LUZ ESPÍRITA
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Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:49 pm

EM BUSCA DA VERDADE
DIVALDO FRANCO

Pelo Espírito Joanna de Angelis

Todos os direitos de reprodução, cópia, comunicação ao público e exploração económica desta obra estão reservados, única e exclusivamente, para o Centro Espírita Caminho da Redenção (CECR). Proibida a sua reprodução parcial ou total através de qualquer forma, meio ou processo, sem a prévia e expressa autorização da Editora, nos termos da lei 9.610/98.

SUMÁRIO

Em busca da verdade.


01 O SER HUMANO E SUA TOTALIDADE
Estrutura bipolar do ser humano
A contínua luta entre o ego e o Self
A aquisição da totalidade


02 FRAGMENTAÇÕES MORAIS
Predomínio da sombra
Despertar do Self
Integração moral


03 ENCONTRO E AUTO-ENCONTRO
Um país longínquo
Voltar para casa
Amar para ser feliz


04 EXPERIÊNCIAS DE ILUMINAÇÃO
Perder-se e achar-se
Sair de si mesmo
Rejubilar-se


05 CONVIVER E SER
Cair em si
A coragem de prosseguir em qualquer circunstância
Ser-se integralmente


06 O SER HUMANO EM CRISE EXISTENCIAL
As conquistas externas
A grande crise existencial
O ser humano pleno


07 A POSSÍVEL SAÚDE INTEGRAL
A parábola dos talentos
A conquista do Si
Binómio saúde-doença


08 A BUSCA DO SIGNIFICADO
O bem e o mal
Os sofrimentos no mundo
A individuação


09 BUSCA INTERIOR
Identificando o inconsciente
Fé e religião
Pensamento e acção


10 A VIDA E A MORTE
A vida harmónica
Equipamentos psicológicos para o ser
A fatalidade da morte


Última edição por Ave sem Ninho em Sáb Dez 23, 2023 10:11 pm, editado 4 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:49 pm

EM BUSCA DA VERDADE
...Conhecereis a verdade, e a verdade vos tornará livres.
(João 8:32)

Plotino, o nobre filósofo pai da doutrina neoplatónica, discípulo de Amónio Sacas, nascido em Licópolis, no Egipto, elucidou com sabedoria, conforme se encontra nas Enéadas, volume VI:
...o conhecimento do Uno não vem por meio da ciência e do pensamento... mas através de uma presença imediata, superior à ciência.

Esse conceito sábio conduz o pesquisador ao encontro da intuição, veículo subtil para fazê-lo compreender a verdade universal, a Causalidade de tudo e de todos, desde que, através dos métodos convencionais, racionais, no conceito junguiano mediante as outras funções psicológicas — sensação, sentimento e intelecto — não consegue a identificação perfeita com a Realidade.

É através do processo de maturidade psicológica, que o Self se vai libertando das camadas que lhe dificultam o conhecimento, desde que, vitimado pelo ego com todas as suas heranças do primitivismo, especialmente na área dos instintos, mantém-se adormecido, sem a possibilidade de libertar a essência divina de que se constitui.

No largo processo da evolução, em algumas ocasiões esse fenómeno dá-se naturalmente, vezes outras, no entanto, é através da intuição, do insight que se logra o apercebimento da Unidade, da origem da vida e da sua fatalidade de retorno à mesma, mantendo, no entanto, a individuação, conquistada a longos esforços.

Em face da grandiosidade e in finitude do conhecimento, uma existência corporal é insuficiente, em tempo e em oportunidade, para abarcar-se as leis e informações que dizem respeito à grandeza da vida, sendo indispensável o mergulho na esfera carnal, inúmeras vezes, de modo que se desenvolvam os seus germes em latência no cerne do Self, depositário dos sublimes recursos de que se faz herdeiro.

Essa intuição, no entanto, é resultado da conquista do super-consciente antenado com as Fontes geradoras da vida, após a superação da sombra e dos outros arquétipos que trabalham pela preservação dos conflitos, da lógica apenas advinda do intelecto, libertados do inconsciente colectivo e integrados no eixo ego-Self.

A função da psicologia analítica é atender às necessidades profundas do ser humano, procurando despertá-lo para a sua realidade transcendental, trabalhando-lhe os valores nobres adormecidos, mediante os quais consegue identificar-se realmente com a vida, libertando-se de todas e quaisquer manifestações do sofrimento sob qual disfarce se apresente.

A busca da saúde é essencial ao ser humano, em razão do anseio pelo bem-estar que lhe amplia os horizontes do entendimento em torno dos objectivos que lhe dizem respeito e das possibilidades de tornar a existência terrestre apetecida e rica de bênçãos.

Nesse sentido, o equilíbrio mente-corpo-emoção é essencial, favorecendo-o com a harmonia defluente das aquisições diárias sobre os conflitos e diluição deles mediante a aquiescência dos sentimentos em perfeita identificação com o Self.

A verdade a que nos referimos não tem conotação religiosa ancestral, mística ou castradora, que impede a vivência das funções orgânicas da vida humana sob justificações sofistas e propostas masoquistas.

O ser humano, na sua constituição tríplice — Espírito, perispírito e matéria — é um conjunto electrónico sob o comando da consciência, que é emanação do Divino Pensamento, na qual se encontram arquivadas as leis de Deus, de acordo com o seu nível de evolução, facultando que as experiências sejam realizadas e assimiladas, de forma que se transformem em conhecimento e sentimento, servindo sempre de base para realizações outras no futuro.

Referimo-nos, desse modo, a verdade que, filosoficamente, tem um carácter universal, não dependendo de circunstâncias, nem de locais, que flui do Uno, conforme o multimilenário conceito hinduísta.

Deus, desse modo, na visão moderna do Espiritismo, desumanizado e transcendente quanto imanente, é a verdade absoluta que atrai o Espírito na sua contínua ascensão moral.

Por outro lado, a Sua representação psicológica é facilmente detectada como a plenitude, a harmonia, o estado numinoso integral.
Se, no entanto, esse indivíduo humano não conseguir a perfeita identificação dos elementos de que se constitui, por meio do equilíbrio físico-psíquico, permanecerá em lutas contínuas internas e externas, do si-mesmo deslocado, vencido pela sombra que o amarfanha e que lhe retira os ideais de enobrecimento e de libertação dos atavismos infelizes.

Intuitivamente, todos sentem que algo transpessoal existe e os arrasta na sua direcção num verdadeiro Deotropismo.

O nobre Jung entregou a preciosa existência ao estudo da Realidade, utilizando-se da que se denomina objectiva para penetrar naquela que vai além dos sentidos, legando à Humanidade a inapreciável contribuição das suas reflexões, observações e práticas, num estudo de transcendência do ser, da sua constituição, da sua origem e do seu destino...

Realizando investigações científicas com Pauly, o célebre físico quântico, penetrou também a sua sonda investigadora nas doutrinas orientais, especialmente no Budismo, nas mandalas, para identificar o ser real, compreender o sempre complexo e fugidio Self...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:49 pm

O ser humano é um conjunto em transição contínua, em processo de aprimoramento incessante sob todos os aspectos considerados.
Nessa ebulição transformadora ininterrupta, surgem complexidades umas e desaparecem outras, que vão ficando, as últimas, na sua história antropológica ancestral, e diversas como perspectivas de apreensão e de conquista que deve ser lograda.

Seguido pelo sofrimento, à medida que realiza o autodescobrimento diminui a carga de aflição e alarga as percepções em torno da existência, podendo trabalhar para que seja cada vez menos angustiosa, concedendo-lhe mais ampla liberdade de pensamento, de movimento e de acção.

De início, a libertação do sofrimento apresenta-se como de urgência, pelas aflições que propiciam a dor, a angústia, os conflitos emocionais, as frustrações, as ansiedades e as perdas...

Logo depois de lograda a compreensão do mesmo, o ego desarma-se e contribui em favor da solidariedade e da compaixão, passos que denotam a presença do amor na psique e na emoção, favorecendo o Self com a legítima compreensão da Realidade.

É nesse momento que se encontra predisposto à intuição, aos flashes dos insights, campos admiráveis extra-físicos da percepção que leva à individuação.
Nascer, viver, morrer, nascer de novo — é a Lei, no entanto, é essencial descortinar algo mais profundo, que é a prática da caridade como processo de salvação, de auto-iluminação.

Não a caridade convencional, por cuja prática espera-se a realização do negócio fraudulento entre as doações mesquinhas das coisas terrenas em comércio com as conquistas espirituais.

Entenda-se salvação como libertação da ignorância, do mal que existe no íntimo de cada pessoa, ausência da crueldade e do mal, em vez do desgastado conceito de retribuição na espiritualidade.

Quando o Self identifica a necessidade de ser gentil, caridoso e afável, portador de compaixão e humanitarismo, desloca-se da função convencional para externar o divino que nele existe, reaproximando-o de Deus.

É graças a esse processo lento e contínuo que o transforma no fulcro real do ser, de onde promanam as mais belas expressões de vida e de realização, insuflando ânimo e alegria de viver, mesmo quando as circunstâncias se apresentam difíceis ou assinaladas por sofrimentos que fazem parte da agenda responsável pela auto-iluminação.

Todos os seres estão fadados à plenitude para a qual foram criados, atravessando os períodos diferenciados da escala evolutiva, desde as expressões primárias que imprimem conteúdos perturbadores no seu cerne, necessitando de passar pelas transformações libertadoras, que facultam à essência espiritual o seu total desabrochar.

Em razão dos milhões de anos em que se ergástulo o psiquismo na matéria densa, o impositivo de desimpregnação torna-se penoso na razão directa em que desperta a consciência e a sensibilidade se norteia na direcção do transcendental.

O fascículo de luz emboscado na forma grotesca vai-se desenvolvendo e logrando aptidões mediante as quais as várias formas se aprimoram, tornando-se mais complexas e mais perfeitas, em um fenómeno progressivo de fatalidade biológica no rumo da Grande Luz.

Transferindo-se de uma para outra etapa, as experiências apresentam-se carregadas das heranças ancestrais, exigindo esforço para as alterações compatíveis com o novo nível de despertamento até atingir o período soberano da razão, quando a sensibilidade e as percepções fazem-se mais aguçadas, abrindo o espaço para a compreensão do sentido da vida e a conquista legítima da Realidade.

Nessa trajectória, o binómio saúde-doença apresenta-se assinalado por muitas dificuldades de ordem fisiológica, psicológica e mental, que devem desaguar na harmonia propiciatória do equilíbrio pleno.

Graças às conquistas das ciências, especialmente aquelas que estudam a psique, existem inúmeros mecanismos e recursos que contribuem eficazmente para esse desiderato, proporcionando a existência saudável na Terra e a individuação que permanece além da esfera física...

O presente livro é mais uma tentativa de nossa parte, buscando contribuir com os estudiosos de si mesmos, interessados na libertação real das aflições e não somente na solução dos sintomas, de modo que possam fruir de bem-estar durante a vilegiatura carnal, entendendo as suas causas, ao mesmo tempo encontrando os recursos especializados para impedir-lhes o surgimento dos efeitos, e quando esses ocorrerem diluí-los de maneira sábia, resultando em alegria de viver, de pensar e de agir.

Utilizamo-nos, mais de uma vez, da excelência terapêutica de algumas das excepcionais parábolas de Jesus, em cujo bojo se encontram as lições psicoterapêuticas valiosas para a conquista do si-mesmo, para a integração do ego-Self.

De grande actualidade, produzem um efeito saudável em todo aquele que as lê com seriedade e interesse, procurando entendê-las no seu significado legítimo, arrancando da letra que mata o espírito que vivifica.

