LUZ ESPÍRITA
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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 2 Empty Re: A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 9:47 am

Júnior saiu, foi para um barzinho onde sempre se reunia com amigos. Foi uma alegria encontrar alguns deles. Quis saber notícias de todos. Rodrigo as deu:
— Marcelo está namorando, Flávio foi viajar, Eduarda não tem saído etc.
Comeram lanches. Conversando, Júnior falou de si, mas não de suas dificuldades.
— Estou estudando muito. 0 curso é dificílimo, tenho tirado boas notas. Mamãe ficaria orgulhosa de mim. Lá, saio pouco; quando o faço, é com colegas da universidade. Tenho algumas paqueras, mas nada sério. Não tenho tempo para namorar. E Murilo? Não o vi nem vocês falaram dele.
— Murilo está em outra — contou Rodrigo.— Como? — perguntou Júnior.
— Drogas — respondeu Rodrigo.
— Meu Deus! Como ele foi entrar nessa? — Júnior se admirou.
— Desculpas são muitas — falou João Paulo —, mas nada que justifique. Ele disse que gostava da Marcela que namora o Leo, que não passou na universidade, que o pai ficou bravo e que não quer fazer o cursinho. Eu também não passei no vestibular, estou fazendo cursinho. E quem nesta vida nunca se interessou pela pessoa errada? Broncas de pais, sempre levamos. Não tem desculpa, entrou nessa de bobeira.
— Lembro da palestra — comentou Rodrigo — que assistimos sobre drogas. Naquela noite, prometi a mim mesmo que nunca as experimentaria. Tenho cumprido. Murilo também assistiu e caiu nessa.
— Fiquei impressionado com aquela palestra — opinou João Paulo. — Drogas nunca! Estou fora!9
— Os pais de Murilo sabem? — perguntou Júnior.
— Não — respondeu Pedro. — Se os pais prestassem atenção... Normalmente são os últimos a saber.
— Vocês não tentaram convencê-lo? Ajudá-lo? — Júnior quis saber.
— Sim, tentamos, mas ele não nos escuta. Tem agora novos amigos ou companheiros de vício — respondeu João Paulo.
— Aonde ele costuma ir agora? — indagou o filho de Maria Tereza.
— Em outros bares, onde se compra fácil o tóxico — respondeu Pedro.
— Gostaria de conversar com ele — falou Júnior.
— Se quer conversar com ele — opinou Rodrigo —, faça amanhã, à tarde; a esta hora, principalmente aos sábados, já deve estar doidão.
Mudaram de assunto, passaram a falar de futebol. Júnior se esforçou para acompanhar a conversa dos amigos, sempre gostou de futebol, torciam, a maioria do grupo, para o mesmo time, mas a notícia de que Murilo estava se drogando lhe tirou o sossego.
"Parece que sou eu que estou lhe vendendo, fornecendo drogas. Não faço a ele, mas a outros como ele.'
Outros amigos chegaram, e ele tentou esquecer Murilo e curtir os colegas, que há tempos não via. Decidiu conversar com Murilo no dia seguinte.
Foi para casa de madrugada.
Simone dormiu logo que se acomodou na cama, estava contente por ter saído e pelo irmão estar em casa.
Maria Tereza ficou no seu quarto. Simone entrou.
"Filha, gosto mais quando vem sozinha aqui à noite, consigo abraçá-la melhor. Não falo, mas penso, e você me entende.
— Mãezinha! Gosto de abraçá-la. Viu o Ju? Ele chegou.
Pena que ficará uma semana somente.
"Como é o namorado de sua irmã? Gosta dele? É boa pessoa?", perguntou Tereza, preocupada com a filha mais velha.
— É gostoso sair com eles. Nestor é muito educado.
Trata Bia como se ela fosse uma rainha. Gosto dele, e ele, de mim.
Estão namorando sério. “Bia gosta dele?"
— Parece que sim. Quem não gosta de ser paparicada?
Saímos, e ele paga toda a despesa. A comida no restaurante estava gostosa e...
Simone contou tudo o que fizeram, Maria Tereza escutava atenta. Sentia-se bem ao lado da filha caçula.
— Estou cansada, vou dormir — falou Simone.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 9:47 am

Beijaram-se. A garota voltou para seu quarto sentindo-se cansada e enfraquecida, achando mesmo que necessitava dormir.
Maria Tereza não se deitou, sentou-se numa poltrona e escutou a filha se deitar, mas queria esperar pelo filho. Algum tempo depois escutou um barulho, foi o mais rápido que conseguiu para o corredor e viu Lucilene.
"Mulher vulgar! Não tem vergonha de ser a amante?" - pensou Maria Tereza.
Lucilene encarou-a e falou baixinho:
— Saia desta casa! Aqui não é mais o seu lugar! E não me chame de "intrusa", porque é você a intrometida. Mas não se preocupe: vamos logo, Célio e eu, nos mudar daqui.
Maria Tereza tremeu de raiva e voltou para seu aposento. Lucilene andou pela casa e depois retornou para o quarto de Célio.
Armando orou antes de dormir como sempre fazia e, nas orações daquela noite, lembrou-se de modo especial de Laís e Maria Tereza.
Acomodou-se para dormir, mas estava preocupado com a colega de adolescência, seu primeiro amor. Levantou-se e foi para a casa de Maria Tereza, passou pelo portão, parou no pequeno jardim em frente à casa e chamou:
— Maria Tereza! Teté!
Repetiu por três vezes. Maria Tereza estava no seu quarto esperando pelo filho, escutou chamarem-na e foi andando devagar. Olhou pela porta e viu um homem, não o reconheceu, porém sentiu ser boa pessoa. Aproximou-se.
— Teté! Minha amiga! Quanto tempo! — exclamou
Armando.
Maria Tereza olhou-o observando.
— Não está me reconhecendo? Sou Armando. Lembra-se? Seu colega de escola.
"Ah! O Armando! Lembro, sim1', pensou ela. "Ele era meu colega de classe, 'o negro', que na época parecia apaixonado por mim. Recordo que ele me disse gostar de mim, e eu falei não ser possível namorá-lo por ser muito nova, mas o facto é que não queria namorá-lo por ser negro.
Afastei-me dele. Tanto tempo se passou. Talvez se o tivesse namorado, casado com ele, minha vida seria outra. Armando é boa pessoa, sinto isto."
Armando olhava para Maria Tereza e entendeu naquele momento que ela não o havia namorado por ser afrodescendente. Continuou tranquilo e contou:
— Voltei à cidade, estou novamente residindo aqui. Vim visitá-la. Posso me sentar no banco?
"Sim, claro. Vou me sentar também."
Sentaram-se, olharam-se e Maria Tereza pensou:
"Estou doente! Muito doente! Mas já estive pior. Sofri um acidente vascular cerebral e fiquei com sequelas."
— Sofremos com as doenças e quando estamos doentes.
Porém, suavizamos isso quando rezamos. Tem orado? "Sim, rezo todas as noites antes de dormir" pensou Maria Tereza.
— É bom orar e pensar na morte.
"Isso não! Quase morri, tive o derrame, fiquei meses acamada, piorei e fui para o hospital, para a UTI, foi aí que quase morri. Melhorei, voltei para casa e estou melhorando."
— Se tivesse morrido, como estaria? — perguntou Armando.
"Não sei! Não morri! Vamos mudar de assunto? Como está você?"
— Estou bem. Casei-me, fui feliz no casamento, fiquei viúvo. Tive dois filhos, um casal, e a menina desencarnou, morreu na adolescência.
"Sinto por você, não deve ser fácil perder um filho", apiedou-se Maria Tereza.
— Não perdemos ninguém. A morte não nos separa daqueles a quem amamos. Minha garotinha está viva morando em outro lugar.
"Não quero falar em mortes, me deprime. Já é tarde.
Desculpe-me, vou entrar. Volte outro dia, mas não à noite."
Maria Tereza se levantou, então viram Júnior chegar. 0 moço passou por eles andando apressado. Abriu a porta e entrou.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 9:47 am

"Meu filho não nos viu. Mas como não viu? Será que ficou aborrecido comigo por estar conversando com você?"
— Jovens são assim mesmo, impulsivos. Na sua casa, eles têm conversado com você? — Armando quis saber.
"Se não falo... Simone, a minha caçula, me entende melhor."
— Estamos conversando...
"Você é telepata? É isto? Sabe ler pensamentos. Incrível!
A gente se vê outro dia. Vou ver meu filho. Boa noite!"
— Boa noite! Maria Tereza se levantou, estendeu a mão esquerda e Armando apertou-a. Ele foi embora, e ela entrou. Júnior estava no banheiro escovando os dentes. Maria Tereza pensou:
"Filho, foi muito feio você ter passado por mim e não ter cumprimentado. Armando foi meu colega de escola e veio me visitar.
Júnior continuou a escovar os dentes. Quando terminou, falou:
— Vou dormir, estou cansado!
"Então boa noite para você também."
O moço passou por ela, entrou no quarto dele e fechou a porta.
"Não me deu atenção. Não falou comigo. Também não falo! Vou também dormir."
Foi para seu quarto, acomodou-se no leito.
"Armando", pensou ela, "se tornou um bonito homem.
Deve ser bem-sucedido. Coitado, a filha dele faleceu, talvez seja por isso que ele fale tanto de mortes. Tomara que ele volte a me visitar."
Orou mais do que de costume. Pediu a Deus para proteger seus filhos. Demorou para dormir, estava com dor de cabeça, muito cansada e sentia fraqueza.

9.N. A. E.: Palestras sobre o tema têm dado muitos resultados. Com uma abordagem inteligente, levam os jovens a entender como elas são realmente nocivas, e a maioria decide por nunca experimentá-las.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 9:48 am

