LUZ ESPÍRITA
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Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 28, 2015 11:35 am

Luz que nunca se apaga
Sandra Carneiro

(Espírito Bento José)

Serginho, o jovem que inspirou esta obra, nos fará conhecer inúmeras histórias.
Sua experiência exemplifica a de milhares de outras vidas; muitos jovens e suas famílias estão passando agora pelas mesmas dificuldades que ele enfrentou.
No entanto, a luz que se acendeu no coração dele e de seus familiares, em meio à dor e ao sofrimento, comprova que a vida, dom de Deus, jamais se apaga.
E onde há vida, há alegria, construção e renovação.
Serginho é um exemplo para nós, não só pelos seus acertos, mas também pelas suas dificuldades e fraquezas, que nos são comuns a todos.
Num mundo onde se alastram a dúvida, a insegurança e o medo, é confortador saber que o amor e o conhecimento das leis de Deus podem nos inundar de esperança, iluminando nossa alma e fortalecendo-nos ao longo da jornada eterna.
Deus é amor e fonte de todo o bem, e para sua luz infinita caminhamos, luz que nunca se apaga!

Bento José

"É para nós motivo de alegria e satisfação apresentar esta obra, assim como ver afinal nosso irmão Bento José desenvolvendo sua maior aptidão, traduzida neste trabalho de amor especialmente dedicado aos jovens..."
Lucius

O caminho em direcção a Deus e à felicidade é o caminho do amor.
No entanto, preferimos criar nossos sistemas de felicidade baseados no orgulho e na vaidade, onde Deus e o próximo não encontram espaço.
Alguns homens corajosos, porém, já fizeram a escolha pelo amor e ensinam à Humanidade que esse caminho é possível.
Transformam a vida por onde passam, o mundo onde vivem, as pessoas com quem convivem.
São astros de luz num mundo sob a escuridão do orgulho.
Juntemo-nos a eles! Façamo-nos luz para extirpar as trevas de nosso planeta, permitindo que a luz de Jesus brilhe através de nós.
Desejamos que este projecto, que ora nasce, possa trazer um pouco dessa luz de amor e conhecimento aos corações que buscam instruir-se e compreender um pouco mais da vida.
Que Deus nos abençoe em nossas tarefas, que Deus abençoe a todos que trabalham na disseminação do bem e na renovação do homem.
Hoje, mais do que nunca, posso dizer com toda a convicção de meu espírito que a luz nunca se apaga; por isso, todos os esforços que fizermos para o nosso bem, ou daqueles que nos cercam, ainda mesmo as pequeninas coisas, permanecerão vibrando pela eternidade.

Serginho

Sandra Carneiro, nascida em 16 de maio de 1963, é casada e reside na cidade de São Paulo.
Aos quatorze anos, e ainda desconhecendo os princípios espíritas, teve sua primeira experiência com a psicografia, recebendo um livro infantil.
Mais tarde, após alguns anos se dedicando ao estudo da Doutrina Espírita, teve a oportunidade de iniciar o trabalho de psicografia através do romance Cinzas do Passado, de autoria espiritual de Lucius.
Desta vez, colaborando com o espírito Bento José, nos traz a todos mais este romance mediúnico.
Desde 1994 frequenta o núcleo espírita Lar de Jesus onde, ao lado de muitos companheiros de ideal cristão, colabora nas actividades de atendimento aos irmãos de caminhada evolutiva.
Participa também do Grupo Cristão Assistencial Casa do Pão em Atibaia - entidade voltada ao atendimento da comunidade necessitada do bairro do Maracana.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 28, 2015 11:35 am

Índice
Prefácio
Introdução

Primeira Parte: O Tombo

1. Serginho
2. Paixão arrasadora
3. O sonho se torna realidade
4. Momento de união
5. Livre escolha
6. Lívia
7. Enfim, o nome
8. Final de campeonato
9. Ocultando a teimosia
10. Advertência
11. Outro aviso
12. Celebração inconsequente

Segunda Parte: Do Outro Lado da Vida
13. Perturbação
14. Chico Xavier
15. O socorro ,
16. Difícil despertar
17. O Evangelho no Lar

Terceira Parte: O Aprendiz
18.Novas lições
19. Uma inspiração
20. Morada luminosa
21. Uma nova chance
22. Experimentando
23. A primeira missão
24. Paulo
25. Últimos preparativos
26. Pedi e obtereis, buscai e achareis...

Notas complementares e indicações de leitura
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 28, 2015 11:36 am

Prefácio

É para nós motivo de alegria e satisfação apresentar esta obra, assim como ver afinal nosso irmão Bento José desenvolvendo sua maior aptidão, traduzida neste trabalho de amor especialmente dedicado aos jovens: jovens que caminham inseguros e assustados vendo o mundo em que vivem desmoronar em sofrimento e aflição; vislumbrando um futuro que se desenha sem esperança, sem estímulo e sem algo que lhes dê forças ou justificativas para lutar.
Entretanto, há luz e esperança em Jesus, nosso Mestre amado.
Ele nos trouxe a real percepção da vida, do amor de Deus nosso Pai, fonte inesgotável de todo o bem.
Mas como enxergar em meio à dor e à agonia, onde está Deus, por que razão sofremos, onde está o amor do Pai que nos permite viver num mundo em tais condições!1
São perguntas que pairam, com razão, na mente de todo aquele que pensa, que reflecte.
Há, porém, respostas para todas essas interrogações.
Através da doutrina de luz que juntos Allan Kardec e os Espíritos nos legaram, temos compreensão profunda dos ensinamentos de Jesus, da vida espiritual - a verdadeira vida que Jesus veio nos mostrar, e a que tantas vezes se referiu enquanto esteve fisicamente entre nós.
Essa doutrina nos ilumina a consciência, e nos faz perceber igualmente a responsabilidade que temos por nosso destino, mesmo sendo tão difícil aceitar que somos o resultado de nossas obras, quer quando sofremos ou quando estamos felizes.
Deus, em sua bondade e sua misericórdia infinitas, nos oferece o presente do amor todos os dias.
O seu amor nos convida todas as horas, em todas as situações, a recomeçar, a progredir, a ter mais alegria de viver; até quando sofremos, seu amor está convidando a nos conhecermos melhor e a modificarmos em nós o que nos faz sofrer, o que nos leva à dor.
É um amor sem fim, que perdoa e compreende ainda quando nós próprios não somos capazes de nos amar e perdoar.
Ele sabe que somos imperfeitos e que necessitamos de apoio constante para conseguirmos acreditar em nós e seguir em frente.
Podemos confiar nesse amor incondicional, que está sempre ao nosso redor, porquanto é a essência do próprio Universo.
Deus quer que todos os seus filhos encontrem o caminho da felicidade, que não é outro senão o caminho do amor e da fraternidade.
E foi movido pelo sentimento de amor e fraternidade que nosso irmão Bento José desenvolveu este projecto que ora toma forma.
Foi desejando utilizar seu conhecimento e sua experiência a serviço de Jesus e de sua causa de regeneração da Humanidade que nosso irmão se entregou a este e a outros projectos na Espiritualidade.
O amor é sua inspiração e os jovens são sua principal preocupação.
Assim, mais uma vez, desejamos que Deus abençoe esta iniciativa há tanto planejada e a faça frutificar em luz, paz e reencontro de almas com nosso Mestre Jesus, através da Doutrina dos Espíritos, fonte de verdadeira compreensão para todos aqueles que têm olhos de ver e ouvidos de ouvir.
Luz, paz e amor.

