LUZ ESPÍRITA
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Aqueles que amam - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho.

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Aqueles que amam - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho. - Página 2 Empty Re: Aqueles que amam - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho.

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 19, 2015 9:57 pm

Marita a abraçou e falou, ponderada como sempre:
- Laurita tem razão.
Todos nós, já que nascemos, morreremos um dia.
É a vida! Deus quis levar Leonor', devemos nos conformar.

Ela partiu e devemos nos consolar e entender que ela não está mais connosco.
Acalme-se, Laurita, filhinha, acalme-se!
Voltemos ao trabalho e esqueçamos Leonor.

Continuamos a trabalhar e Laurita voltou ao normal, como se nada tivesse acontecido.
Procuramos não falar mais de Leonor, mas nunca a esquecemos.
O tempo se encarregou de nos fazer entender que ela não estava mais fisicamente connosco, mas que o amor que sentíamos por ela continuava sempre vivo e forte em nós.

Marita cozinhava muito bem e logo pessoas começaram a nos procurar para que servíssemos as refeições, mesmo sem estarem hospedadas.

Passamos a servir, como também a vender bebidas.
Deu certo. Trabalhávamos muito, mas estávamos contentes.

Quatro meses depois o empregado se despediu, não queria trabalhar mais, foi morar com a filha.
Sentimos sua falta, mas entendemos, já estava idoso e cansado.

Como nossos frequentadores eram na maioria homens, eu e os rapazes tomávamos conta dos fregueses e Marita e as meninas ficavam no interior da casa, para evitar que alguém mexesse com elas.

Meses se passaram, tínhamos saudade de Leonor, mas, desde aquele dia em que Laurita gritou estranhamente, procuramos não falar muito dela.

Como os negócios iam bem, contratei um professor para dar aula aos meus filhos.
Ele ia três vezes por semana à nossa casa, na parte da manhã ensinava os menores e de tarde, os maiores.
Queria que todos, meninos e meninas, soubessem ler e escrever.

Todos os nossos filhos passaram a estudar.
Era uma despesa extra, mas Marita e eu não reclamávamos, trabalhávamos muito mais contentes e eles retribuíam, aprendiam com gosto e estudavam bastante.

Comecei a juntar dinheiro para pagar o restante que devia ao ex-proprietário, queria ter toda a quantia quando ele viesse buscá-la.
um dia Marita foi ao mercado e voltou acompanhada de uma negrinha que estava com a cabeça baixa, segurando uma trouxa de roupas nas mãos.

- Lourenço - disse Marita -, quero lhe falar.
Saí do balcão e acompanhei Marita aos nossos aposentos, e minha esposa, encabulada, torcia as mãos, não sabia como começar.

- Diga Marita! - disse.
Que tem para me dizer?
Quem é esta mocinha? É escrava?

- Ela se chama Benedita...
- Quem é esta Benedita?
Por favor, fale - insisti.

- É a escrava que comprei no mercado!
- Comprou?! - disse espantado. - Com que dinheiro?
- Com o que guardamos.
Lourenço, por favor, não fique bravo!
Sei que não gosta da escravidão e nosso plano é não ter escravos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 19, 2015 9:57 pm

Mas... É que vi no mercado esta menina, estava tão sozinha, é tão novinha, tem a idade dos nossos filhos.
Ela me comoveu.
Imaginei por momentos que eu era a mãe dela e que gostaria que alguém bom a comprasse e cuidasse dela.

Enquanto a olhava, um senhor indecente a examinava, isso mesmo, ele a examinava como se conferisse uma mercadoria.
Senti-me horrorizada com o olhar de cobiça dele, ela chorava com medo, não resisti e a comprei.

Agora vou pegar o dinheiro e irei pagar ao mercador.
Sinto pelo seu dinheiro...

Pensei por instantes. não poderia ter companheira melhor.
Marita era muito bondosa, nunca reclamava, estava sempre ao meu lado, fazia tudo para me agradar.

Era económica, nunca exigia nada.
Compreendi seus sentimentos em relação à mocinha.
Seria difícil juntar o dinheiro no prazo, mas daria um jeito.

Ela esperava minha resposta, torcendo as mãos.

- Marita, o dinheiro não é só meu, é nosso.
Haveremos de dar um jeito...
- Lourenço, você não ficou bravo comigo? Que bom!

Abraçou-me, abraçamo-nos.
- Marita, você é a melhor pessoa do mundo! - disse com sinceridade.

Benedita passou a ser parte da família.
Foi bom, passou a ajudar muito Marita.

Recebi, dois meses depois, uma correspondência, contente, gritei por Marita:
- Marita, veja que bom!
O filho da portuguesa escreveu-me dizendo que adiará sua viagem para cá.
- Por Deus, Lourenço - disse ela alegre -, teremos tempo para ajuntar o dinheiro e até de gastá-lo...

Marita calou-se e me olhou, começou a torcer as mãos.
Olhei-a desconfiado, quando ela torcia as mãos era que alguma coisa acontecia.

Ficamos nos olhando em silêncio, até que ela criou coragem e disse apressada:
- Você e os meninos estão trabalhando muito.
Acho que devemos comprar um escravo para ajudá-los.
Sei que não quer ter escravos, mas é que...

- Marita, explique melhor!
Realmente não quero ter escravos, quando pudermos, contratarei um empregado.

- Sabe, Lourenço, Benedita é tão boazinha.
A mãe dela morreu quando ela nasceu.
Foi criada por outra escrava de sua dona.
Quando sua dona morreu, o filho levou todos os escravos para serem vendidos no mercado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 19, 2015 9:57 pm

Benedita tinha um namorado, um grande amor, e foi separada dele.
Ele é Bidu, está agora morando não muito longe daqui.

Estamos com muita dó dela.
Já pensamos muito e não encontramos outra forma de resolver a situação, pois sabíamos que tínhamos que pagar ao antigo proprietário.

Coitadinha, chora sempre de saudades...
Alguns dos nossos filhos vieram curiosos para perto de mim quando gritei com a carta na mão, ficaram quietos, escutando nossa conversa.

Marita calou-se e eu os olhei.
Para mim, nenhum filho tinha problema ou nos dava preocupações.
Entendi, naquele momento, que quando eles tinham alguma dificuldade era Marita que resolvia e eu nem ficava sabendo.

Isso para me poupar.
Sorri e os deixei assustados.

Falei comovido:
- Amo vocês! Ah, como os amo!
Vocês são maravilhosos!
Vamos comprar o Bidu!

- Viva! - exclamaram as crianças.
- Papai - disse José Maria -, prometo trabalhar mais...
- Não - respondi -, se vou comprar um escravo, será o empregado que me ajudará para que vocês, meus filhos, trabalhem menos.
E lá vai o nosso dinheiro, se Deus nos ajudou, ajudará novamente, conseguiremos ajuntá-lo de novo antes do filho da portuguesa voltar.

- Obrigada, Lourenço! - exclamou Marita com lágrimas nos olhos.
Sabendo de todos os detalhes, lá fui eu atrás do dono do tal Bidu, para comprá-lo.
Gastei mais do que previra.

O dono, me vendo interessado, não fez por menos.
Mas voltei para a casa com Bidu.
Ele era um negro bonito, sorriso aberto, disfarçadamente me examinou com medo no olhar. não quis amarrá-lo e pedi para que me acompanhasse.

Não ousou perguntar nada, seguiu-me cabisbaixo, me comovi e expliquei:
- Bidu, comprei você para satisfazer minha esposa, que tem uma escrava que diz amá-lo muito.
Tenho uma estalagem e você trabalhará connosco.
Espero não me arrepender de tê-lo comprado.

- Não se arrependerá, senhor, sei trabalhar direitinho e aprendo rápido, uma escrava... Quem é ela?
- Benedita!
- Benedita? - perguntou pensativo.

Parecia não recordar.
Pensei: "Que paixão é essa?"
Conclui que só ela, a Benedita, que amava.

- Benedita - falei -, a órfã que viveu junto com você na casa da senhora do sobrado.
- Ah, sim! Claro!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 19, 2015 9:57 pm

Sorriu descontraído, mas em seguida voltou a ficar sério.
Que horror, pensei, como deve ser ruim ser escravo.
Ser vendido, passado de um dono a outro, sem ao menos ser consultado se quer ir ou não.

