LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro

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Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jun 25, 2014 9:23 am

Licínio observou o facto e espantado indagou:
- O que é isso?
Como ela pode ser duas ao mesmo tempo?

Foi Plínio quem respondeu:
- Todos os homens encarnados são assim.
Você também era.
Agora, depois que morreu na Terra, tem somente seu corpo espiritual.

Licínio se examinava ao mesmo tempo em que olhava Fausta dormindo.

Depois, Núbio convidou:
- Observe bem esses pontos colados ao corpo espiritual dela.
Consegue reconhecer alguma imagem?

Licínio observou atentamente, e depois respondeu:
- São imagens?
- Muitos são imagens que reflectem os pensamentos que povoam sua mente.
E é aqui que reside sua tarefa, por ora.
Encontre, na exteriorização dos pensamentos dela, alguma imagem que possamos utilizar para destruir Constantino.

Licínio continuava observando, sem entender a que Núbio se referia.
Estava curioso demais para registar suas ordens.

Núbio, então, falou irritado:
- Plínio vai lhe dizer o que são essas imagens e como tirar proveito delas.
Eu tenho mais o que fazer.
Antes que pudesse sair, Licínio o deteve, agastado, mas contido:
- Por que não posso ir com você?

- Não seja estúpido.
Você pode ser mais inteligente do que isso.
Tem de aprender a lidar com sua nova situação e podemos ensiná-lo bem depressa.
Agora pare de me trazer problemas.
Tenho muito a fazer e você não pode me ajudar com sua actual ignorância.

Fez breve pausa, depois continuou:
- Se quer mesmo sua vingança, terá de agir do nosso modo.
Está bem claro?

Licínio balançou a cabeça em sinal afirmativo e Núbio desapareceu no corredor.
O primeiro, então, notou que havia outras entidades que andavam para todos os lados do castelo;
alguns pareciam verdadeiros zumbis, já outros se assemelhavam mais a eles.

Sem dizer nada, Licínio acompanhou Plínio, fazendo tudo o que ele dizia.
Sua tarefa principal era vigiar os pensamentos e actos de Fausta, para compreender-lhe bem as fraquezas e poder actuar sobre elas de acordo com seus interesses.

Dia e noite espreitavam-lhe os passos, os actos e as palavras.
A presença daquelas entidades de pesado teor vibratório foi aos poucos envolvendo Fausta em uma pesada energia, que a debilitava lenta e subtilmente, tornando-a dia a dia mais desconfiada e insatisfeita.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jun 25, 2014 9:24 am

Vários meses se passaram.
Constantino se dedicava ao projecto de reconstrução de Bizâncio, e transformou-a na capital do império, ainda que contra a vontade dos senadores de Roma.
Ele pouco viajava para a antiga capital, demorando-se cada vez mais na cidade que escolhera para sua residência.

Estava satisfeito.
Tinha nas mãos o controle absoluto do império, como sempre desejara, e queria que assim continuasse.

Estava debruçado sobre a janela a contemplar os homens que trabalhavam, restaurando e modernizando construções, quando Marco chegou e saudou:
- Avé, César!
- Meu amigo, o que o traz logo pela manhã?
- Notícias de sua irmã.
- O que tem ela?
- Está gravemente doente.

- O que houve?
- Desde a morte de Licínio ela tem estado adoentada.
Não se refez de todo do choque da perda do marido.
Constantino ficou calado algum tempo, depois disse:
- O que se pode fazer?
São reflexos indesejados, mas que eventualmente acontecem em uma empreitada, ainda mais da envergadura na nossa, não é, Marco?

O outro concordou:
- Sem dúvida. O que devo fazer?
- Continue a cercá-la de tudo de que necessita.
- Ela tem comentado com frequência sua preocupação com as dissensões entre os cristãos.

Interessado, Constantino indagou:
- Isso continua?
Pensei que, após todos os nossos esforços, os cristãos estivessem vivendo finalmente em paz...
- Parece que isso ainda não aconteceu.

Constantino sentou-se, tomou um belo cacho de uvas e ofereceu-o a Marco, que recusou, agradecendo.

Depois de saborear algumas uvas, o imperador perguntou interessado:
- Mas afinal, são sérias essas discordâncias?
- Parece que sim.
Elas estão crescendo e criando certa animosidade entre diversos grupos e igrejas.
Alguns bispos se atacam durante as pregações e até os seguidores mais distraídos estão começando a perceber o que se passa.

- Isso não é nada bom, Marco;
ao contrário, essa notícia me preocupa muito.
A última coisa de que preciso é de grupos antagónicos dentro do meu império.
Sobretudo agora, que finalmente ocupo o trono absoluto.

Depois de breve pausa, ele indagou:
- Você acha que essas discórdias tendem a aumentar?
- Se nada for feito, acredito que sim.

- Mas afinal, o que está causando esse antagonismo, essas divergências?
- Não sei ao certo.
Parece que são opiniões conflituantes, pontos de vista diferentes sobre determinados aspectos dos ensinos do Cristo e até mesmo sobre o próprio Cristo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jun 25, 2014 9:24 am

Pensando alto, Constantino comentou:
- Os cristãos unidos me interessam muito.
Eles crescem mais e mais a cada dia e precisam de uma força que os lidere, os conduza...

Marco escutava atentamente.

Constantino prosseguiu:
- Quero ouvir os líderes.
Organize audiências com os principais líderes cristãos.
Quero saber tudo e ver como poderei ajudá-los neste momento.
- Vou convocá-los imediatamente.

Tocando no braço de Marco, o imperador reiterou:
- Faça isso depressa.
Meu reinado precisa ser marcado pela união e pela concórdia.
Como sempre, agradeço suas úteis informações.

Marco esboçou sincero sorriso e saiu.
Constantino foi até a janela novamente e ficou a pensar.

Depois balbuciou:
- Vou dar um jeito nisso, ah, se vou!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jun 25, 2014 9:24 am

DOZE

CONSTANTINO SE PREPARAVA
para o encontro que teria com os principais bispos cristãos.

Apressado, estava com dois servos à sua volta quando Fausta entrou no quarto, dizendo:
- Bom dia, meu imperador.

Ligeiramente contrariado, respondeu:
- Bom dia. O que deseja, Fausta?
- Pedi permissão para vê-lo ontem, mas como não me respondeu vim ao seu encontro assim mesmo.
Há dias não nos vemos.
Temos muito que conversar, meu senhor.

- Hoje não, Fausta.
Tenho compromisso importante com selecto corpo de líderes cristãos.
Amanhã, quem sabe?
Façamos melhor:
assim que tiver algum tempo livre, eu aviso.

A mulher sentiu o sangue subir e queimar-lhe o rosto, à feição de um fogaréu que se acendesse próximo à pele;
procurando manter o controle, disse:
- Já faz tempo que tendo tentado conversar a sós com você e nunca está disponível, excepto...

Constantino apenas fitou-a nos olhos, sem responder.

Ela ia prosseguir quando Marco entrou informando:
- Todos já chegaram e o aguardam no grande salão.
O imperador levantou-se de pronto saiu respondendo:
- Óptimo. Vamos, então.
Ao passar por Fausta, limitou-se a dizer:
- Mando avisar assim que pudermos conversar.

Quando ele deixou a sala, Fausta esmurrou a mesa de madeira e lançou um vaso à parede;
não satisfeita, arremessou também uma cadeira, quebrando uma das pernas.

Em seguida, saiu como a pensar em voz alta:
- Ele nunca tem tempo para mim. Estou cansada disso.
Nem eu nem meus filhos temos recebido atenção.
Nenhuma! Isso não está certo...
Os filhos precisam ficar com o pai...

Constantino entrou no grande salão e ocupou o trono.
Durante horas escutou atentamente as argumentações dos bispos cristãos mais intransigentes e dos que seguiam as orientações de Ario4, provenientes de diversas regiões do império.
Esforçava-se por entender o ponto fundamental da grande divergência que se instalara no clero de todo o império havia quase seis anos; uma questão que se agravava mais e mais, promovendo uma cisão entre os bispos e seus seguidores, começando a despertar o interesse do povo.

