LUZ ESPÍRITA
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Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro

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Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro - Página 3 Empty Re: Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 02, 2015 11:28 am

Capítulo 12 - Celebração inconsequente

Duas horas e algumas cervejas mais tarde, o celular do Serginho tocou:
— Cadé vocês, Serginho?
Tamos esperando aqui há mais de duas horas!
O que aconteceu?
Vocês estão bem?
Era Renato, preocupado e irritado com os amigos.
Serginho tentou explicar que haviam dado uma paradinha para comemorar, e foi aí que Renato se irritou ainda mais:
— Legal, né?
Vocês bebendo, enquanto a gente fica aqui no maior calor esperando!
Podiam ao menos ter trazido umas geladinhas para gente, seus egoístas!
— Ah... É isso que tá pegando, né?
Não seja por isso, Renato, vamos para aí agora mesmo e levamos umas cervejas bem geladas!
— Mas vê se não demoram!
Tá todo mundo ficando cansado de esperar!
E a hora tá passando, precisamos ensaiar!
Serginho e Paula saíram imediatamente, assustados com o tempo que correra sem perceberem.
O pior foi que não notaram nem se importaram com o quanto Serginho havia bebido.
Aliás, nem pensaram no assunto; simplesmente pagaram a conta, levantaram-se, subiram na moto e saíram.
Continuaram eufóricos, sob o forte efeito do álcool.
Em plena avenida, Paula, insistente, incitava Serginho a corre mais para que chegassem depressa.
O que ela queria, na verdade, era viver intensamente suas emoções.
Sem pensar nas consequências de seus actos, com a mente e o raciocínio entorpecidos, ele acelerou e acelerou...
Serginho não atentava para o facto de que sua percepção estava sensivelmente reduzida pela acção do álcool sobre o organismo; uma sensação agradável e relaxante não lhe permitia observar o que se passava à sua volta com a mesma precisão de quando não bebia.
E ele aumentava a velocidade da moto sem se dar conta de que o chão estava molhado, com o leve sereno que caía...
Ainda em alta velocidade, não percebeu quando o sinal fechou.
Só teve tempo de ver o ónibus que vinha logo adiante parar de repente.
Assustado, freou de uma vez, mas com o chão molhado a moto não pôde parar e bateu com muita força na traseira do ónibus.
De dentro do colectivo o pessoal ouviu o barulho seco do choque da moto com a lataria; e começou uma gritaria, todos falavam a um só tempo:
— O que foi isso, meu Deus?
— Batemos em alguma coisa!
— Será que atropelou alguém?
Enquanto o povo tentava entender o que se passava, o motorista, que vira a batida pelo espelho retrovisor, sem dizer nada, de um salto, deixou seu lugar e desceu rapidamente as escadas da porta dianteira.
Antes que alguém o visse, já estava gritando, assustado, atrás do ónibus.
Instantes depois todos haviam descido e um rapaz ligava para a polícia, pedindo socorro:
— São dois jovens, e acho que...
Não sei, não... É melhor virem depressa.
A coisa foi feia...
Muito feia, meu Deus!
Paula foi lançada para o meio da rua e deslizou alguns metros sobre o asfalto.
Serginho ficou preso nas ferragens da moto, prensado no ónibus.
A garoa que caía transformou-se em chuva fina.
Instantaneamente se fez um aglomerado de pessoas ao redor de Paula e de Serginho, que permaneciam desacordados.
Havia tanta gente curiosa querendo chegar perto dos dois que o resgate do corpo de bombeiros teve dificuldade em se aproximar.
Assim que o conseguiram, os bombeiros accionaram o hospital informando que o caso era gravíssimo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 02, 2015 11:28 am

A primeira a ser atendida foi Paula.
Estava de bruços quando chegaram, e ao virá-la compreenderam a seriedade do acidente.
O capacete que ela usava se havia rachado em dois, tamanha a força do impacto.
Imobilizaram-na e colocaram-na no carro de resgate.
Foi imediatamente para o hospital, recebendo os primeiros socorros.
Veio um segundo carro de resgate.
Os bombeiros trabalhavam contra o relógio, lutando para salvar a vida do jovem, ainda preso nos ferros da motocicleta.
Serginho perdia muito sangue e tentavam estancar a hemorragia enquanto o soltavam.
— Alguém encontrou algum documento?
Precisamos avisar a família! - lembrou o comandante dos bombeiros.
— Ele tem uma mochila.
Acho que assim que conseguirmos soltá-la poderemos encontrar alguma informação.
Enquanto falavam, um telefone celular começou a tocar insistentemente.
Como ninguém atendesse, o comandante se pôs a procurar o aparelho, que silenciou e em seguida voltou a tocar.
Um jovem bombeiro achou o celular jogado no meio-fio, a poucos metros do local do acidente, e ao atender ouviu:
— Pô, Serginho, já faz mais de uma hora que nos falamos e nada!
Cadé vocês, cara?
Que falta de respeito!
— Com quem você quer falar?
— Quem está falando?
Serginho?
— Com quem você está tentando falar?
— Com o Serginho, mas acho que errei o número.
— Pode ser que não.
O que o Serginho é seu?
— É meu amigo, por quê?
— Ele tem uma moto?
— Tem.
— Bem... Pode ser que este seja mesmo o celular do seu amigo.
Houve um silêncio do outro lado da linha.
Ao ouvir i burburinho e o som de sirenes, Renato gelou.
O bombeiro continuou:
— Houve um acidente com dois jovens cujos nomes ainda não sabemos; um homem e uma mulher.
Ainda não foram identificados.
— Será que foi o Serginho?
— Não sei dizer.
Só sei que este celular estava perto do local do acidente, tocando sem parar.
— Meu Deus!
osso falar com o rapaz?
— O acidente foi grave, estão ambos desacordados.
— Onde foi?
Estamos indo para aí!
— Não creio que seja uma boa ideia.
Estamos levando os dois para o HC, digo, o Hospital das Clínicas, para o atendimento de emergência.
Acho bom se vocês forem para lá.
Estamos procurando documentos para identificação e para localizar a família.
Espere um momento, meu superior imediato está me fazendo sinal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 02, 2015 11:29 am

Afastou o fone da boca por um instante, e o superior confirmou:
— O rapaz é Sérgio Melo e Silva.
Ainda não conseguimos identificar a garota, ela não tem bolsa por perto.
O bombeiro voltou ao celular e não precisou nem confirmar:
— É o Serginho mesmo!
É meu amigo!
Meu Deus do céu! É muito sério?
— Não dá para saber o estado dele ainda, porém foi bem grave.
Tanto ele como a garota sofreram ferimentos sérios, mas estão vivos...
Do outro lado da linha, os jovens entraram em desespero.
— Olha, estamos removendo o rapaz agora.
Localizamos o telefone da família e vamos entrar em contacto.
Preciso desligar.
Renato desligou o telefone, atónito.
Não acreditava no que ouvira.
Marcelo pedia maiores informações, quando dona Eugénia entrou no salão.
Ela acabara vindo dar os últimos retoques na decoração, pois queria pessoalmente ter certeza de que tudo estava em perfeita ordem.
Embora tudo corresse bem, ela passara a tarde toda angustiada, com um aperto inexplicável no peito.
Chegou com Amelinha, que a auxiliava na organização da festa.
Sueli também vinha com elas.
— Oi, meninos, tudo bem?
O que foi? Vocês estão brancos!
Cadé o Serginho?
— Dona Eugénia...
— O que foi, Renato?
Cadé o Serginho?
— É que... - Marcelo tentou balbuciar algumas palavras, sem conseguir.
— O que foi?
Aconteceu alguma coisa? O que foi?
— Dona Eugénia...
O Serginho...
— O que houve?
Cadé meu filho?
— Ele sofreu um acidente, dona Eugénia.
Acabamos de falar com o bombeiro que o está socorrendo.
— Bombeiro? Meu Deus!
O que foi? O que houve?
Ele não devia estar aqui com vocês?
Não vieram juntos?
— Não.
— Por quê? Onde ele estava?
O que aconteceu?
— Ele estava de moto, dona Eugénia.
Ele e a Paula estavam juntos.
— A Paula, de moto?
— Não, o Serginho estava de moto.
— De quem?!
— Dele.
Ele comprou a moto há alguns dias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 02, 2015 11:31 am

