LUZ ESPÍRITA
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Reencarnação na Bíblia

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 10, 2012 8:55 pm

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• A LXX e a Vulgata nem sempre utilizaram a mesma base textual do que viria a ser o Texto Massorético.
Logo é precipitado chamar discordâncias do texto de propositais.

• Trocas entre (`l), ('l) também podem ter ocorrido na matriz hebraica LXX e a troca de (`l) por (le) ocorreu na Peshitta.

• As traduções de (Ex 20:5) e (Ex 34:7) feitas a partir da Vulgata estão correctas, ao contrário do que é alegado.

• Há vários casos de castigos hereditários no AT e ao menos um no NT, mas isto não significa que eles fossem irrevogáveis ou que se tenha que apelar para interpretações reencarnacionistas
(Targum Onkelos e R. Kaplan, em tempos modernos).

Para saber mais:

-Abegg Jr., Martin; Flint, Peter & Ulrich Eugene – The Dead Sea Scrolls Bible - Harper San Francisco, 1ª ed.

-Barrera, Julio Trebolle – A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã - Editora Vozes, 2ª ed.

-Cross, Frank Moore et al; Discoveries in the Judean Desert, XVII – Qumran Cave[i] 4, XII (1-2 Samuel); Claredon Press - Oxford, 2005

-Jobes, Karen H. & Silva, Moisés – [i]An Invitation to the Septuagint
- Paternoster / Baker Academic, 1ª ed.

- Sperber, A., A Historical Grammar of Biblical Hebrew – A Presentation of Problems with Suggestions to Their Solution, Leiden -1966

-Tov, Emanuel; Textual Criticism of the Hebrew Bible, Fortress Press, 2ª ed., 2001

Afinal, quanto pesa a alma?

O salmo 19:8 é acusado de ter sofrido traduções fraudulentas em “Analisando...”:
do literal hebraico:
“O ensinamento (lei) de Iavé é perfeito(a), faz voltar a alma (espírito)”...

Vamos por partes: A primeira questão seria quanto a palavra alma/espírito:

No entanto, na Bíblia de Jerusalém e na Bíblia Tradução Ecuménica, colocaram a palavra espírito (néfesh), como vida.

Isto porque os tradutores se basearam em um dos significados gregos da palavra psyké (alma), que também pode significar 'vida', mas esta adaptação só pode ocorrer no significado grego, porque, no texto original em hebraico, isto não é verdadeiro, pois neshamá e nefésh significam espírito mesmo (Veja 2,7) e não vida (chaim) que, em hebraico, é totalmente diferente de (neshamá) e (néfesh) tanto na grafia quanto em significado.

E aqui, especificamente, significa espírito.
Cap VI

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 10, 2012 8:57 pm

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Estranho dizer, mas néfesh pode, sim, ter mais significados. Do contrário, ficariam muito estranhas tais passagens:

- Quem o come carrega seu erro: sim, ele profanou o Santuário de Iahweh.
Esse/essa * é cortado de seus povos. (Lv 19:8)

- O rei tornou a mandar um chefe de cinquenta com seus cinquenta comandados, o qual subiu e lhe disse:
“Homem de Deus! Que tenham algum valor a teus olhos a minha/meu * e a destes teus cinquenta servos.
Caiu fogo e devorou os dois primeiros chefes de cinquenta e seus comandados;
mas agora, que minha/meu * tenha algum valor a teus olhos” (2 Re 1:13-14)

- mas toda a carne tendo em seu/sua *, isto é seu sangue, não comereis. (Gen 9:4)

- Sê firme, contudo, para não comeres o sangue, porque o sangue é *.
Portanto, não comas * com a carne.
(Dt 12:23)

- A fuga será impossível ao ágil, o homem forte não empregará a sua força e o herói não salvará a seu/sua *.
Aquele que maneja o arco não ficará de pé, o homem ágil não se salvará com seus pés, e o cavaleiro não salvará sua/seu *.
(Am 2:14-15)

- O Senhor Iahweh jurou por * - oráculo de Iahweh, Deus dos Exércitos - Eu detesto... (Am 6:8)

- Não torneis * imundos, com todos estes répteis que andam de rasto (...) (Lv 11:43)

- Quando * apresentar presente como oferenda diante de Iahweh, seu presente será sêmola.
Nela se escorre o azeite em troca de olíbano
(Lv 2:1)

- ele não vem sobre qualquer * morto.
Ele não se contaminará por seu pai ou sua mãe.
(Lv 21:11)

Fontes: “A Bíblia”, Chouraqui, “A Bíblia de Jerusalém”

Será que substituir todos os (*) por alma/espírito dá certo?
Alma é material para estar no sangue
(Dt 12:23), ou Iahweh teria uma alma encarnada como nós (Am 6:8)?

Não sei se espíritos conseguem fazer oferendas sacrificiais (Lv2:1), se são retiradas por meio de exorcismo/ desobsessão do meio do povo ou de quanta força física precisam para se salvar.

Almas morrem
(Lv 21:11)?
Ou seja, “alma” pode não ser a melhor tradução, ou pelo menos a única, para o termo “néfesh” representado pelos asteriscos.

Por que não “indivíduo”
(Lv 19:8), “vida” (2 Re 1:13-14, Gn 9:4, Dt 12:23 e Am 2:14-15), “si mesmo” (Am 6:8), “vós mesmos” (Lv 11:43), “alguém” (Lv 2:1), “corpo” (Lv 21:11).

E a lista poderia ser maior que esta.
Portanto, considerar “néfesh” exclusivamente como sendo “alma/espírito” é esconder um pouco o jogo a respeito da versatilidade desta palavra hebraica.

Na lista exposta no parágrafo anterior, falta um sentido que é o centro de gravidade de todos os demais: “ser”.

A ideia principal que permeia inúmeras ocorrências de “néfesh” é a de “unidade de vida” do que exactamente uma posse dela.
Humanos e criaturas são “seres”, antes de corpos que possuem um “ser” animando-os.

Este sentido de “ser, criatura, pessoa” é o que mais aparece na tradução de Chouraqui como Gen 2:7 (“ser vivente”), sendo que Sl 19:8 é traduzido por:
“restaura o ser”.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 11, 2012 9:19 pm

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Esta propriedade de referir-se ao indivíduo como um todo permite o uso idiomático de “néfesh” mais um sufixo como pronome reflexivo (ou seja, referente ao próprio ser).

Outras passagens (Dt 12:23) remetem a uma espécie de “energia vital.
Aqui, “néfesh” seria mais o espírito, o “sopro” que sustenta a existência do ser vivo do que exactamente a alma individual.
Sentidos em oposição a “vida” da palavra “chaim”, como uma qualidade oposta a “morte”.

Vejamos, então, algumas definições dadas a “néfesh”:

A “Gramática do hebraico bíblico”, de Thomas O. Lambin, Ed. Paulus, lição 37
alma, energia vital;
pessoa, criatura, mais o seu uso reflexivo


O Dicionário hebraico-português, de Rifka Berezin
espírito, vida, homem, personagem, figura;
e ela toma parte em expressões como “com risco de vida”


Crenças Básicas do Judaísmo, Louis e Rebecca Barish, Edigraf S.A., cap. XIII
Nefesh – traduzida algumas vezes com vitalidade, algumas vezes com personalidade.
Em Deut. XII-23 ela se refere ao sangue que é o que leva a vida através do corpo.
A alma é a condutora da vida na pessoa, aquilo que a torna viva biologicamente

O Judaísmo Vivo, Michael Asheri, Ed. Imago, cap XLI
(Nota: Este livro consta na bibliografia de “Analisando as traduções bíblicas”.
Agora, se ele foi usado aqui...
)

Nefesh é a centelha que mantém vivos os seres humanos.
Quando falamos de “preservação da vida”, para qual quase todos os mandamentos podem ser desprezados, a expressão hebraica é pikuach nefesh.

No mesmo sentido, o “perigo à vida” é denominado sakanat n'fashot.
Não devemos pensar na nefesh como sendo simplesmente uma força vital mecânica ou animal;
ela também contém a personalidade do ser humano, mas parece faltar-lhe qualquer qualidade puramente espiritual.

A implicação do acima dito é que ela morre com o corpo.

Assim, “vida" ou “energia vital” podem ser significados possíveis para “néfesh”, ainda que não o seu sentido imediato e “espírito” não significa bem o “mente + perispírito” do kardecismo, que seria separável do corpo físico.

Portanto, a acusação de má tradução feita pelo autor é totalmente leviana e o pior:
ele quis reencarnar algo que é mortal.

Consciente ou não, está sendo vendida uma moeda falsa ao leitor de “Analisando...”.

O “psyké” grego, a propósito, também admite:
sopro de vida (a tal energia vital) e ânimo;
o temo latino anima acompanha em versatilidade:
alma, vida, sopro, hálito
(que não é o caso, óbvio), pessoa.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 11, 2012 9:19 pm

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Esta “traição” nem sequer é nova.
Dissidências judaicas medievais, que já não tinham há muito o hebraico como língua materna, também derraparam no mesmo versículo.

O filósofo judaico Saadia Gaon http://br.geocities.com/Meus%20documentos/falhas/gaon.html assim refutou aos que, no século X, liam como em “Analisando...”:

Um adicional engano da parte deles é o aplicado à referência do santo:
“Ele restaurará minha alma”.