Lucius
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 28, 2015 11:36 am

Introdução

Melancolia e tristeza ainda me inundam a alma quando vejo tantos e tantos jovens destruindo suas vidas à procura de alguma coisa que lhes preencha o coração e lhes alivie a ansiedade.
Com toda a vida pela frente, repleta de possibilidades, e ao mesmo tempo de percalços, sentem que há algo mais além da perpetuação de uma existência medíocre, sem propósito, cheia de violências e disparidades.
As desigualdades, as dores dos semelhantes tocam o coração dos jovens, que não sabendo explicar o porquê de tanto sofrimento, de tanta indiferença, fogem da realidade que os esmaga e vão à procura do que lhes traga prazer, satisfação...
Buscando alegria, muitas vezes encontram frustração e desilusão.
Buscando modificar a realidade, frequentemente reproduzem aquilo que de pior viam nos pais e na sociedade em geral.
Buscando uma nova realidade, alienam-se e negam ao mundo o bem que poderiam construir.
Por isso sofro ao ver os jovens perdidos e desesperados, tristes e angustiados, procurando sem saber onde nem como um mundo melhor, que querem acreditar possa existir.
A intuição lhes diz que a vida não pode ser uma experiência sem sentido; mas onde encontrar as respostas que resolvam suas angústias?
Quem sabe em uma carreira brilhante?
Quem sabe com muito dinheiro?
Quem sabe agindo ao contrário de tudo o que aprenderam de seus pais?
Quem sabe no sexo desenfreado e totalmente livre?
Quem sabe entre amigos e uma turma bem animada?
Como achar o que possa aliviá-los e dar significado à existência?
Cada vez que me aproximo de um jovem a se debater em sofrimento e angústia, compreendo sua dor e trabalho incessantemente para inspirar-lhe a ideia de que é possível encontrar harmonia e paz na vida.
Para isso, porém, é preciso elevar o pensamento e o olhar acima das aparências, acima do que é puramente material; é preciso deixar o coração conduzir a mente e permitir que nos leve por caminhos melhores.
É só uma questão de acreditar e consentir que nova fé, novos conhecimentos, postos em prática, nos proporcionem novas experiências.
É assim que, de alma para alma, vou transmitir a vocês minhas experiências deste lado da vida, que demorei a aceitar completamente.
Agradeço a Deus pelos amigos que fiz aqui, pois são eles que me dão forças para seguir em frente e continuar lutando para que a vida se renove e se transforme.
Tudo o que era importante já foi dito dois mil anos atrás.
No entanto, ainda negamos sistematicamente e não vivemos o que Jesus de Nazaré nos ensinou, que é simples e tão poderoso: o amor.
Ele nos deixou o caminho todo aberto em direcção a Deus e à felicidade; mas preferimos criar nossos sistemas de felicidade, baseados em orgulho e vaidade.
Imagine se nós, seres humanos tão cheios de conhecimentos e capacidades, tão cheios de nós mesmos, vamos aceitar esse ensinamento tão simples, e pôr de lado o egoísmo para amar nossos semelhantes!
Parece impossível.
Entretanto, alguns homens corajosos o fizeram, estão fazendo, e ensinam à Humanidade que é possível.
Transformam o caminho por onde passam, o mundo onde vivem, as pessoas com quem convivem.
São astros de luz num mundo sob a escuridão do orgulho - quase sempre astros solitários, mas imprescindíveis ao nosso crescimento.
Juntemo-nos a eles!
Façamo-nos luz para extirpar as trevas do nosso planeta, permitindo que a Luz de Jesus brilhe através de nós, trazendo finalmente o Reino de Deus para a Terra pelos nossos corações.
Espero que este projecto, que ora nasce, possa trazer um pouco dessa luz de amor e conhecimento aos corações que buscam, que desejam instruir-se e compreender um pouco mais da vida.
Por meio dele iremos compartilhar a experiência verdadeira de tantos e tantos jovens, famílias, pais e mães pelos caminhos da vida terrena e também da vida no mundo dos espíritos...
Conheci Bento José algum tempo após iniciar minhas tarefas.
Ele, que já trabalhava na elaboração deste projecto, entrevistou-me e a muitos outros jovens; conheceu suas famílias, suas lutas e vitórias, suas propostas de renovação e trabalho, seus acertos e desacertos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 28, 2015 11:36 am

Bento José alterou os nomes de quase todos os envolvidos e manteve apenas os de personagens famosos, para que todos possam conhecê-los ainda melhor.
Dessa forma, foi possível compartilhar as experiências desses jovens e de suas famílias pelos caminhos do crescimento espiritual sem expô-los ou a seus entes queridos.
Que Deus nos abençoe em nossas tarefas.
Que Deus abençoe a todos os que trabalham na disseminação do bem e na renovação do homem.
E estejamos certos de que a luz nunca se apaga.

Serginho
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 28, 2015 11:36 am

Primeira Parte - O Tombo

Capítulo 1. - Serginho


Serginho entrou em casa como um raio, batendo a porta estrondosamente.
Sua mãe, que na cozinha preparava o almoço, ouviu quando chegou barulhento.
Além de bater a porta com força e entrar com toda a energia de seus quase dezoito anos, cantava em voz alta e afinadíssima uma música do grupo Paralamas do Sucesso, uma de suas bandas favoritas, usando o fone de ouvido e um disk men.
Se havia uma coisa de que Serginho realmente gostava, era música.
E ele tinha sempre um tipo preferido para cada ocasião: gostava das agitadas quando estava nas baladas com sua turma; já em casa, enquanto estudava, preferia as mais calmas.
Ao dormir (porque sempre adormecia ouvindo música), em geral buscava as suaves para embalar seus sonhos.
Música! Ele vibrava com os sons e harmonias das melodias.
E as letras... Adorava as letras...
Achava fascinante os artistas traduzirem em palavras e poesia exactamente aquilo que ele sentia e não conseguia expressar!
Sem dúvida, a música tinha o poder de enriquecer a vida!
Skank era a sua banda predilecta.
Era grande fã do grupo e sempre que a banda se apresentava fazia o possível e o impossível para ir ao show.
Curtia muito aquele som!
Não obstante sua "fanatice" pelo Skank, o rapaz apreciava todo estilo de música, desde que fosse de qualidade, bem elaborada, e que agradasse ao seu ouvido exigente.
Isso incluía reggae, rap, rock, canções românticas, samba...
Enfim, ele apreciava tudo que fosse bem feito.
A mãe, que vivia corrigindo os comportamentos exagerados do filho quando os julgava inadequados, apareceu na porta do quarto e pela milionésima vez (ou sei lá que vez era aquela) pediu:
— Creio que é mais do que a milésima vez que peço para você não bater a porta.
Quanto ainda vou ter de pedir que entre em casa como gente?
— Mas gente não bate a porta?
— Serginho, não se faça de engraçadinho.
Você sabe muito bem do que estou falando.
Outro dia quase derrubou a porta, meu filho!
Tenha dó de seu pai que trabalha duro para cuidar de tudo e de todos!
— O, mãe... Não precisa apelar...
E abraçando a mãe amorosamente, Serginho mais uma vez desarmou completamente dona Eugénia.
Mas ela, que adorava o carinho do filho, tentou dar uma de durona:
—Não adianta vir abraçando, não, Serginho!
Eu canso de pedir, e nada! Puxa vida!
Quando vou ver você mudar, meu filho?
Apertando a mãe ainda mais forte, Serginho quase a sufocava...
— Não vai adiantar me abraçar assim, não!
Vou continuar falando a mesma coisa para você.
Nem que tenha de repetir mais de um milhão de vezes!
Seja cuidadoso.
Entre em casa com calma!!
— E etc. etc. etc...
Já sei, mãe... Já sei....
Serginho continuava abraçando a mãe com muita ternura.
Finalmente vencida, dona Eugénia soltou-se e voltou para a cozinha resmungando para si própria que era sempre amolecida pelos chamegos do filho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 28, 2015 11:36 am

Quando dona Eugénia era dura com Serginho, ele nada dizia.
Agarrava-se ao pescoço dela com carinho, enchia seu rosto de beijos, beijava-lhe as mãos, os braços, cobrindo-a de afagos.
Desse modo, sempre conseguia abrandar a irritação da mãe.
Porém dona Eugénia se preocupava muito com o filho.
Era bom rapaz, tinha um coração de ouro.
Não! Um coração que reunia todos os tesouros!
Era bom e carinhoso para com todos.
Apesar disso, tinha um defeito que fazia a mãe perder noites e noites de sono: era muito, mas muito teimoso.
Quando punha uma ideia na cabeça, nada (nem ninguém) tirava.
Ela fazia de tudo, tentava de todas as formas conversar com Serginho; utilizava todos os argumentos para mostrar-lhe quando estava indo numa direcção que poderia prejudicá-lo.
Não adiantava! Ele não ouvia ninguém.
Fazia só aquilo que queria, quando e como tinha vontade.
Por causa daquela teimosia, vinha criando sérios problemas.
No colégio em que estudava, por exemplo, várias vezes a directora chamara dona Eugénia para conversar.
E esta era obrigada a explicar que corrigia o filho, sim!
Fazia o máximo que estava ao seu alcance como mãe.
Mas desde pequeno Serginho era desobediente e teimoso.
Fazia tudo o que lhe dava na veneta.
Ela e o pai, seu Felipe, ficavam desnorteados, malucos.
Dona Eugénia explicava tudo à directora e depois de longas conversas saía com algumas orientações dela, dos professores, dos psicólogos da escola embaixo do braço, para tentar novamente mudar a conduta do filho.
Sabia que Serginho teria muitos problemas ao longo da vida se não procurasse escutar mais os outros, em especial aqueles que o amavam e queriam o seu bem.
Toda vez que saía do colégio ela suspirava fundo e pensava que o filho iria melhorar.
A medida que fosse ficando mais velho, passaria a compreender melhor e então iria se corrigindo, sendo mais flexível e aceitando orientações.
Que nada!
o invés disso, a cada ano Serginho se tornava mais teimoso e arredio.
Agia como queria, sem escutar conselho de ninguém.
Que montão de problemas teria se não tentasse dominar aquele génio impetuoso!
E ela continuava fazendo o que podia para ajudar o filho a compreender...
Mas o que fazer?
Paciência, pensava.
Precisava continuar tendo paciência!
Dona Eugénia reflectia sobre tudo isso quando ele entrou na cozinha e foi logo beliscando uma batata frita:
— O almoço vai demorar a sair, mãe?
Tenho treino hoje!
— Hoje? Seu treino não é somente às terças e quintas?
— Era. Agora resolvi treinar todos os dias.
O colégio vai participar do campeonato interescolar e todas as equipas estão intensificando os treinos!
— Mas você tem tantas coisas para fazer, meu filho...
Precisa estudar para o vestibular, não?
— Ah, mãe!
Eu estudo à noite, e presto mais atenção às aulas...
Não se preocupe com isso!
Sabe que sempre vou bem na escola, não sabe?
Isso a senhora não pode negar!
— É, mas...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 28, 2015 11:37 am

