como, ó Platão, tomaste conhecimento desta facto(...)?

(*)no sentido de “génio”, não se necessariamente de um ser maléfico.

Clemente de Alexandria

Bem, já foi exposto que Justino não acreditava coisíssima nenhuma nisto.

O que o professor de Orígenes, Clemente de Alexandria, achava da ideia de sua pupilo quanto à pré-existência?

Primeiro a bancada espiritualista:

“(...)Temos existido desde o princípio, pois no princípio era o Logos
(...) Não pela primeira vez [o Logos] mostra piedade de nossas perambulações;

ele se apiedou de nós desde o princípio.”
Clemente de Alexandria, Stromata.

MacGregor, Geddes; Reincarnation in Christianity, Quest Book, cap. V

Clemente de Alexandria, um professor cristão que dirigiu a escola de catequese antes de Orígenes.
- Diz-se que ele ensinava a reencarnação. (16)

Prophet, Elizabeth C.; Reencarnação: O elo perdido do Cristianismo, Nova Era, cap. XVI.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 19, 2012 9:02 am

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Consultado a nota 16 a esse capítulo:

Clemente de Alexandria não questiona a preexistência da alma, que é a base da reencarnação.
Ele confirma o conceito de preexistência do Cristo e do homem em sua obra “Exhortation to the Greeks” * (Exortação aos Gregos).

Em 'Stromateis', aborda a reencarnação, mas não faz nenhuma declaração explícita a seu favor.
Entretanto, o estudioso da Igreja do século IX, Photius, diz que Clemente ensinou sobre a reencarnação. (...)

(*)Nota do Portal: também conhecido como “Exhortation to the Heathen” (Exortação aos pagãos).

Outro autor espiritualista:

Ademais, São Clemente de Alexandria era liga à corrente gnóstica cristã, e os gnósticos eram contrários à entrega espontânea ao martírio por parte de muitos cristãos da época dele.

E, assim, sempre que lhes fosse possível, eles protegiam sua vida contra as perseguições dos inimigos do cristianismo (...)

Fócio, um patriarca de Constantinopla no século IX, era político ambicioso e sem escrúpulos, como diz a História, e responsável pelo Cisma dos Gregos, em 863, foi, no entanto, escritor de talento.

Sempre houve uma certa rivalidade entre os sábios de Constantinopla e os de Alexandria, sendo que os desta cidade sempre levavam vantagem sobre os daquela.

E essa rivalidade atingiu os próprios patriarcas das duas cidades.

Não se sabe muito bem por que, pois Fócio viveu cerca de seiscentos anos depois de São Clemente de Alexandria, mas o facto é que Fócio escreveu um trabalho em que desprestigiava muito o célebre sábio de Alexandria, de cuja universidade São Clemente foi reitor.

Teria Fócio escrito esse livro por causa da citada rivalidade intelectual que havia entre os sábios de Constantinopla e Alexandria?

O certo é que o Papa Benedito (Bento) XIV, em meados de século XVIII, após ter lido a referida obra do patriarca de Constantinopla, Fócio, decidiu-se pela cassação do título de santo de São Clemente, cujo nome foi tirado do calendário de santos da Igreja.

Se Fócio, como vimos, era um político ambicioso e de poucos escrúpulos, além de ter sido responsável pelo Cisma Grego (863) já mencionado, é estranho que o Papa Benedito (Bento) XIV tenha se deixado influenciar pela citada obra de Fócio.

Por isso, nos arriscamos a dizer que o fato dessa cassação do título de santo de São Clemente de Alexandria, por parte de Benedito (Bento) XIV, poderia ter sido, na verdade, a crença de São Clemente na reencarnação, facto esse que passou a se destacar muito, justamente na época de Benedito (Bento) XIV.

José Reis Chaves, A Reencarnação na Bíblia e na Ciência, cap. VI, 7ª ed., p. 200-1.

Bem, como dizia Jack, vamos por partes.

A citação de Clemente apresentada aqui, feita por MacGregor como pertencente a Stromateis (Miscelâneas), na verdade é a referência feita por Prophet a Exortação aos Gregos, mais especificamente no capítulo primeiro desse tratado.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 19, 2012 9:02 am

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Vejamos uma amostra panorâmica do que realmente é dito no contexto:

(...) Mas antes da fundação do mundo éramos nós, que, por sermos destinados a estar nele, pré-existimos antes no olho de Deus, - nós as criaturas racionais do Verbo [Logos] de Deus, em cujo cômputo datamos do início; pois “no princípio era o Verbo”.

Bem, visto que Ele agora assumiu o nome de Cristo, consagrado de antigo e merecedor de poder, eu o tenho chamado de a Nova Canção.

Este Verbo, então, o Cristo, [é] a causa tanto de nossa existência, em primeiro lugar, (pois Ele estava em Deus) e de nosso bem-estar, este mesmo verbo agora apareceu como homem, sendo sozinho ambos, tanto Deus e homem – o Autor de todas as graças a nós; por quem nós, sendo ensinados ao bem viver, somos enviados em nosso caminho para a vida eterna. (...)

Clemente de Alexandria, Exortação aos Gregos, cap. I,

A declaração “pré-existimos (...) no olho de Deus” mostra que essa “pré-existência” ainda está associada termos sido conjunto de “ideias” dentro de uma mente omnisciente divina, não como criaturas individuais.

Tanto Prophet quanto MacGregor fizeram uma extrapolação indevida e a primeira alega não haver nenhuma menção negativa à reencarnação em Stromateis.

Não sei se isto aqui é algo que se possa chamar “exactamente” de uma afirmação “neutra”:

Pois os sacrifícios da Lei expressam figurativamente a piedade que praticamos, como a rola e o pombo oferecidos em troca de pecados assinalam que a limpeza da parte irracional da alma é aceitável a Deus.

Mas se qualquer um dos justos não oprime sua alma em comer carne, ele tem a vantagem de um motivo racional, não como o sonho de Pitágoras e seus seguidores da transmigração da alma.

Clemente de Alexandria, Stromateis (Miscelâneas), Livro VII, cap. VI.

Parece que ao menos as versões pitagóricas de reencarnação são taxadas de “sonhos” e não seriam algo “racional”.

Voltarei a este tópico mais abaixo.