Eles pensaram, a saber, que isto implicava numa permuta de corpo para corpo, não lembrando, ignominiosos que são, que se referia a relaxação, e descanso, e repouso da alma da excitação experimentada por ela, não a uma restauração depois da partida de um corpo.
Livro das crenças e opiniões, tratado VI, cap. VIII.

E não estava sozinho, como mostra o comentário de Rabi Shlomo Yitzhaqi (vulgo Rashi, 1040-1105 d.C.) à passagem análoga de Sl 23:3 http://www.chabad.org/library/article.asp?AID=16244&showrashi=true

Meu espírito, que fora enfraquecido pelas dificuldades e a diligência, ele restaurará ao estado prévio.

Bem, estas são opiniões rabínicas, sem o viés protestante-católico de que tanto se reclama e, se assim for, o sentido de Chouraqui cai melhor.

Há, como Gaon comenta, uma ideia de relaxamento, repouso, conforto... pois é:
confortar também é um significado viável para o verbo relacionado a nefésh:
shuv: reanimar, confortar, causar satisfação e também seus sentidos mais literais:
fazer voltar, restituir, restaurar, devolver;
todos registados no dicionário Rifka Berezin e implícitos na fala de Gaon.


Em suma, não foi uma omissão, estes significados são possíveis e deveriam ter sido expostos por Severino C. Silva na sua relação de significados para shuv, e não como obra de tendenciosos.

Além disso, há a possibilidade de ter ocorrido uma harmonização com outra passagem (Pr 25:13), que também é traduzida comumente como “reconforta a alma”, mas cujo contexto transmite esta sensação.

Uma outra fonte de erros aqui foi ter se considerado uma relação “um para um” na hora de verter o significado de um termo hebraico para o português.

Palavras, ainda mais as abstractas, muitas vezes têm um leque de sentidos num idioma, que nem sempre é mapeado de forma unívoca para outro.

A propósito, a versão revista e actualizada de João F. de Almeida já traz um sentido mais próximo ao literal: “restaura a alma”.

Gaon se referia a outra aparição do verbo em Sl 23:3, que em “Analisando...”, cap. VII, tem seu versículo anterior (“Em verdes pastagens me fará descansar. Para a tranquilidade das águas me conduzirá”) interpretado de forma “mui livre”, com o útero sendo o ambiente tranquilo e as água o líquido amniótico.

Bem, se ele se dá ao direito de viajar na maionese assim... tudo bem.
Contanto que outros possam utilizar os significados figurados de shuv, talvez não haja problema.

Ou será não vão querer dar direitos iguais a todo mundo?[/i]

Neste mesmo capítulo, a palavra chaim (“vida”, com sufixo possessivo chaiâi) é traduzida como plural “minhas vidas”.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 11, 2012 9:21 pm

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De facto, chaim é uma palavra plural, mas não de “vida”.
Ao pé da letra, ela significa “vivos” (pl. de chayy) e é em geral traduzido por “vida”, “duração da vida”, “anos de vida”.

Como em Gn. 23:1:
“A duração da vida de Sara foi de 123 anos”.

O próprio autor traduziu Gn 2:7, no cap. IV, “...um sopro de vida...” (e não “vidas”, vide o extracto que abre este sub-tópico) e reiterou esse sentido no cap. VI.

Muda misteriosamente de opinião no VII sem dar ao leitor a informação que hebraico emprega muitas vezes o plural sem se referir a um plural numérico
(ex. dom, “sangue”; domym, “derramamento de sangue”).

É claro que os conceitos religiosos dos tradutores e suas crenças pessoais, os seus desconhecimentos, bem como, outros motivos aqui não citados, levaram-nos a estas conclusões.
“Analisando...”, cap VI

Que tal um dicionário novo antes de falar besteira?

Talvez um dicionário “velho” possa auxiliar também.
Severino C. da Silva age de forma um tanto injusta quando trata a tradução da Vulgata para o português de Sl 19:28:

“Convertens animas”, no latim, significa: faz a alma voltar, pois o verbo convertere, em latim, significa voltar, fazer voltar, retroceder.

No entanto, muitos tradutores da Vulgata colocam esta frase como “converte a alma”, dando a este verbo latino um significado directo para o português que, como vemos, não representa o seu verdadeiro significado.
“Analisando...” Cap. VI

O Vocabulário Português e Latino http://www.ieb.usp.br/online/dicionarios/Bluteau/imgbluteau.asp (1712-1728) de Rafael Bluteau traz, entre outros significados para converter, a acepção:
http://br.geocities.com/falhasespiritismo/reencarnacao_biblica_arquivos/converter1.jpg

Em ortografia moderna aparece “as suas setas se converterão contra eles”, num sentido claro de “voltar”.

O padre António Vieira (1608 - 1697), em seu, traz-nos um uso similar:
Desenganemo-nos, que é necessário deixar o mundo antes que ele nos deixe.
E que ocasião mais aparelhada, e ainda mais forçosa e mais fidalga, que deixa-lo quando quem o criou e nos criou o deixa?
Será bem que se parta Cristo do mundo.


Ut transeat ex hoc mundo — e que faça esta jornada só, sem haver quem o acompanhe e o siga?
Que coração haverá tão esquecido de Deus e de si, que ouvindo aquele rebate, ou aquele pregão do céu;
Sciens Jesus quia venit hora ejus [Sabendo Jesus que era chegada a sua hora – Jo 13:1] — lhe não cause um grande abalo na alma, e diga resolutamente consigo:
Esta será também a minha hora?


Nenhum cristão há de consciência tão perdida, que não faça conta de se converter e se dar a Deus alguma hora:
e se há de ser alguma hora, que hora como esta?”
Sermão do Segundo Mandato

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 12, 2012 9:46 pm

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Ainda que em todos os dias nos podemos converter a Deus, o tempo que sua divina misericórdia nos sinalou particularmente para a penitência dos pecados são os quarenta dias da Quaresma
Sermão de Dia de Ramos

Obviamente, “converter” não tem o sentido de “mudar de religião, ideia”, pois se parte do princípio que o interlocutor já é cristão.

O que o padre queria dizer era algo como:
“não faça conta de se voltar e se dar a Deus alguma hora”.

Ainda na época seiscentista e setecentista a palavra portuguesa mantinha certa reminiscência do seu significado original latino.

Talvez isso tenha influenciado a tradução de António Pereira de Figueiredo, cujo Antigo Testamento foi publicado entre 1782 e 1790.

Com a evolução da língua, esse sentido caiu em desuso e nem todos os dicionários o registam hoje
(Mirador, Michaelis e Aurélio, não. Dicionário Brasileiro Globo, sim).

Vale lembrar, embora ainda preservando um significado de “voltar/volver”, o sentido de “retorno” pleno já deveria estar esquecido, mesmo em latim, por alguns religiosos.

Em seu “Sermão de Quarta-feira de Cinzas, Vieira não equiparou “converteris” a “reverteris”, do famoso versículo de Gn 3:19:
“Pulvis es, tu in pulverem reverteris “.

O termo, por sinal, mais aproximadamente corresponderia a “espírito” é rouach.
“Mais”, porque este termo também tem múltiplos significados (sopro, vento, espírito).

Mesmo quando ele é traduzido por espírito não significa que seja exactamente a consciência sempre, mas o princípio que nos anima (sl 146:4) e retorna a Iahweh após a morte (ecl 12:7, o que não é panteísmo), o ânimo (Jz 15:19), “coragem” (js 2:11), “raiva, exaltação” (jz 8:3), acção sobre a mente (ez 11:5), Iahweh e suas manifestações (is 63:10).

A passagem ez 37:1-14 dá um exemplo de “espírito” como manifestação divina:

Veio sobre mim a mão do Senhor;
ele me levou pelo Espírito do Senhor e me deixou no meio de um vale que estava cheio de ossos, e me fez andar ao redor deles;
eram mui numerosos na superfície do vale e estavam sequíssimos.


Então, me perguntou: Filho do homem, acaso, poderão reviver estes ossos?
Respondi: Senhor Deus, tu o sabes.
Disse-me ele: Profetiza a estes ossos e diz-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor.

Assim diz o Senhor Deus a estes ossos: Eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis.
Porei tendões sobre vós, farei crescer carne sobre vós, sobre vós estenderei pele e porei em vós o espírito, e vivereis.
E sabereis que eu sou o Senhor.


Então, profetizei segundo me fora ordenado;
enquanto eu profetizava, houve um ruído, um barulho de ossos que batiam contra ossos e se ajuntavam, cada osso ao seu osso.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 12, 2012 9:47 pm

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Olhei, e eis que havia tendões sobre eles, e cresceram as carnes, e se estendeu a pele sobre eles;
mas não havia neles o espírito.

Então, ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e diz-lhe:
Assim diz o Senhor Deus: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam.
Profetizei como ele me ordenara, e o espírito entrou neles, e viveram e se puseram em pé, um exército sobremodo numeroso.

Então, me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel.
Eis que dizem: Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperança;
estamos de todo exterminados.


Portanto, profetiza e diz-lhes:
Assim diz o Senhor Deus: Eis que abrirei a vossa sepultura, e vos farei sair dela, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel.

