LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:14 am

DEPOIS DE Exilados por Amor, A JORNADA CONTINUA...

Acompanhando a trajectória de Constantino, Fausta, Jan Huss, Jerónimo de Praga, Ernesto, Elvira, entre outros personagens, iremos conhecer os bastidores espirituais de momentos cruciais que marcaram a história.

Jornada dos Anjos alcança os dias actuais, no turbilhão dos acontecimentos que envolvem este período de transição da Terra, que passa de um mundo de provas e expiações para um mundo de regeneração.

O verdadeiro progresso da humanidade repousa nas mãos daqueles que amam.
Enfatizando que somos senhores do nosso destino e herdeiros de nossas escolhas, Lucius nos convida, através deste surpreendente romance, a reflectir sobre a valiosa oportunidade que temos nesta decisiva encarnação.

Aproxima-se o dia em que este mundo será pleno de alegria, amor e prosperidade.
Jesus, de sua morada luminosa, aguarda que avancemos com determinação rumo à vitória suprema do Bem.

A TERRA ALCANÇA O ÁPICE DE SUA TRANSIÇÃO.
AGORA, A HISTÓRIA SE CONSTRÓI DIANTE DE NOSSOS OLHOS.
QUAL SERÁ O NOSSO DESTINO?


JORNADA DOS ANJOS
PELO ESPÍRITO LUCIUS

ROMANCE PSICOGRAFADO POR SANDRA CARNEIRO

PREFÁCIO

O TEMPO É CURTO.

É imprescindível estarmos prontos e disponíveis para fazer o trabalho que se apresenta diante de nós.

Não percamos momentos preciosos correndo atrás de ilusões efémeras, que não nos levarão a nada.
Acordemos do longo e pesado sono que nos entorpece os sentidos e, principalmente, a percepção espiritual, dificultando nossa compreensão do que é verdadeiro e perene.

Façamos uso da prece e não nos permitamos adormecer de novo.
Abandonemos definitivamente a atitude que nos afasta de Deus e traz sobre nós profundo sofrimento.

É hora de despertar!
Que Jesus, da luminosa morada onde nos aguarda há quase 2 mil anos, nos ajude a trilhar o caminho do bem, da renúncia e do amor, libertando nossas consciências e nossas vidas para iniciarmos a jornada da iluminação interior, rumo à perfeição, ao Criador.

Amigo leitor, que a paz do Mestre envolva o seu coração, bem como nossa morada terrestre, em fulgurante esperança de renovação.

Lúcius
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:14 am

INTRODUÇÃO

O MAR ESTAVA AGITADO.

A pequena embarcação se afastava com dificuldade, buscando alcançar o navio que esperava para partir.
Com as vestes ensopadas e água até a cintura, João1 e os outros cristãos tentavam atingir a praia, mas eram jogados, pelas fortes ondas da arrebentação, exactamente onde acabavam de ser deixados.

Cefas - uma senhora cristã, exilada junto com os demais do grupo - caiu e, na tentativa de se levantar, chorava desesperada:
- O que será de nós agora?
Como sairemos deste lugar?
Vamos morrer aqui!

Paciente e amoroso, João procurava acalmá-la:
- Tenha fé, minha irmã, Deus nunca nos desampara.
Ele sempre cuida de todos.

E enquanto a ajudava a se erguer, prosseguiu:
- Não desanime.
Por mais difícil que seja nossa situação, vamos confiar no Mestre.

Um pouco mais confortada, a mulher assentiu com a cabeça e enxugou as lágrimas misturadas à água do mar.

Explicou a razão de sua angústia:
- Não temo por mim, apóstolo João, e sim por meus filhos, que ficaram em Éfeso.
E por eles que me angustio.
Estou pronta a dar a vida pelo Senhor, se ele assim o desejar, mas e meus filhos?
Como é difícil para uma mãe ver os filhos ameaçados...

- Eu posso imaginar, Cefas, posso mesmo.
No entanto, Jesus está no comando de nossas vidas, não está?

Cefas o olhava calada e, ao chegarem finalmente à praia, exaustos, ele aconselhou:
- Agora descanse. Precisamos recuperar as forças.

Aqueles eram mais alguns dos muitos cristãos exilados por ordem do imperador romano Domiciano.
Os componentes do pequeno grupo estenderam-se na areia quente e fina, enquanto tentavam recompor as forças e os corações, abalados pela longa e difícil jornada.
Não obstante a solicitude com que atendia e se preocupava com todos, João parecia cansado.

Olhou ao redor, notando a beleza do cenário:
Patmos era uma ilha esplendorosa, localizada no leste do mar Egeu.
Acostumado aos encantadores cenários já vistos quando saía para a pesca, e depois pelas viagens que empreendera para difundir o Evangelho de Jesus, ele estava embevecido diante da pequena ilha grega.

Já ouvira muitos falarem daquele lindo lugar, porém nunca estivera ali antes.
Acomodou-se ao lado dos demais e ficou a contemplar a bela paisagem.

A brisa perfumada soprava suavemente.
O sol se punha devagar, deixando no horizonte um rastro de tons avermelhados e intensos.
A vegetação da ilha parecia acalentar o entardecer e recebê-lo com todo o prazer, pois o aroma exalado pelas plantas era doce e agradável.

Não demoraria a anoitecer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:15 am

Ebenezer tocou o ombro de João e sugeriu:
- Não seria melhor procurarmos abrigo para passarmos a noite?
Será que conseguiremos encontrar ainda hoje outros cristãos, também presos na ilha?

- Não tenho a menor ideia de onde possam estar...
- A ilha é pequena, João, e não creio que estejam muito longe da praia.
Seria melhor que nos colocássemos logo a caminho.

Ao observar o olhar de João, que focalizava o grupo, Ebenezer aconselhou:
- Embora estejamos todos cansados, não podemos passar a noite aqui.
Temos de procurar abrigo.

João sorriu ao admitir:
- Seu bom senso é inegável.
E dirigindo-se ao grupo, pediu:
- Vamos, irmãos, precisamos de um abrigo.
Sei que estão todos esgotados, mas não podemos demorar mais.

- Também parece cansado, apóstolo.
João abriu sincero sorriso e respondeu:
- E estou mesmo!
A idade chegou de vez para mim, minha irmã...

Entregando-se a enorme esforço, puseram-se a caminho, em busca de outros que já estivessem na ilha.
Caminharam cerca de meia hora e avistaram algumas casinhas improvisadas, feitas de madeira e cobertas com vegetação.
Antes que alcançassem o minúsculo vilarejo, alguns moradores correram ao encontro do grupo.

Um dos homens perguntou, ainda a distância:
- São cristãos?
Foi João quem respondeu:
- Somos, viemos de Éfeso.

Um dos que vinham mais atrás gritou:
- João! Apóstolo João?
É você mesmo?

Quando reconheceu o companheiro de longos anos, com quem fizera muitas viagens tendo por objectivo disseminar o Evangelho, João exultou:
- Ananias, é você?
Ao se encontrarem, trocaram apertado e carinhoso abraço.
Emocionado, o mais jovem disse, enxugando as lágrimas:
- Não pouparam nem a você, João!

- Ora essa, e por que poupariam? 6
- Já está com idade avançada!
Eles deveriam levar isso em conta.
Além do mais, você só faz o bem a todos...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:15 am

João sorriu e fitou o outro nos olhos:
- Você esquece que não pouparam o melhor de nós todos, Ananias?
Aquele que só fez o bem em toda a sua vida?
Quem pode exigir ser tolerado ou aceito depois do tratamento que teve o Mestre dos Mestres?
Não, não podemos nos iludir jamais. Nossa luta é difícil.
Jesus já nos ensinou que o caminho para aqueles que desejam segui-lo é estreito.