Viver em outro lugar, sem me conhecer, sem saber se eu era bom ou mau e nem o que ele faria dali para frente.

O coitado devia estar ansioso e temeroso.
Seria pior ou melhor que o antigo dono?
Tive dó, dei-lhe um tapinha nas costas e sorri.

- Você irá gostar da estalagem.
Ele sorriu e seu olhar se alegrou, confiante.
Ao chegarmos à casa, todos nos esperavam curiosos.

- Benedita!
- Bidu!
Correram um para os braços do outro.
Pensei: "É bem malandro este Bidu!"

Fiquei feliz por todos terem ficado contentes.
Marita preparou o quarto deles como se fossem casados.
Não me arrependi, Bidu era cativante, esperto, trabalhador, estava sempre alegre e sorrindo.

Atendia bem os fregueses.
Para nossa alegria, o antigo proprietário atrasou-se novamente e conseguimos ajuntar o dinheiro bem às vésperas de sua chegada.

Ele me explicou, justificando sua demora:
- Senhor Lourenço, estava de viagem marcada e minha mãe ficou doente.
Depois, quando tudo novamente estava acertado, foi minha esposa que adoeceu.

- Seu dinheiro está aqui - disse feliz.
Prosperamos, aumentamos a casa, fizemos mais quartos, a estalagem estava sempre limpa e agradável.

Ficou realmente bonita e estava sempre lotada de hóspedes.
Agora nossos filhos estavam bem vestidos e nada lhes faltava.

Estudavam com gosto:
os meninos foram para um colégio pago e o professor continuou a dar aula para as meninas.

Benedita ficou grávida e Marita fez todo o enxoval, parecia que era um neto que ia nascer.
Todos esperavam o nascimento do nené.
Quando Benedita entrou no trabalho de parto, uma parteira foi chamada, só que houve complicações, a criança não nascia.

Ficamos preocupados e fui buscar um médico.

Ele veio, mas ao ver que ia atender uma escrava, reclamou:
- O senhor não me disse que ia atender uma negra!
- Para mim os seres humanos são todos iguais, o senhor não pensa assim? - perguntei.

Ele não respondeu, porém fez tudo para ajudar Benedita, mas ela morreu e a criança, um menino, sobreviveu.
Foi uma choradeira.
As crianças gostavam muito dela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 19, 2015 9:58 pm

Bidu ficou desolado.
- Que faço agora com o nené, sr. Lourenço?
- Vamos criá-lo - respondi.

- Vamos? - disse alegre.
Posso ficar com ele?
- Claro! Imagina se Marita irá querer se desfazer desta criança.
- Juro por Deus não ter mais filhos! - exclamou Bidu.
É o primeiro e o último. Nunca mais me caso.

Chamamos o nené de Marco, Marquinho, e Marita criava-o como um filho.
Realmente não queria ter escravos, então dei liberdade para Marquinho e Bidu.
Reunimo-nos na sala e chamei Bidu.

- Bidu - disse alegre -, resolvemos não ter escravos, por isso aqui está sua carta de alforria e a do Marquinho. São livres!

Pensamos que Bidu ia pular e gritar de alegria.

Mas, quando comecei a falar, ele pensou que íamos vendê-los, assustou-se, depois suspirou aliviado, ficou quieto por instantes e disse desolado:
- Vocês não me querem mais?
Que faço com Marquinho?
Teremos que ir embora?

Dei uma risada.
- Claro que não, Bidu!
Tente nos tirar Marquinho ou levá-lo embora que Marita mata você.
Vocês agora são livres, mas os queremos aqui.
Quero-o como empregado!

- Verdade? larruuu!
Pulou de contente, depois nos agradeceu chorando de alegria:
- Obrigado, patrão, obrigado, patroa e patrõezinhos.
Serei o melhor empregado do mundo. E foi.

Para não sobrecarregar Marita, contratei como empregados um casal de meia-idade para ajudá-la.

Marquinho crescia forte e esperto.
- Lourenço - disse Marita me chamando para uma conversa a sós.

Torcia as mãos.
- Tenho algo a lhe dizer...
- Diga, Marita - falei preocupado -, seja o que for, diga logo.
É que estou grávida - disse envergonhada.
Grávida! Que bom! Por que se envergonha?

- É que já temos filhos moços...
Ora, Marita, somos casados e não vejo o porquê da vergonha.
- Temi aborrecê-lo.

Olhei-a com carinho, ela estava sempre pensando em mim. Abracei-a.

- Fez a criança sozinha? - indaguei.

Rimos.
Foi uma festa e Deus nos presenteou com outra menina, a quem demos o nome de Dolores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 20, 2015 9:50 pm

Capítulo 5 - Uma outra mudança

Prosperamos .
Todos estávamos contentes por morar no Rio de Janeiro e por trabalhar em algo nosso.
Marita resolvia todos os problemas dos nossos filhos, a única vez, que me pôs a par de um, foi sobre minha filha Laurita.

- Lourenço - disse ela -, Laurita é diferente!
Não sei o que tem.
Já pedi a bênção para ela no convento, não adiantou nada.

Ela vê pessoas mortas, fala com elas.
A menina sofre! Tem medo!
Você se lembra daquela vez, quando ela gritou pedindo para não chamarmos por Leonor?

- Lembro-me bem, estranhamos muito.
Mas foi só aquela vez, não foi?
- Tem acontecido sempre.
Estou lhe dizendo isso porque estive no convento e lá os frades disseram que, para livrá-la disso, necessita de missas e bênçãos especiais que custam caro.

- Pague o dinheiro que precisar, Marita, livre nossa filha dessas esquisitices.
Foi feito tudo o que eles nos pediram, Marita pagou caro e nada;
Laurita continuava estranha.

Os filhos moços começaram a casar, Laurita arrumou um noivo.
Não gostamos dele, era mestiço, sua mãe era índia, era muito calado e nunca sorria, possuía um sítio perto do Rio.

Preocupamo-nos com esse namoro e com o possível casamento.
Achei que ele deveria saber o que acontecia com ela.
Quando ele veio pedir para noivar, chamei-o para uma conversa particular e contei tudo que se passava com Laurita.

Estranhei, vi-o sorrir pela primeira vez.

Respondeu tranquilo:
- Senhor Lourenço, Laurita já me disse tudo isso.
Pode lhe parecer estranho o que ocorre com ela por não entender esses factos, mas para mim isso é natural.
Quero-a como ela é e com certeza poderei ajudá-la.

Suspirei aliviado.
Meses depois se casaram e ela acompanhou o marido, toda feliz.
José Maria continuava solteiro, não se interessava por ninguém e não foi muita surpresa quando ele nos chamou para uma conversa.

Ele estava muito feliz:
- Papai, Marita, quero comunicá-los que entrarei para o convento. Serei padre!

Não sabia se ficava alegre ou triste.
Amava muito José Maria.
Às vezes achava que ele era o meu pai, não eu o dele.

Eu o respeitava, era sempre ponderado e muito bondoso.
Desconfiava que ele poderia acabar num convento, gostava muito de ir à igreja, mas preferia vê-lo casado e criando filhos.
Nessa época José Maria leccionava na escola do convento, como também dava aulas para muitas crianças pobres e ainda nos ajudava, íamos sentir muito sua falta, eu ia sentir, pedia lhe opinião sobre tudo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 20, 2015 9:50 pm

Marita o abraçou, também o fiz, com lágrimas nos olhos, falei gaguejando:
- Espero que você tenha certeza do que está fazendo.
Lembre-se de que aqui é seu lar e sempre será.
- Obrigado, papai! - falou José Maria emocionado.

Fez os votos no Rio de Janeiro e depois foi para o interior da província de São Paulo.
Entristecemo-nos com sua partida, porém ele estava feliz e cheio de planos.
Escrevíamos sempre.

João António, filho de Marita, formou-se médico.
Que alegria! Parecia que realizava meu sonho.
Sempre quis ser médico.