Sabereis que eu sou o Senhor, quando eu abrir a vossa sepultura e vos fizer sair dela, ó povo meu.
Porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos estabelecerei na vossa própria terra.
Então, sabereis que eu, o Senhor, disse isto e o fiz, diz o Senhor.

Nas palavras de Severino C. da Silva, “Analisando...”, cap XV:

O capítulo 37, vv 1 a 14 do livro de Ezequiel fala da reencarnação numa linguagem clara, no entanto, a maioria o traduz e interpreta como ressurreição.(...)

Observe que, a partir do versículo 11, Iahweh fecha o sentido de renascimento, mostrando que os ossos simbolizam o povo de Israel e que ele fará reencarnar a todos, retirando-os dos seus túmulos e fazendo-os voltar reencarnados à sua Terra.

Ele não fala que os retiraria na ressurreição do último dia mas que os retiraria do túmulo, fazendo-os renascer e fazendo-os voltar à terra de Israel e não aos Céus.

Aqui não existe dúvida sobre a Reencarnação e esclarecimento sobre a inexistência de um último dia para a ressurreição.

Não, muitas dúvidas pairam.
Não há nenhum sinal de passagem cíclica pelo útero, também.
Mas o principal aqui é que se tem o presente olhando o passado sob seu viés.

Os antigos leitores enxergavam isto com olhos bem distintos.

(...) Concorda com ele que ao dizer que, na verdade, Ezequiel não restaurou nenhum morto no fim de contas, e a profecia foi apenas uma parábola da nação judia que seria um dia restaurada novamente.

E isto está relacionado com o seguinte de Boraita:
Os mortos a quem Ezequiel restaurou ergueram-se sobre seus pés, entoaram uma canção e morreram de novo.
E que tipo de canção foi?
Indaga R[abi].

Eliezer. R. Josué disse: A canção foi de I Sm 2:6:
"O Senhor mata, o Senhor faz viver; faz descer à sepultura e dela subir."

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Última edição por O_Canto_da_Ave em Qua Set 12, 2012 9:49 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 12, 2012 9:47 pm

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R. Judas, entretanto, disse:
Na verdade, era apenas uma parábola.
R. Neemias a ele: Se verdade, então não é uma parábola; e se uma parábola, não é verdade.
Diz, então, na verdade era uma parábola,
R. Eliézer b[en].

R. José o Galileu, contudo, disse: Os mortos que foram restaurados por Ezequiel foram para a terra de Israel, casaram-se e tiveram filhos e filhas.

E R. Judas b. Batira ficou de pé, dizendo: Eu mesmo sou um descendente deles, e estes são os filactérios que herdei de meu avô, que me relatou que eles foram usados pelos restaurados.
Mas quem eram os restaurados em questão?


Disse Rab: Eles foram os filhos de Efraim que erraram quanto ao tempo da prometida redenção do Egipto.

Como se lê[ I cr 7:20-23]: "E os filhos de Efraim: Sutala e Bared, seu filho; e Taat, seu filho; e Elada, seu filho; e Taat, seu filho; e Zabad, seu filho; e Sutala, seu filho; e Ezer e Elada a quem os homens de Deus que nasceram naquela terra mataram (1) ...

E Efraim, pai deles, pranteou vários dias, e seus irmãos vieram consolá-lo."

Samuel, porém, disse: Eram os homens que não acreditavam na ressurreição.

Como se lê (Ez 37:11): "Então me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel;
eis que dizem, Secos estão nossos ossos e nossa esperança está perdida; estamos todos exterminados."

R. Jeremias b. Abas disse: Eram os ossos de homens sem esperança de nenhum ato meritório.

Como se lê (Ez 37:4): [i]"Ó ossos secos, ouvi a palavra do Senhor".

E R. Itzaque de Nabar disse: Eram os homens que foram mencionados em [i](Ez 8:10):
[i]Então entrei e vi, eis que havia toda forma de seres rastejantes, e de gado, e de abominações, e todos os ídolos da casa de Israel, pintados nas paredes e em todo o redor."

E como se lê (Ez 37:2): "e me fez andar ao redor deles.

(1) Os efraítas teriam saído do Egipto 30 anos antes do êxodo dos demais devido a um erro na contagem do tempo da profecia feita por Deus a Abraão.

Trecho extraído do Talmude Babilónico, Tratado Sanhedrin, cap. XI.

Parece que os talmudistas tinham opiniões “ligeiramente” diferentes da de Severino C. Silva, apesar de divergirem largamente entre si.

Outros filósofos medievais judaicos mais tardios também interpretaram esta passagem como alusão à ressurreição. De Gaon, uma interpretação quase literal:

Além disso, deixe-me dizer que, porque nosso Criador estava ciente dos escrúpulos surgidos em nosso corações pela dificuldade que temos em aceitar a doutrina da ressurreição dos mortos, Ele informou Seu profeta Ezequiel disto antecipadamente, falando a ele:
“Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel;
eis que dizem: Nossos ossos estão secos e nossa esperança perdida, estamos acabados”
(Ez 37:11).

Então Ele ordenou-o a trazer nos as boas novas de nossa ressurreição de nossas sepulturas e ressuscitação de todos os nossos mortos, ao dizer-lhe imediatamente depois disso:
“... Eis que abrirei a vossa sepultura, e vos farei sair dela, ó Meu povo” (Ez 37:12).

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Set 13, 2012 8:40 pm

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Porém, a fim de que não pensemos que esta promessa foi feita para o mundo vindouro, adicionou ao fim da declaração as palavras:
“E vos trarei à terra de Israel” (Ez 37:12), a fim de assegurar-nos que isto se daria neste mundo.

Assim, o objectivo a ser logrado é que cada um de nós, quando Deus o tiver trazido de volta à vida, fará menção ao facto de que estava vivo e morreu e foi então ressuscitado.

Que é a implicação de Sua declaração:
“E sabereis que eu sou o Senhor, quando eu abrir as vossas sepulturas”
(Ez 37:13).

A menção da ressurreição na terra da Palestina é então repetida por ele uma segunda vez, a fim de confirmar-nos que a tese é de que ela se dará neste mundo, com diz Ele:
”E porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos colocarei na vossa própria terra;
e sabereis que eu, o Senhor, disse isto e o fiz, diz o Senhor”
(Ez 37:14).

Saadia Gaon, O Livro das Crenças e Opiniões, tratado VII (ressurreição), cap III.

O grande Maimônides cria, que no fim dos tempo, haveria uma ressurreição incorpórea, mas quanto a Ez 37:

(...)Entretanto, se nós dissemos, o fizemos baseados no que disseram os sábios de Israel sobre os ossos mortos ressuscitados no Livro de Ezequiel, a respeito do qual há uma diferença de opinião entre os sábios do Talmude.

Porque no que diz respeito a tudo onde haja uma diferença de opiniões, a qual não conduza à execução de um preceito Divino relacionado a esse assunto, servindo como prova dele, não é possível decidir com que está a razão e nós mencionamos isto várias vezes no Comentário sobre a Mishná.

É evidente para nós, dessas declarações do Talmude, que aqueles indivíduos cujas almas retornam ao corpo depois da morte comerão e beberão e terão relações sexuais e procriarão e morrerão depois de uma vida extremamente longa, como a vida daqueles que existirão nos tempos do Messias.

Além disso, a vida após a qual não há morte, é a vida no Mundo Vindouro porque não há corpos físicos lá. Acreditamos firmemente – e esta é a verdade que toda a pessoa inteligente aceita – que no Mundo Vindouro as almas sem corpo existirão como os anjos. (...)

Maimônides, Tratado sobre a Ressurreição, IV, 23-24

Note que Maimônides, assim como os talmudistas mais literalistas, interpreta Ez 37:1-14 como um caso real de ressurreição, ainda que, tal como o de Lázaro no NT, não tenha sido na ocasião do Mundo Vindouro e os ressuscitados tenham vindo a falecer novamente.

Uma opinião já contemporânea resgata a opinião dos talmudistas que viam na passagem uma metáfora sobre a restauração de Israel:

(...) A visão de Ezequiel da ressurreição dos ossos secos salta à vista de muitos como referência óbvia ao que sucedeu ao povo judeu depois do Holocausto, com a restauração do Estado de Israel após quase dois mil anos de exílio israelita.

Esses são exemplos óbvios dos temas que interessam mais profundamente aos estudioso contemporâneos do texto da Torá.
(...)

Jacob Neusner, Introdução ao Judaísmo, Ed. Imago, cap. V.

Para finalizar, uma opinião da Jewish Encyclopedia quanto natureza da alma no judaísmo dos tempos bíblicos.

A narração mosaica da criação do homem de um espírito ou sopro com o qual ele foi dotado por seu criador (gn. 2:7);
mas este espírito foi concebido como inseparavelmente conectado, senão totalmente conectado o sangue-vida (gn 9:4, lv 17:11).

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Set 13, 2012 8:40 pm

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Apenas através do contacto dos judeus com o pensamento persa e grego, a ideia de uma alma desincorporada, tendo sua própria individualidade, se enraizou no judaísmo e encontra sua expressão nos livros bíblicos tardios, como, por exemplo, as seguintes passagens:
“O espírito do homem é a lâmpada do Senhor” (Pr 20:27);
“Há um espírito no homem” (jó 32:8);
“ O espírito retornará a Deus que o concedeu” (ecl 12:7).