Fez-se longo silêncio, e Ananias convidou:
- Vamos à minha casa.
Mesmo pequena e improvisada, todos nos arranjaremos por lá.

Depois de conversarem muito e trocarem informações sobre o dia-a-dia na ilha e o que acontecia no continente, com notícias de amigos e parentes de muitos daqueles que ali estavam há mais tempo, Raquel, a irmã de Ananias, aproximou-se e sugeriu:
- Devem estar com fome. Vou servir o jantar.
Embora bastante frugal, vai alimentar a todos.

Depois da leve refeição, sentaram-se à volta de João e alguns pediram:
- João, conte-nos uma história sobre Jesus.
Temos ouvido muitas, mas sei que você deve saber de outras que ainda não conhecemos.

O rosto de João iluminou-se, reflectindo suave luminosidade que imediatamente envolveu a todos.

O cansaço que sentia desapareceu, ele ajeitou-se no assento que ocupava e disse sorrindo:
- É sempre uma grande alegria poder relembrar as experiências preciosas que tivemos ao lado de Jesus de Nazaré.

E pôs-se a narrar episódios que vivenciara como discípulo de Jesus.
Ficaram acordados até muito tarde, relembrando as doces experiências.

No plano espiritual, em torno do pequeno agrupamento, brilhava intensa luz.
Se os olhos materiais o permitissem, eles se surpreenderiam ao observar a numerosa companhia espiritual com que contavam naquela noite.

Um grupo bem maior de espíritos envolvia aqueles que se reuniam na Terra, e com eles apreciava as histórias sobre o enviado de Deus.
Entre seus integrantes estava Ernesto, outrora exilado de Capela.

Só muito mais tarde, João disse:
- Bem, agora gostaria de descansar.
Ananias concordou com a cabeça e o ajudou a se levantar, enquanto dizia:
- Ficaria aqui a noite toda ouvindo você.

Ao colocar-se de pé, João bateu levemente nos ombros do mais novo e disse:
- Teremos muitas ocasiões para conversar, não é mesmo?
- Acha que ainda ficaremos muito por aqui? 7

- Quem sabe?
De toda forma, vamos aproveitar bem nosso tempo.
Tenho uma porção de histórias sobre Jesus para compartilhar.

Depois de acomodar a todos, distribuindo-os pelos espaços disponíveis nas pequenas casas, Ananias voltou, sentou-se e, sorvendo um copo de água fresca, em um suspiro desabafou com Raquel:
- Não sei se fico triste ou feliz com a chegada de João.
A irmã afirmou:
- Quanto a mim, estou aliviada por tê-lo connosco.
Já estava começando a perder as esperanças...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:15 am

No dia seguinte, mal os primeiros raios de sol surgiram no horizonte, João já se levantara e, silencioso, saíra da pequena cabana que os abrigava.
Caminhou devagar em direcção ao mar e em algum tempo avistou a praia.
Admirou a beleza do alvorecer, com os raios cada vez mais fortes do astro-rei rasgando o céu até dominar o espaço.

O dia amanhecia belo e cheio de energia.
João olhou ao redor e notou uma pedra bem desenhada que poderia servir de banco.
Sentou-se, ainda contemplando o mar e o céu.

Depois, indagou em pensamento:
- Deus, meu Pai, Mestre Jesus, o que desejam de mim?
Estou aqui, isolado de tudo e de todos.
Como prosseguir com a tarefa de levar o Evangelho ao povo, de difundir seus ensinamentos, se permitiram que para cá eu viesse?
É chegado o momento da minha passagem para o mundo espiritual?

Ernesto, espírito que fora seu pai em existência longínqua, em Capela, afagou-lhe os cabelos e sussurrou-lhe ao ouvido:
"Não, querido Henrique, não é o momento da sua transição.
Serene seu coração e espere tranquilo.
Ainda tem muito trabalho a fazer.
Contamos com você, com sua força física e sua fé em Jesus".

Registando no coração aquelas palavras, João sorriu e falou baixinho:
-Estou aqui, Senhor, pronto para fazer tudo o que de mim desejar. Sou seu servo.

Ele se calou. Mais uma vez Ernesto afagou-lhe os cabelos e beijou-lhe a fronte envelhecida.
Aquela altura João já somava 85 anos de vida, e ainda mantinha vigor físico que impressionava a todos.
O apóstolo continuou a meditar e orar por mais algum tempo.

Foi interrompido pela voz amiga de Ananias:
- Sabia que o encontraria aqui.
João sorriu para o companheiro, que logo se acomodou ao seu lado e comentou:
- É lindo ver o nascer do sol deste local.
Muitas vezes tenho vindo para apreciar a beleza e orar...

- É um lugar ideal para a prece.
O silêncio ainda domina a paisagem e tudo vai despertando aos poucos, à medida que oramos.
E como se nos integrasse-mos a toda a natureza, louvando a Deus pelo dom da vida.

Ananias ficou calado.
Lágrimas brotaram em seus olhos e lhe desceram pela face.
Limpou o rosto, porém elas teimavam em cair.

João tocou-lhe o ombro fraternalmente e indagou:
- O que foi, Ananias?
O que o entristece tanto, meu irmão?

- Eu não entendo bem o que acontece, João.
Por que estamos aqui, separados de nossos parentes e amigos?
Estamos tentando fazer o bem, conforme Jesus nos ensinou, e somente isso.
Não infringimos nenhuma lei, e tantos cristãos já foram sacrificados, tantos...
Por que isso está ocorrendo, João?
Você compreende?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:15 am

- Meu caro Ananias, não se deixe abater.
A tristeza pode vir, é normal, mas não permitamos que ela tome conta de nós.
Lutemos contra a tentação do abatimento e do sentimento negativo de derrota.
Lembre-se de que somos mais do que vencedores por aquele que nos amou até a morte.

Depois de breve silêncio, Ananias continuou, enxugando as lágrimas:
- Eu sei, João, e por isso me entristeço.
Não consigo ter fé igual à que vejo em você e em tantos outros cristãos.
Apesar de amar o Mestre e confiar nele, às vezes fico realmente cansado de lutar tanto.
Por que tudo isso acontece?

- As resistências e oposições que levaram Jesus ao madeiro são as mesmas que nos perseguem e querem nos calar.
Assim como acham que emudeceram Jesus, matando-o, pretendem matar a todos nós, para silenciar a própria consciência que lhes desperta sutilmente na alma.
Não querem enxergar, pois isso os obrigaria a mudar, a abrir mão de seus interesses, de seu orgulho, das ilusões sobre si mesmos e sobre o mundo que acalentam no íntimo.
Jesus os incomodou, Ananias, e nós, igualmente, muito os incomodamos.

Ananias ficou novamente pensativo.

João prosseguiu:
- Apesar de tudo, veja que eles não conseguem calar os cristãos.
Alguns realmente foram sacrificados, mas muitos outros estão abraçando a causa do Evangelho.
- E dá para crer que logo seremos aceites e finalmente poderemos viver nossas vidas, tentando aplicar e ensinar o que Jesus nos deixou?
Isso só fará bem às pessoas...
Como é possível que não percebam?

Dessa vez foi João que nada disse.

Ananias suspirou fundo, em curto intervalo, e confessou:
- Estou cansado, João.
Foi muito doloroso para mim perder entes queridos da minha família.
Você sabe, meu pai e meus irmãos foram mortos por ordem de Domiciano.
Minha mulher e meus filhos estão em Éfeso, escondidos na9 casa de amigos.
Não consigo perdoar totalmente, conforme Jesus nos ensinou.
Sinto muita dor no coração, muita saudade...