Ao mesmo tempo, apoiando-nos nos incomparáveis ensinamentos propiciados pelos Mentores da Humanidade a Allan Kardec, que deram surgimento ao Espiritismo, buscamos fazer uma ponte de perfeita identificação com a psicologia analítica, apresentada pelo admirável neurologista e psiquiatra suíço Carl Gustav Jung.

Confiamos que a nossa tentativa de servir encontre ressonância nos estudiosos da psique humana e contribua de alguma forma para tornar a existência terrestre mais saudável, ensejando, por antecipação, as alegrias que estão reservadas a todo aquele que for fiel ao bem até o fim como preconizou Jesus.

Salvador, 20 de fevereiro de 2009.
Joanna de Angelis
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:50 pm

01 - O SER HUMANO E SUA TOTALIDADE
Estrutura bipolar do ser humano
A contínua luta entre o ego e o Self
A aquisição da totalidade


O ser humano é organizado por complexos elementos que transcendem a uma análise superficial, exigindo seguro aprofundamento nos seus elementos constitutivos.

De origem divina, em sua essência, desenvolveu a inteligência e o sentimento através do extraordinário périplo antropossociopsicológico.
É Criado simples e ignorante, na condição de princípio inteligente, desenvolveu-se ao largo das centenas de milhões de anos, atravessando as diversas fases da cristalização, da sensibilidade vegetal, da percepção instintiva animal até alcançar a consciência e a inteligência humanas, estagiando, momentaneamente, na experiência virtual, que lhe estava predeterminada, e que seguirá logrando conquistas mais grandiosas.

Do silêncio profundo, nos estágios primários aos sons grotescos das diversas espécies animais, conseguiu expressivo passo ao lograr a verbalização do pensamento, potencializando-se com a amplitude do conhecimento de que dispõe para expressar a beleza, as formas e a vida em todas as suas manifestações.

Nesse período, desenvolveu as artes, a cultura, o pensamento filosófico, conduzindo a criatividade para descobrir os segredos ocultos em a Natureza, ensaiando os passos com audácia no empirismo, logo depois no conhecimento dos princípios racionais através das experiências em momentosas pesquisas, ensaiando os gloriosos passos na direcção da ciência.

Graças a essas conquistas, alterou as paisagens terrenas, modificando as estruturas de algumas partes do planeta, tomando conhecimento dos fenómenos sísmicos e ambientais, atmosféricos e marítimos, podendo prever as ocorrências calamitosas, impossibilitado ainda de as impedir...

Grandes níveis de aquisições foram alcançados no combate às enfermidades, especialmente aquelas de natureza pandémica, tropicais, infecto-contagiosas, algumas degenerativas, aos transtornos comportamentais e psíquicos, melhorando a longevidade do ser humano com favoráveis condições de vida.

Conseguiu penetrar nos quase insondáveis mistérios do macro e do microcosmo, solucionando graves questões que pairavam ameaçadoras sobre a existência humana.
Embelezou o planeta através de edificações colossais, drenando pântanos, criando jardins e pomares em terras desérticas, construindo lares e santuários confortáveis, assim como hospitais, escolas e oficinas de trabalho com excelentes condições de dignidade para os seus funcionários.

Graças à tecnologia, que também descobriu e aprimorou, produziu veículos que transitam em altas velocidades, cortando estradas terrestres e espaciais, oceânicas e submarinas, favorecendo a comunicação por intermédio de instrumentos de alta e eficiente precisão, que favorecem o conforto e dão alegria, proporcionando espectáculos de arte e de ciência ao alcance de milhões de indivíduos.

Do homem primitivo ao moderno há um tremendo pego assinalado por incontáveis realizações e sacrifícios que mais o dignificam, impulsionando-o ao avanço contínuo na direcção do infinito.

Em face da sua natureza fragmentada, a agressividade ainda não pode ser controlada, mesmo depois dos valiosos recursos da educação e da instrução, do conhecimento e da lógica, da identificação de todos os recursos que tornam a vida feliz e aprazível ou a desqualificam na ordem da evolução.

Tem havido predominância dos instintos em detrimento da razão, do egoísmo em relação ao altruísmo, da natureza animal em face da natureza espiritual.
A fixação no corpo e nas suas reais como falsas necessidades, nele desenvolveu ambições desmedidas, a princípio como básicas para a conservação da vida, mais tarde, porém, como recurso de poder para gozar, dando vazão à inferioridade moral não superada que o atrela às paixões primitivas.

Apesar de todos os embates filosóficos, sociológicos, éticos e morais, não conseguiu um desenvolvimento idêntico nessa área conforme os logrou no comportamento externo.
Isto ocorreu, porque a evolução exterior é mais fácil de ser adquirida, em relação à de natureza interior, que impõe vigilância e sacrifícios especiais na área dos sentimentos e da razão.

Embora, na actualidade, jactando-se de ser civilizado e educado, não tem conseguido evitar as guerras que promove, utilizando-se dos notáveis descobrimentos que canaliza para o crime e a destruição, vitimado pela mesquinhez e pelos conflitos internos que o esmagam dolorosamente.

Ao lado desse tremendo infortúnio, multiplicam-se as calamidades que não tem sabido administrar, tornando o seu habitat campo de batalha, cárcere de desaires, reduto de temor e de insegurança que produzem estertor e agonia.

Inseguro na sua trajectória, vem destruindo as fontes de recursos naturais, ameaçando a Natureza e todos os seus elementos, que se encarregarão de torná-lo mais sofrido, caso não modere a utilização dos esgotáveis recursos que se encontram à sua disposição.

Essas nefastas ocorrências, porém, são filhas da sua fragmentação interior, das heranças ancestrais, das suas más inclinações.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:50 pm

Estrutura bipolar do ser humano

O objectivo essencial da existência humana, do ponto de vista psicológico, na visão junguiana, é facultar ao indivíduo a aquisição da sua totalidade, o estado numinoso, que lhe faculta o perfeito equilíbrio dos poios opostos.

Jung havia estabelecido que o ser humano é possuidor de uma estrutura bipolar, agindo entre esses dois diferentes estados da sua constituição psicológica, qual ocorre com os arquétipos anima e animus.

''Toda vez que lhe ocorre uma aspiração, o polo oposto insurge-se, levando-o ao outro lado da questão.
Qualquer comportamento de natureza unilateral logo desencadeia uma reacção interna, inconsciente, em total oposição àquele interesse.
Quando o indivíduo se exalta em qualquer forma de personalismo está mascarando a outra natureza que também lhe é inerente,

Se se atribui virtudes e valores relevantes, eles são defluentes de fantasias internas do que gostaria de ser, sem que o haja conseguido.

Um eu opõe-se ao outro eu em intérmina luta interior.

Um é consciente, vigilante;
o outro é inconsciente, adormecido, que desperta accionado pelo seu oposto.

Um se encontra na razão;
o outro, no sentimento ou vice-versa.

A não vigilância e não saudável administração desse opositor se apresenta como desvario, que impede o raciocínio lúcido, a presença da razão.
Esse ser duplo é constituído, ora como resultado do conhecimento adquirido, de experiência vivenciada, enquanto o outro é de total desconhecimento, permanecendo oculto sempre à espreita.

O nobre Jung utiliza-se de imagem carregada de lógica moderna, quando esclarece:
- O ser humano vive como alguém cuja mão não sabe o que a outra faz, o que induz à recordação do pensamento de Jesus, quando se refere à excelsa acção da caridade:
Dai com a mão direita, sem que a esquerda o saiba.

* Conhecia Jesus as duas polaridades psicológicas do ser humano e, por isso, incitava-o a amar tão profundamente que o seu gesto de afeição sublime e consciente estivesse em plena concordância com os seus arquivos inconscientes.

Aquele que não consegue harmonizar os dois polos em uma totalidade, invariavelmente faz-se vítima das expressões desorganizadas do sentimento, induzindo-o às emoções fortes, descontroladas.

Stevenson, o inspirado poeta inglês, bem traduziu esses dois poios na sua obra genial O médico e o monstro, quando o Dr. Jekil era vítima do Sr. Hide que coabitava com ele no seu mundo interior, expressando toda a inferioridade que o médico buscava superar no seu ministério sacerdotal.

Na tradição religiosa, expressam-se como o bem e o mal, ou o anjo e o demónio, continuando na feição sociológica em conceituação do certo e do errado, da treva e da luz, do belo e do feio.,
Essa dicotomia psicológica permanece no ser humano em desenvolvimento emocional e espiritual.

O esforço terapêutico a desenvolver, deve ser todo voltado para a integração do outro polo, o oposto, naquele que está consciente e é relevante, produtivo, saudável, caminho seguro para a completude.

O esforço consciente do indivíduo para auto-penetrar-se, autoconhecer-se, como resultado das tensões dos poios activados pelo interesse da integração, induz o indivíduo a um comportamento gentil, afável, compreensível das dificuldades e limitações do seu próximo.

Enquanto, porém, permanece essa dissociação, essa fragmentação, esse desconhecimento da consciência, invariavelmente se tomba na cisão da personalidade, da qual irrompem os transtornos neuróticos que atormentam, aumentando a distância entre os actos conscientes e os inconscientes.

Jung sugere os símbolos como representações dos conflitos que se estabelecem nas oposições dos mesmos, encarregados de os unir e formar apenas uma realidade, como se observa na cruz, cujos braços têm o seu ponto de segurança no centro em que se encontra a haste vertical com a horizontal, representando a segurança, a unidade daqueles contrários...

Nesse sentido, o emérito mestre suíço recorre ao comportamento do cristão, na sua rendição à Divindade, sem esfacelar-se nela, mas tornando-se um eleito, capaz de conduzir o próprio fardo, a própria cruz.

Pessoas inexperientes, quando se dão conta dos opostos no seu mundo interior, afligem-se desnecessariamente, formulando conceitos indevidos e punitivos, como se as manifestações do inconsciente signifiquem inferioridade, promiscuidade, dando origem a culpas injustificáveis pelo fato de existirem.

Supõem, precipitadamente, que podem forçar a mudança, tornando-se puras, embora os conflitos, culminando em descobrimentos dolorosos de existências vazias.
Esses conflitos não devem ser combatidos como inimigos num campo de batalha, mas atendidos, orientados, esclarecidos, libertando-se deles pela sua conscientização, de forma que a autoconsciência experimente bem-estar pela conquista realizada interiormente.

É comum a ocorrência de pensamentos infelizes no momento da oração, da meditação, o que não é habitual noutras ocasiões, gerando inquietação e mal-estar.

Ocorre que, estando arquivados no inconsciente, quando esse é activado pelo polo edificante, logo o outro descerra a sua cortina e libera o adversário.
A atitude a tomar com tranquilidade consiste em permanecer não reactivo, insistindo no propósito ora em vivência até a unificação dos oponentes.

A fragmentação leva ao desfalecimento, à perda do entusiasmo.
Um eu em luta contra o outro eu deteriora o sentimento ou aturde a razão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:50 pm

A contínua luta entre o ego e o Self

Invariavelmente, o indivíduo busca superar esse eu opositor frequente, adoptando comportamento castrador, por intermédio do esforço consciente para suprimi-lo, o que redunda em grande fracasso, porque o polo que orienta o outro eu permanece vivo, embora disfarçado pela aparência que se adquire.

Não são poucos os indivíduos que se refugiam em ideais, especialmente nas doutrinas religiosas, como evasão da realidade, adoptando comportamentos nobres, no entanto, mascaradores dos seus conflitos, como, por exemplo, quando na adopção de condutas violadoras das funções orgânicas, especialmente as genésicas, liberando, embora inconscientemente, a sexualidade, nos abraços e beijos fraternais...

