LUZ ESPÍRITA
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Série Psicológica Vol. 13 - Conflitos Existenciais/Joanna de Angelis

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Série Psicológica Vol. 13 - Conflitos Existenciais/Joanna de Angelis - Página 4 Empty Re: Série Psicológica Vol. 13 - Conflitos Existenciais/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 11:28 am

O funcionário que se entrega à empresa e, lentamente, passa a vivê-la com intensidade, acreditando-se indispensável, e vê-se, de um para outro momento, descartado, substituído por outrem mais bem-preparado, com novos recursos para aplicação, é tomado pelo estresse da amargura e tomba no fosso do desespero. Tem a impressão de que a sua existência perdeu a razão de ser vivida, porque centrou no trabalho a que se afeiçoou todos os interesses e motivações pessoais.
Quando, porém, a morte arrebata o ser querido, sem que tenha havido uma preparação psicológica para o fenómeno do falecimento dos órgãos, é inevitável o transtorno gerado pelo estresse da pressão interna do sofrimento, que parece impossível de ser suportado.
A existência humana apresenta-se portadora de um elenco de quase infinitas possibilidades que devem ser experimentadas, a fim de tornar-se digna e merecedora de ser vivida saudavelmente.
O ego, no entanto, estabelece os seus parâmetros e assoberba-se de ilusões e de posses mentirosas que a realidade se incumbe de desfazer, porque sem estruturas legítimas, fundamentadas em quimeras, em perturbações e sonhos infantis não superados pela idade adulta.
O aprofundamento da identificação da autoconsciência faculta a valorização do Si-próprio (Self), ampliando a esfera de aspirações e de metas que devem ser realizadas.
As experiências sociais e humanas, os desafios e dificuldades, as lutas e desacertos não deveriam constituir força estressante, porque têm por objectivo amadurecer a capacidade emocional, fortalecendo-a para embates mais vigorosos que devem ser travados até o momento da completude.
Cada experiência existencial converte-se em valor emocional que se soma aos anteriores, propiciando crescimento pessoal e realização interior.
Ninguém alcança patamares de equilíbrio sem passar pelos testes de lutas edificantes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 11:29 am

Processos e mecanismos stressantes
Existe, sem dúvida, em muitos organismos, certa predisposição para a desvitalização das energias, das forças em que se firmam os conteúdos emocionais.
Com relativa facilidade, os indivíduos portadores dessa constituição assoberbam-se de aflição ante acontecimentos que não têm o menor sentido perturbador, vítimas que se fazem de injunções que temem enfrentar ou que rejeitam de forma consciente, derrapando em estresses.
Frágeis, psicologicamente, não conseguem sair do período infantil em que necessitam da mãe super-protectora, do ninho doméstico defensor, sem haver-se preparado para a vida adulta, inevitavelmente constituída de desafios necessários à evolução.
Desacostumados à responsabilidade ou dominados pelo excesso de escrúpulos, alguns deles, autodenominados como perfeccionistas, gostariam de um mundo por eles elaborado, no qual os acontecimentos obedecessem a padrões agradáveis ou a ordenamentos geométricos submetidos aos seus critérios de avaliação. Sendo, porém, os grupos sociais constituídos de biótipos variados e de necessidades diversas, com objectivos e imposições específicos, esses indivíduos recuam diante dos enfrentamentos ou stressam-se com os fenómenos gerais, amargurando-se e desgastando-se de maneira enfermiça.
Há uma tendência, possivelmente inconsciente, em alguns pacientes, de cultivarem o masoquismo emocional, escorregando para a autocomiseração, a necessidade de acolhimento em colo materno, pensando em transformar a sociedade, que lhes parece adversária, em protectora piegas dos seus desfalecimentos morais.
Negam-se aos combates que são essenciais para o auto-crescimento e valiosos para a visão psicológica da existência humana e suas finalidades libertadoras.
Acumulam ressentimentos em razão de fracassos banais, que culpam aos demais, vivem ressumando infelicidade, que mais se encontra na imaginação do que na realidade, tendo em vista o corpo saudável, pelo menos sem afecção nem infecção, que deveria ser aplicado em actividades que o revigorassem, impulsionando os sentimentos a voos mais elevados na busca de realizações enobrecedoras. Acreditam-se sem sorte, marcados por carmas dolorosos e, enquanto lamentam e mantêm a ociosidade, mais se enfermam e mais se desestruturam. É natural que qualquer acúmulo de preocupação, de tarefa, de compromissos transforme-se em carga stressora.
Desacostumados ao trabalho continuado, aclimatados a situações proteccionistas, sem experiências de esforço pessoal, anelam pelo que não lutam por conseguir, demorando-se em reflexões pessimistas e lamentáveis, quando se deveriam afeiçoar às realizações, em tentativas contínuas de aprendizagem de comportamento até a conquista dos objectivos, sejam quais forem que tenham em pauta.
A auto-consciência é responsável pelo processo de mais fácil evolução do pensamento e das realizações humanas, porque faculta entender os significados psicológicos existenciais e os mecanismos que devem ser utilizados, a fim de serem logrados.
A dependência de outrem e a transferência das suas responsabilidades para outrem, a necessidade de gurus e guias, ocultam a comodidade mental, moral e emocional, disfarçadas de confiança e de afecto por aqueles que lhes sirvam de condutores. A experiência, no entanto, é pessoal e intransferível, que cada qual terá que vivenciar, a fim de aprender, à semelhança do medicamento que deve ser utilizado pelo paciente que busca a cura e não por aquele que o ama, em forma de comportamento infantil absurdo.
Essa insegurança, essa forma de manipulação emocional, decorre de culpa e de fuga no passado aos deveres que não foram cumpridos e que, agora, em nova reencarnação, deverão ser enfrentados para incorporar-se às conquistas evolutivas a que todos os Espíritos são convocados.
Ninguém evolve por outro, sendo o processo é individual e exclusivamente pessoal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 11:29 am

Esses indivíduos imaturos, quando amam, desejam que os seus afectos assumam-lhes as responsabilidades, resolvam os seus problemas, enfrentem os seus dilemas, vivam por eles, demonstrando total desconserto emocional.
Neles, as enfermidades, os problemas de relacionamento, as lutas no trabalho, a convivência com os demais, sempre assumem volumes exagerados, porque desejam facilidades e comodidades, atribuindo-se importância demasiada, que estão longe de possuir, ou fogem para a intriga, a maledicência, sempre considerando-se vítimas de perseguições que estão na imaginação e no egotismo doentio.
Estão normalmente stressados com pequenas ocorrências, não suportando os necessários trabalhos de renovação e de reequilíbrio, que dependem exclusivamente deles.
Na correria dos dias modernos, em que as máquinas inteligentes dominam o mercado humano, a criatura é convidada a assumir a sua posição de comando e de superioridade em relação aos engenhos por ela mesma criados para facilitar-lhe a vida, não se permitindo esmagar pelas injunções que se apresentam desgastantes.
Não há lugar nem tempo favoráveis para considerações exageradas, nem para convívios conflitivos, nem para relacionamentos doentios.
Porque todos os indivíduos são portadores de problemas, é natural que cada qual procure estímulo e orientação, melhores situações e acompanhamentos saudáveis, em vez de aceitarem quem lhes explore os valores e permaneçam na inactividade ou no estado de dependência mórbida.
Inegavelmente, são muitos os factores que levam ao stress, mas, ao mesmo tempo, inúmeros os recursos para a liberação das cargas opressoras, quando se deseje a mudança de comportamento e a aquisição do bem-estar.
É inevitável a ansiedade em diversas situações, no entanto, sob controle e lucidez, evitando-se que atinja níveis psicológicos e orgânicos doentios.
Quando se assentam os ideais em objectivos superiores e se realizam reflexões saudáveis e optimistas, naturalmente se adquirem forças morais para saber-se seleccionar os fenómenos perturbadores daqueles que têm finalidades edificantes.
Desse modo, é possível experienciar a ansiedade com equilíbrio, sem sofrimento nem distonia, consciente de que todo processo exige um tempo próprio para realizar--se, e que nem sempre as questões se resolvem conforme parece a cada um, mas de acordo com as circunstâncias e possibilidades que lhes são próprias.
Essa compreensão faculta a administração do processo de ansiedade dentro dos limites naturais e próprios das ocorrências do quotidiano.
Educar, portanto, a mente e o sentimento, constitui dever inicial para a superação de qualquer mecanismo stressante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 11:30 am