Desde pequeno, na Espanha, sonhava em estudar medicina, não consegui.
Mesmo depois de adulto e agora já envelhecendo, acalentava o sonho de ser médico, de curar pessoas.
Doenças e remédios eram assuntos que me fascinavam.

Bidu era um mulherengo.
Conquistava as escravas das redondezas, mas não quis mais se envolver com nenhuma.

Um dia ele me trouxe um recado:
- Lolita está apaixonada pelo senhor!
Pediu para marcar um encontro.

Lolita era uma mulher bonita e a tentação foi grande demais, acabei indo ao seu encontro.
Depois da primeira vez aconteceram outras, e, como era fácil, passaram a ser frequentes.

Depois me envolvi com uma bailarina, uma moça nova e muito bonita.
Quando dei por mim, já fazia meses que nos encontrávamos.

Notei que Marita desconfiava ou já sabia.
Não queria magoá-la e nunca pensei em deixá-la por mulher nenhuma.
Terminei o romance e passei a ser mais caseiro e dar atenção à minha esposa.

Mas por muitas outras vezes tive romances com outras mulheres.
Estávamos em casa agora só com nossos quatro filhos, os dois nossos já adolescentes, Marquinho, que nos chamava de pai e de mãe e Dolores, com oito anos.

Joaquim trabalhava comigo, casou-se e morava perto da estalagem, tudo já estava sob sua ordem e controle.
A pensão agora era grande e bonita e nos dava um bom dinheiro, tínhamos muitos empregados.

Estava pensando em adquirir outra quando comecei a me sentir mal.
- Marita, estou cansado, indisposto, tenho vontade de ir para a cama.

- Pois vá, Lourenço, cuidaremos de tudo.
Vá descansar.
Quanto tempo trabalha sem descanso?

Nem sabia, só lembrava ter parado de trabalhar na viagem, no navio, e na estalagem nunca havia parado um dia sequer.
Deitei-me, mas não senti melhora, dois dias depois ainda estava indisposto.
Marita e Joaquim me fizeram ir ao médico, já que João António estava viajando.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 20, 2015 9:50 pm

Ele me receitou uns remédios e repouso.
Tomei os remédios, mas não fiz o repouso, não tinha paciência.
Então senti uma dor forte e desmaiei, quando voltei a mim, Marita e o médico estavam ao meu lado, não conseguia raciocinar direito, escutava-os falar, só que não os entendia bem.

- Ficará inválido... :, - não irá mexer com o braço direito...
Talvez não fale mais...

Meu raciocínio foi melhorando, mas não conseguia me mexer.
João António veio me ver, tentou me animar, mas concordou com o outro médico, não havia nada a fazer.

A melhora que tive dias depois foi que comecei a compreender o que se passava comigo, ouvia bem, entendia, só que não falava.
Meus filhos se revezavam em carinho e atenção, e Marita cuidava de mim o tempo todo.

- Calma, Lourenço - dizia minha esposa carinhosamente -, você ficará bom.
Cuidarei sempre de você!

Vendo-a tão delicada, me arrependi profundamente de tê-la traído.
Queria pedir perdão, mas não conseguia me expressar.
Tentava falar e deixava todos aflitos, eles não me entendiam.

Joaquim achou que era com ele, me disse com sinceridade:
- Papai, cuido de tudo, estou substituindo o senhor à altura, tenho me esforçado e a estalagem está como o senhor gosta.
Prometo ajudar Marita e educarei meus quatro irmãos como se fossem meus filhos. não se preocupe!

Sorri grato.
Sabia que ele cumpriria, podia confiar nele, Joaquim era trabalhador e muito bom.

Estava tranquilo quanto a isso.
Os dois meninos já eram adolescentes e a mocinha já era noiva.
Marquinho tinha o pai. Só restava Dolores.

Para não deixá-los aborrecidos por não me entender, não tentei mais falar.
Marita com certeza iria me perdoar ou já me perdoara, cuidava de mim com muito carinho.

Um dia, estando só nós dois, apertei sua mão e ela sorriu:
- Sabe, Lourenço, quero-o bem!
Você foi sempre bom comigo.
Quando Amâncio morreu me deixando viúva com os filhos pequenos, me desesperei e senti muito medo.

Não conseguia dormir, pensando no que iria fazer.
Temi não conseguir trabalhar para sustentá-los. não queria esmolar e nem prostituir-me.
Por eles era bem capaz de fazer isso.
Você veio me auxiliar, casamos e, embora sem amor, até que deu certo. Tivemos bons momentos...

Esforcei-me e consegui estalar um beijo para ela, que sorriu me beijando a testa.
- Se quer me agradecer, não precisa.
Não cuido de você por obrigação, faço agradecendo a oportunidade.

Levantou-se e fiquei olhando-a.
Nunca achei Marita bonita, mas agora podia vê-la como realmente era, pois possuía a beleza da bondade e da honestidade, como sempre seria.
Ela me perdoou, senti isso e me tranquilizei.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 20, 2015 9:50 pm

Pus-me a pensar em Marita:
"Para ela não foi fácil, viúva, longe dos familiares, só podendo contar comigo, me aceitou para esposo pelos filhos."

Talvez tenha amado somente Amâncio.
As circunstâncias nos uniram e sempre foi uma excelente esposa e mãe.
Ela deve ter sofrido muito, mas nunca se queixou.

Era maravilhosa minha companheira.
Fiquei quatro meses doente, até que uma crise me fez desencarnar.

Senti que desmaiava e fui voltando aos poucos, sem entender o que ocorria.
Estava no quarto, vi, confuso, meu corpo imóvel deitado no leito, vestido com minha melhor roupa, e eu, com a roupa de dormir, estava perto dele.
Mas quem sentia, pensava, era eu, o da roupa de dormir, o outro parecia um boneco.

Ouvi o choro dos filhos, que diziam:
- Papai morreu...
- Era tão moço ainda...
- Tinha muita esperança que sarasse...

Que perturbação terrível!
Queria firmar o pensamento e entender o que estava acontecendo comigo e não conseguia.
Tiraram o boneco, o meu outro eu, meu corpo físico, e o levaram.

Fiquei sozinho e me senti aliviado.
Não sei como, mas consegui me acomodar no leito e dormir.

Acordei apavorado.
Que teria acontecido comigo? Estaria morto?
Achei que não, morrer não era assim. não estava sendo julgado e nem vira Deus e nem o demónio.

Deveria estar mais doente ainda, aquele tal derrame havia me feito perder o juízo.
Deveria estar louco. Fiquei desesperado e sofri muito.

Estava perturbado, mas percebia que os dias passavam.
Via Marita triste, vestida de preto no quarto sem sequer me ver, ela orava, se deitava e dormia no seu canto, como sempre.

É difícil falar do que sentia, tal era meu desespero.
Era ignorado. não entendia o porquê de eles procederem assim, se antes eram todos atenciosos e amorosos e de repente passaram a agir como se eu não existisse.

Sentia-me sozinho, a solidão me doía, estava profundamente triste e chorava até a exaustão.
Um dia senti que estava mais cansado do que de costume, tive vontade de orar e o fiz.
Durante minha existência encarnada, orei pouco, às vezes ia à missa.

Adorava a Deus, era temente, mas não era fervoroso.
No navio passei a ler a Bíblia, hábito que nunca abandonei.
Mas achava a religião católica um tanto diferente do que lia, mas isso ficou comigo, não dizia nada a ninguém.

Queria ter sido protestante, mas não fui por não ter coragem de mudar e de ser minoria, talvez até por comodismo.
A oração me acalmou e, relembrando das passagens predilectas que lia no Evangelho, senti-me melhor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 20, 2015 9:50 pm

Então vi um vulto que julguei ser Leonor e a escutei:
- Lourenço, o senhor teve o corpo de carne morto.
Agora deverá aprender a viver em espírito. Quero ajudá-lo!

"Morto, eu?! - pensei dialogando com ela.
Nunca! Estou vivo, sinto-me vivo!"
- É que só o corpo morre, somos eternos - disse Leonor com ternura, tentando me explicar.

"Tenho medo de você! Deixe-me em paz!
Você está morta há muitos anos!"

