LUZ ESPÍRITA
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Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro

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Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro - Página 2 Empty Re: Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 30, 2015 11:26 am

Ao final da aula confirmou com Paula se podiam encontrar-se no metro.
Ela torceu o nariz, pois detestava andar de ónibus ou de metro, mas, curiosa, concordou sem maiores perguntas.
Percebeu que não adiantaria insistir com o namorado, que continuava fazendo ares de mistério.
Antes do horário marcado Serginho já estava lá e mal conseguira comer.
Paula chegou um pouco atrasada, e logo se puseram a caminho.
Serginho estava com as mãos frias e suava.
— O que você tem, Serginho?
Suas mãos estão tão frias!
— Estou meio nervoso, Paula.
— Por quê?
— Só estou meio ansioso, poxa vida.
Não é todo dia que eu compro...
— Compra o quê? Conta logo!
Vamos ver uma moto, não é?
— Você estraga toda a surpresa, Paula!
— É mesmo, meu amor, vamos comprar sua moto?
— Vamos ver se está boa.
— Puxa, Serginho! Que máximo!
É verdade? Vai finalmente comprar a moto?
Serginho sorria satisfeito com a reacção da namorada.
— Que remédio?
— Você vai ver como vai ser legal!
Tudo vai ficar mais fácil!
— Só não vai dar para carregar a bateria nela!
— Ah... Não faz mal, Serginho...
Não tem problema!
Se precisarmos, alugamos uma Van para transportar os nossos equipamentos!
Isso por enquanto, pois no futuro teremos nosso próprio ónibus.
— E só para os equipamentos!
Nós vamos em outro ónibus, quando tivermos turnê!
— É isso mesmo!
Podemos ter um caminhão enorme para os equipamentos e um ónibus para nós.
Tudo com adesivos gigantescos, fazendo a divulgação da banda.
— Já pensou?
— Falando nisso, já pensou no nome para a banda?
— Ainda não. E você?
— Também não, mas precisamos achar um nome.
E tem de ser muito forte, para que ninguém esqueça!
— Vamos achar, Paula, vamos achar.
Falando em achar, chegamos.
É aqui.
— Neste prédio?
Serginho conversou com o rapaz na portaria e em alguns minutos estavam no estacionamento do prédio com Evandro, um rapaz de seus vinte e poucos anos, que mostrava a moto aos dois.
Serginho observou todos os detalhes atentamente, assim como
Paula. Não deixaram escapar nada, nenhum detalhe que fosse.
Perguntaram tudo.
Serginho deu algumas voltas na garagem junto com Paula e já se sentia dono da moto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 30, 2015 11:27 am

Quando encostou, disse ao rapaz:
— Bom, Evandro, qual é o melhor preço que pode me fazer?
— É aquele que conversamos, cara.
Não dá para tirar nada.
— Você disse que podíamos conversar.
— É, cara, mas você viu a moto, tá novinha!
— Tá nova, mas o preço tá meio alto.
E ficaram lá negociando e conversando.
Paula já estava até entediada, quando finalmente Serginho disse ao rapaz:
— Pense nessa minha oferta.
Amanhã você me responde.
— Não dá, cara, não dá.
— Pense, cara. Pago em dinheiro vivo.
— Não dá.
— Pense. Amanhã te ligo e você me dá a resposta.
Se topar, fechamos na hora.
Antes que Evandro pudesse responder, Serginho despediu-se e, puxando Paula, saíram do prédio.
— Pô, Serginho, e se ele não quiser vender?
— Vai vender, Paula.
Essa moto é minha!
— Acha mesmo?
— Não tenho dúvida. Sinto aqui dentro.
Paula sorriu satisfeita.
***
Dona Eugénia, seu Felipe, Sueli e Fábio jantavam animados quando Serginho chegou.
Estava sério e logo se juntou à família, mantendo-se, entretanto, calado.
Seu Felipe contava algumas de suas difíceis reuniões daquele dia e falava dos problemas que vinha enfrentando com os hospitais.
Ele vendia equipamentos médicos e os hospitais, especialmente os públicos, estavam com pagamentos atrasados.
De quando em quando dona Eugénia observava o filho, que permanecia calado, pensativo.
O jantar ia terminando quando Fábio perguntou:
— E o show do Skank, foi legal?
— Foi fantástico, Fábio, só a volta é que foi complicada - emendou Sérgio rapidamente, aproveitando a deixa do irmão.
— Por quê?
— Tive de ficar plantado mais de uma hora esperando o pai do Tiago ir buscar a gente.
Dona Eugénia, já imaginando onde o filho queria chegar, foi logo dizendo:
— E daí? O que tem isso de mais?
Antigamente a gente ficava horas esperando condução, não é, Felipe?
— É. Antigamente não tínhamos tantas facilidades quanto vocês têm hoje em dia.
— Tá legal, pessoal, tá legal.
Não vai adiantar. Eu já decidi.
Vou comprar a moto.
Não quero mais ficar de carona para lá e para cá.
— Filho, nós já falamos sobre isso - interferiu enérgico seu Felipe.
— E eu já disse o que quero fazer, pai.
Daqui a algumas semanas tenho dezoito anos, daí tiro a carteira do carro e da moto e tudo certo.
— Serginho, esse não é o ponto.
Moto é muito perigoso.
Muitos jovens perdem a vida todos os dias em acidentes.
Eu me canso de ver isso acontecer, e às vezes do meu lado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 30, 2015 11:27 am

— Que horror, pai. É mesmo?
— É, Sueli.
Dona Eugénia reforçou, preocupada:
— Pudera! Parecem uns loucos dirigindo.
Andam no meio dos carros, costurando, agem como se fossem inatingíveis, como se nada lhes pudesse acontecer.
— Também acho errado quem dirige desse jeito.
Eu vou ser muito mais cuidadoso, mãe.
— Você não vai andar de moto, não é, Serginho?
Por favor! - pediu Sueli.
— Não se preocupe, Sueli.
Vou dirigir bem devagarinho.
Não vou fazer nenhuma ultrapassagem...
Seu Felipe interrompeu o filho, irritado:
— Já disse que não quero moto aqui em casa, Serginho.
Não vou admitir.
É muito perigoso.
Você estará pegando o carro em alguns dias, é só aguardar um pouco mais.
— E vou poder ter um carro só para mim?
Ir aonde eu quiser, na hora em que eu quiser?
— Teremos algumas regras para que as coisas funcionem bem.
— Sempre as regras, as normas, as ordens...
Já tenho dezoito anos!
Sei muito bem cuidar de mim!
E quero comprar a moto!
Quero cuidar da minha vida do meu jeito!
— Olha, Sérgio, não vou repetir.
Não vou admitir esse tipo de atitude aqui dentro.
Não quero que você compre moto alguma.
E ponto final! Não se discute mais o assunto!
Sueli pediu, chorando:
— Não quero que você ande de moto por aí, Serginho, é perigoso!
O pai tem razão!
Não quero que você morra!
— Que morrer, que nada, Sueli!
Eu sei me cuidar! Serginho gritava.
Levantou-se e, indo para o quarto, bateu com toda a força a porta atrás de si.
Seu Felipe ergueu-se imediatamente após o filho e dirigiu-se a Sueli:
— Não precisa chorar, ele não vai comprar moto nenhuma!
Abrindo a porta do quarto do filho, disse firmemente:
— E não quero que bata a porta!
Estávamos conversando, mas parece que você não sabe o que é isso.
Só sabe gritar e impor sua vontade!
— Sou eu que estou impondo minha vontade ou é você?
— Estou tentando explicar as minhas razões, conversando.
Acontece que às vezes é impossível conversar com você, filho!
Você fica irracional!
— Você quer que eu faça tudo o que você quer!
Do jeito que você quer!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 30, 2015 11:27 am

Aí então fica contente!
— Isso não é verdade!
Dou força em tudo o que você quer fazer!
Veja o caso da banda. O que me diz?
Além de dar a bateria, vamos fazer tudo para que possam se apresentar no seu aniversário!
Mas sou seu pai, e estou tentando preservar você.
— Eu já sei tomar minhas decisões, pai.
E você não quer deixar.
— Não está pensando em todos os aspectos, filho.
Usar moto é muito perigoso e, numa cidade grande, não dá!
Eu não vou mais discutir isso com você.
E assunto encerrado e não adianta me aparecer aqui com moto nenhuma, pois eu sumo com ela!
Seu Felipe saiu e fechou a porta.
Serginho permaneceu fechado no quarto até a hora do ensaio, quando Renato chegou buzinando e ele saiu apressado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 30, 2015 11:27 am

