LUZ ESPÍRITA
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Reencarnação na Bíblia

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 18, 2012 8:45 pm

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A tradução das Escrituras em grego judaizou a koiné em maior medida do que helenizou o judaísmo.
Carregou de ressonâncias tipicamente israelitas termos até então de sentido profano e pagão(...)”

Barrera, “Bíblia Judaica...”, parte III, cap III.

Versões latinas: tardias, mas com valor

Durante o império romano, o grego foi a língua dominante no cenário cultural do Império Romano, sendo a língua franca do oriente e das classes abastadas do ocidente.

Até mesmo as classes mais pobres romanas travaram com ela através de muitos escravos importados do oriente.

Importantes escritores cristãos do ocidente como Clemente de Roma, Hipólito, Irineu e Hermas também escreveram neste língua.

Excepção talvez feita ao norte-africano Tertuliano, que era capaz de se expressar tanto em grego como em latim.

Apesar de não haver indícios do uso do latim no culto sinagogal da África Romana, algumas comunidades judaicas da época deste escritor falavam seguramente o latim.

Pode-se supor que versão latina do Pentateuco tenha tido efectivamente origem judaica.

O termo Vetus latina (Antiga Latina) não se refere a uma tradução única e completa da Bíblia, porém a um conjunto de traduções anteriores à Vulgata de Jerónimo (final séc. IV).

É possível que alguns estágios sejam posteriores a Jerónimo.

Apesar da falta de método unificado de tradução que a poria em desvantagem frente à Vulgata, a Vetus Latina (VL) possui qualidades que a Vulgata não pode oferecer.

Em termos linguísticos, a VL foi escrita no vernáculo popular, já mostrando os inúmeros vulgarismos de um latim em plena evolução para o romance, ao passo que a Vulgata, apesar de sua linguagem bem despretensiosa, é gramaticalmente correcta.

Como crítica textual, ela tem um efeito similar às mais antigas da tradição da LXX: reflecte muitas vezes um texto grego do século II, anterior a recensão de Orígenes e de Luciano.

Isso supõe um texto muito antigo que goza, portanto, de um considerável valor textual.

Por exemplo, o Livro de Jó latino e copta reflectem uma forma textual grega mais antiga, da qual não restou manuscritos;
A VL do livro de Ester é a único testemunho de outra forma textual grega perdida, com similaridades chamativas com o qumrânico 4QprotoEster, em aramaico.

Apesar destas qualidades, a falta de padronização dos textos da VL, somado a corrupções de cristãos latinos que se achavam capazes de “corrigir” o texto grego com seus conhecimentos, começaram a irritar, a ponto de Agostinho de Hipona se queixar parecer haver tantas versões latinas quanto códices.

Neste quadro, entra em cena o erudito Jerónimo que, atendendo a uma encomenda feita pelo papa Dâmaso por volta de 382, iniciou o trabalho o trabalho de retradução do NT.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 19, 2012 9:04 pm

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Sua tarefa seria o embrião da versão divulgada ou “Vulgata”.

Quanto a validade do NT da vulgata, Leon Denis atribuiu estas palavras a Jerónimo em seu prefácio à tradução dos evangelhos:
“De uma velha obra me obrigais a fazer uma nova.

Quereis que de alguma sorte me coloque como árbitro entre exemplares da Escrituras que estão dispersos por todo o mundo e, como diferem entre si, que eu distinga os que estão de acordo com o verdadeiro texto grego
(...)”

Cristianismo e Espiritismo, cap II

E o texto prossegue com um relato de Jerónimo quanto ao seu receio de que algum leitor pense que ele adulterara o texto, por ele se diferir do que ele está acostumado.

Entretanto, esta página traz uma versão um tanto diferente para a abertura deste parágrafo:
“Obrigais-me a fazer a revisão da antiga versão latina(...)”

Parece pouco, mas é uma diferença crucial na hora de avaliar a fidelidade de inúmeras Bíblias da actualidade.
Qual dos textos é o certo?

No cabeçalho da mesma página se lê:
“Observa-se que o objectivo de Jerónimo era “revisar a antiga versão latina, e não fazer uma nova.

Quando Agostinho expressou a ele sua gratidão pela 'sua tradução dos evangelhos', ele tacitamente o corrigiu substituindo por esta frase:
'a correcção do Novo Testamento'.