Terapia para o stress
A crença na vida futura, por consequência, na imortalidade do Espírito e na sua destinação gloriosa, constitui a mais adequada autoterapia preventiva em relação ao stress, bem como para a sua superação.
Isto porque, ultrapassando os limites imediatistas da existência orgânica, essa convicção dilata a perspectiva de felicidade, demonstrando que, não sendo conseguida de imediato, sê-lo-á, sem dúvida, um passo à frente, em razão da dilatação do tempo e da realidade do Mais Além, facultando realizações contínuas, ricas de experiências negativas e positivas, que definem o rumo da plenitude.
Mediante essa atitude mental e emocional, surge a alegria, em face de demonstrar que a dificuldade de hoje é o prelúdio da conquista de amanhã, qual ocorre com a flor que se estiola para libertar o fruto e a semente que nela jazem adormecidos.
Em vez de uma existência linear, que se inicia no berço e termina no túmulo, essa decorre da vida em si mesma, que é preexistente e sobrevivente à disjunção molecular, resultando em aprendizagem contínua, na qual sucedem-se êxitos e aparentes fracassos que culminam em conquistas insuperáveis.
Ninguém consegue atingir qualquer meta que delineie sem passar por acertos e erros, elegendo os processos favoráveis e eliminando aqueles equivocados, sem desanimar, insistindo até a realização dos seus objectivos.
Desse modo, a fé no futuro acalma as aflições momentâneas sem o apoio do conformismo doentio, porém, proporcionando a coragem para vencer os impositivos perturbadores da actualidade.
Essa postura impede a instalação da ansiedade, em considerando-se a grandiosidade do tempo sem o imediatismo da ilusão. Ao mesmo tempo, enseja uma planificação de largo porte, sem os incómodos da angústia ou da precipitação.
As tensões, nada obstante, apresentam-se inevitáveis, em razão do curso dos acontecimentos que não pode ser detido. Superada uma ocorrência, logo outra acerca-se, isto quando não se atropelam na velocidade dos fenómenos humanos.
A maneira, porém, como são analisadas para serem aceitas, responde pela emoção com que são enfrentadas. Quando o indivíduo se educa na compreensão dos deveres que abraça, deduz, de imediato, quantos esforços devem ser envidados, a fim de que se consumem com eficiência os resultados em pauta. Programa, então, como enfrentar cada fase, a forma de executar cada tarefa, evitando--se a fadiga excessiva, o desgaste emocional, a irritabilidade que decorrem, normalmente, da indisciplina e da rebeldia no trato e na convivência com as demais pessoas, com os deveres assumidos.
Quando ocorrem situações stressantes que são normais, de imediato cabe-lhe a renovação de ideias, a mudança de realização, a busca do refúgio da prece renovadora, que robustece de energias psíquicas e emocionais, vitalizando os sistemas físico e psicológico, momentaneamente afectados.
O ser humano necessita do trabalho que o dignifica, mas também do repouso que lhe renova as forças e faculta-lhe reflexões para bom e compensador desempenho.
Desse modo, é impositivo, para a preservação ou conquista da saúde, que se estabeleçam períodos para férias, para relaxamento emocional, para mudanças de actividades, para exercícios físicos libertadores das tensões orgânicas e psicológicas, agilizando o corpo mediante caminhadas, massagens, natação com a mente liberada dos problemas constritores.
É justo que o ser humano não olvide dos limites da sua condição de reencarnado, portanto sob imposições do carro orgânico, evitando os sonhos de super-homem, que alguns se atribuem. Musicoterapia e socorro fraternal ao próximo representam igualmente recursos valiosos para que a pessoa desencarcere-se da carga tensional e experimente alegria de viver e de servir, sentindo-se útil.
Ioga e meditação, acupunctura e outros recursos valiosos, denominados alternativos, contribuem eficazmente para o relax, a renovação das energias gastas.
Sempre quando alguém se oferece ao Bem, ei-lo tocado pelos eflúvios da saúde e da harmonia, auto-realizando-se e aos demais ajudando.
A busca da beleza, sob qualquer aspecto considerada, contribui para o retorno ao bem-estar, superando o stress e a inquietação. Apesar desses recursos, se o paciente permanecer em transtorno por stress, não deve adiar a assistência do psicoterapeuta, a fim de evitar a instalação de problemas neuróticos mais graves.
Esforçar-se por viver com alegria em qualquer conjuntura é terapia preventiva e libertadora para os males do stress.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 11:30 am

17 — Fobias
Psico-génese das fobias — Desenvolvimento fóbico — Terapia para os transtornos fóbicos

Psico-génese das fobias
Os transtornos fóbicos, ou medos exagerados, constituem sintomas neuróticos compulsivos, nos quais surgem esses pavores destituídos de motivos reais, em relação a determinados objectos ou situações, encarregando-se de restringir ou perturbar o comportamento do indivíduo.
Certamente, agem como factores causais ou desdobramentos das fixações em vivências reais já experimentadas, quais a que diz respeito à angústia do peito.
Noutras circunstâncias, podem decorrer de medos infantis não superados, em relação a roedores, a aracnídeos, a répteis ou à escuridão com os seus fantasmas...
Do ponto de vista psicanalítico, decorre de um perigo interno pulsional ou medo da explosão da pulsão e sua plenificação no objecto que se fixa. Trata-se de uma atitude de deslocamento da pulsão do objecto originário para um outro ou de qualquer situação que o substitua.
Como decorrência da teoria da aprendizagem, qualquer forma, objecto ou situação, pode transformar-se em factor de medo, dando lugar a inumeráveis estados fóbicos, cujos nomes correspondem àqueles mecanismos pulsionais que os geram. Por exemplo:
claustrofobia, em relação a lugares fechados; agorafobia, a espaços abertos; isoptrofobia, a espelhos; oclofobia, a multidão; acarofobia, a insectos; necrofobia, a cadáveres; zoofobia, a animais; alurofobia, a gatos; antropofobia, a gente; fotofobia, a luz solar; auto-fobia, a si mesmo...
Aprofundando-se, porém, a sonda investigativa em torno da psicogénese dos transtornos fóbicos, encontrar-se-ão, no Espírito, os factores causais, quando houve comprometimentos morais e emocionais, decorrentes de situações lamentáveis e acções deploráveis contra o próximo ou a sociedade, mediante actos criminosos ou odientos experienciados.
As circunstâncias e ocorrências do momento insculpiram-se nos painéis delicados do inconsciente profundo do revel, porque rechaçados pela consciência, que desejava bloquear as reminiscências dolorosas, apagando as imagens infelizes e perturbadoras.
Por fenómeno natural, em face da Lei de Causa e Efeito, as acções hediondas praticadas sempre ressumam dos depósitos da memória inconsciente, graças ao perispírito, convidando o calceta reparação.
Essa recuperação apresenta-se sob vários aspectos.
Inicialmente, é o arrependimento que se impõe, fazendo que as lembranças sejam evocadas e reverenciadas, de forma que os sentimentos morais dêem-se conta da gravidade do ato ignóbil, tomando consciência do dislate e predispondo-se à mudança de atitude em relação à vítima e à vida. Logo depois, de maneira inevitável, a mesma consciência estabelece o sofrimento defluente dos resultados malsãos que foram impostos a outrem e do despertamento para os valores dignificantes que nunca podem ficar olvidados pelo ser em processo de evolução.
Essa expiação do erro é indispensável ao reequilíbrio da emoção. Apesar desses factores, impõe-se ainda a necessidade urgente de reparação dos males produzidos, e logo despertam os sentimentos dignificantes do amor, da caridade, da compaixão e da solidariedade, facultando o anular dos efeitos danosos que ainda perduram.
Nem sempre, porém, o processo apresenta-se fácil, em razão dos sentimentos daquele que foi ofendido, e que não desejando desculpar, e menos perdoar, desencadeia a acção obsessiva, gerando angústia no antagonista que, despreparado para a renovação moral, tomba nas malhas do sofrimento ultor.
A simples visão de qualquer factor que esteve presente na acção nefasta do passado desencadeia as lembranças inconscientes que se transformam em medo, logo depois em pavor, sob a acção da mente vingadora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 9:20 pm

O mesmo acontece, não raro, na vida infantil, quando são detectados esses animais ou circunstâncias que desencadeiam as reminiscências nocivas, insculpindo-se na memória presente e dando lugar aos medos injustificáveis do ponto de vista actual, porém, filhos do remorso dos erros cometidos.
Assim sendo, as angústias defluentes do medo de situações, de animais e insectos, absolutamente destituídos de perigo, são efeito da consciência de culpa dos gravames praticados e não resolvidos pelo Self, que desperta para a necessária recuperação.
Automaticamente evitando as situações afligentes, o enfermo parece negar-se ao enfrentamento com a consciência, procurando manter obnubilada a razão, dessa maneira evadindo-se da reabilitação. Mesmo os factores atuais que desencadeiam os transtornos fóbicos, são resultantes dos impositivos divinos que geram circunstâncias nas quais o infractor das leis é convidado ao refazimento da ordem e do equilíbrio que foram perturbados pela sua inépcia ou perversidade nos trânsitos evolutivos pretéritos.
A saúde real decorre do Espírito em si mesmo, destituído de compromissos negativos e de condutas reprocháveis.
Como ninguém alcança as cumeadas sem que se lhe faça necessário passar pelas baixadas e sofrê-las, é natural que, no desafio da ascensão moral e espiritual, muitos tormentos sejam desencadeados em razão de condutas impróprias ou esdrúxulas, que serviram de recurso para a vivência individual.
Cometido o abuso, nova oportunidade surge com a carga das suas consequências, exigindo reparação.
Cada ser é, portanto, o somatório das suas existências anteriores, nas quais desenvolveu os valores sublimes que lhe dormiam ínsitos, desabrochando na vestidura carnal, qual semente que, para transformar-se em árvore frondosa, necessita do generoso acolhimento do solo, onde se entumece, cresce e atinge a sua fatalidade vegetal. O destino do Espírito é a plenitude que lhe está reservada e que alcançará mediante passos seguros no rumo do dever e da paz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 9:20 pm