6 º CAPITULO - Domingo
Beatriz acordou no domingo às oito horas e se levantou evitando fazer barulho, a casa estava em silêncio. Foi à cozinha, fez o café, arrumou a mesa e tomou seu desjejum. Quando estava terminando, vieram à sala de refeição Célio e Lucilene. Cumprimentaram-na friamente. A garota, ao terminar, levantou-se, e Célio lhe disse:
— Vamos fazer o almoço hoje aqui em casa. Você e Simone ajudarão a Lu.
A mocinha afirmou com a cabeça, tirou sua xícara da mesa e foi lavar a louça na cozinha.
Lucilene logo depois tirou as outras louças da mesa, colocou-as na pia e falou:
— Bia, vou com seu pai comprar os ingredientes que necessito para fazer o almoço. Vamos fazer salada, frango e arroz.
A garota pensou que, como sempre, ela lavaria as verduras; Lucilene somente as colocaria na travessa; e o frango com certeza já viria pronto. Concordou com a cabeça. Minutos depois escutou-os sair. Beatriz deu uma organizada na casa, depois foi lavar roupas. Simone acordou, tomou o desjejum e foi atrás da irmã, que estendia as roupas.
— Bia, contei à mamãe de seu namoro, ela ficou contente.
— Si, não é melhor você parar com isso?
— Não estou fofocando. Comento esse facto somente com você. Falo com mamãe, ela me entende. Mas não é isso que quero lhe falar. Não estou me sentindo bem. Sinto fraqueza, meu braço direito parece que adormece, sinto dores no corpo e na cabeça. Tenho vontade de ficar quieta na cama.
"Realmente", pensou Simone, "tenho me sentido adoentada. Não quero assustar minha irmã, mas devo estar doente. Será que vou morrer? Estarei com alguma doença grave?
Sinto-me tão prostrada! Aqui em casa faço as coisas com esforço, queria ficar deitada."
— Vou falar com papai — determinou Beatriz.
— Aproveite e fale de seu namoro. Se ele ficar sabendo por outras pessoas, fará um escândalo, é perigoso ele xingar o Nestor.
— Você tem razão, vou falar com papai antes do almoço, mas vou dizer que estou pensando em namorá-lo. Será como lhe pedir permissão.
Simone foi ajudar a irmã. Ambas ouviram o casal chegar.
Quando acabaram com a roupa, foram à cozinha preparar a salada. Ao escutarem Lucilene ir para o quarto, as duas foram falar com o pai.
— Papai — disse Beatriz —, uma pessoa me pediu em namoro.
— Namorar? É nova! Quem é?
— Nestor, ele é dono da loja ao lado da que eu trabalho.
Célio coçou o queixo e perguntou se era Nestor... Falou o nome inteiro.
— Sim — respondeu Bia.
— Tudo bem — concordou Célio —, ele é boa pessoa.
— O senhor não acha ele velho para ela? — indagou Simone.
— Isso é Bia quem tem de saber. Se resolver namorá-lo, vamos combinar um almoço num domingo aqui em casa.
"Aceitou fácil porque Nestor é rico" pensou Simone. "Se fosse alguém sem posses financeiras, papai não deixaria. Interesseiro!"
— Então, se o senhor concorda, vou namorá-lo — falou Beatriz. — Papai, Si não está bem. Tem estado cansada, desanimada, com dores pelo corpo e com muitas dores de cabeça.
"Mais essa..." pensou Célio. "Uma filha doente. Será que está mesmo ou quer atenção? Essa minha caçula é um problema. Mas e se estiver realmente? É melhor levá-la ao médico."
— Marque uma consulta para ela com o doutor Haroldo.
Bia, será que você pode ir com Simone? — perguntou Célio.
— Pedirei à minha patroa para sair por algumas horas.
Tenho algumas a mais trabalhadas. Quero ir com ela.
— Faça isso, vou lhe dar dinheiro para a consulta e os remédios, isto se o doutor Haroldo receitar algo; compre na farmácia perto de casa que depois eu pago.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 9:48 am

As duas voltaram à cozinha. Júnior levantou-se e se reuniu com as irmãs, conversaram baixinho.
— Vou almoçar com vovó Laís — comunicou o moço.
— Tem sorte, senão comeria salada e frango — disse Simone. — Ju, vamos sair às dezasseis horas e com certeza voltaremos ao anoitecer.
— Depois do almoço vou encontrar com amigos e volto à noite. Tchau, estou indo. Júnior despediu-se e saiu sem falar com o pai, que estava na sala com Lucilene.
Os quatro se reuniram para almoçar.
— Aonde Júnior foi? — perguntou Célio.
— Almoçar com vovó Laís — respondeu Beatriz. — pai, Simone e eu vamos sair à tarde, voltaremos à noite.
Comeram a refeição em silêncio. As irmãs lavaram as louças, depois Beatriz foi passar roupas, Simone foi se deitar.
O casal foi assistir televisão, sairiam à noite. A casa estava silenciosa, sem barulho, Maria Tereza dormia.
Júnior foi almoçar com a avó. Ela o esperava e fez uma deliciosa comida, a que sabia que o neto gostava. 0 encontro foi agradável. 0 moço sabia tratar a avó, o fazia com carinho e atenção. Ajudou-a a lavar as louças, conversaram bastante e depois disse que ia se encontrar com amigos e se despediu.
Laís ficou contente, acompanhou o neto até o portão e recebeu muitos beijos na despedida.
"Que domingo diferente!" pensou Laís. "Foi muito agradável ter companhia. Até me alimentei melhor! Amo este neto!"
Júnior foi para o parque onde, segundo Rodrigo, Murilo ia nas tardes de domingo. Lá, procurou pelo amigo, viu-o com outros jovens, conhecia alguns de vista. Aproximou-se.
— Murilo! Como está, amigo? — perguntou Júnior ao abraçá-lo.
— Estou bem! Veio de férias? Como está a universidade?
Conhece meus amigos?
O recém-chegado cumprimentou os outros jovens. Conversaram por uns minutos. Depois, Júnior pediu:— Posso conversar sozinho com você por uns instantes?
- Vendo o amigo vacilar, rogou — Por favor!
Murilo fez um sinal com a mão para os colegas e se afastou com o amigo de infância. Sentaram-se num banco.
— Se veio dar opinião sobre a minha vida, é melhor se calar — falou Murilo.
— Meu amigo! — exclamou Júnior. — De facto, estou perplexo. Cheguei ontem e, ao perguntar de você, eles me contaram que se afastou de nossa turma, tem outros amigos e...
— Estou me drogando — interrompeu Murilo. — É verdade. Mas não estou viciado, paro quando quiser.
— Isto me tranquiliza. Então pare, Murilo!
— Não escutou? Paro quando quiser! Agora não quero!
Se não mudar de assunto, volto para perto de minha turma.
— Sua turma não é a nossa? — perguntou Júnior.
— Tudo muda, meu caro. Você continua fazendo parte dela? Da turma de antigamente? Estuda em outra cidade, vem pouco aqui.
— Quando venho, gosto de estar com eles. Ontem senti sua falta. Como está?
— Bem — respondeu Murilo. — Tenho me divertido. Ju, você não quer comprar esta bolsa?
Murilo tirou, de dentro da mochila que estava em suas costas, uma bolsa.
— Essa não é aquela bolsa que você ganhou no Natal de sua mãe? Gostou tanto do presente.
— Mas enjoei!
— Por que está vendendo?
— Não interessa. Quer ou não comprá-la? — Murilo insistiu.— Tenho pouco dinheiro. Não quero comprá-la. Murilo, por favor, pare com as drogas enquanto ainda consegue.
Droga é droga, amigo!
— Vá pro inferno! Não me procure mais com esse papo.
Você não tem a ver com isso.
Murilo levantou-se e, andando rápido, foi para perto dos amigos. Ao se reunir com eles, foram para o outro lado. Júnior ficou os olhando, sentiu uma tristeza que lhe doeu o peito. Ficou por uns cinco minutos sentado sozinho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 7:03 pm

"Meu amigo já é um viciado. Está vendendo seus pertences, logo roubará a família. Meu Deus! 0 que eu faço? 0 que eu estou fazendo? Tomara que vovó me ajude. Vendo Murilo como está, estou decidido: não entrego mais drogas. Paro de estudar e vou trabalhar, mas não faço mais isso. Será que viciei alguém? Como saber? Só tenho uma certeza: Alguém como Murilo comprou a droga que entreguei."
Aborrecido, foi para um barzinho onde havia combinado se encontrar com amigos. Ele contou para os colegas da conversa que teve com Murilo.
— Para ele tê-lo tratado assim é porque ainda não havia consumido nada — disse Pedro. — Murilo é agressivo quando está sobre o efeito dos tóxicos. Uma vez falei com ele, disse somente para não se drogar, ele me apertou meu pescoço e tive de lhe dar um empurrão. Desde este dia, somente o cumprimento.
— Então ele está vendendo a bolsa? Gostava tanto dela — Rodrigo indignou-se.
— Quando ele começou a usar drogas? Vocês sabem? — Júnior quis saber.
— Soubemos no início das aulas — respondeu Rodrigo. — Penso que ele já as usava, mas pouco; depois passou a consumi-las mais e se afastou da gente.
Chegaram outros amigos e mudaram de assunto.
"Fizemos um juramento", pensou Júnior, "de nunca falar o que fazemos de errado aos pais. Por isso ninguém da turma cogitou contar aos pais de Murilo que ele está se drogando.
O caso agora é sério. Penso que o juramento se anula com algo grave. Vou pensar no que farei. Porque devo fazer algo.
Tenho que ajudá-lo. E não posso falar nada para meus amigos. Eles não concordariam."
Júnior se distraiu, gostava dos amigos. Eram dez horas da noite quando chegou em casa. Célio estava na sala vendo televisão e falou alto.
— Boa noite, filho!
— Boa noite! — respondeu Júnior e entrou em seu quarto.
Célio e Lucilene ficaram vendo televisão depois do almoço e saíram em seguida: foram passear de carro, tomaram um lanche, ele a levou para sua casa e voltou para a dele.
Os desencarnados imprudentes que ficaram encarregados de intuí-los, levando-os a discutir, brigar, não os incomodaram naquele domingo. Sentiam ainda como se vivessem encarnados e que deveriam ter um dia de folga na semana.
No domingo, não se aproximaram do casal, e os dois se sentiram melhor, não pensaram em filhos.
Célio estava aborrecido sem entender o porquê. As filhas chegaram, somente o cumprimentaram e foram para o quarto, assim como Júnior.
Resolveu dormir. Irene foi almoçar com os pais, estava triste e aborrecida.
"A parte ruim de ser amante é isto: domingos e feriados, ele passa com a família. Vou almoçar com meus pais, mas eles não são boas companhias, estão sempre discutindo e cobram que eu não os ajudo etc."
Naquele domingo, almoçaram em silêncio. Depois de ajudar a mãe na cozinha, Irene foi para sua casa. Telefonou para algumas amigas e encontrou uma para passear à tarde. Foram ao parque.
Viu Júnior chegar e ficou atenta a ele. 0 rapaz não a viu, ou fingiu não vê-la. Apreensiva, viu aquele que julgou por algum tempo ser seu enteado encontrar com uma turma que sabia ser de jovens que se drogavam. Pediu para a amiga ficar com ela parada num local onde não seria vista pelo jovem e o ficou observando.
Viu Júnior se afastar com um moço, e os dois conversarem. Viu o outro tirar de sua mochila algo, mostrar ao filho de Célio e este pegar. Sentiu seu coração disparar.
"Será", pensou Irene, "que Júnior está se drogando? Meu Deus! Não quero isso. Preciso ver melhor."
Aproximou-se mais e viu que o objecto era uma bolsa masculina. Júnior a devolveu. Percebeu que o outro moço estava aborrecido e se afastou. Ficou olhando Júnior sentado, triste e pensativo. Depois levantou-se e foi embora.
"Parece que o filho do Célio veio ao parque somente para conversar com esse jovem. Talvez eles sejam amigos. Meu Deus! Não me desligo deles! Isto é culpa! Sendo amante por tantos anos de Célio, senti a família dele como se fosse a minha. Com certeza fiz Teté sofrer, e os filhos, vendo a mãe triste e não gostando de mim, passaram a não gostar também.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 7:03 pm