A sombra existente no ser humano não deve ser combatida, senão diluída pela integração na sua realidade existencial.
Ela desempenha, portanto, um papel fundamental no equilíbrio entre o ego e o Self, no que resulta a unificação também dos poios quando se consegue a sua diluição.

A cisão existente, defluente da fragmentação psicológica, deve avançar para a integração, a unidade.
O ego, no conceito freudiano, conforme bem o define o dicionário Aurélio, é:
A parte mais superficial do id, a qual, modificada, por influência directa do mundo exterior, por meio dos sentidos, e, em consequência, tornada consciente, tem por funções a comprovação da realidade e a aceitação, mediante selecção e controle, de parte dos desejos e exigências procedentes dos impulsos que emanam do id.

Nele se encontram, portanto, os impositivos dos instintos que se derivam do princípio do prazer e pela compulsão ao desejo.
São esses impulsos o resultado dos instintos procedentes das faixas primárias da evolução, que se destacam em oposição quase dominante contra a razão, a consciência de solidariedade, de fraternidade, de tolerância e de amor.

Dominador, o ego mascara-se no personalismo, em que se refugiam as heranças grosseiras, que levam o indivíduo à prepotência, à dominação dos outros, em face da dificuldade de fazê-lo em relação a si mesmo, isto é, libertar-se da situação deplorável em que se encontra.

A luta interna dos dois poios faz-se cruel, embora o ego aparente ignorá-la, mantendo uma superficial consciência do valor que se atribui, do poder que exterioriza, da condição com que se apresenta.

Sendo o Self o arquétipo básico da vida consciente, o princípio inteligente, ele é o somatório de todas as experiências evolutivas, sempre avançando na direcção do estado numinoso.

Nessa dissociação dos poios, muitas vezes pode parecer que o indivíduo, a grande esforço, conseguiu a integração, até o momento em que se surpreende com o terror da cisão inesperada que o leva a um transtorno profundo, especialmente se viveu em razão de um ideal que asfixiou o conflito, mas não o solucionou, despertando com sensação de inutilidade, de vazio existencial.

Sucede que o ego exige destaque, compensação, aplauso, embora nos conflitos entre razão e instinto, originando-se nele um tipo de sede de água do mar, que não é saciada por motivo óbvio.

Mesmo encontrando compensações de prazer, do impulso instintivo que leva à compulsão do desejo, a insatisfação defluente da ansiedade do poder empurra a sua vítima ao transtorno depressivo, porque a sua ânsia de dominação termina por esvaziá-lo interiormente.

O mesmo ocorre na vida monástica, no período em que diminuem o entusiasmo e o egotismo no postulante ou no religioso, quando então é acometido pela melancolia que se agrava em afligente depressão, falsamente interpretada como interferência demoníaca, pelo fanatismo que ainda vige em muitos sectores da fé espiritualista.

Com alguma razão, Alfredo Adler referia que o instinto de dominação no indivíduo, quando não encontra compensação ou não se sente reconhecido e aceito, foge, oculta-se na depressão, na qual expressa a agressividade e a violência.

Nesse sentido, o paciente não tem problema, pois que o estado em que se encontra de alguma forma faz-lhe bem, tornando-se um problema para o grupamento social saudável, que busca manipular, dominando-o, tornando-se factor de preocupação para os outros.*

Conscientizar a sombra, diluindo-a, mediante a sua assimilação, ao invés de ignorá-la, constitui passo avançado para a perfeita identificação entre ego e Self.
Jung percebeu com clareza esses dois eus no indivíduo, que se podem explicar como resultantes do Self, aquele que é bom e gentil, e do ego que preserva o lado feroz, vulgar, licencioso, negativo.

Poder-se-ia dizer que o indivíduo possuiria duas almas em contínuo antagonismo no finito de si mesmo.
Essas expressões apresentam-se na conduta humana, quando em público, aparenta-se uma forma de ser e, quando, no lar, na família ou a sós, outra bem diferente.

O que representa gentileza transforma-se em mal-estar, azedume e aspereza.
Aceitar-se com naturalidade esses opostos é recurso salutar, terapêutico, para melhor contribuir-se em favor da harmonia entre os outros litigantes, que são o ego e o Self.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:51 pm

No comportamento social não é necessário mascarar-se de qualidades que não se possuem, embora não se deva expor as aflições internas, os tormentos do polo negativo.
Assumir-se a realidade do que se é, administrando, pela educação - fonte geradora dos valores edificantes e enobrecedores - os impulsos do desejo e do prazer, transformando-os em emoções de bem-estar e alegria, saindo da área das sensações dominantes, constitui maneira eficiente para diminuir a luta existente entre os dois arquétipos básicos da vida humana.

Uma religião racional como o Espiritismo, destituída de fórmulas que ocultam o seu conteúdo, que é optimista e não castradora, que convida o indivíduo a assumir as suas dificuldades, trabalhando-as com naturalidade, sem a preocupação de parecer o que ainda não consegue, estruturada na realidade do ser imortal, com as suas glórias e limitações, é valioso recurso terapêutico para a união de todos os opostos, que passarão a fundir-se, dando lugar a um eu liberado dos conflitos, que se pode unir à Divindade, sem os artifícios que agradam os indivíduos ligeiros e seus supérfluos comportamentos existenciais.

A luta, portanto, existente entre o ego e o Self é saudável, por significar actividade contínua no processo de crescimento, e não postura estática, amorfa, que representa uma quase morte
psicológica do ser existencial.

Humanizar-se, do ponto de vista psicológico, é integrar-se.
Jesus-Cristo foi peremptório, demonstrando a Sua perfeita integração com o Pai, quando enunciou:
- Eu e o Pai somos um, dando lugar à perfeita identificação entre ambos, aos comportamentos nobres, às propostas libertadoras sem apoios de oposição.

Mais tarde, o apóstolo Paulo, superando as lutas entre o ego dominante e o Self altruísta, universal, proclamou:
— Já não sou eu quem vive, mas o Cristo que vive em mim.

A sombra que nunca teve existência em Jesus, dele fez a Luz do mundo e a que existia em Saulo, Paulo, por fim, iluminou-a, diluindo-a no amor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:51 pm

A aquisição da totalidade

Quando se conquista uma floresta densa, o primeiro movimento é o de abrir-se clareiras na sua escuridão e densidade, a fim de que entre a luz e haja espaço para a edificação do que se transformará em posto avançado de serviço e de repouso.

* O inconsciente é uma floresta densa, a parte submersa de um iceberg flutuando sobre as águas tumultuadas da existência física.
* A grande maioria dos actos e comportamentos humanos, na sua expressão mais volumosa, procede do inconsciente, sem a interferência da consciência lúcida.

No inconsciente colectivo, encontram-se arquivados toda a história da Humanidade, os diferentes períodos vivenciados, abrindo pequeno espaço ao inconsciente individual, encarregado dos registros atuais, desde a concepção até a actualidade.

Há profunda sensatez e veracidade na informação, considerando-se que o Self se estruturou ao largo das sucessivas reencarnações, por onde esse princípio inteligente desdobrou os conteúdos adormecidos em germe, seu Deus interno, até o momento da consciência.

As impressões que dizem respeito às memórias colectivas nesse grandioso inconsciente, têm procedência, porque se referem às vivências individuais ou às informações transmitidas pelos contemporâneos ou ascendentes que as viveram.

Para que haja uma real integração desses arquétipos predominantes em o ser humano, torna-se indispensável o amor a si mesmo, conforme a recomendação do sublime Psicoterapeuta Jesus-Cristo.
Ele sabia da existência da sombra individual e colectiva, que aturdia o ser humano.

Na Sua proposta psicoterapêutica através do amor, Ele destacou aquele de natureza pessoal, a si mesmo, em razão dos escamoteamentos, quando se procura amar ao próximo, impossibilitado daquele que é devido a si mesmo, ao Self.

Essa é uma artimanha da sombra, disfarçando o transtorno da indiferença ou animosidade contra o próprio ser, dos conflitos perturbadores no íntimo, em fuga espectacular para a valorização do outro com desprezo pelos seus sentimentos, suas conquistas e seus prejuízos.

Quando o indivíduo não se ama, certamente apaixona-se, deslumbra-se, admira o outro a quem diz amar, até a convivência demonstrar que se tratou apenas de uma explosão sentimental sem profundidade nem significado.

Não são poucos aqueles que afirmam amar, para logo apresentar-se decepcionados por haverem constatado que o outro lhes é semelhante, portador também dos polos opostos, atrelado a dificuldades e limites, que o dito afectuoso gostaria que ele não tivesse, esperando compensações pelas próprias fraquezas.

O amor a si mesmo deve centralizar-se no auto-respeito e na auto-consideraçao que cada um se merece, identificando a sua sombra, que é familiar aos demais, aceitando-a e diluindo-a na mirífica luz da amizade e da compreensão.

Não se trata de ficar contra as imperfeições - a sombra interior - mas de identificá-la, para mais reforçá-la, o que equivale dizer, conscientizar-se da sua existência e considerá-la parte da sua vida.

Lutar contra a sombra representa proceder a um desgaste inútil de energia. Quando é identificada, a energia retorna à psique, e, à medida que a mesma é integrada, mais vigor se apresenta no ser consciente.

É necessário, portanto, uma atitude activa e não passiva, porque essa passividade, essa anuência com a ignorância, nada fazendo para modificar-lhe a estrutura, alterando-a e dissolvendo-a, fomenta a violência de todo porte, que desagua entre os poderosos terrestres em guerras hediondas, espraiando a sombra colectiva da arbitrariedade e da prepotência.

O bem e o mal têm a mesma origem na psique humana, resultando de experiências ancestrais que foram vividas pelo Self.
Da mesma forma, a sombra, os antagonismos podem e devem ser enfrentados através de diálogos com os opostos, que elucidam a sua finalidade e os seus gravames.

Nos relacionamentos entre amigos e parceiros, sempre ocorre a fragmentação, na qual a duração dessa convivência é de curto prazo, mesmo quando se inicia com entusiasmo e ardor.
De um para outro momento alguém nota que a sua voz interior não apenas critica-o, lamentando a conivência, informando da sua indignidade ou inferioridade em relação ao outro, como também pelo surgimento de uma agressão ferina, de apontamentos desagradáveis sobre o amigo ou parceiro...

Tal ocorrência produz o comportamento exterior sem correspondente íntimo, dando lugar ao cansaço ou à indiferença, ou a uma forma de saturação emocional, destituindo o prazer que antes era haurido naquele convívio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:51 pm

Ninguém deve ignorar a voz interior, especialmente quando crítica ou mordaz, responsável por comentários depreciativos da própria pessoa ou de referência a outrem..

Torna-se necessário o seu enfrentamento lúcido e natural, diluindo a tensão que se estabelece entre o consciente e o inconsciente.
Normalmente, diante de uma bela performance exterior, irrompe interna a voz que censura, que abomina, que recalcitra em relação àquele desempenho.

Essa tormentosa sombra imanente na psique faz parte do ego à espera da valiosa contribuição do Self libertador.
Considere-se a existência da sombra como uma questão moral, não a ocultando através de sacrifícios, de sevícias e de autoflagelações para vencer o que se denominou como as tentações, porque tais comportamentos são pertinentes a ela mesma que, submetida por algum tempo, um dia irrompe em forma de desencanto ou de vulgaridade a que se entregam aqueles que, longamente, impediram-na de manifestar-se, acreditando falsamente na vitória sobre ela.