- Ananias, você sabe que seu pai e seus irmãos não morreram!
Estão vivos e a serviço de Jesus, em outra dimensão da vida.
Eles estão bem, muito bem!

Subitamente, João parou de falar, fechou os olhos por um instante e em seguida os abriu.

- E estão aqui agora - disse.
Ananias arregalou os olhos e perguntou:
- Aqui, connosco? Eles estão aqui?
- Sim. Seu pai pede que você se tranquilize, pois Ester e as crianças passam bem.
Estão seguras e bem protegidas.

Ananias, tocado pela energia de amor que emanava do pai e dos irmãos desencarnados, vertia copioso pranto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:15 am

João prosseguiu:
- Seu pai o envolve em terno abraço, Ananias, e lhe diz que eles partiram porque a hora havia chegado;
já tinham cumprido a tarefa que lhes cabia na encarnação.
Agora precisam dar sequência ao trabalho, no plano espiritual, e contam com sua ajuda para realizá-lo.
Eles têm permanecido muitas vezes ao seu lado, intuindo-o e orientando-o quanto à forma de colaborar.

Limpando as lágrimas, ele disse:
- Gostaria de poder abraçá-los também. Eu os amo tanto...
- Eles sabem, sentem o seu carinho.
Todavia, você os ajudará muito mais confiando na Providência e sabendo que continuam por perto.

Ananias calou-se, tomado pela emoção.

Aos poucos se acalmou e, depois de prolongado silêncio, afirmou:
- Estou melhor, e só posso agradecer-lhe por me proporcionar tamanha alegria.

Sem dizer nada, João abraçou carinhosamente o amigo.

Então, Ananias convidou:
- Não seria melhor irmos?
Você precisa se alimentar.
Comeu algo antes de sair?

- Não. Gosto de orar pela manhã, antes de me alimentar.
- Só que agora deve comer.
- Vá indo, Ananias. Eu sigo logo atrás.
- Não, João. Vamos, terá tempo de sobra para voltar aqui quantas vezes quiser;
está na hora de cuidar bem de seu corpo, ainda vai precisar muito dele...

João ergueu-se e concordou:
- Tem razão, Ananias; vamos indo.

Enquanto caminhavam em silêncio pela trilha que levava da praia até a cabana, João imaginava quantos cristãos deveriam estar sentindo angústia idêntica à que vira em Ananias.
Por certo havia os que compreendiam o sentido do sofrimento que lhes era imposto, ao passo que muitos provavelmente se questionavam sobre os motivos de tanta resistência, de tamanha oposição enfrentada.

À medida que pensava, uma ideia lhe surgia, clara e nítida, no fundo da mente:
escrever aos cristãos, esclarecendo e comentando a vitória do Cristianismo no mundo.

Em pensamento indagou:
"Quando começaremos?".
E a resposta lhe soou na mente:
"Em breve".

Quase um ano se passou.
Outros grupos de cristãos chegaram à ilha, contando os horrores que muitos estavam enfrentando por causa dos governadores romanos.
Por toda a parte era árdua a luta dos cristãos.

Certa noite, depois de ouvir alguns deles narrarem o que se passava em diversos pontos da Palestina e de outras regiões, João se recolheu com o coração dolorido.
Sabia que o combate seria duro, mas sempre que constatava a aridez do coração humano, e quanto de mal um homem era capaz de fazer ao seu semelhante, ficava triste.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:16 am

Ao acomodar-se na cama, naquela noite, ele não conseguia dormir.
Virava-se de um lado para o outro, na tentativa inútil de conciliar o sono.

Sentou-se, e escutou mentalmente, com nitidez, uma voz:
"Durma, João, aquiete-se e durma.
Hoje começará a receber as informações que deverá escrever".

Ainda sentado, ia questionar, quando a voz pediu com suavidade:
"Deite-se. Logo você dormirá e então verá, diante de seus olhos, o que deverá escrever".

Acostumado a obedecer às orientações espirituais que recebia, João deitou-se outra vez, procurando pensar apenas no rosto amigo e meigo de Jesus, que trazia na memória com todos os detalhes.
Pouco a pouco a lembrança o acalmou e ele adormeceu.

Seu corpo espiritual foi então desprendido do corpo físico e Ernesto, que o aguardava, perguntou:
- Então, Henrique, está pronto para traduzir o que ainda há por vir para os cristãos, as lutas e também as vitórias?
Abraçando o querido amigo, João respondeu:
- Estou pronto para tentar.
- Vamos, está tudo preparado.
Você verá o desenrolar dos factos futuros lá na colónia, e, ao regressar, começará a traduzir para nossos irmãos encarnados aquilo a que tiver assistido.

João calou-se, pensativo.

- O que foi, está preocupado? - Ernesto indagou.
- Nunca fui muito bom para escrever, você sabe, não é?
Tenho lá minhas dificuldades.
- Não se preocupe. Você terá muita ajuda.

Preparavam-se para partir quando João perguntou, com um sorriso:
- Tem visto Elvira?
- Não, desde que ela regressou para Capela, mas sei que está sempre pensando em nós.
Sinto seus pensamentos envolvendo minha mente.
- E como está você, Ernesto?
- Fortalecendo-me com o seu exemplo.

João sorriu e abraçou-o.
- Podemos ir agora - falou.

Partiram, Logo alcançaram a colónia, próxima ao orbe da Terra, e lá João pôde visualizar, numa tela imensa, muitos factos que ao longo do tempo se sucederiam no planeta.

Mais tarde, ao retornar, ele pediu:
- Por favor, Ernesto, precisarei de ajuda para o que devo realizar.
Não sei como colocar na linguagem dos meus contemporâneos aquilo que vi hoje.
- Voltaremos muitas vezes à colónia.
Você poderá rever o que para você for motivo de dúvida e conversaremos sobre cada detalhe.
Ajudaremos em tudo que estiver ao nosso alcance.
Vai dar certo, não se preocupe.

Na manhã seguinte, o sol já ia alto quando João despertou.
A cabana estava vazia e ele se sentia atordoado.
Sentou-se e meditou um pouco, buscando compreender tudo o que sentia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:16 am

Então saiu em busca de Ananias e logo encontrou Raquel, que informou:
- Ananias foi pescar.
Pediu que ninguém o acordasse e todos tentamos deixar a cabana sem fazer barulho.
- E conseguiram.
Agora, preciso de pergaminhos, pena e tinta. Tenho de escrever.

Imediatamente Raquel correu para a cabana e logo surgiu à porta, avisando:
- Está tudo na mesa.
Sobre o que o senhor vai escrever?
É alguma orientação para nós?

- Para nós e todos os cristãos, Raquel.
- Puxa, que notícia boa!

Sorrindo, João explicou:
- Vou tratar de escrever, antes que o que vi em sonho esmaeça em minha mente.

Assim, durante os anos que passou na ilha de Patmos, João ocupou-se em registar, da melhor forma possível, tudo o que observava no plano espiritual, com relação ao futuro da Terra e dos homens.
Embora desejasse ardentemente transmitir mensagens de optimismo e esperança, constatava, dia a dia, que o porvir da humanidade seria marcado por uma longa trajectória de dor, lutas e muito sofrimento, até que o raiar de nova era libertasse, finalmente, a consciência humana.

Naquele cenário de rara beleza, João escreveu as páginas que seriam conhecidas pelas futuras gerações como o Livro do Apocalipse, retractando uma das fases de transformação da Terra, em seu processo evolutivo.

1 João foi um dos doze apóstolos de Jesus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:16 am

PRIMEIRA PARTE
"Não cuideis que vim trazer paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada."
Jesus (Mateus, 10:34)

“... Na verdade, o Cristo trouxe ao mundo a espada renovadora da guerra contra o mal, constituindo em si mesmo a divina fonte de repouso aos corações que se unem ao seu amor; esses, nas mais perigosas situações na Terra, encontram, nele, a serenidade inalterável...”
Emmanuel / Francisco Cândido Xavier "Caminho, Verdade e Vida"


UM

ROMA, ANO 324 DA ERA CRISTÃ.