Embora, mesmo tendo proposto a si mesmo uma tarefa limitada, as várias formas de corrupção que tinham sido introduzidas eram, como ele descreve, tão que a diferença entre o texto velho e o revisado (Hieronymian) é inteiramente clara e chamativa.”

Daí entende-se o temor de Jerónimo em relação a alguns leitores.
O facto de ser uma profunda revisão a torna ruim ou venalmente forjada?

Denis ainda insere depreciação nos adjectivos: “corrigida, aumentada e modificada”.
Modificar faz parte de qualquer trabalho de correcção.

Isto só seria grave se as modificações totalmente inventadas, sem nenhuma base grega ou latina.
Denis continua a crítica alegando que as novas correcções da Vulgata tiveram de ser feitas ao longo dos séculos.

Não há nada de desqualificador nisto!
O conhecimento se acumula com o tempo e ferramentas que Jerónimo não teve hoje estão disponíveis.

Sem contar que várias cabeças analisando têm, juntas, mais potencial que a tarefa de “lobo solitário” dele.

Nota: No mesmo portal exposto acima há outra tradução cujo início concorda com o texto constante em “Cristianismo e espiritismo”.
Ver: Preface to the Gospels e uma versão latina de outro portal: Epistola ad Damasum.

No geral, coincidem os textos, não sei se houve variantes textuais.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 19, 2012 9:04 pm

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As citações onde Jerónimo se coloca como “revisor” do NT são sua carta CXII a Agostinho, cap VI ( ou LXXV na numeração deste último):
“E já que aprovas meus trabalhos na revisão da tradução do Novo Testamento, como dizes(...)”;
ou a carta LXXI, 5 a Lucínio: “Eu restaurei o NT à autoridade da forma grega original”.

Da obra de (Leite):

“Foi, pois, o texto “exclusivo, oficial” da Igreja Católica, até o início do nosso século [século XX], quando, com o retorno ao estudo das línguas orientais, ressurgiu o desejo e necessidade de novas investigações para dirimir dúvidas em certos pontos.

Em 1907 Pio X confiou aos monges beneditinos o encargo de fazer os estudos preparatórios para uma nova edição da versão das escrituras.

E com Pio XII começaram a aparecer livros litúrgicos com a nova tradução, feita segundo os preceitos de crítica científica e com recursos dos métodos modernos.”


O trabalho foi concluído em 1987 (com excepção de 1-2 Mac, ainda em andamento), com o título de “Neo-Vulgata”.

A tradução AT feita por Jerónimo foi um trabalho posterior, iniciado por volta de 392.

À excepção dos livros da Génese, Salmos, Tobias e Judite, Jerónimo se baseou em versões gregas de tradutores judeus, isto é, Àquila, Teodocião e Símaco.
Tais versões já reflectiam uma fonte hebraica bem próxima do TM medieval, com poucas alterações.

A Génese foi, na verdade, uma revisão da VL e os Salmos foram fundamentados na Hexapla de Orígenes.
Jerónimo não se dedicou a Tobias e Judite que posteriormente foram importados da VL.

Com isso, faz-se necessário distinguir entre a Vulgata e a “tradução jeronimiana”, que abarca apenas os livros que Jerónimo realmente traduziu e revisou.

O valor da Vulgata está no facto de ela ser o amálgama de três tradições.
Preserva a VL e suas qualidades, seja nos livros que não foram traduzidos, seja nos comentários de Jerónimo, que ainda a utilizava.

Em seus salmos, conserva o testemunho grego do texto hexaplar agora perdido.
Permite rastrear as leituras de Àquila e Símaco e, por elas, entender o estado do texto hebraico da época.

Houve um atrito, porém, entre Agostinho e Jerónimo quanto à tradução do AT. Agostinho dava o valor de “inspirado” ao texto grego:

“(...)A meu ver, eu preferiria que nos suprisse com a tradução com versão grega das Escrituras canónicas conhecidas como o trabalho dos Setenta intérpretes.