Capítulo 6 - Lívia

Dona Eugénia se deitou cedo, mas rolava na cama, pensando e repensando sem poder dormir.
Um aperto no peito a fazia pensar no filho e sentia medo.
Sabia que quando Serginho colocava uma ideia na cabeça, ninguém tirava; não aceitava nenhum tipo de conselho.
Por isso temia pelo futuro.
Afastava os pensamentos ruins da cabeça, tentando crer que dessa vez convenceria o filho a não comprar a dita moto.
Ao mesmo tempo, sabia que não iria adiantar e que mais cedo ou mais tarde ele apareceria com a tal em casa.
E então, como seria?
A preocupação agora era com o marido.
Pai e filho iriam se desentender de novo!
E ela queria muito que a harmonia se fizesse em sua casa.
Em determinado instante, preocupada e aflita, começou a orar a Deus pelo filho e pela família.
Pedia protecção, ajuda.
Foi orando que ela pouco a pouco se acalmou e adormeceu.
Teve, então, um sonho agradável e inesquecível:
Lívia, a. sobrinha do marido que havia partido para a pátria espiritual há quase quinze anos, aproximava-se dela e conversavam.
Despertou sentindo uma suave serenidade a envolvê-la, recordando o rosto meigo de Lívia a sorrir e falar com ela.
Embora se esforçasse, não lembrava o que haviam conversado; só a expressão de Lívia não lhe saía da mente.
Enquanto tomava o café, naquela manhã, continuou pensativa, tentando lembrar o que Lívia lhe havia dito.
Não conseguia.
Somente a imagem de Lívia permanecera clara em sua memória.
Para dona Eugénia, aquilo poderia ter sido mais do que apenas um sonho.
Sabia, pelos livros que lia e pela própria experiência, que muitas vezes é possível, quando se dorme, contactar de verdade com aqueles que já partiram para o outro lado da vida2.
E se Lívia houvesse vindo lhe dizer algo importante?
Não conseguia parar de pensar no sonho, principalmente porque sentia uma imensa suavidade, ao recordar o rosto da sobrinha.
Durante o café, não comentou nada com ninguém, porém todos perceberam que estava mais calada do que o normal.
No entanto, ainda quietos por causa da discussão da noite anterior, e apreensivos com a história da moto, não perguntaram nada.
Sueli e o pai sabiam que ela devia estar preocupada com Serginho, que ainda dormia quando todos saíram, após terminarem o café da manhã.
Durante o jantar dona Eugénia mantinha-se pensativa e quase não conversava.
Seu Felipe e Fábio falavam sobre futebol, desporto de que o pai gostava muito. Sueli, em silêncio, observava a mãe.
Quando estavam na sobremesa, seu Felipe perguntou:
— Ainda preocupada com Serginho, Eugénia?
— Estou, Felipe.
— Não se inquiete tanto, ele não fica um dia sequer com uma moto dentro desta casa.
— É, mãe!
Você está pensativa o dia inteiro.
— Não é só o Serginho que ocupa meus pensamentos, Sueli.
— O que é então, mãe?
— Tive um sonho, Felipe, muito estranho...
— Foi de medo, mãe? - indagou Fábio, que morria de pavor de ter pesadelos.
— Não, Fábio, foi um sonho bom.
— Como foi, mãe? Conta!
— Sonhei com Lívia, Felipe.
Ela estava linda e sorria para mim.
— Aquela prima nossa que morreu faz anos, mãe? - perguntou Sueli, interessada.
— Quem, mãe, quem? - interrogou Fábio, curioso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 31, 2015 11:30 am

— A filha da tia Zulmira, irmã do papai.
— Ela também morreu, né, mãe?
— Também, no ano passado; a Lívia foi embora antes, filho, bem antes.
— É, faz... Quanto tempo?
Sueli franziu a testa e fechou momentaneamente os olhos, esforçando-se para recordar o rosto da prima, que havia visto muitas vezes em fotografias.
— Acho que uns quinze anos, Sueli.
O Serginho era bem pequeno, tinha uns três anos...
— E por que ficou tão impressionada com esse sonho, Eugénia?
Você sonha tanto!
— E que nunca havia sonhado com ela antes, Felipe.
E foi um sonho bom...
— Então por que a preocupação?
— Não sei...
Talvez por não me lembrar do que conversamos, do que ela falou...
Gostaria de saber por que sonhei com ela...
E acho que... Bem...
— O que, mãe? Fala! - insistiu Sueli, curiosa.
— Acho que não foi somente um sonho...
— Como assim, mãe? - perguntou Fábio, assustado.
Dona Eugénia observou o olhar do marido, que
sempre reprovava quando ela vinha com histórias de espíritos, de mortos, desse tipo de coisa.
Sueli ficava interessada e queria saber mais; já Fábio morria de medo e às vezes, depois de conversas assim, tinha pesadelos.
Por isso seu Felipe tinha pedido à esposa que não falasse desses assuntos na frente dos filhos.
De nenhum deles.
— Deixa para lá, Sueli.
Foi um sonho bom, isso é o mais importante.
Fiquei feliz em ver a Lívia, é só isso.
Estava com saudade dela.
Mais tarde, os filhos já deitados, dona Eugénia e seu Felipe conversavam outra vez sobre o sonho.
— Não sei por que você ficou tão perturbada com o sonho, não entendi.
— E que não me pareceu um sonho, Felipe.
Foi como se tivesse me encontrado com Lívia de verdade!
— Acho que você está impressionada, Eugénia.
Está preocupada com o Serginho, com aquela conversa da moto e tudo o mais.
Acho que ficou abalada e acabou sonhando com ela.
— Não sei, não, Felipe.
Foi como se a tivesse visto.
— Tem uma coisa que não entendo, Eugénia.
Se você diz que o sonho foi bom, que Lívia estava bem, bonita, por que ficou impressionada?
— Porque foi muito real, Felipe, foi real como agora converso com você.
E também porque sou incapaz de lembrar o que conversamos.
Tento, mas não consigo.
— Vai ver então que não conversaram!
— Conversamos, sim, estou certa!
Só não consigo lembrar!
— Deixa para lá, Eugénia!
O importante é que foi um sonho bom!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 31, 2015 11:30 am

Seu Felipe sorriu para a esposa e ela concordou com a cabeça, dizendo:
— É, Felipe. Foi um sonho bom.
— Então esquece!
— Difícil esquecer aquele rosto de anjo!
Ele olhou a esposa outra vez e sorriu, depois continuou organizando o material para o trabalho do dia seguinte.
Sabia que a esposa e Lívia eram grandes amigas e conhecia muito bem o carinho que dona Eugénia dedicava à sobrinha.
Quanto a dona Eugénia, não conseguia parar de pensar em Lívia.
Depois que o marido deitou-se, foi até o armário onde guardava lembranças da família e procurou fotos da sobrinha.
Encontrou algumas.
Sentou-se no sofá da sala com todas as fotos nas mãos e começou a recordá-la.
Lívia fora uma jovem alegre e entusiasmada pela vida.
Adorava os tios e os primos, Serginho em particular.
Dona Eugénia olhou as fotos de Lívia com Serginho no colo.
Contava vinte anos quando o primo nasceu e adorava cuidar dele.
Serginho tinha igualmente grande carinho por ela; era sua preferida dentre todos os primos e tios que o paparicavam.
Eugénia e Lívia também se queriam muito bem, e Zulmira chegara a ter até certo ciúme do afecto entre tia e sobrinha.
Ela havia sido uma pessoa especial, reflectia dona Eugénia, observando as fotos.
Lívia nascera prematura, com oito meses de gestação, e era portadora de um problema cardíaco que a deixava sempre cansada.
Sua saúde frágil exigia cuidados e atenção constantes, sendo obrigada e estar em hospitais quase semanalmente.
Os médicos haviam prevenido aos pais que a menina poderia não passar da adolescência, e para chegar até lá talvez precisasse de algumas cirurgias.
Apesar de muitos exames e tentativas dos pais para tratar o problema, era um mal que não tinha como ser totalmente sanado.
Sua vida foi curta e ao mesmo tempo marcante. Sua ternura para com os amigos e familiares a fazia querida por todos.
Quando, na adolescência, os pais queriam que fosse operada sem garantias de superar a cirurgia, ela resolveu que não passaria por aquela situação e que confiava em Deus e entregava a Ele a decisão sobre sua vida.
Alguns anos depois sua saúde tornou-se mais fraca e aos vinte e três anos ela se foi, deixando em todos muita saudade e um carinho enorme.
Dona Eugénia rememorava e estava com lágrimas nos olhos quando Serginho chegou.
Encontrou-a na sala, distraída com os pensamentos e tão distante que não lhe percebeu a entrada.
Ao ver a mãe emocionada, aproximou-se tímido:
— Oi, dona Eugénia.
O que está fazendo aí sozinha?
— Oi, filho - disse ela enxugando rapidamente os olhos -, estou aqui pensando em sua prima Lívia.
Lembra dela?
— Um pouquinho... Deixa eu ver.
Sentou-se ao lado da mãe e começou a olhar as fotos.
— Era bonita, né, mãe?
— Era. Por dentro e por fora.
— Como por dentro, mãe?
— Tinha uma alma linda, meu filho.
— Como você sabe, se a alma não se vê?
— Mas a gente via as atitudes de amor e carinho dela para com todos. Era um anjo!
— É... Tenho poucas, mas boas lembranças dela...
Serginho e a mãe permaneceram por mais algum tempo olhando as fotos e relembrando.
Só bem mais tarde, depois de recordar momentos e rever muitas fotos, resolveram dormir.
Naquela noite, Serginho teve sono agitado, sonhando muito.
Acordou diversas vezes e depois voltou a dormir.
Nos momentos em que dormia, via-se correndo atrás de alguma coisa que não podia identificar.
Acordou pela manha de mau humor - aquele mau humor característico de quem não dormiu direito e tem um longo dia pela frente!
Apesar de a mãe não ter falado da moto, ele sabia que isso a estava incomodando.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 31, 2015 11:31 am

