LUZ ESPÍRITA
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Série Psicológica Vol. 2 - O homem integral - Joanna de Angelis

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 07, 2012 9:56 am

O HOMEM INTEGRAL
DIVALDO P. FRANCO

DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS

Série Psicológica Vol. 2

ÍNDICE

O Homem Integral

PRIMEIRA PARTE


CAPÍTULO 1 = FACTORES DE PERTURBAÇÃO
CAPÍTULO 2 = A rotina
CAPÍTULO 3 = A ansiedade
CAPÍTULO 4 = Medo
CAPÍTULO 5 = Solidão
CAPÍTULO 6 = Liberdade

SEGUNDA PARTE - ESTRANHOS RUMOS, SEGUROS ROTEIROS

CAPÍTULO 7 = Homens-aparência
CAPÍTULO 8 = Fobia social
CAPÍTULO 9 = Ódio e suicídio
CAPÍTULO 10 = Mitos

TERCEIRA PARTE - A BUSCA DA REALIDADE

CAPÍTULO 11 = Auto-descobrimento
CAPÍTULO 12 = Consciência ética
CAPÍTULO 13 = Religião e religiosidade

QUARTA PARTE - O HOMEM EM BUSCA DO ÊXITO

CAPÍTULO 14 = Insegurança e crises
CAPÍTULO 15 = Conflitos degenerativos da sociedade
CAPÍTULO 16 = O primeiro lugar e o homem indispensável

QUINTA PARTE - DOENÇAS CONTEMPORÂNEAS

CAPÍTULO 17 = O conceito de saúde
CAPÍTULO 18 = Os comportamentos neuróticos

CAPÍTULO 19 = Doenças físicas e mentais
CAPÍTULO 20 = A tragédia do quotidiano
CAPÍTULO 21 = O homem moderno


Última edição por Ave sem Ninho em Sáb Dez 23, 2023 10:06 pm, editado 4 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 07, 2012 9:57 am

SEXTA PARTE - MATURIDADE PSICOLÓGICA

CAPÍTULO 22 = Mecanismos de evasão
CAPÍTULO 23 = O problema do espaço
CAPÍTULO 24 = A reconquista da identidade

CAPÍTULO 25 = Ter e ser
CAPÍTULO 26 = Observador, observação e observado
CAPÍTULO 27 = O devir psicológico

SÉTIMA PARTE - PLENIFICAÇÃO INTERIOR

CAPÍTULO 28 = Problemas sexuais
CAPÍTULO 29 = Relacionamentos perturbadores

CAPÍTULO 30 = Manutenção de propósitos
CAPÍTULO 31 = Leis cármicas e felicidade

OITAVA PARTE - O HOMEM PERANTE A CONSCIÊNCIA

CAPÍTULO 32 = Nascimento da consciência
CAPÍTULO 33 = Os sofrimentos humanos

CAPÍTULO 34 = Recursos para a liberação dos sofrimentos
CAPÍTULO 35 = Meditação e acção

NONA PARTE - O FUTURO DO HOMEM

CAPÍTULO 36 = A morte e seu problema
CAPÍTULO 37 = A controvertida comunicação dos Espíritos

CAPÍTULO 38 = O modelo organizador biológico
CAPÍTULO 39 = A reencarnação
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 07, 2012 9:57 am

O Homem Integral

As enciclopédias definem o homem como um “animal racional, moral e social, mamífero, bípede, bímano, capaz de linguagem articulada, que ocupa o primeiro lugar na escala zoológica; ser humano...”

O momento mais eloquente do seu processo evolutivo deu-se quando adquiriu a consciência para discernir o bem do mal, a verdade da impostura, o certo do errado, prosseguindo na marcha ascensional que o conduzirá às culminâncias da angelitude.

Estudado largamente através dos séculos, Pitágoras afirmava que ele (o homem) é a medida de todas as coisas, enquanto Sócrates elucidava ser o objecto mais directo da preocupação filosófica.

Durante o estoicismo e o neoplatonismo houve uma preocupação para que ocorresse a “dissolução do homem em a Natureza”, mesmo aí revelando a grande preocupação de ambas as escolas com este ser admirável.

Na conceituação cristã ele “transcende o mundo”, em uma dimensão totalmente diferente desta.

Já o racionalismo o considera, desde Descartes, como o “ser pensante por excelência, como a razão que compreende e explica o mundo e a si mesma.”

No espiritualismo idealista o “espírito tem a primazia em tudo que se relaciona com o mundo e a vida humana”, enquanto que para o materialismo o “espírito não é mais que uma forma de actividade da matéria que, em determinada fase de sua evolução, de formas simples para outras mais complexas, adquiriu consciência...”

Mivart, o célebre naturalista inglês, analisando, psicologicamente, o homem, esclarece que ele “difere dos outros animais pelas características da abstracção, da percepção intelectual, da consciência de si mesmo, da reflexão, da memória racional, do julgamento, da síntese e indução intelectual, do raciocínio, da intuição intelectual, das emoções e sentimentos superiores, da linguagem racional, do verdadeiro poder de vontade.”

Sócrates e Platão estabeleceram que o homem era o resultado do ser ou Espírito imortal e do não ser ou sua matéria que, unidos, lhe facultavam o processo de evolução.

Os filósofos atomistas reduziam-no ao capricho das partículas que, em se desarticulando, aniquilavam-se através do fenómeno biológico da morte.

Jesus, superando todos os limites do conhecimento, fez-se o biótipo do Homem Integral, por haver desenvolvido todas as aptidões herdadas de Deus, na condição de ser mais perfeito de que se tem notícia.

Toda a Sua vida é modelar, tornando-se o exemplo a ser seguido, para o logro da plenitude, de quem deseja libertação real.

A Filosofia, mediante as suas diversas escolas, tem procurado oferecer ao homem caminhos que o felicitem em contínuas tentativas de interpretar a vida e entendê-lo.

A Psicologia, que inicialmente se confundia com a estrutura filosófica, de passo em passo libertou-se de seu jugo e, buscando estudar a psique, alcançou, na actualidade, expressão de relevo para a compreensão do homem, dos seus problemas e seus desafios psicológicos.

A multiplicidade de tendências ora vigentes, nessa área, comprova o interesse dos estudiosos desta e de outras disciplinas do conhecimento, buscando a libertação do indivíduo em relação aos desafios e dificuldades que o afligem.

Algo recentemente (1966) surgiu, nos Estados Unidos, a quarta força em Psicologia, que é a Transpessoal, ampliando o campo de investigação além do Behaviorismo, da Psicanálise e da Psicologia Humanista, fornecendo mais amplos esclarecimentos sobre o homem integral...

Os seus pioneiros vieram dos quadros da Psicologia Humanista, facultando a introdução de alguns ensinamentos e experiências orientais, graças aos quais abrem espaços para uma visão espiritualista do ser humano em maior profundidade.

O Espiritismo, por sua vez, sintetizando diversas correntes de pensamento psicológico e estudando o homem na sua condição de Espírito eterno, apresenta a proposta de um comportamento filosófico idealista, imortalista, auxiliando-o na equação dos seus problemas, sem violência e com base na reencarnação, apontando-lhe os rumos felizes que deve seguir.

Na presente Obra fazemos um estudo de diversos factores de perturbação psicológica, procurando oferecer terapias de fácil aplicação, fundamentadas na análise do homem à luz do Evangelho e do Espiritismo, de forma a auxiliá-lo no equilíbrio e no amadurecimento emocional, tendo sempre como ser ideal Jesus, o Homem Integral de todos os tempos.

Embora reconheçamos singela a nossa contribuição, esperamos de alguma forma auxiliar aqueles que nos leiam com real desejo de renovação e de aquisição de saúde psicológica, consciente de havermos feito o máximo ao nosso alcance, neste grave momento da Humanidade.

Salvador, 20 de fevereiro de 1990.
Joanna de Ângelis
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 07, 2012 9:57 am

PRIMEIRA PARTE

1 - FACTORES DE PERTURBAÇÃO


A segunda metade do Século 19 transcorre numa Eurásia sacudida pelas contínuas calamidades guerreiras, que se sucedem, truanescas, dizimando vidas e povos.

As admiráveis conquistas da Ciência que se apoia na Tecnologia, não logram harmonizar o homem belicoso e insatisfeito, que se deixa dominar pela vaga do materialismo-utilitarista, que o transforma num amontoado orgânico que pensa, a caminho de aniquilamento no túmulo.

Possuir, dominar e gozar por um momento, são a meta a que se atira, desarvorado.

Mal se encerra a guerra da Criméia, em 1856, e já se inquietam os exércitos para a hecatombe franco-prussiana, cujos efeitos estouram em 1914, envolvendo o imenso continente na loucura selvagem que ameaça de consumição a tudo e a todos.

O Armistício, assinado em nome da paz, fomentou o explodir da Segunda Guerra Mundial, que sacudiu o Orbe em seus quadrantes.

Somando-se efeitos a novas causas, surge a Guerra Fria, que se expande pelo sudeste asiático em contínuos conflitos lamentáveis, em nome de ideologias alienígenas, disfarçadas de interesses nacionais, nos quais, os armamentos superados são utilizados, abrindo espaços nos depósitos para outros mais sofisticados e destrutivos...

