LUZ ESPÍRITA
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Série André Luiz - MISSIONÁRIOS DA LUZ

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 18, 2012 10:26 pm

O magnetismo do mal está igualmente cheio de poder, mormente para aqueles que caem voluntariamente sob os seus tentáculos.

Em seguida, inclinou-se paternalmente sobre o desventurado suicida e indagou:
- Irmão Raul, como passa?
- Eu... Eu... - Murmurou o infeliz, como se estivesse mergulhado em profundo sono - Não sei... Nada sei...

- Lembra-se da esposa?
- Não... - respondeu o suicida, de modo vago.

O instrutor levantou-se e disse-me:
- A inconsciência dele é total. Precisamos despertá-lo.

Em seguida, determinou que eu permanecesse ali, em vigilância, enquanto buscaria recursos necessários.
- Não poderemos acordá-lo por nós mesmos? - interroguei, admirado.

O orientador sorriu e considerou:
- Bem se reconhece que você não é veterano em serviços «intercessórios».
Esquece-se de que vamos despertá-lo não só para a consciência própria, senão também para a dor?

Romperemos a crosta de magnetismo inferior que o envolve e Raul regressará ao conhecimento da situação que lhe é própria;
entretanto, sentirá o martírio do peito varado pelo projéctil, rugirá de angústia ao contacto da sobrevivência dolorosa, criada, aliás, por ele mesmo.

Ora, em tais casos, as primeiras impressões são francamente terríveis e escoam-se algumas horas antes de seguro alívio.
E como outras obrigações esperam por nós, será conveniente entregá-lo aos cuidados de outros amigos.
As observações calaram-me fundamente.

Decorridos vinte minutos, aproximadamente, Alexandre voltou acompanhado de dois irmãos que se prontificaram a conduzir o infeliz e, dai a algum tempo, encontrávamo-nos numa casa espiritual de socorro urgente, localizada na própria esfera da Crosta.

Via-se que a organização atendia a trabalhos de emergência, porquanto o material de assistência era francamente rudimentar.

Adivinhando-me o pensamento, Alexandre explicou:
- No círculo de vibrações antagónicas dos habitantes da Crosta, não se pode localizar uma instituição completa de auxílio.

O trabalho de socorro, desse modo, há de sofrer incontestável deficiência.
Esta casa, porém, é um hospital volante que conta com a abnegação de muitos companheiros.

Deposto Raul num leito alvo, o devotado instrutor começou a aplicar-lhe passes magnéticos sobre a região cerebral.

Não se passou muito tempo e o infeliz lançou um grito Estertoroso e vibrante, dilacerando-me o coração.

- Eu morro! Eu morro!... - Gritava Raul, em suprema aflição, tentando, agora, escalar as paredes.
Acudam-me por caridade:
E comprimindo o peito com as mãos, exclamava, em tom lancinante:
- Meu coração está partido! Ajudem-me!...
Não quero morrer...

Enfermeiros solícitos amparavam-no com atenção, mas o paciente parecia tomado de horror.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 18, 2012 10:26 pm

Olhos esgazeados em máscara de sofrimento indefinível, continuava gritando estentoricamente, como se houvesse acordado de pesadelo angustioso.

- Éster! Éster!... - chamou o infeliz, recordando a esposa devotada - venha em meu auxílio pelo amor de Deus!
Socorra-me! Meus filhos!... Meus filhos!...

Alexandre acercou-se dele paternalmente e obtemperou:
- Raul, tenha paciência e fé no Divino Poder!

Procure enfrentar corajosamente a situação difícil que você mesmo criou e não invoque o nome da companheira dedicada, nem chame pelos filhos amados que deixou na sua antiga paisagem do mundo, porque a porta material de sua casa se fechou com os seus olhos.

Se você tivesse cultivado o amor cristão, prezando as oportunidades que O Senhor lhe confiou, fácil seria, num momento destes, regressar ao ninho afectuoso para rever os entes amados, ainda que eles não conseguissem identificar a sua presença.

Mas... Agora, meu amigo, é muito tarde...
É necessário aguardar outro ensejo de trabalho e purificação, porque a sua oportunidade, com o nome terrestre de Raul, está finda...

Imenso pavor a estampar-se-lhe no semblante, o interpelado revidou:
- Estarei morto, porventura? Não sinto O coração varado de dor?
Não tenho as vestes ensanguentadas? Será isto morrer? Absurdo!...

Muito sereno, o bondoso instrutor voltou a falar:
- Não empunhou sua arma contra o próprio peito?
Não localizou o coração para exterminar a própria vida?

Ó meu amigo, podem os homens enganar uns aos outros, mas nenhum de nós poderá iludir a Justiça Divina.

Revelando extrema vergonha, ao sentir-se a descoberto, o suicida prorrompeu em soluços, murmurando:
- Ah! Desventurado que sou! Mil vezes infeliz!...
Alexandre, contudo, não tornou a falar-lhe naquela circunstância.

Depois de recomendá-lo carinhosamente aos cuidados dos irmãos responsáveis pelos serviços de assistência, dirigiu-se a mim, explicando:
- Vamos, André! Nosso novo amigo está em crise cuja culminância não cederá antes de setenta horas, aproximadamente.
Voltaremos mais tarde a vê-lo.

De regresso aos meus trabalhos, esperei, ansioso, o instante de reatar as observações educativas.
Impressionava-me a complexidade do serviço «intercessório».

As simples orações de uma esposa saudosa e dedicada haviam provocado actividades numerosas para o meu orientador e valiosos esclarecimentos para mim.

Como agiria Alexandre na fase final?

Que revelação teria Raul para os nossos ouvidos de companheiros interessados no seu bem-estar?
Conseguiria a esposa consolar-se nos círculos da viuvez?

Abrigando interrogações numerosas, aguardei o momento azado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 18, 2012 10:26 pm

Decorridos quatro dias, o instrutor convidou-me a tornar ao assunto, o que me fez exultar de contentamento pela possibilidade de prosseguir, aprendendo para a minha própria evolução.

Encontramos Raul cheio de dores; todavia, mais calmo para sustentar a conversação esclarecedora.
Queixava-se da ferida aberta, do coração descontrolado, dos sofrimentos agudos, do grande abatimento.

Sabia, porém, que não se encontrava mais no círculo da carne, embora semelhante verdade lhe custasse angustioso pranto.

- Tranquilize-se - disse-lhe o meu orientador, com inexprimível bondade -, sua situação é difícil, mas poderia ser muito pior.

Há suicidas que permanecem agarrados aos despojos cadavéricos por tempo indeterminado, assistindo à decomposição orgânica e sentindo o ataque dos vermes vorazes.

- Ai de mim! - suspirou o mísero – porque, além de suicida, sou igualmente criminoso.
E demonstrando infinita confiança em nós, Raul contou a sua história triste, procurando justificar o acto extremo.

Na mocidade, viera do interior para a cidade grande, atendendo ao convite de Noé, seu camarada de infância.

Companheiro devotado e sincero, esse amigo apresentara-o, certa vez, à noiva querida, com quem esperava tecer, no futuro, o ninho de ventura doméstica.

Ai! Desde o dia, porém, que vira Éster pela primeira vez, nunca mais pôde esquecê-la.
Personificava a jovem o que ele.
Raul reputava como seu mais alto ideal para o matrimónio feliz.

Em sua presença, sentia-se o mais ditoso dos homens.
Seu olhar alimentava-lhe o coração, suas ideias constituíam a continuidade dos seus próprios pensamentos.

Como, porém, fazer-lhe sentir o afecto imenso?
Noé, o bom companheiro do passado, tornara-se-lhe o empecilho que precisava remover.

Éster seria incapaz de traição ao compromisso assumido.
Noé mostrava-se infinitamente bondoso e estimável para provocar um rompimento.

Foi então que lhe nasceu no cérebro a tenebrosa ideia de um crime.
Eliminaria o rival.
Não cederia sua felicidade a ninguém.

O colega deveria morrer.
Mas como efectuar o plano sem complicações com a Justiça?

Enceguecido pela paixão violenta, passou a estudar minuciosamente a realização de seus criminosos propósitos.
E encontrou uma fórmula subtil para a eliminação do companheiro dedicado e fiel.

Ele, Raul, passou a usar conhecido e terrível veneno em pequeninas doses, aumentando-as vagarosamente até habituar o organismo com quantidades que para outrem seriam fulminantes.

Atingido o padrão de resistência, convidou o companheiro para um jantar e propinou-lhe o veneno odioso em vinho agradável que ele próprio bebeu, sem perigo algum.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 18, 2012 10:27 pm

Noé, porém, desaparecera em poucas horas, passando por suicida à apreciação geral.

Guardou ele, para sempre, o segredo terrível, e, depois de cortejar gentilmente a noiva chorosa, conseguiu impor-lhe simpatia, que culminou em casamento.

Atingira a realização do que mais desejava:
Éster pertencia-lhe na qualidade de mulher;
vieram os filhinhos enfeitar-lhe o viver, mas...

A sua consciência fora ferida sem remissão.
Nas mais íntimas cenas do lar, via Noé, através da tela mental, exprobrando-lhe o procedimento.
Os beijos da esposa e as carícias dos filhos não conseguiam afastar a visão implacável.

Ao invés de decrescerem, seus remorsos aumentavam sempre.
No trabalho, na leitura, na mesa de refeições, na alcova conjugal, permanecia a vítima a contemplá-lo em silêncio.