Chegara tarde de propósito na noite anterior, a fim de evitar mais discussões em torno do assunto.
Pulou da cama cedo.
O café ainda não estava pronto quando saiu.
Não queria conversar com ninguém.
Sua decisão já estava tomada e ele desejava evitar que os pais brigassem com ele.
Até porque não adiantaria nada, seria perda de tempo.
A mãe ainda tentou conversar, mas ele saiu rapidinho, a pretexto de que precisava estudar um pouco antes da aula.
Quando desceu as escadas e fechou a porta atrás de si, sentiu-se aliviado por não ter de voltar ao assunto da bendita moto!
Seguiu para a escola reflectindo:
por que os pais eram tão intransigentes?
Matutava que o mesmo ocorria com seus amigos.
Os adultos davam a impressão de ser todos iguais.
Parece que se esqueciam de que já haviam sido jovens um dia.
Ele não queria ser adulto; parecia muito chato: o tempo todo preocupado com alguma coisa, correndo atrás de alguma coisa, sem se divertir, sem curtir a vida.
Só responsabilidades, responsabilidades e responsabilidades!
Como lhe parecia cansativa a vida de adulto!
E o pior é que ele próprio estava sentindo o peso da responsabilidade com o vestibular se aproximando, a necessidade de escolher a profissão e tudo aquilo!
Como era chato!
Ele gostava mesmo era de tocar, de namorar, de viajar, de curtir a vida!
Adorava as baladas com os amigos! Isso sim é que era bom!
E encasquetava sempre por que os adultos tinham de ser tão preocupados com tudo.
Devia haver alguma coisa errada com eles...
Após a aula, Serginho e Paula encontraram-se novamente com o rapaz que estava vendendo a moto.
Serginho convencera-o a vender por um preço ligeiramente mais baixo, e a parcelar em duas vezes o pagamento.
— Estou tão feliz, Serginho!
Nem acredito que você tomou uma atitude firme e resolveu esse problema!
— Eu disse a você que iria resolver, não disse?
— Mas disse que não ia comprar a moto, né, Serginho?
— Disse, só que mudei de ideia.
— Eu ajudei um bocadinho, não foi?
— Claro que não, Paula!
Decidi porque achei que era melhor para mim, para nós.
Paula sorriu e não respondeu.
Tinha certeza de que tinha contribuído, e muito, para a decisão do namorado.
— Só tem uma coisa que não consegui resolver, ainda.
Talvez precise de você para me ajudar.
— O que é?
— Não quero chegar com a moto em casa.
Meus pais ainda não aceitaram completamente a ideia.
— Sério? Tá brincando!
— Não. Eles não querem que eu compre a moto, foi uma briga danada lá em casa quando falei que ia mesmo comprar.
— Pais às vezes são chatos mesmo!
— É, mas não quero ficar brigando o tempo todo.
Acho que é uma questão de tempo até eles se acostumarem.
Posso deixar a moto por uns dias na sua casa?
Serginho não quis contar que o pai ameaçara sumir com a moto, caso ele chegasse em casa com ela, e sabia que seu Felipe estava falando sério.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 31, 2015 11:31 am

— Tenho uma ideia melhor, Sé.
Uma amiga minha mora perto da sua casa.
A Suzana, lembra dela?
Você conheceu no dia do campeonato.
— Lembro. Ela tem espaço para guardar a moto lá?
— Tem. A casa é grande e tem garagem para quatro carros.
á para deixar, tenho certeza.
Ela é legal e os pais dela também não vão se importar.
E o melhor de tudo é que a casa fica a duas quadras da sua!
—Poxa, perfeito!
Abraçou a namorada, sentindo-se a um só tempo entusiasmado e ansioso.
Estavam se aproximando do prédio.
Quando chegaram, foi tudo rápido e fecharam o negócio em dois minutos.
Serginho saiu de lá todo orgulhoso, com a namorada na garupa, e foi assim desfilando até a casa dela.
Estava radiante!
Antes, porém, passaram onde residia Suzana e combinaram tudo; a mãe dela autorizou sem problemas.
Serginho não deu muita explicação:
só disse que não tinha lugar para guardar a moto e que seria por pouco tempo, até arrumar um espaço em sua casa.
Quando deixou Paula, os olhos da namorada brilhavam de contentamento:
— Valeu, Serginho! Tô feliz!
Agora tudo vai ser mais fácil! Que máximo!
Despediram-se.
Serginho combinou buscá-la mais tarde para o ensaio da banda.
"Agora sim - pensava ele -, nada vai atrapalhar meus planos..."

2 O contacto com o plano espiritual durante o sono: mais informações em notas complementares
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 31, 2015 11:31 am

Capítulo 7 - Enfim, o nome

Os ensaios da banda prosseguiam e se intensificavam, fazendo o grupo melhorar a cada novo encontro.
O repertório para a estreia já havia sido escolhido e era ensaiado com crescente dedicação e atenção aos detalhes.
O entrosamento dos integrantes igualmente aumentava.
Também, não dava tempo para muitas discussões: o dia da apresentação se aproximava rápido.
Só uma coisa não fora ainda definida: o nome da banda.
Todos os dias alguém vinha com uma sugestão, sem que chegassem a um consenso.
Ora a Paula trazia uma ideia, outra vez era o Tiago ou o Renato, mas ao analisarem as sugestões não concordavam.
Sempre achavam que o nome ainda não era o mais apropriado.
Entretanto, aquela ausência do nome já estava dando nos nervos de todos eles.
Como iriam apresentar a banda, sem um nome?
A ansiedade também crescia:
— Como vamos achar o nome certo?
Estamos quase no dia da estreia, do nosso primeiro show, e ainda não temos nenhum nome legal.
Como vamos resolver isso?
— Sei lá, Renato!
Sei lá! - resmungava Tiago, confuso.
— Sei lá? Não vai fugindo, não, Tiago.
Precisamos de um nome!
Paula permanecia pensativa.
Também estava preocupada.
Serginho, que parecia distante, de repente veio com esta:
— E se chamarmos nossa banda de "Os sem nome"?
— Como sem nome? Sem nome o quê? - perguntou Paula.
— A Banda dos Sem Nome.
E diferente, é criativo! - defendeu Serginho.
— Ah, Serginho, dá um tempo!
Parece até coisa de quem não quer pensar!
— Mas, gente...
A ideia do rapaz foi unanimemente descartada e ele quase foi linchado pelo grupo.
Veja lá a que ponto chegavam sem conseguir escolher o nome adequado!
Mais alguns ensaios se passaram e a ansiedade crescia mais e mais.
Logo iriam precisar do nome para colocar nos convites, o tempo escasseava e nada de ele aparecer.
Tinham ideia para tudo, menos para isso!
E o nervosismo crescia, insuportável.
Naquele dia Serginho chegou irritado, sem perceber que uma música de sua banda preferida não lhe saía da cabeça.
Ele não deu muita atenção, e a música continuou martelando o tempo todo.
Mal conseguia ensaiar, porque a todo momento a canção vinha à sua mente.
Em um intervalo no ensaio, Serginho cantarolava baixinho, sem perceber o quê.
— "Se duvidar eu tenho mais de um mar de provas, se duvidar..."
Aquilo chamou a atenção de Paula, que indagou ao namorado:
— Que música é essa aí, Serginho?
Tá cantando desde que chegou!
— Cantando?
Eu não estou cantando.
— Tá, sim, cantando baixinho.
Espera aí, acho que sei que música é.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 31, 2015 11:31 am