— Está vendo? Não tem o que dizer!
Afinal de contas, eu sempre fui bom aluno.
Aprendo fácil, fácil.
E você sabe o quanto eu gosto de vôlei.
Dona Eugénia não disse nada.
Terminou de preparar o almoço e o serviu.
Preferia que o filho estivesse praticando desportos, de que tanto gostava, a andar aprontando por aí.
Iam começar a almoçar quando chegaram Sueli e Fábio, os irmãos mais novos de Serginho.
Fábio tinha apenas nove anos.
Era magrinho, espevitado e muito curioso.
Seus olhinhos pretos estavam sempre atentos.
Adorava o irmão e imitava todos os seus hábitos, parecia um Serginho em miniatura.
Já Sueli era uma menina quieta e fechada.
Não falava muito, chorava à toa e era muito sensível, como todo mundo dizia; uma garota meiga e delicada.
Seu Felipe adorava a filha, que estava com doze anos.
Assim que entraram, correram os dois para a mesa e começou a bagunça.
Dona Eugénia pensou:
"Pronto! Acabou o sossego!
Pensei que ia conseguir almoçar com Serginho e falar um pouco com ele, mas...
Assim são as famílias..."
O quarteto almoçou conversando animadamente.
Serginho era um herói para Fábio, que queria ser igual ao irmão.
Já com Sueli vivia brigando.
Não se entendiam, e tudo logo se transformava em motivo para discórdia e discussão.
No fundo, no fundo, porém, eles se gostavam muito, pois não desgrudavam um do outro.
Quando Serginho comentou novamente, em meio ao almoço, que iria intensificar seus treinos, Fábio berrou:
— Também quero, mãe!
Quero treinar!
Também gosto de vôlei e sei jogar!
— Como sabe jogar, Fábio?
Você já jogou alguma vez?
- Já!
— Quando?
Fábio pensou um pouco, depois concluiu:
— Aquela vez lá na praia foi uma delas!
— Fábio, dá um tempo, vai!
Aquela vez lá na praia não vale!
Era só uma brincadeira.
Nem a bola era mesmo de vôlei!
A bola de vôlei é muito mais dura do que aquela.
Você não dá conta, não.
— Fábio - interveio a mãe ao ver o filho sério e de testa franzida, sem arredar os olhos do irmão, procurando uma resposta à altura para devolver a Serginho -, nem pense nisso!
Você já está fazendo natação, e foi o médico que recomendou.
Quando ficar um pouco mais velho, você treina, meu filho.
Espere chegar o momento certo!
— Quero treinar, mãe, que nem o Serginho!
A mãe olhou para o filho mais velho e acenou com a cabeça pedindo ajuda.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 28, 2015 11:37 am

Serginho tomou um gole de água e depois falou com firmeza:
— Olha, Fábio, só vou mesmo treinar porque temos o campeonato da escola.
E daqui a um mês e meio. Por isso vou treinar.
Estou quase sendo obrigado, entende?
Você entende? Tenho de ajudar a escola.
— Tem campeonato?
— Tem.
— Daqui a dois meses?
— É, quase...
— E depois?
Vai continuar treinando?
Serginho não acreditava que o irmão estava tentando pegá-lo na curva e, olhando para a mãe, falou sorrindo:
— Se ganharmos, participaremos de outro campeonato.
Se perdermos, saímos.
Tudo vai depender do resultado.
Fábio não disse mais nada.
Ficou calado até terminar o almoço.
Serginho piscou para a mãe, dizendo:
— Fábio, quando vocês vão ter competição na natação?
— Na natação tem competição?
— É claro que tem!
— E tem prémios também?
— Tem medalhas, seu bobo - falou Sueli, que permanecera calada até aquele momento.
— Fica quieta, Sueli.
Estou falando com o Serginho!
— Tem medalhas e prémios.
— Oba!!! Vou perguntar ao professor quando vai ter competição.
— É isso aí, Fábio, vai fundo!
Você vai ter de treinar bastante para essas competições!
— Oba! Oba!
Fábio, que havia terminado o almoço, saiu da mesa exultante.
Ele também teria sua competição!
Serginho acabou de almoçar e após algumas ligações voltou à cozinha, onde dona Eugénia ainda conversava com Sueli.
— Bom,' mãe, vou indo.
Vou chegar bem tarde hoje, não se preocupe!
Temos ensaio da banda.
— Serginho, seu pai e eu já falamos várias vezes que não queremos você chegando tarde quando tem aula logo cedo no dia seguinte.
Prejudica seus estudos; você fica cansado durante a aula e não consegue prestar atenção a nada...
Fica displicente...
— Mãe, chega de sermão por hoje, tá?
Puxa! Deixa eu viver minha vida!
Gosto tanto de música, gosto dos meus amigos, quero fazer tudo de que gosto!
Você sabe que eu sempre consigo me recuperar nas matérias em que tenho dificuldade uma vez ou outra!
Além disso, mãe, tem um monte de aulas chatas, de professores que parece que nem sabem o que estão dizendo...
— Serginho...
Ele não deixou a mãe concluir o que estava dizendo...
Deu tchauzinho para os irmãos, um beijo no rosto dela e saiu pela porta descendo as escadas rapidamente.
— Até mais tarde, dona Eugénia, o almoço estava óptimo!
Dona Eugénia voltou para dentro contrariada.
Serginho não tinha conserto!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 28, 2015 11:37 am

Capítulo 2 - Paixão arrasadora

Serginho chegou ao colégio, foi directo para o vestiário e num instante trocou de roupa.
Tirou a calça jeans e a camiseta, embolou tudo e jogou dentro do armário.
Ele estava ansioso para chegar logo na quadra e treinar.
Depois de vestir o uniforme oficial da escola, fechou o armário e saiu.
Seus amigos já estavam por lá, treinando alguns saques, algumas cortadas.
Serginho aproximou-se deles e cumprimentou como de costume:
— E aí? Tudo bem, Renato?
O que está rolando?
— Tudo beleza!
Estamos aquecendo para começar o treino, Serginho.
— Legal! E aí, Marcelo?
Tudo em cima?
— Tudo! Como foi em casa?
Sua mãe concordou com os treinos?
— E você acha que eu ia dar mole?
Já cheguei comunicando e pronto!
Não dei nem chance para ela falar nada.
Até que tentou, mas eu já estava pronto com todos os argumentos.
Não tem jeito, Marcelo.
Quando a gente quer alguma coisa tem de ir lá e conquistar.
Não dá para marcar passo, não!
— Tá certo, Serginho! E isso aí.
— E aí, brother, tudo bem?
— Tudo certo, Tiago.
ô louco para gente ganhar essa competição!
— Nem fala, Serginho!
Tô muito a fim de ganhar essa parada!
— Nós vamos levar essa, pode crer!
— É isso aí, Marcelo.
Firmeza que vai dar tudo certo!
Depois de mais alguns minutos de aquecimento o treino começou.
O professor de educação física, e treinador do time, era enérgico e cobrava o máximo de desempenho dos jovens.
Eram garotos saudáveis e o professor vinha preparando-os física, técnica e psicologicamente para ganhar.
Na verdade, Dirceu era um apaixonado pelos desportos.
Quando jovem treinara para ingressar na selecção brasileira de vôlei, mas por problemas sucessivos de contusões no joelho acabara desistindo de seguir carreira, sem nunca perder a paixão pelo desporto.
Seu sonho era descobrir jogadores com potencial e desenvolver seus talentos, encaminhando-os para jogos profissionais.
Já tivera sucessos e alguns de seus melhores alunos estavam treinando em clubes, preparando-se para jogar profissionalmente.
Por conhecerem bem a história de Dirceu, os estudantes o respeitavam muito.
Era talvez o professor mais respeitado pelos rapazes do colégio -ao menos os que apreciavam desportos.
O treino ia começar quando Serginho, de súbito, tornou-se impaciente.
Olhava de um lado para outro a procurar por alguém...
Começaram a treinar e ele não conseguia concentrar-se.
Perdeu alguns saques e deu pontos para o time adversário.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 29, 2015 11:58 am

