LUZ ESPÍRITA
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Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

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Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 4 Empty Re: Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 02, 2015 9:08 pm

A mulher começou a gritar desesperada.
Os vizinhos saíram de suas casas e a rodearam, querendo saber o que tinha acontecido.

- Que houve?
- Morreu? Quem?
- Afogado? Onde está?

A senhora continuou gritando.
Agenor ficou olhando.

"Que chato!" - pensou.
- "Que confusão!"

Depois de minutos, a senhora parou de gritar e o moço pôde explicar.

- É que Marco António se afogou na represa, e o trouxemos morto.
- Meu filho se afogou na represa?!
Mas meu filho está em São Paulo.
Correu para o carro e olhou o defunto.

- Meu Deus! - exclamou a senhora toda alegre. - Obrigada!
Este não é meu filho, Marco António!
- Não?! - gritaram os moços.
- Não, não é - disse a senhora aliviada.

- E agora? - perguntou um dos moços nervoso.
Onde será que este Marco António mora?
- Ali naquela casa mora outro moço que se chama Marco António - disse uma outra senhora.
- Vamos lá e já!

Entraram no carro e rumaram para a casa indicada.
O pessoal que saíra das casas ao ouvir os gritos da senhora, foi atrás e chegou logo após o carro.

Dois dos moços desceram e bateram à porta da casa já inquietos, querendo entregar rápido o defunto.
Novamente uma senhora os atendeu; estranharam, pois era negra, e o defunto, branco.

Um dos moços tratou logo de explicar.

- A senhora tem um filho que se chama Marco António?
- Tenho.
- É que ele morreu afogado e...
- Marco António!

A mulher gritou alto e forte.
Um jovem negro veio correndo.

- Que foi mãe? Que aconteceu?
Os moços se olharam desanimados.
- Como vê, este é meu filho Marco António, vivo e forte.
- Desculpe-nos, é que informaram que ele morava aqui.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 02, 2015 9:08 pm

Um senhor, que seguiu o carro com os outros, e agora eram muitas as pessoas em volta dos moços, indagou aos rapazes.
- O que aconteceu?

Um dos moços resolveu explicar, porque sentiu que necessitava de ajuda.
- Estávamos na represa e este moço, o afogado jogou bola connosco.
Depois o encontramos morto na água, resolvemos trazê-lo para a cidade e entregá-lo aos seus pais.
Só que nos informaram que ele morava por aqui.

- Nesta rua só tem dois Marcos António.
Moro aqui há tempo e conheço todos seus moradores disse o senhor.
- Vocês têm certeza de que o morto se chama Marco António?
- Foi o que nos informaram.

Agenor não se sentia bem, estava um tanto enjoado e tentava prestar atenção, mas não estava se concentrando direito.
Ele, que era muito falante, estava quieto acompanhando os acontecimentos.

Pensou:
"Estou com vontade de ir para casa e me deitar.
A turma não irá acreditar que estou me sentindo mal.
Vão achar que os estou abandonando.
Não fica bem largá-los agora".

Tentou prestar atenção nas conversas.

O senhor continuou a falar:
- Vocês são uns imprudentes!
Isto é caso de polícia.

Quando alguém morre assim, tem que se chamar a autoridade, que se encarregaria de localizar e avisar os parentes.
Vocês entraram numa "fria".

Poderão ser acusados de ter matado o "cara", de ocultar o cadáver ou até de roubar o defunto.

- Roubar o cadáver?
Mas queremos entregá-lo - disse um dos moços, apavorado.
- Jesus! Que faremos agora? - indagou um outro.

Os moços ficaram com medo e entenderam que aquele senhor tinha razão.

Agenor pensou:
"Em que fria me meti:
saí para passear e me distrair.
Tentando ajudar um morto, posso ir preso!"

Um dos jovens pediu ao senhor.
- Por favor, ajude-nos!
Não fizemos por mal!
- Vamos ver o cadáver - disse o senhor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 02, 2015 9:09 pm

Foram todos até o carro, ele levantou a cabeça do afogado e examinou-o.

- Está me parecendo o Agenor, neto do Sr. Chico e da Dona Maria!
- Parece sim - confirmou uma senhora.

"Agenor! Mas o Agenor neto do Sr. Chico e da Dona Maria sou eu!
Que está acontecendo?"
- Os avós dele moram logo ali - apontou o senhor.
E os pais deste moço estão lá passando o dia.
Vou lá com vocês e os ajudo.

Entraram no carro, Agenor não.
Ele foi correndo atrás com o pessoal que ali se juntara.

- "Meu Deus! - exclamou Agenor.
É a casa dos meus avós.
Será que estão pensando que sou eu o morto?"

Bateram à porta da casa, o avô de Agenor atendeu e o senhor explicou com calma e educação.

- Sr. Chico, estes moços foram à represa e acharam um moço morto, afogado.
Trouxeram-no imprudentemente para a cidade, pensando que era o Marco António.
Como não é, achamos que poderia ser o seu neto Agenor.
O senhor quer vir dar uma olhada?

Enquanto falava, o pai de Agenor apareceu na porta, depois a mãe e a avó.

O pai foi até o carro.
O pessoal ficou em silêncio absoluto.
O pai de Agenor estava nervoso e tremia.

Olhou o defunto, depois se encostou no carro e disse baixinho.
- É ele!

Caminhou de volta à casa para perto da esposa, que estava parada, branca e querendo chorar.
Agenor aproximou se do carro e pela primeira vez olhou bem para o morto.

"Mas sou eu! Como?"
Sentiu-se pior, encostou numa árvore perto do carro.
"Ai Jesus! Ai Jesus!" – choramingou baixinho.

Então Agenor viu seu outro avô, desencarnado, sorrindo-lhe tranquilamente.
Enquanto todos choravam, ele sorria.
Até o pessoal que se ajuntara chorava.

Ele, seu avô Marinho, veio ao seu encontro devagar.
Pareceu-lhe muito bem, estava radiante.
Aos olhos de Agenor, pareceu que seu avô estava dentro de uma luz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 02, 2015 9:09 pm

Só que ele havia desencarnado há tempo.
Agenor assustou-se, mas não correu por se achar cansado e muito enjoado.
Teve muito medo, mas não conseguiu deixar de olhar para seu avô.

Ao vê-lo tão tranquilo, sorrindo, foi se acalmando.
Seu avô chegou perto e disse-lhe com muito carinho.

- Agenor, meu neto!
-Vovô!
Agenor refugiou-se nos braços do avô.

- Vovô Marinho, me ajude!
Como é que o estou vendo, se o senhor morreu?
Jesus, me ajude, por piedade!
Que aconteceu comigo?

- Não se afobe, querido neto. Calma!
Estou aqui em nome de Jesus para ajudá-lo!
- Sou eu o afogado? - Agenor indagou com medo.
- Sim, seu corpo morreu, mas você como espírito vive.
Cuidarei de você!

Agenor sentiu-se levantar do chão, acomodou-se nos braços do avô e o mal-estar e o enjoo foram passando.

Teve sono e acabou dormindo.
Foi levado pelo avô a um Posto de Socorro, aceitou sua situação e logo se inteirou da vida nova que se lhe apresentou.
Hoje, ri muito da confusão que houve na sua desencarnação.