— Ah, meu Deus!
Meu Deus, eu sabia, eu sabia.
Meu Deus do céu, meu filho!
Onde ele está?
Onde foi o acidente?
— Ele está sendo levado para o Hospital das Clínicas, junto com Paula.
Sueli chorava.
Com o semblante lívido, Amelinha não conseguia falar.
O celular de dona Eugénia tocou.
— Alô.
— Eugénia, é Felipe.
— Felipe, o Serginho...
— Eu sei, estou indo aí te pegar para irmos ao hospital.
— Felipe...
— Reze, Eugénia, reze.
Impossível descrever a dor de um coração de mãe.
A angústia e o desespero que dona Eugénia sentia naquele momento eram inenarráveis.
Alguns minutos depois, dona Eugénia, seu Felipe, Sueli e Fábio estavam a caminho do hospital.
Seguiam mudos.
O coração de dona Eugénia batia descompassado e suas mãos estavam geladas; ninguém era capaz de dizer nada.
Sentiam muito medo.
Os amigos também se dirigiram para lá.
Embora não quisessem nem pensar, todos temiam o pior.
Serginho e Paula tinham sido levados inconscientes, e o estado de ambos era muito grave.
Ao se aproximarem do hospital, dona Eugénia sentiu uma dor mais profunda no peito e uma certeza brotou: seu filho não resistiria.
Junto com essa suposição insuportável, porém, uma outra força lhe surgia na alma.
Olhou para Sueli e Fábio, sentados no banco de trás, e segurou forte nas mãos dos dois filhos.
O movimento no saguão do hospital era intenso.
A família de Paula já havia chegado.
A mãe dela, ao ver entrar dona Eugénia, iniciou um monte de acusações:
— A culpa é toda do seu filho.
Onde já se viu? Ele é um irresponsável!
Pobre de minha filhinha!
Dona Eugénia não disse palavra.
Foram encaminhados à UTI, a famosa unidade de terapia intensiva, e lá colheram as primeiras informações:
— A situação dele é gravíssima.
Está passando, neste exacto momento, por uma cirurgia.
Tentamos estancar vários focos de hemorragia, especialmente na área do tórax.
Infelizmente não posso dizer nada.
Tudo dependerá do organismo, da forma como irá reagir...
Precisamos esperar o final da cirurgia.
Se ele resistir, faremos outros exames.
— Quanto tempo dura a cirurgia? - perguntou seu Felipe quase sem voz.
— Não posso precisar.
Depende do que irão encontrar.
Dona Eugénia mal conseguia parar em pé.
Suas pernas estavam bambas.
— E a Paula?
A garota que estava com ele.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 02, 2015 11:32 am

— Está pior ainda.
Teve traumatismo craniano...
Dona Eugénia, agora em lágrimas que escorriam pelo seu rosto, lamentava:
— Meu Deus!
Que tragédia! Que coisa terrível!
Por que, meu Deus, ele tinha de nos desobedecer?
— Ah, meu filho, era isso que temíamos, justamente isso! - balbuciou seu Felipe, igualmente aflito.
— A senhora é a mãe do rapaz? - perguntou o médico que os atendia.
— Sou.
- Vou providenciar um remedinho para acalmá-la.
Sem forças para responder, dona Eugénia olhou-o apenas.
Sueli chorava e Fábio segurava com força as mãos da irmã, apavorado.
Adorava o irmão e sentia que seu mundo se despedaçava, desconhecia aquelas emoções de medo e dor, mas o aperto em seu peito era tão forte que parecia que iria arrebentar.
Os familiares e amigos ficaram longo tempo na sala de espera da cirurgia.
Ao chegarem o relógio marcava quase oito da noite.
Já se haviam passado cerca de cinco horas de torturada espera e angustiosas interrogações.
Perto das onze da noite uma enfermeira pediu que os pais de Serginho e Paula a acompanhassem.
Somente os pais.
Os quatro seguiram a jovem, que os levou até a ante-sala de cirurgia.
Lá, dois médicos os aguardavam.
-Infelizmente as notícias não são boas. Sentem-se.
A cirurgia de Sérgio foi bem.
Ele tinha mais de oito focos de hemorragia interna.
Suturamos todos, porém ele perdeu muito sangue e, principalmente, teve alguns órgãos internos afectados.
Tem edemas, inchaços internos que nos impedem de avaliar completamente a situação de cada um dos órgãos atingidos.
- Vamos ter de aguardar para ver se o organismo reage.
- Quais são as chances? - perguntou seu Felipe, hesitante.
- O quadro é muito grave, muito mesmo.
Mas ele é jovem e percebe-se que tem boa saúde.
Vamos ver se consegue reagir.
Precisamos esperar.
- E quanto à minha filha, como está? - indagou, entre lágrimas, a mãe de Paula.
- O caso dela está mais complicado. Lamentavelmente, devemos dizer que as chances são pequenas.
A mãe de Paula começou a chorar, em desespero.
— Eu quero vê-la! Quero vê-la!
Não pode ser! Não pode!
Tiveram de segurá-la e a enfermeira trouxe um comprimido, que ela tomou quase sem notar.
Estava totalmente descontrolada.
Renato, Marcelo e Tiago permaneciam mudos, sentados ao lado dos familiares.
Não podiam crer.
Tudo parecia um sonho - não, um pesadelo de terror.
Tais coisas só aconteciam nos filmes ou com outras pessoas.
Eles não acreditavam estar realmente vivendo aquilo.
— Acho melhor vocês irem para casa agora, e retornarem amanhã.
Eles serão transferidos para a UTI e poderão vê-los no horário de visitas.
— Não! Vou ficar aqui, perto dele! - disse dona Eugénia, desolada.
— Eugénia, não adianta. Vamos para casa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 02, 2015 11:32 am

— Não, não vou sair daqui, Felipe, e não insista.
Não há nada que eu possa fazer, eu sei, mas não existe outro lugar na Terra onde possa estar neste momento. Vou ficar.
— Vou ficar com a mamãe! - afirmou Sueli, agarrando-se aos braços de dona Eugénia.
— Não, filha, você vai com seu pai.
— Quero ficar, mãe.
Não vai ficar aqui sozinha.
— Eu preciso, Sueli.
— Seu Felipe, se quiser levo-os para a casa de algum parente... -interveio Renato, solícito.
— Acho melhor.
Aqui está o endereço de meu irmão.
Eles já sabem que talvez eu mande os meninos para lá.
Agradeço muito, Renato.
— O que é isso, seu Felipe?
Se precisar de algo mais, estou à disposição.
Quero ajudar no que for preciso!
— Obrigado, meu filho.
Leve-os para mim. Eu agradeço muito.
Despediram-se de Sueli e de Fábio, que, apesar de contrariados, obedeceram.
Quando sumiram no corredor, seu Felipe sentou-se lentamente ao lado da esposa, que chorava baixinho e orava sem parar pelo filho que tanto amava.
Lá fora o barulho dos carros continuava na agitada sexta-feira à noite.
Jovens conversavam e riam, perto da janela onde estavam os pais de Serginho.
E dona Eugénia chorava e orava sem parar.
De madrugada o médico veio informar que ambos seriam transferidos à UTI em alguns minutos.
Quando a maca passou pelo corredor, transportando Serginho, dona Eugénia quase desmaiou.
O filho tinha a cabeça toda enfaixada e estava repleto de canos saindo por todo o corpo.
Depois foi a vez de Paula, também inteiramente envolta em faixas.
Na UTI o horário de visitas era rigoroso.
Portanto, dona Eugénia e seu Felipe resolveram ir até sua casa, para um breve descanso.
Retornariam à hora permitida para visitas.
Ao invés de ir directo, porém, seu Felipe dirigiu-se ao salão onde seria realizada a festa do filho.
— O que você veio fazer aqui, Felipe?
— Precisamos avisar que a festa está cancelada, Eugénia; não vamos poder ligar para todos os convidados, e sim somente para os familiares mais próximos.
Acho melhor avisarmos aqui.
Por favor, fique no carro. Volto já.
Seu Felipe unha a chave do salão.
Entrou, acendeu algumas luzes e foi à procura do vigilante que passava a noite toda no local.
Parou no meio do salão.
Olhou toda a decoração ao seu redor.
Viu os equipamentos da banda no palco e não suportou a dor.
Sentou-se ali mesmo, no meio do salão, e soluçou sentidamente.
Alguns minutos depois, dona Eugénia entrava no salão e, abraçando-se ao marido, choraram por longo tempo.
O segurança observava tudo e não ousava aproximar-se.
Ele também era pai e sabia do acidente.
Não conseguia chegar perto do casal...
Só de pensar na dor daqueles pais, ele também chorou à distância.
Quando enfim se recompôs, seu Felipe pediu que o vigilante informasse a ocorrência aos convidados que acaso aparecessem, desse o telefone dele para contacto e, obviamente, avisasse que não haveria festa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 02, 2015 11:32 am

