LUZ ESPÍRITA
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Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 27, 2015 9:13 pm

A noite passou.

No dia seguinte, Dona Lourdes foi trabalhar, mas encontrou a porta do apartamento trancada e as crianças chorando.
Mariza acordou com o choro de Jéferson e, não vendo a mãe, apavorou-se e começou a chorar também.

O porteiro, a pedido de Dona Lourdes, abriu a porta.
As crianças se acalmaram.
Dona Lourdes telefonou para Márcio que veio em seguida buscar os dois filhos.

- Agradeço-a por ter me avisado.
Não sabia que Beatriz saía à noite e os deixava trancados.
Vou levar os dois e a senhora, por favor, cuide do pequeno.

Arrumou algumas roupas deles, colocou-as numa mala e os levou para sua casa.

Beatriz acordou às onze horas da manhã e levou um susto.
Ainda tomava as transfusões de sangue e soro.
Quis ir embora, mas a enfermeira disse que ela só poderia ir quando acabassem os medicamentos.

Logo veio o médico que a atendeu, dando-lhe um sermão que Beatriz escutou calada.
Pediu para telefonar e a enfermeira lhe trouxe um telefone.
Foi um alívio conversar com Dona Lourdes, que lhe falou que Márcio buscara os dois e que ela estava com Jéferson.

Beatriz contou que passou mal, que estava num Pronto-socorro e que logo que possível iria para casa.
Dona Lourdes, como todos, pensou que Beatriz passara mal de tanto beber.
Beatriz modificou-se fisicamente, abateu-se muito estava com aparência péssima.

Voltou para casa à tardinha, agradeceu a Dona Lourdes e tentou brincar com Jéferson.
Não se sentia bem, tinha dores e terrível mal-estar.
Jéferson chamava pelos irmãos e queria Mariza, que cuidava dele à noite.

Beatriz, triste, chorou muito.
Por dias seguidos, tentou convencer Márcio pelo telefone a ficar também com Jéferson.
Mas ele não queria.
Conversou com Mariza e Marcelo e viu que eles estavam contentes.

Telefonou também para seu pai.
Sentia-se carente, sem ninguém, pois os companheiros de farra não eram amigos.
Não quiseram nem conversar com ela, quando tentou falar ao telefone com alguns deles e dizer que estava doente.

No sábado, Márcio levou os dois para buscar o resto das roupas, mas aguardou-os na portaria esperando.
Os dois, quando entraram, foram primeiro abraçar o irmãozinho que gritou de contentamento.

- Mariza! Marcelo!
- Jéferson, meu querido! - disse Mariza.
Que saudade!

Depois foram abraçar a mãe.
- Oi, mamãe! - disse Marcelo. - Jéferson está bem?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 27, 2015 9:14 pm

- Sim, está, só que sente falta de vocês.
Por que não pedem a seu pai que leve Jéferson também para a casa dele?
- Vou falar com ele - disse Mariza.

Beatriz arrumou toda a roupa deles, como também os brinquedos, e se despediu dos filhos com abraços e beijos.

Jéferson ficou chorando, quando os irmãos saíram.

Beatriz sentiu-se muito fraca e pensou:
"Não aguento mais, acho que vou morrer logo.
Devo encaminhar Jéferson antes de partir."

Na semana seguinte, seria feriado na quarta-feira e ela marcou um prazo e, se até nesse dia Márcio não ficasse com Jéferson, iria deixá-lo no orfanato.

Não é fácil fazer um encarnado mudar de ideia.
Tentei tudo o que foi possível para convencer Márcio a ficar com Jéferson.
Apelei até para Paula que, por sua vez, procurou fazer o marido mudar de ideia.

Nada adiantou, estava irredutível.
Também pedi à Beatriz que falasse a todos a verdade sobre sua doença.

Mas ela pensava:
“Não quero piedade!”
Certamente irão dizer 'bem feito'.

Ou não vão acreditar, pois já inventei tantas.
Não quero que meu pai saiba, ele iria se preocupar e sofrer comigo, já sofreu muito.
“Não vou falar a ninguém.”

Pesquisei detalhes para mais uma tentativa de ajuda, e achei.
Fábio tinha um sinal de nascença, uma pinta no abdómen, um estranho sinal na pele.

Parecia uma estrela com uma das pontas maior.
O mesmo sinal tinha Jéferson e no mesmo lugar.
Temos, no Plano Espiritual, muitos remédios dos quais fazemos uso quando necessário.

Fui ao laboratório da Colónia e pedi um preparado que pudesse fazer a pele do encarnado avermelhar sem causar dano.

De posse desse preparado, passei em volta do sinal.
Que ficou vermelha e chamou a atenção da mãe.
Todos reunidos na sala após o jantar, Paula comentou com Márcio sobre o sinal de nascença que Fábio tinha, e as crianças escutaram.

- Fábio tem um sinal de nascença? - Mariza indagou.
- Tem sim - respondeu o pai.
Uma pinta igual à do meu pai.
Vocês querem ver uma foto do seu avô?
- Queremos - responderam os dois.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 27, 2015 9:14 pm

Márcio pegou um álbum e mostrou-o às crianças.
- Este é o avô de vocês.
Aqui está sem camisa.
Observem a pinta, bem visível.
Meu pai dizia que era a estrela da sorte, porém não é para Fábio.

- E, como vocês podem ver, Fábio tem o mesmo sinal - disse Paula erguendo a blusinha de Fábio.
Mariza e Marcelo olharam calados.

Intuída por mim Mariza falou encabulada:
- Jéferson tem o mesmo sinal, igualzinho ao do Fábio.
- Quê!? - espantou-se Márcio.

- Tem sim - Mariza continuou a falar.
Ele também não é neto do vovô?
- Sim, é claro - respondeu o pai.

Mudaram de assunto, mas quando as crianças foram dormir, Márcio comentou com Paula.

- Se Jéferson tem o mesmo sinal, é porque deve ser meu filho.
- Márcio, faça um exame de paternidade - disse Paula.
Esse sinal é raro e só pode ser hereditário.
Você pode estar sendo injusto com o menino.

Hoje levei Fábio ao médico, que me disse que ele não deverá viver muito porque sua doença no coração se agrava a cada dia.

E se não posso ter mais filhos.
Lembra-se que, quando tive Fábio, sofri uma hemorragia e para estancá-la tiveram que extrair o útero.

Mas você tem seus filhos.
Amo-os como meus e amarei Jéferson.

Márcio ficou pensativo, mas não se decidiu.
Beatriz, como havia resolvido, não falou a ninguém de sua doença.
A única a perceber que ela não estava bem foi Dona Lourdes, mas achou que fosse bebedeira.

Beatriz não saiu mais de casa e tentava dar atenção a Jéferson que estava irritado sentindo falta dos irmãos.

A quarta-feira chegou.
Acabou o prazo que Beatriz dera si mesma.
Fraca, sentia que não tinha mais condições de esperar.

Tinha que internar-se.
Conforme combinou, Mariza e Marcelo viriam à tarde para visitá-la.
Passei o mesmo medicamento no sinal de Jéferson e a pele avermelhou-se.

Dona Lourdes viu e preocupou-se.
Como faltava algum tempo para que as crianças chegassem Dona Lourdes saiu para passear um pouco com Jéferson que estava chorão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 27, 2015 9:14 pm

Beatriz ficou no leito e disse estar resfriada.
Márcio, porém, veio mais cedo para que os filhos pudessem ver alguns amiguinhos.