A alma é chamada na literatura bíblica de “ruach”, “nefesh” e “neshamah”.

O primeiro destes termos denota a espírito em seu estado primitivo;
o segundo, em sua associação com o corpo; o terceiro, em sua actividade com o corpo.
(...)

Nota: nefesh: gn 2:7, gn 9:4, lv 17:11; neshamah: Pr 20:27; ruach: ecl 12:7, jó 32:8

Jó: Justiça além da compreensão

O Livro de Jó possui algumas passagens alegóricas que pretendem uns serem evidências de reencarnação se tomadas ao pé da letra.

8:8-9 “Pergunta às gerações passadas e medita as experiências dos antepassados.
Somos de ontem, não sabemos nada.
Nossos dias são como uma sombra sobre a terra”


Olhando de longe toda a narrativa de Jó, achar que ele está sendo punido por causa de erros em encarnações passadas fica fora de contexto.

Segundo o livro, Jó era um justo que foi provado em sua lealdade ao Iahweh hebreu, não por erros cometidos nem nesta vida ou em outra.

Os presentes versículos são complementados por:

8:10 “Eles, porém, te instruirão e falarão contigo, e em sua experiência encontrarão palavras adequadas.”

Se referem aos ensinamentos contidos na tradição dos antepassados, presente nos livros sapienciais do Velho Testamento, e nas consequência dos actos das gerações anteriores nas presentes.

Um outro exemplo

14:14 “pois, se alguém morrer, poderá reviver?
Nos dias de minha pena eu espero, até que chegue o meu alívio.”


Está todo fora de contexto:

14:13-17 “Oxalá me abrigasses no Xeol e lá me escondesses até se aplacar a sua ira, e me fixasses uma dia para te lembrares de mim:
pois, se alguém morrer, poderá reviver?


Nos dias de minha pena eu espero, até que chegue o meu alívio.
Tu me chamarias e eu responderia;
desejaria rever as obras de tuas mãos – enquanto agora conta todos os meus passos – e não vigiarias mais meu pecado, selarias em uma urna meus delitos e lacraria minha iniquidade.”

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Set 13, 2012 8:41 pm

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Nota-se que o personagem Jó divaga apenas no campo da possibilidade;
e não que ele tivesse de morrer, descer ao Xeol e depois voltar.
Ele queria apenas um lugar para se esconder enquanto durasse a ira divina, já que sobre a terra não era possível.

É interessantíssimo analisar a crítica de Severino Celestino da Silva a Jó 19:25-26, usando a própria tradução dele:

“E soube que meu redentor está vivo e que no último dia hei de ressurgir do pó e de novo serei envolvido com minha pele e em minha carne imaginarei ou pensarei em Deus”

Nas palavras de Celestino:

“O pressentimento da Reencarnação se converteu em certeza, quase em evidência, no ânimo de Jó.

Ele já sabe que ressurgirá de novo na terra, envolto na sua pele e com um corpo carnal, no qual verá a misericórdia do seu Deus, concedendo-lhe outra vida de prova para conquistar, pelos seus merecimentos, um grau mais elevado de felicidade e perfeição.

Isto será realizado, quando agarrados aos ensinamentos divinos, pudermos caminhar em seus preceitos.”


Francamente: ele converteu um relato nítido de ressurreição em reencarnação!
Na crítica a Ez 34, contida no cap. XV de “Analisando...”
(ver Afinal, quanto pesa a alma)

“Ele não fala que os retiraria na ressurreição do último dia mas que os retiraria do túmulo, fazendo-os renascer e fazendo-os voltar à terra de Israel e não aos Céus.“

Pois é, pois aqui em Jó ele fala nitidamente em “último dia”....

É irónico que o livro de Jó seja utilizado para “provar” questões de karma e reencarnação.
Ele é exactamente o oposto disto.
Jó é “íntegro, recto, temente a Deus e apartado do mal”.

O próprio reconhece isto no início da narrativa.
Não havia pecado dele, de um ancestral ou de uma vida pretérita a ser resgatado.

Acontece que Iahweh declara as virtudes de seu devoto na presença de Satanás
(parece que não eram tão inimigos assim na época, ou Satanás servia a Iahweh como uma espécie de “provador” da humanidade).

O Tinhoso malandramente questiona se os sentimentos de Jó eram sinceros ou apenas fruto das benesses na vida concedidas por Iahweh.

Tem início uma aposta em que está em jogo o carácter de Jó, como representante, de certa forma, do género humano.

Iahweh autoriza Satanás a tomar tudo de Jó:
a descendência, as riquezas, a saúde. Jó, prostrado, não entende o infortúnio repentino.
A mulher lhe diz para “amaldiçoar a Deus”, o que é totalmente contra seus sentimentos.

Os “amigos” aludem à Justiça Divina, da qual vem todo o sofrimento, e, portanto, Jó deve ter alguma espécie de culpa por seu estado.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 14, 2012 10:01 pm

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Boa parte do resto do livro se torna a descrição da luta interna travada por Jó.
Ele sabe que não é perfeito, só que não vê nenhuma falta cometida que mereça tamanho castigo num tempo tão curto.

Por outro lado, às vezes concorda com seus amigos, mas nem isto resolve o conflito:
no íntimo tem tanta certeza de sua inocência quanto em sua fé em Iahweh.

Clama a ele que lhe restitua o que tomou ou que o mate para cessar a agonia.
Por fim, reduz suas exigências a uma única: quer uma “audiência pessoal”, para que lhe explique o que está acontecendo.

E, por incrível que pareça, é atendido.
Não da forma como Jó imagina:
irrompe de forma violenta em meio a uma tempestade (ou redemoinho) e tece uma descrição dos prodígios da natureza que controla dos quais Jó nem tem ideia de como operam.

Indaga-lhe várias perguntas a que Jó não tem a menor condição de responder.
Mostrando toda a sua grandiosidade, Iahweh abre os olhos de Jó para todo o universo e o desvia de seu mundinho de sofrimentos.

Se nem tinha ideia sofre o funcionamento do mundo físico, como pretendia questionar os desígnios morais?
Iahweh não dá o que Jó quer (nem deve, pois invalidaria a aposta), mas o deixa satisfeito.

Como recompensa por sua persistência, restitui a Jó tudo o que tomara:
o dobro de riquezas, uma nova família e muitos anos sobre a Terra.

A lição é profunda demais para ser obscurecida por meros extractos fora de contexto (tanto de narrativa quanto época):
o livro de Jó concilia um Deus de justiça com uma vida injusta e concluindo no fim que podem apenas vislumbrar, mas não entender o mecanismo que torna isto possível (nada tendo com reencarnação).

E no fim, tudo seria reparado.
Um colega protestante (sim, existe vida inteligente entre eles, ao contrário do que o leitor pensa) resumiu bem o espírito numa paródia do salmo 23:
“O senhor é meu pastor, nada me faltará. Nem os problemas!”

Existe a expressão “paciência de Jó” no sentido de “grande paciência”.
Na verdade, a expressão não corresponde aos actos da personagem.
Ele Murmura o tempo todo e chega a exigir satisfações do próprio Iahweh.

Jó é um humano comum, encantadoramente comum.
Releituras enviesadas destroem o que há de melhor na trajectória deste representante da humanidade.

Uma das piores é a visão de cristãos fundamentalistas, que defendem que se Deus queria fazer gato e sapato de Jó, então Deus estava certo e o Jó que se danasse (em especial, os calvinistas).

Não dá para falar em “releitura espírita”, pois o máximo que já vi foram versículos fora de contexto, árvores fora da floresta.

Ainda assim, a mensagem de Jó vale para os espíritas:
é fácil falar do mecanismo de provas e expiações, “lei de acção e reacção” (pobre Newton) e consolar a perda de um filho de outrem.

E quando a “prova” bater à sua porta?
Será fácil manter uma atitude estóica?
É fácil reconhecer-se numa quitação de karma ou, numa melhor hipótese, numa prova voluntária?


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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 14, 2012 10:02 pm

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Alguns dirão que sim e darão exemplos.
Outros, em especial os que não experimentaram algo sério, devem guardar, no mínimo, um silêncio...

Vale para mim também.
A descrença também é testada na dor.
Jó é universal!


Para saber mais:

- A Bíblia, Autor desconhecido, Antigo Testamento, Livros Sapienciais: O Livro de Jó. Várias editora e formatos.
- Yancey, Philp; A Bíblia que Jesus Lia, Ed. Vida, cap. II.

Visões judaicas do pós-morte

A crença em uma nova vida de recompensas aos justo se desenvolve de forma mais tardia no judaísmo.

Já aparece em vagas esperanças no livro dos salmos:

sl 16:10-11 “pois não abandonarás minha vida no Xeol, nem deixarás que teu fiel veja a cova!
Ensinar-me-ás o caminho da vida, cheio de alegrias em tua presença e delícias à tua direita, perpetuamente.”


sl 49:16 “Mas Deus resgatará a minha vida das garras do Xeol, e me tomará”.

Entretanto ela só realmente aparece claramente ao fim do Antigo Testamento.