Desenvolvimento fóbico
A fobia é uma perturbação de ansiedade relativamente comum, apresentando-se totalmente irracional.
Se alguém reside em uma floresta, é natural que lhe possa acometer o receio de encontrar uma fera, um animal perigoso. No entanto, encontrando-se numa cidade civilizada, a probabilidade quase desaparece. Entretanto, em face de na cidade existir um jardim zoológico, o medo injustificado transfere-se para aquele local e, por extensão, para a zona onde se localiza, passando o paciente a recear toda a área, generalizando o estado fóbico.
Esse medo assume proporções graves, passando a estar presente em todos os momentos e aspectos da vida, em face da preocupação que desencadeia...
Não há uma lógica motivadora desse estado, em face de o paciente que tem esse medo, podendo evitar os lugares nos quais poderia sofrer o perigo de ser vítima daquilo que o aflige, isto é, de multidões ou de animais ferozes, preferir estar onde isso não ocorra.
Mesmo assim, permanece o pavor, que pode ser brando ou não. John Locke supunha que as fobias estariam associadas fortuitamente a ideias perturbadoras, qual a que ocorre na infância, quando se lhe narram histórias atemorizantes, produzindo o medo do escuro para sempre. Na actualidade, igualmente, diversos autores concordam que as fobias podem ter como causa o condicionamento clássico, isto é, o medo de determinado factor temeroso, que desencadeia a resposta na activação autonómica - alteração cardíaca, sudorese, frio... -, que tipificam o estado mórbido.
Podem algumas fobias ser resultados desse condicionamento, quando alguém foi vítima de uma picada de insecto ou mordida de animal, e passou a temê-los, tornando--se uma fobia adquirida e gerando o condicionamento que se amplia ante estímulos novos.
Estuda-se, também, a possibilidade de ser aceita a teoria da prontidão das fobias, que seria resultado da herança dos nossos antepassados — os primatas - que foram vítimas de outros animais e insectos perigosos e, graças à selecção natural, desenvolveram o medo espontâneo a esses estímulos, havendo-os transmitido às futuras gerações. Como confirmação pode-se citar o medo em indivíduos normais, não fóbicos, de determinados estímulos produzidos por animais e semelhantes. No entanto, surgem críticas à teoria, em face da impossibilidade de estabelecer-se correlacionamentos entre o estímulo original e o efeito representativo. Justifica-se, ainda, que nas experiências em laboratório os sujeitos podem ter sido contaminados mediante contacto com outros cultivadores desses receios, ou serem vítimas das tradições culturais, com as suas lendas e mitos, que geraram no inconsciente o medo injustificável.
Diferentemente do que ocorre nas fobias específicas, outras existem mais amplas e comuns, como a de natureza social.
Nesse capítulo, o paciente receia ser vítima de circunstâncias
ou ocorrências que o levem a um constrangimento público, a uma humilhação indesejada, assim evitando qualquer possibilidade de ocorrência, isolando-se quanto possível da convivência social e afligindo-se demasiadamente sempre que se encontra exposto a esse perigo.
A vida, no entanto, é constituída por desafios que convidam o indivíduo ao amadurecimento psicológico, à vivência de experiências que o assinalam com sabedoria, fortalecendo-lhe os valores éticos e morais, as conquistas culturais e religiosas, a evolução espiritual. Uma vida normal é rica de sucessos e insucessos. Quando sucedem os últimos, aprende-se corno não mais os repetir, adquirindo-se métodos eficazes para vivenciar as lutas de maneira equilibrada e enriquecedora.
Vitimados pela fobia social, os indivíduos receiam qualquer tipo de conduta pública, sempre temerosos de que lhes aconteça algo que os deprecie, como falar em público e gaguejar, alimentar-se diante de outros e ser vítima de engasgos, que são perfeitamente normais e acontecem com as demais pessoas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 9:20 pm

Invariavelmente, quando se sentem obrigados a comparecer a essas reuniões profissionais, culturais e sociais, que não podem evitar de maneira alguma, buscam estímulos no álcool, amparo no cigarro ou nas drogas, por cujo uso perdem momentaneamente o medo, encontrando coragem para o enfrentamento.
Como consequência, tornam-se dependentes pela repetição, adicionando mais essa aflição à fobia de que são portadores.
Numa análise mais profunda do Self, encontrar-se-ão registros de causas do transtorno em existências passadas, quando foi feito mau uso do comportamento ou se vivenciaram acções perturbadoras desagradáveis que deixaram registros nos tecidos subtis do perispírito, tão graves foram as ocorrências infelizes.
Indivíduos que foram convidados ao destaque social e dele somente se aproveitaram para o enriquecimento ilícito, para o gozo pessoal, perdulários em relação aos valores da vida, que geraram culpa, e ora se apresenta em forma do medo de serem surpreendidos e desmascarados.
Sob outro aspecto, que padeceram situações penosas e não puderam digeri-las, superando-as, o que se transformou em fobia toda vez que algum estímulo desencadeia a associação inconsciente.
Por exemplo, a desencarnação durante um desabamento, que produziu a asfixia até o momento final, e a presença em um ambiente fechado, que logo produz dificuldade respiratória; o sepultamento durante uma crise de catalepsia com o posterior despertamento no túmulo e a morte dolorosa por falta de oxigénio sob a terra ou no mausoléu.
Naturalmente, nem todas as formas fóbicas procedem de existências transactas, mas um grande número delas tem sua origem nessas malogradas reencarnações de cujos efeitos o Espírito ainda não conseguiu libertar-se. Ainda nesse capítulo afligente, as obsessões desempenham papel primacial, em razão dos sentimentos hostis daqueles que foram prejudicados e não conseguiram superar a mágoa e o ódio, permanecendo ávidos de desforço e aproveitando-se das ocorrências naturais que são impostas aos infractores de uma para outra existência, ampliando--lhes os sofrimentos.
A princípio telepaticamente, enviando mensagens e sensações perturbadoras, mediante ressonância ou indução mental, ampliando o cerco à medida que o paciente aceita a imposição deletéria.
Por fim, num conúbio emocional e psíquico mais estreito entre o desencarnado e o encarnado que lhe passa a sofrer a injunção penosa.
Os clichés mentais que perduraram através do tempo nos arquivos do inconsciente profundo ressuscitam o pavor, abrindo espaço para o acossamento do perseguidor inclemente que se compraz com a ocorrência perversa.
Quanto mais o paciente deixa-se atemorizar pelos estímulos que produzem os fenómenos fóbicos, mais esses ampliam a sua área, tornando-se insuportáveis, dando ensejo a novos temores que antes não existiam.


Terapia para os transtornos fóbicos
Os processos psicoterápicos são de grande eficiência para restabelecer a saúde emocional do paciente fóbico, trabalhando-lhe o inconsciente de forma a demonstrar-lhe a inutilidade do receio que jamais se transforma em acontecimento prejudicial à sua saúde, à sua vida.
Novas associações podem auxiliar na representatividade que faculte o equilíbrio, proporcionando bem-estar e autoconfiança.
O paciente, por sua vez, deve trabalhar-se interiormente, procurando introjectar a coragem e o bom senso, vencendo, a pouco e pouco, os medos mais simples e avançando no rumo das fobias perturbadoras.
Sejam adicionados os recursos terapêuticos espíritas, como o esclarecimento em torno da realidade espiritual que cada um é, a justiça das reencarnações, a bioenergia, como também através dos passes e da água fluidificada, das leituras iluminativas, das sessões de desobsessão, quando o paciente preparou-se pelo estudo e pela conduta para delas participar. Uma atitude positiva e de confiança em Deus ante as ocorrências fóbicas é de valor insuperável, oferecendo resistência para quaisquer tipos de enfrentamentos emocionais, entre os quais as perturbações dessa ordem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 9:23 pm

18 — Coragem
Origem da coragem — Desenvolvimento da força e da virtude da coragem — Aplicação da coragem

Origem da coragem
A coragem pode ser incluída na lista das virtudes humanas, em face dos valores benéficos que propicia ao Espírito e à existência em si mesma. Encontra-se radicada no cerne do ser, em virtude de experiências morais e conquistas sociais realizadas em vivências passadas, quando as lutas e os desafios apresentaram-se exigindo solução.
No processo da evolução antropossociopsicológica, as alterações de níveis dão-se a cada momento, porquanto, conquistado um patamar de realização pessoal, outro logo surge, convidando ao avanço irrefragável.
Iniciam-se esses sentimentos, considerados valores morais, nas experiências mais simples diante das quais o Espírito não recua, nem desiste de enfrentá-las, por saber, às vezes, inconscientemente, que elas lhe constituem recursos de crescimento interior e de valorização da vida.
Logo depois, surgem as lutas inevitáveis entre o ego e o Self, que prosseguirão por período muito longo até que este último predomine em todas as instâncias. Tão tenaz apresenta-se essa batalha que monges tibetanos, preocupados com a harmonia interior e a superação das paixões primárias, que desenham o futuro ego, recomendam o esforço de preservação da paz, em mentalização contínua e disciplinadora dos impulsos inferiores.
Narra, por exemplo, o monge Patrul Rinpoche que teria conhecido outro monge de nome Geshe Ben, que era tão rigoroso no cumprimento dessa necessidade - a da superação do ego — que discutia em voz alta, repreendendo-o sempre que era levado a uma atitude que considerava imprópria, portanto, detectando-a como inimiga do Self.
Mais de uma vez teria sido surpreendido reclamando com o ego impositivo, ao sentir ansiedade pela conquista ou realização de algo que lhe aprazia, transtornando-o, ou quando se dava conta de estar realizando algo que era contrário aos princípios adoptados para a auto iluminação.
De certo modo, igualmente, narra-se que São Francisco, depois de haver-se doado ao Senhor Jesus, certo dia foi surpreendido, justificando-se nada mais possuir para dar-Lhe. Sem saber o que mais oferecer, permaneceu interrogando mentalmente o Mestre, quando ouviu nos refolhos da alma a dúlcida voz responder-lhe: — Francisco, dá-me Francisco.
Sucede que é muito fácil oferecer-se coisas e alterar--se situações em nome de ideais e de interesses com o ego escamoteado por sentimentos, mesmo que legítimos, de amor e de abnegação, no entanto, sem a coragem de dar-se, de esquecer-se completamente, a fim de fazer-Lhe a vontade, e não aquela que é peculiar a cada um.
Essa é uma coragem grandiosa, a da superação do ego, porque é totalmente feita de despojamento, de abandono pessoal, de sublimação do Self.
Trata-se de um desenvolvimento interno, mediante o qual as lutas exteriores ocorrem com facilidade, diferenciando-se do esforço veraz para o equilíbrio emocional.
Normalmente, aqueles que ainda não desenvolveram os requisitos morais, nem se ativeram à introspecção, de forma que descubram as excelências da harmonia, da saúde integral, desistem nas batalhas em que a coragem desempenha seu papel de alta importância. Acostumados aos gestos exteriores, nos quais o aplauso ou a repreensão têm significado e sentido emocional, não sabem entregar-se a essa luta interna, silenciosa, sem testemunha, sem orquestração vaidosa.
A coragem, portanto, desenvolve-se lentamente, passando de um estágio a outro, galgando degraus mais elevados, desse modo, favorecendo a criatura com mais altivez e autoconfiança.
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Série Psicológica Vol. 13 - Conflitos Existenciais/Joanna de Angelis - Página 4 Empty Re: Série Psicológica Vol. 13 - Conflitos Existenciais/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 9:23 pm