Levou uma tremenda bronca do professor e treinador:
— Assim não dá, Serginho!
Mais atenção! Mais atenção, rapaz!
Você quer ou não quer jogar? Concentração!
Os amigos, com olhares indignados, fizeram-no suspirar fundo e tentar concentrar toda a atenção na bola.
Ao abrir os olhos, porém, ele viu Paula entrando na quadra.
Finalmente chegara!
Seus olhos se encontraram, Paula sorriu e Serginho sentiu-se totalmente confiante outra vez!
Daí para a frente foi somando pontos e mais pontos para o time.
Era incrível! Quando estava na rede saltava como se tivesse molas nos pés e suas cortadas eram incrivelmente precisas.
Normalmente, seu desempenho era fantástico e ele era um dos jogadores mais admirados no time.
Paula sentia muito orgulho de Serginho.
Afinal, não o escolheria se não fosse um vencedor.
Ela e outras garotas acompanhavam os treinos com frequência.
Paula adorava assistir aos treinos junto de amigas, assim todas podiam ver quanto seu namorado era especial, de dar mesmo inveja...
O treino prosseguiu até quase o fim da tarde.
Além do jogo em si, treinaram saques, cortadas e diferentes jogadas.
Dirceu sabia tudo do desporto e levava o treinamento muito a sério.
Ao final elogiou o desempenho de Serginho, o que não era nada usual, pois Dirceu sempre economizava elogios:
— Muito bom, Serginho.
No começo fiquei um pouco preocupado e pensei que hoje você não estivesse em condições de jogar; mas depois que esquentou, você deu um baile.
Muito bom! Parabéns!
— Legal, Dirceu! Valeu!
Serginho dirigiu-se até a namorada, que o olhava satisfeita:
— Legal, Serginho!
Mandou muito bem!
O Dirceu, que é difícil de elogiar alguém, se amarrou no seu jogo.
Tiago passou por eles interrompendo a conversa:
— Serginho, à noite na casa do Renato?
— Com certeza, cara!
As oito tá legal?
— Tá óptimo! Até!
Tchau, Paula!
— A noite nos vemos, Tiago.
— Legal!
Os amigos se despediram e Serginho seguiu com Paula.
Levou-a até o carro e despediram-se.
— Te vejo à noite na casa do Renato.
— Você não vai me buscar?
— Não vai dar, Paula.
Meu pai não me emprestou o carro.
— E sua mãe?
— Também não quis emprestar.
Eles querem que eu tire a carta primeiro, já te falei.
ão querem que eu dirija sem carteira por aí.
— Que chato, hein, ter de ficar andando por aí de carona!
Afinal, daqui a dois meses você já completa dezoito anos!
— É... Eu sei, Paula, é muito chato, mas...
Vou esperar um pouco mais...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 29, 2015 11:58 am

— Acho você muito devagar às vezes, Serginho.
Não acredito que tenha tanta personalidade em alguns momentos e em outros se deixe dominar desse modo pelos seus pais...
— Só faltam dois meses...
Então poderei pegar o carro à vontade.— Será que vai poder mesmo?
Ou vão inventar histórias?
Seu pai vai te dar um carro?
— Espera aí, Paula, a gente já falou sobre isso...
Meu pai tá trabalhando para caramba.
Os negócios estão difíceis.
Eu já falei isso para você...
— Eu sei, Serginho, eu sei, mas é que acho muito chato você estar sem carro.
Acho desagradável ter de ir muitas vezes buscar você com meu carro, e outras você ter de ir de carona...
Sei lá, pega meio mal...
Você fica meio infantil, entende?
— Infantil?
— É, infantil.
Parece que precisa dos outros...
— Não é nada disso, Paula.
Assim que completar dezoito anos, vou ter mais autonomia.
Sei dirigir e no dia do meu aniversário já estarei com minha carteira de motorista nas mãos.
— Só que a carteira não adianta nada se você não tiver o seu carro.
Por que não compra uma moto?
Não tem aquela grana guardada?
Aquela grana que você foi ajuntando?
— Tenho... Mas não acho legal moto agora.
Prefiro esperar um pouco mais e pegar o carro.
— Quero só ver, Serginho...
Duvido que seus pais liberem o carro para você...
Bom, vou indo. Passo à noite na sua casa.
— Não precisa, Paula.
Já combinei com o Marcelo.
Ele me pega e a gente se encontra na casa do Renato.
— Tá bom. Até mais.
Paula entrou no carro e bateu a porta, contrariada.
Ligou o carro e saiu rapidamente, sem olhar para Serginho, que ficou observando até a namorada desaparecer ao virar a esquina.
"Como é linda!", pensava.
Serginho adorava Paula.
Era uma das garotas mais cobiçadas do colégio.
Um ano mais velha do que ele, sabia bem o que queria.
Namoravam há pouco mais de quatro meses, e ela era um verdadeiro furacão, uma revolução em sua vida.
No entanto, Serginho sentia-se pressionado.
Pensava em comprar moto, porém vacilava.
Paula já havia sugerido isso umas duas vezes, mas ele preferia esperar pelo carro; especialmente porque seus pais se mostravam completamente contra o uso de moto.
Foi para casa acabrunhado.
Não gostava de brigar com Paula.
Sentia-se fascinado por ela, e sempre que pintava um clima como aquele ficavam meio distantes; ele detestava quando isso acontecia.
Sem perceber, Serginho continuou reflectindo.
Talvez Paula tivesse razão, talvez fosse melhor resolver aquilo de uma vez.
A moto com certeza seria uma solução, até que ele pudesse comprar seu próprio carro.
Ao mesmo tempo não tinha total convicção de que fosse o melhor caminho, e seguiu para casa pensativo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 29, 2015 11:58 am

Capítulo 3 - O sonho se toma realidade

Serginho acabava de engolir um sanduíche preparado por dona Eugénia, quando Marcelo encostou o carro e começou a buzinar chamando pelo amigo.
— O Marcelo, preciso ir.
— Não vá chegar muito tarde, Serginho.
Amanhã você acorda cedo e precisa descansar.
—Eu sei, mãe. Caramba!
Eu sei me cuidar. Puxa vida!
Serginho desceu rapidamente as escadas, pulando os degraus de dois em dois.
Despedindo-se da mãe, entrou no carro do amigo que o esperava ansioso.
— E aí? Tudo em cima?
— Tudo certo!
— Conseguiu as músicas para gente ensaiar hoje? -perguntou Marcelo.
—E acha que não?
Estão todas aqui. —- Puxa!
Conseguiu todas?
— Todas, e ainda tô levando algumas outras para gente analisar se quer incluir no repertório.
— É isso aí! Tô sentindo firmeza!
Assim dá gosto ensaiar!
Começa a parecer sério!
— E tem de ser sério, né, Marcelo?
Afinal, todos temos talento!
Já testamos isso!
Tem tanta gente ruim se dando bem...
Por que é que nós não poderíamos conseguir?
Quantos já começaram assim, de brincadeira, no fundo do quintal ou na garagem, e no final estão por aí, fazendo o maior sucesso!
— Pode crer, Serginho.
A gente tem o talento, que é fundamental, tem o grupo unido e tem muita vontade de dar certo.
Então acho que devemos ir mesmo em frente e continuar ensaiando.
Uma hora, chega a nossa vez!
— Seus pais estão achando legal a ideia da banda?
— Não estão botando muita fé, Serginho.
Sabe como são pai e mãe, né?
Sempre preocupados com alguma coisa, sempre ansiosos pelo nosso futuro, sei lá...
Sempre stressados!
— E, meus pais também são assim.
Estão sempre preocupados!
Por que será, né? Não entendo.
A vida é tão curta!
A gente tem tanta coisa para fazer e eles ficam preocupados com tudo o tempo todo!
Será que não estão botando fé na gente? É isso?
— Mais ou menos.
Acham que é legal, mas que é só diversão.
Acho que eles pensam mesmo é que não vai dar em nada.
— Pô, cara! Não fica triste, não! Nós vamos mostrar a eles, você vai ver.
Eles terão de admitir que somos bons para valer!
— Legal! E isso aí!
Os dois amigos seguiram conversando animados.
Faziam planos para os próximos ensaios, para o futuro da banda, para a apresentação de estreia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 29, 2015 11:58 am

