LUZ ESPÍRITA
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Aqueles que amam - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho.

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Aqueles que amam - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho. - Página 4 Empty Re: Aqueles que amam - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho.

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 24, 2015 10:02 pm

Receberam-me bem e deixaram claro que não aceitavam minhas ideias e deveria fazer minha parte, meu trabalho, sem incomodá-los, e o chefe me advertiu:
- Não gostamos do padre José e nem dos seus actos, mas o respeitamos.
Também reconhecemos que ele é um grande homem e corajoso!
Ele luta com outras armas e nós usamos as mesmas que nossos inimigos, não interfira!

Senti-me derrotado e triste.
Fui à colónia pedir conselho.

Escutei-os de um instrutor:
- Lourenço, foi válido tentar ajudar esses vingadores.
Porém, meu caro, temos nosso livre-arbítrio, nós e eles fazemos dessa liberdade o que quisermos, só que tudo fica dentro de cada um, registado.

Sabemos dessas reuniões.
Ao virem para estas terras os imigrantes encarnados, vieram também os desencarnados e aqui instalaram-se.
Os bons começaram a construir, outros foram para o umbral organizar locais para se estabelecerem e muitos vieram atrás de seus algozes.

Você não deve interferir, ajude-os se vierem lhe pedir, não se sinta triste.
Ame-os, o amor anula o ódio.

Voltei para perto de José Maria e motivei-o a continuar seu trabalho na escola dos pobres.
E ele também permaneceu no grupo abolicionista.

Um dia o desencarnado que vigiava o padre superior veio me procurar.
- Senhor Lourenço, estou aflito!
Quero ajudar minha filha encarnada e não sei como.
Meu grupo não tem como auxiliá-la.

- Fale, meu amigo - disse -, se eu puder, ajudarei com prazer.
- Ela é escrava na Fazenda Santa Teresa, que fica aqui perto.
Minha filha ama um outro escravo, é amada, só que o sinhô tem outros planos para ela, a quer como amante.

Ela está sofrendo muito e tem medo.
Estão planeando fugir, mas se não tiverem para onde ir, se darão mal.
Vocês que ajudam os fugitivos, não poderiam ajudá-los?

Ele me deu todos os dados.
Tentei transmitir isso ao meu filho, não é fácil!
Falei a ele por muitas vezes, prestou atenção, mas não consegui transmitir e nem ele captar todos detalhes, mas ficou a ideia, os factos principais.

Três dias depois o grupo se reuniu e José Maria lhes falou:
- Na Fazenda Santa Tereza há um casal de escravos que querem fugir.
Será que não podemos ajudá-los?
- Como se chamam?
Quem são eles? - indagou um do grupo.

- Não sei! - respondeu meu filho.
Parece que o fazendeiro está molestando a mocinha.
- Conheço aquele homem - disse Josias.
Este fazendeiro costuma ter as jovens escravas como amantes.
Mas como ajudá-los?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 24, 2015 10:02 pm

- Meu cunhado é feitor lá - disse Firmino. - não faz parte do nosso grupo por medo, mas tem ideias abolicionistas.
Talvez ele nos ajude.
- Peça a ele para nos ajudar - disse Josias -, para marcar a fuga para este sábado à noite, e avisá-los para se dirigirem à Pedra Redonda.

- Por que lá? - indagou um deles.
- Estarei lá e indicarei para onde eles devem ir - respondeu Josias.
É arriscado comentar com alguém a respeito da casa assombrada.

A Pedra Redonda é caminho e todos sabem onde fica.
Estarei lá, não deixarei que me vejam, indicarei o caminho e explicarei a eles o que fazer.
Agirão como o outro escravo, ficarão lá até as buscas acabarem e depois irão para o quilombo.

- E se não der para eles fugirem neste sábado? - indagou Firmino.
- Que façam no próximo - respondeu Josias.
- E se meu cunhado não quiser se envolver? - perguntou novamente Firmino.
- Peça a ele, diga-lhe que o grupo ficará devendo-lhe este favor - respondeu Josias.
Mas leve este dinheiro a ele. Talvez o faça por isto.

A reunião acabou. Eu acompanhei as negociações.
O feitor aceitou o dinheiro, deu o recado aos dois jovens apaixonados, que no sábado à noite fugiram.

Josias os esperava, falou-lhes da casa.
Os dois tiveram medo, mas foram, e os desencarnados que lá estavam não os assombraram, tentaram até ajudar.
Dias depois, seguindo as recomendações de Josias, partiram para o quilombo e tiveram mais uma fuga com sucesso.

O pai da jovem escrava, o vigia desencarnado do padre superior, veio me agradecer:
- Obrigado, sr. Lourenço! Deus lhes pague!

Tornamo-nos amigos e eu acabei por convencê-lo a esquecer as mágoas, perdoar e aceitar um socorro, ele assim fez.
Porém veio outro da organização, do grupo de vingadores, para substituí-lo com um recado para mim.

- Nosso chefe mandou lhe dizer que não deve interferir mais em nossos assuntos.
Não quero conversa com você, não irei responder quando se dirigir a mim.
Faça o seu trabalho e deixe-nos fazer o nosso.

Este realmente agiu assim, não ficava perto de mim, nem respondia aos meus cumprimentos e continuou atento ao seu trabalho.
José Maria continuava trabalhando muito e era cada vez mais amigo dos pobres e escravos, que o queriam bem e retribuíam com carinho o amor que ele dedicava a todos ainda por anos.

Era trabalhoso organizar tudo.
Como ia bem, o padre superior o deixou encarregado de cuidar dos empregados e escravos, e estes eram bem tratados e, mesmo sem que a congregação quisesse, servia de exemplo, de um bom exemplo.

Os empregados e escravos bem alimentados e sem maus-tratos rendiam mais, pois trabalhavam felizes.
José Maria leccionava pouco no colégio, dava aulas para os meninos com menos idade.
Era óptimo professor e a garotada gostava dele, mesmo depois, vários anos lectivos mais adiantados, estavam sempre procurando-o para que os ajudassem em algumas matérias.

Ensinava-os com muito gosto e carinho.
Passou a ir três vezes por semana na escola à noite.
Mesmo cansado ia alegre e ensinava os pobres, os que não conseguiam pagar para aprender.