(Cada desencarnação acontece de um jeito.
Agenor desencarnou logo que seu organismo teve uma indisposição que o fez perder os sentidos e se afogar.
Não tendo conhecimento que desencarnara, presenciou os acontecimentos narrados.
Mas isso não acontece com todos os que se afogam.
Cada caso é um caso e, por ser o seu, é especial.
)
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 02, 2015 9:09 pm

**********
Fui visitar um Centro Espírita e rever alguns amigos.
Entre eles, estava Alexandre de cuja amizade tenho, há muito tempo, o prazer de desfrutar.

Propositadamente, cheguei antes de iniciar mais um dos trabalhos da casa.
Estava marcado para aquela noite o estudo do Evangelho e logo após seriam atendidas pessoas necessitadas de passe.

Após abraços e cumprimentos, Alexandre chamou minha atenção para uma pessoa.

- António Carlos, observe esta mulher!
A senhora orava com muita fé.
Era alta, morena, simpática, deveria ter uns trinta e cinco anos.

- Vamos saber por quem ela pede com tanta devoção, - falou Alexandre.
Alba, assim se chamava essa senhora.
Ela orava e pedia pelos seus patrões.

- Vamos tentar atendê-la.
Fiquei encarregado, pela orientação da Casa, de auxiliá-la.
Você não quer me ajudar?

Sorri. Como se Alexandre necessitasse de ajuda!
Eu sim é que, acompanhando-o, muito teria que aprender.
Combinamos ir, às nove horas do dia seguinte, ao lar dos patrões de Alba.

Alba gostava deles.
Quando somos bons, tem sempre alguém que intercede por nós quando necessitamos.
Neste caso, a empregada doméstica pedia pelos patrões e, com sua fé e humildade, levou-nos até aquele lar que era confortável e grande, mas estava em desequilíbrio.

A família era composta de Salvador, com quarenta e seis anos de idade, Iva, com quarenta anos, e os filhos Henrique e Laura, adolescentes.
Salvador era um empresário, com uma indústria de porte médio.

Tinha uma amante, Magda, por quem estava fascinado.
Não se importava mais com a família.
Não ficava muito em casa e, lá estando, era quieto.
Quando perguntavam o que tinha, respondia por monossílabos e nervoso.

Iva, a esposa, estava doente e os médicos diagnosticaram depressão.
Tinha dores pelo corpo, estava nervosa e chorava com frequência.
Pensava em morrer, e muitas vezes a ideia de suicidar-se vinha-lhe à mente, mas não tinha coragem.

Alexandre e eu a examinamos.
Carga fortíssima de fluidos negativos a envolvia.
Estávamos com ela no quarto, quando duas entidades trevosas entraram no aposento.

Sugaram suas energias e depois lançaram em Iva uma carga de fluidos deletérios.
Ela se sentiu mal, a fraqueza a incomodava, começou a chorar, e as entidades obsessoras, a rir e criticar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 03, 2015 8:44 pm

- Que fazem aqui? - Alexandre indagou.
Eles não nos viram, mas escutaram sua indagação.

Olharam-se preocupados.
Os dois estavam imundos, cabelos espetados e unhas grandes e sujas.
Suas vestes eram largas e velhas, usavam colares de correntes grossas e, na cintura, um chicote com bolinhas de chumbo nas pontas.

Os dois tentaram fugir, como sempre fazem quando percebem perigo, que para eles, nesse caso, era a intervenção dos bons.
Alexandre impediu-os de sair, prendendo-os magneticamente.
Um deles falou assustado.

- Deixe-nos ir, somos inocentes!
Estamos aqui obrigados.
Uma mulher nos mandou fazer isso e, se não obedecermos, seremos castigados.

Sempre se desculpam dizendo que são obrigados.
Muitos encarnados e desencarnados maus obrigam de facto outros desencarnados a servi-los e, infelizmente, são realmente castigados se desobedecerem.

Mas, normalmente, ficam juntos por afinidade e eles gostam do que lhes é oferecido, como farras e facilidades.
Mesmo os que são obrigados, têm como se livrar, procurando a ajuda dos bons.
Mas, na hora do aperto, costumam dar desculpas ou colocar a culpa em outros.

- Quem os mandou aqui? - indagou Alexandre novamente.
- A mulher que faz trabalhos de feitiços e macumbas.
- E quem pagou para ela fazer isso? - Alexandre perguntou com voz firme e forte.
- Magda - respondeu um deles.

Mesmo se eles não respondessem, leríamos seus pensamentos.
E verificaríamos se falavam a verdade.

- Vocês vêm comigo - disse meu amigo.
Fiquei ali com Iva, enquanto Alexandre volitou com os dois, deixando-os no Centro Espírita para que recebessem a orientação necessária.

Voltou logo e com ele veio um casal amigo.

- Este é Júlio e esta é Cecília.
Trabalham connosco há um bom tempo.
Vieram para auxiliar Iva.
Ficarão com ela enquanto tentamos auxiliar os outros componentes da família.

Alexandre falou sorrindo, apresentando-nos.
Depois mostrou Iva a eles.
Júlio e Cecília observavam a dona da casa e depois se olharam.

- Júlio - disse Cecília -, Iva não está lhe parecendo familiar?
- Sim, tenho também esta impressão.
Será que não é nossa filha, reencarnada?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 03, 2015 8:45 pm

- Júlio, acho que encontramos nossa filha! – exclamou Cecília.
Após examiná-la, concluíram:
- Realmente Iva foi nossa filha - falou Cecília.

Júlio voltou-se para nós e explicou.
- Iva foi, na encarnação anterior, nossa filha, e deu-nos muitas preocupações.
Era rebelde, inconsequente e teve muitos amantes.
Acabou apaixonada por um homem casado, foi abandonada e suicidou-se.

Sofremos muito.
Quando desencarnamos soubemos que havia reencarnado.
E, como o acaso não existe, agora tivemos por bênção achá-la e poderemos, pela bondade de Deus, cuidar dela.

Contentes, Júlio e Cecília aproximaram-se de Iva com todo carinho, abraçando-a com muito amor.
Deveriam tirar dela os fluidos nocivos, medicá-la e não deixar nenhum irmão perturbador entrar na casa.

Também tentariam transmitir-lhe pensamentos bons e intuí-la para que orasse.
Desencarnados bons tiram os fluidos negativos de encarnados, mas estes precisam se cuidar para não cria-los novamente.

Quanto a impedir os espíritos maus de entrar num lar é fácil.
Mas o encarnado tem seu livre-arbítrio de pensar no que quiser.
Assim pode ou não receber os pensamentos e incentivos que os espíritos bons ou maus tentam lhes transmitir.

Os encarnados recebem melhor os pensamentos daqueles com quem se afinam.
A única a vibrar bem na casa era Alba, que era dedicada, fazia todo o serviço da casa, cuidava de Iva e gostava dos adolescentes como se fossem seus filhos.

Visitamos Salvador no trabalho, mas ele não estava lá, fora encontrar-se com Magda.
Aproveitamos para conhecê-la.
Vistosa, vestia-se com extravagância, era fingida, fazendo de tudo para ser agradável ao amante.