Sonhavam e planejavam o que fariam se tudo fosse como desejavam.
Foi então que Marcelo teve uma ideia:
Serginho, estou pensando aqui uma coisa.
E se a gente fizesse uma apresentação para todo mundo ver que a gente não está brincando?
— Onde, Marcelo?
Ainda não conseguimos nenhum lugar legal para tocar!
— É, eu sei...
E se nós aproveitássemos uma data especial, uma festa, para apresentar a banda a todo mundo?
— Como? A gente não tem grana, Marcelo.
— Eu sei.
Mas e se a gente se organizasse para tocar no seu aniversário?
E daqui a dois meses, não é?
— É. Daqui a dois meses.
— A tia Eugénia vai querer fazer alguma coisa, não vai?
— Ela já está organizando tudo com meu pai e combinamos fazer alguma comemoração bem legal nos meus dezoito anos.
— Então, é perfeito!
Podemos aproveitar a sua festa, Serginho, e lançar oficialmente a nossa banda!
Ensaiamos já com um objectivo certo.
Treinamos a selecção de músicas, pensando nas pessoas que vão estar por lá, preparamos tudo!
Acho legal a gente ensaiar com
um objectivo definido, tá me entendendo?
— É! Daí damos um jeito de levar algumas pessoas que poderiam ajudar a banda a conseguir um lugar para tocar!
— Só! Podemos até preparar uma fita demo!
Que você acha?
— Óptima ideia!
Assim podemos estar mais preparados para todas as portas que vão se abrir!
— É isso aí!
Serginho e Marcelo continuaram sonhando com o futuro promissor que os aguardava.
Encontraram o restante da turma na casa do Renato e contaram a ideia de Marcelo aos amigos, que imediatamente concordaram:
— É disso que estávamos precisando - afirmou Paula, confiante -, ter um objectivo claro.
Assim vai ficar mais fácil a gente se concentrar, se dedicar.
— Também acho legal. Vamos poder nos preparar para valer!
— É, tô ficando entusiasmado de verdade!
Tô começando a achar que essa parada vai vingar!
— E você tinha alguma dúvida, Tiago?
— Pô, cara, achava que ia ser só curtição...
Não tava botando fé que a gente ia fazer isso para valer!
— Cara, você tá de brincadeira, né?
Eu sempre quis fazer isso para valer!
— Eu sei, Paulinha, eu sei.
Tô ligado que você sempre quis cantar para valer!
— Então! A gente tem de pensar a mesma coisa, cara!
Tem de trocar mais e todo mundo tem de pensar a mesma coisa.
Do contrário, não vai dar certo, não!
— Concordo com a Paula! - falou Serginho, enérgico.
— Ah! Você sempre concorda com ela... Renato interrompeu, firme:
— Não, Tiago, pera aí, também concordo com a Paulinha.
Se a gente não tiver a mesma cabeça, pensando como um grupo, vai ficar mais difícil.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 29, 2015 11:59 am

Sei que parece um sonho, mas tudo na vida nasce de um sonho, de uma ideia.
A gente não pode desprezar as ideias, não!
Pelo contrário, cara.
Acho que tem mais é de apostar nelas, dando força e lutando para que se tornem realidade.
Serginho concordou emocionado, de tanto que desejava fazer de sua banda um sucesso:
—É isso aí, Renato! Tô contigo!
Eu não tô nessa parada de brincadeira!
Tô muito a fim de que dê certo!
Que a gente seja uma banda de sucesso para valer!
— Tô nessa também! - confirmou Marcelo, quase falando junto com Serginho e com Paula, que beijou o namorado, satisfeita.
Paula era a vocalista do grupo.
Na verdade a ideia de terem a banda fora dela, que adorava cantar e desde pequena sonhava viver profissionalmente da música - e, sobretudo, fazer sucesso, muito sucesso.
Aos oito anos começou a estudar violão.
Tinha muita facilidade com a música e também uma boa voz, educada e agradável.
Não foi difícil juntar os amigos em torno da ideia da banda, e inclusive ajudar na compra dos instrumentos que faltavam.
Serginho já tinha comprado a bateria, que instalara na garagem de sua casa.
De vez em quando ele tocava, mas quase sempre sozinho.
Quando Renato comprou a guitarra nova e contou aos amigos, o sonho começou a ganhar corpo.
Paula ficou louca logo que soube e imediatamente sugeriu a formação de um grupo para tocarem juntos.
— Bom, agora que estamos de estreia marcada, precisamos encontrar um nome para nossa banda. Isso é fundamental!
— Tem razão, Paula - concordou Renato -, isso é fundamental.
Enquanto a gente estava aqui dentro não fazia tanta falta; agora vamos mostrar nossa cara para o mundo e temos de aparecer já com um nome.
— E tem de ser a nossa cara! - falou Serginho solenemente.
— Com certeza, Serginho.
Tem de ser a nossa cara.
— Vamos dar uma ou duas semanas para gente pensar.
Vamos ver se aparece uma ideia legal para o nome da banda.
— E! E não vamos mais perder tempo, galera!
Vamos ensaiar que temos muito trabalho pela frente!
— É isso aí! Vamos nessa! - concordaram quase em coro.
Ensaiaram arduamente naquela noite, até muito tarde, já que mais do que nunca tinham um objectivo claro e o sonho estava prestes a se realizar.
Ao final do ensaio se sentiam cansadíssimos.
Repassaram algumas músicas diversas vezes.
Todos estavam mais tensos e mais exigentes consigo próprios; o ensaio deixou de ser uma diversão e ganhou ares de seriedade.
Serginho, também muito cansado, esperava que Paula o levasse, pois Marcelo queria ir directo para sua casa, que ficava perto da de Renato.
— Serginho, acho que não vai dar para te levar.
Tô muito cansado, cara. Você se importa?
— Não, Marcelo, não tem problema, não. Eu me viro!
— Só que é tarde para você ir de condução!
— A Paulinha me leva!
Paula, que guardava a guitarra cuidadosamente, ouviu a conversa e ficou calada.
— Você me leva, né, Paulinha?
Paula levantou a cabeça, olhou para o namorado e não respondeu.
Continuou guardando sua guitarra.
Serginho acabou de arrumar a bateria, cobrindo todos os instrumentos; depois, pegando seu material e olhando para a namorada, falou em tom de voz um pouco mais baixo, para que os amigos não escutassem:
— Você vai me deixar na mão, Paula?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 29, 2015 11:59 am