Examine-se a coragem de Jesus no desempenho da tarefa e a falta que fez a Judas e a Pedro, talvez capacitados para lutas externas, conforme sucedeu com Simão, no Jardim das Oliveiras, quando sacou a espada e agrediu, desnecessariamente, Malco, decepando-lhe a orelha. Esse gesto, considerado como de coragem, significou antes a reacção do medo ou mesmo impulsividade, enquanto o Amigo permaneceu sereno, apresentando-se como o procurado, sem qualquer agressividade.
Jesus havia adquirido essa coragem muito antes de estar no mundo físico, enquanto Pedro demorava-se em processo de auto-realização. Judas aguardava um Triunfador e, sem coragem para superar-se, traiu-se, traindo-O.
Amadurecido, mais tarde, com coragem moral, Pedro entregou-Lhe a vida, enquanto Judas, sem essa força grandiosa, fugiu, novamente perturbando-se ao dar-se conta do delito praticado, buscando o suicídio.
Não poucos heróis das batalhas públicas desequilibram-se diante das lutas íntimas, nas enfermidades, nas denominadas desgraças económicas e sociais, políticas ou artísticas, na escassez, nos dramas do sentimento, porque lhes falta a coragem.
Esse acontecimento, entretanto, torna-se forjador da coragem em desenvolvimento, que se vai fixando nos painéis do Self, preparando-o para cometimentos mais audaciosos no futuro.
Torna-se indispensável que o indivíduo cultive os sentimentos do dever recto como essenciais para o desenvolvimento da coragem, porquanto, somente assim, terá forças para os enfrentamentos, apoiando-se nesses valores transcendentes de que se constituem os compromissos elevados. Não acostumado à reflexão nem ao descobrimento da essência do que se lhe apresenta como valioso, o Self não dispõe de recursos para o avanço moral, deixando-se vencer pelo ego vicioso.
Eis por que, a cada conquista realizada, novas áreas devem ser ampliadas, facultando mais valiosos empreendimentos.
A coragem moral dispensa circunstâncias e posições relevantes. É um valor que perdura no indivíduo sempre vigilante para realizar o mister que lhe diz respeito.
Conquistar essa virtude algo esquecida é uma proposta moderna para a aquisição da saúde integral.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 9:23 pm

Desenvolvimento da força e da virtude da coragem
A virtude da coragem tem lugar no momento em que o indivíduo liberta-se da protecção familiar, da segurança do lar, atravessando os diferentes períodos da adolescência e entrando na fase adulta, tendo que assumir responsabilidades.
Nesse período é inevitável a aquisição da auto-consciência, que deflui dos tentames contínuos para a identificação da própria realidade, para a conquista do Self, abandonando os artifícios e mecanismos de fuga da responsabilidade, de modo a suportar os enfrentamentos que se impõem necessários.
O desenvolvimento biológico nem sempre se faz acompanhar pelo crescimento psicológico, porquanto, muitas áreas da emoção permanecem dependentes das circunstâncias anteriores, do proteccionismo recebido na família, dos pais e mais velhos que procuraram poupar das adversidades, dos conflitos, das lutas da evolução, o jovem em crescimento.
A coragem apresenta-se, nesse momento, equipando o ser em busca da realização pessoal, mediante a selecção de valores de que se deve munir para seguir no rumo das metas que elegerá na sucessão do tempo.
Atado a imposições sociais, educacionais, tradicionais, não raro perde-se em conflitos desnecessários, gerando comportamentos de medo, de ansiedade e de insegurança, que se tornam verdadeiras cadeias retentivas na retaguarda.
A auto-consciência ajuda a compreender que se torna necessário discernir para acertar, insistir para lograr êxito, trabalhar com afinco nos propósitos escolhidos, dispondo-se a errar e repetir a experiência, a perder a ingenuidade para adquirir a maturidade, a vivenciar decepções que nascem nas ilusões para compreender a realidade, mantendo a coragem de não desanimar, nem desistir, entregando-se à auto-compaixão ou à depressão.
O desenvolvimento animal ocorre através de períodos sucessivos, tais como a infância, a adolescência ou juventude, a idade adulta, a velhice e a morte. Todas essas etapas fazem parte do esquema biológico normal e natural do processo vital.
Passa-se de um para outro estágio biologicamente, mas nem sempre com o amadurecimento psicológico correspondente, que deveria acompanhar a nova aquisição, por isso mesmo facultando que se instalem inquietações e desalentos que se podem tornar patológicos.
Necessário coragem para analisar com tranquilidade cada fase da existência física, como parte do processo de crescimento inevitável que culmina na morte orgânica, incapaz de extinguir a vida.
Essencialmente imortal, o Espírito é o ser integral, que desenvolve do germe divino que traz latente, para utilização no transcurso das reencarnações, aprimorando-se sempre em cada etapa vitoriosa, em cujo curso apresentam-se os valores nobres que o exornarão mais tarde, quando superados os períodos mais difíceis.
Nesse processo de evolução, a coragem assume diferentes aspectos, proporcionando relacionamentos saudáveis que são indispensáveis para o desiderato feliz.
Todos necessitam de coragem fraternal para a convivência, resultando em vínculos de amizade profunda, capazes de resistir às agressões e discordâncias que, comummente, têm lugar nos comportamentos humanos.
Insistir nos bons sentimentos da amizade, na procura dos relacionamentos afectivos na área do amor sexual, livrando-se dos conflitos de qualquer natureza, com a coragem de auto-superação, constitui uma das metas a alcançar na busca da saúde plena.
Dispondo-se ao crescimento interior e à realização social e familiar, nos negócios e nos empreendimentos profissionais, o indivíduo necessita dessa coragem dinâmica, criativa e fortalecedora que não esmorece diante do aparente fracasso, por entender que toda conquista é portadora de um preço específico.
A coragem é um ato, portanto, de bravura moral, virtude que deve acompanhar o sentimento humano, em vez do marasmo ante decisões ou diante da acomodação ao que já foi conseguido, da satisfação infantil pelo que se logrou, quando os horizontes mais se ampliam na direcção do futuro, à medida que se avança.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 9:24 pm

Necessário separar o heroísmo da coragem real, porquanto as circunstâncias e o momento podem influir para que sejam consumados actos especiais e grandiosos, enquanto o desafio mais constante é de natureza interna como forma permanente de conduta emocional.
Eis por que nunca se deve alguém acovardar diante dos enfrentamentos, que são a fonte estimuladora do crescimento espiritual. O ser humano possui reservas de força moral quase inconcebíveis, desde que estimuladas pelas ocorrências.
Verdadeiros pigmeus culturais e sociais podem alcançar níveis elevados de coragem, enquanto indivíduos de alta envergadura intelectual e social preferem mergulhar nos abismos do medo e da depressão, quando convidados às decisões e aos labores contínuos.
A aparência em que se transita nem sempre revela o grau de moralidade pessoal e de valor espiritual de que se é portador. Por isso mesmo, a coragem é o estímulo para que desabrochem os valores que dignificam e produzem a auto-realização.
A coragem pode assumir também outro delicado e subtil aspecto no comportamento humano, qual seja, criar, oferecendo beleza através da arte, da cultura, da religião, da bondade, da solidariedade.
Vivendo-se numa sociedade que se caracteriza pelo isolacionismo, pelo egoísmo, que prefere o interesse imediato, a troca de favores, é natural que alguém rompa o condicionamento e tenha a coragem de ser diferente, desenvolvendo o génio criativo e o sentimento de compaixão pela ignorância, solidarizando-se com a vida e com todos os seres sencientes. Quando falta essa virtude no indivíduo, que parece haver-se cansado de trabalhar em favor dos ideais e da construção do grupo social melhor, pode-se considerar que essa conduta se firma numa acomodação covarde ante os impositivos do progresso. Sentindo-se compensado pela vida, avançado na idade, considerando a proximidade da morte, não sente mais interesse em ampliar as possibilidades de felicidade geral, derrapando no obscurantismo, na indiferença, deixando de viver plenamente, porque elegeu apenas o momento que passa.
A coragem de lutar não espera compensação de qualquer natureza. Mesmo quando a morte do corpo se aproxima, o homem e a mulher de coragem prosseguem na sua faina de oferecer exemplos e contribuições que felicitam aqueles que vêm na retaguarda, e avançam confiantes na contribuição daqueles que os precedem pelos caminhos da inteligência e do sentimento.
Coragem é mais que destemor ante perigos, é a conquista da autoconsciência que faculta a segurança nas possibilidades e nos meios valiosos de prosseguir na conquista de si mesmo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 9:24 pm