A questão ariana tornou-se uma disputa teológica que agitou o mundo romano da época:
como conciliar a divindade de Jesus Cristo com o dogma da fé em um único Deus?

Ao final, sem alcançar concordância alguma, muito menos compreender a fundo o porquê de tanta controvérsia, Constantino confidenciou a Ósio, um dos bispos em quem mais confiava:
- Caro Ósio, não consigo compreender por que tanta discordância...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jun 25, 2014 9:24 am

Ósio aproximou-se bem dele e disse:
- Não se preocupe, senhor imperador, podemos e devemos resolver isso de maneira definitiva.
Os arianos5 estão equivocados...
Deus e Jesus são uma única pessoa que escolhe seus representantes na Terra, como o fez com o santo papa, e também concede a autoridade aos governantes, para que conduzam o povo...

Constantino fitou-o por um segundo.

Depois, ergueu-se e pediu silêncio à grande assembleia, convocando:
- Meus irmãos, estou aqui há horas a ouvi-los com muita atenção.
Compreendo que tenham pontos divergentes, mas para que o Cristianismo cresça e se expanda com força precisam estar unidos.

Essas sérias divergências que manifestaram hoje deixam-me profundamente preocupado.
É urgente maior união de todos - e o Cristianismo merece isso - inclusive de minha parte, como representante máximo do poder da Terra.
E não me furtarei a fazer o melhor pelo bem dos ensinos do Messias.

Fez prolongada pausa, caminhando de um lado a outro, depois prosseguiu:
- É imperativo que nos reunamos novamente, dessa vez em Nicéia - cidade de fácil acesso a todos - para realizar uma grande reunião de conciliação, de onde sairemos com uma linha única a ser seguida por toda a Igreja.
Só que, dessa vez, convocaremos todos os bispos.
O que dizem, senhores?

E olhando para o representante do papa Silvestre I, indagou:
- O santo padre viria a essa ampla reunião de conciliação?
- Sem dúvida, meu senhor.
Suas intenções são das mais nobres, por que ele se negaria?
Ao contrário, estou certo de que incentivará a participação de todos.

Satisfeito, Constantino concluiu:
- Pois muito bem, em breve nos encontraremos em Nicéia.
Marco se encarregará de confirmar a todos a data exacta de nosso encontro.

Levantou-se, despediu-se de todos os bispos, um a um, e se retirou, deixando a assembleia em meio ao burburinho geral.

Mais tarde, comentava com Marco:
- Eles precisam de alguém com visão de liderança.
Alguém que represente a palavra máxima e que defina o rumo a ser seguido por todos.

Depois de pensar um pouco, continuou:
- Estou impressionado com a organização que atingiram.
Eles possuem uma estrutura hierárquica montada, um corpo eclesiástico bem formado e funcionando.
A única coisa de que precisam é ...

Marco fitou o imperador e tentou completar a frase:
- Um Deus na Terra?
Constantino sorriu e corrigiu:
- Um representante fidedigno de Deus, Marco.

O imperador calou-se, ficou pensativo, depois sorriu novamente ao dizer:
- Eles precisam de um pouco mais de poder.
Isso fortalecerá seus ideais e será um excelente motivador a fazê-los unirem-se diante de meus interesses...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jun 25, 2014 9:24 am

- Poder?!
- Isso mesmo, Marco.
Um pouco de poder os fará mais confiantes.
Quero que o encontro não tarde a acontecer.
Não posso perder tempo, abrindo possibilidades para que alguém use contra mim essa desunião dos cristãos...

Núbio estava colado ao ouvido de Constantino, repetindo-lhe diversas vezes o que queria que ele fizesse, e o primeiro quase lhe repetia as palavras:
- Um poder que seja capaz de centralizar todos os interesses da Igreja e que a torne de facto universal:
a Igreja Católica Apostólica Romana.

Ao ouvir a última frase, a entidade das trevas exultou:
- Isso mesmo, Constantino!
Essa reunião será de suma importância para os nossos interesses.

Queremos todos lá...
E aqueles que forem contrários às nossas determinações, destruiremos...
Ninguém poderá opor-se à nossa vontade...
Ninguém pode opor-se a você, Constantino, o grande imperador de Roma...

A entidade espiritual recalcitrante no mal soltou ruidosa gargalhada, que ecoou por todo o prédio, provocando nos mais sensíveis súbito temor.

Nas semanas que se seguiram, Constantino teve diversos encontros com o bispo ortodoxo Ósio, que tentou esclarecer-lhe melhor a natureza teológica das disputas que ameaçavam a unidade da Igreja.
Depois dessas conversas, mesmo sem compreender a disputa teológica que envolvia a questão ariana, Constantino optou por defender a posição dos ortodoxos, aqueles que acreditavam que Jesus e Deus eram uma só pessoa.

Jesus era Deus, e ele, na posição de imperador Romano, teria a autoridade máxima na Terra, concedida por Deus, especialmente se também fosse um cristão confesso.
A questão ariana representava um grande obstáculo à realização da sua ideia de um império universal, que deveria ser alcançado com a ajuda da uniformidade da adoração divina...

Adentrando o grande salão onde Constantino dialogava com Marco sobre suas deliberações, Ernesto e Angélica, envoltos em luminosas emanações, caminhavam em direcção ao trono.

De imediato, Núbio registou a mudança subtil ocorrida nas vibrações do ambiente e comentou com Normando e Plínio:
- Devemos nos afastar. Há perigo próximo.
Fitando o chefe, Normando indagou:
- Que tipo de perigo?
- Sinto uma vibração suave enchendo pouco a pouco o ambiente.
Afastemo-nos agora, para não sermos afectados.

Normando insistiu:
- Como poderíamos ser afectados?
Puxando os dois servidores do mal pela mão, ele respondeu ríspido:
- Fique quieto, Normando...
E sigam-me. Temos de nos afastar deste ambiente.
Vocês não sabem que, se uma entidade de luz nos tocar de alguma forma os sentimentos, podemos sucumbir aos seus apelos?

Dessa vez foi Plínio quem comentou:
- Você deve estar exagerando... Não é possível...
- Cale-se, idiota.
Não tem noção do que está falando.
Eu já vi isso acontecer várias vezes, até mesmo com entidades mais poderosas mentalmente do que eu.
Presenciei tal situação e vi aquele forte espírito prostrado de joelhos, implorando perdão!
Foi uma cena patética e não admito a menor possibilidade de que um dia isso passe por perto de mim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jun 25, 2014 9:25 am

Os dois visitantes luminosos tudo observavam.

Assim que as entidades das trevas se afastaram, Angélica comentou:
- Quanto mal ainda causarão!
Não podem compreender que o maior mal fazem a si próprios...
Sabe quem é esse Núbio?
- Eu o conheço, vem há muito tempo lutando contra o Cristianismo.
Presenciei muitos cristãos sinceros sofrendo profunda dor, impingida por Núbio e seus seguidores directos.
Ele, por sua vez, apesar de muito independente, responde também a uma entidade ainda mais desenvolvida intelectualmente do que ele.

- Como ficaram assim?
- Desenvolveram o conhecimento, mas nada colocaram em prática, e se perderam no orgulho e na vaidade.
O amor, essa jóia do coração que tempera e controla nossos desvarios, anda distante de suas almas.

- Ainda assim, em germe eles trazem o amor dentro de si, não é?
- Sem dúvida alguma.
Essa cena que Núbio descreveu já vi igualmente acontecer muitas vezes, e só é possível graças às sementes de sentimentos elevados que todos os homens trazem no íntimo.

Angélica calou-se, pensativa.

Ernesto acercou-se de Constantino, acompanhando sua conversa com Marco:
- Estou decidido, Marco.
Abafarei a questão ariana e darei poder ao clero.
Controlarei a Igreja, você verá.

Marco não respondeu, ouvindo atentamente.