A certa altura do destino, quis entregar-se à justiça do mundo, confessando o crime hediondo; entretanto, não se sentia com o direito de perturbar o coração da companheira, nem deveria encher de lodo o futuro dos filhinhos.

A sociedade respeitava-o, acatando-lhe o ambiente doméstico.
Companheiros distintos de trabalho prezavam-lhe a companhia.
Como esclarecer a verdade em semelhantes contingências?

Não obstante amar ternamente a esposa e os filhos, achava-se esgotado, ao fim de prolongada resistência espiritual.

Receava a perturbação, o hospício, o aniquilamento, fugindo à confissão do crime que, cada dia, se tornava mais iminente.

A essa altura, a ideia do suicídio tomou vulto em seu cérebro atormentado.
Não resistiu por mais tempo.

Esconderia o último ato do seu drama silencioso, como ocultara a tragédia primeira.
Comprou um revólver e esperou.

Certo dia, após o trabalho diário, absteve-se do caminho de volta ao lar e empunhou a arma contra o próprio coração, agindo cautelosamente para evitar as marcas digitais.

Atingido o alvo, num supremo esforço desfizera-se do revólver homicida e não teve a atenção voltada senão para o intraduzível padecimento do tórax estrangulado...

Dificilmente, como se os seus olhos permanecessem nublados, sentiu que algumas pessoas tentavam socorrê-lo e, em seguida, verdadeira multidão de criaturas, que ele não pôde ver, arrebatava-o do local de dor...

Desde então, um enfraquecimento geral tomara-o por completo.
Sentia-se presa de um sono pesado e angustioso, cheio de pesadelos cruéis.

E por fim, somente recuperara a consciência de si mesmo, ali naquele quarto modesto, depois de Alexandre restaurar-lhe as energias em prostração...

Terminando a confissão longa e amargosa.
Raul tinha o peito opresso e lágrimas pesadas a lhe lavarem o rosto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 18, 2012 10:27 pm

Comovidíssimo, não sabia, por minha vez, o que externar.
Aquele drama oculto daria para impressionar corações de pedra.

Alexandre, contudo, demonstrando a grandeza de suas elevadas experiências, mantinha respeitável serenidade, e falou:
- Nos maiores abismos, Raul, há sempre lugar para a esperança.
Não se deixe dominar pela ideia de impossibilidade.

Pense na renovação de sua oportunidade, medite na grandeza de Deus.
Transforme o remorso em propósito de regeneração.

E após ligeira pausa, enquanto o infeliz se debulhava em pranto, o mentor prosseguiu:
- Em verdade, seus males de agora não podem desaparecer milagrosamente.

Todos faremos a colheita compatível com a semeadura, mas também nós, que hoje aprendemos alguma coisa, já passamos, vezes inúmeras, pela lição de recomeçar.
Tenha calma e coragem.

Em seguida, Alexandre passou a notificá-lo, relativamente à causa de nosso interesse, explicando-lhe que o trabalho de auxílio fraterno fora iniciado através de orações da esposa carinhosa e desolada.

Deu-lhe notícias dela, dos filhinhos e dos velhos tios;
falou-lhe das saudades de Éster e de sua ansiedade para vê-lo, ainda que fosse em ligeiro minuto, em ocasião de sono do veículo físico.

Em ouvindo as derradeiras informações, o suicida pareceu reanimar-se vivamente e observou:
- Ai! Não sou digno! Minha miséria acentuar-lhe-ia as dores!...
O orientador, porém, afagando-lhe paternalmente a fronte, prometeu intervir e solucionar o problema.

Retiramo-nos, de novo, e, percebendo-me a profunda admiração, Alexandre ponderou:
- No pequeno drama em observação, meu amigo, você pode calcular a extensão e complexidade de nossas tarefas nos serviços «intercessórios».

Os nossos companheiros encarnados pedem-nos, por vezes, determinados trabalhos, muito distantes do conhecimento das verdadeiras situações.

Para a sociedade humana, Raul é uma vítima de sicários ocultos, quando é apenas vítima de si mesmo.
Para a companheira é o marido ideal, quando foi criminoso e suicida.

Compreendi as dificuldades morais em que nos achávamos para atender a petição que nos conduzira ao semelhante serviço.

As palavras do instrutor não evidenciavam outra coisa.
Entendendo assim, ousei perguntar:
- Acredita esteja a irmã Éster preparada para o realismo de nossas conclusões?

Alexandre abanou a cabeça, negativamente, e redarguiu:
- Somente são dignos da verdade plena os que se encontrem plenamente libertados das paixões.
Éster é profundamente bondosa, mas ainda não alcançou o próprio domínio.

Não possui as emoções, antes é possuída por elas.
Em vista disso, de modo algum lhe poderíamos dar o conhecimento completo do assunto.
Está preparada para a consolação, não para a verdade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 18, 2012 10:27 pm

As afirmativas do instrutor chocaram-me de certo modo. De que maneira omitir os pormenores da tragédia?
Não seria faltar à realidade?
Porque processo confortar a esposa saudosa, ocultando-lhe o sentido verdadeiro dos acontecimentos?

Alexandre, porém, compreendeu-me a indagação e observou:
- Com que direito perturbaríamos o coração de uma pobre viúva na Crosta, a pretexto de sermos verdadeiros?

Por que motivo tisnar a esperança tranquila de três crianças adoráveis, envenenando-lhes, talvez, o destino, tão-só para nos exibirmos como campeões da realidade?

Haverá mais alegria em mostrar a sombra do crime, que em descobrir a fonte do conforto?
André, meu irmão, a vida pede muito discernimento!
Cada palavra tem sua ocasião, como cada revelação o seu tempo!

Não podemos compreender um serviço de socorro com o esmagamento do suplicante.
A oração de Éster não lhe poderia ser portadora de desalento.
Por isso mesmo, nem todos recebem, quando querem, a delegação de Mais Alto para os serviços de assistência.

Registei a observação.

Nesse dia, Alexandre dirigiu-se em minha companhia às autoridades do Auxílio, pedindo a colaboração de uma das irmãs que funcionavam nas Turmas de Socorro, para concurso mais eficiente ao coração de Éster.

Foi destacada Romualda, criatura dedicada e bondosa, que desceu para a Crosta, junto de nós, recebendo, atenciosamente, as recomendações do prestimoso amigo.
Alexandre não se alongou em muitas instruções.

Romualda deveria preparar a viúva, espiritualmente, para visitar, na noite próxima, o esposo desencarnado e, em seguida, demorar-se junto dela, duas semanas, colaborando no reerguimento de suas energias psíquicas e cooperando para que se lhe reorganizasse a vida económica, através de colocação honesta e digna.

Era de ver-se o carinho que o delicado instrutor dedicou a todas as providências em curso.

Quase no momento aprazado para o reencontro dos cônjuges, comparecemos ao hospital volante de socorro espiritual, onde o instrutor cuidou pessoalmente de todas as medidas.

Recomendou a Raul o melhor ânimo, insistindo para que não pronunciasse a menor expressão de queixa e para que se abstivesse de qualquer gesto que pudesse traduzir impaciência ou aflição.

Em seguida, mandou velar a chaga aberta e sanguinolenta, muito visível na região dilacerada do organismo perispiritual, para que a esposa não recebesse qualquer impressão de sofrimento.

O próprio Raul, admirado pela lição de boas maneiras, atendia, satisfeito e reanimado, a todas as instruções.
Daí a minutos, Romualda entrou em companhia de Éster, cujo olhar deixava entrever angústia e expectação.

Alexandre tomou-a pelo braço e mostrou-lhe o companheiro estendido no leito alvo.
- Raul! Raul! - gritou a viúva desolada, provisoriamente liberta do corpo carnal, dilacerando-me o coração pelo doloroso tom de voz.

A comoção dela era extrema. Quis prosseguir e não pôde.
Dobraram-se-lhe os joelhos e encontrou-se, genuflexa, junto ao leito do esposo, soluçando.
Reparei que os olhos dele permaneciam marejados de pranto que não chegava a cair.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 19, 2012 10:34 pm

Alexandre fixava-o, com firmeza, dando-lhe a entender a necessidade de coragem para o angustioso testemunho.

Como a criança interessada em conhecer as recomendações paternas, o suicida acompanhava os menores gestos do nosso generoso orientador.

E porque Alexandre lhe fizera ligeiro sinal, Raul tomou a destra da companheira em lágrimas e falou:
- Não chores mais, Éster! Tem confiança em Deus!
Vela pelos nossos filhinhos e ajuda-me com a tua fé!

Vou indo muito bem... Não há razão para que nos lamentemos!
Querida, a morte não é o fim.
Aceita a vontade do Pai, como estou procurando aceitar...

Nossa separação é temporária...
Nunca te esquecerei!
Estarás em meu coração, onde eu estiver!

Também estou saudoso de tua companhia, de tua dedicação, mas o Altíssimo nos ensinará a transformar saudades em esperanças!

As palavras do suicida, bem como a doce inflexão de sua voz, surpreendiam-me as observações.
Raul demonstrava um potencial de delicadeza e finura psicológica, que até aí não revelara a meus olhos.

Foi então que, aguçando a percepção visual, notei que fios tenuíssimos de luz ligavam a fronte de Alexandre ao cérebro dele e compreendi que o instrutor lhe ministrava vigoroso influxo magnético, amparando-o na difícil situação.

Ouvindo-lhe as expressões consoladoras, a viúva pareceu reanimar-se, exclamando, lacrimosa:
- Ó Raul, eu sei que agora estamos separados pelos abismos da sepultura!...
Sei que devo esperar a decisão suprema para unir-me contigo para sempre...