Havia uma senhora rica e viúva que gostava muito do meu filho e exigia que ele fosse à sua fazenda uma vez por mês para confessá-la.
Como dava generosas esmolas ao convento, o padre superior permitia que ele fosse.
Esta senhora preparava deliciosos lanches e o fazia comer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 24, 2015 10:02 pm

- Coma, padre José - dizia ela delicadamente.
O senhor precisa se alimentar. Está tão magro!

Conversavam amigavelmente, meu filho a alertava da igualdade entre os filhos do mesmo Deus.

- Padre José - disse ela um dia -, por que Deus sendo pai dos negros os deixa ser escravos?
Por que Ele os pune?
- Será que Deus, Pai Amoroso é quem pune?
Ou somos nós mesmos que traçamos nosso destino?
Creio que Deus é Misericordioso e nós devemos ser também Ele nos ama e nós devemos amar uns aos outros.

O porquê de muitas coisas não sei explicar.
Deus é Justo! Não deve condenar ninguém ao inferno eterno, deve nos mandar de volta à Terra quantas vezes for necessário para que aprendamos.

A senhora não entendeu bem, mas se pôs a pensar no que gostaria que lhe fizessem se ela fosse negra e escrava.
Deu carta de alforria a todos seus escravos. Houve confusão.
Seus herdeiros acharam ruim e culparam José Maria, concluíram que foi ele que induziu a rica senhora a tomar essa atitude.

A senhora o defendeu, disse a todos que a ideia fora dela, mas ninguém acreditou.

Numa visita ela disse ao meu filho:
- Padre José, espero não lhe ter trazido problemas.
Fiz o que achei melhor.

- Foi um gesto bonito da senhora!
Não ligue para críticas e comentários.
Agiu conforme sua consciência e actos generosos não são entendidos por muitos.
Alegro-me por tê-la como amiga! Orgulho-me do seu gesto.

- Meu consolo - disse ela - é que nem Jesus agradou a todos!
Tudo passa, nós, eles e a escravatura.
Logo esquecerão meu gesto.

Muitos dos ex-escravos, dos libertos, ficaram como empregados na fazenda dessa senhora, mas outros saíram querendo desfrutar de sua liberdade e a confusão piorou.

Não achavam emprego, começaram a passar fome e ser acusados de furtos e arruaças, e realmente muitos os fizeram.
A cidade ficou em alerta, José Maria teve que interferir.
Arrumou emprego para alguns, aconselhou outros a voltarem para a fazenda e outros a partir.

Entristecemo-nos, vimos que não bastava ser liberto, tem que saber agir com a liberdade.
Que não bastava libertar os escravos, tinham que dar meios para sobreviverem dignamente.

O grupo abolicionista incomodava a elite da época.
Os escravocratas da região estavam inquietos e atentos.
Muitas fugas estavam sendo realizadas sem deixar rastros e empenharam-se para acabar com o grupo.

Naquela noite haveria reunião, eles iam se reunir numa clareira no bosque .lugar agradável, não longe da cidade, onde havia um riacho com uma bonita cachoeira.

José Maria teve um dia agitado, com muitos problemas na obra, fiquei ajudando a resolvê-los.
Depois da aula da noite, foi para seu quarto e arrumou tudo para ir à reunião.
No horário marcado, uma hora da madrugada, saiu cauteloso do quarto, acompanhei-o.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 24, 2015 10:03 pm

Fez tudo como de costume:
subiu na árvore, amarrou a corda no galho, desceu rente ao muro, escondeu a corda e andou apressado.
Não havia ninguém na rua, chegou rápido ao local do encontro.

Logo foram chegando seus companheiros e um ex-escravo desencarnado veio aflito me avisar, ou avisar-nos, porque eu não era o único desencarnado, outros acompanhavam o grupo tentando ajudá-lo.

- Amigos! - disse nervoso o escravo.
Fomos traídos!
Firmino, por dinheiro, delatou o grupo e uma emboscada está sendo preparada.
Prenderão todos!

Verificamos, ele falava a verdade, muitos homens armados cercavam o local.
Tentamos alertá-los.
Aproximei-me de José Maria.

"Filho, onde está Firmino?
Não veio! Traiu-os! Foram descobertos!
Prestem atenção, fujam depressa!"

José Maria ficou inquieto e disse aos companheiros:
- Estou com uma sensação estranha!
Acho que fomos descobertos!
É melhor adiar a reunião!

- Também estou inquieto - disse um outro. - Estou receoso.
- E Firmino? Por que não veio? - indagou outro.
- Deixem de besteiras! - exclamou Josias.
Em todas as reuniões alguém tem esse receio.
Nada de mau acontecerá.
Firmino deve ter tido problemas ou deve estar atrasado.
Vamos ao nosso assunto...

Escutaram um barulho.
- Será Firmino? indagou um do grupo.
- "José Maria - insisti -, vocês foram descobertos.
Fujam! Foram traídos!"

Ele hesitou, pensou que talvez a sensação de perigo era porque estava com medo, eu persisti.
Os outros desencarnados tentavam também alertá-los.
Essas situações são muito difíceis para nós, desencarnados.

Vimos o grupo armado rodeá-los, vinham com cuidado para atocaiá-los, com intenção de matar ou prender.
Pedi socorro aos amigos da colónia, mas recebi a resposta de que não tinham como interferir.

Meu filho acabou por falar:
- Sinto, amigos, mas acho que fomos descobertos.
Acabemos com a reunião, se nada acontecer, será marcada para outro dia.
Dispersemo-nos! Rápido!

Alguns correram e escutaram um tiro.
O grupo se desfez rápido, mas estavam cercados.
Fiquei ao lado de José Maria, que não se apavorou e tentou proteger os amigos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 24, 2015 10:03 pm

Foi agarrado por dois homens e imobilizado.
Alguns de seus companheiros estavam armados e houve troca de tiros.
Dois deles tombaram feridos mortalmente e um do outro grupo também.

Acenderam uma tocha, um deles, um fazendeiro do local que liderava o grupo, iluminou o rosto dos prisioneiros.

Seis foram capturados.
O grupo era de onze:
Firmino, que não veio, dois que morreram ali, seis que foram presos e dois que fugiram.

O fazendeiro foi olhando um por um, ao ver Josias, exclamou admirado:
- Ora, veja só, o mulherengo do Josias!
Quem diria que esse almofadinha é um abolicionista.
Vai matar seus pais de desgosto!
Padre José?
Não é possível! Será mesmo?

Espantou-se quando iluminou o rosto de meu filho.