Ao voltarem ao hospital para a visita, o saguão estava repleto de parentes e amigos que, sabendo do acontecido, quiseram oferecer sua solidariedade ao casal e informar-se melhor sobre a situação dos dois jovens.
A visita foi rápida, e apenas seu Felipe e dona Eugénia puderam entrar.
Ao aproximar-se da maca, dona Eugénia orava mais e mais pedindo forças a Deus.
Segurou a mão de Serginho, o único pedacinho do corpo que estava sem faixas.
Apertou-a e conversou com ele, entre lágrimas que desciam incessantemente pelo seu rosto:
— Meu filho querido, tenha forças.
Confie em Deus e pense em Jesus.
Ele está sempre perto de você.
Ele te ama, meu filho, nunca se esqueça disso!
Nenhuma reacção visível.
Ele parecia dormir profundamente.
Mas Serginho, como se estivesse no fundo de um abismo, confuso e mal podendo identificar as palavras da mãe, escutava-as ainda que muito distantes.
Sua mente estava perturbada.
Não sentia direito seu corpo, e não sabia bem o que lhe acontecia.
Era como se estivesse sonhando, sem poder acordar; como quando tinha pesadelos e se esforçava para despertar.
Só que agora, por mais que tentasse, não conseguia acordar.
Após breve visita, iam descendo o corredor da UTI até a recepção quando ouviram assustados os gritos da mãe de Paula.
Estava sendo retirada da UTI pelo marido, que também chorava, e por alguns enfermeiros.
Gritava desesperada e angustiada.
Dona Eugénia e seu Felipe entreolharam-se.
O coração acelerou ainda mais.
Uma das enfermeiras desceu apressada e dona Eugénia perguntou, meio hesitante:
— A menina está pior?
— A garota acabou de falecer.
Dona Eugénia ficou muda.
Olhou para seu Felipe como a pedir socorro.
Ele abraçou-a apertado e ponderou:
— Melhor não conversar com eles agora.
Estão sofrendo demais.
Dona Eugénia olhou-o em desespero, e não disse nada.

****
A cada manhã em que dona Eugénia se levantava da cama (porque dormir era quase impossível), tentava recobrar o ânimo e a confiança, mas sentia que seu filho não conseguiria reagir.
Passados dois dias da morte de Paula, Serginho entrou em coma, o que enfraqueceu ainda mais as esperanças dos pais e amigos.
Alguns dias após o acidente dona Eugénia havia emagrecido a olhos vistos e estava extremamente abatida.
Embora buscasse o fortalecimento na oração e na fé em Deus que sempre nutrira, sentia as esperanças diminuírem mais e mais...
Até que, naquela manhã, enquanto tomava o café ao lado dos filhos e do marido, o telefone tocou, quebrando o silêncio absoluto em que se mantinham todos, ecoando forte pela casa.
— Deixe que eu atendo - seu Felipe levantou-se rapidamente, correndo até o aparelho.
Entretanto, não demorou nem um segundo e ele voltou para a cozinha com o rosto branco e com lágrimas a lhe descerem pela face.
— Era do hospital - falou por fim, depois de muito esforço para controlar-se diante do olhar desesperado da esposa.
— E... - foi a única coisa que dona Eugénia pôde balbuciar.
Seu Felipe movimentou a cabeça em sinal negativo e disse:
— Ele se foi.
No estreito abraço em que envolveu a esposa e os filhos, choraram sentida e longamente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 02, 2015 11:33 am

Depois seu Felipe respirou fundo.
Tinha muitas providências a tomar.
— Precisamos de alguém que fique aqui com você, Eugénia.
— E de alguém que o acompanhe, Felipe.
Conheço um casal muito especial lá do núcleo espírita, que tem me dado muita força em todo esse processo.
Vou ligar para os dois.
Pediram que os procurasse se precisássemos de apoio.
Vou ligar, precisamos de toda a ajuda agora.
Seu Felipe não disse nada, estava exausto demais.
E não se arrependeu.
Quando o casal chegou, muito o impressionou a firmeza do apoio oferecido a ele e a seus familiares.
Amparados pela presença fraterna de Eunice e Antunes, e de muitos amigos espirituais da família - que permaneciam bem perto deles, apesar de não poderem ser vistos com os olhos do corpo -, encontraram forças para passar por aqueles momentos de dor e tristeza tão profundas que jamais poderão ser traduzidas em palavras.
Somente aqueles que perdem filhos ou entes muito próximos podem imaginar o sofrimento imenso que se oculta nas palavras.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 02, 2015 11:33 am

Segunda Parte - Do Outro Lado da Vida

Capítulo 13 - Perturbação


Serginho sentia-se confuso e aflito.
Durante todo o período em que estivera na UTI, ouvia conversas distantes, pessoas falavam sem que compreendesse o que diziam.
Às vezes, reconhecia a voz de dona Eugénia e tinha vontade de falar com ela, porém não conseguia sequer abrir os olhos.
Seus sentimentos estavam tumultuados, não entendia o que se passava com ele.
Seus pensamentos eram também perturbados e desconexos.
A única coisa que lembrava com clareza era o instante em que sua moto batera no ónibus.
sensação terrível daquele choque estava permanentemente com ele, como se o acidente se repetisse a todo momento.
Algumas vezes percebia vultos ao seu redor, sem possibilidade de identificar ninguém.
Aos poucos, as vozes foram diminuindo e sumindo, e ele sentiu como se caísse num fundo abismo.
A angústia e o desespero tomaram conta do rapaz, que se esforçava intensamente para despertar daquele pesadelo.
Então, de repente, sentiu-se um pouco mais leve mais solto.
E foi aí que teve aquela visão terrível:
viu-se dentro de um quarto escuro.
Era a primeira vez que distinguia algo à sua volta.
Algumas pessoas em torno de uma cama cuidavam de alguém.
Tentava entender o que acontecia, e só quando as pessoas se afastaram e ele conseguiu ver foi que percebeu, com pavor, que era ele próprio o ocupante da cama.
Sentiu o coração descompassado.
Estava petrificado.
Queria correr, mas não tinha como se afastar dali. Estava preso.
Fazia um esforço enorme para sair, e permanecia preso.
Ficou observando a si mesmo, imóvel, deitado na cama, e se perguntava, com o parco raciocínio que lhe restava:
— O que está acontecendo?
Por Deus, alguém precisa me explicar o que se passa!
O silêncio era seu companheiro constante.
Silêncio e escuridão.
Após um tempo que lhe parecia interminável, sentiu-se de novo meio zonzo, meio atordoado, e quando deu por si estava em outro lugar, desta vez com muita gente ao seu redor.
Viu a mãe, que chorava de cabeça baixa, abraçada a Sueli e a alguns parentes próximos.
Serginho queria falar com a mãe.
E gritava, desesperado:
— Mãe, me ajuda! O que acontece?
Por que você está triste?
Viu seu Felipe, que também chorava, e reconheceu parentes e amigos, todos ali presentes:
Renato, Marcelo, Tiago e outros, muito tristes.
Ele pensava, angustiado:
— Afinal, o que se passa?
Por que eles não me vêem?
Por que não conversam comigo?
Meu Deus, acho que ainda estou sonhando e não consigo acordar!
Foi então que algumas pessoas se afastaram e ele pôde ver, em aflição, que aquele era seu próprio funeral!
Sentiu vertigens e enjoo.
Precisava acordar daquele pesadelo terrível e desesperador.
E assim Serginho acompanhou todo o cerimonial.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 02, 2015 11:33 am