Paula esforçou-se para lembrar, e por fim disse:
— E "Siderado".
Você não pára de cantar essa música hoje, não sei por quê.
— É do Skank? - perguntou Tiago acercando-se do amigo.
— É. Do CD com o mesmo nome - afirmou Paula, lembrando-se precisamente -, canta mais um pedacinho!
— "Porque eu te espero na neblina, porque eu te espero no saguão, aeroporto ou esquina e no sol de verão..."
E ele cantou a música inteira.
Dessa vez, todos estavam interessados e Renato perguntou:
— Qual é mesmo o nome dessa música, Serginho?
— "Siderado".
Sem pensar duas vezes, Paula gritou:
— É isso aí, gente!
Vocês não percebem?
É esse o nome do nosso grupo!
— Como assim?
— O nome da música!
Esse será o nome da nossa banda!
— Por quê?
O que tem a ver?
— Você tem um dicionário aí, Renato?
— Tenho, por quê?
— Pega para mim.
Sem entender nada, Renato entregou o dicionário a Paula e todos ficaram em volta esperando para ver o que ela diria.
— Eu sabia! Já tinha lido em algum lugar, acho que numa aula de Português, o significado dessa palavra.
Siderado quer dizer fulminado, aniquilado, perplexo, atordoado.
E assim que todos vão ficar quando ouvirem nossa banda: siderados!
Surpresos, não sabiam ao certo o que dizer, mas finalmente concordaram satisfeitos que aquele era o nome perfeito para a banda.
Estava decidido: Siderado.
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Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro - Página 2 Empty Re: Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 31, 2015 11:31 am

Capítulo 8 - Final de campeonato

Era a final do campeonato interescolar e o colégio estava alvoroçado, com um entra-e-sai de gente sem tamanho.
Com as portas abertas, a escola do Serginho recebia os pais dos alunos, que com outros parentes vinham, corujas, apreciar os dotes dos filhos:
todos admirados com as qualidades dos rebentos, que certamente haviam puxado a eles nessa ou naquela qualidade!
Ah! Os pais...
Esses seres angustiados e em permanente conflito entre o que querem e o que devem fazer...
Estavam todos lá, entusiasmados e cheios de expectativas.
Parecia, enfim, uma grande festa.
Dona Eugénia, seu Felipe, Fábio e Sueli compareceram para participar do evento e prestigiar o filho e o irmão.
Quando chegaram, as arquibancadas que ladeavam a quadra estavam quase lotadas.
Foram caminhando devagar entre os degraus tentando encontrar um lugar mais próximo da quadra, pois era exactamente ali que todos queriam ficar, o mais perto possível dos jogadores.
Finalmente se ajeitaram junto a alguns pais de outros jovens, que já conheciam.
Serginho estudava naquela escola desde pequeno, desde o início de sua vida escolar, e por isso tinha muitos amigos de longa data e as famílias também se conheciam.
A algazarra ia aumentando.
As torcidas organizadas compostas por garotas uniformizadas foram entrando e aumentando ainda mais a animação.
Uma equipe fazia mais barulho do que a outra, porém tudo fora ensaiado, antecipadamente preparado.
Faziam tudo direitinho, igualzinho.
Os pais corujas iam ficando mais e mais animados.
Uma campainha estridente, ensurdecedora, anunciou que a hora do jogo se aproximava.
O time adversário entrou momentos depois.
Na realidade, era o favorito.
Vinha ganhando todos os jogos, desde o início do campeonato.
E ganhava de lavada.
As torcidas aumentaram a algazarra, uns para recepcionar e outros para vaiar.
Era um barulho ensurdecedor.
Depois foi a vez do time da casa, o time do Serginho, e a gritaria foi até maior, embora as torcidas tivessem quase o mesmo número de pessoas de um lado e de outro.
Dirceu entrou na frente da equipe, todo empinado.
Ele tinha muita confiança de que poderiam vencer os favoritos.
Sabia que tinham time para isso; só precisava fazer com que acreditassem, confiassem em si próprios.
Às vezes é difícil crer na própria capacidade.
E mais fácil se achar fraco e incapaz, assim não é preciso se esforçar tanto, e justificar o fracasso fica mais confortável.
Contudo, Dirceu sabia que se confiassem realmente neles próprios, em quanto já haviam treinado, se tivessem muita garra e determinação, acabariam vencendo o jogo.
Não era contra o adversário que deveriam lutar, e sim contra as próprias dúvidas, os próprios medos; esses é que de facto deveriam ser vencidos.
Este havia sido o trabalho dele, como técnico, nos últimos dias:
fortalecer a segurança da equipe e a fé dos atletas em si próprios, tão necessária para vencer qualquer obstáculo.
Ele mesmo vira time antes invictos serem derrotados por equipas menores, nas quais a autoconfiança e a vontade de vencer haviam ultrapassado dificuldades técnicas aparentemente insuperáveis.
E ele confiava naquele time, sabia que todos eram bons de verdade.
Logo atrás do Dirceu seguia Serginho, igualmente confiante.
Sabia que poderiam vencer.
Novamente a campainha irritante soou, perdendo-se nos gritos e na barulheira da torcida.
Ela avisava que o jogo ia começar.
Todos se posicionaram e o juiz apitou o início da partida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 31, 2015 11:32 am

Primeiro set. Sacava o time adversário.
A princípio ainda um pouco nervoso, gradualmente foi ganhando firmeza e começou a fazer pontos.
Marcava sem parar, um após outro.
E o time da casa, o time do Serginho, perdeu feio aquele primeiro set.
Não conseguiu marcar mais de seis pontos.
Durante o pequeno intervalo, a torcida da casa, apesar de assustada, apoiou o seu time.
"Será que vão perder de lavada?"
Era o pensamento de muitos nas arquibancadas, que não obstante incentivavam a equipe de jovens.
Sabiam que seria um jogo difícil, e seguiam estimulando os seus.
O jogo recomeçou.
Saques e cortadas para cá, saques e cortadas para lá.
O time da casa continuava a errar e dava pontos e mais pontos para o outro time, justificando sua posição de favorito e fazendo crescer cada vez mais a confiança da equipe, para desespero de Serginho e sua turma, que viam o tão sonhado título de campeões ir desaparecendo de suas mãos.
Dirceu sentia que precisava fazer algo, precisava enfraquecer aquela crescente confiança do outro time.
Era só isso, pois a competência técnica seus jogadores tinham.
Gritava para um e para outro pedindo que se concentrassem, e nada acontecia.
De súbito lembrou-se de que o time adversário, quase com a mesma equipe, perdera feio dois sets no campeonato de três anos atrás, antes de vencer o jogo final.
Já havia comentado algumas vezes o facto com a equipe, sem nunca reforçar seu significado.
"Como fazê-los perceber que podem ganhar?" - pensava Dirceu, insistentemente.
Mas não deu tempo de mais nada:
quase sem marcar pontos, perdiam o segundo set.
Saíram da quadra cabisbaixos e já se deixavam envolver pelo desânimo.
Parecia até que os favoritos tinham crescido de tamanho - tinham ficado gigantes.
A torcida da casa ainda tentava incentivar, porém já estava desanimando diante de tantas dificuldades.
Quando os jogadores saíram, Dirceu não perdeu tempo e foi logo dizendo:
— Muito bem! Vocês estão indo bem!
— Como assim?
Estamos perdendo de lavada, Dirceu! Tá louco?
— Não, vocês estão indo bem! Excelente!
Ninguém entendeu nada; acharam que o treinador tinha pirado.
— Vocês não estão lembrados?
Foi justamente assim que eles venceram a final do campeonato, três anos atrás.
Esqueceram? Contei a vocês.
— O que você disse foi que jogaram mal - afirmou Tiago, ofegante.
— Não foi só isso!
Eles perderam de lavada os dois primeiros sets e depois viraram o jogo e ganharam, exactamente como vocês vão fazer, ao retornarem para a quadra.
Quero que esqueçam que é o terceiro set. Será o primeiro.
Vocês agora já se habituaram com eles, já sabem como jogam e também onde falham.
Não sabem? Já conseguem pressentir como eles irão devolver a bola.
Sigam o instinto, deixem que ele fale mais alto; vocês já sabem, só precisam prestar atenção no que sabem.
Esqueçam que é o terceiro set, pensem apenas que os dois outros foram treino, só isso.
Vocês estão prontos, preparados para ganhar!
Vão lá e ganhem!
Não deixem que um só pensamento de derrota cresça dentro de vocês; ao contrário, pensem que eles também viveram precisamente isso que vocês estão vivendo, e venceram.
Joguem tudo o que sabem e vençam!
É a vez de vocês!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 31, 2015 11:32 am