Usava o trabalho do mal, feitiço ou macumba, para prender Salvador ao seu lado, não por amá-lo, mas por dinheiro.

Desejava ser a esposa dele, queria Iva morta.
À noite, a mulher encarnada, médium, feiticeira ou macumbeira, que servia às trevas, chamou as duas entidades, as que encontramos junto de Iva.

Alexandre e eu fomos no lugar delas.
E também Mauro, um trabalhador que iniciava suas tarefas no Centro Espírita.
Ia como aprendiz.

A mulher exalava um cheiro desagradável, vestia roupas muito coloridas, colares, figas e fumava um cachimbo.
Estava sentada numa cadeira de madeira enfeitada com cabeças de animais.
A sua frente havia bebidas alcoólicas e velas de várias cores.

Alguns encarnados estavam sentados no chão num dos cantos da sala.
Uns vinte desencarnados estavam presentes.
A imprudente encarnada era médium vidente e infelizmente usava de sua mediunidade para fazer o mal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 03, 2015 8:45 pm

Os desencarnados ali presentes eram de diversos tipos, uns parecendo animais, outros verdadeiros monstros.
Outros se vestiam como encarnados e havia até os que não tinham roupa nenhuma.

Havia desencarnados de ambos os sexos.
(Ao orar e desejar o bem a alguém, enviamos fluidos positivos e benéficos).

Ao querermos o mal, tendo ódio e rancor, enviamos fluidos nocivos.
O destinatário pode receber ou não os fluidos, nos dois casos, porque tudo depende de sua vontade ou do estado vibratório em que se encontre, ou também de sua afinidade.

Os trabalhos para o mal, denominados feitiços, macumbas ou outros, são feitos normalmente por médiuns, que servem aos Espíritos trevosos.
Esses trabalhos se concretizam, enviando-se fluidos negativos, ou ordenam do que Espíritos que vagam, fiquem perto das pessoas.

Mas essas pessoas têm como se defender, orando com fé, seguindo uma religião de modo sincero, agindo com bondade e buscando ajuda de pessoas que possam anular esses trabalhos.

Orações sinceras e humildes não ficam sem respostas.
Muitos ficam com esse aspecto, por castigos provocados entre eles.
Mas a maioria se apresenta assim porque gosta, achando-se importante, ou para assustar mais.

Alexandre, Mauro e eu víamos todos os presentes perfeitamente.
Os desencarnados e a médium não nos viam, por vibrarmos diferente.
Mas para nos apresentarmos a eles, quisemos e nos tornamos visíveis.

No começo, olharam-nos com indiferença, depois passaram a nos examinar.
Alexandre, com sua força mental, prendeu todos os desencarnados presentes.
Eles não conseguiram se mexer ou falar, porém nos escutavam e enxergavam.

Espíritos que sabem fazer o que Alexandre assim procedeu, fazem-no com facilidade, porém têm que estar pr
esentes e normalmente isso se faz por pouco tempo.
Alexandre o fez para que ficassem quietos e para que pudéssemos conversar com a médium.
Alexandre falou alto, mas tranquilo, sua voz soou como trovão.

- Exijo que a casa de Salvador e Iva seja respeitada.
Agora aquele lar está sob minha responsabilidade.
Não os quero lá!

A médium não ficou presa, mas não saiu do lugar.

Não gostou da visita, olhou para os encarnados e gritou:
- Invoquemos o mal!
Que nossos amigos nos acudam destes intrusos!
Saiam os três daqui!
Que querem de nós?

- Já disse - falou Alexandre.
Aqui estamos para lhes dizer que os dois desencarnados que estavam em casa de Salvador e Iva, não voltarão mais.

E, se alguém daqui lá ousar ir, também não voltará.
Não invoque seus seguidores desencarnados, porque estão presos, e vocês só voltarão ao normal quando sairmos daqui.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 03, 2015 8:45 pm

Quanto a você, encarnada, lembro-a de que um dia terá que dar conta de seus actos.
Está plantando dores e sofrimentos e colherá do que planta!

Volitamos para fora.
Os desencarnados presos puderam se mexer e ficaram aliviados.

- Irão obedecer? - indagou Mauro curioso.
- Júlio e Cecília os prenderão, se algum destes espíritos for à casa de Iva.
Essa mulher é inteligente, e sabe bem com quem pode.
Não lhe é agradável perder seus empregados.

Acho que não nos incomodarão.
Se este grupo estivesse empenhado numa vingança ou obsessão, seria mais difícil.
Nesses casos, encarnados e desencarnados estão ligados por ódio, que é um sentimento forte, que não se desfaz facilmente e não deixariam de fazê-lo só com advertências.

Mas, neste caso, é um trabalho do mal ou feitiço, e foi feito por pagamento.
Sabendo que trabalhadores do Bem estão interferindo, não é mais do interesse deles continuar.

- A mulher, a médium, devolverá o dinheiro que recebeu da mandante, já que não irá mais fazê-lo? – indagou Mauro novamente.
- Trabalhos assim costumam ser caros, quanto mais o encarnado julga saber fazer, mais cobra.
Duvido que ela devolva o dinheiro e ai da mandante se ousar reclamar – elucidou Alexandre.

- Apesar de cobrar caro, nunca vi uma pessoa enriquecer com esses trabalhos – disse Mauro.
- É verdade - falou Alexandre.
O dinheiro obtido desse modo não traz fortuna.
E a responsabilidade dessas pessoas é grande, um dia se arrependerão e sofrerão as consequências de suas maldades.

- E se levássemos todos os desencarnados que lá estavam para serem orientados? - indagou Mauro contente com a ideia que teve.
- Seria prudente levarmos para socorro tantos imprudentes?
Não seria fácil aceitarem a orientação, que não querem no momento.

Com o tempo se cansarão, então desejarão mudar e encontrarão no socorro oferecido a orientação que necessitam.

Levamos aqueles dois porque julguei necessário.
Tinha que intimidar aquela encarnada.
Os dois, através da incorporação, receberão o convite para mudar de vida, e aceitarão se quiserem.

Mas, como disse que não voltariam, os dois devem permanecer no Centro Espírita por uns tempos.
Creio que no ambiente propício do nosso Centro Espírita eles mudem.
Mas são só dois, com muitos isto seria imprudente.

- Nós poderíamos tentar orientar os desencarnados e os encarnados?
Eles também estão desajustados tanto quanto os desencarnados.
E as pessoas que pagam para que estes trabalhos do mal sejam feitos?
São também culpadas?

- Mauro, os médiuns que se iludem com o falso poder, para ganhar dinheiro, ligam-se a esses desencarnados, mas são muito errados.
Encarnados e desencarnados afinam-se e igualam-se.
Todos nós temos nosso livre-arbítrio em que Deus, nosso Pai, não interfere.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 03, 2015 8:46 pm

Fazemos as acções e somos donos das reacções.
Se levássemos todos os desencarnados e tentássemos orientá-los, ficariam ainda os encarnados que logo achariam outros desencarnados para juntos trabalharem no mal.

- Tem razão, Alexandre - disse Mauro.
Entendi. Há muitos encarnados e desencarnados que fazem o Mal, como também muitos que fazem o Bem.
E cabe ao prudente precaver-se desses trabalhos, orando e vibrando no Bem.