Ouve! Auxilia-me na Terra, na viuvez inesperada e dolorosa!
Levanta-te e vem para a nossa casa, dar-me esperança ao espírito abatido!
Defende-nos ainda contra os maus...

Não me deixes sozinha com os nossos filhinhos, que tanto precisam de ti...
Pede a Deus essa graça e vem ajudar-nos até ao fim!...

Embora continuasse estirado no leito, o interpelado afagou-lhe carinhosamente os cabelos e respondeu:
- Tem coragem e fé! Lembra-te, Éster, de que existem padecimentos maiores que os nossos e conforma-te...

Vou fortalecer-me e trabalharei ainda por nós...
Assim como me esperas a assistência, esperar-te-ei a confiança.
O Senhor não nos confia problemas dos quais não sejamos dignos!

Volta para nossa casa e alegra-te!
Não tenhas medo da necessidade; nunca nos faltará a bênção do pão!

Procura a alegria do trabalho honesto e semeia o bem através de todas as oportunidades que o mundo te ofereça!
A prática do bem dá saúde ao corpo e alegria ao espírito!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 19, 2012 10:34 pm

E Deus, que é bom e justo, abençoará nossos filhinhos para que eles sejam felizes ao teu lado... Não te demores mais!

Volta confiante! Guarda a certeza de que eu estou vivo e de que a morte do corpo é somente a necessária transformação!...

Compreendendo que a oportunidade do reencontro estava a esgotar-se, revelou a ansiosa esposa extrema curiosidade e aflição, fitando o companheiro através das lágrimas, e perguntou:
- Raul, antes que me vá, rize-me francamente...
Que aconteceu? Quem te roubou a vida?

Notei que o interpelado mostrou no olhar terrível angústia, ante a indagação inesperada.

Quis, talvez, confessar a verdade, fazer luz em torno de suas experiências extintas, mas o socorro magnético de Alexandre não se fez esperar.

Jacto de intensa luminosidade partiu da mão do orientador, que, a essa altura da conversação, mantinha sobre a fronte do suicida a destra protectora.

Transformou-se-lhe a expressão fisionómica, restabelecendo-se-lhe a serenidade e a coragem.

Novamente calmo, Raul falou à companheira:
- Éster, os processos da Justiça Divina não se encontram ao dispor de nossa apreciação...

Guarda contigo a certeza de que estamos sendo instruídos todos os dias e em todos os acontecimentos...
Aprende a procurar, antes de tudo... A vontade de Deus...

A pobre viúva desejou prolongar a palestra; adivinhava-se-lhe, através dos olhos aflitos, o intenso propósito de continuar bebendo as sublimes consolações do momento, mas Alexandre tomou-lhe o braço e recomendou-lhe a necessidade de despedir-se.

A esposa chorosa não relutou.
Concentrando toda a sua capacidade afectiva nas palavras, disse adeus ao suicida e beijou-lhe as mãos com infinito carinho.

lgo distante da organização hospitalar de emergência, confiou-a o instrutor aos cuidados de Romualda e regressou em minha companhia.
Não conseguia ocultar minha enorme admiração por semelhante serviço de assistência.

Alexandre percebeu-me o estado d’alma e falou comovidamente:
- Segundo observa, o trabalho de socorro pede muito esforço e devotamento fraterno.

Não podemos esquecer que Raul e Éster são dois enfermos espirituais e, nessa condição, requer muita compreensão de nossa parte.

Felizmente, a viúva regressa cheio de novo ânimo e o nosso amigo, sentindo a extensão dos cuidados de que está sendo objecto, e notando por si mesmo quanto pode auxiliar a companheira encarnada, dar-se-á pressa em criar novas expressões de estímulo e energia no próprio coração.

Impressionado, contudo, em vista do dilaceramento havido em seu organismo espiritual, indaguei:
- E a região ferida? Raul experimentará semelhantes padecimentos até quando?

- Talvez por muitos anos - respondeu o instrutor, em tom grave.

Isso, porém, não o impedirá de trabalhar intensamente no campo da consciência, esforçando-se pela reaproximação da bendita oportunidade regeneradora.

Outros problemas afloravam-me à ideia.
No entanto, o instrutor precisava ausentar-se, em demanda de incumbências difíceis, nas quais não poderia eu acompanhá-lo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 19, 2012 10:34 pm

Pedi-lhe permissão para seguir, de perto, o trabalho de assistência levado a efeito por Romualda, recebendo-lhe a generosa aprovação.

Desejava saber até que ponto se confortara a viúva aflita e observar-lhe o proveito daquele reencontro, que traduzia elevada concessão.

No dia seguinte, voltei ao lar modesto, justamente por ocasião do almoço familiar. Romualda andava activa.

O ambiente interno adquirira novo aspecto.
As entidades viciadas não haviam desaparecido totalmente, mas o seu número fora consideravelmente reduzido.

Amparando a sua protegida, a irmã auxiliadora recebeu-me com amabilidade.
Notificou-me que a viúva amanhecera muito melhor e que ela, Romualda, fizera o possível por manter-lhe a recordação plena do sonho.

Como era natural, a pobrezinha não poderia lembrar-se de todas as minúcias;
entretanto, fixara as impressões culminantes, susceptíveis de acordar-lhe à divina esperança e restaurar-lhe o bom ânimo.

Recomendou-me verificar, por mim mesmo, o efeito maravilhoso da providência.
De facto, o semblante da viúva ganhara nova expressão.

De olhos límpidos e brilhantes, narrava aos tios e aos filhinhos o sublime sonho da noite.
Todos a escutavam sob forte interesse, mormente as crianças, que pareciam participar de seu júbilo interior.

Éster terminara a narrativa, emocionada.
Observei, então, que a velha tia esboçava um gesto de incredulidade, perguntando-lhe:
- E você acredita ter visitado Raul no outro mundo?

- Como não? - Redarguiu a viúva, sem pestanejar - tenho ainda a impressão de suas mãos sobre as minhas e sei que Deus me concedeu semelhante graça para que eu readquira minhas forças para o trabalho.

Despertei hoje profundamente reanimada e feliz!
Enfrentarei o caminho com novas esperanças! Esforçar-me-ei e vencerei.

- Ó mamãe, como nos consolam as suas palavras! - murmurou um dos pequenos, de olhos muito vivos - como desejaria estar com a senhora para ouvir o papai nesse sonho maravilhoso!...

Nesse instante, o velhinho, que se alimentava em silêncio, ponderou, na qualidade de excelente representante da descrença humana:
- E. interessante notar que tendo Raul consolado tanto o seu coração de mulher, nada tenha elucidado sobre o crime que o atirou no sepulcro.

Éster, que sentiu a ironia da observação, influenciada pela benfeitora que ali se mantinha, respondeu prontamente:
- Muitas vezes, meu tio, não sabemos ser gratos às bênçãos divinas.
Recordo-me desta verdade, ao lhe ouvir semelhante raciocínio.

Envergonho-me, quando me lembro haver feito interrogação desta natureza ao pobre Raul, abatido e pálido no leito.

Basta-me a felicidade de tê-lo visto e ouvido num mundo que eu não posso compreender agora.
Tenho a certeza de que o visitei em algum lugar.

Que nos interessa descobrir criminosos, quando não podemos levantar-lhe o corpo físico?
Em nossa preocupação de punir culpados, sem dar conta de nossas próprias culpas, iremos ao absurdo de desejar ser mais justos que o próprio Deus?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 19, 2012 10:35 pm

Calou-se o tio, pensativo, e observei que as crianças sentiam imensa alegria pela resposta maternal.
O coração de Éster penetrara a zona lúcida e sublime da fé viva, absorvendo paz, alegria e esperança, a caminho de uma vida nova.

Ao me despedir, felicitei Romualda pelo seu nobre trabalho.
A generosa servidora pôs-me a par de seu projecto de serviço.

Permaneceria mais estreitamente ao lado da viúva, insuflando-lhe coragem e bom ânimo e na semana próxima, contava com a possibilidade de cooperar no sentido de organizar-lhe serviço bem remunerado.

Admirei-me, ouvindo o programa, principalmente no que tocava ao auxílio material;
entretanto, Romualda aduziu muito calma:
- Quando os companheiros terrestres se fazem merecedores, podemos colaborar em benefício deles, com todos os recursos ao nosso alcance, desde que a nossa cooperação não lhes tolha a liberdade de consciência.

Roguei-lhe, então, o obséquio de admitir-me o concurso, no dia aprazado para os serviços finais.
Romualda aquiesceu bondosamente, e, passada uma semana, fui por ela avisado, quanto à medida de conclusão dos trabalhos de assistência.

Voltei ao lar da viúva, em companhia da digna servidora espiritual, que me recomendou:
- Faça o favor de assistir nossa amiga, enquanto vou buscar a pessoa indicada para auxiliá-la.

Já movimentei todas as providências cabíveis na situação e não temos tempo a perder.
Mantive-me ali, em profunda curiosidade, e decorridas três horas, aproximadamente, alguém bateu à porta, chamando-me a atenção.

Seguida de Romualda, uma dama distinta vinha ao encontro de Éster, oferecendo-lhe trabalho honesto em sua oficina de costura.