Ernesto manteve-se calado por mais algum tempo, depois suspirou fundo e falou:
- Infelizmente, Angélica, acho que não poderemos fazer mais nada.
Constantino está firmemente decidido, totalmente influenciado por Núbio.
Ele não só o deixou dominar sua mente, como sente a falta da entidade, quando ela se afasta.
Estão permutando energias o tempo todo.

- E não podemos mesmo fazer nada?
Ernesto meditou um pouco, depois respondeu:
- Faremos uma última tentativa esta noite.
Mas Constantino tem seu livre-arbítrio e está optando por deixar que os aspectos que ele tem de combater nesta encarnação, como condição para realizar sua tarefa sobre a Terra, dominem sua personalidade, tomem seu coração e conduzam suas decisões.
Está totalmente sob o domínio de Núbio.

- E o que faremos?
Ele tem um papel fundamental a cumprir, auxiliando a fortalecer o Cristianismo e sua expansão, contornando as dissensões e fortalecendo seus princípios puros e simples!
Os éditos de tolerância em relação aos cristãos que ele já publicou e outras acções que já implementou em favor do Evangelho confirmam que caminhava na direcção certa.

- Sem dúvida, Angélica.
Ele iniciou sua trajectória, mas os riscos que corria eram grandes.
- Não estava preparado o suficiente?
- Ele tinha todas as condições para realizar sua tarefa.
Mas, para isso, deveria renunciar a vícios mentais de outrora.
Em especial abrir mão da vaidade, e ela fala muito alto ainda na alma de Ferdinando...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jun 25, 2014 9:25 am

- Que poderemos fazer?
- Vamos aguardar para tentar falar com ele durante o sono.
- E se não conseguirmos?
- Então, teremos de deixá-lo entregue às consequências das próprias decisões.
- E quanto ao Cristianismo?
Será prejudicado!

- Constantino não decide sozinho.
A organização eclesiástica que se desenvolveu no contacto dos convertidos ao Cristianismo com as estruturas romanas vem, ao longo das décadas, contaminando de forma negativa a pureza da Boa Nova.
Os homens, devido às suas escolhas equivocadas, afastam-se cada vez mais da fonte verdadeira dos ensinos de Jesus.

Como Angélica permanecia calada, ele prosseguiu:
- Nada podermos fazer para impedir as intenções de Constantino.
Mas tenha certeza, de que outros virão para lutar por trazer o Cristianismo de volta à pureza original.
E certamente as trevas poderão retardar, mas não irão impedir que o Cristianismo seja triunfante, afinal.

Ouvindo Ernesto, e antevendo a situação dolorosa que se delineava, Angélica indagou, com os olhos rasos de lágrimas e o coração comovido pela situação humana:
- Mas quanta dor a humanidade ainda terá de viver?
Tocando-lhe as mãos com amor de pai, Ernesto respondeu:
- Isso eu não saberia dizer...

Naquela noite Ernesto tentou despertar o corpo espiritual de Constantino, adormecido sobre seu corpo físico.
Mas ele não acordava.

A certa altura da delicada operação, Angélica indagou:
- Por que ele não acorda?
- Vê os fios negros que o ligam às entidades das trevas?
- Sim.

- Eles o estão entorpecendo para que não desperte.
- Continuam agindo, ainda que a distância...
- Sim. Eles jamais desistem, uma vez que Constantino lhes elegeu a companhia conscientemente.

Depois de muito tempo em prece, Ernesto finalizou suas actividades, convidando:
- Vamos, Angélica, precisamos ir.
Não poderemos ajudar agora.
Preparemo-nos para prosseguir com o socorro àqueles que se dispuserem a cooperar com Jesus.
Ele busca tais servidores, jamais constrangendo alguém a segui-lo.

Com angústia na voz, Angélica lamentou:
- E Núbio prosseguirá com suas intenções tenebrosas...
- Não permita que o triste quadro que presenciamos desvie seu coração da serenidade e da confiança em Deus.
O Pai tem tudo sob o seu comando.
Os dias de acção livre de Núbio estão acabando.
- Como assim?

- Ele logo viverá nova experiência na Terra, encarnando de novo.
Confie-mos na Providência Divina.
Agora temos de voltar...

E as duas entidades partiram, deixando atrás de si um intenso rastro de luz.

4 Presbítero cristão de Alexandria fundador da doutrina cristã do arianismo.
5 O arianismo foi a visão cristológica sustentada pelos seguidores de Ario nos primeiros tempos da Igreja primitiva, que negava a consubstancialidade entre Jesus e Deus, que os igualasse, e fazia do Cristo pré-existente uma criatura, embora a primeira e mais excelsa de todas, que encarnara em Jesus de Nazaré.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jun 25, 2014 9:25 am

TREZE
No VERÃO DE 325
, em Nicéia, Constantino presidia a primeira conferência mundial dos bispos da igreja cristã.

Estavam presentes cerca de 250 bispos de todo o império, além de padres acompanhantes e diáconos.
Foram oferecidas aos bispos as comodidades do sistema de transporte imperial - livre transporte e alojamento de e para o local da conferência - para encorajar o maior número possível de audiência.
E o objectivo foi atingido, pois todo o corpo eclesiástico da época compareceu em peso àquele que seria um dos marcos da fundação da Igreja Católica6.

O imperador abriu a reunião.
- Sejam bem-vindos.
Como já devem saber, nosso único propósito é resolver disputas internas e fortalecer o Cristianismo, para que ele cresça ainda mais.
Todos sabem que há muito venho me esforçando por contribuir com a expansão desta bela religião.

Sou cristão e toda a minha família também o é.
Desde que comecei a governar, tenho dado atenção especial às questões cristãs.
Muitas vezes temos deparado com opiniões divergentes e temos de saná-las, para o bem geral.
Esse é nosso objectivo aqui, e para alcançá-lo vamos ouvir a todos.

Um dos bispos que seguia a visão ariana de que Jesus era um enviado de Deus, mas de natureza exclusivamente humana, falou baixinho ao colega a seu lado:
- Será que ele está de facto bem intencionado?
Sinto algo suspeito...

O outro respondeu:
- Será? Ele tem dado boas contribuições para o Cristianismo.
Veja o Edito de Constantino.
Com ele, o domingo ficou definido como o dia de adoração a Deus.
Recorda-se de como estava difícil essa definição?
A ala judaica queria o sábado, e os romanos preferiam o domingo.

- Lembro bem como estava ficando confuso.
Mas igualmente não esqueci outros comentários que escutei sobre a escolha do domingo.
- Que tipo de comentários?
- Parece que foi escolhido também porque é o dia do sol, do culto do Sol Invictus, celebrado pelos romanos.
Por isso desconfio das reais intenções de Constantino e não me sinto totalmente convencido.

O outro se calou, pensativo.
Os discursos começaram.
Os primeiros a argumentar foram os defensores da questão ariana.
A princípio teve a palavra o próprio Ário, seguido de seus discípulos mais devotados, Eusébio da Nicomedia e Eusébio de Cesareia.

Depois de eloquente e entusiasmada exposição dos arianos, foi a vez dos ortodoxos.
Vários deles falaram, especialmente Atanásio, diácono novo e companheiro de Alexandre, de Alexandria, lutador vigoroso contra os arianos;
depois Eustáquio de Antioquia e Macário, de Jerusalém.
Não obstante, muito antes de terminarem as discussões, Constantino tinha tomado todas as decisões concernentes àquele encontro.

Dali sairia a forte Igreja, comandada indirectamente por ele.
Esgotados os debates, Constantino propôs uma votação.
E todos foram a favor da posição ortodoxa, com excepção de Ário, Eusébio e Eusébio de Cesareia.

A sentença para os perdedores foi dramática:
os três foram exilados, as obras de Ário condenadas à fogueira e todos aqueles que porventura as possuíssem seriam mortos.
O direito à liberdade intelectual foi vencido pela exigência de conformidade espiritual da parte dos membros da Igreja à extensa e crescente organização eclesiástica.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jun 25, 2014 9:25 am

O Estado romano concedeu às deliberações daquele corpo eclesiástico o poder imperial.
Por fim, afastada em definitivo a ameaçadora questão ariana, os participantes estabeleceram a profissão de fé:
os vinte cânones que deveriam nortear a Igreja a partir daquela data.