Despedimo-nos de Mauro, que voltou aos seus afazeres no Centro Espírita.
Alexandre e eu voltamos à casa de Iva e fomos ver os adolescentes.
Henrique caminhava para o vício:
começou fumando maconha e já estava tomando cocaína injectável.

Gastava toda sua mesada, e também já tinha vendido alguns objectos pessoais e ainda estava necessitando de mais dinheiro.

Laura estava grávida e, no dia anterior, havia retirado o exame com a confirmação.
O namorado não queria assumir a criança e nem vê-la mais.
Estava desesperada e começou a pensar em suicídio, como uma forma de resolver os problemas.

Cecília, preocupada com Laura estava connosco e Alexandre lhe explicou:
- Cecília, os pensamentos têm forma.
Podemos pensar no bem para nós e para os outros, como também no Mal.
Costuma-se dizer, e é certo, que os que pensam em acontecimentos bons, atraem para si coisas boas.

Os que pensam em coisas ruins, atraem-nas para si.
Iva pensa tanto em suicídio, materializando formas-pensamentos que alguém mais sensível pode recebê-las.
Laura que passa por dificuldades, recebeu esses pensamentos, alimentou-os e planeia suicidar-se.

Alexandre pediu ajuda a um jovem que há anos trabalha com os drogados.
César veio então trabalhar connosco, passou a ficar perto de Henrique para tentar ajudá-lo.
Limpamos com passes todos os quatro moradores daquele lar e tudo fizemos para aconselhá-los.

Concentramo-nos em Salvador, para que voltasse a atenção para a situação do seu lar.
Laura estava irredutível e, por mais que tentássemos ajudá-la, não nos atendeu, tomou um vidro do remédio para dormir, de sua mãe.

Usamos Alba para socorrê-la.
Ela nos atendeu e foi ao quarto da mocinha, encontrando-a caída.
Viu o remédio, deu o alarme e gritou.
Iva e Henrique, que estavam em casa, vieram correndo.

Chamaram o pai e levaram-na para o hospital.
O socorro veio bem a tempo, mas Laura perdeu a criança.
Salvador e Iva assustaram-se quando o médico lhes contou sobre o aborto.

Laura ia ficar mais uns dias no hospital.
O casal voltou para casa desconsolado.

- Minha filha grávida e eu nem sabia - disse Iva triste.
- Quase morreu! - exclamou Salvador.
Meu Deus! O que está ocorrendo connosco?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 03, 2015 8:46 pm

O acontecimento foi um choque para o casal.
Com Júlio e Cecília perto de Iva, ela melhorou e resolveu lutar contra sua depressão e seu estado de desânimo.

Sem os fluidos negativos e sem as duas entidades a lhe sugar energias, sentiu-se bem.

(Conforme nos ensina Ernesto Bozzano, em seu livro Pensamento e Vontade, editado pela Federação Espírita Brasileira, podemos, através do pensamento, materializar formas-pensamentos tão complexas, inclusive com a aparência de animal ou de um ser humano, e essas formas, sem vida própria, existirão enquanto forem alimentadas pela fonte geradora, ou seja, pelo pensamento de quem as criou.
Recomendamos a leitura do livro referido, pois esse é um tema bastante extenso.
)

Tomou consciência de sua culpa:
Tinha se esquecido dos filhos, pensava muito em suicidar-se e foi a filha que quase morreu.
Certamente Laura sofria, estava grávida e ela nem notara.

Por mais que soframos, não devemos nos esquecer dos que estão à nossa volta.
Iva se deixou dominar, concentrou-se em seus problemas e se esqueceu do resto.
Teve culpa, sim foi assim que entendeu e tratou de consertar a situação.

Salvador levou um susto com a tentativa de suicídio da filha.
Amava os filhos de forma errada, mas amava -os.

Aproveitando sua preocupação, César induziu-o a se encontrar com um senhor muito bondoso, para conversarem.
Esse senhor e Salvador eram amigos e há tempo não se viam.

Depois de minutos de conversa sobre negócios, o senhor, atendendo o pedido de César, falou a Salvador:
- Tenho visto seu filho Henrique em más companhias.
Está sempre com um grupo que toma droga. Você já percebeu?
Talvez seu garoto esteja precisando de ajuda.

Salvador levou outro susto.
Agradeceu e ficou muito preocupado.
Começou a pensar no filho e aí percebeu que Henrique estava estranho, teve então certeza de que ele estava se drogando.

Salvador foi buscar Laura no hospital e, quando a filha chegou em casa, encontrou a mãe preocupada e carinhosa.

- Laura, que susto nos deu.
Minha filha, prometa-me não fazer mais isso?
Iríamos sofrer muito se tivesse morrido.

Que seria de mim sem você?
Perdoe-me, descuidei-me de você.
Amo-a muito e a ajudarei.

- Não quis dar à senhora o desgosto de ter uma filha mãe solteira – disse Laura chorando.
- Como você sofreu, filhinha!
Certamente eu não iria ficar contente com a notícia de você ser mãe, mas antes mais um, do que menos um.
Amaríamos seu filho e o ajudaríamos.

- Agora, perdi o nené - Laura queixou-se.
Coitadinho, morreu pela minha insensatez.
- Mas temos você! - exclamou Iva.
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Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 4 Empty Re: Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 03, 2015 8:46 pm

Abraçaram-se e choraram prometendo ser amigas.
Salvador, que ficou perto, escutou as duas, comoveu-se e chorou também.

Aproximou-se e abraçou a filha, não falou nada, mas reconheceu também sua culpa.
Laura se sentiu tranquila com o carinho dos pais.

Naquela noite, orou, pediu perdão a Deus e prometeu nunca mais pensar em suicídio.
Com tantos problemas, Salvador não viu mais Magda e nem quis.
Passou a ser mais caseiro e a ver Iva de outra forma.

César estava fazendo um bom trabalho com Henrique.
O ocorrido com a irmã preocupou o garoto e, ao ver a mãe sofrer, sentiu remorso.

Quando Salvador quis conversar com ele, aceitou.
Vibramos para que a conversa fosse harmoniosa e proveitosa.
O pai foi ao assunto sem rodeios.

- Filho, sei que está se drogando.
Quero ajudá-lo. Permite?
- Por que esta preocupação agora.
Faz tempo que não presta atenção em nós, só pensa naquela mulher.

- Sei que errei.
Mas quem não erra?
Também necessito de ajuda.
Você não quer me ajudar?

Henrique, que estava de pé, olhou bem para o pai, estranhando.
Depois, sentindo sinceridade nele, sentou-se ao seu lado, no sofá.

- Ajudá-lo? Como? - indagou o jovem.
- Estive perturbado.
Magda parecia me fazer falta, como a água.

Quero livrar-me dela.
Como você já disse, ela é uma peste.

Penso que é como droga, ruim.
Vamos fazer um trato?
Você me ajuda a livrar-me dela, e eu ajudo você a deixar das drogas.

Quero paz para minha família, quero Iva curada, Laura e você bem e em casa.
Quase os perdemos. E eu os amo!

Henrique chorou.

