LUZ ESPÍRITA
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Reencarnação na Bíblia

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 08, 2012 8:31 am

Acreditar em reencarnação é uma coisa, procurar onde ela não deve estar é outra.
O que não é viável é crer em demonstrações baseadas em puro “papo” (gogó, embromação, etc.) e se munir fontes religiosas duvidosas.

Uma maneira muito fraca de corroborar a tese reencarnacionista, é a contida em O Livro do Espíritos (LE), item 222.

Lá se afirma que a Antiguidade da ideia da reencarnação seria um meio de provar sua veracidade.

Bem, astrologia também é uma crença milenar, mas isto não faz dela algo próximo da realidade.

Se ela resistiu tanto assim ao testo do tempo, pode ter sido dogmatismo religioso (indiano, por exemplo) ou falta de meios para testá-la.

Vale lembrar que há modelos e modelos de renascimento, que não necessariamente devem ser considerados inferiores.

Alguns relatos de memórias de uma suposta vida anterior em crianças, colectados por Ian Stevenson (muito utilizado em meios espiritualistas), remetem a personalidades mortas pouco antes do nascimento das crianças (meses, semanas).

Isto se choca com a ideia de que a reencarnação começa no instante da fecundação, contida no LE(1860).

Curiosamente, a primeira edição do mesmo livro (1857, q. 86) afirma que a união da alma com o corpo se dá no instante do nascimento, e antes disto a criança vive “como as plantas”, o que hoje sabe-se não ser correcto.

Outras hipóteses não comprovadas ainda como inconsciente colectivo, campos morfogenéticos podem ser explicações alternativas que contornem tais dificuldades.

Após a morte de Kardec, ganhou força crença que a reencarnação existiu na igreja primitiva e foi maldosamente suprimida pela seita que venceu no Concílio de Nicéia.

León Denis, em Cristianismo e Espiritismo, dedica todo um capítulo a especular sobre a incerteza dos escritos evangélicos e que ensinamentos teriam sido perdidos nesse meio tempo.

É um tanto “chover no molhado”, pois já consenso que os evangelhos não são obras de valor histórico, mas matéria de fé das comunidades que os preservaram.

Também é criticável até certo ponto a incerteza, pois sobraram mais fragmentos antigos da mitologia cristã que de textos de certos autores famosos da Antiguidade, hoje totalmente perdidos.

A postura de Denis ainda esconde mais uma dificuldade:
se não se tem rigor a respeito do que está escrito, então para que discutir?

Não será possível afirmar nada sobre reencarnação ou ressurreição.
O único exemplo concreto que ele dá (nota complementar num. 3 a respeito de I Jo 5, 7).

Já não consta em edições recentes e está devidamente comentado na Bíblia de Jerusalém.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 08, 2012 8:31 am

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Reencarnação X Ressurreição

Se a reencarnação realmente estivesse contida na Bíblia, tão importante ponto referente ao destino deveria estar escrito de maneira bem explícita.

Autores espíritas, possivelmente querendo tornar sua doutrina mais palatável com a ortodoxia cristã, começaram um esforço violento para extrair supostos versículos que confirmassem a presença deste antigo ensino.

O Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE), já alega arbitrariamente que a ressurreição é a reencarnação entendida pelos judeus do séc. I.

Como eles não criam em novo nascimento, acreditavam que no retorno ao mesmo corpo.
Segundo Kardec o certo seria crer em reencarnação, visto ser impossível reagrupar nossos átomos após o corpo se decompor.

Isto é muito questionável, pois não interessa se algo é possível ou não, mas se teve algum significado para o povo do século I.

Pelo menos, o próprio “mestre lionês” teve a prudência de reconhecer que o credo corrente na época pregava a ressurreição.

O historiador judeu Flávio Josefo atesta ser esta a crença da seita farisaica:

Eles [os fariseus] também acreditavam que as almas tinham uma força imortal dentro delas e que sob a terra elas serão premiadas ou punidas, segundo elas tivessem vivido virtuosamente ou em vício esta vida;
e estas últimas são mantidas numa prisão eterna, ao passo que as primeiras terão o poder de revivificar-se e viver novamente (*); (...)

Antiguidades Judaicas, livro XVIII, cap I

(*) “revive and live again”

Josefo, aqui, usa o verbo ‘anabiow, que pode ser traduzido por “voltar a vida”, “reviver”, “ressuscitar”.
Este verbo aparece em mais duas ocasiões em “Antiguidades Judaicas”.

1 - A ressurreição do filho da viúva feita por Elias:

Agora esta mulher, de quem falamos antes, que amparara o profeta, quando seu filho caiu doente até que entregou o espírito e aparentou estar morto, veio ao profeta chorando, e batendo contra seu peito com suas mãos, e exclamando tamanhas expressões conforme suas paixões lhe ditavam, e reclamou a ele que viera censurá-la por seus pecados, que por causa disto seu filho estava morto.

Mas ele a mandou ter bom ânimo e dar-lhe seu filho, a fim de que devolvesse a ela novamente vivo.

Quando ela lhe entregou seu filho, ele o levou para um quarto de cima, onde estava hospedado, e deitou-o sobre a cama, e clamou a Deus, e disse que Deus não agira bem em recompensar a mulher que o hospedara e amparara tomando-lhe o filho;
e orou para Ele enviasse novamente a alma da criança para dentro dela, e a trouxesse à vida novamente.

Antiguidades Judaicas, livro VIII, cap 13

2 - Com relação ao fim do cativeiro de Babilónia e a volta para Israel:

Então eles fizeram seus juramentos a Deus e ofereceram os sacrifícios que foram tradicionais no tempo antigo; quanto a isto me refiro à reconstrução de sua cidade e ao reviver de antigas práticas de sua adoração.

Antiguidades Judaicas, livro XI, cap 1

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 08, 2012 8:32 am

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Até mesmo Platão, um crente na transmigração de almas, usava este verbo no sentido de “ressuscitar”:

[Fala de Sócrates] Não te vou contar o apólogo de Alcinous, mas o de um homem de coração, de Her, o arménio natural de Panfília.

Este homem havia sido morto em combate.
Passados dez dias, ao se recolherem os cadáveres já putrefactos, foi achado o seu, são e perfeito.

Levado à casa dos funerais, quando já estava sobre a pira para ser queimado, ressuscitou aos doze dias de sua morte e narrou aos assistentes o que vira no outro mundo (...).

A República, livro X.

Continuando em outras obras de Josefo.

Mas então quanto às duas ordens anteriormente mencionadas, os fariseus são aqueles estimados por sua habilidade na exacta explicação de suas leis e introduzem a primeira seita.

Estes atribuem tudo ao destino [ou providência] e a Deus, e embora deixe que o agir de forma correcta ou o contrário esteja principalmente nas mãos dos homens, apesar de o destino, de facto, cooperar com cada acção.

Dizem que todas as almas são incorruptíveis, mas que as almas dos bons homens apenas são movidas para outros corpos, - porém as almas dos maus são sujeitas ao castigo eterno.

Mas os saduceus são os que compõem a segunda seita, e excluem inteiramente o destino, e supõem que Deus não está interessado se o que fazemos ou deixamos de fazer é mau;
e dizem que o bom ou mal agir está na escolha dos homens, e que um ou outro, portanto, pertence a todos, que podem agir como bem entenderem.

Também excluem a crença na duração imortal da alma, e nos castigos e recompensas no Hades.

Guerra Judaica, livro II, cap. VIII

Ademais, nossa lei ordena justamente que escravos que fogem de seus senhores deverão ser punidos, apesar de que os senhores dos quais eles fugiram tenham sido cruéis com eles.

E nos atreveremos a fugir de Deus, que é o melhor de todos os senhores, e não sermos culpados de impiedade?

Não sabes que os que partem desta vida conforme a lei da natureza e pagam a dívida que foi adquirida de Deus, quando ele, que no-la emprestou, fica prazeroso em pedi-la de volta, gozam de eterno renome;

que suas casas e suas posteridades estão asseguradas, que suas almas são puras e obedientes e obtêm o mais sagrado lugar do paraíso, de onde, nos ciclos dos tempos [peritrophj aiwnwn], eles são novamente postos em corpos puros;

enquanto as almas daqueles cujas mãos agiram desvairadamente contra si mesmos são recebidos nos lugares mais sombrios do Hades, onde Deus, que é o Pai deles, pune quem comente ofensa contra qualquer uma destas na sua posteridade?


Por esta razão Deus odeia tais actos [de suicídio] e o crime é punido pelo nosso mais sábio legislador. (...)

Guerra Judaica, livro III, cap VIII

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 08, 2012 8:32 am

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Além disso, se alguém engana outro nas medidas e pesos ou faz transacção e venda desonesta a fim de enganar outrem, se rouba os bens de outrem, e leva o que nunca guardou;
todos estes têm punições os aguardando;
não daquelas reservadas para os de outras nações, mas mais severas.