Sb 3:4-5: “por um pequeno castigo, receberão grandes favores [os justos].
Deus os colocou à prova e os achou dignos de si.
Examinou-os como ouro no crisol e aceitou-os como perfeito holocausto.”


Ez 37:12-14 (...) “Assim diz o Senhor Iahweh:
Eis que vou abrir os vosso túmulos e vos farei subir dos vossos túmulos, ó meu povo, e vos reconduzirei para a terra de Israel.

Então sabereis que sou Iahweh, quando eu abrir os vosso túmulos e vos fizer subir de dentro deles, ó meu povo.
Porei o meu espírito dentro de vós e haveis de reviver:
eu os reporei em vossa terra e sabereis que eu, Iahweh, falei e hei de fazer, oráculo de Iahweh.”


Este novo credo se disseminou entre outro poderoso grupo à época da palestina romana, os fariseus.
Eles entraram em choque com os saduceus, pois “professavam algumas ideias cujo o apoio nas Escrituras é fraco, para não dizer inexistente.

Em particular, eles acreditavam na ressurreição de todos os homens ou apenas dos justos e professavam uma angeologia precisa e estruturada:
ambas as doutrinas trazem a marca clara de influências estrangeiras, sobretudo iranianas.”

(Simon C. Mimouni, As Correntes do Judaísmo, História Viva – edição especial temática nº 1)

Com a destruição do Templo de Jerusalém e a dispersão dos judeus pelo mundo antigo, as seitas concorrentes dos fariseus ou foram eliminadas ou destruídas.

A comunidade judaica juntou seus pedaços em tornou do segmento farisaico, que lhe transmitiu os ensinamentos.

A crença na transmigração de almas (gilgul) é mais tardia, sendo assimilada por certas correntes judaicas ao longo da Idade Média e posteriormente.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 14, 2012 10:03 pm

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Ainda é matéria de discussão entre os historiadores de como isto ocorreu exactamente.
Assim relata a Jewish Enclyclopedia

“Transmigração das almas:
A passagem de alma em sucessivos formas corpóreas, sejam humanas ou animais.

De acordo com Pitágoras, que provavelmente aprendeu a doutrina no Egipto, a mente racional, após ter se libertado dos grilhões do corpo, assume uma veículo etéreo e passa para a região dos mortos, onde permanece até ser enviada de volta a este mundo para habitar algum outro corpo, humano ou animal.

Depois de passar por sucessivas purgações e quando estiver suficientemente purificada, ela é recebida entre os deuses e retorna para a fonte eterna de onde originalmente procedeu.

Esta doutrina era estranha ao judaísmo até cerca do século oitavo, quando, sob influência de místicos maometanos, foi adopta pelos caraítas e outras dissidências judaicas.

Ela é mencionada pela primeira vez na literatura judaica por Saadia [Gaon], que protestou contra esta crença, que em seu tempo era compartilhada pelos yudghanitas(...)”

Assim relatou Saadia Gaon:

“Embora eu deva dizer que tenho encontrado certas pessoas, que chamam a si mesmas de judias, professando a doutrina da metempsicose, que é designada por eles com a teoria da “transmigração” das almas.

O que ele querem dizer com isso é que o espírito de Rúben transferiu-se a Simão e depois a Levi e, em seguida a isto, a Judá.

Muitos deles iriam tão longe como ao ponto de afirmar que o espírito de um ser humano pode entrar no corpo de uma fera ou que o de uma fera no de uma ser humano e outros tipos de absurdo e estupidez”


Saadia Gaon, Livro das crenças e opiniões, tratado VI, cap. VIII, A alma.

A primeira aparição da doutrina da gilgul em um tratado esotérico escrito vem a ocorrer só no século XII, num trabalho intitulado Bahir.
A partir daí, a reencarnação se torna popular entre a vertente mística do judaísmo, a Cabala.

De 1.200 d.C. A 1.500, ocorreram trabalhos cabalísticos afirmando a possibilidade em alguns casos de transmigração para corpos de animais.
Esta ideia entrou em declínio depois, apesar de nunca ter desaparecido totalmente.

Actualmente, a reencarnação não é professada pela maioria dos judeus, e muitos destes alegam que judeus não devem adoptá-la.
Ela ainda permanece vigente entre cabalistas, muitos grupo judaicos hassídicos (seita fundada no século XVIII) e até mesmo entre alguns ultra-ortodoxos.

Para outros, como o professor e rabino Yehuda Ribco http://serjudio.com/rap1201_1250/rap1201.htm é lícito um judeu crer em reencarnação, mas não uma questão central do judaísmo, e nem mesmo ele a defende:

“Logo, e já passando a responder: graças a Deus não sou o único que não compartilha da ideia da reencarnação (gilgul haneshamot), pois houve outros, anteriores e imensamente maiores que este humilde mestre, que se opuseram, tal qual Saadia Gaon, Bajia ibn Pakuda, Iosef ibn Tzadik, e até (segundo alguns entendidos) o príncipe dos pensadores judaicos: Rambam (Maimônides), entre outros.

Se bem é certo, outros insignes mestres e filósofos a sustentaram (Ramban e Baal Shem Tov, por exemplo, ambos posteriores a aparição pública do Zohar), não é por isso que a ideia da reencarnação é parte das crenças judaicas centrais, nem é obrigação que se compartilhe dela.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Set 15, 2012 9:19 pm

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Em resumo: a reencarnação é uma crença individual (ou de certos grupos), tal como a descrença na mesma o é.
É uma crença de natureza restrita e que não atenta contra os princípios gerais e superiores (Torá e halacá);
nem tão pouco é obrigatório compartilhá-la.

Portanto, não há razão de identificá-la ao judeu e ao judaísmo, tal como, por exemplo, a crença em alienígenas.”


De facto, recentemente a conversão do escritor judeu americano Norman Mailer à crença na reencarnação chamou atenção até da imprensa:

“Como todo construtor de crenças de ocasião, Mailer não quer perder o vínculo com a religião original.
Embora os cabalistas acreditem na transmigração de almas, a reencarnação não faz parte da essência da fé judaica.
Não é mencionada na Bíblia, nem na literatura rabínica”


Revista Veja, edição 1834, ano de 2003, pág. 125.

Já a ressurreição é dogma (ou lei como preferem) a todas as correntes do judaísmo:

“A crença na ressurreição dos mortos é declarada nas orações, na teologia e na lei:
no fim dos dias, a morte morrerá.

A certeza da ressurreição origina-se de um facto simples da teologia restauracionista:
Deus já mostrou que pode fazê-la.

'Você observa que tudo o que o Sagrado, abençoado o seja, destina-se a fazer nos dia vindouros ele já se adiantou e fez por meio dos justos nesse mundo.
O Sagrado, abençoado seja, levantará os mortos, e Elias levantou os mortos.'

O facto de Deus erguer os mortos leva à última pergunta: quem ele erguerá dos mortos?
E a resposta é: 'Todo Israel, com poucas excepções'.

Por Israel entendem-se aqueles que serão erguidos dentre os mortos;
praticar o judaísmo e guardar a Torá e escolher a vida eterna, de acordo com a admoestação de Moisés em Deuteronómio 30:19:
'Portanto, escolhe a vida'.

Aquela definição de quem é israelita e o que é Israel - aqueles que se levantarão do túmulo, o povo destinado à vida eterna nos céus - retira o modo de vida judaico do domínio meramente étnico ou terreno.”

Introdução ao Judaísmo, Jacob Neusner, Ed. Imago, cap VII

“A morte, todavia, não assinala o fim da vida.
Nos tempos de Deus, os mortos viverão novamente.


A ressurreição representa a mais completa metamorfose de uma experiência desse mundo:
a morte simboliza o seu oposto, a vida eterna.

Na lei judaica, a reacção à antecipada transformação traduz-se numa regra especial e estrita contra a autópsia ou a desfiguração do corpo.

Os mortos viverão, portanto, o corpo deve ser preservado como foi em vida, tanto quanto possível, para a ressurreição vindoura.”

idem, cap IV

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Set 15, 2012 9:20 pm

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Portanto, é erróneo afirmar que a “ressurreição era a reencarnação entendida pelo judeus da época de Cristo”, pois mesmo os grupos que professam a gigul modernamente, lhe dão tratamento diferente da ressurreição.

Tem até questões de ordem teológica própria, como “qual corpo será o ressuscitado?”

Do exposto acima, conclui-se que a doutrina da reencarnação entrou tardiamente no judaísmo, só sendo posta por escrito na Idade Média e ainda hoje não é consenso.

Para ler:

Jewish Eschatology - http://www.fact-index.com/j/je/jewish_eschatology.html

Rabbi scheinerman - After life - http://scheinerman.net/judaism/ideas/afterlife.html

Ser judio - vida y muerte - http://serjudio.com/creencias/vidaymuerte.htm

E quanto aos essénios?

Vamos supor que você faça uma viagem ao extremo oriente e visite um templo budista.

Fica admirado com a sinceridade do voto de pobreza dos monges, as vestimentas despojadas e características, suas cabeças raspadas, seu trabalho social, horas gastas em estudos doutrinários, hierarquia interna, atitudes contemplativas e meditação.

Voltando aqui para o ocidente, é interpelado por um colega seu que é totalmente ignorante quanto aos hábitos fora de sua cultura.

