Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
Ele disse:
- Não podemos continuar a escondê-la desse modo.
Estamos chamando a atenção.
Estão notando a falta dela.
Precisamos dar um jeito nessa situação...
Ou nos livramos dela, ou...
A esposa interveio, aflita:
- David, o que é isso?
Do que está falando?
- Ora essa, você sabe.
Não suporto conviver com ela!
Traz vergonha sobre nossa casa!
- Ela está melhor.
- Continua falando dele...
- Não, não tocou mais no assunto.
Fez-se breve silêncio, depois Lóris perguntou:
- Quem perguntou dela?
- O filho dos Stenton.
- Eric?
- Esse mesmo.
- Só podia ser...
- Por quê?
- Está interessado em nossa filha.
- O quê?! Eles são uma família decente.
Como o filho poderia se interessar por uma louca como nossa filha?
- David, não fale assim.
Ela garantiu que se gostam de verdade.
Ele pegou a mulher pelo braço, que apertou enquanto perguntava:
- E o que mais disse? Estão em pecado?
Desenvencilhando-se com esforço da pesada mão do marido, ela respondeu:
- Acredito que não.
Stephanie me disse que querem se casar.
- Ela é muito jovem.
- Também acho. Foi o que lhe disse.
David voltou a acomodar-se na cadeira e, pensativo, colocou algumas garfadas de carne na boca.
Passado algum tempo declarou:
- Quer saber? Acho que devem se casar mesmo.
Mas vamos exigir que o rapaz venha morar aqui connosco, e nos ajude na propriedade.
Será a nossa condição.
Lóris ficou em silêncio;
depois, vendo que as filhas haviam terminado o jantar, mandou:
- Vão para o quarto.
Quero conversar com seu pai.
Vamos, depressa.
- Não podemos continuar a escondê-la desse modo.
Estamos chamando a atenção.
Estão notando a falta dela.
Precisamos dar um jeito nessa situação...
Ou nos livramos dela, ou...
A esposa interveio, aflita:
- David, o que é isso?
Do que está falando?
- Ora essa, você sabe.
Não suporto conviver com ela!
Traz vergonha sobre nossa casa!
- Ela está melhor.
- Continua falando dele...
- Não, não tocou mais no assunto.
Fez-se breve silêncio, depois Lóris perguntou:
- Quem perguntou dela?
- O filho dos Stenton.
- Eric?
- Esse mesmo.
- Só podia ser...
- Por quê?
- Está interessado em nossa filha.
- O quê?! Eles são uma família decente.
Como o filho poderia se interessar por uma louca como nossa filha?
- David, não fale assim.
Ela garantiu que se gostam de verdade.
Ele pegou a mulher pelo braço, que apertou enquanto perguntava:
- E o que mais disse? Estão em pecado?
Desenvencilhando-se com esforço da pesada mão do marido, ela respondeu:
- Acredito que não.
Stephanie me disse que querem se casar.
- Ela é muito jovem.
- Também acho. Foi o que lhe disse.
David voltou a acomodar-se na cadeira e, pensativo, colocou algumas garfadas de carne na boca.
Passado algum tempo declarou:
- Quer saber? Acho que devem se casar mesmo.
Mas vamos exigir que o rapaz venha morar aqui connosco, e nos ajude na propriedade.
Será a nossa condição.
Lóris ficou em silêncio;
depois, vendo que as filhas haviam terminado o jantar, mandou:
- Vão para o quarto.
Quero conversar com seu pai.
Vamos, depressa.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
Elas sumiram, indo directo para o quarto, e Lóris virou-se para o marido, questionando:
- Por que não deixa logo que ela se vá?
Você a odeia, não é?
- Não, não é isso... É claro que não a odeio...
É que ela é tão problemática, vendo e ouvindo coisas o tempo todo...
Não consigo olhá-la nos olhos... Ela me incomoda.
- Então, David, deixe que se case e vá morar longe daqui.
Será melhor para ela e para todos nós.
Se o rapaz quer assumir esse fardo, pois que seja!
Enquanto conversavam, uma entidade espiritual, que protegia a família, envolveu o pastor David (que fora Boris em encarnação pregressa) em suaves energias e lhe disse aos ouvidos da alma:
- Deixe que ela se case, que assuma as responsabilidades que precisa ter.
Continuarão perto um do outro, mas ela precisa seguir sua jornada.
Não a impeça de crescer.
As palavras da amorosa entidade espiritual ganharam força no coração do pastor e ele falou, depois de muito pensar:
- Pois bem, vá buscá-la.
Quero ter uma conversa com ela agora mesmo.
Não demorou muito e Stephanie apareceu na sala, visivelmente mais magra.
Ficou de pé, diante do pai, tentando ocultar a raiva terrível que sentia dele.
De cabeça baixa, evitava fitá-lo nos olhos.
Ele disse, assim que a viu:
- Quero saber sobre as intenções desse rapaz, o Eric.
- Por que, pai?
- Ele perguntou por você hoje à saída do culto, e sua mãe me disse que vocês têm intenção de se casar. É verdade?
- Sim. Nós nos amamos e queremos nos casar.
- E a família dele? Concorda?
- Eric me contou que a mãe já sabe e aceita.
- Emma sempre me pareceu um pouco desajuizada. E Michel?
- Não sei, mas se vocês concordarem Eric vai falar com os pais que deseja casar-se logo.
Aproximando-se da filha, David segurou-a pelos ombros com as duas mãos e, chocalhando-a, indagou:
- Por que têm pressa?
Estão em pecado? Responda!
- Não, claro que não!
Eric me ama, já disse, e queremos construir nossa família.
Além do mais, ele já tem 28 anos.
- Vinte e oito?
Deveria ter algum juízo...
David soltou a jovem e caminhou pela sala, depois se virou para ela e disse:
- Pois bem, diga a ele que venha falar comigo imediatamente.
Caso suas intenções sejam sérias, e com a concordância da família, terão meu consentimento.
- Quer dizer que não preciso voltar para o sótão?
- Por enquanto, não.
- Por que não deixa logo que ela se vá?
Você a odeia, não é?
- Não, não é isso... É claro que não a odeio...
É que ela é tão problemática, vendo e ouvindo coisas o tempo todo...
Não consigo olhá-la nos olhos... Ela me incomoda.
- Então, David, deixe que se case e vá morar longe daqui.
Será melhor para ela e para todos nós.
Se o rapaz quer assumir esse fardo, pois que seja!
Enquanto conversavam, uma entidade espiritual, que protegia a família, envolveu o pastor David (que fora Boris em encarnação pregressa) em suaves energias e lhe disse aos ouvidos da alma:
- Deixe que ela se case, que assuma as responsabilidades que precisa ter.
Continuarão perto um do outro, mas ela precisa seguir sua jornada.
Não a impeça de crescer.
As palavras da amorosa entidade espiritual ganharam força no coração do pastor e ele falou, depois de muito pensar:
- Pois bem, vá buscá-la.
Quero ter uma conversa com ela agora mesmo.
Não demorou muito e Stephanie apareceu na sala, visivelmente mais magra.
Ficou de pé, diante do pai, tentando ocultar a raiva terrível que sentia dele.
De cabeça baixa, evitava fitá-lo nos olhos.
Ele disse, assim que a viu:
- Quero saber sobre as intenções desse rapaz, o Eric.
- Por que, pai?
- Ele perguntou por você hoje à saída do culto, e sua mãe me disse que vocês têm intenção de se casar. É verdade?
- Sim. Nós nos amamos e queremos nos casar.
- E a família dele? Concorda?
- Eric me contou que a mãe já sabe e aceita.
- Emma sempre me pareceu um pouco desajuizada. E Michel?
- Não sei, mas se vocês concordarem Eric vai falar com os pais que deseja casar-se logo.
Aproximando-se da filha, David segurou-a pelos ombros com as duas mãos e, chocalhando-a, indagou:
- Por que têm pressa?
Estão em pecado? Responda!
- Não, claro que não!
Eric me ama, já disse, e queremos construir nossa família.
Além do mais, ele já tem 28 anos.
- Vinte e oito?
Deveria ter algum juízo...
David soltou a jovem e caminhou pela sala, depois se virou para ela e disse:
- Pois bem, diga a ele que venha falar comigo imediatamente.
Caso suas intenções sejam sérias, e com a concordância da família, terão meu consentimento.
- Quer dizer que não preciso voltar para o sótão?
- Por enquanto, não.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
O espírito de Peter acompanhava toda a conversa e disse à jovem:
- Estão tramando alguma coisa. Fique atenta!
Ela o ouviu, mas não demonstrou.
Não falava mais com ninguém sobre a presença constante do irmão, que não a deixava sozinha.
Desejando sair daquela casa, onde se sentia sufocar, indagou:
- Posso procurar por Eric agora mesmo?
- Não. Vocês se verão no próximo domingo, no culto dominical, e então conversarão.
- Mas, pai...
- Não quero filha minha correndo atrás de ninguém.
Fique dentro de casa e ajude sua mãe.
No domingo peça a ele que venha me ver.
Stephanie permaneceu calada a semana toda.
Tinha medo de falar algo que prejudicasse suas expectativas de casar-se com o jovem que amava, e de ver-se livre de vez daquela família que a desprezava.
Aproveitou-se de uma saída do pai, que fora chamado a atender um senhor doente, para procurar Eric.
Sabia exactamente de seus hábitos e foi ao seu encontro.
O rapaz cortava lenha, quando a viu e correu para abraçá-la.
- Stephanie, quanta saudade!
Ao saber da decisão de David, ele ficou satisfeito e tranquilizou-a:
- Não se preocupe, vou falar hoje mesmo com meu pai.
- Estou com medo.
Tomando-lhe as mãos, ele indagou:
- Medo por quê?
- E se seu pai não permitir?
Afinal, eu sou meio...
- Não diga isso.
- Sou mesmo louca, Eric.
- Por favor - ele pediu -, não fale assim...
Isso não é verdade.
- Será que não, Eric?
- Claro que não.
- Então por que tenho visto constantemente meu irmão, Peter, que já morreu?
Sou amaldiçoada...
Abraçando-a com carinho, ele garantiu:
- Tenho certeza de que não se trata disso.
- E o que mais pode ser?
Como vejo e ouço pessoas mortas?
- Eu não sei, Stephanie;
só sei que louca você não é.
- Será que é possível ver os espíritos dos mortos?
Como, se eles não podem comunicar-se connosco?
Sabemos, pela Bíblia, que não se pode falar com os mortos...
- Estão tramando alguma coisa. Fique atenta!
Ela o ouviu, mas não demonstrou.
Não falava mais com ninguém sobre a presença constante do irmão, que não a deixava sozinha.
Desejando sair daquela casa, onde se sentia sufocar, indagou:
- Posso procurar por Eric agora mesmo?
- Não. Vocês se verão no próximo domingo, no culto dominical, e então conversarão.
- Mas, pai...
- Não quero filha minha correndo atrás de ninguém.
Fique dentro de casa e ajude sua mãe.
No domingo peça a ele que venha me ver.
Stephanie permaneceu calada a semana toda.
Tinha medo de falar algo que prejudicasse suas expectativas de casar-se com o jovem que amava, e de ver-se livre de vez daquela família que a desprezava.
Aproveitou-se de uma saída do pai, que fora chamado a atender um senhor doente, para procurar Eric.
Sabia exactamente de seus hábitos e foi ao seu encontro.
O rapaz cortava lenha, quando a viu e correu para abraçá-la.
- Stephanie, quanta saudade!
Ao saber da decisão de David, ele ficou satisfeito e tranquilizou-a:
- Não se preocupe, vou falar hoje mesmo com meu pai.
- Estou com medo.
Tomando-lhe as mãos, ele indagou:
- Medo por quê?
- E se seu pai não permitir?
Afinal, eu sou meio...
- Não diga isso.
- Sou mesmo louca, Eric.
- Por favor - ele pediu -, não fale assim...
Isso não é verdade.
- Será que não, Eric?
- Claro que não.
- Então por que tenho visto constantemente meu irmão, Peter, que já morreu?
Sou amaldiçoada...
Abraçando-a com carinho, ele garantiu:
- Tenho certeza de que não se trata disso.
- E o que mais pode ser?
Como vejo e ouço pessoas mortas?
- Eu não sei, Stephanie;
só sei que louca você não é.
- Será que é possível ver os espíritos dos mortos?
Como, se eles não podem comunicar-se connosco?
Sabemos, pela Bíblia, que não se pode falar com os mortos...
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
- Será que não?
- Você acha que é possível?
- Tenho um primo que vive em uma comunidade shaker em Lebanon, vilarejo ao norte de Nova York.
Ele esteve connosco há duas semanas e nos disse que espíritos de índios da região estão se manifestando há algum tempo naquela comunidade.
- Serão mesmo espíritos?
- Ele disse que sim, que são espíritos, e que seu pai tem a capacidade de vê-los e ouvi-los.
Garantiu-me que não são demónios, são apenas índios em espírito.
Stephanie fitou o rapaz com lágrimas nos olhos:
- Será que é possível?
Será isso o que acontece também comigo?
- Não sei, mas nós vamos descobrir.
Assim que nos casarmos, vamos até lá para ver o que acontece e tentar compreender o que se passa com você.
De uma coisa eu estou certo: você não é louca.
Ela abriu largo sorriso, abraçando o noivo com força:
- Eu o amo demais!
- Você acha que é possível?
- Tenho um primo que vive em uma comunidade shaker em Lebanon, vilarejo ao norte de Nova York.
Ele esteve connosco há duas semanas e nos disse que espíritos de índios da região estão se manifestando há algum tempo naquela comunidade.
- Serão mesmo espíritos?
- Ele disse que sim, que são espíritos, e que seu pai tem a capacidade de vê-los e ouvi-los.
Garantiu-me que não são demónios, são apenas índios em espírito.