Os rapazes olhavam para o técnico e sentiam a energia crescer dentro deles.
Deixaram-se envolver pelas palavras do treinador e começaram a acreditar que poderiam fazer o que ele sugeria.
Quando voltaram à quadra, atendendo às sugestões de Dirceu, todos se fixaram simultaneamente na ideia da vitória.
Logo de saída o time adversário marcou ponto.
Só que então, ao invés da dúvida, apegaram-se ao desejo de vencer e não desanimaram.
Pensavam que o outro time não era infalível e passaram a aproveitar melhor as falhas que cometia.
Logo um ponto foi marcado pelo time da casa.
E outro, depois outro, mais um e mais outro.
O placar foi registando pontos e mais pontos.
A recuperação era incrível.
O time crescia dentro da quadra, acreditando que podia vencer, e começou a virar a partida, para espanto do time favorito.
O time da casa venceu o terceiro set, jogando como se aquele fosse o primeiro.
Ao saírem para o intervalo, Dirceu reforçou que a estratégia estava dando certo e que podiam confiar inteiramente neles, pois eram bons de verdade, sabiam jogar.
Retornaram à quadra sob o barulho ensurdecedor da torcida, que parecia haver crescido em número, tal o incentivo que dava à equipe.
Dessa vez foi mais difícil, pois o time adversário estava mais atento.
Porém, para piorar ainda mais a situação deles,
Serginho, que jogava na rede, parecia ter asas nos pés; saltava e cortava com tanta precisão e rapidez que o outro time ficava perdido.
Marcou, quase a um só tempo, mais de seis pontos e o time da casa venceu o quarto set, com tranquila vantagem.
Ao saírem, Dirceu recebeu-os mais sério.
Era a hora da decisão, do tudo ou nada.
A torcida, nervosa, estava em pé.
Ele pediu a todos que dessem as mãos.
Todos obedeceram.
Disse, então:
— Sintam como vocês são fortes juntos, unidos.
Joguem assim, com o mesmo sentimento, e vencerão.
Ao soar da campainha para o quinto set, o time da casa não podia se conter, tamanho o entusiasmo e tão grande a força que sentia.
Os atletas voltaram à quadra e ganharam sem deixar que o outro time, antes favorito, fizesse mais do que oito pontos.
Aquele era o primeiro campeonato interescolar que o colégio de Serginho vencia e a alegria dos professores e especialmente do director, além dos pais e dos próprios jovens, era contagiante.
No final, subiram ao pódio para receber as medalhas e saíram dali naquela tarde como verdadeiros vitoriosos, pois haviam dominado não apenas o time adversário, como a si próprios, tornando-se claramente mais fortes.
Serginho foi carregado pelos colegas como herói, por ter jogado brilhantemente, e da arquibancada, sem perder nenhum detalhe, os pais vibravam ainda mais e não cabiam em si de tão orgulhosos.
Olhavam ao redor como a dizer: é meu filho!
Fábio saiu correndo e juntou-se à farra dos amigos do irmão; queria participar.
Foi uma tarde alegre e animada!
Paula não poupava elogios ao namorado, que deixou a quadra plenamente satisfeito: havia conquistado definitivamente o coração da namorada, sentia que podia alcançar muitas outras vitórias, sua vida era perfeita!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 31, 2015 11:32 am

Capítulo 9 - Ocultando a teimosia

As comemorações prosseguiram no domingo e ao longo da semana.
Seu Felipe queria falar com Serginho sobre a questão da moto, mas evitou o assunto, pois queria que o filho curtisse aquele momento de alegria e vitória.
Todavia, a preocupação o incomodava.
Como uma pulga atrás da orelha a coçar-lhe as ideias, ele pressentia que o filho tivesse feito alguma bobagem.
Igualmente dona Eugénia sentia que o filho fizera ou estava prestes a fazer uma grande besteira.
Os dois conversaram algumas vezes sobre o assunto.
Em uma dessas vezes, tomando o café da manha, dona Eugénia disse:
— Estou preocupada, Felipe.
Serginho não tocou mais no assunto da moto.
Anda muito feliz para ter desistido.
Sei que ele fez ou está planeando fazer alguma coisa...
— Sinto o mesmo, Eugénia. Vou falar com ele.
Só não fiz isso antes porque queria deixar a alegria da comemoração prevalecer...
— Eu sei, Felipe. Foi por isso que também não toquei no assunto.
Mas fica martelando em minha mente...
— Na minha também... Já está na hora.
Vou ter uma conversa séria com nosso filho hoje, sem falta!
Agora vou indo, à noite falo com ele.
Naquela noite, seu Felipe chegou mais cedo do que era seu costume.
Queria garantir que se encontraria com o filho.
Serginho se preparava para sair, depois do jantar, quando o pai lhe disse:
— Vai ensaiar novamente, Serginho?
— Vou, pai.
A banda está ficando sensacional!
Vocês nem imaginam!
O show de estreia será um grande sucesso, tenho certeza!
—Aposto que sim, meu filho.
Do jeito que vocês andam ensaiando sem trégua, sei que vai ser óptimo.
Só que hoje, antes que você saia, precisamos ter uma conversa, nós dois.
Serginho, que vinha tentando fugir do assunto e de qualquer oportunidade que os pais tivessem de descobrir que comprara a moto, fez menção de sair.
O pai segurou-o pelo braço:
— É sério, Sérgio.
Hoje, vamos conversar.
Vamos até seu quarto.
— Pai... É que...
— Não tem escapatória, Sérgio.
Para o seu quarto, precisamos conversar.
O jovem olhou a mãe, tentando descobrir qual era o assunto.
Quando percebeu que dona Eugénia não o olhava nos olhos, teve certeza de que a moto seria o tema.
Levantou-se lentamente, com ar aborrecido e entediado, e dirigiu-se ao quarto, onde o pai já o aguardava:
— Feche a porta, Sérgio.
Vamos conversar.
— Pô, que sério, hein, pai!
— É muito sério e vou directo ao assunto.
Duas semanas atrás tivemos uma conversa sobre uma tal moto, está lembrado?
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Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro - Página 2 Empty Re: Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 01, 2015 11:01 am