Nascia, assim, a Igreja Católica Apostólica Romana.
Roma tomou posse do Cristianismo e subjugou-o para usá-lo a seu favor, com a anuência do corpo eclesiástico.

Ao final, o imperador decretou:
- Os que resistirem ao divino juízo deste sínodo podem preparar-se para um exílio imediato.

Depois de seis anos de disputa, coube as decisões do Concilio de Nicéia manter e perpetuar a unidade da fé.
Os éditos posteriores de Constantino visavam infundir em seus súbditos a aversão pelos arianos.

A reunião foi encerrada.
Um a um os presentes foram deixando o grande salão, que ficou frio e vazio.
Constantino, que permaneceu por longo tempo em seu trono, sentiu calafrios a lhe percorrerem o corpo.
Obtivera o que desejava, mas por alguma razão que desconhecia não se sentia feliz.

Algo o incomodava.
Ao seu lado, Núbio gargalhava satisfeito.
Ele, sim, sentia satisfação total pelos objectivos atingidos.

Naquela noite tinha consigo uma legião, e ria afirmando:
- Venceremos o Nazareno!
Vocês podem acreditar em mim.
Vejam a nossa vitória!
De hoje em diante, afundaremos o Cristianismo em dogmas e mais dogmas.
Ele jamais se erguerá de novo!
E continuava gargalhando espalhafatoso, admirado pelos seus seguidores.

6 Católico quer dizer, em sua acepção etimológica, universal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:43 am

QUATORZE

NÃO DEMOROU PARA
que a notícia chegasse aos ouvidos de Constância, que, acamada, recebeu-a com indizível sofrimento:
- O que me diz, Helena?
Tem certeza de que isso é verdade?
- Infelizmente sim, senhora.

- Não é possível!
Meu irmão não está agindo correctamente...
Ele deveria tentar compreender melhor o que se passa junto aos cristãos, e não simplesmente admitir que dogmas e regras estranhos aos ensinos do Mestre sejam inseridos com essa naturalidade.

Calou-se momentaneamente.

Observou o céu pela janela e pediu:
- Abra um pouco a janela, Helena, que o ar está me faltando.
Depois de atender sua senhora, Helena voltou e sentou-se outra vez ao seu lado.
Constância suspirou profundamente e disse quase num gemido:
-Ai, meu Deus...

Assustada, Helena indagou solícita:
- Não se sente bem?
Quer que eu chame alguém?
Fez menção de erguer-se, mas Constância segurou-lhe o braço:
- Não, minha filha, não precisa.
Estou profundamente entristecida.
Sei que meu irmão está equivocado e se entrega cada vez mais a um fundo abismo.

Olhando-a com ternura, Helena admoestou:
- A senhora precisa reagir!
Desde que Licínio partiu a tristeza instalou-se em seu olhar, em sua voz, em seu coração.
É necessário que se reequilibre, minha senhora.
Temos muito trabalho na seara de Jesus.

Com os olhos rasos de lágrimas que logo lhe desciam pela face, ela esboçou ligeiro sorriso, dizendo:
- Querida Helena, tem toda a razão.
Sei que nossas tarefas são extensas e que muitos dependem de nosso trabalho...
Mas os golpes têm sido duros...

Sem responder, Helena segurou firme as mãos de Constância e apertou-as carinhosamente entre as suas.

A segunda prosseguiu:
- E agora, mais esse golpe que tanto me entristece...
Vejo com grande receio as mudanças que Constantino está impondo aos ensinos cristãos.
Temo pelo futuro daqueles que terão somente esses ensinos deturpados que começam a tomar consistência em nosso meio;
e agora, ainda mais, sancionados pelo próprio imperador...
E os bispos, os presbíteros, como podem aceitar tamanha invasão do poder romano?
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Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:44 am

- Acho que até estão contentes...
- Mas por quê?
Não entendo... Inspirada por Angélica, Helena respondeu:
- Muitos haverão de se levantar para lembrar aos cristãos as verdadeiras lições de Jesus.
Não se preocupe.

Reconhecendo o tom profético das palavras da serva e amiga, Constância indagou:
- O que está querendo dizer?
- Que não podemos desanimar.
- Mas estão calando Ário e seus seguidores, estão calando a verdade...

- Não importa.
Alguns poderão se calar, mas outros se levantarão e a verdade prevalecerá!
Temos de confiar em Deus e fazer a nossa parte!
A verdade nunca ficará sufocada, por mais que o tentem.
Ela prevalecerá!

Com o corpo enfraquecido pelos sucessivos golpes emocionais que sofrerá, Constância acomodou-se no travesseiro e suspirou, depois de breve pausa:
- Ah, minha querida Helena, estou cansada.
Sinto-me só; tenho apenas você e meu filho;
dói-me a saudade de Licínio, assim como me magoam a distância e a indiferença de Constantino;
mais ainda, seus desmandos e suas decisões equivocadas com relação ao nosso Mestre.
Ele age como se quisesse agradar aos cristãos, mas está traindo Jesus, e não sei por que faz isso...

Não conseguiu prosseguir.
Envolvida pela dor, entregou-se a convulsivo pranto.

Helena trouxe-lhe água e avisou:
- Vou preparar-lhe um chá para que se acalme, senhora.
Não pode continuar a se martirizar assim.
Seu corpo está cada vez mais fraco e temo seriamente pela sua saúde...
Agora tente descansar, eu já volto.

Sendo tarde da noite e preocupada com a situação de Constância, a serva logo providenciou a bebida calmante, e sugeriu:
- Tente dormir agora.
O chá deverá ajudar, procure descansar.

Arrumando as cobertas sobre a cama, voltou-se para a dama da alta sociedade romana e perguntou:
- Quer que eu fique aqui fazendo-lhe companhia?
- Não, querida, estou bem. Vá se deitar.
Você tem se dedicado muito e também deve descansar.
Não insista, por favor. Eu realmente preciso ficar sozinha.

Percebendo que seria inútil insistir, Helena foi para seu quarto, ao lado do de Constância, e ajoelhando-se ante o leito suplicou a Jesus ajuda e amparo, entristecida pelos rumos que Constantino imprimia ao movimento dos cristãos.
Depois, sentindo-se suavemente confortada, deitou-se e adormeceu.

Logo seu corpo espiritual despertou e viu Angélica, que a convidou:
- Temos trabalho a fazer, venha.
Constância precisa de toda a nossa ajuda.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:44 am

Ambas foram até o quarto da irmã de Constantino, ainda em dificuldade para repousar, com um sono leve e angustiado.
Estenderam as mãos sobre o seu corpo, e após uma transferência abundante de energia ela se acalmou e adormeceu pesadamente.
Logo o corpo espiritual de Constância pairava, em repouso, sobre seu corpo físico.

Carinhosamente Angélica a chamou:
- Constância, somos nós, seus amigos, que aqui estamos e precisamos falar-lhe.
Aos poucos, Constância em espírito, ganhou lucidez:
- Não me sinto bem... Estou fraca.

Amparando-a, Angélica aconselhou:
- Tome este copo de água e espere um pouco.
Deverá auxiliar.
Minutos depois de sorver toda a água, Constância parecia um pouco mais fortalecida;
fitando as amigas disse, entre lágrimas:
- É bom vê-las...
Estou precisando de ajuda...

Enlaçando-a com ternura de mãe, Angélica afirmou:
- Por isso estamos aqui, para ajudá-la. Venha connosco.
- Para onde vamos?
Vão me levar embora?
Está na hora de deixar o corpo físico?

- Não, querida, ainda não. Tem muito trabalho a fazer e sua presença na Terra é por ora indispensável.
Os cristãos precisam que lhes infunda fé e esperança para ajudá-los a não esquecer o belo e simples Evangelho de Jesus.
Vamos buscar auxílio para fortalecê-la na sequência de sua tarefa.