Abrem-se chagas purulentas que aturdem o pensamento, dores inomináveis rasgam os sentimentos asselvajando os indivíduos.

O medo e o cinismo dão-se as mãos em conciliábulo irreconciliável.

A Guerra dos seis dias, entre árabes e judeus, abre sulcos profundos na economia mundial, erguendo o deus petróleo a uma condição jamais esperada.

Os holocaustos sucedem-se.
Os crimes hediondos em nome da liberdade se acumulam e os tribunais de justiça os apoiam.

O homem é reduzido à ínfima condição no “apartheid”, nas lutas de classes, na ingestão e uso de alcoólicos e drogas alucinógenas como abismo de fuga para a loucura e o suicídio.

Movimentos filosóficos absurdos arregimentam as mentes jovens e desiludidas em nome do Nadaísmo, do Existencialismo, do Hippieísmo e de comportamentos extravagantes mais recentes, mais agressivos, mais primários, mais violentos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 07, 2012 9:58 am

O homem moderno estertora, enquanto viaja em naves super confortáveis fora da atmosfera e dentro dela, vencendo as distâncias, interpretando os desafios e enigmas cósmicos.

A sonda investigadora penetra o âmago da vida microscópica e abre todo um universo para informações e esclarecimentos salvadores.

Há esperança para terríveis enfermidades que destruíram gerações, enquanto surgem novas doenças totalmente perturbadoras.

A perplexidade domina as paisagens humanas.
A gritante miséria económica e o agressivo abandono social fazem das cidades hodiernas o palco para o crime, no qual a criatura vale o que conduz, perdendo os bens materiais e a vida em circunstâncias inimagináveis.

Há uma psicosfera de temor asfixiante enquanto emerge do imo do homem a indiferença pela ordem, pelos valores éticos, pela existência corporal.

Desumaniza-se o indivíduo, entregando-se ao pavor, ou gerando-o, ou indiferente a ele.
Os distúrbios de comportamento aumentam e o despautério desgoverna.

Uma imediata, urgente reacção emocional, cultural, religiosa, psicológica, surge, e o homem voltará a identificar-se consigo mesmo.

A sua identidade cósmica é o primeiro passo a dar, abrindo-se ao amor, que gera confiança, que arranca da negação e o irisa de luz, de beleza, de esperança.

A grande noite que constringe é, também, o início da alvorada que surge.

Neste homem atribulado dos nossos dias, a Divindade deposita a confiança em favor de uma renovação para um mundo melhor e uma sociedade mais feliz.

Buscar os valores que lhe dormem soterrados no íntimo é a razão de sua existência corporal, no momento.

Encontrar-se com a vida, enfrentá-la e triunfar, eis o seu fanal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 07, 2012 9:58 am

2 - A rotina

A natural transformação social, decorrente dos efeitos da ciência aliada à tecnologia a partir do século 19, impôs que o individualismo competitivo pós renascentista cedesse lugar ao colectivismo industrial e comunitário da actualidade.

A cisão decorrente do pensamento cartesiano, na dicotomia do corpo e da alma, ensejou uma radical mudança nos hábitos da sociedade, dando surgimento a uma série de conflitos que irrompem na personalidade humana e conduzem a alienações perturbadoras.

Antes, os tabus e as superstições geravam comportamentos extravagantes, e a falsa moral mascarava os erros que se tornavam factores de desagregação da personalidade, a serviço da hipocrisia refinada.

A mudança de hábitos, no entanto, se liberou o homem de algumas fobias e mecanismos de evasão perniciosos, impôs outros padrões comportamentais de massificação, nos quais surgem novos ídolos e mitos devoradores, que respondem por equivalentes fenómenos de desequilíbrio.

Houve troca de conduta, mas não de renovação saudável na forma de encarar-se a vida e de vivê-la.

De um lado, a ciência em constante progresso, não se fazendo acompanhar por um correspondente desenvolvimento ético-espiritual, candidata-se a conduzir o homem ao milismo, ao conceito de aniquilamento.

Noutro sentido, o contubérnio subjacente, apresenta um elenco exasperador de áreas conflitantes nas guerras e ameaças de guerras que se sucedem, nas variações da economia, nos volumosos bolsões de miséria de vária ordem, empurrando o homem para a ansiedade, a insegurança, a suspeição contumaz, a violência.

A fim de fugir à luta desigual — o homem contra a máquina — os mecanismos responsáveis pela segurança emocional levam o indivíduo, que não se encoraja ao competitivísmo doentio, à acomodação, igualmente enferma, como forma de sobrevivência no báratro em que se encontra, receando ser vencido, esmagado ou consumido pela massa crescente ou pelo desespero avassalador.

Estabelece algumas poucas metas, que conquista com relativa facilidade, passando a uma existência rotineira e neurotizante, que culmina por matar-lhe o entusiasmo de viver, os estímulos para enfrentar desafios novos.

Rotina é como ferrugem na engrenagem de preciosa maquinaria, que a corrói e arrebenta.

Disfarçada como segurança, emperra o carro do progresso social e automatiza a mente, que cede o campo do raciocínio ao mesmismo cansador, deprimente.

O homem repete a acção de ontem com igual intensidade hoje; trabalha no mesmo labor e recompõe idênticos passos; mantém as mesmas desinteressantes conversações:
retorna ao lar ou busca os repetidos espairecimentos:
bar, clube, televisão, jornal, sexo, com frenético receio da solidão, até alcançar a aposentadoria..

Nesse ínterim, realiza férias programadas, visita lugares que o desagradam, porém reúne-se a outros grupos igualmente tediosos e, quando chega ao denominado período do gozo-repouso, deixa-se arrastar pela inutilidade agradável, vitimado por problemas cardíacos, que resultam das pressões largamente sustentadas ou por neuroses que a monotonia engendra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 07, 2012 9:58 am

O homem é um mamífero biossocial, construído para experiências e iniciativas constantes, renovadoras.

A sua vida é resultado de bilhões de anos de transformações celulares, sob o comando do Espírito, que elaborou equipamentos orgânicos e psíquicos para as respostas evolutivas que a futura perfeição lhe exige.

O trabalho constitui-lhe estímulo aos valores que lhe dormem latentes, aguardando despertamento, ampliação, desdobramento.

Deixando que esse potencial permaneça inactivo por indolência ou rotina, a frustração emocional entorpece os sentimentos do ser ou leva-o à violência, ao crime, como processo de libertação da masmorra que ele mesmo construiu, nela encarcerando-se.

Subitamente, qual correnteza contida que arrebenta a barragem, rompe os limites do habitual e dá vazão aos conflitos, aos instintos agressivos, tombando em processos alucinados de desequilíbrios e choque.

Nesse sentido, os suportes morais e espirituais contribuem para a mudança da rotina, abrindo espaços mentais e emocionais para o idealismo do amor ao próximo, da solidariedade, dos serviços de enobrecimento humano.

O homem se deve renovar incessantemente, alterando para melhor os hábitos e actividades, motivando-se para o aprimoramento íntimo, com consequente movimentação das forças que fomentam o progresso pessoal e comunitário, a benefício da sociedade em geral.

Face a esse esforço e empenho, o homem interior sobrepõe-se ao exterior, social, trabalhado pelos atavismos das repressões e castrações, propondo conceitos mais dignos de convivência humana, em consonância com as ambições espirituais que lhe passam a comandar as disposições íntimas.

O excesso de tecnologia, que aparentemente resolveria os problemas humanos, engendrou novos dramas e conflitos comportamentais, na rotina degradante, que necessitam ser reexaminados para posterior correcção.

O individualismo, que deu ênfase ao enganoso conceito do homem de ferro e da mulher boneca, objecto de luxo e de inutilidade, cedeu lugar ao colectivismo consumista, sem identidade, em que os valores obedecem a novos padrões de crítica e de aceitação para os triunfos imediatos sob os altos preços da destruição do indivíduo como pessoa racional e livre.

A liberdade custa um alto preço e deve ser conquistada na grande luta que se trava no quotidiano.

Liberdade de ser e actuar, de ter respeitados os seus valores e opções de discernir e aplicar, considerando, naturalmente, os códigos éticos e sociais, sem a submissão acomodada e indiferente aos padrões de conveniência dos grupos dominantes.

A escala de interesses, apequenando o homem, brinda-o com prémios que foram estabelecidos pelo sistema desumano, sem participação do indivíduo como célula viva e pensante do conjunto geral.

Como profilaxia e terapêutica eficaz, existem os desafios propostos por Jesus, que são de grande utilidade, induzindo a criatura a dar passos mais largos e audaciosos do que aqueles que levam na direcção dos breves objectivos da existência apenas material.

A desenvoltura das propostas evangélicas facilita a ruptura da rotina, dando saudável dinâmica para uma vida integral em favor do homem-espírito eterno e não apenas da máquina humana pensante a caminho do túmulo, da dissolução, do esquecimento.
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3 - A ansiedade

Não se deixando vitimar pela rotina, o homem tende, às vezes, a assumir um comportamento ansioso que o desgasta, dando origem a processos enfermiços que o consomem.

A ansiedade é uma das características mais habituais da conduta contemporânea.