O único momento em que teve certo alívio foi quando Antunes e alguns outros amigos de dona Eugénia, que frequentavam o núcleo espírita, fizeram juntos uma oração.
Naquele minuto algo o fez sentir ligeira paz.
Ouviu que oravam por ele. É!
Oravam por ele, Serginho!
Pediam a Deus por ele, para que tivesse paz e amparo na outra vida que se iniciava.
Serginho ouviu tudo atentamente.
Logo após a oração, sentiu-se novamente envolvido pelo desespero e pela agonia; e em meio a tudo aquilo que não compreendia, pensava:
— Meu Deus, que brincadeira é esta?
O que está ocorrendo comigo?
Por que não posso acordar?
O que se passa?
Este pesadelo não termina nunca?
Jamais, em toda a minha vida, tive um sonho tão real e tão terrível!
Serginho tremia de medo e angústia, pressentindo, ainda que inconscientemente, que talvez tudo aquilo fosse real.
Sentia o corpo inteiro gelado e, por mais que se esforçasse, não despertava daquele pesadelo.
Algum tempo transcorreu até que voltou aquela vertigem estranha.
De novo, quando deu por si, ele estava num lugar escuro e fechado.
Todos haviam desaparecido e se encontrava só, em profundo silêncio e terrível escuridão.
Dessa vez, fez um esforço ainda maior para despertar; lutava para se mover e não conseguia.
Sentia angústia e desamparo.
Estava só, abandonado por todos que amava, e não sabia por que aquele pesadelo horrendo não terminava.
Estava cansado, cansado demais...
E chorando convulsivamente, extenuado, adormeceu.
Os dias foram se sucedendo.
Dona Eugénia e seu Felipe sofriam profundamente a perda do filho mais velho.
Para Sueli e Fábio aquela fora uma experiência traumática e inesquecível.
A realidade pareceu-lhes excessivamente dura e atravessaram um longo período de depressão e ansiedade.
Apesar da dor profunda, dona Eugénia precisou dar atenção especial aos dois, que, logo após a tragédia, começaram a dar muito trabalho aos pais.
Sueli não ficava sozinha e queria dormir com a mãe.
Fábio tinha pesadelos e de madrugada acabava igualmente no quarto dos pais.
Além disso, os dois não queriam ir à escola, fugiam a encontros com amigos e parentes - enfim, estavam passando por um momento sério de depressão.
Preocupada, dona Eugénia buscava forças para não desamparar os filhos mais novos.
— Eles estão sofrendo muito, Eunice, não sei direito como agir.
E muitas vezes me faltam forças.
Sei que gostariam de poder falar mais sobre o ocorrido, porém é doloroso demais para todos nós.
Então nos calamos. E um assunto sobre o qual evitamos conversar.
— Sei que é duro, Eugénia, mas talvez por isso os meninos estejam com maior dificuldade de superar.
A dor é grande e para eles, que ainda são tão jovens, o impacto de uma realidade dessas é bem forte.
— É, é forte e chocante para todos nós...
Dona Eugénia não conseguiu terminar.
Começou a chorar.
— Chora, minha amiga, chora que isso vai te aliviar um pouco.
— Não creio.
Tenho tanta dor em meu coração que poderia chorar a vida inteira, sem parar.
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Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro - Página 3 Empty Re: Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 03, 2015 12:02 pm

E continuou, procurando enxugar as lágrimas que desciam incontroláveis:
— Evito pensar, sabe, Eunice?
Só que quando menos espero revejo tudo diante de mim.
Todas as noites me pego a esperar pelo Serginho. É terrível...
Eunice abraçou a amiga e não disse nada.
Orava baixinho para que Deus a consolasse, pois somente o Pai poderia ajudar aquela família.
Após alguns instantes, dona Eugénia acalmou-se; e secando as lágrimas novamente, perguntou:
— Como será que ele está, Eunice?
Onde estará meu filho?
Será que está bem, será que foi amparado?
Penso tanto nisso!
Como terá chegado ao outro lado?
Ele é tão teimoso...
— Vamos pedir muito a Deus por ele. Serginho está nas orações em todas as reuniões de nossa casa espírita.
Vamos pedir a Deus por ele e por vocês.
Ele será amparado, Eugénia.
Nossos amigos espirituais haverão de ouvir as nossas preces e ajudá-lo.
Sem dizer mais nada, dona Eugénia despediu-se da amiga e foi para casa.
Naquela noite iriam reiniciar o Evangelho no Lar.
Já fazia mais de dois meses que Serginho partira, e ela até agora não encontrara forças para orar.
Sentia algum alívio na alma unicamente quando estava no centro espírita que frequentava.
Somente lá diminuía sua dor, mesmo que por breves momentos.
Ainda assim, esforçava-se para retomar o estudo do Evangelho em casa.
Nem que fosse apenas com uma oração em favor do filho, sabia que precisava fazê-lo.
E havia os outros dois que necessitavam de amparo.
Por outro lado, Felipe a preocupava sobremodo; estava amargurado e revoltado.
Falara até contra Deus por diversas vezes, só se calando ao ser admoestado por ela.
Sabia que a dor do marido era tão intensa quanto a sua; mas se as luzes dos céus não pudessem tocar seu coração, como iriam consolar-se?
Naquela noite, ela retomou o culto do Evangelho apenas com Sueli.
Sentaram-se as duas na sala e dona Eugénia ficou longo tempo de cabeça baixa, procurando forças para iniciar.
Então, ergueu a cabeça lentamente e olhou para a filha, que trazia os olhos humedecidos e vermelhos.
Tomou nas mãos o Evangelho segundo o Espiritismo e começou a leitura.
Devagar, bem devagar, conseguiu ler e depois oraram.
Foi com muita dificuldade que finalizaram as preces.
Nas semanas seguintes, ela continuou a fazê-lo.
E a cada nova reunião, apesar da dor que persistia, ficava mais fácil orar.
Aos poucos, as duas passaram a sentir-se reconfortadas e aliviadas, nos momentos de oração.
Fábio decidiu participar também e os dois filhos foram gradativamente melhorando e saindo da depressão.
Durante os minutos de estudo, entretanto, dona Eugénia seguia apreensiva quanto às condições do filho que partira.
Como Serginho estaria reagindo, por se ver desprovido do corpo físico, tão jovem e tão cheio de sonhos?
Isso a preocupava e ela orava pelo filho todos os dias, todas as horas.
Serginho, ainda ligado ao corpo físico, despertava e adormecia, atormentado e perturbado.
Quando sua consciência se fazia mais lúcida, sentia o corpo bater na lataria do ónibus e se desesperava.
Algumas vezes ouvia vozes, sem nada enxergar.
A escuridão era total.
E assim permaneceu por longo tempo, até que pouco a pouco começou a estar mais desperto do que adormecido.
E foi aí que o sofrimento se revelou ainda maior; imaginava-se preso a um pesadelo sem fim.
Então a memória foi clareando e o raciocínio tornou-se mais coerente.
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Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro - Página 3 Empty Re: Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 03, 2015 12:02 pm

Ele pensava:
"Lembro-me de estar com Paula na moto, saindo de um bar, antes do acidente".
Visualizou tudo com lentidão e rememorou o tumulto à sua volta; nada viu, porém algumas palavras soltas lhe vinham à mente.
"Ele está muito mal; depressa!
Foi muito grave!"... "Houve um acidente com dois jovens"...
"O acidente foi sério. Estão ambos desacordados"... "
Estamos levando os dois para o Hospital das Clínicas5'...
"O rapaz é Sérgio Melo e Silva".
E ele reflectia, à medida que conseguia:
"O que aconteceu comigo?
Lembro do acidente, das pessoas à minha volta, mas é tudo tão nebuloso...
Será... Não, não é possível!
Se eu tivesse morrido, estaria em algum lugar e não neste vazio estranho e negro!
Não, não é possível que seja isso.
Deve haver alguma outra explicação.
Devo estar doente, sei lá!".
O tempo passava e Serginho se mantinha fortemente ligado ao corpo físico, através de finos fios fluídicos; por isso repercutiam em seu espírito o vazio, o silêncio e a escuridão que cercavam o corpo que lhe pertencera; por isso não lhe era possível movimentar-se, nem compreender nada3.
Não obstante, sua consciência ia clareando e a angústia e o tormento que sentia começaram a perturbá-lo profundamente.
Ele se cobrava:
"Eu não devia ter bebido tanto.
Devia ter sido mais cuidadoso".
Em outras ocasiões questionava:
"Por que corria tanto!1
Se estivesse mais devagar, teria conseguido parar a moto a tempo"...
Pensava então na mãe e, mentalmente, pedia-lhe socorro e ajuda.
Quando isso acontecia, dona Eugénia ficava bastante perturbada.
Recordava de imediato o filho e sentia que ele estava aflito e em desespero.
Como isso a afligia muito, passou a ler ainda mais, a aprofundar-se no estudo da Doutrina Espírita, procurando conhecer melhor seus princípios.
Queria ajudar o filho, e para isso precisava compreender seu estado, saber mais sobre ele.
Compartilhando seus receios e angústias com Eunice e outras amigas da casa espírita com quem estudava, seguia pedindo orações e ajuda para Serginho.
Sabia em seu íntimo que ele não estava bem.
Em uma dessas conversas, mais de oito meses depois da morte do filho, Eunice lhe sugeriu:
— Por que você e o Felipe não vão fazer uma visita ao Chico Xavier?
— Ele não iria.
- Por que não?
Quem sabe se, participando do trabalho desse nosso missionário do bem, vocês não obterão a graça de compreender melhor?
E por que não recebemos, em nossos trabalhos, alguma notícia de meu filho?
— Você sabe que as coisas não são assim, Eugénia.
Nem todos podem ou conseguem se comunicar, nem todos têm permissão.
— Está vendo?
Então ele deve estar mesmo muito mal!
Se não consegue se comunicar, é porque está mal.
Tenho lido muitas mensagens de jovens que se foram, dirigidas a seus pais.
Eles sempre dizem que são amparados e estão se recobrando, e logo se comunicam.
Mas nada do Serginho, nenhuma mensagem...
Estou preocupada, angustiada, Eunice.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 03, 2015 12:03 pm