A viúva chorou de emoção e de alegria, e, enquanto combinavam determinadas medidas de serviço, num quadro confortador de júbilo geral, a irmã auxiliadora falou-me, contente:
- Agora, irmão André, podemos voltar tranquilamente. O serviço que nos foi confiado está concluído, graças ao Senhor.
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Série André Luiz - MISSIONÁRIOS DA LUZ - Página 4 Empty Re: Série André Luiz - MISSIONÁRIOS DA LUZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 19, 2012 10:35 pm

12 - Preparação de experiências

Dispúnhamo-nos, Alexandre e eu, a regressar à nossa sede espiritual de trabalho, quando o orientador foi procurado por um companheiro de elevada expressão hierárquica, que me saudou igualmente, demonstrando grande apreço e carinho.

- Serei breve - disse ele ao meu instrutor, que o atendia, solícito -, o tempo não me permite longas conversações.
E, modificando a expressão fisionómica, acentuou:
- Lembra-se de Segismundo, nosso velho amigo?

- Como não? -Redarguiu o interpelado ambos lhe devemos significativos favores de outro tempo.
- Pois bem - tornou o visitante -.
Segismundo necessita colaboração urgente.

Reconheço que você não é especialista em trabalhos referentes à reencarnação.
No entanto, sinto-me compelido a recorrer ao concurso dos amigos.

O novo companheiro fez pequeno intervalo e continuou:
- Não se esqueceu você de que o nosso amigo, não obstante os rasgos de generosidade, assumiu compromissos muito sérios no passado?

- Sim, sim – respondeu o orientador –, o drama dele vive ainda em nossa memória.
-Segismundo, presentemente – prosseguiu o outro –, voltará ao rio da vida física.
A situação assim o exige e não devemos perder a oportunidade de encaminhá-lo ao necessário resgate.

Segundo está informado, Raquel, a pobre criatura que ele desviou, em nossa época de laços afectivos mais fortes, e Adelino, o infeliz marido que o nosso irmão assassinou em lamentável competição armada, já se encontram na Crosta desde muito e, há quatro anos, religaram-se nos elos do matrimónio.

Tudo está preparado a fim de que Segismundo regresse à companhia da vítima e do inimigo do pretérito, no sentido de santificar o coração.

Será ele, de conformidade com a permissão de nossos Maiores, o segundo filhinho do casal.
Todavia, estamos lutando com grandes dificuldades para localizá-lo.

Infelizmente, Adelino, que lhe será o futuro pai transitório, repele-o com calor, tão logo surgem as horas de sono físico, trabalhando contra os nossos melhores propósitos de harmonização.

Em vista disso, o trabalho preparatório da nova experiência tem sido muito moroso e desagradável.
- E Segismundo? - indagou o mentor, preocupado - qual a sua atitude dominante? Herculano, o mensageiro que nos visitava, informou com fraternal interesse:

- A princípio, animava-se da melhor esperança.
Agora, porém, que o rival antigo lhe oferece pensamentos de ódio e ciúme, olvidando compromissos assumidos em nossa esfera de acção, sente-se novamente desventurado e sem forças para reparar o mal.

De outras vezes, enche-se-lhe a tristeza de profunda revolta e, nesse estado negativo, subtrai-se à nossa cooperação eficiente.

O visitante fez ligeira pausa e acrescentou, com inflexão de rogativa:
- Não poderá você ajudar-nos nesse difícil processo de reencarnação?
Lembro-me de que sua amizade dividia-se entre ambos.

Quem sabe se a sua intervenção afectuosa conseguiria convencer Adelino?
- Conte comigo - redarguiu o orientador, atenciosamente -, farei quanto estiver em minhas possibilidades para que não se perca o ensejo em vista.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 19, 2012 10:35 pm

Ante o sorriso de satisfação do outro, Alexandre concluiu:
- Na próxima semana, estarei a seu lado para conversar espiritualmente com Adelino e solucionar o problema da reaproximação.

Estejamos confiantes no auxílio divino.
Herculano agradeceu e despediu-se comovidamente.

A sós com o mentor devotado e amigo, comecei a meditar na possibilidade de contribuir igualmente no caso que se me deparava.

Nunca tivera oportunidade de acompanhar, de perto, um processo de reencarnação, estudando os ascendentes espirituais nas questões da embriologia.

Não seria interessante, para mim, utilizar a experiência?
Nesse propósito, dirigi-me ao instrutor, sem falar, porém, da minha pretensão em sentido directo:
- Notável para mim a solicitação de hoje - exclamei. - Longe estava de pensar, no mundo, na multiplicidade de tarefas atribuídas aos benfeitores e missionários desencarnados.

A extensão do serviço em nosso campo de acção assombraria a qualquer mortal.
- Sem dúvida - respondeu o mentor, atencioso -, os trabalhos se desdobram em todas as direcções.

O pedido de Herculano vem focalizar um dos mais importantes problemas da felicidade humana:
o da aproximação fraternal, do perdão recíproco, da semeadura do amor, através da lei reencarnacionista.

Alexandre meditou alguns momentos e continuou:
- O caso é típico. O drama de Segismundo é demasiadamente complexo para ser comentado em poucas palavras.

Basta, todavia, recordar que ele, Adelino e Raquel são os protagonistas culminantes de dolorosa tragédia, ocorrida ao tempo de minha última peregrinação pela Crosta.

Em seguida a uma paixão desvairada, Adelino foi vítima de homicídio; Segismundo, do crime; e Raquel, do prostíbulo.
Desencarnaram, cada um por sua vez, sob intensa vibração de ódio e desesperação, padecendo vários anos, em zonas inferiores.

Mais tarde, por intercessão de amigos redimidos, os antigos cônjuges obtiveram a volta ao corpo físico, a fim de santificarem os laços sentimentais e se reaproximarem dos antigos adversários.

Mas, como acontece quase sempre, os heróis na promessa fraquejam na realização, porque se apegam muito mais aos próprios desejos que à compreensão da Vontade Divina.

De posse dos bens da vida física, nega-se Adelino a perdoar, recapitulando erradamente as lições do passado.
Antes mesmo da reencarnação do antigo transviado, já se manifesta contrário a qualquer auxílio.

Sempre o velho círculo vicioso - quando fora da oportunidade bendita de trabalho terrestre e vendo a extensão das próprias necessidades, desvela-se o companheiro em prometer fidelidade e realização, mas, logo que se apossa do tesouro do corpo físico, volta ao endurecimento espiritual e ao menosprezo das leis de Deus.

Calou-se o mentor, por alguns instantes, acentuando em seguida:
- Buscarei, porém, chamá-los à recordação dos compromissos.

Neste ínterim, entendendo que a oportunidade era preciosa, solicitei:
- Ser-me-ia possível acompanhá-lo? Creio que aproveitaria muito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 19, 2012 10:36 pm

Poderia talvez adquirir valores significativos para o serviço do próximo e para meu benefício pessoal.
Ignoro até quando me será permitido estudar em sua companhia e estimarei o aproveitamento integral de semelhante oportunidade.

Alexandre sorriu, compassivo, e falou:
- Não tenho objecções. Entretanto, não creio deva seguir os trabalhos sem algum conhecimento prévio do assunto.

Em toda edificação verdadeiramente útil, não podemos prescindir da base.

Temos bons amigos no Planeamento de Reencarnações, serviço muito importante em nossa colónia espiritual, directamente relacionado com as actividades do Esclarecimento.

Nessa instituição durante alguns dias, você terá uma ideia aproximada de nossa tarefa, portas adentro de semelhantes trabalhos.

Grande percentagem de reencarnações na Crosta se processa em moldes padronizados para todos, no campo de manifestações puramente evolutivas.

Mas outra percentagem não obedece ao mesmo programa.

Elevando-se a alma em cultura e conhecimentos, e, consequentemente, em responsabilidade, o processo reencarnacionista individual é mais complexo, fugindo à expressão geral, como é lógico.

Em vista disso, as colónias espirituais mais elevadas mantêm serviços especiais para a reencarnação de trabalhadores e missionários.

As explicações eram sedutoras e relevantes e, compreendendo a importância dos esclarecimentos para meu pobre espírito, Alexandre continuou:
- Quando me refiro a trabalhadores, falo dos companheiros não completamente bons e redimidos, mas daqueles que apresentam maior soma de qualidades superiores, a caminho da vitória plena sobre as condições e manifestações grosseiras da vida.

Em geral, como acontece a nós outros, são entidades em débito, mas com valores de boa Vontade, perseverança e sinceridade, que lhes outorgam o direito de influir sobre os factores de sua reencarnação, escapando, de certo modo, ao padrão geral.

Claro que nem sempre tais alterações se verificam em condições agradáveis para a experiência futura.
Os serviços de rectificação representam tarefas enormes.

E desejando imprimir fortemente em meu espírito a noção da responsabilidade, o instrutor prosseguiu, tornando mais grave a inflexão da voz:
- O problema da queda é também uma questão de aprendizado e o mal indica posição de desequilíbrio, exigindo restauração e corrigenda.

A evolução confere-nos poder, mas gastamos muito tempo, aprendendo a utilizar esse poder harmonicamente.

A racionalidade oferece campo seguro aos nossos conhecimentos;
entretanto, André, quase todos nós, trabalhadores da Terra, nos demoramos séculos no serviço de iluminação íntima, porque não basta adquirir ideias e possibilidades, é preciso ser responsável, e nem é justo tenhamos tão-somente a informação do raciocínio, mas também a luz do amor.

- Daí as lutas sucessivas em continuadas reencarnações da alma! - exclamei, vivamente impressionado.
- Sim - continuou meu amável interlocutor -, temos necessidade da luta que corrige, renova, restaura e aperfeiçoa.