Quanto a Fócio (Photius), nem Prophet, nem J.R. Chaves leram suas obras para terem uma ideia realmente completa do que ele estava falando acerca de Clemente de Alexandria.

Em primeiro lugar, situemos qual obra de Fócio deve ser pesquisada: Biblioteca (Myriobiblon).

Ao contrário do que J.R. Chaves alega, não foi escrita no intuito de denegrir Clemente de Alexandria por ele ser de uma escola teológica rival, que, por sinal, àquela época já estava sob domínio muçulmano e fora das maquinações da corte bizantina.

Biblioteca é, na verdade, um grande conjunto de resenhas de mais de 200 livros de diversos teólogos lidos e comentados por Fócio.

No bojo dessa “biblioteca”, Fócio comenta três obras de Clemente de Alexandria e o que talvez seja de interesse dos autores reencarnacionistas seja a entrada 109:

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 19, 2012 9:02 am

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109. [Clemente de Alexandria, Esboços.]

Lidos três volumes de trabalhos de Clemente, presbítero de Alexandria, intitulados Esboços, As Miscelâneas e O Tutor.

Os Esboços (Hypotyposes) contém uma breve explanação e interpretação de certas passagens no Antigo e Novo Testamentos.

Apesar de em alguns casos o que ele diz parecer ortodoxo, em outros ele se entrega a fábulas ímpias e lendárias.

Visto que é da opinião de que a matéria é eterna e que ideias são introduzidas por certas condições fixas;
também reduz o Filho a algo criado.

Fala absurdos prodígios acerca da transmigração das almas e a existência de numerosos mundos antes de Adão.

Empenha-se em mostrar que Eva veio de Adão, não como a Sagrada Escritura nos diz, mas de uma forma iníqua e vergonhosa, imagina negligentemente que anjos têm relações com mulheres e geram filhos;
que o Verbo não encarnou, mas apenas o aparentou.

Ele é depois o culpado de monstruosas declarações acerca dos dois Verbos do Pai, o menor que apareceu aos mortais, ou antes nem isso, pois escreve:
“O Filho é chamado de Verbo, do mesmo nome de 'Verbo do Pai', mas não é o Verbo que se tornou carne, nem mesmo o Verbo do Pai, mais um certo poder de Deus, como se fosse um eflúvio do próprio Verbo, tendo se tornado mente, penetrado nos corações dos homens.”

Tudo isso ele tenta suster com passagens da Escritura.
Fala muitas outros absurdos blasfemos, seja ele ou outrém sob seu nome.

Estas monstruosas blasfémias estão contidas em oito livros, nos quais ele frequentemente discute os mesmos pontos e cita passagens da Escritura de forma promíscua e confusa, como um possesso.

Toda a obra inclui notas sobre Géneses, Êxodo, os Salmos, epístolas de São Paulo, epístolas Católicas e Eclesiástico.
Clemente foi discípulo de Pantaenus, como ele mesmo declara.

Que isto baste para Esboços.

“Esboços” foi perdido.
Talvez durante a IV Cruzada, que saqueou Constantinopla, ou durante conquista da cidade pelos turcos otomanos.

Além dessa breve resenha de Fócio (que realmente o lera), restam algumas citações feitas por outros membros da patrística.

Não dá para saber que “tipo” de “transmigração das almas” era discutido no livro, apesar de os “numerosos mundos antes de Adão” apontarem na direcção versão “inter-eras” da coisa, que teria sido herdada (?) por Orígenes, porém, como será visto adiante, a obra Miscelâneas (Stromateis) deixa isso muito em dúvida.

De resto, sobram aspectos bem heterodoxos que vão muito além da simples reencarnação.
Fócio, inclusive, levanta a hipótese de esse trabalho não ter sido de punho de Clemente.

Na falta de algum exemplar mais completo, só nos resta especular.
O que nem Prophet ou J.R. Chaves informam é da existência de aspectos bem mais, digamos, “ortodoxos” na obra de Clemente.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 20, 2012 9:15 am

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Bastaria dar prosseguimento à leitura de Biblioteca para constar isso:

110. [Clemente de Alexandria, O Tutor]

O Tutor é uma obra elaborada em três livros, contendo regras de comportamento e conduta.
Foi precedida e compilada com outro trabalho, no qual refuta a iniquidade dos pagãos.

Estas falas nada têm em comum com “Esboços”, visto que são inteiramente livres de opiniões infundadas e blasfemas.
O estilo é florido, subindo às vezes a uma agradável e moderada altivez, ao passo que a exposição do aprendizado não é desaconselhável.

No último livro, algo é dito sobre as imagens.

Olha só que interessante:
Fócio foi capaz de atribuir boas qualidades a Clemente.
Aqui vai por terra a teoria conspiratória citada por J.R. Chaves de que Fócio teria perseguido Clemente em seus escritos.

No item 110, Fócio faz uma rápida menção à existência de “Exortação aos Gregos”, cujo extracto mostrado mais acima demonstra que Clemente já exibia um opinião quanto cristológica bem mais próxima do que seria o homoousios nicénico.

Quanto a retirada dele do calendário martirológico do catolicismo, a Catholic Encyclopedia http://br.geocities.com/falhasespiritismo/index_int_2.html
relata factos sob um ângulo mais ameno.

(...) Mas quando a martirologia foi revisada pelo Papa Clemente VIII seu nome saiu do calendário, sob sugestão do Cardeal Barônius.

Bento XIV manteve essa decisão de seu predecessor como base que a vida de Clemente era pouco conhecida ao ponto que ele nunca obtivera cultos públicos na Igreja e que algumas de suas doutrinas eram, se não erróneas, ao menos suspeitas.

Em tempos mais recentes, a simpatia por Clemente tem crescido em favor de seu elegante toque literário, sua atractiva franqueza, o bravo espírito que o tornou um pioneiro na teologia e sua inclinação aos clamores da filosofia. (...)

Bento XIV apenas manteve uma decisão anterior a ele, quais aspectos ele julgou “suspeitas” não está claro aqui.

Esboços já estava perdido, mas outra obra comentada em Biblioteca pode ter pesado na decisão, ainda que bem mais “ortodoxa” que Esboços:

111. [Clemente de Alexandria, As Miscelâneas]

“As Miscelâneas” (*), em oito livros, contém um ataque às heresias e aos pagãos.