- É sim! - disse um deles.
É o padre, embora esteja vestido com roupas comuns, é o padre. Conheço-o!
- Levem os prisioneiros para minha fazenda.
Prendam-nos na senzala, onde deixo os escravos fujões.

Menos Josias, sou amigo do pai dele. vou levá-lo para sua casa.
Também não leve o padre, vamos deixá-lo no convento, o entregarei ao padre superior. não gosto de me meter com padres.
Deve dar azar matar um!

José Maria escutou quieto, quando o fazendeiro terminou de falar, ele disse:
- Sou o líder do grupo!
Aliás, não existe grupo, sou só eu.
Convidei-os para que viessem se aliar a mim.
Nunca vieram antes.
Sou só eu e os dois que morreram.

Gargalharam.

- Quer que acreditemos que é herói sozinho? - falou o fazendeiro com ironia.
Sabemos que são dez ou onze e como agem.
Acha que sou tolo de acreditar que um padre franzino tenha feito sozinho essas fugas?
Vamos embora!

Alguns homens levaram os quatro prisioneiros para a fazenda.
Outros ficaram com Josias, e o fazendeiro com outros dois levaram José Maria para o convento.

Fizeram muito barulho, bateram no portão e gritaram pelo padre superior.
Acordaram todos e o superior veio apressado.

- A bênção, padre superior - disse o fazendeiro.
Demos um fim ou estamos dando um fim no grupo abolicionista que estava fazendo arruaça na região, fazendo a nós, donos de escravos, de bobos.
Entre eles, imagine o senhor, encontramos um padre daqui.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 25, 2015 9:11 pm

Em respeito à religião e ao senhor, nada fizemos a ele, o trouxemos preso.
Espero que tome as providências, porque não vou tolerar vê-lo solto por aí.
Está espantado? Veja o senhor mesmo!

Não é o padre José?
Pois bem, aqui está!
Vamos embora que temos muito que fazer.
Ah, tem mais, ele disse ser o líder do grupo, se é, não sei, nosso delator não deu nomes.

Um deles o traiu, recebeu boa quantia de dinheiro, mas não irá aproveitar riu cinicamente.
- Boa noite!
- Boa noite!

Foi só o que o padre superior conseguiu dizer.
Acordara com o alvoroço, assustou-se e ficou ainda mais assustado ao ouvir o fazendeiro, só conseguiu mexer a cabeça.

O fazendeiro retirou-se com seus homens.
Padre superior coçou a cabeça, suspirou.
Os padres, todos do convento, estavam ali.

Acordados, vieram ver o que estava acontecendo.
O desencarnado alemão estava atento, e o ex-escravo preocupou-se.
Eu tentava ficar calmo, e José Maria estava tranquilo.

- Seu miserável! - exclamou por fim o padre superior. - Envergonha-nos!
Ter que ouvir insultos desse fazendeiro grosseiro.
E pior que ele tem razão.

Lugar de padre é na igreja e não defendendo esses negros sujos.
Vocês dois - apontou para dois padres -, segurem um em cada braço dele.
Darei a ele a lição que merece!

Pegou o chicote que ficava dependurado atrás da porta e chicoteou José Maria nas costas.

Esta atitude surpreendeu todos, até o alemão, e eu pedi a ele:
- Por favor, impeça-o de fazer isso!
- Eu? Claro que não!

Fiquei atrás dele.
Mas as chicotadas, o chicote, passavam por mim sem me lesar e iam com força nas costas dele.
Meu filho não se mexia, os dois não precisavam segurá-lo, mas na medida em que o chicote lhe cortava a carne, tiveram que ampará-lo.

José Maria tonteou e desmaiou.

Padre superior parou e ordenou rápido:
- Levem-no para o porão e deixem-no lá!

Sofri muito.
Como é triste ver pessoas que amamos sofrer injustamente.

Mas lembrei dos ensinamentos de um dos meus instrutores:
"Antes ser imerecido o castigo, recebê-lo inocentemente, que ser culpado".
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 25, 2015 9:11 pm

Queria ter recebido as chicotadas no lugar dele, sofrido por ele.
José Maria permaneceu tranquilo, segurou os gemidos, na sua mente vieram as cenas do flagelo de Jesus.

Ele também foi açoitado.
Meu filho sabia que era perigoso ser abolicionista, correu os riscos.
Só se preocupou com os companheiros e pedia ajuda a Deus por eles, mas não para si.

Dois padres o levaram para o porão, abriram a porta e o jogaram.
Na queda, caiu em cima da perna direita e a quebrou.
Novamente perdeu os sentidos.
Fecharam a porta e ele ficou na mais completa escuridão.

Chamei pelo médico meu amigo.
Ele veio e aplicou um remédio que lhe tirou um pouco as dores.
Ele despertou.

- É necessário, Lourenço, que ele enfaixe a perna antes que ela inche.
"José Maria, meu filho - disse-lhe com carinho -, tire a camisa, o que resta dela, e enfaixe a perna".

Ele sentou-se e me atendeu.
Com dificuldade tirou a camisa retalhada e toda suja de sangue e enfaixou a perna.
Estava ofegante, deitou no chão de bruços, nosso amigo médico deu-lhe um passe e ele adormeceu.

- Está muito ferido e necessitado de água e cuidados.
Lourenço, acalma-se! Inquieto não o ajudará.
Voltarei para vê-lo.

Foram dias terríveis.
Padre superior não deixou ninguém ajudá-lo. Só lhe deram água.
Ele sentiu muitas dores e teve uma febre que o fez delirar.

Fiquei ao seu lado, como também muitos amigos desencarnados vieram vê-lo.
Só com a ordem do padre superior iria ser libertado, tentei fazer que o tirasse do castigo.
José Maria não iria resistir por muito tempo, fraco, com febre alta e sem se alimentar, jogado no porão húmido e frio que só tinha uma escassa claridade durante o dia.

Pedi humildemente ao alemão:
- Não temos por que ajudá-los.
Deveriam ter ficado quietos em vez de auxiliarem esses seres imundos.

O grupo de vingadores não quis interferir.

Orei pedindo ajuda, então veio um espírito que se apresentou a nós:
- Sou um cardeal, fui um cardeal e como superior vocês me devem obediência.
Aqui vim para que libertem o padre José.

Olhou para o alemão, que ao vê-lo se alegrou, depois desconfiou, mas ficou quieto ouvindo-o.