Quando me tornei amante de Célio, ele e Teté já não estavam mais juntos; moravam na mesma casa, mas estavam separados. Talvez este fato não importe para os filhos, eu era a outra. Será que eles gostam de Lucilene? O melhor que eu tenho que fazer é tentar me distrair. Que Célio e a família se danem!
Tentou realmente se distrair, mas não conseguiu.
Maria Tereza acordou, levantou, arrumou-se, tomou os remédios e andou pela casa.
"É tão triste ficar sozinha. Hoje é domingo, e eles são jovens, têm mesmo de sair, distrair-se."
Sentou-se na poltrona de seu quarto e ficou recordando:
"Estava me sentindo cansada, pois trabalhava muito.
Com a minha costura, comprava muitas coisas para meus filhos. Não dei importância ao meu corpo. 0 médico disse que talvez minha pressão arterial tenha subido, e eu nem notei.
O fato é que passei mal, fui hospitalizada e adoeci. Ainda bem que entendo tudo. Fiquei uma semana no hospital, depois vim para casa. Organizaram-se. Rosita passou a vir mais vezes. Beatriz e Simone ficavam muito comigo. Ivany, uma enfermeira, vinha duas vezes por dia, cedo e à tarde, me auxiliar com a higiene, aplicar injecções e organizar meus remédios. Célio passou a ficar mais em casa e me ajudou também.
O pior desta minha doença foi ficar sem falar. Tentei escrever, não consegui. Fiquei assim por cinco meses e vinte e um dias e, tive de voltar para o hospital. Depois que voltei da segunda internação, melhorei. Ivany foi dispensada.
Embora tristes, as meninas não se preocupam mais tanto comigo. Beatriz arrumou um emprego. Gosto de ficar perto de Simone: ao lado dela, sinto-me melhor. Pena ela ter saído. Minha filha me faz tão bem! Até minhas dores melhoram quando estou ao seu lado. Vou esperá-la. Se sentir sono, vou deitar e dormir.
Amanhã falo com elas. Falo não! Que pena eu não conseguir falar. Simone me entende. Que filha especial eu tenho. Amo-os muito mas, minha caçula é meu xodó.
Beatriz e Simone esperavam por Nestor no portão. Ele chegou e desceu para abrir a porta do carro para elas. Cumprimentaram-no sorrindo.
— Vou levá-las ao shopping na cidade vizinha. Querem?
— Sim — responderam juntas.
— Não conhecemos — falou Simone —, a maioria das minhas amigas já foi. Dizem que é lindo!
— Então vamos — determinou Nestor.
As duas se encantaram com o passeio.
— Quero lhes dar um presente — disse Nestor. — Vi que olharam as roupas daquela vitrine com mais atenção.
Vamos comprá-las!
— Não. Por favor, Nestor, não podemos aceitar — falou Beatriz.
— Por que não? Quero lhes dar.
— Eu aceito! — exclamou Simone.
— Si! — Beatriz, séria, chamou a atenção da irmã.
— Bia, meu bem, por favor, aceite. É somente um presente — rogou Nestor.
— Faz tempo que não ganho um presente. No meu aniversário, somente Bia me deu. Foi uma blusa que vende na loja em que ela trabalha.
— Vamos comprar — decidiu Nestor.
Comprou para a namorada duas blusas e uma calça comprida e, para a cunhada, uma calça e uma blusa.
As duas, alegres, experimentaram as roupas e saíram da loja com as roupas novas. Agradeceram.
Nestor ficou contente com a alegria delas. Lancharam e voltaram para casa. Simone deixou-os sozinhos. Nestor beijou Beatriz na despedida.
Como na noite anterior, Simone esperou-a, entraram juntas e foram para o quarto. Estavam contentes.
— Bia — queixou-se Simone —, basta entrar em casa para eu sentir um mal-estar. Penso que é a energia ruim da intrusa. Estava tão contente. Queria morar em outra casa.
— Se tudo der certo, caso logo e você morará comigo — prometeu Beatriz. — Amanhã cedo, vou marcar horário para uma consulta. Você deve estar anémica. Vou cuidar de você, irmãzinha!
Foram dormir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 7:03 pm

Armando acordou se sentindo muito solitário e melancólico. Não entendeu o porquê de se sentir assim.
"Será que aconteceu algo com meus familiares?', indagou-se.
Telefonou para os pais e depois para o filho. Todos estavam bem. Como havia programado, iria, na manhã de domingo, ao centro espírita, onde, pela terceira vez, participaria de um trabalho voluntário que o grupo realizava. Distribuíam cestas básicas para pessoas carentes e também tinham actividades com crianças das famílias assistidas.
Estava se entrosando com o grupo, no qual fora muito bem recebido.
Enquanto organizavam as cestas e as actividades, os membros do trabalho voluntário conversavam. Verónica foi separar os alimentos que seriam doados com Armando. Ele já havia notado certo interesse dela. Achava-a bonita, educada, deveria ter trinta e cinco anos, mas era loura de olhos verdes.
"Não sou racista", pensou Armando, "mas não combinamos, não fazemos um casal bonito. Minha esposa era negra, e meus filhos também são afrodescendentes. Talvez esteja sendo pretensioso, ela deve estar sendo somente gentil".
— O que é trabalho para você? — perguntou Verónica.
— É uma lei da natureza — respondeu Armando. — Por isto é uma necessidade, é um preservativo contra nossas tristezas, acalma nossas angústias. É fonte do progresso. E o trabalho voluntário, este que fazemos, o que exercita a fraternidade com o próximo, é darmos algo de nós a favor de
outrem, com respeito ao semelhante. É uma tarefa desinteressada na vivência do "amai-vos uns aos outros".
— Gostei de sua resposta — afirmou Verónica.
Ela foi chamada para resolver um problema, e Moacir veio auxiliá-lo.
— Temos de ser rápidos, logo as famílias estarão aqui.
Vou com Mirtes e Leandro às casas de algumas pessoas, dois casais de idosos e três moradias com doentes. Verónica é uma moça excelente. É solteira e nossa companheira de muitos anos. Dá aulas de evangelização para as crianças e é amada por elas. Mora com os pais, trabalha como secretária de um médico. Consegue algumas consultas e remédios para nossos doentinhos.
Armando escutou calado, sorriu somente e matutou:
"Por que será que Moacir está me dizendo isso?"
O companheiro continuou falando, mas mudou de assunto, contou casos de assistidos pelo grupo.
Tinham muito o que fazer. O tempo passou rápido.
"Como é bom" pensou Armando, "fazer algo de bom para outras pessoas. Sinto receber mais do que dou. Estava me sentindo triste e fiquei alegre. Bendito o trabalho voluntário!".
As actividades terminaram, e ele foi almoçar sozinho num restaurante perto de seu apartamento. Passou a tarde lendo e escrevendo cartas a amigos das diversas cidades em que morou.
"Tenho muitos amigos. Isto é bom. Amanhã devo jantar com minha nova amiga, a dona Laís. Tomara que consiga ajudá-la e também a Maria Tereza."
Foi dormir cedo.
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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 2 Empty Re: A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 7:03 pm

7 º CAPÍTULO - Na semana
Segunda-feira amanheceu um dia lindo de inverno, Beatriz levantou-se cedo e foi trabalhar. Rosita chegou logo depois e se pôs a arrumar a casa, fazendo barulho. Simone levantou sentindo-se cansada, foi para a cozinha e Júnior, pelo barulho, logo levantou-se também. Rosita, contente, cumprimentou o moço:
— Júnior, como você está bonito! Dona Maria Tereza deve se sentir orgulhosa de você.
— Alegro-me por encontrá-la aqui — disse o jovem. — Como está você? E sua família?
— Estamos bem. Sinto por tê-lo acordado, mas preciso limpar a casa como dona Maria Tereza gosta. Vou agora dar somente uma limpadinha no quarto dela, faxinei-o na semana passada.
Rosita foi para o corredor, e os irmãos escutaram-na bater na porta, pedir licença e entrar no quarto. Ouviram-na também cantar.
— Que voz desafinada — comentou Júnior baixinho.
A diarista parou de cantar, e Simone quis saber o porquê.— Acho que dona Maria Tereza não quer que eu cante. Aí, meu Deus! Quase que deixo o remédio cair.
"Desastrada!" pensou Maria Tereza saindo do quarto. Foi para perto dos filhos na cozinha. Ficou os olhando com carinho.
"Amo-os! Meus filhos são tudo para mim."
Aproximou-se mais de sua caçula.
— Vou almoçar com vovó Laís todos os dias da semana.
Irei embora no domingo à tarde — comunicou o rapaz.
— Hoje Rosita fará o almoço, vou avisá-la. Não entendo como consegue fazer vovó lhe dar alguma coisa e convidá-lo para almoçar. Ela não gosta da Bia nem de mim.
— Eu também não a entendo — falou Júnior. — Vovó é boa pessoa. Talvez eu saiba lidar com ela, conversamos muito e ameacei parar de estudar. Não foi somente uma ameaça, estou decidido; se não receber mais dinheiro para me manter, desisto de estudar.
— Tomara então que vovó o ajude! — desejou Simone.
Maria Tereza prestava atenção nos filhos e almejou muito que sua mãe ajudasse seu menino.
"Tudo culpa do Célio! Miserável! Sai, passeia, gasta dinheiro com a intrusa e não dá para os filhos. 0 que faço? Meu Deus! Ajude-nos!"
— Deus nos ajude! — exclamou Simone.
— O quê? — Júnior não entendeu.
Simone riu com o espanto do irmão, abriu mais os olhos e respondeu:
— Foi somente uma expressão.
— Vamos jogar? Pegue um jogo e vamos nos distrair um pouco até a hora do almoço.— Nas férias, costumo ajudar Rosita. Farei isto à tarde.
Vou buscar um jogo.
Maria Tereza ficou olhando os filhos jogarem, distraírem-se. Escutou quando Rosita acabou de arrumar seu quarto; sentindo-se cansada, foi para lá e se deitou.
"Simone", pensou ela, "resolveu não contar ao irmão que não se sente bem. Bia e ela decidiram não falar a ele para não preocupá-lo. Concordo com elas"
Na hora do almoço, Júnior saiu. Simone e Rosita almoçaram em silêncio. Depois a garota foi ajudar a diarista, porém se sentiu tão cansada que a diarista percebeu e aconselhou:
— Vá deitar, Simone. Ainda bem que Bia a levará ao médico. Você realmente não está nada bem.
A garota se sentia exaurida, foi deitar e lamentou:
— É quando nos sentimos adoentados que necessitamos dos pais. Coitadinha de minha mãezinha! Se pudesse, me ajudaria.
Não conseguiu dormir porque a faxineira fazia muito barulho. À tardinha, levantou-se e foi ver televisão.
Laís, contente, esperou pelo neto e fez o almoço. Quando ele chegou, recebeu-o com carinho e conversaram bastante.
0 neto foi embora à tarde, e ela preparou o jantar. Esperou por Armando, o colega de juventude de Maria Tereza.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 7:04 pm