Insistiu com Paula para que fosse junto e levasse Fábio para passear.
Ela foi e ficou aguardando o marido, na pracinha, perto do prédio em que Dona Lourdes costumava levar Jéferson para passear.
As duas, por minha intuição, sentaram-se no mesmo banco.

- É seu neto? Bonito menino - disse Paula.
- Não, é filho de uma vizinha.
Tomo conta dele, é bonzinho, só que hoje está inquieto e chorão.
Por isto saí um pouco com ele.
Acho que é o vermelhão que apareceu na sua barriga. Olhe!

Levantou a camiseta de Jéferson, e Paula viu abisma da o sinal.

- Como o garoto se chama?
- Jéferson.
Paula entendeu que tinha à sua frente o filho de Márcio.

Dona Lourdes logo se despediu, ia levar o menino para ver os irmãos.
Márcio deixou as crianças no prédio e voltou para perto de Paula.
Só mais tarde iria pegar os filhos.

- Márcio - falou Paula ao vê-lo.
Vi Jéferson com Dona Lourdes, a senhora que cuida dele.
O menino é muito parecido com você e tem o sinal idêntico ao de Fábio.
Beatriz deve estar falando a verdade.
Talvez quando ela esperava a criança, num momento de raiva, para atingi-lo, disse que não era seu filho.

- Jéferson, meu filho?
Nunca me importei com ele!
Não gosto dele!
- Não gosta porque não viu nele seu filho.
Se passar a pensar que é seu, gostará.

- Paula, que faço?
- Vamos pensar.
Talvez Mariza e Marcelo quando voltarem possam nos dizer o que está acontecendo com Beatriz, e aí resolveremos.

No apartamento, Mariza e Marcelo brincaram muito com Jéferson.
O garoto ficou feliz com a presença dos irmãos.
Foram ver a mãe no quarto.

- Estou com muita dor de cabeça, não acendam a luz.Beatriz os abraçou e beijou procurando manter a calma.
Ouvindo a campainha e a voz de Márcio, os meninos despediram-se e Jéferson começou a chorar alto, querendo ir junto.

Beatriz tentou agradar o garoto.
Não estava conseguindo ficar em pé e chorou também.
Até que conseguiu que Jéferson se interessasse pela televisão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 27, 2015 9:14 pm

Em casa, Marcelo comentou com o pai:
- Mamãe está feia, ela escureceu o quarto dizendo estar com dor de cabeça.
Parece que está doente, está magra e pálida...
Insisti para que Márcio pensasse no choro de Jéferson.

Ficou inquieto, até que perguntou:
- Mariza, Marcelo, vocês sentem falta de Jéferson?
- Sim, gostaria que ele estivesse aqui - respondeu Mariza.

- Ele é tão pequeno. Sempre cuidei dele.
- Eu também queria ele aqui - Marcelo falou sério.
Lá está sozinho. Se a mamãe sair, com quem ele ficará?
Vamos buscá-lo! - disse Márcio.
- Vamos! - responderam Paula, Mariza e Marcelo.

Até Fábio sorriu contente.
Mariza foi com o pai ao apartamento de Beatriz.
Jéferson já estava dormindo e nossa doente, triste e pensativa.
Decidira que no outro dia cedo levaria Jéferson para o orfanato e depois se internaria num hospital.

A campainha tocou e Mariza gritou pela mãe.

Beatriz levantou-se com dificuldades, abriu a porta e pediu:
- Mariza, só entre quando eu disser que pode.

Voltou ao quarto e esperou atrás da porta, que estava um pouco aberta.

Quando gritou 'pode', Mariza e o pai entraram, e Márcio falou:
- Beatriz, viemos buscar Jéferson.
Vou levá-lo comigo.
- Graças a Deus! - falou aliviada.
Sim, é claro, você pode levá-lo!

Márcio não pôde deixar de pensar:
- "Ela não quer mesmo mais os filhos."
- Mariza, vem me ajudar a arrumar as roupas de Jéferson.

Márcio trouxe duas malas e Mariza as levou para o quarto.
Ele ficou esperando na sala.
A mando da mãe, a filha arrastou a caminha de Jéferson para a sala.

Márcio a desmontou e a levou para o carro.
Jéferson dormia em uma das camas dos irmãos.
Não demoraram muito, e as duas arrumaram todos os objectos do menino, que Márcio levou para o carro.

Beatriz beijou o filho.
Sabia que era a última vez que o fazia, esforçou-se para não chorar.
Beijou também Mariza e pediu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 28, 2015 8:49 pm

- Mariza, você já é mocinha, cuide dos seus irmãozinhos.
- Sim, mamãe.

Beatriz ajudou Mariza a pegar Jéferson e mandou que ela fosse para a sala.
Viu pelo vão da porta Márcio pegar o garoto, e todos saíram sem nada falar.
Beatriz, então, chorou sentida, mas estava aliviada.

Os filhos ficariam juntos e com o pai.
Márcio e Paula colocaram a caminha de Jéferson no quarto, junto com as de Mariza e de Marcelo.

Os dois estavam felizes.

A sós, Márcio comentou com a esposa:
- Paula, o garoto parece realmente comigo.
Vi seu sinal, é igual ao de Fábio.
Vou me esforçar para amá-lo.

- Será fácil! Eu já o amo!
- Paula, você é meu anjo!
- Quando Deus nos levar Fábio, terei os três para me consolar.
São crianças tão carentes.
Fábio gosta deles e eles, do nosso filho.

Beatriz dormiu pouco.
Quando clareou o dia, escreveu algumas cartas.
Ao seu pai, contando tudo o que acontecia e lhe pedindo perdão.

Depois escreveu aos filhos.
Não deixei que se queixasse, e ela me atendeu.
Foi simples, falando que os amava muito e pedindo que fossem bons.
Repartiu suas jóias entre eles.

Quando Dona Lourdes chegou para trabalhar, Beatriz não querendo que ela a visse, disse do quarto:
- Dona Lourdes, Márcio veio buscar Jéferson para morar com eles.
Por isto não preciso mais da senhora.
Quero agradecer-lhe, pois foi tão boa connosco.

Em cima da mesa está o dinheiro que lhe devo.
Gostaria de lhe pedir mais um favor:
que a senhora pagasse essas contas para mim.

Também quero lhe dar os objectos que estão em cima da mesa, porque sei que a senhora os aprecia.
Vou viajar por uns tempos.

- Não quer nem que eu limpe a casa?
- Não é necessário e agradeço.
- Então boa viagem e obrigada.
Pagarei tudo para a senhora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 28, 2015 8:50 pm

Quando Dona Lourdes saiu, Beatriz trancou a porta.
Deixou as cartas em cima de sua cama e arrumou numa sacola pequena algumas roupas que julgou precisar no hospital.
Depois telefonou para Márcio e deu rapidamente o seu recado.

- Márcio, estou de férias e vou viajar.
O ex-marido não pôde deixar de comentar com seus colegas de trabalho:
- Foi por isso que deixou as crianças comigo.
Só que não quero devolvê-las, porque penso em ficar com elas.
Vou consultar um advogado e pedir em juízo a guarda deles.

- Márcio, aguarde mais um pouco.
Acho que Beatriz não irá querer mais os filhos – disse um dos seus colegas.
- E, tem razão, vou aguardar.