A reencarnação é o meio, a educação divina é o fim.
Por isso mesmo, a par de milhões de semelhantes nossos que evolvem, existem milhões que se reeducam em determinados sectores do sentimento, porquanto, se já possuem certos valores da vida, faltam-lhes outros não menos importantes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 19, 2012 10:36 pm

Identificando-me a dificuldade para compreender-lhe o ensinamento de maneira integral, meu orientador voltou a dizer:
- Embora na condição de médico do mundo, acredito que você não tenha sido completamente estranho aos estudos evangélicos.

- Sim, sim - retruquei -, tenho as minhas recordações nesse sentido.

- Pois bem, o próprio Jesus nos deixou material de pensamento para o assunto em exame, quando nos asseverou que se a nossa mão ou os nossos olhos fossem motivos de escândalo deveriam ser cortados ao penetrarmos no templo da vida.

Compete-nos transferir a imagem literal para a interpretação simples do espírito.

Se já falimos muitas vezes em experiências da autoridade, da riqueza, da beleza física, da inteligência, não seria lógico receber idêntica oportunidade nos trabalhos rectificadores.

Compreendera claramente onde Alexandre pretendia chegar com os seus esclarecimentos amigos.

- É para a regulamentação de semelhantes serviços que funciona em nossa colónia espiritual, por exemplo, o Planeamento de Reencarnações; onde você terá ocasião de recolher ensinamentos preciosos.

E, atendendo-me às necessidades como pai afectuoso, apresentou-me o instrutor, no dia imediato, à imponente instituição.

Constituía-se o movimentado centro de serviço de vários prédios e numerosas instalações.
Árvores acolhedoras enfileiravam-se através de extensos jardins, imprimindo encantador aspecto à paisagem.

Reconheci logo que o instituto se caracterizava por grande movimento.
Entidades insuladas ou em pequenos grupos iam e vinham, estampando atencioso interesse na expressão fisionómica.

Pareciam sumamente despreocupadas de nossa presença ali, porque, quando não passavam sozinhas, ao nosso lado, engolfadas em profundos pensamentos, iam em grupos afectuosos, alimentando discretas conversações, multo graves e absorventes, ao que me parecia.

Muitos desses irmãos, que passavam junto de nós, empunhavam reduzidos rolos de substância semelhante ao pergaminho terrestre, relativamente aos quais não possuía eu, até então, a mais leve notícia.

Alexandre, porém, como sempre, veio em socorro de minha estranheza, explicando, bondosamente:
- As entidades sob nossos olhos são trabalhadores de nossa esfera, interessados em reencarnações próximas.

Nem todos estão directamente ligados ao semelhante propósito, porque grande parte está em trabalho de intercessão, obtendo favores dessa natureza para amigos íntimos.

Os rolos brancos que conduzem são pequenos mapas de formas orgânicas, elaborados por orientadores de nosso plano, especializados em conhecimentos biológicos da existência terrena.

Conforme o grau de adiantamento do futuro reencarnante e de acordo com o serviço que lhe é designado no corpo carnal, é necessário estabelecer planos adequados aos fins essenciais.

- E a lei da hereditariedade fisiológica? - perguntei.

- Funciona com inalienável domínio sobre todos os seres em evolução, mas sofre, naturalmente, a influência de todos aqueles que alcançam qualidades superiores ao ambiente geral.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 19, 2012 10:36 pm

Além do mais, quando o interessado em experiências novas no plano da Crosta é merecedor de serviços «intercessórios», as forças mais elevadas podem imprimir certas modificações à matéria, desde as actividades embriológicas, determinando alterações favoráveis ao trabalho de redenção.

A essa altura da palestra esclarecedora, Alexandre convidou-me a transpor o limiar.

Achamo-nos, em breve, num dos gabinetes extensos do edifício principal, aonde um dos numerosos amigos do orientador veio atender-nos atenciosamente.

Apresentou-me Alexandre ao Assistente Josino, que me recebeu com extrema gentileza e fidalguia de trato.

Esclareceu o instrutor o objectivo de nossa visita.

Desejava me fosse conferida a possibilidade de visitar a instituição de planeamento, quantas vezes me fosse possível durante a semana em curso, em vista da minha necessidade de adquirir noções seguras, referentemente ao trabalho de auxílio nas actividades reencarnacionistas.

O Assistente prometeu a melhor boa vontade.

Conduzir-me-ia a colegas dele, para que me não faltassem minúcias de conhecimento, exporia suas próprias experiências à minha observação, para que eu retirasse delas o máximo proveito e, por fim, quanto estivesse ao seu alcance, guiaria meus impulsos no aprendizado.

Felicitavam-me o íntimo as melhores e mais confortadoras impressões, não só pela recepção carinhosa, senão também pelo ambiente educativo.

Não longe de nós, em luminosos pedestais, descansavam duas maravilhas da estatuária, a figuração delicada de um corpo masculino e outro modelo feminino, singularmente belo pela perfeição anatómica, não somente da forma em si, mas também de todos os órgãos e as mais diversas glândulas.

Através de disposições eléctricas, ambas as Figurações palpitavam de vida e calor, exibindo eflúvios luminosos, quais os homens e mulheres mais evolvidos na esfera carnal.
Identificando-me a admiração, Alexandre sorriu e disse ao Assistente Josino, com o propósito de fazer-se ouvido por mim:
- Talvez André não conheça bastante o nosso respeito e gratidão ao aparelho físico terrestre.

- Em verdade - ajuntei - ignorava, até agora, que o corpo carnal fosse, entre nós, objecto de tamanhos cuidados.
Não sabia que a nossa colónia contasse com instituição desse teor.

- Como não, meu amigo? - interferiu o Assistente, com inflexão de carinho - o corpo físico na Crosta Planetária representa uma bênção de Nosso Eterno Pai.

Constitui primorosa obra da Sabedoria Divina, em cujo aperfeiçoamento incessante temos nós a felicidade de colaborar.

Quanto devemos à máquina humana pelos seus milénios de serviço a favor de nossa elevação na vida eterna?
Nunca relacionaremos a extensão de semelhante débito.

E, fixando os modelos que me provocavam assombro, acentuou:
- Todo o nosso zelo, no serviço de reencarnação, permanece muito aquém do quanto deveríamos realizar em benefício do aprimoramento da máquina orgânica.

Embora hesitante, ousei perguntar:
- Todos os núcleos de espiritualidade superior mantêm círculos de trabalho dessa natureza?

Foi Alexandre quem respondeu, com a delicadeza habitual:
- Em todas as colónias de expressão elevada, essas tarefas são desempenhadas com infinito carinho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 19, 2012 10:37 pm

O auxílio à reencarnação de companheiros nossos traduz o nosso reconhecimento ao aparelho físico que nos tem proporcionado tantos benefícios;
através do tempo.

Recordei, porém, que o meu pai terrestre (1), um dia, voltara à experiência carnal, procedendo das zonas francamente inferiores, e indaguei:
- E aqueles que regressam à Crosta, partindo das regiões mais baixas, terão o mesmo generoso auxílio?

Desejando imprimir à pergunta a mais viva sinceridade, acrescentei:
- Meu progenitor, na derradeira romagem terrestre, voltou, faz algum tempo, à esfera carnal em condições bem amargas...

Alexandre interrompeu-me o curso da frase, ponderando:
- Compreendemos.

Se for ele criatura de razão esclarecida, embora não iluminada, permanecia após a morte em estado de queda e não deve ter voltado à bendita oportunidade da escola física sem o trabalho «intercessório» e forte ajuda de corações bem-amados de nosso plano.

Nesse caso, terá recebido a cooperação de benfeitores, situados em posições mais altas, que lhe terão endossado as promessas no serviço regenerador.

Se ele foi, porém, criatura em esforço puramente evolutivo, circunstância essa na qual não teria regressado em condições amargosas, contou ele naturalmente com o abençoado concurso dos trabalhadores espirituais que velam, na Crosta, pela execução dos trabalhos reencarnacionistas, em processos naturais.

Em face dos esclarecimentos do instrutor, entendi as diferenças e tranquilizei o coração.

Fosse porque a palestra escalpelara melindroso assunto de família humana, fosse pelo propósito de me deixarem a sós com as minhas profundas reflexões naquele extenso gabinete de serviço, o orientador e o assistente entraram em silêncio, compelindo-me a rebuscar novos motivos de conversação para o meu aprendizado.

Passei então a observar detidamente os modelos masculino e feminino, não longe de meus olhos.

Muito gentil Josino pousou a destra, de leve, nos meus ombros, e falou-me:
- Aproxime-se das criações educativas. Você lucrará muito, observando de perto.

Não contive um gesto de agradecimento e afastei-me dos dois respeitáveis amigos, acercando-me das figurações ali expostas.

Detive-me na contemplação do molde masculino, que apresentava absoluta harmonia de linhas, qual arte helénica de sabor antigo.

O modelo, estruturado em substância luminosa, constituía, a meu parecer, a mais primorosa obra anatómica até então sob minha análise.

Semelhava-se aquela figura humana, imóvel, a qualquer coisa divinal.
Fixei-lhe as minuciosidades com espanto.
Nunca vira semelhante perfeição de minudências fisiológicas.

Toda a musculatura estava, ali, formada em fibras radiosas.
Desde o frontal ao ligamento anular do tarso, viam-se fios de luz simbolizando as regiões diversas da musculatura em geral.

Determinadas fibras, todavia, como as que se localizavam na zona orbicular das pálpebras, no triangular dos lábios, no grande peitoral, no pectineo, nas eminências tenar e hipotenar até o extensor dos dedos, eram mais brilhantes.