Armando foi pontual e trouxe para a anfitriã um vaso de flores. Conversaram por alguns minutos, depois se dirigiram à sala de jantar.
— A senhora está contente! — observou Armando.
— Hoje estou tendo um dia diferente! Meu neto, Júnior, filho de Maria Tereza, está de férias, veio almoçar comigo, e você, jantar. Estou tendo companhia e com quem conversar.
Minha vida é muito solitária! Normalmente faço as refeições sozinha.
— Dona Laís, nós escolhemos nossa maneira de viver.
Era para eu me sentir sozinho, mas não sinto solidão, isto porque tenho me esforçado para fazer amigos. Estou nesta cidade há pouco tempo, viúvo como a senhora, com o filho morando longe... Adapto-me a esta nova forma de viver.
Saio, tento me distrair e ajudo outras pessoas.
— Como tem tempo? Seu trabalho deve absorver muitas horas — curiosa, Laís quis saber.
— É somente nos organizarmos que temos tempo para tudo o que queremos fazer. Penso que, se Deus age, eu também preciso agir: é o exercício de viver. Não quero parar porque quem fica parado entra em estado de letargia, pode apodrecer e, consequentemente, adoece.
"É isto que deve estar acontecendo comigo", pensou Laís.
"Sinto que estou estagnada. Nada faço para outrem e, consequentemente, os outros sentem dificuldades para fazer algo por mim."
— Vamos jantar — convidou Laís.
Jantaram conversando e foi, para ambos, um encontro muito agradável. Depois da sobremesa, voltaram à sala de estar e conversaram mais um pouco. Laís quis saber como era e o que ele fazia no trabalho voluntário de que participava. Ele, solícito, contou alguns fatos interessantes, mas escolheu os alegres. Riram.
— Armando, quando orar, reze por mim — pediu Laís.
— Sim, farei orações para a senhora. Porém, dona Laís, a oração beneficia realmente quem ora.— Você é tranquilo porque é benevolente? Por que faz caridade? Em que se baseou para fazer o que faz?
— Nos ensinamentos de Jesus — Armando respondeu tranquilo.
— Resposta muito simples.
— Mas de grande profundidade. Tento fazer aos outros o que gostaria, se estivesse na situação deles, que me fizessem.
Os bons exemplos são meus objectivos. Recebi muito, tenho recebido e, como me foi feito, tento fazer aos outros.
— Você espera receber algo de quem ajuda? Ou está retribuindo o que recebeu dessas pessoas? Se for isso, como ocorreu? — Laís perguntou, realmente interessada em saber.
— Nem sempre é possível retribuir o bem a quem nos fez. Não espero nada de quem ajudo nem agradecimento. É fazendo, dona Laís, que um dia podemos dizer: está feito! Fiz o que me cabia realizar. Pode ser que alguém que ajudo agora venha me auxiliar no futuro. Porém, tenho visto que, ajudando, ajudado está.
— É muito profundo! Vou pensar no que me disse.
Vamos nos encontrar mais vezes para conversarmos.
— Tenho de ir embora, amanhã levanto cedo. Foi uma noite muito agradável. Agradeço pela acolhida e pelo jantar.
— Volte — pediu Laís —, por favor, na segunda-feira que vem. Meu neto irá embora no domingo, regressará à cidade em que estuda.
— Será um prazer. Boa noite! — Armando se despediu.
— Boa noite!
Laís o acompanhou até o portão. Estava contente e, naquela noite, orou mais do que de costume. Dormiu tranquila. Beatriz, logo cedo, marcou uma consulta para a irmã com o médico da família, doutor Haroldo, clínico geral, para o dia seguinte, terça-feira. No almoço, comentou com Nestor, que opinou:
— Penso, Bia, que Simone está muito triste e sozinha em sua casa. Não é certo o que seu pai faz com vocês. Terei de ser educado, me controlar para, ao conversar com ele, não dizer umas verdades. Penso que vocês duas devem mudar daquela casa.
— Mas como? — perguntou Beatriz.
— Casando comigo, e sua irmãzinha indo morar connosco.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 7:04 pm

Sei que é cedo ainda para falarmos sobre isto, mas quero que saiba que tenho boas intenções com você.
— Obrigada, Nestor — falou Beatriz demonstrando satisfação.
"É o que quero", pensou a mocinha. "Casar e sair de casa com Simone."
À tarde, Beatriz conversou com a proprietária da loja.
— Tenho no banco de horas seis positivas. Posso tirar duas horas amanhã? Quero ir ao médico com minha irmã.
— Ela está doente? — perguntou a dona da loja.
— Simone deve estar anémica, tem se sentido muito cansada, triste e se queixa de dores.
— Não é melhor levá-la para benzer? Ir a um centro espírita para tomar um passe?
— Somos de outra religião — disse Beatriz.
— São muito religiosos? — quis saber a dona da loja.
— Mais ou menos.
— Talvez seja este o momento de serem mais religiosos.
Religião faz falta. Pode sair e espero que tudo dê certo.— Obrigada. Espero não demorar mais do que duas horas.
À noite saiu com Nestor. Tentou, esforçou-se para parecer alegre e agradá-lo. Mas estava preocupada com a irmã. Quando chegou em casa, Júnior havia saído, o pai e Lucilene estavam na sala. Encontrou Simone deitada, abraçou-a e contou:
— Marquei uma consulta para você. Amanhã você irá às quatorze horas na loja e iremos ao consultório do doutor Haroldo. Como passou o dia?
— Mais ou menos. Não sei explicar o que sinto. Penso que estou realmente doente.
— Não é nada grave. Logo estará bem! — afirmou Beatriz. No outro dia, como combinado, Simone foi à loja e de lá as duas foram ao consultório. O médico, amigo da família, conhecia-as desde pequenas e as cumprimentou com carinho.
— O que está acontecendo com você, Simone? O que está sentindo? — quis doutor Haroldo saber.
— Não sei — respondeu a garota.
A irmã intrometeu-se e contou:
— Ela se queixa de fraqueza, dores de cabeça e no corpo, não tem se alimentado direito e está triste.
— Vou examiná-la.
Depois de medir a pressão e fazer alguns procedimentos de rotina, o médico determinou:
— Terá de fazer alguns exames. Faça-os logo que for possível e me traga os resultados. Vou receitar já dois remédios:
um para abrir o apetite, um tónico de vitaminas e o outro para dormir melhor, para relaxar. A senhorita está muito tensa. Não é nada grave, talvez esteja anémica e, se for isto, com algumas vitaminas e ferro, se resolverá. Aconselho-a a não ficar sozinha, a se alimentar em horários certos e a se distrair.
Despediram-se do médico, Simone voltou para casa, e Beatriz, para o trabalho, ela estava preocupada.
"Como não deixar Simone sozinha? Nesta semana, as férias acabam: o lado bom é que Simone retornará às aulas e ficará mais tempo longe de nosso lar; porém, eu fico pouco em casa. Papai não liga para ela. 0 que faço? Paro de estudar?
Neste semestre termino, recebo o diploma. Deixo de trabalhar? Mas com este dinheiro é que compro materiais escolares, algumas roupas e dou dinheiro a ela. Vou falar com papai."
Simone voltou para casa e telefonou para o pai, que nem prestou atenção ao que a filha falou e ordenou:
— Vá à farmácia perto de casa e compre os remédios como já falei, depois passo lá e pago.
A garota ficou triste.
Maria Tereza, que aguardava ansiosa a filha voltar da consulta, aproximou-se da garota, escutou-a falar com Célio e, quando ela desligou o telefone, pediu:
"O que o médico falou? 0 que você tem?"
Simone pensou na consulta e falou baixinho o que ocorreu no consultório.
"Você ficará boa, filhinha! Deve ser somente anemia. Vá comprar os remédios e os tome direitinho."
A garota estava com vontade de deitar, mas foi comprar os remédios. Foi e voltou rápido, a farmácia era perto, depois deitou-se. Maria Tereza sentou-se na cama da outra filha e ficou fazendo companhia à sua caçula. Beatriz continuou preocupada com a irmã. Ao sair da loja à tarde, encontrou-se com Nestor, que a esperava. Contou a ele sobre a consulta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 7:04 pm

— Penso, Bia, que você deve falar com seu pai. Não quero criticá-lo. Cada pessoa é de um jeito, pensa de um modo. Eu quero ser bom pai! Farei tudo pelos meus filhos.
Você quer ter filhos?
— Sim, quero. E, se os tiver, quero ser uma excelente mãe.
— Então, seremos bons pais — determinou o namorado.
— Você se importa se voltar mais cedo para casa? Estou preocupada com minha irmã.
— Vamos fazer o seguinte: vamos comprar lanches. Você escolhe dois e os leva para casa para comer junto com Simone. Aproveite: se seu pai estiver em casa, fale com ele sobre sua irmã.
— Obrigada! — agradeceu a moça.
Carregando os dois lanches, Beatriz entrou em casa, viu seu pai e Lucilene na sala, passou recto e foi para o quarto. Simone estava deitada.
— Si, querida, Nestor mandou para você um lanche.
Trouxe dois, vamos comer juntas.
— Você não ficou namorando por minha causa? — perguntou Simone.
— Estava preocupada com você e quero falar com papai.
— Vamos comer aqui no quarto, senão teremos de dividir com eles o lanche. E, depois, não os quero para companhia. Fiquei a tarde toda no quarto e papai nem veio aqui para saber como estou.
— Vou falar primeiro com ele — determinou Beatriz.
"Vá, querida", pensou Maria Tereza, "eu fico aqui. Depois como o lanche com vocês. Se eu for à sala pioro as coisas.
Célio está lá com a intrusa, e eu não quero vê-la."
— Boa noite! — cumprimentou Beatriz entrando na sala.
Depois dos cumprimentos, Beatriz olhou para o pai, ignorou Lucilene e falou:
— Papai, hoje à tarde fui com Simone ao médico.
— Eu sei, ela me ligou porque precisava comprar remédios, eu a autorizei a ir à farmácia.
— Doutor Haroldo pediu exames.
— Pois os faça.
— Como pago? — perguntou Beatriz.
— Vou lhe dar um cheque em branco e assinado para pagar o laboratório. Cuidado com ele, não vá perdê-lo.
— O senhor não quer saber o que Simone tem?
— Se o médico — respondeu Célio — pediu exames é porque não deve saber o que ela tem. 0 que ele falou?
— Que talvez Si esteja anémica e com início de depressão.
— Também, esta garota está sempre fazendo regime — intrometeu-se Lucilene.
— Minha irmã não faz regime — falou Beatriz.
— Você não vê que ela come pouco? — perguntou Lucilene.
— O doutor pediu para ela se distrair, não ficar sozinha — contou a mocinha.
— Como? — Célio sorriu. — Como não deixá-la sozinha?
Você não para em casa, e eu tenho de trabalhar.
— Não paro em casa porque trabalho e estudo — defendeu-se Beatriz.
— Você está muito abusada! — exclamou Célio. — Não me responda! Na semana que vem começam as aulas, e Simone se distrairá. Célio aumentou o som da televisão e prestou atenção no noticiário. Beatriz saiu da sala e foi para o quarto.
Os dois desencarnados, Mimi e Nacrelo estavam ali atentos.
— Não gosto que a menina esteja doente! — disse Mimi.
— Nada temos com isso — falou Nacrelo. — Nosso trabalho é fazer o casal brigar. Eu não queria ser filho dele. Que pai!
As mocinhas são educadas e tão bonitinhas.
— O que você acha, Lu, sobre a doença da Simone? — Célio quis saber a opinião da namorada.
— Fraqueza por causa do regime. Talvez esteja anémica, quer atenção, testar sua paciência, atrapalhar sua vida. Ciúmes de menina mimada!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 7:04 pm

— Deve ser isso — concordou Célio.
— Tomara — desejou Lucilene — que o médico receite a ela umas injecções. Ao tomá-las, com certeza sarará logo dessa manha.
— Como filhos dão trabalho!
— Não, querido, nem todos! Quando a mãe sabe educá-los, eles não dão trabalho.
— Vamos prestar atenção no programa — pediu Célio.
— É melhor irmos embora. Que chato ver programas de notícias. Tudo a mesma coisa! Só desgraças! — falou Nacrelo a Mimi.
Os dois desencarnados imprudentes foram embora. 0 casal ficou vendo o programa.
— Papai — contou Beatriz a Simone ao entrar no quarto — me deu um cheque para pagar os exames. Vou com você amanhã cedo. Avisei na loja que talvez chagasse atrasada.
— Ainda bem que irá comigo. Tenho medo de agulhas. “Vá, sim, com sua irmã", pediu Maria Tereza. "Si tem medo de injecções. Se eu pudesse, iria junto. Tomara mesmo que não seja nada grave."
Será que papai está preocupado comigo? — a menina quis saber.
Não sei — respondeu Beatriz.
Não está. Penso, Bia, que temos mesmo de sair daqui.
"Vou" pensou Beatriz, "agradar mais ainda o Nestor, conquistá-lo e casar o mais depressa possível com ele".
—Vamos comer! — determinou a irmã mais velha.
Maria Tereza chegou mais perto de Simone e sentiu que a filha lhe dava de comer.
— Que lanche gostoso! — A caçula exclamou o que a mãe pensou.
Comeram caladas e depois foram dormir.
Júnior saiu e se encontrou com os amigos. Conversavam amimados quando Murilo chegou e cumprimentou a turma.
Falavam de futebol e continuaram. Num pequeno intervalo, João Paulo comentou:
— Murilo, sentimos sua falta. Tem nos evitado. Não gosta mais da gente?
— Vocês não gostam do que eu gosto no momento — respondeu Murilo.
— Amigo — disse Júnior —, estamos preocupados com você, é nosso amigo de infância, de juventude. Volte para nossa turma, mas limpo.
— Estou sujo, por acaso? Estou fedido?
— Você entendeu — falou Rodrigo.
— Pare, Murilo! Por favor! — pediu Júnior.— Vou embora! Que chato! — exclamou Murilo.
— Fique! — rogou Pedro. — Não falamos mais sobre isso. O técnico do nosso time vai mudar de novo...
Murilo ficou, parecia entediado, falou pouco. 0 assunto preferido de antes já não o interessava. Júnior, disfarçadamente, olhou muito para ele. Como todos estavam de férias, ficaram até mais tarde conversando. Despediram-se e cada um voltou para seu lar.
"Vou tomar uma atitude!" pensou Júnior determinado.
"Preciso fazer algo! E vou fazer. Vou pensar em como ajudá-lo."
Foi embora contente por estar com amigos afins, mas, ao mesmo tempo, estava aborrecido consigo mesmo, por ter algumas vezes entregado drogas e por ver um amigo dependente dos tóxicos. Chegando em casa, tentou não fazer barulho. Todos dormiam e foi dormir também.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 7:04 pm

