LUZ ESPÍRITA
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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 4 Empty Re: A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 8:10 pm

— Não sei. Espero que não esteja doente e queira nós duas para cuidar dela. Mas ela me pareceu, como sempre, saudável. Que tal aceitarmos o pedido? Quem sabe dá certo?
Queríamos tanto morar com ela...
— Pedimos isso à vovó, que recusou. E se não der certo?
— Voltaremos para a casa do papai, que é nossa também
- respondeu Simone.— E se papai não nos aceitar?
— Bem... Aí iremos ao juiz. Depois, você se casará logo.
— Estou desconfiada — falou Beatriz. — Por isso, vou fazer mais umas perguntas à vovó.
Foram para a sala de jantar e encontraram a mesa posta.
"Pena que almocei muito", pensou Simone.
— Vovó — disse Beatriz —, desculpe-me a pergunta: A senhora não mudará de ideia? Se sairmos de casa, não será fácil voltar.
— Prometo a vocês que não mudo de ideia, não vou interferir em suas vidas. Desejo que voltem às actividades de antes, quero comprar roupas para vocês, ver Simone dançar em várias apresentações, comprarei todas as roupas que ela tiver de usar.
Simone entusiasmou-se novamente e perguntou:
_ Jura, vovó?
— Se preciso, juro! Farei isso e muito mais. Quero vocês felizes.
Papai pode não deixar — comentou Beatriz.— Ora! — exclamou Simone. — Papai não deixar?! O que ele mais quer é se livrar de nós. Mas e se ele não deixar?
— Tenho como fazê-lo concordar — falou Laís. — E aí, vocês vêm?
Laís pensou: "Se Célio não deixar, ameaço-o com um processo. Falo que sei que roubava o curtume e que o coloco na prisão. Diante dessa ameaça, tenho a certeza de que ele deixará as meninas comigo".
— Podemos tentar — decidiu Beatriz.
— Que bolo gostoso! — exclamou Simone.
"Devo tentar pela minha irmã", pensou Beatriz. "Aqui, com certeza, terá uma boa alimentação e não ficará sozinha."
— Nós não podemos demorar, tenho de lavar roupas — falou a filha mais velha de Maria Tereza.
— Traga-as sujas, não as lave — pediu a avó. — Aqui em casa, vocês não farão nada, tenho empregada e faxineira.
Venham o mais rápido possível. Na segunda-feira, nós as matricularemos nos cursos e você, Bia, se demitirá do emprego.
— Tenho um namorado — contou Beatriz.
— Que será muito bem recebido aqui em casa. Para começar, convide-o para almoçar amanhã aqui. Que tal vocês trazerem suas roupas hoje mesmo ou amanhã? Seus quartos já estão arrumados: este da esquerda é para uma; o da direita, para a outra; e o da frente é de Júnior, quando ele vier de férias.
— Vamos ter de conversar com papai. Amanhã cedo lhe daremos a resposta — determinou Beatriz.
— Mas nós viremos — afirmou Simone.
— Agora vamos — Beatriz levantou-se.
— Levem este bolo, vou colocá-lo numa vasilha.
Poderão
comê-lo mais tarde — ofereceu Laís. Simone pegou a travessa com o bolo. Despediram-se.
Laís, ao ficar sozinha, pensou que foi realmente difícil para ela a conversa que teve com as netas.
"Por que será que fazer desaforo é, para mim, mais fácil do que pedir desculpas? Com certeza é orgulho. E elas não responderam às minhas desculpas. Vou orar e agradecer a Deus por ter conseguido. Com elas aqui e, ao perceber que é sincero o meu pedido, me perdoarão."
Telefonou para Armando dando a notícia.
— Muito bem, dona Laís, fez o certo, o resto será muito mais fácil. Não se esqueça, demonstre seu amor.
Laís aguardou ansiosa e esperançosa a vinda das netas para seu lar.
As garotas, ao saírem da casa da avó, comentaram:
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 8:11 pm

— O que será que aconteceu com a vovó para ela mudar de ideia? Não nos queria de jeito nenhum e, de repente, nos quer com ela — Beatriz estava curiosa.
— Não sei e não quero saber. O importante, para mim, é voltar às aulas de balé, participar das danças, das apresentações...
— Não sabia que o balé era tão importante assim para você.
— Quando mamãe ficou doente — contou Simone —, entendi que tinha de sair, precisava ficar mais em casa, ajudar, as despesas eram altas. Depois, pedi ao papai para voltar dançar, e ele recusou, dizendo que era um absurdo eu frequentar a escola de dança, que isto era frescura da mamãe etc. Chorei muito e não falei nada a ninguém, não a queria aborrecer. Você não teria nunca condições de arcar esta despesa, as aulas, as roupas... Agora não me importa o porquê de vovó estar fazendo isso. Se de facto ela pagar minhas aulas, fico lá.
— Tudo bem — concordou Beatriz —, vamos morar com ela, e espero que dê certo. Vamos organizar as roupas e nossas coisas, tudo o que iremos levar e, assim que papai chegar, falaremos com ele.
Entraram em casa, Maria Tereza aproximou-se das filhas, agora ela sabia que não adiantava falar, elas não a escutariam nem seria vista. Ficou olhando-as.
"Simone parece mais animada. Vou ficar escutando-as para saber o que está acontecendo "
— Vamos ao quarto de mamãe — determinou Simone. Foram. Beatriz abriu a janela.
— Minha irmã, nestes meses agimos como se mamãe fosse voltar a qualquer momento. Penso que já é hora de nos conscientizarmos de que nossa mãe não voltará mais, que ela morreu.
Maria Tereza estremeceu ao escutá-la.
"Meu Deus! Se ainda tinha dúvida, agora sei mesmo que morri!"
— Lembrar de mamãe morta no caixão é tão triste! — lamentou Simone.
— Foi muito triste mesmo — concordou Beatriz —, porém é real. O que não podemos é nos iludir mais. Vamos jogar estes remédios fora?
— Vamos, jogarei os medicamentos na pia, os frascos no lixo e, depois, iremos colocar as roupas do armário em cima da cama e doá-las para Rosita. Quando falarmos com o papai, vou telefonar para nossa diarista contando que iremos morar com a vovó e que é para levar as roupas de mamãe e fazer o que quiser com elas. Vou levar esta colcha, a caixa de costura e...
— Por favor — pediu Beatriz —, não pegue muita coisa.
Podemos deixar o que queremos no armário e, se soubermos que papai trouxe alguém para morar aqui, então voltaremos para pegar ou, quando eu casar, levarei para minha casa.
— Está bem. Papai chegou. Vamos falar com ele?
Foram à sala. Célio estivera num bar, olhou as filhas e disse somente:
— Oi!
— Papai — falou Beatriz —, precisamos falar com o senhor. Vovó Laís nos convidou para morar com ela.
— Foram implorar novamente?
— Não, desta vez ela nos chamou, pediu para irmos — respondeu Simone.
— Vocês decidiram ir?
— Sim — afirmou a filha caçula.
— Papai — Beatriz resolveu interferir —, estamos pedindo para o senhor. Concorda?
— Se querem, não faço objecção.
— Vamos arrumar nossas coisas e iremos amanhã cedo avisou Simone.
— Sendo assim, não preciso me preocupar com o almoço falou Célio.
— Papai — disse a filha mais velha —, Simone e eu vamos desfazer o quarto de mamãe.
Concordo, só não dê nada de valor.
As duas voltaram ao quarto, e Maria Tereza seguiu as filhas.
Algo de valor! — exclamou Simone. — Ele sabe muito bem que mamãe não tinha nada de valor, algumas jóias dela, as que tinha quando solteira, ele as guardou. Vamos organizar o quarto, ou o ex-quarto, de mamãe, depois vamos arrumar nossas roupas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 8:11 pm

— Não temos malas. 0 que iremos fazer? — perguntou Beatriz.
— Peça, à noite, ajuda ao Nestor; peça a ele caixas e, se possível, para seu namorado vir aqui amanhã cedo e nos ajudar.
— Vou fazer isso!
Maria Tereza ficou vendo as filhas arrumarem seus pertences, depois tomaram banho para sair. Beatriz foi se encontrar com o namorado, e Simone, com as amigas.
— Leve este dinheiro — ofereceu Beatriz à irmã —; com vovó nos ajudando, você pode gastá-lo.
Saíram.
Maria Tereza foi à sala e olhou para Célio. Ele lembrou da esposa, e ela escutou seus pensamentos.
"Casei com Teté por interesse, fingi amá-la. Tinha, naquela época, certeza do que queria: ser rico. Tudo fiz para conquistá-la. Deu certo, ela engravidou, e seus pais nos ajudaram, porém eles nunca gostaram de mim. Meu casamento não foi o que esperava, nada é perfeito. Tive de trabalhar no curtume, e meu sogro, depois os cunhados, me cobraram serviço. Nada de moleza. Os filhos vieram, eu gastando mais que ganhava, Teté passou a me ajudar nas despesas, principalmente com as dos filhos. Tenho me queixado de que não tenho sorte para arrumar pessoas certas para me fazer companhia e esqueço de Teté, ela sim era honesta e trabalhadora.
Sinto falta dela. Perdoou minhas traições e nunca me traiu, era meu porto seguro; mesmo separados, porém morando na mesma casa, ela me orientava, dava-me bons conselhos.
Quando não sabia como agir, era só pedir conselhos a ela para escutar orientações que davam certo. Sinto agora sua falta nestas duas dificuldades que estou passando: Agi certo deixando as meninas morarem com a avó? Penso que sim, lá as duas terão vida melhor, com certeza dona Laís dará tudo o que elas quiserem. As meninas terão uma figura feminina para orientá-las. Parece que vejo Teté falar: 'Não dê desculpas, você quer se livrar delas, não ter despesas com nossos filhos e trazer amigos e amantes para cá'. Talvez seja isto. Não tenho paciência com filhos. Será que gosto deles? Devo gostar. A segunda coisa que me preocupa é: Sinto que Jorge e Octávio estão desconfiados de mim. Jorginho foi trabalhar no sector de vendas, me informaram que é para aprender, e ele tem estado atento. Também um outro funcionário está conferindo o estoque. Ficou difícil vender e ficar com o dinheiro.
Depois, Jorge tem estado muito lá, falou que quer estreitar laços de amizade com os clientes. Estou ganhando menos. 0 melhor mesmo é as meninas irem para a casa da avó."
Maria Tereza continuou a olhá-lo e pensou:
'Amei muito você, Célio! Quando iniciamos o namoro, julguei ser amada. Sofri com suas traições, com seu desprezo, depois me conformei e passei a me dedicar aos meus filhos.
Agora, escutando-o, é que tenho a certeza de que sempre me enganou. Não se pode obrigar ninguém a nos amar, mas não se deve enganar
"Infelizmente", continuou Célio a pensar, "sinto agora que amei Teté. Não queria amá-la, ela devia ser somente meu golpe do baú. Precisei perdê-la, não tê-la mais, para compreender que eu sempre a amei. Por isso estou triste!"
"É tarde demais, Célio! Tarde demais!", Maria Tereza olhou-o com dó.
Foi para o quarto, deixando-o sozinho.
Simone saiu com as amigas, foram à casa de Luiza para escutar músicas e conversar. Mateus foi com a namorada, que, de facto, era uma garota muito bonita. Simone não ligou; com tantos problemas, não lembrou mais de Mateus. Não ficou muito, voltou para casa. Não se sentia bem, deu desculpas para as amigas:
— Tenho de levantar cedo amanhã. Iremos, Bia e eu, nos mudar para a casa da vovó.
Assim que chegou em casa, foi deitar e pensou:
"Aquele vazio que senti no peito, a falta de algo que me dava até falta de ar, passou, porém me sinto tão cansada, exaurida, que quero somente ficar deitada. Não me queixei e até saí para não preocupar mais a Bia. Mas a minha vontade é ficar deitada. Tomara que eu melhore."
Orou e dormiu.
Beatriz saiu com Nestor, contou a ele da conversa com a avó.
— Não sei se tomamos a decisão certa. Estou fazendo isso por causa de Simone, minha irmã precisa de atenção, como o médico recomendou, e de não ficar sozinha. No lar de vovó, ela terá mais o que fazer, atenção e alimentação no horário certo.— Gostei de você não precisar mais trabalhar. Terá mais tempo para mim — comentou Nestor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 8:11 pm