E quanto a tentativas de comportamento injusto aos pais ou de impiedade contra Deus, ainda que não realmente concretizados, os agressores são destruídos imediatamente.

Porém, a recompensa para os que vivem exactamente de acordo com as leis não é prata ou outro;
não é uma grinalda de ramos de oliveira nova, nem qualquer semelhante sinal de aprovação;

mas todo bom homem que tenha sua própria consciência dando testemunho se si mesmo, e pela virtude do espírito profético de nosso legislador, e a firme segurança que o próprio Deus propicia tais, ele crê que Deus fez esta dádiva àqueles que observam estas leis, ainda que sejam obrigados a prontamente morrer por elas, que eles retornarão à existência e, num determinado ciclo
[peritrophj] das coisas, receberão uma vida melhor do que a que gozaram.

Nem eu me arriscaria em escrever assim agora não fosse bem conhecido por todos pelas nossas acções que muitos de nosso povo decidiram várias vezes resistir a qualquer sofrimento, em vez de falar uma palavra contra a lei.

Contra Apião, livro II

As duas primeiras passagens chamam atenção por assinalar que apenas os justos teriam uma nova vida.

Os maus permaneceriam em castigo eterno, sendo que, na quarta passagem, os que ofenderam a Deus e aos pais seriam eliminados.

Seria estranho um tipo de reencarnação em que apenas os bons retornassem à vida, quando justamente os ímpios têm mais o que resgatar.

Na terceira passagem, em que Josefo explana porque era melhor se entregar aos romanos do que cometer suicídio, deixa transparecer a ideia de “corpo puro” por ocasião da ressurreição, e faz uma breve alusão castigos hereditários.

O mais interessante é o carácter do “corpo puro” atribuído por Josefo.

As versões inglesas muitas vertem por “pure” ou “chaste”, o que talvez oculte um significado alternativo do original grego ‘agnoj – “sagrado, santo, consagrado”.

No Corpus Flavianum, esta palavra aparece apenas mais quatro vezes além desta, todas em Antiguidades Judaicas:

Esta novilha foi sacrificada pelo sumo-sacerdote e seu sangue aspergido com o dedo dele sete vezes perante o tabernáculo de Deus;
depois disto, toda a novilha é queimada naquele estado, junto com sua pele e entranhas;

e atiraram madeira de cedro, e hissopo, e lã escarlate no meio do fogo; então um homem ‘agnoj ajuntou todas as suas cinzas e as pôs em local perfeitamente limpo.


Livro IV. Cap. IV, 6

E certamente esta legislação é cheia de sabedoria oculta e totalmente irrepreensível, como sendo a legislação de Deus;
razão pela qual é, como Hecateus de Abdera diz, que os poetas e historiadores não fazem menção dela, nem dos homens que levam suas vidas de acordo com ela, visto que é uma ‘agnhj lei.

XII, II, 6

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 09, 2012 9:07 am

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Havia um grande portão através do qual os que eram ‘agnoi entravam, junto com suas esposas;
mas a parte mais interior do templo naquele portão não era permitia às mulheres.

XV, XI, 5

Mas a nação dos Samaritanos não escapou sem tumulto.

O homem que os incitou a isto foi aquele que pensou que o ato de mentir é uma de pequenas consequências, e imaginou cada coisa para que a multidão pudesse ser agradada;
então os conclamou a se ajuntar no Monte Gerizim, que lhes é respeitado como a ‘agnotaton(*) de todas as montanhas...

XVIII, IV, 1.

(*) superlativo: a mais sagrada

Em cada uma delas, ‘agnoj é usado para dar um carácter distintivo de santidade-sacralidade e/ou pureza, logo Josefo estava falando de um corpo santo ou sagrado para uma vida melhor.

Tanto este corpo especial se faz necessário, pois, caso fosse um normal (ainda que sadio), não poderia ser um prémio aos justos, já que nas próprias palavras de Josefo:
“(...), pois é verdade que a alma, por estar unida ao corpo, fica sujeita a misérias, e não é libertada novamente disto senão pela morte (...)” (Contra Apion, II, 25).

Esta forma de retorno à vida atribuída aos fariseus por Josefo guarda similaridades com o que se chamaria “ressurreição”, na literatura rabínica e doutrina neo-testamentária do fariseu Paulo de Tarso.

Tanto Guerra Judaica III, VIII, e Contra Apion, II, possuem a expressão “ciclo(s) dos tempos, das coisas”.

Apesar de a tradução inglesa whistoniana colocar “ciclos” (plural) em “Guerra..”, em ambas as passagens o original grego é en/ec peritrophj, i.e., uma expressão singular.

O historiador Steve Mason, em sua obra Flavius Josephus:
on the Pharisees, assim comenta o uso flaviano do vocabulário grego:

Portanto o uso de peritrophj , peritrophw, e ec peritrophj em Josefo e outra literatura grega permite tanto a ideia de “revolução contínua” e a de “transformação súbita, inversão, ou sucessão”.

Mas o ec peritrophV de Josefo envolve o aiwnej.

Apesar de aiwn poder significar períodos de variável comprimento, de um período de vida a uma época, ele praticamente sempre tem o sentido de um concebível, determinado período de tempo.

E esta observação parece suportar a ideia de sucessão ou mudança para ec peritrophj, em vez de uma “revolução contínua”:
não que todos os éons de alguma forma façam um ciclo simultaneamente, mas sim que quanto uma era chega ao fim, a próxima começa.

Eu proponho, portanto, a tradução: “na sucessão (ou mudança) das eras”

Expressão análoga em Guerra Judaica VI, cap. V, onde narra a destruição do segundo templo:

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 09, 2012 9:07 am

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Então Tito recuou para dentro da torre Antónia e decidiu tomar de assalto o Templo no dia seguinte, no começo da manhã, com todo os seu exército, e acampar em torno da Santa Casa;
mas, com relação a esta Casa, Deus tinha determinado a muito tempo condená-la ao fogo;

e agora que o dia fatal chegara, de acordo com o ciclo dos tempo [cronwn periodioj]:
era o décimo dia do mês de Lous, [Av], sobre o qual ela fora anteriormente queimada pelo rei de Babilónia.
(...)

Esta data concorda com Jr 52:12 e discorda de 2 Rs 25:8 (que seria o sétima dia), o que importa é que Josefo lança e ideia de a destruição do segundo templo já estar definida para um plano “de acordo com o ciclo dos tempos”, sendo uma passagem (trágica) para o povo judeu.

Esta é uma última, porém suspeita, passagem de Josefo:

Este é o discurso sobre o Hades, onde as almas de todos os homens estão confinadas até a época adequada, que Deus determinou, quando ele fará a ressurreição de todos os homens dos mortos, não obtendo a transmigração de almas de um corpo para outro, mas erguendo novamente aqueles mesmos corpos, que vós gregos, vendo serem dissolvidos, não acreditam [em sua ressurreição].

Mas aprendei a não descrer dela;
pois embora acreditais que a alma é criada de acordo com a Doutrina de Platão, e apesar de ser feita imortal por Deus,(...), não sejais incrédulos;

mas acreditai que Deus é capaz, quando ergueu para a vida aquele corpo que foi feito como um composto dos mesmos elementos, de fazê-lo imortal;
já que não se deve dizer que Deus é capaz de realizar algumas coisas e incapaz de outras.


Temos, pois, acreditado que o corpo se erguerá novamente;
mesmo que esteja dissolvido, ele não pereceu;
pois a terra recebeu seus vestígios e preservou-os;

e embora eles sejam como semente e estejam misturados aos solo mais fértil, florescem, e o que foi semeado na verdade foi grão nu, mas ao poderoso som do Senhor o Criador, germinará e será erguido numa condição revestida e gloriosa, ainda que tenha sido dissolvido e misturado [com a terra].
(...)

Mas no que se refere aos injustos, eles receberão seus corpos não transformados, não libertos de suas doenças e desequilíbrios, nem feitos gloriosos, mas com as mesmas doenças de quando morreram;
e assim como eles estavam em sua descrença, assim estarão quando forem acuradamente julgados.
(...)

Discurso aos gregos sobre o Hades

Note que aqui há uma contradição com as passagens anteriores, agora com uma ressurreição universal, sendo a dos maus para o juízo, um tanto em contradição com os extractos anteriores.

O “Discurso aos gregos...” merece uma ressalva:
actualmente duvida-se que ele tenha sido realmente uma obra de Josefo.

Em suma, três são as características do Corpus Flavianum quanto ao pós-morte farisaico que o distinguem de uma doutrina de “transmigração de almas”:
(1) A volta ao corpo é uma recompensa, não uma punição, regeneração, aprendizado ou missão.

Em princípio, ela se daria apenas para os justos, tendo um paralelo flagrante com o pseudo-epígrafo 2 Mc 7:9, 14 “Tu, celerado, nos tiras desta vida presente.
Mas o Rei do mundo nos fará ressurgir para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis (...)

