LUZ ESPÍRITA
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Donos do Próprio Destino - Hermes/Maurício de Castro

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Donos do Próprio Destino - Hermes/Maurício de Castro - Página 4 Empty Re: Donos do Próprio Destino - Hermes/Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 11:02 am

"Quando todos desencarnaram, a surpresa que os esperava não poderia ser pior. Berta e Lúcia, aliadas a um espírito que dizia ser o demónio, levaram todos para um lago de fogo e enxofre, onde o corpo deles queimava sem parar e não tinham o alívio da morte.
"Até que as almas bondosas de Rodolfo e Carlos oraram a Jesus pedindo por eles e um mensageiro de altas esferas conseguiu libertá-los. Dois séculos de sofrimento no umbral se passaram até que Lívia, Caius, Nicole e Maurício puderam ser resgatados. Mas todos carregavam culpas imensas, e só uma nova reencarnação poderia ajudá-los. Tiveram de esperar Lúcia e Berta os perdoar, mas, como elas não cederam, espíritos superiores levaram-nas a renascer compulsoriamente. Então, todos se reencontraram na península itálica para vencer seus pontos fracos.
"Lívia deveria se casar novamente com Rodolfo e renunciar ao seu amor por Carlos, até que fosse livre para vivê-lo. Lúcia precisava perdoar Lívia pelo passado, fazendo-a sua amiga, vivendo unidas para se reajustarem mutuamente.
Berta necessitava vencer o ódio e a vontade de se vingar, provando a si mesma que adquirira a capacidade de perdoar.
"Mas ninguém fez o que prometeu ou estava programado.
Ao reencontrar Carlos, Lívia sucumbiu às tentações do adultério e afastou de si a chance de um dia viver dignamente com ele.
"Lúcia, ao estar novamente em contacto com Lívia, deixou que o ódio tomasse conta de sua alma, chegando ao ato extremo a que chegou. Berta não conseguiu conter o desejo de vingança e retribuiu na mesma moeda o que recebeu no passado: fez Lívia morrer queimada.
"Finalmente, Caius e Nicole, espíritos carregados de culpas, remorsos intensos, preferiram morrer queimados, a fim de ficarem quites com a própria consciência."
Flávia fez pequena pausa e prosseguiu:
— Mas tudo poderia ter sido diferente. Se Lívia tivesse se contido e não traído Rodolfo, um dia estaria livre para viver seu amor com Carlos. Padre Maurício reencarnou como Lucas e não venceu seu desejo de ter novamente a amante ao lado. Se Lívia tivesse resistido às tentações do sexo e se livrado das culpas que tinha no coração, não precisaria morrer como morreu.
"Cada um criou o seu destino. Lívia conheceu almas bondosas como padre Amaro e irmã Catarina. Se tivesse aproveitado aqueles ensinamentos, teria ficado no mundo, vivendo as maravilhas que o planeta tinha a oferecer, criando seus dois filhos num ambiente de alegria e paz.
"Caius e Nicole preferiram voltar porque receberiam da mãe uma educação rigorosa, onde a culpa seria imposta como único meio de não errar e se chegar a Deus.
"Lúcia e Berta poderiam tentar de tudo, mas se a energia deles não estivesse atraindo esses factos, nada aconteceria."
Lívia estava banhada em lágrimas quando perguntou:
— Então falhei novamente?
— Você não falhou, apenas fez as mesmas coisas que deram errado no passado. É preciso entender que somos donos do nosso destino, responsáveis por tudo o que nos acontece. São nossos pensamentos, nossas necessidades, crenças e atitudes que criam todas as situações que vamos enfrentar. Não existe fatalidade, nem um Deus que fica nos impingindo desgraças e sofrimentos. Tudo é criação nossa. Quando o ser humano perceber isso, além de fazer tudo sempre dentro das leis cósmicas, jamais alimentará pensamentos negativos, pessimistas, ódios e rancores. A felicidade tem o preço da consciência tranquila, mas, infelizmente, nem todos querem pagá-lo.
Lívia entendeu. Percebeu que fora responsável, mas não ia mais se culpar. A partir dali, lutaria para construir sua harmonia interior, dia após dia. Abraçou Carlos, em seguida Rodolfo e finalmente os filhos. Em prece, agradeceu a Deus pela compreensão das coisas e pediu forças para continuar a jornada evolutiva de sua alma. Finalmente estava em paz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 11:02 am

[b]O DESTINO DE CADA UM [b]
Os anos foram passando e tanto Berta quanto Fabrício usufruíram, com felicidade, da fortuna deixada por Lívia. Passados dez anos, Berta começou a sofrer algumas ausências e, de repente, enlouqueceu. Suas crises de loucura, gritos altos, delírios de perseguição, alucinações e
mania de tirar toda a roupa e correr nua pela casa, fez com que Fabrício, muito triste, a fechasse definitivamente em um dos quartos, por ordens médicas.
Berta era vítima de si mesma. Por não ter conseguido perdoar e ter assassinado três pessoas, sua consciência passou a cobrar constantemente o ato praticado e, se antes conseguia disfarçar seus temores, chegou um momento que, envolvida por obsessores, desencadeou a crise de loucura que a deixou morta para o mundo.
Irmã Lúcia estava louca como ela, e em processo simbiótico, colava-se a seu perispírito de tal maneira que as duas pareciam uma só. Espíritos das trevas, interessados em fazê-las de cobaias em suas experiências, aguardavam ansiosos que Berta desencarnasse para levá-la, juntamente com irmã Lúcia a um laboratório do astral inferior, onde passariam por terríveis experiências.
Fabrício acabou por se unir a Luzia assim que a mulher desencarnou, descobrindo na serva uma mulher sincera, bondosa e companheira, como sempre havia sonhado para si. Não houve um dia sequer, desde que Lívia e as crianças morreram, que eles não se juntassem no imenso oratório rogando por suas almas.
Muitos anos se passaram até que todos regressaram ao astral. Marina, a mentora da colónia que eles habitavam, chamou-os e disse-lhes o que poderia lhes acontecer na próxima encarnação. Haviam de se reunir novamente, desta vez no Brasil, para tentarem a reconciliação e se amarem mutuamente.
Foi com esperança no coração que todos aceitaram as normas estabelecidas e, dentro dos limites, escolheram os desafios que iam enfrentar.
Depois que a reunião terminou, Lívia e Carlos saíram de mãos dadas por um dos imensos jardins que circundavam o parque e foram se deitar sobre linda grama, olhando as estrelas que cintilavam no céu.
— Como é imensa a bondade divina que, mesmo vendo todos os nossos erros, ainda nos permite este momento de ventura, onde podemos viver o nosso amor! — disse Carlos emocionado.
— Sabe que na próxima reencarnação levaremos mais de cinquenta anos para nos encontrar. Será que teremos paciência para escolher a solidão afectiva até lá? — questionou Lívia, preocupada.
— Traremos a vontade de ter um grande amor, mas ninguém que apareça em nosso caminho vai nos completar.
E, mesmo que apareça, a relação sempre vai dar errado e terminar. Foi isso o que rogamos aos mentores que façam por nós. Afinal, não podemos nos envolver em relações desnecessárias, criar laços com pessoas que não temos afinidade em nome da pressa ou da carência emocional.
— Sei que Deus vai nos amparar. Cansei de errar e Ele está vendo meu propósito.
— O meu também!
Lívia e Carlos calaram-se emocionados. Apesar de todos os erros, se Deus havia permitido que ficassem juntos é porque o amor que os unia era verdadeiro e eterno. Beijaram-se com carinho e, abraçados, murmuraram uma prece:
— Deus de infinita bondade e misericórdia, permita sempre que o Teu amor invada nosso coração para que possamos agir no bem, na honestidade e no amor. Muito erramos, Senhor, por sair do caminho certo, por não termos escutado nossa alma, por termos vivido mais para o mundo do que para Ti. Mas Te pedimos, querido Pai de bondade, não nos separe nunca mais, pois com o amor que sentimos um pelo outro venceremos todos os obstáculos do caminho!
Eles não podiam ver, mas ao redor estavam espíritos iluminados, mensageiros de Deus, banhando-os em luzes de harmonia. Dali em diante, seguiriam o caminho correto da redenção, encontrando a felicidade, que só o verdadeiro amor é capaz de proporcionar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 11:03 am

PARTE II
NO PRESENTE*

* Os personagens se encontram novamente. Alguns reencarnam com o mesmo nome: Carlos, Rodolfo, Nicole, Amaro, Luzia e Berta. Os outros têm os seus nomes mudados: Lúcia agora é Lucélia, Lívia é Virgínia, Caius é Caio, Ricardo é Germano e Enrico é Marília (N.A.E.)

TODOS REENCARNAM
Rio de Janeiro, março de 2004.
Era alta madrugada quando o telefone começou a tocar insistentemente na mansão dos Cerqueira de Lopes.
Luzia, a governanta, levantou-se bocejando, tentando vencer o sono e, ao mesmo tempo, o medo, pois sabia que só uma pessoa ligava àquela hora para a mansão. Temerosa, atendeu:
— Mansão dos Cerqueira de Lopes, boa noite.
Logo a voz fina e irritante de Lucélia se fez ouvir:
— Queridinha, você sabe que aprecio as formalidades do mundo civilizado, mas comigo não precisa chegar a tanto. Vamos pular essa parte. Naturalmente, você deve imaginar por que liguei, não é?
Luzia tinha verdadeiro horror de Lucélia, a chefe daquela família, por esse motivo ficou alguns minutos em silêncio sem saber o que dizer. Na verdade, tudo o que dissesse iria desagradar-lhe, pois ela tinha génio forte e não possuía o dom da paciência. Pensou rápido e respondeu o que achou mais conveniente:
— Acredito que a senhora ligou para avisar que está chegando ao Brasil.
— Vejo que continua mantendo o pouco de inteligência que possui. Avise Virgínia que estarei desembarcando no Galeão amanhã, às quatro da tarde. Naturalmente, a quero me esperando ao lado de meus filhos. Mande que vá de limusine.
— Tudo bem, senhora. Vou mandar preparar o quarto de hóspedes.
Lucélia sorriu irónica ao dizer:
— Não, não, querida. Estou viajando acompanhada.
Peça a Virgínia para reservar uma suíte presidencial no Copacabana Palace. Eu sei que sua memória não é lá essas coisas, mas espero que não esqueça de nada, caso contrário, vai se ver comigo.
Mesmo tremendo de medo, Luzia ia dizer mais alguma coisa, mas Lucélia já havia desligado o telefone em sua cara sem a menor cerimónia.
O sono de Luzia acabou por completo. Sentou-se em luxuosa poltrona já imaginando o inferno que seria a vida daquela família assim que a patroa pisasse os pés no Brasil.
Tinha ódio da maneira como ela tratava a irmã e os filhos. Virgínia era uma pessoa maravilhosa, e tanto Caio quanto Nicole eram jovens bons, simples e agradáveis.
Lucélia, ironicamente, criticara sua memória, mas ela lembrava muito bem o que havia acontecido seis meses atrás, quando Rodolfo morreu. As três únicas testemunhas do que realmente havia acontecido eram ela, Virgínia e Lucélia. Depois daquela tragédia, seu maior desejo era ir embora daquela casa e, se possível, de cidade. Seus filhos moravam no interior de São Paulo e ela sonhava em viver com eles. Mas as ameaças de Lucélia, inclusive a de tirar sua própria vida ou a dos filhos, a fizeram recuar. Tinha provas concretas do quanto aquela mulher era perigosa, vingativa e capaz de tudo para encobrir o terrível segredo daquela família.
Ficou mais de meia hora no sofá, quando ouviu o barulho do carro de Virgínia aproximando-se da garagem.
Assim que ela entrou na sala e ligou as luzes, assustou-se com a figura de Luzia sentada no sofá àquela hora. Preocupada, perguntou:
— O que faz no sofá até esta hora, Luzia? Aconteceu algum problema na casa?
Pálida e tremendo, Luzia respondeu:
— Sua irmã está chegando ao Brasil amanhã. Acabou de ligar.
Virgínia levou um susto, mas tentou controlar-se.
— Será um tormento, como sempre, mas saberemos lidar com a situação; afinal, não é a primeira vez — sentou-se no sofá e, carinhosamente, apertou as mãos de Luzia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 11:03 am