Stephanie fitou o rapaz com lágrimas nos olhos:
- Será que é possível?
Será isso o que acontece também comigo?
- Não sei, mas nós vamos descobrir.
Assim que nos casarmos, vamos até lá para ver o que acontece e tentar compreender o que se passa com você.
De uma coisa eu estou certo: você não é louca.
Ela abriu largo sorriso, abraçando o noivo com força:
- Eu o amo demais!
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
TRINTA E OITO
QUANDO STEPHANIE ENTROU silenciosamente em casa, a mãe dava banho na filha menor, então com cinco anos.
Apesar dos cuidados da jovem, a mãe, de ouvidos atentos, gritou do quarto das filhas:
- É você, Stephanie?
- Sim, mãe.
- Venha já aqui.
A jovem foi até o quarto e, parada na porta, observou a mãe;
agachada, com os vestidos amarrados nas pernas e o cabelo em desalinho, lavava a menina.
Vendo a filha mais velha, Lóris investigou:
- Onde esteve?
Procurei-a para pedir ajuda com suas irmãs e não a encontrei.
- Fui colher maçãs.
- Ainda tínhamos algumas na cesta.
- Eu sei, mas queria comê-las com o sabor de recém-colhidas.
Mostrando a cesta repleta de maçãs que colhera às pressas, com a ajuda de Eric, ofereceu:
- Quer uma?
- Deixe-as na cozinha e venha me ajudar.
Seu pai está para chegar e preciso terminar logo o jantar.
Sabe que ele gosta que tudo esteja pronto quando chega.
Fitando a jovem, a mãe prosseguiu:
- Uma boa esposa e mãe deve desdobrar-se para cuidar do lar, do marido e dos filhos.
Você acha que está preparada para assumir tantas responsabilidades, Stephanie?
Sem prestar atenção ao aviso da mãe, ela afirmou:
- Estou mais do que preparada.
Amo Eric e ele me ama, que mais posso desejar?
Envolvida por Geórgia, que em espírito, acompanhava a filha de outras encarnações, Lóris falou:
- Precisa parar de sonhar, Stephanie, e pensar seriamente nas responsabilidades de uma vida de mulher casada.
Terá de assumir todos os cuidados do lar, enquanto seu marido prove o sustento da família.
É muito trabalho, não pode assumir esse matrimónio sem pensar bem quanto trabalho e quanta dedicação exigirá de você.
Pegando uma das mais bonitas maçãs do cesto, Stephanie limpou-a no vestido.
Mordeu sofregamente vários pedaços antes de retrucar:
- Sei que serei feliz com meu amado Eric.
A mãe pediu outra vez:
- Vá buscar Alicia, que está brincando lá fora, e dê banho nela enquanto termino de preparar o jantar.
Stephanie andou devagar até a cozinha e colocou a cesta sobre a mesa.
Saiu e chamou a menina que brincava na horta.
Ao vê-la, a irmã se surpreendeu:
- Como você está suja!
Venha, vou lhe dar um banho.
- Não quero você, quero a mamãe.
- Ela tem muitas coisas para fazer e rne pediu que ajudasse.
QUANDO STEPHANIE ENTROU silenciosamente em casa, a mãe dava banho na filha menor, então com cinco anos.
Apesar dos cuidados da jovem, a mãe, de ouvidos atentos, gritou do quarto das filhas:
- É você, Stephanie?
- Sim, mãe.
- Venha já aqui.
A jovem foi até o quarto e, parada na porta, observou a mãe;
agachada, com os vestidos amarrados nas pernas e o cabelo em desalinho, lavava a menina.
Vendo a filha mais velha, Lóris investigou:
- Onde esteve?
Procurei-a para pedir ajuda com suas irmãs e não a encontrei.
- Fui colher maçãs.
- Ainda tínhamos algumas na cesta.
- Eu sei, mas queria comê-las com o sabor de recém-colhidas.
Mostrando a cesta repleta de maçãs que colhera às pressas, com a ajuda de Eric, ofereceu:
- Quer uma?
- Deixe-as na cozinha e venha me ajudar.
Seu pai está para chegar e preciso terminar logo o jantar.
Sabe que ele gosta que tudo esteja pronto quando chega.
Fitando a jovem, a mãe prosseguiu:
- Uma boa esposa e mãe deve desdobrar-se para cuidar do lar, do marido e dos filhos.
Você acha que está preparada para assumir tantas responsabilidades, Stephanie?
Sem prestar atenção ao aviso da mãe, ela afirmou:
- Estou mais do que preparada.
Amo Eric e ele me ama, que mais posso desejar?
Envolvida por Geórgia, que em espírito, acompanhava a filha de outras encarnações, Lóris falou:
- Precisa parar de sonhar, Stephanie, e pensar seriamente nas responsabilidades de uma vida de mulher casada.
Terá de assumir todos os cuidados do lar, enquanto seu marido prove o sustento da família.
É muito trabalho, não pode assumir esse matrimónio sem pensar bem quanto trabalho e quanta dedicação exigirá de você.
Pegando uma das mais bonitas maçãs do cesto, Stephanie limpou-a no vestido.
Mordeu sofregamente vários pedaços antes de retrucar:
- Sei que serei feliz com meu amado Eric.
A mãe pediu outra vez:
- Vá buscar Alicia, que está brincando lá fora, e dê banho nela enquanto termino de preparar o jantar.
Stephanie andou devagar até a cozinha e colocou a cesta sobre a mesa.
Saiu e chamou a menina que brincava na horta.
Ao vê-la, a irmã se surpreendeu:
- Como você está suja!
Venha, vou lhe dar um banho.
- Não quero você, quero a mamãe.
- Ela tem muitas coisas para fazer e rne pediu que ajudasse.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
- Não quero.
Dando um leve beliscão na menina, a jovem disse entre dentes:
- Fique quieta. Vou dar banho em você e não me apronte confusão.
Durante o jantar, Lóris e David pouco conversaram.
Quando todos saíram da mesa, ele quis saber:
- Ela se comportou direito hoje?
- Sim, sem novidades.
- Nenhum comportamento estranho?
- Não. Já decidiu o que vai fazer caso o rapaz realmente a peça em casamento?
- Vou conversar com os pais dele para ver como a família pensa.
Se estiverem de acordo, colocarei como condição que ele nos ajude no cuidado da terra por alguns anos, e só depois vou liberá-los para viverem suas vidas livremente.
Quero ficar de olho nela.
- E acha que Eric vai aceitar?
- Ou aceita, ou não vai desposar nossa filha.
- Está certo.
Os dias se arrastavam para Stephanie.
Naquele domingo, ao contrário do que era seu hábito, pulou da cama logo que o sol nasceu.
Estava ansiosa demais para permanecer deitada.
Sabia que Eric falaria com seu pai naquela manhã.
Foi até a cozinha e sentou-se perto da janela, contemplando o nascer do sol.
Estava absorta em seus pensamentos, quando escutou uma voz familiar:
- Então acha que vai conseguir viver em paz, longe desta casa?
Stephanie virou-se, espantada, e viu Peter bem perto.
Deu um grito e falou:
- Afinal, o que você quer de mim?
- Quero vingança!
- Mas do que está falando?
- Eu odeio todos vocês pelo que me fizeram.
- Eu não lhe fiz nada...
- Claro que fez!
Você nasceu e estragou tudo.
Antes era somente eu, tudo era para mim.
Depois você chegou e tirou minha mãe!
Chorando, nervosa, ela disse:
- Eu não tenho culpa, não lhe fiz nada.
Nem me lembrava de você...
Vá embora, por favor!
Vá embora. Não pode continuar me assustando desse modo.
- Pois saiba que a atormentarei até o fim de seus dias.
E também a esse homem que chama de pai.
Vocês vão sofrer nas minhas mãos.
- Por favor, pare...
Dando um leve beliscão na menina, a jovem disse entre dentes:
- Fique quieta. Vou dar banho em você e não me apronte confusão.
Durante o jantar, Lóris e David pouco conversaram.
Quando todos saíram da mesa, ele quis saber:
- Ela se comportou direito hoje?
- Sim, sem novidades.
- Nenhum comportamento estranho?
- Não. Já decidiu o que vai fazer caso o rapaz realmente a peça em casamento?
- Vou conversar com os pais dele para ver como a família pensa.
Se estiverem de acordo, colocarei como condição que ele nos ajude no cuidado da terra por alguns anos, e só depois vou liberá-los para viverem suas vidas livremente.
Quero ficar de olho nela.
- E acha que Eric vai aceitar?
- Ou aceita, ou não vai desposar nossa filha.
- Está certo.
Os dias se arrastavam para Stephanie.
Naquele domingo, ao contrário do que era seu hábito, pulou da cama logo que o sol nasceu.
Estava ansiosa demais para permanecer deitada.
Sabia que Eric falaria com seu pai naquela manhã.
Foi até a cozinha e sentou-se perto da janela, contemplando o nascer do sol.
Estava absorta em seus pensamentos, quando escutou uma voz familiar:
- Então acha que vai conseguir viver em paz, longe desta casa?
Stephanie virou-se, espantada, e viu Peter bem perto.
Deu um grito e falou:
- Afinal, o que você quer de mim?
- Quero vingança!
- Mas do que está falando?
- Eu odeio todos vocês pelo que me fizeram.
- Eu não lhe fiz nada...
- Claro que fez!
Você nasceu e estragou tudo.
Antes era somente eu, tudo era para mim.
Depois você chegou e tirou minha mãe!
Chorando, nervosa, ela disse:
- Eu não tenho culpa, não lhe fiz nada.
Nem me lembrava de você...
Vá embora, por favor!
Vá embora. Não pode continuar me assustando desse modo.
- Pois saiba que a atormentarei até o fim de seus dias.
E também a esse homem que chama de pai.
Vocês vão sofrer nas minhas mãos.
- Por favor, pare...
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
- O que está havendo aqui?
Com quem estava falando?
Ao ouvir a voz do pai, Stephanie sentiu o sangue sumir-lhe do rosto alvo.
Aquele era um dia muito importante, e não queria que nada atrapalhasse seus sonhos.
Respirou fundo e falou pausadamente, enquanto limpava as lágrimas:
- Estava orando e me emocionei.
Sem esboçar reacção, David fitou-a e determinou:
- Pois ore em silêncio.
Não precisamos de estardalhaços para manifestar nossas necessidades a Deus.
Ele sabe tudo de que precisamos.
Mantenha a discrição, Stephanie.
Depois de uma pausa, considerou:
- Não sei se está pronta para nos acompanhar à igreja hoje.
Talvez seja melhor ficar aqui mais alguns dias, antes de se expor.
Tenho dúvida de que esteja bem de facto.
Enquanto Peter ameaçava avançar sobre ela, Stephanie, em pânico, embora arregalasse os olhos, mantinha-se em absoluto silêncio.
David observou a filha por alguns momentos e ela falou:
- Estou muito bem, pai.
Já não tenho nenhuma daquelas visões e sinto-me disposta e tranquila.
Deus está me auxiliando a ficar boa.
Sem responder, o pai foi até o quarto e voltou todo arrumado.
Depois que todos fizeram o desjejum, saíram juntos para o templo.
Ao término do culto, Eric, novamente esperando que todos saíssem, aproximou-se do pastor junto com os pais e saudou:
- Bom dia, senhor.
- Bom dia, Eric.
- Preciso conversar com o senhor, sobre assunto importante.
- Diga.
- Gostaria de casar-me com sua filha.
David olhou para os pais do rapaz e perguntou:
- Os senhores estão de acordo?
Michel respondeu:
- Sabemos do grande carinho que Eric nutre por Stephanie.
Não há nada que os impeça de se casarem.
- Podem ir até minha casa hoje à tarde, para conversarmos melhor?
- Sim, é claro. Estaremos lá.
Emma, cumprimentando o pastor, disse:
- Levarei aquela torta de maçã que o senhor tanto aprecia.
No meio da tarde, estavam todos reunidos na sala de estar de David.
Stephanie, ao lado de Eric, sentia o coração descompassado.
Desejava que nada interferisse naquele momento, mas tinha medo.
Olhava de vez em quando para os lados para ver se Peter aparecia, mas não havia nem sinal do menino.
Com quem estava falando?
Ao ouvir a voz do pai, Stephanie sentiu o sangue sumir-lhe do rosto alvo.
Aquele era um dia muito importante, e não queria que nada atrapalhasse seus sonhos.
Respirou fundo e falou pausadamente, enquanto limpava as lágrimas:
- Estava orando e me emocionei.
Sem esboçar reacção, David fitou-a e determinou:
- Pois ore em silêncio.
Não precisamos de estardalhaços para manifestar nossas necessidades a Deus.
Ele sabe tudo de que precisamos.
Mantenha a discrição, Stephanie.
Depois de uma pausa, considerou:
- Não sei se está pronta para nos acompanhar à igreja hoje.
Talvez seja melhor ficar aqui mais alguns dias, antes de se expor.
Tenho dúvida de que esteja bem de facto.
Enquanto Peter ameaçava avançar sobre ela, Stephanie, em pânico, embora arregalasse os olhos, mantinha-se em absoluto silêncio.
David observou a filha por alguns momentos e ela falou:
- Estou muito bem, pai.
Já não tenho nenhuma daquelas visões e sinto-me disposta e tranquila.
Deus está me auxiliando a ficar boa.
Sem responder, o pai foi até o quarto e voltou todo arrumado.
Depois que todos fizeram o desjejum, saíram juntos para o templo.
Ao término do culto, Eric, novamente esperando que todos saíssem, aproximou-se do pastor junto com os pais e saudou:
- Bom dia, senhor.
- Bom dia, Eric.
- Preciso conversar com o senhor, sobre assunto importante.
- Diga.
- Gostaria de casar-me com sua filha.
David olhou para os pais do rapaz e perguntou:
- Os senhores estão de acordo?
Michel respondeu:
- Sabemos do grande carinho que Eric nutre por Stephanie.