Beatriz trancou o apartamento, deixou a chave com o porteiro, pegou um táxi e foi para o hospital.

No hospital, aguardou uma consulta do convénio do governo a que tinha direito por ser registada no trabalho.
O médico ao verificar os exames deixou-a internada.
Beatriz não lutou pela vida.
Triste e deprimida, ficava calada quase o tempo todo.

Porém não se queixava.
Fiquei bastante ao seu lado.
Pensou muito nos seus erros e a incentivei a orar.

A oração foi-lhe de grande alívio e consolo, como é sempre para todos os que a fazem de modo sincero.
Nesse tempo em que Beatriz ficou no hospital, seus filhos sentiram sua falta.

Porém estavam muito felizes com o pai.
Brincavam com Fábio, que passou a ser mais alegre.
Alimentavam-se bem e na hora certa, não ficavam mais sozinhos e, com minha ajuda, Jéferson acabou por conquistar o pai.

Às vezes, os dois mais velhos indagavam a Márcio:
- Papai, quando mamãe volta?
- Não sei.

Márcio respondia, mas pensava que seria bom ela não mais voltar.Beatriz, no estado agravado em que estava sua doença, não demorou muito para desencarnar.

Sua desencarnação foi agoniada.
Horas após seu corpo ter morrido, consegui desligá-la e levá-la adormecida para um Posto de Socorro.
Ela deixou os telefones de Dona Lourdes e de Márcio no hospital e, quando desencarnou, telefonaram avisando.

Márcio levou um susto, mas tratou de cuidar de tudo.
Avisou o pai de Beatriz, que veio com o irmão dela.
Márcio e Paula acharam melhor as crianças não verem a mãe morta.

Disseram-lhes que a mãe morrera longe, de acidente.
No velório e no enterro só havia cinco pessoas, o pai, o irmão, Dona Lourdes, Márcio e eu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 28, 2015 8:50 pm

Resolvidos a se desfazerem do apartamento, foram lá os quatro acharam as cartas.
Márcio as pegou, prometendo entregar aos filhos, juntamente com as jóias.
Em conversa rápida, deixaram que Dona Lourdes vendesse todos os móveis, pagasse as despesas do apartamento e entregasse as chaves ao proprietário.

O pai e o irmão retornaram logo para a cidade em que residiam.
Márcio leu as cartas e comentou com Paula os acontecimentos.

- Beatriz estava doente, e eu fazendo ideia errada do seu comportamento.
- Márcio, você não teve culpa, Beatriz aprontou muito, era natural que desconfiasse dela.
Vamos esquecer tudo isso.
Temos quatro filhos para educar e encaminhar na vida.
É neles que devemos pensar.

- Que agora são nossos, nada e ninguém os tirará de nós.
Seremos felizes. - disse Márcio, disposto a esquecer o passado.

De facto, embora com os problemas de Fábio, eram felizes.
Márcio, de boa índole, acabou amando Jéferson que cresceu forte, sadio e honesto, reconciliando-se, no dia a dia através da convivência, com seu desafecto do passado.

Não descuidei de Beatriz, procurando sempre saber dela.
Após alguns meses de sua desencarnação, fui visitá-la.

- Que surpresa agradável! - exclamou Beatriz contente por me ver.
O doutor desencarnado que cuidou de mim com tanto carinho.
- Como vai, Beatriz?
Que bom encontrá-la bem e consciente de seu estado de desencarnada.

- Como se chama?
- António Carlos.
- Eu não merecia tanto cuidado e carinho.
Sentia, quando encarnada e doente, o senhor perto de mim, consolando-me, incentivando a ter resignação e paciência, e a orar.

Depois, quando desencarnei, vim a saber que fora o senhor quem me trouxe para este Posto de Amor e que tem procurado sempre saber notícias minhas.
O senhor teve por mim, quando estive doente, um carinho de pai.

Agradeço-lhe de coração.
Sem sua ajuda, certamente, teria agido de outra forma e depois de desencarnada iria vagar ou ir para o Umbral.

Não fiz amigos nem encarnados, nem desencarnados.
Certamente ninguém se lembraria de mim para um socorro.
Ainda bem que segui seus conselhos, arrependendo-me dos erros e orando.
Meu amigo e benfeitor, por que fez tudo isso por mim?

- Beatriz, você está se esquecendo que Deus é Pai de todos nós e que nos ama muito.
- Estava tão afastada de Deus!
Sei que Ele não se afastou de mim, mas sim eu, Dele.
Mas por que me ajudou?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 28, 2015 8:50 pm

- Por Jéferson. Seu filho mais novo e eu somos amigos.
Prometi ajudá-lo quando ele decidiu reencarnar.
- Então, foi por ele que me ajudou - falou Beatriz.

- Sim.
- Sabe dos meus filhos? Tenho enorme saudades.
- Márcio aceitou Jéferson e o ama.
Estão todos muito bem, saudáveis e felizes.
- Estão melhor agora do que quando estavam comigo - disse Beatriz com tristeza.

Nada respondi.
Compreendi que ela tinha total consciência dos erros do passado, mas, como o passado ficou para trás, deveria ter esperanças no futuro, e isso ela tinha.
Desejava o melhor para si, e querer é lutar para conseguir.

Permanecemos por instantes em silêncio.
Depois Beatriz falou olhando-me.

- António Carlos, quando fiquei grávida de Jéferson, Márcio e eu já não vivíamos bem e eu não queria mais filhos.
Pensei em abortar, cheguei mesmo a procurar alguém que me fizesse isso.
Mas não tive coragem.
Com todos os meus defeitos, amei, amo meus filhos, e amei Jéferson antes de ele nascer.

Agora entendo o bem que fiz a mim mesma, não abortando.
Se o tivesse feito, Jéferson, seu amigo, não teria reencarnado, o senhor não teria ido ajudá-lo e consequentemente também não teria me auxiliado, porque não mereceria ajuda.

Teria sofrido muito mais e certamente estaria sofrendo ainda.
Agradeço todos os dias ao Pai Misericordioso e agora ao senhor.

Sorri em resposta ao agradecimento sincero de Beatriz.
Ela estava certa, se não fosse por Jéferson eu não teria ajudado.

Sorrindo, também, Beatriz completou:
- Ainda bem que tive Jéferson!
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 28, 2015 8:51 pm

**********
- Quem me matou?

Estava sentado em minha poltrona preferida, na sala de minha casa, após um exaustivo dia de trabalho.
Assistia, como de costume, ao programa preferido na televisão, quando ouvi um estampido e senti uma dor no peito.

A dor foi tão forte e aguda que perdi os sentidos.
Acordei num leito alvo e confortável.
Lembrei-me de tudo o que senti.

- Que será que me aconteceu? - murmurei baixinho.
Confuso, não sabia o que ocorrera.
De repente, vi minha mãe entrar no quarto em que estava.

Olhava examinando-me, ao entrar bem devagarzinho.
Estranho, não tive medo, mesmo porque minha mãe havia desencarnado há muito tempo.

Parece que ao vê-la entendi que meu corpo morrera, embora não sabendo como nem por quê.
Como se a morte do corpo pudesse dar estas respostas: do "como" e do "porquê".

Acho que estar encarnado é ser candidato à desencarnação.
Mamãe veio até mim de mansinho.

- Oi, mãe - disse. - A sua bênção!
- Deus o abençoe!
Abraçamo-nos.