Aplicação da coragem
Nada obstante a coragem expresse o nível moral de cada indivíduo, podemos dilatar o conceito para a análise daquela de natureza física, identificada nos transes desencadeados pelas enfermidades, pelos acidentes dilaceradores...
Muitos pacientes demonstram coragem diante de doenças
devastadoras, enquanto outros deixam-se arrastar por desesperação incontrolável. Merecem, no entanto, as duas atitudes, algumas considerações.
No primeiro caso, a pessoa pode ser constituída de grande resistência orgânica, de menor sensibilidade, que dificultam a manifestação das dores acerbas. No segundo caso, conflitos emocionais que desestruturam o comportamento, abrem espaço para que os fenómenos aflitivos, dores e padecimentos, assumam uma gravidade que, em realidade, não existe. O próprio desconserto emocional contribui para a exacerbação da sensibilidade, transformando-se em aflição desmedida.
Em ambos os casos, no entanto, o equilíbrio moral faculta a coragem ou retira-a durante a injunção aflitiva. Na fase, porém, das ocorrências morais, aquelas que ferem os sentimentos que geram perturbação no raciocínio e ameaçam o equilíbrio mental, é que a coragem faz-se testada.
Nesse caso, torna-se constituída pelos elementos da auto-consciência, da compreensão do seu significado existencial e do raciocínio lógico para a diluição do gravame, diminuindo-lhe o significado.
Reconhecendo-se vítima, ou identificando-se como vitimado circunstancialmente pelo ocorrido, a coragem moral acalma as reacções orgânicas, evitando que os sentimentos contraditórios da mágoa, do revide, do ódio se lhe instalem nos painéis da emoção, gerando tumultos íntimos.
A coragem deve ser exercitada em pequenas ocorrências e diferentes cometimentos.
Aceitar o insucesso como uma experiência necessária para assegurar futura vitória, faculta e estimula a coragem para tentames.
A consideração em torno da fragilidade pessoal, tendo em vista a vigilância, dispõe a um comportamento linear e estável de harmonia diante de infortúnios ou de alegrias no transcurso da existência.
Assumir a identidade pessoal, evitando a conduta-espelho, que reflecte os outros em detrimento de si mesmo, propicia coragem para prosseguir de ânimo forte.
Logo surgem as manifestações secundárias da coragem, como servir sem preocupação de encontrar-se bem no contexto social, de fazer o conveniente em detrimento daquilo que deve, adquirindo harmonia interior, que resulta do fenómeno da consciência tranquila.
Confunde-se coragem com intemperança, agressividade, intempestividade, que são, não poucas vezes, reacções do medo expresso ou escamoteado.
A coragem é também terapêutica, porque estimula ao trabalho, à realização de obras dignificadoras, mesmo quando as circunstâncias se fazem desfavoráveis.
Quando se apresentem na conduta receios infundados, insegurança para decidir, dificuldades para comportar-se em equilíbrio, subjazem fenómenos psicológicos de ansiedade e culpa não diluídas. Recursos psicoterapêuticos devem ser buscados, a fim de propiciar a coragem, o valor moral para auto avaliação, sem pieguismo, e transformação interior para melhor, sem pressa.
Como corolário da coragem moral superior, o amor desempenha uma função primordial naquele que se candidata à aquisição da harmonia no processo da sua evolução.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 9:24 pm

19 — Amor
Psico-génese do amor — Desenvolvimento do amor — Sublimação do amor

Psico-génese do amor
O amor é de essência divina, porque nasce na excelsa paternidade de Deus. Emanação sublime, encontra-se ínsito no hálito da vida, quando o psiquismo em forma primitiva mergulha na aglutinação molecular, dando início ao grandioso processo da evolução.
Na sua expressão mais primária, manifesta-se como a força encarregada de unir as partículas, compondo as estruturas minerais, transferindo-se, ao longo dos bilhões de anos, para as organizações vegetais, nas quais desenvolve o embrionário sistema nervoso na seiva que mantém a vida, através do surgimento da sensibilidade.
Um novo processo, que se desdobra por período multimilenar, trabalha a estrutura vibratória da energia psíquica de que se constitui, facultando-lhe o desdobramento das sensações até o momento em que surge o instinto nas formas animais. É nessa fase que se irá modelar o futuro da constituição do ego, enquanto o princípio inteligente, embora adormecido, inicia a elaboração da individualização do Self. A fera que lambe o descendente e o guarda exercita o sentimento de carícia que um dia se transformará em beijos da mãezinha enternecida pelo filho.
A predominância do instinto, na sucessão dos milhares de anos, desenvolverá o sentimento de posse, e este, o do medo da agressão, induzindo comportamento violento em defesa da própria vida.
Ao longo dos milénios, ao alcançar o estado de humanidade, a herança acumulada nos milhões de anos transcorridos no processo de contínuas transformações, desencadeia a preponderância do egocentrismo, de início, seguindo o caminho do egotismo exacerbado até o momento quando ocorre a mudança de nível de consciência adormecida para a desperta, responsável por aquisições emocionais mais enriquecedoras.
É nessa fase de modificações que tem início o sentimento do amor, confundindo-se ainda com as manifestações do instinto em primitivas formas predatórias contra outras expressões de vida, prevalecendo as sensações que, inevitavelmente, rumam para as emoções dignificantes. Somente quando alcança um equânime estado de desenvolvimento é que os sentimentos podem ser educados e exercitados, fornecendo recursos à razão, mediante os equipamentos delicados e próprios para a elaboração da proposta de felicidade. Nada obstante, desde os primórdios do instinto que a educação exercerá uma contribuição fundamental para o crescimento e as aquisições dos valores pertinentes a cada faixa do fenómeno evolutivo.
A conquista da razão, em decorrência dos automatismos inevitáveis da fatalidade antropossociopsicológica, faculta o surgimento da consciência lúcida, que esteve submersa em níveis inferiores, escrava dos impositivos dos instintos primários em prevalência.
Nesse período de crescimento de valores éticos e estéticos, o amor desempenha um papel fundamental, pelo fato de constituir-se em estímulo para conquistas mais avançadas em direcção do futuro.
Da posse perversa e egotista do primarismo à renúncia abnegada do patamar de lucidez espiritual, toda uma larga experimentação, na área das emoções, encarrega-se de limar as arestas do ego, favorecendo o Self com o desabrochar das emoções superiores.
Em razão desse demorado processo, o imediatismo do instinto que domina e frui prazer sensorial, aperfeiçoa--se, tornando-se emoções espirituais que governarão o porvir do ser em desenvolvimento moral.
A necessidade do amor, nesse longo trânsito, apresenta-se como propelente à conquista de mais nobres níveis de consciência, responsáveis pela beleza, pelo conhecimento cultural e moral, pelas realizações afectuosas, pela solidariedade humana, pela conquista holística do pensamento universal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 09, 2024 9:24 pm

Atado, no entanto, às heranças do gozo, às vezes, asselvajado pela imposição grosseira, o Self passa lentamente a administrar os impulsos que se tornam, ao longo das sucessivas reencarnações, mais subtis e nobres, expandindo-se, tornando-se fonte vital de recursos para o progresso e desenvolvimento interior a que está destinado.
Existe um inevitável encadeamento de logros na soberania da vida, que parte do simples para o complexo, da ausência de conhecimento para a sabedoria, mediante a espontaneidade das Soberanas Leis, que elaboram o mecanismo da evolução inevitável.
Uma faísca minúscula responde pela calamidade de um incêndio devorador, desde que encontre combustível próprio para expandir-se.
Da mesma forma o amor, apresentando-se em mínima expressão, nas primárias manifestações, encontrando estímulos, desenvolve os sentimentos e transforma-se em um oceano de riquezas.
A fatalidade da chispa divina que vitaliza os diversos reinos da Natureza é alcançar o estágio de plenitude, de Reino dos Céus, de nirvana.
É totalmente impossível evitar-se o processo de contínuas transformações, desde a essência cósmica que se faz psiquismo individual, mais tarde Espírito pensante, rumando para a sublimidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 10, 2024 11:12 am

Desenvolvimento do amor
Em cada etapa da evolução do ser, o amor experiência manifestações pertinentes ao próprio processo.
Dos impulsos desconexos da protecção às crias, na fase animal, esse psiquismo avança na escala evolutiva sob a contribuição dos sentimentos de defesa e de orientação que surgem nos primórdios da razão, embora sob os impositivos da dor.
O medo, que predomina na natureza animal, transfere-se para o ser humano, que aprende a submeter-se, de modo a poupar-se aos sofrimentos, a diminuir as aflições.
A domesticação da fera transforma-se em educação do indivíduo humano e social, que aprende a discernir e a compreender o significado, o sentido psicológico e real da existência.
Paulatinamente, a sensação do prazer cresce para tornar-se emoção de paz e de felicidade, fundindo a manifestação sensorial em expressão de sentimento que avança da fase física para a psíquica e emocional, através dos feixes nervosos que compõem o corpo sob o comando do Espírito em pleno desenvolvimento. O amor possessivo, herança do pretérito, pode passar pelos dissabores das enfermidades emocionais, levando ao crime, em razão do ciúme, da insegurança, da ausência de auto-estima, de desconforto moral.
Esse desenvolvimento ocorre mediante a contribuição moral do esforço para que o indivíduo adquira independência, seja capaz de amar, após exercitar-se no auto amor, superando os conflitos da insegurança, do medo, das resistências à entrega.
Jornadeando na infância emocional, o ser imaturo deseja receber sem dar, ou quando oferece, espera a retribuição imediata, compensadora e fácil.
Somente após descobrir que a vida é portadora de muitos milagres de doação em todos os aspectos em que se apresente, é que o Self discerne, deixando de ter necessidade de receber para poder regatear emocionalmente, identificando a excelência do acto de amor sem restrições, sem as exigências egóicas que descaracterizam o acto de amar.
O amor é a mais elevada e digna realização do Self, que se identifica plenamente com os valores da vida, passando a expandir-se em formas de edificação em todas as partes. Os atavismos ancestrais, no entanto, estabelecem parâmetros a respeito do sentimento de amor, que não correspondem à realidade, por serem manifestações ainda primárias dos períodos antropológicos vencidos, mas não superados.
Processos educativos castradores, métodos coercitivos de orientação emocional desenvolvem no adolescente e aprofundam mais tarde, nos adultos, conflitos que não existiam na infância, gerando medo, ansiedade e desconfiança em relação às demais criaturas e à sociedade em geral.
A espontaneidade infantil que existia no âmago do Self cede lugar à hipocrisia adulta, à negociação para estar bem, mediante o engodo e a promessa, longe do comportamento natural e afectuoso que deve viger no amor.
As expectativas de quem ama são decorrentes da visão distorcida da realidade afectuosa, esperando plenificar-se com a presença de outrem, esquecendo-se de que ninguém pode proporcionar ao ser mais amado aquilo que não foi gerado nele mesmo. Pode oferecer-lhe estímulos valiosos para o encontro do que já possui em germe, mas não pode transferir-lhe, por mais que o deseje. Da mesma forma, não se consegue infelicitar senão àquele que já mantém o conflito da desarmonia interior, embora submerso em neblina, que vai dissipada pelo calor da realidade, que é a exteriorização do outro conforme é, e não consoante a imagem que se lhe fez.
Na experiência do amor, é indispensável o auto enriquecimento, a fim de poder entender e sentir a manifestação afectuosa do outro que lhe comparte as alegrias e que lhe reparte as satisfações.
A viagem do amor é sempre de dentro para fora, sem ornamentos exteriores, que muitas vezes disfarçam-lhe a ausência em face dos conflitos nos quais o indivíduo se encontra mergulhado.
Por imaturidade psicológica, as pessoas fingem amar, sonham que amam, permutando brindes, que muito bem foram definidos por Erich Fromm e outros autores como a orientação para transacções.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 10, 2024 11:12 am