A governanta continuou, preocupada:
— Não é a primeira vez que vem, mas a primeira que volta depois da morte do dr. Rodolfo. Seis meses é muito pouco tempo, ela disse que passaria pelo menos um ano na Europa. Tenho medo de que essa vinda dela tenha um mau propósito. Não quero ver a senhora e as crianças sofrendo.
Virgínia sentiu que Luzia tinha razão. Sua irmã Lucélia detestava o Brasil. Desde o início do casamento com Rodolfo, vinte anos atrás, ela fez questão de tomar conta das empresas da família, que ficavam na América do Norte e na Europa. Por essa razão, viajava bastante, muitas vezes passando até mais de um ano fora. Caio e Nicole foram criados por Virgínia, porquanto Rodolfo também viajava constantemente para ficar com a mulher, deixando as empresas do Brasil por conta do irmão, Germano.
Aquela volta de Lucélia tão repentina certamente não era boa coisa. Ela olhou para Luzia com os olhos marejados e pediu:
— Por favor, você precisa nos ajudar. Muita coisa aconteceu com Caio e Nicole nesse tempo em que Lucélia ficou fora. Mas, haja o que houver, ela jamais poderá saber o que está acontecendo com os dois.
Luzia abraçou Virgínia com carinho e respondeu:
— Fique tranquila, dona Virgínia. Agora acho que precisamos relaxar, vou fazer um chá. — Fez pequena pausa e, já indo para a cozinha, voltou e perguntou: — Como foi o casamento de Bruna? O nervoso foi tanto que me esqueci de perguntar.
— Bruna estava linda e Rodrigo um deus grego. Eles formam um belo par. A festa também estava linda. Caio e Nicole decidiram continuar por lá, divertindo-se com a banda de música. Como sempre, vim na frente.
O rosto de Luzia contraiu-se ao dizer:
— Nem imagino como vão reagir quando souberem que a mãe chega amanhã.
Virgínia não respondeu, mas imaginava a mesma coisa. Vendo a patroa calada, dirigiu-se à cozinha, deixando-a com seus pensamentos.
Depois que as duas tomaram o chá e conversaram um pouco mais sobre a chegada de Lucélia, cada uma foi para seu quarto. Virgínia se preparou para dormir, mas como sempre acontecia quando a irmã anunciava que iria voltar, não conseguiu conciliar o sono de pronto.
Rememorou todo o passado, desde a adolescência das duas até o casamento de Lucélia com Rodolfo, quando as coisas começaram a acontecer. Até aquele dia, vinte anos depois, ela imaginava como havia aceitado a proposta que o casal lhe fizera. Chorou sentidamente, até que resolveu abrir ao acaso O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, que seu grande amigo Amaro lhe dera de presente.
Fazia alguns meses que estava frequentando um Centro Espírita e estava gostando muito da filosofia.
Abriu o livro e leu o título da mensagem: "O mal e o remédio". Virgínia mergulhou na leitura daquelas sábias palavras e, no fim, se sentiu encorajada para enfrentar o que tivesse de ser. Fez uma prece de agradecimento a Deus pelo alívio que estava sentindo e, em seguida, adormeceu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 11:03 am

CAIO E NICOLE RECEBEM UMA NOTÍCIA
Virgínia acordou mais tarde que o habitual por conta da hora em que havia ido dormir na noite anterior. O café da manhã estava sendo servido quando viu Caio e Nicole descendo as escadas alegres e comentando sobre os acontecimentos da festa. Entristeceu-se ao pensar que logo estariam preocupados em razão da chegada repentina da mãe.
Ambos beijaram a tia e foram se servindo, ainda entre comentários. Nicole tinha 19 anos, era a mais nova. Pele clara, lábios carnudos levemente coloridos com discreto batom, cabelos lisos e loiros, como os da mãe e da tia, sempre trazia o semblante sereno e um sorriso no rosto. Caio era um ano mais velho, igualmente branco como a irmã, mas possuía cabelos castanho-escuros, como os do pai.
Apesar de simpático, tinha no rosto uma expressão preocupada e muitas vezes triste, como se algo o incomodasse profundamente. Mas o que mais sobressaía nele era sua beleza física, que se traduzia num rosto principesco aliado a um corpo bonito, trabalhado disciplinadamente em academias de musculação.
Enquanto eles conversavam alegres, Virgínia os observava com enlevo. Apesar de filhos da irmã, fora ela quem os havia educado, mostrado o lado bom do mundo e das pessoas. Diferentemente da mãe, nenhum deles tinha preconceito sobre nenhum aspecto da vida e, apesar de milionários, possuíam amigos de todas as classes sociais, não fazendo distinção entre as pessoas.
Nicole estava no primeiro semestre do curso de Administração de Empresas, pois tencionava trabalhar para a família. Já Caio, embora estudioso e tendo concluído o Ensino Médio, tentara ser aprovado em vestibulares para o curso de Direito, sem sucesso. Afirmava que seu sonho era ser advogado e que tentaria quantas vezes fosse preciso. A determinação dele era admirada por todos da família.
Aproveitando um dos intervalos da conversa, Virgínia falou:
— Meus queridos, tenho uma notícia para vocês.
— Coisa boa? — inquiriu Caio. — Vindo da senhora, só pode ser.
Nicole estava calada esperando a tia falar.
— Não é boa nem ruim, depende de como vocês verão a situação.
— Fale logo, tia — pediu Nicole impaciente. — Pelo visto não é nada bom.
— A mãe de vocês está chegando hoje ao Brasil, às quatro da tarde.
Tanto Nicole quanto Caio levaram um susto tão forte que empalideceram.
— A senhora só pode estar brincando. Mamãe iria ficar mais de um ano fora — disse Caio temeroso.
— Ela não costuma voltar tão rápido ao Brasil. O que será que aconteceu? — inquiriu Nicole, bastante apreensiva.
— Isso eu não sei, ela nunca conta nada que está fazendo ou pensa em fazer. Apenas avisou que ficará em um hotel e que está viajando acompanhada. Ligou ontem de madrugada, enquanto estávamos na festa. Foi Luzia quem atendeu o telefone.
— Meu Deus! — exclamou Nicole, deixando no prato o resto do brioche que acabara de pegar. — Ela não poderia vir agora, com tudo o que está acontecendo comigo e com Caio. O que será de nós?
A voz de Nicole estava trémula e seus olhos cheios de lágrimas.
— Fiquem calmos. Se bem a conheço, ela deve estar vindo para resolver algum problema das empresas e não vai se demorar por aqui. Ela odeia o Brasil. O que vocês precisam fazer é tomar muito cuidado. Se Lucélia souber o que está acontecendo, não sei o que será capaz de fazer.
— Virgínia fez uma pausa e, com voz altiva, disse: — Mas, desta vez, não vou ficar passiva. Se ela descobrir alguma coisa e tentar prejudicá-los, não vou deixar.
Os dois, tocados pelas palavras da tia, levantaram-se para abraçá-la.
— Tia, temo que a senhora não consiga fazer nada por nós. Sei que tem medo de nossa mãe, coisa que nunca entendi — afirmou Caio com receio.
— É mesmo, tia! A senhora é livre, independente, tem muito dinheiro da herança do vovô e também os lucros das empresas, inclusive a mansão, que é sua. Nunca entendi sua submissão à mamãe — completou Nicole.
Virgínia não sabia o que responder. A verdade é que Lucélia sabia de um grave segredo seu que, se viesse à tona, poderia destruir toda sua vida. Mas os sobrinhos não poderiam saber, por essa razão disse:
— Sua mãe é cinco anos mais velha que eu; desde a infância ela tem essa personalidade forte, mandava até em nossos pais. Contudo, perdi o medo dela, tanto que lhes posso jurar que se Lucélia lhes atrapalhar a vida não vou permitir. Chega!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 8:29 pm