O material é disposto promiscuamente e os capítulos não estão em ordem, razão pela qual o próprio dá ao final do sétimo livro, nas seguintes palavras:

“Visto que estes pontos foram meticulosamente discutidos e nossa formulação ética foi esboçada sumária e fragmentadamente, como prometemos, sendo espalhados aqui e ali ensinamentos calculados para acender a chama do verdadeiro conhecimento, de modo que a descoberta dos mistérios sacros pode não ser fácil para nenhum dos não-iniciados,” e assim por diante.

Esta, diz o próprio, é a razão pela qual o tema está tão desorganizadamente arranjado.

Em uma cópia antiga, descobri que o título do trabalho é dado não apenas como “Miscelâneas”, mas na forma ampla seguinte:
“Miscelânea de Comentários Gnósticos de acordo com a Verdadeira Filosofia,” livros 1-8.
Os primeiros sete livros têm o mesmo título e são idênticos em todas as cópias.

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Última edição por O_Canto_da_Ave em Seg Ago 20, 2012 9:16 am, editado 1 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 20, 2012 9:15 am

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O título do oitavo livro, contudo, varia, assim como o tema.
Em algumas cópias é chamado “Quem é o Rico que está salvo?” e começa, “Os que ... falas de louvor,” etc.;
em outras é chamado de “As Miscelânea, livro oitavo”, como os outros sete e começa, “Mas nem mesmo o mais antigo dos filósofos,” etc.

A obra é em algumas partes infundada, mas não como “Esboços”, cujo alguns dos argumentos ela refuta.

Diz que Clemente escreveu diversas outras obras, das quais as seguintes são mencionadas por outros escritores:
“Sobre a Páscoa”; “Sobre o Jejum”;”Sobre o Discurso do Mal”;
“Sobre os Cânones Eclesiásticos “


Contra Aqueles que seguem as Erróneas Doutrinas dos Judeus”, dedicada a Alexandre, bispo de Jerusalém.
Ele produziu durante o reinado de Severo e seu filho Antonino em Roma.

(*) Stromateis: literalmente, sacos de viagem onde roupas de cama e miudezas são guardadas.

Miscelâneas é uma obra engraçada, pois uma simples espiada em seu texto refuta que Clemente teria sido gnóstico, fugira ao martírio (por ser gnóstico) e advogava reencarnação aos moldes ocidentais.

Ou pelo menos, numa versão bem tacanha de karma.
O segundo livro de Miscelânea, por exemplo, dedica o capítulo oitavo para refutar teses gnósticos como Basílides e Valentino.

No livro quarto, o capítulo VII é intitulado: “A Santidade do Mártir” e assim começa:

Então aquele que mentiu e mostrou-se infiel e sublevado para o exército do diabo, em que mal pesamos estar ele?

Ele calunia, portanto, o Senhor, ou melhor mentiu quanto a sua própria esperança que crê não em Deus; e crê não no que Ele ordenou.

E então?
Não está ele, que renega ao Senhor, negando a si mesmo?
Pois não rouba seu Mestre de Sua autoridade, o que priva si mesmo de sua relação com Ele?

Ele, então, que nega o Salvador, nega vida; “pois a luz era vida” (Jo 1.4).

Ele não os chama de homens de pouca fé, mas de incréus e hipócritas (cf. Mt 4.30), que tem o nome escrito neles, mas nega que sejam legítimos crentes.

Mas o fiel é chamado de servo e amigo.
De forma que se alguém se ama, ama o Senhor e professa a salvação de que ele pode salvar sua alma.

Embora de morras por seu próximo por amor e consideres o Salvador nosso próximo (pois diz-se que o Deus que salva está próximo em respeito ao que é salvo);
fazes assim, escolhendo a morte por causa da vida e sofrendo por teu próprio bem em vez do dele.

E não é por isto que ele é chamado irmão?
Aquele que, sofrendo por amor a Deus, sofreu por sua própria salvação, enquanto ele, por outro lado, que morre por sua própria salvação, persevera no amor ao Senhor.

Pois sendo vida, no que sofreu desejou sofrer para que pudéssemos viver por seu sofrimento.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 20, 2012 9:17 am

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Clemente fala de forma poética que os optam pela vida (negando a Cristo) escolhem, na verdade, a morte;
ao passo que os que morrem pela salvação vivem e espalham vida entre os que permanecem.

Pode estar agora se perguntando por que Clemente fugiu de Alexandria durante a perseguição?


Ele mesmo dá a resposta dá a resposta no capítulo X do livro IV:

Quando, novamente, diz Ele, “Quando vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra, (Mt 10:23)” não aconselha uma fuga, como se a perseguição fosse algo ruim, nem os ordena fugir, como que em pavor dela, mas deseja que não sejamos nem autores nem cúmplices de nenhum mal a ninguém, seja a nós mesmos ou ao perseguidor e assassino.

Pois ele, de certa forma, nos proclama a tomarmos conta de nós mesmos.
Mas o que desobedece é precipitado e incauto.

Se aquele que mata um homem peca contra Deus, o que se apresenta por conta própria perante o assento do tribunal se torna culpado de sua morte.

E assim também é quem não evita a perseguição, mas por ousadia amostra-se para a captura.
Tal, até onde se encontra, torna-se um cúmplice no crime do perseguidor.
E se usa a provocação, ele é totalmente culpado, provocando uma fera selvagem.

Em outras palavras:
se fores capturado não negue a Cristandade, mas não fique “dando mole” por aí.
Palavras de moderação.

Ainda no livro IV, Clemente volta a criticar Basílides no capítulo XII (o seguinte é dedicado a Valentino), apontando uma postura bem bitolada dele quanto ao sofrimento e ao martírio:

(...) Mas a hipótese de Basílides diz que a alma, tendo pecado previamente em outra vida, enfrenta castigo nesta – a alma eleito com honra pelo martírio, a outra purgada pela punição adequada.

Como pode isto ser verdade, quando abraçar e sofrer a punição ou não depende de nós mesmos?
Pois no caso do homem que negará [ser cristão], a Providência, como sustenta Basílides, deixa de ter relação.

Perguntá-lo-ei, então, no caso de um fiel que foi preso, se ele confessará e será punido em virtude da Providência ou não?
Pois em caso de negação, ele não será punido.