Do exame de superfície, passei a observações mais profundas, identificando as disposições maravilhosas das figuras representativas da circulação linfática e sanguínea.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 20, 2012 11:47 pm

Oh! Os órgãos estavam todos ali, vibrando em obediência a dispositivos eléctricos para demonstrações educativas.

Os vasos para o sangue venoso apresentavam-se em luz acinzentada, ao passo que as regiões do sangue arterial figuravam-se em cor encarnada.

Surpreendido, rendi silencioso preito de admiração à Sabedoria Divina, que nos concede o sublime aparelho físico terrestre para as nossas aquisições eternas.

Impressionava-me a composição perfeita dos vasos distribuídos em torno do tronco celíaco, à maneira de pequenos rios de luz, destacando-se em expressão a luminosidade das cavas superior e inferior, das jugulares externa e interna, das artérias e veias axilares, da veia porta, das artérias esplénica e mesentérica superior, da aorta descendente, dos vasos ilíacos e dos gânglios da virilha.

Cobrindo as maravilhas orgânicas, estava o sistema nervoso, semelhando-se a capa radiante estruturada em fios tenuíssimos de luz feérica.

A região do cérebro parecia uma lâmpada em azul suavíssimo, cuja luminosidade se ligava em sentido directo ao cerebelo, descendo em seguida pela medula espinhal até o plexo sagrado, onde o foco brilhante adquiria expressão mais intensa, para atenuar-se, depois, no grande ciático.

Transferi minhas observações para a forma feminina, igualmente radiosa, concentrando meu potencial analítico sobre o sistema endocrínico, disposto à maneira de constelação, entre as peças orgânicas.

Desde a epífise, situada entre os hemisférios cerebrais, até os núcleos procriadores, as glândulas pareciam formar belo sistema luminoso, semelhante a pequenos astros de vida, congregados em sentido vertical, qual antena rútila atraindo a luz procedente de Mais Alto.

Cada qual apresentava sua forma específica, suas expressões vibratórias, suas características particulares, diversificando-se, igualmente, a cor de cada uma, embora recebessem todas, a seu modo, a coloração da epífise, semelhante a pequenino sol azulado, mantendo em seu campo de atracção magnética todas as demais, desde a hipófise à região dos ovários, como o nosso astro de vida, garantindo a coesão e o movimento da sua grande família de planetas e asteróides.

Minha estupefacção não tinha limites.
É forçoso confessar, porém, que minha surpresa se distendia muito mais, ao fixar os eflúvios brilhantes que emanavam dos centros genitais, semelhando-se, em conjunto, a minúsculo santuário cheio de luz.

Como eu dirigisse ao meu instrutor um olhar de indagação, seus esclarecimentos não se fizeram esperar.

- Na Crosta - disse-me Alexandre, sorrindo, após reaproximar-se de mim -, em sentido geral ainda existe muita ignorância acerca da missão divina do sexo.

Para nós, porém, que desejamos valorizar as experiências, a paternidade e a maternidade terrestres são sagradas.

A faculdade criadora é também divindade do homem. O útero maternal significa, para nós outros, a porta bendita para a redenção; para grande número de pessoas na Esfera do Globo, a visão celestial é símbolo de repouso e alegria sem fim, enquanto, para muitos de nós, a visão terrestre significa trabalho edificante e salutar.

Não alcançaremos, porém, a terra prometida do serviço redentor, sem o concurso das forças criadoras associadas, do homem e da mulher.

Compreendi, com novo espírito, o carácter sublime das energias sexuais e recordei-me, compadecidamente, de todos os encarnados que ainda não conseguiram edificar o respeito e o entendimento, relativos aos sagrados órgãos procriadores.

Meu orientador, entretanto, como antena receptora de todas as minhas emissões mentais, advertiu-me, bondoso:
- Relegue ao esquecimento qualquer expressão das reminiscências menos construtivas.
Os que ultrajam o sexo, escrevendo, agindo ou falando, já são grandes infelizes por si mesmos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 20, 2012 11:47 pm

Guardei a lição e abençoei a nova experiência que começava.

Despediu-se Alexandre, deixando-me na grande instituição de planeamento, onde o Assistente Josino, ocupado nos encargos de seu ministério, me confiou aos cuidados de Manassés, um irmão dos serviços informativos da casa, que me acolheu prazerosamente, cercando-me de gentileza e carinho.

Senti imediatamente que o meu aprendizado ali se iniciava com imenso proveito.
Manassés era um livro volante.
Seus pareceres e informes traduziam valiosos ensinamentos.

Aproximando-nos dos pavilhões de desenho, onde numerosos cooperadores traçavam planos para reencarnações incomuns, foi o meu novo companheiro procurado por uma entidade simpática que lhe pedia informações.

Manassés apresentou-ma, optimista.
Tratava-se dum colega que, depois de quinze anos de trabalho nas actividades de auxílio, regressaria à esfera carnal para a liquidação de determinadas contas.

O recém-chegado parecia hesitante.
Via-se-lhe o receio, a indecisão.

- Não se deixe dominar pelas impressões negativas - dirigia-se Manassés a ele, infundindo-lhe bom ânimo.
- O problema do renascimento não é assim tão intrincado.
Naturalmente, exige coragem, boas disposições.

- Entretanto - exclamava o interlocutor, algo triste -, temo contrair novos débitos ao invés de pagar os velhos compromissos.

É tão penoso vencer na experiência carnal, em vista do esquecimento que sobrevém à encarnação...
- Mas seria muito mais difícil triunfar guardando a lembrança - redarguiu Manassés, incontinenti.

Prosseguindo, sorridente, acrescentou:
- Se tivéssemos grandes virtudes e belas realizações, não precisaríamos recapitular as lições já vividas na carne.

E se apenas possuímos chagas e desvios para rememorar, abençoemos o olvido que o Senhor nos concede em carácter temporário.

Esforçou-se o outro para esboçar um sorriso e objectou:
- Conheço-lhe o optimismo; quisera ser igualmente assim. Voltarei confiante no concurso fraterno de vocês.

E modificando o tom de voz, indagou:
- Pode informar se o meu modelo está pronto?

- Creio que poderá procurá-lo amanhã - tornou Manassés, bem disposto -;
já fui observar o gráfico inicial e dou-lhe parabéns por haver aceitado a sugestão
amorosa dos amigos bem orientados, sobre o defeito da perna.
Certamente, lutará você com grandes dificuldades nos princípios da nova luta, mas a resolução lhe fará grande bem.

- Sim - disse o outro, algo confortado -, preciso defender-me contra certas tentações de minha natureza inferior e a perna doente me auxiliará, ministrando-me boas preocupações.

Ser-me-á um antídoto à vaidade, uma sentinela contra a devastação do amor-próprio excessivo.
- Muito bem! - respondeu Manassés, francamente optimista.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 20, 2012 11:48 pm

- E pode informar-me ainda a média de tempo conferida à minha forma física futura?
- Setenta anos, no mínimo - redarguiu meu novo companheiro, contente.

O outro fixou uma expressão de reconhecimento, enquanto Manassés continuava:
- Pondere a graça recebida, Silvério, e, depois de tomar-lhe a posse no plano físico, não volte aqui antes dos setenta.

Trate de aproveitar a oportunidade.
Todos os seus amigos esperam que você volte, mais tarde, à nossa colónia, na gloriosa condição de um «completista».

O interpelado mostrou um raio de esperança nos olhos, agradeceu e despediu-se.
As últimas observações de Manassés acenderam-me curiosidade mais forte.

Não contive a indagação que me vagueava no pensamento e perguntei sem rebuços:
- Meu amigo, que significa a palavra «completista»?

Ele sorriu, complacente, e retrucou, bem-humorado:
- É o título que designa os raros irmãos que aproveitaram todas as possibilidades construtivas que o corpo terrestre lhes oferecia.

Em geral, quase todos nós, em regressando à esfera carnal, perdemos oportunidades muito importantes no desperdício das forças fisiológicas.

Perambulamos por lá, fazendo alguma coisa de útil para nós e para outrem, mas, por vezes, desprezamos cinquenta, sessenta, setenta por cento e, frequentemente, até mais, de nossas possibilidades.

Em muitas ocasiões, prevalece ainda, contra nós, a agravante de termos movimentado as energias sagradas da vida em actividades inferiores que degradam a inteligência e embrutecem o coração.

Aqueles, porém, que mobilizam a máquina física, à maneira do operário fidelíssimo, conquistam direitos muito expressivos em nossos planos.

O «completista», na qualidade de trabalhador leal e produtivo, pode escolher, à vontade, o corpo futuro, quando lhe apraz o regresso à Crosta em missões de amor e iluminação, ou recebe veículo enobrecido para o prosseguimento de suas tarefas, a caminho de círculos mais elevados de trabalho.

Semelhante notícia representava para mim valiosa revelação.
Nada mais legítimo que dotar o servidor fiel de recursos completos.

E lembrei-me dos desregramentos de toda a sorte a que se entregam as criaturas humanas, em todos os países, doutrinas e situações, complicando os caminhos evolutivos, criando laços escravizantes, enraizando-se no apego aos quadros transitórios da existência material, alimentando enganos e fantasias, destruindo o corpo e envenenando a alma.

Num transporte de justificada admiração, redargui:
- Recordando o cativeiro dos Espíritos encarnados no plano da sensação, consola-nos saber que há um prémio aos raríssimos homens que vivem na sublime arte do equilíbrio espiritual, mesmo na carne.

