LUZ ESPÍRITA
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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 3 Empty Re: A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 8:06 pm

— Papai fez vasectomia. Eu não sabia. Lu aparece grávida. É isto: aqui se faz, aqui se paga. Traiu tantas vezes mamãe e foi traído.
Maria Tereza tentou falar, não conseguiu, balbuciava somente algumas sílabas, mas, como sentia que a filha caçula a entendia, pensou:
"Quando fiquei grávida de você, Célio e eu conversamos muito, e ele resolveu fazer vasectomia para não termos mais filhos. Três estava bom. Porém, penso que o que ele queria era que nem eu nem suas amantes engravidássemos mais.
Foi óptimo para nós os dois terem terminado esse romance.
Célio deve estar com um humor terrível. Sempre traiu, mas nunca pensou em ser traído. Tomara que ele sofra. Estou muito cansada. Vou para meu quarto. Boa noite, filha. “Beijou sua caçula e foi para seu quarto.
Simone olhou as horas e viu que em trinta minutos Beatriz voltaria para casa. Esperou-a.
"Vou ficar acordada. Assim que ouvir Bia abrir a porta, vou ao corredor e faço sinal para ela vir para o quarto sem passar pela sala. Papai continua lá. Não quero que ele a maltrate. Foi o que fez. Com um sinal, a garota chamou a irmã, que veio rapidamente para o quarto e, quando elas entraram, Simone trancou a porta.
— Bia, papai e Lu brigaram feio e...
Contou a ela.
— Nossa! Que coisa! — exclamou Beatriz.
— Vamos ao banheiro juntas, não devemos fazer barulho para não perturbar papai, ele deve estar com péssimo humor, e sobrará para nós.
Estavam cansadas e foram dormir. Célio ficou até tarde acordado, estava muito nervoso.
Lucilene saiu da casa de Célio sentindo-se muito ofendida, chorava alto. Entrou no carro, tentou se acalmar e foi para casa. Chegando lá, chamou pela mãe, que se levantou apreensiva da cama e se assustou ao ver a filha com um ferimento na testa, que sangrava.
— O que foi, Lu?! 0 que aconteceu?! Você saiu daqui de casa tão contente e volta nesse estado?! — perguntou a mãe, abraçando-a preocupada.
Lucilene, chorando muito, contou à mãe o que havia acontecido.
— Que estúpido! Quer ir à delegacia fazer ocorrência?— Não quero que as pessoas fiquem sabendo que eu apanhei do namorado. É muito vergonhoso. O que mais me dói é que eu com certeza não estou grávida. Porque não traí Célio.
Então não vou ser mãe! Meu sonho acabou!
— Você não deve perdoá-lo! Afaste-se desse homem violento. Se ele fosse uma boa pessoa, teria lhe contado que fez vasectomia. E, se não tivesse lhe dito, explicaria com calma este equívoco diante de sua suspeita de gravidez, e não a teria agredido.
— Não o quero mais, não mesmo! Nunca ninguém antes me tratou assim. Porém, não vou desistir de ter filhos.
— Você sabe minha opinião, não queria que você tivesse se envolvido com Célio, que já tem filhos, muitos problemas e agora demonstrou ser insensível, mal-educado e agressor de mulheres. Por que não dá uma chance para o Francisco?
Gosto dele, e ele, de você.
— Vou pensar nisso.
Conversaram por alguns minutos, a mãe a acalmou e, logo depois, Lucilene percebeu que realmente não estava grávida.
No outro dia cedo, Lucilene resolveu ir à casa de Célio, ela sabia que, nesse horário, todos teriam saído e que somente Rosita estaria lá. Pegou tudo o que queria devolver ao ex-namorado, escreveu um bilhete e foi para lá. A diarista se assustou com a presença da namorada do patrão tão cedo na casa. — Vim aqui — explicou Lucilene — trazer este pacote para o seu patrão: vou deixá-lo em cima da cama dele, pegar minhas coisas e levá-las. Não se preocupe, vou pegar somente o que é meu. Nós brigamos, separamo-nos, e eu não desejo mais vê-lo. Abriu uma bolsa grande, foi ao banheiro e pegou cremes, maquilhagem e, no quarto, algumas roupas.
Rosita a ficou olhando.— Pronto! — exclamou Lucilene. — Peguei tudo. Vou embora. Até logo! Ah, aqui está a chave da casa. Abra a porta e o portão para mim, por favor.
Rosita foi atrás e fechou o portão quando ela saiu.
Lucilene estava muito ofendida e sentia muita raiva do ex-namorado.
"Realmente", pensou Lucilene, "não o quero mais. Acabou! Se não fosse pelo escândalo, tenho vergonha de contar que apanhei dele, o denunciaria. Vou hoje mesmo atrás de Francisco. Pelo menos deste mamãe gosta."
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 8:06 pm

A diarista ficou olhando Lucilene mais por curiosidade e, quando ficou novamente sozinha na casa, decidiu:
"Vou ligar para minha filha para lhe contar a novidade.
Ela gosta de saber o que acontece aqui/'
Ligou.
— Verdade, mãe? 0 casal brigou? Leia o bilhete para eu ouvir. Por favor, mamãe, pegue-o e leia.
— Está bem, menina curiosa! Está escrito: "Célio, de facto, era um alarme falso. Não estou grávida. Ainda bem. Eu que não o quero para pai de um filho meu. 0 coitadinho não merece. Não quero vê-lo nunca mais. Trouxe o que é seu que estava comigo e peguei minhas coisas. Seja muito infeliz.
Adeus!"
— Puxa, a briga foi feia. Obrigada, mamãe! — exclamou a filha de Rosita do outro lado da linha.
A diarista voltou ao trabalho.
Nacrelo contou a Chica da briga do casal, e ela, cautelosa, orientou-os.— Continuem atentos: o trato que fizemos com a cliente é de que eles brigariam e ficariam um mês separados. Depois, se eles voltarem, já não é problema nosso. Vocês terão o que eu lhes prometi, metade agora e a outra metade daqui a trinta dias.
Os desencarnados imprudentes ficaram contentes com o prémio que receberiam. Nacrelo e Mimi se organizaram e planejaram visitar Célio e Lucilene, motivando-os a sentir raiva um do outro e a romperem mesmo.
E os dois, sentindo-se ofendidos e com raiva, tornaram muito fácil o trabalho dos desencarnados encarregados de separá-los.
A filha de Rosita, assim que desligou o telefone, ligou para Irene.
— Dona Irene, tenho uma notícia, penso que vale aquele vestido preto.
— Se for realmente boa, ele é seu — afirmou Irene.
— Mamãe me contou que o senhor Célio e a namorada terminaram, e a briga foi séria porque ela foi lá hoje cedo e...
Contou até do bilhete. Irene se alegrou.
— Pode vir buscar o vestido a hora que quiser e vou lhe dar também aquela blusa que gostou.
Despediram-se.
— "Dona Chica", pensou Irene, "cobra caro, mas resolve.
Vou telefonar para ela'1.
E o fez. Chica atendeu-a bem, como fazia com todos os clientes e falou que já sabia.
— Irene — disse Chica —, você sabe como funciona: nosso trabalho os fez brigar, e a garantia é de que os dois fiquem um mês separados. Depois disso, se voltarem e você quiser separá-los novamente, é outro trabalho.
— Tudo bem, dona Chica, espero que eles não voltem, mas, se reatarem, pensarei. Obrigada.
Desligou o telefone.
"Como dona Chica explora!", pensou Irene. "Espero que Célio e Lucilene se separem mesmo e não voltem mais a namorar. Ele agora está livre. Talvez seja o momento de contar ao meu ex-amante sobre Beatriz. É isso! Vou lá no curtume, mando chamá-lo e conto para ele. Vou me arrumar."
Deu algumas ordens para sua funcionária e foi ao curtume. Na portaria, pediu para chamar Célio, deu o nome de Rosita e o esperou no estacionamento.
Célio se preocupou ao receber o recado e ficou curioso.
"O que será que minha diarista quer? Pago-a por mês e ainda falta uma semana e meia para o dia do pagamento.
Deve ser isto, precisa de dinheiro e veio me pedir um adiantamento. Será que devo atendê-la? Mas e se for outra coisa? Algo sobre meus filhos? Será que algum deles aprontou? Fez algo de errado e Rosita veio me contar? Vou lá ao estacionamento ver o que ela quer."
0 estacionamento do curtume era no meio de várias árvores para dar sombra aos carros. Célio olhou, viu uma mulher do lado esquerdo e rumou para lá. Ao se aproximar, viu o carro de Irene e sentiu raiva por ser enganado e por ela o procurar no trabalho.
— Oi — cumprimentou Irene.
— Olá — respondeu Célio sério. — 0 que quer? É você a Rosita?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 8:06 pm

— Se desse meu nome, você não me atenderia e preciso falar com você.— Pois então fale logo. Não tenho tempo, estou trabalhando.
— Antes você se encontrava comigo no horário de trabalho. Não vim aqui para discutir. Preciso lhe falar.
— Você já disse isso! Fale! — exclamou Célio.
— Vi Bia com o senhor Nestor outro dia almoçando num restaurante e soube que os dois estão namorando.
Irene fez uma pausa. Célio permaneceu calado, olhando--a com desprezo. A moça sentiu o desprezo dele, aborreceu--se, mas continuou a falar:
— Célio, preocupo-me com sua filha. O senhor Nestor é velho demais para ela. Depois, ele nunca levou nenhuma mulher a sério, namora por uns meses e as abandona. Ele tem um jeito muito suspeito. Nunca ouvi falar que ele tenha tido envolvimento com outros homens; se tivesse, penso que eu saberia porque costumo saber de tudo. Já me interessei por ele, isto foi anos atrás. Tenho motivos para pensar que algo anormal acontece com o senhor Nestor. Não sei se você sabe que Bia o está namorando e...
— Basta! — interrompeu Célio. — Já escutei demais!
Você não tem nada com o que acontece comigo e com a minha família! Meus filhos são problema meu e não seu!
Xingou-a. Irene, indignada, reagiu xingando-o também, trocaram ofensas. Ela, irada, deu com a bolsa no rosto dele, e o metal machucou-o perto do olho e da boca. Célio revidou dando um forte empurrão em Irene, o que a levou a bater as costas e a cabeça no seu carro e cair no chão, onde ficou encostada na roda dianteira do veículo.
— Saia daqui! — gritou Célio. — Se em três minutos não estiver fora do estacionamento, mandarei os seguranças colocarem-na para fora. Virou as costas, entrou no prédio, foi ao banheiro, lavou o rosto e fez dois curativos para estancar o sangue. Estava irado.
"Por que será que atraio mulheres que não prestam? Vou prestar mais atenção na próxima vez. Se não fosse complicar minha vida, surraria Irene até deixá-la machucada Ainda muito nervoso, voltou ao trabalho, procurou se distrair e nem por um segundo pensou no que a ex-amante havia lhe falado sobre o namorado da filha.
Irene levantou-se, estava muito nervosa e ofendida. Entrou no carro, saiu logo do estacionamento e foi para casa.
Sua blusa estava rasgada, tirou-a e se olhou no espelho: suas costas estavam vermelhas, tinha arranhões no braço direito e um galo na cabeça.
"Célio merece outra lição! Fui falar com ele preocupada com o bem-estar de sua filha e me trata assim. Mas, desta vez, não gastarei dinheiro com ele, não será dona Chica que lhe dará um correctivo, serei eu! Sei muitas coisas sobre ele e vou usar o que eu sei. Ele me paga!"
Passou remédio nos arranhões, tomou um comprimido para dor e telefonou para o curtume.
— Por favor — pediu Irene para a telefonista —, gostaria de falar com o senhor Jorge. É do banco.
Jorge era um dos cunhados de Célio com quem tinha mais atrito. Não esperou muito e, Jorge atendeu.
— Sim! Pois não!
— Senhor Jorge, não desligue, por favor, não é do banco.
Quem está falando é Irene, a ex-amante do seu cunhado Célio. Preciso falar com o senhor, é urgente.
Jorge escutou e pensou: “O que será que essa mulher quer comigo? Talvez seja algo contra Célio. É melhor atendê-la."
— Não vou desligar — respondeu Jorge educadamente.
— Vou atendê-la. Pode falar.
— Podemos nos encontrar agora? — perguntou Irene.
— Com certeza. Que tal nos encontrarmos no Café do Alemão? Sabe onde é? Fica perto do curtume.
— Pode ser daqui a trinta minutos?
— Estarei lá — afirmou Jorge. — Até logo!
Jorge ficou pensativo, informou que ia sair, foi para o bar e esperou pela ex-amante do cunhado.
Irene, depois que telefonou, trocou de roupa, vestiu uma blusa de mangas longas para esconder os arranhões e, decidida e com muita raiva do ex-amante, foi para o bar.
"Célio merece outra lição!", pensou Irene. "Poderia ter sido educado. Mesmo se não quisesse interferência, poderia dizer somente que eu não tinha nada com isso e se despedido. Não precisava ofender-me daquela maneira nem ter me empurrado. Vou contar tudo o que sei para o senhor Jorge.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 8:07 pm