- Sabe que age errado.
Já foi advertido várias vezes.
Já escutou conselhos e vocês dois continuaram agindo erradamente.
Quero que fale ao padre superior, que ele liberte e mande cuidar deste padre.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 25, 2015 9:11 pm

O desencarnado alemão temeu, ali estava um superior dele, sem muita vontade obedeceu.
Chegou perto do padre superior e cochichou ao seu ouvido, porém o ouvimos.

"É melhor mandar soltar o padre José e cuidar dele, senão ele irá morrer."
"Que morra! - pensou o padre superior.
Nem a congregação e nem o convento perderão nada".

O alemão inquietou-se diante do olhar desse espírito e insistiu:
"Solte-o e cuide dele já!"

No mesmo instante o padre superior atendeu, demonstrando o quanto os dois agiam juntos.
Foi por isso que esse espírito que veio nos ajudar ordenou que o alemão desse a ordem ao padre superior.
Sabíamos que ele tinha influência sobre este.

Sem hesitar, como se tivesse resolvido um problema, o superior chamou um dos padres e deu a ordem:
- Vá ao porão e socorra aquele infeliz do padre José Peça ao padre Afonso para cuidar dele.

Suspirei aliviado e agradeci a interferência desse bondoso espírito.
O padre saiu apressado para cumprir a ordem, chamou dois escravos e foram ao porão.
Estremeceram de pena ao ver José Maria, o pegaram com cuidado e o levaram para o quarto.

Deram-lhe leite quente e um banho e chamaram padre Afonso para cuidar dele.
Padre Afonso e os dois escravos limparam cuidadosamente os ferimentos e enfaixaram novamente sua perna.

Deixaram-no em seu leito.
José Maria, nesses cinco dias que ficou no porão, não reclamou.
Agora no seu leito deu graças a Deus, sentiu-se confortável e a febre cedeu.

Um escravo foi escalado para cuidar dele e o fez com muito carinho.
Estava fraco, magérrimo e não conseguia nem sentar sozinho, mas sua preocupação ainda era com os companheiros.

Indagou ao escravo que cuidava dele:
- Amâncio, você sabe o que aconteceu com os outros?
Com os meus companheiros?

- Três foram mortos naquela noite - respondeu o escravo -, dois dos seus companheiros e um do grupo do fazendeiro.
Josias foi embora para o Rio de Janeiro a mando do pai.
Há dois presos e dois morreram na senzala para onde foram levados, dizem que foram torturados.
Foi descoberto o esconderijo dos escravos fujões, a casa mal-assombrada.

Parece que tudo acabou, padre José.
Sinto muito. Mas dois fugiram e não foram capturados.
Agora tem o sr. Firmino, que apareceu morto, enforcado, não se sabe se tinha ligação com o grupo ou não.
Uns dizem que foi ele o traidor, que se arrependeu e se suicidou.

- Coitado! - exclamou meu filho suspirando.
- Coitados!

José Maria se recuperava lentamente.
Ajudei meu filho a saber o que aconteceu de facto.
Josias foi levado ao pai, que quase teve um ataque do coração com o desgosto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 25, 2015 9:11 pm

Dois dias depois foi levado por cinco empregados ao Rio de Janeiro.
Lá teria que trabalhar para viver.
Seu pai não lhe deu mais dinheiro.
Seus tios o abrigaram e o sustentaram até que arrumou um emprego.

Logo ele passou a fazer parte de outro grupo abolicionista.
Os dois que fugiram foram para a casa assombrada e na noite seguinte para o quilombo, e de lá para outra cidade, onde se estabeleceram e não quiseram mais lutar por seu ideal.

Os que foram presos foram torturados, contaram tudo e a casa assombrada foi destruída.
Dois morreram e dois ficaram meses presos, depois foram libertados doentes e marcados pelas torturas.

Deixaram a cidade.
Os quatro que desencarnaram foram socorridos por ex-escravos, levados a um Posto de Socorro.
Três aceitaram o socorro, mas um, revoltado, foi se enturmar com os vingadores.
Conversei com ele muitas vezes, mas não consegui fazê-lo mudar de opinião, optou por se vingar.

Firmino os traiu por dinheiro, mas não se suicidou.
Após ter delatado os amigos e recebido a recompensa, ficou na mira do grupo dos escravocratas.
Após terem efectuado a prisão, o fazendeiro mandou três do grupo à sua casa, pegar o dinheiro de volta e assassiná-lo.

Mas deixaram que pensassem que ele havia se matado.
Firmino desencarnou revoltado e foi levado pelo grupo dos vingadores.
Para esse grupo, ele era o mais vil de todos.
Sofreu muito e foi socorrido muitos anos depois.

José Maria, com a perna enfaixada, ficou imobilizado, ficava deitado ou sentado no leito, andava com a ajuda de Amâncio pelo quarto.
Padre Afonso cuidava de meu filho, dava-lhe remédios, fortificantes e ia vê-lo quase todos os dias.
Entendia bem de medicina e, embora não tivesse estudado, lia muito sobre o assunto.

Com ele estava sempre um espírito que fora médico quando encarnado e que ajudava-o a tratar dos doentes.
Conversava muito com os desencarnados que ficavam no convento ou no colégio, como passou a se chamar depois.
Trocávamos ideias sobre o nosso trabalho.

Este médico, Natanael, comentou quando nos reunimos para conversar:
- Queria tanto que padre Afonso também usasse seus conhecimentos para aliviar as dores dos pobres e escravos.
Por mais que lhe peça, ele não me atende.
É fiel ao padre superior e não questiona o que ele diz ou o que ensina a Igreja, obedece cegamente.

Tenho alertado para pensar e achar soluções por si mesmo, não raciocina, acata o que eles dizem.
Afirmam que negros não têm alma, ele acredita e, por mais que lhe mostre a realidade, insiste em pensar erradamente.

- Eu - disse um outro desencarnado, guia, protector de um outro padre - tenho me esforçado para que meu companheiro encarnado aja correctamente, ele mente muito, inventa histórias e aumenta factos, tento ajudá-lo a vencer esse vício, mas está difícil.
- Ora - disse outro -, meu trabalho também não é fácil.
Fui pai de Armando, o cozinheiro, tenho tentado alertá-lo para o bem.
Ele não é mau, é trabalhador, mas não quer nem se instruir e nem fazer o bem.