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 09, 2012 9:08 am

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É desejável passar para a outra vida às mãos dos homens, tendo da parte de Deus as esperanças de um dia ser ressuscitado por ele.
Mas a ti, ao contrário, não haverá ressurreição para a vida!”;[/i]

(2) a natureza do corpo futuro é distinta da do corpo anterior;

(3) a volta à vida é um clímax a se dar num mundo vindouro, estabelecido pelo uso do singular na narrativa, não algo cíclico.

A estadia no céu não é o ápice disto.

Na conclusão de Mason:

A forma de reencarnação atribuída aos fariseus por Josefo, portanto, suporta muitas similaridades com o que chamaríamos de ressurreição – uma doutrina farisaica bem atestada pela literatura rabínica e no Novo testamento.

Uma leve dificuldade surge, talvez, com o uso de Josefo do adjectivo ‘eteron [outro] para soma [corpo], que parece conflituar com a costumeira ideia judaica de que na ressurreição os “dos mortos” se reerguem.

Não se deve, porém, ler demais nisso, já que Josefo deixa claro que o novo corpo será diferente do antigo com respeito a sua “santidade” (cf. ‘agnoj) uma visão compartilhada em certo grau pelo ex-fariseu Paulo (I Cor 15:35 ss).

Em qualquer caso, não há nenhuma questão em Josefo quanto a repetidas mudanças de corpo humano (ou animal) para outro.

Fontes sobre Flávio Josefo:
The works of Flavius Josephus
Texto em inglês - grego do portal Perseus
Mason, Steve; Flavius Josephus – on the Pharisees, Brill Academic Publishers, 2001, cap. VI, pags. 156-170.

Notas:

1)
Mason reconhece o sentido de ’anabiow como sendo “ressuscitar”, dentro da obra josefiana (e inclusive 2 Macabeus 7:9), mas não aceita muito bem a evidência externa da literatura grega pagã.

Questiono um pouco isto, pois há vasta evidência externa.

Além do trecho de A República, de Platão, que relatei, há vários outros testemunhos disto, todos acessíveis no Portal Perseus, por exemplo:
Hípias Maior e Fédon, de Platão;
Descrição da Grécia, livro IV, cap. 19 e 26, de Pausarias;
Discurso I, secção 125 de Andrócides, e outros.

Uma coisa, porém, concordo com ele, muitos judeus ou judeu-cristãos ao escreverem em grego tomavam empréstimos do paganismo para expressar características própria de sua religião, o que torna um erro querer que certas expressões tenham seu significado pagão em textos neotestamentários ou pseudo-epígrafos.

Voltarei a isto em Tito 3:5.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 10, 2012 10:04 am

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2) Mason considera a ressurreição um tipo de reencarnação que se dá uma única vez.

Paulo pregou a ressurreição final em um "corpo incorrupto", distinto do actual e

Ora, se prega que Cristo ressuscitou dos mortos como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos?

Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou.
E se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé.

Acontece mesmo que somos falsas testemunhas de Deus, pois atestamos contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, quando de facto não ressuscitou, se é que mortos ressuscitam.

Pois, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.
E, se Cristo não ressuscitou, ilusória é a vossa fé;
ainda estais nos vossos pecados.

(1 Co 15.14-17).

Mas, dirá alguém, como ressuscitam os mortos?
Com que corpo voltam?
Insensato!

O que semeias não readquire vida a não ser que morra.
E se o que semeias não é o corpo da futura planta que deve nascer, mais um simples grão de trigo ou de qualquer outra espécie.

A seguir, Deus lhe dá corpo como quer;
a cada uma das sementes ele dá o corpo que lhe é próprio.

Nenhuma carne é igual às outras, mas uma é a carne dos homens, outra a carne dos quadrúpedes, outra a dos pássaros, outra a dos peixes.

Há corpos celestes e corpos terrestres.
São, porém, diversos os brilhos dos celestes e o brilho dos terrestres.

Um é o brilho do Sol, outro o brilho da Lua, e outro o brilho das estrelas.
E até de estrela para estrela há diferenças de brilho.

O mesmo se dá com a ressurreição dos mortos;
semeado corruptível, ressuscita incorruptível;
semeado desprezível, ressuscita reluzente de glória;

semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força;
semeado corpo psíquico, ressuscita corpo espiritual.


Se há um corpo psíquico, há também um corpo espiritual.

Assim está escrito:
o primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente;
o último Adão tornou-se espírito que dá a vida.


Primeiro foi feito não o que é espiritual, mas o que é psíquico;
o que é espiritual vem depois.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 10, 2012 10:05 am

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O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre.
O segundo homem vem do céu.

Qual foi o homem terrestre, tais são os homens celestes.
E assim como trouxemos a imagem do homem terrestre, assim traremos a imagem do homem celeste.

(I Co.15:35-49)

Ou seja, a ressurreição é ponto fundamental do cristianismo e se dará num corpo análogo ao de Cristo ressuscitado.
Em Génese (Gen), cap XV, 65, Kardec dá a ideia de que Jesus teria dois corpos: o carnal e o fluídico.

O primeiro foi sepultado e o segundo foi o que teria aparecido para os apóstolos.

É uma tentativa de fazer um paralelo entre o “corpo da ressurreição” com o perispírito, mesmo contradizendo as palavras do próprio Jesus ao afirmar:
"Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo;
apalpai-me e verificai, pois um espírito não tem carne e osso, como vedes que eu tenho"
(Lc 24.39).

Mesmo que fosse uma estrutura diferente, ainda seria tangível.

Vale lembrar que esta é a visão de Paulo de Tarso sobre o episódio da ressurreição.

A literatura patrística regista outras concepções:

- Clemente I (30 -100), bispo de Roma (na época não existia a denominação Papa) e possivelmente companheiro de Paulo em Filipos, comparou a ressurreição à lenda da Fénix, em sua carta aos coríntios, cap XXV - A Fénix, um emblema de nossa ressurreição:

Vamos considerar este maravilhoso sinal [de ressurreição] que acontece nas terras orientais, isto é, na Arábia e países adjacentes.

Há certo pássaro que é chamado Fénix.
Este é o único de sua espécie e vive quinhentos anos.

E quando o tempo de sua dissolução mostra que sua morte está próxima, constrói por si só um ninho de olíbano, mirra e outras especiarias, no qual, quando é chegada a hora, entra e morre.

Mas a medida que a carne se decompõe, um certo tipo de verme é produzido, que sendo alimentado pelos fluidos dos pássaros morto, produz penas.

Então, quando adquire força, ergue o ninho em que estão os ossos de seu pai e, carregando-os, vai da Arábia para o Egipto, para a cidade chamada Heliópolis.

E, num dia de céu limpo, voando à vista de todos os homens, deposita-os sobre o altar do sol, e feito isto, apressa-se em voltar à antiga residência.

Os sacerdotes, então, inspeccionam o registo das datas e descobrem que ele retornou exactamente ao quingentésimo ano ser completado.

- Justino Mártir (100-165):
Acreditava na ressurreição da carne, pois tinha uma visão tríplice do ser humano:
corpo, alma e espírito.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 10, 2012 10:05 am

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Em seu tratado sobre a ressurreição (*), cap. X:

A ressurreição é uma ressurreição da carne que morreu.
Visto que o espírito não morre, a alma está no corpo, e sem uma alma ele não pode viver.

O corpo, quando a alma o abandona, perece.
Visto que o corpo é a casa da alma e a alma é a casa do espírito.
Estes três, em todos aqueles que nutrem uma fé sincera e inquestionável em Deus, serão salvos.

Considerando, portanto, mesmo tais argumentos como são adequados a este mundo e descobrindo que, mesmo com tais argumentos, não é impossível que a carne seja regenerada;
e vendo que, além de todas estas provas, o Salvador em todo o Evangelho mostra que há salvação para a carne, por que não deixamos de aturar esses cépticos e perigosos argumentos e falhamos em ver que retrocedemos quando escutamos tais argumentos como se fossem:
a alma é imortal, mas o corpo é mortal e incapaz de ser redivivo?


(*) Só restam fragmentos deste tratado.
Não há certeza absoluta que são de sua autoria, mas há forte possibilidade de que sejam.


- Irineu de Lião (120? - 200?) segue a interpretação paulina de um corpo carnal incorrupto em seu “Contra as heresias”, livro V, cap VII:

Da mesma maneira que Cristo se ergue na substância da carne e assinalou para Seus discípulos a marcas dos cravos a abertura em seu lado [Jo 20,25] (agora estes são símbolos da carne que ascendeu dos mortos), então“Ele também irá”, diz [I Co 6], “nos ressuscitar pelo seu próprio poder”.

E mais uma vez diz aos romanos [Rom 8], “e se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos dará vida também aos vossos corpos mortais”.

Então o que são corpos mortais?
Seriam eles almas?


Não, visto que almas são incorpóreas quando postas em “comparação com corpos mortais;
pois Deus soprou na face do homem o sopro da vida e o homem se tornou alma vivente”.