Mas se, no intento de escapar e se evadir de tal punição, dirá que a destruição de todos aqueles que negam é da Providência, ele será morto contra a sua vontade.

Como ainda é o caso, já que há guardada no céu a mui gloriosa recompensa a ele que testemunhou, [dos mortos] por seu testemunho?

Se a Providência não permitiu o pecador sentir as consequências de pecar, é injusta em ambos os casos;
tanto não resgatando quem está fadado à punição pelo bem da justiça e tendo resgatado quem desejava o mal fazer, tendo ele o feito até onde lhe dizia a vontade, todavia [a Providência] tendo evitado o acto [de execução] e injustamente favorecido o pecador.

E quão ímpio é ao deificar o diabo e se atrever a chamar o Senhor de homem pecaminoso!(...)

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 21, 2012 9:55 am

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A última fase é interessante, pois uma consequência imediata da lógica simplista de Basílides seria concluir que o próprio Cristo teve “culpa no cartório”.
Bem, como a lógica espírita é um pouco mais flexível, alguém dirá que ele sofreu por necessidade da missão por ele abraçada.

Tudo bem, então por que João Baptista teve de morrer decapitado [/i](supostamente expiando a ordem de Elias de matar 400 sacerdotes de Baal) e não por um cumprimento de missão?]

Por que as coisas assim melhor aparentam se encaixar?
Irritar crentes e católicos? Defender-se deles?


Não importa a teologia, sempre há um pouco de arbitrariedade e livre associação.... e mais embaixo, Clemente prossegue:

(...) Se, então, um deles vier dizer, em resposta, que o mártir é punido por pecados cometidos antes desta incorporação e irá novamente colher o fruto de sua conduta nesta vida, pois tais são os desígnios da [divina administração], perguntar-lhe-emos se a retribuição ocorre pela Providência.

Mas se não for da divina administração, a economia de expiações se vai e sua hipótese caiu por terra;
mas se as expiações ocorrem pela Providência, punições são pela Providência, também.

Mas a Providência, apesar de começar, por assim dizer, a agir com o Soberano, agora está implantada em substâncias junto com sua origem, por Deus, do universo.

Tal sendo o caso, devem confessar ou que a punição não é justa e aqueles que condenam e perseguem os mártires fazem o certo, ou que as próprias perseguições são elaboradas pelo arbítrio de Deus.

Labuta e medo não são, então, como dizem eles, incidentes às coisas como ferrugem é ao ferro, mas chegam à alma pelo próprio arbítrio dela.

E sobre estas questões há muito o que falar, o que será reservado para futura consideração, tomando-as no seu devido curso.

Em outras passagens de Miscelâneas e outras obras, Clemente é francamente contra noções de pré-existência, tais como:

Os filósofos a quem temos mencionado, dos quais os marcionitas blasfemantemente derivaram sua doutrina de que o nascimento é um mal, à qual eles então se ufanam como se fosse sua própria ideia, não sustem que ele seja mal por natureza, mas apenas para a alma que se apercebeu da verdade.

Pois pensam que a alma é divina e desceu cá a este mundo como um lugar de punição.
Em seu ponto de vista as almas que ficaram incorporadas precisam se purificadas.

Mas esta doutrina não é a dos marcionitas, a dos que acreditam que as almas forma aprisionadas em corpo em se mudam desta prisão e se submetem à transmigração.

Haverá uma oportunidade de responder a estes quando viermos a falar da alma.

Miscelâneas, III, 3

E se esforçando ainda mais longe para suster sua opinião ímpia, ele [Júlio Cassiano, a.k.a. Cassia, criador do docentismo] acrescenta:
' Não se poderia justamente descobrir uma falha com o Salvador se ele fosse responsável por nossa formação e então nos libertou do erro e deste uso de órgãos gerativos?'

Quanto a seu ensino, é o mesmo de Ticiano.
Mas ele divergiu da escola de Valentino.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 21, 2012 9:55 am

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Por conta disto, diz:
“Quando Salomé perguntou quando saberia a resposta a suas questões, o Senhor disse, Quando esmagares aos pés o manto da vergonha e quando dois forem um, e o macho com a fêmea, e não houver nem macho, nem fêmea.”

Em primeiro lugar, não temos tal dito nos quatro Evangelhos que nos foram legados, mas no Evangelho dos Egípcios.

Em segundo, Cassia me parece não saber referir-se à ira e ao desejo quando fala da fêmea.
Quando estes actuam, aí se segue arrependimento e vergonha.

Mas quando um homem não cede nem à ira, nem ao desejo, ambos crescem em consequência do mal-hábito ou criação de modo a enevoar e obscurecer o raciocínio, mas tira dele a escuridão que causam com a penitência e a vergonha, unindo espírito e alma em obediência ao Verbo, então, como também disse Paulo, “não há entre vós nem macho, nem fêmea.”

Pois a alma deixa esta forma em que macho e fêmea são distinguíveis e não sendo nem uma nem outra, muda para a unidade.

Mas este digno companheiro pensa à moda de Platão que a alma é de origem divina e, tendo-se tornado fêmea por desejo, desce para cá das altura para o nascimento e corrupção.

Miscelâneas, III, 13[/i]

Era um costume dos judeus lavarem-se frequentemente depois de estarem acamados.

Então, bem diziam:
“Sê puro, não por banhar-se pela água, mas em mente.”

Por santidade, como eu a concebo, é a perfeita pureza de mente, e actos, e pensamento, e palavras também, e, num último degrau, pureza de sonhos.

E a suficiente purificação a um homem, presumo eu, é o total e sincero arrependimento.

Sendo assim, condenando a nós mesmos por nossos actos passados, vamos adiante depois destas coisas se estabelecerem nos pensamento e libertarem nossa mente tanto do que nos agrada aos sentidos como das nossas transgressões passadas.

Miscelâneas, IV, 22

O justo Jó diz:
“Nu saí do ventre de minha mãe e nu para lá retornarei (Jó 1:21);”
não despido de posses, visto ser uma coisa comum e trivial, mas, como um homem justo, ele parte despido de mal e pecado e da repugnante forma que acompanha aqueles levaram vidas más.