Impulsionado ao competitivíssimo da sobrevivência e esmagado pelos factores constringentes de uma sociedade eticamente egoísta, predomina a insegurança no mundo emocional das criaturas.

As constantes alterações da Bolsa de Valores, a compressão dos gastos, a correria pela aquisição de recursos e a disputa de cargos e funções bem remunerados geram, de um lado, a insegurança individual e colectiva.

Por outro, as ameaças de guerras constantes, a prepotência de governos inescrupulosos e chefes de actividades arbitrários quão ditadores;
os anúncios e estardalhaços sobre enfermidades devastadoras;
os comunicados sobre os danos perpetrados contra a ecologia prenunciando tragédias iminentes;

a catalogação de crimes e violências aterradoras respondem pela inquietação e pelo medo que grassam em todos os meios sociais, como constante ameaça contra o ser e o seu grupo, levando-os a permanente ansiedade que deflui das incertezas da vida.

Passando, de uma aparente segurança, que era concedida pelos padrões individualistas do século 19, no apogeu da industrialização, para o período electrónico, a robotização ameaça milhões de empregados, que temem a perda de suas actividades remuneradas, ao tempo em que o colectivismo, igualando os homens nas aparências sociais, nos costumes e nos hábitos, alija os estímulos de luta, neles instalando a incerteza, a necessidade de encontrar-se sempre na expectativa de notícias funestas, desagradáveis, perturbadoras.

Esvaziados de idealismo e comprimidos no sistema em que todos fazem a mesma coisa, assumem iguais composturas, passando de uma para outra pauta de compromisso com ansiedade crescente.

A preocupação de parecer triunfador, de responder de forma semelhante aos demais, de ser bem recebido e considerado é responsável pela desumanização do indivíduo, que se torna um elemento complementar no agrupamento social, sem identidade, nem individualidade.

Tendo como modelo personalidades extravagantes, que ditam modas e comportamento exóticos, ou liderado por ídolos da violência, como da astúcia dourada, o descobrimento dos limites pessoais gera inquietação e conflitos que mal disfarçam a contínua ansiedade humana.

A ansiedade tem manifestações e limites naturais, perfeitamente aceitáveis.
Quando se aguarda uma notícia, uma presença, uma resposta, uma conclusão, é perfeitamente compreensível uma atitude de equilibrada expectativa.

Ao extrapolar para os distúrbios respiratórios, o colapso periférico, a sudorese, a perturbação gástrica, a insónia, o clima de ansiedade torna-se um estado patológico a caminho da somatização física em graves danos para a vida.

O grande desafio contemporâneo para o homem é o seu auto descobrimento.
Não apenas identificação das suas necessidades, mas, principalmente, da sua realidade emocional, das suas aspirações legítimas e reacções diante das ocorrências do quotidiano.

Mediante o aprofundamento das descobertas íntimas, altera-se a escala de valores e surgem novos significados para a sua luta, que contribuem para a tranquilidade e a autoconfiança.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 07, 2012 9:59 am

Não há, em realidade, segurança enquanto se transita no corpo físico.
A organização mais saudável durante um período, debilita-se em outro, assim como os melhores equipamentos orgânicos e psíquicos sofrem natural desgaste e consumição, dando lugar às enfermidades e à morte, que também é fenómeno da vida.

A ansiedade trabalha contra a estabilidade do corpo e da emoção.
A análise cuidadosa da existência planetária e das suas finalidades proporciona a vivência salutar da oportunidade orgânica, sem o apego mórbido ao corpo nem o medo de perdê-lo.

Os ideais espiritualistas, o conhecimento da sobrevivência à morte física tranquilizam o homem, fazendo que considere a transitoriedade do corpo e a perenidade da vida, da qual ninguém se eximirá.

Apegado aos conflitos da competição humana ou deixando-se vencer pela acomodação, o homem desvia-se da finalidade essencial da existência terrena, que se resume na aplicação do tempo para a aquisição dos recursos eternos, propiciadores da beleza, da paz, da perfeição.

O pandemónio gerado pelo excesso de tecnologia e de conforto material nas chamadas classes superiores, com absoluta indiferença pela humanidade dos guetos e favelas, em promiscuidade assustadora, revela a falência da cultura e da ética estribada no imediatismo materialista com o seu arrogante desprezo pelo espiritualismo.

Certamente, ao fanatismo e proibição espiritualista de carácter medieval, que ocultavam as feridas morais dos homens, sob o disfarce da hipocrisia, o surgimento avassalador da onda de cinismo materialista seria inevitável.

No entanto, o abuso da falsa cultura desnaturada, que pretendeu solucionar os problemas humanos de profundidade como reparava os desajustes das engrenagens das máquinas que construiu, resultou na correria alucinada para lugar nenhum e pela conquista de coisas mortas, incapazes de minimizar a saudade, de preencher a solidão, de acalmar a ansiedade, de evitar a dor, a doença e a morte...

Magnatas, embora triunfantes, proíbem que se pronuncie o nome da morte diante deles.

Capitães de monopólios recusam-se a sair à rua, para evitarem contágio de enfermidades, e alguns impõem, para viver, ambientes assepsiados, tentando driblar o processo de degeneração celular.

Ases da beleza cercam-se de jovens, receando a velhice, e utilizam-se de estimulantes para preservarem o corpo, aplicando-se massagens, exercícios, cirurgias plásticas, musculação e, não obstante, acompanham a degeneração física e mental, ansiosos, desventurados.

Propalando-se que as conquistas morais fazem parte das instituições vencidas — matrimónio, família, lar — os apaniguados da loucura crêem que aplicam, na velha doença das proibições passadas, uma terapêutica ideal.

E olvidam-se que o exagero de medicamento utilizado em uma doença, gera danos maiores do que aqueles que eram sofridos.

A sociedade actual sofre a terapia desordenada que usou na enfermidade antiga do homem, que ora se revela mais debilitado do que antes.

São válidas, para este momento de ansiedade, de insatisfação, de tormento, as lições do Cristo sobre o amor ao próximo, a solidariedade fraternal, a compaixão, ao lado da oração, geradora de energias optimistas e da fé, propiciadora de equilíbrio e paz, para uma vida realmente feliz, que baste ao homem conforme se apresente, sem as disputas conflitantes do passado, nem a acomodação colectivista do presente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 07, 2012 9:59 am

4 - Medo

Decorrente dos referidos factores sociológicos, das pressões psicológicas, dos impositivos económicos, o medo assalta o homem, empurrando-o para a violência irracional ou amargurando-o em profundos abismos de depressão.

Num contexto social injusto, a insegurança engendra muitos mecanismos de evasão da realidade, que dilaceram o comportamento humano, anulando, por fim, as aspirações de beleza, de idealismo, de afectividade da criatura.

Encarcerando-se, cada vez mais, nos receios justificáveis do relacionamento instável com as demais pessoas, surgem as ilhas individuais e grupais para onde fogem os indivíduos, na expectativa de equilibrarem-se, sobrevivendo ao tumulto e à agressividade, assumindo, sem darem-se conta, um comportamento alienado, que termina por apresentar-se igualmente patológico.

As precauções para resguardar-se, poupar a família aos dissabores dos delinquentes, mantendo os haveres em lugares quase inexpugnáveis, fazem o homem emparedar-se no lar ou aglomerar-se em clubes com pessoal seleccionado, perdendo a identidade em relação a si mesmo, ao seu próximo e consumindo-se em conflitos individualistas, a caminho dos desequilíbrios de grave porte.

Os valores da nossa sociedade encontram-se em xeque, porque são transitórios.
Há uma momentânea alteração de conteúdo, com a consequente perda de significado.

A nova geração perdeu a confiança nas afirmações do passado e deseja viver novas experiências ao preço da alucinação, como forma escapista de superar as pressões que sofre, impondo diferentes experiências.

No âmago das suas violações e protestos, do vilipêndio aos conceitos anteriores vige o medo que atormenta e submete às suas sombras espessas.

A quantidade expressiva de atemorizados trabalha a qualidade do receio de cada um, que cresce assustadoramente, comprimindo a personalidade, até que esta se libere em desregramento agressivo, como forma de escapar à constrição.

Quem, porém, não consiga seguir a correnteza da nova ordem, fica afogado no rio volumoso, perde o respeito por si mesmo, aliena-se e sucumbe.

Na luta furiosa, as festas ruidosas, as extravagâncias de conduta, os desperdícios de moedas e o exibicionismo com que algumas pessoas pensam vencer os medos íntimos, apenas se transformam em lâminas baças de vidro pelas quais observam a vida sempre distorcida, face à óptica incorrecta que se permitem.

São atitudes patológicas decorrentes da fragilidade emocional para enfrentar os desafios externos e internos.
A consumação da sociedade moderna é a história da desídia do homem em si mesmo, elanguescido pelos excessos ou esfogueado pelos desejos absurdos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 07, 2012 9:59 am

Adaptando-se às sombras dominadoras da insensatez, negligencia o sentido ético gerador da paz.
A anarquia então impera, numa volúpia destrutiva, tentando apagar as memórias do ontem, enquanto implanta a tirania do desconcerto.