Devorar a sombra com integração lúcida na psique, é também uma forma de diluí-la, incorporando-a ao conjunto, trabalhando pela unidade.
Qualquer tipo de violência ou obstinação contrária, mais a reforça, enquanto que toda expressão de amor e de humildade em relação à mesma, libera-a.

Reconhecer-se imperfeito, como realmente se é, portador de ulcerações e de cicatrizes morais, é um acto de humildade real, que se deve manter com dignidade, enquanto que, divulgá-los, demonstrando simplicidade, é maneira de permanecer-se no estágio de dominação pela sombra que somente mudou de expressão e de comportamento.

Nada mais desagradável e mórbido do que a falsa humildade, aquela que exclui o indivíduo dos valores éticos elevados, que o subestima, expressando, disfarçadamente, presunção, diferenciamento das demais pessoas.

Jesus, que é inabordável psicologicamente, porque paira acima de todas as criaturas, como biótipo especial, jamais se subestimou ou adoptou epítetos depreciativos para demonstrar humildade.

Pelo contrário, sempre referiu-se como o Enviado, o Messias, o Filho de Deus, a Luz do mundo, o Pão da vida, etc., demonstrando a Sua autoconsciência.
Entre a humildade e o exibicionismo permanece uma grande diferença.

Muita aparência humilde torna-se ostentação disfarçada, portanto, presença da sombra dominadora na conduta psicológica.
Em qualquer movimento religioso, que busca a superação dos conflitos, vale a pena considerar-se que convivem no mesmo indivíduo o anjo e o demónio, que necessitam harmonizar-se, descendo um na direcção do outro que ascende no rumo do primeiro.

Quando se reconhece essa dualidade presente na psique, que é representativa do ser humano, uma das suas características, portanto, torna-se fácil a terapia equilibradora, unindo-a em um ser lúcido psiquicamente e generoso emocionalmente.

A integração é necessidade de vivenciar-se um labor consciente, de amadurecimento psicológico, de conquista emocional e espiritual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:51 pm

02 - FRAGMENTAÇÕES MORAIS
Predomínio da sombra
Despertar do Self
Integração moral


Na condição de Psicoterapeuta excepcional, Jesus utilizou-se dos símbolos, nobres arquétipos da época, a fim de imortalizar as Suas propostas de saúde e de bem-estar.

Trazendo as Boas novas de alegria, para uma época atormentada, assinalada por criaturas aturdidas na ignorância, todo o Seu ministério revestiu-se de propostas libertadoras do primitivismo, de respeito pela vida e em favor da harmonia dos sentimentos, em incomparável directriz de identificação entre o ego e o Self.

Compreendendo os tormentosos conflitos dos indivíduos e das massas que constituíam, do inconsciente individual e colectivo referto de heranças ancestrais primitivas, perturbadoras, sem vislumbres próximos de um super-consciente rico de harmonia, sabia que a única e mais eficaz maneira de proporcionar a libertação dos pacientes algemados ao egoísmo e ao imediatismo, somente seria possível por intermédio do autoconhecimento.

Em face da cultura religiosa fanática e atrasada - a sombra dominadora - bem como da ausência dos conhecimentos sobre a vida, somente facultados na intimidade dos santuários esotéricos, onde poucos iniciados tinham a oportunidade de conhecê-la, identificando a estrutura complexa do ser e as suas afortunadas possibilidades amortecidas pela matéria, Ele propôs a ruptura do obscurantismo com as claridades da razão, utilizando-se de imperecíveis símbolos que passaram à posteridade e prosseguem perfeitamente actuais.

'Narrando parábolas, facultava o acesso ao ignorado Self despertava-o de maneira hábil, embora simples, para que dominasse o ego, nada obstante as injunções perversas do Seu tempo.

Vivendo para todos as épocas atemporais, legou para as gerações do futuro os memoráveis ensinos, superando as linguagens dos antigos mitos, por serem psicoterapêuticos, embora o objectivo aparentemente moral, social e religioso que ocultavam.

Por isso, foi enfático, ao afirmar a respeito dos Seus ensinamentos que a letra mata, mas o espírito vivifica, produzindo a perfeita vinculação do eixo ego-Si mesmo, expressando que, além da forma tosca sempre havia o conteúdo saudável e vivo para o processo da cura real de todas as enfermidades.

Dentre as reveladoras contribuições psicológicas, desse género, para a posteridade, narrou a parábola do Filho Pródigo, conforme as admiráveis anotações de Lucas, no capítulo 15 do
seu Evangelho, versículos 11-32.

Em síntese, trata-se de uma história que bem expressa a fragmentação da psique em torno dos arquétipos dos valores morais no ser humano, nesse embate sem quartel entre o ego imediatista e dominador e o Self harmónico e totalizante.

Um homem tinha dois filhos — narrou Jesus —.
Disse o mais moço a seu pai:
- Meu pai, dá-me a parte dos bens que me toca.
Ele repartiu os seus haveres entre ambos.
Poucos dias depois o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para um país longínquo, e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente.

Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome e ele começou a passar necessidades.
Foi encontrar-se com um dos cidadãos daquele país e este o mandou para os seus campos guardar porcos.
A.U desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém as dava.

Caindo, porém, em si, disse:
Quantos jornaleiros de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui estou morrendo de fome!

Levantar-me-ei, irei a meu pai e dir-lhe-ei:
— Pai, pequei contra o céu e diante de ti.
Já não sou digno de ser chamado teu filho;
trata-me como um dos teus jornaleiros.

Levantando-se, foi para seu pai.
Pistando ele ainda longe, seu pai viu-o e teve compaixão dele, e, correndo, o abraçou, e o beijou.

Disse-lhe o filho:
— Pai, pequei contra o céu e diante de ti.
Já não sou digno de ser chamado teu filho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:52 pm

O pai, porém, disse aos seus servos:
— Trazei-me depressa a melhor roupa e vesti-la, e ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pês;
trazei também o novilho cevado, matai-o, comamos e regojemo-nos, porque este meu filho era morto e reviveu, estava perdido e se achou.

E começaram a regozijar-se.
Seu filho mais velho estava no campo.
Quando voltou e foi chegando a casa, ouviu a música e a dança, e chamando um dos criados, perguntou-lhe o que era aquilo.

Este lhe respondeu:
— Chegou teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde.
Ele se indignou e não queria entrar;
e saindo seu pai, procurava conciliá-lo.

Mas ele respondeu a seu pai:
— Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com os meus amigos, mas quando veio este teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado.

Replicou-lhe o pai:
— Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu;
entretanto, cumpria regozijarmo-nos e alegrarmo-nos, porque este teu irmão era morto e reviveu, estava perdido e se achou.
(Tradução segundo o original grego pelas Sociedades Bíblicas Unidas. Rio de janeiro, Londres, New York.)

Os arquétipos do bem e do mal, da sombra densa e suave, do ego e do Self conflituam-se, nessa narrativa, enfrentando-se, lutando com ferocidade, e todo um arsenal de transtornos psicológicos aparece, tais a promiscuidade de conduta, a perversão, a fuga, o ressentimento, a ira e o desencanto, assinalando o comportamento dos dois irmãos, enquanto o pai generoso exterioriza a saúde pelo entendimento e pelo amor às defecções morais e ignorância dos filhos, utilizando-se da compaixão e do perdão, mas também da gratidão e do afecto.

O pai induze-os ao encontro com o arquétipo primordial produzindo um reencontro terapêutico entre os dois irmãos, única forma de possibilitar o entendimento entre ambos, a fraternidade
plena, a saúde geral.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 16, 2012 8:30 pm

Predomínio da sombra

A presença da sombra no comportamento humano faculta a fragmentação da psique, nos dois eus, levando o paciente à perda de identificação entre os arquétipos do bem e do mal, do certo e do errado.

Herdeiro dos instintos agressivos, que lhe predominam em a natureza íntima, o ser humano jornadeia entre revoltado e temeroso por efeito das condutas ancestrais.
A necessidade da preservação da vida impele-o ao imediatismo, à volúpia do prazer, ao significativo desconhecimento dos valores ético-morais, ou mesmo quando os conheça, desconsiderando
aqueles que podem representar sacrifício, luta nobre, abnegação...

Propelido para esse prazer sensorial, asselvajado, as emoções elevadas defluentes dos sentimentos da beleza, do idealismo são deixadas à margem pela pouca significação que lhes é atribuída ou pela falta do hábito de as vivenciar.

Os sonhos, por exemplo, nessa fase, são tumultuados e os símbolos de que se revestem expressam os atavismos perturbadores e os tormentos sexuais, que se transformam em condutas psicológicas doentias e/ou que somatizam em disfunções orgânicas de vária denominação.

Na parábola de Jesus, o ego do jovem filho é perverso e ingrato.
Ao solicitar a herança que diz pertencer-lhe, inconscientemente deseja a morte do pai, que seria o fenómeno legal para conseguir a posse dos bens sem qualquer problema. Mascara o conflito sob a justificativa inapropriada de querer desfrutar a juventude, em considerando que mesmo na idade provecta, o genitor não morria...

Logo depois, viajando para um país longínquo procura arrancar as raízes existenciais, as marcas, destruir a origem desagradável, permanecendo na ignorância de si mesmo, fugindo para o Éden onde parecia feliz.

Todo conflito carrega uma carga psicológica de alta tensão nervosa devastadora.
O eu filial que percebe a necessidade de ficar no lar - aqui representado como o domicílio carnal, o Paraíso - cede espaço emocional ao outro eu, o da fragmentação da psique, a sombra, estroina e longínqua dos sentimentos enobrecedores ainda adormecidos no Self.

Deixando-se exaurir pelas ambições e prazeres, o leviano é surpreendido, posteriormente, pela solidão - a miséria económica, a fuga dos comparsas que o exploraram, portanto, os excessos que agora o deixam desgastado - logo associada à culpa que o exproba, impondo-lhe reflexão, portanto, o retorno à segurança do lar que abandonou...

Sempre se fará imperioso o retorno às origens, a fim de realizar-se o auto-encontro.
Dominado, porém, pelo instinto de autodestruição torna-se uma pocilga moral, a um passo da degradação máxima, do suicídio, quando tem um insight e reflexiona em torno da generosidade do pai, o Self, portanto, em despertamento, e resolve pelo retorno, o que lhe constitui o passo inicial para a auto-recuperação, a auto-conscientização, para uma possível integração das duas partes da fissura tormentosa da mente.

Essa fuga para um país estrangeiro e longínquo, seria uma arquetípica busca do princípio da individuação, caso se originasse de algum ideal, como diminuir a carga do pai, ao invés de desejar-lhe, mesmo que de maneira inconsciente, a morte.

Há, nesse conflito, o mundo do pai, o mundo do filho, o mundo do irmão, em forma de sombras perturbadoras, efeito da fissura da psique em relação ao ego.
Jesus deixa transparecer na expressiva parábola o carácter terapêutico, quando o filho volta em busca da paz (e da saúde), embora humilhado, mas certo de ser recebido.

O Self que se unifica em relação ao ego é o caminho seguro para a auto-cura, para o estado numinoso de tranquilidade e bem-estar.
A viagem para longe é uma busca arquetípica de heroísmo, de conquista do desconhecido, de infinito, que não se concretiza porque o objectivo consciente era o prazer, a não-responsabilidade, a violência do abandono ao pai idoso, a exuberância do egotismo e o desprezo pelo irmão mais velho que trabalha.

A viagem de volta ao lar que faz o filho mais jovem não é por amor ao pai, nem por qualquer sentimento nobre, mas porque passa fome e tem a garantia de que, no lar, terá muito mais conforto e abundância alimentar, qual ocorre com os empregados da fazenda...