— Tô.
— Disse que queria comprar e deixei bem claro que não vou admitir que faça isso.
Quero apenas ter certeza de que você entendeu bem o que quis dizer.
— Entendi.
— E...
— E o quê, pai?
— Serginho, eu conheço você muito bem.
Se não tocou mais no assunto, é porque está aprontando alguma coisa.
— Não é nada disso, pai...
— Você não nos engana, nem a mim nem a sua mãe, que está preocupadíssima.
— Vocês se preocupam muito, à toa!
Moto não é assim tão perigosa...
— Eu não vou mais discutir a questão da moto, Sérgio.
É muito perigoso, e não sou eu que digo, são as estatísticas dos hospitais e delegacias de polícia.
Quem quiser, é só procurar e encontra.
Então não vou mais falar sobre isso.
O que quero saber é se você entendeu meu ponto de vista, se está tudo claro para você e se sabe as consequências, caso insista em teimar connosco.
Serginho emburrou.
Aquela conversa o irritou profundamente.
Por que o pai tinha de voltar ao assunto?
Seu Felipe insistiu:
— E então?
— Olha, pai, se achar que devo comprar a moto, eu compro e pronto!
Daqui a vinte dias completo dezoito anos e já poderei tomar minhas próprias decisões.
— Não quero saber se você tem dezoito, vinte ou trinta anos, Sérgio.
Enquanto estiver aqui, sob minha responsabilidade, precisa respeitar as regras, e esta é clara: sem moto.
Serginho ficou em silêncio.
E como seu Felipe sentia que o filho permanecia inflexível, finalizou a conversa com a decisão:
— Muito bem, você quer continuar insistindo nessa história, não é?
Então terei de tomar minhas providências.
A partir deste mês, nada de mesada para você. Está suspensa.
O pai saiu do quarto antes que Serginho dissesse qualquer coisa.
Fechou a porta e dirigiu-se à sala.
Ouviu quando Serginho berrou no quarto:
— Não é justo! Não é justo!
Dona Eugénia estava na sala e perguntou com a cabeça o que havia acontecido.
Ele contou, mas ela não ficou satisfeita:
— Isso não me deixa mais tranquila, não, Felipe.
Acho que ele está preparando uma daquelas...
— Eu sei, Eugénia, vamos fazer tudo o que pudermos, tudo o que estiver ao nosso alcance.
Serginho deixou o quarto batendo a porta com força.
Não olhou os pais quando passou pela sala e ao sair bateu também a porta de entrada da casa.
Estava furioso e desceu as escadas pensando:
"Ainda bem que tomei minha decisão!
Agora preciso achar um jeito de arranjar dinheiro para o combustível!".
Foi à casa de Suzana, onde guardava a moto, e saiu irritado.
Acelerando com tudo, dirigiu-se para o ensaio na casa do Renato.
Dona Eugénia continuou preocupada e pensativa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 01, 2015 11:01 am

Buscava, mentalmente, uma forma de influenciar o filho, sem, no entanto, encontrar nenhuma saída.
Sueli juntou-se à mãe e logo percebeu que estava aflita:
— Mãe, tá preocupada com o Serginho?
— É, Sueli, seu irmão não tem jeito.
— Será que ele vai comprar a moto, mãe?
Será que vai?
— Acho que sim, filha, se é que já não comprou...
— Será, mãe?
Por que acha isso?
— Um palpite, pelo jeito que ele evita tocar no assunto...
Acho que já comprou, sim...
— E o que vamos fazer, mãe? Fico com medo por ele...
— Eu também, Sueli.
Vamos continuar pedindo a Deus por seu irmão.
Que nosso Pai cuide dele e o proteja.
E o que podemos fazer.
E se você descobrir alguma coisa, me conta, não é?
— Claro, mãe! Com certeza!
Era o dia do Evangelho no Lar e dona Eugénia pediu a seu Felipe que participasse.
Sem discutir muito, ele aceitou, e pela primeira vez os quatro juntos tiveram uma noite de orações e estudos dos ensinos de Jesus.
Quando voltou para casa, Serginho já tinha uma ideia de onde conseguir o dinheiro.
Entrou bem devagar e percebeu que todos já estavam deitados.
Foi até o quarto do irmão e viu a luz acesa. Entrou.
Fábio, escondido dos pais, jogava vídeo game.
Dona Eugénia já tinha dito várias vezes que não era para fazer aquilo, e ele teimava.
Serginho sabia que a mãe proibira, que tudo deveria ter sua hora certa.
Fábio tinha o horário em que podia jogar, e não era aquele.
Já passava da meia-noite e se a mãe soubesse que ele a desobedecia, tiraria a televisão do seu quarto.
Por isso o menino assustou-se quando o irmão entrou no quarto; tentou desligar tudo, mas não deu tempo.
— Bonito, hein, Fábio, jogando videogame a esta hora?
— Você não vai contar para mãe, né, Serginho?
— Não sei, não...
Estou aqui pensando...
— Não conta, por favor...
Ela vai tirar a TV do meu quarto...
— Eu sei. Ela já disse isso...
E estou ainda pensando o que fazer...
— Não conta, Serginho, por favor...
Faço qualquer coisa, faço o que você quiser; ela vai me deixar de castigo...
— E tirar a TV do seu quarto, e proibir você de sair por umas duas ou três semanas, e...
— Vai contar para ela?
— Isso depende de você.
— Como de mim!1
— Estou precisando de uma grana extra, só até meu aniversário...
Preciso da sua mesada...
— De jeito nenhum!
Minha mesada, não! Você tem a sua...
— Tudo bem - disse Serginho, fazendo menção de sair do quarto -, fica aí com sua mesada, sem poder sair de casa...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 01, 2015 11:01 am

— Tá bom, que chantagista você é!
Só porque sou o mais novo!
— Depois do meu aniversário eu te devolvo.
— Devolve mesmo?
— Devolvo.
— Então tá bom.
O pai vai me dar amanhã à noite, aí te entrego.
— Fechado!
É bom fazer negócio com você!
— Você me obrigou!
— Não, foi você que aceitou.
Serginho despediu-se do irmão e saiu satisfeito do quarto.
Conseguira seu intento.
Não precisaria parar a moto por falta de gasolina.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 01, 2015 11:01 am

Capítulo 10 - Advertência

À medida que o grande dia da estreia se aproximava, os ensaios tornavam-se mais longos, fazendo com que os quatro amigos dedicassem mais e mais horas a se preparar; queriam muito que tudo fosse perfeito!
Serginho andava feliz com sua moto para baixo e para cima; tomava, entretanto, cuidados para que ninguém da família descobrisse.
Escolhia caminhos alternativos e parava a moto longe da escola, para que a irmã não o visse.
Em casa, à conversa entre seu Felipe e o filho seguiu-se silêncio sobre o assunto.
Dona Eugénia e o marido desconfiavam, intuíam que o rapaz já houvesse comprado a moto.
Os pais sempre sentem; por mais que os filhos pensem esconder o que fazem, eles percebem.
E o sexto sentido, resultado do amor e da responsabilidade que têm para com os jovens.
Às vezes, para Serginho e para seus amigos, parecia chatice e implicância, especialmente quando os pais insistiam em determinado assunto que os jovens queriam a todo custo esconder.
Sempre há os pequenos segredos, e os grandes também, e nunca se sabe quais são os mais perigosos.
Mas os pais sabem, e de um momento para outro aquilo que parecia tão bem guardado aparece de maneira descontrolada.
Dona Eugénia sofria com aquele silêncio e orava muito pelo filho, compartilhando seus temores e receios com o marido e algumas vezes com Sueli, que, sempre junto da mãe, percebia-lhe a angústia.
No entanto, ela sabia que ficar insistindo com o filho seria pior.
Precisava descobrir o que estava acontecendo e permanecia atenta a todos os seus movimentos.
Ainda que notasse a preocupação dos pais, Serginho procurava não pensar naquele mal-estar que o acometia ao entrar em casa.
Sempre que se sentava à mesa com a família, escondendo de todos o que estava fazendo, sentia-se estranho, incomodado.
Mas tão logo descia as escadas de casa, dobrava a esquina e subia na moto, o mal-estar desaparecia.
Ao dirigir, crescia sua sensação de liberdade e a sede de aventuras aumentava.
A namorada - ignorando os perigos - o instigava mais a agir com imprudência.
Paula era uma jovem de olhos cor de mel, bonita e atraente.
Seu rosto era contornado por cabelos castanho-escuros que contrastavam com a pele clara e sedosa.
Porém tinha o olhar triste, o qual escondia com atitudes audaciosas e irreverentes.
Em sua família, em seus pais, não encontrava o carinho e a compreensão de que necessitava.
Diversos problemas de relacionamento se intrometiam naquela família complicada.
Paula era filha única e herdeira de uma pequena fortuna, que os pais já haviam herdado e encorpado.
Mesmo assim, aquilo tudo não a satisfazia.
Queria sempre mais, para preencher alguma coisa dentro dela que desconhecia.
Paula parecia não ter medo de nada e agia como se desafiasse a vida.
Delirava quando Serginho dirigia em alta velocidade ou quando fazia manobras perigosas com a moto.
Começaram a viajar de improviso após o ensaio, para algum lugar mais ou menos distante, e retornavam quase ao amanhecer.
Serginho se deixava envolver pela deliciosa sensação que lhe vinha de fazer aquelas maluquices e ia aprimorando o controle sobre a máquina, que obedecia cada vez melhor a seus comandos.
Certa noite, Paula sugeriu que ele desse potência máxima na moto, para ver até onde aguentava, e da garupa gritava:
— Vai mais rápido, cara! Mais rápido!
Ele acelerava e a garota berrava, entusiasmada:
— Urraaaaa! Que máximo! Mais depressa!
Vamos ver até onde chega, Serginho!
Vamos ver até onde esse motorzinho aguenta!
Você tem coragem?
Sem dizer nada, Serginho acelerou mais.
Percebendo que o motor respondia, aumentou a velocidade.
E ainda mais e mais um pouco.
Estava determinado a conseguir o máximo, e não diminuía nem nas curvas, que eram de facto seu maior desafio.
Para a direita, depois para a esquerda, outra vez para a esquerda.
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Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro - Página 2 Empty Re: Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 01, 2015 11:02 am