Com certeza, a vida dele ficará pior."
Chegou pontualmente no bar e viu Jorge esperando-a.
Ele levantou-se para cumprimentá-la.
— Sente-se, por favor. Posso pedir um café para você? Cappuccino?
Fez o pedido, e Irene foi directo ao assunto.
— Obrigada por ter vindo conversar comigo. Vou directo ao assunto: tenho de trabalhar e o senhor também. Deve saber que Célio e eu fomos amantes por muitos anos. Sei de muitas coisas dele. E, por ter sido ofendida, resolvi falar o que ele fez. “Ela deve mesmo" pensou Jorge, "saber que Célio faz algo de errado e, pelo que senti, deve ser no curtume. Vou ser gentil com ela."
— Sinto muito por você ter sido ofendida. Mas, tratando-se do Célio, não me surpreendo. Sinta-se à vontade. Escutarei com prazer. Por favor, fale. Conte-me o que a chateia.
Irene se sentiu à vontade e, tomando seu cappuccino, contou:
— Sei que Célio não é bom pai. Sabe que Simone está doente?
— Não, não sabia — respondeu Jorge.
— Pois está. Não sei o que a garota tem, a irmã que cuida dela. Foi sobre Bia que fui falar com Célio. A mocinha está namorando um velho que tem fama de namorar e não casar e também tem um jeito um tanto efeminado. Resolvi contar para Célio, mas, pelo jeito, ele já sabia e não se importou com os meus comentários, isto porque o namorado de Beatriz é rico. Aí ele me ofendeu. Mas vamos ao que interessa. Célio rouba o curtume.
— Como? — perguntou Jorge.
— Ele atende alguns clientes, não atende?
— Sim — respondeu Jorge.
— Tem dois clientes, isto que eu sei, que compram pouco com nota fiscal, porém compram outro tanto sem nota e abaixo do preço, e o dinheiro fica para ele.
— Nossa! — exclamou Jorge.
— Sei até os nomes desses clientes, são... — Irene falou os nomes.
Jorge não gostava de Célio, achava-o arrogante, mas não desonesto a ponto de roubar. Disfarçou seu espanto, sorriu e agradeceu.— Muito obrigado. Sua informação é preciosa.
— Tomará providências, não é? — Irene quis saber.
— Sim, claro! Pode ter certeza de que ele não roubará mais.
— Já é alguma coisa! — Irene suspirou. — Ficará com menos dinheiro. Doerá em seu bolso. Queria mesmo que todos soubessem e que ele fosse preso.
— Prometo a você que a vida dele no curtume não será fácil! — falou Jorge.
— Já é alguma coisa.
— Vou pagar a conta. Deseja mais alguma coisa? Quer um lanche?
Irene resolveu comer um bolo, fez o pedido. Jorge se despediu, pagou a conta e foi embora.
Chegou ao curtume, reuniu-se com seu irmão Octávio, contou-lhe tudo o que escutou de Irene e, juntos, planejaram algumas providências.
— Meu filho — disse Jorge — ficará no sector de entrega de mercadoria com Célio. Direi ao nosso cunhado que Jorginho está aprendendo, porém ele ficará atento ao que nosso sócio está fazendo. Vamos já colocar um empregado para fiscalizar tudo o que sai da produção para o sector de venda. Teremos um empregado a mais, porém já deveríamos ter feito isso. Quando esses dois clientes vierem aqui, devo ser informado, irei cumprimentá-los e acompanharei a venda.
— Teremos de contar à mamãe! — exclamou Octávio.
— Sim — concordou Jorge —, e a forçaremos tomar uma atitude. Não podemos ficar com um sócio ladrão. Vou telefonar para mamãe e marcar com ela um encontro. Iremos no domingo à tarde, somente nós dois, falar com ela.
— Seria interessante — opinou Octávio — armarmos um flagrante, mas não podemos fazer isto. Não será nada bom para nossos negócios ter um escândalo no curtume. Depois, não temos provas, e estes clientes, que são também desonestos, comprando muito mais barato, com certeza negarão, pois estão levando vantagem. Vamos impedi-lo de continuar agindo errado. Célio não presta mesmo!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 8:07 pm

— Espero que essas providências dificultem Célio de continuar roubando o curtume.
Colocaram em acção o que decidiram naquela tarde.
Irene pensou que Jorge fosse mandar prender Célio, mas ficou contente por ele ter acreditado nela e também por ele ter prometido dificultar a vida do ex-amante no curtume.
"Com certeza, ele não conseguirá vender e ficar com o dinheiro. Conhecendo Célio, a dor pior para ele é essa. Terá menos dinheiro."
Satisfeita, foi para sua loja e lá ficou sabendo que sua informante já tinha ido buscar as roupas.
"Célio só me dá prejuízo! Prometo a mim mesma que acabou! Juro! Nem dona Chica nem a informante! Não vou gastar nem mais um centavo com ele. Não quero nem saber dele!"
Decidida, resolveu cumprir seu juramento.

10 - N. A. E.: Alerto que nem todas as brigas, discussões, são incentivadas por desencarnados como nesta narrativa. Na maioria dos cenários dos desentendimentos estão somente os encarnados.
Discussões, brigas, acontecem por causa de nossas imperfeições, de melindres, por querermos ofender e por nos sentirmos ofendidos. Em todas as situações, o melhor seria usar o bom senso e conversar tranquilamente e com fraternidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 8:07 pm

11 º CAPÍTULO - Final de semana
Irene recebeu um telefonema do amante. Pediu para sua funcionária ir para os fundos da loja para falar ao telefone.
Logo percebeu que ele estava diferente.
— Irene — disse o amante —, estou terminando com você. Não vamos nos encontrar mais.
— Por quê? 0 que eu fiz que o desagradou?
— Se quer saber mesmo, vou lhe dizer. Contaram-me que você frequenta a casa de uma mulher macumbeira. Tenho medo dessas coisas. Fiquei pensando que você pode mandar fazer algo de mau a mim ou à minha família.
— Isso é mentira! — exclamou Irene.
— Quem me contou não mente. Viu você ir lá.
— Fui somente ler a sorte.
— Irene, foi bom enquanto durou, mas acabou. Por favor, não insista. Não me ligue mais, não venha atrás de mim, se não...
— Está me ameaçando? — Perguntou Irene indignada.
— Não, claro que não. Porém, estou sendo taxativo.
Acabou! Não será bom você insistir — ele falou com tom ameaçador.— Não farei isso!
— Óptimo! Tchau!
Irene desligou, chamou a funcionária, foi ao banheiro, chorou e lastimou:
— Sou tratada como um papel velho que, usado, não serve para mais nada! Mandei fazer um trabalho para separar Célio e Lucilene e parece que recebi o troco, meu amante separou-se de mim. Já tive dificuldades para arrumar este.
Estava até entusiasmada com o relacionamento. Sem o dinheiro que ele me dava, vou ter de ser económica e me dedicar mais à loja.
Chorou bastante. Sentia-se infeliz. Naquele momento, decidiu não fazer mais nada de ruim para ninguém, porque sentia que estava recebendo de volta o que fazia.
"Quero", pensou Irene decidida, "arrumar outro amante, mas prometo pra mim mesma não ir mais à casa de dona Chica". Beatriz estava vendo a irmã piorar e não sabia o que fazer. Conhecendo o pai, entendia que naquele momento não poderia contar com sua ajuda. Seu genitor estava passando por muitos problemas, não falava com ninguém em casa.
"Ontem, sexta-feira, papai deve ter ido a um bar, pois o escutei chegar tarde da noite e, pelo barulho, estava bêbado."
Deixou, naquela manhã de sábado, a irmã dormindo e foi trabalhar. Disfarçou sua preocupação ao ver o namorado, sorriu toda dengosa para ele e entrou na loja.
Seu namoro estava indo muito bem. Embora não pudessem se encontrar como antes, aproveitavam os momentos que estavam juntos e era muito agradável conversar com ele.
Nestor buscava-a na escola, às vezes comiam lanche ou iam directo para casa, despediam-se com um beijo. Não queria falar de suas preocupações com o namorado, este assunto devia ser chato e não queria desagradá-lo em nada. Nestor não tinha nada a ver com isso.
"Nestor não é o namorado que pensava ter ou com quem sonhava. Mas gosto dele" pensou a garota.
Entrou na loja e foi com as colegas organizar o local. Sábado sempre tinha muito movimento. A proprietária foi ajudar e se aproximou dela.
— Bia, você está preocupada? 0 namoro está dando certo?
— Nestor e eu estamos nos dando muito bem, estamos namorando sério, gosto dele. Estou preocupada com minha irmã.
— Ela não melhorou? Você levou-a ao médico, foi com ela fazer exames... O que ela tem que a preocupa tanto?
— Os exames deram que Simone tem somente uma anemia, está tomando remédios, mas não melhorou.
— É muito pouco tempo para os remédios fazerem efeito. O médico não pediu para retornar?
— Doutor Haroldo disse que, se ela não melhorar em vinte dias, para levá-la de novo ao consultório.
— Faça isso, então. Se Simone não melhorar em vinte dias, vá com ela novamente ao médico. Não se preocupe, ninguém sara da noite para o dia. Espere a medicação fazer efeito.
Beatriz agradeceu. Gostou dos conselhos. De fato, não havia dado tempo para os remédios agirem no organismo de sua irmãzinha.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 8:07 pm