No salão de audiências ouviam-se os gritos do poderoso general:
- Saia já da minha frente, verme inútil!
Desapareça, suma, ou não sei o que faço com você!

Licínio2, agressivo, empurrou o mensageiro que se mantinha curvado diante dele, fazendo-o cair nos degraus da escadaria próxima.
O jovem logo se ergueu e, aterrorizado, saiu rapidamente da sala.
Sabia do que aquele velho general era capaz.

Constância entrou a tempo de presenciar a cena e, verificando a enorme irritação do marido, indagou:
- Por que maltrata tanto o pobre rapaz?
Ele trouxe más notícias?
O experiente general do império endereçou olhar furioso à esposa e limitou-se a dizer:
- É seu irmão outra vez.

Aproximando-se do marido e buscando aparentar calma, Constância insistiu.
- E o que foi agora?
- Sei muito bem o que ele planeia, suas intenções...
- O que houve?

Medindo a mulher de alto a baixo, o general disse, enquanto saía apressado do amplo salão:
- Não vai vencer, escreva o que digo...
Por Zeus! Ele não vai vencer!

Constância fez Licínio estacar na porta ao argumentar:
- Constantino é determinado e ardiloso.
Consegue tudo aquilo que deseja.

Ele virou-se para ela e esbracejou, ainda mais contrariado, deixando perceber todo o seu furor contra o opositor:
- Tem conseguido ampliar o território sob seu poder à custa de muito ouro e muitas vidas romanas.
Sabe seduzir os generais com seus argumentos e pontos de vista, mas não é perfeito.
Pelos deuses! Quem ele pensa que é?
Quer dominar todo o império.
Quer tornar-se o único César, poderoso e absoluto!

Constância afirmou, hesitante:
- Provavelmente sim.
- Pois ele não conseguirá!
Vou impedi-lo, custe o que custar!
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:17 am

A mulher segurou o braço do marido e advertiu:
- Seja cauteloso.
Com Constantino, todo o cuidado é pouco.
Por favor, veja lá o que planeia.
Além do mais, é meu irmão, e não quero que nada lhe aconteça.

- Não se iluda, Constância.
Ele jamais teria qualquer piedade de você.

A esposa argumentou:
- Está enganado.
Constantino é um homem determinado, ambicioso e astuto, mas é justo.
Não faria nada que me prejudicasse, a menos que eu o prejudicasse primeiro.
Portanto, pense muito bem antes de agir contra ele.

Sem responder, o velho general desapareceu pelo corredor, deixando a esposa a meditar.
Respeitava o marido e admirava o irmão; queria bem aos dois, mas temia pelas atitudes sempre intempestivas de Licínio.
Sentou-se e, observando pela janela a movimentação dos soldados sob as ordens do marido, ficou a se perguntar o que exactamente estaria acontecendo.

Licínio se irritava muito com as atitudes de Constantino;
embora antes fossem muito próximos (até mesmo o seu casamento havia sido negociado com o irmão, para estreitar os laços entre eles), agora estavam a ponto de um confronto directo.

Depois de muitas lutas e combates, mentiras e traições, assassinatos e disputas cruéis, que não poupavam ninguém e nem mesmo laços familiares dos mais próximos, Constantino havia conquistado toda a região ocidental do império, tornando-se o imperador do Ocidente, e Licínio era então o Augusto do Oriente.

Ambos dividiam o poder do imenso território sob a égide da águia.
O olhar de Constância, que parecia perdido, encheu-se de temor.
Ela continuava a reflectir que haviam sobrado apenas os dois e que seu irmão não dividiria o poder.
Pressentia que eles iriam entrar em confronto directo, e não demoraria muito.

Tirando de sob as roupas, junto ao peito, uma pequena cruz de madeira que trazia pendurada em uma corda fina feita de couro, apertou-a com uma das mãos e pediu, baixinho:
- Ajude-me, Jesus, por favor.
Proteja Constantino e também Licínio.
Não deixe que minha família seja dizimada por essas disputas estúpidas de poder!
Por favor, Nazareno, olhe por mim...

Ainda segurava firme a pequena cruz quando sua serva pessoal entrou, ofegante:
- Minha senhora, precisa vir depressa!
- Calma, Ana. O que foi?
- Venha, senhora, rápido!
Uma desgraça está prestes a acontecer!
A senhora precisa impedir!

Constância acompanhou Ana pelos corredores do palácio até chegar à porta do gabinete do marido que, aberta, permitia que o escutasse a gritar pela sacada do amplo salão, directamente aos soldados.

Enfurecido e enlouquecido, ele gritava:
- Meus leais servidores, moradores da bela e poderosa Bizâncio, obedeçam às minhas ordens.
Quero que todos os funcionários cristãos deixem seus postos e partam imediatamente.
Que não fique um só em meu reino.
Todos fora! São traidores, perigosos, eu os quero longe daqui.
Todos servem a Constantino!
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Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro Empty Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:17 am

Constância aproximou-se do marido e, segurando-o pelo braço, implorou:
- Acalme-se, por favor!
O que está fazendo?

Ele arremessou-a para longe com toda a violência, fazendo-a cair sobre um banco e depois sobre uma mesa mais adiante.

A serva ia entrar para socorrer sua senhora, que continuava no chão, ferida, quando Licínio, olhando-a com fúria, gritou:
- Não ouse entrar em meu gabinete, cristã imunda!
Suma daqui! A ordem é para você também!
Suma da minha frente ou acabo com você com minhas próprias mãos!
Já! Desapareça!

Em seguida ele voltou para a sacada, e continuou a gritar aos subordinados:
- Até o final do dia quero todos os cristãos bem longe daqui.
Todos eles, sejam romanos ou não!
Não quero um remanescente!
Aqueles que não concordarem com minhas ordens, podem partir também.
Quero limpar meu reino dessa praga e vai ser hoje mesmo.

Constância permanecia no chão, desacordada e ferida na cabeça.
Totalmente cego pelo ódio que sentia por Constantino e por seus frequentes avanços militares, Licínio escrevia uma ordem expressa para que, em todas as cidades de seu reino, os cristãos fossem banidos imediatamente de qualquer cargo ou função que tivessem em qualquer área relevante.

Que se tornassem todos escravos!
Assim que terminou, saiu da sala com o pergaminho nas mãos e sumiu no corredor, directamente para o grémio onde ficavam os seus soldados mais graduados.
Levava pessoalmente a ordem.

Ana, que se afastara aturdida, buscou ajuda de outra serva de confiança de Constância, que mantinha em segredo sua opção pelo Cristianismo, e pediu:
- Helena, precisa ajudar a senhora! Ela está ferida.
- O que houve?
- Já escutou a ordem do imperador Licínio?
- Sim, já correu por todo o palácio.
- A nossa senhora tentou intervir e ele a empurrou...

Ana começou a chorar angustiada.

Helena trouxe-lhe um pouco de água e pediu:
- Fale, o que houve?
- Eu acho que a matou...
- Não é possível! Ele não seria capaz...
- Acho que foi sem querer.
Ele estava com muita raiva, jogou-a com força e ela caiu e bateu a cabeça na mesa...
Vi que sangrava... Se não está morta, acho que está morrendo...