Serginho conhecia bem o caminho, e antes de chegar à curva se preparava mentalmente para o movimento que tinha de fazer.
Paula vibrava na garupa, agarrada ao namorado.
Num momento em que a velocidade estava altíssima, ela soltou as mãos e abriu os braços, para sentir melhor o vento.
A sensação de liberdade era maravilhosa!
Serginho desconcentrou-se ligeiramente, preocupado com a namorada, e quando entrou na curva seguinte...
Que derrapada!
Ele perdeu o controle da moto, que entrou mal na curva e tombou, derrubou cada um de um lado e continuou se arrastando pela rua, até parar alguns metros à frente.
Foi um tombaço daqueles!
Tudo aconteceu tão rápido que o rapaz não conseguiu fazer nada e em um breve segundo estavam os dois no chão.
Assim que conseguiu se refazer um pouco do susto, ele se levantou, branco como papel alcalino, e correu até a namorada.
Paula estava meio zonza e totalmente trémula.
Serginho tirou-a da rua e sentou-a na calçada.
Em poucos segundos, outros motoqueiros pararam e um carro que seguia mais atrás também.
Sem demora os dois estavam cercados de pessoas.
Serginho lembrou-se, então, de que não tinha documentos e procurou se livrar depressa de todo mundo, garantindo que estavam bem, embora Paula ainda se mostrasse atordoada.
Por sorte, a moto estava inteira, tinha sofrido somente alguns arranhões.
Ao se ver livre, o rapaz subiu na moto com Paula e sumiu.
No caminho, falava todo o tempo com ela, perguntando se estava mesmo bem.
Ao deixá-la em casa, naquela noite, retornou pensativo e assustado.
Entrou cabisbaixo - a cor ainda não lhe voltara completamente ao rosto.
Ao passar pela sala, deu de cara com a mãe, a irmã e o irmão.
Estavam prontos para começar a leitura semanal do Evangelho que realizavam juntos.
Serginho, que percebeu no olhar da mãe a indagação sobre o que acontecera, sentou-se no sofá.
Resolveu participar com eles e, desse modo, calar na mãe qualquer pergunta.
De mais a mais, naquele momento sentia uma vontade enorme de colo.
Durante a oração da mãe, foi envolvido por um sentimento estranho e teve vontade de chorar.
Enquanto a mãe lia um pequeno trecho do Evangelho, ele pensava e pensava no que acabara de ocorrer.
Aos poucos se acalmava e dava-se conta do perigo pelo qual passara.
Pensou na vida, na família e em tudo de bom que possuía.
Reflectiu que devia cuidar mais de si próprio, pois tinha ainda muito a realizar, sua vida estava apenas começando.
Olhou para a mãe e os irmãos com carinho e percebeu, naquele momento, quanto gostava deles.
Ficou mais triste por estar mentindo para eles, enganando-os daquela forma.
Ao se deitar, naquela noite, sentiu que tinha alguma coisa a fazer com sua vida, que era mais do que aquilo que podia enxergar.
Incomodado com o facto de estar escondendo da família a história da moto, e preocupado com o tombo que levara, decidiu que na manhã seguinte iria contar tudo à mãe; ela teria de compreender e ele prometeria, de todo o coração, ser mais cuidadoso, mais atento ao dirigir.
Prometendo a si próprio os cuidados que teria dali por diante, Serginho adormeceu.
Na manhã seguinte, mal dona Eugénia se levantara, o telefone tocou.
Era uma ligação da Paula para o namorado.
Ela bateu na porta do quarto do filho e avisou:
— Serginho, telefone.
Nenhuma resposta.
Serginho ainda dormia.
Batendo outra vez, a mãe falou um pouco mais alto:
— Serginho, é a Paula.
O jovem abriu a porta meio sonado e pegou o telefone das mãos da mãe.
— E aí, Paula, tudo bem?
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Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro - Página 2 Empty Re: Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 01, 2015 11:02 am

— Não, Serginho, não estou nada bem.
Não preguei os olhos a noite toda com dores no peito.
Parece que tem alguma coisa quebrada aqui dentro.
Ainda atordoado, o rapaz tentava compreender bem o que Paula lhe dizia:
— O que poderia ser?
— Não sei, Serginho; estou pensando que pode ser do tombo de ontem.
Não quero contar nada a minha mãe para não assustá-la.
O que você acha que devemos fazer?
— Estou indo para aí agora mesmo.
Arrume-se, vamos ao hospital.
Precisa ver o médico.
Já devíamos ter ido ontem!
— É que ontem eu me sentia bem...
E você, como está?
— Bem, Paula.
Fiquei assustado, mas estou legal agora.
Te pego em uma hora.
— Tá bom. Fico pronta.
Serginho desligou o telefone preocupado.
Teria acontecido algum dano a Paula, no acidente?
Lembrou-se de que às vezes, logo após um susto grande, o organismo camufla lesões, de tanta adrenalina que joga no sangue, para manter a pessoa alerta.
E se fosse isso?
E se Paula tivesse algum problema sério?
Ele teria sido o causador de tudo!
Com o medo e a culpa rondando a mente, terminou de arrumar-se e saiu sem tomar o café.
Tinha pressa de ver Paula.
Quando a mãe, ao vê-lo sair, questionou se tudo estava bem, respondeu disfarçando a ansiedade:
— Lógico, mãe, tá tudo bem.
É que temos algumas coisas importantes para conversar, sobre o show, e Paula pediu que fosse mais cedo para o colégio, para trocarmos umas ideias antes da aula.
Vai dando um nervosinho em todo mundo, você sabe, né?
— E, filho, imagino!
momento que vocês tanto esperavam está chegando!
— Nem fala, mãe.
É daqui a três dias!
Todo mundo tá ficando ansioso!
— Vai dar tudo certo, filho.
Sem dizer nada, Serginho sorriu.
Dona Eugénia era uma mãe muito amorosa.
Mais uma vez, envergonhado por esconder dela os últimos acontecimentos, saiu depressa.
Sem perda de tempo, Serginho levou Paula ao médico e contaram todos os detalhes do acidente.
Após examiná-la minuciosamente sem nada encontrar, ele solicitou uma série de exames; poderia ainda haver algum tipo de lesão interna que só seria detectada através de uma tomografia completa do tórax.
— Façam o exame, peguem o resultado e retornem o mais breve possível.
Se houver algum problema interno, saberemos após o resultado.
Assustados, os dois deixaram o consultório médico e foram imediatamente fazer os exames.
Quase não conversavam, angustiados e com medo do que poderia estar ocorrendo com Paula.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 01, 2015 11:02 am

Ao saírem, o enfermeiro lhes assegurou que no dia seguinte os resultados estariam prontos.
Do hospital, Serginho e Paula dirigiram-se à casa dela e passaram a tarde juntos.
Eles concordaram em não contar nada a ninguém até receberem os resultados.
Entretanto, no dia seguinte Paula se sentia muito melhor, a dor quase desaparecera.
Embora o namorado pedisse cautela, já estava bem disposta e queria ensaiar.
— Vá com calma, Paula. Não force.
— Não tô forçando, Serginho.
Tô bem melhor.
Quase não sinto dor; só uma pontadinha.
— Espera até amanhã, Paula.
Os resultados saem mais tarde e aí teremos certeza de que tudo está bem.
— E os ensaios, Serginho?
Ontem quase não consegui cantar e a apresentação já é depois de amanhã! Não vai dar tempo, não!
— Tá bom, Paula, mas pega leve, sem forçar!
— Pode deixar.
E como estão os preparativos para a festa?
Tá tudo pronto?
— Quase. Minha mãe tá cuidando de tudo.
Ela contratou uma moça que organiza festas e tá ajudando, tá ficando legal.
Escolhi os detalhes da decoração, lembra que conversamos semana passada?
— É, e ficou legal?
— Acho que sim, pois não vi tudo finalizado.
Minha mãe disse que ficou legal.
— E o salão?
Precisamos ir lá amanhã para levar todos os equipamentos e fazer um ensaio geral, verificar a acústica, essas coisas.
— Tá tudo acertado também.
Amanhã, depois do almoço, já podemos começar a levar os equipamentos para lá.
E podemos ensaiar até a hora em que quisermos!
— Maravilha!
Vai ser maravilhoso, Serginho, tenho certeza!
— Claro que vai!
Quem tem dúvida?
Mais uma vez os ensaios acabaram tarde da noite.
A banda estava afinadinha e tocando muito bem.
A dedicação e os esforços do grupo vinham dando frutos e o show de estreia prometia ser um sucesso.
Paula estava cada vez melhor como vocalista e Serginho, que já era apaixonado pela namorada, tinha ficado fascinado com o talento dela para a música.
Rapidamente o dia tão esperado se aproximava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 01, 2015 11:02 am