8 º CAPÍTULO - As férias terminam
No outro dia cedo, Beatriz se levantou uma hora antes do costume, fez o café, o tomou, chamou Simone, e foram ao laboratório. Segurou na mão da irmã enquanto a enfermeira tirava o sangue.
— Agora, Si, vá para casa, tome seu café. Vou trabalhar.
Chegou só dez minutos atrasada. Nestor somente lhe abanou a mão, cumprimentando. Logo depois, aproveitando que a loja não tinha clientes, Beatriz foi à loja de Nestor para comprar as roupas que prometera ao irmão. Entrou e pediu o que queria ao vendedor. 0 moço mostrou algumas e se afastou, foi contar ao seu patrão que a namorada dele estava na loja. Nestor veio rápido para vê-la. Beatriz ficou envergonhada, pois escolhia roupas íntimas masculinas, ruborizou, sentiu a face ficar vermelha. Nestor admirou o recatamento dela.
— Oi, Bia. Veio comprar o quê? — perguntou Nestor sorrindo.
— Algumas roupas para o Júnior — respondeu a garota.
— Pois então escolha, temos óptimas roupas. Darei um desconto para você.— Não precisa. É que Júnior não sabe comprar. Vou dar a ele.
Nestor entendeu que seria ela a pagar. Com certeza o pai não dava a eles dinheiro para roupas. Sentiu pena e admiração pela namorada. Sorriu. Perguntou de Simone e depois falou:
— Vou deixá-la à vontade. Encontrar-nos-emos no horário do almoço.
Nestor falou algo baixinho para seu empregado e se afastou, voltou para seu escritório nos fundos da loja. Beatriz escolheu várias peças.
— Quanto é? — perguntou ela.
— Vou somar — respondeu o vendedor.
Após somar falou a quantia a ser paga.
— Só isso?
— O senhor Nestor me ordenou dar o desconto.
— Não é muito? Deve ser de setenta por cento.
— Bia, por favor, cumpro ordens — disse o vendedor.
— Então, vou pegar mais peças.
Contente, saiu da loja com o pacote. Imaginou que Júnior se alegraria com o presente. No horário do almoço, agradeceu ao namorado.
— Bia, foi você quem pagou, não foi?
— Sim, faz tempo que papai não nos dá nada. Vovó deu umas roupas para meu irmão que foram do meu avô, e ele não tem peças íntimas, as dele ficaram velhas. Com meu ordenado, compro materiais escolares para mim e para Simone e, quando dá, algumas roupas para nós.
— Tenho vontade de conversar com seu pai sobre isso.
Porém, penso que é melhor não me intrometer. Vou ajudá-la!
— Não quero, não posso aceitar — falou a garota.
— Bia, estamos namorando sério, não é? De minha parte, estou a fim de me casar com você. Afirmo que serei bom esposo. Terá sua mesada, quero lhe dar de tudo e para Simone também. Não me importarei se você ajudar seu irmão.
Beatriz achou que era a solução e, como planejou, tratou de ser agradável, carinhosa, com o namorado.
Simone voltou para casa e tomou o café. Estava sem apetite, comeu pouco. Tinha de fazer alguns serviços domésticos e os fez se esforçando porque sua vontade era ficar na cama. Júnior se levantou, e os dois ficaram conversando, ele ajudou-a a fazer o almoço. Mas não ficou para a refeição; foi, como combinado, almoçar com a avó. Simone comeu sozinha e depois foi se deitar. Sentia-se cansada e triste.
"Será que a anemia provoca isto tudo que sinto? Será que não estou muito doente? Parece que vou morrer. Ai, que dor!
Meu braço está adormecido."
Maria Tereza, preocupada com a filha, ficou sentada na cama da mais velha velando a caçula.
"Meu Deus! Se estava ruim, ficou pior. Não pensei que pudesse piorar, mas está acontecendo. Ver minha filha doente é preocupante. Beatriz preocupa-se com a irmã, mas ela é ainda tão jovem! Não contaram para o Júnior para não deixa-lo apreensivo. Célio nem ligou, ficou somente pensando em como a doença da filha sairá caro. Um dia ele pagará por tudo o que está nos fazendo."
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 15, 2022 7:05 pm

Simone dormiu, Maria Tereza aproximou-se da filha e passou a mão na cabeça dela num gesto carinhoso.
— Mamãe! Mãezinha! — exclamou a mocinha.
"Sou eu, filhinha. Durma! Mamãe estará zelando por você! “Simone acordou às dezassete horas sentindo-se mais cansada ainda. Foi com esforço que se levantou, indo tomar banho e preparar algo para comer. Maria Tereza sentou-se perto dela e comeu junto.
"Vamos, filhinha, coma: você precisa se alimentar. Coma mais! Só mais um pouquinho. Por favor!"
Depois que lavou a louça, Simone foi para a sala ver televisão. Júnior chegou, conversou com ela e, alguns minutos depois, foi tomar banho, pois ia sair de novo.
Célio realmente não se preocupou com a filha. Concordou com Lucilene que sua caçula era manhosa, estava chamando atenção e queria, como costumam fazer os filhos, dar despesas.
Ele estava aborrecido.
"Lu está me irritando", pensou Célio, "com essa obsessão por ter filhos. Tenho três e não quero mais. Ultimamente, só tenho problemas. Além de pagar médico, exames e remédios, tenho de dar dinheiro para o Júnior".
Chegou em casa mais cedo, encontrou a caçula vendo televisão e perguntou do filho.
— Ju está tomando banho — respondeu a garota.
"Nem perguntou como passei", Simone pensou sentida.
"Com certeza, se eu morrer, achará bom por não dar mais despesas."
Enxugou algumas lágrimas.
Célio esperou o filho sair do banheiro e falou com ele em tom aborrecido:
— Ju, aqui está o dinheiro do mês. Pai — queixou-se o jovem —, o senhor me dá muito pouco.
Tem se virado com essa quantia, não tem? Não reclame!
Quando você se formar, irá me pagar. Estou marcando tudo o que lhe dou.
Júnior sentiu vontade de argumentar, mas não o fez; pegou o dinheiro e nem agradeceu.
- De nada! — exclamou Célio.
O moço entrou em seu quarto e fechou a porta.
"Se vovó não me ajudar", pensou Júnior, "vou parar de estudar. Depois de ver Murilo viciado, não quero mais entregar drogas. Não mesmo!"
Saiu sem se despedir do pai, mas beijou Simone.
No barzinho com a turma, distraiu-se. Perguntou de Murilo aos amigos.
—Com certeza hoje ele se enturmará com seus novos amigos para se drogar — comentou Rodrigo.
Júnior decidiu que tinha de fazer algo e seria ainda naquele final de férias.
Simone, no outro dia, foi buscar os exames. Como combinou com a irmã, ela iria ao laboratório e, às dezoito horas, esperaria Beatriz sair da loja para irem ao consultório e o médico ver os resultados dos exames. No almoço, Beatriz
avisou Nestor e combinaram que ele as esperaria na praça para irem jantar e depois passear.
Doutor Haroldo olhou os exames.
—Tudo bem, Simone! — afirmou ele. — Você está somente com anemia e se normalizará com aquele remédio que receitei e mais outro com o qual vou complementar.— Doutor, não estou bem! Sinto-me doente!
O médico olhou-a e pensou:
"Estas mocinhas têm enfrentado muitos problemas ultimamente. Simone não aceita as atitudes do pai. Essa garota está também depressiva."
— Vou receitar mais dois remédios. Com as aulas começando, você terá muito o que fazer. Distraia-se. Tome os remédios direitinho. Vou lhe dar mais este de amostra grátis.
Deverá ficar sadia logo, mas, se por acaso não melhorar em vinte dias, volte aqui, a consulta será retorno.
"Graças a Deus", pensou Beatriz, "papai não iria querer pagar outra consulta. Com certeza reclamará de comprar mais remédios".
Saíram do consultório, foram ao encontro de Nestor.
Jantaram. Simone esforçou-se para não ser uma companhia desagradável porque não se sentia bem, estava com vontade de ficar quieta. Depois do jantar, voltaram à praça. Beatriz combinou com o irmão de ele ir lá para se encontrar com elas para que apresentasse o namorado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 9:52 am