Pálida, Helena ergueu-se dizendo:
- Precisamos ajudá-la!
- Eu não posso.
O imperador me impediu de entrar em seu gabinete e me quer fora do palácio.
Se me encontrar de novo por aí, é capaz de me matar...
Precisava ver como ele estava...
Parecia fora de si, enlouquecido...
Você precisa ajudá-la... Eu não posso fazer nada!
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:17 am

Helena pensou por um instante e, virando-se para Ana, pediu:
- Vá então, Ana, vá antes que ele a encontre.
Mas primeiro peça a Juliano para vir até aqui; diga que a mãe está ferida, não fale de suas suspeitas mais graves.
Olhando para o céu, disse:
- Tenho esperança de que ela esteja apenas ferida.
Agora vá. Procure por Juliano e diga que me encontre no gabinete de Licínio.
Vamos socorrer Constância.

Antes de sair, ao alcançar a porta, Ana se voltou e disse, em lágrimas:
- Tome cuidado, Helena. Ele está fora de si...

Ana saiu depressa e Helena correu pelos corredores, encontrando amigos e parentes que, com alguns pertences nas mãos, fugiam assustados.

Ela seguiu até atingir a parte mais alta do edifício, onde ficava o amplo salão de Licínio.
Observou que estava vazio e correu até Constância.
Havia sangue espalhado sob sua cabeça e Helena constatou que o ferimento era grave.
Debruçou-se sobre o peito da outra e escutou-lhe o coração.

Ainda batia. Logo, Juliano entrou, à procura das duas:
- Estou aqui.
Ele estava lívido, com as mãos trémulas e suando frio.
Olhou para a mãe e depois para Helena e perguntou, assustado:
-Ela... está...

- Ela está viva, mas precisamos tirá-la logo daqui e tratá-la.
Se perder mais sangue, não sei o que poderá acontecer...
- É claro! Mas o que foi que deu no meu pai dessa vez?
- Não sei, Juliano. Acho melhor você se preocupar com isso depois.
Agora precisamos socorrer sua mãe.
- Claro...

Helena rasgou parte de suas vestes e cobriu o ferimento, procurando estancar o sangramento.
Assim que o curativo improvisado ficou pronto, Juliano carregou a mãe para seu quarto e colocou-a na cama.

- E agora, o que faremos?
Helena não titubeou:
- Vou procurar ajuda.
Fique aqui com ela e não deixe ninguém se aproximar antes que eu chegue, está bem?

O rapaz balançou a cabeça afirmativamente.

2 Valério Liciniano Licínio, co-imperador romano no período de 308 a 324 d.C.


Última edição por Ave sem Ninho em Dom Jun 22, 2014 9:18 am, editado 1 vez(es)
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Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro Empty Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:17 am

DOIS

JULIANO SENTOU-SE À BEIRA da cama e afagou com ternura o rosto da mãe.


Seu coração batia descompassado; suas mãos suavam frio e de seus olhos desciam pesadas lágrimas que corriam pela face alva, alcançando, vez por outra, as mãos de Constância.
Esta, imóvel, empalidecia mais e mais, e agora já tinha os lábios arroxeados.
O rapaz olhava para a porta a todo instante, ansioso para que alguém aparecesse em socorro da mãe.

Ele a beijou na face e sussurrou, angustiado:
- Por favor, mamãe, aguente!
Helena foi buscar ajuda.
Não morra, por favor...
Escutou a voz forte e irritada do pai:
- O que está fazendo aqui?
Onde está sua mãe?

Juliano ergueu-se indignado:
- Não está vendo que ela está aqui, prestes a morrer por sua causa?
Sustentando o olhar arrogante, Licínio, incrédulo, acercou-se da ampla cama que acomodava a esposa. Fitando-a, exclamou:
- Não tive a intenção de machucá-la, mas ela insistia em interferir em minhas ordens!
- Não sente nada por ela, mesmo, não é?

- E quem você pensa que é para questionar meus sentimentos, rapaz?
Ainda não sabe nada da vida, das dificuldades e desafios que o mundo nos impõe.
Não tem o direito de julgar-me ou discutir meus actos.
- Você machucou a minha mãe, tratou-a com violência, e é só isso que me diz?
Vem ainda me censurar...

Juliano interrompeu-se, em pranto.
Licínio aproximou-se mais da mulher, auscultou-lhe o coração, ergueu-lhe a cabeça e observou o curativo e o ferimento.

Depois, recolocando-a com cuidado na cama, ergueu-se e disse:
- A mim você não puxou, definitivamente.
Parece uma mulherzinha choramingando.
Vou buscar alguém que a possa ajudar.
Sem esperar pela resposta do rapaz, Licínio saiu decidido.

Antes de deixar o cómodo, no entanto, virando-se para o rapaz, disse:
- Mandarei um dos sacerdotes vir vê-la.
Depois partirei com meus melhores homens para terminar o que comecei.
Quero expulsar definitivamente todos os funcionários cristãos que trabalham em áreas administrativas do meu reino.

- Por que tanto ódio, meu pai?
- Você pensa que sabe alguma coisa sobre esses cristãos, mas não sabe.
Eles são como uma praga que se espalha por toda parte e se infiltra em todas as áreas do império.
Um sem-número de aristocratas da mais alta casta romana está se juntando a esses seguidores de um mestre nazareno que faz milagres e promete vida eterna...
Vida eterna... Promete o paraíso...

- Eu realmente não o compreendo, meu pai.
Não foram você e meu tio que fizeram promulgar o Édito de Milão, em que determinam que haja tolerância religiosa no império?
Você apoiou tio Constantino e fez valer essa lei.
Por que fez isso, se não aprecia os cristãos?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 22, 2014 9:18 am

Licínio, de cenho fechado e olhar distante, considerou:
- Eram outros tempos, muito diferentes de agora.
Constantino ainda tinha algum respeito pelos seus colegas militares, e talvez até mesmo pelos desgraçados cristãos.
Agora, todos não passam de instrumentos de seus interesses, de bonecos em suas mãos...

De coisas, entendeu?
Coisas que ele usa conforme seus desejos e caprichos.
A cada um ele usa e descarta, como fez comigo.
Ou você acha que seu tio vai descansar enquanto não me enfrentar?

Licínio parou por um momento, depois bradou, ainda mais enfurecido:
- E vou derrotá-lo!
Ele não me vencerá!

Juliano baixou a cabeça, limpando as lágrimas, e fitou a mãe com terna tristeza.
Licínio sumiu esbracejando pelo corredor.
Podia-se escutar sua voz ecoando pelo palácio e desaparecendo aos poucos.

Logo que Licínio afastou-se, Helena entrou depressa, trazendo consigo um médico romano, que havia pouco se tornara cristão.
Já conhecendo a gravidade do problema de Constância, ele não demorou a fazer-lhe novo e cuidadoso curativo, e em seguida fê-la beber um preparado que ele fizera com muitas ervas, para restituir-lhe a força e ajudar seu próprio corpo na restauração do ferimento.

Helena o ajudava, observando-o em silêncio.
Juliano se afastara um pouco, pois não suportava ver a mãe naquelas condições.
Octávio não havia ainda terminado os seus cuidados, quando Gripínio, o sacerdote mais graduado e responsável pelos serviços aos deuses romanos, entrou no quarto em busca da mulher de Licínio.

Juliano adiantou-se e informou:
- Octávio já cuidou dela.
- Seu pai ordenou que eu a visse.
- Pois ele não está aqui agora.
Eu, sim, e digo que ela já recebeu os cuidados de que necessitava.
Deixe-nos. Meu pai não sabia que eu já mandara vir ajuda, por isso foi procurá-lo.

- Engano seu.
Ele foi à minha procura porque confia em mim e sabe que farei o que é o melhor para salvar sua mãe.
- Ela já foi socorrida.
Agradeço, mas não necessitamos mais de sua ajuda.