A sua sombra interesseira deflui do ego atormentado que não conseguiu a união com o Self.
Por sua vez, a sombra cruel no irmão que ficou, dele faz um miserável que inveja a sorte do jovem despudorado, que tem ciúme da atenção que o pai lhe concede, que se revolta, dominado pelo conflito de inferioridade e pelas torturas no psiquismo.

Sente-se rejeitado, embora haja sido devotado, possivelmente por interesse de ficar com toda a herança, ao invés de contentar-se em estar com o pai, porquanto se queixa que nunca recebeu um cabrito para festejar com os seus amigos.

Uma projecção inconsciente da raiva guardada pelo abandono do irmão que fugiu manifesta-se como desforço, não querendo participar da festa de boas-vindas.
O ego deve estruturar-se para adquirir consciência da sua realidade não confutando com o Self que o direcciona, única maneira de libertar a sombra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 16, 2012 8:31 pm

Na parábola, que é um arquétipo colectivo representando os interesses imediatos em detrimento dos valores que libertam das paixões primárias, ante o egoísmo do filho jovem, o pai generoso não reclama, não deixa transparecer mágoa, embora sofrendo.

É desse modo que as criaturas fogem do abrigo seguro da psique integrada que cede lugar ao ego daninho, da fragmentação, postergando a oportunidade de serem felizes.
A experiência, porém, no país longínquo - desejo inconsciente de não ser encontrado, nem sequer saber-se onde reside o fugitivo - redunda em desastre, porque toda extravagância culmina em prejuízo e toda malversação de valores, em perdas parciais ou totais, como no caso do jovem presunçoso.

A sua sombra indu-lo ao gozo do prazer, da irresponsabilidade, da incontinência moral, porque os deveres na lavoura dos sentimentos desagradam-no.
A firmeza moral do irmão mais velho, trabalhando sem demonstrar fadiga nem aborrecimento, produz-lhe antipatia e faz que o deteste, deixando-o ao lado do pai idoso, sem nenhuma consideração pelos laços de família, numa participação mística colectiva, simbolizando a sociedade como um todo.

A totalidade da psique, representada pelo pai e alcançando o filho mais velho que cumpre o dever, incomoda o egoísta que vive em descontentamento porque deseja romper o vínculo, tornar-se livre, cair no abismo de si mesmo conforme irá acontecer.

Como as vivências ensejam o despertar da iluminação, ele cai em si e reflexiona que no lar, mesmo os servidores mais insignificantes desfrutam de apoio, alimento e segurança, enquanto ele nem sequer pode disputar com os suínos as alfarrobas que não lhe dão, resolvendo-se pela volta.

Recolhe-se ao mundo íntimo fragmentado e tem o insight de como proceder.
O arrependimento é o bálsamo para a culpa, reconhecendo que pecou contra o céu e contra ti (o pai), informa, seguro de ser bem recebido, mesmo que não fosse digno de ter o nome de seu filho.

O indivíduo comum, ainda não iluminado, deambulante da ilusão, pode ser comparado ao Filho Pródigo, leviano e insensato, que somente convive com objectivos de prazer pessoal e interesse mesquinho, distante das propostas éticas e dos deveres morais.

Vitimado pela libido exacerbada, entrega-se ao gozo na ilusória conduta de que não se acaba e as suas forças exaustas logo se renovam...
Pode também aparecer esse arquétipo nos indivíduos inseguros, instáveis, solitários, que em ninguém confiam, perdendo excelentes oportunidades de crescimento pela interiorização e pela reflexão, superando as heranças danosas do processo evolutivo ancestral.

De temperamento facilmente estremunhado, vive com ressentimentos e invejas, enfermo interiormente, que se nega o tratamento por acreditar que não tem necessidade, já que aos outros considera responsáveis pela sua situação psicológica, masoquistamente considerando-se incompreendido e perseguido.

Esse anseio de fuga dos outros é também o tormento da fuga de si mesmo, pela dificuldade que tem de auto-enfrentar-se, de reconhecer a inferioridade e ser estimulado a trabalhá-la para conseguir a vitória.

É-lhe mais fácil atirar tudo para cima (ou para baixo) num gesto de libertação e seguir o tormento, para realizar a volta andrajoso, imundo, humilhado...
O ego presunçoso então desperta lentamente da sombra para o estado numinoso, que deverá conquistar sob os camartelos do sofrimento, que são os valiosos recursos hábeis para a vitória.

Quando o progenitor pede ao servo que lhe traga o anel, eis reconfirmado psicologicamente o arquétipo da antiga Aliança de Deus com os homens, por intermédio do Arco-íris, demonstrando vinculação e amor.

As roupas limpas e novas, o novilho nutrido para a festa são os formidáveis arquétipos que se encontram em todos os mitos, particularmente no panteão grego, quando os deuses comungavam com os homens e banqueteavam-se, chegando, algumas vezes, ao desregramento pelos excessos que se permitiam.

O gesto do pai abraçando o filho de volta é a luz do amor que nele dilui a pesada sombra em que se debate.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 16, 2012 8:31 pm

Despertar do Self

O irmão mais velho da parábola daquele que se pode chamar como o pai misericordioso, é o protótipo do ego desconcertante.

Enquanto estava a sós com o pai, parecia amá-lo, respeitando-o e obedecendo-o.
Logo, porém, quando retornou o irmão de quem se encontrava livre, ressentiu-se, desmascarou-se, apreendo o outro eu - demónio interno - amoral e indiferente.

Nem sequer preocupou-se em saber como retornara o irmão.
Estaria feliz ou desventurado, concluindo que, por certo, na miséria, pois que do contrário não voltaria.

Continuaria a sós ou consorciado, com filhos ou perseguido?
Nada disso lhe ocorreu, excepto o lugar que concedeu à mágoa por haver sido posto de lado, nem mesmo consultado para o banquete que ao outro era oferecido.
Permanecer longe do perigo, abrigado dentro do lar, garantido sob a protecção do pai é uma atitude muito cómoda e resguardada de desafios.

No estudo em pauta, bastaria ao filho mais velho esperar a morte do pai, entrar na posse de todos os bens e libertar-se da submissão, sendo convidado aos enfrentamentos que antes o genitor resolvia.

Esse comportamento é psicologicamente infantil, porque a existência humana é construída de forma a ensejar crescimento emocional, destemor e renovação constantes.
Aquele que não se renova de dentro para fora, não consegue o desenvolvimento do self, sempre emaranhado na sombra, deixando que tudo aconteça à revelia.

Há contínuos desafios no processo criativo do ser espiritual que busca o numinoso, a vitória sobre a ignorância e o demónio do mal interno.
A imagem do pai, que era aceita como um homem benigno para com ele, que se considerava merecedor de toda a compensação, diluiu-se-lhe, no momento do confronto com o seu irmão, de quem se vira livre, dando lugar à exteriorização de que o não amava.

Havia-se liberado do competidor que, no entanto, eram os próprios conflitos, os dois eus, ambicioso um, sereno o outro, pacífico o mais ponderado, demoníaco o mais atrevido que agora o dominava.

Interiormente, nesses seus muitos conflitos, ele também não se amava a si mesmo, transferindo essa emoção em forma de suspeita para o pai e para os demais, razão por que desejara festejar com os amigos, atraí-los, conquistá-los, comprá-los, como habitualmente acontece...

Todo indivíduo inseguro desconfia dos demais e transfere para eles as razões do seu temor, do seu sofrimento.
Afastam-se, para não lhes acompanhar o êxito ou tenta conquistá-los por meio de oferendas, não se dando realmente pela afeição, doam coisas que não têm valor.
Desse modo, para ele, o amor paterno teria que ser parcial, exclusivista, em relação a ele, com animosidade pelo desertor.

Normalmente censura-se o jovem que viajou para o país longínquo, também fugindo de si mesmo, e elogia-se aquele que ficou ao lado do ancião, mais por conveniência do que por fidelidade, sem analisar-se mais profundamente ambas as atitudes.

Trata-se de uma visão psicológica imperfeita em torno da realidade.
O filho fiel é o mito representativo de Abel, generoso e bom, que será sacrificado por Caim...
Todavia, esse Abel gentil não amava Caim, o seu irmão mais jovem e extravagante, considerado perverso e insensível por abandonar o pai idoso...

Preferido pelos mitos Adão e Eva, perdeu o contacto com a realidade e o seu irmão o assassinou.
Agora, o mito Abel no filho mais velho, gostaria de assassinar Caim, que se tornara bom, que voltara tomando-lhe o lugar, ou pelo menos, parte dele, no sentimento do pai que o mantinha no Éden.

O progenitor, no entanto, misericordioso, que não censurou o desertor e recebeu-o com júbilo, tampouco procedeu com reclamação em referência ao filho magoado.

Foi buscá-lo fora e convidou-o a entrar na festa, a participar da alegria de todos.
É comum a solidariedade na dor, mas não no júbilo, em face da inveja e da amargura.

O irmão mais velho submetia-se ao pai, mas não o amava, quanto fingia, porque logo o censurou, ressumando sentimentos de recusa inconscientes, pelo fato de jamais haver-lhe oferecido um cabrito pelo menos para que se banqueteasse com os amigos, enquanto ao insano ofereceu o melhor novilho...

O ciúme é terrível chaga do ego que expele purulência emocional.
O pai gentil e afectuoso, sensibilizado com o jovem de retorno, pediu um manto para cobri-lo, já que o outro também o possuía, evocando a protecção e o amparo que lhe eram oferecidos.

- Criança - diz o pai ao filho que o censura - tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu;
entretanto, cumpria regozijarmo-nos e alegrarmo-nos, porque este teu irmão era morto e reviveu, estava perdido e se achou.

O pai deu-se conta de que o outro filho, o mais velho, também estava morto porque ressumava amargura, encontrava-se perdido, porque não participava da sua e da alegria de todos que encontraram aquele seu irmão que era morto e reviveu, que estava perdido e se achou.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 16, 2012 8:31 pm

O ego encontrava o Self, despertando-o para uma futura integração, liberação da fissura na psique...
O Self do filho mais velho está envolto pela sombra ameaçadora, criminosa.

A parábola não informa qual a sua atitude, a do mais velho, em relação ao mais moço, após as informações dúlcidas e os esclarecimentos compreensíveis do seu pai.
Certamente, o eixo ego-Self se tornou mais vigoroso, em face do amor do arquétipo primordial, sem limite, libertando-se dos mitos hostis e vingativos.

Prometeu, por exemplo, foge de Zeus, engana-o com artifícios contínuos para não morrer, até que tomba na armadilha da própria existência física temporária, e Zeus recebe-o, aprisiona-o, suplicia-o num rochedo, no qual foi colocado para sofrer calor, frio e uma águia fere-lhe o fígado durante o dia, que se refaz à noite, até o momento quando os deuses intercedem por ele e a sua punição é revogada...

O filho mais velho quer fugir do pai amoroso após censurá-lo acremente, evita fitá-lo nos olhos e receber-lhe o abraço, mas não poderá viver indefinidamente sob as picadas da mágoa, remoendo a prisão no rochedo do desencanto, ao frio e ao calor das reflexões doentias...

O Self é induzido a despertar sob a intercessão dos sentimentos de nobreza que remanescem no íntimo, como divina herança da sua procedência.

O irmão chegou quase descalço, sandálias rasgadas e imprestáveis.
O pai logo lhe providenciou calçados novos, porque os pés são as bases valiosas de sustentação do edifício fisiológico, que não pode ser mantido em segurança quando lhe falta alicerce...