Por isso foi o que foi dito:
“Se não converterdes e não vos tornarem como crianças”, (Mt 18:3) puros em carne, santos em alma pela abstinência de maus actos;
mostrando que Ele nos teria sendo tais quais nos gerou de nossa mãe – a água.


Pois o objectivo de uma geração suceder à outra é imortalizar pelo progresso.
“Mas a lâmpada do ímpio será extinta” (Jó 18:5 – Pr 13:9).
A pureza do corpo e da alma da qual o gnóstico compartilha, o todo-sábio Moisés indicou, ao empregar a repetição ao descrever a incorruptibilidade do corpo e da alma de Rebeca, desta forma:
“Agora a virgem era bela e nenhum homem a conhecera” (Gn 24:16).

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 21, 2012 9:56 am

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E [o nome] Rebeca, interpretado, significa “glória de Deus”, a glória de Deus é a imortalidade.
Isto é, na verdade, virtude, não desejar outras coisas, mas ser inteiramente consagrado ao templo do Senhor.

Virtude é paz de vida e um estado de bem-estar ao qual o Senhor a mandou quando disse:
“vá em paz” (Mc 5:34).

Pois Salém é, por interpretação, paz;
da qual nosso Salvador é entronado Rei, como Moisés diz, Melquisedeque rei de Salém, sacerdote do Deus altíssimo, que deu pão e vinho, suprimento consagrado de comida para um tipo de Eucaristia.

E Melquisedeque é interpretado como “rei justo”, e o nome é sinónimo para virtude e paz.
Basílides, porém, supõe que a Virtude e sua filha Paz residem estacionárias na oitava esfera. (...)

Miscelâneas, IV, 25

A alma não é enviada dos céus para o que é pior.
Visto que Deus cria todas as coisas para o que é de melhor.

Mas a alma que escolheu a melhor vida – a vida que vem de Deus e da virtude – troca a terra pelo céu.

Com razão, portanto, Jó, que atingira o conhecimento, disse:
“Agora reconheço que tudo podes; e nada é impossível a Ti.
Pois quem me fala do que eu sabia, coisas grandes e maravilhosas com as quais não estava familiarizado?

Sinto-me vil, considerando-me ser pó e cinzas”
(Jo 42:2,3,6).
Pois aquele que, se encontrando em estado de ignorância, é pecador, “é pó e cinzas;”
enquanto o que está em estado de saber, sendo assimilado o tanto quanto possível a Deus, já é espiritual e, portanto, eleito.

Miscelâneas, IV, 26

Mas mesmo aqueles mitos de Platão (em A República, o de Hero [i.e. Her] o arménio;
e o em Górgias, o de Éaco e Radamanto;
e em Fédon, o de Tártaro;

e em Protágoras, o de Prometeu e Epimeteu;
e além destes, o da guerra entre os atlantes e os atenienses no Atlântico) devem ser explanados alegoricamente, não de forma absoluta em todas as suas expressões, mas naquelas que expressam o sentido geral.


E essas encontraremos indicadas pelos símbolos sob o véu de alegoria.

Miscelâneas, V, 9

Deus nos criou quando não pré-existíamos.
Deveríamos também saber onde estávamos, se pré-existíssemos, e como e por que fomos ajuntados aqui.

Mas se não pré-existimos, somente Deus é o autor do nascimento. Como ele nos fez quando não existíamos, portanto, traz-nos à existência, salva-nos por sua própria graça, se nos tornamos dignos e idóneos;
de outra forma, dar-nos-á um fim apropriado, porque “é senhor dos vivos e dos mortos.”

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 22, 2012 9:54 am

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Eclogae propheticae (Extratos Proféticos) 17:1,2.

É provável que os autores citados no começo deste item jamais tenham lido tais passagens de Clemente ou de qualquer obra dele.

Clemente claramente rejeita a ideia de estado original de graça que foi seguido por uma queda em corpos humanos – o que o distingue totalmente de seu discípulo Orígenes;
dá como condição necessária para a purificação apenas o arrependimento “total e sincero”, sem a necessidade de expiações;

ataca pre-existencialistas como Júlio Cassiano e Basílides - sendo este último um adepto da transmigração, rotula esta doutrina como algo “à moda de Platão”;
interpreta alegoricamente
Jó 1:21 num sistema de vida única, um versículo que hoje tem alegorias reencarnacionistas;
e os principais mitos de Platão que tratam de reencarnação devem, para ele, ser vistos como alegorias.


O autor de Miscelâneas, Extractos Proféticos, Pedagogo, etc., se revela muito diferente do de Esboços.

O que exactamente havia nesta última e o que era exagero de Fócio jamais saberemos até que se encontre novo exemplar.

Até lá, é pura especulação.

Isto põe em xeque a alegação de Clemente como reencarnacionista.
Quanto à postura mística de Clemente é preciso ressaltar que uso ele dá para ao termo gnose.

Clemente criticava muito os gnósticos clássicos por desejaram uma fé exclusivamente racional, bem como devotos comuns com sua crença exclusiva em êxtases.

Num resumo do resumo feito por Philip Schaff, tradutor do livro para o inglês na colecção Ante Nicene Fathers:

O título completo de “Stromata”, segundo Eusébio e Fócio, era (...) “Colecções de Miscelâneas de notas especulativas (gnósticas) em acordo com a Verdadeira Filosofia de Titus Flavius Clemens.”

O objectivo da obra, em concordância com este título, é, em oposição ao gnosticismo, fornecer os materiais para a construção de uma verdadeira gnose, uma filosofia cristã, nas bases da fé, e conduzir a este mais elevado conhecimento aqueles que, pela disciplina do Tutor, tinham treinado para isso.

O trabalho consistia originalmente de oito livros.

O oitavo está perdido;
o que aparece sob este nome claramente não tem conexão com o resto de “Stromata.”

Várias considerações têm sido dadas quanto a significado da palavra distintiva do título (Strwmateij);
mas todas concordam em considerá-la como indicativas do carácter miscelânico de seus conteúdos.

E são muito miscelânicos.
Consistem de especulações de filósofos gregos, de heréticos e daqueles que cultivavam a verdadeira gnose cristã e citações da sagrada Escritura.

Esta última ele afirma ser a fonte da qual o mais alto conhecimento cristão é extraído;
como ela foi de onde os germes da verdade em Platão e na filosofia helénica foram extraídos.