— Infelizmente, continuarei a estudar à noite. Penso que será difícil transferir agora e também que terei dificuldades para acompanhar as matérias.
— Logo terminará o ano lectivo — consolou Nestor. — rico mais tranquilo com vocês duas morando com sua avó.
Quer ajuda para a mudança?
— Quero! Obrigada! Será que você não nos daria algumas caixas para colocarmos nossos pertences?
— Claro!
Planejaram. Nestor levaria as caixas no outro dia, domingo, pela manhã, e depois, às dez horas, ajudaria a levar os pertences das duas para a casa da avó.
Nestor, interessado realmente em se casar com Beatriz, procurou saber de sua família. Soube que Laís era óptima pessoa e por isso gostou da ideia de a namorada ir morar com ela.
"Beatriz é muito bonita", pensou ele. "Quero-a bem. Queria amá-la mais. Ela merece! Prometo a mim mesmo cuidar muito bem dela."
Levou-a para casa mais cedo. Quando Beatriz chegou, encontrou a irmã dormindo. Estava esperançosa.
"Tomara que dê certo! Quero a Si feliz!"
Deitou-se e logo adormeceu.

13 - N. A. E.: Acompanhando a história, entendemos que de facto Maria Tereza não poderia atender à mãe e, como veremos após, nem seu esposo.
0 conselho de Armando é deveras verdadeiro. Não devemos pedir ajuda aos nossos entes queridos desencarnados, principalmente os recém.
Se eles, no momento, não tiverem como ajudar, sentirão, podendo até sofrer e, se estiverem como Maria Tereza, poderão vir para perto, como ela fez com Simone, e piorar a sua própria situação e a do encarnado.
Que nossas rogativas sejam para Deus, nosso Pai; a Jesus, nosso irmão e mestre; a Maria, mãe de Jesus; e aos bons espíritos.
E que esses pedidos sejam sempre para o bem nosso e de outras pessoas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 8:11 pm

16 º CAPÍTULO - A mudança
Maria Tereza, ao ficar sozinha, pensou em sua vida.
"Com Si e Bia morando com minha mãe, vou ficar muito sozinha aqui. Célio não para em casa; Rosita, como meu ex-marido já determinou, virá somente uma vez por semana. Tenho medo de sair daqui e não quero ir com minhas filhas para meu antigo lar
Estava se sentindo muito triste e orou. Viu sua filha caçula chegar, observou-a e percebeu que, de fato, sem a maquiagem, ela estava pálida e magra.
"Por que será que ela se sente tão cansada? Estará mesmo somente com anemia? Terá minha filhinha outra doença? Se não for nada grave, mamãe a ajudará a sarar. Com certeza a fará se alimentar. Alimentos? Estou com fome? Como faço para comer? Definitivamente, não sei viver sem o corpo físico!'
Escutou Beatriz chegar. Ficou no seu quarto e se sentou na beiradinha da cama, porque tanto o seu leito como a poltrona estavam com muitas roupas, objectos que as filhas tinham arrumado para doar e outros que levariam na mudança. Chorou baixinho. “Meu Deus! O que será de mim? Como viver aqui sozinha?
Por que fui sair daquela casa que me abrigou? Como faço para voltar? Ajude-me, Deus\"
Seu pedido era sincero e, de repente, lembrou:
"Ana Clara! Ela foi tão boa comigo. Vou rogar a ela. Quem sabe ela não me escuta? Ana Clara, por Deus, ajude-me! Socorra-me!"
Ficou por minutos orando e pedindo.
— Maria Tereza!
Teté abriu os olhos e olhou para quem falou.
— Ana Clara! Ajude-me! Por favor! Sei que agi errado saindo do abrigo daquele modo. Minha filha me chamou, e eu vim.
A socorrista sorriu amorosamente, não criticou, compreendeu, estendeu as mãos para ela. Maria Tereza segurou-as com força.
— Vamos! — convidou Ana Clara.
— Desta vez, para mim, será realmente a mudança! — exclamou Maria Tereza esperançosa.
Ana Clara volitou com ela para o posto de socorro.
No outro dia, Beatriz acordou no horário de costume, acordou a irmã, e as duas fizeram o café, tomaram e lavaram e louça. Célio levantou-se e tomou seu desjejum.
— Vocês vão hoje para a casa de sua avó? — perguntou Célio.
— Sim, agora de manhã — respondeu Beatriz.
— Vou sair, irei a uma festa, voltarei à noite. Vão com Deus e, se não der certo e quiserem voltar, é só me avisar.
Venham me visitar.— Sim, viremos visitá-lo. Tchau, papai! — Simone se despediu.
Célio saiu da cozinha e logo depois as duas o ouviram sair de casa.
— Nunca vi ninguém tão indiferente! — exclamou Simone sentida.
— 0 melhor é deixá-lo para lá — aconselhou Beatriz. —
Temos muitas coisas para fazer. Quem sabe papai ficando sozinho não sentirá nossa falta?
— Papai não ficará sozinho, logo estará com outra namorada. Mas isto não me importa. Se der certo morarmos com vovó, quero esquecer que tenho pai — determinou Simone.
Foram arrumar as roupas que levariam. Minutos depois, Nestor tocou a campainha, trouxera as caixas.
— Obrigada, Nestor! — Beatriz agradeceu.
— Às dez horas passo aqui para levá-las.
As garotas colocaram em caixas as coisas da mãe que queriam levar, depois foram organizar seus pertences.
— Bia — falou Simone —, sinto esta casa triste, aqui nunca mais foi como antes, quando mamãe estava viva.
Estou contente por ir embora.
— Eu também! — exclamou Beatriz.
Pontual, Nestor veio ajudá-las. Colocaram algumas das caixas no carro, e então perceberam que teriam de fazer duas viagens. Simone foi com ele, e Beatriz ficou para ir da outra vez.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:51 am

Laís estava ansiosa esperando-as, já tinha ido aos quartos e verificado se tudo estava arrumado pelo menos umas quatro vezes. Alegrou-se ao vê-los chegar.
— Vovó, este é o namorado da Bia — a garota apresentou-o. Laís foi muito simpática com ele e ajudou a carregar as caixas.
— Agora vou buscar Bia — falou o moço.
Nestor voltou para pegar as caixas restantes e a namorada.
— Si querida — falou Laís —, fique à vontade. De agora em diante, esta casa é sua.
Quando o casal de namorados chegou, Laís convidou-o:
— Almoce connosco!
Ele aceitou, foi embora e ficou de voltar para almoçar.
Laís fez de tudo para agradá-las e estava tão contente que acabou contagiando as garotas.
O almoço foi muito agradável. Laís foi muito simpática com Nestor, e isto agradou as meninas.
Beatriz saiu à noite com o namorado, e Simone ficou com a avó assistindo televisão, então planejaram o que fariam no dia seguinte. Quando Beatriz chegou, Simone, entusiasmada, contou a ela o que haviam combinado, das compras que fariam e que iriam às escolas.
— Bia — pediu Laís —, converse no seu emprego amanhã mesmo e saia logo que for possível.
Animadas, foram para seus aposentos. As irmãs teriam quartos separados, que eram grandes e bem mobiliados.
"Simone vai sarar!", pensou, esperançosa, a filha mais velha de Maria Tereza. "Tenho certeza de que, com os cuidados de vovó, ela vai se curar! Nestor gostou de vovó e está mais tranquilo com nós duas morando aqui, ele se preocupa tanto comigo... É um amor! Infelizmente, ainda sinto que em nossa relação falta algo. Será que não o amo? Quero amá-lo, preciso gostar mais dele. Ele merece! “Dormiram contentes e, normalmente, quando isso ocorre, acorda-se entusiasmado. Laís preparou o desjejum, queria agradá-las para que elas gostassem de morar ali e não quisessem ir embora.
Simone foi para a escola; Beatriz ainda ficaria mais um pouquinho, a casa da avó, da loja, era perto..
— Bia — disse Laís —, quero que se sinta à vontade.
Convide Nestor para vir aqui em casa, mesmo sendo mais tarde, quando ele buscá-la na escola. Podem entrar ou namorar na varanda, na sala, ir à cozinha lanchar... Quero, meu bem, que se sinta bem aqui, pois esta é a casa de vocês.
Vou hoje à tarde matricular Si nos cursos e quero que você também volte a estudar.
Beatriz não respondeu, mas, pelo sorriso que deu, Laís compreendeu que a neta estava satisfeita. De fato, a garota estava contente, mas era mais pela irmã, sabia o tanto que era importante para Simone voltar a dançar.
A mocinha foi trabalhar, cumprimentou o namorado, e este percebeu o tanto que ela estava alegre. Beatriz, assim que chegou à loja, foi falar com Ana Maria, sua patroa, sobre sua decisão.
— Vamos sentir sua falta — falou Ana Maria —, porém estou contente por você. Como sabe, Selena voltará na quarta-feira de sua licença-maternidade. Não tinha intenção de demitir ninguém, já estava me preparando para as vendas de Natal. Venha somente mais amanhã.
Contou para as colegas, que ficaram contentes por ela.
Quando Simone chegou da escola, encontrou o almoço pronto com os alimentos que gostava. Almoçou junto com a avó. A garota, conversando, alimentou-se bem. “Logo estará sadia" pensou Laís. "Vou também ao médico com ela."
Almoçaram e saíram. Foram primeiro à escola de dança, Simone estava tão contente que teve vontade de pular. Acertaram os horários. Laís pagou a matrícula e comprou as roupas e sapatilhas que a escola vendia.
— Agora — falou Laís —, com os horários de balé acertados, vamos à escola de idiomas.
Simone voltaria no dia seguinte às aulas de inglês e espanhol. Depois, foram às lojas, e Laís comprou para a neta sapatos, roupas etc.
"Como é bom fazer quem amamos feliz. Posso fazer estes mimos, tenho dinheiro, mas, se não tivesse, o afecto daria resultado positivo. O amor faz a diferença!"
Estava tão contente quanto a neta.
Preparou o jantar. Armando chegou e, só de ver a amiga, percebeu que ela estava diferente, contente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:51 am