Os seus vultos expressivos são imaturos e alucinados, em cuja rebelião pairam o oportunismo e a avidez.
Procedentes dos guetos morais, querem reverter a ordem que os apavora, revolucionando com atrevimento, face ao insólito, o comportamento vigente.

Os antigos ídolos, que condenaram a década de 20 e 30 como a da “geração perdida”, produziram a actual “era da insegurança”, na qual malograram as profecias exageradamente optimistas dos apaniguados do prazer em exaustão, fabricando os super-homens da mídia que, em análise última, são mais frágeis do que os seus adoradores, pois que não passam de heróis da frustração.

Guindados às posições de liderança, descambaram, esses novos condutores, em lamentáveis desditas, consumidos pelas drogas, vencidos pelas enfermidades ainda não controladas, pelos suicídios discretos ou espectaculares.

A alucinação generalizada certamente aumenta o medo nos temperamentos frágeis, nas constituições emocionais de pouca resistência, de começo, no indivíduo, depois, na sociedade.

Esta é uma sociedade amedrontada.
As gerações anteriores também cultivaram os seus medos de origem atávica e de receios ocasionais.

O excesso de tecnicismo com a correspondente ausência de solidariedade humana produziram a avalanche dos receios.

A superpopulação tomando os espaços e a tecnologia reduzindo as distâncias arrebataram a fictícia segurança individual, que os grupos passaram a controlar, e as consequências da insânia que cresce são imprevistas.

Urge uma revisão de conceitos, uma mudança de conduta, um reestudo da coragem para a imediata aplicação no organismo social e individual necrosado.

Todavia, é no cerne do ser — o Espírito — que se encontram as causas matrizes desse inimigo rude da vida, que é o medo.

Os fenómenos fóbicos procedem das experiências passadas — reencarnações fracassadas —, nas quais a culpa não foi liberada, face ao crime haver permanecido oculto, ou dissimulado, ou não justiçado, transferindo-se a consciência faltosa para posterior regularização.

Ocorrências de grande impacto negativo, pavores, urdiduras perversas, homicídios programados com requintes de crueldade, traições infames sob disfarces de sorrisos produziram a actual consciência de culpa, de que padecem muitos atemorizados de hoje, no inter-relacionamento pessoal.

Outrossim, catalépticos sepultados vivos, que despertaram na tumba e vieram a falecer depois, por falta de oxigénio, reencarnam-se vitimados pelas profundas claustrofobias, vivendo em precárias condições de sanidade mental.

O medo é factor dissolvente na organização psíquica do homem, predispondo-o, por somatização, a enfermidades diversas que aguardam correcta diagnose e específica terapêutica.

À medida que a consciência se expande e o indivíduo se abriga na fé religiosa racional, na certeza da sua imortalidade, ele se liberta, se agiganta, recupera a identidade e humaniza-se definitivamente, vencendo o medo e os seus sequazes, sejam de ontem ou de agora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 08, 2012 9:09 am

5 - Solidão

Espectro cruel que se origina nas paisagens do medo, a solidão é, na actualidade, um dos mais graves problemas que desafiam a cultura e o homem.

A necessidade de relacionamento humano, como mecanismo de afirmação pessoal, tem gerado vários distúrbios de comportamento, nas pessoas tímidas, nos indivíduos sensíveis e em todos quantos enfrentam problemas para um intercâmbio de ideias, uma abertura emocional, uma convivência saudável.

Enxameiam, por isso mesmo, na sociedade, os solitários por livre opção e aqueloutros que se consideram marginalizados ou são deixados à distância pelas conveniências dos grupos.

A sociedade competitiva dispõe de pouco tempo para a cordialidade desinteressada, para deter-se em labores a benefício de outrem.

O atropelamento pela oportunidade do triunfo impede que o indivíduo, como unidade essencial do grupo, receba consideração e respeito ou conceda ao próximo este apoio que gostaria de fruir.

A mídia exalta os triunfadores de agora, fazendo o panegírico dos grupos vitoriosos e esquecendo com facilidade os heróis de ontem, ao mesmo tempo que sepulta os valores do idealismo, sob a retumbante cobertura da insensatez e do oportunismo.

O homem, no entanto, sem ideal, mumifica-se.
O ideal é-lhe de vital importância, como o ar que respira.

O sucesso social não exige, necessariamente, os valores intelecto-morais, nem o vitalismo das ideias superiores, antes cobra os louros das circunstâncias favoráveis e se apoia na bem urdida promoção de mercado, para vender imagens e ilusões breves, continuamente substituídas, graças à rapidez com que devora as suas estrelas.

Quem, portanto, não se vê projectado no caleidoscópio mágico do mundo fantástico, considera-se fracassado e recua para a solidão, em atitude de fuga de uma realidade mentirosa, trabalhada em estúdios artificiais.

Parece muito importante, no comportamento social, receber e ser recebido, como forma de triunfo, e o medo de não ser lembrado nas rodas bem sucedidas, leva o homem a estados de amarga solidão, de desprezo por si mesmo.

O homem faz questão de ser visto, de estar cercado de bulha, de sorrisos embora sem profundidade afectiva, sem o calor sincero das amizades, nessas áreas, sempre superficiais e interesseiras. O medo de ser deixado em plano secundário, de não ter para onde ir, com quem conversar, significaria ser desconsiderado, atirado à solidão.

Há uma terrível preocupação para ser visto, fotografado, comentando, vendendo saúde, felicidade, mesmo que fictícia.

A conquista desse triunfo e a falta dele produzem solidão.
O irreal, que esconde o carácter legítimo e as lídimas aspirações do ser, conduz à psiconeurose de autodestruição.

A ausência do aplauso amargura, face ao conceito falso em torno do que se considera, habitualmente como triunfo.

Há terrível ânsia para ser-se amado, não para conquistar o amor e amar, porém para ser objecto de prazer, mascarado de afectividade. Dessa forma, no entanto, a pessoa se desama, não se torna amável nem amada realmente.

Campeia, assim, o “medo da solidão”, numa demonstração caótica de instabilidade emocional do homem, que parece haver perdido o rumo, o equilíbrio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 08, 2012 9:10 am

O silêncio, o isolamento espontâneo são muito saudáveis para o indivíduo, podendo permitir-lhe reflexão, estudo, auto-aprimoramento, revisão de conceitos perante a vida e a paz interior.

O sucesso, decantado como forma de felicidade, é, talvez, um dos maiores responsáveis pela solidão profunda.

Os campeões de bilheteira nos shows, nas rádios, televisões e cinemas, os astros invejados, os reis dos desportos, dos negócios cercam-se de fanáticos e apaixonados, sem que se vejam livres da solidão.

Suicídios espectaculares, quedas escabrosas nos porões dos vícios e dos tóxicos comprovam quanto eles são tristes e solitários.

Eles sabem que o amor, com que os cercam, traz, apenas, apelos de promoção pessoal dos mesmos que os envolvem, e receiam os novos competidores que lhes ameaçam os tronos, impondo-lhes terríveis ansiedades e inseguranças, que procuram esconder no álcool, nos estimulantes e nos derivativos que os mantêm sorridentes, quando gostariam de chorar, quão inatingidos, quanto se sentem fracos e humanos.

A neurose da solidão é doença contemporânea, que ameaça o homem distraído pela conquista dos valores de pequena monta, porque transitórios.

Resolvendo-se por afeiçoar-se aos ideais de engrandecimento humano, por contribuir com a hora vazia em favor dos enfermos e idosos, das crianças em abandono e dos animais, sua vida adquiriria cor e utilidade, enriquecendo-se de um companheirismo digno, em cujo interesse alargar-se-ia a esfera dos objectivos que motivam as experiências vivenciais e inoculam coragem para enfrentar-se, aceitando os desafios naturais.

O homem solitário, todo aquele que se diz em solidão, excepto nos casos patológicos, é alguém que se receia encontrar, que evita descobrir-se, conhecer-se, assim ocultando a sua identidade na aparência de infeliz, de incompreendido e abandonado.

A velha conceituação de que todo aquele que tem amigos não passa necessidades, constitui uma forma desonesta de estimar, ocultando o utilitarismo sub-reptício, quando o prazer da afeição em si mesma deve ser a meta a alcançar-se no inter-relacionamento humano, com vista à satisfação de amar.

O medo da solidão, portanto, deve ceder lugar, à confiança nos próprios valores, mesmo que de pequenos conteúdos, porém significativos para quem os possui.

Jesus, o Psicoterapeuta Excelente, ao sugerir o “amor ao próximo como a si mesmo” após o “amor a Deus” como a mais importante conquista do homem, conclama-o a amar-se, a valorizar-se, a conhecer-se de modo a plenificar-se com o que é e tem, multiplicando esses recursos em implementos de vida eterna, em saudável companheirismo, sem a preocupação de receber resposta equivalente.

O homem solidário, jamais se encontra solitário.
O egoísta, em contrapartida, nunca está solícito, por isto, sempre atormentado.

Possivelmente, o homem que caminha a sós se encontre mais sem solidão, do que outros que, no tumulto, inseguros, estão cercados, mimados, padecendo disputas, todavia sem paz nem fé interior.