Sinto que preciso de ajuda.
Não vou aguentar mais se não tiver uma luz, algo para acalmar meu coração...
— Vamos ao Grupo Espírita da Prece, em Uberaba.
Vamos visitar o Chico.
— Mas ele tem ido aos trabalhos?
Não está adoentado e fraco?
— Embora bem fraco, sei que mesmo assim tem ido aos trabalhos.
— E ele ainda escreve mensagens?
— Não sei ao certo, Eugénia, só sinto que devemos ir até lá.
Pode deixar, eu vou organizar tudo.
Vamos aproveitar e montar uma caravana para visitá-lo.
Há alguns anos não vamos a Uberaba e muitos estão sentindo falta.
Vou me encarregar de tudo.
Fale com o Felipe, convença-o.
O resto deixe por nossa conta.
Dona Eugénia sorriu, encorajada pelo entusiasmo da amiga.
Não entendia ao certo o que fariam lá, mas sabia que aquele homem era um ser de muito amor e de muita luz.
E reflectiu rapidamente que sem dúvida estar em sua presença poderia trazer a ela algum conforto.
Naquela noite, chegou em casa decidida.
Iria fazer a viagem com ou sem o marido, e resolveu conversar com ele imediatamente.
— Nem pensar, Eugénia.
Não me oponho a que você vá ao centro espírita, porém não vejo nenhum benefício em fazer uma viagem dessas.
Para quê? O que iremos fazer lá?
Você sabe que não gosto de perder tempo.
Não, Eugénia, nem pensar.
Está fora de questão!
— Então eu vou sozinha, Felipe - ela retrucou com firmeza na voz.
Seu Felipe olhou-a sério.
Percebeu que estava decidida e nada respondeu.
Deitou-se na cama, virou-se de lado e adormeceu.
Dona Eugénia demorou a conciliar o sono, matutando na decisão já tomada e sentindo-se um pouco insegura.
Por fim, depois de muito se remexer, também adormeceu.

3 Inconsciência da morte: mais informações em notas complementares
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 03, 2015 12:03 pm

Capítulo 14 - [i]Chico Xavier[/]

O dia marcado para a viagem aproximou-se depressa.
Dona Eugénia preparou tudo para que a casa funcionasse perfeitamente em sua ausência.
Deixou tudo organizado e no dia marcado despediu-se dos filhos e do marido, que mesmo na última hora, contrariado, argumentou:
— Continuo achando isso uma perda de tempo e de dinheiro, Eugénia.
Não entendo o que você vai fazer lá!
— Eu também não sei ao certo, Felipe; o que sei é que devo ir, tenho de ir.
Por favor, não me questione mais.
Será que você não vê?
Qualquer coisa que alivie a minha dor e me traga paz em relação a nosso filho vai me ajudar.
E o médium Chico Xavier é alguém muito especial.
Quem sabe se no contacto com ele encontro alguma luz?...
Quem sabe, Felipe?
— Boa viagem, Eugénia.
Espero que encontre o que está procurando.
— Não sei bem o que procuro, Felipe.
Ou melhor, sei que o que mais desejo são notícias de meu filho.
Levo a esperança de saber que a vida dele continua, ainda que longe de nós; que sua morte não foi o fim...
Notando as lágrimas que se formavam nos olhos da esposa e sentindo-lhe a angústia e a tristeza, seu Felipe não disse mais nada.
Despediu-se de Eugénia, que ao partir deixou Sueli e Fábio chorosos.
Durante toda a viagem, ela seguiu calada e pensativa.
Orava pedindo ajuda para si e para sua família.
Pensava no filho e chorava.
A viagem transcorreu tranquila.
Chegaram cedo do Grupo Espírita da Prece, o núcleo espírita onde o médium trabalhava.
Muitas pessoas já estavam presentes, em fila.
Lá a mãe de Serginho encontrou outras mulheres que, como ela, sofriam pela perda de filhos.
Conversou um pouco com algumas e constatou quanta dor também guardavam em seus corações.
Entretanto, apesar do sofrimento, aos poucos ela foi sendo envolvida por suave conforto.
A dor diminuiu levemente e ela experimentou uma serenidade que há muito tempo lhe faltava.
Esperaram algumas horas e, finalmente, aproximou-se o momento do início do trabalho:
Chico Xavier estava chegando.
— Venha, Eugénia, venha ver nosso amado Chico.
Eugénia acompanhou Eunice e viu chegar, amparada por amigos, aquela figura doce e generosa.
Assim que olhou para ele, sentiu sua grandeza e uma luz a invadiu, deixando-a ainda mais serena.
As actividades da noite desenvolveram-se como de costume: leitura do Evangelho, comentários, orações.
Dona Eugénia estava embevecida com tanta claridade que lhe banhava a alma.
Havia até esquecido, por instantes, o motivo central que a levara até ali, suas dores e preocupações.
Sentia-se aconchegada e amparada, como se mãos invisíveis a tomassem no colo.
Sorria pela primeira vez em tantos meses, olhando aquele homem quase etéreo, diante dela.
Ao final do trabalho, porém, uma surpresa estava reservada para Eugénia.
Chico Xavier recebera algumas mensagens, uma das quais, com poucas palavras, estava endereçada a ela.
Mas, incapaz de sair do lugar, subitamente assustada, parecia colada ao banco.
Foi Eunice quem se levantou, ao perceber a dificuldade de Eugénia, e correu para pegar a mensagem.
Entregou-a à amiga, que agora chorava.
Ela abriu o pequeno pedaço de papel com as mãos trémulas e leu o singelo recado:
"Não se atormente mais com nosso garoto.
O socorro virá.
Continue orando por ele.
Lívia."
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 03, 2015 12:03 pm

Dona Eugénia leu e releu a pequena mensagem umas duzentas vezes, sem conseguir despregar os olhos daquele recado.
Ao final, quando todos retornavam, a caminho do hotel, Eunice perguntou à amiga, percebendo-a mais aliviada:
— E aí? O que diz a mensagem?
É do Serginho?
— Não, Eunice, é de Lívia.
— Quem é Lívia?
— Uma sobrinha muito querida que já partiu há algum tempo para a vida espiritual.
— E o que diz a mensagem?
Sem falar, dona Eugénia entregou o papel a Eunice, que depois de ler sorriu, fitando a amiga:
— Está mais tranquila agora?
— Como é possível que um pequeno pedaço de papel possa trazer tanto conforto ao nosso coração?
— Não é o pedaço de papel, e sim a grandeza da vida que continua sempre, Eugénia.
— Obrigada, Eunice.
Vir até aqui renovou minhas forças de urna forma que jamais poderia imaginar.
E se não fosse por você e sua insistência, não teria vindo.
— Acho que foi a Lívia que me inspirou.
— Deve ter sido!
Ao voltar, Eugénia trazia o coração suavizado pela nova
esperança que nele se acendera.
Sabia, sim, que sua preocupação era justificável: o filho não estava bem; mas agora, com aquela mensagem clara da sobrinha, tinha certeza de que ele receberia ajuda.
Redobrou também a coragem para dar sequência ao Evangelho no Lar e às orações pelo filho, como o meio de que dispunha para ajudá-lo, fazendo sua parte.
Ao chegar em casa, era esperada com ansiedade, inclusive por Felipe, que, fingindo não acreditar em nada, guardava no fundo da alma a esperança de que algo pudesse atenuar a dor que igualmente sentia.
— Você deveria ter vindo comigo, Felipe.
Com certeza estaria melhor agora.
— O Serginho foi lá, mãe? - perguntou Sueli, que não duvidava da possibilidade de comunicação dos que se foram para a pátria espiritual com aqueles que ainda estão aqui.
— Não. Ele não veio, porém nós recebemos um grande presente, filha.
— O que foi?
Dessa vez foi Fábio quem perguntou, curioso.
Sem dizer nada, dona Eugénia entregou a mensagem ao esposo.
— O que é isso?
— Leia, Felipe.
Leia para todos, em voz alta.
Seu Felipe leu a curta mensagem e, quando terminou, seus olhos estavam cheios de lágrimas.
— Mãe, é aquela prima do papai?
— E, sim, Sueli.
— Aquela com quem você sonhou, mãe?
— È, Fábio, ela mesma.
Seu Felipe, embora emocionado, não entendia o que significava aquilo.
Dona Eugénia então contou a todos, detalhe por detalhe, o que havia ocorrido: como se sentira desde que chegara e tudo o que acontecera naquela noite.
Começou contando um pouco mais sobre Francisco Cândido Xavier, o querido médium de Uberaba.
— Enquanto vinha para cá, pude ler um livro que fala da vida desse missionário dos céus.
Ele é realmente muito especial e desde pequeno, muito jovem, foi preparado para a tarefa que desempenha.
E um baluarte do Espiritismo e um servidor fiel de Jesus.
Eugénia narrou a todos dados da história de Chico Xavier4, transmitindo-lhes uma síntese do que lera sobre ele e que a havia encantado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 03, 2015 12:03 pm