Não há nada que os impeça de se casarem.
- Podem ir até minha casa hoje à tarde, para conversarmos melhor?
- Sim, é claro. Estaremos lá.
Emma, cumprimentando o pastor, disse:
- Levarei aquela torta de maçã que o senhor tanto aprecia.
No meio da tarde, estavam todos reunidos na sala de estar de David.
Stephanie, ao lado de Eric, sentia o coração descompassado.
Desejava que nada interferisse naquele momento, mas tinha medo.
Olhava de vez em quando para os lados para ver se Peter aparecia, mas não havia nem sinal do menino.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
Ao final da conversa, David apresentou sua condição:
- A única restrição que tenho se relaciona à ajuda que Stephanie nos dá, pois temos muito trabalho em casa, e também na igreja.
Por isso será necessário que Eric participe dos nossos serviços do campo por dois ou três anos, até que uma das outras meninas cresça um pouco mais e possa auxiliar Lóris.
Enquanto isso, vamos precisar também da colaboração de Stephanie, de vez em quando.
Os pais do rapaz, surpresos, não sabiam o que dizer.
Eric apertou as mãos de Stephanie entre as suas e sentiu-as húmidas de suor.
Disse então:
- Eu concordo.
Faremos uma pequena cabana depois do rio, que fica bem perto, e assim eu e Stephanie poderemos ajudar.
- Então está tudo certo.
- Podemos marcar a data? - perguntou Eric, levantando-se.
- Está com pressa, rapaz?
Olhando a amada com ternura, ele respondeu:
- De facto, estou.
- E para quando deseja marcar?
- Preciso de um mês para erguer a pequena cabana.
Pode ser daqui a dois meses.
Lóris se espantou:
- É muito rápido.
Não teremos tempo de fazer todos os preparativos...
Mais do que depressa, Stephanie ergueu-se, tomou o braço do noivo e disse:
- Teremos sim, mãe.
Dois meses é o suficiente para as providências básicas.
Tocando os cabelos da filha, Lóris controlava as lágrimas ao dizer:
- Você é tão jovem, filha...
Sem responder, Stephanie apertou o braço de Eric, que, voltando-se para a futura sogra, tranquilizou-a:
- Não se preocupe, vou tomar conta de sua menina.
Embora tão jovem, sei que me ama muito.
Terei paciência com ela, fique sossegada.
Enquanto se despediam, Eric assegurou novamente a Lóris:
- Não se preocupe, vou cuidar bem dela.
Tocando de leve o braço do rapaz, ela disse com leve sorriso:
- Assim espero, Eric.
Stephanie é uma garota delicada.
Olhando nos olhos da sogra, Eric afirmou:
- Sei disso, não se preocupe.
Stephanie observou a família visitante subir na carroça e desaparecer na estrada.
Sorrindo, não conseguia conter a alegria.
Muito lhe custava não gritar e dançar de contentamento.
Até que enfim estaria livre daqueles que não a amavam...
Os dois meses passaram rápido.
Stephanie não tinha tempo para nada, dividindo a atenção entre a ajuda nas tarefas cotidianas da família e os preparativos para o dia tão esperado.
Sua alegria era tão grande que nem mesmo a presença constante de Peter a perturbava.
- A única restrição que tenho se relaciona à ajuda que Stephanie nos dá, pois temos muito trabalho em casa, e também na igreja.
Por isso será necessário que Eric participe dos nossos serviços do campo por dois ou três anos, até que uma das outras meninas cresça um pouco mais e possa auxiliar Lóris.
Enquanto isso, vamos precisar também da colaboração de Stephanie, de vez em quando.
Os pais do rapaz, surpresos, não sabiam o que dizer.
Eric apertou as mãos de Stephanie entre as suas e sentiu-as húmidas de suor.
Disse então:
- Eu concordo.
Faremos uma pequena cabana depois do rio, que fica bem perto, e assim eu e Stephanie poderemos ajudar.
- Então está tudo certo.
- Podemos marcar a data? - perguntou Eric, levantando-se.
- Está com pressa, rapaz?
Olhando a amada com ternura, ele respondeu:
- De facto, estou.
- E para quando deseja marcar?
- Preciso de um mês para erguer a pequena cabana.
Pode ser daqui a dois meses.
Lóris se espantou:
- É muito rápido.
Não teremos tempo de fazer todos os preparativos...
Mais do que depressa, Stephanie ergueu-se, tomou o braço do noivo e disse:
- Teremos sim, mãe.
Dois meses é o suficiente para as providências básicas.
Tocando os cabelos da filha, Lóris controlava as lágrimas ao dizer:
- Você é tão jovem, filha...
Sem responder, Stephanie apertou o braço de Eric, que, voltando-se para a futura sogra, tranquilizou-a:
- Não se preocupe, vou tomar conta de sua menina.
Embora tão jovem, sei que me ama muito.
Terei paciência com ela, fique sossegada.
Enquanto se despediam, Eric assegurou novamente a Lóris:
- Não se preocupe, vou cuidar bem dela.
Tocando de leve o braço do rapaz, ela disse com leve sorriso:
- Assim espero, Eric.
Stephanie é uma garota delicada.
Olhando nos olhos da sogra, Eric afirmou:
- Sei disso, não se preocupe.
Stephanie observou a família visitante subir na carroça e desaparecer na estrada.
Sorrindo, não conseguia conter a alegria.
Muito lhe custava não gritar e dançar de contentamento.
Até que enfim estaria livre daqueles que não a amavam...
Os dois meses passaram rápido.
Stephanie não tinha tempo para nada, dividindo a atenção entre a ajuda nas tarefas cotidianas da família e os preparativos para o dia tão esperado.
Sua alegria era tão grande que nem mesmo a presença constante de Peter a perturbava.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
Certo dia, ele a observava cuidando das roupas das irmãs mais novas.
Olhou-a longamente, sem dizer nada, depois falou:
- Você não será feliz!
A garota o encarou e disse, sem se alterar:
- Diga o que quiser.
Serei muito feliz fora daqui.
- Mas você não vai sair daqui.
- Vou, sim. Terei minha pequena e linda casa, que transformarei num paraíso, meu e de Eric.
- Está enganada. Continuará dominada por eles...
Stephanie sorriu e disse:
- Pode falar o que quiser, Peter, não vou escutá-lo.
Agora me deixe, tenho muito a fazer.
Levantando-se, foi até o quintal buscar mais roupas secas para dobrar.
Olhou-a longamente, sem dizer nada, depois falou:
- Você não será feliz!
A garota o encarou e disse, sem se alterar:
- Diga o que quiser.
Serei muito feliz fora daqui.
- Mas você não vai sair daqui.
- Vou, sim. Terei minha pequena e linda casa, que transformarei num paraíso, meu e de Eric.
- Está enganada. Continuará dominada por eles...
Stephanie sorriu e disse:
- Pode falar o que quiser, Peter, não vou escutá-lo.
Agora me deixe, tenho muito a fazer.
Levantando-se, foi até o quintal buscar mais roupas secas para dobrar.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
TRINTA E NOVE
AINDA QUE ESTIVESSE ansiosa, o grande dia chegou quase sem que Stephanie se desse conta.
Naquela manhã ensolarada, a pequena igreja estava enfeitada com lindos arranjos de flores do campo e lotada pela comunidade religiosa.
Ao apontar na porta da igreja, a noiva parecia reluzir de tanta felicidade.
Sentia como se realizasse um sonho antigo, muito mais antigo do que ela própria.
Ali, de pé, diante da porta fechada, com seu lindo vestido branco e a enorme grinalda que fizera questão de colocar, sentia-se plena e realizada.
Não pensava em mais nada.
Seu coração transbordava de satisfação.
Quando as portas se abriram, caminhou como se seus pés não tocassem o chão, como se flutuasse no ar.
Eric sorria para ela, igualmente feliz.
A cerimónia foi simples e curta.
Enquanto David a celebrava, Peter se escondia atrás das cortinas que cobriam o fundo do templo, como se brincasse de esconde-esconde.
Stephanie se concentrava, mas não podia deixar de seguir com os olhos os movimentos rápidos e os pulos do garoto.
David percebeu que algo a distraía e com o olhar chamou sua atenção;
imediatamente a jovem baixou os olhos, buscando não deixar mais que o irmão, fora do corpo físico, a distraísse.
Ao final da singela celebração, Eric beijou-lhe a testa com doçura e falou baixinho:
- Amo você e quero fazê-la feliz.
Stephanie mais uma vez sorriu satisfeita e pensou que nada, daquele dia em diante, poderia atrapalhar a concretização dos seus sonhos.
Depois, todos foram para uma grande área da comunidade, onde se realizavam as comemorações.
Uma enorme mesa havia sido montada, com comida, frutas e doces.
A festa se estendeu até o final da tarde, quando, finalmente, os noivos se despediram dos convidados e se prepararam para partir.
Entre um convidado e outro, Eric sussurrou no ouvido da esposa:
- Tenho uma surpresa para você.
- O que é?
- Logo saberá.
Ao cumprimentar o sogro, Eric disse:
- Pastor David, eu e Stephanie faremos uma breve viagem antes de nos instalarmos em nossa cabana.
- Você não havia dito nada...
Quando pretendem partir?
- Vamos agora mesmo, assim que sairmos daqui.
Fitando a filha, irritado, David indagou:
- Você já sabia?
Eric se antecipou, olhando a esposa com ternura:
- Não, estou fazendo uma surpresa. Ela acaba de saber.
Vamos voltar em duas ou, no máximo, três semanas.
Contrariado, David perguntou:
- E para onde vão?
- Tenho um primo que mora em Lebanon, ao norte de Nova York.
Ele não pôde comparecer ao nosso matrimónio devido aos compromissos que tem por lá, mas nos convidou para passarmos alguns dias com ele.
AINDA QUE ESTIVESSE ansiosa, o grande dia chegou quase sem que Stephanie se desse conta.
Naquela manhã ensolarada, a pequena igreja estava enfeitada com lindos arranjos de flores do campo e lotada pela comunidade religiosa.
Ao apontar na porta da igreja, a noiva parecia reluzir de tanta felicidade.
Sentia como se realizasse um sonho antigo, muito mais antigo do que ela própria.
Ali, de pé, diante da porta fechada, com seu lindo vestido branco e a enorme grinalda que fizera questão de colocar, sentia-se plena e realizada.
Não pensava em mais nada.
Seu coração transbordava de satisfação.
Quando as portas se abriram, caminhou como se seus pés não tocassem o chão, como se flutuasse no ar.
Eric sorria para ela, igualmente feliz.
A cerimónia foi simples e curta.
Enquanto David a celebrava, Peter se escondia atrás das cortinas que cobriam o fundo do templo, como se brincasse de esconde-esconde.
Stephanie se concentrava, mas não podia deixar de seguir com os olhos os movimentos rápidos e os pulos do garoto.
David percebeu que algo a distraía e com o olhar chamou sua atenção;
imediatamente a jovem baixou os olhos, buscando não deixar mais que o irmão, fora do corpo físico, a distraísse.
Ao final da singela celebração, Eric beijou-lhe a testa com doçura e falou baixinho:
- Amo você e quero fazê-la feliz.
Stephanie mais uma vez sorriu satisfeita e pensou que nada, daquele dia em diante, poderia atrapalhar a concretização dos seus sonhos.
Depois, todos foram para uma grande área da comunidade, onde se realizavam as comemorações.
Uma enorme mesa havia sido montada, com comida, frutas e doces.
A festa se estendeu até o final da tarde, quando, finalmente, os noivos se despediram dos convidados e se prepararam para partir.
Entre um convidado e outro, Eric sussurrou no ouvido da esposa:
- Tenho uma surpresa para você.
- O que é?
- Logo saberá.
Ao cumprimentar o sogro, Eric disse:
- Pastor David, eu e Stephanie faremos uma breve viagem antes de nos instalarmos em nossa cabana.
- Você não havia dito nada...
Quando pretendem partir?
- Vamos agora mesmo, assim que sairmos daqui.
Fitando a filha, irritado, David indagou:
- Você já sabia?
Eric se antecipou, olhando a esposa com ternura:
- Não, estou fazendo uma surpresa. Ela acaba de saber.
Vamos voltar em duas ou, no máximo, três semanas.
Contrariado, David perguntou:
- E para onde vão?
- Tenho um primo que mora em Lebanon, ao norte de Nova York.
Ele não pôde comparecer ao nosso matrimónio devido aos compromissos que tem por lá, mas nos convidou para passarmos alguns dias com ele.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
Foi extremamente gentil, e eu gostaria de atender ao seu convite.
Logo as novas responsabilidades nos ocuparão por completo e não quero ausentar-me por muito tempo, conforme o senhor e eu combinamos.
Sem saber o que argumentar diante do inesperado, ele disse apenas:
- Espero que não falte com sua palavra, rapaz, e cumpra tudo o que combinamos.
- Não vou decepcioná-lo, pastor David.
Abraçando a esposa, ele enfatizou:
- Nenhum de nós irá decepcioná-lo.
David virou-se para cumprimentar outros convidados que se retiravam, e Eric e Stephanie saíram.
De mãos dadas, correram para a carroça e acomodaram pequena bagagem.
Ele tomou as rédeas dos animais e partiram.
Sorridente ao lado do marido, a jovem exclamou, ao alcançarem a estrada:
- Nem acredito que estamos fazendo esta viagem!
Que surpresa maravilhosa!
Sorrindo também, Eric pousou nos dela seus olhos grandes e brilhantes e perguntou:
- Está feliz?
- Demais! Este é um dia maravilhoso.
Jamais esquecerei a felicidade que sinto neste momento.
É o dia mais feliz da minha vida!
Não me lembro de ter sentido tamanha alegria antes!
- Quero que seja feliz, Stephanie.
Por isso, combinei com meu primo esta viagem.