Descreve a filosofia dos gregos como uma preparação divinamente ordenada dos gregos para a fé em Cristo, como foi a leis dos hebreus;
e mostra a necessidade e valor da literatura e cultura filosófica para a obtenção do verdadeiro conhecimento cristão, e contraposição ao numeroso corpo entre os cristãos daqueles que julgavam o aprendizado como inútil e perigoso.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 22, 2012 9:54 am

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Ele se autoproclama um eclético, acreditando na existência de fragmentos de verdade em todos os sistemas, que devem ser separados do erro;
mas declarando que a verdade pode ser encontrada em unidade e completude apenas em Cristo, como foi d'Ele de onde todos os seus germes espalhados originalmente procederam.

A “Stromata” foi escrita de maneira descuidada e até mesmo confusa;
mas o trabalho é um de prodigiosa instrução e supre com material de grande valor para o entendimento de vários sistemas conflitantes que a cristandade teve de combater.

Trocando miúdos, Clemente teve seu verdadeiro conhecimento (gnose) oriundo da aplicação da filosofia helénica aos princípios de fé do cristianismo.

Uma revelação de viés mais “ortodoxo” distinta dos gnósticos, a quem combatia e refutava.

Boa parte do método alegórico criado em Alexandria visava criar interpretações capazes de tornar “palatáveis” passagens pesadas do Antigo Testamento, usadas por gnósticos para justificar ser o Iahweh dos hebreus inferior ao Pai do Novo Testamento, o que levaria à rejeição de quase toda herança judaica do cristianismo.

Como resultado deste apanágio de Clemente, estamos diante de um escritor de estilo difícil, com forte herança helénica e cuja obra não pode ser reduzida a um todo coerente.

O que dele chegou até nós é de carácter predominantemente “ortodoxo”, estando sob uma névoa a perdida obra Esboços:
o que teria realmente saído da pena do próprio (“ou outrem sob seu nome”), o que seria exagero de Fócio ou o quanto ela representaria de um estágio do pensamento Clementino, que evoluíra posteriormente?

De qualquer forma, pode-se afirmar com grande certeza que Clemente de Alexandria foi um escritor complexo e que, tal como seu pupilo Orígenes, vem sendo excessivamente simplificado para fins polemistas no embate pró e contra reencarnação.

PS: Clemente presidiu a escola catequética de Alexandria, não a universidade local (segundo J. R. Chaves), pelo consta na obra de Eusébio de Cesareia História Eclesiástica, VI, cap. 3.

Lembrando que ele foi seu maior biógrafo.

Orígenes

A Igreja Católica aceitava a reencarnação até o ano 553 da nossa era (...) Orígenes afirmava ser a doutrina do Carma e do renascimento uma doutrina cristã.

- Severino C. da Silva, “Analisando as traduções bíblicas”, cap. IX

Com estas palavras, Severino C. da Silva abre o tópico “os cristãos” daquele capítulo.

Note que é a “Igreja Católica” a que ele se refere, não se está fazendo nenhuma menção grupos gnósticos, seitas sincréticas, heresias, etc.

Bem, se a “ortodoxia” que daria origem ao catolicismo moderno já defendera a reencarnação até aquela data, nada mais natural que encontrássemos referências simpáticas a ela nos escritos de seus primeiros teólogos.

Mas será?

O teólogo cristão do século III Orígenes, citado acima, não desconhecia tal doutrina, nem a metempsicose professadas por seitas orientais, mas não as aprovava.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 22, 2012 9:55 am

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Dou aqui algumas pinceladas em obras de Orígenes que rejeitam a transmigração das almas em moldes pitagóricos e até modernos.

Orígenes terá um tratamento à parte posteriormente, pois poucos Padres da Igreja têm sido tão mal-citados como ele.

[As escrituras dizem] ‘Eles então lhe perguntaram:
“Quem és, então? Elias?” e ele disse: “Não sou” (Jo, 1:21).

Não se pode deixar de lembrar a conexão disto com o que Jesus disse a respeito de Elias:
“Se quiserdes dar crédito, ele é o Elias que deve vir”. (Mt 11:14).

Como então João replica aos que o perguntaram:
“És tu Elias?” “Não sou”. (... )

Pode-se dizer que João não sabia que era Elias.

Esta será a explicação para aqueles que encontraram nesta passagem sustentação para sua doutrina de transmigração, como se a alma fosse revestida em novo corpo e também não lembrasse das vidas anteriores (...)

Entretanto, um membro da Igreja, que rejeita a doutrina da transmigração como falsa e não admite que a alma de João fosse a de Elias, pode se referir às palavras do anjo supra-citadas e assinalar que não é a alma de Elias que é dita ao nascimento de João, mas o espírito e poder de Elias. (...)

Comentário sobre o Evangelho de João, livro VI, cap VII

Quanto aos espíritos dos profetas, estes são dados por Deus e são considerados como sendo, de certo modo, propriedades deles, como “Os espíritos dos profetas estão submissos aos profetas” (I Cor 14:32) e o Espírito de Elias repousou sobre Eliseu (2 Reis 2:15).

Assim, diz-se, não há nada de absurdo supor que João, “no espírito e poder de Elias”, voltou o coração dos pais para os filhos e foi por causa deste espírito que foi chamado de “o Elias que deve vir”.

Idem.

(...) Se a doutrina [da transmigração] fosse largamente corrente, não deveria João ter hesitado em se pronunciar sobre isto, com receio de sua alma ter realmente estado em Elias?

E aqui nosso fiel apelará para a história e dirá a seus antagonistas para perguntarem aos mestres na doutrinas secretas dos hebreus se eles na verdade sustentam tal crença.

Como parece que eles não sustentam, então o argumento baseado nesta suposição se mostra muito desprovido de fundamento.

Idem.

Alguém pode dizer, porém, que Herodes e parte da população mantinha o falso dogma da transmigração de almas para os corpos, com a consequência de que eles pensassem que o antigo João apareceu outra vez devido a um novo nascimento e tinha vindo da morte para a vida como [sendo] Jesus.

Mas o tempo entre o nascimento de João e o de Jesus, que não foi mais que seis meses, não permite se dar crédito a esta falsa opinião.