Virgínia falou com tanta convicção que os dois acreditaram.
— Obrigado, tia — agradeceu Caio abraçando-a novamente.
— Não sei o que seria de nós sem a senhora, sem a sua bondade.
— Sei do grande carinho que sentem por mim, mas agora vão programar as coisas para que às quatro em ponto estejamos no Galeão. Vocês sabem que Lucélia odeia atrasos.
Obedecendo à tia, os dois foram para o quarto. Luzia, que ouvira toda a conversa, entrou na sala e disse:
— A senhora terá coragem, mesmo, de defender seus sobrinhos enfrentando sua irmã? E o segredo?
— Eu não aguento mais esse passado que me persegue.
Desta vez vou enfrentá-la, sim. Caso ela revele o segredo, também sairá prejudicada. Talvez mais que eu. O que não posso é deixá-la interferir na felicidade dos meus sobrinhos que tanto amo. Egoísta como ela é e também preconceituosa, jamais vai aceitar o que eles estão fazendo.
Mas ela vai se ver comigo.
— Só lhe peço que tome muito cuidado. Dona Lucélia é cruel, má e vingativa. Temo por sua felicidade.
— Não se preocupe, Luzia. Sei cuidar de mim.
Nesse momento, uma menina de seis anos entrou na sala, correu para os braços de Virgínia, abraçando-a com vigor e chamando-a de mamãe.
— Oh, minha linda! Estava ouvindo a conversa da mamãe? Coisa feia, hein! Papai do céu castiga.
A menina, com sorriso terno, olhou-a e perguntou:
— É verdade que aquela bruxinha vai voltar?
Luzia e Virgínia gargalharam pelo tom inocente com que Berta havia dito aquelas palavras.
— Vai, sim, mas você é uma criança gentil, educada e não vai fazer malcriação como da última vez, quando colou chiclete em seu vestido. Tem de me prometer, hein!
A menina sacudiu a cabeça em tom afirmativo e pediu:
— Mamãe, quero sorvete, sorvete de morango.
— Vá com Luzia que ela lhe dá quantos sorvetes quiser.
— Oba, oba! — expressou-se a pequena Berta radiante, seguindo para a cozinha com Luzia.
Enquanto estava sozinha na sala, Virgínia meditou em como fora feliz sua ideia de ter adoptado Berta. Ela era uma mulher de cinquenta anos e nunca havia tido sorte no amor. Desde a adolescência, mesmo bonita e atraente, nunca havia conseguido um namorado. O tempo foi passando, e alguns que apareceram sumiram em poucos dias.
Ela foi ficando só e acabou por se acostumar com a solidão, mas havia dias em que o sentimento a tomava com muita força e ela chorava às escondidas. Por que todos tinham a chance de ter um amor, serem felizes, menos ela? É claro que o fato de ter criado os sobrinhos a preencheu bastante, mas sentia falta de um companheiro com quem dividir a vida, os pensamentos, os pequenos e grandes problemas do dia a dia. Foi aí que resolveu adoptar uma criança, para amenizar o vazio que ia em seu coração. Caio e Nicole já estavam criados, saíam muito, e ela passava a maior parte do dia naquela mansão imensa e vazia. Nunca havia se formado e, assim como a irmã, delegou total poderes a Germano para gerir sua parte nas empresas. É verdade que preenchia o tempo com chás beneficentes, passeios, viagens, jantares com amigas em bons restaurantes, mas, quando voltava para casa, a solidão a amargava. Berta chegou na hora exacta para amenizar essa dor.
Estava tão entretida com seus pensamentos que levou um grande susto ao ouvir um grito alto vindo da cozinha. Correu para lá e encontrou Luzia aflita:
— Uma das panelas de água fervendo derramou sobre o bracinho de Berta, enquanto eu colocava os sorvetes na taça. Não sei como isso foi acontecer. Temos de levá-la ao hospital.
Virgínia olhou para Berta, que se mantinha tranquila e não chorava.
— Está doendo muito, querida? Mamãe vai levá-la ao médico.
A criança, como se nada houvesse acontecido, disse sorrindo:
— Não está doendo nada, mamãe, não precisa ir ao doutor, olha só. — Passou a mão pelo braço que estava vermelho e, de facto, não sentiu dor. Virgínia estranhou.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 8:30 pm

Perguntou a Dolores, cozinheira-chefe:
— A panela estava fervendo mesmo?
— Sim, senhora. Mas não foi culpa minha, quando eu vi, a menina já estava puxando o cabo da panela — falou Dolores, com medo de ser demitida.
— Sei que não foi sua culpa. Berta é muito levada.
Perguntei para ter a certeza, pois ela não está com dor.
— Estranho, não é, senhora? — indagou Dolores.
Virgínia não respondeu. Pegou uma pequena toalha que Luzia lhe oferecia e acabou de secar a menina, levando-a para o quarto. Lá chegando, observou melhor e viu que tinha uma grande mancha vermelha no local onde a água havia caído.
— É estranha essa insensibilidade, Luzia — disse Virgínia, preocupada. Amanhã vou levá-la a nosso médico de confiança. Será que é algum problema nos nervos?
— Creio que não, senhora. A menina está mexendo normalmente a mão e o braço.
Preocupada, Virgínia deixou Berta com Luzia tomando sorvete e foi para o seu quarto. Precisava esquecer um pouco aquele problema para se preparar para outro muito pior: a chegada da irmã.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 8:32 pm

LUCÉLIA CHEGA
O avião que trazia Lucélia Cerqueira de Lopes até o Brasil aterrou no Aeroporto do Galeão com 15 minutos de atraso. Lá estavam Virgínia, os sobrinhos e o chofer da limusine esperando-a, como acontecia todas as vezes que ela regressava ao país.
Em poucos minutos, Lucélia surgiu acompanhada de um rapaz alto, moreno-claro, olhos verdes, porte atlético, que empurrava o carrinho com as bagagens. Caio e Nicole apressaram-se a abraçá-la e, em seguida, Virgínia.
— Como é bom vê-los! — exclamou Lucélia com certa afectação. — Confesso que são as únicas coisas que ainda me prendem a esta terra triste e longe da civilização que vocês chamam de Brasil. Como estão todos?
— Muito bem, querida irmã — ponderou Virgínia, disfarçando a apreensão. — Ficamos todos surpresos com sua volta repentina.
— Minha volta repentina teve um bom motivo. Mas, antes de falar qualquer coisa, quero apresentar a vocês Pierre, meu novo companheiro.
O susto foi geral. Havia apenas seis meses que Lucélia enviuvara e aquele rapaz era jovem demais para ser companheiro de uma senhora de 55 anos. Lucélia percebeu a estranheza que causou e disse:
— Ora, ora, não venham me dizer que não vão cumprimentar Pierre apenas porque ele é alguns anos mais novo que eu.
Refeitos do susto, eles cumprimentaram Pierre, que, muito simpático, respondeu-lhes em português. Lucélia esclareceu:
— Pierre é francês, mas viveu alguns anos no Brasil quando a família estava em crise, por essa razão aprendeu esse nosso horrível idioma. Confesso que detesto ouvir essa língua, mas, já que estamos aqui, falemos o português.
O humor de Lucélia era lúgubre demais para alguém achar graça. Ela continuou:
— Por favor, meu amor, acenda meu cigarro. — Lucélia colocou um cigarro importado numa piteira, enquanto Pierre o acendeu solícito, e ela continuou: — Vamos indo que eu detesto ficar nesses aeroportos. Daqui a pouco aparece um monte de mendigos, assaltantes, drogados, e eu não quero gastar minha beleza com esses probleminhas de Terceiro Mundo.
Virgínia odiava a maneira pela qual a irmã se referia ao Brasil, mas não estava disposta a discutir naquele momento. Foram todos para a limusine, que seguiu até a mansão da família, na Gávea. Durante o trajecto, conversaram amenidades, sempre cortados com as piadas sem graça e preconceituosas de Lucélia.
Assim que chegaram, esperaram que ela e Pierre tomassem banho para conversarem na sala.
Caio e Nicole estavam bastante nervosos.
— Tenho medo de deixar escapar que estamos escondendo algo — falou Caio apreensivo.
— Também estou com medo — respondeu Nicole, com os olhos rasos d'água.
— A mãe de vocês está ocupada demais com o novo companheiro para perceber alguma coisa. Não notaram como está de bom humor? Até agora não reclamou de nada — observou Virgínia.
— Nossa mãe exagerou. Tinha de achar um amante tão novo assim? — bradou Caio.
— Ela é uma mulher à frente de seu tempo, não estranhe — esclareceu Virgínia.
— Disso não tenhamos dúvidas. Mas e por que não foram directo para o hotel?
— Parece que vocês não conhecem a mãe que têm.
É hábito dela chegar e vir primeiro aqui, tomar um demorado banho, trocar de roupa, inteirar-se dos problemas da família. Só depois é que vai para o hotel, principalmente agora, com o namorado.
— Minha mãe... Tão moderna em alguns pontos, mas tão preconceituosa e retrógrada em outros. Ela nunca vai aceitar o que está acontecendo connosco — comentou Nicole irritada.
— É bom que não falemos sobre isso agora. Daqui há pouco ela desce e pode ouvir algo da nossa conversa.
Meia hora depois, Lucélia e Pierre desceram as escadas de mãos dadas, o que mais uma vez causou estranheza nos presentes. Ela percebeu, mas fingiu não ver.
Enquanto tomavam os licores, ela começou:
— Como vocês imaginaram, não voltei ao Brasil tão rápido à toa. As empresas estão passando por uma série de problemas, e o Germano me ligou há quinze dias me colocando a par da situação que só eu, como presidente, poderei solucionar. Mas minha volta tem mais um motivo.
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Donos do Próprio Destino - Hermes/Maurício de Castro - Página 4 Empty Re: Donos do Próprio Destino - Hermes/Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 8:32 pm

Vim para buscar Nicole e Caio para morarem comigo em Paris. Por essa razão, quero que arrumem tudo. Assim que eu resolver os problemas das empresas, vocês vão embora para sempre deste lugar infeliz.
A surpresa não poderia ser mais desagradável. Caio protestou:
— Quero ficar, não vou! Preciso passar no vestibular e estudar Direito para ser advogado, como sempre sonhei.
Nicole, tomando coragem, também recusou:
— Não desejo ir com a senhora. Estou no primeiro semestre do meu curso e não pretendo deixá-lo.
Lucélia detestava ser contrariada, mas sentia que precisava ter muito tato para lidar com os filhos. Ambos eram maiores de idade e não poderiam ser obrigados a nada. Ela teria de vencê-los por meio da persuasão, coisa que ela era mestra em fazer. Sempre conseguia tudo o que queria da vida, não seria agora, com os filhos, que perderia a batalha. Levantou-se, abraçou-os e, com fingido carinho, disse:
— Sabia que vocês iriam resistir. Sei que adoram viver agarrados na barra do vestido de Virgínia, mas são jovens e vão compreender que só lhes quero o bem.
— Mas nosso bem é aqui. Amamos o Brasil, o Rio de Janeiro — argumentou Nicole, visivelmente irritada.
— Ora, minha filha, vocês nasceram e foram criados aqui, neste balneário que chamam de Rio de Janeiro, mas foram inúmeras vezes à Europa para perceber a diferença brutal. Não é possível que dois jovens inteligentes, ricos, como vocês, troquem a civilização por uma tribo indígena.
Pensem bem. Os cursos universitários no Brasil são os piores do mundo — exagerou Lucélia. — Aqui, quando se sai de uma faculdade, já se está com seis anos de atraso no que diz respeito às actualidades do próprio curso.
— Não acredito que seja assim, Lucélia — ponderou Virgínia. — Você é suspeita, não pode falar assim do nosso país, está exagerando e sabe disso.
— Cale-se, Virgínia — bradou Lucélia em tom ríspido.
— Quem é você para dar opiniões sobre um país do qual nem conhece as leis? Pensa que não sei que seu interesse é só em revistas de fofoca, novelas, chás beneficentes, caridade, dentre essas outras coisas fúteis do mundo?
Você não conhece a realidade deste país mais do que eu.
Não quero que meus filhos continuem aqui sob hipótese nenhuma. Antes o Rodolfo era vivo e não queria que os filhos ficassem longe dele indo estudar fora, mas agora ele morreu e eu sou a mãe. Está decidido. Assim que resolver meus problemas com Germano, voltaremos para Paris.
— E se nós não quisermos ir? — perguntou Caio com certa altivez.
— Vocês vão pensar melhor e verão que a mãezinha de vocês tem razão.
— Mas, mamãe, nós aqui temos nossas amizades, nossos grupos sociais. Além de tudo, não podemos ir e deixar a tia Virgínia sozinha nesta mansão imensa. Não sente pena dela? — questionou Nicole, já com vontade de agredir a mãe.
— Pena? — disse Lucélia com ironia. — A tia de vocês sabe muito bem lidar com a solidão; afinal, são cinquenta anos sozinha. Além do mais, agora ela terá a companhia dessa menina órfã que adoptou.
Levantou-se, abraçou e beijou Pierre nos lábios, dizendo:
— Estamos partindo para o hotel. Por favor, não me interrompam por nada deste mundo enquanto eu estiver por lá. Se eu precisar, ligo para vocês. Até logo.
Eles foram saindo lentamente, mas Nicole percebeu que Pierre a havia olhado profundamente com interesse.
"Ainda mais essa", pensou. "O namorado da minha mãe de olho em mim."
De volta à sala, agora sozinhos com Virgínia, os irmãos estavam desolados. Como enfrentar a mãe? Até aquele momento ela não os estava forçando, mas com certeza partiria para a força bruta, se fosse necessário.
Virgínia os consolou:
— Eu lhes fiz uma promessa, esqueceram? Vocês só vão embora daqui se quiserem. Caso contrário, eu impedirei.
— Só temos a senhora para nos ajudar, tia. Como ela quer ter direito sobre nós? Nunca ligou para a gente, sempre nos abandonou por causa dos negócios. Foi a senhora e papai que nos criaram. Ela não tem nenhum direito de nos impor o que quer que seja — disse Caio enraivecido.
— Não se preocupem. Vão para o quarto, arrumem-se e saiam. A noite estará linda, aproveitem que hoje é domingo e amanhã vocês não trabalham.
Caio e Nicole, mais animados com o apoio da tia, subiram para os quartos com alegria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 8:32 pm