Júnior, ao ver Nestor, esforçou-se para ser agradável.
Conversaram sobre futebol, riram e, trinta minutos depois, alegando ter de se encontrar com amigos, despediu-se.
"Nestor", pensou Júnior, "parece ser boa pessoa, mas também me pareceu ser gay, homossexual não assumido.
Depois, é muito mais velho que Beatriz. Será que devo me intrometer? Minha irmã é uma excelente pessoa, preocupa-se muito connosco e tenta nos ajudar. Ela até comprou roupas para mim, trabalha e estuda, ganha pouco e compra coisas para nós. Penso que eu também devo me preocupar com ela.
Se me intrometer, falo o que para ela? Como ajudar minhas irmãs? Como auxiliar Bia? Mesmo se eu parar de estudar e trabalhar, terei como sustentá-las? Prefiro pensar que Bia sabe o que quer. Amanhã colocarei o despertador para me levantar mais cedo e vou conversar com ela, nesse horário estaremos sozinhos. É somente isso que posso fazer/1
Eram vinte e duas horas quando Nestor deixou-as em casa, e o casal despediu-se com um beijo.
Simone, assim que chegou em casa, foi se deitar, estava muito cansada.
No outro dia, Júnior levantou-se cedo e foi para a cozinha onde a irmã fazia o café.
— Bia — disse ele — levantei-me mais cedo para conversar com você. Não quero atrasá-la, continue fazendo o café, ajudo-a arrumando a mesa e, enquanto isso, conversamos.
Responda-me com sinceridade: você está mesmo gostando de seu namorado?
— Nestor é gentil, educado e me trata muito bem.
— Não foi isso o que perguntei. Por que o está namorando?
— Ora, por que as pessoas namoram? Para casar — respondeu Beatriz.
— Você é muito jovem para pensar em casamento.
— Não gostou de Nestor?
— Gostei dele, é simpático e agradável, mas é velho para você — respondeu Júnior.
— Idade não importa! O que de fato você quer me dizer?
— Para você pensar bem no que irá fazer de sua vida.
Tudo passa, e este período difícil com papai com certeza também passará.— O que você achou de Nestor? Fale! — pediu Beatriz.
— Ele é rico, isto conta pontos, mas perde por ser mais velho. Você já se perguntou ou questionou por que ele é solteiro até hoje.
— Não! — respondeu Beatriz.
— Não quero preocupá-la. Nestor tem um jeitinho de gay.
— Só porque é educado e gentil? Ju, não se preocupe comigo. Sei o que faço. E trate o Nestor bem, por favor.
— Tudo bem. Não falo mais nada. Espero mesmo que você saiba o que faz. Vou voltar a dormir. Bom trabalho!
Júnior jogou um beijo para ela e voltou para seu quarto.
Beatriz acabou de tomar seu café e saiu.
O moço foi almoçar com a avó e, como nos outros dias, conversaram, riram, ele a agradava. Não tocaram em assuntos familiares, ele não comentou nada sobre as irmãs nem a avó perguntou sobre elas. Com as visitas do neto, Laís não se sentia tão solitária. Ele voltou para casa à tarde e fez companhia a Simone. Tomou banho mais cedo e saiu. Foi para a casa de Murilo. Ficou na esquina parado e, quando viu o amigo sair, esperou uns minutos e tocou a campainha. Era conhecido dos pais dele. A mãe do amigo de infância abriu o portão e o recebeu contente.
— Júnior! Como está? Murilo já saiu. Combinaram de se encontrar?
— Não! — respondeu Júnior. — Posso entrar? Vim conversar com os senhores.
— Entre!
Entrou. O pai de Murilo cumprimentou-o, desligou a televisão e convidou-o a sentar.
— Não vou demorar — falou o moço. — Vim aqui para falar algo que, infelizmente, é desagradável. É sobre Murilo.
Júnior fez uma pausa, preferiu ir directo ao assunto por vê- los preocupados. Suspirou e continuou a falar.
— Queria lhes pedir para não comentar com ninguém que fui eu quem falou. Temos um código de honra por meio do qual juramos nunca contar o que um de nós faz de errado.
Estou quebrando o juramento e, se souberem que estou delatando, vou ser taxado pela turma de "traidor".
Fez nova pausa.
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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 2 Empty Re: A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 9:53 am

— Por favor, fale! O que está acontecendo com meu menino? — perguntou o pai preocupado.
— Está se drogando! — Júnior falou baixinho.
— O quê?! — exclamou a mãe, assustando-se e levantando-se da cadeira.
— Por favor, explique — rogou o pai.
— Não sei direito quando e como ele começou. Vim passar somente esta semana de férias em casa. Murilo não tem ficado mais com a nossa turma e aí soube que ele tem saído com outros amigos e se drogado. Fui conversar com ele, que me garantiu que para quando quiser. Mas não penso que seja assim, ele está viciado. Não sei como ajudá-lo. Acho que agora são os senhores que devem auxiliá-lo.
Fez-se um silêncio na sala. Júnior levantou-se e se despediu, o pai do amigo o acompanhou até o portão e o fechou assim que ele passou.
Júnior ficou chateado.
"Será que não adiantou? Será que acreditaram? Tomarão providências? Falarão que fui eu que contei? Não vou comentar com ninguém o que eu fiz. Como combinei, vou me encontrar com a turma. Penso que agi certo e espero realmente ter feito o correto. “Encontrou-se com os amigos, Murilo não apareceu, e ninguém perguntou dele.
No outro dia, no sábado à tarde, Pedro e Rodrigo passaram na casa de Júnior e conversaram com Simone enquanto esperavam o amigo se trocar. Depois saíram.
— Passamos aqui — contou Pedro — para lhe contar
uma novidade. Ontem à noite, quando cheguei em casa, minha mãe me esperava. Preocupada, cheirou-me, observou-me e perguntou, aflita, se estava me drogando. Respondi
que não. Aí ela me contou que os pais de Murilo lhe telefonaram perguntando se ela sabia se o filho deles estava se drogando. Mamãe respondeu que eu não comentei nada. Minha mãe me pressionou, ameaçou deixar-me sem mesada, de me impedir de sair de casa, de me vigiar etc. Então contei a ela o que sabia, quebrei meu juramento. Mamãe ligou para os pais de Murilo e disse tudo o que eu tinha falado. Depois, me deu um sermão de uns trinta minutos e então me deixou dormir.
Ela me disse que era maldade cumprir um juramento desse modo, que eu deveria ter dito a ela etc. Estou me sentindo mal por ter contado.
— Você fez bem — opinou Júnior. — Sua mãe o pressionou. Agiu certo. Penso mesmo que devemos nos desfazer desse juramento. Isso foi feito quando éramos adolescentes.
Já passamos dessa fase. Temos de agir agora como adultos.
Não se sinta um traidor!
— Que alívio escutar isso de você! — exclamou Pedro.
— Só que não termina aí. Teve mais confusão — contou Rodrigo.
Vou deixá-lo a par do que aconteceu. Os pais do nosso amigo viciado o ficaram esperando. Quando a mãe de Pedro telefonou para eles confirmando a suspeita (segundo opai, eles estavam desconfiados porque o filho estava diferente, parecia ausente, não se alimentava direito e evitava comentar sobre os estudos), eles foram ao quarto dele e deram falta de algumas peças de roupa, relógios etc. Ficaram então ontem à noite esperando-o. Ele chegou às duas horas da manhã e havia consumido tóxicos. Vendo-o alterado, deduzo que o casal ficou nervoso e, infelizmente, Murilo, sob o efeito das drogas, ficou agressivo, bateu no pai, penso que o empurrou, o que fez com que ele caísse e se machucasse.
Depois da agressão, entrou no quarto e foi dormir como se nada tivesse acontecido. A mãe dele chamou o outro filho, que é casado, levaram o pai ao hospital, reuniram-se e, por telefone, encontraram uma clínica que recupera os toxicómanos; chamaram uma ambulância, enfermeiros deram uma injecção em Murilo e o levaram dormindo. O coitado deve ter acordado hoje na clínica se sentindo preso. Ficará internado, e os pais dele afirmaram que ele ficará meses lá, até se tornar sadio.
— Penso — opinou Júnior, aliviado por não ter sido citado — que foi o melhor que podia ter acontecido ao nosso amigo. Os pais dele o ajudarão; recebendo auxílio, Murilo se livrará do vício. Vamos ficar esperançosos, ele sairá dessa e voltará a ser nosso companheiro.
— O melhor é desfazer nosso juramento — falou Rodrigo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 9:53 am

— Coisa que nunca deveríamos ter feito — concordou Júnior.
Encontraram com a turma num barzinho, e o assunto daquela noite foi somente o colega que se viciou. Todos concordaram que o juramento estava anulado e que eles deveriam, assim que souberam, ter contado para os pais de Murilo o
que ele estava fazendo.— Se tivéssemos contado no começo, talvez ele não tivesse se viciado. Agimos com crianças tolas — disse Pedro.
— Penso que não fomos caridosos com nosso amigo — opinou João Paulo. — Fizemos mal a ele. Mas, quando Murilo voltar, vamos lhe dar todo o apoio e, se percebermos que ele se drogou, iremos contar para seus pais.
— É isso aí! — todos concordaram.
Júnior despediu-se do grupo. Viajaria no outro dia, retornaria à cidade em que estudava.
Levantou-se cedo no domingo para ficar com as irmãs, conversaram muito. Ele arrumou as malas: levaria três com as roupas que ganhou. Almoçou com a avó, e Laís afirmou que lhe mandaria dinheiro todo mês e lhe deu uma razoável quantia para ele alugar outro local para morar. 0 moço agradeceu e beijou a avó muitas vezes.
Passou em casa para pegar as malas, Nestor e as irmãs o levariam à rodoviária. Despediu-se friamente do pai. Não esperaram muito pelo ônibus e, quando este chegou, abraçou as irmãs, despediu-se de Nestor e entrou no ônibus. Elas ficaram olhando o veículo até que partisse.
Simone voltou para casa, sentia-se cansada e foi se deitar.
Beatriz saiu para passear com o namorado.
As férias terminaram.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 9:53 am

9 º CAPÍTULO - Começo das aulas
Júnior chegou tarde da noite no quarto que dividia com o amigo. Encontrou Ney acordado e lhe contou as novidades.
— Consegui fazer com que minha avó, que é rica, me ajudasse. Ela me deu dinheiro para alugar uma quitinete, irei amanhã cedo ver se consigo alguma no Prédio Jóia. Lá o quarto é grande, tem uma cozinha pequena e um banheiro que será somente para meu uso. Pagarei três meses adiantado e comprarei alguns móveis. Vou amanhã conversar com Marcão, ele queria sair do alojamento para ir para um lugar barato. Com certeza ele ficará no meu lugar. Trouxe para você algumas roupas que vovó me deu e também vou deixar minhas toalhas de banho, lençol e o cobertor. Almoçará comigo nos sábados e domingos, pagarei. Não vou, definitivamente, entregar mais drogas e espero que você também pare. Tenho um amigo...
Júnior contou ao colega sobre Murilo.
Foram dormir e, como planejou, no outro dia foi atrás de alugar um local melhor. Conseguiu. Comprou cama, sofá, geladeira, mesa com quatro cadeiras, arrumou seu espaço.
Ficou contente. Marcão ficou com sua vaga na pensão. “Agora vou ao orelhão da esquina ligar para vovó e contar a ela o que eu fiz."
Discou a cobrar, e Laís atendeu; ficou contente com as novidades que o neto lhe contou.
Ele prometeu a si mesmo estudar muito e agir correctamente.
Beatriz colocou o relógio para despertar mais cedo. Acordou a irmã para ir à escola. Fez o café e, enquanto Simone tomava seu desjejum, organizou para ela o material escolar, depois ajudou-a a se arrumar e a acompanhou até o portão.
— Aproveite, querida, para rever todos os seus amigos.
Lembre-se de que eu vou à escola à noite. Devo chegar tarde.
Nestor me buscará e me trará para casa.
— Ainda bem! — exclamou Simone — Assim não ficaremos, mamãe e eu, preocupadas com você voltando a pé e sozinha. Tchau!
Simone foi para a escola, e Beatriz entrou, tomou café e, como era dia de Rosita ir, não lavou as louças. Arrumou as camas, trocou-se e foi para o trabalho. Almoçou com Nestor, e combinaram que ele a esperaria em frente à escola.
— Não vamos poder nos encontrar à tarde — queixou-se ele.
— Faltam somente quatro meses para o ano lectivo terminar e eu concluir o ensino médio.
— Aí pare de estudar, e pensaremos em casar! — afirmou Nestor.
— Sim!
"Falta pouco para sair de casa, levar Simone e ter meus filhos", pensou a garota. Nestor buscou-a na escola e a levou para casa. Beatriz estava muito cansada, já era tarde, quase vinte e três horas.
Teria de levantar cedo, por isso ficaram somente uns dez minutos juntos.
Simone levantou-se cansada, foi caminhando para a escola. No caminho encontrou duas colegas, foram conversando. Gostou de se encontrar com as amigas. Mariana convidou Simone e outras colegas para irem à sua casa à tarde.
Ao voltar da escola, almoçou, Rosita fez o almoço. Ajudou-a um pouco, mas não quis se deitar: embora estivesse com vontade, queria ir à casa de Mariana para rever o Mateus.
Arrumou-se e foi.
Ela e as amigas estavam sentadas nos bancos na área da frente da casa de Mariana. Mateus veio cumprimentá-las e ficaram conversando. O moço deu atenção para ela, que ficou contente.
— E seu irmão? Júnior veio? E Bia? Não a vi nas férias — quis Mateus saber.
— Júnior ficou em casa somente uma semana, a última, foi embora ontem. Bia está bem. Está namorando firme.
Somente Mariana percebeu que Mateus tinha ficado branco com a novidade. A irmã sabia que ele gostava há tempos dela, e ambos pensavam que Bia se interessava por ele.
— Quem Bia está namorando? — perguntou Mariana.
— Ele se chama Nestor e gosta muito dela. Estão namorando firme. Gosto dele, é boa pessoa — respondeu Simone.
— Eu também estou namorando — contou Mateus. — Uma moça linda! Agora tenho de ir. Tchau, garotas! Mateus saiu. Simone ficou com vontade de chorar, esforçou-se para as lágrimas não saírem de seus olhos.
— Quem é a namorada dele? — indagou Luiza.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 9:53 am