Silenciamo-nos por minutos e depois a enchi de perguntas.

- Morri, mamãe? Por quê?
Que aconteceu? Onde estou?
Vou ficar aqui para sempre?

- Calma, Clóvis. - respondeu minha mãe tranquilamente.
Foi só seu corpo que morreu.
Você está se recuperando num Posto de Socorro.
A vida continua e você poderá ficar aqui ou ir para outros lugares tão bons e belos quanto este.
Terá muito o que fazer aqui, onde poderá estudar e trabalhar.

-Estudar e trabalhar?
Indaguei e calei, não gostei muito da ideia, no momento.
Havia trabalhado tanto durante toda minha vida encarnada e me achava velho para estudar.

- Clóvis, é melhor descansar agora. Volto depois.
Mamãe achou melhor eu ficar sozinho e me inteirar da vida de desencarnado aos poucos.

Saiu e fiquei a pensar.

"Fui assassinado!
O barulho que ouvi foi de uma arma de fogo e a dor foi da bala entrando no meu corpo" - concluí.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 28, 2015 8:51 pm

Esperei ansioso pela visita de mamãe e logo que ela chegou lhe falei:
- Mamãe, fui assassinado!
Por quem? A senhora sabe?
- Clóvis, esqueça esses detalhes.
Deve pensar no futuro e não no passado.
Que adianta você saber, mudaria alguma coisa?

- Detalhes? - indaguei sentido.
Alguém me matou e a senhora diz serem detalhes?
- Esqueça esse facto, por favor.

Mas eu era teimoso, não me esqueci e isso me incomodava.
Um orientador do hospital veio conversar comigo.
Tentou ajudar-me com conselhos e orientação.

- Não pense mais nisso - disse ele tentando convencer-me.
Direccione seus pensamentos para o que irá fazer de agora para frente, pense na sua existência na espiritualidade e na alegria de poder ser útil.

Agradeci os conselhos.
Mas continuei a matutar:
Fui assassinado. Mas por quem?
Se mamãe e o orientador sabem, não irão me falar. Preciso saber.

Pedi licença para sair do Posto e ir para casa e investigar.
Não me deram.
Não estava ainda em condições de sair do hospital.

Tinha que aprender muito e não poderia ter permissão para algo tão trivial.

Essa, a opinião deles.
Para mim, era importante saber quem me matara.
Era essencial. Resolvi sair do Posto de Socorro e descobrir.

Não adiantaram conselhos e rogos de minha mãe. Saí mesmo!
Voltei ao meu ex-lar.
Tudo permanecia como sempre.

Minha esposa pareceu-me muito cansada, envelhecera, estava triste e saudosa.
Fomos casados por trinta e quatro anos, tínhamos três filhos, todos casados.

Minha casa era grande e dávamos pensão a um grupo pequeno de pessoas para ajudar nas despesas.
Quando os filhos estavam na idade de estudar, o dinheiro era para custear seus estudos.

Também, Maria, minha esposa, gostava de ajudar a família.
Ultimamente, porque nos acostumamos com os hóspedes e continuamos a ajudar os filhos e netos.

Os hóspedes continuavam os mesmos.
Todos pessoas boas:
um jovem casal, dois moços que estudavam, e Ari, hóspede de muitos anos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 28, 2015 8:51 pm

Se havia voltado para investigar, era melhor começar logo.
Primeiro, a esposa, pois nunca se sabe...
Embora nos quiséssemos bem e confiasse nela.

Mas, enfim, todos eram suspeitos.
Lendo seus pensamentos, vim a saber o que realmente aconteceu.
Fui assassinado, deram-me um tiro e a polícia nada descobriu, não achando nenhuma pista.

Não foi para roubar, já que nada levaram e ninguém da casa viu qualquer coisa suspeita.
Assim a polícia nada descobriu e nem fez força para desvendar o mistério.

Mas ainda bem que não foi a minha Maria.
Ela não sabia de mais nada:
sofreu e sofria muito com meu desenlace.

Fiz uma lista de suspeitos e continuei a investigar.
Verifiquei os filhos, e tive até remorso, porque eles me queriam muito bem.

Aliviado, risquei os familiares.
Investiguei os hóspedes. Também nada, não foram eles.
É, incrível, todos sentiam minha falta.

Fui à fábrica, onde tantos anos trabalhei, nada.
Ninguém entre meus companheiros de trabalho era o assassino.

A lista acabou.
Estava difícil realmente de descobrir o assassino.
Fiz outra lista, desta vez com os nomes de pessoas com quem tive alguma desavença ou discussão.

Pensei, pensei e vi que eram poucas as pessoas e com todos fiz as pazes.

Fui... era um sujeito pacato.
"Mas, afinal, quem me matou?" - Indagava e não conseguia resposta.

Mamãe, pacienciosa, veio até mim, insistindo em que voltasse ao Posto de Socorro com ela.

- Clóvis, você é bom!
Foi óptimo filho, esposo, pai e amigo, cumpridor de seus deveres e todos gostavam de você.
Fiquei feliz em poder socorrê-lo, quando desencarnou.
Esqueça esse facto!
Que diferença irá fazer? Venha comigo!

- Não, mamãe, não vou porque não consigo esquecer.
Estava aqui, nesta poltrona, quando recebi o tiro e não vi quem foi.
Quero saber!

Mamãe despediu-se triste e fiquei a matutar.
A verdade é que não tinha mais quem investigar.
Fiquei sentado na sala, tentando achar a solução para tão complicado enigma.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 28, 2015 8:51 pm

Foi quando vi Ari, nosso hóspede, sair às escondidas, passar pela sala examinando bem se não era visto por ninguém.

Observando-o, percebi que ele tinha meu jeito de andar, embora fosse bem mais novo que eu:
regulávamos no peso e altura.
Como não estava fazendo nada, resolvi seguir nosso hóspede, que com cuidado saiu pelo vitrô da sala que dava para os fundos, subiu no muro e pulou no quintal da vizinha ao lado.

O safado foi encontrar-se com a nossa bonita e alegre vizinha, que era casada com um sujeito um tanto estranho e calado.

Não tendo nada com sua atitude, ia retirar-me, quando escutei-a dirigir-se a ele:
- Ari, você tomou cuidado?
Sabe bem que meu marido é capaz de matá-lo, se vier a descobrir nosso caso.
Vai ser difícil de ser confundido com outro novamente.

Confundir com outro? Isto me intrigou.
Retirei-me, mas voltei quando o vizinho chegou em casa.

Fiquei ao seu lado e indaguei-o.
Muitas vezes o desencarnado pode induzir um encarnado a pensar no que deseja.
Aproximei-me bem dele e fiz com que pensasse em mim e na minha desencarnação.

Triste, descobri que o vizinho confundiu Ari comigo.
Pensou, pensava que eu estava tendo encontros com sua esposa.
Planeou e me assassinou friamente, usando o mesmo caminho que Ari fez naquela tarde.

Não me alegrei com o que descobri.
Como poderia alguém tirar a vida física de outro, de modo tão frio, sem sequer odiar, ou ter certeza de que por ele foi traído.

Pior é que ele não tinha remorsos e, como descobri lendo pensamentos, já assassinara outros e tudo por causa da esposa que continuava traindo-o.
Voltei para meu ex-lar terreno, escondi-me num dos cantos da sala e chorei.