Repeti estas frases muitas vezes em pensamento, porque, julgando estar encarnado e doente, não falava.
Fechei os olhos e quando os abri o vulto havia sumido e eu fiquei tenso e perturbado.
E tudo continuou do mesmo modo, estava triste, profundamente amargurado com a situação.

E se às vezes vinham na minha mente os dizeres de Leonor, repelia estes pensamentos com medo. não queria estar morto e certamente, pensava, não estava.

Era Natal, soube por ter escutado Marita dizer, ela estava mais contente, a família se reuniria e até José Maria viria.
Marita estava no nosso quarto se arrumando, quando as meninas entraram - nossas filhas eram todas adultas, mas para mim ainda eram as meninas - e começaram a falar de mim.

Comecei a chorar baixinho, emocionado e saudoso.
- Às vezes parece que vejo seu pai sentado naquela poltrona - disse Marita.
Sinto muita falta dele...
- Pois eu o vejo na poltrona - disse Laurita naturalmente.

Assustaram-se, assustei-me, estava exactamente sentado na poltrona, não saí do quarto, mas sem entender como, ia da cama para a poltrona, às vezes até a janela e com facilidade voltava para a poltrona.

- Laurita - perguntou Marita assustada -, você continua com suas esquisitices? Vê Lourenço?
- Não, estou bem - disse Laurita apressada -, o que quis dizer é que também sinto igual a você.
Imaginei-o sentado na poltrona, como fazia no período em que esteve doente, não tenho mais aquelas esquisitices, estou bem.

Suspiraram aliviadas e saíram.

Marita estava sozinha quando José Maria bateu à porta e entrou.
Emocionei-me ao vê-lo.
Estava de batina, abraçou Marita, sorridente, senti-o feliz.

- Marita, pena que não pude ver papai doente, mas quero agradecer-lhe por ter cuidado dele com tanto carinho.
- José Maria, cuidei de Lourenço e cuidaria quanto tempo ele ficasse doente.
Era meu dever de esposa, mas não o fiz por dever.

Queria bem a ele.
Seu pai e eu estivemos juntos muito tempo, não foi uma união por amor, foi pelas circunstâncias que nos unimos e nos esforçamos para dar certo.
Fomos amigos! Ajudamos muito um ao outro.

- Entretanto ele a traiu...
- Suas traições não me magoaram, perdoei-o.
Só guardo dele as boas recordações, ele me ajudou muito e sou muito grata.

Chorei emocionado, uma das filhas chamou Marita, que saiu do quarto, e José Maria ficou sozinho comigo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 20, 2015 9:51 pm

Ele se pôs a orar:
"Papai, que Deus o abençoe!
Que os Anjos do Senhor, que são as boas almas que viveram na Terra, possam ajudá-lo.

Queira esta ajuda, por favor!
Não seja orgulhoso! Tudo muda!
Fez a grande, a maior mudança de sua vida, adapte-se a ela!"

Saiu do quarto, e vi Amâncio ao meu lado:
- Lourenço, entenda que seu corpo morreu - disse ele carinhosamente sorrindo, tentando não me assustar mais do que eu já estava por vê-lo ali ao meu lado.

Não falava, apenas pensava, pois achava que não conseguia balbuciar e nem me esforçava, mas, como Leonor, Amâncio me entendeu.

Disse a ele, ou quis dizer:
"Amâncio, você está morto há tanto tempo. não veio me cobrar nada, não é?
Cumpri a promessa."

- Por que acha que vim cobrar?
Venho ajudá-lo! Você foi muito amigo, sou profundamente grato.
Criou meus filhos como se fossem seus.
Mas agora deve vir comigo.

"Para onde?" - indaguei.
- Para um lugar bom, bonito; venha, não tenha medo.
Fomos sempre amigos.
"Está bem, vou."

Estava com medo, mas dei uma de corajoso, sorri, pensando como Amâncio ia me levar, eu não caminhava.
Mas ele me pegou como se eu fosse uma criancinha e senti que levantou do chão comigo nos braços.

Gritei apavorado:
"O telhado, Amâncio!"

Mas passamos pelo telhado, segurei nele com força e fechei os olhos, só os abri quando senti que Amâncio andava novamente.
Olhei tudo, curioso.

Pensei indignado:
"Onde estamos? Que lugar é este?"
- Por que você não fala, Lourenço? - disse Amâncio, me olhando, sorrindo tranquilamente.
- Não consigo - falei. - não consigo?! Estou falando!

Amâncio me deixou num leito, me explicou que estava num local chamado hospital, numa enfermaria, e que ali me recuperaria dos reflexos da minha doença carnal.
Levei meses para me recuperar, sempre com os cuidados e carinhos de Amâncio e Leonor.

- Lourenço - explicou Leonor -, eu e papai o desligamos quando seu corpo morreu, mas não pudemos socorrê-lo.
Estava tão ligado à matéria que não conseguia nos ver, mas estava sempre um de nós a visitá-lo e tentávamos fazê-lo entender seu estado de desencarnado.

- Mas eu não os via, só vi você, Leonor, uma vez e tive muito medo.
- Foi quando você orou com sinceridade. não nos viu por temor e porque, preso à matéria, enxergava como se ainda estivesse encarnado.
Quando papai o socorreu, foi porque pôde usar da energia de Laurita e pela vibração maravilhosa de José Maria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 20, 2015 9:51 pm

- Sou grato a vocês!
- Também somos a você! - exclamou Amâncio, feliz.
- Amâncio - indaguei-o curioso -, onde está Dolores, minha primeira esposa, e Eva, minha filhinha que morreu no navio?
Gostaria de abraçá-las.
Será que Dolores achou ruim por eu ter casado com Marita?

Riram.

- Lourenço, você irá aprender muitas coisas agradáveis, boas e coerentes por aqui.
Dolores, tal como eu, abençoou sua união com Marita e foi muito grata a ela por ter sido mãe para as crianças.

Dolores e Eva reencarnaram.
Você irá compreender que Deus é bondoso demais connosco e nos dá sempre novas oportunidades de nos melhorarmos.

Você viu que seu corpo morreu e apesar disso continuou vivo e você pode retornar a um outro corpo em formação no útero de uma mulher, ser outra personagem e viver novamente na matéria, isso é a reencarnação.
Dolores voltou a Espanha e por lá reencarnou, e Eva voltou também à matéria, renasceu como sua filha, aquela a quem você deu o nome de Dolores.

- Isso é fantástico! - exclamei.

Os dois saíram e fiquei a pensar em tudo o que me disseram.
Amei Dolores, minha primeira esposa, porém a esqueci com o tempo.

Recordava dela em raros momentos.
Compreendi: ela continuou sua caminhada como eu continuei a minha.
Era grato a esse espírito, mas achava que agora estava muito mais unido a Marita.

Recuperei-me e fui aprender a viver com o corpo que eu tinha agora, o perispírito.

Havia feito uma mudança.
E como sentia ser grande esta mudança!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 20, 2015 9:51 pm

Capítulo 6 - Querendo aprender a amar

Querendo aprender a amar o local, porém gostava muito, muito mais da vida encarnada.
Às vezes chorava com dó de mim, de saudade, de vontade de estar encarnado na minha casa, trabalhando, tendo outras mulheres, tomando o meu vinho.

E, nesses momentos, muitas vezes as orações de José Maria vieram me confortar.
"Papai, ame a vida, aceite o que lhe é oferecido.
Tudo muda! O senhor mudou a forma de viver.
Ame e tudo se tornará mais fácil."

Pensei, pensei muito e concluí que o que faltava em mim era amor.
Quis aprender a amar.
Fui conversar com meu instrutor.

- Senhor, gostaria de amar.
Queria aprender a amar a tudo e a todos.
Quero sentir o amor verdadeiro, sem egoísmo, sem paixão.
Queria, ao reencarnar, amar e agora viver com amor a vida de desencarnado.

- Para amarmos é necessário compreender que somos parte de um todo, do universo criado por Deus.
Como isso é difícil!
Podemos, tendo afinidade com outro espírito que ama, absorver os fluidos de sua aura bondosa.
Nesse contacto aflora em nós o amor que tanto queremos cultivar.