Prefere ver os maus exemplos em vez dos bons.
É revoltado contra o mal, mas nada faz de bom.
Só ver o mal e nada fazer não resolve a situação.
Queria que ele não reclamasse e ajudasse as vítimas da maldade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 25, 2015 9:11 pm

Eu tenho vindo visitar meu filho - disse uma senhora bondosamente. - não queria que fosse padre, mas já que entrou para a congregação, imaginei que seria um santo.
Mas ele só estuda, lecciona também, é inteligente, mas alheio aos acontecimentos à sua volta.
Além dos estudos, nada mais lhe interessa.

Estava connosco uma senhora desencarnada há muitos anos e que fora escrava, agora tentava ajudar um grupo de encarnados amigos e era guia de uma escrava.
Ela estava em situação diferente de nós, sua protegida encarnada a via, conversava com ela, a incorporava e se queixava muito por ela não conseguir melhorar a vida deles.

Esta senhora nos disse:
- Vejam, amigos, a minha dificuldade.
Amo-a, gosto de todos do grupo e queria que fossem felizes.
Tento mostrar a eles que dificuldades no corpo físico são um meio de que dispomos para achar soluções e aprender. não posso fazer o que eles me pedem, não posso resolver todos seus problemas, me cobram isso e me entristecem.
Entendi que era só eu a não ter queixas do protegido e me alegrei.

Dias depois encontrei Natanael muito triste, indaguei o porquê e ele me respondeu:
- Padre Afonso não quis cuidar de uma escrava que teve um aborto espontâneo.
Teve nojo dela. Eu insisti com ele e nada.
Só consegui que ele explicasse a outra escrava o que fazer para ajudá-la.

Tentamos, a escrava e eu, atendê-la, está com uma forte infecção, talvez não resista e ela tem quatro filhos.
Imagina, ter nojo de um ser humano!
Pensei muito sobre o assunto, querendo saber mais.

Fui à colónia conversar com meu instrutor, meu amigo Josoel, e o indaguei logo após os cumprimentos:
- Como seria realmente um bom protector?
- Tomando por princípio que a herança psíquica no mundo físico é por necessidade de individualização egoísta, precisamos motivar nos nossos protegidos os impulsos de solidariedade.
Nos mais abastados induzi-los a sentir com os mesmos problemas, assim ele sentirá desejos de ajudar a outros, pois tiveram a possibilidade de sentir a mesma coisa.

Nos menos afortunados financeiramente, induzi-los a ver que a dificuldade financeira não os impede de ser benevolentes e que há muitos modos de ser útil.
Se o protector ou guia consegue atingir esses objectivos, pode não mudar interiormente, na essência, seu protegido, mas vai colocá-lo num estado vibracional de solidariedade que o fará receptivo à intuição de que a dor ou a vitória do próximo será também a dele, pois verá que somos um só dentro do grupo humano.

Todos os homens, apesar de terem potenciais diferentes, sofrem e aspiram as mesmas coisas, têm os mesmos sentimentos.
Enfim, caminhamos para um único objectivo, ser bom.

- Mestre - disse sorrindo -, sei que não gosta que o chame de mestre...
- Prefiro que me chame pelo nome de hoje, Josoel.
É um belo nome, não?
Já me sinto gratificado por tê-lo, embora, se eu tivesse outro nome, não faria diferença.

- Josoel - disse - acho que a caridade é ponto fundamental e que ela beneficia a humanidade.
Mas tenho notado que a maneira como muitos a fazem não os modifica, pois muitos a praticam para receber algo mais ou para se sentir superiores.
Eu queria ser bom, não porque Deus quer ou porque Jesus ensinou, ou alguém disse ou ordenou.
Mas ser bom porque minha natureza passou a ser boa, não sei o que fazer para que essa mudança se realize em mim.

- Lourenço, Jesus disse a Nicodemos que era necessário que ele renascesse pela água e pelo espírito.
O que temos feito ou acontecido?
Você morreu para o corpo, eu também.
E você é o mesmo.
Houve uma continuação, embora em planos diferentes.
Somos os mesmos!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 25, 2015 9:12 pm

O Nazareno disse que é necessário que renasçamos e para isso é necessário que se morra.
Este morrer, não confunda com a morte do corpo, é uma mutação espontânea que nós realizamos pela visão da verdade, que é conteúdo da nossa consciência.
Pense sobre isso, medite e volte a falar comigo se ainda tiver dúvidas.

Despedi-me dele agradecido.
Compreendi que Josoel queria que eu pensasse e achasse por mim mesmo a melhor maneira de fazer essa mudança interior.

Dois padres iriam para São Paulo e o padre superior achou melhor mandar junto José Maria.
Prometera ao fazendeiro que ele não ficaria mais ali.

- Deverá partir - disse padre Afonso a ele.
Irá para o colégio de São Paulo depois de amanhã.
Está fraco para viajar, mas o padre superior achou melhor o senhor partir, e logo.

José Maria nada respondeu, ainda bem que o escravo Amâncio, que cuidava dele, iria junto para ajudá-lo.
Sua bagagem era duas trocas de roupa e alguns remédios que padre Afonso preparou para ele.

Partiram de manhã, não foi permitido que se despedissem de ninguém.
Meu filho olhou tudo com carinho, ao passar perto da casa onde ensinava à noite, seu coração bateu forte.
A casa estava fechada, a escola agora estava nas mãos de alguns alunos, os que sabiam um pouco ensinavam os que nada sabiam.

"Aqui fui feliz! - pensou. Fui útil!"

A viagem foi muito difícil para ele.
O escravo tudo fazia para amenizar seu sofrimento.
O caminho era difícil, às vezes ia na carroça em cima das roupas e pertences de viagem, ora ia a cavalo.

Sentia muitas dores, fraqueza e tontura.
Mas não se queixava.
Estava sempre animando os outros que reclamavam ora do calor, ora do sol forte, ora da chuva.
Pensei que ele iria desencarnar na viagem.
Meu amigo médico veio a meu pedido vê-lo muitas vezes.

E como sempre acontecia, logo fez amizade com os companheiros de viagem e estava aconselhando e orientando a todos, um dia, um dos padres até comentou:
- Conhecendo-o, padre José, vejo-o agora diferente.
Padre superior nos recomendou que ficássemos atentos ao senhor, que era perigoso e encrenqueiro.
Como o senhor pode ser perigoso?
Como foi parar no movimento abolicionista?
Por que desobedeceu as ordens superiores?