Depois de um bom tempo assim, cheguei a uma conclusão:
"Sou um defunto vivo em espírito, um desencarnado, que não deve ficar entre os que têm corpo físico, ou seja, os encarnados.
Eles não me vêem e eu não participo mais da forma de vida deles.

Devo ir para onde estava.
Mas como? Não sei voltar.
Talvez mamãe me ajude de novo".
Então pensei: "Mãe, mamãe, por favor!"

Chamei-a concentrando-me, implorando ajuda.
Não demorou muito e ela estava na minha frente.
Ao vê-la, refugiei-me em seus braços, como se ainda fosse criança.

- Mamãe, descobri quem me assassinou.
E não me fez bem nenhum. Morri por engano!
- Clóvis, melhor assim do que se fosse culpado!
Voltemos ao Posto de Socorro, meu filho.
Esqueça tudo isso!
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Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 2 Empty Re: Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 28, 2015 8:52 pm

- Eles nunca vão ficar sabendo quem me assassinou! - queixei-me.
- Que importa? O criminoso sabe e não pode fugir do seu acto.
Nunca esquecerá.
Se no momento não sente remorso, um dia o terá, e também sentirá a reacção desse crime.

Voltei com ela para o Posto de Socorro, onde me entreguei à Vida Espiritual.
Vim a saber também que nem todos que desencarnaram assassinados e não viram o responsável, têm esta curiosidade.

Isto aconteceu comigo particularmente.
Maria, minha esposa querida, logo se encontraria comigo e esforcei-me para ficar apto a ajudá-la no momento em que, por algum motivo, deixasse o corpo físico.

Depois, pensando bem, concluí:
não nos importam os "como" e "por quês".
O corpo morre, e pronto, é perecível!
**********
Recebi um agradável convite.
- António Carlos, você não quer vir comigo visitar dois dos meus filhos?
Ficarei contente se vier.
Um dos encarnados que visitarei, necessita de uma assistência médica.

Epitácio é um amigo de muito tempo, e trabalhávamos juntos nessa ocasião.
- Irei com prazer - respondi.

Assim, acompanhei Epitácio na visita a seus entes queridos.
Dois de seus filhos moravam numa casinha modesta no subúrbio de uma cidade de porte médio.

Rodrigo de oito anos e Juquinha de três anos, foram adoptados por Justina, que era solteira, negra, bondosa e de sorriso encantador.

Não só adoptou os dois filhos do meu amigo, como também outras duas crianças, Lenita, de seis anos, e Donizette, de quase quatro.

A casa era pobre, mas limpa e não faltava o necessário.
Lenita estava acamada com forte crise de bronquite.

- Pedi para vir comigo - disse Epitácio - para que ajude Justina.
- Pensei que fosse Lenita a preocupá-lo!

Cheguei perto de Justina e a examinei.
Para um médico desencarnado que tem anos de experiência, não é difícil ver a doença no corpo físico ou perispiritual.
Assim, constatei que ela estava com uma das artérias principais quase bloqueada pelo colesterol.

- António Carlos - disse Epitácio -, é tão importante que Justina viva encarnada e com saúde mais um tempo.

Justina tinha quarenta e três anos, e só estava com este problema de saúde, era forte e corpulenta.
Todos merecem ajuda, principalmente quem pede.
Epitácio pedia por ela e certamente meu amigo tinha motivos fortes para interceder em seu favor.

Quanto à nossa ajuda, a dos desencarnados, depende de muitos factores.

Porque nem sempre a doença é a pior coisa.
As vezes uma doença é um sofrimento necessário, um grande remédio para o espírito.
Também nossa ajuda deve ser aceita e nem tudo podemos ou temos permissão para fazer.

O jantar simples foi servido.
Após, Justina foi lavar a louça, ligou o rádio, e os meninos foram brincar.

Lenita continuou no leito.
Rodrigo e Juquinha eram claros, Lenita e Donizette eram mulatos, todos muito bonitos.

- É melhor, para que entenda - disse Epitácio -, que eu conte minha história.
Morava, quando encarnado, aqui perto.
Minha esposa e eu há muito conhecemos Justina, e uma sincera amizade nos uniu.

Trabalhava na lavoura, como bóia fria, e Justina sempre foi empregada doméstica.
Ela morava aqui mesmo com os pais e cuidou deles, quando velhos, com muito amor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 28, 2015 8:52 pm

Quando desencarnaram, ficou sozinha.
Eu era saudável, mas desencarnei por causa de uma picada de cobra.
Deixei a esposa com seis filhos, sendo que Juquinha, o meu caçula, que se chama José, ainda no ventre da mãe.

Justina ajudou muito minha família, ela é madrinha de Rodrigo.
Minha esposa passou por muitas dificuldades, e Justina sempre esteve ao seu lado.
Quando Juquinha estava com quatro meses, minha esposa sentiu-se mal, foi internada e diagnosticaram câncer em estado adiantado.

Sabendo que ia morrer, deu os filhos, e dois ficaram com Justina que já tinha adoptado Lenita e Donizette.
Meus outros quatro filhos estão bem, não moram juntos, mas cada um com uma família diferente, só Rodrigo e Juquinha estão aqui.

Embora meus outros filhos estejam bem, não são tão amados como estes dois.
Justina é nossa benfeitora.

- E sua esposa? - indaguei.
- Está muito bem.
Estuda na Colónia e vem sempre também ver os filhos – respondeu Epitácio.

Foram dormir.
Mediquei Lenita que, aliviada, dormiu tranquila.
Não foi difícil ver a existência anterior da menina.
Lenita, na encarnação passada, tomou forte dose de veneno e veio a desencarnar.
Foi uma suicida.

- Justina está tendo dores no peito, cansaço e falta de ar - explicou-me Epitácio.
Pedi ajuda a uma equipe de médicos desencarnados, da Colónia, que gentilmente veio e, após horas de trabalho, desobstruímos uma artéria no peito de Justina.

Epitácio ficou olhando e orando o tempo todo.
Quando acabamos, despedimo-nos da equipe, agradecendo.

Falei esperançoso a Epitácio:
- Justina ficará bem!
Lenita melhorou, mas fui examiná-la novamente e a menina sonhava.

No seu sonho, seu cérebro físico recordava seus pais, mulatos bonitos, e a casa onde morava, que era confortável e grande.

De manhã, Justina acordou e sentiu uma fraca dor no peito.
O ideal seria que repousasse, mas ela tinha muitos afazeres.

E trabalhou como sempre:
fez o almoço, arrumou a casa, lavou as roupas e acordou as crianças, deixando o café para Rodrigo, e lhe recomendou:
- Rodrigo, fique bonzinho!
Volte para casa como sempre lá pelas onze horas e almoce, depois vá à escola.

- Sim, madrinha.
- As crianças - explicou-me Epitácio - chamam Justina de madrinha.

Beijou Rodrigo e saiu com os outros três.
Levava-os à creche onde os deixava para ir trabalhar.
Rodrigo não ia porque estava na escola e engraxava sapatos, no centro da cidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 29, 2015 8:41 pm

Era uma criança responsável, mas Justina se preocupava em deixá-lo sozinho.

Justina, depois, foi para o trabalho.
Era empregada doméstica, trabalhava muito, mas bem remunerada pela tarefa que exercia.
Fazia todo o serviço da casa e ainda cuidava de uma senhora doente, dando-lhe, às vezes, até banho.