Agora o sopro da vida é algo incorpóreo.
E certamente eles não podem manter aquele mesmo sopro da vida que é mortal. (...)

Nos devemos assim concluir que isto é em referência a carne cuja morte é mencionada;
que, depois da partida da alma, torna-se parada e inanimada e se decompõe gradualmente na terra de onde foi tirada.

Isto, então, é o que é mortal.
E é disto que ele também fala, “Ele dará vida a seus corpos mortais”.

E assim em referência a isto ele diz na primeira [epístola] aos coríntios:
“O mesmo se dá com a ressurreição dos mortos;
semeado corruptível, ressuscita incorruptível.”


Visto que declara,”O que semeias não readquire vida até que morra.”

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 11, 2012 11:05 am

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- Orígenes ( 182? - 252?)
É um dos mais controversos teólogos pré-nicénicos, utilizado, equivocadamente, por grupos esotéricos e espiritualistas para reforçar suas teses.

No “Analisando as Traduções Bíblicas”, cap. XVI, de Severino C. da Silva, 4ª ed., Ideia;
aparece a seguinte alusão a Orígenes:

O teólogo cristão primitivo, Orígenes de Alexandria, sugere uma versão diferente.

Ele defendia que haveria duas ressurreições, uma no final dos tempos e outra “do espírito, da vontade e da fé”, que poderia ocorrer durante a vida.

Este conceito apresenta a ressurreição como sinónimo de Reencarnação.

Orígenes também achava que o corpo da ressurreição era um corpo espiritual que não tinha nenhuma relação com o corpo mortal.

Severino C. da Silva dá como embasamento desta opinião a obra “Reencarnação: O Elo perdido do Cristianismo”, de Elizabeth Clare Prophet;
portanto não se baseou no original de Orígenes.

Sugiro uma leitura do tópico Os pais da Igreja para saber a verdadeira opinião de Orígenes quanto a “transmigração de almas”.

Por hora, deixemos o próprio Orígenes contar suas ideias quanto à ressurreição:
na obra De Principiis, livro II, cap X; ele também disserta sobre o enfoque de Paulo:

O quê então?

Se é certo que devemos fazer uso de corpos, e se os corpos caídos são declarados ter de erguer-se novamente (pois apenas o que caiu antes pode ter a adequada capacidade de se reerguer), não pode ser matéria de dúvida a ninguém que eles se erguem de novo para que sejamos revestidos com eles uma segunda vez na ressurreição.

Uma coisa está estreitamente relacionada com a outra.

Pois se corpos são erguido outra vez, sem dúvida eles se erguem para nos revestir;
e se nos é necessários ser investidos de corpos, como é certamente necessário, não devemos ser investidos com nenhum outro senão o nosso próprio.

Mas se é verdade que eles se reerguem e que ressuscitam como corpos “espirituais”, não pode haver dúvida que eles vêm do morto, após se livrarem da corrupção e posto de lado a mortalidade;
de outra forma pareceria vão e inútil a qualquer um ressuscitar dos mortos para morrer uma segunda vez.

E finalmente isto deve ser mais distintamente compreendido desta forma, se cuidadosamente se considerar quais são as qualidades de um corpo animal, que, quando semeado na terra, recupera as de um corpo espiritual.

Pois é de um corpo animal que o próprio poder e graça da ressurreição extraem o corpo espiritual, quando ele transmuta de uma condição indigna para uma de glória.

Pois é... não seria um novo corpo ou apenas o perispírito, mas o mesmo corpo transformado.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 11, 2012 11:05 am

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Analisando a “análise” de traduções

Já no ESE, cap IV;
aparece a ideia de que Jesus ensinou a reencarnação ao falar com Nicodemos (Jo 3.1-2) a respeito de que era preciso "nascer de novo".

Como para este a noção de reencarnação era estranha, perguntou com sarcasmo como era possível "nascer uma Segunda vez".

O motivo da confusão entre os dois seria, segundo modernos exegetas, o facto de no texto original grego o termo "de novo" ser traduzido por;
"anothen", que também pode ter o significado de "do alto".

O segredo é este:
Jesus referiu-se a "do alto" e Nicodemos entendeu "de novo".

O que Cristo se referia era ao renascimento espiritual, e não ao físico.

Há outros estudiosos que rejeitam esta análise, alegando não existir este duplo sentido em aramaico ou hebreu.

Então, qual o sentido original?
Não há (alguém me corrija, em caso de evolução no conhecimento) nenhuma versão evangelho de João em língua semítica mais antiga que a versão grega, e é controverso que tenha existido alguma.

Entretanto, o anónimo redactor do texto deixou transparecer que dominava tanto o idioma grego quanto os do ramo semítico (Chouraqui, A Bíblia – Johanam), podendo ter expresso seu raciocínio no primeiro idioma.

A Bíblia de Jerusalém na impressão de 1995 opta pelo termo “do alto”, sem nenhuma alusão a duplo sentido (apenas fala “melhor do que 'de novo'”).

A impressão de 1998 substitui anothen por “de novo” e critica a tese do jogo de palavras.

Versões siríacas (aramaico Peshitta) estão mais próximas ao idioma falado na antiga Judeia, embora sejam tidas como posteriores aos textos gregos.

Nelas, anothen é traduzido por re'sha (do hebreu ro'sh), que pode significar cabeça, topo, começo, princípio.

Assim, o sentido mais correcto aponta para “do alto”.
Há ainda o uso de anothen no mesmo capítulo, v. 31, com o sentido claro de "do alto”.

“Jo 3:31 Aquele que veio do alto está em cima de todos;
o que é da terra é terrestre e fala como terrestre.”


Nos versículos 28-29, a fala de Jesus remete explicitamente a crença na ressurreição dos fariseus:
“28- Não vos surpreendais com isto: a hora vem, em que todos os dos sepulcros ouvirão sua voz.

29- Os fazedores de bem sairão para um levantar de vida, os faltosos para um levantar de condenação.”

O livro “Analisando as traduções bíblicas”, de Severino Celestino da Silva (Ed. Ideias, 4ª edição), traz no cap. XVII uma análise desse episódio do evangelho de João com alguns dados chamativos.

Primeiro, ele se baseia numa versão hebraica dos versículos do cap. III.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 11, 2012 11:06 am

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O comentário dele é: “esta ambiguidade de entendimento só acontece na língua grega, porque no hebraico, que foi realmente a língua em que Jesus dialogou com Nicodemos, este problema não existe.”

á alguns “poréns” aqui.
As línguas realmente vivas da galileia romana eram o aramaico, o hebraico mishnaico e qumrâmico.

É provável que estes dois conhecessem o hebraico bíblico e a usassem no ensino, mas não seria sua língua materna.

E há ainda, como visto acima, uma possibilidade de um duplo sentido de outra ordem na língua siríaca aparentada ao aramaico.

Dúvidas sobre qual foi a idioma original da redacção existem e persistirão até que se descubra algum documento mais antigo que as versões gregas.

Se for o grego o original, é possível que a intenção tenha sido a de um trocadilho.

Também por causa desta indecisão quanto à fonte primeira, é de se indagar de onde Severino da Silva retirou a autoridade de sua versão hebraica.

Suponhamos ainda que “de novo” seria o sentido real das palavras.

Se Nicodemos deu uma de sonso e fingiu não saber o que Jesus dizia, qual seria o conhecimento que ele ocultava?
Um renascimento material da reencarnação ou uma regeneração espiritual?


Os defensores da primeira opção apontam para a gigul dos cabalistas, sem garantir se esta doutrina já existia àquela altura na ala mística do judaísmo.

Um relato de Orígenes em seu Comentário sobre o Evangelho de João, livro VI, cap VII;
dá a entender que este acréscimo foi posterior.

Se a doutrina [da transmigração] fosse largamente corrente, não deveria João ter hesitado em se pronunciar sobre isto, com receio de sua alma ter realmente estado em Elias?

E aqui nosso fiel apelará para a história e dirá a seus antagonistas para perguntarem aos mestres nas doutrinas secretas dos hebreus se eles na verdade sustentam tal crença.

Como parece que eles não sustentam, então o argumento baseado nesta suposição se mostra muito desprovido de fundamento.

Leon Denis afirma que Flávio Josefo informou da reencarnação entre as doutrinas farisaicas e relata nas nota complementar num. 5 de seu “Cristianismo e Espiritismo”, além disso, uma declaração do beneditino Dom Calmet dizendo que “muitos doutores judeus acreditam que as almas de Adão, Abraão, de Fineas, animaram sucessivamente vários homens de sua nação...”.

Denis não disse exactamente onde a reencarnação se encontra na obra de Josefo e, se forem os mesmos trechos apresentado em Reencarnação X Ressurreição, ele se referiu à ressurreição.

Na obra de Calmet, o verbo está no presente, será que ele se referia a sábios judeus contemporâneos ou aos do primeiro século?
Pouco esclarecedor.