- Pois bem, se algo acontecer a ela, será sua responsabilidade!
- Minha?! Ora essa!
Meu pai foi quem quase a matou e você vem me dizer que a responsabilidade será minha?
- Então me deixe vê-la!

Octávio, que terminara o atendimento, interveio:
- Consinta que ele a veja, Juliano.
Que mal pode haver?
O estado dela é muito grave e toda a ajuda é bem-vinda.

O rapaz afastou-se da cama para que Gripínio se aproximasse.
Ele a examinou minuciosamente;
depois se ajoelhou e fez alguns gestos, pedindo socorro aos deuses.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 23, 2014 9:59 am

Em seguida, fitou Octávio, que aguardava em silêncio, e disse a Juliano:
- Ela recebeu cuidados adequados.
Agora está nas mãos dos deuses.
Vou até o templo preparar um sacrifício especial pela vida dela.
Eles haverão de me escutar.

Juliano balançou a cabeça sem dizer nada e Gripínio saiu do quarto.

Octávio aproximou-se do rapaz e, tocando-lhe o ombro, disse:
- Como disse antes, o estado dela é bem delicado.
O que podemos fazer agora é pedir a Deus por ela.
- Será que está sentindo muita dor?
Dessa vez foi Helena quem se aproximou e disse:
- Uma das ervas que Octávio lhe deu tem efeito de atenuar a dor.

Dirigindo-se ao médico, ela indagou:
- Não há mais nada que possamos fazer?
- Continue dando o chá de hora em hora. Isso vai ajudá-la.
Se seu estado piorar, veremos o que podemos fazer.
Por enquanto, temos de aguardar.

Helena se prontificou:
- Se você me permitir, Juliano, vou ficar aqui cuidando dela, dia e noite.
Octávio também se ofereceu:
- Tenho algumas tarefas para terminar, mas depois posso ficar aqui também.
Apertando as mãos de Helena e depois de Octávio, ele concordou:
- Aceito, por certo.

O estado de Constância alternou fases de ligeira melhora e de piora acentuada nos dias que se seguiram.
Ela permanecia inconsciente.
Às vezes sussurrava palavras desconexas, quase incompreensíveis, em outras calava completamente.

Juliano, dedicado e amoroso, não saía do lado da mãe.
Octávio e Helena também se revezavam em cuidados e atenção e a jovem, vez por outra, ajoelhada à beira da cama, orava ao Mestre que há pouco conhecera, rogando pela vida daquela mulher aparentemente frágil, mas cheia de força interior.

Muitas vezes, ao terminar suas orações, ia devagar até a cabeceira da cama e sussurrava no ouvido de Constância:
- Não nos abandone. Por favor, lute!

Algumas semanas depois, a notícia do ocorrido com a irmã chegou aos ouvidos de Constantino3.
Ele permanecia sentado, ocupando o lugar de maior destaque no centro de seus conselheiros, e ouvia a narrativa sobre as últimas acções de Licínio sem esboçar nenhuma reacção.

Constantino era um general respeitado pelos seus homens e pelos seus súbditos.
Conquistara cada pedaço do território romano que ora estava sob seu controle com muita astúcia e arguta estratégia, o que o tornara um conquistador querido e respeitado.
Com rosto de forte ossatura, transparecia em seu corpo e sua postura a determinação e a coragem de, destemida e sabiamente, lutar pelas suas aspirações.

Constantino parecia incansável e inabalável.
Nada tirava dele a calma e a determinação na tomada de decisões e nas acções.
Ele raramente reagia e, sim, utilizava toda e qualquer informação ou situação em seu favor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 23, 2014 9:59 am

Quando o mensageiro terminou de narrar o que se passava no império do Oriente, ele parecia distante, mas logo perguntou:
- E como está minha irmã agora?
- Não sabemos exactamente, parece que seu estado é muito grave.
- Está recebendo os cuidados devidos, ou Licínio a abandonou à própria sorte?
- Juliano, seu sobrinho, é quem está tomando conta dela.

Constantino calou-se, pensativo.

O silêncio era absoluto no salão, quando um soldado surgiu à porta e interrompeu a reunião:
- Senhor, um mensageiro da fronteira chegou apressado e deseja falar-lhe.
Diz que é extremamente urgente.

Constantino não respondeu, apenas inclinou a cabeça afirmativamente.
O soldado reproduziu o sinal positivo e saiu apressado.
Logo retornou com o mensageiro, que aparentava abatimento e cansaço extremo.

- Senhor, trago notícias da fronteira.
Más notícias, senhor.
Constantino disse, atento:
- O que houve?
- Os sármatas se preparam para invadir o reino do Ocidente.
Já arregimentaram grande número de homens, que não param de chegar.
O exército deles está crescendo a cada dia.

O imperador guardou silêncio.
Seus generais mais leais e seus conselheiros já o conheciam bem e sabiam que seu silêncio era a maior ameaça contra seus inimigos.
Todos esperavam pelo que diria Constantino, sem se manifestarem.

Ele se levantou, caminhou até um mapa de seu reino e de suas fronteiras, examinou o desenho com atenção, depois virou para o soldado e perguntou:
- Mostre-me onde exactamente se concentram.
O jovem foi até o desenho colocado sobre uma mesa enorme, observou o mapa com atenção, depois apontou:
- Estão aqui, entre as montanhas...

Constantino observou o lugar exacto que o jovem apontara, depois sorriu levemente e sugeriu:
- Descanse e coma um pouco.
Parece exausto.
- Agradeço, senhor, mas estou a seu serviço, aguardando suas ordens.
Só descansarei depois que o atender, meu senhor.

Tocando-lhe o ombro, Constantino insistiu:
- Descanse, pois tenho planos para seu regresso.
O jovem escutava o imperador com atenção, assim como os demais ouvintes.

Constantino aproximou-se do mapa, analisando ainda melhor cada detalhe, depois se virou para o rapaz e disse:
- Amanhã quero que parta bem cedo e vá directo ao meu amigo, Augusto do Oriente, Licínio.
Sem compreender, todos aguardavam o esclarecimento de seu líder, que prosseguiu depois de longa e premeditada pausa:
- Quero que Licínio nos permita atravessar seu território para exterminar-mos os sármatas.
Quero que ele me autorize a atravessar suas cidades mais lucrativas, para surpreender os sármatas, pelos flancos, certamente por onde não esperam que ataquemos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 23, 2014 9:59 am

Um de seus generais apenas balbuciou:
- Mas esse é o caminho mais longo...
Constantino comentou, com sorriso irónico:
- Pode até ser mais longo, mas iremos conquistando tudo o que estiver em nosso caminho.
Ao nos defrontarmos com os sármatas, não somente nosso exército será maior, como meu império estará consolidado.
Confie em mim, Galenius, sei o que estou fazendo.

Erguendo todo o seu corpo e esticando o braço em sinal de profundo respeito, Galenius saudou o seu imperador:
- Não tenho a menor dúvida disso!
Avé César!
Todos em uníssono repetiram:
-Avé!

Constantino manteve-se sério e em silêncio.
No entanto, um observador atento registaria em seu olhar a enorme satisfação que sentia pela destacada posição que ocupava, pela admiração que recebia de seus subordinados e súbditos, bem como pela perspectiva cada vez mais próxima de tornar-se o único imperador de Roma.

3 [ib]Constantino I, Constantino Magno ou Constantino, o Grande.[/i]
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 23, 2014 10:00 am

TRÊS

À MEDIDA QUE os GENERAIS
e conselheiros deixavam a sala em alvoroçada conversa, Constantino acomodou-se em sua cadeira sumptuosa, seu trono.

Sentou-se e observou seus homens se afastando; apenas os mais próximos ainda permaneceram com ele.
Mentalmente, felicitou-se por estar mais uma vez aproveitando tão bem as circunstâncias em seu favor.