Trabalhava na casa de um casal que já tinha os dois filhos casados, e com eles morava a mãe de sua patroa, que era muito idosa e doente.

Indaguei a Epitácio:
- Lenita e Donizette são órfãos?
- Não sei, Justina os achou perdidos perto de sua casa.
Os dois estavam muito magros, famintos e machucados por terem sido surrados.

A menina na época dizia ter três anos e chamar-se Lenita.
O menino aparentava ter um ano e poucos meses.
Ela chamava o menino de Dom.
Justina achou que era Donizette e o chama assim.

Na época, Justina foi à delegacia, a polícia procurou investigar, mas não achou os pais das crianças.

Lenita não sabia explicar onde moravam e nem o sobrenome que tinham.
Só contou que o homem mal bateu neles.
Justina, então, ficou com eles e os ama muito.

- Que história interessante!
Que poderia ter acontecido com estas crianças?
Quem os teria abandonado? - indaguei curioso.
Epitácio, será que não há uma pessoa que poderá me informar mais sobre o assunto?

- Talvez Samuel saiba mais alguma coisa, ele é um socorrista desencarnado, que está sempre pela região.
Fomos até ele, que gentilmente nos disse o que sabia sobre as crianças.

- Lenita e Donizette foram abandonados de madrugada, perto da casa de Justina.
Uma camioneta parou e um homem os deixou sozinhos e chorando.

Escutei o homem falar:
"Fiquem aqui, filhos do cão, já que não tenho coragem de matá-los.
Mas para eles será o mesmo que tivessem morrido, porque não irão achá-los mesmo!"

Depois foi embora em disparada.

- Lembra-se de que cidade era a camioneta? - indaguei.
Depois de esforço para recordar, Samuel falou o nome da cidade.

- Já é uma pista, agradeço, ajudou-me bastante.
- Vai tentar encontrar os pais das crianças? - perguntou-me Samuel.
Por quê?

- Vou tentar achá-los sim.
A história desses garotos me intriga.
Talvez eles não tenham sido abandonados pelos pais, mas raptados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 29, 2015 8:41 pm

A cidade escrita na camioneta era bem longe daquela onde residiam Justina e as crianças.

Ficava em outro Estado.
Também existia a possibilidade de a camioneta ter sido emplacada em outra localidade.

Achando muito misterioso o abandono das crianças, resolvi investigar.
Registei na memória as fisionomias das pessoas com quem Lenita havia sonhado.

Epitácio retornou à Colónia e ao seu trabalho.
Justina estava bem, o socorro espiritual dera resultado.

Eu, porém, fui à cidade citada por Samuel, ao local da placa da camioneta.
Cidade pitoresca, porém não era tão pequena e não seria fácil investigar sozinho.

Localizando um Centro Espírita, fui até lá pedir informações.
Um trabalhador desencarnado da casa soube me informar.

- Há três anos foram raptados dois filhos de um casal.
Eles são mulatos como descreveu, talvez sejam os mesmos.
Levo você até a casa deles.

Ao ver Marília e Edson, reconheci-os.
Descansavam após o jantar.
Resolvi ficar ali no lar deles.

Despedi-me agradecendo ao meu cicerone.
Indaguei-os em pensamento e isto bastou para que recordassem o passado.
Marília disse ao esposo.

- Onde será que estão nossos filhos?
Estarão vivos? E bem?
- Não se martirize, Marília - respondeu Edson. - confiemos.
Iremos encontrá-los, confio em Deus.

- Quanto mais o tempo passa, mais sofro.
Queria tanto revê-los!

Marília recordou o que aconteceu.
Numa tarde, ela foi tomar banho e deixou as crianças brincando no quintal.
Ao sair do banho não os encontrou, e o portão que dava para a rua estava aberto.

Procurou os filhos pela vizinhança, mas ninguém soube dizer nada.

Apavorada, chamou a polícia.
E jamais tiveram notícias deles.
Ficaram desesperados e angustiados.

Mesmo três anos depois, choravam de tristeza e saudades.
O casal teve outro filho, Edinho.
Um garoto tão bonito quanto os outros dois.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 29, 2015 8:41 pm

Também descobri que o nome do menino raptado não era Donizette, mas Roberto.
Lenita, pequena, tratava o irmão de Dom e Justina concluiu ser Donizette e assim o chamava.

A casa de Marília e Edson era grande e confortável, de classe média.
Edson tinha bom emprego e ganhava bem.
O casal, religioso, seguia com fé sua crença, eram adventistas.

Pedi a meus superiores permissão para tentar ajudá-los.
Para minha alegria, recebi-a de imediato.
Horácio, um amigo, que há tempo trabalha em casos difíceis, viera ajudar-me.

Agora eu sabia onde estavam os pais e onde se encontravam os filhos.
O problema era levá-los a descobrir.

Optamos pelo sonho.
Afastaríamos da matéria dormente os encarnados envolvidos nesta história e tentaríamos conversar com eles e incentivá-los a procurar os filhos no lugar certo.

Sonhos podem ter muitos significados.
Muitos levam a sério até demais, outros nem tomam conhecimento.
Iríamos insistir fazendo com que, tendo sonhos repetidos, viessem a acreditar e, assim, os levaríamos a investigar.

Faço, entretanto, um alerta quanto aos sonhos.
Podem ser recordações de outras encarnações e da actual, ou encontros com pessoas encarnadas e desencarnadas.

Pode acontecer que o perispírito saia do corpo físico e a pessoa recorde total ou parcialmente o ocorrido.
Mesmo com sonhos repetidos, devemos ser cautelosos ao analisá-los, porque podem ser avisos de bons espíritos como de maus, ou, também, reflexo de um problema que aflige quem sonha.

Horácio ia encarregar-se dos pais e eu, de Lenita.
No horário combinado, levei Lenita em perispírito ao lar de seus pais, enquanto seu corpo ficou dormindo na casa de Justina.

Lenita chegou encabulada, mas quando viu os pais reconheceu-os e estes a ela.
Abraçaram-se emocionados.

- Lenita, como você está linda!
Como cresceu! - exclamou a mãe emocionada.

O primeiro encontro foi rápido, levei Lenita de volta e Horácio retornou os pais aos corpos físicos, que estavam adormecidos.

No outro dia ao acordar, Lenita comentou com Justina:
- Madrinha, sonhei com uma fada linda e boa que mora numa casa grande e bonita.

Em Edson ficou somente uma lembrança de que vira a filha.
Mas Marília recordou parte do sonho.
Pacientes, Horácio e eu fomos sempre que possível fazendo com que se encontrassem.

Porém Lenita ficou saudosa e triste e, na creche, começou a chorar que queria a mãe e o pai com quem sonhava e que moravam naquela casa bonita.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 29, 2015 8:42 pm

Marília começou a inquietar-se com os sonhos.
Passei a ficar durante o dia com ela e tentei achar alguém de seu convívio para nos ajudar.

Eles não acreditavam, tornando tudo mais difícil.
Embora não aceitando muito benzeções, Marília às vezes levava Edinho para que uma senhora que morava perto de sua casa, o benzesse.
Escondida tanto do marido como dos membros de sua religião.

Como uma vizinha e amiga levava o filho, ela ia junto.
E, como isso fez bem ao Edinho, passou a levá-lo mais vezes.