Sabendo que seu colega é católico, ou tenha algum conhecimento sobre o catolicismo, manda-lhe uma comparação com algo que mais familiar:
“os monges budistas vivem como os frades franciscanos”.

Obviamente, foram ignoradas diferenças enormes:
meditar não é orar (se bem que o efeito cerebral parece ser semelhante), a coroinha dos franciscanos não chega a ser uma cabeça totalmente pelada, os budistas não prestam contas ao Vaticano e, principalmente, o conceito de vida única não condiz com os ciclos de renascimento.

Visto que a intenção foi apenas ilustrar, até que não foi nada de mais.

Seria perigoso, com tão pouca informação, deduzir as crenças budistas usando os franciscanos como referencial.

Então, por que extrapolar que a seita dos essénios do século I acreditavam em reencarnação a partir de uma frase tão curta:
“Estes homens [os essénios] levam o mesmo estilo de vida daqueles a quem os gregos chamam de pitagóricos”.

Josefo,Antiguidades Judaicas, XV, cap.10.

Isto quer dizer que eles viviam em comunidades religiosas e reclusas, se assemelhando ao estilo de vida dos pitagóricos;
ou que eles também professavam suas crenças na reencarnação?

Ou melhor:
na metempsicose, com a possibilidade de uma alma humana habitar um corpo animal.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Set 15, 2012 9:20 pm

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No Preceito da Guerra (1QM II,1), há uma alusão a sacrifícios rituais:
“Os sacerdotes-chefes ministrarão durante o sacrifício diário diante de Deus...” foram encontrados 26 depósitos de ossos de diversos animais em Qumran.

Seria estranho se eles acreditassem em metempsicose e matassem animais, coisa que os pitagóricos evitavam.
Mesmo para a alimentação.
Vamos obter mais informação, então.

Na continuação da mesma frase de Josefo em Ant. XV, 10; ele diz:
“dos quais discursarei mais plenamente em outro lugar.”

E aqui está esse “outro lugar”:

“A doutrina dos essénios é esta:
que todas as coisas são melhor atribuídas a Deus.

Ensinam a imortalidade das almas, e consideram que as recompensas da rectidão são zelosamente adquiridas com esforço, e quando enviam o que dedicaram a Deus para o templo, não oferecem sacrifícios porque têm mais pura lustração por conta própria;
razão pela qual são excluídos do pátio comunitário do templo, mas oferecem sacrifícios por si mesmos;

embora seu estilo de vida seja melhor que o dos outros homens;
e eles se entregam inteiramente ao zelo da actividade económica.


Também merece nossa admiração o quanto eles excedem todos os homens que se entregam a virtude, e isto em correcção e em tal grau que nunca apareceu entre qualquer grupo de homens, quer gregos, quer bárbaros;
não, não for pouco tempo, visto que isto tem durado bastante entre eles.

Tal fica demonstrado pela sua instituição, que nada sofrerá para impedi-los de ter todas as coisas em comum;
de forma que o rico não desfrute mais de suas fortuna do que aquele que nada tem.

Há cerca de quatro mil homens que vivem desta forma, que nem se casam, nem desejam manter servos;
pensando que a última tenta os homens a serem injustos e a primeira dá espaço a disputas domésticas;
mas como eles vivem por conta própria, ensinam um para o outro.


Também indicam certos administradores para receber os lucros de suas rendas e dos frutos da terra;
tal qual bons homens e sacerdotes, que aprontam seu trigo e alimento para eles.

Não se diferem nenhum deles dos outros essénios em seus estilo de vida, mas se assemelham aos dacas, que são chamados polistas (citadinos*).”

Antiguidade judaicas, livro XVIII, cap I

(*) Os dacas eram uma seita pitagórica.

Pouco se sabe quanto ao ramo dos polistas, se realmente viviam de forma monástica ou nas cidades, como o próprio nome diz.

Fica patente, aqui, que os essénios criam na imortalidade da alma, mas sem a ressurreição farisaica no fim dos tempos.
A semelhança com os pitagóricos é quanto ao seu estilo de vida, não com as suas crenças.

A atitude de Josefo foi a de usar comparações a sua plateia helénica, como explica [Vermes, cap. 3]:

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Set 16, 2012 9:13 pm

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Segundo Josefo, eles adoptaram um conceito de imortalidade claramente helenístico, sustentando que a carne é uma prisão da qual a alma indestrutível dos justos escapa para um êxtase infinito, 'num lugar além do oceano', depois de sua libertação final (*) (Guerra Judaica, II, 8).

A ressurreição, que significa o retorno do espírito ao corpo material, não pode assim fazer parte deste esquema.

Os manuscritos nada ajudaram neste particular, até recentemente.
Encontramos afirmações tais como 'Içai uma bandeira, ó vós que jazeis no pó! Ó corpos roídos pelos vermes, erguei um estandarte...!' (1QH VI, 34-5; cf. XI, 10-14), o que pode ter uma conotação de ressurreição corporal.

Por outro lado, a linguagem poética pode ser apenas alegórica.
Há mais informações sobre a imortalidade distinta da ressurreição.

Elas confirmam a descrição de Josefo, embora – o que não é de surpreender – sem qualquer coloração tipicamente helenística (sem dúvida introduzida por ele para agradar a seus leitores gregos).”

No exemplo dado: "O preceito da comunidade" (1QS), cap. IV assim descreve:(...)

“O julgamento divino de todos que caminham com este espírito será a saúde, uma vida longa em grande paz, e abundância, junto com todas as bênçãos eternas e alegrias infinitas numa vida sem fim, uma coroa de glória e uma vestimenta majestosa de luz infinda

Mas os caminhos do espírito da falsidade são estes:
ganância e negligência na busca da rectidão, maldade e mentiras, arrogância e orgulho, hipocrisia e engano, crueldade e mal abundantes, mau humor e muita insensatez e descarada insolência, actos abomináveis (cometidos) com espírito de luxúria, e conduta lasciva a serviço da impureza, uma língua blasfema, cegueira do olho e surdez o ouvido, cerviz dura, dureza de coração, assim caminha, assim caminha este homem para as sendas das trevas e do logro.

E o julgamento de todo aquele que caminha com este espírito tratá incontáveis flagelos por intermédio dos anjos destruidores, maldição eterna por causa da ira vingativa de Deus, tormento eterno e desgraça infinita junto com a extinção vergonhosa do fogo das regiões escuras.

Todas as sua gerações futuras decorrerão em tristes lamentações e amarga miséria, e em calamidades tenebrosas até que sejam todas destruídas, sem deixar rastro ou sobreviventes.”

Fica nítida a crença em redenção e danação eternas, bem como uma crença das gerações seguintes pagando pelo pecado das outras.

Finalizando, em [Vermes, cap. III]:

“A 'liberação dos manuscritos em 1991 revelou, todavia, um texto poético, usualmente chamado de 'fragmento da Ressurreição' (4Q521) que, fazendo eco com Isaías LXI, 1, descreve Deus na idade do Messias curando e revivendo os mortos.

Se este poema for uma composição essénia, pode-se dizer que um dos 813 manuscritos de Qumran definitivamente comprova a crença da seita na ressurreição do corpo.”

Para ler:
Vermes, Geza, Os Manuscritos do Mar Morto, Ed. Mercuryo.
Flusser, David; O Judaísmo e as origens do cristianismo, vol. I, ed. Imago..

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Set 16, 2012 9:14 pm

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Traduções Bíblicas: escolha uma!

Na busca de textos de maior “autoridade”, procura-se sempre promover sua base escrita e demolir a do adversário.

A perda dos manuscritos originais joga uma verdadeira névoa sobre como foi a redacção original e seu verdadeiros e profundo significado.

Mudanças, acréscimos e mutilações pios, erros de transcrição são factos presentes neste verdadeiro processo de investigação que é a reconstituição.

Um subproduto desta pesquisa é a desconstrução de verdadeiros mitos que permeiam o imaginário de exegetas de plantão.

A saber:
Somente a Bíblia hebraica é fiel ao original.
O resto está sujeito a erros de traduções de deturpações.

A Septuaginta (LXX) é uma tradução mal-feita, mutilada e corrompida do texto hebraico.
Ou seja, um lixo.

A vulgata é uma tradução de tradução, portanto é pior ainda.
• Da Vetus Latina, nem se fala.


Para começo de conversa, seria mais correcto usar o termo “versão” no lugar de tradução, pois nem sempre um livro é uma tradução pura e simples de outro.

Ao contrário do que muitos pensam, A LXX não é uma tradução do texto hebraico que conhecemos, nem a Vulgata é uma tradução dela.

Bem, vamos por partes.
Todos os textos hebraicos modernos se baseiam em um trabalho iniciado após a destruição do templo de Jerusalém e continuado ao longo da Idade Média por sábios judeus conhecidos por “massoretas”, daí o nome “texto massorético” (TM).

Fizeram a tarefa de fixar o texto consonantal existente em diversos manuscritos (as vogais não são grafadas) e adicionar um sistema de pontuações e acentos sobre as letras para indicar a pronúncia que, até então, era passada pela tradição oral.

Tem grande autoridade, mas não é possível precisar até que ponto são fiéis a um suposto texto original.

Já no século II d.C, existiam diferenças entre vários manuscritos, além erros de copistas ou modificações de amanuenses.