Quero que comecemos nossa vida esclarecendo a questão de suas perturbações.
Imediatamente a jovem ficou pensativa.
Eric inquiriu:
- O que foi? Falei algo que não lhe agradou?
- Não, não é isso.
É que eu queria esquecer esses problemas, sabe?
Gostaria de deixar tudo isso para trás, não ter de pensar nem falar mais nesses assuntos que me entristecem.
Quero ser igual às outras garotas.
Quero apenas ser feliz.
Abraçando-a forte, o rapaz explicou:
- Também quero que você deixe para trás tudo o que a perturba, mas antes precisamos compreender a fundo o que se passa.
Estamos começando uma vida nova, e para isso precisamos encarar nossas dificuldades.
Não vai adiantar fugir delas.
Além do mais, percebi que durante a cerimónia você observava alguém invisível para os demais.
Quem era?
- Ninguém.
- Não precisa ficar assim, Stephanie.
Você pode confiar em mim, contar tudo o que se passa.
Estarei sempre ao seu lado para apoiá-la.
Pode dizer, quem você estava vendo?
Logo as novas responsabilidades nos ocuparão por completo e não quero ausentar-me por muito tempo, conforme o senhor e eu combinamos.
Sem saber o que argumentar diante do inesperado, ele disse apenas:
- Espero que não falte com sua palavra, rapaz, e cumpra tudo o que combinamos.
- Não vou decepcioná-lo, pastor David.
Abraçando a esposa, ele enfatizou:
- Nenhum de nós irá decepcioná-lo.
David virou-se para cumprimentar outros convidados que se retiravam, e Eric e Stephanie saíram.
De mãos dadas, correram para a carroça e acomodaram pequena bagagem.
Ele tomou as rédeas dos animais e partiram.
Sorridente ao lado do marido, a jovem exclamou, ao alcançarem a estrada:
- Nem acredito que estamos fazendo esta viagem!
Que surpresa maravilhosa!
Sorrindo também, Eric pousou nos dela seus olhos grandes e brilhantes e perguntou:
- Está feliz?
- Demais! Este é um dia maravilhoso.
Jamais esquecerei a felicidade que sinto neste momento.
É o dia mais feliz da minha vida!
Não me lembro de ter sentido tamanha alegria antes!
- Quero que seja feliz, Stephanie.
Por isso, combinei com meu primo esta viagem.
Quero que comecemos nossa vida esclarecendo a questão de suas perturbações.
Imediatamente a jovem ficou pensativa.
Eric inquiriu:
- O que foi? Falei algo que não lhe agradou?
- Não, não é isso.
É que eu queria esquecer esses problemas, sabe?
Gostaria de deixar tudo isso para trás, não ter de pensar nem falar mais nesses assuntos que me entristecem.
Quero ser igual às outras garotas.
Quero apenas ser feliz.
Abraçando-a forte, o rapaz explicou:
- Também quero que você deixe para trás tudo o que a perturba, mas antes precisamos compreender a fundo o que se passa.
Estamos começando uma vida nova, e para isso precisamos encarar nossas dificuldades.
Não vai adiantar fugir delas.
Além do mais, percebi que durante a cerimónia você observava alguém invisível para os demais.
Quem era?
- Ninguém.
- Não precisa ficar assim, Stephanie.
Você pode confiar em mim, contar tudo o que se passa.
Estarei sempre ao seu lado para apoiá-la.
Pode dizer, quem você estava vendo?
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
Ela hesitou, mas enfim contou:
- Peter não parava de fazer traquinagens e de chamar minha atenção.
Pendurava-se nas cortinas e corria entre elas.
Fiquei um pouco aflita.
- Então, querida, é disso que estou falando.
Estou certo de que meu primo Elder conseguirá nos ajudar.
É um homem bom, você vai gostar dele;
e, acima de tudo, vamos compreender melhor a sua situação.
Já era noite alta quando chegaram à cidade mais próxima, onde ficariam até o dia seguinte;
dali tomariam outra carruagem, que fazia o transporte de passageiros até New Hampshire.
De manhã, na hora da partida, acomodaram a bagagem e se sentaram lado a lado.
Eric aconchegou a esposa nos braços.
- Ainda que a viagem seja longa, a vista é linda.
Poderemos admirar as belíssimas paisagens pelo caminho.
- Já esteve lá antes?
- Sim, quando era bem jovem.
Depois o trabalho começou a exigir mais e acabamos nos distanciando um pouco.
O trabalho tem sido árduo e difícil.
- Mas a plantação de vocês é tão bela e abundante...
- Trabalhamos com afinco, porém quando vamos vender a colheita os preços são sempre baixos.
Querem que meu pai processe o trigo que produzimos, dizem que assim o preço será maior.
E o aconselharam a adquirir escravos para ajudar na lavoura.
- Que horror, Eric!
- Também tenho horror a essa prática.
- Estão mesmo trazendo negros para nosso país, como escravos?
- Muitos, principalmente nos estados do sul.
- Isso é errado, não é?
- Totalmente. Pessoas não deveriam ser transformadas em escravos.
Meu pai também não concorda, e por isso trabalhamos muito.
Dizem que os escravos são um bom investimento, pois paga-se uma única vez e eles trazem lucros por muito tempo.
- Não gosto desse assunto, Eric.
- Pois falemos de outras coisas.
A jovem sorriu e perguntou:
- Pode começar me contando o que gosta de comer.
Vou preparar pratos deliciosos.
Aprendi alguns que minha mãe ensinou.
- Que tal falarmos sobre filhos?
A jovem ficou séria e muda.
Não pensara em filhos, nem por um único momento.
Desejara casar-se e ter a própria família, estar com Eric, com quem se sentia realmente amada.
Quanto a filhos, não pensara nisso.
- Peter não parava de fazer traquinagens e de chamar minha atenção.
Pendurava-se nas cortinas e corria entre elas.
Fiquei um pouco aflita.
- Então, querida, é disso que estou falando.
Estou certo de que meu primo Elder conseguirá nos ajudar.
É um homem bom, você vai gostar dele;
e, acima de tudo, vamos compreender melhor a sua situação.
Já era noite alta quando chegaram à cidade mais próxima, onde ficariam até o dia seguinte;
dali tomariam outra carruagem, que fazia o transporte de passageiros até New Hampshire.
De manhã, na hora da partida, acomodaram a bagagem e se sentaram lado a lado.
Eric aconchegou a esposa nos braços.
- Ainda que a viagem seja longa, a vista é linda.
Poderemos admirar as belíssimas paisagens pelo caminho.
- Já esteve lá antes?
- Sim, quando era bem jovem.
Depois o trabalho começou a exigir mais e acabamos nos distanciando um pouco.
O trabalho tem sido árduo e difícil.
- Mas a plantação de vocês é tão bela e abundante...
- Trabalhamos com afinco, porém quando vamos vender a colheita os preços são sempre baixos.
Querem que meu pai processe o trigo que produzimos, dizem que assim o preço será maior.
E o aconselharam a adquirir escravos para ajudar na lavoura.
- Que horror, Eric!
- Também tenho horror a essa prática.
- Estão mesmo trazendo negros para nosso país, como escravos?
- Muitos, principalmente nos estados do sul.
- Isso é errado, não é?
- Totalmente. Pessoas não deveriam ser transformadas em escravos.
Meu pai também não concorda, e por isso trabalhamos muito.
Dizem que os escravos são um bom investimento, pois paga-se uma única vez e eles trazem lucros por muito tempo.
- Não gosto desse assunto, Eric.
- Pois falemos de outras coisas.
A jovem sorriu e perguntou:
- Pode começar me contando o que gosta de comer.
Vou preparar pratos deliciosos.
Aprendi alguns que minha mãe ensinou.
- Que tal falarmos sobre filhos?
A jovem ficou séria e muda.
Não pensara em filhos, nem por um único momento.
Desejara casar-se e ter a própria família, estar com Eric, com quem se sentia realmente amada.
Quanto a filhos, não pensara nisso.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
O rapaz insistiu:
- Quero ter filhos logo, e você?
Sem esperar resposta, fitou-a e disse feliz:
- Vamos ter vários.
Quero pelo menos seis filhos.
- Seis? Por que tantos?
- Ora, meus pais têm cinco e seus pais quatro.
Muitos de nossos irmãos na comunidade têm seis e até oito filhos.
Não acho tanto assim.
Quero ter muitos filhos.
Esse é meu sonho, uma família grande e feliz.
Abraçou a jovem, que continuava em silêncio.
- E você, quantos filhos gostaria de ter?
Stephanie hesitou.
Não sabia o que responder, e disse por fim:
- Não precisamos ter tantos filhos.
Quero dois ou três...
- Está brincando comigo.
Do que tem medo?
- Não sei, acho que filhos dão muito trabalho...
- E muita alegria também.
Vamos, três é muito pouco.
Pelo menos quatro!
Sem saber o que dizer e não desejando criar nenhum desconforto naquele momento mágico que vivia, respondeu:
- Deus nos dará os filhos que quiser.
Ele nos abençoará e teremos uma linda família.
- Isso mesmo! Assim é que se fala!
Essa é minha esposa!
Abraçando-a com força, seguiu conversando sobre os mais diversos assuntos.
No entanto, Stephanie ficou apreensiva.
Não imaginara que Eric quisesse filhos tão depressa.
Ela queria fruir a vida em companhia do marido, ter liberdade para passear, namorar e ser feliz.
Filhos seriam intrusos naquele momento...
***
A vários quilómetros dali, em Nova York, Sean negociava um grande carregamento de escravos.
Dentro de um beco escuro, com uma arma bem visível presa na cinta, ele argumentava com o comprador:
-Terá de confiar em mim.
Este é um carregamento de primeira.
São apenas 23, todos de excelente qualidade.
Seu investimento terá retorno em pouco tempo.
- Quero ter filhos logo, e você?
Sem esperar resposta, fitou-a e disse feliz:
- Vamos ter vários.
Quero pelo menos seis filhos.
- Seis? Por que tantos?
- Ora, meus pais têm cinco e seus pais quatro.
Muitos de nossos irmãos na comunidade têm seis e até oito filhos.
Não acho tanto assim.
Quero ter muitos filhos.
Esse é meu sonho, uma família grande e feliz.
Abraçou a jovem, que continuava em silêncio.
- E você, quantos filhos gostaria de ter?
Stephanie hesitou.
Não sabia o que responder, e disse por fim:
- Não precisamos ter tantos filhos.
Quero dois ou três...
- Está brincando comigo.
Do que tem medo?
- Não sei, acho que filhos dão muito trabalho...
- E muita alegria também.
Vamos, três é muito pouco.
Pelo menos quatro!
Sem saber o que dizer e não desejando criar nenhum desconforto naquele momento mágico que vivia, respondeu:
- Deus nos dará os filhos que quiser.
Ele nos abençoará e teremos uma linda família.
- Isso mesmo! Assim é que se fala!
Essa é minha esposa!
Abraçando-a com força, seguiu conversando sobre os mais diversos assuntos.
No entanto, Stephanie ficou apreensiva.
Não imaginara que Eric quisesse filhos tão depressa.
Ela queria fruir a vida em companhia do marido, ter liberdade para passear, namorar e ser feliz.
Filhos seriam intrusos naquele momento...
***
A vários quilómetros dali, em Nova York, Sean negociava um grande carregamento de escravos.
Dentro de um beco escuro, com uma arma bem visível presa na cinta, ele argumentava com o comprador:
-Terá de confiar em mim.
Este é um carregamento de primeira.
São apenas 23, todos de excelente qualidade.
Seu investimento terá retorno em pouco tempo.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
O comprador, representante de um grande fazendeiro do estado da Virgínia, resmungou contrariado:
- Está muito caro, e além disso não poderei vê-los antes de pagar.
Assim está ficando difícil... E são somente 23!
Você disse que traria pelo menos cinquenta.
Toda vez é a mesma coisa.
Montamos uma operação arriscadíssima e complexa, e para quê?
Para vinte negros?
Agarrando o outro pelo colarinho, Sean disse:
- Olhe aqui, o contrabando de escravos está ficando cada vez mais difícil e perigoso.
Arrisco a própria vida para trazê-los.
Portanto, o preço está é muito barato!
Se não estiver interessado, tenho uma fila esperando meu aviso.
Todos querem os escravos e poucos continuam com o contrabando.
Sabe quantos já foram pegos pelo governo?
O outro, ainda que indignado, ouvia em silêncio.
Sean prosseguiu:
- Decida logo. O que vai ser?
Vai ficar ou não com eles?
- Preciso falar com o meu patrão.
- Se sair deste beco sem pagar, perde o negócio.
Entendeu bem?
Soltando o homem, ele arrumou as roupas e virou-se em retirada.
- O que estou fazendo?
Não preciso negociar com você.
E ia saindo do lugar, quando o outro correu atrás dele:
- Espere.
Sean virou-se e aguardou.
Paul hesitou um pouco, depois concordou:
- Está feito.
- Sábia decisão.
Já estava prestes a aumentar o preço dos escravos.
O comprador colocou uma sacola de couro nas mãos de Sean:
- Aqui está o valor que pediu.
Podemos transferir os escravos agora, como sempre fazemos?
- É claro. Eles estão no porto, prontos para serem transferidos de embarcação.
- Todos homens?
- Vinte homens e três mulheres.
- Você disse que eram todos homens!
É deles que precisamos para o trabalho na lavoura.
- E você esquece que pode diluir o preço deles, ao se reproduzirem?
- Está muito caro, e além disso não poderei vê-los antes de pagar.
Assim está ficando difícil... E são somente 23!
Você disse que traria pelo menos cinquenta.
Toda vez é a mesma coisa.
Montamos uma operação arriscadíssima e complexa, e para quê?
Para vinte negros?
Agarrando o outro pelo colarinho, Sean disse:
- Olhe aqui, o contrabando de escravos está ficando cada vez mais difícil e perigoso.