"vou lhe dar um exemplo:
a madeira é fogo potencial, mas, por maior que seja a montanha de madeira, ela não gera fogo actual, para que este fogo actual possa actuar é suficiente um palito de fósforo.
"Nós todos temos um tremendo amor potencial herdado do Senhor do universo, muitas vezes precisamos o fogo actual de um outro espírito para que nosso potencial se realize.

Após uma pausa, indagou-me:
- Como acha que aprenderá?
- Não sei bem, mas, após escutá-lo, acho que com alguém que ama.

- Conhece alguém?
- Sim, meu filho José Maria.
- O padre! Sim, creio que ele sabe amar.

Aí me lembrei do passado...
Estava cansado, sofrendo muito, vagando com muito remorso e ele veio me socorrer.

Tive só esta lembrança.
Senti naquele instante que ele veio ser meu filho para continuar me ajudando.

O instrutor me olhou e sorriu.
- Vamos analisar seu pedido, Lourenço.
Acho também que com o padre José Maria você aprenderá muito.

Dias depois ele veio me ver.
- Lourenço, você poderá ficar junto de José Maria, poderá, em espírito, ser seu companheiro de trabalho.
Mas para isso deverá estudar para aprender bem o que deve ou não fazer um desencarnado que fica junto a encarnados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 20, 2015 9:51 pm

- Nem que estude por cem anos não serei melhor do que ele - respondi.
- Também acho - disse o instrutor tranquilamente -, pois ele não pára de aprender, está sempre aproveitando as oportunidades para se instruir e progredir.
Por que acha que tem que ser melhor do que ele?

- Pensei que o protector fosse sempre melhor do que o protegido - falei.

Ele riu e elucidou-me:
- Desencarnados que ficam perto de encarnados com intuito de ajudá-los ou serem seus companheiros de trabalho poderão ser tidos como guias, protectores, mas nem sempre é assim, na maioria das vezes são amigos que aprendem juntos.

Você, Lourenço, irá ser, na realidade, discípulo de José Maria.
Eu disse 'companheiro' e é o que serão, já são amigos e um afecto sincero os une.

Não pediu para aprender?
Achamos que com ele aprenderá e juntos farão muitas coisas boas.
Lourenço, lembremo-nos de que também são tidos como guias e protectores desencarnados maus, que, ligados com os seus afins, fazem maldades juntos. não pense você que só pelo facto de estarem desencarnados são mais eficientes e sábios. não despreze o encarnado, ele era o desencarnado de ontem e será o de amanhã.

Embora preso no corpo de carne e tendo limitações, ele é o que faz por ser.
E você não deve ir para perto de José Maria como desencarnado paternalista querendo fazer toda a lição que cabe a ele, você deve fazer sua parte e deixar que ele faça o que lhe cabe para que continue a crescer e a aprender.

Você também, fazendo o que lhe compete, progredirá.
E também não deve pensar que ele lhe obedecerá.
José Maria tem como todos nós o livre-arbítrio.

Ele receberá suas ideias, porém tem discernimento para analisá-las com inteligência e só acatará o que lhe convém.
Todos os encarnados deveriam agir assim, analisar tudo que venha dos desencarnados, discernir e acatar realmente o que for bom para eles e para o grupo.

Fez uma pausa e continuou a me elucidar, não entendi bem o que ele disse no momento, mas, como os bons ensinamentos ficam, tempo depois, já então mais maduro, os entendi.

- Lourenço, é muito comum hoje, na nossa humanidade, confundir conhecimento intelectual com intuição espiritual.
Conhecimento intelectual faz parte de nós, o que já vivemos na vida, é passado, portanto é algo que já acabou.
Intuição espiritual é a abertura da nossa alma para o movimento da vida, que não é passado nem futuro, é sempre actual.

Paulo de Tarso, compreendendo esta profundidade da unicidade do indivíduo com o universo, disse:
"Já não sou mais eu que vive, mas sim Cristo que vive em mim."

Ele não estava falando de sua intuição como homem, mas sim transcendendo a mente superficial da vida ou a material, porque nossas mentes, as da maioria da humanidade, estão ligadas às funções materiais, portanto são mentes materiais.
E devemos ser mais que isso, devemos sentir sempre Cristo em nós.

Agradeci, comovido.
Tive permissão para ir visitar minha família.
Leonor me acompanhou.

Primeiramente ela me levou até meus filhos, não demorou muito, vi-os, tranquilizei-me percebendo que estavam bem, abracei-os e depois fomos para minha ex-casa.

A estalagem estava como sempre, limpa e bonita.
Joaquim havia realizado meu sonho, comprou uma outra e foi com a família dele morar lá.
Continuaram cuidando da minha ex-casa, Marita, Bidu e Marquinho.
Meu filho solteiro entrou para o exército e a mocinha se casou, Dolores, nossa filhinha, estava muito bem e bonita.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 20, 2015 9:51 pm

Olhei-os com carinho.
Lembrei de quando comprei Bidu, de facto não me arrependi nem de tê-lo adquirido e nem de ter lhe dado a liberdade.

Ele foi sempre leal e trabalhador.
Marquinho estava moço, estudou com o professor em casa, só que não pôde ir ao colégio, não o aceitavam por ser negro.

Marita chateou-se, mas ele não se importava, gostava de trabalhar.
Olhei-o, era um lindo rapaz, educado e enquanto eu o observava, foi perguntar algo a Marita.

- Leonor - disse eu -, Marita teve tantos filhos, todos a amam muito, é difícil alguém não lhe querer bem.
Mas acho que Marquinho a ama mais que os outros.
Será que já viveram juntos outras existências?

- Também já notei o carinho que Marita tem por Marquinho - disse Leonor.
Já pesquisei isso e tive uma surpresa.
Não, Lourenço, eles não viveram juntos, o afecto é dessa existência mesmo.
Marquinho foi, na sua outra existência, Abelino.

- Abelino? - indaguei assustado.
O negro que desencarnou lutando comigo?

- Sim - continuou Leonor a me elucidar -, quando ele desencarnou, Marita orou por ele, isso muito o ajudou.
Ele então, grato, passou a querer-lhe bem.
Para continuar seu aprendizado teve novamente de revestir um corpo negro e, quando Benedita ia conceber, teve permissão para reencarnar perto daquela que julgou ser sua benfeitora e assim o fez.

Olhei-os com amor.
Entendi que realmente ele me perdoara.

Os dois conversavam:
- Mamãe - disse Marquinho -, vá descansar, faço isso para a senhora.
- Não estou cansada, Marquinho.
Sabe bem que gosto do trabalho.

- Sei sim, mas não quero vê-la doente.
Por favor, não se exceda.
- Você é um bom filho, menino de ouro! - disse Marita sorrindo.

- A senhora é uma mãe maravilhosa e sou grato a Deus por tê-la como madrinha.
- Marquinho, sou sua mãe, não o pari, mãe de coração é mais do que de barriga.
Quero-o como meu filho!

Leonor me puxou pela mão.

- Temos que ir!
- Já? Queria ficar mais.
- Vamos, Lourenço, ainda temos que ver José Maria.

Volitamos, aprendi a volitar, gostava de aprender.
Tinha consciência do muito que ainda tinha que aprender e ansiava por fazê-lo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 21, 2015 10:01 pm

José Maria estava no interior da província de São Paulo, numa cidade que prosperava.
Passara três meses com Marita e voltara à sua actividade.
Encontramo-lo em sua cela, ou quarto.
Estava lendo.

Leonor e eu o abraçamos.
Minha acompanhante passou as mãos pelos seus cabelos.
José Maria parou de ler e pôs-se a recordar, acompanhamos suas lembranças.

Tinha poucas recordações da Espanha.
A viagem para o Brasil o marcou muito.
O balanço do navio lhe dera muito enjoo.

Sentiu muito a desencarnação de Eva, foi doloroso para ele ver seu corpinho sendo jogado ao mar, enrolado num pano branco.

Depois a complicação do parto da mãe, orou sozinho pedindo a Deus que não a deixasse morrer.
Com a desencarnação de Dolores, a dor e a insegurança o assaltaram.