- Papai, quero sua ajuda!
Abraçaram-se e, depois de uns instantes em silêncio, Henrique indagou ao pai.
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Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 4 Empty Re: Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 03, 2015 8:46 pm

- Mamãe sabe que tomo droga?
- Não, e acho melhor ela não saber.
Será um segredo nosso.

No outro dia, Salvador levou Henrique a um médico especializado e a um psicólogo.
O adolescente saiu da escola, que era frequentada pelos amigos que se drogavam.

Disseram a Iva que ele estava muito atrasado e ia ser reprovado, por isso sairia da escola, para voltar no ano vindouro.

Fizeram planos de ele ir para outra escola, as sim que o ano lectivo começasse.

Henrique foi trabalhar com o pai, porque estando perto se ajudariam.
Salvador não pensou mais em Magda, sua preocupação agora era sincera com os familiares.

Henrique, vendo o pai não ir mais se encontrar com a amante, esforçou-se também para não se drogar.

Magda procurou muitas vezes Salvador e, porque não fosse recebida, voltou à médium, a mulher a que lhe fez os trabalhos para o mal.

Reclamou e dela ouviu:
- Não quero fazer mais o que me pede, com aquela família.
Você é que se vire!
Você me disse que era fácil, que eles não eram de orar, que não tinham religião no coração.
No começo foi realmente fácil, depois os bons entraram em cena e puseram-nos para correr.

Fiquei sem dois óptimos ajudantes.
E recebi uma advertência para não me intrometer mais lá.
Não posso com quem me ordenou e não sou burra para teimar.

- O que faço agora? - indagou Magda.
Salvador não quer mais me ver.
- Arrume outro trouxa - foi a resposta seca da mulher.

Salvador e Iva fizeram as pazes, para a alegria dos filhos.
Voltaram a dormir no mesmo quarto. Iva parecia outra.

Passou a ser alegre e a se arrumar.
Laura tinha agora nos seus pais os amigos que sempre quisera.
Superou o trauma que sofreu, fez o propósito de não errar mais e passou a estudar com vontade.

Henrique libertava-se das drogas.
César voltou aos seus afazeres e também Júlio e Cecília.

- Ainda voltarei algumas vezes aqui para verificar se tudo continua bem – disse Alexandre.
António Carlos, tive notícias dos dois desencarnados que levamos ao Centro Espírita:
aceitaram a orientação e foram levados para uma Colónia.

- Que bom! - exclamei contente.
Tudo terminou bem.
Também ia embora. Iva e Alba conversavam.

- Alba, devo-lhe tanto!
Você é tão boa, mais do que empregada, é como uma pessoa da família.
Salvador e eu pensamos em recompensá-la, começando por aumentar o seu salário.
Ajudou-nos tanto!

- Eu também gosto de todos.
Não fui eu quem os ajudou.
Só pedi auxílio a vocês no Centro Espírita!

Abraçaram-se, felizes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 03, 2015 8:47 pm

**********
Nasci e cresci numa favela de uma grande cidade.
Desde pequeno, era amigo de Marcelo Mora vamos perto, íamos à escola juntos, jogávamos futebol, brincávamos de pipa, pião etc.

Pequenos ainda, descíamos o morro para vender balas no centro da cidade.
Frequentamos a escola até a quarta série, depois fomos "batalhar" para encontrar emprego.

Marcelo arrumou na oficina mecânica perto da favela, e eu, num supermercado.
Mas não gostei do emprego e comecei a pensar em tornar-me bandido.

Os traficantes do morro logo me aceitaram e, então, larguei o serviço e comecei a aprender as malandragens do grupo a que me entreguei.

Marcelo advertiu-me:
- Vandi, isto não é para você, não vire bandido, é melhor ser honesto.
Bandido não tem vida longa:
morre ou vai para a cadeia.

Chamo-me Vanderley, mas todos me conheciam na favela por Vandi.
Morava com meus pais e meus três irmãos menores.
Meus pais trabalhavam muito e nunca tiveram nada.

Pediram para não me ligar aos bandidos, como falei que ia, disseram-me que então seria problema meu e que deveria sair de casa.

Assim fiz.
Fui morar em outro local da favela e quase não via mais meus familiares.
Mas sempre que recebia um dinheiro a mais, levava para minha mãe.

Marcelo foi o único que se preocupou com meu destino, tentando aconselhar-me.
E ali estávamos, num barzinho do morro a conversar.

- Marcelo - disse a ele -, você tem o exemplo dos honestos por aqui:
eles não saem disto.
Trabalham duro e nada de melhorar.

Que futuro terei trabalhando no supermercado?
No bando terei mais coisas e trabalharei menos.
Venha você também unir-se ao bando.

- Não, não quero - respondeu Marcelo.
Vou trabalhar.
- Você tem medo! - provoquei-o.

- Não sou covarde, sabe disso.
Mas não quero ser bandido.
Bandidos fazem muitas coisas erradas que deverão doer na consciência um dia.

Não quis insistir, conhecia bem meu amigo e sabia que não ia mudar sua forma de pensar.
Marcelo começou depois de um tempo a me evitar.
Um dia comentei isso com ele, porque sempre achávamos tempo para um bom papo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 03, 2015 8:47 pm

- Vandi, minha mãe não quer que converse mais com você, ela tem medo que a polícia ache que pertenço também ao bando, ou que, sendo seu amigo, podem me pegar e me torturar para dizer onde você está.

A mãe de Marcelo era viúva, e moravam os dois num barraco simples.
Ele tinha só uma irmã que era casada e morava em outro lugar.
A mãe de Marcelo gostava tanto dele que até me fazia sentir inveja.

- Entendo, Marcelo - respondi. - Tudo bem!
Assim, nos distanciamos, encontrávamo-nos raramente e, quando o fazíamos, conversávamos por minutos apenas.

Infiltrei-me cada vez mais no grupo, aprendi a atirar, ganhei armas e confiança.
Para mim tudo estava bem.
Marcelo entrou para a polícia e continuou morando na favela.

Alguns anos se passaram.
Num assalto, encurralaram-me, feri uma pessoa e matei um policial.

Fui ferido na perna, e preso.
Bateram em mim para valer, e me torturaram muito.
Levaram-me para um cubículo onde fiquei dependurado pelas mãos.

Sentia muitas dores e fiquei sozinho.
Ao ver que a porta se abria, estremeci.
Mas fiquei aliviado ao ouvir uma voz conhecida.

Era Marcelo.
- Vandi!
- Marcelo! - balbuciei. - Está sozinho?
- Sim. Tome esta água!

Deu-me a água na boca.
Estava com muita sede.

- Queria ajudá-lo - disse Marcelo.
Mas não posso soltá-lo, e não tenho como tirar você desta delegacia.

Entendi, realmente, ele não tinha como me tirar dali.

- Marcelo, eles irão me matar, não é?
Meu amigo não respondeu, abaixou a cabeça.
Compreendi que eles iam me eliminar devagar, aos poucos.

- Você matou um policial, uma pessoa querida de todos aqui.
Vão interrogá-lo para que diga onde estão escondidos seus companheiros.
- Vão me matar por tortura - gemi.