Pois se tua tradução começar a ser mais comummente lida em várias igrejas, será algo doloroso ter que, ao se ler a Escritura, surgirem diferenças entre as Igrejas latinas e gregas, especialmente vendo que a discrepância é facilmente condenada numa versão latina pela produção do original grego, que é uma língua bem amplamente conhecida;
visto que, se qualquer um que ficado perturbado pela ocorrência de algo que ele não estava acostumado na tradução tomada do hebreu e alegar que a nova tradução está errada, será difícil, se não impossível, obter documentos hebraicos pelos a excepção da versão possa ser defendida.

E quando forem encontrados, quem, tendo tantas autoridades em grego e latim, alegará:
declarado estar errado?

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 19, 2012 9:05 pm

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Além disso tudo, judeus, se consultados sobre o significado de um texto hebraico, podem dar uma opinião diferente da tua:
neste caso será como se tua presença fosse indispensável, como sendo o único capaz de refutar seus pontos de vista, e seria um milagre encontrar alguém apto de actuar com árbitro entre tu e eles. (...)“

Agostinho de Hipona, Carta LXXI

Ou seja, já no século V, a LXX e o proto-massorético haviam tomado caminhos divergentes.

Severino C. da Silva traz um trecho da carta parecido, mas um tanto “reduzido”:
“A meu ver, eu preferia que tua antes nos interpretasse as Escrituras gregas canónicas que são atribuídas aos setenta intérpretes, pois se há discordância entre o latim das antigas versões e o grego da Setenta, pode-se ir verificar, mas se há dissonância entre o latim da nova versão e o texto da nova versão e o texto conhecido do público, como dar prova de sua exactidão?”

Silva, “Analisando ...”, cap II

Tudo bem que, no fundo, os dois trechos dizem a mesma coisa;
ou melhor, quase a mesma coisa.

Severino C. da Silva reforça um equívoco ao afirmar que carta testifica “a inexistência de exactidão nas traduções bíblicas”.

Nada mais errado. O que a carta escancara é que a fonte da LXX e do TM já tinham se tornado distintas.

A exposição integral de Agostinho deixa claro que Jerónimo se baseou em intérpretes hebraicos (ainda que escritos em grego) e que os manuscritos deles já diferiam da matriz hebraica da LXX.

Por isso, nem sempre um documento na língua original é garantidamente o original.

O original: dificuldades da crítica textual

Apesar do optimismo de alguns autores, a crítica textual está longe de ser uma ciência exacta.

Muitos podem acusá-la até de muita subjectividade.
Pode ser, pois suas metodologias não são precisas.

De qualquer forma, são um jeito limitado de fazer as coisas que de outro modo seriam piores.
Ruim com ela...

Comparando diversos estudiosos, concluo que fazer uma declaração categórica de que determinado versículo está mal traduzido e/ou corrompido é algo um tanto temerário às vezes.

Dou aqui um pequeno exemplo extraído de Gn 4:8:
“E disse Caim a Abel, seu irmão.
Estando eles no campo, sucedeu que se levantou Caim contra Abel, seu irmão, e o matou.”


Afinal, o que Caim disse a Abel?
Fica claro a sensação de uma lacuna no texto.
Trago quatro autores, cada um com uma opinião distintas

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Set 20, 2012 9:44 pm

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• André Chouraqui, comenta este versículo (Volume “No princípio” de sua colecção “A Bíblia”) com a seguinte nota:
“O texto não explicita o que é dito por Caím.
Os tradutores que completam a frase apenas inventam por sua própria conta”


• Jobes e Silva em seu “An Invitation...”, cap. X, comentam:
A frase dielqmen eiV to pedion1 [vamos ao campo] não possui nenhuma correspondente no TM, mas é atestada no Pentateuco Samaritano, na Peshitta, e na Vulgata.

Visto que o hebraico vayyo'mer normalmente introduz o que está sendo dito, muitos estudiosos alegam que o tradutor da Vorlage incluiu as palavras (consonantais) nlkh hsrh, que seria leitura original e que foi acidentalmente omitida numa tradição hebraica bem antiga.

Alguns estudiosos assinalam, em resposta, que ao menos três outras passagens onde vayyo'mer é usado sem expressar noção do que é dito.
(Ex. 19:25, 2 Cr 1:2 e 32:24 – apesar de não proverem paralelos exactos).

Devemos, pois, deixar em aberta a possibilidade que, como uma leitura mais difícil, o TM seja considerado o original e que o tradutor grego (talvez confiando numa tradição antiga) introduziu a sentença para completar o significado.