"Como é bom conversar com uma pessoa coerente, com mais experiência!1', pensou a garota. "Vou ter paciência, ser agradável com Simone e dar tempo para a medicação agir. Gostaria de falar isto tudo que está acontecendo com vovó.
Mas vó Laís não nos quer, talvez nem queira saber que Simone está adoentada. É melhor aguardar a raiva de papai passar e aí, sem Lucilene dando palpites, quem sabe ele preste mais atenção em nós, na minha irmã..."
O sábado foi movimentado, almoçou com Nestor, e combinaram de sair à noite para ir ao cinema e levar Simone.
Simone não queria ir, Beatriz insistiu até que a garota concordou. Beatriz maquiou a irmã para disfarçar sua palidez. No cinema, Simone encontrou as amigas; na saída, reencontraram-se e foram jantar.
Nestor, como sempre, foi gentil, e o passeio transcorreu muito agradável.
"Bia", pensou Nestor, "será uma boa esposa: é bonita, saudável e será uma boa mãe. Gosto dela e também de Simone.
Elas serão felizes no meu lar".
Já era tarde quando as deixou em casa.
Maria Tereza estava se sentindo pior, não de saúde, estava até andando mais rápido, mexia um pouco mais o braço direito e falava separando as sílabas e com muita dificuldade, mas falava. Porém, estava se sentindo confusa e não conseguia entender direito o que estava se passando em sua casa.
"Foi bom", pensou Maria Tereza, "Célio e a intrusa terminarem esse envolvimento. Porém, ele está nervoso, inquieto, pior que antes. As meninas parecem não me ver, ignoram-me. Isto é que me preocupa. Por que isto? Será consequência de minha doença? Será que estou sonhando?
Penso que estou acordada. Será que não estou? Por que elas não falam comigo? Somente Simone parece me entender. Ela está adoentada e não consigo ajudá-la. Que situação complicada! Ainda bem que as meninas saíram, elas precisam se distrair. Vou dormir.
Meu sono também não é como antes, dormia mais. Ai, meu Deus, que vida!"
Acomodou-se no seu leito e dormiu.
Lucilene telefonou para Francisco, foi simpática, contou que terminou o namoro e mentiu:
— Percebi que não gostava dele, e não adiantou ele insistir, terminei o namoro.
Combinaram de sair e, no sábado à noite, ela foi com Francisco num local onde sabia que amigos de Célio a veriam e contariam a ele. Tentou ser agradável e se distrair, conversaram animados. Francisco contou que morava com os pais, não tinha namorada e que gostava dela há algum tempo.
Lucilene prestava atenção e o observou. Ele devia ser mais novo que ela, não era bonito, tinha a voz clara e falava muito bem, era locutor, não ganhava muito.
"Talvez ele seja um bom pai!" pensou Lucilene. 'Ainda estou sentida com Célio. Devia ter esperado mais para me envolver com outro. Estarei sendo apressada? Mamãe acha que não, ela deve saber mais do que eu sobre o que fazer e me aconselhou a sair com Francisco. Depois, quero ser mãe e tem de ser logo. Vou conquistá-lo."
No final do encontro, estavam namorando.
Júnior estava muito contente, agora morava num bom local, tinha dinheiro para sair e comer melhor. No sábado convidou Ney para almoçar.— Amigo, como prometi, pagarei o almoço para você no sábado e no domingo. Vou ficar somente com três aulas, as outras passarei a você e farei os planeamentos delas. Aprendo muito quando as preparo.
— Não sei como agradecê-lo. Obrigado! — Ney agradeceu.
— Mamãe falava que recebemos o que fazemos. No meu caso, recebi e tenho de fazer algo em troca. Depois, não quero mais entregar drogas e gostaria que você não o fizesse mais.
Ajudando-o, sei que entregará menos.
Júnior decidiu mesmo ajudar o amigo.
Telefonava quase todos os dias para sua avó, ligava a cobrar. À tarde, comprou fichas telefónicas e ligou para Pedro, queria saber notícias de Murilo.
— Murilo — contou Pedro — na terça-feira foi transferido de clínica, seus pais arrumaram outra melhor. Dizem que esta é cara. Lá, afirmaram que ele fará um bom tratamento, terá muitas actividades, como desportos, e terá de trabalhar.
Estamos todos esperançosos de que nosso amigo sairá dessa.
Júnior se despediu sentindo-se aliviado. Com certeza, Murilo sararia. No domingo pela manhã, calculando que as irmãs estariam em casa, ligou e foi Simone quem atendeu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 8:07 pm

— Ju, como está?
— Estou bem, muito bem. E vocês?
A garota contou que o pai e Lucilene haviam terminado.
— Isso é óptimo! — exclamou Júnior. — Embora ache que papai logo arrumará outra.
Quis saber delas. Simone falou que estavam saindo, deu notícias de amigos e não contou que estava adoentada.
Despediram-se, os irmãos ficaram contentes por ter conversado. Célio levantou-se, tomou o café e comunicou às filhas:
— Vou fazer compras para a casa e trazer o almoço pronto. Não precisam fazer nada.
E foi numa dessas compras que ficou sabendo que haviam visto Lucilene com um moço e que pareciam estar namorando. Ele disfarçou, mas ficou com mais raiva dela.
"Deve ser o cara" pensou Célio, "com quem estava me traindo. Escreveu no bilhete que não estava grávida. Com certeza escreveu aquilo somente para parecer honesta. Deve estar grávida e arrumou outro para pai ou de fato o genitor é ele. Não devo pensar mais nela"
Comprou comida melhor do que de costume e almoçaram calados. À tarde saíram: Célio foi para o bar, Beatriz foi se encontrar com Nestor, e Simone saiu com as amigas.
Como haviam marcado, à tarde, no domingo, Jorge e Octávio foram à casa da mãe. Laís os esperava apreensiva, os filhos não costumavam visitá-la muito e, quando faziam, vinham separados e normalmente com alguém da família, esposa ou filhos. Os dois juntos, com certeza, era para resolver algum problema, e deveria ser algo sério.
Fez o café, arrumou a mesa com bolos e bolachas e os esperou.
Os filhos chegaram, cumprimentaram-na carinhosamente e tomaram café trocando notícias.
— Mamãe, disse Jorge — viemos aqui para lhe contar algo desagradável. Irene, a mulher que foi amante de Célio por anos, me telefonou e fui me encontrar com ela.— Jorge! — repreendeu Laís. — Não deveria ter ido.
Teté sofreu muito por causa dela.
— Minha irmã sofreu por causa do marido — Jorge se defendeu. — Fui ao encontro porque senti que ela tinha algo para me dizer. A senhora sabia que Simone está doente?
— Doente? Não sabia. 0 que ela tem?
— Não sei — respondeu Jorge. — Pensei que a senhora soubesse. Pelo jeito, Irene está bem informada. Contou-me também que Bia está namorando. Jorginho me confirmou, meu filho me disse que viu a prima no cinema com um senhor. A ex-amante de Célio afirmou que foi alertá-lo sobre isto, do namoro de Bia, e eles brigaram. A briga foi agressiva porque Célio estava com dois curativos no rosto, e o segurança me contou que o viu empurrá-la contra o carro. O facto é que Irene, ofendida, se vingou dele.
— Mamãe — interrompeu Octávio —, Célio nos rouba.
Já tomamos algumas providências para que isto não ocorra mais. Pelo jeito, há tempos ele pega indevidamente dinheiro do curtume.
Contou à mãe. Laís se entristeceu. De fato, como previra, era um problema bem complicado.
— Ontem — falou Jorge —, sábado pela manhã, um dos clientes citados foi ao curtume. São poucos os clientes que vêm pessoalmente buscar mercadorias, a maioria compra e nós entregamos. Fui informado e me dirigi à seção de entrega. Fingi querer saber como o cliente estava passando, como estava a sua sapataria e fiquei conversando. Percebi que Célio e ele não gostaram, mas meu cunhado não teve como se livrar de mim. 0 cliente comprou pouco.
— Como estamos actualmente — opinou Octávio —, coma senhora sendo a sócia da maioria das acções, ainda podemos conter Célio. Mas e no futuro? Serão três sócios com a mesma quantidade de acções. Seus herdeiros serão os netos, mas, com o documento que Maria Tereza e ele fizeram, serão de Célio. Mamãe, por favor, não podemos ficar com Célio no curtume. Já pensei até em vender minha parte e começar um negócio somente meu.
— Não, filho, não faça isso — pediu Laís. — Seu pai queria que vocês administrassem o curtume.
— Queria nós dois! — exclamou Jorge.
— O que querem que eu faça? - perguntou Laís.
— Já falamos sobre isso — respondeu Octávio. — Passe para nós dois suas acções do curtume.
Calaram-se por um momento, ficaram os três pensativos.
"Talvez", pensou Jorge, "devamos chantagear mamãe.
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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 3 Empty Re: A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 8:08 pm

Quem sabe se ameaçarmos vender nossas partes no curtume ela tome uma atitude?"
Octávio pensou: "Mamãe está muito indecisa. Devemos forçá-la. Não é certo Célio receber a herança como nós dois!
Ainda mais agora que descobrimos que nos rouba. Não conseguimos provar, porém tenho a certeza de que isso ocorreu".
"Meu Deus!", clamou Laís. "0 que faço? 0 pedido dos meus filhos é justificável. Ninguém gosta de Célio. Mas será justo com Maria Tereza? Vou pedir para eles um tempo para pensar."
— Vou pensar — falou Laís.
— É sempre assim — queixou-se Octávio —, falamos disso com a senhora e nos responde que pensará. Mas, pelo jeito, não pensa.
— Mamãe, agora é diferente. Não entende? — Perguntou Jorge. — Célio nos rouba e, pelo jeito, há muito tempo. Tudo bem, pense. Mas resolva logo. Porque, infelizmente, se a senhora não tomar uma atitude, seremos nós dois a sair do curtume. Venderemos nossas acções para um terceiro, já que a senhora não tem condições de comprá-las nem Célio.
Despediram-se friamente. Laís ficou arrasada.
"Jorge e Octávio querem minha parte no curtume. Seria o melhor, mas e Maria Tereza? Como resolver este problema?
Será que Simone está mesmo doente? Por que Beatriz está namorando um homem mais velho que ela? Estará apaixonada?"
Telefonou para a casa da filha e foi Simone quem atendeu.
A garota tratou a avó com educação, mas foi seca com ela.
— Como está passando Simone? — perguntou Laís.
— Muito bem, obrigada. Estamos todos bem. E a senhora, como está?
— Eu tenho tido dores, estou preocupada e...
— Vovó — interrompeu a garota —, vamos sair, minhas amigas me chamam no portão. Tchau!
Desligou.
"Não quero escutar lástimas", pensou Simone. "Não se importou connosco, então não devemos nos importar com ela.
Não vou contar para Bia que vovó ligou, ela é boa demais e quererá saber o que vó Laís tem e escutar suas lamentações.
Vou sair"
"Simone", pensou Laís, "não me deu atenção. Estará mesmo adoentada?"
Muito aborrecida, preocupada, ficou inquieta, andando pela casa. Não sabia o que fazer. Simone saiu mesmo com as amigas. Beatriz deu dinheiro para ela. Mesmo com as colegas, Simone se sentia cansada, desanimada, estava calada e logo as garotas perceberam.
— Si, você está doente? — quis Mariana saber.
— Você tem estado calada, parece aborrecida — observou Érica.
— Não quer nos contar o que está acontecendo com você? — perguntou Luiza.
Por alguns instantes, Simone sentiu vontade de dizer às amigas o que estava acontecendo. Mas não o fez, sentia vergonha de falar, ela mesmo não conseguia entender o que sentia.
— Não tenho nada — respondeu —, hoje estou com dor de cabeça.
"Devem ser os muitos problemas que ela tem em casa", pensou Mariana.
— Vocês viram o vestido da Helô? — Mariana preferiu mudar de assunto para não constranger a amiga.
Simone não acompanhou as amigas ao parque, deu uma desculpa, foi para casa e ficou vendo televisão deitada no sofá; sentia-se cansada e muito triste.
Armando foi ao trabalho voluntário, que, como sempre, foi muito proveitoso. Fazendo a tarefa junto à Verónica, ficaram conversando.
— Vamos comer uma pizza mais tarde? — Armando convidou Verónica.
— Aceito.
Combinaram. Às dezanove horas ele passou na casa dela e foram a uma pizzaria. Conversaram, falaram de suas vidas.— Se não fosse pela Doutrina Espírita — contou Armando —, meu sofrimento com certeza seria muito maior.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 16, 2022 8:08 pm