Marcelo novamente não respondeu, nem precisava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 04, 2015 8:47 pm

Então pedi a ele.
- Marcelo, se quer me ajudar, mate-me de forma rápida, por favor.
- Quer mesmo?
- Por favor.

Ele tirou uma faca da cintura, aproximou-se mais de mim e disse:
- Cortarei uma veia de seu pescoço, morrerá rápido por hemorragia, pensarão que foi devido aos machucados.
Entendi, pois assim ele não seria acusado.

- Agradeço, meu amigo, valeu, fico lhe devendo esta.
Desde garotos tínhamos este costume:
os favores feitos um ao outro, dizíamos que ficávamos devendo, e costumávamos pagar.

Marcelo cortou rápido a veia do meu pescoço e o sangue esguichou.
Vi, ainda, ele limpar a faca na minha camisa, num pedaço que, nem sei como, ficara limpo.

Saiu e fechou a porta.
Fui ficando tonto, perdi os sentidos, acordei e senti-me confuso.
Sentia dores, mal-estar, tontura, parecendo que estava dopado.

Pensei aflito:
"Algo não deve ter dado certo, Marcelo deve ter errado no corte.
Ficou com dó e acabei por não morrer."

A porta se abriu e entraram dois policiais me ofendendo, foram pegar-me para mais uma sessão de tortura.

- Está morto!
O cara morreu! - exclamou um deles.
- Será? - disse o outro - Morto?
- Está morto sim.
Que pena, queria tanto torturá-lo.

Soltaram-me, caí e me chutaram para um canto.
"Estão achando que estou morto, devo estar péssimo" - pensei.
Tentei mexer-me, mas não consegui.
Fiquei ali, saíram e deixaram a porta aberta.

Logo entraram outros dois homens, que me pegaram e levaram para uma urna funerária.
Era um caixão simples, limparam meu rosto e me vestiram com outras roupas.

Escutei:
- Como a família dele foi avisada e disseram que não querem ver o defunto, será enterrado como indigente.
Logo o levarão ao cemitério.

"Deve haver algum engano" - pensei.
"Não morri, mas eles pensam que sim.
Não consigo me mexer e estou frio como gelo.

Tenho muitas dores, e morto não deve sentir dores.
"O facto é que fecharam o caixão, levaram-me e me enterraram.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 04, 2015 8:48 pm

Mas continuei sentindo-me vivo.
Ali estava em completa escuridão, sentindo fome, frio, sede e muitas dores.
Não sei quanto tempo fiquei ali naquele horror, que para mim pareciam séculos.

De repente, senti um puxão e saí. Que alívio!
O ar fresco bateu no meu rosto.
Enxergar novamente foi magnífico.
Vi que estava num cemitério.

-Vire-se, agora! - ouvi alguém dizer.
Vi um homem indo embora sem falar nada.
Compreendi que fora ele quem me tirou dali, e nem esperou que agradecesse.

Sentei no chão e analisei a situação.

"A coisa não está boa.
Disseram que morri, enterraram-me, fiquei embaixo da terra e, se não morri na prisão, devo ter morrido depois de enterrado."

Estava muito machucado e descalço.
Sentia muitas dores que não passavam em momento algum.
Fiquei pelo cemitério uns dias, sabia que foram dias porque clareava e escurecia.

Resolvi então voltar à favela.
Com muitas dificuldades cheguei e fui para o barraco de Bernadete.

Não havia ninguém e resolvi esperar.
Bené, assim a chamávamos, era minha amante, uma moça bonita e ambiciosa.

Do meu modo, gostei dela.
Ela regressou ao barraco acompanhada por um dos meus ex-colegas do bando.

Não me viram, passaram perto de mim e não me notaram.
Tive então a certeza de que havia morrido.

Conversaram.
- Bené, o chefe mandou lhe dizer que é para você enganar o Marcelo e fazer com que ele seja um informante nosso.
- Marcelo é honesto, Vandi sempre me dizia isto - respondeu Bené.
Ele veio aqui em casa só em consideração ao amigo, para ver se eu estava precisando de ajuda.

- Você diz a ele que precisa de companhia etc.
Enrola o cara e faz com que ele trabalhe para nós.
Terminada a conversa, o homem saiu e Bené ficou sozinha mas por pouco tempo.

Bateram à porta, era Marcelo.
- Oi, Bené! Como vai?
- Triste, amigo, bem triste.
Sinto tanta falta de Vandi.
Entra, fica um pouco comigo, fazendo-me companhia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 04, 2015 8:48 pm

Triste, percebi o tanto que Bené era fingida.
Não sentia falta nenhuma de mim.
Mas isso não me importou, pois sabia que não era boa coisa, era tal corno eu.

Mas Marcelo estava preocupado com ela, acreditava no que Bené lhe dizia.
Foi procurá-la porque sentia remorso por ter me matado.
Porém, eu não via nele meu assassino, mas sim alguém que me fizera um grande favor.

E estava lhe devendo esse favor, embora não me cobrasse.
Vi o perigo que ele corria, se entrasse para o bando, era como ele mesmo tinha falado há tempos.

O sujeito ficava perdido, ou era preso, ou morria em brigas entre o próprio bando ou em guerras entre os bandos rivais.

É um caminho sem volta, em que só se libertava com a morte.
E, assim mesmo, muitos desencarnados continuavam no bando seguindo os encarnados.

(Não deve ter sido um socorrista que desligara Vandi do corpo morto, porque, se fosse, teria tentado orientá-lo.
Alguns desencarnados que vagam, ou até certos moradores do Umbral, costumam fazer algo de bom como o que aconteceu com o nosso personagem.
Certamente eles auxiliam como sabem.
E o Bem que começa a despertar neles.
)

Resolvi ajudá-lo, ou melhor, queria, mas como?
Saí chateado do barraco e comecei a andar pela favela.

Foi aí que vi o Terreiro.
Conhecia bem o Terreiro, todos na favela sabiam dele.
Muitas vezes os membros do bando iam até lá para receber a bênção dos santos.

Fiquei por muito tempo parado na frente do Terreiro.
Os encarnados iam chegando para mais um dos trabalhos.
Até que criei coragem e bati à porta.

(O local a que Vandi se referia, era um Terreiro onde se misturava Umbanda e Candomblé.
Atendia a todos, inclusive os fora da lei, por dois motivos:
por medo, e porque não se deve negar ajuda a ninguém.

Poderiam, também, sempre ter uma oportunidade de orientá-los.
Quanto a Vandi bater à porta, fez isso mesmo, pois teve medo de entrar sem ser convidado.
Ao bater, foi ouvido pelos trabalhadores desencarnados que lá estavam, tal qual como ocorre com os encarnados.
)

- Que você quer? - indagou um senhor que atendeu.
- Acho que estou precisando de ajuda, é isto, necessito de auxílio.

O senhor olhou-me bem, viu que estava muito machucado e indagou:
- Polícia ou bandidos?

Certamente queria saber quem foi que me levou ao mundo dos desencarnados e quem havia me machucado tanto.
Embora a resposta não fosse interceder no socorro, foi só uma curiosidade daquele desencarnado.
- Polícia - respondi.
- Entre.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 04, 2015 8:48 pm

Acompanhei-o, atravessamos o pátio e ele me colocou numa fila.
Na fila, perguntaram-me por três vezes o porquê de eu estar tão machucado, e eu repetia resumindo minha história.