Segurando Constância pela mão, em alguns minutos estavam diante de um belíssimo vale, cheio de lindas flores, pássaros voando por toda parte e lindos animais correndo de um lado a outro em meio à vegetação.

Seguiram por um caminho cercado de árvores frondosas.
Mais adiante, surgia uma cidade luminosa, e melodiosa música soava pelo ar.
À medida que ouvia a música e sentia as suaves e harmoniosas vibrações do ambiente, Constância sentia-se mais forte.

Angélica indagou:
- Sabe onde estamos?
- Não me lembro.
Sei que conheço este lugar, ele me é tão familiar...
Contudo, não consigo lembrar.
Só sei que me sinto muito bem aqui.
- Este é o seu lar, Constância.

A dama romana fitou-a, buscando na memória aquilo que Angélica lhe dizia, e por fim sorriu feliz como há muito não fazia.

- É claro! Meu lar...
Como poderia esquecer tão abençoada morada espiritual?

Caminharam animadas.
Constância, recordando-se cada vez mais de seu lugar de origem, recobrava mais e mais as energias.
Chegaram em uma casa simpática, rodeada por lindos jardins.
A construção era sóbria e ampla, com varandas circundando-a.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:44 am

Assim que se aproximaram, uma simpática senhora apareceu na porta e saudou:
- Que alegria, Constância chegou!

Foram recebidas na bela residência, cujo interior também era adornado com objectos de arte de suave beleza.
Constância reconhecia cada objecto, cada quadro, cada móvel, lembrando-se com clareza de sua antiga casa.
Sentaram-se, acolhidas por amigos devotados.

A conversa corria animada quando Ernesto chegou, feliz, e abraçando a visitante falou:
- Que bom que conseguiram trazê-la hoje.
Há dias estamos tentando, mas seu estado físico não permitia;
foi preciso fortalecê-la primeiro.

Enquanto conversavam, música sublime ecoava pelos ares.
Aquele mundo elevado e belo era o lar de origem de Constância.
A palestra continuou por longo tempo, e Ernesto ia relembrando a trabalhadora da Terra de seus compromissos e desejos antes de retomar o corpo físico que ora ocupava no planeta.

Com a memória aclarada ela disse, ao final:
- Estou envergonhada, Ernesto.
Como pude deixar-me abater tanto?

- Não se sinta envergonhada, Constância.
O torpor do esquecimento que nos domina no orbe representa grande desafio e acentuado perigo.
Disso, todos sabemos.
Mesmo com seu nível de elevação e consciência, estar mergulhada no corpo denso da Terra envolve riscos.
Por isso, estamos aqui para ajudar.
Reavivar suas lembranças fez-se imperioso.

Levantando-se, ela disse:
- Agora que me recordo vivamente de tudo, estou pronta para retornar.
Mais do que nunca, os compromissos que me levaram ao planeta chamam por mim.
Comovida, ela disse, fitando seus mais doces afectos:
- Agradeço-lhes por não me abandonarem nunca, mesmo nos meus momentos de fraqueza.
Muito obrigada. Agora, preciso retornar.

Helena e Angélica acercaram-se dela, e a segunda disse:
- Pois então vamos, que o dia está prestes a raiar na Terra.

Abraçando os amigos um a um, Constância se despediu e partiu com as companheiras.
Assim que retornaram, ela acomodou-se sobre seu corpo físico.

Olhando com carinho aquelas que eram suas irmãs de longas caminhadas sobre a Terra em outros tempos, comentou:
- O adensamento da matéria chega a ser doloroso, porém não vou mais fraquejar.
Estou aqui para trabalhar e é isso o que vou fazer.

Após abraçar as duas com carinho, ajustou-se melhor ao corpo físico.
As outras impuseram-lhe novamente as mãos, envolvendo-a em intensa transfusão de energias.
Logo o dia amanheceu e raios de sol entravam pelas venezianas da ampla janela.
Constância despertou, sentou-se na cama e relembrou aquela experiência maravilhosa que poderia ser tomada por um sonho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:44 am

Então balbuciou:
- É claro que não foi um sonho.
Antes que terminasse, Helena entrou no aposento e disse:
- Como se sente, senhora?
Constância levantou-se e abraçou Helena com ternura, sorrindo ao dizer:
- Ora, minha irmã, não me chame de senhora nunca mais...
Sua humildade me comove.

Helena, que também mantinha total lembrança da vivência espiritual que ambas haviam partilhado, sorriu e disse, limpando as lágrimas:
- Como Jesus é bom!
Sempre nos envia ajuda...

A partir daí Constância entregou-se ao trabalho pelo Evangelho de maneira incansável.
Esforçou-se por esquecer as próprias dores e inquietações e lançou-se ao serviço em favor dos necessitados.

Sua primeira atitude foi procurar alguns amigos mais próximos e propor-lhes:
- Não me sinto bem na igreja de Tessalónica.
Se isso já não acontecia antes, agora não consigo ficar lá dentro.
Não reconheço os ensinos de Jesus, nas palavras do bispo, elas me soam vazias.

- Sinto da mesma forma - concordou Helena.
- Então vamos começar nossa própria Igreja.
Olhando-a com estranheza, Juliano indagou:
- Será mesmo o melhor a fazer, mãe?

Sem titubear, ela prosseguiu:
- Sim, meu filho.
Além do mais, não posso aceitar o facto de que estarmos proibidos de receber as orientações dos nossos irmãos espirituais.
Isso é de grande importância para podermos saber que decisões tomar nos momentos mais difíceis, ou diante de um grande desafio. Mas estamos proibidos...
É lamentável, e precisamos adoptar uma atitude firme.

- Mãe, você sabe que, por ordem de Constantino, qualquer um que ensine de modo diferente dos dogmas definidos em Nicéia poderá pagar até com a morte!
- Vamos confiar em Deus e fazer nossa parte.
Se isso tiver de ocorrer, é porque é necessário.

Olhando para Helena, perguntou:
- O que acha, amiga?
- Temos como fazer.
Muitos de nossos irmãos aguardam essa oportunidade, pois estão igualmente insatisfeitos com os rumos que a Igreja vem tomando.
- Pois então, está decidido. Vou encontrar um bom lugar e aviso a todos.
Não quero mais perder tempo.

Em uma semana um pequeno grupo de doze pessoas chegava para a primeira reunião.
Recebidos por Helena, foram se acomodando.

Eliseu indagou:
- Onde está Constância? Ela não vem?
- Já deve estar chegando.
E nos traz uma grata surpresa.
- Que surpresa será essa?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:44 am

Eliseu estava curioso.

- Eles logo estarão aqui.
- Eles? Então se trata de uma pessoa?
Antes que Helena pudesse responder, Constância apareceu à porta, sorridente, falou enquanto entrava:
- Que a paz de Jesus envolva a todos.
Trouxe uma surpresa...

Assim que ela entrou, viu-se no vão da porta, a figura suave de Ário, que entrou em seguida e também cumprimentou:
- Que a paz de Jesus esteja connosco, irmãos.

Doces emoções envolveram os presentes.
Ário cumprimentou um por um, osculando-lhes as mãos com genuína humildade.
Depois, sentou-se ao lado de Constância, na frente da sala, diante de todos.

Ela ergueu-se e disse:
- Meus irmãos, boa noite.
É com muita alegria que estamos aqui nesta noite para iniciar uma nova Casa de Jesus.
Neste lar nos encontraremos para orar e estudar o Evangelho, bem como compartilhar os desafios da jornada terrena.

Vamos também ouvir nossos irmãos espirituais, como temos feito desde que Jesus voltou ao seu lar luminoso nas dimensões mais elevadas.
E é aqui que receberemos, ainda, todos aqueles que necessitem de socorro e amparo, sejam de carácter material ou espiritual.
Para dar início às nossas modestas actividades, convidamos o bispo Ário para estar connosco.