— Este é Armando — Laís apresentou-o à neta —, ele foi amigo de juventude de sua mãe. Morou anos em outras cidades, voltou recentemente para cá e tem vindo me visitar.
Simone gostou dele, e o jantar foi harmonioso. Depois, voltaram conversar na sala de estar.
— Então o senhor é espírita? Como o senhor acha que devemos tratar nossos mortos? — perguntou a garota.
— Ele chama os mortos de desencarnados — Laís se intrometeu para explicar.
— Quando nosso corpo físico morre — elucidou Armando —, não mudamos nossa personalidade, continuamos a ser os mesmos, amando as mesmas pessoas. Quando queremos bem verdadeiramente, desejamos que aquele que amamos esteja feliz, independente de estar ou não longe de nós. O que deseja para sua mãezinha?
— Que mamãe esteja bem e feliz! — respondeu Simone.
— Você acha que ela estaria bem se você não estivesse?
— Se minha mãe pudesse me ver, não estaria, porque ela me amava.
— Não é melhor dizer "ama"? — Armando tentou esclarecer. — Teté os amava e os continua amando.
— Se ela nos quer feliz, é isto que eu também devo desejar a ela — concluiu Simone.
— Com certeza — falou Armando. — Quando amamos, independentemente do tempo e do espaço, devemos querer que nosso ser amado esteja em harmonia. Uma coisa que ajuda muito é: não chamar pelos desencarnados, não pedir nada a eles e deixar que se adaptem à vida no plano espiritual.
Também desejar a eles que estejam bem e pedir para não se preocuparem com a gente. Devemos nos esforçar para viver de tal modo que eles realmente não precisem se preocupar connosco.
— Eu... não sabia... Estive chamando pela... mamãe — Simone gaguejou.
— O importante é não chamar mais — Armando tentou consolá-la. — Ore por ela, deseje de coração que sua mãezinha esteja feliz, sadia e morando num local lindo. Vamos tentar? Vamos fazer uma prece a ela desejando isto?
— Vamos, sim — concordou Laís. — Você, Armando, ficou de me ensinar a fazer o Evangelho no Lar.
— Podemos marcar o dia.
— Gostaria que minha irmã estivesse aqui para escutá-lo — falou Simone. — Penso que não serei capaz de repetir o que ouvi para ela.— Que tal sábado à tarde? — perguntou Laís.
— Perfeito. Às dezasseis horas. Está bem?
Como todos concordaram, Armando fez a prece.
— Deus nos abençoe hoje e sempre! Maria Tereza, lembre-se de que nós a amamos. Como você se preocupa connosco, nós também nos preocupamos com você. Queremos lhe desejar o que você deseja a nós: que esteja tranquila e muito
feliz. Aceite, minha querida amiga, o que está lhe sendo oferecido, o socorro para o descanso de seu espírito pelas tribulações do período encarnado. Ore sempre e lembre: o amor, como a vida, continua. Pai nosso...
Laís enxugou o rosto, estava emocionada. Simone prestou muita atenção e exclamou:
— Sem dúvida, é a prece mais bonita que já ouvi! Vou tentar repeti-la. De agora em diante, não chamarei mais por mamãe, somente pensarei nela sadia e alegre.
Armando, percebendo que as duas estavam cansadas, despediu-se. Vó e neta foram para seus quartos. Simone queria esperar pela irmã acordada para lhe contar as novidades e mostrar os presentes que havia ganhado. Acabou dormindo.
Nestor buscou Beatriz na escola, levou-a para casa. A garota chegou em casa, viu a luz acesa no quarto da irmã, abriu a porta e a viu dormindo vestida, as roupas novas e muitos outros objectos espalhados pela poltrona e cómoda.
Beijou-a e apagou a luz.
"Com certeza Simone queria me esperar e acabou dormindo."
Foi para o seu quarto e dormiu também. No outro dia, quando a avó chamou Simone, ela levantou-se animada e rapidamente foi para o quarto da irmã.
— Vovó me matriculou nos cursos, vou fazer aulas extras de balé! Ganhei roupas! 0 senhor Armando me explicou como devo agir com mamãe! Ele era colega dela!
— Calma, Si! — pediu Beatriz interrompendo-a. — Fale devagar, não estou entendendo.
— Venha ao meu quarto; enquanto me arrumo, vou falando. Quero tanto lhe contar!
Laís ficou contente com o entusiasmo da neta e, da cozinha, preparando o desjejum, escutou Simone contar à irmã o que fizera no dia anterior.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:52 am

Foram tomar café, e a caçula de Maria Tereza falando sem parar. Aproveitando que Simone comia um pedaço de bolo, Beatriz contou:
— Vou trabalhar somente hoje, acertei tudo com dona Ana Maria.
— Excelente! — exclamou Laís. — Amanhã você se matriculará nos cursos de inglês e espanhol.
Simone saiu correndo para ir à escola, Beatriz foi arrumar o quarto da irmã e depois foi trabalhar.
O dia transcorreu tranquilo, Simone foi ao balé e à aula de inglês, estava entusiasmada e se alimentou bem. Novamente, não conseguiu esperar pela irmã acordada.
Beatriz convidou Nestor a entrar um pouquinho quando ele foi buscá-la na escola.
— Sei, querido, que você se levanta cedo, eu vou poder acordar mais tarde.
Nestor e ela ficaram sentados nas poltronas na varada por alguns minutos. Nunca estiveram antes sozinhos. Beatriz pensou que ele fosse beijá-la; ele, porém, receou que a dona da casa pudesse os estar observando. Despediram-se A jovem ficou decepcionada com o namorado. Cansada, foi dormir.
Os dias seguintes foram de entusiasmo e muito o que fazer. Apesar de Beatriz ter dito que não queria roupas, as três saíram, e Simone a fez comprar. Organizaram horários, e Beatriz se matriculou em cursos. Júnior ficou muito contente em saber que as irmãs estavam bem instaladas e, com sinceridade, demonstrou esta alegria, agradeceu à avó e repetiu muitas vezes que ela era a pessoa mais importante em sua vida. O moço sabia que, falando assim, incentivava a avó a cuidar de suas irmãs, mas realmente a amava.
Beatriz, alegre, contou as novidades para o namorado.
Ele não gostou.
— Por que, Bia? Fazer esses cursos? Por quê?
— Sempre é bom ter conhecimento, sempre gostei de estudar — respondeu ela.
— Não precisará deles. Por que não aproveita para aprender a cozinhar com sua avó? A cuidar da casa?
— Não trabalhando na loja, tenho muito tempo livre.
Vou aprender também a cozinhar.
Nestor ficou aborrecido e se despediu friamente naquela noite. Beatriz se entristeceu, não conseguiu entender a reacção do namorado.
No sábado à tarde, as três aguardaram por Armando. Beatriz, de tanto as duas falarem, queria conhecê-lo. Armando veio com Verónica, trouxera a namorada para a amiga conhecer. Apresentaram-se. Simpatizaram uma com a outra. Pareciam que todos eram amigos de longa data.
— Como combinamos — falou Armando —, vim aqui para fazer com vocês o Evangelho no Lar. Vamos nos sentar confortavelmente. Um de nós lerá um ensinamento de Jesus.
Pode ser um texto de um dos quatro evangelistas ou, como costumo fazer, ler uma página deste livro: O Evangelho segundo o espiritismo, de Allan Kardec. 0 ideal é fazer uma vez por semana em dia e hora marcada e, começando pelo início do livro, para estudá-lo todo. Mas hoje vou pedir para Simone abrir o que iremos ler.
Entregou o livro à garota, que o abriu e devolveu.
Armando olhou e mostrou para Verónica o que ler. A moça leu com voz agradável.14
— "Buscai e achareis. Pedi e se vos dará, buscai e achareis; batei à porta e se vos abrirá; pois todo aquele que pede recebe, e quem procura acha, e se abrirá que bater à porta... Do ponto de vista terreno, o ensinamento: buscai e achareis, é semelhante a este: Ajuda-te, e o céu te ajudará. É o fundamento da lei do trabalho e por conseguinte, da lei do progresso, uma vez que o progresso é filho do trabalho, e que põe em acção todas as forças de inteligência do homem.
Na infância.. "
Quando Verónica terminou de ler o que foi recomendado, Armando falou:
— Às vezes julgamos que Deus esqueceu de nós, mas isto não acontece. Ou pensamos que Ele sabe o que precisamos, por isso não devemos rogar por nada. Porém, pedir é criar
Armando fez uma pausa e perguntou:
— Alguém quer fazer algum comentário?
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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 4 Empty Re: A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:52 am

— Eu me sentia perdida — falou Simone. — Penso que fui achada. Lembro agora de um dos ensinamentos de Jesus:
é sobre um homem que possuía cem ovelhas, uma delas se perdeu, ele foi procurá-la e a encontrou. Sentia ser esta ovelha perdida.
— Isto é bom! — comentou Armando. — Não se sinta mais perdida. Deus não somente ama à humanidade, mas a cada ser em particular. Tem por cada um de nós um interesse especial e cuida de cada um como se os outros não existissem.
— Quando vovó — disse Beatriz — nos convidou para morar aqui, nos pediu desculpas, mas não respondemos.
Penso que agora é o momento de eu responder: está desculpada!
Laís se emocionou, enxugou o rosto porque as lágrimas teimaram em escorrer.
— Quis muito escutar isso. Si, você também me desculpa?
— Sim, vovó. Penso que tudo foi um equívoco. Estivemos equivocadas, perdidas, encontramo-nos, e Deus nos uniu. Estava sofrendo e fui aliviada. Desculpo-a e também quero me desculpar. Fui impulsiva.
As três se abraçaram, e todos se emocionaram.
Beatriz sentiu vontade de continuar com o grupo, mas havia marcado um encontro com o namorado, por isso agradeceu e se despediu.
— Agora faremos uma oração — falou Armando. — Vamos agradecer a Deus por tudo o que recebemos, que estamos desfrutando; a Jesus pelos seus belos ensinamentos; aos bons espíritos que têm nos orientado... Vamos nos encher de boas energias pensando numa luz clara, linda, vinda das mãos de Jesus nos abençoando. Agora, cheios desta luz, vamos pensar nos nossos entes queridos que mudaram de plano, foram viver na espiritualidade, que eles recebam nosso abraço carinhoso, nosso amor, e desejemos que eles estejam muito mais felizes que nós.
Armando calou-se por um instante e pensou, como costumava, em sua esposa, filha e, naquele momento, em Maria Tereza. Verónica lembrou-se do ex-noivo. Laís, do esposo e da filha, e a garota, de sua mãezinha.
— Dona Laís — disse Armando —, terminamos, espero que tenha gostado.
— Sim, foi uma prece maravilhosa. Por favor, faça connosco o Evangelho mais algumas vezes até que aprendamos — pediu a dona da casa.
— Será um prazer — respondeu Armando.
Laís convidou as visitas para tomar um lanche.
Tomaram o café conversando. Simone, curiosa, quis saber mais sobre a Doutrina Espírita.
— Senhor Armando, então, quem pode conversar com os mortos, ou seja, desencarnados, não é louco? 0 espiritismo entende isso como algo normal?
— Sim, esse fenómeno é possível, explicado, isto ocorre porque existem pessoas sensíveis capazes de perceber aqueles que vivem no plano espiritual. Nós os chamamos de "médiuns",
ou seja, intermediários entre um plano e outro. São pessoas perfeitamente normais e, quando são úteis com esta faculdade, normalmente são harmoniosos, equilibrados e felizes.— Penso que posso ver, ou melhor, falar com os espíritos - falou Simone baixinho.
— É somente você aprender que tudo transcorre com tranquilidade — esclareceu Verónica.
— Estou com vontade de aprender! — exclamou a garota.
— Poderei ajudá-la — ofereceu-se Armando.
— Posso ir ao centro espírita para ver como é? — perguntou Simone.
— Claro. O dia que quiser passo aqui para levá-la. Assistirá a uma palestra e tomará um passe.
— Vamos, vovó? — a mocinha se entusiasmou.
— Sim, querida.
Combinaram. Armando as levaria ao centro espírita e depois as traria de volta.
Despediram-se.
— Venha outras vezes nos visitar — pediu Laís a Verónica. — E você meu amigo, está combinado, todas às segundas feiras jantará connosco.
0 casal foi embora, e Simone exclamou:
— Gostei dele! Bem que ele poderia ser meu pai!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:52 am

Riram.
"Que bom que mudamos para cá!", pensou a garota.
Simone saiu, foi se encontrar com as amigas. Laís estava aliviada.
— Como é bom se sentir perdoada! É maravilhosa a reconciliação! Que bom tê-las aqui comigo! — exclamou contentíssima. Beatriz foi esperar o namorado no portão.
Entusiasmada, contou a ele que conheceu um amigo de sua mãe e da leitura que fizeram.— Espiritismo? Não gosto disto! Sei que os espíritas fazem muitas caridades, mas eles afirmam que falam com os mortos. É melhor você não participar mais desses encontros.
Começo a pensar que não está sendo bom você ter ido morar com sua avó.
Beatriz teve de se esforçar para ficar bem com o namorado e se sentiu aliviada quando ele a trouxe para casa.