• Julio T. Barrera, em “Bíblia judaica....”, parte IV, cap. III:
“O tradutor (do Targum Pseudo-Jónatas) introduziu um desenvolvimento teológico, convertendo Abel na figura do protomártir e Caim no protótipo do apóstata perseguidor dos justos.

É possível que a frase 'Vem, subamos ao campo', não seja uma inserção 'targúmica', mas leitura de um texto hebraico antigo.

Esta leitura, perdida no texto massorético, foi conservada em numerosos manuscritos hebraicos medievais e no Pentateuco Samaritano, e aparece reflectida no texto da versão da LXX e nas versões Peshitta e Vulgata.”

• Emanuel Tov, em “Textual Critiscim...”, cap. IV-C,”[após citar uma comparação entre Gn 4:8 no TM e no PS] parece que no TM algumas palavras foram omitidas ( por be'emsha` pasuq - “uma subdivisão no meio de um verso”) talvez as mesmas palavras com as do PS e versões – visto que TM realmente não declara o que Caim na verdade disse.”

Quatro autores distintos, cada um trazendo um pedaço de informação distinto.

Curiosamente, aqui o elogiado Chouraqui possui o argumento mais fraco de todos, pois se baseia numa indevida primazia massorética.

Mesmo as traduções possuem grande importância e o PS não pode ser considerado “exactamente” uma tradução.

Jobes e Silva são mais conciliatórios e expõem um caso em que duas técnicas de crítica textual se opõem:
a preferência pela leitura mais difícil (visto uma tendência dos copistas a harmonizar textos difíceis com doutrinas, outros textos mais fáceis ou sua própria intuição) contra a múltipla confirmação por documentos antigos.

Barrera coloca mais crédito na múltipla confirmação das versões, sendo alguns documentos hebraicos corroboradores de sua opinião, e Tov lança uma hipótese para a origem da lacuna.

A balança pende realmente a existência de uma lacuna no TM, apesar de isto não poder ser atestado de forma absoluta.

Por isso quando alguém diz: “há um erro de tradução aqui”, é bom pensar duas vezes antes de ser tão categórico.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Set 20, 2012 9:46 pm

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http://br.geocities.com/falhasespiritismo/gen_48.jpg

Comparação entre o texto massorético (à direita e pontuado) de Gn 4:8-9 com seu equivalente no Pentateuco Samaritano (à esquerda, não-pontuado e transcrito com caracteres hebraicos).

Aqui está em evidência a lacuna presente no TM.
Esta falta estava no original ou produzida por um acidente de cópia?
Nem sempre é fácil estabelecer um juízo.

Para ler:

- Abegg Jr., Martin, Flint, Peter & Ulrich Eugene – The Dead Sea Scrolls Bible - Harper San Francisco, 1ª ed.
- Barrera, Julio Trebolle – A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã - Editora Vozes, 2ª ed.
- Jobes, Karen H. & Silva, Moisés – An Invitation to the Septuagint - Paternoster / Baker Academic, 1ª ed.

- Leite, Thomaz Paula; Sabedoria da Bíblia, Ed. Cultrix
- Shoulson, Mark (organizador); The Torah: Jewish and Samaritan Versions Compared, 1ª ed. (editado pelo organizador)
- Tov, Emanuel; Textual Criticism of the Hebrew Bible, Fortress Press, 2ª ed. revisada.

Notes on the Septuagint

Nota: O livro de Barrera, “A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã” consta na bibliografia de “Analisando as Traduções Bíblicas”

Reclamações justas

Nem todo o questionamento espírita acerca dos significados das palavras bíblicas são frutos de teorias da conspiração.

Algumas deturpações que aparecem em bíblias de uso corrente em certo grupos são, sim, tentativas de prejudicar especificamente os espíritas.

O exemplo a seguir(e outros) se encontra no já falado “Analisando as traduções bíblicas”.

Apesar de eu ter “metido o pau” no livro nos itens acima, devo reconhecer que faz um bom trabalho quando a questão é se defender de acusações levianas.

Justiça seja feita! Infelizmente, não digo o mesmo quando parte para o ataque... bem vamos ao exemplo.