Finalizando, afirmou:
— E mesmo fascinante o pouco que li sobre a vida desse médium.
No entanto, o mais impressionante foi a vibração de energia pura e luminosa que senti emanar dele.
Parece que quando ele chegou um clarão se acendeu onde estávamos.
É um verdadeiro missionário, disso não tenho dúvida.
— Você ficou sabendo de tudo isso no livro que leu, mãe? - perguntou Sueli, com os olhinhos atentos.
— Alguma coisa eu já sabia, Sueli.
E também li algumas histórias da vida dele, neste livro - dona Eugénia retirou da bolsa o livro "Lindos Casos de Chico Xavier" -, que é impressionante; aprendi muito.
— Deixa-me ver! - Fábio arrancou o livro das mãos da mãe.
— Eu primeiro, Fábio, a mãe já estava me dando!
— Calma, Sueli, deixa o Fábio olhar, depois você vê.
Seu Felipe ouvia tudo em silêncio, sem querer expressar a admiração que nele nascia por aquele homem desconhecido.
Dona Eugénia acrescentou ainda que aquela mensagem era uma resposta clara às suas preocupações.
E foi aí que residiu a maior dificuldade: explicar ao marido o motivo de suas preocupações em relação ao filho.
Ele não compreendeu e ficou ainda com muitas dúvidas.
Todavia, a mensagem era clara.
Como poderia haver qualquer farsa no que acontecera?
Como alguém saberia de sua sobrinha?
Deveria haver alguma verdade em tudo aquilo, pensou seu Felipe, ao final da noite.
Ao se deitarem, ele disse à esposa:
— Quando você vai ao centro?
— Na quarta-feira.
— Vou com você, quero conhecer um pouco melhor.
— Óptimo! Que bom, Felipe.
Sei que irá fazer muito bem a você.
— Você sabe que não me deixo enredar por qualquer coisa, Eugénia, não tenha expectativas.
Só quero entender melhor o que ocorreu com você nessa viagem.
Como é possível alguém saber assim de uma pessoa como Lívia, é o que mais me intriga.
— É, Felipe... Os mortos não estão mortos, eles vivem.
Lívia está viva!
E pôde mandar essa mensagem carinhosa, para nos consolar.
Seu Felipe matutou muito antes de adormecer, naquela noite.
Estava intrigado e curioso, queria conhecer mais.
Dona Eugénia também demorou a dormir.
Apesar da dor profunda que insistia em apertar seu coração, sentiu uma suave alegria pela decisão do marido e teve a certeza de que uma nova fase se abriria para eles.
Dias mais tarde seu Felipe acompanhou a esposa ao centro espírita, bem como na semana seguinte, e na outra novamente.
Passou a se interessar e a estudar, tornando-se mais um defensor do Evangelho no Lar.
Começou a participar e não parou.
Ao menos esse consolo dona Eugénia tinha:
agora a família estava toda reunida em torno do Evangelho.

4 - Chico Xavier: mais informações em notas complementares
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 03, 2015 12:04 pm

Capítulo 15 - O socorro

O estado de Serginho piorava; já não dormia, mantinha-se constantemente desperto.
Ouvia gritos e gemidos, sem ter a menor ideia de onde vinham.
Quase não podia mover-se, sentindo-se preso sem saber onde.
Encontrava-se sempre envolvido por uma espessa escuridão que o deixava apavorado e desesperado.
Pensava na mãe o tempo todo e pedia que ela o ajudasse; não adiantava:
sentia-se cada vez pior, não melhorava...
Desconfiava que aquilo não era um sonho, não podia ser, porque sonhos nunca duravam tanto, e por outro lado não compreendia o que de facto estava acontecendo.
Perdera toda a noção de tempo e espaço, apesar de ter plena consciência de seus pensamentos e emoções.
Seu corpo também lhe parecia muito estranho: mesmo sem poder movê-lo, sentia-o por inteiro e em cada uma de suas partes.
Sentia os pés, as mãos, sem movimento algum.
Queria sair daquele lugar, mas não conseguia.
E desesperava-se cada vez mais.
Ele não tinha nenhuma noção de quanto tempo transcorrera e sofria profundo cansaço, chorando amargurado.
Naquele dia, em especial, o desespero foi maior e começou a recordar o culto doméstico que a mãe fazia.
Lembrou-se das orações, de algumas lições que havia escutado, e a saudade da mãe foi ainda mais forte:
— O que se passa?
Mãe, me ajuda!
Onde você está?
Para onde você foi?
Onde está todo mundo?
Erguia mais e mais a voz em pranto entrecortado de soluços:
— Deus, deve existir um Deus!
Me ajuda, meu Deus!
Será que estou enlouquecendo?
Não entendo o que se passa!
— Não, Serginho, você não está enlouquecendo.
— Quem disse isso?
Quem está aí?
Por favor, me ajude!
Estou desesperado e é a primeira vez em muito tempo que consigo falar com alguém!
Não vá embora, por favor!
— Calma, você não está sozinho.
— Quem é você?
— Por enquanto, só posso pedir que tenha paciência e conserve a calma.
Você logo estará melhor.
— O que se passa comigo?
Por que não consigo ver você?
O que está havendo?
Como você sabe meu nome?
— Serginho, tenha fé em Deus, confie nele e você logo estará livre da prisão em que se encontra.
— Prisão? Estou em uma prisão?
Por quê? O que foi que eu fiz?
Onde fica esta prisão que não consigo nem me mexer?
— Não posso explicar mais nada por enquanto.
Só peço que seja paciente e ore; ore para que possamos tirar você daqui.
— Orar? Como?
Não sei orar direito!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 03, 2015 12:04 pm

— Você conhece a oração do Pai-nosso?
— Pai-nosso que estás nos céus... Essa?
— Essa mesmo.
Lembra-se dela inteira?
— Mais ou menos, mas posso tentar; minha mãe sempre terminava suas preces com essa oração.
— Então se concentre quanto puder e ore, pensando com vontade e fé em cada uma das palavras dessa oração.
E peça a Deus que o ajude.
Você logo estará livre.
Agora ore, Serginho, ore.
— Por favor, diga ao menos onde estou; que lugar é este?
Nenhuma resposta se fez ouvir; silêncio absoluto outra vez.
— Ei, você está aí?
Para onde foi? - Serginho insistiu, angustiado.
Silêncio.
— Por que não responde?
Acabou por aceitar que estava novamente só.
Chorou de raiva, depois de angústia e outra vez de raiva.
Como alguém podia deixá-lo assim, sozinho naquelas condições?
Por fim, lembrou-se da oração que a suave voz lhe sugerira e contendo o pranto se pôs a repeti-la.
A princípio orava maquinalmente, até que uma força surgiu de seu interior, fazendo as palavras adquirirem sentido, e ele compreendeu o significado da prece5.
Pensou então no Criador no Universo como nunca o fizera antes.
Pensou que se Deus estava em toda parte por certo poderia ajudá-lo.
Pensou na grandeza do Criador e em seu amor, e começou a acalmar-se.
A fé em Deus brotava aos poucos em seu jovem coração cansado.
Era apenas uma pequena chama, porém estava acesa.
Quanto mais repetia mentalmente a oração do Pai-nosso, mais aquela nova e boa emoção o envolvia, e então chorou e orou sem parar.
Muito tempo se passou até que Serginho se acalmasse por completo, e foi aí que percebeu um pequeno vulto ao longe.
Uma figura indistinta, rodeada por suave luz aproximou-se pouco a pouco, até chegar bem perto dele.
— Dê-me sua mão, vamos.
Estenda sua mão.
— Quem é você?
— Dê-me sua mão, Serginho, venha comigo.
Aquele doce pedido, ele ergueu as mãos, e tocou nas mãos delicadas estendidas em sua direcção.
— Muito bom.
Agora, levante-se.
Sem perguntar nada, e sem maiores esforços, ele se ergueu e em alguns instantes estava ao lado daquela linda garota.
— Mas... Quem é você?
Seu rosto me parece tão familiar...
— É somos muito familiares, mesmo.
Agora vamos, depois conversamos.
— Você veio me buscar nesta prisão para me levar finalmente para casa, né?
— De certo modo, Serginho.
— Como assim, de certo modo?
— Quero que confie em mim.
Por ora você precisa descansar, dormir.
— Não, estou cansado de dormir!
E se eu dormir e voltar para aquele lugar horrível? Não!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 03, 2015 12:04 pm