Acostumadas a negociar, pensam que a experiência do amor deve ser revestida de outros interesses que despertem cobiça e facultem a ansiedade de lucros. Por isso não são capazes de amar realmente, mesmo quando o desejam vitimadas pelo medo de serem ludibriadas, feridas no sentimento, abandonadas ao se entregarem...
Há um esquecimento em torno da emoção de que se pode amar e se deve amar, porém, nunca amar por necessidade de ter um amor.
Por essa razão, o amor resulta de um estado de amadurecimento psicológico do ser humano, que deve treinar as emoções, partilhando os sentimentos com tudo e com todos.
Quando se ama um cão, um gato ou outro animal qualquer, nunca se espera que ele seja algo diferente da própria estrutura ou que alcance um nível impossível na sua faixa evolutiva.
Todavia, quando se ama a outrem, no nível de humanidade, sempre se exige que o outro submeta-se, adquira valores que ainda não possui, cresça ao elevado patamar da expectativa de quem se lhe afeiçoa.
Na educação, erroneamente, há o sistema de punição e de recompensa, raramente de discernimento de valores, referindo-se ao que é verdadeiro e ao que é falso, ao nobre e ao mesquinho, ao digno e ao vulgar. Usa-se a ameaça como forma de impedir-se a repetição dos erros, gerando medo, hipocrisia e fingimento. Assim ocorrendo, como forma de vida, no momento do amor, o fascínio exercido pela função da libido leva à necessidade da conquista de outrem, daquele que lhe desperta o desejo, a qualquer preço, dando lugar a sentimentos que não correspondem à realidade. Passado o período da novidade sexual, caídas as máscaras que foram afixadas na face do outro, daquele que se deseja conquistar, e no qual se projectam valores, beleza e talentos que realmente não possui, vem a decepção, surge o desencanto, e o antes sentimento dito de amor transforma-se em frustração, rebeldia, agressividade e mesmo ódio...
Os relacionamentos afectivos são individuais, transformando o amor em uma emoção responsável, madura, preparada para enfrentamentos e desafios perturbadores, tornando-se gentil e incondicional.
Desse modo, num relacionamento amoroso, são duas metades que se completam, embora possuindo características diferentes que são harmonizadas pelo sentimento afectivo.
Cada um deve manter a preocupação de oferecer mais do que recebe, resultando em constante permuta de emoções felizes. A pessoa que ama deve medir quanto ama, a fim de que mantenha a responsabilidade de levar adiante o compromisso afectivo.
Não havendo essa conscientização, em qualquer circunstância menos agradável, abandona o outro, foge da realidade, sem conseguir evadir-se de si mesmo, o que é mais grave.
Somente ama de fato aquele que é feliz, despojado de conflitos, livre de preconceitos, identificado com a vida.
Normalmente, as pessoas atormentadas pensam que poderão ser felizes quando forem amadas, sem a preocupação de serem aquelas que amam. Na sua inquietação e insegurança, esperam encontrar portos seguros para as embarcações das emoções desordenadas, sem a preocupação de curar-se para navegar em paz...
Não havendo amor interno, asfixiando-se no desespero, transmitem essa sensação estranha e inquietadora, sem condições de saberem receber a bonança que lhes chega, quando as alcança. Logo fazem-se exigentes, ciumentas, vigilantes e apreensivas, em constante ansiedade, temendo perder o que gostariam que lhes pertencesse. Ninguém pode aprisionar o amor, porquanto, se o tenta, asfixia-o, mata-o.
Enquanto viger o interesse físico, a busca da beleza, do contacto sexual em face da atracção irresistível, o amor estará distante, apresentando-se em forma de síndrome de Epimeteu, com todas as consequências da imprevidência, da precipitação, da ansiedade de agir para considerar depois do fato acontecido.
O desenvolvimento do amor faz-se lentamente, conquista a conquista de experiência, de vivência, de entrega...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 10, 2024 11:13 am

Sublimação do amor
O incomparável psicoterapeuta Jesus bem definiu o sentido do amor ao explicar ser ele fundamento essencial a uma existência feliz, conforme a excelente síntese: Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Nessa admirável proposição de terapia libertadora, estão os postulados essenciais do amor que, para fins metodológicos, invertemos a ordem apresentada para nova análise: Amar-se a si mesmo, a fim de amar ao próximo e, por consequência, amar-se a Deus.
O homem e a mulher ocidentais contemporâneos herdaram quase quatrocentos anos de individualismo, de competitivíssimo, cuja conduta se caracteriza pela dominação do outro, do poder acima de qualquer outra condição, gerando incomum ansiedade, desmotivação para os ideais superiores, vazio existencial, insatisfação.
O amor é o oposto desse comportamento, por exigir uma transformação de conceitos existenciais, de condutas emocionais, iniciando-se na reflexão e vivência do auto-amor. Somente é capaz de amar a outrem aquele que se ama. E indispensável, portanto, que nele haja o auto-amor, o auto-respeito, a consciência de dignidade humana, a fim de que as suas aspirações sejam dignificantes, com metas de excelente qualidade.
Amando-se, a si mesmo, o indivíduo amadurece os sentimentos de compreensão da vida, de deveres para com a auto-iluminação, de crescimento moral e espiritual, exercitando-se nos compromissos relevantes que o tornam consciente e responsável pelos seus deveres.
Identificando os valores reais e os imaginários, descobre os limites, as imperfeições que lhe são comuns, e luta, a fim de superá-los, trabalhando-se com empenho e com bondade, sem exigências desnecessárias nem conflitos dispensáveis, perdoando-se quando erra, e repetindo o labor até realizá-lo correctamente.
O amor é um encantamento, uma forma de auto-percepção, em razão de exigir empatia com o outro, de afirmações e de descoberta de potencialidades que se unem em favor de ambos, sem a castração ou impedimento da liberdade.
O amor não pode ser acidental, isto é, biológico ou ocasional. Amar os pais, os irmãos, os familiares, porque tiveram lutas e viveram em função um do outro, não tem cabimento no compromisso do amor. Quando os pais exigem que os filhos os amem, considerando o sacrifício que fizeram para os educar, as renúncias que se impuseram, a fim de que fossem felizes, esse não é um sentimento de amor, porém, de retribuição.
O amor é espontâneo. Além do natural dever de amar os pais e os familiares, ele deve brotar em forma de ternura e de emoção felicitadora, para que se não converta em pagamento.
Em razão disso, os pais também amam por dever, e tudo quanto realizam decorre da alegria de poderem amar, de compensarem as lutas na alegria do educando, sem a espera exigente da retribuição.
Desse modo, o amor não pode gerar dependência, a que se apegam pessoas ansiosas, irrealizadas, vazias, atormentadas, que transferem os seus conflitos para outrem, necessitando de uma segurança que ninguém lhes pode oferecer. Mediante essa conduta, a relação afectiva adquire quase um carácter comercial de trocas e de interesses na busca da satisfação de desejos e de incompletudes, alcançando o lamentável estado de masoquismo parasítico. Nesse jogo de interesses, dois indivíduos solitários encontram-se e, porque desejam um relacionamento de compensação, supõem que se amam, quando, em realidade, estão protegendo-se da solidão, dando lugar a um vazio interior muito maior do que o vivenciado antes.
Quando isso acontece, o relacionamento torna-se gerador de neuroses mais perturbadoras.
Indispensável gerar-se o hábito de amar sem negociar sob qualquer aspecto que se deseje, particularmente, quando se foge para o impositivo evangélico de ganhar o Reino dos Céus.
Com esse exercício, passa-se a compreender o seu próximo, a entender-lhe as dificuldades e as lutas, os esforços nem sempre exitosos e os sacrifícios.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 10, 2024 11:13 am

Da compreensão fraternal vêm o sentimento solidário, a amizade, a não exigência de torná-lo o que ele ainda não consegue ser, terminando por amá-lo. Pode ser inversa a forma: sentir o amor, sem conhecer o outro, porém, à medida que o vai identificando, tem facilidade para aceitá-lo como é, sem as fantasias infantis e mitológicas dos períodos já ultrapassados, com capacidade emocional para perdoar e perseverar nos elevados propósitos do amor.
Na polimorfia das apresentações do amor, ainda predominam os sentimentos apaixonados, resultados de precipitação, de necessidades fisiológicas ou emocionais de acompanhamento, sem o sentido profundo da afeição, com toda a carga de responsabilidade que lhe é peculiar.
O amor é característica definidora de condutas fortes, de indivíduos saudáveis, e não daqueles que se dizem fracos, necessitados, porque, nada possuindo, infelizmente não têm o que dar, esperando sempre receber. E comum dizer-se, na cultura hodierna, que as pessoas fracas muito amam, olvidando-se que essa conduta é interesseira, ansiosa por protecção, pela cobertura emocional e física de outrem...Para que haja ternura no relacionamento, é necessário que existam forças morais para superarem dificuldades, e quanto mais se entrega, mais alto nível de doação alcança, sem que perca a individualidade, suas metas, seus sonhos...
Quando alguém se convence de que é fácil amar, num comportamento realista, faculta-se a disposição de abandonar as máscaras ilusórias e fantasistas com que muitos vestem o amor, permitindo-se a realização pessoal psicológica no ato da afeição.
Logo, assim conduzindo-se, o ser humano passa a amar a Deus, na plenitude da vida que descobre rica de bênçãos em toda parte.
Encontra-O em toda parte, sente-O em tudo e em todos, vive-O emocionadamente onde se encontra, conforme se comporta, aspirando-Lhe o alento vivificador.
Desse modo, o amor é influxo divino que alcança o ser nos primórdios do seu processo de evolução e que se desenvolve, crescendo, até poder retornar à Fonte Criadora.
Sublime, em qualquer expressão em que se apresente, é a presença da harmonia que deve vibrar no sentimento humano. Partindo das manifestações dos desejos sexuais até as expressões de renúncia e santificação, o amor é o mais eficaz processo psicoterapêutico que existe, ao alcance de todos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 10, 2024 11:14 am