Minha esposa e eu cuidamos muito de nossa filha. E foi na doença dela que procuramos o espiritismo e nos tornamos espíritas. Quando minha filhinha desencarnou, eu fiquei arrasado, muito triste, e minha esposa me consolou: "Armando'1, disse ela, "o que você quer para nossa filha?" "Que ela esteja feliz!", respondi. "Será que nossa menina ficará bem sabendo que está assim? Sofrendo desse jeito?" "Não, penso que não", respondi. "Então", disse minha esposa, "meu querido, fique como ela gostaria". Esforcei-me para ficar melhor. Fiquei bem por amor a ela. E, quando minha mulher desencarnou, após ter ficado meses doente, eu me esforcei novamente, porque sabia que minha companheira de anos de casamento, com certeza, desejaria me ver alegre. Quem ama deseja que o outro sempre esteja bem.
Os dois se entenderam. Aquele que passa por uma dor parecida compreende o outro.
— E você? — perguntou Armando. — É espírita há muito tempo?
— A dor me levou a procurar o espiritismo — contou Verónica. — Namorei Ronaldo muito tempo. Tínhamos alguns desentendimentos, mas gostávamos muito um do outro. Planejamos nos casar assim que tivéssemos condições financeiras. E, quando concluímos que poderíamos ter nossa casa, resolvemos noivar e marcar o casamento. Para colocarmos a aliança, mamãe fez um almoço num domingo em que nossas famílias se reuniriam. Meu namorado morava com os pais num condomínio afastado da cidade. Seus pais vieram de carro e saíram na frente, ele viria de moto, que era sua paixão, gostava muito deste veículo, que agora considero perigoso c com o qual tantos acidentes têm acontecido. Meus sogros chegaram à minha casa e esperamos por Ronaldo. Como demorou, preocupamo-nos. 0 telefonou tocou, era alguém avisando que Ronaldo havia se acidentado e sido levado para o hospital. Fomos para lá. Ele já estava morto. Desencarnou na colisão. Sofri muito. Foi uma das minhas tias que me levou ao centro espírita, não queria ir, ela me forçou, e lá, assistindo às palestras, lendo livros, comecei a compreender que todos nós desencarnaremos e que alguns vão primeiro que outros e que essa mudança de plano não é castigo, mas, sim, algo natural. Voltei a estudar, fiz um curso universitário, tenho um bom emprego e não namorei mais ninguém firme.
Sou grata a Deus por ter conhecido o espiritismo.
Foi uma noite agradável. Simpatizaram muito um com o outro e se comprometeram a sair mais vezes.
Pela primeira vez, Armando se interessou, depois de sua viuvez, por alguém, e com Verónica aconteceu o mesmo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 9:10 am

12 º CAPÍTULO - Nos dias seguintes
Laís não dormiu bem à noite. Sentiu vontade de telefonar para Beatriz, mas, se o fizesse, teria de ligar para a loja onde ela trabalhava e não queria incomodar.
"Simone tem razão em não querer falar comigo. E se ela me disser que está doente, o que eu faço? 0 que poderei fazer?1'
Passou o dia inquieta e aguardou com ansiedade a noite para se encontrar com Armando.
"Ele é, para mim, quase desconhecido, mas gosto e confio nele. É neutro e talvez possa me aconselhar. Vou contar a ele o que me preocupa."
Armando foi pontual e entregou à sua anfitriã um pacote.
— Trouxe para a senhora!
Laís abriu, era um livro.
— 0 Evangelho segundo o espiritismo, de Allan Kardec! É um livro espírita?
— Sim — respondeu Armando —, é uma obra-prima, uma luz no nosso caminho. A senhora gostará.
— Obrigada, vou lê-lo. Colocou-o em cima de um móvel e o convidou para jantar.
Armando, assim que chegou, percebeu que Laís estava muito nervosa. Temendo ser indiscreto, aguardou que a dona da casa falasse. 0 jantar estava como das outras vezes, delicioso.
0 convidado elogiou:
— A senhora cozinha muito bem. Este arroz está muito saboroso.
Laís sorriu e indagou:
— Posso lhe perguntar uma coisa? — Não esperou pela resposta, continuou. — Penso que você, sendo espírita, pode me explicar algo que não entendo. Porém, se não tiver nada a ver com o espiritismo, pode me dizer que compreenderei.
— Se puder e souber, terei prazer em explicar — falou Armando.
— Minha funcionária, a mulher que me ajuda nos serviços da casa, me contou que foi num local onde se pode conversar com espíritos, com as almas dos mortos, e que meu marido havia me mandado um recado. Entendi o que ele quis me dizer, porém fiquei em dúvida e depois não acreditei, por que ele não se expressava da maneira como foi dado o recado. Meu esposo falava correctamente e muito bem.
— Dona Laís — Armando tentou elucidá-la —, a senhora já pediu para alguém dar um recado a outra pessoa e esta não repetiu exactamente o que foi dito? Talvez tenha repetido o conteúdo, a essência, mas não foi fiel nas palavras.
Lembra-se de algum?
Laís pensou, sorriu e falou:
— Na semana passada, pedi para minha funcionária dizer ao jardineiro que podasse menos as hortênsias porque queria as plantas mais robustas. E, por acaso, tendo ido pegar algo perto da janela, escutei-a falar ao jardineiro: "Senhor João, dona Laís pediu para cortar menos essas flores porque ela quer as hortênsias mais fortes e rosadas". "Rosadas?
Hortênsias não ficam rosadas!" exclamou o senhor João.
"Bem, se não for rosadas é algo parecido", disse minha funcionária.
"Não teria sido mais cheias?", o jardineiro queria entender o recado. "Talvez seja", respondeu minha auxiliar.
— A senhora compreendeu, recados são recados — Armando sorriu. — Repetem o que se entende. Talvez sua funcionária não soubesse o significado de "robusta", palavra que não costuma usar; achando que poderia ser "rosada", a substituiu. Normalmente, a pessoa que repete o recado o faz com palavras que costuma usar, de que tem conhecimento. 0 que importa é o que ele quis dizer. No caso sua ajudante, repetiu que era para podar menos a planta. 0 intercâmbio entre os dois planos, o espiritual e o físico, é ainda mais difícil.
0 médium, o medianeiro, tenta pegar o conteúdo principal, mas ele usa de seus conhecimentos para repetir.11 Substitui palavras que ele não conhece pelas que costuma usar e às vezes pode florear o que foi dito. 0 importante é transmitir a essência.
— Entendi — Laís foi lacónica.
Terminaram o jantar, foram para a sala.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 9:11 am

— Preciso — disse Laís — conversar com você, quero sua opinião e conselho. Pode me ouvir?
— Sim, dona Laís. Percebi que está muito preocupada.
— Estou agoniada.
Falando devagar, Laís contou ao amigo do pedido, quase chantagem, dos filhos, de sua indecisão, e finalizou:
— Faz um ano que meu esposo me mandou o recado que, agora com sua explicação, compreendo melhor. Ele mandou me dizer: "Dona Laís (ele não me chamava de 'dona'), faça o que eu não fiz. Deixe o curtume para quem eu quero". Foi somente isto.
— E a senhora sabe para quem ele queria deixar o curtume? — perguntou Armando.
— Para os filhos, para os dois homens. Ele falava isso, que ia tomar providência, fazer isso ou aquilo, e não fez.
Morreu, o inventário foi feito: eu fiquei com cinquenta por cento do curtume.
— 0 que a impede de fazer o que seus filhos querem?
— Ser injusta com Maria Tereza — respondeu Laís.
— A senhora tem outros bens? 0 que mais a senhora tem?
— Tenho imóveis. Herdei-os de meu pai e, antes de casar, meu progenitor fez um documento em que meu esposo teve de assinar que esses imóveis seriam somente meus.
Depois, fiquei com esta casa e com mais dois apartamentos.
— Se a senhora passar esses bens para os filhos de Maria Tereza seria mais ou menos o mesmo que sua parte do curtum? — Armando quis saber.
— Seria menos. Mas se passar esses bens para meus netos e der aos meus filhos minha parte do curtume, fico sem
nada!
— Sou advogado. Embora trabalhe em outra área, entendo um pouco de leis. A senhora não precisa ficar sem nada.
Faça como Maria Tereza fez: passe todos os seus pertences
para os filhos de Teté, mas estes serão deles somente comsua desencarnação, quando o corpo físico da senhora morrer. Pode também vender suas acções do curtume. Seus filhos a pagarão em prestações.
— Será que dará certo? — indagou Laís esperançosa.
— Conheço um advogado que, pelas informações, é honesto. Com certeza ele poderá atendê-la. Quer que eu marque uma consulta?
— Por favor, faça isso — pediu Laís.
— Vou fazer isso agora. Posso usar seu telefone?
Armando telefonou, encontrou o advogado em casa e marcou um encontro com ele no outro dia às nove horas.
— Pronto, dona Laís, amanhã falará com o advogado.
— Você não pode ir comigo? Sei que está nesse horário trabalhando, mas gostaria que estivesse comigo. Confio em você!
— Vou, sim! Dona Laís, não ficará barato fazer esse processo. A senhora tem dinheiro? Desculpe-me a intromissão, mas, se quer minha ajuda, tenho de saber alguns detalhes.
— Tenho, sim. Possuo dinheiro aplicado, tenho poupança. Posso também deixar o que restará para os filhos de Teté.
— Vou ajudá-la a ser o mais justa possível — prometeu Armando.
Laís pegou o livro que ganhou, folheou e abriu nas últimas folhas.
— São orações! — exclamou Laís.
— Sim, temos alguns modelos.
Armando pegou 0 Evangelho segundo o espiritismo das mãos de Laís.
— Esta aqui talvez possa ajudá-la neste momento.
Devolveu o livro para ela.
— Para pedir um conselho?12 Realmente, é o que preciso Laís leu em voz alta:
— "Quando estamos indecisos de fazer ou não..."
Ao acabar, ela fez uma pausa e depois comentou:
— Parece que isto foi escrito para mim. Escute este pedaço: "Aquilo que eu hesito em fazer pode trazer prejuízo a outra pessoa?" E este outro: "Se agissem assim comigo, eu ficaria satisfeito?" Vou tentar fazer o que devo sem prejudicar ninguém. Vou orar muitas vezes essa prece. Vou pedir inspiração e dirigir meus pensamentos para o bem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 9:11 am