14 - N. A. E.: A página foi aberta no capítulo 25, e foram lidos os itens de um a cinco, dentro de nós um ambiente propício para que Deus actue sobre nossas vidas. Devemos ter uma atitude de receptividade para recebermos as graças do Pai.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:52 am

17 º CAPÍTULO - Orientações
Ana Clara levou Maria Tereza ao posto de socorro.
— Puxa! — exclamou Maria Tereza — Como viemos rápido. Como isso acontece?
— Este processo se chama "volitação". Basta saber para usá-lo.
— Quero aprender!
— Quando queremos, as oportunidades aparecem e aprendemos — afirmou Ana Clara.
A socorrista deixou-a acomodada novamente num quarto. Maria Tereza adormeceu tranquila. No outro dia, Ana Clara informou-a:
— Às duas horas da tarde você irá para uma colónia, é uma cidade na espiritualidade, onde poderá estudar e aprender como se vive desencarnada. Irá gostar, lá é lindíssimo.
Maria Tereza sentiu um frio na barriga.
"Medo do desconhecido", pensou ela. "Com certeza, quem já sabe o que irá encontrar quando seu corpo físico morrer não se assusta como eu."
Aguardou ansiosa. Admirou-se com o transporte que a levaria juntamente com outros desencarnados à colónia. Foi-lhe explicado que era um aerobus, um veículo usado no plano espiritual. Admirou-se com a viagem e, quando chegou à colónia, se encantou; quando percebeu, estava de boca aberta e olhos arregalados. Era muita beleza.
Foi conduzida para uma moradia. Um casa singela com muitas plantas. Ali, como lhe havia sido explicado, residiria por alguns meses, até ir para o alojamento da escola onde estudaria. Moravam oito pessoas, todas simpáticas e solícitas. Seu quarto era arejado, confortável, o mobiliário era uma cama, poltrona, escrivaninha e um pequeno armário.
— Aqui — explicou Manoela, uma moradora da casa — é seu espaço. Ainda terá sono e poderá descansar nesse confortável leito; a escrivaninha é para seus apontamentos e estudos; pode ler confortavelmente na poltrona; e, no armário, há algumas roupas que poderá usar ou não.
Foi tratada com muito carinho e logo se sentiu em casa.
As tarefas eram divididas e ali estavam sete recém-chegados.
Manoela era a responsável pela casa.
Quando Maria Tereza pensava nos filhos, os sentia tranquilos, e isto a levava a se tranquilizar. Na segunda-feira à noite, recebeu, de sua caçula, da mãe e de Armando uma energia benévola que a fez se sentir amada e lembrada.
"Sim, meus queridos", pensou emocionada e decidiu: “vou ficar como vocês querem: bem! "
Manoela os levou para conhecer a colónia. Maria Tereza e os companheiros admiraram o local, que era deveras encantador. Tinham muito o que fazer: as tarefas da casa, cuidar das plantas e participar do Evangelho no Lar, que faziam todas às tardes às dezoito horas. Saíam em excursões para conhecer a cidade espiritual e liam. Na casa tinha uma estante na sala com livros. Manoela incentivava-os a ler. E o primeiro
livro que Maria Tereza leu foi Renúncia, que os encarnados tem também oportunidade de ler. É um romance psicografado por Francisco Cândido Xavier, escrito por Emmanuel. Ela chorou em algumas partes. Achou lindíssima a história de Alcioni, que renunciou à vida maravilhosa que tinha para encarnar e auxiliar pessoas que amava. Preferindo romances, Maria Tereza dedicou seu tempo livre à leitura.
Foi, para a recém-chegada, uma feliz surpresa receber a visita de seu pai. Abraçaram-se emocionados.
— Filha querida, soube de sua desencarnação, porém não estou em condições de ajudar, sou um aprendiz. Ainda estou em condição de socorrido. Se fosse até você, poderia querer ficar junto à família. Somente pode socorrer aquele que não precisa mais de auxílio. Orei por todos, roguei para você ter vontade de pedir auxílio. Vamos agora nos ver sempre. Trabalho, faço tarefas simples e estou aprendendo a viver na espiritualidade.
— 0 senhor também se confundiu quando desencarnou?
— perguntou Maria Tereza.
— Sim. Perturbei-me com minha passagem de planos.
Sofri e, quando fui socorrido, aceitei, fui grato e tenho me esforçado para viver do melhor modo possível no plano espiritual. Espero, minha filha, que você não retorne mais à sua casa terrena. Com certeza agora nossa família ficará melhor.
Deus enviou Armando (para mim, um anjo) para ajudá-los.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:52 am

Laís está agindo agora correctamente, e seus filhos estarão seguros com ela.
— Papai, o senhor sabe por que Júnior e mamãe se gostam tanto?— Tive também essa curiosidade e indaguei um orientador, que verificou para me esclarecer. Laís e Júnior são espíritos que, por muitas reencarnações, estiveram juntos: já foram marido e mulher, mãe e filho e agora avó e neto. Os dois sempre se entenderam, são afins, um sempre protegendo o outro, aprenderam a se amar verdadeiramente, aquele amor em que se pensa mais no outro que em si mesmo.
— Isso é bonito! — exclamou Maria Tereza.
— É o que nós deveríamos sentir por todos. Amar nosso semelhante como a nós mesmos. Amar a Deus no outro como amamos Deus em nós.
— Nossa, papai! O senhor está mudado! — ela se admirou.
— Tenho estudado e anseio por aprender. Desejo viver melhor e com mais conhecimento.
O encontro foi comovente e combinaram de se ver sempre que possível.
Depois de duas semanas que estavam ali, Manoela os convidou:
— Hoje, vocês irão a um local que faz parte da escola para uma reunião que, com certeza, será muito proveitosa.
A orientadora da casa os acompanhou. Foram à escola, já tinham conhecido esse local de aprendizado; lá, dirigiram-se a uma sala reservada e se sentaram em círculo.
— Sou Luís Cláudio — apresentou-se o orientador — vamos conversar. Pergunto a vocês: o que querem conversar ou saber?
— Eu — falou Marília — gostaria de saber mais sobre o local que estamos e quando iremos aprender a viver sem o corpo carnal.
— Meu assunto preferido é a desencarnação — opinou
Márcio.— Logo — disse Luís Cláudio — vocês irão estudar, participarão de cursos em que terão amplos conhecimentos do plano espiritual e, aos poucos, aprenderão a viver com esse corpo, perispírito, que usamos agora. Vamos falar sobre desencarnação. Penso que, como quase todos os recém-chegados à colónia, querem sanar dúvidas como: "0 que ocorreu comigo?"
Quem quer falar? Dar o depoimento do que aconteceu após a morte do corpo físico?
Os componentes do grupo estavam tímidos, pareciam envergonhados por ter dúvidas, não saber. Maria Tereza tinha várias perguntas para fazer, queria saber sobre muitas coisas que tinham acontecido com ela. Levantou a mão, foi convidada a falar e contou:
— Era casada, porém estávamos separados, embora vivêssemos na mesma casa; tenho três filhos, o mais velho estuda em outra cidade. Fiquei doente, tive um acidente vascular cerebral e então nossa vida mudou. Como não pude mais trabalhar e as despesas aumentaram, as meninas tiveram de sair de cursos que frequentavam. A mais velha foi estudar no período nocturno para cuidar de mim e da casa. Piorei, fui novamente internada e desencarnei. Sei disto agora porque, para mim, foi como se tivesse sido hospitalizada e, de repente, estivesse em casa. Minhas filhas deixaram meu quarto como era, nem tiraram os remédios. Isto contribuiu para a confusão?
— Certamente — respondeu Luís Cláudio —, suas filhas deixando o lar como era, seus pertences sem mexer, deram--lhe a sensação de que tudo continuava igual. 0 melhor é doar sempre o que não se necessita mais para quem precisa. Talvez você, vendo sua casa modificada, desconfiasse que não fazia mais parte dela. Porém, é possível que desencarnados como você plasmem o que desejam, que se iludam de tal forma que vejam a casa, o local em que estiverem, como querem. A atitude delas contribuiu para você se sentir mais confusa.
—Agora é que entendo que foi um período perturbador — continuou Maria Tereza contando. — Quando percebi, estava no meu lar. Calculo que se passaram três meses do meu falecimento, quando achei que saíra do hospital. Luís Cláudio, como fui para lá? Como voltei à minha casa?"
— Você desencarnou na U.T.I. — respondeu o orientador.
— Socorristas, tarefeiros do hospital, desligaram seu espírito do corpo físico que teve falência dos órgãos, isto é, morreu.
Com certeza você foi levada para um posto de socorro, que existe em quase todos os hospitais, mas, sentindo-se melhor, foi para sua casa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:53 am