Serginho divisou outros vultos se aproximando, um a um, e vários deles foram ficando definidos.
— Quem são todas essas pessoas?
— São amigos, vieram me ajudar a levá-lo daqui.
— Isso está muito estranho!
Quero saber quem é você.
Não vou a lugar algum sem saber quem são vocês!
— Serginho, olhe bem para o meu rosto.
Com atenção.
Tente lembrar-se de onde nos conhecemos.
Faça um esforço.
Serginho olhou-a por instantes, fazendo grande esforço, pois para sua mente confusa e perturbada era difícil funcionar normalmente.
— Não consigo.
Não sei, só me parece familiar.
— Sou Lívia, sua prima. Recorda-se?
— Lívia, minha prima?
Olhou-a firmemente, empenhado em tentar lembrar.
— Claro, é isso mesmo, Lívia!
Vi sua foto uma vez, é você...
Mas você morreu há muito tempo!...
Que brincadeira...
Pera aí, me explica isso...
Como estou falando com você?
Lívia permaneceu em silêncio por alguns instantes, depois lhe disse:
— Você está aqui connosco, Serginho, você veio para cá também.
Antes da hora, é verdade, só que já está aqui e vamos cuidar de você.
— Você quer dizer que...
Que morri? E isso?
Que brincadeira é essa?
— Você duvida dos seus próprios olhos?
Num breve instante tudo veio à mente do rapaz: o acidente, o velório, a tristeza dos pais, o silêncio absoluto, a angústia e o desespero.
E ele compreendeu o que ela dizia, compenetrando-se de que era verdade.
Estava morto.
— Como isso foi acontecer comigo, meu Deus?
Sou muito jovem para morrer!
— Você tem toda a razão, veio para cá antes do que devia...
— Como assim?
Meu Deus! E agora?
Mas... Como continuo sendo eu mesmo?
Estou vendo meu corpo, como sempre foi...
Não consigo entender...
— Serginho, por favor, acompanhe-nos, viemos para ajudá-lo.
Acalme-se.
Sente-se aqui um pouco e relaxe.
Durma. Quando acordar, estará bem melhor, eu prometo.
— Promete?
Jura que não vai mais desaparecer?
Que não vão me deixar sozinho de novo?
— Claro. Agora que você está liberto, será mais fácil.
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Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro - Página 3 Empty Re: Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 03, 2015 12:04 pm

— Liberto do quê?
De onde?
— Mais tarde, quando estiver mais tranquilo, vamos conversar sobre tudo, tudinho.
Pode confiar em mim.
Responderei tudo o que eu souber, e você vai entender melhor.
— Não pode ser...
Não posso ter morrido.
Não é justo, sou muito jovem.
Tenho tanta coisa para fazer...
Não pode ser, deve haver algum erro.
— É... Você tem razão.
Há alguns erros.
De qualquer modo o que está feito...
Está feito.
— Como assim?
Que erros?
Não quero! Não quero morrer...
Quer dizer, não posso estar...
Envolvido por energias subtis e serenas, emanadas do grupo que acompanhava Lívia, o rapaz foi induzido ao sono, para que pudesse ser socorrido e auxiliado.
Lívia aconchegou-o ao peito como uma criança, e o grupo partiu.

5 A prece: mais informações em notas complementares
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 04, 2015 12:08 pm

Capítulo 16 - Difícil despertar

Sem saber quanto tempo dormira, Serginho despertou lentamente.
Olhou à sua volta e viu-se num lugar muito sossegado.
O silêncio era quase total.
Registava somente vozes suaves ao longe, conversas distantes.
Observou o teto, e depois as paredes, procurando identificar o local em que se encontrava.
Era um quarto com fraca iluminação, o que não o impedia de constatar que se tratava de ambiente pequeno, contendo apenas a cama, onde ele estava, e alguns poucos móveis.
O lugar lhe transmitia suavidade e calma.
O jovem reflectiu:
— Puxa, que bom!
Finalmente estou despertando daquele sonho horrível.
Eu sabia que era um sonho, só podia ser.
Que terrível! - e suspirando profundamente - Puxa!
Graças a Deus o pesadelo acabou.
Levantou-se devagar, porém uma forte vertigem o obrigou a sentar-se na beira da cama, tentando recobrar as energias.
Enquanto estava ali, a porta abriu-se e uma jovem com rosto radiante e familiar entrou alegremente no pequeno quarto.
— Levante-se com cuidado, Serginho.
Você precisa ir se acostumando aos poucos, sem pressa.
— Você?!
Lívia lhe sorriu amorosamente.
— Sente-se melhor?
— Como melhor?
Estava bem até você entrar aqui!
Desculpe, não quero parecer indelicado, mas pensei que tudo havia sido um sonho...
Ver você me fez lembrar de tudo.
Então... Não foi um sonho?
— Não, meu primo, embora tenha parecido um verdadeiro pesadelo.
Você está aqui mesmo, deixou a vida na Terra.
Está no mundo onde vivem os espíritos.
— Como isso é possível?
Não posso crer!
Não sou um espírito, sou eu mesmo!
— Sim, e você pensa que quando deixamos o corpo nos tornamos outra coisa?
Não! Continuamos a ser nós mesmos!
— Eu me recordo de você ter dito que vim antes da hora.
Por que isso foi acontecer?
Como pôde haver um erro desses?
Quero falar com o responsável por este lugar.
Ele precisa me dizer como foi que um erro desses pôde ocorrer.
— Serginho, o que aconteceu não pode mais ser revertido; você entenderá tudo a seu tempo, tenha paciência.
— Mas eu não quero ficar aqui, Lívia.
Tenho muita coisa para fazer, tenho uma vida inteira para viver!
Tem uma porção de coisas que quero realizar...
Como posso fazer isso se estou aqui?
Você não entende?
Temos de conversar com o responsável.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 04, 2015 12:08 pm

Se, como você disse, houve um erro, então precisamos descobrir quem foi que errou e pedir que reparem o erro, me deixando voltar.
Tem de haver um jeito de eu retornar!
Lívia sentou-se na cama ao lado do primo.
Sentia sua angústia e desejava auxiliá-lo.
Contudo, temia que a verdade inteira de urna vez o deixasse ainda mais perturbado.
Segurou com as duas mãos o rosto do primo e lhe disse:
— Sei o que você está sentindo; lembre-se de que já passei por isso e, portanto, sei exactamente como se sente.
O que lhe asseguro é que a vida aqui pode ser agradável.
Você poderá aprender e realizar muitas coisas.
Se se acalmar e encontrar seu caminho, poderá renovar propósitos, se desenvolver...
— Não, Lívia! Não quero!
Preciso voltar! - e dizendo isso, num movimento brusco se pôs de pé, embora titubeante.
Lívia amparou-o na vertigem que sentia e se colocou ao seu lado.
— Vamos caminhar um pouco, para que você possa conhecer o lugar e acostumar-se.
— Não quero me acostumar...
— Serginho, quanto tempo acha que já se passou desde que você deixou a vida na Terra?
— Sei lá! Como vou saber?
Nem sabia que não estava mais lá!
— Pois vou lhe dizer.
Faz mais de um ano e meio que você desencarnou.
— Desen... o quê?
— Desencarnou6, deixou seu corpo físico.
— Mesmo? Um ano e meio?
E o que houve com meu corpo...
Este aqui não é meu corpo?
— Esse corpo, que é igualzinho ao seu corpo físico, com as mesmas cicatrizes e tudo, é um corpo mais subtil, mais etéreo, que chamamos de perispírito7.
— E onde ele ficava quando eu estava na Terra?
Como foi que nunca notei que existia?
Lívia sorriu.
—Ele é muito subtil, por isso não se dava conta de sua existência.
— E como sinto frio, fome, sono, tudo igual?
— É que esse corpo também é material; só que a matéria é mais etérea e por isso é mais leve.
Dá para você me entender?
— Mais ou menos, não consigo entender direito.
— Mas sabe o que significa ter desencarnado há mais de um ano e meio?
Serginho sentou-se deprimido em um banco do belo jardim por onde seguiam.
Ficou acabrunhado.
— Sei. Não posso mais voltar pró meu corpo.
— Não. E claro que não.
— E onde fiquei todo esse tempo?
Onde eu estava?
Você disse que estava preso.
— Estava preso ao seu corpo.
— Qual deles?
— Ao seu corpo mais denso, aquele que usou na Terra.
— O quê? Quer dizer que esse tempo todo eu estava...
— Estava preso ao seu corpo, por isso a escuridão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 04, 2015 12:08 pm