Dona Bárbara, a benzedeira, era católica, mas médium.
Ao benzer o menino, pude intuí-la para que dissesse à Marília que via seus outros dois filhos vivos sadios.

Marília começou a chorar e lhe contou os sonhos:
- Dona Bárbara, tenho sonhado com Lenita.
Ela me aparece em sonhos sadia, bonita e diz que o irmãozinho está bem.

- Sonhos repetidos podem ser avisos - falou Dona Bárbara.
Quando sonhar novamente pergunte à menina onde está, em que cidade.
- Será que posso? Em sonhos não se manda.
- Fixe a pergunta antes de dormir. Queira saber. Tente.

Marília foi para casa resolvida a tentar e pôs-se a pensar que iria perguntar à filha onde ela estava.

Fui ficar com Edson.
Descobri que um colega dele de trabalho era Espírita.
Pedi-lhe várias vezes que comentasse com o amigo o que estava ocorrendo.

Até que me atendeu, chamou o colega para uma conversa reservada e comentou os sonhos que ele e a esposa estavam tendo.

- São sonhos repetidos, acordo e tenho a sensação de que realmente estive com minha filha.
O que me diz sobre isso?
Que acha desses sonhos?

Como é bom encontrar bons Espíritas em nossa ajuda.
O moço explicou a Edson sobre sonhos e o aconselhou que retornassem às buscas.
Que indagasse à filha, quando sonhasse, para saber onde eles estavam.

O casal comentou o ocorrido.

- Isto está parecendo algo mais do que uma simples coincidência – disse Marília.
Ambos recebemos o mesmo conselho.

- Marília, vamos tentar seguir as instruções que nos foram dadas.
Quem sabe não descobriremos nossos filhos?

Pedi a Lenita tanto com ela acordada, intuindo-a, quanto desligada pelo sono, que dissesse aos pais a cidade em que morava.
Marília adormeceu preocupada com a pergunta.
Levamo-los para outro encontro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 29, 2015 8:42 pm

Após os abraços, Marília indagou à filha:
- Minha filha, onde mora? Em que cidade?

Lenita falou e Marília repetiu várias vezes.
Horácio a levou para o corpo rapidamente e a acordou.
Marília despertou falando o nome.

- Edson, acorda!
Marília acordou o marido, que Horácio acabara de levar ao corpo.
- Que foi? - indagou Edson assustado.
- Acordei falando o nome de um santo.
Parece que ouvi Lenita dizer este nome.
Que poderá significar isto?

- Quando encarnados, temos ligados nosso perispírito ao nosso corpo físico.
O corpo de carne é como uma roupa para nosso espírito.
O perispírito sai do corpo carnal consciente ou quando dorme.

Consciente necessita aprender, ter conhecimentos, e isto deve ser feito para ser útil.
Quando o corpo dorme, muitas pessoas saem, isto é, o perispírito fica preso ao corpo por um cordão.

Só é realmente desligado quando o corpo de carne morre, há a desencarnação.
Quando o encarnado dorme, ele pode sair sozinho ou com ajuda de outra pessoa que pode ser encarnado ou desencarnado.

Muitas pessoas saem sozinhas e vão para lugares afins.
Isto não apresenta perigo algum ao encarnado.
E para muitos estes momentos de liberdade são prazerosos e muito úteis.

E, para termos sempre boa protecção e ir a bons lugares, é bom que oremos sempre, antes de dormir.

- Amanhã irei perguntar à Dona Bárbara - disse Marília.

A cidade onde Lenita estava com Justina tinha o nome de um santo da Igreja Católica.
Marília confundiu-se, achou que era o santo que os ajudaria.
Não acreditava nesses títulos, mas se era para achar os filhos tentaria.

No outro dia cedo, Marília foi à casa de Dona Bárbara.
Acompanhei-a.
- Dona Bárbara, sonhei com um santo, ou pelo menos com o nome de um santo.

Para minha alegria, Dona Bárbara concluiu:
- Você não sonhou com santo.
Não ia perguntar a sua filha onde ela está?
Não existe uma cidade com esse nome?

- Mas é tão longe daqui!
- Marília, seus filhos não devem estar perto, senão já teria achado.

Marília ficou esperançosa.
No almoço, contou ao esposo a conversa que teve com Dona Bárbara.
Edson, à tarde, aconselhou-se com o colega Espírita.
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Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 2 Empty Re: Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 29, 2015 8:42 pm

- Vão até essa cidade! Tentem!
Estamos perto de um feriado prolongado.
Acredito que vocês estão se encontrando com sua filha nesses sonhos e que ela lhes disse onde está.

Resolveram ir.
Temendo que não os achassem, levei-os para outro encontro e pedi à Lenita que dissesse à mãe que os procurasse na creche.

Insisti em que Marília repetisse várias vezes.
Ao acordar, recordou-se da creche, e concluiu que deveria procurar os filhos em creches.

Deixaram Edinho com os avós e viajaram.
Foram esperançosos, Horácio e os acompanhamos.
Hospedaram-se num hotel, e no outro dia, logo cedo, foram visitar as creches da cidade.
Marília explicava nas creches o que foram fazer.

- Estamos procurando uma menina de seis anos e um menino de três anos.
São mulatos e adoptados.
A menina chama-se Lenita.

Na terceira creche uma resposta esperançosa.

- Temos duas crianças como descreveu e são adoptadas, vou buscá-las.
Lenita ao vê-los gritou contente e correu para a mãe.
- A fada com que sonho! A outra mãe!

Choraram emocionados.
A assistente da creche telefonou para Justina que veio rápido e preocupada.
Lenita ao ver Justina gritou contente.

- Madrinha, estes são os meus pais.
Meu pai e minha mãe!

Justina levou um susto, e Marília explicou.
- Senhora Justina, tivemos nossos filhos raptados e foram abandonados aqui, nesta cidade.
Como eles vieram até a senhora?

Justina falou tudo o que sabia e concluiu:
- Que maldade!
Julgamos que eram órfãos ou que foram abandonados pelos pais.
Nunca poderia imaginar uma maldade dessas.

Justina ficou feliz por terem encontrado seus pais, porém sentia deixá-los.
Lenita não saía do colo da mãe, mas Roberto assustado não queria largar Justina.

Passaram a tarde juntos.
Edson e Marília foram à casa de Justina e não puderam conter o espanto, ao ver que eles moravam numa casinha tão simples e pobre.

Aquela noite Lenita foi dormir com os pais no hotel, e Donizette Roberto ficou com Justina.
Edson teve uma ideia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 29, 2015 8:42 pm

- Justina, venha connosco, mais os outros dois meninos.
Vamos todos morar juntos, nossa casa é grande e tem muito espaço.

Justina pensou muito, pediu conselhos aos patrões que lhe disseram:
- Justina, você criou, cuidou dos filhos deles todos esses anos, agora querem recompensá-la.
Eles têm posses, achamos que deve aceitar.

Justina aceitou, desfez-se de sua casinha, acertou tudo e partiram.
Logo na chegada, Justina se decepcionou.
Agrados e presentes foram para os dois, Lenita e Roberto, enquanto que Rodrigo e Juquinha ficaram só olhando.

- Você, Justina, vai dormir com os dois meninos no quarto do quintal - disse Edson.

Justina gostou do quarto, era grande e espaçoso, mas no quintal.
Era para lá que iriam quando a família recebesse visitas.
E, quando a apresentavam, era como empregada.