— Volitei? — perguntou a filha de Laís.
— Sim, podemos volitar pela vontade, fazê-lo sem entender como, e muitos o fazem, principalmente os desencarnados que ainda não têm consciência de que mudaram de plano.
Para ter domínio da volitação, necessita aprender e, quando aprendemos, podemos ir a muitos lugares volitando.
— Eu — disse Elizete — saído posto de socorro e fui para meu ex-lar volitando; depois, quis muito voltar ao posto e não consegui.
— Como quis muito voltar ao seu lar que era conhecido por você, conseguiu volitar até ele, não conseguiu retornar porque o posto de socorro não lhe era conhecido, não sabia localizá-lo. Para volitar a todos os lugares tem de aprender a dominar, direccionar esta vontade para fazê-lo com segurança e conhecimento.— Encarnados volitam? — Alfredo quis saber.
— Sim, volitam — respondeu o orientador. — Podem fazê-lo pela vontade ou sabendo. 0 encarnado tem seu perispírito ligado ao corpo por um cordão, então ele volita sem se preocupar com a volta, porque isto sempre acontece, o cordão o faz retornar ao corpo físico. Quem aprendeu pode ter o conhecimento adormecido na carne, mas cie está no seu íntimo. Certamente, quando eu reencarnar; volitarei e, quando desencarnar novamente, espero fazê-lo com facilidade, porque, para aquele que aprendeu pelo estudo e consolidou no trabalho, este conhecimento torna-se real, é dele para sempre. Continue falando de si, Maria Tereza, por favor.
— Na minha casa, agi como encarnada. Muitas coisas haviam mudado, mas não reparei. Despediram a enfermeira, não tomava banho, dormia muito. Notei que minha filha caçula me entendia mais do que os outros e passei a ficar mais perto dela. Agora estou entendendo que, quando ela estava dormindo, conversávamos mais. Eu não falava, pensava, e ela entendia. Também conversei com Armando e com Lucilene, a namorada do meu ex-marido. Isto é possível?
— Sim, é — respondeu Luís Cláudio. — Encarnado, quando adormece, seu espírito pode sair do corpo e ficar como nós agora, usando o corpo perispiritual: pode volitar, ir a muitos lugares, conversar com outros encarnados e com desencarnados. Às vezes o cérebro físico confunde esses encontros, compara o que ouviu e viu com o que ele conhece.
Esses encontros são relatados como sonhos. A maioria das pessoas não se lembra de nada, poucos se recordam com fidelidade. Pode-se sentir, ao acordar, sensações como: "Fulano não está bem" "Cicrano está feliz", Isso dará certo ou não" etc. Lucilene, dormindo na sua ex-casa, com certeza saía do corpo, e vocês duas se viam. Armando, conheço-o porque tenho ido ao centro espírita que frequenta e o vejo sempre; com certeza foi visitar você, a amiga de juventude. O corpo físico dele dormiu, ele foi à sua casa, conversaram e, quando acordou, sentiu que estava necessitada de auxílio, que deveria pedir ajuda para você. Sua filha deveria fazer o mesmo: o corpo carnal adormecia, ela saía e ia vê-la. A garota sabia, em espírito, que você estava ali e, quando acordava, a sentia perto, sabia que não estava ausente. Com certeza sua caçula tem mediunidade em potencial para senti-la. Voltemos ao seu relato.
Maria Tereza não se fez de rogada e continuou a narrar:
— Ana Clara, a trabalhadora do posto de socorro do centro espírita, me contou que foi realmente Armando quem pediu auxílio para mim. A equipe de socorristas foi me buscar em casa e me levou para uma reunião de orientação a desencarnados. Eles me ajudaram a falar, fiquei tão entusiasmada que nem percebi onde estava, pensei que era um hospital, não quis saber de nada, só de retornar ao meu lar e contar a todos de minha melhora. E voltei. Como nos iludimos quando queremos! Ao retornar novamente à casa que foi por anos minha residência, percebi que ninguém me via ou ouvia, comecei a pensar que estava sonhando ou enlouquecida. Como me sentia melhor perto de Simone, fiquei mais ao seu lado. Minha filha, que já estava adoentada, piorou. 0 médico constatou anemia, mas não era somente isto, ela estava desanimada, triste, cansada, magra e pálida. Preocupada, orei com muita fé, roguei a
Deus para minha filha sarar e, então, sem entender, fui novamente para o centro espírita.— Foi novamente lhe oferecido o socorro — opinou Luís Cláudio.
— Eu era a causa de Simone estar daquele modo?! Adoentada?! — admirou-se Maria Tereza.
— Infelizmente, sim — respondeu o orientador. — Quando uma pessoa desencarna e fica iludida, pode ser que, permanecendo em seu antigo lar, possa trocar energias com os encarnados ou sugá-las de alguém com mais intensidade e prejudicá-lo.
— Isso se chama "vampirismo"? — perguntou Márcia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:53 am

— É — Luís Cláudio elucidou. — Conta a lenda do vampiro que ele sugava sangue, ou seja, energia de outras pessoas, e que não morriam, já estavam mortos, ou seja, desencarnados.
Eram afugentados com cruz e água benta; de fato, alguns espíritos temem estes objectos. Somente esqueceram-se de que é a oração, o socorro e o esclarecimento que os libertam. Não gosto de usar o termo "vampirismo", prefiro dizer que são necessitados de orientação, de auxílio. Essa sucção de energias se dá de dois modos. Uma delas é inconsciente, como ocorreu com você, Maria Tereza, e penso que também com alguns outros nesta sala, que desencanaram, se iludiram voltaram para seus lares e, sem perceber, entender, sugavam energias de pessoas.
Quando isso ocorre com vários encarnados, eles não sentem tanto, confundem cansaço e tristeza com a perda energética.
Porém, quando ocorre com uma pessoa somente, normalmente ela sente mais. Com certeza você, Maria Tereza, ficando mais perto, por afinidade, de Simone, porque ela conseguia sentir sua presença, sugava as energias de sua caçula e, ao mesmo tempo, ela captava as suas.
Maria Tereza chorou baixinho. Luís Cláudio lhe ofereceu um lenço e a olhou com tanto carinho que ela se acalmou e exclamou sentida:
— Como se age indevidamente quando não sabemos! Eu estava tão preocupada com a doença de minha filha e era a causa dela!
— Dificilmente é aceita a desculpa de não se saber — falou o orientador. — Sempre temos oportunidades de entender, conhecer, que, muitas vezes, são recusadas.
— Você tem razão — concordou Maria Tereza. — Tinha uma freguesa que era espírita, e ela tentou algumas vezes falar comigo sobre sua doutrina, sobre desencarnação, mas não dava atenção e mudava o rumo da conversa. Tinha também amizade com uma freguesa budista e, infelizmente, agi do mesmo modo, não quis saber nada sobre morte, desencarnação.
— Luís Cláudio — manifestou Abelardo — você falou que existe outra forma de vampirizar, ou seja, sugar energias.
Explique, por favor. Porque eu sabia, depois de um tempo vagando, que desencarnara, do meu estado; fiquei na casa de minha filha e sabia que me nutria das energias deles, dos moradores daquele lar, genro e netos.
— Sim, isso é possível, sugar energias conscientemente, e até se aprende como fazê-lo. Infelizmente, vemos encarnados alcoólatras que estão sempre acompanhados de desencarnados que ainda cultivam este vício, podemos ver também os toxicómanos com outros afins. Muitos desencarnados que vagam fazem isto, aproximam-se de encarnados e sugam suas energias. Somente não o fazem se não conseguirem, se o encarnado não quiser doar energias ou não deixar que as roubem. Isto ocorre porque existem pessoas que não permitem a aproximação de desencarnados e também porque as orações, bons actos e pensamentos fazem uma couraça que impede desencarnados necessitados e mal-intencionados de se aproximarem. Também há os que têm por companhia desencarnados afins que os protegem, estes são normalmente os voluntários do bem. Infelizmente, por não ter conhecimento, um encarnado que ama o desencarnado necessitado aceita indevidamente sua aproximação, e trocam energias.
— Uma vez — contou Manoel — estava tão aborrecido com meus familiares que resolvi ir a um bar, beber para esquecer. Sabia que estava desencarnado e que podia me alimentar das energias de encarnados. Quis sugar de alguém que estivesse bebendo e me embriagar. No bar, quando me aproximei de um homem, um desencarnado me empurrou e gritou: "Este é meu! Eu o protejo!" Tive de procurar outro.
—A protecção que falei — esclareceu Luís Cláudio — pode ser por maus ou bons espíritos, isto dependerá do que o encarnado em questão faz, de como age. Uma pessoa que faz o mal quase sempre tem perto de si desencarnados maldosos que tentam protegê-lo. Normalmente, as energias deste encarnado é dele ou deles, dos espíritos que o acompanham. 0 que aconteceu com você no bar, com certeza, foi que o alcoólatra estava sempre acompanhado por aquele desencarnado e se embriagavam juntos, por isso ele não permitia que outro usufruísse de sua fonte energética.
— Essas energias podem ser doadas? — quis Maria da Glória saber.
— Sim, podem — respondeu o orientador. — Quando oramos por alguém, normalmente enviamos a ele energias benéficas. Em passes espíritas, doam-se muitas energias. Muitos encarnados estudiosos conhecem perfeitamente esse processo e doam energias a encarnados e desencarnados. Pode-se fazer esta doação inconscientemente: ao sentir dó de alguém, dar energias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:53 am

— Isso não prejudica? — indagou Maurício.
— Normalmente não. Quem dá tem sempre em abundância. Mas, se esta doação for em demasia, pode-se sentir, sendo necessário fazer a reposição. Por isso, é tão importante a recomendação para que se aprenda, para fazer esta doação com segurança e conhecimento.
— Vou continuar — falou Maria Tereza — contando a história de minha vida porque ainda tenho muitas perguntas a fazer. Quando alguém em casa estava se alimentando, eu ficava perto, principalmente de Simone, e me sentia alimentada.
Pensava que ela me dava o que comer. 0 que realmente eu estava fazendo?
— Você sugava as energias de Simone se alimentando — respondeu Luís Cláudio.
— Da segunda vez que eu fui levada ao centro espírita, estava orando para minha filha sarar. Fui atendida?
— Sim, foi — esclareceu o organizador da reunião. — Recebemos sempre resposta de nossas orações sinceras. Você pediu para Simone se curar, e a causa da doença dela era você.
E, no centro espírita, o que aconteceu?!
— Dessa vez compreendi, porque prestei atenção na orientação que recebi, que havia desencarnado e que necessitava aprender a viver como tal, então decidi fazer tudo para melhorar. Porém, Simone me chamou me querendo; eu me desesperei e, novamente, volitei sem saber, voltando para casa. Mas aí agi diferente, sabia que eles não me viam nem me responderiam.— Isso ocorreu comigo — interrompeu Carlos. — Fui casado por quarenta e nove anos; fui feliz no casamento, fiquei doente, minha desencarnação foi como dormir e acordei num posto de socorro, logo percebi que algo deveria ter acontecido comigo. Sentia-me bem, até que percebi que minha esposa, companheira de tantos anos, inconsolada, me chamava. Estes rogos se intensificaram, e eu passei a ficar inquieto, amargurado e com culpa de ter desencarnado.
Num arroubo maior dela, a atendi, saí do abrigo em que estava e voltei para casa, para perto de minha mulher. Que tristeza! Logo me perturbei, não sabia mais se estava encarnado ou desencarnado. Ainda bem que uma das minhas filhas pediu auxílio para mim no centro espírita em que frequenta. Fui socorrido, orientado e aqui estou. Como é triste quando encarnados lamentam por nós em desespero e nos chamam. Minha filha foi enérgica com minha esposa, exigiu que ela não me chamasse mais. Ela ainda o faz, mas não como antes. E, quando isto acontece, eu me concentro em Jesus, penso que estou segurando na mão do Mestre Amado e não a atendo. Não mesmo!
— Vamos continuar escutando Maria Tereza — pediu Luís Cláudio.
— Graças a Deus, minha mãe pediu para minhas filhas morarem com ela. Na preparação da mudança, minhas duas filhas, arrumando seus pertences, falaram de mim, comentaram de minha doença, falecimento, do velório e enterro, jogaram meus remédios fora, doaram minhas roupas... Naquele momento, acabou toda a minha ilusão, compreendi que de fato havia mudado de plano. A vida de minhas filhas mudou para melhor. Sem minha presença, Simone logo estará sadia, e ela, com muitas coisas para fazer, não sente mais minha falta como antes. Meu amigo de juventude, que tem conhecimentos, orientou-as para que não me chamassem mais e pensassem em mim sadia e feliz. Estou me esforçando para ficar como elas
desejam.
— Meus familiares — queixou-se José Mário — aborreceram-se muito comigo, e uns infelizmente até me xingaram.
Fingi ter mais dinheiro do que tinha. Fiquei viúvo por oito anos e, nesse período, gastei escondido meu dinheiro. Meus filhos pensavam que eu tinha guardado e, quando desencarnei, foram ao banco e ficaram sabendo. 0 luto passou rápido com a notícia, e eles sentiram raiva de mim, pois tinham planos para a fortuna que receberiam. Esqueceram-se de que o dinheiro era meu, que fui eu quem trabalhou para ganhar. Foi um período triste. Desencarnei e fiquei em casa; com a indignação deles e por eles terem falado tanto que eu havia morrido e por terem se desfeito dos móveis, de tudo e alugado a casa, soube que mudara de plano. Fiquei vagando e fui parar no umbral.
Minha esposa, que é uma pessoa muito boa, está bem na espiritualidade, me socorreu e vim para cá. Quando penso nos meus filhos e netos, sinto-os ainda magoados comigo, embora receba orações deles também.
— Minha história é parecida com a da Maria Tereza — falou Nilza. — Fiquei doente, desencarnei e permaneci no meu lar por muito tempo. Vi os acontecimentos se sucederem; devo ter sugado energia de todos, porque ninguém sentiu mais que os outros. Nas refeições, revezava, cada vez ficava perto de um deles. Cansei, passei a orar muito, roguei por auxílio.
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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 4 Empty Re: A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:16 pm