Assim que viu a patroa sozinha, Luzia foi ao seu encontro:
— Não sei como a senhora pode ser irmã de uma pessoa monstruosa como a dona Lucélia. Os meninos têm razão, ela jamais pode descobrir a verdade.
— Fique despreocupada, Luzia. Lucélia sabe que nós sabemos o segredo que pode colocá-la atrás das grades.
Se for necessário, eu a ameaçarei com a prisão.
— Terá coragem mesmo? E se ela revelar o seu segredo aos meninos? Eles nunca vão perdoá-la.
— Correrei esse risco, mas não posso deixar que minha irmã os faça sofrer mais do que já estão sofrendo.
Ir embora do Brasil seria o fim para eles.
— Espero que a senhora consiga...
Após alguns segundos de silêncio, Virgínia perguntou:
— Onde está Berta?
— Continua brincando no quarto.
— Não se queixou de dor de forma alguma?
— Não, senhora, e isso é muito estranho.
— Amanhã vou levá-la ao médico. Estou preocupada.
— Eu também, tomara que não seja nada grave.
A conversa terminou e Virgínia subiu para o quarto.
Após trocar de roupa, sentou-se numa luxuosa poltrona, abriu O Evangelho Segundo o Espiritismo e leu. Depois, rogou a Deus auxílio para toda sua família e forças para que ela pudesse fazer o que era preciso sem temer as consequências de seus erros passados.
Sua prece foi tão sincera que logo o espírito de madre Catarina, sua mentora, apareceu. Com as mãos impostas sobre ela, lançou-lhe energias de calma e paz.
Alguns minutos depois, ela estava muito mais tranquila e harmonizada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 8:33 pm

OS PROBLEMAS DE CAIO
Na segunda-feira pela manhã, antes mesmo que a irmã aparecesse na mansão, Virgínia saiu cedo com Berta rumo ao consultório do dr. Jaime. Estava muito preocupada com o estado de saúde dela e temia o pior.
Sentadas na sala de espera do famoso dermatologista, ela não conseguia conter a ansiedade. Finalmente, chegou a hora de serem atendidas.
Diante do médico, Virgínia expôs o que aconteceu em detalhes. O experiente especialista começou minucioso exame no braço da menina, e depois por todo o corpo.
Depois de meia hora, voltou a sentar-se à frente de Virgínia e disse:
— Infelizmente, não tenho uma boa notícia para lhe dar. — Por favor, fale sem rodeios.
— Sua filha está com hanseníase, e, pelo que pude observar, suspeito que é o caso em que a doença é mais severa, além de altamente contagiosa.
Virgínia já imaginava aquilo, mas a constatação dita pelas palavras claras do médico fez com que ela ficasse tomada de verdadeiro terror. Sem querer, deixou que lágrimas sentidas escorressem por sua face.
O médico ponderou:
— Não precisa ficar desse jeito, Virgínia. A hanseníase é uma doença grave, com certeza, mas hoje em dia em quase todos os casos, existe cura. Se for tratada adequadamente e com o rigor que o problema requer, tenho quase certeza de que ela vai se curar.
Apesar das palavras de conforto do médico, Virgínia continuou sob o impacto do choque:
— Meus Deus! Por que isso foi acontecer justamente com minha filha? O senhor disse que o caso dela parece ser o mais severo da doença e que é altamente contagiosa.
Como vou viver com ela a partir de hoje?
O médico pensou por alguns segundos, depois disse:
— Não existem mais hospitais de isolamento para pessoas com esse problema. Na fase terminal da doença, caso o paciente não obtenha a cura, ele é levado para isolamento
em qualquer hospital que tenha estrutura. Mas a senhora está sendo muito precipitada e antecipando os fatos. Sua filha pode estar com a manifestação mais grave da doença, mas há cura também para a maioria desses casos. A doença está no início, o que aumenta ainda mais as chances de cura.
— Não temo por mim, que a amo como se fosse minha verdadeira filha, mas comigo moram meus dois sobrinhos e empregados. Berta terá de ficar isolada de todos eles? — perguntou Virgínia, com extrema angústia.
— Isolada não é bem o termo, mas afastada. É claro que toda sua família deve ficar sabendo para evitar atitudes que promovam o contágio.
O médico disse todas as atitudes que deveriam ser tomadas e finalizou:
— Minha experiência garante que se trata de hanseníase, mas preciso ter a confirmação por meio de exames laboratoriais. Vou prescrevê-los e, quando estiverem prontos, a senhora me traz o mais rápido possível. Berta precisa começar o quanto antes o tratamento.
Virgínia apertou a mão do médico, saiu da sala e, quando olhou para Berta, que a esperava do lado de fora, não conteve o pranto. A menina aproximou-se:
— O que foi, mamãe? O doutor brigou com a senhora?
— Não, querida. São coisas de gente velha, que você não entende por ser muito novinha.
— E o que eu tenho no braço? Vi quando o médico colocou a luzinha e percebi que há uma mancha vermelha.
Não foi sujeira com tinta.
Quanto mais Berta falava, mais Virgínia sentia vontade de chorar. Controlou-se:
— O médico disse que você está com um probleminha na pele que aparecem manchas e no lugar delas você não sente dor. Foi por esse motivo que não sentiu nada ontem, quando a água fervente caiu em seu braço.
— E como vou ficar boa? — indagou a criança ainda inocente.
— Ele vai passar uma pomadinha que vai fazer com que melhore. Agora vamos para casa e no caminho vamos tomar uma grande taça de sorvete.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 8:33 pm

Berta sorriu alegre e elas partiram.
Virgínia indagava-se o porquê de aquilo estar acontecendo com sua filha. O que ela ignorava era que Berta estava recebendo o resultado de sua acção da vida passada —, quando matou Lívia, Caius e Nicole queimados. Depois que se arrependeu no astral, Berta entrou num estado de terrível remorso que a fez renascer com o organismo predisposto a desenvolver o mal de Hansen. Como não conseguiu se perdoar pelo que fez, para com isso trabalhar sua reparação pelos caminhos do amor, ela escolheu expiar a falta vendo seu corpo arder e se diluir como fez com outras pessoas. Como a consciência é o juiz supremo do espírito, onde quer que ele esteja, Berta estava passando pelo resultado de suas escolhas.
* *
Naquela manhã, depois do café, Nicole partiu para a universidade, enquanto Caio trancou-se no quarto, jogando-se sobre a cama. Não estava tranquilo, ao contrário, sua preocupação com a chegada da mãe só fizera aumentar, tanto que mal se alimentara direito.
Olhou para o quarto e percebeu que, apesar de ter todo o luxo que uma pessoa pudesse almejar e o amor de uma tia que o tinha como filho, ele não era feliz.
Tudo começou no início de sua adolescência, quando descobriu que o que sentia era diferente do que os outros rapazes de sua idade sentiam.
Enquanto seus amigos olhavam as garotas com interesse e faziam de tudo para se relacionarem com elas, ele se interessava pelos rapazes. Começou admirando-os pela beleza, mas logo sentiu despertar o desejo sexual.
Aterrorizado e com medo de ser homossexual, ainda se relacionou com algumas moças, mas sentiu-se muito mal, porque não sentia absolutamente nada por nenhuma delas.
A constatação de que ele era gay foi-lhe penosa.
Como os amigos reagiriam quando soubessem a verdade?
Como sua tia Virgínia, Nicole e, principalmente, sua mãe agiriam quando soubessem dessa sua particularidade?
Passou muitos dias entristecido, sem sequer querer comer. Foi difícil esconder de todos o porquê daquela situação.
Foi lutando contra os seus sentimentos e melhorou, mas no íntimo sentia-se temeroso, pois a qualquer momento alguém poderia desconfiar. Ele já não saía com tanta frequência com as garotas e, embora seus amigos acreditassem em suas desculpas, sabia que um dia não daria mais para esconder.
Ele se sentia homem, tinha jeito de homem, gostava das coisas que os homens gostavam. Adorava futebol, academias de musculação e dos amigos héteros que tinha, só seu sentimento e desejo íntimo é que eram direccionados a pessoas do mesmo sexo. Não foram poucas as noites que ele passara em claro, tentando descobrir por que muitas pessoas eram homossexuais. Buscou explicações em Freud, Lacan, em sites de psiquiatria, mas as informações eram desencontradas, divergentes, e ninguém tinha certeza de nada.
Alguns diziam que a causa eram experiências vividas na infância, no seio familiar, principalmente a falta de um pai. Mas com ele isso não aconteceu. Sua infância foi sem problemas, e seu pai, Rodolfo, era-lhe amigo constante, indo com ele a todos os lugares e até mesmo o acompanhando a partidas de futebol no Maracanã. Só quando ele estava com oito anos é que o pai passara a viajar com mais frequência, mesmo assim, quando regressava, ambos ficavam todo o tempo juntos, trocando confidências. O pai sobre as viagens, ele sobre suas brincadeiras e seus estudos.
Definitivamente, aquela teoria não correspondia ao seu caso. Virgínia o havia criado muito bem, sem excesso de mimo, apoiando-o, mas sem fazer dele um homem dependente e inseguro. Além de tudo, não gostava das coisas que as mulheres apreciavam, tais como costuras, bordados, pinturas, novelas, nem tinha nenhum traço feminino em sua personalidade.
Desistiu de entender o porquê, só sabia dizer que ele era um homem que gostava de homens.
Estava pensando naquelas coisas quando o celular tocou. Seus olhos brilharam: era Fernando, seu namorado e grande amor de sua vida. Foi depois dele que tudo começou a se modificar. Conhecera-o na academia e logo estavam amigos. Na amizade descobriram que tinham mais em comum do que imaginavam e acabaram namorando.
Caio estava extremamente feliz com aquela relação, mas, por outro lado, tinha certeza de que sua mãe faria um circo de horrores quando descobrisse. Era por esse motivo que se sentia infeliz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 8:34 pm