A mãe Terra oferece os recursos para o organismo e os transforma;
o hálito da vida, porém, vem do Amor.
Cuidar das bases é característica definidora de despertamento do Self, da responsabilidade perante a vida.

O irmão jovem iluminou o ego com a consciência de si, reconheceu o erro, renovou-se pela humilhação que o engrandeceu, enquanto o mais velho liberou das estruturas profundas do inconsciente as paixões da vingança e da maldade, a Erínia mitológica encarregada de ferir Sísifo, conduzindo a pedra ao topo da montanha de onde ela escapa e rola para baixo, obrigando-o a erguê-la sem cessar...

A parábola bem poderia ser dos dois filhos ingratos, que o amor reúne sob o mesmo manto protector do pai, ligando-os pelo anel da família, traço de união com toda a Humanidade.

A família provém do clã primitivo que se une para a defesa da vida, do grupo animal, sendo um arquétipo de grande força psicológica.
A força do animal que caça encontra-se no instinto da astúcia, no grupo famélico, na agressão automática e simultânea contra a presa.

Desestruturar a família é também desnortear-se.
A reencarnação, com a força de diluir os velhos arquétipos perturbadores e criar outros benéficos, reúne indivíduos de carácter antagónico ou em situação de vingança para resgates, ou afectuosos e bons para fortalecer a evolução e preservar o instituto doméstico.

Aqueles dois irmãos, que não eram antagónicos na aparência, viviam intimamente em oposição, faltando somente o momento de demonstrá-lo.
A paternidade zelosa, o divino arquétipo de Zeus ou de Júpiter, ou de Apolo, ou de Yahveh, todo-poderosos, reúne-os e tenta ampará-los.

O filho jovem era leviano e despertou sob os acicates do sofrimento.
A sandália rasgada, as vestes em trapos, a cabeça raspada, a atitude genuflectida diante do pai são os destroços que demonstram o insucesso, o esforço para o recomeço, o entrar novamente no ventre materno para renascer, por isso, voltou para dentro de casa.

Em realidade estava no pátio da casa de seu pai, não se adentrara ainda, não teve tempo nem oportunidade.
O filho mais velho era angustiado e conseguia disfarçar os sentimentos doentios.

Não quis participar da alegria do reencontro, porque isso demonstraria a sua falta de afeição, a sua contrariedade por ter que voltar a competir com o irmão vencido pelo sofrimento.
A oportunidade ameaçava passar sem ser utilizada.

Na existência humana cada momento tem o seu sentido profundo, o seu significado essencial, a sua magia.
A infância dá início ao processo de crescimento interno do Self, entretanto, ele permanece imaturo em qualquer período da existência humana, desde que não tenha recebido os estímulos para desenvolver-se, para desvelar-se em sabedoria e luz.

O primeiro filho demonstrou imaturidade psicológica - a infância.
O segundo expressou pessimismo e depressão, ressumando primarismo emocional, outro estágio da infância emocional.

Entretanto, a terapia saudável para esses males foi o amor do pai, sua compreensão e misericórdia, sua paciência e confiança na força do seu afecto.
Com esse contributo de fora despertou o Self dentro de cada qual dos membros da parábola, de cada criatura que se possa identificar com algum dos membros da narrativa.

A parábola poderia ser concluída, elucidando que o pai devotado levou o filho ressentido para dentro de casa - uma viagem interna ao encontro do Self — e o aproximou do irmão arrependido — Caim ressuscitado!

Assim sendo, olharam-se por largo e silencioso tempo de reflexão, superando distâncias emocionais, culminando em demorado abraço de integração dos dois eus num self colectivo rico de valores e sentimentos morais entre as lágrimas que limparam as mazelas, as heranças lamentáveis do ego soberbo e primário.
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Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 16, 2012 8:31 pm

Integração moral

A parábola, rica dos símbolos arquetípicos ancestrais, é um magnífico processo psicoterapêutico para os que sofrem imaturidade psicológica, os que vivem dissociados no turbilhão dos eus em conflito.

Enquanto se desconhecem as lutas e não se tem ideia das infinitas possibilidades de crescimento interior, transitando entre os hábitos sistemáticos e improdutivos, as aspirações fazem-se de pequeno alcance, não passando das necessidades fisiológicas, dos processos da libido, das parcas ambições imediatas:
comer, dormir, gozar e suas consequências fisiológicas...

Os valores morais, embora em germe, permanecem desconhecidos ou propositalmente ignorados.
Normalmente aquele que se encontra perdido espera ser encontrado, quando o ideal é sair da sua solidão no rumo certo por onde deve prosseguir.

É muito comum a busca de Deus pelas criaturas contritas, que se sentem perdidas, embora vivenciando a desintegração dos valores morais, ao invés de predispor-se a serem por Deus encontradas, avançando na Sua direcção.

Na busca, há uma ansiedade e uma luta interior contínuas, há dificuldade de compreender o significado da existência, assim como a razão dos apegos e tormentos, enquanto que, à disposição, ascendendo-se intimamente, liberam-se dos conflitos e abrem-se ao entendimento das ocorrências e à necessidade de experienciar-se os diferentes períodos do processo de independência, para que não permaneçam traumas, inseguranças e insatisfações...

Todo o processo deve ser acompanhado de amadurecimento psicológico, de auto-compreensão, de entrega em forma consciente.
A viagem interna, para colocar-se à disposição de Deus é confortável, porque silenciosa e renovadora, enquanto que a busca externa, no vaivém dos desafios e das incertezas, produz o prejuízo do desconhecimento da escala dos valores éticos, assim como a dos significados existenciais.

Quando o Filho Pródigo se apresenta em situação deplorável, rebaixando-se e submetendo-se ao pai, nele há uma grandeza ética fascinante, que o torna elevado, que o dignifica, ao invés de quando parte, carregando muitos valores amoedados e jóias, porém, apequenado, porque vazio de objectivos existenciais.

É comum o indivíduo subestimar-se, acreditando que somente terá valor quando possuir as coisas que brilham e que dão realce social, que produzem destaque na comunidade e despertam ambições, invejas, ciúmes.

Esse conceito reveste-se do mito infantil de um paraíso fascinante e tedioso, diante da árvore do Bem e do Mal, ameaçadora, insinuando que a descoberta da nudez interior, da pequenez moral, dos medos sub-repticiamente disfarçados na balbúrdia que faz em volta, a fim de não serem identificados, será um terrível mal, porque o atira fora, obrigando-o a rumar para um país longínquo.

Nessa conduta, a insatisfação sempre enche a taça repleta de prazer com o azedume e o tédio, sorvendo sempre mais, e esvaziando-se muito mais, por falta de valores edificantes e legítimos.
As conquistas de fora não conseguem preencher as perdas interiores.

O conflito é inevitável, porque somente quando se é capaz de viver conforme os padrões nobres da solidariedade e do equilíbrio moral, a saúde e o bem-estar se instalam no comportamento humano.

Nesse encontro com o perdido - o eixo ego-Self— ocorre uma grande alegria, quando o encontrado que se permite integrar no grupo de onde se afastara, percebe que o pai misericordioso - o estado numinoso — sempre esteve ao seu alcance, e a fissão-quica era o inevitável resultado do processo de busca para a aquisição da consciência.

Todos os indivíduos passam por esse estágio, sendo-lhes necessário proceder á integração.
Nessa fase inicial do despertar da consciência, não existem valores éticos nem conceitos morais, excepto aqueles que decorrem das necessidades primitivas que ainda permanecem em a natureza humana.

O amadurecimento psicológico lento e seguro propícia a descoberta desses tesouros íntimos que direccionam o comportamento, ajudando a discernir como viver-se saudavelmente ou de maneira tormentosa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 16, 2012 8:32 pm

O hábito arraigado de ser-se infeliz sob disfarces múltiplos conspira contra a identificação dos valores morais e a conquista do si mesmo.
Eis por que a parábola do Pai misericordioso é rica de possibilidades para a integração dos valores morais esparsos, destituídos até ali de significado real, esquecidos ou em choques contínuos conforme os interesses mesquinhos dos filhos...

Sem dúvida, na análise psicológica de cada indivíduo, ele pode assumir, ora a personalidade do filho pródigo, noutro momento a do irmão ciumento, raramente, porém, se encontrará integrado no genitor compreensivo e dedicado, que reúne os dois filhos, ambos necessitados, sob o manto da bondade e da compreensão.

Essa possibilidade, quase remota, por enquanto, pelo menos durante a fase de ajustamento do demónio com o anjo interiores, acontecerá quando o amor se despir de egotismo, e o símbolo de Eros assim como o de Cupido adquirirem a abrangência do sentimento universal do amor que integra a criatura ao Seu Criador e a torna irmã de todos os demais seres sencientes que existem.

O Pai compassivo por excelência libera não mais o Filho Pródigo, porém, os filhos que se tornaram saudáveis, apoiados na compreensão dos seus deveres perante a vida e a sociedade, contribuindo em favor do progresso geral.

Nessa fase, toda a herança ancestral do primitivismo antropológico cede lugar à consciência do si-mesmo, proporcionando incontáveis bênçãos de que o ser tem carência, auxiliando-o na conquista da sua plenitude.

Não lhe será necessária a morte orgânica para desfrutar do Nirvana ou penetrar no Reino dos Céus, porquanto já os conduzirá no íntimo, em forma de auto-realização e de tranquilidade.

A doença, o infortúnio, a morte já não o impressionam, porque se dá conta de que esses acidentes de percurso fazem parte do processo de crescimento, e, à semelhança do diamante que reflecte a luz da estrela, não lhe ficam as marcas do carvão bruto que era antes da lapidação.

Indispensável, portanto, compreender-se que o Pai deseja encontrar o filho perdido num país longínquo e reabilitar aquele que se perdeu em si mesmo, no país próximo-distante da afectividade doentia.

A integração dos valores morais resulta desse esforço realizado pela consciência profunda que busca a integração do ego imaturo, dando-lhe significado existencial, trabalhando pela harmonia dos sentimentos e dos comportamentos.

Jesus conhecia a psique humana em profundidade, os seus abismos, as suas heranças, os seus equívocos, as suas incertezas, e os seus meandros, e porque identificava naqueles que O seguiam os tormentos que os infelicitavam, apresentou na parábola do Filho Pródigo o eficiente processo psicoterapêutico para as gerações do futuro, de forma que, em todas as épocas porvindouras, o amor e a compaixão, libertando dos traumas e dos ressentimentos, contribuíssem para a plenificação interior dos indivíduos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 16, 2012 8:32 pm

03 - ENCONTRO E AUTO-ENCONTRO
Um país longínquo
Voltar para casa
Amar para ser feliz


A parábola do Filho Pródigo é um manancial de informações psicológicas profundas, guardando um tesouro de símbolos e significados que merecem cuidadosa análise, a fim de retirar-se do seu conteúdo as lições de paz e de saúde necessárias para uma existência rica e abençoada.

''Durante muito tempo o Evangelho de Jesus recebeu interpretações doentias e perturbadoras, conforme o equilíbrio emocional e espiritual dos seus tradutores, teólogos e pastores, mais interessados em projectar a sombra em que se debatiam do que as extraordinárias orientações de luz de que se revestia.

Propondo a humildade, levavam os seguidores a transtornos de conduta graves, estimulando o menosprezo à existência física, a desconsideração por si mesmos, o auto-depreciamento, o culto ao masoquismo disfarçado de santificação como o caminho para a iluminação.