— Deveria, Serginho!
Estou super cansada e hoje mesmo você me disse que se virava, que não precisava do carro dos seus pais.
Já cansei de falar que você precisa ser mais independente!
A moto seria uma solução, mas você é teimoso!
— Poxa, Paula, que custa você me dar uma carona?
Parece que tem preguiça de me fazer um favorzinho!
— Você é que não compreendeu, Sérgio!
Eu estou cansada para caramba, vou ter de levantar cedo amanhã!
— Eu também!
— Então se vira, e resolve seu problema!
Os dois estavam levantando a voz e os amigos logo perceberam o motivo da discussão.
Renato interveio em favor do amigo:
— Pode deixar que eu te levo, Serginho.
Vou pegar a chave do carro do meu pai.
— Não, Renato, não tem cabimento você sair de casa a esta hora para me levar!
— Não tem problema, Serginho.
Num instante te levo e já estou de volta!
— Não, cara! É muito chato isso! Pô!
Você tem de sair daqui e ir até o outro lado da cidade, enquanto a Paula vai passar por lá!
— Tô muito cansada, Serginho.
Moramos longe para chuchu, também tenho de levar você pró outro lado da cidade e depois voltar tudo de novo!
E sou mulher, puxa vida!
Você não se preocupa mesmo comigo, não é?
Serginho saiu de perto de Paula irritado.
Tinha vontade de lhe falar umas boas.
Egoísta, isso sim é que ela era!
Uma garota mimada e egoísta! Onde já se viu?
Fazer o amigo sair de casa só para levá-lo, se ela, sua namorada, bem podia fazer isso!
Paula era mesmo muito birrenta!
Ela não se importou com o olhar irritado que o namorado lhe dirigiu.
Depois que terminou de guardar a guitarra, pegou a bolsa, fuçou dentro dela e achou a chave do carro.
Deu três beijinhos em todos os amigos, menos no namorado.
Despediu-se de Serginho com um aceno formal e distante.
Virou as costas e saiu.
Ela queria mesmo que Serginho passasse por aquele mal-estar, queria que ficasse envergonhado para ver se ele enfim resolveria o problema.
Serginho viu a namorada sair, sem dizer nada.
Estava danado da vida com ela.
Não queria brigar na frente dos amigos e deixou que Paula fosse embora.
Logo Renato estava com as chaves do carro do pai e em alguns minutos tomavam o caminho da casa de Serginho.
— Pô, Renato, desculpa, foi mal tirar você de casa.
— Tem problema não, Serginho.
Tá muito tarde para você ficar andando por aí sozinho.
— Mas é chato, cara!
Que custava a Paulinha me dar uma carona?
— Vai ver ela estava muito cansada mesmo, Serginho.
Sei lá! Vai ver que é algum problema de mulher...
— Chatice, isso sim é que é...
Chatice de menina mimada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 29, 2015 11:59 am

Ela quer que eu pegue o carro do meu pai ou o da minha mãe de qualquer jeito.
Não aceita que eu espere só mais alguns meses!
— Tô ligado que ela cobra isso de você.
Seus pais não deixam, né, Serginho?
— Puxa, vou ficar brigando o tempo todo com eles?
— Mas é ruim mesmo não poder ir aonde você quer, na hora em que quer, não é?
Sei disso, porque briguei muito antes de ter minha carta de motorista.
Meus pais acabavam por me deixar dirigir.
Armava o maior barraco.
— Você acha que a Paula tem razão, Renato? - perguntou Serginho, inseguro.
— Sei lá, cara.
Só sei que ter independência foi a melhor coisa que me aconteceu!
Poder dirigir, sair para os lugares na hora em que eu quero é muito bom!
Quando Renato o deixou na porta de casa, Serginho sentiu claramente que o amigo, de certa forma, concordava com Paula.
Renato o trouxera apenas por gentileza, mas achava chato ele depender sempre de um e de outro.
Sentiu que, para o amigo, ele ter de tomar condução também pegava mal.
Ao subir as escadas de sua casa, que levavam à porta principal, sentiu-se um idiota, dependente de todo mundo.
Sentiu-se criança e ridículo.
Pensou que talvez Paula, afinal, tivesse razão.
Ele deveria ser independente o mais rápido possível.
Estava começando a pegar mal e não queria que os amigos pensassem que era um boboca medroso.
Eram seus amigos mais próximos e ele não aguentaria que o achassem fraco ou infantil!
Talvez devesse comprar a moto; se comprasse, tudo estaria resolvido!
Teria sua locomoção e iria para onde quisesse, na hora em que bem entendesse, sem depender de ninguém!
Seria livre. E não teria de dar satisfação aos pais, ao passo que aguardando que liberassem o carro sempre teria de dar explicações e não poderia usá-lo à vontade.
Paula tinha razão: ele não iria fazer o que quisesse, quando quisesse...
E para comprar um carro não tinha dinheiro...
Além do mais, seus amigos iriam achar o máximo ele ter uma moto!
Serginho entrou e encontrou a mãe assistindo à televisão na sala.
— Poxa, meu filho!
Por que chegou tão tarde?
— Tivemos de esticar um pouco mais o ensaio, mãe.
— Mas, Serginho, é perigoso ficar até tarde na rua!
E você levanta cedo amanhã.
Pelo menos poderia ter avisado, ligado!
— Sabe como é, mãe: só mais uma música, só mais uma vez, e a coisa foi indo sem que a gente percebesse.
Tô cansado para caramba!
— Então vá descansar, meu filho.
Vá deitar-se logo.
A mãe desligou a televisão e foi deitar-se também.
Serginho adormeceu com aquele pensamento fixo e na manhã seguinte já havia definitivamente decidido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 29, 2015 11:59 am

Capítulo 4 - Momento de união

Serginho acordou atrasado e apareceu na cozinha cambaleando de sono.
Dona Eugénia já estava a todo vapor preparando o café da manhã.
Ele se aproximou da mãe e beijou-a com carinho.
— Bom dia, mãe.
— Bom dia, meu filho.
— Estou atrasado.
—Mas dá tempo de tomar seu café. Já está tudo pronto. Senta.
Seu Felipe, quase pronto para sair, entrou na cozinha.
— Bom dia, Serginho.
— Oi, pai.
Seguiu-se prolongado silêncio.
Dona Eugénia queria chamar a atenção do filho por chegar tão tarde.
Sabia que aquele ano era muito importante para seu futuro, uma vez que estava prestes a escolher sua profissão!
E a profissão das pessoas é algo essencial, que define todo um futuro.
Dona Eugénia tinha isso muito claro e seu Felipe também, mas como fazer o filho entender?
Foi Serginho que rompeu o silêncio:
— Poxa! Que silêncio!
Tá tudo bem por aqui?
— O que você acha, Serginho?
— Sei lá, pai. Que silêncio chato!
— Você já sabe da nossa opinião quanto a esses ensaios até tão tarde.
Pode ensaiar, ter sua banda, tudo bem, meu filho.
Nós entendemos.
Mas precisa aprender a perceber os limites e manter tudo em equilíbrio.
— Tá tudo certo, seu Felipe.
Que coisa! Vocês se preocupam demais.
Demais! Não têm motivo para isso, não!
— Sei, Serginho, sei.
Você é que sabe de tudo, não é?
— Pô, pai, não é isso!
Mas tá tudo sob controlo.
Tá tudo certo. Eu tô feliz!
Isso não é o mais importante?
Tô curtindo muito a banda, os ensaios.
E ainda mais agora, que tivemos a brilhante ideia de estrear oficialmente a banda no meu aniversário!
Dona Eugénia se animou:
— E uma boa ideia, meu filho.
Estou pensando em fazermos naquele salão, Felipe, naquele que conhecemos outro dia.
— Pode ser. O lugar é bom e o preço, razoável.
— Onde fica? - perguntou Serginho entusiasmado.
— Perto da sua escola.
E um salão especial para eventos que inauguraram há uns três meses. Muito bonito.
— Legal. Para mim tá óptimo.
Se der para instalar a banda...
Dá para fazer um palco?
— Já tem palco no salão, por isso acho que o lugar vai ser óptimo para vocês apresentarem a banda...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 29, 2015 11:59 am

— Maravilha!
Vou falar pró pessoal que já decidimos o lugar.
Vai ser fantástico!
— É, filho, está tudo perfeito; só insisto com você para que não chegue tão tarde em casa.
Vocês têm de aprender a equilibrar tudo na vida.
E além do mais, é perigoso você ficar por aí, tomando condução tarde da noite.
— Eu vim com o Renato.
Ele me deu carona.
Mas vou resolver isso logo, logo.
Quero ter minha independência e já sei como resolver esse problema.
Vocês não precisam se preocupar, não vou mais depender da carona de ninguém, nem vou precisar de condução tarde da noite.
— É... Logo você tira sua carta e poderá usar o carro; mesmo assim, teremos de nos organizar...
Levantando-se da mesa Serginho beijou a mãe e disse:
— Não se preocupa, mãe.
Não vou precisar do carro de vocês.
Quero ser realmente dono do meu nariz.
Vou resolver de outro jeito.
— Como?
Serginho não deu tempo para que a mãe dissesse mais nada.
Entrou no quarto e em alguns minutos já estava pronto para sair.
— Serginho - insistiu dona Eugénia -, do que você está falando?
— Depois conversamos, mãe.
Estou atrasado.
— Apenas me diz, meu filho: como você pretende resolver seu problema de condução? - insistiu dona Eugénia preocupada, pois tinha muito medo de que o filho decidisse comprar moto.
— Vou comprar uma moto - respondeu Sérgio, batendo rapidamente a porta de entrada atrás de si, descendo as escadas da casa e sumindo na esquina.
Não deu tempo de ninguém responder.
Dona Eugénia voltou para a cozinha desconsolada.
— Ah, meu Deus!
Era isso que eu temia, Felipe!
— Não se preocupe, Eugénia.
— Como não me preocupar, Felipe? Como?
Você sabe os perigos que correm os jovens por aí, dirigindo essas motos sem qualquer responsabilidade?
— Ele não vai comprar moto alguma, Eugénia.
— Mas você ouviu.
Ele falou que vai e você sabe como é esse menino quando põe uma coisa na cabeça!
Teimoso! Teimoso demais!
— Ele não vai comprar moto nenhuma!
Ah, não vai mesmo!
Não enquanto morar nesta casa.
Não quero e não vou autorizar!
Pode ficar tranquila, Eugénia.
Converso com ele depois e deixo as coisas bem claras.
Dessa vez, dona Eugénia não respondeu nada.
Suspirou fundo e sentou-se para tentar tomar o café da manhã.
Logo Fábio e Sueli apareceram e ela distraiu-se com os dois.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 29, 2015 12:00 pm