Lembrou-se de quando contou a verdade para sua tia Virgínia e de como ela fora compreensiva. Falou-lhe que, apesar de não saber o porquê de algumas pessoas serem homossexuais, ela tinha certeza de que não era nenhuma doença, desvio ou vício. Disse-lhe que o amor independia do sexo e que o apoiaria sempre. Depois que começou a namorar Fernando, levou-o várias vezes até a casa e todos lá sabiam de sua relação. Nicole não tinha nenhum preconceito, saía com os dois para festas, cinemas, bares e até mesmo Luzia o admirava.
Apesar de não ser um homossexual assumido, suas constantes saídas com Fernando e a falta de uma namorada fizeram com que rumores começassem a circular pelo Rio de Janeiro. Diziam, à boca pequena, que o herdeiro dos Cerqueira de Lopes era homossexual e que Lucélia, ao saber, certamente iria deserdá-lo.
Preocupado com essas e outras coisas, Caio atendeu o celular.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 8:35 pm

OS PROBLEMAS DE NICOLE
Nicole chegou à universidade, mas não estava nem um pouco a fim de assistir às aulas. Pretextando fazer uma pesquisa para um novo trabalho, saiu da sala e dirigiu-se à biblioteca. Precisava de silêncio. Entrou, pegou um livro qualquer, sentou-se e, enquanto o folheava sem interesse, ficou pensando em como fazer para convencer a mãe.
Ela não iria para Paris sob hipótese alguma. Não gostava da Europa, mas sim do Brasil. Via seu país de forma muito diferente da mãe. Acreditava que, apesar da corrupção e dos problemas sociais que assolavam a maioria, um dia tudo mudaria, principalmente quando as pessoas tomassem consciência de que eram elas, e não os governantes, que criavam o destino da nação. Além disso, o Brasil era um país onde reinava a alegria, o povo era optimista e trabalhador, e não um bando de preguiçosos como Lucélia fazia questão de salientar. Ela queria permanecer para contribuir com as empresas da família e por um Brasil melhor.
Pensou no namorado e entristeceu-se ao constatar que ele seria o grande pivô do seu confronto com a mãe.
Luciano era um jovem bonito, atraente, estava se formando em Educação Física e dava aulas de caraté, jiu jítsu e musculação na academia que Caio frequentava. Foi lá que o conheceu, quando deu carona ao irmão e este a chamou para conhecer a academia.
O encanto foi imediato e recíproco, e logo começaram a namorar. Luciano não tinha nenhum problema, mas para Lucélia ele tinha o pior de todos: era negro. Nicole sabia o quanto a mãe tinha preconceito contra negros, índios, amarelos e tudo o que fosse diferente dos europeus, o povo que ela considerava o mais superior do mundo.
Fechou o livro e continuou pensando. Como faria para enfrentar a mãe? Não adiantava tentar encobrir a verdade, pois ela descobriria. De qualquer forma, ela iria enfrentá-la e mostrar que sabia muito bem guiar a própria vida.
Saiu da biblioteca e foi ao jardim. Sentou-se num banco e ligou para Luciano, que prontamente atendeu:
— O que deseja tão cedo, meu amor?
— Preciso muito falar com você. Pode me pegar na faculdade agora?
Luciano sentiu que a namorada passava por algum problema sério.
— O que está acontecendo? — perguntou preocupado.
— Não quero falar por telefone. Você vai demorar muito para passar por aqui?
— Acabei de sair do banho, estava me vestindo, mas só tenho aula na academia às dez. Até lá temos muito tempo para conversar. Passo aí em vinte minutos.
Quando Luciano desligou o celular, sua mãe, Leonor, que ouvira toda a conversa pela porta entreaberta, entrou no quarto dizendo:
— Essa moça não tem mais o que fazer, não? Como tem a coragem de ligar para você uma hora dessas sabendo que você trabalha?
Luciano sabia o quanto a mãe era implicante e provocativa, por esse motivo resolveu não lhe dar ouvidos:
— Estou acabando de sair. Deseja alguma coisa do centro? Posso lhe trazer, se quiser.
A mulher soltou chispas de ódio pelos olhos e disse:
— Está desviando o assunto. Se essa tal de Nicole está ligando uma hora dessas, é porque deve ter desistido de estudar. Eu sempre soube que ela estudava só para se mostrar. Essas filhinhas de rico não precisam de estudo, são bancadas pelos pais milionários. Agora, se ela pensa que vai ocupar o tempo livre usando e abusando de você, está muito enganada. Eu não permitirei.
Luciano não aceitou a provocação da mãe, pegou sua mochila e saiu batendo a porta. Enquanto ligava o carro, comprado com sacrifício em muitas prestações, ainda pôde ouvir a voz estridente da mãe gritando:
— Filho ingrato que não ouve o que a mãe zelosa diz! Como teve coragem de terminar um namoro tão bom com Débora, uma moça direita, para se misturar com essa rica arrogante, que só pensa em usá-lo, abusar e depois jogá-lo fora?
Vendo que o filho nada disse e que realmente havia saído, Leonor enxugou as falsas lágrimas que deixara cair e, com ódio no coração, disse para si mesma:
— Tenho de fazer alguma coisa para separar esse casal. Mas o quê? Deus há de me ajudar.
Em seguida, dirigiu-se à cozinha, sem esquecer um minuto sequer o namoro do filho com Nicole.
*
* *
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 8:35 pm

Quando Nicole entrou no carro, Luciano percebeu que o problema era mais sério do que ele imaginava. Ela estava bastante pálida e suas mãos e lábios tremiam. Apressou-se em dizer:
— Não sairei daqui sem que você me diga o que está acontecendo.
— Aqui não, Luciano, por favor. Vamos para um lugar menos agitado.
— Não. Estou preocupado e não vou levá-la a nenhum lugar sem saber o mínimo do que a preocupa. Por acaso está doente?
Vendo que o namorado não ia ceder, Nicole disse:
— Minha mãe voltou ao Brasil. Este é o problema.
Luciano não entendeu.
— O problema é sua mãe ter voltado? Mas você deveria estar alegre com isso.
— Por esse motivo que lhe peço para irmos a um lugar mais sossegado. Você precisa saber coisas sobre minha mãe que eu nunca tive coragem de lhe contar. Depois que souber de tudo, verá que tenho razão para estar preocupada.
Luciano deu partida no carro. Alguns minutos depois, parou numa bela praça arborizada e ambos se sentaram num dos muitos bancos do jardim.
— Vamos, conte-me tudo — pediu Luciano com calma.
— Realmente sei pouco sobre a sra. Lucélia Cerqueira de Lopes. Sei que é multimilionária, gosta de viver no exterior, ir a bons lugares, frequentar boas festas e, pelo que você diz, gosta muito de trabalhar para manter o património da família. O que pode haver de mau numa pessoa assim? Sua tia é uma mulher maravilhosa, logo, sua mãe também deve ser.
Nicole pegou em suas mãos, olhou-o séria, e disse:
— Você só sabe de minha mãe o superficial. O que eu disse ou o que a mídia fala. Infelizmente, tenho de admitir que ela é uma pessoa dura, inflexível, autoritária e, eu diria, até má.
Luciano assustou-se.
— Como pode falar assim de sua própria mãe? A minha também tem génio difícil, mas não é má. Não está exagerando?
— Infelizmente, não. Mas o pior de minha mãe eu ainda não lhe disse: ela é preconceituosa, racista, intolerante, homofóbica e tudo o mais que envolva preconceito.
Ela chegou de repente ao Brasil dizendo que vai levar a mim e o Caio para Paris a qualquer custo.
Luciano começou a não gostar daquela conversa.
— Você teria coragem de deixar tudo aqui e ir embora?
— Nunca farei isso. Estou preocupada porque terei de enfrentá-la, e mais ainda com o que ela pode fazer para destruir nossa relação.
Luciano ficou calado e ela prosseguiu:
— Tenho certeza de que ela jamais admitirá que eu me relacione com um negro. Além disso, há meu irmão que, como você sabe, é homossexual e está vivendo o momento mais feliz de sua vida relacionando-se com Fernando.
Agora, diga-me: tenho ou não motivos de sobra para estar preocupada?
Nicole atirou-se nos braços de Luciano chorando sentidamente. Ele lhe afagou os cabelos e, com carinho, disse:
— Não se preocupe tanto, meu amor. Se você me ama de verdade, como eu a amo, lutaremos com todas as armas que nos forem possíveis. Há também a sua tia Virgínia. Foi ela quem os criou, tenho certeza de que vai ajudá-los também.
Enxugando as lágrimas com um lenço que levava na bolsa, ela respondeu:
— Tia Virgínia nos prometeu, mas existe algo que faz com que ela sempre abaixe a cabeça para minha mãe. Sinto que ela a teme por algum motivo muito sério.
Tenho certeza de que ela guarda um segredo que mamãe sabe e a chantageia. Temo que essa ajuda não seja tão eficiente assim.
Luciano a abraçou com mais força. Amava Nicole com todas as forças de seu coração; o que menos queria era perdê-la. Mas não seria uma mulher maldosa e preconceituosa que conseguiria isso. Beijou-lhe o rosto e completou:
— Vamos esquecer um pouco sua mãe e nos distrair.
Desmarco todas as minhas aulas de hoje e podemos passar o dia juntos. Que tal?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2022 8:36 pm

— Infelizmente, não posso. Minha mãe deve estar na empresa uma hora dessas e, com certeza, à tarde passará lá em casa para voltar a conversar connosco. Se eu não estiver será pior.
— Tudo bem — disse Luciano, tentando ser o mais compreensível que podia. — Mas me prometa que nada vai nos separar, que vamos lutar contra tudo e todos para ficarmos juntos.
— Eu lhe prometo.
Abraçaram-se mais uma vez e Luciano conduziu Nicole até o carro, levando-a, em seguida, para a faculdade.
Quando chegou à academia já estava atrasado e vários alunos estavam reclamando. Ele tentou fazer o possível para dar o melhor de si, mas depois do que ouvira da namorada não conseguiu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 18, 2022 12:25 pm