Dois socorristas vieram atender meu pedido e me socorreram. Por que muitos desencarnados ficam assim sem compreender o que aconteceu? Sem entender que mudaram de plano?
— Porque gostamos mais da matéria do que do espírito — respondeu Maurício, intrometendo-se. — Tínhamos como objectivo somente a vida no físico. Eu tinha horror de pensar que ia morrer. Não queria nem saber o que acontecia com quem partia do físico. E, como para todos acontece, morri. Acordei em casa e, para mim, foi um horror. Ninguém conversava comigo: às vezes pensava estar tendo um pesadelo do qual não acordava; outras, que por algum motivo eles estavam me punindo. Chorando, desesperado, pedi, roguei ajuda a Deus. Fui socorrido, mas não fiquei, não queria aceitar a realidade e voltei. Fiquei novamente em minha casa e, percebendo que minha esposa ia sair, ter um encontro com um homem, com ciúmes e indignado, segui-a, e aí um grupo de desencarnados arruaceiros me cercou, bateu em mim, humilhou-me, torturou e me abandonou no umbral. Chorei muito e novamente chamei por auxílio. Fui de novo socorrido, mas dessa vez não me iludi mais; grato, esforcei-me para ficar bem e aqui estou.
— 0 perigo — esclareceu o coordenador da reunião — de vagar é isso ocorrer: desencarnados maldosos o pegarem e maltratarem. E, quando isto ocorre, são deixados normalmente no umbral. Também pode acontecer, aos que vagam, de serem levados para se tornarem escravos. A imprudência de não aceitar o inevitável, a morte do corpo físico, pode acarretar muitos sofrimentos.
— Noto que temos histórias parecidas — concluiu Maurício. — Fomos, Luís Cláudio, agrupados aqui porque todos nós desencarnamos e voltamos ao lar? Isto é comum?— De facto, para termos estas conversas esclarecedoras; agrupamos desencarnados que passaram por dificuldades parecidas. Infelizmente, muitas pessoas desencarnam, não aceitam essa mudança de plano, do físico para o espiritual, e se iludem: uns pensam que estão sonhando, tendo pesadelos; outros se sentem desprezados, acham que os familiares estão fingindo não vê-los para não falar com eles. Encarnados precisam se esclarecer, pensar na morte como uma viagem a ser feita e que necessita de preparo.
Ficaram todos calados por alguns momentos. Alfredo levantou a mão e pediu para falar. Tendo permissão, narrou:
— Agi parecido com você, Maria Tereza. Encarnado, tentei fazer o bem, ser caridoso, fui uma pessoa querida, religioso (tinha a religião interior, não era de frequentar cultos).
Desencarnei com quarenta e nove anos, adoeci e, um ano depois de acamado, mudei de plano. Fui socorrido por desencarnados que me eram gratos. Mas não fiquei abrigado.
Meus dois filhos mais velhos me decepcionaram: aproveitaram-se da ingenuidade de minha esposa e dividiram meus bens financeiros, ficando com a maior parte e prejudicando a mãe e os outros quatro menores. Indignado, voltei para meu ex-lar e lá fiquei, piorando a situação. Minha filha caçula, que é médium em potencial, me acolheu com carinho e trocamos energias. Ela adoeceu. Minha esposa ficou desesperada, pensando que ia perdê-la também. Levou-a em muitos médicos e para benzer, mas, infelizmente, esse senhor que benzia não me orientou, somente ordenou que eu me afastasse do meu ex-lar. Naquele momento, não compreendia que eu era a causa de minha filha estar prostrada, pensava que era por tristeza pelo meu falecimento. Não obedeci. Amava minha família e nunca pensei que meus filhos pudessem agir daquele modo. Na terceira vez que aquele senhor mandou que eu me afastasse e eu não o fiz, seus ajudantes desencarnados, que trabalhavam com ele, me levaram para o umbral e me deixaram lá. Foi muito triste; senti-me doente e passei fome porque, não sabendo viver desencarnado, sentia vontade de me alimentar. Passei frio como se ainda estivesse encarnado.
Pensei muito nesse período preso e roguei a Deus ajuda. Fui socorrido e aqui estou. Quero agora aprender a viver na espiritualidade.
— Você sabe o que aconteceu com sua família? — perguntou Maria da Glória.
— Sim, sei — respondeu Alfredo. — Sem minha presença, minha filha sarou e, de facto, meus dois filhos mais velhos ficaram com a maior parte dos meus bens, que adquiri com o meu trabalho. Minha esposa tem se virado, e estão melhores do que eu pensava.
— Novamente, alerto para o perigo de voltar ao ex-lar — orientou Luís Cláudio. — Se sua esposa tivesse procurado auxílio num local que somente faz caridade, você não seria levado para o umbral, mas, sim, para um posto de socorro, onde seria orientado. Com certeza, ela o fez por ignorância. Sempre que possível, alerto os encarnados para pedir ajuda somente em lugares que seguem os ensinamentos de Jesus, onde se faz o bem sem olhar a quem.
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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 4 Empty Re: A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:17 pm

— Foi uma lição! — exclamou Alfredo. — Tudo tem razão de ser. Devemos estar sempre preparados para voltar ao plano espiritual e, por mais que amemos a família, pensar que um dia poderemos estar novamente juntos e que, quando não podemos auxiliar, não nos cabe atrapalhar. Minha desencarnação, deixando filhos menores e com quarenta e nove anos, não foi injusta, como todas não são, foi uma reacção de actos equivocados do passado.
— Eu — contou Laila — desencarnei idosa e não me conformei por deixar meu esposo, companheiro de tantos anos.
Acordei num posto de socorro e, nos primeiros dias, encantei-me com o local, mas depois me desinteressei Como poderia ficar em um local maravilhoso se meu amor estava sofrendo com a minha ausência? Por mais que me fosse explicado, saí do abrigo e voltei para casa. "Se é para ele sofrer", pensei, “vou sofrer junto". Só que não calculei que fosse tanto. Logo me senti doente, as dores que sentia quando encarnada voltaram com intensidade. Meu esposo ficou muito pior. Sei agora que ele piorou porque trocávamos energias. Meus filhos não sabiam mais o que fazer ao verem o pai se deprimindo. Minha irmã, que há muitos anos mora aqui, no Além, veio me visitar, ficou brava comigo, discutimos. Ela me mostrou, tentou me fazer entender que o que estava fazendo piorava e, muito, a situação no meu ex-lar. Não adiantou naquele momento, porém comecei a observar e compreendi que desencarnados não podem mais ficar junto de encarnados, não até saberem viver sem o corpo físico ou terem permissão. Chorei e vi meu esposo chorando.
Comovida, pedi ajuda à minha irmã, que veio ao meu socorro. Depois de uns dias num posto de socorro, fui trazida para cá. Arrependo-me muito por esta minha imprudência. Embora idoso, meu esposo, para mim, será sempre meu marido; melhorou muito com minha ausência. vezes choro por ter feito ele sofrer mais ainda. Quero agora me preparar para, quando for o momento de ele mudar de plano, ajudá-lo e aí ficarmos juntos.— Infelizmente — opinou o dirigente da reunião — tenho conversado com grupos que não aceitaram o socorro por gostarem imprudentemente do que julgavam ser deles, os bens materiais. Não foram administradores, mas, sim, possuidores e a eles ficaram presos. Neste encontro, vocês não conseguiram se desligar dos afectos. Laila ama muito seu marido e se inquietou por estar bem e ele não. Não devemos sofrer com separações momentâneas, porque aqueles que amam verdadeiramente, reencontram-se. Vamos fazer o propósito de aprender a desapegar até daqueles que amamos. Amar sem se apegar:
esta é a difícil lição! Porém necessária ao nosso progresso.
Marília pediu para falar:
— Gostaria de contar o que aconteceu comigo para esclarecer algo que ainda me magoa. Estava envergonhada, mas agora percebo que todos aqui tiveram histórias parecidas.
Não casei quando encarnada, tive muitos sobrinhos, filhos de seis irmãos. Cuidei de meus pais idosos até eles desencarnarem e depois passei a ser a tia disponível para resolver qualquer dificuldade. Cuidava ora de um, ora de dois ou três, gostava de fazer isto, era solícita, tive até sobrinhos bisnetos. Amava a família e era também querida. Desencarnei de repente e fui socorrida. Meus pais me acolheram, foi um reencontro feliz.
Porém, os problemas com a família se multiplicaram, eles sentiram minha falta e passaram a brigar pelos meus bens materiais, os que deixei no plano físico. Começaram a me chamar dizendo: "Se titia estivesse aqui, isto não estaria acontecendo!"; "Se titia Marília 'isto' ou 'aquilo'." Resolvi, consciente, ir para perto deles para ajudá-los. Mamãe fez de tudo para me convencer a ficar. "Marília " disse minha mãe, "não vá! No plano físico, você sentirá as necessidades de um encarnado: terá fome, sentirá frio etc. E, para suprir estas necessidades, terá de sugar as energias deles, isto não é bom!". "Se eles me querem, é justo que me dêem algo em troca" respondi. Não fugi, saí e até agradeci. Fui para perto de minha família e, de facto, eles estavam brigando até pelas minhas roupas. Tentei de tudo para que eles resolvessem sem discussões. Nada. Até escutei:
"Tudo por culpa de tia Marília, ela deveria ter feito um testamento". Senti-me culpada por não tê-lo feito. Meus pertences, aqueles de que fui administradora, eram três casas e dois apartamentos, tinha também jóias, e a casa que morava era bem arrumadinha. Comecei a dar palpites nas atitudes deles, como sempre fizera, ora ficava brava com um, ora com outro.
Como era de se esperar, nada de diferente aconteceu, ninguém me via ou escutava. Um sobrinho neto, filho da filha do meu irmão mais velho, foi a um local de oração e fui junto. Lá, após o culto, uma pessoa foi até meu sobrinho e gritou: "Afaste-se daqui, espírito impuro" 'Impura' eu?!", exclamei indignada. E o homem gritou muitas vezes: "Espírito impuro!" Dois desencarnados me pegaram pelo braço, me levaram para fora do prédio e me jogaram na rua. Caí sentada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:18 pm