Arrisco a própria vida para trazê-los.
Portanto, o preço está é muito barato!
Se não estiver interessado, tenho uma fila esperando meu aviso.
Todos querem os escravos e poucos continuam com o contrabando.
Sabe quantos já foram pegos pelo governo?
O outro, ainda que indignado, ouvia em silêncio.
Sean prosseguiu:
- Decida logo. O que vai ser?
Vai ficar ou não com eles?
- Preciso falar com o meu patrão.
- Se sair deste beco sem pagar, perde o negócio.
Entendeu bem?
Soltando o homem, ele arrumou as roupas e virou-se em retirada.
- O que estou fazendo?
Não preciso negociar com você.
E ia saindo do lugar, quando o outro correu atrás dele:
- Espere.
Sean virou-se e aguardou.
Paul hesitou um pouco, depois concordou:
- Está feito.
- Sábia decisão.
Já estava prestes a aumentar o preço dos escravos.
O comprador colocou uma sacola de couro nas mãos de Sean:
- Aqui está o valor que pediu.
Podemos transferir os escravos agora, como sempre fazemos?
- É claro. Eles estão no porto, prontos para serem transferidos de embarcação.
- Todos homens?
- Vinte homens e três mulheres.
- Você disse que eram todos homens!
É deles que precisamos para o trabalho na lavoura.
- E você esquece que pode diluir o preço deles, ao se reproduzirem?
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
Paul ficou em silêncio.
Tomaram caminhos separados até o cais, onde se encontraram outra vez.
Sean declarou:
- Caso deseje negociar comigo outra vez, venha sozinho.
Se souber que há mais alguém por perto, nossos negócios acabarão...
E não gosto de tomar prejuízo, está entendendo? Diga isso ao seu patrão.
Sean entregou uma chave ao outro e apontou com a cabeça:
- É aquele navio preto e vermelho.
Estão trancados no porão, todos amordaçados.
Não faça barulho. Três de meus homens esperam para ajudar.
Paul tomou a chave e Sean, ajeitando as duas sacolas de couro nos ombros, andou em sentido contrário ao porto e sumiu na noite escura.
Tomaram caminhos separados até o cais, onde se encontraram outra vez.
Sean declarou:
- Caso deseje negociar comigo outra vez, venha sozinho.
Se souber que há mais alguém por perto, nossos negócios acabarão...
E não gosto de tomar prejuízo, está entendendo? Diga isso ao seu patrão.
Sean entregou uma chave ao outro e apontou com a cabeça:
- É aquele navio preto e vermelho.
Estão trancados no porão, todos amordaçados.
Não faça barulho. Três de meus homens esperam para ajudar.
Paul tomou a chave e Sean, ajeitando as duas sacolas de couro nos ombros, andou em sentido contrário ao porto e sumiu na noite escura.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
QUARENTA
DEPOIS DE LONGA VIAGEM, a carruagem finalmente alcançou seu destino e entrou na cidade de New Hampshire.
Stephanie, ansiosa e atenta, não deixava escapar nenhum detalhe.
Não se sentia cansada, e sim cheia de entusiasmo.
Nunca antes havia saído dos restritos limites da comunidade quaker em que vivia, e aquela viagem representava liberdade.
Assim que o veículo parou, Eric pulou e ajudou-a a descer.
Logo avistaram Elder20, primo de Eric, que os aguardava.
- É um grande prazer recebê-los aqui, em nossa casa.
Desejo felicidade a vocês dois.
Afectuoso, abraçou Eric e depois, com um discreto gesto de cabeça, cumprimentou Stephanie:
- Muito prazer, senhora.
Seja bem-vinda à nossa família.
Ela sorriu e agradeceu.
Acomodaram-se na carroça e seguiram para o vilarejo de Lebanon.
A jovem examinava Elder com atenção:
homem de cerca de 35 anos, estatura mediana, cabelos negros e semblante sereno e confiante;
falava pausadamente, sem ansiedade.
Logo estavam na acolhedora residência do primo, que vivia com a família em uma das comunidades shakers que se haviam instalado nos Estados Unidos.
Era uma casa agradável, longe da vila, situada bem no meio de árvores e junto a uma nascente que se transformava em riacho de águas cristalinas.
Ao descer da carroça, Stephanie sentiu a brisa fresca e o perfume das árvores e das flores e sorriu, observando ao longe o rio e pequenos esquilos que corriam de uma árvore a outra, através dos galhos que se tocavam.
- Que lugar lindo!
- É realmente muito belo.
Apreciamos viver perto da natureza.
Ela nos dá todo o sustento de que necessitamos e aqui nos sentimos mais perto de Deus.
Imagino o Pai como um ser de grande beleza, para ter criado lugares tão especiais.
A família os recebeu com cordialidade.
Depois do almoço, Elder abordou o tema:
- E então, Stephanie?
Eric comentou sobre suas experiências.
Desconcertada, ela respondeu:
- É, parece que sou meio estranha.
Vejo coisas que não existem e pessoas que já morreram.
Elder demonstrou vivaz interesse:
- E há quanto tempo isso acontece?
- Desde que era pequena...
Com quatro anos, segundo minha mãe.
Contudo, tenho lembrança dessas experiências desde que adquiri noção de mim mesma.
No início pensava que eram pessoas vivas, tamanha a realidade delas para mim.
À medida que cresci, as visões se espaçaram, mas não acabaram.
Continuo sendo atormentada por elas.
DEPOIS DE LONGA VIAGEM, a carruagem finalmente alcançou seu destino e entrou na cidade de New Hampshire.
Stephanie, ansiosa e atenta, não deixava escapar nenhum detalhe.
Não se sentia cansada, e sim cheia de entusiasmo.
Nunca antes havia saído dos restritos limites da comunidade quaker em que vivia, e aquela viagem representava liberdade.
Assim que o veículo parou, Eric pulou e ajudou-a a descer.
Logo avistaram Elder20, primo de Eric, que os aguardava.
- É um grande prazer recebê-los aqui, em nossa casa.
Desejo felicidade a vocês dois.
Afectuoso, abraçou Eric e depois, com um discreto gesto de cabeça, cumprimentou Stephanie:
- Muito prazer, senhora.
Seja bem-vinda à nossa família.
Ela sorriu e agradeceu.
Acomodaram-se na carroça e seguiram para o vilarejo de Lebanon.
A jovem examinava Elder com atenção:
homem de cerca de 35 anos, estatura mediana, cabelos negros e semblante sereno e confiante;
falava pausadamente, sem ansiedade.
Logo estavam na acolhedora residência do primo, que vivia com a família em uma das comunidades shakers que se haviam instalado nos Estados Unidos.
Era uma casa agradável, longe da vila, situada bem no meio de árvores e junto a uma nascente que se transformava em riacho de águas cristalinas.
Ao descer da carroça, Stephanie sentiu a brisa fresca e o perfume das árvores e das flores e sorriu, observando ao longe o rio e pequenos esquilos que corriam de uma árvore a outra, através dos galhos que se tocavam.
- Que lugar lindo!
- É realmente muito belo.
Apreciamos viver perto da natureza.
Ela nos dá todo o sustento de que necessitamos e aqui nos sentimos mais perto de Deus.
Imagino o Pai como um ser de grande beleza, para ter criado lugares tão especiais.
A família os recebeu com cordialidade.
Depois do almoço, Elder abordou o tema:
- E então, Stephanie?
Eric comentou sobre suas experiências.
Desconcertada, ela respondeu:
- É, parece que sou meio estranha.
Vejo coisas que não existem e pessoas que já morreram.
Elder demonstrou vivaz interesse:
- E há quanto tempo isso acontece?
- Desde que era pequena...
Com quatro anos, segundo minha mãe.
Contudo, tenho lembrança dessas experiências desde que adquiri noção de mim mesma.
No início pensava que eram pessoas vivas, tamanha a realidade delas para mim.
À medida que cresci, as visões se espaçaram, mas não acabaram.
Continuo sendo atormentada por elas.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
- E o que faz quando isso ocorre?
- Depende. Quase sempre peço para irem embora, pois meu pai insiste que são a manifestação de satanás;
que me atormentam porque sou uma pessoa cheia de pecados e meu coração é mau.
Stephanie fez uma pausa e, com os olhos rasos de lágrimas, disse:
- Acho que é por causa disso que meus pais não gostam de mim...
Elder falou com brandura:
- Não fique triste, Stephanie.
Você tem um dom e não deve se envergonhar dele.
- Que dom?
- Há muitos como você em nossa comunidade, com essa mesma possibilidade.
Na verdade, eu também os vejo.
- O senhor?
- Sim.
- E por que isso acontece?
Elder sorriu, tomou um pouco de refresco que a esposa colocara sobre a mesinha da varanda, para onde foram após a refeição, e prosseguiu:
- Essa é uma resposta que também estou procurando, e ainda não posso dá-la com precisão.
O que sei é que essas visões são de facto espíritos de pessoas que já morreram e que alguns podem ver, nem todos.
Há espíritos que se manifestam constantemente em nossa comunidade.
- Como sabe que não são demónios?
- Entre outras coisas, pelo amor que sentimos por eles.
- Amor? São pessoas que conheciam quando vivas?
- Não.
- Estou confusa.
- É natural, você está presa aos ensinamentos que recebeu de seus pais e de sua comunidade.
A despeito de isso ser bom e necessário, precisamos aceitar que não sabemos tudo, que há muito a ser descoberto, e se mantivermos o coração sinceramente unido a Deus poderemos receber novas e importantes revelações.
Stephanie, embora atenta, ficava cada vez mais confusa.
Elder, alma sensível e amorosa, percebendo as emoções contraditórias da jovem, sugeriu:
- Melhor do que falarmos sobre os factos será você os presenciar.
Hoje à noite temos um culto de evangelização que fazemos para esses irmãos.
Vocês podem participar e verificar de perto o que acontece.
Tenho certeza de que será de enorme benefício para você, Stephanie.
Depois, conversaremos e tentarei esclarecer suas dúvidas.
O anfitrião fez longa pausa, observou o horizonte e propôs:
- Devem estar cansados da viagem.
Não gostariam de descansar durante a tarde?
Linda preparou uma cama quente onde poderão se refazer.
Além do mais, o frio está ficando mais intenso.
Levantaram-se prontamente e seguiram Elder para o interior da casa.
O casal se recolheu, tirando toda a tarde para descansar.
No início da noite, sentaram-se à mesa para o jantar.
A refeição era bem leve, apenas com frutas e milho cozido.
- Depende. Quase sempre peço para irem embora, pois meu pai insiste que são a manifestação de satanás;
que me atormentam porque sou uma pessoa cheia de pecados e meu coração é mau.
Stephanie fez uma pausa e, com os olhos rasos de lágrimas, disse:
- Acho que é por causa disso que meus pais não gostam de mim...
Elder falou com brandura:
- Não fique triste, Stephanie.
Você tem um dom e não deve se envergonhar dele.
- Que dom?
- Há muitos como você em nossa comunidade, com essa mesma possibilidade.
Na verdade, eu também os vejo.
- O senhor?
- Sim.
- E por que isso acontece?
Elder sorriu, tomou um pouco de refresco que a esposa colocara sobre a mesinha da varanda, para onde foram após a refeição, e prosseguiu:
- Essa é uma resposta que também estou procurando, e ainda não posso dá-la com precisão.
O que sei é que essas visões são de facto espíritos de pessoas que já morreram e que alguns podem ver, nem todos.
Há espíritos que se manifestam constantemente em nossa comunidade.
- Como sabe que não são demónios?
- Entre outras coisas, pelo amor que sentimos por eles.
- Amor? São pessoas que conheciam quando vivas?
- Não.
- Estou confusa.
- É natural, você está presa aos ensinamentos que recebeu de seus pais e de sua comunidade.
A despeito de isso ser bom e necessário, precisamos aceitar que não sabemos tudo, que há muito a ser descoberto, e se mantivermos o coração sinceramente unido a Deus poderemos receber novas e importantes revelações.
Stephanie, embora atenta, ficava cada vez mais confusa.
Elder, alma sensível e amorosa, percebendo as emoções contraditórias da jovem, sugeriu:
- Melhor do que falarmos sobre os factos será você os presenciar.
Hoje à noite temos um culto de evangelização que fazemos para esses irmãos.
Vocês podem participar e verificar de perto o que acontece.
Tenho certeza de que será de enorme benefício para você, Stephanie.
Depois, conversaremos e tentarei esclarecer suas dúvidas.
O anfitrião fez longa pausa, observou o horizonte e propôs:
- Devem estar cansados da viagem.
Não gostariam de descansar durante a tarde?
Linda preparou uma cama quente onde poderão se refazer.
Além do mais, o frio está ficando mais intenso.
Levantaram-se prontamente e seguiram Elder para o interior da casa.
O casal se recolheu, tirando toda a tarde para descansar.
No início da noite, sentaram-se à mesa para o jantar.
A refeição era bem leve, apenas com frutas e milho cozido.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
Elder explicou:
- Nossa refeição nocturna, especialmente antes do culto, é sempre muito leve.
Isso nos facilita o contacto com os espíritos.
Depois do jantar seguiram directo para a reunião na igreja dos shakers21 de Lebanon.
Ao entrarem, Stephanie sentiu-se muito bem naquele ambiente.
Embora estivesse apreensiva, um pouco desconfiada, comparando cada detalhe com aquilo a que estava habituada em sua própria comunidade, sentiu-se inesperadamente confortável naquele lugar.
Em quase tudo era semelhante à sua igreja:
a disposição dos móveis, o tamanho do salão, os bancos, que inclusive eram mais perfeitamente elaborados.
Tudo lhe parecia familiar e ela, aos poucos, foi ficando mais à vontade, deixando-se envolver pela energia tranquila do recinto.
No plano espiritual, Geórgia, satisfeita, acompanhava a filha.