Claro que não ficara feliz com a notícia de que a irmã estava doente, mas a agressão de Licínio contra ela era desculpa mais do que suficiente para que seus homens o seguissem em sua condição de Augusto ferido no orgulho familiar.
Licínio mais uma vez passava por um brutamontes, e deveria ser contido a todo o custo.

Ele acompanhou a movimentação com o olhar, depois fitou Marco e indagou:
- Está comigo no que pretendo fazer?
- Sim, sem restrições, senhor.
Constantino levantou-se, tocou-lhe o ombro e comentou:
- Meu bom Marco, eu sei que posso contar com você.

O outro respondeu sem pensar:
- E como poderia ser diferente?
Licínio quase lhe mata a irmã!

Constantino aproveitou e, ainda que demonstrasse fixar apenas Marcos, estudava de canto de olho as mínimas reacções de Helenus e Domenico;
consciente da admiração e do respeito que ambos dedicavam aos cristãos, arrematou:
- Ele está piorando a cada dia.
E esse problema com os cristãos, agora?

Os outros dois permaneciam calados.
Marco, Helenus e Domenico eram os três homens de confiança absoluta de Constantino, o que no império romano daquela época era algo quase impossível.

Temia-se até a própria sombra.
Os três generais que ocupavam a mais alta graduação do exército pretoriano haviam sido transformados em guarda pessoal do imperador do Ocidente e agora acompanhavam-no em tudo, participando de todas as suas decisões.

Experientes e astutos, apoiavam Constantino, não sem questionar-lhe, muitas vezes, as acções.
Constantino calou-se, usando o silêncio como tão bem sabia fazer.
Voltou a sentar-se e fixou o olhar para fora da janela, distante.

Pensava activamente nas estratégias que usaria para vencer Licínio.
Esperava pelo apoio de seus homens de confiança, pois sabia do tremendo desafio que vencer o imperador do Oriente representaria.
Seria uma batalha das mais difíceis, pois o próprio Licínio era igualmente um general experiente e dominador, possuindo um exército muito maior do que o de Constantino, em número de homens.

Finalmente, Helenus e Domenico aproximaram-se de Constantino e, reverenciando-o, afirmaram:
- Também estamos com você em sua decisão.
Licínio precisa ser detido.
- Óptimo. Logo mais nos reuniremos para traçar um plano de ataque detalhado.
Já tenho algumas ideias e poderemos definir nossa estratégia.

Helenus e Domenico se retiraram, enquanto Marco permaneceu ao lado de seu imperador, a quem tanto admirava.
Daria a própria vida por ele, tamanha sua admiração.

Constantino, confortavelmente instalado em seu trono, pensava em suas estratégias, e, apesar de estar convicto de sua decisão, sentia um desconforto ao imaginar-se confrontando Licínio.
Era a sua consciência que buscava espaço para alertá-lo do perigo de suas intenções.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 23, 2014 10:00 am

Ao perceber-lhe o titubear subtil, duas entidades espirituais, trajando pesado manto negro, aproximaram-se dele e sussurraram-lhe aos ouvidos da mente:
"Licínio precisa ser detido.
Não há nada de errado nisso.
Você, e somente você, deve ser o único e absoluto César de Roma.
Será muito melhor para o império.
Um reino dividido não pode subsistir.

Roma precisa de você.
Você, Constantino I, será um imperador que marcará a história de sua época e jamais será esquecido.
Um reino dividido não pode subsistir...
Um reino dividido não pode subsistir...".

Registando as palavras do espírito ao seu lado, Constantino tomou-as como seus próprios pensamentos e sentiu-se aliviado.
Sem dúvida, estava fazendo o correcto.

Distante dali, Juliano acabara de pousar sobre a mesa uma cumbuca com água fresca que dera à mãe.
Olhando pela janela, suspirou profundamente.
Com olhar distante, pensava no pai, no tio e em toda a situação do império.

Ele desprezava a atitude de Licínio, sua ganância e seu desejo de poder o enojavam - especialmente porque detectava na corte, e naqueles que circundavam seu pai e acompanhavam seus passos de perto, os interesses acima de tudo.
Percebia o ambiente hostil em que passara toda a sua vida, com medo de todos, sempre protegido pela mãe.

Aquilo não era a vida que ele imaginava.
Não apreciava aquela disputa pelo poder a qualquer preço.
Quando acompanhava o pai em alguma viagem perigosa, a mãe sempre o cercava de uma guarda pessoal reforçada, temendo pela sua vida.

Ela temia até que o próprio pai lhe fizesse mal, e ele também.
Definitivamente não confiava no pai.
Também não confiava no tio.
A única pessoa em quem de facto confiava era sua mãe.
E naquele momento ela estava naquele estado, praticamente entre a vida e a morte.

Estava distraído quando escutou:
- Meu filho...
Sem acreditar, correu até a mãe.
Ajoelhando-se, beijou-lhe a face e em lágrimas balbuciou:
- Mãe... graças aos céus...

- Onde está seu pai?
- Eu não sei. Ele viajou, acho.
Fique calada, mãe, você não pode fazer nenhum esforço.
Foi ferida gravemente e precisa ficar tranquila para se curar.

- Seu tio...
- Constantino?
- Sim... Precisamos falar com ele...
- Por quê?

- Sei que algo ruim vai acontecer...
- Não, mãe, você precisa se acalmar.
Tudo ficará bem, mas precisa ficar calma. Como se sente?
- Estou com fome.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 23, 2014 10:00 am

Juliano exclamou sorrindo:
- Isso é um óptimo sinal!
Você está melhorando!
Que maravilha, mal posso crer...
- Pensou que iria livrar-se de mim tão fácil?...
- Não diga isso, mãe.
Não sabe o quanto sofri esse tempo todo.

- Faz tempo que estou aqui, nesta cama?
- Umas duas semanas.
Fazendo menção de erguer-se, foi impedida pelo rapaz:
- Não, mãe, o que está fazendo?
Não pode levantar-se ainda.
Deixe que Octávio a examine primeiro.
Você ficou muito mal...

Constância, impedida pelo filho, voltou a deitar-se enquanto falou:
- Sinto-me bem.
Apenas um pouco tonta e fraca, mas estou bem.
Não tenho nenhuma dor.

- Mas seu corte foi fundo e você perdeu muito sangue.
Agora vai precisar de uma dieta especial por algum tempo para poder recuperar-se por completo.
Portanto, fique aí quietinha.
Logo Helena virá e então pedirei que chame Octávio.
Somente ele poderá autorizá-la a se levantar.

- Estou aflita por seu pai. Onde ele está?
- Já disse que viajou, mãe.
- Para onde? Quando volta?
- Ele saiu daqui enfurecido.
Sabe que tio Constantino o irrita profundamente.
- Eu sei.

- E receio, mãe, que não haja mais nada que possamos fazer.
Eles se enfrentarão em breve.
- O que me diz?
Ele lhe falou que iria atacar Constantino?
- Não. Constantino marchará contra seu pai.
- Como sabe?

- Eu simplesmente sei e temo por ele.
- Como pode ainda querer-lhe bem, depois de tudo?
E não somente o que lhe fez agora, mas a forma como a tratou a vida inteira?
- Fui e sou fiel aos meus deveres. E você também deve ser.
O carácter de um homem se mede pelo respeito que ele tem por si mesmo e pelos seus semelhantes.

- Acontece que meu pai não tem respeito por ninguém.
- E como aprenderá, se o tratarmos de igual modo?
Juliano sorriu afectuoso e comentou, depois de longo período de silêncio:
- Simplesmente não sei como consegue, mãe.
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Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro Empty Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 23, 2014 10:00 am

Constância insistiu:
- Sabe onde ele está?
- Não, mãe, ele não me disse nada e realmente não me interessei em saber.
Em breve estará de volta.
Apreensiva, ela balbuciou:
- Não tenho tanta certeza...