"E se papai não nos quiser mais? - pensou aflito, naquele momento.
Se ele casar com outra e sua mulher não nos quiser?
Será que serei capaz de criar meus irmãozinhos?

Chorou muito. Foi um período difícil em que sofreu demais.
Mas não deixou ninguém perceber seu sofrimento, isso para não me entristecer mais ainda.

E resolveu que, como era o mais velho, iria me ajudar.
Não gostou da viagem, mas não reclamou e fez de tudo para me auxiliar, cuidando dos mais novos com carinho.

Lembrou-se da fazenda, do meu primeiro emprego, de como trabalhou.
Agora, acompanhando suas lembranças, vi que, embora ele fosse ainda tão pequeno, resolvia os problemas dos irmãos menores e que trabalhava muito para me ajudar.

A mudança novamente, lembrava-se dos detalhes, também recordei emocionado.
Lembrou da desencarnação de Amâncio, da preocupação com Marita, a quem queria muito bem, do alívio quando resolvi morar com ela e os primos, da alegria em ver-nos casados.

Então descobri que José Maria e Leonor se amaram...
O amor puro, verdadeiro, os uniu na beleza da adolescência.
Os dois fizeram planos de casar, ter filhos e logo que estivéssemos estabelecidos no Rio de Janeiro iam nos contar do namoro.

Os dois iam constantemente ao riacho, faziam planos, o futuro para eles ia ser lindo.
Vi emocionado as cenas em que ele saiu para chamá-la no dia que preparávamos a mudança.
Foi ao riacho gritando o nome dela, estava feliz, quando a viu caída, estremeceu, teve um estranho pressentimento e correu para perto dela.

"Leonor, que aconteceu? Você caiu?"
Sentiu um frio estranho, teve medo, segurou sua mão inerte, entendeu mais pela intuição que pelos conhecimentos que ela desencarnara.
"Meu Deus! - exclamou angustiado. - Leonor está morta!"

Beijou-a no rosto, o primeiro e último beijo.
Lágrimas escorreram-lhe pela face.
Deixou-a como estava e correu aos gritos pedindo socorro.

Como ele sofreu!
Por tempo se iludiu, Leonor certamente voltaria, depois resolveu não amar mais ninguém e ao mesmo tempo amar a todos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 21, 2015 10:02 pm

Quando Laurita, na estalagem, pediu aos gritos que não chorassem por ela José Maria afastou-se e, em lágrimas, como se sua amada o escutasse, disse:
"Leonor, meu amor, não quero prejudicá-la.
Quero-a feliz! Muito feliz!
Que eu sofra, mas você não!"

E Leonor o escutou, pois ali estava em visita, tentando consolar-nos.
Então, naquele momento, ele a viu.
Leonor, pelo ectoplasma de Laurita, pôde, com auxílio de um orientador que a acompanhava, fazer-se visível.

Ela estava linda, radiosa e lhe disse com muito carinho:
"Como posso ser feliz vendo-os sofrer por mim'?
Não quero que sofra!
A vida continua com a morte do corpo, nossos sentimentos são os mesmos.

Amo você, amo todos vocês.
Não há separação, só me ausentei fisicamente.
Poderei visitá-los sempre.
E sofrerei ao saber que sofrem por mim."

Leonor desapareceu da visão de José Maria.
Logo acabou o horário da visita e ela regressou à colónia.

José Maria ficou a meditar.
Amenizou a saudade ao vê-la, tranquilizou-se ao saber que ela estava bem.
Entendeu o que ela lhe dissera.

Estariam sempre ligados, o amor que os uniu era sincero, puro e verdadeiro, a ausência física dela não era motivo para findar este sentimento.

"É preferível - pensou - amar mesmo longe do que nunca sentir o amor.
Tantos vivem juntos sem se amar..."

Desde esse dia, não sofreu mais por ela, não a perdeu, ninguém perde ninguém já que não se pode ser dono, proprietário do outro, e compreendeu também que o amor une mesmo a distância.

Guardou esse amor no fundo de seu coração e este passou a ser a sua força para todas as dificuldades.
José Maria findou suas lembranças, levantou-se e preparou-se para se deitar.

- O amor é o brado da alma! - exclamou Leonor.

Entendi que era o amor que dava força a José Maria para prestar auxílio, era isso que ele sentia.
Admirei mais ainda meu filho.

- Vamos, Lourenço - disse minha acompanhante -, temos que voltar.
- Você sempre vem vê-lo? - indaguei.

- Sempre! Amo José Maria!
Amo os familiares, os amigos, como também tento amar a humanidade.
Tenho, porém, profundo respeito pelo que José Maria é, pelo que ele faz.
Somos amigos, verdadeiramente amigos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 21, 2015 10:02 pm

Voltamos à colónia.
Dias depois iniciei o curso onde aprenderia a trabalhar com os encarnados.

E a primeira pergunta que fiz ao meu instrutor foi esta:
- Todos que trabalham com encarnados fazem este curso?
- Infelizmente não!
Encarnados que não estudam quase sempre têm afinidades com desencarnados que não o fazem.
Seria o ideal se todos, encarnados e desencarnados, estudassem e fizessem o bem com sabedoria.

Mas nem todos fazem o bem...
Temos insistido para que os desencarnados que querem trabalhar com os encarnados na ajuda ao próximo venham estudar, mas muitos se recusam.
Porém há muitas maneiras de aprender, e há os que aprendem fazendo, no dia-a-dia.

Apesar de ter escutado isso há muitos anos, é ainda real este acontecimento, infelizmente.
Seria bem mais proveitoso se todos fizessem o bem com conhecimento.
E oportunidades de conhecer e de aprender, todos têm.

Fiz o curso com grande aproveitamento e quando terminou fui para perto de José Maria, onde me cabia ajudar e aprender.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 21, 2015 10:02 pm

Capítulo 7 - José Maria

José Maria morava num colégio junto com os outros padres.

Era uma construção bonita, grande, rodeada de jardins; era um local rico.
A escola instruía meninos de famílias de posse que recebiam aulas em regime de internato ou externato.

Meu filho trabalhava muito, o padre superior o sobrecarregava de trabalho, para evitar que se envolvesse em confusão.
Ele era abolicionista, não o escondia, e o superior não queria desgostar ou ter problemas com os pais de alunos que eram, na maioria, escravocratas.

Meu filho leccionava no colégio para os meninos menores, onde não lhe cabia colocar suas ideias.
Trabalhava na secretaria e arrumava tempo para ensinar crianças pobres.
Havia, não muito longe do colégio, uma senhora, d. Ambrozina, que, tendo uma casa grande e espaçosa, transformou-a numa escola.

Os alunos, na maioria filhos de imigrantes e de empregados, ansiavam por aprender.

Havia também alunos que eram escravos que os senhores deixavam frequentar as aulas, e libertos.
Todo o tempo de que dispunha, José Maria dedicava a esta escola.
Ensinava primeiramente d. Ambrozina e algumas jovens que queriam ser professoras.

Não tinha folga, aos domingos celebrava missa pela manhã para os pobres e à tarde ensinava o catecismo às pessoas carentes.
José Maria era franzino, magro, mas tinha boa saúde, o excesso de trabalho cansava seu corpo, mas não reclamava e fazia tudo com alegria.

Quando indagado sobre seu trabalho, respondia sorrindo:
- Trabalho para Deus.
Sinto Deus em tudo e em todos.
O Pai trabalha, logo, também posso trabalhar.
Sou grato ao trabalho, amo o que faço!
É trabalhando, sendo útil, que aprendo sempre!

Compreendi o que meu filho queria dizer.
Porque ao desejarmos ajudar, se não soubermos fazer, corremos o risco de causar mais mal do que bem, o sábio deve ser sabiamente útil.

Estava atento para aproveitar todas as oportunidades de aprender.
E estando perto dele, aprendi, até me instrui, assistia às aulas e aproveitava para adquirir conhecimento.
Pelo colégio vagavam desencarnados, uns querendo ajudar, outros perturbar ou até se vingar, mas nenhum mal-intencionado se aproximava muito de José Maria.

Meu filho vibrava o bem e não era sugestionável.
Isso percebi logo.
Um dia, achando também que ele trabalhava muito, falei-lhe.