LUCÉLIA: A CHEFE DE UMA ZONA UMBRALINA
Lucélia dormia tranquila ao lado de Pierre após intensa noite de amor. Em certo momento, seu perispírito desprendeu-se do corpo físico e ela olhou atordoada ao redor. Não sabia o que estava acontecendo. Observou mais detalhadamente o local e reconheceu o quarto do hotel onde estava hospedada. Ia retornar ao corpo quando foi abordada por dois homens vestidos com trajes dos antigos soldados romanos:
— Demorou para a senhora sair do corpo desta vez!
Pensávamos que a reunião iria ser adiada.
Lucélia pareceu não entender o que ele lhe dizia, concentrou-se um pouco, e a cabo de poucos segundos exclamou:
— A reunião! Como poderia me esquecer? Ainda bem que vieram me buscar. Vocês sabem como os compromissos na Terra tomam todo o meu tempo. Mas jamais vou abandoná-los. Vamos?
O soldado fixou-a e disse:
— A senhora, a nossa rainha, não pode chegar à reunião com roupas de dormir. Vamos colocá-la em traje de gala.
Os dois espíritos passaram as mãos pelo corpo de Lucélia e, em poucos minutos, sua camisola desapareceu e deu lugar a um vestido requintado de rainha, todo em vermelho e preto. Por fim, um dos soldados colocou-lhe uma coroa de brilhantes e lhe deu um bastão. Lucélia olhou-o com desdém:
— Ainda bem que teve a sabedoria de lembrar-se desse detalhe. Quando vou aprender a plasmar minhas próprias roupas? Não se pode confiar nessa mente pequena de subalternos. Vamos.
Em poucos minutos, Lucélia entrou num grande salão, onde uma multidão de pessoas a esperava com ansiedade. Foi directo para o trono, sentou-se e começou a dizer:
— Estou muito atarefada na Terra, de modo que não posso ficar muito tempo aqui. Serei bastante clara. Como andam nossos planos?
Uma mulher de corpo belíssimo, vestida num costume azul-turquesa, levantou-se de uma das cadeiras e, fazendo reverência à rainha, disse:
— O que tenho procurado fazer tem dado certo, senhora.
As mulheres casadas, às quais estamos ligadas, estão caindo em nossas sugestões e traindo seus maridos.
O adultério feminino está cada vez mais espalhado e até na moda. Como a senhora mandou, também estamos estimulando as jovens a se entregarem aos homens sem pudores. Influenciamos, também, os homens para que as abandonem, para que elas saíam à procura de outros e outros, acabando por prostituírem-se.
A mulher mostrou a Lucélia alguns papéis com gráficos, que ela examinou com prazer. Quando os entregou de volta, ela fez uma cara espantada. Era sempre penoso, para Lucélia, olhar o rosto de Carmem. Era uma mulher de formas belíssimas, que naquele ambiente servia sexualmente a homens e mulheres e comandava espíritos em viagens à Terra para estimular a prostituição e o sexo desenfreado. Mas, apesar do corpo de beleza grega, seu rosto era totalmente deformado, cheio de equimoses. Não possuía dentes e pela boca lhe escorria uma espécie de líquido fétido e escuro, que desagradava demais a Lucélia, que era amante da beleza.
Entregou-lhe os papéis e disse:
— Muito bem. Merece uma semana de descanso.
Sei que está louca pelos prazeres, aproveite esses dias e extravase-os. Um a um, outros espíritos foram apresentando os relatórios de seus trabalhos à terrível mulher. Um apresentava o número de assassinatos que ajudara a induzir, outro mostrava o avanço da pedofilia que ajudara a aumentar e outro lhe mostrava o quanto a descoberta de novas drogas estava prejudicando muita gente.
Muito satisfeita, Lucélia tornou:
— Vejo que meu reinado vai muito bem! Mas preciso cuidar de minha família na Terra. Jamais esquecerei o quanto eles me fizeram sofrer. Virgínia, Caius, Nicole e Carlos vão me pagar, centavo por centavo.
Carmem tornou:
— Lá na Terra a senhora age como mãe zelosa, que busca o bem-estar da família. Mas nós sabemos que seu desejo é se vingar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 18, 2022 12:26 pm

Lucélia deu uma bofetada no rosto de Carmem e bradou:
— Vingança não, sua meretriz! Vingança é arma dos fracos. Eu quero justiça. Aprenda! O meu reino é todo baseado na justiça. Todas as pessoas que estamos colocando em sofrimento merecem passar pelo que estão passando.
Mesmo as que não têm nada a ver com justiça pessoal merecem sofrer como eu sofro. Não suporto ver alguém feliz enquanto meu peito arde em sofrimento e angústia. Se sou infeliz, que todos sejam. Por esse motivo digo a vocês, meus súbditos, continuem a induzir as pessoas aos piores actos. Quanto mais maldades, traições e vícios elas entrarem, melhor. Façam isso e serão recompensados. Agora, preciso ir. Tenho de acordar na Terra e ir à minha empresa desmascarar Germano. Ele não sabe do que sou capaz.
Dizendo isso, desapareceu imediatamente, acordando ao lado de Pierre sem se lembrar de nada que havia feito durante o sono. Sorriu ao pensar em como estava feliz ao lado daquele garotão que ela comprara a preço de ouro.
Dirigiu-se ao banheiro e mergulhou num longo e demorado banho.
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Donos do Próprio Destino - Hermes/Maurício de Castro - Página 4 Empty Re: Donos do Próprio Destino - Hermes/Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 18, 2022 12:26 pm

REVELAÇÕES DE MARÍLIA
Assim que chegou à empresa, Lucélia foi directo à sala de Germano, que tomou verdadeiro susto com sua presença.
— O que foi? Está vendo alguma alma do outro mundo? — perguntou Lucélia, com ironia.
Germano se refez e disse:
— Que é isso, Lucélia! Vejo que seu senso de humor continua afiado. É que você aqui, hoje, para mim, é uma verdadeira surpresa.
Ela deu de ombros e sentou-se:
— Vim porque os relatórios de vendas das nossas empresas que tenho recebido em Paris não estão batendo com o que era esperado de lucro. De forma que, possivelmente, em breve estaremos sem liquidez. Quer horror maior que esse? O que está acontecendo? Por que estamos vendendo tão mal?
Germano jamais imaginara que Lucélia chegasse naquele momento com aquelas questões. As empresas que a família possuía no país eram ínfimas, se comparadas às internacionais, que ela mandava e desmandava, tendo todos os dados na hora em que quisesse. Nunca pensara que Lucélia fosse dar por falta do dinheiro que ele estava desviando aos montes para contas fora do país. Tentou se desculpar:
— O país está em crise financeira e, mais uma vez, as bolsas despencaram. Tudo no Brasil está de mal a pior, e isso reflectiu em nossas vendas, como era de se esperar.
— Como se este país alguma vez tivesse saído da crise — criticou Lucélia. — Isso aqui é crise, crise, crise, desde que me entendo por gente. Não sei por que ainda não transferi tudo para a Europa. Mas quero checar tudo com mais profundidade. Os lucros estão abaixo do esperado, mais do que eu posso admitir. Vamos ver se tiramos nossa empresa desta... desta... crise.
Lucélia fingiu acreditar no que Germano havia dito, mas tinha quase certeza de que ele a estava roubando.
De maneira discreta, mandaria fazer uma auditoria na empresa e descobriria. Se ele, de fato, a estivesse roubando, não saberia do que seria capaz.
Foi para sua sala e fez vários telefonemas, convocando seus advogados para uma reunião secreta no hotel onde estava hospedada.
Mais tarde, quando saiu, deixou Germano mais tranquilo, achando que ela havia engolido a desculpa.
*
* *
Lucélia entrou na luxuosa limusine e foi directo para a residência de Germano. Precisava conversar com Marília, sua esposa, para saber o que estava acontecendo com sua família. Marília era uma mulher rica, bonita, cheia de regras e etiquetas e, assim como Lucélia, detestava a pobreza e o Brasil. Vivia nas melhores rodas sociais, onde as fofocas eram constantes. Por tudo isso, o que acontecia na mansão dos Cerqueira de Lopes ela ficava sabendo.
Lucélia não poderia ter uma informante melhor.
Ao ser recebida com afectação pela amiga, sentou-se e disse:
— Providencie aquele uísque escocês de que tanto gosto. Você sabia que na casa da minha irmã não entra mais bebida alcoólica?
Marília não entendeu.
— Por quê?
— É aquilo mesmo que você já sabe. Virgínia conheceu um tal de Amaro, que é espírita, e acabou a influenciando com essa seita. Depois disso, nada de bebida naquela casa.
— Que horror! Evitam as bebidas, mas falam com o diabo. De que adianta?
Lucélia riu:
— Faça-me o favor, Marília. Não vá me dizer que acredita em diabo! Coisa de ignorantes.
— Bem, diabo mesmo, não sei, mas você sabe que frequento o terreiro de Pai Serapião. Sempre que alguma coisa dá errado ou Germano está com outra, vou lá e resolvo tudo.
— Coisas de brasileiro, que adora esse misticismo barato, ilusório.
— Não são ilusões, são...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 18, 2022 12:26 pm