A maioria, porém, são fragmentos de dimensões reduzidas que tinham escapado a um processo de fixação já em andamento.

Um complicador a mais para os pesquisadores é o antigo hábito as comunidades judias de queimar ou enterrar seus manuscritos velhos assim que chegavam cópias novas.

Como resultado, faltam manuscritos de grande porte dos mais antigos.

O mais velho dos manuscritos em que se baseiam a maioria das bíblias impressas modernas é o códice de S.Petersburgo, do século X, distando cerca de 1500 anos de seus supostos originais.

Como manuscritos recentes podem preservar textos antigos fielmente e levando em conta que o trabalho dos massoretas foi bem metódico, mais o facto de a fixação do texto consonantal ser bem mais antiga que a do vocálico, pode-se retroceder a tradição destes sábios a até 500 anos após a redacção da maioria do Antigo Testamento (AT).

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Set 16, 2012 9:14 pm

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Antes disto, havia a possibilidade de flutuação no texto, suspeita confirmada pela descoberta dos Manuscritos do Mar Morto (Qumran).

Antes deles, as únicas evidências de grande porte que se tinha de modificações do texto hebraico pré-massorético eram o pentateuco samaritano (PS) e a LXX que eram vistos com certa ressalva por serem testemunhos indirectos, quer na datação recente das cópias do PS ou no fato da língua ser diferente na LXX (o grego).

Com Qumran, foi patente que houve uma evolução do cânon.
Por exemplo, O livro de Jeremias é cerca treze por cento menor que o do TM.

Facto parecido ocorre na LXX.
O Pentateuco, apesar de sua grande estabilidade textual, permite disparidade grandes como Dt32,43.

Este trecho é mais breve que o da LXX, mas o manuscrito qumrânico 4QDtq conserva o texto mais amplo, reflectindo a versão grega:
http://br.geocities.com/falhasespiritismo/index_int_2.html

TM

LXX/4QDtq


Aclamai, nações, a seu povo, porque ele vingará o sangue de seus servos devolverá a vingança contra seus adversários, aos que o odeiam, e expiará por sua terra, seu povo

Aclamai, céus, a seu povo, e fazei cair diante dele todos os deuses porque ele vingará o sangue de seus filhos, devolverá a vingança contra seus adversários e lhes dará o troco, e expiará pela terra de seu povo


Disparidades antes tidas como má tradução ou adulteração proposital se tornaram apenas indício de fontes distintas.

Vale lembrar, porém, que nem sempre Qumran destoa do TM, muito pelo contrário, indica muitas vezes fixação adiantada do texto.

Em resumo: o TM está escrito na mesma língua do original.
Só que não há garantias de que seja o original.

Qumran: a encruzilhada das versões

Na antiga biblioteca da comunidade essénia de Qumran foi encontrada uma multitude de manuscritos de liturgia comunal, comentários, literatura apocalíptica e a mais antiga colectânea de texto hebraicos da Bíblia, antecedendo em cerca de um milénio os melhores manuscritos massoréticos.

Esta descoberta (1947) revelou uma pluralidade de textos no período intertestamentário que já era suspeitada antes de sua descoberta.

Na antiga comunidade do Mar Morto, tradições textuais distintas coexistiam lado a lado, evidenciando uma época em que padronização do TM ainda não havia se imposto.

O especialista Emanuel Tov dividiu em cinco grupos

1. Textos escritos nas práticas de Qumran: revelam o estilo de ortografia, morfologia e práticas escriturais de uma escola provavelmente pertencente à própria comunidade.

Em gera, aborda o texto bíblico de forma livre, com muitas adaptações (por exemplo, às mudanças gramaticais que o hebraico sofrera [Barrera]), correcções e até erros.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 17, 2012 9:11 pm

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Alguns textos são transcrições de proto-massoréticos (grupo 2), mas a maioria foi transcrita de textos de identidade própria (grupo 5).
Corresponde à cerca de 20% dos textos

2. Proto-massoréticos: possuem quadro consonantal similar ao TM, porém até um milénio mais antigos que os códices medievais da Masorah.
Não possuem nenhuma característica especial além da concordância com o TM.

3. Pré-Samaritanos: estes textos reflectem características do Pentateuco Samaritano, porém sem as adaptações ideológicas vindas posteriormente.

Este grupo também abrange textos não-samaritanos que comportam um comum e exclusivo carácter textual.

A principal característica é a preponderância de leituras de harmonização.
Corresponde a cerca de 15% dos textos

4. Textos próximos a fonte hebraica da LXX: Não há um texto em Qumran que seja “exactamente” igual a “vorlage” da LXX em toda a sua extensão.

Alguns, porém, são muito próximos à LXX, seja no arranjo dos versos e extensão. Certos textos, como 4QSama, possuem proximidade com a LXX (e a recensão luciânica), mas também exibem características próprias que o levam a ser classificados no grupo 5.
O grupo 4 abrange certa de 5% dos textos.

5. Textos não-alinhados: textos que não são exclusivamente próximos de nenhuma tradições consideradas acima são, portanto, considerados independentes.

Eles concordam algumas vezes com o TM contra outros textos ou com o PS e/ou LXX, mas discordam destes em outros trechos.

Ademais, contem, também, leituras que não pertencem a nenhum outro texto ou grupo.
É uma característica importante quando se tenta determinar a amplitude textual à época do Segundo Templo.

Qumran contribuiu em muito para o conhecimento acerca do texto bíblico nos tempos de Jesus.
Até sua descoberta em 1947, o estudiosos baseavam suas análises principalmente em manuscritos medievais.

O testemunho de Qumran enriqueceu nosso conhecimento nestas áreas:

Leituras anteriormente desconhecidas nos ajudaram a conhecer melhor muitos detalhes dos textos bíblicos.
Entretanto, apesar de antigos, os manuscritos do Mar Morto ainda estão muito longe de quando os textos originais foram definidos

A variedade textual reflectida nos cinco grupos acima provém um bom panorama da condição do texto bíblico no período intertestamentário.

• Os manuscritos fornecem indirectamente informação sobre a cópia de textos e sua transmissão durante esse período

• A confiabilidade das antigas traduções, especialmente a LXX, é fortalecida pelos textos qumrânicos.


Ela é uma importante fonte de pesquisa, mas, por estar em grego, sua matriz hebraica tem de ser reconstituída a partir dessa língua.

A recomposição de tantos detalhes é agora embaçada pela descoberta de leituras idênticas em hebraico.
Vide o exemplo de Dt 32:43 no tópico acima.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 17, 2012 9:12 pm

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Septuaginta: em busca da “Vorlage”

A versão dos “setenta” ou Septuaginta (LXX) data do século III A.C. foi feita por sábios da comunidade judaica de Alexandria no Egipto, a pedido de Ptolomeu Filadelfo.

Diz-se que setenta (ou setenta e dois) eruditos se isolaram em cabanas separadas e só saíram após setenta dias, quando concluíram juntos trabalhos de tradução idênticos.

Nada verosímil, mas a lenda ficou.
Parece que só o Pentateuco foi incluído no projecto original, sendo os demais livros do Antigo Testamento adicionados posteriormente.

A rigor, poder-se-ia afirmar que o que se conhece por LXX “não existe”.

O que se tem é a chamada “tradição dos setenta”, um conjunto dos mais textos do AT mais antigos escritos em grego koiné, a então língua franca do mediterrâneo oriental, anteriores traduções subsequentes.

Foi feita por diversos autores, que variavam em estilo e grau de liberdade na tradução.
Ela não foi estática, teve desenvolvimento complexo, sofrendo com erros de copistas e revisões.

Duas famosas reavaliações (ou retraduções) foram as feitas por Àquila, discípulo de Rabbi Akiva, e a hexapla do teólogo Orígenes.

Uma das hipóteses de reconstituição segue no quadro abaixo:
http://br.geocities.com/falhasespiritismo/reencarnacao_biblica_arquivos/lxx.gif

Extraído de An Invitation to the Septuagint

Por ser uma tradução, o valor da LXX como fonte de crítica textual era extremamente subestimado.

Quando Léon Denis, no segundo capítulo de seu “Cristianismo e Espiritismo”, escreveu:
“Mas já desvirtuado pela versão dos Setenta, o Antigo Testamento não reflectia, nos últimos séculos antes da vinda de Cristo, mais que uma vaga intuição das verdades superiores”;
estava apenas reproduzindo um pensamento corrente da época.

Porém, reviravolta profunda se deu com a já mencionada descoberta dos Manuscritos do Mar Morto.
Diversos paralelos entre ambas as colectâneas frente ao TM revalorizaram o testemunho da versão grega.

Surgiu uma nova vertente entre os historiadores que atribui a origem da LXX a uma antiga versão hebraica, agora perdida.

Seria possível reconstituir este original judeu da LXX (Hebrew Vorlage) a partir do que se tem hoje?
Karen Jobs e Moisés Silva fizeram uma interessante analogia no capítulo 6 de seu “An Invitation...”

“Talvez uma simples ilustração ajudará a esclarecer a natureza do desafio.
Estações de tratamento de água deveriam prover uma água que fosse 100% pura, mas isto não é factível.

O obstáculo, contudo, não é razão para parar de se tratá-la ou considerar a tarefa de importância secundária.