— Por isso não podia me mover?
— Exactamente.
Ficou preso num corpo inerte, que já não tinha vida; e como você estava fortemente preso a ele e, mais ainda, sem consciência de sua nova situação, não conseguia mover-se.
— Que coisa terrível!
Como alguém pôde deixar isso acontecer?
E muito triste.
Deixaram-me lá um ano e meio, literalmente apodrecendo?
— Serginho...
O jovem levantou-se de novo.
— Desculpe-me, Lívia, estou indignado! Isso não se faz!
Que coisa horrível!
Por que não foram me buscar antes?
Quero falar com o responsável por este lugar, por este processo, sei lá como vocês chamam isto aqui, mas tenho de me entender com o responsável!
Lívia, que permanecia sentada calmamente, respondeu:
— Pois bem, já que você insiste tanto, pode falar.
Fale com o responsável.
Serginho olhou em volta e, não vendo ninguém, irritou-se:
— Então é você a responsável?
— Não, claro que não.
O responsável é você mesmo.
Terá de se entender com você.
— Como assim?
Não brinque com uma coisa tão séria, Lívia.
— Eu não estou brincando.
— E como posso ser responsável?
— Serginho, você veio realmente antes da hora.
Sua vida terminou antes do tempo devido, porque você cometeu... uma espécie de suicídio.
— Como, suicídio?
Foi um acidente de moto, não um suicídio!
— E, mas e a causa do acidente, qual foi?
— Sei lá! O chão estava molhado, o ónibus freou de repente, não sei ao certo.
— O que você fazia antes do acidente, consegue lembrar?
— Estava com Paula...
Pela primeira vez Serginho lembrou-se com limpidez da namorada e gelou.
Havia pensado nela, durante todo o tempo em que estivera semi-consciente, porém agora que conhecia seu verdadeiro estado o fez de modo diferente.
— Onde está Paula?
O que aconteceu com ela?
Lívia não respondeu.
Apenas olhou-o fundo nos olhos.
— Ela também...
— Também.
— E onde ela está?
Vocês foram buscá-la?
— Infelizmente ainda não foi possível, Serginho.
— Por que não?
—Há muitas coisas que você desconhece completamente e não posso explicar tudo de uma só vez porque não adiantaria você não iria compreender.
Por isso vamos devagar, um pouco de cada vez, para que você entenda.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 04, 2015 12:08 pm

Isso se quiser, se tiver boa vontade, pois se continuar arredio e rebelde demorará muito mais tempo para assimilar uma série de novos conceitos, de novos conhecimentos.
Não bastam as informações, é preciso que seu coração esteja aberto para absorver as verdades.
Serginho se manteve calado por alguns instantes, e depois perguntou:
— Mas que história é essa de suicídio, Lívia?
Não é verdade!
Existe algum erro de informação aí.
— Lembra-se do que fazia horas antes do acidente?
— Estava com Paula, comemorávamos tudo o que vinha acontecendo de bom com a gente...
— E como estavam comemorando?
Serginho olhou-a firme nos olhos, já pressentindo onde ela queria chegar, e se colocou na defensiva, relutante:
— Bebíamos uma cervejinha.
Qual o problema?
— O problema não foi beber.
Foi o que fez na sequência.
Você dirigia totalmente alterado sob o efeito do álcool, Serginho.
— Mas não estava bêbado, só tinha tomado umas duas cervejas.
— Duas? Seja mais honesto.
Sabe que foi muito mais do que isso; foram tantas que você nem sabe quantas.
— E daí? Isso não quer dizer que foi suicídio.
— Serginho, você dirigia após ter bebido muitas cervejas, ou seja, com o estado de consciência afectado.
E para piorar corria muito, ia em alta velocidade.
Seus reflexos eram lentos; o chão estava molhado, e o ónibus parou correctamente, pois havia um farol adiante e ele freou com cuidado, bem antes do sinal.
Não houve qualquer imprudência do motorista, muito embora até hoje ele se sinta intimamente responsável pelo que ocorreu a você.
— Então foi uma fatalidade! - afirmou ele, carrancudo.
— Não, também não foi fatalidade.
Você poderia ter evitado tudo; aliás, nada teria acontecido se tivesse agido certo.
— Não é justo! Não foi suicídio!
Eu não queria morrer!
Não quero estar morto! - Serginho chorava de angústia.
Lívia abraçou-o com carinho e o deixou chorar até que se acalmasse.
— Não é justo, Lívia.
Eu não queria isso, de maneira alguma!
Só queria comemorar, me divertir, estava tão feliz com tudo...
Por que uma coisa dessas foi acontecer?
Por que você não me ajudou, impedindo o acidente?
— Serginho, temos o direito de tomar decisões em nossa vida; isso se chama livre-arbítrio8.
Decidimos todos os dias, todas as horas, nas mínimas coisas.
Esse é o nosso direito ao livre pensar, à liberdade.
Podemos pensar e agir como melhor nos parecer.
No entanto, todas as nossas acções trazem consequências; todas, sem excepção.
Agindo de acordo com a Lei de Deus, as consequências são boas, positivas.
Se agirmos contra nós próprios ou contra nosso próximo - enfim, contra as leis divinas que regem o Universo - as consequências serão negativas e colheremos o resultado de nossas decisões e acções; do contrário não seríamos verdadeiramente livres.
Isso se chama lei de acção e reacção.
A toda acção corresponde uma reacção.
A escolha foi sua.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 04, 2015 12:09 pm

E você sabia que dirigir depois de beber era um grande risco.
Sabia ou não sabia?
Sem coragem de levantar a cabeça, ele apenas acenou afirmativamente.
— Então não há desculpas.
Você tinha consciência de que aquilo era perigoso e não podia ser feito.
E agravou ainda mais a situação estando em alta velocidade; outra decisão sua, exclusivamente sua.
Você escolheu as acções, e elas trouxeram consequências naturais, das quais não podemos fugir, Serginho.
Não tem jeito.
Percebe por que sua morte foi considerada suicídio9?
— Percebo seu raciocínio, mas não concordo!
Não acho justo!
Tinha de haver um jeito.
Ele acrescentou, triste:
— E Paula?
Foi minha culpa também?
— Também houve a participação dela no ocorrido.
Serginho calou-se, abatido.
As lágrimas desciam pela sua face.
Chorava de angústia e de raiva, pois desejava ardentemente que nada daquilo tivesse acontecido, queria poder voltar no tempo e agir de outro modo.
Só que agora era tarde.
Como dissera Lívia, o que estava feito não tinha mais retorno.
Após demorado silêncio, dois homens aproximaram-se de Lívia e do primo.
— Como está, Serginho, em seu primeiro passeio pela colónia?
— Nada bem - respondeu ele sem erguer a cabeça.
Os dois olharam para Lívia e logo compreenderam o que se passava.
— Estaremos por aí quando desejar companhia, seja para conversar ou simplesmente passear.
— Obrigado - respondeu o jovem a contragosto, embora percebesse amizade e carinho naqueles dois homens.
Quem são eles?
— Dois dos cinco amigos que trabalharam activamente para resgatá-lo.
— Foi tão difícil assim?
Por quê?
— Não era sua hora, Serginho.
Foi um suicídio, por isso sua energia vital era enorme e não se extinguiu com a morte do corpo.
A bem da verdade, não fosse toda a ajuda que você recebeu, especialmente de sua mãe, e sobretudo a atenuante que tinha pela situação, ainda estaria lá.
— Que atenuante?
— Exactamente o facto de que você não queria morrer, de que não foi algo premeditado, planeado e desejado.
O que ocorreu foi resultado de actos inconsequentes de sua parte, mas o seu objectivo não era esse, daí a atenuante.
Nesses casos, a despeito de sofrer as consequências de uma morte antecipada - enfim, de um suicídio -, o auxílio também chega mais rápido.
Compreendeu?
— Não muito bem. E como está minha mãe? Sinto tanta saudade...
Senti, e sinto tanta falta dela...
— Sua mãe sofreu bastante e ainda sofre, porém o amor que sente por você é um presente divino, Serginho.
Ela está se fortalecendo, principalmente agora que sabe do amparo que você tem recebido.
— Ela sabe de tudo o que aconteceu?
— Desconhece os detalhes, apenas sente sua angústia e ora por você.
Teme que sua adaptação na nova vida seja difícil, devido ao seu temperamento, que ela bem conhece.
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