E ele, gentilmente, aceitou.
A ele solicitamos, então, que faça a prece de abertura, dando por iniciada nossa reunião...
O bispo Ário, coberto por suaves luzes que desciam sobre ele e depois se expandiam para todo o grupo, pronunciou fervorosa oração, rogando as bênçãos do Mais Alto para aquela tarefa que se iniciava na seara de Jesus.

A comoção tomou conta de todos.
Não tardou e a doce Angélica se materializou entre eles, diante dos olhos dos presentes.

Dela emanava intensa luz cumprimentou a todos:
- Meus irmãos amados, nós, do plano espiritual, estamos felizes pela iniciativa a que estão se dedicando.
E para nós motivo de grande júbilo.
Manter acesa sobre a Terra a chama do amor ao próximo, da humildade, da sinceridade de propósitos e do esforço de auto aperfeiçoamento é o caminho para preservarmos a pureza dos ensinos do Evangelho do Mestre Jesus.

Abracem este propósito com determinação, pois muitos serão os obstáculos que enfrentarão.
Não desanimem, estaremos sempre com vocês.

Várias outras entidades espirituais podiam ser vistas pelos presentes, emitindo muita luz, que agora banhava toda a pequena sala onde se abrigava o grupo.
Os trabalhadores do espaço, vindos em nome de Jesus, impunham as mãos sobre os encarnados e lhes infundiam energias físicas e perispirituais, enchendo-os de esperança e confiança.
Depois, foram desaparecendo, um a um.

Por fim, Angélica se despediu:
- Permaneçam ligados aos ensinamentos de Jesus, não apenas conversando sobre eles, mas, como fiéis servidores do Mestre, seguindo seus exemplos na vida de cada dia.
Fiquem em paz.

Depois que Angélica desmaterializou-se, Constância e Ário continuavam a vê-la, agora no plano espiritual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:45 am

Ele fez sinal para que Constância assumisse novamente, mas ela, dominada pela emoção, pediu:
- Não posso... Poderia conduzir a reunião de hoje, for favor?

Ário levantou-se e falou, sob forte envolvimento espiritual, das belezas do mundo espiritual evoluído, e da maravilha que representava para todos os homens a possibilidade de estarem em constante contacto com os espíritos, para serem por eles orientados e dirigidos.
Lembrou, ainda, que outros tipos de espíritos rondam os homens e que estar com Jesus sempre é fundamental para a defesa contra sua influência.

Concluiu a bela explanação lembrando as palavras de Jesus:
- "Quem não é por nós, é contra nós."
Sigamos Jesus com todo o nosso coração.
Estejamos dispostos a viver seus ensinos e a seguir-lhe os exemplos.
Ele estará sempre connosco, conforme prometeu, "até a consumação dos séculos".

Depois de encerrada a reunião, permaneceram ainda longo tempo em elevada conversação, escutando de Ário as informações sobre os últimos acontecimentos de Nicéia e a iminente realidade de seu exílio.

Ele os orientou sobre diversas actividades que passariam a executar na Casa e sugeriu:
- Façam desta mais uma Casa do Caminho e recebam todos os necessitados na luta terrena.

Antes de sair, entregou vários de seus textos a Constância, dizendo:
- Eis aqui os pergaminhos que me solicitou.
São diversos textos que grafei sobre o que tenho aprendido e reflectido sobre o Evangelho, sobre Jesus e sobre a natureza do Mestre.
Tenham cuidado, pois Constantino proibiu que sejam lidos.
Tenho apenas esta cópia e mais uma, que está devidamente guardada.
Façam bom uso.

Segurando os textos com cuidado, Constância respondeu:
- Vamos cuidar muito bem, querido amigo.
Muito obrigada pela sua presença entre nós nesta noite e pelos seus ensinamentos.

Olhando-a com ternura, ele se dirigiu a
- Queridos irmãos, não se desviem da simplicidade do Evangelho.
Meus dias na Terra terminarão em breve.
Fortaleçam-se no estudo, na oração e no trabalho em favor do bem comum.
Amem-se uns aos outros e ensinem o Evangelho com o exemplo de suas vidas.

Despediram-se com um abraço, retornando todos aos seus lares.
A pequena casa brilhava com grande intensidade, e embora não pudesse ser registado pelos homens da Terra, seu brilho era visível do espaço.

Da colónia espiritual em que se encontrava, Ernesto vibrou de alegria:
- Mais um ponto de luz sobre a Terra! Graças a Deus!
Enquanto tantas luzes se apagam rapidamente, algumas se acendem e outras lutam por brilhar apesar dos desmandos eclesiásticos.
Que Jesus nos abençoe e ajude!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:45 am

QUINZE

COM o PODER IMPERIAL
recebido, o corpo eclesiástico dos bispos ortodoxos ganhou grande força.
Aqueles que não aceitavam as novas orientações e insistiam em seguir as ideias de Ário eram perseguidos, humilhados, exilados.

Todas as obras escritas por ele que encontraram foram queimadas, inclusive as do próprio Ário.
A única que restou foi a que estava em poder de Constância, que foi poupada pelo imperador.
Ele fez vistas grossas às reuniões que a irmã liderava.

Quando o bispo Ósio lhe cobrava uma atitude, argumentava:
- Por que se incomodam tanto?
O que faz Constância de mal?
Aquela pequena casa recebe doentes e pessoas famintas e tornou-se a razão de viver de minha irmã, não quero que a impeçam.
Deixem-na viver. Ela já sofreu demais, não quero que a aborreçam.

Osio se irritava com a atitude do imperador, e não obstante usasse todos os argumentos de que dispunha, não conseguiu mover em nada as disposições de Constantino que, ao contrário, de quando em quando visitava a Casa do Caminho que a irmã coordenava, deixando-a profundamente feliz.

Por outro lado, Fausta enchia-se cada vez mais de mágoa e ressentimento pelo marido, e envolvida por Licínio, que não a deixava um só minuto, alimentando-se das energias deletérias que o ódio dela gerava, sentia seu rancor aumentar a cada dia.

Naquela manhã ela fazia o desjejum em companhia do marido, determinada a falar-lhe da necessidade de dar maior atenção aos filhos, quando Crispus entrou na sala, satisfeito, informando:
- Pai, acabamos de fechar uma fantástica negociação com os persas e compramos uma frota de navios inteiramente nova.
Vão entregá-la em cerca de um ano, e poderei acompanhar pessoalmente o acabamento das naus.
Era isso que você queria?

Satisfeito, Constantino convidou-o:
- Sim, era isso mesmo.
Agora venha, sente-se ao meu lado para um desjejum connosco.
- Eu já tomei...

- Então não me prive da sua companhia.
Venha, sente-se ao meu lado, meu filho.
Estou orgulhoso!
Você me lembra a mim mesmo, na sua idade...

Fausta tinha os olhos falseando de ódio, e naquele momento decidiu, incentivada por Licínio, que tomaria uma atitude firme contra o jovem, ou ele teria toda a atenção do imperador e seria seu sucessor natural.
Ela não poderia deixar isso acontecer.

Licínio lhe soprava ao ouvido:
- Um de seus filhos deve ser o sucessor de Constantino, e não esse Crispus, arrogante como o pai.
Inconformada e profundamente irritada, ela não se conteve.

Erguendo-se, olhou para o imperador e comunicou:
- Preciso sair agora, meu senhor.
Ele, surpreso, comentou:
- Mas ainda não terminou de comer, e disse que queria falar-me.
- O apetite me deixou, e igualmente o ânimo de conversar.
Não me sinto bem, preciso retirar-me, com o seu consentimento, senhor.
- Você o tem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:45 am

E permaneceram os dois em longa conversação de teor militar.
Já em seus aposentos Fausta desatou, colérica, a gritar impropérios contra o imperador;
chegou mesmo a assustar sua serviçal, acostumada a suas crises de raiva constantes.

Depois de esbravejar, atirar objectos e se descabelar no acesso de raiva, sentou-se diante do espelho e observou-se exausta.
Licínio, satisfeito pelos resultados que obtinha, insistia tenaz nas provocações.