Continuando a leitura a fim de elucidar um pouco a questão, Vejamos como “Analisando...” trata os outros versículos:

“Na sequência, Cristo confirma que era isso que Ele queria dizer [reencarnação]:
'Quem não nascer de água (materialmente, com o corpo denso, dado que o nascimento físico é feito através da bolsa d'água do líquido amniótico), (...) e de espírito (pneumatos), (ou seja, que adquirira nova personalidade no mundo terreno, em cada nova existência, a fim de progredir).

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 12, 2012 10:31 am

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Se Nicodemos entendeu ao pé da letra as palavras de Jesus, o Mestre confirma ao pé da letra e reforça o seu ensino.

Com efeito, o espírito ao reentrar na vida física, pode ser considerado o mesmo espírito que inicia suas experiências, esquecido de todo o passado.'
[grifo do autor]

A questão gramatical:
No texto em grego não há artigo diante das palavras 'água' (ek ydatos = de água) e 'espírito' (kai pneumatos), portanto, o texto fala em nascer 'de água e de espírito'.

Não é portanto, nascer da água do baptismo, nem do espírito, mas de água (por meio da reencarnação) e de espírito (pela Reencarnação do espírito).”

Agora será muito estranho o que vou dizer:
a tradução em português que usa do artigo (“da água e do espírito”) é a mais correcta!

Bem, acho que o leitor deve estar se perguntando porquê?
Para entender, vamos ter de entrar em certas particularidades do grego.

Coisa que Severino da Silva não realçou é que a preposição “ek/ex” (e sua equivalente latina “ex”) não tem o sentido simples de nosso “de”.

O mais preciso seria:
de dentro para fora (no espaço e no tempo), a partir de, de, origem, ponto de partida, de iniciativa.

Exemplos:

ek qalatthj - do mar. [a partir do mar]
ek paidwn - desde a infância. [a partir da infância]
ek cruswn pivomen jialwn - [Nós bebemos de taças de ouro.]
oi ex ekeinwn gegonotej - [os que nasceram deles]

Exemplos retirados de “Língua Grega”, de Henrique Muracho, Ed. Vozes, 2ª ed., págs. 563-565.

Note que em alguns exemplos, o artigo inexiste em grego, mas se faz necessário em português para dar a ideia de origem, como se fez em “da água” e “do espírito”, e não o uso deles como um veículo.

Vale lembrar que várias palavras e, principalmente, sentenças de sentido geral não costumam levar artigo em grego:
mar, cidade, céu, dia, sol (lista retirada de “Gramática grega”, de António Freire, Ed. Martin Fontes, parte III, cap III).

Não houve nenhuma garantia que um uso sem artigo (anartro) da palavra “água” foi feito, que teria causado uma ausência também em “espírito”.

Tanto que quando a esta aparece sozinha, ela tem artigo;
coisa que Severino da Silva explicitou alguns parágrafos adiante:
“'e o que nasce do espírito (ek tou pneumatos) é espírito', ou seja, o espírito que reencarna provém do espírito da última reencarnação com toda a hereditariedade pessoal (cármica) que traz do passado.”


Só que ele passa por cima deste contraste gramatical... nem explicita que a tradução mais ao pé da letra de pneuma é “sopro” e ela não tinha o sentido de “alma” que ganhou com o tempo.

Tanto que em textos de Justino Mártir e Orígenes (ver Reencarnação X Ressurreição e Os padres da Igreja) é clara a distinção entre alma e espírito.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 12, 2012 10:31 am

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Moral da história, a tradução do grego é feito com um pensamento em português, um “portugrego”.

E no próprio Novo Testamento há exemplos de expressões preposicionadas (com “ek” e outras), de sentido definido, que não levam artigo em grego:

en arch - no princípio (Jo 1:1)
ap’arwchj - desde o princípio (Mt 19:4)
ek dexiwn - à direita (Mc 10:37)
ex arioterwn - à esquerda (Mc 10:37)
ek nekrwn - dentre os mortos (Mt 17:9)
en pneumati - no espírito (Ef 6:18)

Severino da Silva também rejeita a interpretação de regeneração espiritual dada simbolizada pela água (expressa muitas vezes como o baptismo).

“Se o Cristo falava realmente do baptismo para Nicodemos, por que não o convidou a se baptizar?
E por que o próprio Cristo não o baptizou?


Leia que em João 4:2 que Cristo não baptizava, mas quem baptizava eram os discípulos.”

Bem, olhando também o versículo 4:2 e seu anterior:
“Quando Jesus soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele fazia mais discípulos e baptizava mais que João – ainda que, de facto, Jesus mesmo não baptizasse, mas os seus discípulos”

ou em Chouraqui:

“O Âdon sabe que os Peroushîms ouviram:
'Iéshoua atrai e imerge mais adeptos que Iohanam'.
Se bem que, na verdade, Iéshoua não imerge, mas o faz através de seus adeptos.”


Ah! E ele também indaga por que após as curas, não havia um convite ao baptismo.
De certa forma, a resposta ele mesmo cita: esta era tarefa dos discípulos (dãããã!!).

E a pergunta pode ser devolvida:
se o baptismo não era importante, nem como símbolo de arrependimento, então por que Cristo não repreendeu seus adeptos para que parassem com isto ou... por que ele mesmo se deixou baptizar?

Que também se leia no capítulo anterior (Jo 3:22) que Jesus “vai para a terra de Iehouda.
Permanece lá com eles e imerge”.

Só no cap. IV é explicado que esta tarefa era delegada.

Note que o baptismo não era um convite, mas símbolo de um arrependimento sincero e desejo de nova vida através dos ensinamentos.

De nada adiantaria convidar Nicodemos se ele não tivesse tais sentimentos.

Ressalta-se que o ritual do baptismo não foi uma invenção do catolicismo já constituído, mas devia ser realmente comum no cristianismo primitivo, cuja importância, simbólica ou concreta, variava entre as correntes dos séc. I-II.

Neste mesmo capítulo, Severino da Silva cita Champlim:
“Também sabemos que, de maneira, limitada, alguns dos pais da igreja, como Orígenes, Justino Mártir e Clemente eram defensores dessa doutrina [transmigração das almas].”

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 12, 2012 10:31 am

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Sugiro uma lida na secção sobre os padres da igreja.

Já que ele tocou em Justino Mártir, vejamos o que ele achava:

“Pois Cristo, sendo o primeiro a nascer de todas as criaturas, tornou-se novamente o chefe de outra raça regenerada pelo próprio através da água, da fé e da madeira, contida no mistério da cruz;
assim como Noé foi salvo pela madeira quando navegou pelas águas com os membros de sua casa”


Diálogo com Trifão, cap CXXXVIII – Noé é a imagem de Cristo, que nos regenerou pela água, pela fé e pela madeira.

Antes que alguém reclame que “baptismo” não é explicitamente citado aqui, a palavra aparece dez vezes nesse documento.

Bem, se isto não convenceu, há um estudo de Justino Mártir sobre o baptismo em que aparece uma sentença muito próxima a Jo 3:5

“Tanto quanto são persuadidos e acreditam que o que ensinamos e falamos é verdade, e se comprometem a serem capazes de viver conforme, são instruídos a orar e implorar a Deus com o jejum pela remissão de seus pecados passados, nós oramos e jejuamos com eles.

Então são trazidos por nós para onde existe água e são regenerados da mesma maneira que nos regeneramos.

Posto que em nome de Deus, o Pai e Senhor do Universo, e de nossos Salvador Jesus Cristo, e do Espírito Santo, eles então recebem a lavagem com água.

Pois Cristo também disse, 'A não ser que renascerdes, não entrareis no reino dos céus'.

Agora, é evidente para todos que é impossível para os que já nasceram entrar no ventre de suas mães.

E a maneira como os que pecaram e se arrependeram escaparão de seus pecados é declarada por Isaías, o profeta, como escrevi acima, ele assim fala: 'Lavai-vos, purificai-vos, tirai vossas más acções de vossas almas;
aprendei a fazer o bem, fazei justiça ao órfão e defendei a causa da viúva:
e vinde e vamos discutir, diz o Senhor.


Mesmo que seus pecados sejam como escarlate, torná-los-ei alvos como a lã; e mesmo que sejam como carmesim, torná-los-ei alvos como a neve.

Mas se recusardes e vos rebelardes, a espadas vos devorará:
assim a boca do Senhor falou.' [ver Is 1-16:20]

E por esta razão aprendemos este [rito, sacramento] dos apóstolos.

Já que na ocasião de nosso parto, nascemos sem nosso conhecimento ou escolha, pela união de nossos pais, e somos criados em meio a maus hábitos e educação ímpia;
a fim de que não possamos permanecer como filhos da necessidade e da ignorância, mas que possamos nos tornar filhos da escolha e do conhecimento e obtenhamos na água a remissão dos pecados anteriormente cometidos, é pronunciado sobre o que escolheu renascer e se arrependeu de seus pecados, o nome de Deus, o Pai e Senhor do universo.”