20 — Morte
Fisiologia da morte — Inevitabilidade da morte — Libertação pela morte

Fisiologia Da Morte
A fatal idade biológica estabelece que tudo quanto nasce, morre. O processo de desenvolvimento celular, nas suas contínuas transformações, alcança um momento no qual cessa, dando início a outra ordem de fenómenos transformadores.
Por mais envolta em mitos e tradições, mascarando--se e confundindo o pensamento humano, a morte consiste na interrupção dos procedimentos vitais que mantêm o organismo em actividade, determinando-lhe a cessação.
Desde os primórdios do pensamento, que se tem conhecimento de que a morte se afigura como parte da vida, por uns considerada como etapa final do ser e por outros aceita como inevitável, ensejando novas experiências transcendentais.
No arquipélago constituído por aproximadamente setenta triliões de células que constituem o corpo humano adulto, as suas transformações apresentam-se incessantes, de forma que a complexa máquina orgânica prossiga em trabalho harmónico.
A cada segundo morrem trinta milhões de hemácias que são substituídas por outras. Da mesma maneira, em cada quinze minutos, uma parte expressiva do corpo cede lugar a outra substituta, graças à qual a vida prossegue inalterada.
A memória das células, por meio de admirável automatismo, repete as experiências das anteriores, de maneira que os fenómenos que produzem continuem no mesmo ritmo, até o momento quando, perdendo-a, por factores diversos, abre espaço à multiplicação desordenada que dá origem aos tumores...
Preservar o corpo dos agentes destrutivos tem sido a luta da inteligência, hoje através da Ciência e da Tecnologia, de maneira a mantê-lo saudável e operacional, facultando prazer e felicidade.
Apesar disso, o mistério da morte - o que acontece durante e depois dessa etapa — ensejou à Filosofia as reflexões que deram margem ao surgimento de inúmeras escolas de estudos, de debates, de lutas, algumas encarniçadas...
Se, de um lado, quando ocorrem insucessos e sofrimentos na existência, a busca da morte tem sido algo perturbador, como solução enganosa, em luta feroz contra o instinto de conservação, sob outro aspecto, persiste um desejo predominante em a natureza humana para driblá-la, prolongando a vida e tornando-a eterna no corpo físico...Há uma tradição na Odisseia, em que as sereias invejaram Ulisses por ser ele mortal, enquanto elas permaneciam nesse estado saturador de imortalidade física.
Por outro lado, nas Viagens Maravilhosas de Gulliver, este visita um país no qual em cada cem anos nascia uma geração de imortais físicos. Como era natural, Gulliver desejou conhecer alguns daqueles que haviam superado a fatalidade biológica, sendo levado a uma enfermaria onde estavam os macróbios multisseculares, em estado deplorável de degeneração orgânica, com os membros deformados, decompondo-se em vida, em razão da putrescibilidade da matéria de que se constituíam.
É de todo inevitável a desorganização dos tecidos fisiológicos em face da transitoriedade de que se constituem. Após o nascimento do corpo, a fatalidade biológica, responsável pelas transformações, leva-o ao amadurecimento, à velhice e à morte das suas formas.
Neste mundo relativo, toda organização tende à desagregação imposta através da Lei de Entropia, responsável pela quantidade de desordem de qualquer sistema.
Dessa maneira, toda forma organizada marcha para o caos. Não poderia o corpo humano, em carácter de excepção, encontrar energia suficiente para uma infinita permuta de calor que se fizesse responsável pela manutenção do seu sistema, da sua organização molecular.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 10, 2024 11:14 am

E necessário que haja a morte orgânica, a fim de que ocorram alterações, aperfeiçoamentos. Tem sido por meio do processo nascer, viver, morrer, que as formas aprimoraram-se através dos milhões de anos, em sucessivas experiências, agasalhando o princípio espiritual que as vem modelando, na busca de melhor estrutura e mais perfeita harmonia.
Morre uma organização celular, facultando o surgimento de outra, como acontece com a planta vergastada pela tormenta que, logo após, se renova com exuberância.
Essa sombra, conforme Platão denominava o corpo, é temporária residência do ser, o Espírito imortal.
A consumpção, porém, é apenas aparente, porquanto as moléculas que o constituem voltam a reunir-se formando outras expressões materiais.
O aniquilamento é pobre visão dos débeis órgãos dos sentidos. O importante, dessa forma, durante a existência física, não é a durabilidade em que se estrutura, mas a maneira como é vivida em profundidade, mediante a conscientização de cada momento, exornando-a de beleza e de alegria.
O temor da morte, por um lado, é resultado de atavismos arcaicos, dos pavores das forças ignotas da Natureza, quando o homem primitivo lhes sofria o terrível guante, dos medos das eternas punições, sem misericórdia nem compaixão, das fantasias perversas que foram inculcadas através dos milénios na mente humana. Por outro, é também o receio do enfrentamento da consciência que se desvela, por ocasião do renascimento espiritual além das cinzas e do pó orgânicos, desnudando o ser. Ainda pode resultar da cultura materialista, que a considera como o apagar da memória, da inteligência, o destruir da razão, dessa maneira, o retorno ao nada...
O quimismo cerebral, por mais se estabeleçam teorias em torno da sua responsabilidade na construção do pensamento, da consciência, da razão, não consegue oferecer a visão real em torno da lógica do existir, dos raciocínios abstratos, como resultado de conexões neuroniais, facultando elucubrações e concepções audaciosas.
O cérebro não produz a mente, razão pela qual a sua morte não deve constituir motivo de temor.
Transtornos depressivos graves também ocorrem como efeito do pavor da morte, induzindo os pacientes a fugirem das reflexões saudáveis para mergulhar, embora sem o desejar, naquilo que receiam.
A única atitude lógica diante da morte é a fixação na vida e nas suas concessões, experienciando cada momento de forma adequada, mesmo quando tudo aparentemente conspira contra essa atitude.
No diálogo com os seus juízes, Sócrates assim se expressa:
"De duas uma: ou a morte é uma destruição absoluta, ou é passagem da alma para outro lugar. Se tudo tem que extinguir-se, a morte será como uma dessas raras noites que passamos sem sonho e sem nenhuma consciência de nós mesmos. Porém, se a morte é apenas uma mudança de morada, a passagem para o lugar onde os mortos se têm de reunir, que felicidade a de encontrarmos lá aqueles a quem conhecemos! O meu maior prazer seria examinar de perto os habitantes dessa outra morada e de distinguir lá, como aqui, os que são dignos dos que se julgam tais e não o são. Mas, é tempo de nos separarmos, eu para morrer, vós para viverdes."
(KARDEC, Allan: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Introdução.)
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 10, 2024 11:15 am

Inevitabilidade da morte
Não se pode estabelecer por definitivo quando ocorrerá a disjunção molecular. Factores complexos, que procedem de existências transactas e realizações atuais, postergam ou antecipam o instante da desencarnação, que pode ser por procedimentos fatais, denominados como tragédias, ou acidentes de qualquer natureza, mediante o curso de enfermidades de breve ou de larga duração.
Indispensável estar-se consciente da ocorrência que terá lugar no momento adequado, nada obstante, sem assumir qualquer tipo de expressão de infelicidade ou de desgosto.
O suceder do tempo é instrumento de aproximação do momento libertador. Quanto mais se vivência o corpo, mais próxima se encontra a ocasião transformadora da sua estrutura.
Eis por que se deve viver em harmonia em todos os instantes, acumulando experiências, adquirindo sabedoria, evitando ideações perturbadoras que sempre se transformam em conflitos e desequilíbrios. Quando se está diante de acontecimentos inesperados, torna-se indispensável a manutenção do pensamento em torno da brevidade do corpo e da perenidade do Espírito, preparando-se para que, a qualquer instante, haja a interrupção do fluxo vital.
As enfermidades, quando se instalam, apresentando--se como veículo da futura disjunção celular, sempre produzem estados inquietadores, especialmente naqueles que consideram a viagem carnal como única.
Ao tomar conhecimento do diagnóstico afligente de terapia não solucionadora, é normal que, no indivíduo desprevenido, irrompa um sentimento de ira, de revolta contra o mundo, as demais pessoas ou si mesmo, em mecanismo tormentoso de transferir culpas e responsabilidades, como se não viesse a ocorrer o mesmo drama além das suas fronteiras.
Nesse estágio, as interrogações são injustificadas: Por que eu?
Com tanta gente no mundo, logo eu, que fui acometido dessa doença perversa?
Em realidade, milhões de outros indivíduos experimentam o mesmo transe, porque a enfermidade faz parte do processo de degenerescência do corpo. Algumas já se encontram eficazmente combatidas, enquanto outras somente agora estão sendo detectadas, graças aos equipamentos sofisticados, ao conhecimento mais profundo sobre o organismo, e outras ainda são de origem recente, em decorrência de factores igualmente destruidores.
E comum suceder nesse período um sentimento de negação da doença, como reacção ao que se considera como uma injustiça da vida ou da Divindade, quando o paciente vincula-se a alguma crença religiosa teórica.
Porque o problema permanece, mesmo sem superar essa fase, o doente entra em um outro comportamento, que é o de falsa esperança em torno de alguma solução, em vã expectativa de milagre ou terapêutica ainda não tentada, que ocasionará a reconquista da saúde, que nem sempre mereceu os cuidados adequados enquanto vigia no organismo.
Portadores de problemas causados pela drogadição, pelo alcoolismo, pelo tabagismo, sempre quando se encontram sob o látego rigoroso dos processos degenerativos, consequência do vício infeliz, costumam justificar-se que já o abandonaram e não compreendem como se encontram numa situação deplorável dessa natureza. Não se querem dar conta de que o mecanismo de destruição foi de largo porte e já realizou o seu mister. Desvincular-se do vício não proporciona recuperação dos tecidos gastos, daqueles que foram destruídos, dos danos causados de maneira irreversível.
Apenas faculta alguma sobrevida assinalada pelo sofrimento, pela amargura que provém do arrependimento tardio.
Surgem, normalmente, nessa oportunidade, amigos desavisados que apresentam propostas ilusórias, facultando negociações com o Criador, como se a transformação moral do indivíduo não fosse um processo edificante para ele mesmo. Fica-lhe então a falsa ideai de que havendo uma modificação no comportamento moral e mental, através de promessas que certamente não serão cumpridas, advirá a alforria, e a morte não terá o seu curso natural.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 10, 2024 11:17 am