Desde que sejamos capaz de determinar níveis exequíveis e seguros de contaminação, é certo e necessário fazer deles a nossa meta.”

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 17, 2012 9:12 pm

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Isto não quer dizer que se deva usar a Vorlage como pura e simples corretora do TM, pois esta também contém corrupções e o TM tem de ser usado para corrigi-la.

Mais amplamente, os quatro “pesos-pesados” da pesquisa exegética da actualidade – MT, LXX. Qumran e PS – tem cada um o valor na reconstituição de um possível ancestral comum;
tal como biólogos trabalham fósseis na reconstituição filogenética de sua evolução.

J. Barrera, no cap. I da quarta parte de seu “Bíblia Judaica...” assim descreve o desafio da restauração:

“Um texto reconstituído criticamente pode ser, e é muitas vezes, mais autêntico, quer dizer, está mais próximo do original que um texto documentado.

A reconstituição de textos envolve problemas similares aos da restauração artística:
qual “Sistina” é mais verdadeira e seria reconhecida por Michelangelo como própria, a que contemplávamos até alguns anos atrás, enegrecida pela tempo, ou a que hoje se oferece, remoçada de colorido?

A crítica de épocas passadas pecou no desprezo pelo tardio e tradicional (= o “massorético”), pelo canónico e confessional.

Uma grande parte da crítica actual peca, ao contrário, pelo abandono da diacronia, por não querer enfrentar o desafio do original e da distância que media entre o original e o tradicional.

Justamente esta distância é, contudo, o factor movente de todo processo hermenêutico, que permitiu libertar os textos do acúmulo de séculos para deixá-los contar sua própria história.”

Um exemplo interessante de como “testemunhos indirectos” podem acabar tendo um valor inesperado pelo facto de terem se tornado únicos:
O discurso original que Albert Einstein pronunciou em alemão por ocasião da entrega do Nobel de física de 1921 se perdeu.

Por coincidência, naquela época encontrava na universidade de Kioto, Japão, onde fez o mesmo discurso, só que desta vez ele foi anotado por um discípulo nipónico que o publicou, mais tarde, em japonês.

Este texto foi traduzido para o inglês em 1982 (Physics today 8, 1982) e desta versão inglesa que se fez a tradução para o alemão (1983).

Certo que a forma deve estar diferente do original, mas a importância do conteúdo vale a atenção.

O mesmo pode se dizer de versões latinas e gregas preservam um texto hebraico diferente do tradicional massorético.

Os originais se perderam e estas traduções se tornaram a única fonte para traçar formas antigas do texto bíblico.

Independente da apologia, este desprezo de Severino Celestino da Silva pelo antigo e não-hebraico pode ser uma fraqueza de sua obra.

Só dá valor ao texto grego ou latino na medida em que (pensa que) ele o confirma no TM.
Lembra da dobradinha ex 20:5, 34:7?

Em seu “Analisando as Traduções Bíblicas”, cap II, ele desconsidera todo a importância de crítica textual da LXX, para não dizer que até a deprecia:
“O talmude comenta que 'o dia da tradução foi tão doloroso quanto o dia em que o bezerro de Ouro foi construído, pois a Torá não poderia ser acuradamente traduzida'.

Alguns rabinos disseram que 'as trevas cobriram a terra por três dias', quando a LXX (Setenta ou Septuaginta) foi escrita”[grifos do autor]

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 18, 2012 8:45 pm

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Opiniões feitas por homens de fé e não por verdadeiros analisadores críticos, numa época em que o judaísmo já estava em rixa com o cristianismo, que adoptara a LXX, são um tanto suspeitas.

Como o próprio Severino C. da Silva observou, o famoso filósofo e teólogo Fílon defendeu a “inspiração” desta versão.

Conversa de detractor?
Não, pois gente gabaritada e insuspeita também concorda comigo nesse aspecto e, ao contrário de pesquisas ao estilo recorte/cole, dá referências precisas:

O abandono da LXX.

Os primeiros cristãos muito naturalmente escolheram a LXX como sua Sagrada Escritura e fonte para textos adicionais, visto que grego era sua língua.

Como resultado, a LXX influenciou-os não apenas pelo conteúdo da tradução em gera, mas também por sua terminologia.

O frequente uso da LXX levou os judeus a se dissociarem dela e a começar novas traduções.

À luz disso, deve-se ver as crítica a LXX em Sof. 1.7:
“Certa vez cinco anciãos escreveram a Torá em grego para o Rei Ptolomeu e tal dia foi tão agourento para Israel como o dia em que o bezerro de ouro foi feito, já que a Torá não poderia ser traduzida acuradamente”.

[Tov, cap. II]

A referência que Tov dá vem de Massekhet Soferim, membro de um conjunto de tratados da literatura rabínica conhecido como “pequenos tratados” que é editados junto com o Talmude babilónico (sim, convém a boa pesquisa dizer qual talmude é) por sua estrutura semelhante, porém Tov e mais alguns não os consideram parte do cânon talmúdico.

Além disso, possíveis fontes talmúdicas negativas podem ser confrontadas com outras injunções (só que, desta vez, directas) do mesmo livro:
"Não há nenhuma diferença entre os Livros Sagrados e Thephelin e Mezuzoth, excepto que o primeiro citado pode ser escrito em qualquer linguagem, mas o último em caracteres assírios, apenas.

Rabi Simeon b. Gamaliel diz:
A permissão para escrever os Livros Sagrados foi limitada à língua grega, somente."

(...)

"Disse R. Judas:
Os sábios permitiram escrever em grego apenas o Pentateuco, mas nada além.

E isto também foi permitido somente por causa do que aconteceu ao rei Ptolomeu, como se segue:
ocorreu ao rei Ptolomeu de trazer setenta e dois anciãos de Jerusalém e colocou-os em setenta e dois recintos separados, não os informando do propósito pelo qual ele os trouxera.

E em seguida ele entrou em cada um delas e lhes disse:
Traduza-me a Torá de Moisés de cor.

E o Sagrado, louvado O seja, enviou ao coração de cada um conselhos, e todos eles concordaram em ter uma só inspiração (mind) e mudaram conforme o seguinte:
(...)" e vem uma sequência de diferenças entre o TM e a LXX.

Fonte: Talmude Babilónico – Tratado Megilla, cap. I

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 18, 2012 8:45 pm

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Com isto fica claro que, para alguns talmudistas, a língua grega gozava de autoridade teológica, ao menos até a destruição do segundo Templo (cerca de 70 d.C).

R. Judas, inclusive, sustenta a versão lendária da origem da LXX.
De facto, porém, a versão dos setenta começou a cair em descrédito com o os judeus tempos depois;
como um reflexo da apropriação que os cristãos fizeram dela.

De início, foram criadas novas traduções extremamente literais, como a de Àquila, que resultava em um grego muitas vezes esdrúxulo, ininteligível para quem desconhece o hebraico.

Por fim, o dia de festa que era o aniversário da tradução da Torá tornou-se um dia de luto, devido aos danos que ela causou ao judaísmo
(Megillat Ta'anit 13, segundo [Barrera, pág. 150]).

Tanto a LXX quanto suas revisões foram trabalhos feitos por judeus e para judeus;
gente que se empenhou em verter as peculiaridade de uma língua para outra.

Àquila, por exemplo, reproduziu o neogilismo da primeira palavra do Géneses – Beréshit (No princípio), fusão de preposição be com o substantivo réshit (começo, princípio, parte inicial) – com um novo neogilismo grego: Entête (En tête).

A alegação, portanto, de que o valor exegético da versão hebraica foi irremediavelmente perdido na tradução é fraca e não muito defendida por estudiosos:

“A denominada 'escola das religiões' prestou grande atenção a este transvase de expressões e conceitos da Bíblia hebraica para a grega, segunda uma linha de estudo desenvolvida por G.Betram e aplicada no novo Dicionário teológico do Novo Testamento(...).

É evidente, por ex., a repugnância dos tradutores em admitir expressões gregas que tivessem ressonância pagã.

A antiga tradução latina mostra um similar rechaço.
A palavra hebraica 'torah' é traduzida correntemente pelo termo grego 'nómos'.

Todavia o conceito hebraico de 'lei' é muito mais amplo que o expresso pelo termo grego;
uma equivalência mais apropriada poderia ser 'didakhê', 'ensino', que é justamente o título de um importante escrito cristão dos primeiros tempos.

A eleição de 'nómos' pôde conduzir a interpretações excessivamente legalistas ou nomistas da lei hebraica e inclusive do própria judaísmo como um todo.

É preciso, contudo, recordar as críticas de J. Barr ao citado dicionário teológico do NT, no sentido que há de se desconfiar, em princípio, dos saltos demasiado rápidos para conclusões teológicas, desprovidas de base linguística suficiente.

Assim, por ex., Bertram desenvolvia as supostas implicações teológicas da versão do epíteto divino hebraico 'šadday ' ('o omnipotente') para o grego 'ho hikanós'.

Na realidade, todavia, o tradutor grego não fez mais que interpretar etimologicamente o termo 'šadday ' como 'še-day ' ('o que é suficiente').

A versão grega representa uma forma helenizada da Bíblia Hebraica, porém realizada por e para judeus e à maneira judaica.

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