Armando, vou gostar de ler este livro!
Combinaram que Armando passaria para levá-la ao escritório do advogado. Despediram-se. Laís se animou.
Sentiu-se aliviada diante da possibilidade de dividir seus bens sendo justa.
No outro dia, Laís e Armando foram ao escritório de advocacia. Armando explicou a ele o que a amiga queria. 0 advogado pediu para estudar a questão, porém esclareceu:
— Como Armando já me trouxe a questão planejada, será fácil fazer o que a senhora deseja. Mas, para não ter problemas posteriores, a senhora terá mesmo de vender as suas acções para seus dois filhos e também fazermos tudo muito bem feito. Assim que o fizermos, o senhor Célio não terá acesso ao que a senhora deixará para os netos. Seus filhos terão de concordar.
— Tenho — contou Laís — um cofre em minha casa, e nele estavam estes documentos, são acções ao portador de uma grande empresa. Meu esposo as comprou há muito tempo, nem meus filhos sabem. Quero ser justa, pelo menos o mais possível. O curtume vale muito.
— A senhora poderá também dar estas acções aos seus netos — disse o advogado. — Penso, dona Laís, que conseguiremos fazer essa partilha do modo mais correto possível.
Conversaram por mais uns trinta minutos. Laís levou para o advogado a lista de tudo o que possuía. Ele prometeu dar logo uma resposta de quanto cobraria e de quanto ficaria.
Aliviada, Laís agradeceu e Armando a levou de volta para casa.
— Não sei como agradecê-lo. Tenho até vergonha de lhe pedir para voltar comigo amanhã para conversar novamente com o advogado.
— Irei, dona Laís. Vou ajudá-la!
— Obrigada!
Despediram-se.
Na terça-feira à noite, Armando foi ao centro espírita.
Naquela noite, um grupo se reunia para o trabalho de orientação a desencarnados. Ele sabia que era restrito aos trabalhadores da casa, isto porque, seguindo normas, deveriam participar pessoas que compreendiam a importância de uma reunião onde há intercâmbio entre dois planos e que possam os participantes estar sintonizados sem curiosidade e com vontade de auxiliar.
Encontrou conhecidos, viu Verónica.
— Participo deste trabalho há alguns anos. Gosto muito!
— explicou Verónica.— Vim aqui pedir uma ajuda. Trouxe o nome e o endereço da pessoa. Vou orar um pouquinho e ir embora.
— Pode ficar, se quiser — convidou a moça. — Sendo espírita e estudioso de tantos anos, poderá nos ajudar.
Armando agradeceu e ficou. Admirava os trabalhos de orientação a desencarnados. Sabia como era importante, para os espíritos que sofrem ou que, por diversos motivos, estão vagando ou agindo como imprudentes, receber orientação, ser evangelizados. Muitas caridades são realizadas nessas reuniões . Alívio é dado, dores são sanadas e muitos consolados. Quem participa de uma equipe assim consolida o aprendizado, e quem ajuda já está ajudado.
Orou rogando auxílio a todos que ali se encontravam pedindo socorro. Sentiu-se aliviado porque percebeu que sua coleguinha de mocidade havia sido orientada, socorrida. Desejou que aceitasse o auxílio e ficasse no posto de socorro, gostou muito da reunião. Quando terminou, conversou com grupo e convidou Verónica para lanchar. Foram, conversaram trocando ideias sobre os trabalhos do centro espírita, depois levou-a para casa.
"Estou interessado demais em Verónica", pensou Armando. "Será que ela está interessada por mim? Estou com medo de me iludir. Quero pedi-la em namoro. Não é ridículo na minha idade namorar? Gosto da companhia de Verónica, e ela parece se sentir bem quando está comigo. É melhor esperar!
Estou receoso de receber um 'não'. Vou convidá-la para sair de novo."
Fez o convite. Verónica aceitou contente. Combinaram de ir pegá-la em sua casa para lanchar novamente. Despediram-se com um "boa noite”. Não houve novidades no lar de Maria Tereza. Simone estava do mesmo jeito, não se queixava, poderia fazê-lo somente para a irmã, mas, ao vê-la preocupada com ela e com tantas coisas para fazer, respondia, quando Beatriz perguntava, que estava do mesmo jeito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 9:11 am

Mas se sentia pior: não tinha vontade de fazer nada, não queria ir à escola, fazia o serviço caseiro automaticamente, não tinha apetite, queria ficar na cama, estava sempre com vontade de chorar e tinha dores ora de cabeça, ora nas pernas e dormência nos braços. Nem se importou quando viu Mateus com Glorinha, uma bonita garota que estudava na classe dele. Não estava se importando com nada.
"Vou morrer!", pensava Simone.
Célio não conversava em casa, quase não via as filhas.
Sua raiva passava, mas às vezes sentia ódio de Lucilene e de Irene. Ia todas as noites ao bar, lá se encontrava com amigos e tentava se distrair.
Os dois desencarnados, ajudantes de dona Chica, estavam somente visitando o ex-casal. Como Nacrelo gostava do ambiente dos bares, de bebidas e conversas fúteis, acompanhava Célio e se deliciava. Nacrelo concluiu que, de facto, o casal rompera: Célio, achando que havia sido traído, não a queria mais, e Lucilene já estava namorando outro.
Na noite de terça-feira, com Beatriz na escola e Célio no bar, Simone ficou vendo televisão. Maria Tereza estava no seu quarto orando, pedia a Deus para sua caçula sarar.
"Deus, já lhe pedi tanto pela minha saúde, mas agora peço-lhe para minha filhinha, ela não está bem, deve estar realmente doente. Nunca vi minha filha tão abatida assim, está pálida, desanimada, já emagreceu vários quilos. Ajude-a, meu Deus! Cure-a!"
De repente, distraiu-se e, sem saber como ou entender, estava em outro local.
— Por favor, senhora, fique aqui, logo a atenderemos.
Maria Tereza olhou tudo curiosa.
"Onde será que estou?", pensou. "Parece ser o mesmo local que sonhei outra noite. Engraçado ter o mesmo sonho."
Observou tudo com curiosidade e viu, sentado numa das cadeiras da frente, Armando.
"Estranho", continuou a pensar. "Dias atrás Armando me visitou, conversamos, e agora vejo-o ali, e parece que está concentrado, orando. Quero acordar!"
— Por favor, senhora Maria Tereza — disse a moça que a havia colocado na fila —, aproxime-se deste senhor para conversar e receber orientação dessa outra senhora. Confie em Deus que o Pai Amoroso a ajudará.
Desconfiada, com medo, Maria Tereza fez o que lhe havia sido recomendado, respondeu o cumprimento e ficou sem saber o que falar, quando a senhora perguntou:
— Como está passando?
— Eu?! Não sei! Estou falando!
— Era seu corpo físico que estava doente. Você agora pode falar, se locomover.
— Estes sonhos são estranhos, parecem tão reais! — exclamou Maria Tereza.
Era o que realmente sentia. Que sonhava ou que estava completamente confusa.
"Estarei com alguma doença que afectou meu raciocínio?", pensou.
— Senhora — disse a mulher que conversava com ela —, por favor, compare seu corpo com o corpo desse homem sentado à sua frente.
Maria Tereza reparou, estranhou, pareciam diferentes.
— Você fala, esse senhor repete, tente outra vez e preste atenção.
— Onde estou? — perguntou Teté. — O que acontece?
Estou falando correctamente.
O senhor repetiu o que ela falou.
— Não estou gostando desta brincadeira.
— Por favor, repare novamente em seus corpos — pediu a senhora encarnada.
Maria Tereza reparou, percebeu a diferença: seu corpo era mais leve, translúcido, e o do senhor, mais grosseiro. Naquele momento, ela achou que seu corpo era como uma fumaça. Lembrou dos filhos e entendeu que realmente estava
diferente deles.
— Meu Deus! O que aconteceu comigo?!
Maria Tereza ia se desesperar, porém recebeu fluidos benéficos que a acalmaram.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 9:11 am

— Você, minha querida, teve seu corpo físico morto...
— Está me dizendo que morri? — interrompeu Maria Tereza aflita. — Não é possível Estou viva!
— Sim, está viva porque não morremos. Sobrevivemos com a morte. 0 que acontece é que mudamos de um plano para outro. Está duvidando?
— Estou. Não posso ter morrido. Sou muito nova para morrer.
— Não importa — a doutrinadora elucidou — o tempo que se vive aqui encarnado. Ficamos temporariamente tanto no plano físico como no espiritual. Nosso espírito veste um corpo físico; depois temos de abandoná-lo e viver com este que veste agora, o perispírito. A vida é una, continuamos vivendo.
— Devo estar sonhando! — exclamou Maria Tereza.
— Observe, minha amiga, essa tela à sua frente. Aí está seu corpo físico no velório.
Maria Tereza olhou a tela, viu um corpo no caixão e exclamou:
— Não deve ser eu! Não mesmo! Está diferente!
— Você não estava doente? Talvez a doença tenha modificado você. Olhe quem estava lá.
Ela viu os filhos chorando, sua mãe triste, seus irmãos, amigos, vizinhos e Célio cabisbaixo. Olhou novamente para o corpo que estava sendo velado e percebeu que de fato devia ser ela, estava com o vestido que mais gostava. Embora muito inchada, com os cabelos sem tintura, sentiu ser o seu corpo.
Quis negar, mas não conseguiu. Era verdade o que lhe diziam.
E a o se defrontar com a realidade, indagou com medo:
— E agora? 0 que será de mim? Meu Deus, me socorra!
— Com toda certeza, a senhora está sendo socorrida. Vamos ajudá-la. Ficará connosco, será levada para um local onde vivem os desencarnados, ou seja, aqueles que vivem sem o corpo carnal.
Maria Tereza sentiu vontade de chorar.
"Morri e não soube!", pensou envergonhada.
Sentiu-se aliviada quando a senhora se despediu e a moça, que a havia atendido a pegou pelo braço e a colocou em outra fila. Ficou atenta ao que acontecia. Viu um moço recebendo ajuda como ela recebeu. Ele, com o corpo igual ao dela, ficou perto de uma moça de corpo diferente.
"Estes estão mortos, e aqueles, vivos", pensou Maria Tereza. "Os corpos densos são iguais aos dos meus filhos, de Célio, Rosita..."
Prestou atenção no moço: era jovem, talvez uns anos a mais que seu filho Júnior. 0 rapaz falava, uma moça repetia, e uma mulher conversava com ele. Como ela, o mocinho havia desencarnado, como a senhora explicou. O rapaz chorou, e ela também chorou, sentiu medo do desconhecido, pena dele e de si mesma.
"E agora? E agora?" se indagava.
Sentiu-se atraída pelo seu amigo de juventude, olhou para Armando, ele estava de cabeça baixa. Recebeu dele uma força, um alento que lhe deu confiança, e o medo passou (ele orava para ela).
"Estou", pensou Maria Te reza, "entre pessoas boas.
Ficarei bem".
Orou.
A moça que ajudava aproximou-se dela e convidou:
— Venha comigo. Chamo-me Ana Clara e quero auxiliá-la.
Não tenha medo, aqui é um lar de amor.
Ana Clara estendeu a mão, Maria Tereza apertou-a, sentiu-se bem como há muito tempo não se sentia. Acompanhou-a. A trabalhadora desencarnada do centro espírita a levou para uma outra parte do prédio, uma construção que abrigava os desencarnados e a acomodou num leito limpíssimo.
— Durma para se refazer. Quando acordar, conversaremos e explicarei tudo o que quer saber. Boa noite!
Maria Tereza, cansada, adormeceu.