A fé no futuro, a luta por conseguir a paz íntima — eis os recursos mais valiosos para vencer-se a solidão, saindo do arcabouço egoísta e ambicioso para a realização edificante onde quer que se esteja.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 08, 2012 9:10 am

6 - Liberdade

As pressões constantes geradoras de medo, não raro extrapolam em forma de violência propondo a liberdade.

Sentindo-se coarctado nos movimentos, o animal reage à prisão e debate-se até à exaustão, na tentativa de libertar-se.

Da mesma forma, o homem, sofrendo limites, aspira pela amplidão de horizontes e luta pela sua independência.

É perfeitamente normal o empenho do cidadão em favor da sua libertação total, passo esse valioso na conquista de si mesmo.

Todavia, pouco esclarecido e vitimado pelas compressões que o alucinam, utiliza-se dos instrumentos da rebeldia, desencadeando lutas e violência para lograr o que aspira como condição fundamental de felicidade.

A violência porém, jamais oferece a liberdade real.
Arranca o indivíduo da opressão política, arrebenta-lhe as injunções caóticas impostas pela sociedade injusta, favorece-o com terras e objectos, salários e haveres.

Isto, porém, não é a liberdade, no seu sentido profundo.

São conquistas de natureza diferente, nas áreas das necessidades dos grupos e aglomerados humanos, longe de ser a meta de plenitude, talvez constituindo um meio que faculte a realização do próximo passo, que é o do auto descobrimento.

A violência retém, porém não doa, já que sempre abre perspectivas para futuros embates sob a acção de maiores crueldades.

As guerras, que se sucedem, apoiam-se nos tratados de paz mal formulados, quando a violência selou, com sujeição, o destino da nação ou do povo submetido...

O instinto de rebeldia faz parte da psique humana.
A criança que se obstina usando a negativa, afirma a sua identidade, exteriorizando o anseio inconsciente de ser livre.

Porque carece de responsabilidade, não pode entender o que tal significa.
Somente mediante a responsabilidade, o homem se liberta, sem tornar-se libertino ou insensato.

A sociedade, que fala em nome das pessoas de sucesso, estabelece que a liberdade é o direito de fazer o que a cada qual apraz, sem dar-se conta de que essa liberação da vontade, termina por interditar o direito dos outros, fomentando as lutas individuais, dos que se sentem impedidos, espocando nas violências de grupos e classes, cujos direitos se encontram dilapidados.

Se cada indivíduo agir conforme achar melhor, considerando-se liberado, essa atitude trabalha em favor da anarquia, responsável por desmandos sem limites.

Em nome da liberdade, actuam desonestamente os vendedores das paixões ignóbeis, que espalham o bafio criminoso das mercadorias do prazer e da loucura.

A denominada liberação sexual, sem a correspondente maturidade emocional e dignidade espiritual, rebaixou as fontes genésicas a paul venenoso, no qual, as expressões aberrantes assumem cidadania, inspirando os comportamentos alienados e favorecendo a contaminação das enfermidades degenerativas e destruidoras da existência corporal.

Ao mesmo tempo, faculta o aborto delituoso, a promiscuidade moral, reconduzindo o homem a um estágio de primarismo dantes não vivenciado.

A liberdade de expressão, aos emocionalmente desajustados, tem permitido que a morbidez e o choque se revelem com mais naturalidade do que a cultura e a educação, por enxamearem mais os aventureiros, com as excepções compreensíveis, do que os indivíduos conscientes e responsáveis.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 08, 2012 9:10 am

A liberdade é um direito que se consolida, na razão directa em que o homem se auto-descobre e se conscientiza, podendo identificar os próprios valores, que deve aplicar de forma edificante, respeitando a natureza e tudo quanto nela existe.

A agressão ecológica, em forma de violência cruel contra as forças mantedoras da vida, demonstra que o homem, em nome da sua liberdade, destrói, mutila, mata e mata-se, por fim, por não saber usá-la conforme seria de desejar.

A liberdade começa no pensamento, como forma de aspiração do bom, do belo, do ideal que são tudo quanto fomenta a vida e a sustenta, dá vida e a mantém.

Qualquer comportamento que coage, reprimes viola é adversário da liberdade.
Examinando o magno problema da liberdade, Jesus sintetizou os meios de consegui-la, na busca da verdade, única opção para tornar o homem realmente livre.

A verdade, em síntese, que é Deus — e não a verdade conveniente de cada um, que é a forma doentia de projectar a própria sombra, de impor a sua imagem, de submeter à sua, a vontade alheia — constitui meta prioritária.

Deus, porém, está dentro de todos nós, e é necessário imergir na Sua busca, de modo que O exteriorizemos sobranceiro e tranquilizador.

As conquistas externas atulham as casas e os cofres de coisas, sem torná-los lares nem recipientes de luz, destituídos de significado, quando nos momentos magnos das grandes dores, dos fortes dissabores, da morte, que chegam a todos...

A liberdade, que se encerra no túmulo, é utópica, mentirosa.

Livre, é o Espírito que se domina e se conquista, movimentando-se com sabedoria por toda parte, idealista e amoroso, superando as injunções pressionadoras e amesquinhantes.

Ghandi fez-se o protótipo da liberdade, mesmo quando nas várias vezes em que esteve encarcerado, informando que “não tinha mensagem a dar.

A minha mensagem é a minha vida.”
Antes dele, Sócrates permaneceu em liberdade, embora na prisão e na morte que lhe adveio depois.

E Cristo, cuja mensagem é o amor que liberta, prossegue ensinando a eficiente maneira de conquistar a liberdade.

Nenhuma pressão de fora pode levar à falta de liberdade, quando se conseguir ser lúcido e responsável interiormente, portanto, livre.

Não se justifica, deste modo, o medo da liberdade, como efeito dos factores extrínsecos, que as situações políticas, sociais e económicas estabelecem como forma espúria de fazer que sobrevivam as suas instituições, subjugando aqueles que vencem.

O homem que as edifica, dá-se conta, um dia, que dominando povos, grupos, classes ou pessoas também não é livre, escravo, ele próprio, daqueles que submete aos seus caprichos, mas lhe roubam a opção de viver em liberdade.

Não há liberdade quando se mente, engana, impõe e atraiçoa.

A liberdade é uma atitude perante a vida.
Assim, portanto, só há liberdade quando se ama conscientemente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 08, 2012 9:11 am

SEGUNDA PARTE

ESTRANHOS RUMOS, SEGUROS ROTEIROS

7 - Homens-aparência



A falta de uma consciência idealista, na qual predomina o bem geral sem os impulsos egoístas que trabalham em favor do imediatismo, torna difícil a realização da liberdade.

Para lográ-la até a plenitude, faz-se mister um seguro conhecimento interior do homem, das suas aspirações e metas, bem como os instrumentos de trabalho com os quais pretende movimentar-se.

Ignorando as reacções pessoais sempre imprevisíveis, facilmente ele tomba nas ciladas da violência ou entrega-se à depressão, quando surgem dificuldades e as respostas ao seu esforço não correspondem ao anelado.

Incapaz de controlar-se, mantendo uma atitude criativa e optimista, mesmo em face dos dissabores, a liberdade se lhe transforma em uma conquista vazia, cuja finalidade é permitir-lhe extravasar os impulsos primitivos e as paixões agressivas, em atentado cruel contra aquilo que pretende:
o anseio de ser livre.

O homem livre, sonha e trabalha, confia e persevera, semeando, em tempo próprio, a feliz colheita porvindoura.

Não se pode conseguir de um para outro momento a liberdade, nem a herdar das gerações passadas.

Cada indivíduo a conquista lentamente, acumulando experiências que amadurecem o discernimento e a razão de que se utiliza no momento de vivenciá-la.

Ela começa na escolha de si próprio, conforme o enunciado cristão do “amar ao próximo como a si mesmo” se ama, por quanto não existindo este sentimento pessoal de respeito à própria individualidade, que propõe os limites dos direitos na medida dos deveres executados, não se pode esperar consideração aos valores alheios, com a consequente liberdade dos outros indivíduos.

Esse amor a si mesmo ergue o homem aos patamares superiores da vida que a sua consciência idealista descortina e o seu esforço produz.

Meta a meta, ele ascende, fazendo opções mais audaciosas no campo do belo, do útil, do humano, deixando pegadas indicadoras para os indecisos da retaguarda.

Sua personalidade se ilumina de esperança e a sua conduta se permeia de paz.

Lentamente, são retiradas as aparências do conveniente social, do agradável estatuído, do conforme desejado, para que a legítima identidade apareça e o homem se torne o que realmente é.

É claro que nos referimos às expressões de engrandecimento que, normalmente, permanecem enclausuradas no íntimo sem oportunidade de exteriorizar-se, soterradas, às vezes, sob sucessivas camadas de medo, de indiferença, de acomodação.

Muitos homens temem ser conhecidos nos seus sentimentos éticos, nos seus esforços de saudável idealismo, tachados, esses valores, pelos pigmeus morais, encarcerados no exclusivismo das suas paixões, como sentimentalismos, pieguices, fraquezas de carácter.

Confundem coragem com impulsividade e força com expressões do poder, da dominação.
Porque vivem sem liberdade, desdenham os homens livres.