- Sim - disse Manassés, aprovando-me com o olhar -, por mais estranho que possa parecer, semelhantes excepções existem no mundo.

Passam, frequentemente, para cá, entre os anónimos da Crosta, sem fichas de propaganda terrestre, mas com imenso lastro de espiritualidade superior.

E dando-me a impressão de que desejava esclarecer-me, relativamente a ele mesmo, acrescentou:
- Há muitos anos me esforço para conseguir a condição dos «completistas»; no entanto, até agora continuo em fase de preparação...
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Série André Luiz - MISSIONÁRIOS DA LUZ - Página 4 Empty Re: Série André Luiz - MISSIONÁRIOS DA LUZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 20, 2012 11:48 pm

Compreendi que Manassés, tanto quanto eu, trazia regular bagagem de recordações menos felizes, com respeito ao uso que fizera do corpo terreno nas experiências passadas e procurei modificar a orientação da palestra:
- Sabe de algum «completista» que tenha regressado à Crosta? – interroguei.

- Sim.
- Naturalmente - continuei, curioso - terá escolhido um organismo irrepreensível.

Meu novo companheiro mostrou significativa expressão fisionómica e acentuou:
- Nenhum dos que tenho visto partir, embora os méritos de que se encontravam revestidos, escolheram formas irrepreensíveis, quanto às linhas exteriores.

Solicitaram providências em favor da existência sadia, preocupando-se com a resistência, equilíbrio, durabilidade e fortaleza do instrumento que os deveria servir, mas pediram medidas tendentes a lhes atenuarem o magnetismo pessoal, em carácter provisório, evitando-se-lhes apresentação física muito primorosa, ocultando, assim, a beleza de suas almas para a eficiente garantia de suas tarefas.

Assim procedem, porquanto, vivendo a maioria das criaturas no jogo das aparências, quando na Crosta Planetária, incumbir-se-iam elas próprias de esmagar os missionários do Bem, se lhes conhecessem a verdadeira condição, através das vibrações destruidoras da inveja, do despeito, da antipatia gratuita e das disputas injustificáveis.

Em vista disso, os trabalhadores conscientes, na maioria das vezes, organizam seus trabalhos em moldes exteriores menos graciosos, fugindo, por antecipação, ao influxo das paixões devastadoras das almas em desequilíbrio.

Entendi a extensão do esclarecimento e meditava na grandeza dos princípios espirituais que regem a experiência humana, quando Manassés acrescentou, após longa pausa:
- As mentes juvenis, quais crianças do mundo, brincam com o fogo das emoções; todavia, os espíritos amadurecidos, mormente quando chegam à situação de «completistas», abandonam toda experiência que os possa distrair no caminho de realização da Vontade Divina.

Em seguida, convidado pelo meu novo amigo, penetrei numa das dependências consagradas aos serviços de desenho.

Pequenas telas, demonstrando peças do organismo humano, estavam ordenadamente em todos os recantos.

Tinha a impressão fiel de que me encontrava num grande centro de anatomistas, cercados de auxiliares competentes e operosos.

Espalhavam-se desenhos de membros, tecidos, glândulas, fibras, órgãos de todos os feitios e para todos os gostos.

- Como sabe - observou Manassés, cuidadoso -, no serviço de recapitulação ou de tarefas especializadas na superfície do Globo, a reencarnação nunca pode ser vulgar.

Para isso, trabalham aqui centenas de técnicos em questões de Embriologia e Biologia em geral, no sentido de orientar as experiências individuais do futuro de quantos irmãos se ligam a nós no esforço colectivo.

Sentindo espontânea veneração, contemplei os servidores que se inclinavam atenciosos, arquitectando o porvir de muitos companheiros.

Como era complexa a oportunidade de renascer!
Que actividades intensas exigiam dos benfeitores espirituais!

Ao meu gesto de estranheza, respondeu Manassés numa síntese expressiva:
- Você não ignora que os homens ainda selvagens ou semi-selvagens, embora utilizando os recursos sempre sagrados da Natureza, edificam suas habitações em moldes mais simples e rudimentares;
todavia, o homem que já atingiu certo padrão de ideal, desenvolvendo faculdades superiores, Constrói o lar, organizando plantas prévias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 20, 2012 11:48 pm

Indicando o quadro interior, extremamente movimentado, acrescentou, sorridente:
- Não estamos aqui senão cogitando, igualmente, de projectos para futuras habitações carnais.

O corpo humano não deixa de ser a mais importante moradia para nós outros, quando compelidos à permanência na Crosta.
Não podemos esquecer que o próprio Divino Mestre classificava-o como templo do Senhor.

Impressionado, seguia atenciosamente os trabalhos em curso.
Dispúnhamo-nos a seguir adiante, quando uma irmã, de porte muito respeitável, se aproximou saudando Manassés afectuosamente.

Ele respondeu com gentileza e apresentou-ma.
- É nossa irmã Anacleta.
Cumprimentei-a, sentindo-lhe a simpatia pessoal.

- Trata-se de uma das nossas trabalhadoras mais corajosas - acentuou o funcionário do trabalho de informações.

A senhora sorriu, algo contrafeita por se ver focalizada na opinião franca do companheiro.

Todavia, Manassés, com o optimismo que lhe era característico, prosseguiu:
- Imagine que voltará à Esfera do Globo, em breves dias, em tarefa de profunda abnegação por quatro entidades que, há mais de quarenta anos, se debatem em regiões abismais das zonas inferiores.

- Não vejo nisso abnegação alguma - atalhou à senhora, sorrindo -, cumprirei tão-somente um dever.

E fixando-me, desassombrada e serena, asseverou:
- As mães que não completaram a obra de amor que o Pai lhes confia junto dos filhos amados, devem ser bastante fortes para recomeçarem os serviços imperfeitos.

Esse o meu caso. Não se deve mencionar sacrifício onde existe apenas obrigação.

Interessava-me a história daquela irmã despretensiosa e simpática e, por isso mesmo, animei-me a perguntar-lhe:
- Regressará, então, dentro em breve?
De qualquer maneira, sua resolução traduz devotamento e bondade.

Não posso esquecer que também minha mãe voltou ao círculo da carne, tangida por sublime dedicação.

Notei que os olhos dela se encheram de lágrimas discretas, que não chegaram a cair, emocionada talvez com a minha observação sincera.

Estendeu-me a destra, gentilmente, e, dando a ideia de que não desejava continuar em conversação relativa ao assunto, disse-me, comovida:
- Muito grata pelo conforto de suas palavras.
Mais tarde, ao se lembrar de mim, ajude-me com o seu pensamento amigo.

Nesse ponto da ligeira palestra, Manassés indagou:
- Já recebeu todos os projectos?

- Sim - respondeu ela -, não somente os que se referem aos meus pobres filhos, mas também a planta relativa à minha própria forma futura.

- Está satisfeita?
- Muitíssimo! - redarguiu a dama.
Na lei do Pai, a justiça está cheia de misericórdia e continuo na condição de grande devedora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 20, 2012 11:49 pm

Em seguida, despediu-se, calma e afável.

Manassés compreendeu-me a curiosidade e explicou:
- Anacleta é um exemplo vivo de ternura e devotamento, mas voltará às lutas do corpo a fim de operar determinadas rectificações no coração materno.

Por imprevidência dela, noutro tempo, os quatro filhos, que o Senhor lhe confiara, caíram desastradamente.

A pobrezinha albergava certas noções de carinho que não se compadecem com a realidade.

Seu esposo era homem probo e trabalhador e, apesar de abastado, nunca se esqueceu dos deveres que lhe prendiam as actividades de homem de bem ao campo da sociedade em geral.

Caracterizava-se por uma energia sempre construtiva, mas a esposa, embora devotadíssima, contrariava-lhe a influência do lar, viciando o afecto de mãe com excessos de meiguice desarrazoada.

E, como consequência indirecta, quatro almas não encontraram recursos para a jornada de redenção.

Três rapazes e uma jovem, cuja preparação intelectual exigira os mais árduos sacrifícios, caíram muito cedo em desregramentos de natureza física e moral, a pretexto de atenderem a obrigações sociais.

E tão degradantes foram esses desregramentos que perderam muito cedo o templo do corpo, entrando em regiões baixas, em tristes condições.

Anacleta, contudo, voltando ao campo espiritual, compreendeu o problema e dispôs-se a trabalhar afanosamente para conseguir, não só a reencarnação de si própria, senão também a dos filhos que deverão segui-la nas provas purificadoras da Crosta.

- Quantos anos gastaram para obter semelhante concessão? - perguntei, impressionado.
- Mais de trinta.
- Imagino-lhe os sacrifícios futuros! - exclamei.

- Sim - esclareceu Manassés -, a experiência ser-lhe-á bem dura, porque dois dos rapazes deverão regressar na condição de paralíticos, um na qualidade de débil mental e, para auxiliá-la na viuvez precoce, terá tão-somente a filha, que, por si mesma, será também portadora de prementes necessidades de rectificação.

Ia dizer de minha profunda surpresa, diante do mecanismo de introdução ao serviço reencarnacionista, quando outra irmã se acercou de nós, procurando por Manassés.

Depois das saudações afectivas, explicou-se ela, gentil, dirigindo-se ao meu novo amigo:
- Desejo sua obsequiosa interferência na rectificação do meu plano.

E abrindo pequeno mapa, onde se via desenhado com extrema perfeição um organismo de mulher, acentuou:
- Veja bem o meu projecto para o sistema endocrínico.