Lv 20:6 “Quanto à alma que se vira para os médiuns espíritas e para os prognosticadores profissionais de eventos, a fim de ter relações imorais com eles, certamente porei minha face contra essa alma e a deceparei dentre seu povo.”

Lv 20:27 “E quanto ao homem ou a mulher em quem se mostre haver um espírito mediúnico ou um espírito de predição, sem falta devem ser mortos. Devem atirar neles pedras até morrerem. Seu próprio sangue está contra eles.”

Tradução feito em Bíblias de Testemunhas de Jeová

Agora numa versão mais literal:

Lv 20:6 “O ser que vai diante dos necromantes e dos áugures, para se prostituir atrás deles, eu dou minhas faces contra esse ser, eu o corto do seio de meu povo”.

Lv 20:27 “Homem ou mulher em quem está um necromante ou um áugure são condenados à morte, à morte; eles são apedrejados, seus sangues contra eles.”

“Ele clama...”
, Levíticos, na tradução de André Chouraqui.

Nota-se que a reprovação só era contra aqueles que usassem a mediunidade em benefício próprio.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Set 20, 2012 9:47 pm

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Não irei questionar se é lícito ou não evocar mortos em qualquer circunstância (matéria de fé, para mim), mas se alguém for contra, por favor, não minta e use textos mais fiéis.

O interessante foi, mais tarde, descobrir de onde se tirou estas traduções tendenciosas:

“É importante observar ainda que a Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento) emprega o termo eggastrímithoi (ventríloquo) para traduzir a palavra ‘ob de Levítico 19:31 [e Lv 20:27] (...)

Assim, a palavra hebraica ‘ob significa o “vaso” ou instrumento dos espíritos, portanto o médium ou necromante, conforme aparece na maioria das traduções da Bíblia, não oferecendo tal vocábulo base para quebra de maldições hereditárias na vida do cristão”

Fonte: http://www.cacp.org.br/jornalquebra.htm

Chouraqui traduz “'ob” como “necromante” e detalha:
“Aquele que diz ter com os espíritos dos mortos;
o termo ob também serve para designar os ventríloquos”.


Não sei informar se o sentido “vaso” também é possível, mas o que interessa é o raciocínio feito:
pega-se um significado possível da palavra, faz-se algumas livre-associações de ideias e se extende o sentido até aquele que se quer.

Esperto, não?
O mais curioso é que esta (falta de) atitude me lembra algo...

Comentários finais

Alguém lendo tudo isso acima poderia pensar que tomo partido na defesa do sistema de vida única, danação ou redenção eternas dos católicos e protestantes.
Não é por aí!

Os espíritas têm todo o direito de acreditar em reencarnação e de querer convencer os outros disto.

Entretanto, não concordo nem um pouco com os métodos de convencimentos que possuem como alvo uma suposta presença de textos reencarnacionistas em trechos bíblicos.

Talvez como uma forma de conciliar elementos novos do espiritismo com as tradições antigas, técnicas argumentativas duvidosas são feitas e a maioria dos devotos não se apercebe disto.

Um primeiro problema se encontra na adopção numa postura de “observador privilegiado”:
o espiritismo seria uma espécie de continuador do cristianismo ou uma espécie de “cristianismo renovado”, com a capacidade de interpretar os versículos numa amplitude desconhecida por seus antecessores credos judaico-cristãos.

Só que agindo assim, joga-se pro espaço qualquer tentativa de imparcialidade e se geram argumentos que, apesar de até estarem bem arrumados, têm validade apenas dentro da doutrina espírita.

Um interlocutor que não a aceita dificilmente vai engoli-los e nem tem obrigação disto.

O extracto de Ezequiel, citado anteriormente (Ez 37:12-14), já foi inclusive usado como prova de reencarnação bíblica;
tomando-se uma grande liberdade interpretativa de se considerar a reencarnação como um sentido oculto, já que a ressurreição física é cientificamente inviável.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 21, 2012 9:39 pm

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Os espíritas, porém, não dão nenhuma garantia que sua interpretação é a melhor, a única possível, nem garante que era esta a crença dos primeiro leitores.

Além disso, tentam racionalizar uma questão de fé (o que é característico ao seu credo), dizendo ser absurdo interpretar o texto como ressurreição.

De um ponto de vista mais imparcial, não interessa se algo é lógico, real, ou viável;
mas, sim, se uma determinada visão de mundo existia ou não.