Chorando, levantei-me e me encostei num muro. Chamei pelos meus pais e, minutos depois, eles vieram, abraçaram-me e me trouxeram para esta colónia. Estou tentando me desligar deles, tenho orado, pedido a Deus para eles resolverem sem brigas. Mas por nada volto para perto deles. Estou me adaptando aqui, e meus pais me visitam sempre. O que mais senti nesse acontecimento tumultuado foi ter sido chamada de "espírito impuro" Eu que sempre fui recatada sexualmente!
— Erroneamente — elucidou Luís Cláudio —> entendemos por "impuro" os abusos egoístas pelos prazeres sexuais. Nos Evangelhos, referem-se aos desencarnados imprudentes, maus e egoístas como "espíritos impuros". Porque é egoísmo aqueles que vivem sem o corpo físico se apoderarem de encarnados, desequilibrando-os fisicamente e moralmente, somente pura se sentirem alimentados, para gozarem de prazeres e terem conforto pessoal. É este egoísmo que é chamado de "impureza". Então, qualquer forma de egoísmo é impuro. E pureza" significa o contrário, amor espiritual, solidário para com tudo e todos. Isto é a pureza do coração.
— Entendi — falou Marília — é uma forma de egoísmo roubar energia alheia. Sabia que fazia isto, mas pensei ser uma troca, já que queria ajudá-los. É difícil auxiliar sem saber como. Entendo que somente piorei a situação. Agora compreendo, pelas suas explicações, por que fui chamada de "espírito impuro" e está sendo fácil desculpar. Reconheço que fui egoísta: estava desfrutando das energias deles e também me achando indispensável. Penso que realmente os ajudei quando estava vestida com a roupagem carnal, mas me vangloriava desses meus actos. Vou pensar muito sobre isto. Quero aprender a amar sem egoísmo.
Por alguns instantes, todos ficaram calados, pensando em seus actos. Com certeza, naquele momento, todos queriam vencer o egoísmo. E foi Luís Cláudio quem quebrou o silêncio:
— Eu, como vocês, vivi encarnado de tal modo que mereci socorro ao desencarnar, porém não fiquei no posto de socorro para onde fui levado. Tive uma sensação dolorosa. "E agora?", indaguei. "Não serei mais Luís Cláudio, com o sobrenome que tanto prezava? Perdi tudo? Onde está o meu corpo carnal? Minha casa? Minha família e amigos? Minhas roupas?"
Foi terrível a sensação de perda. Saído abrigo e voltei ao meu lar. Descobri que amava as sensações do plano físico: comer, tomar água, uns drinques, dormir, passear; conversar com as pessoas, estar com filhos e esposa, gostava até das pequenas discussões que tínhamos etc. Senti medo de perder tudo isto e me iludi. Sofri, decepcionei-me e procurei, implorei pelo socorro. Depois de um tempo aqui na colónia, descobri a vida maravilhosa que é a d o Além. Equivocadamente, quando encarnado e no período em que, desencarnado, vaguei iludido, dei mais valor ao "ter" do que ao "ser". Esqueci que o "ser" é do espírito, e o "ter" é da matéria. Para compreender isso, necessitei sofrer.
Era apegado à matéria física, e a ela fiquei preso. Se tivesse sido desapegado, teria dado mais importância ao "ser", ao meu espírito, que sobreviveu à morte do corpo físico. Poderia ter sido administrador e não possuidor e não teria ficado apegado nem ao meu nome. Agora tento, esforço-me para fazer crescer em mim o "ser" e decrescer o desejo de ter. Quando realmente aprender isto, consolidar meu eterno "ser", é que poderei ter em segurança e temporariamente, sem prejuízo a mim mesmo.
— Como é a desencarnação de uma pessoa que tem conhecimento dessa mudança de plano? Ela fica bem de imediato?
— Quis saber Maria da Glória.
— Conhecimento não é merecimento. Quem fez por merecer, foi quando encarnado uma pessoa boa, é sempre socorrido, podendo aceitar ou não o auxílio recebido. Isto ocorreu com este grupo, todos vocês receberam o primeiro socorro.
— Existe socorro diferente? — perguntou Maurício, interrompendo o orientador.
— Sim, existe. Algumas pessoas são muito especiais, trouxeram as malas cheias, para esta viagem, de "obrigados" e "Deus lhe pague". Estes, ao terem o término do período no piano físico, são trazidos para as colónias, de onde é mais difícil, com conhecimento ou não, sair. Conhecimento — falou Luís.
Cláudio voltando ao que estava explicando — é viajar sabendo tudo o que encontrará: o lugar para onde está indo, onde ficará, como viverá e quem encontrará. Lembro-os de que conhecimento é para quem quis saber, estudou, independentemente do carácter da pessoa. Muitos espíritos maus têm vastas instruções. Mas se unir os dois itens, conhecimento e merecimento, a desencarnação é, para essa pessoa, algo de extraordinário, maravilhoso. — 0 orientador, cumprindo o horário, exclamou: — Nossa reunião está terminando! Você, Maria Tereza, quer falar mais alguma coisa?
— Sim, quero finalizar meu relato. Nas vezes em que me encontrei com Lucilene, a namorada do meu ex-marido, xingávamos uma a outra. Eu tentava falar, pensava e a denominava de "intrusa". Pensava que ela, indevidamente, estava na minha casa. Lucilene tentava me ofender, dizendo que era eu que não deveria estar lá no meu ex-lar. Agora sei que, indevidamente, imprudentemente, era eu... a intrusa!
Luís Cláudio fez uma bonita oração, em que agradeceu o socorro e por estarem ali num abrigo. A reunião terminou.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:19 pm

18 º CAPÍTULO - Férias novamente
As aulas terminaram, Beatriz e Simone estavam de férias.
A filha mais velha de Maria Tereza se formou numa cerimónia simples. As aulas de inglês e espanhol também haviam encerrado.
As três moradoras estavam eufóricas, Júnior estava para chegar. Naquela manhã, Laís organizava os últimos detalhes da decoração do quarto que o neto ocuparia e pensou:
"Como minha vida mudou para melhor! Está sendo muito prazeroso minhas netas morarem comigo e agora meu neto querido. Como gosto desse menino! Serão férias inesquecíveis!
Tudo deu certo! Meus filhos compraram minhas acções do curtume. Vão me pagar por muitos anos. Célio, quando ficou sabendo, não demonstrou na frente dos sócios sua indignação, somente comentou: 'Se soubesse que dona Laís estava vendendo, teria tentando comprar algumas acções' Ele deve ter ficado furioso! Meu ex-genro também soube que passei meus outros bens para os filhos dele. Não comentou, mas como o conheço, ele deve ter achado ruim estes imóveis irem directamente para os filhos sem passar por ele. Ainda bem que Célio não quis as meninas de volta. Se isso ocorresse, o chantagearia. Já tinha conversado com o advogado, iria à justiça pedir a guarda delas e, como o advogado me explicou, certamente o juiz perguntaria às garotas com quem e onde elas iriam querer ficar. E com certeza elas responderiam que queriam ficar comigo, elas estão felizes! Jorge obteve provas de que Célio roubava o curtume, li, em último caso, o ameaçará. Agora é Jorge quem controla as vendas e meu ex-genro não rouba mais, o caso foi abafado. Foi melhor assim, meus netos não ficaram sabendo que o pai é ladrão. As meninas falam com ele raramente. Simone está sadia. Fui com ela ao médico, fez exames, sarou da anemia, engordou, está corada e sempre alegre. Vou mudar de religião, vou ser espírita. Gosto cada vez mais desta Doutrina que consola, instrui e esclarece. Simone foi a que mais gostou, desde da primeira vez que fomos ao centro espírita com Armando, ela amou, foi a expressão que usou. Beatriz foi somente uma vez, porque tinha aula, e gostou também. Armando foi a resposta às minhas orações. Que amigo precioso! Ele e Verónica estão namorando firme. Gosto dela. É tão bom fazer o Evangelho no Lar. Verónica e Armando vieram fazer connosco as primeiras vezes, agora fazemos nós três e, como Beatriz está de férias e não estudará mais no período nocturno, mudamos para quarta-feira à noite. Júnior com certeza gostará também de estudar o Evangelho."
— Não vejo a hora de ele chegar! — exclamou.
Foi para a sala.
Beatriz também aguardava o irmão com ansiedade. Estavam em seu quarto esperando a hora de ir para a sala e pensou:
"Tantas coisas mudaram este ano em minha vida! Começou com mamãe doente, depois ela morreu ou, como Si diz, 'desencarnou'. Tive de transferir meus estudos para o curso nocturno, fui trabalhar, namorei Nestor, viemos para a casa de vovó. Foi realmente um ano de grandes mudanças! Júnior virá para cá, passará as férias connosco. Ele não fala mais com papai. Si e eu vemos muito pouco nosso pai, falamos com ele por telefone, conversamos rápido e um pergunta somente como o outro está. Por duas vezes, fomos lá, na casa onde morávamos. É tão estranho! A casa está triste, parece sem vida, embora esteja como sempre, nada mudou, nenhuma cadeira fora do lugar. Papai nos recebeu bem, penso que se esforçou para ser agradável. Ele agora vive como sempre desejou, sem responsabilidade e gastando somente com ele mesmo. Si e eu notamos que nosso progenitor não está feliz.
Olhando em seus olhos, vimos tristeza e, por duas vezes, ele falou de mamãe, me pareceu sincero quando disse sentir a falta dela. Estamos bem com vovó, isto é o que importa. Às vezes penso em Nestor. Ele foi, por algumas semanas, importante para mim, sou grata a ele. Terminamos. Morando aqui, sentindo-me bem e, o melhor, vendo Si se recuperar, voltar a ser sadia, alegre e a se entusiasmar pela dança, preferia ficar em casa do que sair com ele. Vovó o agradou, convidou-o para almoçar, foi gentil e, como prometeu, não se intrometeu em nossas vidas. Foi Simone quem me alertou:
'Bia, por que você não pensa em voltar a estudar, em cursar psicologia? Vovó me disse que, se você quiser, ela paga a faculdade para você'. 'Não sei, respondi. O curso nocturno não dá base para um vestibular. Depois, Nestor e eu estamos pensando em nos casar.' 'As coisas mudaram, não percebeu?' - perguntou Si. 'Agora estamos bem aqui. Por que não conversa com vovó? Pergunte a ela o que você deve fazer Foi o que fiz. 'Vovó', pedi, 'será que devo me casar?' Vovó sorriu, pegou na minha mão e respondeu: 'Se você não tivesse dúvida, não me perguntaria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:19 pm