Eu disse quase igual a Jo 3:5, pois o termo utilizado é “anagennhdaV” (renascerdes).

A questão aqui é que este trecho é acompanhado de explicações bem menos metafóricas que o Evangelho de João.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 13, 2012 9:35 am

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Incluindo uma alusão indirecta a pergunta que Nicodemos fez a partir de sua Ingénua (ou sonsa) interpretação literal.

Agora, o que Nicodemos ignorou?
Uma doutrina de reencarnação, cuja presença é duvidosa entre o judeus da época (ver exemplos acima e Reencarnação e o Velho Testamento), incluindo a ala mística, ou uma referência à ideia de regeneração, renovação espiritual, purificação.

O mais irónico de tudo é que um teólogo da igreja primitiva e suposto defensor de uma versão “limitada” de reencarnação perdeu uma grande oportunidade de explicar “renascer” como “reencarnar”.

No AT e na transição do judaísmo para o cristianismo, fórmulas de pureza ritual e espiritual também podem ser encontradas, por exemplo:
“porque derramei água sobre o solo sedento e correntes de água sobre a terra seca.

Derramei o meu espírito sobre a tua raça e a minha bênção sobre os teus descendentes”


(isa 44:3)

“Borrifarei água sobre vós e ficareis puros; sim, purificar-vos-ei de todas as vossas imundícies e de todos os vosso ídolos imundos.

Dar-vos-ei um coração novo, porei no vosso íntimo um espírito novo, tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne”


(ez 36:25-26)

"Pois que homem conhecerá o conselho de Deus?
Ou quem conceberá que o Senhor deseja?

Pois os pensamentos de um mortal são timoratos e nossos artifícios estão inclinados a falhar.

Pois um corpo corruptível se abre sobre a alma, e a moldura terrena pesa na mente cheia de cuidados.

E nós mal adivinhamos coisas que estão na terra, e as coisas que estão próximas à mão encontramos com trabalho, mas as coisas que estão no céu, quem já as determinou?

E quem já obteve conhecimento de Teu desígnio, excepto Tu deste sabedoria e enviaste Teu Espírito Santo do alto?


E foi assim que os caminhos daqueles que estão na terra foram tornados perfeitos, e aos homens foram ensinadas as coisas que são agradáveis a Ti."

(Sb 9:13-18)

Agora, textos qumrânicos, onde a pureza moral se faz necessária para a ritual:

Impuro, impuro ele será todos os dias que rejeitar as ordenações de Deus (...).

Mas pelo espírito do verdadeiro conselho para os hábitos do homem, todas as iniquidades serão expiadas, de modo que ele olhará a luz da vida, e pelo espírito da santidade que o unirá em sua verdade ele será purificado de todas as suas iniquidades;

e pelo espírito da probidade e da brandura seu pecado será expiado, e pela submissão de sua alma a todos os estatutos de Deus sua carne será purificada, para que ele possa ser aspergido com água para a impureza e santificar-se com a água da purificação.

(1QS – III, 5-9)

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 13, 2012 9:35 am

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Não os deixes entrar na água para tocar a pureza dos homens da Santidade, pois eles não serão purificados a menos que tenham se arrependido de sua maldade.

(1QS – V, 13-14)

E então Deus seleccionará os feitos do homem, e purificará por Si o corpo do homem consumindo cada espírito do mal nos tecidos de sua carne e purificando-o com o Espírito Santo de todos os seus feitos maus.

E lançará sobre ele o Espírito da Verdade, como água para impureza, por causa de todas as abominações de falsidade e por chafurdar no espírito da impureza.


(1QS – IV, 20-22)

Agradeço a ti, ó Senhor, por me apoiares com Tua força.
Derramaste Teu Espírito Santo sobre mim para que eu não tropece.


(1QH -VII, 7)

E sei que o homem não é recto a não ser através de Ti, e por isso Te imploro, pelo espírito que Tu me deste, que aumentes Tuas [benevolências] para com Teu servo [para sempre], purificando-me pelo Teu Espírito Santo, e aproximando-me de Ti pela Tua graça conforme a abundância de Tuas benesses (...)

(1QH XVI)

Alguns Pais do período sub-apostólico tiveram uma postura mais radical quanto ao baptismo:

Vamos em seguida questionar se o Senhor tomou algum cuidado em predizer sobre a água [do baptismo] e a cruz.

No que se refere a água, de facto, está escrito, no que se refere aos israelitas, que eles não receberiam o baptismo que leva à remissão dos pecados, mas construiriam outro por conta própria.

O profeta assim declara, “Espantai-vos disso, ó céus, horrorizai-vos e abalai-vos a terra, porque este povo cometeu dois crimes:
Eles abandonaram a mim - a fonte viva da água - para cavar para si cisternas quebradas.
(Jr, 2:12-13)

É meu sagrado Monte Sinai uma rocha desolada?
Pois sereis a ninhada de uma ave que vai embora quando o ninho é removido.“
(cf. Is 16:1-2).

E outra vez diz o profeta, “Eu mesmo irei na tua frente e aplainarei lugares montanhosos, e arrebentarei portas de bronze, e despedaçarei as barras de ferro, e dar-te-ei tesouros secretos, ocultos, invisíveis, a fim de que saibam que Eu sou o Senhor Deus.” (cf. Is 45:2-3).

E “Ele se refugiará numa elevada caverna de sólida rocha.”
Além disso, o que Ele disse com relação a Seu Filho?
“Sua água será garantida.
Verás o Rei em sua glória e sua alma meditará sobre o temor ao Senhor”
(cf. Is 33:16-18).

E ainda Ele diz por outro profeta, “o homem que faz estas coisas será como árvore plantada junto d'água corrente;
dará fruto na estação devida e suas flores nunca murcharão;
tudo o que ele fizer será bem sucedido.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 13, 2012 9:37 am

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Nem são assim os ímpios, não são, mas [/i][são] como a poeira que o vento varre da face da terra.
Por isso o ímpios não se levantarão no Julgamento, nem os pecadores no conselho dos justos, pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas caminho dos ímpios irá parecer.”
(cf. Sl 1:3-6).

Repare como Ele descreve de uma só vez a água e a cruz (madeira).

Pois estas palavras implicam:
“Abençoados sejam aqueles que, colocando sua esperança na cruz, mergulharam na água;
pois, diz Ele, eles receberão sua recompensa no tempo devido.”


Então declara, “Eu os recompensarei.”
Mas por agora diz: “suas folhas não murcharão.”

Isto significa que cada palavra procedente de tua boca na fé e no amor trará a conversão e a esperança para muitos. (...)

Em seguida, o que fala Ele?
“E havia um rio correndo à direita, e dele cresciam belas árvores, e qualquer um que comer delas viverá para sempre.”


O que significa que mergulhamos realmente na água cheios de pecados e corrupção, mas imergimos portando frutos no coração, tendo o temor [a Deus] e a esperança em Cristo em nosso espírito.

Epístola de Barnabé, cap XI – O baptismo e a cruz prenunciados no Velho Testamento.

“Senhor, ouvi de certos professores que não há outro arrependimento além daquele que ocorre quando nos submergimos na água e recebemos a exoneração de nossos erros anteriores.”

E ele [o pastor] respondeu, “ouviste correctamente, pois este é o caso.
Pois aquele que recebeu a remoção de seus erros jamais deve errar novamente, mas viver na pureza.

Mas desde que és tão meticuloso sobre tudo em tuas buscas, te mostrarei também isto, para não dar espaço a desculpas para aqueles que acreditarem em alguma época futura, ou para aqueles que começaram a acreditar há pouco tempo no Senhor.”
(...)

Carta do Pastor, de Hermas, III Mandamento.

As comparações de Barnabé podem até parecer forçadas, devido ao uso e abuso do estilo metafórico, e seu “público alvo” eram os judeus da época.

O importante é que este documento é antigo, com a data estimada entre os reinados de Trajano e Adriano (começo do século II).

Seu provável autor não foi o St. Barnabé dos católicos, mas um expositor judeu-cristão de Alexandria.

A Carta do Pastor (ou Livro do Pastor ou até Evangelho de Hermas) também é um texto judeu-cristão do início do séc. II que chegou a gozar de grande prestígio e quase entrou no cânon(*).

A crença da renovação pela água já aparece desde cedo, mas para estes autores é ela que determina o estado moral e não o contrário.

O ensino das epístolas canónicas, porém, é mais moderado, não havendo esta necessidade absoluta (I cor 1:14-17:
”Dou graças a Deus que a nenhum de vós baptizei, senão a Crispo e a Gaio;
para que ninguém diga que fostes baptizados em meu nome.

É verdade, baptizei também a família de Estéfanas, além destes, não sei se baptizei algum outro.
Porque Cristo não me enviou para baptizar, mas para pregar o evangelho;
não em sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo.
”).