Helena entrou e ao deparar com os dois conversando, correu ao encontro deles, chorando:
- Minha senhora, graças a Deus acordou!
Está melhorando...

A madura senhora respondeu:
- Seria melhor estar no mundo espiritual agora, mas ainda tenho tarefas a cumprir por aqui.

Limpando as lágrimas Helena disse, segurando as mãos de sua senhora:
- Fico feliz, a senhora nos faria muita falta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 23, 2014 10:00 am

QUATRO

DUAS TESTEMUNHAS
espirituais assistiam àquela cena repleta de alegria, suavidade e amor.
Com vestes diáfanas e luminescentes, Angélica acompanhava o despertar de Constância, de quem havia cuidado carinhosamente.

Sorrindo, ao constatar finalmente a recuperação de sua protegida, comentou com Maurício:
- Pode voltar agora à colónia. Ela ficará bem.

O belo rapaz, que mais lembrava a figura de um anjo, tão insistentemente retratado por artistas de todos os tempos, fitou Angélica com ternura e perguntou:
- Tem certeza?
- Sim, ela conseguiu responder muito bem ao nosso tratamento.
Seu corpo está em recuperação e o quadro é promissor.

Fazendo pequena pausa, ela prosseguiu, com suave entonação na voz:
- Você ajudou muito, agradeço mais uma vez.
- Não me agradeça. Devemos tudo a Jesus.

- Sim, eu sei.
Agora é importante que você retorne à colónia, levando a Ernesto as boas notícias.
Pelo empenho com que tem acompanhado o processo de expansão do Evangelho de Jesus sobre a Terra e pelo seu envolvimento em todos os detalhes, ele gostará de saber que conseguimos impedir a partida de Constância antes do previsto.

- Vou agora mesmo. Você me parece cansada.
Vai demorar-se muito ainda aqui?
- Ficarei até que a situação se acalme.
- Mas parece agravar-se cada vez mais.
- Você sabe o porquê.

Ambos emudeceram por longo tempo.

Maurício, por fim, comentou:
- É... Não podemos desanimar.
- De modo algum; vamos perseverar.
O Cristianismo haverá de triunfar sobre a Terra.
Por mais que haja resistência de todos os lados, a verdade que Jesus veio trazer à humanidade prevalecerá!

- Por quanto tempo ainda negaremos e deturparemos seus ensinamentos?
Por que o homem não compreende o que o Mestre veio ensinar?
- Porque somos ainda crianças, espiritualmente falando.
Temos muito a aprender, e enxergamos tudo com nossa limitada compreensão da realidade.

- E por que alguns conseguem e outros não?
- É por causa da humildade e da fé.
Alguns já conseguem ser humildes o suficiente para intuir que são limitados demais, e não podem confiar nas próprias interpretações;
precisam buscar a verdade.

É mais do que isso:
estão dispostos a fazer o esforço necessário para trilhar o caminho da iluminação espiritual, da regeneração de si mesmos.
Estão dispostos a abrir mão dos prazeres e ilusões passageiros, para dedicar seus esforços àquilo que é essencial e perene.
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Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro Empty Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 23, 2014 10:01 am

- Por quanto tempo ainda os cristãos sofrerão tamanha perseguição?
Não deveria ser assim, não é mesmo?
- Quem somos nós para tirar esse tipo de conclusão?
No entanto, meu mais profundo desejo é que os homens despertem do sono da ignorância em que ainda estão imersos.

Mas agora é melhor que você vá.
Leve notícias e peça novas orientações.
Preciso saber em que poderei ajudar, no caso de as suspeitas de Constância estarem certas.
As circunstâncias se precipitam cada vez mais e estou receosa pelas decisões que Constantino tem tomado;
ele vem colaborando com os nossos objectivos, como se propôs, mas sinto que pouco a pouco distancia-se, na essência, daquilo que deveria fazer.

- Mas ainda age em nosso favor.
- Aparentemente. Entretanto, sinto que suas motivações estão se desvirtuando.
- Se estiver certa, ele poderá perder-se a qualquer momento.
- Esse é o meu receio.
Preciso da ajuda de nossos orientadores do Mais Alto.

Sem demora, ambos se despediram e Maurício partiu em direcção a uma colónia espiritual situada sobre a região da Europa central.
Não teve dificuldade de ultrapassar a grande diferença de vibrações entre os planos material e espiritual, e logo cruzava enorme portão que se abria para uma região espiritual de serena suavidade e intensa actividade do bem.

A atmosfera se fez mais leve, doce fragrância de flores as mais diversas invadia o ar;
pássaros e borboletas coloridas cruzavam o céu.
Maurício deteve-se diante da beleza da colónia e respirou fundo, haurindo com satisfação as energias subtis que vibravam no ambiente.

Entrou. Logo estava em companhia de Ernesto, que o aguardava:
- Maurício, é bom vê-lo.
Que notícias nos traz dos irmãos encarnados?
Acomodando-se ao lado do orientador, Maurício suspirou:
- A situação continua difícil.
- Tenho percebido grande adensamento energético sobre o planeta.

- Sim, como se nuvens negras e pesadas se acumulassem sobre a Crosta.
Apesar disso, trago-lhe boas notícias.
Conseguimos contribuir efectivamente para a melhora de Constância.
Ela acaba de despertar e se recupera muito bem.

- Excelente trabalho, Maurício.
Ela é nossa grande aliada no sentido de manter Constantino nos trilhos de sua programação.
Ela é fundamental.
O rapaz prosseguiu, interessado:
- Angélica continua dedicada à sua recuperação.

- Ela tem conseguido maior influência sobre Constantino?
- Tem trabalhado muito, mas também está receosa de que ele se desvie de sua tarefa.
- Honestamente, Maurício, eu também estou, e muito.

O jovem fitou Ernesto sem dizer palavra.
Também estava apreensivo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 23, 2014 10:01 am

Depois de breve pausa, indagou:
- Achei que talvez Angélica exagerasse...
Então ele realmente está se desviando da tarefa?
- Pouco a pouco, quase imperceptivelmente, vem se distanciando de nossa programação.
- E o que podemos fazer?
- Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance, mas a decisão é dele.

Sério, Maurício indagou:
- Conhece-o há muito tempo?
- Sim, desde Capela.
Surpreso, Maurício comentou:
- É... faz tempo mesmo.
Também vieram de lá?

- E chegamos antes de você, um pouco antes.
- A grande maioria já retornou....
- Contudo, há ainda muitos por aqui.
Estamos tentando, não é mesmo?

- Sinto saudade de meu verdadeiro lar.
Desejo retornar assim que for possível;
mas como fazer isso, deixando para trás tantas pessoas queridas?
Não posso, por enquanto.

- Sei bem o que sente.
É o caso de Ferdinando, ora vivendo na Terra como Constantino.
- Ele já tem preparo suficiente para realizar a tarefa que se propôs.
- Certamente. Entretanto, não importa quão preparados estejamos, sempre poderemos falhar;
basta uma distracção, um enveredar pelo caminho do orgulho e nos deixar dominar por ele, e pronto.
O retorno fica muito difícil.

Calaram-se novamente.

Ernesto ergueu-se, caminhou até uma grande janela que dava para florido jardim e comentou, por fim:
- Continuemos orando e confiando.
Deus jamais permite que se coloque sobre qualquer de seus filhos peso maior do que está preparado para suportar.
Confiemos que Constantino será capaz de reencontrar-se e ser vitorioso, afinal.
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