Endereçava-lhe suaves vibrações de amor e harmonia, e dizia aos seus ouvidos espirituais:
- Está segura neste ambiente.
Poderá ter contacto com o atributo da mediunidade, de que é portadora, tal como diversos membros desta comunidade.
Tendo sua sensibilidade ampliada, começará a compreender muitas questões;
não apenas aprenderá a lidar com o fenómeno da manifestação espiritual, como entrará igualmente em contacto consigo mesma.
Que Jesus a abençoe e ampare, minha filha, descerrando-lhe o entendimento de que tanto necessita.
Serena, Stephanie sorria a todos com cordialidade, liberta por inteiro de suas apreensões.
O culto começou como de costume, muito semelhante aos que ocorriam na igreja em Pensilvânia.
O pastor fez uma oração, foram entoados alguns cânticos, leu-se um trecho da Bíblia, seguido de breve pregação do reverendo sobre o tema, que se encontrava em I Coríntios 13:
"ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que refine...
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o amor".
Sem saber por que, naquela noite o capítulo que já ouvira tantas e tantas vezes seu próprio pai pregando tocou mais fundo seu coração.
Pensou que o amor era verdadeiramente importante.
Avaliou a si mesma e admitiu, com sinceridade, que aquela definição de amor estava distante do que sentia.
Ela não sabia amar como era ali descrito.
Estava mergulhada em sua meditação, quando notou que a iluminação do salão diminuiu.
Olhou ao redor, e ouviu a explicação de Elder:
- Não se assustem.
Durante o contacto com os espíritos nos sentimos mais confortáveis mantendo as luzes do salão um pouco mais suaves.
O coração de Stephanie disparou.
Um medo enorme apossou-se da jovem, que segurou firme a mão do marido.
O silêncio no salão se fez absoluto à medida que crescia a expectativa dentro dele.
Subitamente, uma mulher ao fundo falou com voz grossa e estranha:
- Pedimos permissão para entrar.
O pastor respondeu:
- Em nome de Jesus, têm autorização para se juntar a nós.
Stephanie, incapaz de controlar a emoção, viu o salão repleto de peles-vermelhas, todos com vestimenta indígena e alguns com belos cocares.
Eram muitos, que entravam e formaram um grande círculo ao redor das pessoas que ali estavam.
- Nossa refeição nocturna, especialmente antes do culto, é sempre muito leve.
Isso nos facilita o contacto com os espíritos.
Depois do jantar seguiram directo para a reunião na igreja dos shakers21 de Lebanon.
Ao entrarem, Stephanie sentiu-se muito bem naquele ambiente.
Embora estivesse apreensiva, um pouco desconfiada, comparando cada detalhe com aquilo a que estava habituada em sua própria comunidade, sentiu-se inesperadamente confortável naquele lugar.
Em quase tudo era semelhante à sua igreja:
a disposição dos móveis, o tamanho do salão, os bancos, que inclusive eram mais perfeitamente elaborados.
Tudo lhe parecia familiar e ela, aos poucos, foi ficando mais à vontade, deixando-se envolver pela energia tranquila do recinto.
No plano espiritual, Geórgia, satisfeita, acompanhava a filha.
Endereçava-lhe suaves vibrações de amor e harmonia, e dizia aos seus ouvidos espirituais:
- Está segura neste ambiente.
Poderá ter contacto com o atributo da mediunidade, de que é portadora, tal como diversos membros desta comunidade.
Tendo sua sensibilidade ampliada, começará a compreender muitas questões;
não apenas aprenderá a lidar com o fenómeno da manifestação espiritual, como entrará igualmente em contacto consigo mesma.
Que Jesus a abençoe e ampare, minha filha, descerrando-lhe o entendimento de que tanto necessita.
Serena, Stephanie sorria a todos com cordialidade, liberta por inteiro de suas apreensões.
O culto começou como de costume, muito semelhante aos que ocorriam na igreja em Pensilvânia.
O pastor fez uma oração, foram entoados alguns cânticos, leu-se um trecho da Bíblia, seguido de breve pregação do reverendo sobre o tema, que se encontrava em I Coríntios 13:
"ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que refine...
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o amor".
Sem saber por que, naquela noite o capítulo que já ouvira tantas e tantas vezes seu próprio pai pregando tocou mais fundo seu coração.
Pensou que o amor era verdadeiramente importante.
Avaliou a si mesma e admitiu, com sinceridade, que aquela definição de amor estava distante do que sentia.
Ela não sabia amar como era ali descrito.
Estava mergulhada em sua meditação, quando notou que a iluminação do salão diminuiu.
Olhou ao redor, e ouviu a explicação de Elder:
- Não se assustem.
Durante o contacto com os espíritos nos sentimos mais confortáveis mantendo as luzes do salão um pouco mais suaves.
O coração de Stephanie disparou.
Um medo enorme apossou-se da jovem, que segurou firme a mão do marido.
O silêncio no salão se fez absoluto à medida que crescia a expectativa dentro dele.
Subitamente, uma mulher ao fundo falou com voz grossa e estranha:
- Pedimos permissão para entrar.
O pastor respondeu:
- Em nome de Jesus, têm autorização para se juntar a nós.
Stephanie, incapaz de controlar a emoção, viu o salão repleto de peles-vermelhas, todos com vestimenta indígena e alguns com belos cocares.
Eram muitos, que entravam e formaram um grande círculo ao redor das pessoas que ali estavam.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
A jovem virou-se para o marido e indagou:
- De onde eles vieram?
- Quem? - Eric sussurrou.
- Esses índios que acabaram de entrar, são daqui?
Pergunte ao Elder, por favor.
O prestimoso senhor a escutara e respondeu:
- São espíritos de uma tribo de peles-vermelhas que nos visitam há vários anos.
Stephanie, muda e paralisada na cadeira, mal conseguia piscar.
Então, tomada de forte sensação que não controlava, ergueu-se e iniciou uma dança tipicamente indígena.
Na mesma hora, outras pessoas, homens e mulheres, ergueram-se e também se puseram a dançar.
Cantavam uma música e falavam em idioma indígena.
Eric fez menção de levantar-se, mas Linda o deteve:
- Não se preocupe, ela está bem.
Todos estão bem.
Ele voltou a sentar-se e observou que Elder era um dos que dançavam.
Não demorou e todos pararam, falando muito.
O pastor tomou a palavra.
- Irmãos peles-vermelhas, é com alegria que os recebemos entre nós esta noite.
Ouviram a mensagem sobre o amor?
Alguns daqueles que estavam de pé responderam na língua indígena, afirmativamente.
O pastor prosseguiu:
- Desde que chegaram até nós, têm manifestado o ressentimento que sentem por terem sido praticamente expulsos de suas terras pelos homens brancos.
Somos todos irmãos e, muito embora alguns de nós tenham agido de modo totalmente contrário ao amor a que nos referimos esta noite, estamos aqui para tentar ajudá-los.
Deus, em seu amor infinito, quer sempre o melhor para todos...
E continuou falando um pouco mais sobre o amor, directamente para aquele grupo de espíritos.
Eles permaneceram em silêncio.
Ao final, dançaram novamente e um deles falou através de Elder:
- Agradecemos por nos receberem.
Muitos outros virão depois de nós, para falar aos homens que ainda estão na Terra.
Depois se despediram e partiram.
Aos poucos, um a um, todos voltaram aos seus bancos.
Entoaram novo cântico e encerraram o culto.
Stephanie, que retornou ao seu lugar auxiliada por Elder, sentou-se e, fitando o marido, indagou:
- O que aconteceu?
- Não se lembra?
- Foi estranho, como se visse tudo de longe.
Já a caminho de casa, estando todos na carroça, Stephanie, muda, segurava com força o braço de Eric.
- De onde eles vieram?
- Quem? - Eric sussurrou.
- Esses índios que acabaram de entrar, são daqui?
Pergunte ao Elder, por favor.
O prestimoso senhor a escutara e respondeu:
- São espíritos de uma tribo de peles-vermelhas que nos visitam há vários anos.
Stephanie, muda e paralisada na cadeira, mal conseguia piscar.
Então, tomada de forte sensação que não controlava, ergueu-se e iniciou uma dança tipicamente indígena.
Na mesma hora, outras pessoas, homens e mulheres, ergueram-se e também se puseram a dançar.
Cantavam uma música e falavam em idioma indígena.
Eric fez menção de levantar-se, mas Linda o deteve:
- Não se preocupe, ela está bem.
Todos estão bem.
Ele voltou a sentar-se e observou que Elder era um dos que dançavam.
Não demorou e todos pararam, falando muito.
O pastor tomou a palavra.
- Irmãos peles-vermelhas, é com alegria que os recebemos entre nós esta noite.
Ouviram a mensagem sobre o amor?
Alguns daqueles que estavam de pé responderam na língua indígena, afirmativamente.
O pastor prosseguiu:
- Desde que chegaram até nós, têm manifestado o ressentimento que sentem por terem sido praticamente expulsos de suas terras pelos homens brancos.
Somos todos irmãos e, muito embora alguns de nós tenham agido de modo totalmente contrário ao amor a que nos referimos esta noite, estamos aqui para tentar ajudá-los.
Deus, em seu amor infinito, quer sempre o melhor para todos...
E continuou falando um pouco mais sobre o amor, directamente para aquele grupo de espíritos.
Eles permaneceram em silêncio.
Ao final, dançaram novamente e um deles falou através de Elder:
- Agradecemos por nos receberem.
Muitos outros virão depois de nós, para falar aos homens que ainda estão na Terra.
Depois se despediram e partiram.
Aos poucos, um a um, todos voltaram aos seus bancos.
Entoaram novo cântico e encerraram o culto.
Stephanie, que retornou ao seu lugar auxiliada por Elder, sentou-se e, fitando o marido, indagou:
- O que aconteceu?
- Não se lembra?
- Foi estranho, como se visse tudo de longe.
Já a caminho de casa, estando todos na carroça, Stephanie, muda, segurava com força o braço de Eric.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
- Sente-se bem, minha filha? - perguntou Elder.
- Um pouco confusa.
Minha cabeça está pesada.
- É natural. Trata-se de uma experiência muito intensa.
Ela ficou calada por alguns instantes, depois indagou:
- O que se passou ali dentro?
- Recebemos alguns irmãos nossos, espíritos de índios peles-vermelhas, que, não sabemos como, se manifestam através de alguns de nós.
Você, Stephanie, tem a capacidade de ver e ouvir os espíritos de homens que já morreram.
Eles não são seres do mal, são apenas espíritos.
- E o que querem?
- A princípio não sabíamos;
ficamos perplexos, exactamente como você está agora.
Depois, com a convivência, entendemos que eles vieram a nós para aprender e lhes estamos ensinando sobre Deus e sobre Jesus.
Parece que se sentem muito bem quando lhes falamos.
Você viu hoje, não foi?
- Sim...
- Eles querem ouvir sobre Jesus, às vezes nos fazem perguntas típicas daqueles que estão aprendendo.
São almas carentes do Evangelho, e o recebem com alegria.
Stephanie se mostrava confusa e angustiada:
- Como pode ser isso?
Aprendi que não podemos nos comunicar com os mortos...
Linda, tocando o braço da jovem, respondeu:
- Sei que é difícil;
também recebemos ensinamentos nesse sentido.
Todavia, não podemos ignorar aquilo que se passa todas as semanas em nossas reuniões.
Não contamos às outras pessoas sobre o que acontece em nosso meio, pois não aceitariam.
A grande maioria não acredita e não compreende.
Seu pai, por exemplo: não adianta contar a ele;
mesmo que visse, não acreditaria.
Mas não podemos ignorar aquilo que vimos e ouvimos, e sobretudo o que sentimos.
Esses espíritos são irmãos nossos, que nos procuram querendo aprender sobre Deus.
O que fazer? Ignorá-los?
Preferimos repetir o apóstolo Paulo:
"não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido".
Durante todo o percurso e nos dias que se seguiram, Stephanie conversou por longas horas com Elder, buscando esclarecer suas dúvidas.
Na semana seguinte, participaram da reunião, vivendo aquela experiência com grande intensidade.
Geórgia auxiliava a filha, fazendo baixar sua ansiedade e vibrando sobre ela confiança e serenidade.
Ao final daquele período, quando se preparavam para partir, de regresso à Pensilvânia, Stephanie abraçou Elder e agradeceu:
- Muito obrigada por tudo o que me proporcionou.
Volto para casa com mais esclarecimento sobre minhas experiências e, principalmente, sabendo que não sou uma pessoa amaldiçoada.
- Um pouco confusa.
Minha cabeça está pesada.
- É natural. Trata-se de uma experiência muito intensa.
Ela ficou calada por alguns instantes, depois indagou:
- O que se passou ali dentro?
- Recebemos alguns irmãos nossos, espíritos de índios peles-vermelhas, que, não sabemos como, se manifestam através de alguns de nós.
Você, Stephanie, tem a capacidade de ver e ouvir os espíritos de homens que já morreram.
Eles não são seres do mal, são apenas espíritos.
- E o que querem?
- A princípio não sabíamos;
ficamos perplexos, exactamente como você está agora.
Depois, com a convivência, entendemos que eles vieram a nós para aprender e lhes estamos ensinando sobre Deus e sobre Jesus.
Parece que se sentem muito bem quando lhes falamos.
Você viu hoje, não foi?
- Sim...
- Eles querem ouvir sobre Jesus, às vezes nos fazem perguntas típicas daqueles que estão aprendendo.
São almas carentes do Evangelho, e o recebem com alegria.
Stephanie se mostrava confusa e angustiada:
- Como pode ser isso?
Aprendi que não podemos nos comunicar com os mortos...
Linda, tocando o braço da jovem, respondeu:
- Sei que é difícil;
também recebemos ensinamentos nesse sentido.
Todavia, não podemos ignorar aquilo que se passa todas as semanas em nossas reuniões.
Não contamos às outras pessoas sobre o que acontece em nosso meio, pois não aceitariam.