Na consciência profunda está ínsita a verdadeira liberdade, que deve ser buscada mediante o mergulho no âmago do ser e a reflexão demorada, propiciadora do autoconhecimento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 08, 2012 9:11 am

Em realidade o homem é livre e nasceu para preservar este estado.

Não tem limites a conquista da liberdade, porquanto ele pode, embora não deva, optar por preservar ou não o corpo, através do suicídio espectacular ou escamoteado, na recusa consciente ou não de continuar a viver.

Não se decidindo, porém, em preservar esse atributo, sustentando ou melhorando as estruturas psicológicas, sofre os efeitos do relacionamento social pressionador, e tomba nos meandros da turbulência dos dias que vive.

Esvaziados de objectivos elevados, os movimentos dos grupos sociais como dos indivíduos proporcionam a anarquia, que se mascara de liberdade, destacando-se a violência de um lado e o conformismo de outro, sem um relacionamento saudável entre as criaturas.

Dissimulam-se os sentimentos para se apresentarem bem, conforme o figurino vigente, detestando-se fraternalmente e vivendo a competição frenética e desgastante para cada qual alcançar a supremacia no grupo, agradando o ego atormentado.

Apesar de acumularem haveres pregando o existencialismo comportamental, esses vitoriosos permanecem vazios, sem ideal, sem consciência ética, mumificados nas ambições e presos aos desejos que nunca satisfazem.

Desencadeia-se um distúrbio no conjunto social, que afecta o homem, por sua vez perturbando mais o grupo, em círculo vicioso, no qual a causa, gerando efeitos, estes se tornam novas causas de tribulação.

Reverter o sistema injusto e desgastante, no qual se mede e valoriza o homem pelo que tem, e não pelo que é, em razão do que pode, não do que faz, é o compromisso de todo aquele que é livre.

A desordenada preocupação por adquirir, a qualquer preço, equipamentos, veículos, objectos da propaganda alucinada;
a ansiedade para ser bem-visto e acatado no meio social;
o tormento para vestir-se de acordo com a moda exigente;

a inquietação para estar bem informado sobre os temas sem profundidade de cada momento transtornam o equilíbrio emocional da criatura, arrojando-a aos abismos da perda da identidade, à desestruturação pessoal, à confusão de valores.

Homens-aparência, tornam-se quase todos.

Calmos ou não, fortes ou fracos, ricos ou pobres enxameiam num contexto confuso, sem liberdade, no entanto, em regime político e social de liberdade, atulhados de ferramentas de trabalho como de lazer, desmotivados e automatistas, sem rumo.

Prosseguem, avançando — ou caminhando em círculo? — desnorteados na grande horizontal das conquistas de fora, temendo a verticalidade da interiorização realmente libertadora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 08, 2012 9:11 am

8 - Fobia social

Pressionado pelas constrições de vária ordem, excepção feita aos fenómenos patológicos, na área da personalidade, o indivíduo tímido, desistindo de reagir, assume comportamentos fóbicos.

Neuroses e psicoses se lhe manifestam, atormentando-o e gerando-lhe um clima de pesadelo onde quer que se encontre.

A liberdade, que lhe é de fundamental importância para a vida, perde o seu significado externo, face às prisões sem paredes que são erguidas, nelas encarcerando-se.

Da melancolia profunda ele passa à ansiedade, com alternâncias de insatisfação e tentativas de autodestruição, e da desconfiança sistemática tomba, por falta de resistências morais, diante dos insucessos banais da existência.

Nem mesmo o êxito nos negócios, na vida social e familiar, consegue minimizar-lhe o desequilíbrio que, muitas vezes, aumenta, em razão de já não lhe sendo necessário fazer maiores esforços para conseguir, considera-se sem finalidade que justifique prosseguir.

Os estados fóbicos desgastam-lhe os nervos e conduzem-no às depressões profundas.
São vários estes fenómenos no comportamento humano.

Surge, porém, no momento, um que se generaliza, a pouco e pouco, o denominado como fobia social, graças ao qual, o indivíduo começa a detestar o convívio com as demais pessoas, retraindo-se, isolando-se.

A princípio, apresenta-se como forma de mal-estar, depois, como insegurança, quando o homem é conduzido a enfrentar um grupo social ou o público que lhe aguarda a presença, a palavra.

O grau de ansiedade foge-lhe ao controle, estabelecendo conflitos psicológicos perturbadores.

A ansiedade comedida é fenómeno perfeitamente natural, resultante da expectativa ante o inusitado, face ao trabalho a ser desenvolvido, diante da acção que deve ser aplicada como investimento de conquista, sem que isto provoque desarmonia interior com reflexos físicos negativos.

Quando, então, se revela, desencadeada por problemas de somenos importância, produzindo taquicardias, sudorese álgida, tremores contínuos, estão ultrapassados os limites do equilíbrio, tornando-se patológica.

A fobia social impede uma leitura em voz alta, uma assinatura diante de alguém que acompanhe o gesto, segurar um talher para uma refeição, pegar um vaso com líquido sem o entornar...

O paciente, nesses casos, tem a impressão de que está sob severa observação e análise dos outros, passando a detestar as presenças estranhas até os familiares e amigos mais íntimos.

Em algumas circunstâncias, quando o processo se encontra em instalação, a concentração e o esforço para superar o impedimento auxiliam-no, facultando-o somente relaxar-se e adquirir naturalidade após constatar que ninguém o observa, perdendo, assim, o prazer do diálogo, face à tensão gerada pelo problema.

A tendência natural do portador de fobia social é fugir, ocultar-se malbaratando o dom da existência, vitimado pela ansiedade e pelo medo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 08, 2012 9:11 am

O homem é o único animal ético existente.

Para adquirir a condição de uma consciência ética é convidado a desafios contínuos, graças aos quais discerne o bem do mal, o belo do feio, o lógico do absurdo, imprimindo-se um comportamento que corresponda ao seu grau de compreensão existencial.

Aprofundando-se no exame dos valores, distingue-os passando a viver conforme os padrões que estabelece como indispensáveis às metas que persegue, porquanto pretende constituir-lhe a felicidade.

A fim de lograr o domínio desses legítimos valores, aplica outra das suas características essenciais, que é o de ser um animal biossocial.

A vida de relação com os demais indivíduos é-lhe essencial ao progresso ético.
Isolado, asselvaja-se ou entrega-se a uma submissão indiferente, perniciosa.

As imposições do relacionamento social exterior, sem profundidade emocional, respondem por esta explosão fóbica, face à ausência de segurança afectiva entre os indivíduos e à competição que grassa, desenfreada, fazendo que se veja sempre, no actual amigo, o potencial usurpador da sua função, o possível inimigo de amanhã.

Tal desconfiança arma as pessoas de suspeição, levando-as a uma conduta artificial, mediante a qual se devem apresentar como bem estruturadas emocionalmente, superiores às vicissitudes, capazes de enfrentar riscos, indiferentes às agressões do meio, porque seguras das suas reservas de forças morais.

Gerando instabilidade entre o que demonstram e aquilo que são realmente, surge o pavor de serem vencidas, deixadas à margem, desconsideradas.

O mecanismo de fuga da luta sem quartel apresenta-se-lhes como alternativa saudável, por poupar-lhes esforços que lhes parecem inúteis, desde que não se sentem inclinadas a usar dos mesmos métodos de que se crêem vítimas.

Simultaneamente, as actividades trepidantes e as festas ruidosas mais afastam os amigos, que dizem não dispor de tempo para o intercâmbio fraternal, a assistência cordial, receosos, por sua vez, de igualmente tombarem, vitimados pelo mesmo mal que os ronda, implacável.

Nestas circunstâncias, mentes desencarnadas, deprimentes, se associam aos pacientes, complicando-lhes o quadro e empurrando-os para as psicoses profundas, irreversíveis.

A desumanização do homem, que se submete aos caprichos do momento dourado das ilusões, conspira contra ele próprio e o seu próximo, tornando esta a geração do medo, a sociedade sem destino.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 08, 2012 9:12 am

9 - Ódio e suicídio

Herdeiro de si mesmo, carregando, no inconsciente, as experiências transactas, o homem não foge aos atavismos que o jungem ao primitivismo, embora as claridades arrebatadoras do futuro chamando-o para as grandes conquistas.

Liberar-se do forte cipoal das paixões animalizantes para os logros da razão é o grande desafio que tem pela frente.

Onde quer que vá, encontra-se consigo mesmo.
A sua evolução sócio antropológica é a história das contínuas lutas, em que o artista — o Espírito — arranca do bloco grotesco — a matéria — as expressões de beleza e grandiosidade que lhe dormem imanentes.

Os mitos de todos os povos, na história das artes, das filosofias e das religiões, apresentam a luta contínua do ser libertando-se da argamassa celular, arrebentando algemas para firmar-se na liberdade que passa a usar, agressivamente, no começo, até converter-se em um estado de consciência ética plenificador, carregado de paz.

Em cada mito do passado surge o homem em luta contra forças soberanas que o punem, o esmagam, o dominam.

Gerado o conceito da desobediência, o reflexo da punição assoma dominador, reduzindo o calceta a uma posição ínfima, contra a qual não se pode levantar, sequer justificar a fragilidade.