Como consequência, porque não ocorre nenhuma transformação conforme esperava, o desânimo se apossa do paciente, que entra em depressão e mágoa, enquanto silenciando e fechando-se em angústia, como se essa atitude pudesse trazer-lhe conforto e libertação. Toda a existência deve ser utilizada para vivenciar-se o processo de evolução, e não apenas para deixar-se arrastar pelas sensações do prazer em espectáculos de egoísmo incessante, longe da responsabilidade e dos deveres morais.
Por fim, o paciente desperta para a realidade do que lhe sucede e permite-se conduzir pelos processos naturais do organismo, algumas vezes adquirindo forças e resignação, também decorrentes do auxílio que lhe é ministrado pelos Espíritos guias que o preparam para a libertação que não tardará.
A morte física deve ser sempre encarada como fenómeno normal, que o é, do processo existencial...
Quando ocorram distúrbios orgânicos prenunciadores da desencarnação, que não se façam acompanhar de dissabores nem de sofrimentos demasiados, transformando a ocorrência em maravilhoso dom de espera, fruindo-se as concessões da vida, que prossegue e pode ser experienciada de outra maneira que não a habitual.
Quando o príncipe Siddhartha Gautama realizou a sua viagem pelo interior do seu país, a fim de conhecer a vida, ao defrontar a velhice, a enfermidade e a morte, compreendeu de imediato a vacuidade das ilusões, e buscou interpretar o sentido existencial, o objectivo psicológico da caminhada humana. Reflexionando, mergulhando no profundo abismo de si mesmo, constatou que tudo são sofrimentos necessários ao aprimoramento do ser real — o Espírito imortal!
Todo indivíduo inteligente deve interrogar-se em torno da transitoriedade do corpo físico e dos objectivos da vida humana, meditando com equilíbrio, a fim de encontrar as respostas sábias para aplicá-las no quotidiano.
Uma doença grave, uma paralisia, uma amputação ou qualquer outra ocorrência prenunciadora de morte não deve destruir ou perturbar os dias de que se dispõe, sendo viável que o paciente adopte uma conduta edificante, propiciadora de bem-estar para si e
de satisfação para aqueles com os quais convive.
A morte não tem o direito de esfacelar os afectos, de desarmonizar os sentimentos, de perturbar a marcha da evolução, porque, em vez de destruir a vida, somente transfere o viajante para outra dimensão, para outra realidade, facultando-lhe a continuação dos anelos, o prosseguimento da afectividade, a ampliação da esperança em torno de melhores dias do futuro. E normal que, desejando-se viver, a velhice, a enfermidade e a morte sigam empós.
Há muita beleza em todas as expressões da vida, particularmente na etapa terminal da existência, bastando que se adquira a óptica própria e se adaptem os sentimentos à situação na qual se transita.
Psicologicamente, a felicidade pode apresentar-se de maneiras variadas, apenas alterando a face da realidade que se deve adaptar às circunstâncias do momento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 10, 2024 11:17 am

Libertação pela morte
O corpo é, portanto, abençoado presídio celular temporário que retém o Espírito, impedindo-lhe a lucidez plena da realidade, facultando-lhe o germinar das divinas potências que lhe jazem adormecidas no imo e que procedem de Deus, herdeiro que é das Suas sublimes concessões.
A morte, desse modo, deve ser cuidadosamente estudada e comentada em todas as oportunidades existenciais, a fim de que seja liberada dos artifícios que lhe foram colocados pela ignorância e pelas religiões do passado.
Fazendo parte do processo normal da vida, não pode ser deixada à margem dos acontecimentos, como se merecesse consideração apenas quando se apresenta, arrebatando um ser querido ou anunciando-se como preparada para conduzir o próprio indivíduo.
Educando-se o cidadão com vistas ao seu triunfo social e económico, moral e cultural, é necessário colocar-se também em pauta uma programação para a conscientização em torno da morte, tendo em vista ser uma fatalidade da qual ninguém se livra. Preparando-se para morrer de maneira digna e natural, o ser humano altera completamente a paisagem social em que se encontra, por estabelecer condições para que o fenómeno transcorra sem choque nem traumatismo, ante a certeza do reencontro que facultará o prosseguimento das afeições, a liberação das mágoas, a ampliação da capacidade de compreender e de desenvolver os valores espirituais que exornam a todos.
Muitos males podem ser evitados, quando se estabelece um programa consciente para a morte, que faculta aquisição de recursos morais de imediata aplicação, capacitando o ser humano para a compreensão da jornada efémera em que se encontra e do prosseguimento da realidade que enfrentará após o despir dos trajes orgânicos.
Mantida como um mito que somente alcança os demais, sempre quando se anuncia, causa pânico, revolta, desequilíbrios outros que esfacelam os ideais em que se apoiam os indivíduos, quando não os precipitam, paradoxalmente, na sua direcção, mediante atitudes perversas das extravagâncias com as quais se pretende desfrutar os últimos dias de vida ou o hediondo suicídio...Esse engodo em torno da perenidade do corpo tem sido responsável pela amargura em que muitos se afundam quando convidados a reflexionar em torno da morte de outrem que lhe é querido, ou tem-se tornado responsável pelo desequilíbrio de diversos, não raro arrebatando outras existências também, que não se conformaram com a ocorrência previsível...
A inevitabilidade do acontecimento exige que se tenha sempre em consideração o seu impositivo, de modo que as ilusões cedam lugar à realidade, e mesmo as fantasias que constituem recurso de devaneio e de prazer para muitos, sejam diluídas sem aflições nem desencantos.
Dessa maneira, surgem os compromissos com os actos saudáveis, os pensamentos correctos e as confabulações edificantes, propiciando valores emocionais que libertam das injunções fisiológicas após a ocorrência libertadora.
Quando isso não se dá, as fixações doentias, os hábitos insanos, as condutas perturbadoras atam o Espírito a essas e outras paixões, proporcionando-lhe sofrimentos inimagináveis, até que se diluam os vestígios materiais pela decomposição cadavérica. Mesmo quando isso ocorre, as impressões permanecem dando a ilusão de que não houve a interrupção da organização material, e o Espírito, alucinando-se, nega-se a compreender o estado em que se encontra, tombando em distúrbios complexos e aflitivos.
O amadurecimento psicológico do indivíduo trabalha-o para considerar que, por mais longa se lhe apresente a existência, chegará sempre o momento em que será interrompida, e, dessa forma, equipa-se de sentimentos de renúncia e de abnegação, tornando-se grato pelas experiências adquiridas, assim como anelando pela conquista de outras realizações enobrecedoras.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 10, 2024 11:19 am

A saúde emocional legítima examina o fenómeno desencarnatório sem abrir campo a qualquer tipo de transtorno, proporcionando uma vivência significativa e profunda de cada instante, de cada realização, de todo sentimento expresso.
A conscientização, portanto, em torno da efemeridade da vilegiatura carnal, amadurece os sentimentos, que se desapegam da posse e superam os caprichos do ego, dando maior valor às realizações do Self, que passa a merecer melhor contribuição de esforços e de actividades iluminativas. A psicoterapia preventiva trabalha em favor da auto-consciência em torno da vida e da morte, constituindo a realidade única, a imortalidade do Espírito.
A psicoterapia curadora, quando a morte ameaça ou arrebata alguém muito caro, propõe o despertar da razão, sem pieguismo nem rebeliões, objectivando a análise directa e sem disfarce das vantagens de que se reveste a diluição do corpo, candidato ao envelhecimento, às desorganizações, à perda da estrutura com que se apresenta.
Livre do medo da morte, o cidadão avança pelos rios do destino na barca da auto-confiança, desbravando os continentes existenciais com alegria, sem qualquer tipo de limite, porque o seu horizonte é o Infinito para onde ruma.


Joanna de Ângelis, que realiza uma experiência educativa e evangélica de altíssimo valor, tem sido, nas suas diversas reencarnações, colaboradora de Jesus: a última ocorrida em Salvador (1761 - 1822), como Sóror Joana Angélica de Jesus, tornando-se Mártir da Independência do Brasil; na penúltima, vivida no México (1651 - 1695), como Sor Juana Inês de la Cruz, foi a maior poetisa da língua hispânica.
Vivera na época de São Francisco (século XIII), conforme se apresentou a Divaldo Franco, em Assis.
Também vivera no século I, como Joana de Cusa, piedosa mulher citada no Evangelho, que foi queimada viva ao lado do filho e de cristãos outros no Coliseu de Roma.
Até o momento, por intermédio da psicografia de Divaldo Franco, é autora de mais de 60 obras, 31 das quais traduzidas para oito idiomas e cinco transcritas em Braille.
Além dessas obras, já escreveu milhares de belíssimas mensagens.

FIM

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