Mas parece que seu aspecto simbólico ainda persistiu, sendo que em algumas passagens relacionadas ao baptismo, a ideia surge no sentido de pureza moral

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 14, 2012 9:39 am

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(I cor 6:11: “Mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espíritos de nosso Deus” e Ef 5:25-26:
“E vós, maridos, amai vossas esposas, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra (...)”).

Por outro lado, uma fórmula ritualística é usada por Hb 10:22:
"Cheguemos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa".

O autor da Epístola fez uso dessa fórmula porque ela era tradicional, embora ele fosse oposto às "diversas abluções" (Hb 9:9-10) dos judeus que, segundo ele, pertencem à categoria das "ordenações carnais" e "não podem fazer o venerador perfeito quanto à sua consciência" (idem).

Portanto, não é surpresa que I Pedro (3:21), quando fala do baptismo em termos semelhantes a Hebreus 10:22, aceite a noção de consciência purificada, mas rejeite com toda a ênfase a noção do corpo purificado:
o baptismo "não é a remoção da imundície da carne, mas a resposta de uma boa consciência para Deus."

Há ainda uma versão esotérica do baptismo desenvolvida pelos gnósticos, mas que não tem nada a ver com reencarnação.

A historiadora Elaine Pagels assim descreve o renascer do Evangelho de Felipe

Mas ao contrário de Justino [o mesmo citado acima] ou de qualquer escritor cristão inicial que eu conheça, em seguida, Felipe pergunta “O que acontece - ou não acontece -” quando uma pessoa recebe o baptismo?
É o mesmo para todos?


Felipe sugere que não.
Há muita gente, diz ele, para quem o baptismo simplesmente assinala a iniciação.
Um indivíduo desses "entra na água e sai sem ter recebido nada e diz 'Sou cristão'."(1).

Às vezes, porém, prossegue Felipe, a pessoa baptizada "recebe" o Espírito Santo (...) que é o que acontece quando se experimenta um mistério".(2)

O que faz a diferença envolve não só a dádiva misteriosa da graça divina, mas também a capacidade de compreensão espiritual do iniciado.

Assim, escreve Felipe, repetindo a carta de Paulo aos gálatas, muitos crentes se vêem mais como escravos do que como filhos de Deus;
mais os baptizados, qual bebés recém-nascidos, destinam-se a crescer na fé rumo à esperança, ao amor e à compreensão (gnose):

“A fé é a nossa terra, na qual criamos raízes;
a esperança é a água que nos nutre;
o amor é o ar com que crescemos;
a gnose é a luz com que nos tornamos plenamente desenvolvidos.
(3)”

Quem inicialmente professa a fé no nascimento virgem pode, mais tarde, atingir uma compreensão diferente do que isso significa, explica ele.

Muitos crentes continuam a interpretá-lo literalmente, como se Maria tivesse concebido sem José;
"alguns dizem que maria concebeu através do Espírito Santo", mas "estão errados"(4), diz Felipe.

Pois o "nascimento virgem" não é algo que aconteceu uma vez a Jesus;
refere-se ao que pode acontecer a qualquer um que seja baptizado e "renascido" por meio de uma "virgem que desce", ou seja, do Espírito Santo(5).

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 14, 2012 9:39 am

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Assim como Jesus nasceu “espiritualmente” quando o Espírito Santo desceu sobre ele em seu baptismo, também nós, que primeiro nascemos fisicamente, podemos "renascer por meio do Espírito Santo" no baptismo, de modo que "ao nos tornarmos cristãos, passamos a ter um pai e uma mãe", (6)ou seja, o Pai celestial e o Espírito Santo.(...)

Elaine Pagels, Além de toda crença, ed. Objectiva, cap IV.

(1)Evangelho de Felipe, 64.22-26

(2)Ibidem, 64.29-31
(3)Ibidem 79.25-31
(4)Ibidem 55.23-24
(5)Ibidem 71.3-15

É Interessante observar o sentido totalmente novo que o autor valentiano do evangelho de Felipe deu ao “renascer”:
nem baptismo, nem reencarnação;
deixando claro que este dilema entre reencarnação versus baptismo na conversa com Nicodemos é, no mínimo, falso.


Outros entendimentos são possíveis e quem seria o “dono da verdade” para dizer que sabe o que é?

Ritualístico ou alegórico, meio de regeneração ou consequência dela, ortodoxo ou místico, o baptismo e, principalmente, suas fórmulas relacionadas estavam disseminados na cultura palestina e cristã do século I.

É bem plausível aceitar que o autor do evangelho de João fizesse uso delas.

Para saber mais:
Flusser, David; O Judaísmo e as origens do cristianismo, ed. Imago, cap III: “A seita do Mar Morto e o cristianismo pré-paulínico”.

Pagels, Elaine; Além de toda crença, ed. Objectiva.

Gospel of Philip

(*)Antes que reclamem por eu estar usando literatura patrística, Léon Dennis elogia o mesmo Livro de Hermas em seu “Cristianismo e espiritismo”, cap. V: “era lido nas igrejas, como o são actualmente os Evangelhos e as Epístolas, até o século V.
São Clemente de Alexandria e Orígenes a ele se referem com respeito.(...)”.

Interessante que ele diz que o livro explica como “distinguir os bons dos maus espíritos”, mas não dá nenhuma indicação sobre em qual parte da obra esta passagem se encontra.

Alguém sabe?

Outra tradução controvertida é a que Severino da Silva faz de Tito 3:4-5 (mesmo capítulo da anterior).

Paulo, em sua epístola a Tito 3:4-5, interpreta bem esta citação do Cristo:
'Mas quando apareceu a vontade de Deus, nosso salvador;
e seu amor para com os homens, não por obras de justiça que tivéssemos feito, mas segundo sua misericórdia nos salvou pelo lavatório da reencarnação, e pelo renascimento de um espírito santo'.


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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 14, 2012 9:40 am

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Aqui, Paulo deixa bem claro que Deus nos salvou não porque o tivéssemos merecido, mas por Sua misericórdia, servindo-se da reencarnação a qual é um 'lavatório' (de água) e um 'renascimento do espírito'.

A palavra grega do texto a que se refere Paulo é paliggenesiaV 'Palingenesia' – isto é , 'renascimento', 'Novo Nascimento', REENCARNAÇÃO.

Bem arrumadinho esse argumento, né?
Um momento... ué... se uma das máximas espíritas é “fora da caridade não há salvação”, então como esta própria passagem afirma que as obras têm pouco valor na misericórdia divina?

O mais interessante ainda aparece nos versículos seguintes:

que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador a fim de que, justificados por graça [misericórdia], nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.

Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras.

Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens.

Tito 3:6-8

Ele até diz que devemos ser “solícitos na prática de boas obras”, mas o que salta aos olhos é “somos justificados por graça”.

Severino C. da Silva forçou a barra da reencarnação em um texto salvacionista!!!
Analisou uma palavra e desviou a atenção do leitor para o contexto!!!
Ah! É bom que se diga que a palavra “lavatório” não existe no original grego.

Lá se lê loutron: “lavagem, banho” (loutron declinada para loutrou, em gen-abl), mas não loutrôn (loutrwn, cujo gen-abl seria loutrwnoj).

E quanto ao sentido de Palingenesia?
De facto, ela pode significar reencarnação, como é atestado no diálogo de Menão
(palin gignesthai), mas como eram os demais usos dado a esta palavra?

Quem define o significado de uma palavra é quem a usa, não os dicionários, que apenas registam seus diversos usos.

O panorama, seja do texto ou social, é o que nos dá noção do real significado, do contrário temos uma inversão de raciocínio:
em vez de analisar o texto para determinar se a realidade dos primeiros leitores possibilitava a presença da reencarnação em seu credo e a partir daí traduzir conforme seus conceitos, arbitra-se a existência dela no credo e a tradução é feita conforme tal pré-julgamento.

Portanto, passemos à análise dos diversos valores que “palingenesia” pode assumir.
Ela só aparece mais uma vez na Bíblia em Mt 19:28:

Jesus lhes respondeu:
Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, no tempo da regeneração, o Filho do Homem e assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel.

O de ihsouj eipen autoij amhn legw umin oti umeij oi akolouqhsantej moi en th paliggenesia otan kaqish o uioj tou anqrwpou epi qronou doxhj autou kaqhsesqe kai umeij epi dwdeka qronouj krinontej taj dwdeka fulaj tou israhl

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 15, 2012 9:27 am

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O versículo se relaciona directamente com o sentido escatológico do fim dos tempos.
Este sentido “escatológico” aparece também na literatura pagã, em especial entre os filósofos estóicos.
Fazia parte da doutrina dessa corrente, entre outras coisas, a crença em diversos ciclos nos quais o universo seria renovado.

Assim escreveu o imperador romano Marco Aurélio em suas “Meditações”, livro XI, 1

Eti de periercetai ton ‘olon kosmon kai to peri auton kenon kai to schma autou kai eij thn apeirian tou aiwnoj ekteinetai kai thn periodikhn paliggenesian twn ‘olwn emperilambanei kai perinoei kai qewrei ‘oti ouden newteron oyontai oi meq’hmaj oude perittoteron eidon oi pro ‘hmwn, alla tropon tina ‘o tessarakountouthj, ean noun ‘oposonoun echi, panta ta gegonota kai ta esomena ‘ewrake kata to ‘omoeidej.