Essa incapacidade de enfrentar o imponderável — as forças desgovernadas e prepotentes — mais tarde se apresenta camuflada em forma de rebelião inconsciente contra a existência física, contra a vida em si mesma.

Obrigado mais a temer esses opressores, do que a os amar, compelido a negociar a felicidade mediante oferendas e cultos, extravagantes ou não, sente-se coibido na sua liberdade de ser, então rebelando-se e passando a uma atitude formal em prejuízo da real, a um comportamento social e religioso conveniente ao invés de ideal, vivendo fenómenos neuróticos que o deprimem ou o exaltam, como efeitos naturais de sua rebelião íntima.

Ao mesmo tempo, procurando deter os instintos agressivos nele jacentes, sem os saber canalizar, sofre reacções psicológicas que lhe perturbam o sistema emocional.

O ressentimento — que é uma manifestação da impotência agressiva não exteriorizada — converte-se em travo de amargura, a tornar insuportável a convivência com aqueles contra os quais se volta.

Antegozando o desforço — que é a realização íntima da fraqueza, da covardia moral — dá guarida ao ódio que o combure, tornando a sua existência como a do outro em um verdadeiro inferno.

O ódio é o filho predilecto da selvajaria que permanece em a natureza humana.
Irracional, ele trabalha pela destruição de seu oponente, real ou imaginário, não cessando, mesmo após a derrota daquele.

Quando não pode descarregar as energias em descontrole contra o opositor, volta-se contra si mesmo articulando mecanismos de autodestruição, graças aos quais se vinga da sociedade que nele vige.

Os danos que o ódio proporciona ao psiquismo, por destrambelhar a delicada maquinaria que exterioriza o pensamento e mantém a harmonia do ser, tornam-se de difícil catalogação.

Simultaneamente, advêm reacções orgânicas que se reflectem nas funções hepáticas, digestivas, circulatórias, dando origem a futuros processos cancerígenos, cardíacos, cerebrais...

A irradiação do ódio é portadora de carga destrutiva que, não raro, corrói as engrenagens do emissor como alcança aquele contra quem vai direccionada, caso este sintonize em faixa de equivalência vibratória.

Lixo do inconsciente, o ódio extravasa todo o conteúdo de paixões mesquinhas, representativas do primarismo evolutivo e cultural.

Algumas escolas, na área da psicologia, preconizam como terapia, a liberação da agressividade, do ódio, dos recalques e castrações, mediante a permissão do vocabulário chulo, das diatribes nas sessões de grupo, das acusações recíprocas, pretendendo o enfraquecimento das tensões, ao mesmo tempo a conquista da auto-realização, da segurança pessoal.
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Série Psicológica Vol. 2 - O homem integral - Joanna de Angelis Empty Re: Série Psicológica Vol. 2 - O homem integral - Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 08, 2012 9:12 am

Sem discutirmos a validade ou não da experiência, o homem é pássaro cativo fadado a grandes voos;
ser equipado com recursos superiores, que viaja do instinto para a razão, desta para a intuição e, por fim, para a sua fatalidade plena, que é a perfeição.

Uma psicologia baseada em terapêutica de agressão e libertação de instintos, evitando as pressões que coarctam os anseios humanos, certamente atinge os primeiros propósitos, sem erguer o paciente às cumeadas da realização interior, da identificação e vivência dos valores de alta monta, que dão cor, objectivo e paz à existência.

Assumir a inferioridade, o desmando, a alucinação é extravasá-los, nunca sanar o mal, libertar-se dele por desnecessário.

Se não é recomendável para as referidas escolas, a repressão, pelos males que proporciona, menos será liberar alguns, aos outros agredindo, graças aos falsos direitos que tais pacientes requeiram para si, arremetendo contra os direitos alheios.

A sociedade, considerada como castradora, marcha para terapias que canalizem de forma positiva as forças humanas, suavizando as pressões, eliminando as tensões através de programas de solidariedade, recreio e serviços compatíveis com a clientela que a constitui.

O ódio pressiona o homem que se frustra, levando-o ao suicídio.

Tem origens remotas e próximas.
Nas patologias depressivas, há muito fenómeno de ódio embutido no enfermo sem que ele se dê conta.

A indiferença pela vida, o temor de enfrentar situações novas, o pessimismo disfarçam mágoas, ressentimentos, iras não digeridas, ódios que ressumam como desgosto de viver e anseio por interromper o ciclo existencial.

Falhando a terapia profunda de soerguimento do enfermo, o suicídio é o próximo passo, seja através da negação de viver ou do gesto covarde de encerrar a actividade física.

Todos os indivíduos experimentam limites de alguma procedência.
Os extrovertidos conquistadores ocultam, às vezes, largos lances de timidez, solidão e desconfiança, que têm dificuldade em superar.

Suas reuniões ruidosas são mais mecanismos de fuga do que recursos de espairecimento e lazer.

Os alcoólicos que usam, as músicas ensurdecedoras que os aturdem, encarregam-se de mantê-los mais solitários na confusão do que solidários uns com os outros.

As gargalhadas, que são esgares festivos, substituem os sorrisos de bem-estar, de satisfação e humor, levando-os de um para outro lugar-nenhum, embora se movimentem por cidades, clubes e reuniões diversos.

O ser humano deve ter a capacidade de discernimento para eleger os valores compatíveis com as necessidades reais que lhe são inerentes.

Descobrir a sua realidade e crescer dentro dela, aumentando a capacidade de ser saudável, eis a função da inteligência individual e colectiva, posta a benefício da vida.

As transformações propõem incertezas, que devem ser enfrentadas naturalmente, como as oposições e os adversários encarados na condição de ocorrências normais do processo de crescimento, sem ressentimentos, nem ódios ou fugas para o suicídio.

O homem que progride cada dia, ascende, não sendo atingido pelas famas dos problematizados que o não podem acompanhar, por enquanto, no processo de crescimento.

Alcançado o acume desejado, este indivíduo está em condições de descer sem diminuir-se, a fim de erguer aquele que permanece na retaguarda.

Ora, para alcançar-se qualquer meta e, em especial, a da paz, torna-se necessário um planeamento, que deflui da auto consciência, da consciência ética, da consciência do conhecimento e do amor.

O planeamento precede a acção e desempenha papel fundamental na vida do homem.

Somente uma atitude saudável e uma emoção equilibrada, sem vestígios de ódio, desejo de desforço, podem planear para o bem, o êxito, a felicidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 09, 2012 9:48 am

10 - Mitos

A história do homem é a consequência dos mitos e crendices que ele elaborou para a sobrevivência, para o seu pensamento ético.

Medos e ansiedades, aspirações e sofrimentos estereotipam-se em fórmulas e formas mitológicas que lhe reflectem o estágio evolutivo, em alguns deles perfeitamente consentâneos com as suas conquistas contemporâneas.

As concepções indianas lendárias, as tradições templárias dos povos orientais, recuperam as suas formulações nas tragédias gregas, excelentes repositórios dos conflitos humanos, que a mitologia expõe, ora com poesia, em momentos outros com formas grotescas de dramas cruéis.

A vingança de Zeus contra Prometeu, condenado à punição eterna, atado a um rochedo, no qual, um abutre lhe devorava o fígado durante o dia e este se refazia à noite para que o suplício jamais cessasse, humaniza o deus vingador e despeitado, porque o ser, que ele criara, ao descobrir o fogo, adquirira o poder de iluminar a Terra, tornando-se uma quase divindade.

O ciúme e a paixão humana cegaram o deus, que se enfureceu.
O criador desejava que o seu gerado fosse sempre um inocente, ignorante, dependente, sem consciência ética, sem discernimento, a fim de que pudesse, o todo-poderoso, nele comprazer-se.

A desobediência, ingénua e curiosa do ser criado, trouxe-lhe o ignóbil, inconcebível e imerecido castigo, caracterizando a falência do seu gerador.

Com pequenas variações vemos a mesma representação em outros povos e doutrinas de conteúdo infantil, que se não dão conta ou não querem encontrar o significado real da vida, a sua representação profunda, castigando aqueles que lhe desobedecem e preferem a idade adulta da razão, abandonando a infância.

O pensamento cartesiano, com o seu “senso prático”, deu-lhes o primeiro golpe e lentamente decretou a morte dos mitos e das crenças.

Se, de um lado, favoreceu ao homem que abandonasse a tradição dos feiticeiros, dos bichos-papões, das cegonhas trazendo bebés, eliminou também as fadas madrinhas, os génios bons, os anjos-da-guarda.

E quando já se acreditava na morte dos mitos, considerando-se as mentes adultas liberadas deles, eis que a tecnologia e a mídia criaram outros hodiernos:
os super-homens, os He-man, os invasores marcianos, os homens invisíveis, gerando personagens consideradas extraordinárias para o combate contra o mal sem trégua em nome do bem incessante.

Concomitantemente, a robótica abriu espaços para que a imaginação ampliasse o campo mitológico e as máquinas electrónicas, na condição de simuladores, produzissem novos heróis e ases vencedores no contínuo campeonato das competições humanas.