Se as tem, é porque não sabe o que quer. Quando não sabemos o que queremos, o melhor é adiar. Gosto de Nestor:
ele é gentil , educado, poderá até ser bom marido e você, certamente, uma excelente esposa. Se quer minha opinião, namore mais. O período do namoro é o melhor que existe.
Namoram há poucos meses, não tiveram ainda tempo para se conhecer, para ter certeza de que realmente se amam, se querem mesmo ficar juntos. Namore mais, minha neta, você é tão jovem! Estude, forme-se e depois se case e, enquanto isso, vão namorando'. Achei coerente o conselho. Falei com Nestor, e ele achou muito ruim, deixou-me em casa sem se despedir e ficou três dias sem falar comigo. Embora preocupada com a situação, pois não queria magoá-lo, tive a certeza de que não queria me casar. Foi Simone, minha irmãzinha caçula, quem me ajudou, aconselhou: 'Bia, gosto de Nestor como pessoa, como cunhado, mas acho-o velho para você, ele já viveu a juventude dele, e você não. É seu primeiro namorado, antes não saía de casa, não viajou e, se casar, continuará tendo esta maneira de viver. Eu gosto de dançar; você, de estudar. Desde pequena dizia que ia estudar psicologia. Agora, tem oportunidade, volte a estudar!
Se Nestor gostar mesmo de você, a aceitará. Aprendi com o senhor Armando que aquele que ama quer o bem do ser amado. Tanto ele como você devem querer o que é melhor para o outro. Estive pensando sobre seu namoro e concluí:
você o namorou pensando em se casar e me levar junto para ficarmos livres do papai e daquela casa sem a mamãe.
A causa já não existe mais. Penso que Nestor a namorou porque é linda, educada e seria uma boa esposa que lhe daria filhos. 0 amor se constrói com a convivência e vocês tiveram-na pouco'. Conversei com vovó, falei que queria estudar, e ela, contente, me deu dinheiro para me matricular no período da manhã num cursinho. Nestor achou muito ruim, ficou novamente quatro dias sem me ver. No sábado que fizemos o Evangelho no Lar, pedi mentalmente ajuda a Deus e aos bons espíritos para me iluminarem para tomar a melhor decisão. Pensei que Nestor merecia ser amado, que gostava dele, mas não para marido. Encontramo-nos à noite e resolvemos que o melhor seria terminar. Agradeci-o por tudo e nos separamos. Fiquei aliviada. E percebi que Nestor também sentiu alívio. Penso que ele tentou, mais uma vez, casar, ter família. Analisando nosso namoro, concluo que não é isso o que ele realmente quer, sentia que ele se esforçava para gostar de mim. Falaram que ele talvez fosse homossexual, talvez ele nunca assuma e continue sozinho. Pena! Vou sempre orar para que ele seja feliz. Como minha vida mudou para melhor! Estudando de manhã, no cursinho, fiz novos amigos. Como gosto de estudar! Prestei vestibular, com certeza vou passar, fui bem nas provas. A faculdade é particular, mas vovó disse que pagará com satisfação, que é um orgulho me ver estudando. Vou fazer o que gosto. Quero abraçar o Ju, estou saudosa!"
Foi esperar o irmão na sala de estar.
Simone era a mais animada. A garota parecia outra: corada, disposta e muito falante.
"Ontem vi Mateus com a namorada", pensou. "Nem sei como e por que me interessei por ele. Conrado é um gato e está interessado em mim. Mas decidi, não quero namorar por enquanto. Vou me dedicar à dança, quero ser uma grande bailarina e depois ser professora de balé. Estou muito contente, por isso tenho orado agradecendo e para mamãe estar bem. Quero ser espírita. Sinto que esses conhecimentos estavam guardados no meu íntimo e, quando os ouço, vêm à tona. Este ano começou ruim e, graças a Deus, está terminando muito, mas muito bem. Espero que Ju se divirta com a surpresa que preparamos para ele. Vou checar se tudo está como planejei."
Foi para a sala.
Júnior estava no ônibus, pensava também em sua vida.
"Foi tão bom vovó me ajudar. Moro agora num local confortável, sozinho e, como prometi, ajudei e vou continuar auxiliando Ney, que, com minha ajuda, quase não tem entregado drogas. Estou estudando muito, minhas notas são excelentes.
Saí com Eugénia, talvez namoremos o ano que vem. Sei de Murilo, meus amigos têm me dado notícias, ele ainda está na clínica, e todos estão esperançosos de que ele se recupere.
Escrevi a ele, que me respondeu. Queixou-se da clínica, mas afirmou que o tratamento está sendo eficaz. Como estou saudoso! Logo estarei abraçando minhas irmãs e vovó. Amo-as!"
Estava ansioso para chegar.
Maria Tereza estava se adaptando. Logo iria se transferir para o alojamento da escola onde iria ficar por um período para estudar, aprender a viver no plano espiritual e conhecê-lo. “Como é bom", pensou, “receber pensamentos de incentivo daqueles que amamos. Mamãe, as meninas e Armando têm me motivado a estar bem, pedem para me adaptar no Além, para não me preocupar com eles, para ser feliz e, melhor, sinto-os bem"
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:21 pm

Activa como sempre fora, gostou de trabalhar, fazia, além das tarefas que lhe cabiam, mais algumas outras. Assim, ocupava o seu tempo. Foi por este motivo que Manoela informou-a:
— Maria Tereza, você poderá ir à sala de vídeos e ver por um deles sua família terrena. Marque horário para este acontecimento.
Como recebia os pensamentos dos encarnados e, com mais facilidade, de Simone, ela sabia que Júnior chegaria no sábado pela manhã e que todos estariam reunidos. Contente, marcou o horário. Ansiosa, chegou dez minutos antes. A trabalhadora da sala explicou a ela como usar o aparelho.
— Tudo o que temos aqui, daqui a algum tempo os encarnados poderão desfrutá-los. A tela é parecida com a da televisão. Ajustado o local que se quer ver, em segundos as imagens aparecem.
Ligou. Maria Tereza sentou-se numa confortável poltrona e, na tela, apareceu a imagem da casa onde viveu a infância e a juventude. Viu as três, mãe e filhas, eufóricas, e Simone falando sem parar, como sempre fazia quando estava alegre.
— Não se esqueçam — pediu Simone —, nada de barulho. Vamos ficar caladas. Eu me escondo aqui, Beatriz ali, e vovó fica de pé atrás da cortina. Vamos deixá-lo entrar e, depois de alguns minutos em que ficará nos esperando, saímos juntas do esconderijo e gritamos. Iremos assustá-lo!
Maria Tereza observou-as. Sua caçula estava linda, rosada, sadia e muito contente. Beatriz, tranquila, alegre, e sua mãe, feliz.
A campainha tocou. A mãezinha, na frente da tela, viu Júnior chegar, pagar o táxi e esperar no portão. Ele também estava bem, um rapaz muito bonito, sadio, educado e que, com certeza, seria um excelente profissional.
A empregada, como combinaram, foi abrir o portão.
— Bom dia! Vou ajudá-lo com as malas. Dona Laís e as meninas
saíram, voltarão logo. Disseram que é para você entrar e esperá-las.
O rapaz se decepcionou, não respondeu, entrou com a empregada e foi conduzido por ela para a sala de estar.
— Vou levar as malas para o seu quarto. Aguarde aqui! — disse a empregada e saiu.
Júnior olhou a sala e sentiu algo diferente.
"Elas devem estar escondidas. Isto é arte da Si", pensou ele.
— Ai! Como sofro! — falou alto em tom teatral. — Chego aqui saudoso, cansado da viagem, louco para abraçar meus amores e o que encontro? Nada! Ninguém! Elas me abandonaram! Que escuto? Alguém se mexeu? Estão escondidas?
Danadinhas! A primeira que pegar, mordo a orelha.
Risos, gritos e abraços.
Júnior observou as irmãs e constatou que, de facto, elas estavam bem; falava com elas por telefone, mas, ao vê-las, teve a certeza de que estavam felizes. Simone não parava de falar.
— Vou dançar! Vovó comprou um ingresso para você.
Serão três dias de apresentação e uma quarta em outra cidade.
Não tenho, na apresentação, destaque, mas, no ano que vem, terei. Fui aprovada na escola. Vovó fez...
— Si! — gritou Beatriz. — Deixe-me falar.
— Depois — continuou Simone falando —, Ju, seu quarto está lindo e...
Laís sentou-se, Júnior aproximou-se dela, ajoelhou-se ao seu lado, pegou na mão da avó e a beijou.
— Obrigado, vovó! Muito obrigado!
Laís olhou-o com amor. Não queria fazer distinção entre os netos, principalmente agora que ela era como se fosse mãe deles. Queria ficar no lugar da filha, de Maria Tereza, porém seu amor por Júnior era imenso, amava-o demais.
"Tudo valeu a pena só por este sorriso", pensou a dona da casa.
— Tenho surpresa! — exclamou Laís.
Os netos se calaram, e Laís comunicou:
— Quero dizer à Bia que, se você não passar no vestibular, fará cursinho no ano que vem, porque você é de facto uma psicóloga nata, será uma excelente profissional que auxiliará muitas pessoas. Ainda este ano, temos as apresentações de dança da Simone. Depois, o Natal com ceia com toda a família e o almoço festivo, teremos também os festejos do Ano Novo.
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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 4 Empty Re: A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:21 pm

Com certeza, será, para nós, maravilhoso. A surpresa é: viajaremos! Por vinte dias estaremos nós quatro passeando por três cidades, sendo duas litorâneas.
— Praia? Meu Deus! Vou finalmente conhecer o mar! — exclamou Simone.
— Um sonho realizado, viajar para a praia! — falou Beatriz.
Júnior aproximou-se das irmãs e, como eles tinham o costume, desde pequenos, de fazer quando estavam contentes, colocaram os braços nos ombros uns dos outros, pularam e rodaram. Laís enxugou algumas lágrimas, estava feliz com a felicidade que proporcionava a eles. Os três cantaram:
— Obrigado, Deus! Obrigado, vovó Laís! Estamos contentes! Ufa! Ufa! Lá! Lá! Tá! Tá! Obrigado!
Maria Tereza desligou o aparelho. Enxugou o rosto.
Agradeceu à trabalhadora que a ajudou.
— Tenho de voltar aos meus afazeres. A vida continua!
Obrigada, meu Deus!

FIM

Se você gostou deste livro, o que acha de fazer com que outras pessoas venham a conhecê-lo também?
Poderia comentá-lo com aquelas do seu relacionamento, dar de presente a alguém que talvez esteja precisando ou até mesmo emprestar àquele que não tem condições de comprá-lo. O importante é a divulgação da boa leitura, principalmente a literatura espírita.
Entre nessa corrente!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:21 pm

Obras publicadas
? A Aventura de Rafael - infantil
? A Casa do Bosque
? A Casa do Escritor
? A Casa do Penhasco
? A Gruta das Orquídeas
? A Intrusa
? A Mansão da Pedra Torta
? A órfã numero sete
? A Senhora do Solar
? Aborrecente, Não. Sou Adolescente
? Aconteceu...
? Ah, se eu pudesse voltar no tempo
? Amai os inimigos
? Aqueles que amam
? Cabocla
? Cativos e libertos
? Conforto espiritual 1
? Conforto espiritual 2
? Copos que andam
? Cativos e libertos
? Deficiente mental porque fui um?
? Em missão de socorro
? Entrevistas com os espíritos
? Escravo Bernardino
? Filho adoptivo
? Flores de Maria
? Historias maravilhosas da espiritualidade
? Morri! E agora ?
? Muitos sãos os chamados
? Na sombra da montanha? Nós, os jovens
? Novamente juntos
? O ateu
? O caminho das estrelas
? O caminho de Urze
? O castelo dos sonhos
? O céu pode esperar
? O cravo na lapela
? O diário de Luizinho – infantil
? O difícil caminhar das drogas
? O enigma da fazenda
? O jardim das rosas
? O mistério do sobrado
? O pedacinho do céu azul
? O que encontrei do outro lado da vida
? O rochedo dos amantes
? O sonâmbulo
? O sonho de Patrícia – infantil
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 18, 2022 8:22 pm

? O talismã maldito
? O ultimo jantar
? O voo da gaivota
? O velho do livro – infantil
? Palco das encarnações
? Perante a eternidade
? Por que comigo ?
? Reconciliação
? Reflexos do passado
? Reparando erros de vidas passadas
? Rosana, a terceira vitima fatal
? Sejamos felizes
? Ser ou não ser adulto
? Somente uma lembrança
? Sonhos de liberdade
? Um novo recomeço
? Valeu a pena
? Violetas na janela
? Vivendo no mundo dos espíritos
? Véu do passado

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