- Prefiro - respondeu José Maria tranquilamente - obedecer à voz de minha consciência e a do Cristo.
O senhor acha que se Jesus viesse à Terra iria concordar com a escravidão?
- Acho que não... - respondeu o padre.
- Penso como Ele - disse rindo José Maria.

Chegaram ao colégio de São Paulo, meu filho estava fraco, cansado e tinha muitas dores.
O superior desse colégio mandou-o logo para o quarto e pediu a um padre já idoso, padre Marinho, para ajudá-lo.
O quarto que lhe foi destinado era pequeno e perto do jardim.

Meu filho se deliciou com um bom banho de água quente e um leito confortável.
Bondosamente padre Marinho cuidou dele.
O escravo que o acompanhou veio se despedir três dias depois.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 25, 2015 9:12 pm

- Padre José, sua bênção!
Volto para o convento. Estou triste!
Lá não será o mesmo sem o senhor.
- Será sim! - exclamou meu filho.
Todos os lugares são bons quando estamos de bem com nós mesmos e com Deus.
Vá em paz! Que Jesus o abençoe!

O escravo chorou, e José Maria o abraçou e disse emocionado.

- Obrigado, Amâncio!
Você foi muito bom comigo.
Ajudou-me muito!

Com a mudança brusca de clima, meu filho adoeceu.
Ficou febril por dias, com muita tosse e dores pelo corpo.
Mas melhorou e se fortaleceu.
Sua perna não ficou mais normal, não tinha movimentos e ele só andava escorado e com apoio.

Passou a ir muito ao jardim e fez amizade com Osvaldo, um senhor gentil que era o jardineiro do colégio.
Como melhorou, ficou inquieto, queria fazer algo e pediu ao padre Marinho que intercedesse junto ao padre superior.
Este assim o fez.

- Padre José - disse bondosamente padre Marinho -, falei com o superior, ele me disse que a ordem que ele teve foi para que o senhor ficasse como prisioneiro, não deve sair do colégio e nem leccionar.
Mas achamos algo para o senhor fazer.
A biblioteca está precisando de alguém para cuidar dos nossos livros. Aceita?
- Com prazer! - respondeu meu filho contente.

E lá foi ele no outro dia para a biblioteca.
Organizava os livros com a ajuda de um escravo, limpava-os e passou a orientar os alunos em pesquisas e leituras, começou a ler muito.

Muitos amigos desencarnados estavam sempre visitando-o, um dia, tive uma surpresa, Josias veio nos ver, falou sorrindo:
- O senhor então é o pai do padre José?
Que bom saber que ele está bem amparado pela espiritualidade.

Sorri timidamente.
Seria eu digno de ser tachado de amparo de alguém?

Respondi:
- Caro Josias, José Maria é amparado por sua vontade, fé e amor.
Três forças imbatíveis.
Eu aprendo com ele.
Mas me conte, como desencarnou?
E pelo visto está bem.

- Graças aos desencarnados meus amigos, que foram escravos, estou bem.
Reconheço que fiz muitas coisas erradas, mas, como o senhor, estou a fim de aprender para acertar.
Quando o nosso grupo foi desfeito, fui para o Rio de Janeiro e lá arrumei um trabalho numa gráfica de um jornal e passei a fazer parte de um grupo abolicionista.

Mas a paixão me traiu.
Explico: me tornei amante de uma linda mulher que era também de um marechal.
Estava apaixonado como muitas vezes estive, íamos fazer, eu e mais dois companheiros, uma libertação espectacular de dois escravos que estavam presos no tronco, numa chácara perto da cidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 25, 2015 9:12 pm

A façanha foi marcada para a noite, e à tarde fui me encontrar com ela.
Levado por seu jogo, falei da aventura que planeávamos.
Quando estávamos para ir a essa chácara, um escravo dessa mulher veio nos alertar que corríamos perigo.

Ela, para agradar o outro amante, o marechal, falou a ele dos nossos planos.

Ficamos em dúvida se irmos ou não, acabei por decidir:
"Os dois escravos iriam morrer se não fossem soltos.
Infelizmente caí como um bobo nas artimanhas dessa infeliz delatora, mas só contei a ela que libertaria os escravos, e não para onde os levaria.
Sendo eu o responsável, não quero que vocês dois se arrisquem. vou sozinho!

"Os dois companheiros não quiseram se arriscar e eu fui, mas após soltar os dois escravos fui surpreendido, corri, atiraram, fui atingido e meu corpo morto.
Não consegui libertar os escravos, que morreram também, mas com a desencarnação tornaram-se livres.

"Confesso que me perturbei com a desencarnação, mas logo estava bem, fui tratado com muito carinho pelos negros que tentei libertar desse cativeiro infame que é a escravatura.
Estou bem e tive permissão para visitar padre José e outros amigos, estou estudando para depois trabalhar arduamente pela libertação dos escravos, nossos irmãos negros."

- Não guarda mágoa dessa senhora que o traiu? indaguei.
- Ora, burro fui eu em me deixar engabelar por ela.
Paguei pelo erro de me envolver com mulheres.
Nessa encarnação optei por ficar solteiro, não queria pôr em risco esposa e filhos, quis ser abolicionista e fiz disso meu ideal e objectivo.

E ser abolicionista é perigoso, é arriscar-se, não me arrependo, desencarnei feliz.
Depois, os desencarnados amigos que me socorreram me falaram muito da necessidade de perdoar.
Só quero lembrar dos bons momentos que tive, dos ruins, nem os tive, esqueci.

Josias riu, abraçou José Maria se despedindo:
- Fique com Deus, amigo! - me olhou e concluiu:
Acho, sr. Lourenço, que meu amigo padre José nunca esqueceu que tem a Luz Divina em si.
Está sempre com Deus, sente-O em si e no seu próximo. Até logo!

Alegrei-me com essa visita.
Um dia veio a notícia.

Padre Marinho contou-lhe a novidade:
- O padre superior do seu antigo colégio faleceu.
O quarto dele pegou fogo e ele morreu carbonizado.
Meu filho se pôs a orar por ele e preocupou-se:
"Será que se suicidou? Foi assassinado?"

Fui saber.
O padre superior embriagou-se e uma vela encostou em suas vestes, não deu para ele apagar o fogo, que se alastrou rápido.
Desencarnou com muita agonia.
O grupo de vingadores o desligaram do corpo carbonizado e o levaram para o umbral, o julgaram e o condenaram a sofrimentos terríveis e também levaram junto o alemão desencarnado.