A grande maioria não acredita e não compreende.
Seu pai, por exemplo: não adianta contar a ele;
mesmo que visse, não acreditaria.
Mas não podemos ignorar aquilo que vimos e ouvimos, e sobretudo o que sentimos.
Esses espíritos são irmãos nossos, que nos procuram querendo aprender sobre Deus.
O que fazer? Ignorá-los?
Preferimos repetir o apóstolo Paulo:
"não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido".
Durante todo o percurso e nos dias que se seguiram, Stephanie conversou por longas horas com Elder, buscando esclarecer suas dúvidas.
Na semana seguinte, participaram da reunião, vivendo aquela experiência com grande intensidade.
Geórgia auxiliava a filha, fazendo baixar sua ansiedade e vibrando sobre ela confiança e serenidade.
Ao final daquele período, quando se preparavam para partir, de regresso à Pensilvânia, Stephanie abraçou Elder e agradeceu:
- Muito obrigada por tudo o que me proporcionou.
Volto para casa com mais esclarecimento sobre minhas experiências e, principalmente, sabendo que não sou uma pessoa amaldiçoada.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
Elder retribuiu o cumprimento carinhoso, dizendo:
- Lembre-se de que Deus tem seus propósitos em tudo o que nos acontece, sempre.
Confie nele.
"Entrega teu caminho ao Senhor, confia nele e o mais ele fará."
Stephanie acomodou-se na carruagem e acenou pela janela, despedindo-se dos amigos.
Quando o carro partiu, ela abraçou o marido, que comentou:
- Eu não disse que seria bom virmos?
- Você já sabia de tudo o que ocorria aqui?
- Quando esteve em minha casa, Elder contou que estavam recebendo visitas de espíritos, sem descrever todos os pormenores.
Acho que ele tinha receio da reacção de meus pais.
Foi a mim que falou mais detalhadamente, e ainda assim é preciso presenciar para compreender.
- E como tinha tanta certeza de que seria bom para mim?
- Não sei, algo me dizia que deveríamos vir.
Stephanie sorriu, encostando a cabeça no ombro de Eric:
- Devem ter sido os espíritos que lhe falaram ao coração - sugeriu.
Virando-se para ela, ele disse:
- Será? Não tinha pensado nisso.
Depois de longa jornada, os dois finalmente chegaram à pequena cabana de madeira, que fora toda reconstruída pelos mãos do próprio Eric, com a ajuda do pai.
Não ficava muito longe da casa onde Stephanie morara com a família.
Quando ela pisou no singelo alpendre, sentiu forte vertigem e quase desmaiou, sendo apoiada pelos braços fortes do esposo.
Ele a acomodou em uma cadeira de balanço que colocara bem na frente da casa, voltada para a linda paisagem.
Depois de alguns instantes, a moça respirou fundo e disse ao marido:
- Já me sinto melhor.
Deve ser cansaço da viagem.
Virou a cabeça e avistou a casa dos pais.
Ao notar uma das irmãs correndo para dentro da casa e a mãe à porta, a chamá-la, sentiu forte aperto no peito e teve vontade de chorar.
Uma angústia indefinível a dominou e, sentindo medo, pediu:
- Por favor, querido, me abrace.
Eric aconchegou-a ternamente, acariciando seus belos e macios cabelos.
Preocupado, perguntou:
- O que foi, querida, não se sente bem?
- Não sei o que sinto...
Apenas me abrace forte.
Deixando-se envolver pelo amoroso abraço, Stephanie conseguiu afastar os temores da mente, e o casal entrou, enfim, no novo lar.
20 Elder Evans, membro da Comunidade dos Shakers de Lebanon.
21 Grupo protestante fundado sobre os ensinos de Ann Lee.
Ficou historicamente conhecido por tratar homens e mulheres de maneira igualitária.
- Lembre-se de que Deus tem seus propósitos em tudo o que nos acontece, sempre.
Confie nele.
"Entrega teu caminho ao Senhor, confia nele e o mais ele fará."
Stephanie acomodou-se na carruagem e acenou pela janela, despedindo-se dos amigos.
Quando o carro partiu, ela abraçou o marido, que comentou:
- Eu não disse que seria bom virmos?
- Você já sabia de tudo o que ocorria aqui?
- Quando esteve em minha casa, Elder contou que estavam recebendo visitas de espíritos, sem descrever todos os pormenores.
Acho que ele tinha receio da reacção de meus pais.
Foi a mim que falou mais detalhadamente, e ainda assim é preciso presenciar para compreender.
- E como tinha tanta certeza de que seria bom para mim?
- Não sei, algo me dizia que deveríamos vir.
Stephanie sorriu, encostando a cabeça no ombro de Eric:
- Devem ter sido os espíritos que lhe falaram ao coração - sugeriu.
Virando-se para ela, ele disse:
- Será? Não tinha pensado nisso.
Depois de longa jornada, os dois finalmente chegaram à pequena cabana de madeira, que fora toda reconstruída pelos mãos do próprio Eric, com a ajuda do pai.
Não ficava muito longe da casa onde Stephanie morara com a família.
Quando ela pisou no singelo alpendre, sentiu forte vertigem e quase desmaiou, sendo apoiada pelos braços fortes do esposo.
Ele a acomodou em uma cadeira de balanço que colocara bem na frente da casa, voltada para a linda paisagem.
Depois de alguns instantes, a moça respirou fundo e disse ao marido:
- Já me sinto melhor.
Deve ser cansaço da viagem.
Virou a cabeça e avistou a casa dos pais.
Ao notar uma das irmãs correndo para dentro da casa e a mãe à porta, a chamá-la, sentiu forte aperto no peito e teve vontade de chorar.
Uma angústia indefinível a dominou e, sentindo medo, pediu:
- Por favor, querido, me abrace.
Eric aconchegou-a ternamente, acariciando seus belos e macios cabelos.
Preocupado, perguntou:
- O que foi, querida, não se sente bem?
- Não sei o que sinto...
Apenas me abrace forte.
Deixando-se envolver pelo amoroso abraço, Stephanie conseguiu afastar os temores da mente, e o casal entrou, enfim, no novo lar.
20 Elder Evans, membro da Comunidade dos Shakers de Lebanon.
21 Grupo protestante fundado sobre os ensinos de Ann Lee.
Ficou historicamente conhecido por tratar homens e mulheres de maneira igualitária.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
QUARENTA E UM
ALGUNS QUILÓMETROS ao sul dos Estados Unidos, sentada na varanda, a nobre e elegante senhora via os netos brincarem.
Ora ajudava um, ora outro;
separava os dois quando se punham a brigar.
De quando em quando, observava no horizonte o sol se pôr, derramando seu brilho intenso pela enorme plantação, que se fazia dourada.
A propriedade espalhava-se por vasta área e ia muito além de onde os olhos alcançavam da varanda da espaçosa residência.
Deborah captava cada som do entardecer, e deteve-se sorrindo ao escutar o canto lamentoso dos negros.
Matthew se aproximou, resmungando.
- Os negros me incomodam com esses cânticos.
- É um canto tão triste quanto belo, quase um lamento...
Não se enternece ao escutá-los?
Não sei o que dizem, mas sinto como se expressassem profundas emoções...
De saudade, acima de tudo.
A nobre senhora, que aparentava perto de sessenta anos, parou por instantes a reflectir no que acabara de dizer e então prosseguiu:
- Por certo devem sentir falta de seu lar, na África, e dos parentes e amigos dos quais foram violentamente arrancados.
Matthew encarou a esposa - a quem amava e, por isso, era incapaz de contrariar - e ponderou:
- Não se engane, minha querida, eles não se sentem da mesma forma que nós.
Não pode compará-los connosco.
Fitando o esposo com seus olhos azuis de intenso brilho, a mulher replicou:
- E por que não?
São pessoas idênticas a nós.
- Não são idênticas a nós! São negros!
Erguendo-se devagar, ela tomou o chapéu que depositara sobre uma pequena mesa, repleta de vasos de flores, e sustentando com tristeza o olhar do marido, falou:
- Quem não deve enganar-se é você, Matthew.
Eles são pessoas idênticas a nós e haveremos de dar contas ao Criador pelo mal que lhes causamos.
Você sabe bem que por mim jamais teríamos um escravo sequer.
E olhe que nosso governo dá sinais claros de que também não aprova a escravidão.
Proibiu a importação de escravos, e peço a Deus que muito em breve ele acabe de vez com essa situação, abolindo a escravidão e libertando todos os escravos!
- Não sabe o que está dizendo.
Toda a prosperidade de nossa cidade, de nosso estado e até de nosso país depende em grande parte do trabalho desses homens, que foram criados por Deus para nos servir!
- Você está iludido, meu esposo.
Nosso país prospera nos estados do norte, quase sem escravos.
- Eles ainda têm muitas fazendas com escravos.
- Sabe que o norte praticamente acabou com eles.
São livres e contratados.
- Porque interessa às empresas ter gente livre e assalariada para comprar os produtos que produzem em larga escala.
De facto, a indústria não pára de crescer por lá.
Tocando com ternura e suavidade o braço do esposo, ela sugeriu:
- Embora eu ame nossa terra natal, a terra de nossos pais, fico pensando se não seria melhor irmos embora daqui.
Vender tudo e ir para o norte, onde você poderia investir nossos recursos na indústria e fazê-los crescer ainda mais, sem a necessidade de nenhum escravo.
ALGUNS QUILÓMETROS ao sul dos Estados Unidos, sentada na varanda, a nobre e elegante senhora via os netos brincarem.
Ora ajudava um, ora outro;
separava os dois quando se punham a brigar.
De quando em quando, observava no horizonte o sol se pôr, derramando seu brilho intenso pela enorme plantação, que se fazia dourada.
A propriedade espalhava-se por vasta área e ia muito além de onde os olhos alcançavam da varanda da espaçosa residência.
Deborah captava cada som do entardecer, e deteve-se sorrindo ao escutar o canto lamentoso dos negros.
Matthew se aproximou, resmungando.
- Os negros me incomodam com esses cânticos.
- É um canto tão triste quanto belo, quase um lamento...
Não se enternece ao escutá-los?
Não sei o que dizem, mas sinto como se expressassem profundas emoções...
De saudade, acima de tudo.
A nobre senhora, que aparentava perto de sessenta anos, parou por instantes a reflectir no que acabara de dizer e então prosseguiu:
- Por certo devem sentir falta de seu lar, na África, e dos parentes e amigos dos quais foram violentamente arrancados.
Matthew encarou a esposa - a quem amava e, por isso, era incapaz de contrariar - e ponderou:
- Não se engane, minha querida, eles não se sentem da mesma forma que nós.
Não pode compará-los connosco.
Fitando o esposo com seus olhos azuis de intenso brilho, a mulher replicou:
- E por que não?
São pessoas idênticas a nós.
- Não são idênticas a nós! São negros!
Erguendo-se devagar, ela tomou o chapéu que depositara sobre uma pequena mesa, repleta de vasos de flores, e sustentando com tristeza o olhar do marido, falou:
- Quem não deve enganar-se é você, Matthew.
Eles são pessoas idênticas a nós e haveremos de dar contas ao Criador pelo mal que lhes causamos.
Você sabe bem que por mim jamais teríamos um escravo sequer.
E olhe que nosso governo dá sinais claros de que também não aprova a escravidão.
Proibiu a importação de escravos, e peço a Deus que muito em breve ele acabe de vez com essa situação, abolindo a escravidão e libertando todos os escravos!
- Não sabe o que está dizendo.
Toda a prosperidade de nossa cidade, de nosso estado e até de nosso país depende em grande parte do trabalho desses homens, que foram criados por Deus para nos servir!
- Você está iludido, meu esposo.
Nosso país prospera nos estados do norte, quase sem escravos.
- Eles ainda têm muitas fazendas com escravos.
- Sabe que o norte praticamente acabou com eles.
São livres e contratados.
- Porque interessa às empresas ter gente livre e assalariada para comprar os produtos que produzem em larga escala.
De facto, a indústria não pára de crescer por lá.
Tocando com ternura e suavidade o braço do esposo, ela sugeriu:
- Embora eu ame nossa terra natal, a terra de nossos pais, fico pensando se não seria melhor irmos embora daqui.
Vender tudo e ir para o norte, onde você poderia investir nossos recursos na indústria e fazê-los crescer ainda mais, sem a necessidade de nenhum escravo.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
O marido fitou-a incrédulo.
- Já não é feliz aqui?
Ela o abraçou.
- Sou feliz ao seu lado e de nossos filhos e netos...
Não obstante, você sabe o quanto sofro ao ver esses homens e mulheres, que julgo serem exactamente como nós, aprisionados e tratados de forma tão cruel, tão desumana...
- Em consideração a você, são muito bem tratados.
Nunca machuco nenhum deles, são alimentados com dignidade e moram em casas bem confortáveis, ao invés de viverem amontoados como em outras fazendas.
Deborah baixou os olhos marejados e balbuciou:
- Não é suficiente para mim.
Desejo que todos sejam livres, tendo seus direitos respeitados.
- Direitos?! Que direitos?
São escravos... Você está exagerando, passando de todos os limites...
- É exactamente a isso que me refiro:
são escravos, seres humanos escravizados pela ganância daqueles que querem enriquecer a qualquer custo, e ainda justificam os seus actos escondendo-se atrás da Bíblia e do próprio Deus!
- Não é verdade!
Somos abençoados por Deus, que nos dá tudo o que temos.
Se temos muito, é porque fomos muito abençoados, apenas isso.
Buscamos fazer a vontade divina em tudo, e o Todo-Poderoso nos abençoa, fazendo-nos prosperar.
- Somos todos irmãos, Matthew, todos irmãos, filhos do mesmo Pai, e temos de nos amar e respeitar mutuamente...
O marido interrompeu-a, visivelmente irritado.
- Chega, estou cansado.