Sei que os amigos me favoreceram, planejando-o com muita harmonia nas menores disposições;
entretanto, desejaria modificações...
- Em que sentido? - indagou o interpelado, surpreso.

A recém-chegada indicou os pontos do projecto onde se localizava o colo e falou:
- Fui advertida por benfeitores daqui, no sentido de não me apresentar na Crosta, dentro de linhas impecáveis para a forma física e, em razão disso, para que eu tenha mais probabilidades de êxito em meu favor, na tarefa que me proponho desempenhar, estimaria que a tiróide e as paratiróides não estivessem tão perfeitamente delineadas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 20, 2012 11:49 pm

Como sabe, Manassés, minha tarefa não será fácil.
Devo reaver um património espiritual de grandes proporções.
Preciso fugir de qualquer possibilidade de queda e a perfeita harmonia física me perturbaria as actividades.

O novo companheiro endereçou-me expressivo olhar e disse-lhe:
- Tem razão.
A sedução carnal é imenso perigo, não só para aqueles que emitem a sua influenciação, como também para quantos a recebem.

Prefiro a fealdade corpórea - tornou ela.
Não estou interessada num corpo de Vénus e, sim, na redenção de meu espírito para a Eternidade.

Manassés prometeu interpor os seus bons ofícios, e, tão logo se despediu da nova interlocutora, passou a mostrar-me as mais interessantes figurações de órgãos do corpo humano.

Admirava, tomado de profunda impressão; aqueles gráficos numerosos que se alinhavam, com absoluta ordem, demonstrando o cuidado espiritual que precede o serviço de reencarnações, quando o meu amigo ponderou:
- A medicina humana será muito diferente no futuro, quando a Ciência puder compreender a extensão e complexidade dos factores mentais no campo das moléstias do corpo físico.

Muito raramente não se encontram as afecções directamente relacionadas com o psiquismo.
Todos os órgãos são subordinados à ascendência moral.

As preocupações excessivas com os sintomas patológicos aumentam as enfermidades;
as grandes emoções podem curar o corpo ou aniquila-lo.

Se isso pode acontecer na esfera de actividades vulgares das lutas físicas, imagine o campo enorme de observações que nos oferece o plano espiritual, para onde se transferem, todos os dias, milhares de almas desencarnadas, em lamentáveis condições de desequilíbrio da mente.

O médico do porvir conhecerá semelhantes verdades e não circunscreverá sua acção profissional ao simples fornecimento de indicações técnicas, dirigindo-se, muito mais, nos trabalhos curativos, às providências espirituais, onde o amor cristão represente o maior papel.

Desejando, porém, prosseguir nos esclarecimentos, quanto ao serviço reencarnacionista, Manassés tomou pequeno gráfico e, apresentando-me as linhas gerais, acentuou:
- Aqui temos o projecto de futura reencarnação dum amigo meu.
Não observa certos pontos escuros, desde o cólon descendente à alça sigmóide?

Isso indica que ele sofrerá uma úlcera de importância, nessa região, logo que chegue à maioridade física.
Trata-se, porém, de escolha dele.

E porque extrema curiosidade me vagueasse nos olhos, Manassés explicou:
- Esse amigo, faz mais de cem anos, cometeu revoltante crime, assassinando um pobre homem: a facadas;

logo que se entregou ao homicídio, como acontece muitas vezes, a vítima desencarnada ligou-se fortemente a ele, e da semente do crime, que o infeliz assassino plantou num momento, colheu resultados terríveis por muitos anos.

Como não ignora, o ódio recíproco opera igualmente vigorosa imantação e a entidade, fora da carne, passou a vingar-se dele, todos os dias, matando-o devagarzinho, através de ataques sistemáticos pelo pensamento mortífero.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 20, 2012 11:49 pm

Em suma, quando o homicida desencarnou, por sua vez, trazia o organismo perispiritual em dolorosas condições, além do remorso natural que a situação lhe impusera.

Arrependeu-se do crime, sofreu muito nas regiões purgatoriais e, depois de largos padecimentos purificadores, aproximou-se da vítima, beneficiando-a em louváveis serviços de resgate e penitência.

Cresceu moralmente, tornou-se amigo de muitos benfeitores, conquistou a simpatia de vários agrupamentos de nosso plano e obteve preciosas intercessões.

Entretanto... A dívida permanece.
O amor, contudo, transformou o carácter do trabalho de pagamento.

O nosso amigo, ao voltar à Crosta, não precisará desencarnar em espectáculo sangrento, mas onde estiver, durante os tempos de cura completa, na carne que ele outrora menosprezou, carregará a própria ferida, conquistando, dia a dia, a necessária renovação.

Experimentará desgostos, em virtude do sofrimento físico pertinaz, lutará incessantemente, desde a eclosão da úlcera até o dia do resgate final no aparelho fisiológico;
entretanto, se souber manter-se fiel aos compromissos novos, terá atingido, mais tarde, a plena libertação.

Enquanto fixava no projecto minha melhor atenção, Manassés continuava:
- Segundo observamos, a justiça se cumpre sempre, mas, logo que se disponha o Espírito a precisa transformação no Senhor, atenua-se o rigorismo do processo redentor.

O próprio Pedro nos lembrou, há muitos séculos, que «o amor cobre a multidão dos pecados».

Examinei, impressionado, a planta educativa e porque não encontrasse palavras bastante claras para pintar minha admiração, silenciei comovidamente.

Compreendendo-me o estado d’alma, o companheiro continuou:
- São inúmeros os projectos de corpos futuros em nossos sectores de serviço.

Depreende-se, da maioria deles, que todos os enfermos na carne são almas em trabalho da ingente conquista de si próprias.

Ninguém trai a Vontade de Deus, nos processos evolutivos, sem graves tarefas de reparação, e todos os que tentam enganar a Natureza, quadro legítimo das leis divinas, acabam por enganar a si mesmos.

A vida é uma sinfonia perfeita.
Quando procuramos desafiná-la, no círculo das notas que devemos emitir para a sua máxima glorificação, somos compelidos a estacionar em pesado serviço de recomposição da harmonia quebrada.

E, durante alguns dias, ali permaneci na instituição benemérita, compreendendo que a existência humana não é um ato acidental e que, no plano da ordem divina, a justiça exerce o seu ministério, todos os dias, obedecendo ao alto desígnio que manda ministrar os dons da vida «a cada um por suas obras».
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 20, 2012 11:49 pm

13 - Reencarnação

Senti-me ditoso e emocionado quando Alexandre me convidou a visitar, em companhia dele, o ambiente doméstico de Adelino e Raquel, onde se verificaria a reencarnação de Segismundo.

Profundo contentamento extravasava de meu espírito, porquanto era a primeira vez que iria tomar conhecimento directo com o fenómeno reencarnacionista.

Desde os primeiros tempos de estudo no campo da Medicina, fascinavam-me as leis biogenéticas.
Entretanto, nunca me fora dado intensificar observações e especializar experiências.

Na colónia espiritual a que me conduziram a Providência de Deus e a generosa intercessão dos amigos, muita vez recebera lições referentemente ao assunto;
todavia, até então, nunca vira, de mais perto, o processo de imersão da entidade desencarnada no campo da matéria densa.

Em razão disso, acompanhei o prestimoso orientador com agradável e ansiosa expectativa.
Alexandre explicou-me, por excesso de gentileza, que, noutro tempo, recebera muitos favores das personagens envolvidas naquele caso de reencarnação e que se sentia feliz pela oportunidade de lhes ser útil.

Comentou as dificuldades do serviço de libertação espiritual e exaltou a lei do bem, que chama todos os filhos da Criação ao concurso fraterno e aos serviços «intercessórios».

Depois de confortadora e instrutiva conversação, alcançamos o lar de Adelino, deliciosamente colocado em pitoresco canto suburbano, qual ninho gracioso, rodeado de tufos de vegetação.

Eram dezoito horas, aproximadamente.
Com surpresa, verifiquei que Herculano nos esperava no limiar.

O instrutor, porém, informou-me que havia notificado o amigo sobre a nossa visita, recomendando-lhe trouxesse Segismundo para o trabalho de aproximação.

Cumprimentou-nos o companheiro, afectuosamente, e dirigiu-se ao meu orientador, esclarecendo:
- Segismundo veio em minha companhia e espera-nos, lá dentro.

- Foi excelente medida - falou Alexandre, bem-humorado -, consagrarei aos nossos amigos a minha noite próxima. Veremos o que é possível fazer.

Entramos.
O casal Adelino-Raquel tomava a refeição da tarde, junto de um pequenino, no qual adivinhei o primogénito da casa.

Não longe, acomodado numa cadeira de descanso, repousava uma entidade que se levantou imediatamente, quando percebeu nossa presença, dirigindo-se particularmente ao encontro do meu orientador, que lhe abriu os braços carinhosos.

Herculano, perto de mim, explicou, em tom discreto:
- É Segismundo.
Notei que o desencarnado abraçara-se com Alexandre, chorando convulsivamente.

O instrutor acolhia-o como pai, e, após ouvi-lo durante alguns minutos, falou-lhe compassivamente:
- Acalme-se, meu amigo! Quem não terá suas lutas, seus problemas, suas dores?

E se todos somos devedores uns dos outros não será motivo de júbilo e glorificação receber as sublimes possibilidades de resgate e pagamento?

Não chore! Nossos irmãos permanecem ao jantar.
Não devemos perturbá-los, emitindo forças magnéticas de desalento.
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