— Não a conheço — respondeu Mariana.
"Por que será que ele mentiu?" pensou Mariana. "Deve estar sentido por saber que Beatriz está namorando. É melhor não desmentir. Depois, ele pode estar mesmo namorando e eu não saber."
Mudaram de assunto. Simone esforçou-se para conversar e, logo depois, aproveitando que Luiza tinha de ir embora, deu uma desculpa e voltou para casa. Ao ficar sozinha na rua, enxugou algumas lágrimas. Chegou em casa, Rosita ainda estava lá, ela entrou em seu quarto, fechou a porta e chorou.
"Mateus está namorando! Ele não gosta de mim! Como estou infeliz!"
Não jantou, tomou banho, foi dormir e não viu a irmã chegar.
Como combinado, Armando foi jantar com Laís.
— Estou achando a senhora triste — comentou Armando.
— Meu neto Júnior ontem voltou para a cidade onde estuda. Ele almoçou a semana toda comigo, me fez companhia, e hoje senti sua falta, embora tenha me telefonado à tarde dando notícias. Sinto-me saudosa.
Jantaram conversando. Depois, voltando à sala de estar, Armando conduziu a conversa, sentiu que sua anfitriã precisava desabafar, falar de suas preocupações. Laís falou da filha.— Briguei com Maria Tereza — contou ela, enxugando algumas lágrimas. — Pedi desculpas, mas ela, não falando, não respondeu. Não sei se me perdoou. Penso que minha Teté sabia que o pedido de desculpas não era verdadeiro, que eu não havia mudado de opinião. Os fatos demonstraram que estava e estou certa. Ela não deveria ter defendido o marido.
— Será que Maria Tereza não quis defender os filhos?
Quis que eles recebessem a herança? Tivessem alguns bens?
— Com Célio tomando conta?
— Conte-me o que aconteceu — pediu Armando. — Isto se a senhora quiser.
Laís contou. Começou falando dos filhos pequenos, dos dois filhos homens que foram educados para, no futuro, administrarem o curtume e que, desde mocinhos, trabalhavam com o pai. Ela e o marido tiveram algumas desavenças, mas foram felizes no casamento. Foi muito triste ficar viúva. Queixou-se de que ela e o esposo haviam sofrido com o matrimónio da filha, que Célio era tolerado e que seus filhos não gostavam dele como sócio. 0 curtume era cinquenta por cento dela, e os outros cinquenta por cento, dos dois filhos e de Célio. Que as discussões com a filha aconteciam porque o casal havia feito um documento em que Maria Tereza e o marido deixavam o que tinham para os filhos, mas somente após a morte dos dois. E seus dois rebentos tinham que aturar Célio na indústria.
Laís falou por uns quarenta minutos sem ser interrompida.
— Desculpe-me, Armando! Que chatice! Convido-o para jantar e fico falando, falando...
— Por favor, não se desculpe. É bom desabafar. Certamente a senhora se sentirá melhor. Porém, penso, dona Laís, que a senhora está se sentindo assim, apreensiva, preocupada e triste, porque não resolveu seus problemas. Tente resolvê-los.
— Mas como? — perguntou Laís.
— Pense bem e talvez encontre solução. Vamos agora fazer uma oração, vamos pedir para Jesus orientá-la, para que resolva essas dificuldades.
Armando rogou protecção a Deus, pediu a Jesus que a orientasse para poder, com justiça e muito amor, resolver seus problemas.
Laís se sentiu melhor e agradeceu.
— Armando — disse a dona da casa —, pensei muito no que você me falou na outra noite sobre vingança e castigo.
Você é contra castigo?
— 0 castigo educativo é válido, por exemplo: quando, para educar, deixamos um filho privado de algo que gosta.
Ao fazermos isso, estamos tentando fazê-lo compreender que não se pode cometer certos actos errados. Porém, o castigo punitivo, sem carácter instrutivo, não é correto. E é perigoso que este gesto se torne um ato vingativo.
— O melhor então é deixar Deus se vingar por nós! — exclamou Laís.
— Deus não nos castiga nem nos dá prémios. Nossos actos, bons ou não, nos pertencem — suavizando o tom de voz e falando devagar, Armando continuou a elucidar. — Nós não podemos pensar que Deus possa se sentir ofendido com nossos actos, sentir-se ofendido é atributo de um carácter mesquinho. Não devemos pensar que Deus seja vingativo, que, em vez de nos perdoar, exige satisfações; nem que Deus seja cruel e injusto. Deus é amor!— Sei que devemos adorar a Deus! — justificou Laís.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 9:53 am

— Sim, devemos amar a Deus e ao próximo.
— Não é difícil?
— Deus nos ama igualmente, todos nós somos alvo de seu imenso amor. E quem ama a Deus tem de amar quem Ele ama. Para termos certeza de que de fato amamos nosso Criador, basta verificar se amamos a todos. Se não conseguirmos ter o amor humano, como ter o amor divino? Jesus nos recomendou amar ao próximo como a nós mesmos, penso que Jesus quis dizer que esse amor próprio seja o amor de Deus dentro de nós.
— Vou pensar em tudo o que me falou. É coerente!
Venha jantar comigo novamente.
Marcaram o jantar para a outra segunda-feira.
— Ore, dona Laís, e tente, sem mágoa e com justiça, resolver essas questões que a preocupam.
Despediram-se, e Laís demorou para dormir, ficou pensando que teria de resolver os problemas familiares que adiava e queria ser justa.
No outro dia, Beatriz fez tudo como de costume e, logo que Simone acordou, contou à irmã.
— Ontem fui à tarde à casa de Mariana. Vi o Mateus, ele está lindo como sempre, só que: está namorando!
"Mateus namorando?! Mas eu também não estou? É melhor não pensar mais nele"
— Todos os jovens namoram — falou Beatriz. — Você, quando tiver minha idade, também namorará. Vamos logo, se não você se atrasa. Como sempre fazia, Beatriz acompanhou a irmã até o portão. Quando estava tomando o café, o pai levantou-se.
— Hoje tenho de ir mais cedo para o curtume. Posso lhe dar carona. Quer?
— Como Rosita não vem hoje, vou lavar a louça; se o senhor me esperar, aceito, sim.
Nestor viu Célio levar sua namorada à loja. Olhou-o de longe.
"Não gosto deste sujeito", pensou Nestor. "Coitadas das filhas! Beatriz e Simone não merecem um pai assim. Serei bom para elas. Será que estou querendo ser um pai para essas garotas?! Terei meus filhos. Bia me dará filhos lindos!"
Cumprimentou a namorada como de costume e entrou na loja.
Irene deixou, na manhã de terça-feira, a sua funcionária na loja e foi ao centro da cidade, para ir ao banco e pagar algumas contas.
Foi almoçar num restaurante e se assustou quando viu a filha mais velha de Célio almoçando com Nestor, e os dois pareciam estar namorando; não teve mais dúvida quando ele beijou a mão de Beatriz. Ficou indignada.
"Ele é mais velho que Célio! Beatriz é uma criança! Adolescente!"
Irene ficou discretamente observando-os enquanto almoçava. Ao ver Beatriz se levantar e ir ao banheiro, foi também e, quando a garota lavava as mãos, Irene abordou-a.
— Oi, Bia! Lembra-se de mim? Sou Irene!
— Boa tarde! — respondeu Beatriz, demonstrando não estar satisfeita com a abordagem.— Vi você almoçando com o senhor Nestor. Estão namorando?
A mocinha não respondeu de imediato. Não queria ser rude. Pensou no que Simone responderia. Com certeza a irmã faria um pequeno escândalo. Sem olhar para a ex-amante do pai, para a mulher que fez sua mãe sofrer, embora soubesse que ninguém é amante sozinho e que o maior culpado era o seu pai, respondeu:
— Sim, estamos namorando.
Saiu do banheiro. Irene saiu atrás, viu da mesa que ocupava, Beatriz conversar com Nestor e depois saíram.
"Por incrível que pareça", pensou Irene, "gosto dos filhos de Célio. Alimentei a esperança de que um dia casaria com ele e que seus filhos seriam meus. Escutava-o falar deles, participava de seus problemas. Beatriz era muito doce, educada e atenciosa. E continua sendo: com certeza, ficou com vontade de me responder com grosseria e não o fez".
Saiu do restaurante, foi para sua loja e ficou pensando no que havia visto no restaurante.
"Será que Célio sabe desse namoro? Deve saber e concordou porque o senhor Nestor é rico. Ele não é bom partido para Beatriz. 0 que faço? Terei alguma coisa para fazer? Será que devo me intrometer? Posso avisar Célio? Talvez dê certo. Será que não estou inventando uma desculpa para vê-lo?
Falar com ele? 0 fato é que, se não fizer nada, vou me sentir culpada. Sendo amante de Célio, fiz a família dele sofrer.
Conto e depois esqueço. Ele que é pai que resolva. Vou telefonar para a filha de Rosita."
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 9:53 am