Lucélia colocou a mão em sua boca e a interrompeu:
— Por favor, não vamos ficar falando dessas coisas horrorosas. Vim aqui porque você sabe o quanto aprecio sua amizade, e cumpre aquele nosso acordo de fiscalizar minha família. Você sabe que não posso confiar nem um pouco em Virgínia. Ela praticamente criou meus filhos, passa muito a mão pela cabeça deles e me esconde as coisas. Vim disposta a levar Caio e Nicole comigo para Paris, mas eles praticamente me enfrentaram dizendo que não vão.
Marília fez cara de mistério ao dizer:
— Não acha que existe algo por trás disso?
Lucélia percebeu que a amiga não havia dito aquilo à toa. Nervosa, perguntou:
— O que você está sabendo que eu não sei? Por favor, não me deixe mais aflita do que estou. É a vida de meus filhos.
— É claro que seus filhos têm grandes motivos para não quererem ir embora do Brasil, e também é óbvio que sua irmã jamais lhe diria. Mas eu, como sua amiga, vou lhe dizer, aliás, alertá-la.
Lucélia não se continha de curiosidade e nervosismo.
Marília continuou:
— Virgínia não lhe contou porque você iria fazer um terremoto naquela casa. Prepare-se, sua filha querida está namorando firme com Luciano, professor da academia de musculação onde seu filho se exercita.
— Só isso? Tudo bem que ser professor num país como este é decadente, mas não vejo nenhum mal, a princípio, a não ser que ele seja um caça-dotes, como se dizia no tempo da minha avó. Ele é pobre?
— Claro que sim, Lucélia! Quem nos tempos de hoje iria se sujeitar a ser professor num país como o nosso, que paga um salário de fome a essa classe? Só um pobretão mesmo.
Lucélia torceu as mãos com impaciência:
— Então o que ele quer é o dinheiro de minha filha.
Isso eu jamais permitirei. Acabarei esse namoro em três tempos.
— Mas esse é apenas um dos motivos pelos quais você não aceitará esse namoro. O pior você saberá agora: ele é negro!
Lucélia pareceu não ouvir direito.
— O que você disse?
— Exactamente o que ouviu, ele é negro.
— Meu Deus! — exclamou Lucélia ruborizada. — Como minha filha pôde ter se envolvido com uma pessoa dessa raça? Será que a educação que lhe dei não foi suficiente para ela ter aprendido que a miscigenação é uma coisa horrível e que nunca dá certo? — Fez pequena pausa e continuou: — Você sabe que não tenho preconceito racial, mas sou radicalmente contra a mistura de raças. Agora, sim, vou impedi-la de prosseguir esse namoro, custe o que custar. Como ela pôde fazer isso depois de toda a educação que lhe dei?
Marília pigarreou:
— Desculpe, querida, mas não foi você que educou sua filha, ou melhor, seus filhos. Quem fez isso foi sua irmã Virgínia, que é muito liberal, moderninha demais para o nosso gosto. Tanto que está permitindo que seu filho Caio, seu príncipe, um rapaz lindo e educado, seja homossexual.
Lucélia quase desmaiou ao ouvir aquilo. Pediu:
— Repita, por favor. Devo estar tendo uma alucinação.
— É isso mesmo. Existe um boato de que seu filho é gay e está tendo um caso com um amiguinho de turma.
Minha filha Sabrina faz parte da turma deles e não me diria isso se fosse mentira.
Lucélia levantou-se e começou a andar de um lado a outro. Como aquela tragédia poderia estar acontecendo em sua família? Há seis meses, antes de Rodolfo morrer, tudo estava em paz. Será que ela estaria sendo punida por Deus pelos actos que obrigara a irmã a fazer no passado? Mas ela não acreditava em Deus. Então, o que estaria acontecendo?
O ódio foi-lhe tão surdo que ela pegou um vaso de cristal, que se encontrava sobre o console, e atirou-o longe, gritando colérica:
— Nunca! Nunca permitirei que isso aconteça!
Ela saiu transtornada, batendo a porta com força feito um furacão. Marília estava estupefacta ante a reacção da amiga, mas já esperava por isso. Só sentia pelo seu lindo vaso de cristal em formato de morango, que ela havia comprado na Suíça, ter se estilhaçado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 18, 2022 12:26 pm

VIRGÍNIA, ENTRE A CRUZ E A ESPADA
Lucélia saiu da casa de Marília com muito ódio no coração. Mesmo desequilibrada emocionalmente, rodou pelas ruas do Rio de Janeiro durante mais de uma hora.
Precisava pensar. Era horrível, para ela, uma mãe tão importante, ter uma filha namorando um negro e, pior, um filho homossexual. Ela teria de impedir esses acontecimentos custasse o que custasse. Ela sabia que a homossexualidade não tinha jeito, mas jamais deixaria o filho ter uma relação com um homem. Compraria uma bela moça e o obrigaria a se casar com toda a pompa. Deveria viver assim até a morte. Quanto à Nicole, ela terminaria esse namoro por bem ou por mal.
Naquele momento, sentiu ódio de si mesma por ter deixado seus filhos nas mãos da doidivana da irmã. Virgínia tinha o pensamento muito avançado, e tudo para ela era normal. Nem parecia ter saído do mesmo meio social que ela. Lembrou-se do passado e reflectiu que só uma pessoa sem moral como Virgínia poderia ter aceitado sua proposta anos antes.
Fora ela a culpada pela perdição dos filhos. Tinha de agir com eles de maneira fria. Seus filhos em algo saíram a ela: tinham temperamento forte e, se fosse bater de frente, eles não iriam agir como ela queria. Teria de acabar com a imoralidade dos dois por trás, sem que percebessem que ela tinha tido algo a ver. Mas Virgínia não escaparia. Ela ouviria tudo o que precisava ouvir. Decidindo isso, foi para o hotel onde estava hospedada com Pierre e, ao chegar, encontrou-o assistindo à TV. Pediu que fosse para a piscina e ligou para a irmã:
— Virgínia, venha imediatamente ao hotel onde estou hospedada. Preciso muito falar com você. Espero-a em meia hora.
— Estou ocupada, Lucélia, meu amigo Amaro veio visitar-me e não poderei sair.
O ódio subiu à cabeça de Lucélia com mais intensidade:
— Escute aqui, sua vagabunda, mande esse macumbeiro embora daí agora e venha até o hotel, ou não responderei por mim. Já sei tudo o que está acontecendo com meus filhos! Ou você vem ou conto para eles quem é a titia que eles tanto amam.
Lucélia desligou o telefone antes mesmo que Virgínia pudesse dizer alguma coisa. Esta disfarçou ao máximo a contrariedade, pediu licença a Amaro, e seguiu para o hotel. Durante o trajecto, sentia-se segura. Lucélia não ia mais chantageá-la. Iria enfrentá-la para defender os sobrinhos sem ter medo das consequências. Ela já havia carregado por tempo demais o peso daquele segredo, e se era a hora de os sobrinhos saberem a verdade, que fosse. Quando pensou nisso, sentiu uma ponta de tristeza e pensou: "E se eles me desprezarem pelo que fui capaz de fazer?".
Seus pensamentos foram interrompidos quando percebeu estar diante do hotel. Subiu e, assim que entrou no quarto, ouviu:
— Como foi que teve a coragem de deixar que meus filhos se perdessem dessa forma? Pensa que eles são como você? Pensa que são imorais?
A voz de Lucélia era ríspida, e Virgínia não se recordava de tê-la visto tão exaltada antes. Em prece, pediu a Deus forças, não podia recuar. Com calma, respondeu:
— Nenhum de seus filhos está perdido ou é imoral.
Ao contrário, são jovens sadios, inteligentes e de bem com a vida.
— Você só pode estar brincando comigo. Como permitiu que Nicole namorasse um negro e que meu filho lindo se transformasse num homossexual? Você não soube educá-los. Como fui estúpida deixando-os aos cuidados de uma mulher como você! Mas eles ainda têm salvação, vou acabar com tudo isso e levá-los para a Europa mais rápido do que você possa imaginar.
Virgínia continuou calma:
— Ser negro ou homossexual não é imoralidade. E você é a pessoa menos indicada para falar de moral por aqui. Desculpe, sei que é minha irmã, mas não venha com hipocrisia. Se existe uma pessoa que a conhece, essa pessoa sou eu. Sei tudo o que você fez e é capaz de fazer.
Pensa que esqueci o aconteceu na noite em que Rodolfo morreu? Pensa que esqueci a quantidade de amantes que você tinha sem que seu marido percebesse? Pensa que esqueci o que me obrigou a fazer vinte anos atrás? Você não pode falar de moral, Lucélia. Se seus filhos fossem mesmo imorais, seria a você que eles teriam saído, e não a mim.
— Como ousa me enfrentar, hein? Ganhou coragem onde? Eu nunca a obriguei a nada, você fez porque sempre amou meu marido e é uma vagabunda. Qual mulher aceitaria uma proposta daquelas? Você pode dizer o que aconteceu na noite da morte de Rodolfo, mas como vai provar?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 18, 2022 12:27 pm

Será minha palavra contra a sua! Depois que eu revelar sua verdadeira personalidade, duvido que Caio e Nicole acreditem em você. Como sempre, está em minhas mãos. Virgínia sentiu o ódio começar a brotar em seu peito e revidou:
— Estou disposta a tudo para defender a vida de meus sobrinhos. Nunca, nunca mais me renderei às suas chantagens.
Pode chamar os dois e dizer a verdade. Eu não tenho mais medo.
Ao notar que a irmã falava com altivez e segurança, Lucélia perdeu a cabeça e começou a xingá-la:
— Vagabunda, prostituta! Eu reduzirei você a pó, sua meretriz!
Sem mais suportar, Virgínia virou-se e deu tão forte bofetada no rosto de Lucélia que ela foi ao chão. Antes de sair do quarto, a irmã ainda disse:
— Isso é para você ver que não estou brincando. Fale o que quiser para seus filhos e vamos ver, realmente, de que lado eles vão ficar.
Virgínia saiu e deixou Lucélia jogada no chão, chorando de ódio. Em seu íntimo, ela sabia que, se a irmã sempre esteve em suas mãos, o jogo havia virado na noite em que Rodolfo morreu. Só Virgínia e Luzia sabiam o que tinha acontecido. Percebeu que estava nas mãos das duas. Naquele momento, o ódio aumentou e ela chorou ainda mais.
*
* *
Virgínia chegou à mansão e mergulhou num banho com sais calmantes. Sentia que uma tempestade iria desabar sobre aquela família, mas teria de enfrentar tudo.
Mais uma vez orou a Deus pedindo auxílio. Horas mais tarde, já se sentia melhor. Luzia deu duas batidas leves na porta do quarto e ela pediu que entrasse.
— A senhora precisa descer. Há uma surpresa muito desagradável lá na sala.
Virgínia desceu rapidamente e empalideceu ao ver Lucélia e Pierre sentados no sofá e os criados carregando diversas malas. Como se nada houvesse acontecido, Lucélia tornou:
— É isso mesmo que está vendo, querida irmã. Eu e Pierre viemos abusar um pouco da sua hospitalidade.
Como você sabe, sempre me recusei a ter uma casa neste país, mas resolvi ficar mais tempo por aqui e sei que você, com sua bondade, não vai me negar hospedagem.
Virgínia conhecia o cinismo da irmã e como ela sabia dissimular as coisas, por esse motivo entrou no jogo:
— Sabe que a casa é sua, Lucélia. O prazer é todo meu em recebê-la e ao seu companheiro. — Com leve ironia, finalizou: — Seus filhos vão amar a notícia.
— Claro, claro, meu bem, meus filhos me amam — disse Lucélia afectada. — Mas como estou acompanhada, preciso ficar no melhor quarto da casa, que é o seu. Por essa razão, peço-lhe que mande sua criadagem tirar todos os seus objectos pessoais de lá e colocarem minhas malas no lugar. Ah! E não se esqueça de pedir à Luzia que arrume nossas roupas à francesa, como só ela sabe fazer.
Virgínia tentava controlar a raiva:
— Como queira, minha irmã.
— E então? Toma um drinque connosco enquanto meus filhos não chegam?
— Você sabe que aqui não tem mais bebidas.
Foi com imenso prazer que Lucélia disse:
— Isso enquanto você vivia sozinha, mas comigo aqui as bebidas voltarão. Trouxe muitas e pedi a um dos criados que preparasse e nos servisse.
— Desculpe, mas não bebo mais desde que conheci a Doutrina Espírita.
Lucélia aumentou o cinismo:
— Você sabe que não consigo entender como uma coisa dessas, que vocês chamam de Espiritismo, foi surgir logo na França? Um país sempre tão civilizado, tão intelectual, de pessoas cultas...
- Virgínia revidou:
— Justamente por esse motivo que surgiu lá. Mas os franceses nos mostraram que quando se tem cultura académica não se tem bagagem espiritual, logo, esqueceram a melhor coisa que aconteceu por lá. Agora, dê-me licença, preciso dar um telefonema.
Vendo a irmã sair e entrar no escritório com segurança e altivez, Lucélia sentiu aumentar seu ódio. Abraçou Pierre e o beijou violentamente para tentar conter a fúria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 18, 2022 12:27 pm