O exacerbar do entusiasmo tornou a ficção uma realidade próxima, permitindo que os jovens modernos confundam as suas possibilidades limitadas com as remotas conquistas da fantasia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 09, 2012 9:48 am

Imitam os heróis das histórias em quadrinhos, tomam posturas semelhantes aos líderes de bilheteira, no teatro, no rádio, no cinema, na televisão e chegam a crer-se imortais físicos, corpos indestrutíveis ou recuperáveis pelos engenhos da biónica, igualmente fabricantes de seres imbatíveis.

Retorna-se, de certo modo, ao período em que os deuses desciam à Terra, humanizando-se, e os magos com habilidades místicas resolviam quaisquer dificuldades, dando margem a uma cultura superficial e vandálica de funestos resultados éticos.

A violência, que irrompe, desastrosa, arma os novos Rambos com equipamentos de vingança em nome da justiça, enfrentando as forças do mal que se apresentam numa sociedade injusta, promovendo lutas lamentáveis, sem controlo.

As experiências pessoais, resultado das conquistas éticas, cedem lugar aos modelos fabricados pela imaginação fértil, que descamba para o grotesco, fomentado o pavor, ironizando os valores dignos e desprezando as Instituições.

A falência do individualismo industrial, a decadência do colectivismo socialista deram lugar a novas formas de afirmação, nas quais o inconsciente projecta os seus mitos e assenhoreia-se da realidade, confundindo-a com a ilusão.

As virtudes apresentam-se fora de moda e a felicidade surge na condição de desprezo pelo aceito e considerado, instituindo a extravagância — novo mito — como modelo de auto-realização, desde que choque e agrida o convívio social.

O perdido “jardim do Éden” da mitologia bíblica reaparece na grande satisfação do “fruto do pecado”, transformando a punição em prazer e desafiando, mediante a contínua desobediência, o Implacável que lhe castigou o despertar da consciência.

Na sucessão de desmandos propiciados pelos mitos contemporâneos, toma corpo a saudade da paz — inocência representativa do bem — e a experiência, demonstrando a inevitabilidade dos fenómenos biológicos do desgaste do cansaço, do envelhecimento e da morte, propicia uma revisão cultural com amadurecimento das vivências, induzindo o ser a uma nova busca da escala de valores realmente representativos das aspirações nobres da vida.

A solidão e a ansiedade que os mitos mascaram, mas não equacionam, rompem a couraça de indiferença do homem pela sua profunda identidade, levando-o a um amadurecimento em que o grupo social dele necessita para sobreviver, tanto quanto lhe é importante, favorecendo-o com um intercâmbio de emoções e acções plenificadoras.

Os mitos, logo mais, cederão lugar a realidades que já se apresentam, no início, como símbolos de uma nova conquista desafiadora e que se incorporarão, a pouco e pouco, ao quotidiano, ensinando disciplina, controle, respeito por si mesmo, aos outros, às autoridades, que no homem se fazem indispensáveis para a feliz coexistência pacífica.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 09, 2012 9:49 am

TERCEIRA PARTE

A BUSCA DA REALIDADE

11 - Auto-descobrimento


O esforço para a aquisição da experiencia da própria identidade humanizada leva o indivíduo ao processo valioso do auto descobrimento.

Enquanto empreende a tarefa do trabalho para a aquisição dos valores de consumo isola-se, sem contribuir eficazmente para o bem-estar do grupo social, no qual se movimenta.

Os seus empreendimentos levam-no a uma negação da comunidade a benefício pessoal, esperando recuperar esta dívida, quando os favores da fortuna e da projecção lhe facultarem o desfrutar do prazer, da aposentadoria regalada.

As suas preocupações giram em torno do imediatismo, da ambição do triunfo sem resposta de paz interior.

A sociedade, por sua vez, ignora-o, pressentindo nele um usurpador.
De alguma forma é levado ao competitivíssimo individualista, criando um clima desagradável.

A sua ascensão será possível mediante a queda de outrem, mesmo que o não deseje.
Torna-se, assim, um adversário natural.

O seu produto vende na razão directa em que aumentam as necessidades dos outros e a sua prosperidade se erige como consequência da contribuição dos demais.

Não cessam as suas actividades na luta pelo ganha-pão.

Naturalmente, esse comportamento passa a exigir, depois de algum tempo, que o indivíduo se associe a outro, formando uma empresa maior ou um clube de recreação, ignorando-se interiormente e buscando, sem cessar, as aquisições de fora.

A ansiedade, o medo, a solidão íntima tornam-se-lhe habituais, uma de cada vez, ou simultaneamente, desgastando-o, amargurando-o.

O homem, pela necessidade de afirmar-se no empreendimento a que se vincula, busca atingir o máximo, aspira por ser o número um e logra-o, às vezes.

A marcha inexorável do tempo, porém, diminui-lhe as resistências, solapando-lhe a competitividade, sendo substituído pelos novos competidores que o deixam à margem.

Mesmo que ele haja alcançado o máximo, os sócios actuais consideram-no ultrapassado, prejudicial à Organização por falta de actualidade e os filhos concedem-lhe postos honrosos, recreações douradas, lucros, desde que não interfira nos negócios...

Ocorre-lhe a inevitável descoberta sobre a sua inutilidade, isto produzindo-lhe choque emocional, angústia ou agressividade sistemática, em mecanismo de defesa do que supõe pertencer-lhe.

O homem, realmente não se conhece.
Identifica e persegue metas exteriores.
Camufla os sentimentos enquanto se esfalfa na realização pessoal, sem uma correspondente identificação íntima.

A experiência, em qualquer caso, é um meio propiciador para o autoconhecimento, em razão das descobertas que enseja àquele que tem a mente aberta aos valores morais, internos.

Ela demonstra a pouca significação de muitas conquistas materiais, económicas e sociais diante da inexorabilidade da morte, da injunção das enfermidades, especialmente as de natureza irreversível, dos golpes afectivos, por defrontar-se desestruturado, sem as resistências necessárias para suportar as vicissitudes que a todos surpreendem.

O homem possui admiráveis recursos interiores não explorados, que lhe dormem em potencial, aguardando o desenvolvimento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 09, 2012 9:49 am

A sua conquista faculta-lhe o auto descobrimento, o encontro com a sua realidade legítima e, por efeito, com as suas aspirações reais, aquelas que se convertem em suporte de resistência para a vida, equipando-o com os bens inesgotáveis do espírito.

Necessário recorrer a alguns valores éticos morais, a coragem para decifrar-se, a confiança no êxito, o amor como manifestação elevada, a verdade que está acima dos caprichos seitistas e grupais, que o pode acalmar sem o acomodar, tranquilizá-lo sem o desmotivar para a continuação das buscas.

Conseguida a primeira meta, uma nova se lhe apresenta, e continuamente, por considerar-se o infinito da sabedoria e da Vida.

É do agrado de algumas personalidades neuróticas, fugirem de si mesmas, ignorarem-se ou não saberem dos acontecimentos, a fim de não sofrerem.

Ledo engano! A fuga aturde, a ignorância amedronta, o desconhecido produz ansiedade, sendo, todos estes, estados de sofrimento.

O parto produz dor, e recompensa com bem-estar, ensejando vida.
O auto descobrimento é também um processo de parto, impondo a coragem para o acontecimento que libera.

Examinar as possibilidades com decisão e enfrentá-las sem mecanismos desculpistas ou de escape, constitui o passo inicial.

Édipo, na tragédia de Sófocles, deseja conhecer a própria origem.
Levado mais pela curiosidade do que pela coragem, ao ser informado que era filho do rei Laio, a quem matara, casando-se com Jocasta, sua mãe, desequilibra-se e arranca os olhos.

Cegando-se, foge à sua realidade, ao auto descobrimento e perde-se, incapaz de superar a dura verdade.

A verdade é o encontro com o fato que deve ser digerido, de modo a rectificar o processo, quando danoso, ou prosseguir vitalizando-o, para que se o amplie a benefício geral.

Ignorando-se, o homem se mantém inseguro.
Evitando aceitar a sua origem tomba no fracasso, na desdita.
Ademais, a origem do homem é de procedência divina.

Remontar aos pródromos da sua razão com serena decisão de descobrir-se, deve ser-lhe um factor de estímulo ao tentame.

O reforço de coragem para levantar-se, quando caía, o ânimo de prosseguir, se surgem conspirações emocionais que o intimidam, fazem parte de seu programa de enriquecimento interior.

O auto-encontro enseja satisfações estimuladoras, saudáveis.
Esse esforço deve ser acompanhado pela inevitável confiança no êxito, porquanto é ambição natural do ser pensante investir para ganhar, esforçar-se para colher resultados bons.

Certamente, não vem prematuramente o triunfo, nem se torna necessário.
Há ocasião para semear, empreender, e momento outro para colher, ter resposta.

O que se não deve temer é o atraso dos resultados, perder o estímulo porque os frutos não se apresentam ou ainda não trazem o agradável sabor esperado.

Repetir o tentame com a lógica dos bons efeitos, conservar o entusiasmo, são meios eficazes para identificar as próprias possibilidades, sempre maiores quanto mais aplicadas.

Ao lado do recurso da confiança no êxito, aprofunda-se o sentimento de amor, de interesse humano, de participação no grupo social, com resultado em forma de respeito por si mesmo, de afeição à própria pessoa como ser importante que é no conjunto geral.
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