11 - N. A. E.: É também por este motivo que a Doutrina Espírita recomenda tanto para que estudem, principalmente os médiuns, para que esse intercâmbio seja o mais fiel possível. Aquele que conhece domina o assunto.
12 - N. A. E.: Capítulo 28, "Colectânea de preces espíritas", itens 24 e 25 do livro citado de Allan Kardec.
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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 3 Empty Re: A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 9:11 am

13º CAPÍTULO - Decisões
Como combinaram, Armando passou na casa de Laís para irem novamente ao escritório de advocacia.
Laís escutou o advogado atenta.
— Tenho de calcular quanto a senhora tem e quanto ficará para passar esses imóveis para seus netos, fazer os documentos necessários e também a venda das acções. Cobrarei...
Armando pediu abatimento, acertaram os honorários.
0 advogado prometeu agilizar, fazer tudo o mais rápido possível. Laís e Armando despediram-se, e ele a levou para casa, foram conversando.
— Estava — disse ela — para tomar essa decisão há muito tempo e me sinto aliviada por estar fazendo isso.
Ontem li outras partes do livro que me deu e gostei muito, principalmente da que explica a oração do Pai-Nosso. Amigo, sei que não estou sendo muito justa nesta partilha, mas é o que, no momento, penso ser a melhor. Tenho dinheiro guardado que dará para lazer todos esses documentos e vou deixar o dinheiro que restará e o que juntarei até minha desencarnação, como você fala da morte do corpo físico, para os três netos.— Posso ajudá-la também nessa decisão — ofereceu-se Armando. — A senhora pode alugar um cofre no banco, onde guardará aquelas acções, que são valiosas, divididas em três envelopes, que serão entregues aos filhos de Maria Tereza quando a senhora mudar de plano. Também pode abrir contas poupança para eles e depositar o que lhe sobrar.
Posso fazer isso se a senhora quiser.
— Vou abrir uma conta no banco que trabalha e quero que seja o gerente que me atenderá. Quero, sim, que você faça isso para mim. Será mais um favor.
— Amanhã venho buscá-la às quatorze horas: vamos ao banco, abriremos as contas, alugarei o cofre. Dona Laís, a senhora, como o advogado orientou, deverá receber em prestações um valor mensal estipulado dos seus filhos pela venda das acções do curtume. 0 melhor que tem a fazer é registrar e guardar as notas promissórias no cofre do banco; serão muitas prestações, para assegurar que a senhora continue a ter renda. Porém, se a senhora desencarnar antes de eles pagarem tudo, Jorge e Octávio receberão esses documentos assinados por eles, que estarão no cofre em envelopes em seus nomes, como receberão também seus netos os envelopes deles.
— Mas isso é óptimo! Por favor, Armando, faça isso por mim!
— A senhora tomou a decisão, e esse problema não mais a afligirá — comentou Armando.
— Ainda há outra. Espero que também dê certo. Vou convidar, ou implorar, para as filhas de Teté, as minhas netas, morarem comigo. Quero dar a elas tudo o que for possível.
— Aconselho a não interferir no modo de vida delas. 0 melhor é ter calma, agir com cautela.— Vou seguir seus conselhos — determinou Laís. — Se Simone está doente, vou cuidar dessa menina no que ela me permitir. Como devo tratar Beatriz?
— Ajude-as! — respondeu Armando. — Ofereça para pagar os cursos que faziam antes, o balé para a caçula. Seja alegre, não reclame, receba as amigas delas em casa, agrade a todos. Se Beatriz de facto ama esse namorado, pode ter certeza de que o continuará namorando; porém, se está com ele porque via nesse relacionamento uma alternativa de sair da casa do pai, esse namoro terminará.
— Meu Deus! — exclamou Laís. — O que estava fazendo? Arrepio-me em pensar nessa possibilidade. Querendo dificultar a vida do meu genro, estava mesmo prejudicando a das meninas. Vou orar muito para ter a oportunidade de consertar minha imprudência. Você pensa mesmo que devo somente agradá-las?
— Sim, não interfira. Agrade-as com muito amor.
— E se elas não quiserem morar comigo? Elas já me pediram isso e recusei — Laís se preocupou.
— Converse com elas com jeitinho, peça com sinceridade; se não der certo, implore.
— Farei isso! Mas será que Célio deixará as filhas morarem comigo?
— Penso que ele não se importará — respondeu Armando. — Talvez ele precise ficar sozinho para dar valor à família.
— E, aí, não querendo mais, é que o prejudicarei. Tem razão, a solidão não é agradável. Embora Célio seja um homem jovem ainda, bem apresentável, achará companhia, mas não será a mesma coisa, não será a família.
— Tem razão — concordou Armando.— Estou sentindo que está preocupado. Não quer me contar o que o aflige? Talvez possa ajudá-lo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 9:12 am

— De facto, estou indeciso.
— Você indeciso? — Laís admirou-se. — Aproveite e tome uma decisão. Se quiser falar, escuto-o com prazer. Quer entrar um pouquinho?
Eles haviam chegado, estavam no carro parado em frente à casa de Laís.
— Tenho de voltar ao trabalho. Se a senhora não se importar, vamos continuar aqui. É que conheci uma moça que vai ao centro espírita que frequento. Temos conversado, já saímos, e eu não sei... — Armando gaguejou.
— Não sabe o quê? — perguntou Laís. — Você está pensando que ela não o quer? Mas se aceitou sair com você, se conversam, é porque, com certeza, você a agrada. 0 que está ocorrendo para ficar indeciso? Ela tem outra pessoa?
— Não, ela é solteira, boa moça, bonita e... branca.
Laís riu.
— Desculpe-me, Armando, é que não pensei que fosse racista, preconceituoso.
— "Racista" eu?!
— Fale-me, então, por que o incomoda essa moça ser branca?
— Já fui rejeitado — Armando lembrou que já fora rejeitado por ser negro.
— Por isso rejeita? Não aja como adolescente.
— O que faço para saber se ela está interessada em mim?
— perguntou Armando.
— Penso que ela está, senão não aceitaria sair com você.
Que tal um programa mais romântico? Convide-a para ir ao cinema. Pegue na mão dela; se não retirar, dê-lhe um beijo e, depois, fale somente: "Vamos namorar?"
— Parece simples — concordou Armando. — Mas e se não tiver coragem para fazer isso?
— Faça de qualquer modo. Espelhe-se em mim. Demorei para me decidir e fiz familiares sofrerem, pessoas que gosto.
Não aja como eu. Decida e pronto!
— E se ela não me quiser?
— Parta para outra! Porém, não sofra antecipadamente.
Marque logo esse encontro — Laís motivou-o.
— Vou fazer isso!
Despediram-se. Laís entrou em casa e telefonou para o curtume. Jorge atendeu.
— Filho, já decidi! Venham você e Octávio aqui à noite.
Temos de conversar, falarei a vocês a decisão que tomei.
Laís aguardou-os.
Jorge e Octávio foram pontuais, estavam curiosos para saber o que a mãe decidira. Após cumprimentos, Laís foi directo ao assunto.
— Decidi vender minhas acções do curtume para vocês!
Os dois suspiraram aliviados.
— Fez bem, mamãe! — exclamou Octávio.
— Haverá, porém — Laís fez uma pausa —, alguns outros itens. Vocês terão realmente de comprá-las. E farão isso pelo menor preço e em prestações. Para não ser injusta com Maria Tereza, todos os meus outros bens passarei para os filhos dela, e vocês têm de concordar. Farei tudo dentro da lei. Por alguns minutos, Laís explicou a eles o que havia decidido, somente não falou das outras acções.
— Se vocês aceitarem, podemos fazer isso logo. Tenho um advogado que tratará de tudo. Jorge e Octávio não esperavam que a mãe tomasse essa atitude, admiraram-se com que ouviram. Percebendo-os indecisos, Laís falou:
— Vou preparar um chá para nós, deixo-os sozinhos para decidirem se aceitam. Porém, aviso-os: ou isto ou nada!
Não me peçam para ser mais injusta ainda. Porque vocês dois sabem que os outros bens que possuo são menos do que a minha parte da empresa.
Saiu da sala. Os dois conversaram baixinho.
— Quem foi que orientou mamãe? — indagou Octávio. — Porque penso que ela não deve ter tido essa ideia sozinha.
Contratou um advogado!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 9:12 am

— É a oportunidade de ficarmos com mais acções do curtume! — exclamou Jorge. — 0 que mamãe pede para pagarmos é somente um pouco a mais do que retira de dividendo.
Embora esperássemos e quiséssemos que fosse diferente, o melhor é aceitar.
— Vamos tentar convencê-la — disse Octávio. — Se não conseguirmos, devemos aceitar. É melhor isso do que deixar como está e tudo ser dividido por três.
Laís entrou na sala com uma bandeja com xícaras de chá e bolinhos.
Os dois tentaram convencer a mãe a vender as acções e não passar nada para os três netos. Laís foi taxativa.
— Ou o que propus ou nada!
Os filhos então, concordaram. Conversaram mais um pouco, e Laís ficou de informá-los o que ela e o advogado iriam fazer. Armando seguiu os conselhos de Laís, telefonou para Verónica convidando-a para irem ao cinema.
— Vamos, sim — Verónica aceitou —, está passando um filme romântico. Uma amiga afirmou que é muito bom.
Combinaram. Ele passou na casa dela, e foram ao cinema.
Armando estava indeciso e precisou pensar na amiga Laís para ter coragem. Pegou na mão dela; como Verónica não a retirou, aproximou-se e a beijou.
— Vamos namorar? — perguntou baixinho.
A moça olhou-o e ofereceu os lábios para um outro beijo.
— Sim — respondeu.
Armando ficou contente como um adolescente. Não prestaram mais atenção ao filme, estavam alegres e entusiasmados.
Ele a deixou em casa e foi para o seu apartamento. Pensou contente:
"Dona Laís tem razão, deu certo. Vou agradecê-la. Tanto eu como Verónica já sofremos bastante, somos maduros e responsáveis. Penso que daremos certo juntos. Com certeza, logo não estarei mais sozinho e poderei ser pai novamente.
Obrigado, meu Deus!
Orou agradecendo.
Maria Tereza acordou num quarto pequeno, numa cama confortável. Espreguiçou-se devagar.
— Meu Deus! Estou mexendo meus braços!
Movimentou a mão direita.
— Perfeita! Estou ouvindo minha voz! Falo!
Levantou-se e andou como antes de adoecer. Deu uns pulos.
— Maravilha! Lembrou-se da noite anterior.
"Morri mesmo!" pensou. "Só pode ser isso! De facto, meu corpo era diferente do das minhas filhas, de Célio, das pessoas que me ajudaram ontem. Será que morrer é isso? O que fazer agora?"
A porta se abriu, e uma moça entrou sorrindo.
— Oi! Sou Ana Clara. Lembra-se de mim?
— Você me ajudou ontem — respondeu Maria Tereza.
— Isso mesmo! Sente-se aqui. Trouxe para você sucos e frutas. Precisa de alguma coisa? Está bem?
— Sinto-me bem, obrigada. Nem sei se preciso de algo. Estou confusa. Tudo leva a crer mesmo que morri.
— Mudou-se de plano — Ana Clara tentou esclarecê-la —, do físico para o espiritual. Somos espíritos que ora estamos encarnados, desde fetos no ventre materno, para vivermos por um tempo até nossos corpos carnais terminarem suas funções e em espírito voltar ao lar verdadeiro. De fato, Maria Tereza, seu corpo físico morreu, mas continua viva.
— 0 que acontecerá comigo? — Maria Tereza quis saber.
— Aprenderá a viver com esse corpo, o perispírito, e ficará muito bem.
— Aprenderei?
— Sim, vamos ensiná-la — prometeu Ana Clara sorrindo.
— Você me parece feliz. Gosta de viver assim?
— Gosto muito — afirmou a trabalhadora do posto de socorro. — 0 plano espiritual é deveras encantador.
— Não é difícil aprender? Parece tão diferente e ao mesmo tempo igual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 9:12 am