Alguns encarnados fizeram uma roda, estavam de pé, vestiam-se de branco.
Nós que estávamos na fila, íamos chegando perto desses encarnados, médiuns, e por eles falávamos incorporados, recebíamos orientação e cura.

Na minha vez, nem precisei falar nada, o desencarnado que estava incorporado numa médium me disse:
- Machucaram-no bastante.
Você sabe que desencarnou?

Afirmei com a cabeça.
- Vamos curá-lo.
Peça ajuda a Deus, nosso Pai, peça a Ele sua cura.

Pedi com sinceridade, porque sentia muitas dores, fraqueza e frio.
Meus ferimentos foram fechando e, em poucos minutos, fiquei como antes de ser preso.

Sentia-me bem.
- Obrigado, meu Deus! - exclamei comovido.
Muito obrigado a todos os senhores.

Quis pedir algo mais, mas não tive coragem.

Mas o desencarnado que era enorme, tinha mais de dois metros de altura, disse-me:
- Quer pedir algo mais?
- Posso? - perguntei encabulado.

- Sim.
- Devo um favor a um amigo.
Ele foi bom comigo, ajudou-me e agora vejo que lhe prepararam uma armadilha.
Quero ajudá-lo, mas não sei como.

- Qual é seu nome? - perguntou o grandalhão.
- Me chamam de Vandi.

- Um favor por outro favor é justo.
Também agimos assim.
Ajudo você, mas terá que ficar um mês trabalhando aqui.

Um mês pareceu-me muito, não me agradou a proposta.
Mas, se era para tentar ajudar Marcelo, valeria a pena.

- Não sou preguiçoso - respondi.
Mas não sei fazer nada do que se faz por aqui.
- Aprende - respondeu-me.
- Aceito!

O desencarnado que conversava comigo, chamou um outro, que veio rápido, era um negrinho risonho, esperto, e disse-lhe apontando para mim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 04, 2015 8:48 pm

- Trigo, você vai ajudar o Vandi aqui a fazer um trabalho, depois ele vem trabalhar connosco como aprendiz por um mês.
Ficará sob sua responsabilidade.

Trigo pegou-me pela mão, saí de perto do médium e fui com ele para outra sala.

- Vandi - disse ele -, coloque este par de ténis, não é bom que continue descalço.
Achei óptimo, estava incomodado sem calçado.

(O Espírito era alto, porque era assim quando encarnado, ou porque, tendo vontade, modificou-se para ter essa altura.
As roupas são plasmadas, e assim também os calçados.
)

- Por que o chamam de Trigo? - indaguei.
- Apelido. Não gosto do meu nome, gosto de Trigo.
Como o mentor daqui disse, com o trigo é que se faz o pão que alimenta.
Agora, amigo, você deve me contar tudo, para que eu possa ajudá-lo.

Contei tudo.
- Vamos até Marcelo e verei como fazer para alertá-lo.

Fomos até o barraco de Marcelo.
Ele estava sozinho, porque sua mãe havia saído.
Continuava solteiro e morando com ela.
Pensava em Bené.

- Que sorte! - disse Trigo. - o "cara" é médium.
Com minha ajuda, você poderá tornar-se visível a ele.
- Ele vai me ver?
- Mas o coitado irá levar um susto.
Todos têm medo de ver espírito.

- O susto não lhe fará mal, ele é forte.
Depois será o impacto que o levará a acreditar.
Quando você notar que ele o está vendo, aproveite e diga logo o que quer.

Trigo colocou as mãos sobre Marcelo, fazendo movimentos de cima para baixo e, às vezes, as movia em círculo.

Fiquei como Trigo me recomendara, na frente de Marcelo, e ele, logo depois de Trigo ter acabado com seu estranho ritual, viu-me e ficou, como eu previra, assustadíssimo.

- Ai Jesus! - exclamou ele, com medo.
É você mesmo Vandi?
Mas você morreu!
Quero que saiba que não estou lhe roubando a mulher, eu...

- Marcelo, meu amigo! - disse calmo para não aterrorizá-lo mais ainda e para ele saber que eu vinha em Paz.
Bené não me interessa, ela não é boa pessoa.
Morri e sei disso.
Nós temos alma, meu caro, que não morre e estou vivendo de outra forma.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 04, 2015 8:48 pm

Você me fez um favor, fiquei devendo e vim para lhe pagar.
Bené é do bando e está a mando do chefe, preparando-lhe uma armadilha.

Eles querem você como informante.
Ela fará tudo para seduzi-lo e depois o convencerá a trabalhar para eles.
Você há tempo me deu um conselho que infelizmente não segui e você sabe bem o que aconteceu comigo.
Agora, lembro a você.

(Esse Espírito sabia como activar a mediunidade.
Usou da sua força mental, para interferir no campo mental do encarnado e, com isso, fazer com que tivesse maior vidência espiritual e, assim, conseguisse ver o desencarnado.
)

Não entre nessa. Não é bom.
É um triste caminho sem volta.
Cuide-se, amigo. Adeus.

Fui sumindo.
Marcelo ficou parado, não conseguia sair do lugar e tremia de medo.
Trigo colocou as mãos de novo sobre Marcelo e fez como antes, isto para que ele não visse mais desencarnados e voltasse ao normal.

Fora activada a sua vidência só para este fim, para ver-me.
Meu amigo começou a pensar no que ouviu de mim.

- Obrigado, Trigo.
Paguei o favor que devia a Marcelo, ele é boa pessoa.
Agora cabe a ele aceitar ou não meus conselhos.

- Engraçado, dever favor a alguém que matou seu corpo - disse Trigo.
- Na circunstância em que foi, é favor sim.

Só mais tarde compreendi que tinha errado em pedir que ele me matasse.
Como também Marcelo errara por ter me matado, embora seu acto tenha sido sem ódio, e sim por amizade.

Não se deve fazer isso.
A desencarnação deve seguir seu curso natural e ninguém deve abreviar a vida física.

Marcelo aceitou meus conselhos, a visão alertou-o.
Evitou Bené e, logo que foi possível, ele e a mãe mudaram-se da favela.
Como prometi, voltei ao Terreiro, para aprender a trabalhar.

(Esse Espírito pôde fazer isso através da mediunidade de Marcelo.
Consiste num processo não muito usado entre os bons e estudiosos.
Foi um recurso que o desencarnado usou, porque sabia como fazer.
Não são muitos os que têm essa técnica.
)

No começo achei difícil.
Mas acostumei-me logo.
Atendia aos desencarnados que ali iam em busca de ajuda e os levava para as filas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 04, 2015 8:49 pm

Alimentava alguns que estavam dormindo.
Nesse local, havia uma construção no Plano Espiritual, um abrigo para desencarnados.

Ali eram acolhidos desencarnados que sofriam, e outros que dormiam.
Alguns dos alimentos, na maioria das vezes sopa e sucos, eram feitos ali mesmo, ou recebidos de um grupo que vinha entregá-los uma vez por semana.
Mais tarde vim a saber que era a Colónia daquele espaço espiritual que os enviava.

Um mês passou rápido.