Fui até os vingadores interceder por ele.

O chefe me recebeu demonstrando desagrado:
- Só o recebo porque foram úteis a muitos escravos, você e seu amigo encarnado.
Mas por que intercede? Ele pediu?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 25, 2015 9:12 pm

- Não - respondi timidamente. - Mas o conheço e...
- Esqueceu por acaso que ele surrou o padre José?
Que o prendeu no porão sem alimento?

- Esqueci...
- Se tem a mania dos bons de esquecer as acções más e lembrar as boas, diga-me uma boa acção que ele fez para vir aqui interceder por ele.
- Bem - respondi -, não sei, mas não tenho porquê saber, convivi pouco com ele e...
- Chega, amigo, vá cuidar do seu trabalho!
- Por que só agora trouxe o alemão para cá? - indaguei.
Por que permitiram que ele ficasse junto ao padre superior enquanto estava encarnado?

- Os dois agiam juntos, tiveram o tempo para plantar e agora o de colher, não o trouxemos antes porque nos convinha que fizessem mais actos errados, o possível para que nossa vingança fosse perfeita.

Entendi, são os nossos actos que nos libertam trazendo a paz ou nos condenam ao remorso dolorido, ou se ainda não estivermos arrependidos, outros que se julgam credores podem exigir pagamento.

Deixaram que ele e o alemão errassem para que tivessem mais o que cobrar.
Quanto maior a dívida, mais achavam credores.
Nada adiantou meus rogos, não me deixaram vê-los.

Depois, os dois, revoltados e orgulhosos, não queriam a ajuda que eu podia oferecer.
E por anos ficaram ali até que a dor os levou ao cansaço.
Chegaram à conclusão de que agiram errado e chamaram por socorro.

José Maria estava contente no colégio da cidade de São Paulo.
Estava aprendendo muito e aos poucos tornou-se querido por todos.
Mas sua saúde era precária, andava com muita dificuldade, tinha dores pelo corpo, estava magríssimo, mas sua expressão era sempre alegre, irradiava paz.

Logo completaria 52 anos.
Ele levantava sempre muito cedo e quando o tempo estava bom, ia ao jardim ver o sol nascer.
E foi num dia assim que sentou-se e pôs-se a orar, e eu sentei-me ao seu lado e muitos amigos vieram visitá-lo.
Leonor, Marita, Amâncio, Lenizo e muitos ex-escravos.

Estranhei, Leonor explicou:
- José Maria irá desencarnar.
Viemos lhe dar as boas-vindas.

Um socorrista aproximou-se.
Deu-lhe um passe e ele ficou sonolento.
Sentiu por um instante uma dor forte no peito, seu coração parou, mas voltou em segundos e sentiu-se bem.
Ele nos viu, sorriu feliz e foi adormecido.
Em poucos minutos estava desligado.

Marita explicou a Amâncio:
- José Maria é desapegado da matéria, seu desligamento só podia ser rápido.
Foi levado para a colónia pelo socorrista e todos os amigos o acompanharam.

Eu fiquei. Olhei para o seu corpo físico, este era magro, estava pálido, mas sorrindo feliz.

Senhor Osvaldo, o jardineiro, chegou e o cumprimentou:
- Bom dia, padre José! Está dormindo?
Vai chegar atrasado na biblioteca.
Deve estar sonhando com os anjos. Está sorrindo!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 25, 2015 9:13 pm

Chegou mais perto, examinou-o, depois passou a mão na frente do seu nariz.

Exclamou assustado:
- Meu Deus! Ele morreu!
Saiu correndo a chamar pelo padre Marinho, este veio rápido e constatou:
- Padre José faleceu!

Providências foram tomadas e seu corpo foi velado na capela.
No outro dia pela manhã foi enterrado numa cerimónia simples como sua vida.
Quando o enterro terminou, me despedi dos amigos desencarnados que estavam no colégio por vários motivos e fui para a colónia.

José Maria estava bem, acordou feliz por ver seus amigos.
Seu corpo perispiritual era sadio e despertou refeito, disposto e alegre.
Estava na casa de Marita e Amâncio. Fui vê-lo.

- Meu pai! - exclamou.
Como é bom abraçá-lo e poder agradecer tudo que fez por mim.

Sorri. Como aprendi com ele.
E como o saber é um tesouro precioso.
Compreendi que o amor é a maior força de que dispomos e a mais importante de todas as qualidades, e com ele tive inúmeros exemplos de actos de amor.

José Maria, curioso, indagava muito, rapidamente se inteirou da vida no plano espiritual.
Dias depois já estava pronto para estudar e continuar seu trabalho.
Fiquei uns dias com ele e conversamos muito.

- Meu pai - disse ele -, vou estudar e depois me dedicar à orientação das pessoas que dizem seguir uma religião.
Quero auxiliar a todos a ser religiosos, a ter Cristo no coração e como exemplo.
Ter a religião interiormente, seja qual for, e não só de rótulo.

A religião de actos externos é pouco, muito pouco e não ajuda ninguém.
Quero despertar o amor nas pessoas, levá-las a amar a si mesmas e a todas as criaturas.
E vou me empenhar com todo carinho nesse objectivo.

- E eu, meu filho, devo reencarnar.
Quero colocar em prática o que aprendi.

Meses depois, me despedi dos amigos.
Pela bendita oportunidade, voltaria a um outro corpo.

Reencarnaria.

Fim
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 25, 2015 9:13 pm

Epílogo

Depois de outra encarnação, voltei ao plano espiritual.
Aproveitei a oportunidade da reencarnação e trabalhei no corpo físico como facultativo, me senti realizado com a medicina. Estava contente.

Recordei após algum tempo todas ou quase todas as minhas encarnações.
Lembrei de José Maria, esse amigo querido que nunca me abandonou, ia sempre me visitar quando estava no corpo carnal, como também veio me ver muitas vezes quando desencarnado.
Tinha-lhe amizade, mas após lembrar, entendi que ele era mais que amigo, era um companheiro, um mestre amado.

Quis vê-lo e fui visitá-lo.
Nosso encontro foi muito emocionante para mim.
Dei-lhe um forte e grato abraço.

- Como tenho que agradecer-lhe! - exclamei alegre.
Com você aprendi muito.
É meu exemplo a ser seguido.
Meu filho, me realizei exercendo meus conhecimentos médicos nessa minha última encarnação.