Como se pode considerar a vida, esse incomparável tesouro por Deus concedido ao ser humano, como desprezível, digna de ser desrespeitada nos seus mais nobres significados:
alegria, bem-estar, utilização saudável do sexo, solidariedade e convivência, como negativos, impondo o isolamento, a severa abstinência sexual, o silêncio, o sofrimento, em nome da Boa Nova?!

Somente indivíduos emocionalmente castrados poderiam impor os seus tormentos aos demais, aos quais invejavam a saúde e comunicabilidade, de forma que se sentissem felizes com a desdita dos outros, em transtorno sadomasoquista, adulterando toda a proposta libertadora de Jesus, o Homem bom e nobre por excelência, que mais demonstrou amor e alegria na convivência com os desafortunados do que todos os demais.

Pregando dignidade, esses atormentados intérpretes das Suas lições condenavam o erro, massacrando os equivocados, os que delínquem, os que aguardam apoio, por serem ignorantes ou enfermos, distanciados dAquele que é o pão da Vida e veio exactamente para os infelizes e até mesmo para os infelicitadores...

Felizmente, com o avanço da cultura, com a ruptura dos laços férreos que mantinham a sociedade jungida aos dogmas enfermiços, descobre-se, cada dia, a grandeza da mensagem cristã, conforme Jesus e os Seus primeiros discípulos a viveram e divulgaram, verdadeira canção músico terapêutica, sinfonia de esperança e de consolação.

As Suas parábolas, por isso mesmo, mantêm guardadas as respostas significativas e especiais para as perguntas inquietantes do comportamento humano.
Nelas, somente existem libertação e bondade, harmonia e júbilo, guardando, nos seus símbolos, verdadeiros poemas de interpretação das incógnitas existenciais.

Nesse maravilhoso significado insere-se a do Filho Pródigo que, de alguma forma, somos todos nós.
Enquanto os fracos emocionais e os dependentes de punições nela encontram a baixa auto-estima, o remorso, a angústia da volta, o que se constata é a irrestrita confiança no Pai generoso, a certeza da alegria de ser bem recebido, a recuperação moral pelo equívoco vivenciado, a expectativa do recomeço em novas paisagens de afecto e auto-realização.

Por muito tempo estabeleceu-se que a humildade deve ser vivida em forma de desprezo por si mesmo e pelos valores com que a vida social estabelece os seus relacionamentos, fomenta o progresso das massas e dos indivíduos.

O auto-abandono, a auto-desconsideração e o autodesprezo tinham prioridade na conduta do adepto religioso, no passado, em violência contra as leis naturais, impondo-se uma conduta incompatível com a mensagem de amor e de felicidade.

Pessoas amargas, que mantinham auto-rejeição, refugiando-se em falsas justificativas religiosas, procuravam escamotear a mágoa em relação às demais, a raiva contra si mesmas e os outros, negando-se a felicidade, que acreditavam não a merecer, porque se encontravam sob o impositivo da sombra ancestral, defluente das culpas dos actos ignóbeis praticados em existências anteriores.

Negando-se a oportunidade do encontro com o Pai amoroso, por não sentirem a vigência do amor em si mesmas, ainda hoje recusam-se o auto-encontro, numa análise profunda que lhes poderia propiciar a visão mais saudável da Realidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 16, 2012 8:32 pm

Os seus mitos são as Parcas terríveis, as cóleras dos diversos deuses vingativos, as subjectivas ameaças de destruição apocalíptica, numa vingança generalizada, na qual o temor da morte desaparece, porque representa a destruição de tudo e de todos.

As advertências contínuas sobre o egoísmo, o orgulho, a prepotência e o encantamento das virtudes teologais, do altruísmo, da humildade, da fraternidade produzem, não poucas vezes, a virtude do auto-depreciamento, da Auto desconsideração, quase numa exibição forçada de triunfos que, em realidade, não existem no campo psicológico, porque ninguém pode comprazer-se na interioridade, no engodo, na negação dos problemas existentes...

A Parábola do Filho Pródigo é todo um conjunto de lições psicoterapêuticas e filosóficas, de cunho moral e espiritual incomum.
Na sua mensagem não se encontram quaisquer tipos de censura a nenhuma das atitudes dos dois filhos, nem reproche ou dissimulação diante das ocorrências.

Tudo se dá de maneira natural, em júbilo crescente, porque aquele que estava perdido, foi encontrado, e porque estava morto, agora se deparava vivo.
A alegria da autoconsciência é esfuziante, porque ocorre depois do reencontro, na volta à casa, ao lar, ao abrigo emocional seguro, que é a conquista de paz e da correcção dos actos.

O corpo é ainda um animal, algumas vezes insubmisso, que necessita das rédeas da aprendizagem para a disciplina espontânea e o comportamento correto que o direcciona de acordo com as necessidades do self criativo a caminho do numinoso.

O Espírito é herdeiro de todas as experiências que vivência ao largo das sucessivas reencarnações, sendo natural que, não poucas vezes, predominem aquelas que mais profundamente assinalaram a conduta anterior, ressumando em forma de desejos e conflitos nem sempre identificados.

Por isso, uma análise dos símbolos oníricos, as associações e reflexões com o psicoterapeuta conseguem eliminar as fixações morbosas e as reminiscências angustiantes que se expressam como tristeza, insegurança, timidez, dificuldades de relacionamentos...

A identificação dos símbolos e sua interpretação exigem acuidade psicológica, experiência de consultório e interesse destituído de vinculação emocional, para auxiliar o paciente no encontro com a vida e no auto-encontro, descobrindo a sua realidade.

O manto com que o Pai amoroso manda vestir o Filho pródigo bem representa o apoio, a cobertura afectiva que lhe é ofertada, igualando-o a ele mesmo, que também o ostenta.
A primeira preocupação do genitor é com a aparência do filho de retorno, com os cuidados de higiene e de vestuário, de adorno - o anel - de apresentação, porquanto, agora já não havia razão para permanecer conforme chegara.

Não será admitido como servo, mas como filho que tem direito à herança e ao seu amor.
Por essa razão ele viera do país longínquo de retorno ao lar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 16, 2012 8:32 pm

Um país longínquo

Existe um país longínquo onde a vida estua e tem início, ensejando o processo de crescimento espiritual, nas sucessivas experiências reencarnacionistas.

Mesmo quando o viajante se encontra no país terrestre, por não se conhecer, ainda não havendo identificado as diversas províncias emocionais por onde pode transitar com segurança ou não, deixa-se identificar pelas expressões mais grosseiras das necessidades fisiológicas, das sensações orgânicas, do imediato que lhe fere os sentidos.

Periodicamente, fascinado pelo brilho falso das ilusões, relaciona todos os haveres que estão ao seu alcance, mas que não lhe pertencem, e pede ao Pai que lhe permita usufruí-los à saciedade, fugindo de casa, da segurança do lugar em que se encontra, para tentar ser feliz, conforme o seu padrão mentiroso.

Herdeiro dos recursos da inteligência e do sentimento, das tendências artísticas e culturais a que não dá valor, porque lhe exigem sacrifícios e desafios contínuos, reúne os tesouros da sensualidade, das ambições desmedidas, dos jogos dos sentidos primitivos, do acúmulo das forças juvenis e parte para outra região onde pode refestelar-se no prazer irresponsável, esquecido dos compromissos mantidos com a vida.

Exauria-se, em companhia dos seus demónios internos e dos seus anseios desregrados, até que surge a fome, por escassear os meios de prosseguir na loucura, e termina por encontrar companhia nas pocilgas dos vícios mais perversos, alimentando-se dos miasmas e excentricidades que lhe chegam em decorrência do abandono dos parceiros emocionais...

É, então, quando tem um insight dá-se conta de que não é aquilo, somente se encontra daquela forma, que não necessita de chafurdar mais fundo no chavascal da vergonha e do desdouro moral, quando tem um Pai generoso que trata bem aqueles que lhe servem, e pensa em voltar, pedir-lhe perdão, demonstrar o sofrimento que experimenta, a necessidade de recomeço, a submissão aos seus nobres deveres.

No processo da evolução, não são poucos os indivíduos que procedem de maneira diversa.
A princípio, desejam a independência, sem mesmo saber o de que se trata, que anelam pela liberdade que confundem com libertinagem, que anseiam pelo prazer, que pensam derivar-se do poder, arrojando-se às aventuras doentias e perturbadoras, em que amadurecem psicologicamente no calor do sofrimento.

Dão lugar a provações severas como os metais que necessitam do aquecimento para se tornarem plasmáveis e aceitarem as imposições dos artífices, vivenciando um período angustiante, para somente então pensarem em voltar para casa.

Recordam-se que, na província de onde vieram, havia alegria, diferente, é certo, mas júbilo, e desejam fruí-lo, como é natural.
Enquanto permanecem no gozo desgastante, desperdiçando a herança que conduziam, tudo é frustrante, o desespero é crescente, as perspectivas são negativas, o que os impele a uma nova tomada de decisão. Essa não pode ser outra, senão o retorno à casa, às raízes, a fim de recomeçar e renovar-se.

As províncias do coração humano são muitas e quase sempre estão sombrias, assinaladas pelo desconhecido, pelo não vivenciado, que favorecem as fantasias exclusivas do prazer e do gozo.

Toda província, no entanto, por melhor, por pior que seja, possui diversificadas paisagens que aguardam a contribuição daqueles que as habitam.
Numas é necessário remover o lodo acumulado, cavando valas para extravasar a podridão, enquanto que, noutras, alargam-se os horizontes para que mais brilhe o Sol da beleza e da estesia.

Esse país longínquo, olhado desde o mundo causal pode ser a Terra, para onde vêm os Espíritos com os bens herdados do Pai, a fim de desenvolverem os mecanismos da evolução e aplicarem os recursos de que são portadores, o que nem sempre acontece de maneira favorável aos que o alcançam.

Sob outro aspecto, pode ser o mundo espiritual onde se inicia a experiência evolutiva e se dispõe de recursos inapreciados para serem desenvolvidos mediante os esforços empregados, ocorrendo que, nas primeiras tentativas, o olvido momentâneo da responsabilidade e os demónios internos que são sustentados pelas paixões primevas, estimulam o desperdício dos bens preciosos.

saúde, pureza de sentimentos, alegria espontânea constituem tesouros de alta valia, que devem ser preservados, a qualquer custo, da contaminação dos factores dissolventes do novo país, porquanto, na volta para casa eles serão de altíssima significação, evitando os desastres emocionais e afectivos.

Analisando-se o núcleo arquetípico do ego, observa-se que ele não se modifica de um para outro instante, desde o momento em que ocorre a viagem ao país longínquo, predominando as tendências ancestrais que o direccionam para os interesses imediatistas, as conveniências, sem abrir espaço ao si-mesmo que ambiciona o infinito.

Essa consciência do ego - a superfície da psique - sofre colisões contínuas que procedem das emoções habituais e das aspirações de libertação, auxiliando no seu desenvolvimento, alterando-lhe a estrutura e abrindo-lhe campo para mais amplas lições.

Os problemas afligentes, que se podem apresentar como enfermidades de vário porte, conflitos diversos, à medida que se dão as colisões operam despertamentos e surgem oportunidades de mais acuradas reflexões, insights valiosos, que irão trabalhar em favor do amadurecimento do Self, o viajante incansável da evolução...

O animal humano sexuado, vitimado pela pulsão dominante, não lhe é escravo exclusivo, porquanto outras pulsões apresentam-se-lhe com fortes imposições que não podem ser desconsideradas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 16, 2012 8:33 pm

Desde a pulsão da fome àquelas do idealismo mais elevado, trabalham pela transformação das forças da libido em satisfações outras também plenificadoras que impulsionam para a saúde e o bem-estar.