Trigo veio até mim.
- Vandi, acabou seu prazo.
Cumpriu direitinho o combinado.

Fiquei pensando no que ia fazer quando saísse daquele lugar.
Ir embora para onde?
Estava gostando dali, pois naquele mês senti-me muito bem e feliz.
Falei àquele que fora responsável por mim.

- Trigo, será que não posso ficar mais aqui?
Gostei de trabalhar.
- Que bom ouvir isto.
Claro que pode.

Entendi o porquê de os mentores daquele grupo fazerem a troca que fizeram comigo:
um favor por um mês de trabalho.

Muitos como eu, após o período de trabalho, passavam a amar aquele lugar e a fazer o Bem.
Dava-nos uma alegria que desconhecíamos.
Assim mudava em muitos a forma de pensar e agir.

Sou muito grato a todos esses trabalhadores pelo carinho com que me trataram, e por terem me ensinado a fazer o Bem.

Assim fiquei por ali dois anos.
Escutando bons conselhos, tive remorso por ter assassinado aquele policial.
Com ajuda de Trigo fomos procurá-lo, encontrando-o a vagar no seu ex-lar terreno, e o levamos para o Terreiro, onde o ajudamos e orientamos.

Pedi-lhe perdão e ele me perdoou, preferindo ser levado para a Colónia.
Embora eu fosse o assassino e ele a vítima, muitos factores são levados em conta para o nosso socorro.

Eu pedi ajuda, busquei, ele não, revoltou-se.
Fiquei muito feliz em ser perdoado e ter ajudado esse desencarnado.
Andando pela favela, vi com tristeza muitos jovens e crianças se drogando e entrando para os bandos.

Sonhava em fazer algo de bom a eles.
Mas também vagavam por ali muitos desencarnados ruins e trevosos.
Formavam outros bandos que, por afinidade, se ligavam aos encarnados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 04, 2015 8:49 pm

Estes tudo faziam para incentivar os encarnados ao mau caminho.
E os encarnados ouvem o que querem ouvir, ligam-se aos que com eles se afinam.
Comecei a pensar sério em trabalhar, ajudando essas crianças, o encarnado alto que me curou, era um dos mentores daquele local.

Era muito bom e, quando ficou sabendo dos meus sonhos, chamou-me para uma conversa.

- Então, Vandi, você está querendo ajudar os encarnados?
- Estou querendo, sim senhor, principalmente as crianças e os jovens.
Queria orientá-los para que não seguissem o mau caminho.
Mas não sei como.

- Quando chegou aqui não sabia fazer nada, lembra?
Aprendeu.
Para fazer o que quer, tem que aprender.
Aqui não temos como ensiná-lo.

Mas os desencarnados que aqui vêm trazer alimentos e remédios, moram em locais onde há escolas que ensinam.
Se você quiser é só pedir e eles levam você.

- Agradeço, mas preciso pensar.
Por dias fiquei a pensar e a me indagar: "Será que vou?"

Resolvi que sim.
De facto, pedi e eles me levaram para a Colónia.
Encantei-me com a beleza da Cidade Espiritual.
Fui estudar e, numa excursão à Casa do Escritor, conheci António Carlos.

(Colónia belíssima e tão bem descrita no livro A Casa do Escritor, pela jovem talentosa Patrícia.)

Após uma belíssima palestra com que este escritor nos agraciou, saíram todos; eu, porém, fiquei.

- Caro jovem, não vai sair? - indagou-me António Carlos.
- Vou sim, é que o admiro.
O senhor deve ter sido muito bom quando encarnado, não é?
Não deve ter cometido erros.

António Carlos sorriu.

- Poucos espíritos terrenos não tiveram erros.
Não me julgue melhor do que você.
Errei muito.
Errei, sofri, aprendi e tenho feito o propósito firme de não errar mais.

- Pensei, ao ouvi-lo, que estava isento de erros.
- Por que teve essa impressão? - António Carlos indagou.
- Fala com tanto amor, e me pareceu que era um servo de Jesus!
Trabalhava em nome de Jesus?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 04, 2015 8:49 pm

- Vandi, bem poucos são dignos de trabalhar em nome de Jesus.
Trabalham todos os que têm boa vontade por misericórdia.
Sim, trabalho em nome de Jesus e alegro-me muito com isto.
Aprendo a Amar e este Amor tem sido a seta no meu caminho.

- Às vezes penso que estou sendo ousado querendo fazer o bem. Errei tanto...
- Como fico feliz em ver uma pessoa mudar para melhor - falou António Carlos sorrindo.
Você errou, e certamente não quer mais errar.
Quer servir e consequentemente deixar de ser servido.

Porque, Vandi, todos nós já erramos, o importante é tirar lições dos erros e querer acertar.
Ter vontade de servir, deixando o comodismo de querer ser servido.
Porque é nosso dever fazer o bem, é o dever de todos.

E, para fazê-lo com melhor proveito, é melhor aprender.
Muitos preferem por comodismo, egoísmo, que outros façam o que lhes cabe.

Isso acontece com encarnados e desencarnados.
Muitos ociosos preferem ser mendigos da ajuda de outros, mendigos espirituais, de favores de encarnados e de desencarnados.

Esquecem que não devem só pedir, mas também contribuir, ajudar, e passar de servido a servidor.
Ao vê-lo todo entusiasmado, aprendendo para servir, fico alegre.
Porque sei com antecedência que será mais um servo de Jesus a auxiliar a muitos.

- Eu, servo de Jesus?! - espantei-me.
- Sim - continuou elucidando-me António Carlos.
A partir do momento que deixou de ser servido e passou a servir ao Bem, é um servo, e certamente muito amado, de Jesus.
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Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 4 Empty Re: Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 04, 2015 8:49 pm

Não importam seus erros do passado, e sim o presente, que constrói seu futuro.
Lembre, Vandi, que o que aprender servindo, será um tesouro que a traça não rói.

- Logo estarei apto a voltar à favela e trabalhar com crianças e jovens encarnados, motivando-os a seguir o caminho do Bem.
Não será fácil minha tarefa.
Mas estarei sempre alegre por ter tido oportunidade de reparar meus erros com trabalho edificante.

- Oportunidades todos temos, basta que aproveitemos!
Desejo-lhe êxito!

António Carlos sorriu, dando-me confiança.
Sim, oportunidades todos temos, e que vitória alcançamos quando entendemos e deixamos de ser servidos para servir o bem.

Mas antes de se despedir de mim, António Carlos disse-me:
- Vandi, você deve ter uma história interessante.
Talvez, se escrevesse aos encarnados, pudesse servir de exemplo e incentivo a todos.
Se você mudou, todos podem mudar para melhor e fazer o Bem, porque e agora o momento.

- Eu? Ditar a encarnados!
Por meio de um médium?
- Sim.
- Acho que não dá certo, não tenho jeito - respondi.
- Se você escrever e me der, ditarei aos encarnados.

E então fiz, foi uma redacção rápida que entreguei ao escritor, para que ele ditasse aos seus leitores.
Assim, eu, António Carlos, conheci Vandi e vim a ter conhecimento de sua história.

Transcrevo com carinho, porque ACONTECEU!

Fim.


§.§.§- Ave sem Ninho
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