Aproveitando o momento de aparente calmaria, aproximou-se e sussurrou-lhe:
- Você está ficando velha.
Seus filhos estão crescendo e, se não tomar uma atitude agora, acabará por perder o marido e seus filhos ficarão sem o trono.
Olhe para você.
Acha que ele não vai trocá-la em breve por uma mulher mais jovem e bela, como fez ao deixar a primeira esposa por você?

Preste atenção. Você precisa fazer alguma coisa, e logo.
Acabe com Crispus!
Tire-o de seu caminho o quanto antes.
Não perca mais tempo.

Totalmente envolvida pelas sugestões de Licínio, que tomava por suas, ergueu-se resoluta.
- É isso mesmo.
Chega de gritos e choro.
Vou tomar a atitude que já deveria ter tomado!
Vou afastar Crispus de meu caminho, ah, se vou!

Parando por um instante, pensou em voz alta:
- Mas como o farei?
Outra vez Licínio sussurrou:
- Não se preocupe.
Tenho um plano perfeito para você destruir o pai e o filho ao mesmo tempo.

Ela acatou de imediato a sugestão.
- Logo terei uma ideia brilhante para acabar com os dois...
Licínio, sorrindo sarcasticamente, murmurou:
- Como é estúpida e fraca...

Dias depois, Constantino embarcava com Crispus para acompanhar de perto a construção das naus.
Nutria profunda admiração e grande paixão pelo mar e por forças bélicas marítimas.
Apreciava as armadas gigantescas, com seus aparatos bélicos e suas velas enormes, pesadas; tudo isso o fascinava.

O imperador caminhava animado pelo corredor do imenso palácio de Bizâncio, quando Fausta o chamou, desejando despedir-se do esposo.

- Então está de partida, meu senhor?
- Já havia mandado lhe avisar.
- Eu sei. Estou aqui para despedir-me e desejar-lhe uma viagem segura.
- Eu terei, obrigado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:45 am

Aproximando-se mais do esposo, ela sussurrou-lhe:
- Tenha cuidado, meu senhor, muitos olhos o espreitam, intentando destruir-lhe a paz e a alegria.
São seus inimigos mesmo aqueles que comem com o senhor!
Assustado, o imperador afastou-se um pouco e indagou:
- O que diz?

Ela insistiu:
- Peço-lhe tão-somente que tenha cuidado.
Aqueles em quem confia poderão traí-lo, meu imperador...

Segurando-a pelo braço com firmeza, ele indagou novamente, perturbado:
- Explique o que está tentando dizer.
Fale de uma vez! O que está insinuando?
Sabe alguma coisa? O quê?

Muito suave e simulando preocupação, ela comentou:
- Os servos dizem muitas coisas por estes corredores, senhor.
O vaivém de informações é incessante...
Diz-se que Crispus alardeia aos ventos que deseja sucedê-lo no trono do império romano.
Fala-se mesmo que já está preparado para tal, quando a hora chegar.

Fitando-a incrédulo, ele comentou:
- E ele será, sem dúvida, meu sucessor. Que tem isso?
- Nada, meu senhor, se ele não dissesse também que sabe mais que o imperador e fará melhor governo do que vossa majestade.

Imediatamente o sangue sumiu do rosto de Constantino.
Velhos medos, resquício das antigas disputas vividas, acenderam-se-lhe na alma e inexprimível angústia apossou-se dele.
De imediato, Licínio percebeu-lhe a reacção e viu que as palavras da consorte lhe haviam ateado fogo ao coração.

Então cochichou aos seus ouvidos:
- Ele quer tomar-lhe o trono, é isso o que deseja.
Vai fazer de tudo para usurpar-lhe o poder.
É seu inimigo e está prestes a traí-lo.
Prepara um grande complô para tirá-lo do trono.

Esforçando-se ao máximo para controlar seus impulsos, Constantino enfim respondeu a Fausta:
- Assim que regressarmos iremos todos a Roma para celebrar os vinte anos de meu reinado, de meu domínio, de meu poder.
- Sim, meu senhor, sei que se prepara em Roma uma grande festa a ser dada em sua honrosa homenagem.
Deseja que eu vá até lá para acompanhar os preparativos?

- Não vejo necessidade, apenas esteja pronta.
- Posso ir, se desejar, meu senhor.
- Pois então vá, Fausta, e esteja certa de que tudo, absolutamente tudo, esteja perfeito.
Ao retornar, logo irei para Roma.

- Farei o melhor ao meu alcance...
Afinal, são vinte anos de glória que precisam ser celebrados!
Despediram-se. Marco, que ouvira a conversa a meia-distância, aproximou-se do imperador e comentou:
- Acha que ela falou a verdade?
- Algo me diz que é possível.
Vamos ficar atentos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:46 am

- Não creio que Crispus seja capaz de uma traição dessas, senhor.
- Meu caro Marco, sua lealdade e sua pureza o impedem de enxergar com clareza a alma humana, não é mesmo?

Marco se manteve calado e Constantino prosseguiu, instigado pelas palavras de Licínio, que permanecia ao seu redor, repetindo-lhe impropérios sobre o filho.

- Todo homem é capaz de tudo pelo poder.
Crispus já me tem chamado a atenção há muito tempo, tentando sempre se igualar a mim.
- Mas ele é seu filho;
cresceu bem perto, assistindo à sua trajectória;
é natural que nutra admiração pelo pai e que deseje imitá-lo.

Fitando o amigo, ele quase se deixou envolver por suas palavras, mas Licínio argumentou:
- Marco é ingénuo demais e sua submissão o impede de enxergar com clareza;
não é um bom juiz para esse assunto.
Melhor nem discutir com ele, pois nada poderá auxiliar nesta questão.

Constantino calou-se por longo tempo.

Quando afinal estavam perto da embarcação que utilizariam para chegar ao porto, onde eram construídas as naus romanas, disse a Marco:
- Não comente nada com ninguém sobre o que conversamos no caminho.
Fique de olhos e ouvidos bem abertos e, ao menor sinal, me avise.
Farei o mesmo.
- Sim, meu senhor.

Entraram. Durante toda a viagem, Licínio buscou oportunidades de confundir as situações e, ligado à mente de Constantino, fazia-o enxergar distorcidos todos os factos.

Assim, qualquer gesto do filho ele interpretava por provocação;
começou a instalar-se um sentimento de irritação recíproca entre Constantino e Crispus, sem motivo aparente.
A irritação passou depressa à fúria, e antes de atracarem no porto de destino os dois tiveram exasperada discussão e Constantino decidiu retornar.

Ofendido, Crispus não podia compreender o que se passava com o pai, que de uma hora para a outra passou a tratá-lo com desconfiança e azedume, como se ele o houvesse ofendido seriamente.

Licínio vibrava.
Conseguira mais um sucesso contra o inimigo.
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Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:46 am

DEZASSEIS

DEPOIS DA DISCUSSÃO
, pai e filho não se falaram mais.
Amargurado, Crispus estava decidido a não participar das festividades em Roma.

No entanto, Marco, sabedor de sua intenção, procurou-o em segredo e argumentou:
- Acho um erro você não ir.
Será um momento importante e marcante para seu pai.
Mesmo que agora esteja magoado com ele, se for, encontrarão um meio de resolver o problema.
Se não for, ele poderá interpretar de modo errado e a distância entre vocês se aprofundará ainda mais.

O rapaz comentou, aborrecido:
- Não sei, Marco.
Não posso compreender meu pai.
O que aconteceu com ele?

Marco queria contar ao rapaz das suspeitas que o pai acalentava no coração;
todavia, como prometera ao imperador que não o faria, limitou-se a defender Constantino.

-Tente aceitar seu pai como é:
um general que já realizou muito pelo império e que merece o respeito de todos nós.
Se um dia você for o imperador, desejará o mesmo de seus servidores e até de seus filhos.

Crispus não respondeu, mas as palavras de Marco calaram-lhe fundo.
Marco despediu-se e saiu.

- Pense bem no que eu lhe disse.
Crispus balançou a cabeça e respondeu:
- Vou pensar.