Não sei de onde você tira essas ideias...
Continua lendo jornais que chegam lá do norte, só pode ser isso.
Vêm de lá esses conceitos libertários, abolicionistas...
Não imagino que ouça tais opiniões do pastor de nossa igreja, nem nas reuniões de mulheres que frequenta...
Deborah ficou pensativa.
Matthew ia prosseguir, quando uma jovem empregada aproximou-se e informou:
- Senhora, o jantar está pronto. Podemos servi-lo?
Deborah olhou para o marido, que, ignorando a jovem, respondeu:
- Sim, já vamos entrar.
Depois, fitou a esposa.
- Não concordo que tenha dado a liberdade a ela.
Isso é um péssimo exemplo e um precedente perigoso.
- Ela é como a filha que não tive, jamais poderia deixá-la continuar escrava.
Além do mais, prometi à sua mãe, quando morreu em meus braços, que tomaria conta da menina.
Sarah é uma excelente moça, você não pode queixar-se dela.
- Não é dela que me queixo, minha esposa, e sim da senhora, que não se dobra à minha vontade.
Agora vamos jantar, que essa conversa já me cansou.
Após sentarem-se à mesa, longo silêncio se seguiu.
- Já não é feliz aqui?
Ela o abraçou.
- Sou feliz ao seu lado e de nossos filhos e netos...
Não obstante, você sabe o quanto sofro ao ver esses homens e mulheres, que julgo serem exactamente como nós, aprisionados e tratados de forma tão cruel, tão desumana...
- Em consideração a você, são muito bem tratados.
Nunca machuco nenhum deles, são alimentados com dignidade e moram em casas bem confortáveis, ao invés de viverem amontoados como em outras fazendas.
Deborah baixou os olhos marejados e balbuciou:
- Não é suficiente para mim.
Desejo que todos sejam livres, tendo seus direitos respeitados.
- Direitos?! Que direitos?
São escravos... Você está exagerando, passando de todos os limites...
- É exactamente a isso que me refiro:
são escravos, seres humanos escravizados pela ganância daqueles que querem enriquecer a qualquer custo, e ainda justificam os seus actos escondendo-se atrás da Bíblia e do próprio Deus!
- Não é verdade!
Somos abençoados por Deus, que nos dá tudo o que temos.
Se temos muito, é porque fomos muito abençoados, apenas isso.
Buscamos fazer a vontade divina em tudo, e o Todo-Poderoso nos abençoa, fazendo-nos prosperar.
- Somos todos irmãos, Matthew, todos irmãos, filhos do mesmo Pai, e temos de nos amar e respeitar mutuamente...
O marido interrompeu-a, visivelmente irritado.
- Chega, estou cansado.
Não sei de onde você tira essas ideias...
Continua lendo jornais que chegam lá do norte, só pode ser isso.
Vêm de lá esses conceitos libertários, abolicionistas...
Não imagino que ouça tais opiniões do pastor de nossa igreja, nem nas reuniões de mulheres que frequenta...
Deborah ficou pensativa.
Matthew ia prosseguir, quando uma jovem empregada aproximou-se e informou:
- Senhora, o jantar está pronto. Podemos servi-lo?
Deborah olhou para o marido, que, ignorando a jovem, respondeu:
- Sim, já vamos entrar.
Depois, fitou a esposa.
- Não concordo que tenha dado a liberdade a ela.
Isso é um péssimo exemplo e um precedente perigoso.
- Ela é como a filha que não tive, jamais poderia deixá-la continuar escrava.
Além do mais, prometi à sua mãe, quando morreu em meus braços, que tomaria conta da menina.
Sarah é uma excelente moça, você não pode queixar-se dela.
- Não é dela que me queixo, minha esposa, e sim da senhora, que não se dobra à minha vontade.
Agora vamos jantar, que essa conversa já me cansou.
Após sentarem-se à mesa, longo silêncio se seguiu.
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
Foi Deborah quem, por fim, o rompeu:
- Quando Sean chegará de Nova York?
- Não sei. Seu filho está cada vez mais ausente da fazenda.
Faz essas viagens com frequência, e quando retorna fica pouco e já parte novamente.
A única vantagem é que tem negociado bons escravos para nós.
- Como consegue?
- São fazendeiros do norte que, ao contrário do que a senhora me disse há pouco, não libertam seus escravos e sim os vendem para o sul.
Acontece todos os dias.
- Não é verdade...
- É verdade, sim.
Eles os vendem para o sul sabendo que continuarão sendo escravos.
Aqueles ianques não querem perder nada...
- Isso deve ocorrer muito ocasionalmente...
- Sean me disse que está ganhando um bom dinheiro com a venda de escravos para as fazendas do sul.
A quantidade não deve ser assim tão pequena.
Indignada, Deborah protestou:
- Ele não deveria estar aqui, ao seu lado, ajudando-o com os nossos negócios, ao invés de se meter a comercializar homens e mulheres?
- Você conhece Sean melhor do que eu e sabe que ele tem um temperamento inquieto e insatisfeito.
Nunca está contente: quer sempre mais.
Já tivemos diversas discussões a respeito, mas nossa fortuna é pequena demais para ele.
Eu mesmo não o compreendo.
O que temos é suficiente para garantir o futuro de nossos filhos e dos filhos deles...
Mas não para Sean. Ele quer mais, muito mais.
Inclusive me disse que será candidato nas próximas eleições.
Quer enveredar pela política.
- Sabe que não concordo, não é?
- Tampouco eu, porém Sean é um homem de mais de trinta anos e não posso ditar-lhe o que fazer...
- Deveria ter se casado com Vivian e formado uma família.
Teria sido melhor para ele.
Juntando-se aos pais na conversa, Andrew disse:
- Hum... Ele não quer nem ouvir falar nisso.
Outro dia afirmou que só se casará se encontrar uma jovem com quem possa juntar fortuna, ou mesmo alguém de família de políticos que possa contribuir para seus planos.
Abraçando o filho que acabara de chegar, Deborah comentou:
- Não acredito que seu irmão se mostre assim tão calculista!
Sinceramente não o reconheço!
Jamais lhes dei tal educação e não me conformo que ele esteja se tornando essa pessoa cada vez mais mesquinha...
- É, mãe, vai ter de se contentar comigo...
Abrindo um largo e doce sorriso, a mãe respondeu:
- Não brinque com coisa tão séria.
Amo você e seu irmão e desejo a felicidade para os dois, ainda que não creia no caminho que Sean escolheu para alcançá-la.
O pai, que se mantivera calado, convidou:
- Vamos comer, o jantar já vai esfriar e detesto comida requentada...
- Quando Sean chegará de Nova York?
- Não sei. Seu filho está cada vez mais ausente da fazenda.
Faz essas viagens com frequência, e quando retorna fica pouco e já parte novamente.
A única vantagem é que tem negociado bons escravos para nós.
- Como consegue?
- São fazendeiros do norte que, ao contrário do que a senhora me disse há pouco, não libertam seus escravos e sim os vendem para o sul.
Acontece todos os dias.
- Não é verdade...
- É verdade, sim.
Eles os vendem para o sul sabendo que continuarão sendo escravos.
Aqueles ianques não querem perder nada...
- Isso deve ocorrer muito ocasionalmente...
- Sean me disse que está ganhando um bom dinheiro com a venda de escravos para as fazendas do sul.
A quantidade não deve ser assim tão pequena.
Indignada, Deborah protestou:
- Ele não deveria estar aqui, ao seu lado, ajudando-o com os nossos negócios, ao invés de se meter a comercializar homens e mulheres?
- Você conhece Sean melhor do que eu e sabe que ele tem um temperamento inquieto e insatisfeito.
Nunca está contente: quer sempre mais.
Já tivemos diversas discussões a respeito, mas nossa fortuna é pequena demais para ele.
Eu mesmo não o compreendo.
O que temos é suficiente para garantir o futuro de nossos filhos e dos filhos deles...
Mas não para Sean. Ele quer mais, muito mais.
Inclusive me disse que será candidato nas próximas eleições.
Quer enveredar pela política.
- Sabe que não concordo, não é?
- Tampouco eu, porém Sean é um homem de mais de trinta anos e não posso ditar-lhe o que fazer...
- Deveria ter se casado com Vivian e formado uma família.
Teria sido melhor para ele.
Juntando-se aos pais na conversa, Andrew disse:
- Hum... Ele não quer nem ouvir falar nisso.
Outro dia afirmou que só se casará se encontrar uma jovem com quem possa juntar fortuna, ou mesmo alguém de família de políticos que possa contribuir para seus planos.
Abraçando o filho que acabara de chegar, Deborah comentou:
- Não acredito que seu irmão se mostre assim tão calculista!
Sinceramente não o reconheço!
Jamais lhes dei tal educação e não me conformo que ele esteja se tornando essa pessoa cada vez mais mesquinha...
- É, mãe, vai ter de se contentar comigo...
Abrindo um largo e doce sorriso, a mãe respondeu:
- Não brinque com coisa tão séria.
Amo você e seu irmão e desejo a felicidade para os dois, ainda que não creia no caminho que Sean escolheu para alcançá-la.
O pai, que se mantivera calado, convidou:
- Vamos comer, o jantar já vai esfriar e detesto comida requentada...
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Re: Série Lúcius - JORNADA DOS ANJOS / Sandra Carneiro
Andrew sentou-se ao lado da esposa e dos filhos.
Jane estava grávida de oito meses e logo daria à luz mais dois bebés.
Distante dali, em um bar em Nova York próximo ao porto, Sean negociava mais uma remessa de escravos.
- Quero que me tragam mais escravos.
Tenho compradores para tantos quantos conseguirem.
- Vamos trazer o que for possível.
Temos sido fiscalizados antes de entrar no país e já tivemos de lançar muitos deles ao mar, para evitar que fôssemos pegos.
- Malditos ianques.
- Olhe como fala!
- Desculpe, é força do hábito.
É que esses nortistas estão prejudicando meus negócios e de minha família.
Não queremos a libertação dos escravos, e sim liberdade para comercializá-los à vontade.
- Aproveite enquanto pode, Sean, pois a abolição virá.
Todos com quem temos conversado aqui no norte estão fazendo de tudo para torná-la realidade.
Se for preciso, pegarão em armas contra os sulistas, pode ter certeza.
Até o próprio presidente é um abolicionista.
- Eu sei disso.
- Pois então, não vejo escravos no futuro de nosso país.
Buscando desviar o rumo da conversa para algo mais produtivo, Sean informou.
- Vou iniciar minha carreira política.
Já está mais do que na hora.
- E seu pai, vai apoiá-lo?
- Não preciso do apoio de meu pai.
O contrabando me deu dinheiro suficiente para fazer o que bem entender da minha vida e asseguro:
não descansarei enquanto não acabar com essa história de abolição.
- Não seja estúpido, Sean, essa é uma causa perdida.
O progresso virá de um jeito ou de outro, e os negros serão libertados.
Na maioria dos estados do norte já não há escravos nas fazendas...
- E você aceita isso?
Estão espalhados por aí, andando perdidos pelas cidades, muitos a mendigar o pão.
Estavam melhor como escravos.
Vocês, aqui no norte, não têm noção do problema em que estão se metendo.
E só porque têm o apoio daquele idiota do presidente, acham que podem mandar no país.
Isso não é verdade. Estão plantando muita desgraça.
Pois saibam que, no sul, ninguém cederá;
lutaremos pelos nossos direitos!
A conversa se estendeu noite afora, e já era madrugada alta quando Sean, cambaleando e completamente alcoolizado, saiu do salão e foi para o hotel que ocupava sempre que ia a Nova York a negócios.
Jane estava grávida de oito meses e logo daria à luz mais dois bebés.
Distante dali, em um bar em Nova York próximo ao porto, Sean negociava mais uma remessa de escravos.
- Quero que me tragam mais escravos.
Tenho compradores para tantos quantos conseguirem.
- Vamos trazer o que for possível.
Temos sido fiscalizados antes de entrar no país e já tivemos de lançar muitos deles ao mar, para evitar que fôssemos pegos.
- Malditos ianques.
- Olhe como fala!
- Desculpe, é força do hábito.
É que esses nortistas estão prejudicando meus negócios e de minha família.
Não queremos a libertação dos escravos, e sim liberdade para comercializá-los à vontade.
- Aproveite enquanto pode, Sean, pois a abolição virá.
Todos com quem temos conversado aqui no norte estão fazendo de tudo para torná-la realidade.
Se for preciso, pegarão em armas contra os sulistas, pode ter certeza.
Até o próprio presidente é um abolicionista.
- Eu sei disso.
- Pois então, não vejo escravos no futuro de nosso país.
Buscando desviar o rumo da conversa para algo mais produtivo, Sean informou.
- Vou iniciar minha carreira política.
Já está mais do que na hora.
- E seu pai, vai apoiá-lo?
- Não preciso do apoio de meu pai.
O contrabando me deu dinheiro suficiente para fazer o que bem entender da minha vida e asseguro:
não descansarei enquanto não acabar com essa história de abolição.
- Não seja estúpido, Sean, essa é uma causa perdida.
O progresso virá de um jeito ou de outro, e os negros serão libertados.
Na maioria dos estados do norte já não há escravos nas fazendas...
- E você aceita isso?
Estão espalhados por aí, andando perdidos pelas cidades, muitos a mendigar o pão.
Estavam melhor como escravos.
Vocês, aqui no norte, não têm noção do problema em que estão se metendo.
E só porque têm o apoio daquele idiota do presidente, acham que podem mandar no país.
Isso não é verdade. Estão plantando muita desgraça.
Pois saibam que, no sul, ninguém cederá;
lutaremos pelos nossos direitos!
A conversa se estendeu noite afora, e já era madrugada alta quando Sean, cambaleando e completamente alcoolizado, saiu do salão e foi para o hotel que ocupava sempre que ia a Nova York a negócios.
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