E talvez fosse melhor que outra ideia estivesse na mente de Herodes, que os poderes que operaram com João tivessem passado para Jesus, fazendo que ele fosse visto pelo povo como João Baptista.

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Última edição por O_Canto_da_Ave em Qui Ago 23, 2012 9:24 am, editado 1 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 23, 2012 9:24 am

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E pode-se usar a seguinte linha de raciocínio:
apenas por causa do espírito e poder de Elias, não pela alma dele, que se diz de João:
“Este é o Elias que deve vir”.

Comentário sobre Mateus, livro X, cap XX

Neste ponto [a identificação de João Baptista com Elias], não me parece que se falava da alma de Elias, com receio eu de cair na doutrina da transmigração, que é estranha à Igreja de Deus, não sendo ensinada pelos apóstolos, nem encontrada nas escrituras.

Comentário sobre Mateus Livro XI, cap VII

Mas (...)se os gregos, que introduziram a doutrina da transmigração, estabelecendo coisas em harmonia com ela, não reconhecem que o mundo está se corrompendo;
sendo adequando, que quando eles encararem de frente a escritura, que claramente declaram que o mundo perecerá, devem ou desacreditá-las ou inventar uma série de argumentos a respeito da interpretação das coisas referentes à consumação;
que mesmo que desejem, não serão capazes de fazer.


Comentário sobre Mateus, livro XIII, cap I

Celso, portanto, não viu de modo algum a intenção de nossas Escrituras.

Se tivesse compreendido o destino da alma na vida eterna futura, e o que sua essência e origem implicam, não teria criticado dessa forma a vida do ser imortal num corpo moral, explicada não segundo a teoria platónica da metensomatose, mas numa perspectiva mais elevada.

Teria visto, ao contrário, uma descida extraordinária devido a um excesso de amor aos homens, visando reconduzir, conforme a expressão misteriosa da divina Escritura, “as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15:24), que desceram das montanhas, e para as quais o pastor de certas parábolas “desceu”, deixando nas montanhas as que não se tinham perdido (Mt 18:12-13, Lc 15:4s).

Contra Celsus, IV, 17

Entretanto, não admitimos, de modo algum, a metensomatose da alma nem sua queda em animais irracionais, e se por vezes nos abstemos de carne de animais, evidentemente não é pelo mesmo motivo de Pitágoras que nos privaremos dela.

Pois sabemos honrar somente a alma racional e confiar com honra seu órgãos a uma sepultura honrada conforme os costumes estabelecidos.

Contra Celsus, VIII, 30

O assunto encerra uma profunda doutrina mística à qual se aplicam as palavras:
“É bom manter o oculto o segredo do rei” (Tb 12, 7).

Não devemos expor aos ouvidos profanos a doutrina sobre a entrada das almas no corpo que não se dá por metensomatose;
não devemos dar aos cães as coisas sagradas, nem lançar as pérolas aos porcos (cf. Mt 7,6).

Contra Celsus, V,29 – Note que ele rejeita a mudança da alma de um corpo para outro (metensomatose), mas sugere admitir sua pré-existência (entrada no corpo).

O desconhecimento das citadas obras de Orígenes tem levado a uma série de equívocos facilmente evitáveis por parte de apologistas espiritualistas.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 23, 2012 9:25 am

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Léon Denis expõe nas notas num. 4 de seu “Cristianismo e Espiritismo” apenas a parte que lhe interessava de Orígenes, ele poderia ter dado o exemplo e não ter escondido factos:

Cita um resumo do abade Bérault-Bereastel sobre Orígenes que, de cara, erra ao afirmar que “as almas foram criadas simples, livres, ingénuas e inocentes por sua própria ignorância”, de estilo semelhante ao proposto pelos espíritas, em vez de racionais.

Também não inclui as explanações do livro III de Principiis, que privilegiam a pré-existência das almas em vez de reencarnação, nem faz menção a obras posteriores do teólogo alexandrino (Comentários sobre Mateus, João, Contra Celsus) que rejeitam a interpretação que ele quer.

Já nos tempos modernos, certo autor dos tempos modernos faz uma curiosa citação

Ele [Orígenes] chegou a tecer judiciosas ponderações sobre certos trechos da Escritura (...) que não teriam sentido sem admitir a preexistência da alma:
“Se o nosso destino actual não era determinado pelas obras de nossas existências passadas, o que dizer de um Deus justo permitindo que o primogénito servisse ao mais jovem e fosse odiado, antes de haver cometido actos que merecessem a servidão e o ódio?

Só as nossas vidas anteriores podem explicar a luta de Jacó e Esaú antes do seu nascimento, a eleição de Jeremias quando ainda estava no seio da mãe... e tantos outros fatos que atirarão o descrédito sobre a Justiça Divina, se não forem justificados ou praticados pelos actos bons ou maus cometidos em existências passadas”

(“Contra Celso”, I, III, cit. por Mário C. Mello, em “Como os Teólogos Refutam”, pg. 153).

Andrade, Jayme; O Espiritismo e as Igreja Reformadas, editora EME, 4ª ed., cap. VII, parte 3

Tal citação não existe em [bi]“Contra Celso”,[/b] livro I, cap. III.
Uma menção à superioridade de Jacó em relação a Esaú ainda no útero é encontrada em “De Pricipiis”, livro II, cap. IX.

O texto real de Contra Celsus é:

Depois disto, Celsus prosseguindo a falar dos cristãos ensinando e praticando suas doutrinas favoritas em segredo e dizendo que eles fazem isto para, com alguma intenção, ver se escapam de uma pena de morte que é iminente;
ele compara seus perigos com aqueles encontrados por homens tais como Sócrates pelo amor à filosofia;
e aqui ele poderia ter citado Pitágoras também e outros filósofos.


Mas nossa resposta com relação a isto é que, no caso de Sócrates, os atenienses se arrependeram imediatamente depois e nenhum sentimento de amargor permaneceu em suas mentes com relação a ele, bem como ocorreu na história de Pitágoras.