* * *
A cidade estava enfeitada para receber o grande e único imperador Romano.
Constantino era aclamado pelo povo, e especialmente os cristãos de Roma o aguardavam com verdadeiro sentimento de gratidão.

Ele representava a libertação para eles:
libertação do medo, da insegurança e da dor.
Era a figura que restituíra a tranquilidade aos lares que tinham o Cristianismo como religião.

Devolvera a dignidade e a paz aos seguidores de Cristo e ao clero em geral.
Todos o aclamavam como o grande César.
Os festejos transcorriam conforme esperado.
Muitas homenagens e apresentações artísticas aconteciam em diversos lugares.

Quanto a Constantino, embora usufruísse com entusiasmo aquelas demonstrações de respeito e até de adoração, sentia profunda insatisfação íntima.
Licínio não o abandonara e o perturbava dia e noite, insuflando-o contra o filho.

Naquela noite o ar estava perfumado com o aroma dos pratos preparados em tributo ao imperador.
Comidas exóticas de regiões distantes e as iguarias predilectas do poderoso César também foram oferecidas.
Belas mulheres enfeitavam a festa, usando suas mais lindas vestes.
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Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:46 am

Constantino entrou no grande salão onde todos o aguardavam para o banquete mais importante que marcaria as comemorações.

Sentou-se ao lado da esposa, que logo indagou:
- Está tudo a seu contento, meu senhor?
- Sim, tudo perfeito.

Ela sorriu satisfeita e comentou:
- Pena que Crispus insista em não o prestigiar.
Todas as autoridades romanas estão aqui, e inclusive os imperadores das regiões vizinhas nos enviaram seus representantes ou vieram pessoalmente.
Todos reconhecem seu poderio, menos...

- Cale-se, Fausta.
Estou ficando cansado de suas provocações.
- Minhas provocações?!
- Já basta!

Ela ia responder, mas observou que Crispus acabava de entrar no grande salão e imediatamente foi notado pelo pai e por aqueles que já sabiam do desentendimento entre os dois.

O rapaz se acomodou junto de mais alguns homens, e Fausta aproveitou para dizer:
- Eu ficaria atenta, se fosse o senhor.
Ele está com seus homens aqui e outros devem estar lá fora.
Decerto planeia alguma coisa...

Dessa fez foi Marco quem pediu que ela parasse:
- Agora chega, senhora, deixe que o imperador aproveite a noite especial em sua homenagem.

Interrompida sem esperar, ela se calou, evidentemente contrariada.
Ver Crispus adentrar o salão a confundiu e incomodou.
Não sabia o que fazer.

Era tarde quando o imperador despediu-se de seus convidados e se retirou.

Antes, porém, pediu a Marco:
- Quero falar com Crispus.
Avise-o que me encontre imediatamente para uma palestra a sós.
Marco argumentou:
- É tarde, senhor; todos estão muito cansados.
Não seria melhor promovermos esse encontro amanhã?
- Não. Agora.

A voz de Constantino não permitia nenhuma contra-argumentação e Marco obedeceu.
Localizou Crispus e logo os dois estavam frente a frente.

O rapaz disse, em tom sincero:
- Vim para homenageá-lo, meu pai.
Apesar de nossas diferenças, e antes de tudo, você é meu imperador.
- Não seja cínico, rapaz.
Sei que me deseja ver pelas costas.
- Do que está falando?
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Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:46 am

- De seu desejo de ocupar meu lugar.
- Quero ser seu sucessor, e isso nunca escondi, mas quando chegar a hora.
- Que deseja ver abreviada o mais possível, não é mesmo?
- O que está insinuando, meu pai?
- Que quer ver-me morto. Confesse!
- Isso é uma calúnia das mais absurdas!
Quem foi que lhe...

Completamente dominado por Licínio, Constantino agarrou o filho pelo pescoço e insistia:
- Confesse, confesse seu desejo de matar-me!
Assustado, o rapaz pedia:
- Pare, pai, por favor!
O que está fazendo?

E Constantino, sem medir a força que colocava nos braços, continuava:
- Vamos, confesse seu desejo descontrolado de usurpar-me o poder.
Eu sei de tudo, Fausta abriu-me os olhos.
- Pai... Por favor...

A voz de Crispus já quase não lhe saía da garganta.

- Ninguém me tirará o que conquistei, está entendendo?
Este império é meu!
Eu o conquistei pedaço por pedaço e ele me pertence! Só a mim...
Sem conseguir respirar, o rapaz desfalecia pouco a pouco e disse, num esforço derradeiro:
- Ela... o ... envenenou... contra... mim...

Licínio, às gargalhadas, observava o pai consumar o acto homicida.

Crispus desfaleceu e Constantino abandonou-o ao chão, ao mesmo tempo em que o olhava aterrado pelo que acabara de fazer.
As últimas palavras do filho lhe suscitaram de imediato à lembrança a conversa que tivera com Fausta antes da viagem à Pérsia.
Teria sido enganado por ela?

Observou o filho sem respirar e gritou, sentindo profunda dor no peito:
- O que foi que eu fiz?!

Marco entrou depressa na sala, constatando o que ocorrera.
Rapidamente tirou o imperador dali e levou-o para seus aposentos.

Constantino estava alterado e Marco tentava acalmá-lo:
- Não foi sua culpa, não é mesmo?
Ele tentava agredi-lo, não foi assim?
- Claro, foi isso.
Foi assim que aconteceu.
- Pois então, acalme-se.
O senhor é o imperador de Roma!
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Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 26, 2014 9:47 am

Constantino sentou-se na cama, respirou fundo por três vezes, depois repetiu:
- Sim, eu sou o imperador de Roma.
Eu sou o imperador. Eu sou...

Logo outros pediam notícia sobre o ocorrido e Marco limitou-se a dizer que o imperador se defendera da agressão do filho, que queria usurpar-lhe o trono.
Enquanto tentava acalmar-se, Constantino escutava com nitidez a derradeira afirmação do filho - "ela o envenenou contra mim..." - que se repetia sem cessar.
Sentia-se duplamente traído, pela esposa e por si mesmo, sem ter forças para reagir.

Buscou algum consolo na bebida, mas antes que as festividades terminassem procurou por Fausta e uma serva lhe informou, desviando os olhos:
- Está nas termas, senhor.
Constantino a encontrou cercada por suas serviçais e pediu que os deixassem a sós.
- Que prazer vê-lo, meu senhor.
- O que você fez, Fausta?
- Como assim?

- Por que me colocou contra meu filho?
- Ora, senhor, apenas quis proteger-lhe os interesses.
- Os seus interesses, você quer dizer, não é mesmo?
Assustada com a expressão do olhar de Constantino, ela começou a gritar:
- Claro que não, meu senhor, dos seus...

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa ele a afundou na banheira, tirando-lhe a vida.

Licínio, que a tudo assistia, gargalhava satisfeito, quando Núbio apareceu, indagando:
- Está satisfeito?
Executou sua vingança?
- Ainda não. Este homem não sofreu o suficiente.
Tem de morrer também, vou acabar com ele...
- Não. Sua missão acabou.
- Como assim?

- Constantino serve agora os nossos interesses.
O Cristianismo está conspurcado e se afasta mais e mais de suas raízes.
Constantino vai continuar nos dando seu apoio.
É útil demais para agirmos contra ele agora.
Mas não se preocupe.
Os dias dele na Terra findarão, mais cedo ou mais tarde, e você poderá ter sua vingança completa quando ele também estiver aqui.

- Como saberei que não me enganam?
- Você é nosso servo, Licínio, e fará o que estou ordenando.

Utilizando a força mental, Núbio provocou em Licínio fortes dores no peito, no lugar onde fora atacado por Marco.

E ele, gritando, suplicou:
- Por favor, pare com isso!
- Vai obedecer, ou o que terei de fazer?
- Obedecerei.

- Então ande na linha comigo.
Virá a hora de consumar sua vingança.
Quando Constantino chegar a este lado, você estará esperando...
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