SURGE UMA PAIXÃO
Como era de se esperar, o jantar daquela noite não foi nada agradável. Lucélia fingia nada saber sobre a vida dos filhos e conversava com afectação e fingida alegria. Querendo ganhar tempo com os filhos, disse:
— Desculpem por insistir em levá-los para a Europa.
Não desisti desse desejo, mas saberei respeitá-los. Tenho certeza de que, como jovens inteligentes que são, na hora certa, antes do meu retorno, saberão decidir e partir comigo e com Pierre.
Caio e Nicole acharam estranho, mas nada comentaram.
O que menos queriam era falar sobre viagens à Europa com a mãe. Virgínia, fingido que acreditava na irmã, comentou:
— Que bom, Lucélia, que resolveu não ser tão radical.
Afinal, seus filhos são maiores de idade, adultos, e sabem muito bem decidir por si mesmos. Tenho certeza de que Nicole e Caio tomarão a decisão certa.
Lucélia sentiu o ódio ferver dentro de si. Virgínia estava diferente, havia lhe dado uma bofetada e a sentia mais altiva. Será que estava mesmo disposta a enfrentar as consequências que o segredo existente entre as duas iria produzir? Nunca imaginara que Virgínia tivesse aquela coragem, mas naquele momento começou a ter dúvidas.
Pierre também entrou no diálogo com Virgínia, e logo todos estavam conversando entre si, deixando Lucélia isolada. Aquilo a irritou profundamente. Levantou-se da mesa com falsa educação, dizendo:
— Vou me recolher, não quero sobremesa. Você vem, Pierre?
— Prefiro continuar um pouco mais conversando com seus filhos e Virgínia. Importa-se, meu amor?
— Não, não. Fique à vontade. Tenho mesmo de dar alguns telefonemas importantes e prefiro fazer isso do meu quarto. Boa noite a todos.
Lucélia não gostou da atitude de Pierre em não subir com ela, mas, ao mesmo tempo, sentiu-se lisonjeada em ver que o rapaz assumia publicamente que a amava. Mesmo sabendo ser uma mentira, que Pierre estava com ela apenas por dinheiro, ficava feliz ao ver um homem como ele, jovem, porte atlético, bonito, declarando-lhe amor.
Após a sobremesa, todos passaram para a sala de estar e a conversa continuou agradável. Em dado momento, Pierre olhou para Nicole e pediu:
— Vamos dar uma volta no jardim? Os jardins desta casa são magníficos, e a senhora, dona Virgínia, está de parabéns por saber cuidá-los.
— Obrigada, Pierre, não sabia que admirava as belezas naturais.
— Gosto muito. A França tem paisagens belíssimas.
Já foi até lá?
Aquela pergunta deixou Virgínia constrangida. Havia ido algumas vezes para a França com Lucélia, mas em situações não muito agradáveis. Não queria se recordar.
Disse apenas:
— Fui algumas vezes, mas confesso que prefiro a Itália, que me fascina, principalmente o sul. Acredito em reencarnação e tenho quase certeza de que já vivi por lá.
— Então, vamos? — pediu Pierre, dando o braço a Nicole.
Quando estavam na porta, perceberam que Amaro estava chegando.
— Como vai, Nicole?
— Tudo bem, Amaro. Conhece o namorado de minha mãe?
— Não. Prazer!
— Prazer — respondeu Pierre lhe estendendo a mão.
— Meu nome é Pierre.
— Bem, Pierre, seja bem-vindo a esta família. Sou amigo de todos há muitos anos. Fico feliz que esteja se relacionando com Lucélia.
— Muito obrigado, Amaro.
— Virgínia está? — perguntou Amaro sorridente.
— Está sim, deixei-a na sala conversando com Caio.
— Irei até lá.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 18, 2022 12:28 pm

Amaro entrou e Nicole, de braços dados com Pierre, começou a caminhar pelas alamedas floridas, verdes e perfumadas daquele imenso jardim. A noite estava linda e o jardim iluminado, como Virgínia fazia questão de manter. Durante a noite, as luzes dos pequeninos postes mostravam toda a beleza da natureza bem cuidada. Aproximaram-se de uma frondosa árvore e sentaram-se num banco abaixo dela. Pierre comentou:
— Que noite linda! Sempre dizem que o céu do Brasil tem mais estrelas — riu. — Parece que é verdade.
Nicole olhou-o séria:
— Pierre, gostei quando me chamou para caminhar pelo jardim, precisamos ter uma conversa em particular.
— Sobre sua mãe?
— Não, sobre você.
Pierre corou levemente.
— Sobre mim?
— Sim. Desde a primeira vez em que eu o vi, notei que me olha de forma diferente. Com interesse, para ser mais directa.
Pierre não esperava ouvir aquilo.
— Perdoe-me, Nicole. Está sendo mais forte do que eu.
— Notei que passou a maior parte do jantar olhando para mim. Mamãe estava muito falante e não observou, mas não quero que isso continue. Tenho um namorado que amo intensamente e não quero ter problemas com minha mãe, caso ela descubra seu interesse. Por tudo isso, se chamei sua atenção, quero que me veja apenas como amiga, pois é impossível um relacionamento entre nós. Pierre encostou-se mais em seu corpo, dizendo:
— Será mesmo que é impossível? Desde ontem não consigo esquecer seu rosto, sua pele, seus olhos...
— Pare, Pierre — pediu Nicole com a voz alterada.
É impossível, não apenas pela minha mãe, mas porque tenho namorado e, o principal, não me senti atraída por você.
— Não é isso que estou percebendo.
Nicole corou ainda mais. Na verdade, ela também estava sentindo atracção por Pierre. E, naquele momento, sozinhos, sentindo seu cheiro, o calor de seu corpo, imediatamente começou a se questionar se amava mesmo Luciano.
Pierre pegou em suas mãos e começou a acariciá-la.
Completamente envolvida, Nicole deixou-se levar por um beijo apaixonado. Quando a emoção serenou, ela o empurrou de leve:
— Isso não pode mais acontecer. Eu não tenho direito de trair meu namorado, muito menos minha mãe.
Você a ama, e por esse motivo não deve traí-la também.
Pierre deu um sorriso sem graça:
— Eu não amo sua mãe.
— Como não? Noto o carinho entre vocês, e você a chamou de amor ainda há pouco.
— Palavras... Nem sempre elas são verdadeiras. Eu não amo sua mãe.
Nicole intrigou-se:
— Mas por que está com ela? É por dinheiro? Minha mãe paga para você estar com ela? É isso?
Pierre sentiu vergonha de assumir a realidade. Era exactamente o que ela dissera. Estava com Lucélia somente por dinheiro. Ele era um jovem de família falida, nunca gostou de estudar nem quis aprender nada que lhe facilitasse um trabalho. Então, começou a sair com mulheres mais velhas, recebendo dinheiro pelos instantes íntimos que passava com elas. Lucélia era uma de suas clientes, mas ela acabou se apaixonando por ele e pediu-lhe exclusividade, prometendo pagar todo o dinheiro que ele recebia por mês fazendo programas com as outras. Ele aceitou,
até mesmo porque Lucélia o deixava livre para fazer o que quisesse durante o dia e até em algumas noites em que ela estava ocupada com assuntos da empresa. Aqueles cinco meses de convivência já haviam rendido a ele um bom dinheiro. Mas como assumir para Nicole que ele era um gigolô? Pela primeira vez na vida, sentiu algo diferente por uma mulher. Sentia desejo de estar com ela, dividir sua vida, amá-la. Era isso. Pela primeira vez, estava amando.
Diante do questionamento, levantou-se rapidamente do banco e disse:
— Eu não amo sua mãe, Nicole. Isso é tudo o que posso lhe dizer no momento. Com licença.
Pierre saiu, deixando-a só com os pensamentos atribulados.
O que ela estava sentindo por ele? Tinha certeza de que amava Luciano com todas as forças de seu coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 18, 2022 12:29 pm

Mas como, mesmo amando o namorado, estava tão envolvida por outro homem?
Aqueles pensamentos deixaram-na confusa e ela resolveu entrar e ir directo para seu quarto.
A conversa entre Amaro, Virgínia, Luzia e Caio estava tão boa que eles não viram quando Pierre passou apressado e subiu as escadas, nem repararam que Nicole fez o mesmo.
Já em seu quarto, ela continuava sem saber o que fazer. Como teve coragem de se deixar beijar por Pierre?
Quanto mais pensava nele, mais percebia o quanto estava envolvida. O celular tocou e, pelo visor, ela pôde ver que era Luciano. Não estava com vontade de falar com ele naquele momento, por esse motivo deixou que tocasse várias vezes, até que ouviu o som característico anunciando que havia chegado mensagem. Ela abriu o celular e leu:
Meu amor, sei que não pôde atender por um motivo justo. Saiba que a amo e neste momento meus pensamentos são para você. Te adoro e o que mais desejo é viver para sempre ao seu lado. Do sempre seu, Luciano.
Aquela mensagem doeu no peito de Nicole e, ela se sentiu ainda mais culpada por ter deixado que Pierre a beijasse.
Rolou na cama inquieta, até que, vencida pelo cansaço, adormeceu.
* *
Quando Pierre entrou no quarto, viu que Lucélia estava ao telefone falando em francês. Percebeu que falava de negócios e como sabia que ia demorar, como de costume, foi ao banheiro e tomou uma longa ducha.
Quando saiu, foi abordado por Lucélia, que, em roupas íntimas, o convidava ao amor. Ao ver o corpo de Lucélia e lembrar-se do de Nicole, ele sentiu como se não fosse conseguir. Fez um tremendo esforço, pensou na amada e procurou se esmerar para que Lucélia não reclamasse.
Mas ela havia percebido que algo estava diferente em Pierre. Sentiu-o distante e sem o ardor que lhe era característico. Estava acontecendo alguma coisa, e certamente ela iria descobrir.
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