José Maria sorriu com seu modo agradável e bondoso, olhou-me carinhosamente.
Ele estava há anos desencarnado, leccionando em colónias de estudos, tendo como objectivo ensinar, orientar pessoas que usaram imprudentemente alguma religião.
Também era mestre de muitos que almejavam reencarnar e ser religiosos e motivar as pessoas a se modificarem e a realmente viverem os ensinamentos de Jesus.

- Se você se sente pleno na medicina, por que não exercitar a plenitude em outro sector?
Na literatura? - indagou-me.
- Tive uma experiência com a literatura no passado que não foi muito enobrecedora - falei.

Lembranças vieram... França...

Estava desencarnado quando, numa festa no umbral, conheci um encarnado que, desligado do corpo enquanto dormia, foi o homenageado.
Era um escritor, não era de muito talento, mas escrevia muitas besteiras a gosto dos umbralinos, não gostei dele, não sabia o porquê.

Entretanto me senti atraído e passei a ficar junto dele.
Aceitou-me. Então dava-lhe ideias que acreditava serem fabulosas.

Novamente não cito nomes.
Esse episódio pelo qual sofremos muito e que no momento sentimos os erros reparados, foi um período em que abusamos do talento de modo indevido, de algo que nos foi dado como oportunidade de crescermos espiritualmente.

Esse escritor era boémio, escrevia versos no começo de sua carreira e os vendia.
Depois conseguiu escrever livros, foram poucos.
Abandonou a mulher e dois filhos e passou a viver com amigos afins, que ele sustentava.

Diverti-me junto deles.
Eram alegres, bebiam muito e viviam fazendo intrigas e chantagens.
Ele teve muitos amores, porém mesmo errando muito essas pessoas do grupo eram amigas.

Ajudava-o. Será que é o termo correto?
Ajuda não é quando só fazemos o bem?
Era o que eu achava que fazia na época.
Advirto os encarnados da necessidade de se acautelar e de aprender a distinguir o que é bom do que é ruim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 25, 2015 9:13 pm

Achava imprudentemente que o auxiliava inspirando-o a fazer o que ele queria.
Mas o que queremos é sempre bom para nós?
Não é, não foi a nenhum de nós. Erramos muito.

Continuei não gostando dele, mas gostava de seus amigos e para que todos vivessem bem financeiramente, precisava inspirá-lo, porque todos viviam de seus escritos e das consequências deles.

Eram histórias picantes, eróticas, em que sempre colocava suas ideias ateístas.
Deus existia só na imaginação dos tolos e os mais inteligentes não precisavam dessa muleta.

Um chantageado o assassinou.
Desencarnou com 51 anos, no auge da existência desregrada.
Ficou tempo no corpo, vendo-o apodrecer.

Dispersaram-se os amigos, repartiram o que ele tinha e saíram dali, da casa em que viviam.
Acompanhei um deles, o que mais gostava.
Depois de anos reencarnei longe deles.

José Maria aquietou-se enquanto pensava, depois indagou calmamente:
- Por que não dignificar então essas experiências transformando-as em trabalho, como também criar ambiente para que outros também se transformem?
- Pensei que ficaria um bom tempo no plano espiritual.
Devo reencarnar?
Ou como poderei me exercitar estando desencarnado? - perguntei preocupado.

- Poderá fazer no plano que está, desencarnado!
Você não o inspirou a escrever no passado?
Agora poderá inspirá-lo novamente.
- Mas?! - balbuciei.

- Você já não fez isso?
E o fez de modo indevido.
Por que não fazer agora para o bem?
Por esse trabalho farão as pessoas crerem de modo certo.
Só que não irá inspirá-lo, mas escrever por seu intercâmbio.
Agora essa pessoa, o escritor do passado, é médium e tem um bom potencial.

- É algo difícil!
Esse espírito não tem mais o dom, o talento de escrever.
Ele não sabe nada!
- Quem teve, sempre terá.
Agora adormecido, poderá ser despertado.
Depois será você que irá escrever.

- Vai ser trabalhoso!
Teremos que treinar por anos - falei desanimado.
- Foi fácil você motivá-lo ao mal?
Por anos inspirou-o.
Por que quer facilidades? Merece?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 25, 2015 9:13 pm

Envergonhei-me.
Entendi que aqueles que merecem são os que normalmente não as tem.
E nada se faz bem feito sem o trabalho perseverante e honesto.
E se tratando desse intercâmbio mediúnico, sempre é necessário treino, estudo e aprendizado.

José Maria, falando tranquilamente, me elucidou:
- A beleza e o prazer de realizar um trabalho estão contidos no desafio de uma dificuldade.
Junto com essa médium poderá exercitar a paciência do amor, da dedicação a um ser humano e, como nos ensinou Jesus, amar o próximo como a si mesmo.

Se quer crescer ajude o próximo como se fosse para si mesmo.
Se você quer realizar, possuir a plenitude da vida, ajude os outros a fazer o mesmo.
Depois, estão encarnados todos que fizeram parte dos acontecimentos daquela época.

Ninguém coloca culpa no outro, todos estão cientes de sua parte no erro.
Quando chegar o momento certo, se encontrarão e creio que cada um fará sua parte.
Vamos revê-los?

Como deve ter percebido o leitor amigo, a antiga esposa, o escritor ateu, Lourdinha e agora minha companheira de trabalho são um só espírito que aprende a amar espelhando-se naqueles que amam.

Após anos de trabalho, de convivência mútua, já não éramos dois, mas sim um só, pois para que o trabalho fosse bem feito foi preciso que eu ajudasse a médium no seu dia-a-dia.
Para ajudá-la com eficiência era necessário que eu a compreendesse, e para compreender o ser humano é preciso ter as mesmas emoções, viver as suas dores, alegrias, esperanças e frustrações.

Um belo dia entendi que já não fazia aquele trabalho para conseguir algo, mas sim por amor.

É toda a razão de minha vida.
E todos que fazem parte dessa actividade:
a médium, as pessoas que com ela convivem, colaboram e os leitores, são seres a quem eu dedico um amor imenso.

Eu e eles já somos um só. Amo-os intensamente.
É um amor que nasceu na ausência de posse ou de resultados programados.

Para mim, Deus está no trabalho, nos colaboradores e naqueles que usufruem desse trabalho. não vejo Deus, sinto-O em todos!!!

§.§.§- Ave sem Ninho
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