Contudo, a preocupação não abandonava seus pensamentos, zunindo como um mosquito na sua orelha:
— Que vou fazer?
E se ele comprar mesmo a bendita moto?
Aí é que eu não durmo mais...
Dona Eugénia passou o dia preocupada com Serginho.
À noite ela participava de um grupo de estudos do Evangelho, em um centro espírita.
Chegou sentindo-se cansada e impotente, mas determinada a pedir orientação e ajuda para o filho e a família.
A noite transcorreu de maneira especial. Dona Eugénia, que entrou pesada e inquieta, sentiu-se cada vez mais leve ouvindo a leitura do Evangelho da noite, que coincidentemente falava sobre a família - esses fortes laços que nos unem uns aos outros muito antes de virmos para a Terra.
A lição realçava a importância da realização do Evangelho no Lar, como forma de estabelecer momentos de maior troca e entendimento entre as pessoas de uma família, cultivando o amor e a tolerância, incentivando uns a apoiarem os outros, transmitindo forças e consolo nas situações difíceis.
Dona Eugénia, que em casa fazia o estudo do Evangelho quase sempre sozinha, saiu naquela noite sentindo que tinha recebido uma orientação clara e capaz de ajudá-la.
Era isso mesmo!
Ela iria insistir para que sua família participasse do Evangelho no Lar, e assim, unidos, poderiam conversar sobre seus problemas.
Seria um momento em que, além de estudar os ensinos de Jesus e de orar juntos, poderiam discutir suas experiências, a vida pessoal de cada um.
Dona Eugénia sentiu-se mais aliviada, imaginando a ajuda que o Evangelho no Lar poderia significar para todos.
Ao chegar em casa, seus filhos já estavam lá.
Ela respirou mais aliviada e se perguntou como não havia tido essa ideia antes.
É claro que o Evangelho seria um momento perfeito para estar mais perto dos filhos, participando da vida deles e podendo compartilhar com todos o que sentia e pensava.
Sabia que naqueles minutos de recolhimento e preces poderiam receber auxílio!
Agora precisava saber como organizar as coisas de modo a envolver a família.
E logo pensou que deveria escolher dia e hora em que todos pudessem participar:
segunda-feira à noite todos estavam disponíveis; Serginho não tinha ensaio e nenhum outro compromisso.
Estavam na quinta-feira e teria alguns dias para todos se organizarem.
Na próxima segunda-feira à noite iniciaria o Evangelho no Lar1, juntamente com a família.
Começou naquela mesma noite, conversando com o marido:
— Felipe, estive pensando muito sobre o Serginho, e os nossos outros filhos.
As famílias vêm sofrendo muitas dificuldades, você não concorda?
— Sem dúvida, Eugénia. Sinto que as famílias estão se tornando cada vez mais vulneráveis, mais frágeis, sei lá...
— Acho que entendo.
E cada vez mais difícil ensinarmos aos nossos filhos aquilo que sabemos ser importante para eles.
Não é mais possível impor sem conversar, e conversar também tem se tornado difícil.
— Concordo com você.
Mas o que fazer?
— Eu tive uma ideia.
Você sabe que já há algum tempo venho estudando o Evangelho aqui em casa, com dia e hora marcados, e isso me tem feito muito bem.
Gostaria de estender esse estudo a todos; quer dizer, gostaria que estudássemos juntos o Evangelho.
— Mas o que isso tem a ver com as questões de família, Eugénia?
Isso é uma questão religiosa!
— Não, Felipe.
Esse pode ser um momento precioso para orarmos juntos, estudarmos os ensinos de Jesus, e termos ocasião de conversar e discutir os problemas de todos! Você não vê?
É perfeito!
— Sei que você quer o melhor para todos nós, e aprecio muito seu empenho, porém você conhece meu ponto de vista.
Não quero obrigar meus filhos a terem religião!
— Não se trata de ter religião, Felipe.
Trata-se de abrirmos um tempo em nossas vidas para juntos buscarmos Deus e, sob sua orientação, o amor e a união!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 30, 2015 11:25 am

— Você pode fazer o que quiser, Eugénia, não vou impedir, mas não gostaria de participar.
Eu me sentiria obrigado, e não quero fazer nada obrigado.
Eugénia baixou a cabeça entristecida e não disse mais nada.
Permaneceram os dois em silêncio.
Percebendo a frustração da esposa, Felipe considerou que não haveria mal algum, e lhe disse por fim:
— Olhe, Eugénia, embora sem participar, eu posso apoiá-la.
Comece com as crianças.
Quem sabe me animo e também participo?
— Mesmo, Felipe?
— É claro!
Você inicia esse... como se chama?
— Evangelho no Lar.
— Isso. Comece a fazer o Evangelho no Lar com eles.
Tente com cuidado, não force nada.
Todos iremos respeitar, mantendo o silêncio na casa.
— Isso é importante.
— Então. Apoio você em seu empreendimento.
O que acha?
Eugénia sorriu, abraçou o marido e afirmou, pensando alto:
— Já é um começo!
Vou conversar com eles amanhã.
Estou planeando para segunda-feira. O que acha?
— Acho óptimo.
— Então está decidido. Segunda-feira.
Obrigada pelo apoio, Felipe.
Eugénia não perdeu tempo e no dia seguinte, durante o almoço, informou os três filhos da nova actividade que se desenvolveria em casa.
— Ah, mãe!
Que coisa chata!
— Vai ser muito bom para todos, Serginho!
— Ficar rezando, mãe?
Você acha isso bom? Eu não acho.
É uma coisa muito íntima!
Cada um tem de fazer por si!
— Concordo, meu filho, sem dúvida alguma, o que não impede que também façamos isso juntos.
Vai ser muito bom para todos nós!
Tão veemente e enfática foi dona Eugénia que Serginho não disse mais nada.
Ela informou a todos dia e horário, para que ninguém se atrasasse.
A partir da próxima segunda-feira se reuniriam semanalmente para orar, estudar e conversar.
Eugénia sentiu-se feliz!
Tinha muita esperança de que aqueles momentos ajudassem a manter sua família unida e forte diante dos desafios da vida.
O final de semana passou rapidamente e logo já era segunda-feira.
O horário se aproximou e dona Eugénia ficou ansiosa.
Serginho não aparecia e não chegou até a hora combinada.
Apesar disso, ela estava determinada.
— Vamos começar. Fábio, Sueli, venham para a sala.
— E o Serginho, e o pai?
— Seu pai tem muitos compromissos, meu filho.
Talvez seja difícil para ele participar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 30, 2015 11:26 am

Seu irmão, sim, deveria estar aqui.
Mas isso não importa, vamos começar sem ele.
— Também não quero, mãe...
— Fábio, meu filho, antes de sermos contra alguma coisa que não conhecemos, e que nos dizem que pode ser muito boa, precisamos conhecê-la.
— É...
— Então, meu filho.
Vamos começar hoje uma coisa muito boa para todos nós.
Você vai ver, vai me agradecer depois.
— Acho que será bom mesmo, mãe.
Acho muito boa a ideia de orarmos juntos.
— Tenho certeza de que vai ser muito bom, Sueli.
Dona Eugénia, Sueli e Fábio fizeram o Evangelho no Lar em conjunto pela primeira vez e foi uma experiência agradável para todos.
No final, Sueli afirmou:
— Puxa, achei legal, mãe.
Senti um calor aqui no peito!
— E você, Fábio, o que achou?
— É... Foi legal! Gostei.
Dona Eugénia sentiu-se satisfeita!
O primeiro passo havia sido dado.