— A vida continua sem muitos saltos. Não é difícil, porém deve se esforçar para ficar aqui connosco e se conscientizar de que fez essa mudança.— Perturbei-me. Com todas as pessoas que desencarnam acontece isso? De ficarem confusas?— Maria Tereza quis saber.
— Para os que se preparam, dão atenção ao detalhe de que todos os que encarnam irão desencarnar; essa mudança é um acontecimento natural e não se perturbam.
— Este conhecimento é para poucos?
— Não existem privilégios. Conhecimentos são para aqueles que os procuram, para os que querem aprender. 0 facto é que muitos se recusam até de pensar nessa mudança. São escolhas.
— 0 que devo fazer primeiro? — perguntou a recém socorrida.
— Ficar aqui connosco, não sair sem permissão. Aprenderá aos poucos.
— Farei isso! Decisão tomada! Ficarei aqui, vou me esforçar para aprender e serei grata! — decidiu Maria Tereza.
De facto, naquele momento, ela teve a certeza de que seu corpo físico havia morrido, não deveria se iludir mais, continuava viva e tinha de viver de outro modo. Foi se alimentar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 9:12 am

14º CAPÍTULO - De volta ao lar
Laís ficou pensando em como ia se comunicar com as netas.
"É melhor falar com Beatriz, ela é mais ponderada. Simone, da última vez, saiu daqui de casa muito chateada comigo. Porém Beatriz não para em casa, trabalha e estuda. Vou ligar na loja em que trabalha. Procurarei o número na lista telefónica e pedirei para falar com ela um minutinho e me identifico."
Telefonou, disse que era a avó de Bia e pediu para falar com ela um instante. A garota se assustou, não esperava a avó ligar.
"Será que aconteceu algo grave?" pensou preocupada.
— Alô! — atendeu.
— Bia — disse Laís —, quero pedir para você e Simone virem aqui em casa. Preciso falar com vocês.
— Trabalho vó, e à noite estudo, como sabe. Não sei se vai dar para irmos.
— Por favor, venham, qualquer hora — pediu Laís.
— No sábado, talvez. É só isso?
— É! — respondeu Laís.— Vou desligar. Não podemos usar o telefone no trabalho. Tchau!
Desligou. Laís se entristeceu.
"Estou recebendo de volta o mesmo tratamento. As meninas devem mesmo estar sentidas comigo. Preciso pensar no que fazer. Devo esperar até sábado?"
Aborrecida, percebeu que com sua atitude magoou muito as garotas.
Beatriz, ao desligar o telefone, ficou por instantes pensando no que a avó poderia querer.
"Com certeza ela nos pedirá para tentar infernar a vida de papai. Como se Simone e eu pudéssemos fazer algo contra nosso pai. Infernizaria mais ainda é as nossas vidas. Nem vou contar para minha irmã desse telefonema. Vou esquecê-lo.
Estou mesmo preocupada é com Simone. Mesmo eu vendo-a todos os dias, notei que emagreceu, está pálida e cada vez mais triste. O pior é que não sei o que faço. Não quero ser desagradável com Nestor falando a ele sobre isso. Receio desagradá-lo. Não posso correr esse risco. Preciso casar com ele. Como mãe faz falta!"
Voltou ao trabalho.
Simone, desde que tinha se levantado, sentiu-se pior. Parecia que faltava algo. Não conseguiu prestar atenção na aula, no intervalo conversou pouco com as colegas. Esforçou-se para ficar até o final da aula. Sentiu-se aliviada ao chegar em casa, foi directo para a cama e chorou. “Que tristeza, meu Deus! Por que me sinto assim? Dói dentro de mim!"
Não almoçou. Depois de muito chorar, dormiu e acordou assustada.
"Que sonho estranho! Sonhei que procurava algo. Que andei pela casa toda procurando. Não conseguia encontrar.
0 que será que procurava? Fiquei muito aflita por não encontrar e estou muito triste."
Esforçou-se para fazer alguma coisa, não se alimentou e chorou muito. Não viu a irmã chegar e, no outro dia, quando Beatriz chamou-a, sentia-se tão exausta, deprimida, que mentiu:
— Bia, hoje não teremos a primeira aula, entraremos mais tarde. Ficarei na cama, depois levanto, tomo café e vou à aula.
Ouviu a irmã ir para o trabalho, e o pai levantar, tomar o café e sair. Aí chorou.
"Quero algo! Mas o quê?"
Não foi à aula, não quis ir, não queria sair de casa, do quarto. Cochilou e, quando despertou, chorou alto.
— Sei o que quero! 0 que procuro! É mamãe! Quero a mamãe!
Passou o dia inquieta e chorosa. No outro dia, quando
Beatriz a chamou, respondeu:
— Não estou me sentindo bem. Não vou a aula hoje.
Não tem nada mesmo de importante.
— Si, por favor, levante e vá a escola! — pediu Beatriz.
— Não vou! E não se preocupe comigo. Vou dormir mais um pouco e depois levanto. Vá trabalhar!
Beatriz ficou sem saber o que fazer. “Será que devo acordar papai" pensou, "e contar a ele o que se passa com a Si? Não sei como ele pode reagir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 8:09 pm

Certamente gritará, xingará e a forçará a ir à escola. Não quero discussão nem briga. O melhor é não dizer nada a ele.
Tenho de ir trabalhar."
Foi para a loja. Iris, uma colega, faltaria aquele dia. Pesarosa e preocupada, deixou a irmã sozinha. Era com certeza muita preocupação e responsabilidade para uma garota de dezassete anos.
Simone voltou a dormir e, quando acordou, sentou-se na cama e novamente chorou alto.
— Quero mamãe! Mãezinha, não me abandone! Quero você! Preciso de você! Mãe!
Maria Tereza estava disposta a aprender a viver desencarnada, seguir as normas da casa que a abrigava. Orou com o grupo de socorridos, leu o Evangelho e, de repente, começou a ficar inquieta.
— Alguém está me chamando! Sinto que alguém está sofrendo por mim.
A sensação foi piorando, até que sentiu o chamamento dentro dela. Como se alguém a quem era unida pelo carinho, pelo amor, a estivesse querendo perto. Começou a se desesperar.
Beatriz, quando se encontrou com Nestor no horário do almoço, pediu a ele:
— Você me leva em casa? Simone não estava bem de manha, falou que não ia à aula. Pedi à dona Ana Maria para ligar la, o telefone tocou, e ninguém atendeu.— Talvez você tenha se preocupado à toa. Simone deve ter se arrependido e foi à aula — falou Nestor.
— Será?
— Levo você lá, espero e a trago de volta; depois almoçarei. Vamos!
Ao chegar, Beatriz convidou-o a entrar, Nestor entrou com ela e esperou na sala. A garota foi ao quarto e encontrou Simone deitada, o rosto estava inchado de chorar.
— Simone! — exclamou Beatriz preocupada. — 0 que aconteceu?
— Quero mamãe! Quero!
Nestor escutou-as, preocupou-se e foi ao quarto. Assustou-se ao ver a cunhada. Não falou nada. Beatriz, ao vê-lo, explicou para a irmã:
— Estava preocupada com você, pedi para Nestor me trazer aqui para vê-la. Por que não atendeu o telefone?
— Não escutei — respondeu Simone, encabulada com a presença do rapaz. — Não se preocupe comigo. É que dormi.
Estou bem.
— Levante, troque de roupa e vá almoçar — ordenou Beatriz.
Pegou no braço do namorado e o levou para a sala.
— 0 que faço? — perguntou a garota.
— Fique com ela. Leva-a novamente ao médico.
— Não posso deixar de ir à loja, íris faltou hoje.
— Então volte ao trabalho e não vá à aula. Espero-a aqui, volte ao quarto e converse novamente com sua irmã.
Beatriz voltou ao quarto, Simone já tinha trocado de roupa.
— Estou bem, Bia — mentiu Simone. — De verdade!
Amanhã vou à aula. Prometo! Não se preocupe comigo. Vou esquentar a comida e almoçar. A filha mais velha de Maria Tereza preferiu acreditar, voltou à sala, e Nestor a levou para a loja.
— Bia — disse ele —, vou comprar lanches para vocês; às dezoito horas espero você e a trago para casa. É melhor, pelo menos hoje, que você fique com sua irmã.
— Obrigada, meu bem! — agradeceu a moça.
"Não gostei", pensou Nestor, "de ver minha cunhadinha daquele modo. Será que o pai não vê que Simone está doente? Devo ou não me intrometer? É melhor esperar e ajudar minha namorada no que ela me pedir".
Fez o combinado.
Simone, assim que a irmã saiu, deitou-se novamente e voltou a chorar e a chamar pela mãe.
— Mamãe! Mãezinha! Quero você! Por que me abandonou?
Maria Tereza se desesperou, começou a chorar.
—Já vou, filhinha! Vou! Não a abandonarei!
Querendo muito atender a filha, quis com muita vontade ir para perto dela e, sem entender como, estava no seu quarto e foi abraçá-la.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 8:09 pm

— Si, minha querida! Filhinha! Estou aqui!
— Mamãe! Mãezinha!
A garota foi se acalmando, já não chorava alto, somente lágrimas escorriam pelo rosto. Adormeceu.
— Mamãe! — gritou Simone.
Abraçou a mãe apertado, beijou-a muitas vezes e repetia sem parar:
— Mãe! Mãezinha! Mamãe! Maria Tereza chorava abraçando-a apertado, acariciava seus cabelos, beijava-a.
— Tudo bem, filhinha! Agora está tudo bem. Fico com você!
Ficaram assim por uns quinze minutos. 0 telefone tocou e acordou Simone, que se levantou rápido e foi atendê-lo. Era a irmã querendo saber como ela estava. Desta vez a garota não mentiu.
— Bia, estou me sentindo bem melhor. Sonhei com mamãe, ela me beijou, abraçou e disse que não me abandonará.
Estou bem. Vou fazer o serviço de casa. Tchau!
Sentindo-se aliviada, Simone foi para a cozinha. Maria Tereza foi atrás.
"Sei, minha querida, que morri, que não serei vista e que não posso conversar com vocês. Porém, não posso estar bem se vocês não estão. Não poderia deixar de atendê-la. Se me chamou, é porque me quer. Percebi que, quando você dorme, fala comigo. Isto me basta. Vou ficar aqui."
E ficou perto de Simone, que se sentiu aliviada, como se tivesse procurado algo em desespero e encontrado. Fez o serviço de casa, alimentou-se e foi ver televisão.
Beatriz não foi à aula; do trabalho, Nestor a trouxe para casa. Ficou aliviada ao ver a irmã melhor. Observou-a, viu que Simone estava com olheiras, muito pálida e com certeza bem mais magra. Comeram o lanche que Nestor havia pedido
para elas, ficaram vendo televisão e depois foram dormir.
Célio foi ao bar depois do trabalho e retornou à casa mais tarde.
No outro dia, Simone foi à aula garantindo à irmã que estava se sentindo bem.
"Estou", pensou Simone, "como dias atrás, sentindo-me desanimada, com dores, mas, perto desses dois dias, estou bem melhor. Que agonia senti nesses últimos dias!"
Maria Tereza ficou em seu quarto. Viu Rosita chegar e limpar a casa.
"De facto, estamos diferentes! Morri, e ela não! Os corpos são completamente desiguais. Falo agora, mas o que importa?
Ninguém me ouve."
Ficou perambulando pela casa à espera de sua filha caçula.
Armando foi buscar Laís para irem ao banco, e ele, contente, contou:
— Deu certo! Verónica e eu estamos namorando! Esforcei-me e venci a timidez, segui seu conselho, quase que não consegui, aí pensei na senhora e a estou namorando, estou muito contente.
— Alegro-me por você. Gostaria de conhecê-la, convide-a para vir jantar comigo. — Laís fez uma pequena pausa e contou: — Separei as acções em envelopes com os nomes dos três netos. Ao dividi-las, não resisti e coloquei mais para o Júnior.
Por que será que o amo tanto? Gosto de todos os netos, mas lenho por ele um carinho especial. Com sinceridade, amo-o mais do que os outros. Você me explicaria isso?
— Pela reencarnação, podemos compreender nossos sentimentos.
— Você acredita mesmo que nosso espírito volta em vários corpos diferentes? — perguntou Laís.
— Sim, acredito. Se não acreditasse, não conseguiria compreender tantas diferenças entre nós. Por que aquele senhor que estamos vendo passar de cadeira de rodas está, no momento, deficiente? Por que existem cegos, surdos e órfãos? Quando reencarnamos, muitas vezes com determinado espírito, tornamo-nos afins, dizemos que ele faz parte da nossa família espiritual, sentimos então um afecto diferente, mais forte.
— Deve ser isso! Desde que vi Júnior, amo-o mais do que os outros, mais do que meus filhos. Ainda bem que não é errado.
— Amar nunca é errado — afirmou Armando. — Porém, aconselho-a a se esforçar para não fazer diferença, pode magoar os outros netos. Esforce-se para não demonstrar essa preferência.
— Vou me esforçar, mas que gosto mais dele, gosto, e sei que ele gosta de mim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 8:10 pm