Escutei com tristeza Edson dizer a Marília:
Não dê moleza à Justina, mande-a fazer todo o serviço, e não deixe os dois meninos entrarem em casa.

Como a ingratidão tem gosto de fel.
Justina passou a trabalhar muito, mas não se importava, pois estava acostumada, não gostou foi do modo como tratavam seus dois meninos.
Assim que chegaram, a cidade toda ficou sabendo da volta dos garotos.

Edson evitou o colega Espírita, e nem o agradeceu.
Também evitaram comentários sobre o assunto.
Disseram que foi pura coincidência.

Porém o homem que raptou as crianças, deixou escapar entre alguns amigos:
"Não sei como os acharam, deixei-os tão longe!"

Edson ficou sabendo e fez uma denúncia.
O delegado o interrogou e ele acabou por confessar.
Antes de Marília se casar, fora namorado dela, que o trocou por Edson.

Apaixonado, não se conformou em vê-los felizes.
Planeou e executou o rapto.
Foi condenado e preso.

O Natal se aproximava e Justina resolveu ir embora antes dessa data.
Escreveu para sua ex-patroa narrando os acontecimentos.
A mãe da ex-patroa de Justina gostava demais dela, sentia sua falta e não estava se adaptando com a nova empregada.

Contente em tê-la novamente, sua antiga patroa respondeu logo, mandando até dinheiro para as passagens.

Justina, ao receber a carta, falou de sua partida a Edson e Marília, que suspiraram aliviados.
Lenita e Roberto acostumados novamente com os pais não se importaram com a partida da madrinha.
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Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 2 Empty Re: Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 29, 2015 8:43 pm

Justina voltou.
Seu barraco fora ocupado por outra família.
Sua patroa acomodou-os no quarto do quintal.

Os patrões gostaram dos meninos e não deixaram Justina procurar outra casa.
Em pouco tempo, estavam amando as crianças, que foram acomodadas dentro da casa, e prometeram a Justina ajudá-la a criá-los.

Rodrigo não engraxava mais sapatos e Juquinha não foi mais para a creche.

- Justina - disse a patroa -, estas crianças nos trouxeram alegria.
Que bom ter vocês aqui connosco!
As duas crianças estavam felizes, e Justina, tranquila.

Algum tempo passou.
Voltei para visitar os componentes desta história real.
Encontrei Justina feliz com Rodrigo e Juquinha.

Seus patrões tinham realmente encontrado nas crianças uma razão para viver, cumpriam o que prometeram, tratavam as crianças como se fossem netos deles.
A senhora idosa amava os meninos.
E todos estavam em paz e contentes.

Mas o lar de Edson e Marília estava enlutado.
Quando cheguei, tomavam o desjejum e conversavam.

- Edson - disse Marília triste -, faz dez meses que Lenita faleceu, levamos três anos para encontrá-los connosco ficou seis meses somente.
- Tudo nossa culpa!
Lenita nos disse que tinha sempre essas crises e que Justina a curava.

Como fomos ingratos com essa mulher!
Pobre, apiedou-se de duas crianças abandonadas e cuidou delas com amor e carinho.
Talvez tenha passado fome para alimentá-los.

E o que fizemos?
Deus nos devolveu nossos dois filhos e nos ofereceu mais dois.

Não aceitamos!
Não tratamos bem nem Justina e nem os dois meninos.
Se ela estivesse aqui, não iríamos internar nossa filha, quando teve a crise, não teria então tomado a penicilina e não teria morrido.

- Fomos ingratos! - Marília concordou.
Talvez Justina, mais cuidadosa do que nós, soubesse que ela não podia tomar esse medicamento.
Não fizemos o teste.
Mas, como decidimos, nada contaremos à Justina, em resposta às suas cartas, da morte de Lenita.

Para ela, as crianças estão bem.
Depois, Edson, temos Roberto e Edinho.
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Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 2 Empty Re: Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 29, 2015 8:43 pm

- Que Deus nos perdoe! - falou Edson profundamente triste.
Justina sempre cuidou das crianças com amor.
Lenita tinha crises, que eram curadas com chás caseiros e alguns remédios receitados pelo médico da creche.

Justina não sabia que Lenita não podia tomar penicilina.
Vim a saber de notícias de Lenita.
Ela estava bem num internato do Educandário de uma Colónia.

Adaptou-se fácil à vida e a Espiritualidade.
Como a ingratidão fere o ingrato!
Edson e Marília sofriam e estavam arrependidos.

Eu esperava que tivessem aprendido a lição, porque quando aprendemos passamos a ter consciência e evitamos cair nos mesmos erros.

Edson e Marília cresceram em experiência.
E esperava que a gratidão passasse a fazer parte dos sentimentos do dia a dia deles.
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Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 2 Empty Re: Aconteceu - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 29, 2015 8:44 pm

**********
Guilherme e Leonora eram um casal com seus setenta anos, que não acreditavam em religião.

- Diziam ser católicos, porém nunca foram praticantes.
Fizeram um estranho pacto:
quando achassem que não valeria mais a pena viver, iam morrer juntos.

Discutiram muito o assunto e concluíram:
- Tudo acaba com a morte! - disse Guilherme.
- Não vale a pena padecer por doenças e nem sofrer a separação, se um de nós morrer primeiro – concluiu Leonora.

O casal não tinha filhos, era de classe média.
Aposentados, possuíam duas boas casas, uma em que residiam, a outra alugavam.

A família deles era pequena, e os mais próximos dos quais gostavam muito, eram dois sobrinhos, pessoas boas e desinteressadas, que os visitavam sempre.

Fizeram um testamento em favor desses sobrinhos.
Guilherme e Leonora tinham um grande afecto um pelo outro, cuidando-se com tanta ternura que encantavam a todos que os conheciam.

Fazia quase sessenta anos que viviam juntos e sempre se entenderam e amaram com sinceridade.
Guilherme ficou doente, estava com problemas nos rins e no coração.

O médico que tratava deles, internou-o no hospital.
Os dois conversaram com o médico e quiseram saber a extensão do problema.
Ele foi sincero e disse que era grave.

- Leonora - disse Guilherme -, acho que chegou a nossa hora.
- Também acho - disse a esposa -, vamos executá-la em casa.
Quando você tiver alta no hospital, iremos para nosso lar e lá morreremos.

Já tinham em casa o veneno fortíssimo que os levaria à desencarnação pelo suicídio, mas o médico não quis dar alta.

Querendo morrer em casa, esperaram.
Eles eram pessoas boas e honestas, e sabiam do transtorno que seria o suicídio naquela clínica.
Tinham pelo médico uma sincera amizade e não queriam que ele, nem o hospital ficassem prejudicados.

A mãe de Leonora, Mercedes, desencarnada há tempo, veio para tentar ajudá-los.
Inquieta com os planos da filha e do genro, estava fazendo todo o possível para que mudassem de ideia.

Anita era a esposa do proprietário de uma livraria Espírita.
Conhecia Guilherme e Leonora, sem entretanto lhes dedicar grande amizade.
Ao ter conhecimento da hospitalização do Sr. Guilherme, orou fervorosamente para o casal.

A oração sincera é uma doação de fluidos benéficos.
O casal sentiu-se melhor.

Mercedes sentiu que alguém orava pelos dois.
Atraída, foi à fonte dos fluidos e encontrou Anita.
Percebeu que tinha muita sensibilidade.
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