1 Evangelho no Lar: mais informações em notas complementares
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 30, 2015 11:26 am

Capítulo 5 - Livre escolha

Entre os treinos para o campeonato de vôlei e a música, o tempo ia passando.
Os preparativos para o aniversário de Serginho e a apresentação da banda se intensificavam.
— Estou exausto, mãe!
— Estou vendo, meu filho, estou vendo.
Como vão as aulas?
— Tá tudo certo.
As notas estão razoáveis.
— Você acha que passa no vestibular com notas razoáveis, Serginho?
— Sei lá, mãe. Tenho de passar!
— Você sempre acha que tudo vai acontecer do jeito que quer, não é mesmo, meu filho?
— Claro, mãe! E como haveria de ser?
— Serginho, você não é mais criança.
As coisas não são sempre do jeitinho que a gente quer.
Precisamos aprender a entender a vida, por que e como as coisas acontecem!
— Mãe, eu vou chegar aonde sonho, você pode ter certeza!
— Claro que vai.
Não estou dizendo o contrário.
Apenas tem de aprender que existem leis maiores e que tais leis não são controladas por nós!
— Tá bom, mãe! Tá bom!
Ah! Já ia me esquecendo: hoje vou assistir a um show do Skank.
Você me empresta o carro, mãe? Só desta vez!
— Nem pensar, Serginho.
Você já sabe minha posição.
Enquanto não estiver com a carteira de motorista não posso deixar você com o carro, filho. Sou responsável!
— Mãe, você sabe que dirijo bem!
— Eu sei, filho. Mas é a lei!
— Vocês não me entendem, né, mãe?!
Sempre os outros, a lei, tudo é mais importante do que eu!
— Não é isso, filho.
O problema é que se pegam você dirigindo sem carteira ou se - Deus me livre! - acontece alguma coisa, nós, eu e seu pai, seremos os responsáveis.
Não posso de jeito nenhum, filho.
E não se discute mais.
Dona Eugénia saiu da cozinha e continuou seus afazeres, deixando bem claro para ele que não adiantava insistir.
Serginho saiu de casa revoltado e, batendo a porta com força, desceu as escadas falando baixinho:
— Eu vou comprar essa moto e acabar de vez com este suplício!
Não aguento mais!
Quando o show terminou, os amigos estavam ainda mais entusiasmados com a banda; sabiam que um dia poderiam estar em cima de um palco, fazendo um espectáculo como aquele a que acabavam de assistir.
Serginho combinou voltar com o pai de Tiago, que iria buscá-los e deixaria Paula e ele em casa.
Como o show terminou um pouco antes do previsto, tiveram de ficar aguardando o pai do amigo.
Paula, então, insistiu novamente com o namorado:
— Que desagradável ter de ficar aqui plantada, esperando!
— Não reclama, Paula.
Ainda bem que o pai do Tiago vem buscar a gente.
— Por quê?
Se você tivesse a moto a gente já estaria em casa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 30, 2015 11:26 am

— Meu pai chega logo, Paula.
Já liguei avisando que o show terminou.
Ele está a caminho.
— Tudo bem, Tiago.
Não é esse o problema, cara.
Acho teu pai legal, um barato!
É que acho que o Serginho já podia estar mais independente!
É isso que me enche a paciência!
— Ele já tem quase dezoito, Paula.
Logo essa parada estará resolvida.
— Duvido! Os pais dele não vão liberar o carro sempre que ele quiser.
— Paula, que coisa!
A gente falou sobre isso tantas vezes que já cansei!
— Eu vou continuar falando.
Não vou desistir!
Vou continuar buzinando na sua orelha.
Não aguento mais!
Não quero nem saber!
Não vou aguentar até você completar dezoito anos!
— Tá bom, Paula. Você me venceu pelo cansaço.
Amanhã vou começar a pesquisar os preços, ver quanto tenho exactamente, e vou procurar a moto!
Tá bom assim?
— Você tá falando sério, Sérgio?
Ou tá tirando uma com a minha cara?
— Tô falando sério!
Alguma vez eu disse que ia comprar a moto?
— Não, nunca.
— Então pode levar a sério!
— E a sua família? - perguntou Tiago.
— O que é que tem?
— Seus pais vão deixar?
— Ô, Tiago, qual é?
Dá uma força pró teu amigo ficar mais independente, vai!
— Só estou perguntando se os pais dele vão deixar, porque os meus fizeram o maior escândalo quando apareci em casa com essa mesma ideia.
— Eles não podem me impedir, Tiago.
Já tenho o dinheiro.
Só preciso encontrar uma que esteja boa e com um preço legal, aí fecho o negócio.
— Então está óptimo!
Parabéns pela decisão!
Serginho ficou satisfeito com a reacção do amigo e da
namorada, que o abraçou apertado e aconchegando-se ao seu peito lhe falou:
— É isso que espero de você, Serginho. Atitude!
Aguardaram mais um pouco e o pai de Tiago chegou, levando-os para casa.
No dia seguinte, sem pensar duas vezes, Serginho saiu da cama decidido a dar prosseguimento a seus planos.
Logo cedo foi abrindo o computador e verificou no site de carros e motos como andava o valor das motocicletas usadas no mercado; sim, porque ele sabia que não ia conseguir comprar uma nova.
Aproveitou e verificou o saldo em sua caderneta de poupança, constatando que tinha economizado o suficiente para comprar uma moto quase nova, com uns dois ou três anos de uso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 30, 2015 11:26 am

O dinheiro que tinha disponível daria para comprar uma de baixa cilindrada; e ele nem queria que fosse das mais potentes, pois assim a manutenção ficaria mais barata.
Quando se certificou de todos os valores, desligou o computador entusiasmado, ao mesmo tempo em que uma pontinha de medo surgia.
Serginho, porém, não queria deixar a dúvida dominá-lo.
Estava decidido e pronto!
Agora, nada mais o deteria.
Queria de todo jeito acabar com aquele incómodo de depender de tudo e de todos.
Queria ser livre! Fazer o que quisesse sem pedir mais nada a ninguém!
E, conversando consigo próprio, relacionava as vantagens que teria se comprasse a moto.
Enumerava-as mentalmente e sempre pensava em Paula.
Tinha certeza de que ficaria ainda mais apaixonada por ele!
Ao chegar ao colégio foi directo ao painel de anúncios classificados dos alunos e professores.
Estava com sorte. Havia muitos anúncios de motos.
Um deles chamou sua atenção, pois parecia perfeito, sob medida para ele.
Era aquela a moto que desejava: uma tipo street, com 350 cilindradas.
O preço estava em cima e sentiu, pelo tom do texto, que ainda conseguiria negociar um pouco o valor e o pagamento.
Ligou para o celular citado no anúncio e conversou com o rapaz que era dono da moto.
Marcaram de se encontrar para que ele a visse.
Quando encontrou Paula, já tinha dado todos os passos para concretizar o negócio.
Calculava como iria negociar com o rapaz.
Convidou-a a acompanhá-lo naquela tarde a um lugar especial.
— O que vamos fazer, Sé?
— É surpresa, Paula. Não vou falar.
Você vai saber quando chegarmos lá.
— Ah... Fala logo, você sabe que não gosto de surpresas...
— Não vou contar, não.
— Mas é surpresa boa?
— É óptima. Tenho certeza de que você vai adorar.
— O que é? Me conta, vai.
Ou nem vou conseguir prestar atenção direito à aula!
— Trate de se controlar, Paulinha, pois só vai saber na hora.
Pode ter certeza de que vai gostar.
— Não tem jeito de você me contar?
O sinal tocou interrompendo a conversa.
Serginho levantou-se, pegou seu material e subiu as escadas correndo:
— Espere e verá. Você vai gostar.
E não deu tempo de Paula dizer mais nada.
Ela também pegou seu material e subiu pensativa e entusiasmada.
Tinha quase certeza de que era a moto. Só podia ser...
Paula passou a aula inteira distraída, imaginando qual seria a surpresa, se era mesmo a moto.
No intervalo ainda tentou fazer o namorado falar; mas ele fugiu, conversando com Tiago e Renato, e avisou que iria chegar mais tarde ao ensaio daquela noite.
Também dos amigos Serginho escondeu o que pretendia fazer.
E só conseguia sonhar com a moto.
Ficou pensando nela, em como seria estar completamente livre para ir a qualquer lugar.
Junto com a ansiedade vinha certo receio que ele afastava a todo momento.
Estava escondendo da família aquela decisão e sabia que poderia causar dor aos pais; a despeito disso, já se via indo para cá e para lá com seu próprio meio de transporte e ficou alucinado com a sensação de liberdade já antecipada.
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