E além disso, ela [a alma racional] percorre todo o universo e o vácuo circundante, e analisa sua forma, e se estende para o infinito de tempo, e abarca e compreende a periódica renovação do universo, e entende que os que virão após nós não verão nada novo, nem os que vieram antes viram algo mais, mas de certo modo, o quarentão, ainda que não tenha discernimento, viu tudo o que foi e o que será, em virtude da similaridade das coisas.

Sentido escatológico similar é o que deve ser entendido em (Mt. 19:28).

Em outras partes não-bíblicas da literatura judaico-cristã é possível “palingenesia” significando “regeneração”, “restauração”:

“Agora que Zorobadel obtivera estas concessões do rei, ele saiu do palácio e, olhando para o céu, começou a render graças a Deus pela sabedoria que lhe dera e a vitória que tivera com isso, mesmo na presença do próprio Dário;
visto que, disse ele,'Eu não tinha me julgado merecedor destas vantagens, ó Senhor, a menos que tivesses sido favorável a mim'.

Então, quando já agradecera a Deus pelas presentes circunstâncias em que se achava e orara para que ele lhe proporcionasse como um favor o tempo vindouro, voltou para Babilónia e trouxe as boas novas sobre as concessões que conseguira do rei a seus compatriotas;
que, assim que ouviram o mesmo, também deram graças a Deus que mais uma vez restaurou a eles a terra de seus antepassados.

Então puseram-se a beber e comer, e por sete dias continuaram festejando, e mantiveram uma celebração pela reconstrução e restauração de seu país.”
[kai palingenesian tês patridos heortazontes]

Extraído de Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas XI, 9.
Uma passagem que relata o fim do cativeiro de Babilónia e retorno dos judeus a sua terra, após a tomada deste reino pelos persas de Dário.

Fontes grego-latinas disponíveis em Antiquitates Judaicae

Portanto, vamos render graças a Sua excelsa e gloriosa vontade;
e implorando Sua misericórdia e bondade amorosa, enquanto deixamos todas as tarefas infrutíferas, e disputa, e inveja que leva a morte, vamos nos voltar a Sua compaixão e se valer dela.

Vamos contemplar continuamente os que ministraram perfeitamente para Sua excelsa glória.

Tomemos (por exemplo) Enoque, que, sendo reconhecido virtuoso em obediência, foi arrebatado e nunca foi sua morte registada.

Noé, sendo reconhecido fiel, pregou a regeneração (palinggenesian) do mundo através de seu ministério;
e o Senhor salvou através dele os animais que, harmoniosamente, entraram na arca.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 15, 2012 9:27 am

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I Carta de Clemente de Roma aos Coríntios, cap. IX

Em grego

Não só o universo, o mundo ou nações podem sofrer um processo de “palingenesia”.

Pessoas também podem sofrê-lo e ainda em vida.

Diz-nos isso Cícero, em sua colectânea de cartas a seu amigo Ático, mais especificamente a carta 6 do livro VI:

Amicorum litterae me ad triumphum vocant, rem a nobis, ut ego arbitror, propter hanc palingenesian nostram non neglegendam.
Qua re tu quoque, mi Attice, incipe id cupere quo nos minus inepti videamur.


As cartas de meus amigos me convidam ao triunfo, uma coisa, em minha opinião, que não devo negligenciar em vista de minha restauração,
Por isso, meu [caro] Ático, que tu também comeces a desejá-lo para que eu pareça menos tolo.

Na tradução foram desfeitos os plurais de modéstia comuns na pena de Cícero.

As circunstâncias da carta representam o fim do proconsulado de Cícero na província da Cilícia, ao sul da actual Turquia.

Fora a contragosto devido a um sistema de sorteio entre os magistrados e governou de 51 a 50 a.C., tendo se preparado para possível invasão os partos (que acabou ocorrendo na Síria, mas foram repelidos) e feito pequena campanha contra tribos ainda bárbaras.

Aparenta ter feito bom governo, ainda mais quando comparado com a rapinagem praticada pelos demais governadores romanos.
Foi-lhe decretado um triunfo por suas vitórias na ocasião de seu retorno à Itália.

Cícero considerou seu retorno triunfal uma nova etapa de sua vida, adoptando a palavra “palingenesia” para defini-la e traduzida por certo erudito inglês como “ressuscitação de minha reputação”.

Essa “palingenesia” em vida é a que melhor define a ideia contida em Tito 3:5, em especial pela mudança de comportamento apresentada nos versículos que antecedem:

Lembra-lhes que devem ser submissos aos magistrados e às autoridades, que devem ser obedientes e estar sempre prontos para qualquer trabalho honesto, que não devem difamar a ninguém, nem andar brigando, mas sejam cavalheiros e delicados para com todos.

Porque também nós antigamente éramos insensatos, desobedientes, extraviados, escravos de toda sorte de paixões e de prazeres, vivendo em malícias e inveja, odiosos e odiando uns aos outros.

Confrontando 3:1-3 com 3:6-8, fica claro que, para o autor de Tito, a mudança foi operada externamente por meio da graça.

Se a plateia é composta de um grupo de prosélitos (o mais comum num cristianismo nascente), pouco sentido faz falar em reencarnação, pois experimentaram a mudança em vida.

Aqui, o sentido de “palingenesia” está mais para o de Cícero que o de Platão, e mais conforme com a pregação paulínica.

Talvez haja um fenómeno que já ocorreu antes, na transição do judaísmo para o cristianismo: a releitura.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 15, 2012 9:27 am

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Passagens de um tipo de exegese estão sendo ressignificadas para outra. Quando os tradutores da LXX usaram a palavra "parthenos" em Is 7:14:
"a jovem conceberá um filho", eles usaram uma palavra que podia abarcar pelo menos três sentidos: “virgem”, “menina” e “mulher jovem”.

Como observou Geza Vermes, o judaísmo do Segundo Templo possuía uma grande fluidez em seu conceito de “virgindade”:
inexperiência sexual, ser ainda impúbere, ter concebido e dado filhos sem menstruação anterior, e o estado de pós-menopausa de da esposa de Abraão, como uma mulher que se tornara virgem pela segunda vez (segundo Filo de Alexandria).

O que o cristianismo fez foi adoptar seu sentido estrito e desprezar todas as demais possibilidades.

Coisa que os espíritas estão fazendo novamente com “palingenesia”.

Para saber mais:

- Ferrero, Guglielmo; Grandeza e Decadência de Roma, vol. II, Globo, 1ª ed., 1963, caps. IX – XI, p. 147-187
-Vermes, Geza; As Várias Faces de Jesus, Record,1ª ed., 2006, cap. VI, p. 252-254

Analisando Pastorino

A tradução do livro “Sabedoria do Evangelho, volume 3”, de Pastorino, faz uma tradução do texto dos versículos mostrados acima que está cheia de furos:

28. Não vos maravilheis disso (mê thaumázete toúto) porque vem uma hora (hôti érchetai hôra) em que todos (en hêi pántes) nos túmulos (en tois mnemeíois) ouvirão sua voz e sairão (akoúsousin têsphônes autòs kaí ekporeúsontai).

29. Os que produziram coisas boas (hoi tà agathà poiêsantes) para uma restauração de vida (eis anástasin zôés, sem artigo), os que praticaram coisas vulgares (hoi tà phaula práxantes) para uma restauração de carma (eis anástasin kríseôs).

A palavra phaúla, geralmente traduzido por mal, tem o sentido de "coisa vulgar, comum, ordinária, de pouco preço".
O termo anástasis tem o significado principal de "restauração, levantamento, erguimento", e por isso geralmente traduzem como "ressurreição".

Sabedoria do evangelho 3

29. E aqui vem a separação:
todos os que tiverem produzido "coisas boas" conseguirão uma restauração de vida no Espírito imortal, mas aqueles que, porventura, tiverem praticado "acções vulgares" (de pouca valia, apenas cuidando dos interesses materiais), esses se encaminharão para uma restauração do carma.

A lógica da sequência do ensinamento é perfeita.
Só não procederia, se acompanhássemos as traduções correntes, que falam em "ressurreição da vida" e em "ressurreição do juízo".

Que significaria essa "ressurreição DO JUÍZO"?
Não faz sentido o agrupamento dessas duas palavras.

Por isso traduzimos aqui anástasis como "restauração", sentido real dessa palavra, registado nos dicionários, e que nos esclarece com precisão o ensino do Cristo.

Não necessariamente absurda, pelo contrário usar "ressurreição" está bem de acordo, como vimos, com o pensamento farisaico disseminado na época.

A inovação de Cristo é que os maus também seriam ressuscitados para julgamento de suas acções.

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