Capítulo 11 - Outro aviso

A família se preparava entusiasmada para aquela festa:
Serginho ia completar dezoito anos.
Enquanto providenciava o café naquela manhã de sexta-feira, dona Eugénia pensava se todos os detalhes da festa estavam em ordem.
Repassava mentalmente tudo o que precisava finalizar para que no sábado a comemoração fosse muito especial, inesquecível.
Acima de tudo, desejava ver o filho feliz e realizado.
Sabia que para ele a apresentação da banda seria o ponto alto da festa; mesmo assim, queria que tudo o mais saísse perfeito.
Entre um item e outro da lista mental que seguia, pensava no filho.
Lembrava-se dele desde pequeno:
seus primeiros passos, suas primeiras palavras, seu primeiro dia na escola, as primeiras dificuldades com os colegas, a primeira namorada.
Seu filho estava tornando-se um homem e ela sentia uma pontinha de receio por ele.
Sabia que a vida era como uma jornada desafiadora, e pensava se estaria fazendo sua parte, como mãe, no sentido de preparar o filho para enfrentá-la com sabedoria.
Achava-se responsável, às vezes, pela teimosia de Serginho.
Recordou de súbito a questão da moto, que continuava a incomodá-la, e imediatamente um estranho calafrio percorreu-lhe o corpo.
Eugénia, aflita com o pressentimento, interrompeu o que estava fazendo e foi até o quarto para orar.
Desejava que aquela ansiedade desconfortável desaparecesse.
Após alguns instantes de prece silenciosa, retornou à cozinha.
Serginho já estava tomando o café da manhã.
— Bom dia, mãe.
— Bom dia, filho. Tudo bem?
Você não está atrasado?
— Tá tudo certo, dona Eugénia.
Hoje não vou ao colégio; vamos levar os equipamentos de som e todo o material para o salão.
Vamos ensaiar a tarde toda.
Afinal, é amanhã o grande dia!
— É, meu filho, é amanhã, seu aniversário.
Será mesmo um dia muito especial...
Notando um tom de melancolia na voz da mãe, Serginho perguntou:
— O que foi, mãe?
Parece triste...
— Triste, não, estou preocupada.
— Com o quê? - insistiu ele, enquanto comia o pão e engolia o leite.
— Com você, Serginho, apesar de não saber ao certo o porquê.
Cuide-se, meu filho, cuide-se!
— O, mãe, que coisa!
Por que essa preocupação agora?
— Não sei... Estava aqui pensando em você, desde pequeno, em como está se transformando em um homem e, de repente, lembrei toda aquela história da moto e fiquei triste.
Serginho gelou.
Será que a mãe tinha descoberto?
— Mas o que te perturba?
— Não sei. Quero que você seja feliz, meu filho, é só isso.
Abraçando a mãe com muito carinho, ele disse:
— Tá com medo que o filhão aqui cresça, né, mãe?
Já tá com saudade de quando eu era pequeno?
De quando podia controlar minha vida?
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Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro - Página 2 Empty Re: Luz que nunca se apaga - Bento José / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 01, 2015 11:02 am

— Talvez seja isso mesmo, filho.
E difícil para mim acreditar que você já tem dezoito anos.
Ainda ontem era uma criança, correndo pela casa.
E agora... Está quase um homem feito.
Lágrimas brotaram nos olhos de dona Eugénia, impedindo-a de continuar.
Serginho abraçou-a novamente.
— O mãe, eu te amo, viu?
Vou sempre ser seu menino, só que um pouco mais crescido.
Dona Eugénia não respondeu.
Apenas abraçou Serginho e beijou-o com ternura na face.
Ao terminar seu café da manhã, ele se despediu da mãe e de Sueli, que acabava de levantar-se.
Abraçando a mãe bem apertado, disse:
— Te vejo mais tarde, mãe.
Você vai para o salão hoje à tarde?
— Talvez não seja necessário.
A Amelinha está organizando a festa e acho que tudo caminha bem.
Vou é ligar para alguns amigos e confirmar a presença deles; inclusive de sua tia, que deverá vir para seu aniversário.
— Legal, mãe.
Então nos vemos à noite.
Tchau, Sueli.
Beijou a irmã no rosto, saiu apressado e desceu as escadas correndo.
Depois de pegar a moto, foi directo à casa do Renato.
Os amigos estavam todos lá, entusiasmados, tentando disfarçar a ansiedade.
Já embalavam os equipamentos quando Serginho chegou.
Juntando-se aos outros, finalizaram rápido a organização e duas horas mais tarde estavam desembalando tudo no salão, onde fariam a tão sonhada estreia.
Paula encontrou lá os amigos, e Serginho sentiu-se mais aliviado ao vê-la:
- Estava preocupado com você.
Tudo bem? Não ia encontrar a gente na casa do Renato?
Pensei que estivesse passando mal.
— E estava.
— A dor de novo?
— Não. Nervoso.
Não consegui comer nada e pus par fora tudo o que tinha no estômago.
— Mas por quê?
O que você tem?
— Nervoso, já falei.
Toda vez que fico tensa deste jeito, me dá um nó no estômago que não consigo controlar.
Já estou tomando um calmante natural, para tentar relaxar.
Serginho respirou aliviado.
Após o almoço, os dois deixaram o grupo e foram buscar os resultados dos exames.
Embora Paula não sentisse mais nada, queriam ter certeza de que estava realmente bem.
Logo que pegaram os exames, foram ao médico que os havia pedido.
Que alívio! Estava tudo bem!
Nenhum problema apareceu.
Assim mesmo, ele examinou Paula detidamente, concluindo:
— Deve ter sido o susto, muito nervosismo.
Você é bem tensa, não é?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 01, 2015 11:03 am

— Se sou, você nem imagina!
— Imagino, sim.
Deve ter sido a tensão que ocasionou a dor.
Mas está tudo certo.
Agora, cuidem-se. Moto é um perigo!
Deixaram o consultório ignorando por completo as últimas palavras do médico.
Aquela sombra de inquietação havia desaparecido por completo e podiam, finalmente, curtir como nunca aquele dia especial!
Faltavam apenas algumas horas para o grande evento.
Paula e Serginho, depois de deixar o consultório médico, saíram felizes.
— Isso requer uma comemoração, Serginho.
— Tudo bem, depois do ensaio, Paula.
— Não, já! Precisamos comemorar, e eu acho que. beber um pouquinho vai me fazer bem.
— Mas o pessoal está esperando.
— Liga lá e fala que estamos indo.
É só um pouquinho, vai, Serginho...
Alegre pelos resultados dos exames, Serginho resolveu atender a namorada, que ele nunca conseguia contrariar.
E, afinal, que mal haveria em uma ou duas cervejas?
No caminho, pararam em um barzinho que costumavam frequentar.
— Vamos começar com uma cerveja bem gelada! pediu Paula nem bem se acomodou na cadeira.
Começaram, então, a beber.
A princípio Serginho queria apenas uma cerveja, consciente de que iria dirigir.
Devagar, porém, sem perceber, foram se deixando dominar pela euforia, pela satisfação de constatar que a saúde de Paula estava em ordem.
O sentimento de que alcançariam o que quer que desejassem também era intenso.
Tinham a sensação de poder tudo!
De que o mundo lhes sorria e lhes pertencia.
Serginho, que se sentara um pouco tenso, foi relaxando a partir da segunda cerveja e achando que tinha tudo sob controlo, conforme ele queria.
Descontraíram-se mais e mais e uma nova rodada de cerveja foi pedida.
Sentiam-se mais do que satisfeitos, e foram bebendo, ignorando o tempo que passava e o perigo em que se envolviam.
Beberam sem perceber a que ponto estavam sob o efeito do álcool.
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