Eu falava e ele captava meu pensamento ou recebia minha intuição.
"José Maria, descanse um pouco!"
"Por que será que estou a pensar assim? " - perguntou-se.
Será meu este pensamento?
Não me sinto cansado!
Se sentir que prejudico meu corpo, descansarei.

Será que este pensamento me é sugerido por alguém?
Bem, se for, você, por favor, que me sugere, não se preocupe, meu trabalho não me cansa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 21, 2015 10:02 pm

Amo o que faço! Seria bem triste não trabalhar enquanto posso.
Certamente chegará o tempo que, já sem a força do meu corpo jovem, não poderei ter essas actividades.
Aí me alegrarei, porque enquanto pude, fiz".

Então, não lhe sugeri mais descanso.
As férias do colégio aproximavam-se e ele certamente, - pensei -, descansaria.

Mas que nada!
No colégio ele teve muitas outras actividades, organizou a biblioteca, a tesouraria e passou a dar mais aulas na escola da d. Ambrozina, leccionando à noite para os adultos.

O superior do colégio era uma pessoa boa, mas estava atento às actividades de José Maria.
Ele já havia, desde que chegou ao colégio, arrumado algumas encrencas.
Por isso o superior não o deixava atender e nem celebrar missas de pessoas ricas, porque meu filho, sempre que tinha oportunidade, em seus sermões, falava da igualdade entre os homens.

O maior atrito entre os dois foi porque José Maria queria que os escravos da congregação fossem libertos, porém só conseguiu que fossem mais bem tratados.
Ele recebia sempre cartas da família e as respondia com entusiasmo, para ele tudo sempre estava bem.
Compreendi que era assim mesmo que ele se sentia, muito bem.

José Maria tinha a paz da consciência tranquila.
Amava a todos e era querido, mas também invejado.
O que me preocupava era que ele fazia parte de um grupo abolicionista.
E como ele era querido e respeitado, seus companheiros o ouviam, atendendo suas ideias.

Reuniam-se cada vez na casa de um deles em horários diferentes e sempre com cautela.
Meu filho estava sempre a aconselhar:
Nada de violência! Não é revidando ataques que se constrói.

Certamente, ao estarmos fazendo algo de útil, há e haverá sempre os que nos contradizem.
Nós e eles, todos somos livres para ter ideias e lutar por elas.

Todos devem ser respeitados!
E seremos respeitados mostrando nosso trabalho aos que pensam o contrário.
Que nos importa os outros?
Devemos fazer o que nos compete e bem feito.

Críticas? Não devemos criticar e nem nos importar quando as recebemos, mesmo as destrutivas.
O que é bom fica, e o que não é aproveitável passa sem deixar rastros.

O grupo foi crescendo, cada vez estavam mais entusiasmados.
Temia por ele, mas me orgulhava por ser corajoso e destemido.
Ainda não o ajudava em nada.
Estava sempre tentando conversar com os desencarnados que vagavam pelo colégio.

E quando alguns desses irmãos perturbados se aproximava de José Maria, ele redobrava a atenção, orava e enviava pensamentos de amor a eles, alguns se beneficiavam sentindo-se bem, outros afastavam-se logo.

Meu filho era sensitivo, não era clarividente, mas sentia quando algum desencarnado se aproximava dele e distinguia suas intenções, boas ou más.
Quando isso acontecia e entidades mal-intencionadas se acercavam dele, eu falava com elas da necessidade de mudar a forma de viver e de como poderiam se sentir melhor fazendo o bem.

Um dia, três desencarnados aproximaram-se de José Maria querendo perturbá-lo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 21, 2015 10:02 pm

Escutei-os conversando:
- Vamos dar trabalho a este padreco - falou um deles.
- Que vamos lucrar tentando-o? - indagou o outro.

- Este é bonzinho demais - respondeu o que era chefe ou líder do grupo.
Só dá bom exemplo! Onde passa conserta tudo!
Eu queria que o João, aquele escravo, fosse maltratado. não está sendo, e por quê?
Pelas ideias desse padreco. Ele necessita de uma lição!

Aproximou-se de José Maria, que estava orando ajoelhado no seu oratório.

Disse alto, fixando seu olhar maldoso no meu filho:
- Você está cansado! Muito cansado!
Pare um pouco, vá curtir uns dias de férias!
- Por que está falando isso a ele? - indagou um deles.

- Ora, ele trabalha muito, está sempre ocupado e não tem tempo para ter dó de si mesmo, nem tempo para nos escutar.
Veja, está tão concentrado nas suas orações que nem me ouviu.
E ainda faz sua vibração ser completamente desagradável a nós.
Estou querendo, para quebrar a rotina, algo difícil de fazer, se não nem ia me aproximar desse padreco.

Resolvi interferir:
- Por favor, vocês três!
Então me viram, riram e o que parecia ser o chefe respondeu irónico:
- Ora, aqui está um amigo do padreco.
Que foi? Está achando ruim?
Só vamos cansá-lo!

- Deixem-no em paz! - exclamei.
Ele não está mexendo com vocês.
- Como não está! - falou o chefe nervoso.
Quando impede de nos vingarmos, está interferindo.
Quando convence um dos nossos a fazer o bem, está nos afrontando.

- Ora - respondi -, ele está só ajudando os negros.
E se vocês fossem negros?
E se reencarnarem como negros?

- Gostaria de ser então escravo dele - disse um deles
- Cale-se idiota! - falou o chefe irado.
Que reencarnar o quê! Isso é para o futuro.
Devemos pensar no agora.

Começamos a discutir. Fui imprudente.
Agi mais pela emoção que pela razão.

De repente, José Maria levantou-se e disse:
- Trabalho é trabalho!
Antes fazer alguma coisa, mesmo errada, mas que no momento se julga certo, quê não fazer nada!
Se trabalho, você, ou vocês que querem me fazer parar, vão ter que trabalhar muito, tanto quanto eu!
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Aqueles que amam - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho. - Página 2 Empty Re: Aqueles que amam - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho.

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 21, 2015 10:03 pm

Não paro para satisfazer a ninguém!
Não estou cansado e se estiver, descansarei para o bem do meu corpo, mas meu espírito não se cansa.
Estou bem, porque sinto Deus comigo e sinto Deus em vocês, embora vocês não O sintam.

Ficamos quietos, boquiabertos, e um deles falou:
- Eu não vou com ele!
Já sinto cansaço só de pensar em ficar com ele.
- Pois eu vou!

Os outros dois se ajeitaram para acompanhá-lo, fui junto, atento a eles.
José Maria foi para a escola de d. Ambrozina, as crianças vieram correndo encontrá-lo.
Logo se pôs a ensiná-las.

E mentalmente, dirigiu-se a nós:
"Por favor, fiquem ali e não perturbem.
Aprendam também!"

E deu sua aula.

O outro desencarnado, entusiasmado, disse:
- Legal! - e dirigindo-se a mim:
- O que ele ensina é interessante.
Sempre quis aprender a ler.

- Vocês, meninos e meninas - disse José Maria -, serão os adultos de amanhã.
O saber facilita a existência, porém não é um fim, e sim um meio.
Porém tudo o que fazemos com conhecimento, fazemos melhor.

O importante é viver sempre com Deus no nosso coração, fazer tudo como se estivéssemos vendo-O.
Viver de tal forma que se víssemos Jesus não iríamos nos envergonhar, e sim nos ajoelhar e render graças.

José Maria repartia bem seu tempo, saiu dali e foi visitar uns doentes, dando consolo e reanimando-os.
Trabalhou como sempre e nós três permanecemos ao seu lado.

- Que coisa! - exclamou o chefe.
Ele não pára para me ouvir e se ouve, sua resposta me deixa encabulado.
- Eu quero estudar! - disse o outro.
Quero ler e escrever.

- Desencarnados não aprendem! - disse o chefe.
- Claro que aprendem!
Sabe, conheço uma escola onde ensinam desencarnados.
Se quiser, levo você lá.