Usar raciocínios reencarnacionistas neste ou noutro evento também não é algo válido, pois usa justamente a tese que se quer provar.

Não há base para se afirmar que a Igreja primitiva rejeitou a reencarnação, pois nem sequer ela era alvo de discussões.

Estas giravam em torno, sim, da noção origenista de preexistência.

Mesmo os que ainda acreditam que houve uma censura no passado têm o direito de contestar, contanto que não caiam nas práticas ruins que foram aqui apresentadas:
traduções forçadas (ou simplesmente erradas), uso de textos pró-ressurreição como reencarnacionistas, textos fora do contexto da obra e da vida do autor, invenção de citações e reconstrução histórica equivocada quanto aos primeiros tempos do cristianismo.

É recomendável sempre a busca dos originais e não de fontes indirectas, para erros não se propaguem.

Comprovação independente também é desejável, pois, por melhor que um especialista seja, suas teses têm pouco valor se crenças pessoais dele estão muito envolvidas ou se existirem explicações melhores.

Há quem aja quase que como um teórico da conspiração:
mostra os prós, esconde os contras, descarta explicações alternativas, simplifica factos bem complexos (trajectória do cristianismo primevo) e, em meio a uma verborragia agressiva, tem um sentimento de vítima incompreendida da história (afinal o espiritismo poderia ter começado já na era apostólica, não?).

A atitude de seleccionar factos não é exclusiva dele, nem dos espíritas, mas algo presente em todas as religiões cristãs.
A Bíblia não é um todo coerente.

Pode-se extrair dela passagens a favor da Trindade e outras afirmando que Cristo era apenas humano;
justificar a salvação pelas obras, pela fé, ou pelas duas;
se os mortos estão conscientes ou só apenas no dia do juízo;
etc.

As discrepâncias se dão entre os Testamentos e dentro deles e, por isso, é um erro dos espíritas querem se justificar em textos contraditórios.

Pergunto se seria necessário mesmo a aprovação de teólogos cristãos?

O espiritismo não precisa se basear nas Escrituras para ter valor ao seus fiéis e o que decidirá a (in)validade de suas teses não é o que ocorreu a mais de dois milénios.

Há um certo medo de se desvincular da matriz de onde saiu: o mundo cristão.

Seria realmente ele uma doutrina cristã?
Isto vai depender muito do conceito que se tenha de do que seja cristianismo.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 21, 2012 9:39 pm

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Um importante autor espírita de um parecer negativo:
"Nem a Bíblia prova para nós coisa nenhuma, nem temos a Bíblia como probante.

O Espiritismo não é um ramo do Cristianismo como as demais seitas cristãs.
Não assenta os seus princípios nas Escrituras.
Não rodopia junto à Bíblia.

A discussão, no terreno em que se acha, seria óptima com católicos, visto como católicos e protestantes baseiam suas crenças nas Escrituras.
Mas a nossa base é o ensino dos espíritos, daí o nome - espiritismo” .

À Margem do Espiritismo, Carlos Imbassahy, 4ª Edição, 2002, FEB, “Tréplica”, pág. 214

Entretanto, muitos - a maioria dos espíritas, suponho – ficaria ofendida se eu dissesse que não são cristãos.

Em linhas gerais, o espiritismo toma da Bíblia, basicamente, a moral dos evangelhos e os dez mandamentos.

Ainda assim, o aspecto escatológico (referente ao fim dos tempos e sua segunda vinda) da pregação de Jesus fica ignorado na obra de Kardec e posteriores.

Tudo bem que cristianismo não é só isso, mas também o é.
Os ensinamentos paulínicos – de influência forte no catolicismo e no protestantismo – mal são citados, talvez por sua ênfase salvacionista.

A falta de ênfase Antigo Testamento pode até se revelar um erro na hora de travar mais contacto com outros credos, afinal era a Bíblia que Jesus lia e questões de moral só citadas no Novo encontram seu pleno desenvolvimento nele.

Da mesma maneira que as igrejas saíram do judaísmo, a fé dos espíritas talvez já tenha se divergido o bastante para ser considerada um ramo à parte.

Mas é melhor que eles decidam o que são por si sós.

§.§.§- O-canto-da-ave
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