Irene, tempos atrás, havia feito amizade com a filha de Rosita, a diarista de Célio. Essa moça comprava em sua loja, e Irene dava a ela descontos fabulosos para saber o que acontecia na casa do amante. Essa jovem informante conversava com a mãe e, sem que Rosita soubesse dessas fofocas, sabia de tudo o que ocorria no lar de Maria Tereza e, depois, contava a ela. Irene ligou para a moça, que ficou de passar na loja e, de fato, duas horas depois estava lá. Ganhou de presente pela informação uma saia e uma blusa.
Contou:
— Dona Irene, mamãe me disse que o senhor Célio e a namorada estão brigando muito, isto quem falou foi a Simone. Júnior esteve lá na semana passada e almoçou com a avó todos os dias. Beatriz está namorando um moço e fala até em se casar e levar a irmã para morar com ela. Simone está doente, Bia a levou ao médico, fez exames, está tomando remédios, mas não está bem, mamãe está preocupada com ela.
"Então Célio e Lucilene estão brigando!", pensou Irene satisfeita. "Dona Chica não falha. Logo estarão separados."
E ficou dois dias pensando no que fazer, ora que deveria falar com Célio, ora que não.
Armando, na terça-feira, foi ao centro espírita: lá colocou o nome e o endereço de Maria Tereza no caderno de vibração, de anotação, para que as pessoas recebessem auxílio depois. Chegou vinte minutos antes de a palestra começar; fazia sempre isso, para orar. Sempre que alguém pedia orações para ele, orava e, quando considerava os pedidos mais difíceis, para os mais necessitados, em que as pessoas estavam realmente sofrendo, orava para elas no centro espírita. Orou primeiro para a filhinha de uma colega de trabalho que estava doentinha, internada no hospital, e a mãezinha aflita havia lhe pedido orações. Depois, fez preces para Teté e Laís.
Orou para que elas se desculpassem e recebessem ajuda.
A palestra começou e foi, como sempre, instrutiva. Como acontecia naquela casa, as palestras eram optimistas, levando quem as assistia a se alegrar, a ter vontade de se melhorar e fazer o bem.
Armando pensou bastante como e o que podia fazer para ajudar Laís, que lhe pediu auxílio e conselhos.
Gostava muito de ir ao centro espírita e, quando a reunião terminou, ficou conversando com o grupo. Percebeu que Verónica lhe dava muita atenção. Ele deu carona para ela e mais três pessoas.
"É agradável conversar com pessoas afins. Estou gostando muitos desses novos amigos. Será que Verónica está interessada em mim ou está somente sendo gentil? "
Deixou-os em casa, foi para seu apartamento e dormiu.
Tudo transcorreu normalmente na quarta-feira. À noite, Maria Tereza estava deitada, dormia quando acordou num local diferente.
"Será que estou num hospital? Estou vendo ali muitas
pessoas de roupas brancas, talvez estas outras estejam esperando por consultas."
Eram tantas coisas diferentes que ficou sem saber em que prestar atenção, sentia-se confusa.
Quando alguém lhe pegou pela mão e a aproximou de umas pessoas sentadas.
— Boa noite!
Maria Tereza percebeu que um senhor a cumprimentava.
Sorriu. “Este senhor não deve saber que eu não falo" pensou ela.
O senhor estendeu as mãos em sua direcção. A moça que estava perto dela olhava-a com carinho.
— Esforce-se, senhora! Conseguirá falar.
"Vou tentar" pensou Maria Tereza. "Faz tempo que não tento. Que tratamento diferente — Eu... estou... tentando!
— Conseguiu! A senhora sabe onde está?
— Estou... falando! Meu Deus! Falo!
Maria Tereza ria e chorava.
— Deus está me ajudando! Falo! Meus filhos!
O senhor falava, mas Maria Tereza não escutava, não prestava atenção, estava eufórica por estar falando de novo.
— A senhora está num local de orações! Sabe que um dia teremos de partir deste plano e...
Ela não queria escutar, resolveu concordar com o senhor.
Entendeu que orações a estavam ajudando.
— Posso me levantar? Sair?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 9:54 am

Nem prestou atenção ao que foi respondido. Levantou-se, percebeu que estava mais ágil. Como era educada, agradeceu:
— Obrigada!
— Agradeça a Deus! — respondeu o homem.
"Vou, sim, agradecer a Deus. Vou orar bastante", pensou Maria Tereza determinada.
Uma moça muito simpática pegou em seu braço e a colocou numa fila. Teté não prestou atenção em mais nada.
"Estou falando! Sinto-me melhor!"
Sua mente estava somente voltada para esses detalhes.
Foi devagar se afastando da fila até que saiu do prédio.
Olhou a rua. “Vou embora para casa. Vou e rápido! "
Pensou, com muita vontade, em estar em seu quarto e, de repente, estava em sua casa, em sua cama.
"Que sonho estranho! Parecia tão real!"
Levantou-se e foi para o corredor. Olhou o quarto das filhas, elas dormiam tranquilas. Ia voltando para seu quarto quando viu Lucilene.
— Intrusa! Intrometida!
— Ora! Está falando? Intrusa é você! Não deveria estar aqui. Vá embora! — exclamou Lucilene.
— Estou falando! Como no sonho. Melhorei!
— Grande coisa! — debochou Lucilene. — Para quem isso importa?
Maria Tereza, alegre, não deu importância à namorada do marido e voltou para seu quarto e ficou falando baixinho para não acordar as filhas.
— Melhorei mesmo! Precisei sonhar que estava falando para falar. Foi muito estranho meu sonho. Recebi orações e falei. Porém, aquele senhor me disse coisas estranhas, sobre morte, mudança. Não devo me preocupar, não devo ter entendido direito. O senhor provavelmente deve ter dito que minha vida mudaria para melhor."
Contente, orou agradecendo a Deus e dormiu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 9:54 am

10º CAPÍTULO - No meio da semana
Na quinta-feira de manhãzinha, ao escutar o barulho das filhas se levantando, Maria Tereza levantou-se também e foi à cozinha.
— Filhas! Surpresa! Estou falando!
As duas continuaram caladas, não responderam.
— Não estão me ouvindo? Respondam! Eu estou falando!
Nada. As mocinhas continuaram o que estavam fazendo.
"O que será que está acontecendo? Por que elas não me respondem? Será que não se alegraram com a minha melhora? O que está havendo?"
— Filhas — Maria Tereza insistiu —, escutem: estou falando!
As garotas saíram da cozinha e foram para o quarto. Maria Tereza ficou de pé parada, não sabia o que pensar. Não entendia porque as filhas não haviam respondido, não haviam conversado com ela. E, quando elas saíram, voltou para o seu quarto.
"Elas me ignoraram, nem se importaram comigo. Saíram sem se despedir. O que está acontecendo? Será que não estou falando? Penso que falo, mas a voz não sai? Mesmo assim, não era para as duas se despedirem de mim? Costumavam me beijar ou, apressadas, dar um 'tchau'. Hoje nem me olharam. Por quê? Será que continuo a sonhar? Ou nesta fase da doença estou tendo alucinações? Estarei confundindo tudo?
Porém, parece que melhoro. Por que isto está acontecendo?"
Sem entender, sentindo-se desprezada, sua alegria pela melhora passou, e ficou triste.
Quando Simone retornou da escola, foi com ela à cozinha e a olhou com amor. A filha estava abatida, desanimada. Almoçou com ela e tentou:
— Fi... es-tou falan-do!
Sentiu muita dificuldade para falar.
"Pioro de novo! Meu Deus! Por que tudo isto?"
— Mamãe! — exclamou Simone. — Queria que estivesse boa e me ajudasse. Preciso da senhora!
"Vou me esforçar para melhorar. Filhinha, não entendo o que está acontecendo. 0 que mudou?"
— Tudo muda! — exclamou Simone. — Credo! Não deveria mudar. Vou me deitar, depois arrumo a cozinha. Estou cansada!
"Eu também estou cansada! Muito cansada! E também confusa! Apesar de que sempre melhoro quando estou perto de você. Simone, minha querida, você me fortalece. Amo-a!"
Foram ambas se deitar.
Simone levantou-se à tarde, arrumou a casa, fez a lição da escola e, depois do banho, foi assistir televisão. Seu pai chegou e ficou na sala, somente cumprimentaram-se, ele nem perguntou como a filha estava. Célio estava inquieto, e o motivo era Nacrelo, o desencarnado que estava com ele desde tarde. E em todas as oportunidades intuía-o:
— Não é bom ter filhos! Cuidado com namoradas! Mulheres querem ser mães e tentam encontrar um homem para pai, para bancá-las, pagar suas despesas. Lucilene quer enganá-lo.
Ela procura um trouxa para ser pai de seu filho. Crianças incomodam! Infernam a vida da gente. O melhor é ficar sozinho!
Célio tentava repelir esses pensamentos.
"Hoje estou muito chato! Que pensamentos persistentes!
Não quero ficar pensando nisso! Não consigo me distrair.
Vou ver se consigo assistir televisão."
Lucilene estava eufórica e pensou:
"Com certeza estou grávida! Vou contar para o Célio. Porém, será que não é melhor fazer um exame primeiro?"
— Não! Faça uma surpresa para ele! Célio ficará contente também! Vá contar a ele! Faça isto agora! Você será mãe! Mamãe! — Mimi insistia.
A desencarnada encarregada de ficar com Lucilene estava tentando fazer com que ela tivesse certeza de que estava grávida e quisesse contar logo para o namorado, e foi que a moça fez. Foi para a casa de Célio. Chegando lá, encontrou ele e a filha na sala. Cumprimentou-os contente.
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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 2 Empty Re: A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 9:54 am

— Simone — pediu Lucilene —, dê-me licença! Preciso falar com seu pai em particular.
— Sim, claro — respondeu a garota, que se levantou e foi para o quarto.
Os dois desencarnados estavam eufóricos, a tarefa estava sendo fácil, Célio e Lucilene afinavam com eles, não oravam, não pediam protecção a Deus, não eram gratos. Eram muito materialistas e egoístas.
— Com certeza agora brigarão. Vamos ficar atentos e colocar lenha na fogueira — determinou Nacrelo rindo.10
Simone, em seu quarto, pensou:
"Estou estranhando a atitude de Lucilene. 0 que será que a intrusa quer dizer para papai que eu não posso escutar?
Está tão contente!"
Assim que ficou a sós com o namorado, Lucilene, toda dengosa, falou:
— Querido! Vamos ser pais! Estou grávida!
Célio, por alguns instantes, ficou calado, arregalou os olhos, suas mãos tremiam. Quando conseguiu falar, gritou:— O quê?! Escutei direito?! Repita!
— Estou grávida!
— Traidora! Você me trai e ainda quer que eu seja o pai do seu filho?!
Xingou-a, gritou palavrões, insultos, acusou-a de traição.
Os dois desencarnados os incentivaram a discutir e a se ofender. Lucilene se assustou: por segundos, ficou parada escutando o namorado xingá-la sem conseguir entender o que estava acontecendo.
Maria Tereza acordou assustada, foi rapidamente para o corredor e, ao ver a filha temerosa no quarto, entrou. As duas se abraçaram.
"É melhor ficarmos quietas aqui. Deixemos os dois brigarem" - decidiu Maria Tereza.
E ficaram caladas escutando a briga.
— Célio, por favor — conseguiu Lucilene dizer.
— Você pede "por favor"? Com quem me traiu? Não sabe quem é o pai? Pois eu lhe digo: não sou eu!
— Não traí você! Não mesmo!
— Lu, não minta mais — Célio falou palavrões.
— Pare! Não entendo! — pediu Lucilene chorando.
— Não entende? Pois é fácil: não sou pai desse filho que está esperando. Sou vasectomizado. É isto mesmo! Não posso ser mais pai. Entende como seu golpe não deu certo?
Lucilene deu dois passos para se aproximar dele e o fez com a mão direita estendida, queria dar uma bofetada no rosto do namorado. Célio estava desequilibrado pela ira, segurou o braço dela com força e a empurrou, jogando-a na parede. Lucilene caiu no chão e bateu a testa na parede. Tonteou. Assustada, continuou por um instante sentada. Célio a olhou com desprezo e falou em tom mais baixo.
— Não permito que mulher me bata! Você é uma traidora!
Não me interesso em saber com quem me traiu. Fique com ele!
— Você não me contou que tinha feito vasectomia — queixou-se a moça.
— Não me perguntou. Por que teria de lhe falar?
Lucilene sentiu medo do namorado, levantou-se, pegou a bolsa, saiu rapidamente e ainda escutou Célio xingá-la.
Ele continuou na sala, estava muito nervoso.
— Vá com ela, Mimi — ordenou Nacrelo. — Pelo jeito, a briga foi séria mesmo. Deixe-a muito ofendida para não querê-lo mais, não desculpá-lo. Mimi saiu e acompanhou Lucilene.
— É isso aí, Célio! — elogiou Nacrelo. — Traiu e ainda queria que criasse o filho de outro! Não perdoe! Não deve vê-la mais! Se não, essa mulher é capaz de enganá-lo novamente.
Célio estava arrasado, tentou prestar atenção na televisão, mas não conseguiu, sentia muita raiva da namorada, agora ex, e não a queria mais.
O namoro acabou.
Simone e Maria Tereza ficaram caladas escutando a discussão.
— Parece que a intrusa se deu mal — falou Simone depois que ouviu Lucilene sair batendo a porta.
"Pelo visto, ela traiu Célio! Bem feito!" — exclamou Maria Tereza.
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