Os seguidores do último, de fato, estabeleceram por um tempo considerável suas escolas numa parte da Itália chamada Magna Grécia;
mas no caso dos cristãos, o Senado Romano, e o príncipe do momento, e a soldadesca, e o povo, e os parentes dos que se tornaram conversos à fé fazem guerra contra sua doutrina e teriam impedido seu (progresso), sobrepujando-a com uma aliança de natureza tão poderosa que, não fosse pela ajuda de Deus, não teria escapado do perigo e se erguido acima dele, a fim de (finalmente) derrotar o mundo em sua conspiração contra ela.

Orígenes, Contra Celsus, I, III

É um capítulo curto e não há nenhuma referência a Esaú e Jacó nele.

A questão destes filhos de Rebeca é recorrente nas discussões entre ortodoxos e reencarnacionistas, porém a chave dela pode estar além de qualquer teologia.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 24, 2012 10:48 am

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Numa visão laica, a diferença de tratamento entre estes dois gémeos pode ser, na verdade, parte do mito nacional da criação de Israel e seus vizinhos, contidos na Génese:

Deus diz a Rebeca, então grávida:
“Duas nações estão em teu útero, e dos dois povos, nascidos de ti, serão divididos;
um será mais forte que o outro, o mais velho deverá servir ao mais moço.”
(Gen 25:23).

Como os eventos se desenrolaram, aprendemos que Esaú é o mais velho e Jacó, o mais moço.

Portanto a descrição dos dois irmãos fundadores de Edom e Israel, serve como legitimação para uma relação política entre duas nações nos tempos posteriores da monarquia.

Jacó-Israel é sensível e educado, enquanto Esaú-Edom é bem primitivo, um caçador e um homem ao ar livre.
Mas Edom não existe como entidade política até um período relativamente tardio.(...)

A evidência arqueológica também é clara:
a primeira onda de assentamento em larga escala em Edom, acompanhada pelo estabelecimento de grandes povoações e fortalezas, pode ter começado no final do século VIII a.C., mas alcançou o ápice apenas no século VII e no início do século VI a.C.

Antes, portanto, a área era pouco povoada. (...)
Assim, aqui também as histórias de Jacó e Esaú – filho delicado e poderoso caçador – são habilmente construídas como lendas arcaizantes, para reflectir as rivalidades dos tempos monárquicos posteriores.

Finkelstein, Israel & Silberman, Neil Aser; A Bíblia não tinha razão, Ed. A Girafa, cap. I

Este “erro de citação” é até uma falha “menor”, digamos assim.
Porém demonstra claramente que nem Andrade, nem sua fonte (Mello) se deram ao trabalho de ler Orígenes directamente.

Agora, só para constar:

Orígenes é conhecido como um dos maiores sábios cristãos de todos os tempos.
Foi praticamente o criador de nossa teologia cristã.

E, como apenas 17 anos, foi reitor da Universidade de Alexandria, em substituição a São Clemente de Alexandria.
E diga-se, de passagem, que Alexandria foi o maior centro intelectual do mundo, na época de Orígenes, século 3º.

José Reis Chaves, A Reencarnação na Bíblia e na Ciência, cap. VI, 7ª ed., p. 203.

Se formos conferir o que nos diz o principal biógrafo de Orígenes, leremos algo um tanto diferente:

Orígenes ia completar dezoito anos quando foi posto à frete da escola catequética, momento em que, sob a perseguição do governador de Alexandria, Àquila, realizava grandes progressos.

Foi então também que seu nome se fez famoso entre todos a quem movia a fé, pela acolhida e solicitude que mostrava para com todos os santos mártires conhecidos e desconhecidos. [grifo meu]

Eusébio de Cesareia, A História Eclesiástica, VI, cap. 3, item 3

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 24, 2012 10:49 am

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Não é demérito nenhum um garoto ser posto no comando de um cargo importante na comunidade cristã de então – a escola catequética.

Indica que era reconhecido como um mestre pelos seus.

Mas convenhamos que é uma posição bem mais modesta do que ser o reitor da pagã Universidade de Alexandria, que cobria uma gama bem maior de interesses e gente.

Arnobius

“O Espiritismo e as Igreja Reformadas” (de Jayme Andrade, editora EME, quarta edição), capítulo VII, parte 3:

“Arnobius, em 'Adversus Gentes' [Contra os Pagãos], evidencia uma certa simpatia por essa doutrina [preexistência da alma] e acrescenta que Clemente de Alexandria 'escreveu história maravilhosas sobre a metempsicose'”.

Aqui o link para o formato digital de Contra os Pagãos (em inglês).
Procurei, procurei com o auxílio do navegador a versão inglesa do nome dele – Clement – e nada achei.

Se alguém encontrar me avise, por favor., pois a falta de qualquer coordenada precisa (livro, capítulo, parágrafo) sugere que o autor não está muito a fim de que outros verifiquem seus dados.

Tertuliano

Vem agora, se algum filósofo afirma, como Labério sustenta, seguindo a opinião de Pitágoras, que um homem pode ter tido sua origem de um asno, uma serpente de uma mulher, e com uma lábia habilidosa contorce qualquer argumento para provar seu ponto de vista, não ganhará ele aprovação e resolverá com alguma convicção que, por causa disto, ele [os pagãos] devem até se abster de comer alimento animal?[i]

Terá alguém a persuasão de que ele deve com medo de, por acaso, [i]ele comer algum antepassado em sua carne?


Mas se um cristão promete a um homem retornar de um homem e o bem verdadeiro Gaio, de Gaio, o grito do povo o terá apedrejado;
eles não terão nem sequer lhe dado ouvidos.

Se há alguma boa razão para mover almas humanas de lá para cá, por que elas não podem retornar para a mesma substância que deixaram, vendo que isto dever restaurado, ser o que tinha sido?

Tertuliano, em Apologia, cap. 48 (Ou Apologética).

Também nas notas complementares de Cristianismo e Espiritismo se encontra uma citação do mesmo livro de Tertuliano, mas distinta e sem a explícita defesa da ressurreição:

“Declare um cristão acreditar possível que um homem renasça de outro homem, e o povo reclamará em grandes brados que ele seja lapidado.

Entretanto, se foi possível crer-se na metempsicose grosseira, a qual afirmava que as almas humanas voltam em diversos corpos de animais, não será mais digno admitir-se que um homem possa ter sido anteriormente um homem, conservando a sua alma as qualidades e faculdades precedentes?”


Tertuliano, segundo Leon Denis

E aí? De que parte Leon Denis tirou isso?


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