- É junto com os bons? - indagou desconfiado.
- Junto com os que aprendem a ser bons - respondi.
- Não quero!
- Vamos descansar - disse o chefe -, estou cansado...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 21, 2015 10:03 pm

Saíram.
Eles se cansaram porque viviam como se fossem encarnados, ou tentavam se sentir como se ainda tivessem o corpo carnal.
E os que vivem assim sentem as sensações de encarnados.
Orei e chamei por Leonor, que logo veio.

- O que está acontecendo, Lourenço?
- Tem dois desencarnados querendo perturbar José Maria.
Eu não sei o que fazer.
- Sempre há entidades querendo nos perturbar.
Isso também acontece com José Maria.
O que eles fizeram?

- Nada! - respondi. - não tiveram chance.
- Por que se preocupa?
Em tudo de útil que se faz, há sempre alguém que é contra.
É nas dificuldades que aprendemos a ficar alertas e a amar a todos.

Querer bem os amigos é fácil, mas também temos que amar aqueles que são contra nós.
Depois essas entidades aprenderão que as armas que usam nem sempre são eficientes e que os outros, os que elas pretendem perturbar, podem tê-las também.
E que o bem sempre é mais forte!

No outro dia vieram os dois e fiquei com eles.
Por dias acompanharam José Maria nas suas actividades.
O outro, acabou aceitando meu convite para ir estudar.

Aproximou-se do meu filho e pediu perdão.
"Perdão, senhor padre!
Peço-lhe que me perdoe!"
"Amo você como meu irmão!" Foi sua resposta em pensamento.

O que pediu perdão sorriu e eu elucidei-o:
- O perdão não é necessário onde o amor realmente existe.
Amar, no conceito dele, é nunca ter que pedir perdão, porque ele jamais faz mal a alguém.
E nem tem o que perdoar, porque nada o ofende.
Tudo compreende, tudo entende!
- Obrigado! - disse com sinceridade.

Levei-o à colónia para estudar.
Entendi que aquele que ama consegue atingir a todos com sua vibração benéfica.

O chefe perdeu o interesse e despediu-se de mim:
- Vou embora, senão acabo por me prejudicar, acabarei carola igual a ele.

Senti alívio, mas sempre havia entidades perturbadoras da paz querendo que José Maria parasse de fazer seu trabalho.
Mas meu filho tinha fibra, nada, nem actos externos, nem conselhos desanimadores, nem exaltação à vaidade, nada o fazia esmorecer.
Fixava sua mente no trabalho a realizar e o fazia.
Foi uma das maiores lições que aprendi.

Fixe sua mente, seu coração, na tarefa a realizar, faça-a para o Pai, faça-a feliz no dia-a-dia, trabalho a trabalho e realizará o que lhe compete.
Se deixarmos de fazer, pararmos e não acabarmos a tarefa que nos dispusemos a realizar, ou se a adiarmos, ficará sempre por fazer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 21, 2015 10:03 pm

É parar no caminho.
E nada de intolerância, aprendemos a ser tolerantes na constante actividade, no trabalho útil.

José Maria estava se tornando perigoso para as pessoas importantes naquela época, naquela cidade.
Importantes, mas passageiras, pois títulos e bens materiais passam, o que importa é fazermos por merecer os tesouros espirituais que são nossos e nos acompanham por onde vamos.

Um dia, ao sair da aula na escola da d. Ambrozina, José Maria viu algumas pessoas reunidas e aproximou-se.
O senhor ia castigar um escravo.

Tentou então impedir:
- Por favor, senhor - disse -, não castigue seu escravo, não sei o que ele fez, mas converse com ele, entre num acordo.

O negro estava cabisbaixo e com medo.

O senhor, arrogante, respondeu rudemente:
- Não interfira, seu padre dos pobres! Não se meta!
É corajoso o suficiente para receber o castigo no lugar dele?
- Sou sim, senhor! - respondeu José Maria.
- Castigue-me!

Desabotoou sua batina e, deixando as costas nuas, disse:
- Amarre-me e chicoteie-me, senhor!
O senhor riu, ia começar a amarrá-lo no poste quando as pessoas, agora em grande número, começaram a gritar:
- Não bata no padre José Maria!
- Não castigue o negro!

Pegaram pedras, o senhor temeu e não sabia o que fazer, quando uma senhora rica interferiu:
- Parem com isso!
Quanto quer pelo escravo?

O senhor falou a quantia e a senhora pagou.

- Pronto - disse a senhora -, agora o escravo é meu e faço dele o que quiser.
Vou dá-lo ao senhor padre. É seu!
José Maria abotoou a batina, beijou as mãos da senhora e disse:
- Obrigado! Muito obrigado!

E deu a carta de alforria ao negro.
As pessoas bateram palmas, deram vivas.
Isso fez com que o grupo de abolicionistas aumentasse.
Passaram a ajudar escravos a fugir, alforriaram os que compravam com dinheiro das doações.

José Maria pensava muito na Justiça Divina.
Queria compreender, para não duvidar.
Ajudei-o a achar um livro, na biblioteca, sobre o cristianismo antigo.

Antes dos ensinamentos de Jesus serem aceites pelos romanos, acreditavam os apóstolos e os primeiros cristãos que os espíritos renasciam muitas vezes, em diversas circunstâncias, para aprender e progredir.

"Meu filho - disse-lhe -, vivemos muitas vezes em corpos físicos diferentes.
O corpo carnal morre, vive-se desencarnado e depois volta-se a outro corpo em formação, numa oportunidade para recomeçar, reparar faltas e continuar aprendendo.
Deus é justo e bondoso nos dando outras oportunidades".
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 21, 2015 10:03 pm

- Chorou emocionado com a compreensão que tivera.
No colégio, os padres ficaram sabendo das actividades dele, do episódio da rua que resultou na libertação do escravo.
Como também senhores ricos e escravocratas reclamaram dele, exigindo que o superior tomasse uma providência.

O padre superior o chamou para uma conversa:
- Padre José Maria, já o proibi de se envolver com os abolicionistas.
Sobrecarreguei-o de trabalho e não adiantou.
Vim a saber que continua no movimento.
Ganhou um escravo e alforriou-o.
Não podia fazer isso, tudo o que ganha é da congregação. vou transferi-lo!

Será afastado agora.
Terá três meses de férias e os passará no Rio de Janeiro com sua família.
Depois irá para o interior de outra província, onde construiremos um colégio.

- Para as crianças ricas...
- Para as crianças, padre José Maria, cujos pais podem pagar para nos sustentar.
- Fazemos votos de pobreza e vivemos como ricos e...

- Já sei suas ideias, padre José Maria, já sei!
Vá preparar suas coisas.
Parte amanhã cedo para o Rio de Janeiro.

José Maria ia pedir para ficar mais tempo, mas o superior deu por encerrada a conversa.
Todos no colégio sabiam de suas ideias.
Achava que todos os padres deveriam ser pobres e viver na simplicidade e ensinar todas as crianças e jovens igualmente, as ricas e as pobres.

Deveriam viver a exemplo de Jesus e dos primeiros apóstolos.
Ansiava por fazer sua congregação compreender e viver esses princípios.
Entendi então que meu filho se fizera padre na tentativa de ajudar a Igreja e lembrar aos seus seguidores esses princípios.

Não queria criticar, mas colaborar e achou que só pertencendo ao grupo católico conseguiria.
Porém não era simples e fácil essa tarefa.
Concluiu então que deveria fazer sua parte e exemplificar.

Isto estava fazendo, e bem feito.

Foi para sua cela e pôs-se a arrumar seus objectos.
Tinha pouca coisa, só o indispensável.
Sentia ter de deixar tantos amigos.
Lutou contra o sentimento de tristeza, não se deixando envolver.

"Nossa vida, - pensou - são etapas e deveria aceitar como finda sua permanência naquele colégio e naquela cidade."

Outra tarefa lhe seria dada, outra etapa se iniciaria.
Escreveu uma carta aos companheiros alertando-os para que tivessem cuidado e despedindo-se.
Depois passou rapidamente pela escola de d. Ambrozina e despediu-se.

Foi uma perda, todos o amavam muito.
Mas José Maria estava esperançoso, iria com certeza fazer novos amigos.
Depois ia rever seus familiares, estava saudoso.
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