Laís contou ao amigo do telefonema que fez para a neta e de como foi tratada.
— Não desanime, dona Laís: conseguirá. Por que não pede ajuda ao Júnior?
— Vou fazer isso!
Foram à agência bancária, ela abriu as contas, alugou o cofre. Foi então que percebeu que Armando era o gerente responsável, tinha um cargo importante.
"É simples meu amigo, e percebo que todos gostam dele", Laís concluiu.
Com tudo resolvido, Armando levou-a para casa. Laís ficou pensando no neto, não tinha como se comunicar com ele, era sempre Júnior que telefonava. Pensou nele, desejou que ligasse, e, duas horas depois, ele ligou.
— Vó — disse o moço —, lembrei da senhora e fiquei com muita vontade de lhe falar. Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?— Está tudo bem comigo. Estava pensando em você e desejei que me ligasse. Júnior, quero que telefone para suas irmãs e peça a elas para atenderem meu pedido. Conte a elas que o estou ajudando.
— Por que isso, vovó? — Júnior quis saber.
Pensei muito e resolvi ajudar não somente a você, mas também Beatriz e Simone. Quero convidá-las a morar comigo, agradá-las e cuidar delas. Sei que já deveria ter feito isso, mas quero fazer agora.
— Verdade, vovó? Maravilha! Não sei como agradecê-la.
Mil beijos por isso!
— Estou tendo um problema — falou Laís —, as meninas estão sentidas, com razão, comigo. Telefonei para Beatriz, e ria me atendeu secamente, penso que elas não virão. Gostaria que minhas netas viessem aqui em casa, vou implorar para me desculparem e convidá-las para morar comigo.
— Pode deixar, vovó, vou conversar com elas. Vou ligar para Simone. Sei como convencê-la, e Beatriz faz tudo que nossa irmãzinha caçula quer.
Júnior ficou contente, e Laís, sentindo a alegria do neto, ficou também.
"Só a reencarnação para explicar o amor que sinto por esse menino", pensou Laís.
Despediram-se.
No sábado de manhã, Júnior ligou para sua casa; sabia, pelo horário, que somente Simone estaria naquele momento.
De facto, a garota atendeu.
— Ju, aconteceu alguma coisa?— Estou muito bem. Não fique aflita — o moço tranquilizou-a.
— Você ligando sem ser a cobrar...
— Sei que papai reclama quando ligo a cobrar. Queria falar com você. Tenho dinheiro e comprei fichas. Vovó tem me dado dinheiro.
— Que bom! — exclamou Simone. — Estou com saudades! Mas por que você ligou?
— Para contar que minha vida melhorou muito com a ajuda de vovó. Moro agora em um local legal, estou muito contente. É sobre vovó que estou telefonando. Ela me pediu para interferir, porque quer falar com você e com Bia. Vó Laís me contou que ligou para Bia pedindo para que fossem lá, e nossa irmã foi fria com ela. Vocês irão?
— Bia nem me contou do telefonema. Dá última vez que fomos lá, prometi que não voltaria. Deve ser por isso que nossa irmã não me contou.
— Si querida, eu estou pedindo, vão conversar com vovó.
Talvez dessa vez seja diferente. Vovó me pareceu disposta a ajudá-las — Júnior sabia que a irmãzinha era muito curiosa e atiçou sua curiosidade. — Estou curioso! 0 que será que vó Laís quer falar com vocês? Deve ser algo importante! Um segredo de família? Algo sobre a mamãe? Vá, escute e depois me conte.
— Você sabe que gosto de atendê-lo em tudo. Mas não sei. Falarei com Bia; se ela quiser ir, vou pensar no assunto.
Júnior insistiu novamente, até que Simone prometeu tentar convencer a irmã.
Desligaram, e a garota ficou pensando:
"O que será que vovó quer connosco? Será que quer nos revelar algum segredo? Estou curiosa! Vou falar com Bia: se ela concordar, iremos lá."
Foi antes das treze horas à loja esperar pela irmã, almoçaria com o casal de namorados. No restaurante, Simone contou do telefonema do irmão.
— Assustei-me — contou a garota —, porém Júnior me garantiu que está bem, ele queria me pedir para falar com vovó.
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A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 3 Empty Re: A Intrusa - António Carlos/Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 8:10 pm

Você não me contou que vó Laís havia ligado.
— Esqueci — Beatriz se desculpou —, não dei atenção e esqueci. Você não quer ir, não é?
— Se você quiser, iremos. Estou curiosa para saber o que vovó quer de nós ou nos contar.
Nestor escutava-as, e Beatriz explicou:
— Vovó Laís é nossa avó materna; quando fomos abaladas pela tragédia, pedimos para morar com ela, que recusou.
— Pedimos novamente, e ela não quis nos aceitar — interrompeu Simone —, e eu prometi não voltar mais à casa dela. Mas estou curiosíssima. Segundo Júnior, vovó agora resolveu nos ajudar.
— O que você, Nestor, acha que devemos fazer? — perguntou Beatriz.
— Não custa nada irem. Vão, escutem-na e depois decidam: isto se tiver algo para escolher. Vamos almoçar sossegados, já que não temos de voltar às lojas. Depois, deixo vocês na casa de sua avó.
— Vamos ou não? — perguntou Beatriz.
— Sim, iremos — decidiu Simone —, mas não serei amável com vovó. Ela já nos tratou muito mal.
Foi, como sempre, um almoço agradável; do restaurante, foram a uma pracinha, e depois Nestor as levou para a casa da avó.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 17, 2022 8:10 pm

15° CAPÍTULO - A difícil conversa
As duas garotas pararam em frente ao portão da casa da avó, e Beatriz fingiu tocar a campainha, despediu-se novamente do namorado com um abano de mão. Nestor foi embora, e a irmã mais velha explicou:
— Queria, antes de tocar a campainha e vovó atender, falar com você, não quis que Nestor escutasse para não me envergonhar.
— Tem razão — concordou Simone —, é mesmo de se envergonhar. Com certeza vovó fez um plano para prejudicar papai e está querendo que participemos. Só que, quando nosso pai se irrita, quem mais sofre somos nós.
— Não consigo nem pensar no que vovó quer de nós.
Ela já demonstrou não gostar de mim nem de você. Vamos fazer o seguinte: nós a escutaremos sérias, vamos evitar discutir; se for algo para prejudicar papai, responderemos que não, levantaremos e iremos embora. Se for algo diferente, pediremos para ficar a sós e decidiremos.
Simone concordou com a cabeça, e Beatriz tocou a campainha. Laís veio rapidamente, esperava as garotas desde a hora do almoço e orou muito para que elas viessem.
Recebeu-as com um sorriso, quis abraçá-las, mas foi repelida; as duas somente cumprimentaram-na com um "oi", entraram, sentaram no sofá da sala e esperaram.
"Tratam-me como foram tratadas!", pensou Laís. "Deus, me dê forças. Entendo agora o mal que lhes fiz."
— Pedi que viessem aqui porque quero me desculpar.
Pedir perdão a vocês.
As meninas se olharam e continuaram caladas. Laís olhou para elas com carinho, pensou em Armando, como se a figura dele lhe desse forças naquele momento difícil. Repetiu:
— Desejo que me perdoem! Entendi que não agi correctamente com vocês duas. Queria dificultar a vida de Célio e não calculei as consequências. Por isso as chamei aqui para me desculpar. Vocês me desculpam?
As duas continuaram caladas. Laís suspirou e continuou a falar:
— Queria também pedir, implorar, para que venham molar aqui comigo.
Ao escutar isso, as meninas se olharam.
— Como? — perguntou Beatriz. — Não estou entendendo o que a senhora quer.
— Quero que venham residir nesta casa. Desejo dar a vocês tudo o que merecem. Que voltem a estudar inglês, espanhol, que você, Bia, não trabalhe mais e que Simone retorne, as aulas de balé.
Simone arregalou os olhos, se animou, olhou para a irmã e ao vê-la tranquila, ficou também. Laís não desanimou, estava sendo realmente muito difícil, porém pensou que foi ela quem primeiro tratou as netas com indiferença.— Vocês morando aqui, farei de tudo para agradá-las.
— E se não aceitarmos? — perguntou Beatriz.
— Gostaria muito que aceitassem. Isso deveria ter ocorrido há muito tempo. Se não aceitarem, quero ajudá-las do mesmo modo. Mas, por favor, me desculpem e aceitem meu convite, meu pedido.
As garotas novamente se olharam, e Beatriz indagou:
— Por que, vovó? Por que isso agora?
— Sei que fui indelicada com vocês. Todos nós erramos.
Não agi certo; ao compreender isso, quis, e quero, remediar.
— Vovó — pediu Beatriz —, podemos ficar sozinhas um pouquinho?
— Claro — respondeu Laís —, vou preparar um chá para nós.
Laís saiu da sala e foi para a cozinha.
"Meu Deus, me ajude!", rogou Laís e pensou: "Simone está realmente doente. Está tão pálida! Magra! Parece uma flor colhida fora d'água. Minha vontade é pedir para minha filha Teté me orientar, mas Armando me explicou que não devo pedir nada a ela nem ao meu esposo, porque, se eles não puderem me atender, sofrerão por isso.13 Quero que Maria Tereza esteja bem e meu esposo também. Meu amigo orientou-me a pedir para Deus, para Jesus e aos bons espíritos. Enquanto faço o chá vou orar: Pai nosso..."
Simone foi se sentar perto da irmã, e as duas conversaram baixinho.
— O que será que deu na vovó? Estará ela doente? — perguntou Beatriz.
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