A pulsão do Filho Pródigo entregando-se ao sexo desvairado, na fase da deserção da casa paterna - o santuário do equilíbrio, o Éden da inocência - empurrou-o para o abismo do conflito e da culpa, do sofrimento e da amargura, descobrindo que o desejo sexual por mais acentuado, quase sempre ao ser atendido não oferece a compensação esperada, o que produz frustração e ansiedade.

A ansiedade induz ao desespero, e a perda do discernimento trabalha em favor dos transtornos de conduta que se podem agravar.

Raramente, nessa conjuntura, o ego desperta para perceber-se equivocado e induzir a volta para casa.
No conceito de que o ego é o centro da consciência, devem ser trabalhadas todas as suas manifestações, de modo a valorizar os bens de que dispõe, não os desperdiçando com as meretrizes nem os companheiros de orgia, esses elfos que permanecem como realidades arquetípicas no inconsciente, conduzindo-o na repetição das experiências malogradas.

Há um país longínquo a ser conquistado pelo ego, simbolizado pela conduta correta, pela consciência liberada dos conflitos.
A existência corporal é sempre um mecanismo de distracções da consciência profunda do si-mesmo, que, embora superficial, exerce uma predominância na escolha dos comportamentos humanos.

Caso alguém se coloque na posição do irmão mais velho da parábola, valerá o esforço de considerar que o outro, seu irmão, não foi feliz na tentativa de ir para o país longínquo, mas teve a coragem de voltar a casa, embora maltrapilho, esfaimado e arrependido.

A pulsão da fome é forte em todos os seres viventes, porque nela se encontram os recursos para a permanência, a continuidade da vida, o equilíbrio da saúde...
A sombra daquele que ficou aturde-o, torna-o irascível, em mecanismo de preservação da própria sobrevivência que situa nas posses que o pai lhe legou desde antes da morte, permanecendo, porém, morto psicologicamente para muitos valores mesmo durante a vilegiatura do progenitor.

Naquele momento, quando o irmão volta, a sua morte não lhe permite a lucidez para compreender que também ele tem estado em um país longínquo, onde residem a indiferença, a ambição, a cupidez e o egoísmo.

As mudanças arquetípicas do ego dão-se nas fases da infância para a juventude, dessa para a idade adulta, e daí para a senectude, quando o Self, amadurecido, deve comandar o conjunto electrónico delicado que é o ser humano.

Isso, porém, somente acontece quando os indivíduos estão dispostos a despertar para a sua realidade, superando a sombra ao invés de cultivá-la.

Não serão essas fases, cada período, também um país psicológico longínquo do outro, que deve ser conquistado a esforço acidade da vontade?

A vontade é um impulso que nasce da razão e se transforma em força que deve ser direccionada de maneira adequada para resultados relevantes de dignidade e de crescimento intelecto moral no processamento dos valores da existência terrestre.

Será, portanto, a vontade bem dirigida que impulsionará o ego a vencer cada fase, deixando-a à margem após transpô-la, a fim de que não venha a ressumar noutro período.
Por falta de esforço encontram-se indivíduos adultos vivenciando o período arquetípico da infância, ou na idade avançada ainda com as aspirações de adulto, quando o organismo já não dispõe das forças naturais para esse tipo de comportamento.

Sendo o processo de vida um fenómeno entrópico, ele se desenvolve graças ao desgaste da energia, e por isso mesmo, cada período estará nutrido pelas forças hábeis e correspondentes à sua fase.

Mantendo-se o ego em harmonia com o Self, equilibra-se o eixo que os liga, e a sombra cede espaço ao discernimento, liberando toda a energia para o processo de individuação que deve constituir a grande meta.

Há quem pense que a fuga do Filho Pródigo tem um significado arquetípico, no que diz respeito ao estoicismo, à coragem de buscar-se, de realizar o encontro, de descobrir-se interiormente, de lograr a conquista do Self.

Anuímos, de alguma forma, com a tese, lamentando somente o processo da ingratidão, da perda do sentido existencial no abandono ao Pai, naturalmente rompendo o cordão umbilical, num momento em que ainda não dispunha da maturidade para os auto-enfrentamentos, redundando a tentativa no retorno à casa de segurança, à protecção do progenitor.

A conquista do si-mesmo há-de ser realizada em atitude interior para superar os impositivos da sombra egoísta e perversa, que seduz e ilude, dando imagens equivocadas da realidade e negando a possibilidade da libertação.

Na proposta de progressão junguiana, torna-se necessário o bom encaminhamento da energia da libido, canalizando-a em favor da melhor compreensão da existência humana e da sua aplicação na conquista dos recursos que a edificam.

Quando, por alguma razão, ela é interrompida, dá-se um choque, qual seja a perda dos interesses libertadores, passando a uma fase de regressão e perdendo-se no inconsciente, desenvolvendo complexos e conflitos perturbadores.

Nesse sentido, a psicoterapia em geral e a espírita em particular, em libertando o indivíduo das amarras do erro e dos enganos, estimula-o à auto-superação das deficiências graças ao empenho da vontade e à contribuição da libido, ora direccionada para fins nobilitantes, sem tormentos nem ansiedades de sublimação, mas simplesmente aplicando de maneira saudável.

Assim agindo, encontra-se o caminho de ida segura ou de volta razoável ao país longínquo, que pode estar no inconsciente como a meta existencial a conquistar.
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Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 17, 2012 8:47 pm

Voltar para casa

A volta para casa é uma viagem rica de alegria, de formosas expectativas, de lembranças queridas, das raízes, de segurança do conhecido ante o bravio mundo desconhecido.

O Pai misericordioso é apoio e amparo, mesmo na parábola, em momento algum ele recalcitra, seja no instante quando o filho deseja aventurar-se na loucura, iludindo-se com a possibilidade do auto-encontro adiante, ou no da volta, sem nenhuma reprimenda.

Em casa, no conhecido lugar de desenvolvimento dos valores profundos do ego e da afirmação do Self, existe alegria em razão da simplicidade, dos recursos que propiciam a saúde e o bem-estar, mas também pode asfixiar ou afligir, por falta de liberdade total em que se possa expressar.

Não se pode ser livre in totum, em razão dos limites impostos pelas leis e mesmo pelo organismo que, de alguma forma, é um ergástulo necessário para a evolução.
Esse Pai, no entanto, deseja a felicidade do filho, ele pode estar configurado no super-consciente, em expectativa agradável de que tudo será resolvido, e para que isso ocorra, compreende as desilusões e as experiências malogradas que aquele viveu, não lhe aumentando a carga de culpa nem de remorso, antes liberando-o, para que se possa estabelecer definitivamente na confiança e na renovação.

O filho, não sendo censurado, não sente vergonha, não experimenta constrangimento, Mas aquele Pai misericordioso também não reclama da conduta do outro filho ciumento, em difícil trânsito da adolescência para a vetustez da maturidade, porque a dor que experimenta já é uma forma de punição em referência à sua conduta.

Esforça-se por diluir-lhe a mágoa, justificando que tudo que tem é dele, que ele tem estado ao seu lado, portanto, desfrutando de segurança e de alegria.
Merece consideração o detalhe da oferta de um anel que o pai faz ao transviado, esse elo de vinculação profunda, a fim de restabelecer a ligação que fora interrompida pelo ego inquieto, doentio.

O anel será sempre um símbolo de bem--estar, auxiliando na cura dos tormentos que se demoram no seu mundo interior.
As sandálias, que também lhe manda pôr aos pés, são de relevante significado, porque revelam prestígio social.

Os descalçados são a representação da penúria e do desprezo, psicologicamente aqueles que não têm apoio para a marcha, que se acreditam destituídos de recursos emocionais para os enfrentamentos, já fracassados, porque perderam os chinelos de protecção aos pés andarilhos, agora impedidos de avanço, porque abertos em feridas, vitimados pelos espículos e pedrouços do caminho.

Esses impedimentos são as atracções perturbadoras, os prazeres insanos, os gozos intoxicantes...
Por fim, chegando a casa, o filho recebe um manto que o iguala ao pai e ao irmão, ele que desejara ser recebido como um pária, um servo, um suspeito de confiança, torna-se, dessa maneira, um igual, alguém querido que merece respeito.

O Pai misericordioso abre-se ao Self do filho e agasalha-o no manto de púrpura que ele próprio veste, assim como o possuem o outro filho e os seus convidados de destaque.
Em casa, não há lugar para a inferioridade do retornado, porquanto o amor a todos iguala, dando-lhes oportunidade de crescimento e de iluminação.

As criaturas tendem a manter posturas de tristezas, melancolias prolongadas, conflitos em torno do existir.
Mesmo quando tudo convida à reflexão da alegria, desde um botão singelo de rosa que desabrocha aos beijos cálidos do Sol à magnitude gloriosa do nascer do dia.

A sombra densa dos atavismos reencarnacionistas nelas permanece perturbadora, patológica, anulando a alegria natural da experiência de viver e de crescer, sendo cultivada em forma de transtorno masoquista e afligente.

Deus é o mais extraordinário exemplo de alegria, conforme Jesus sempre O decantou.
E o Pai dos felizes e dos angustiados, a todos oferecendo a incomparável oportunidade de reencontrar-se na estrada evolutiva, de recomeçar quando equivocado e de prosseguir enriquecido quando eficiente e produtivo.

A própria mensagem do Carpinteiro galileu é um hino de júbilo, porque Ele não possuía sombra, era todo nuvem, convidando à satisfação do desenvolvimento psicológico e social, de forma que todos pudessem desfrutar de felicidade, conforme a preconizava e vivia.

A Sua mensagem é libertadora, produzindo bem-estar e auto-realização, conferindo valores existenciais que permaneciam adormecidos.
A fuga para a tristeza produz infelicidade, porque as densas trevas do desinteresse pelo desenvolvimento do Self tornam o ego mais castrador e impeditivo de experimentar solidariedade e harmonia.

Enquanto vicejem os conflitos defluentes da melancolia, da insatisfação, da queixa, pode-se fugir para a auto-anulação, para a morbidez existencial.

Na parábola, as vestes oferecidas ao Filho pródigo denotam renovação e rejuvenescimento, recomeço e beleza.
A sombra cede, imediatamente, lugar ao entendimento, favorecendo o sentimento de igualdade em relação às demais pessoas, sem a presença de qualquer conflito perturbador.
Os andrajosos físicos também, quase sempre se encontram descuidados psicologicamente, atirados ao fosso do descaso, da indiferença, desejando não ser notados, excluídos que se fazem por conta própria do meio social. Morrendo, desejam desaparecer, não deixar vestígio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 17, 2012 8:47 pm

O Pai misericordioso sabia que o seu filho necessitava de roupas novas, de identificação pessoal com as demais pessoas.
Não era um réprobo de retorno, um fugitivo que estava sendo recebido, mas o filho que fora na busca de si mesmo e não conseguira o êxito. Tornava-se necessário que estivesse com a veste própria para a festa que logo mais se faria em sua homenagem, de maneira que se não sentisse inferiorizado.

A festa é sempre a maneira de celebrar-se o retorno dos triunfantes, mas, naquele caso todos celebrariam o valor do pai, a segurança do lar, a vitória do bom senso e da realidade distante da ilusão.

O amor é luz que se espraia em todos os sentidos, a tudo envolvendo na mesma claridade, sem excesso no epicentro nem diminuição a distância.
Os dois filhos, para o pai, eram as estrelas da velhice, assim como as aspirações de nobreza que todos devem possuir e manter em desenvolvimento contínuo rumando para o logro da individuação.

O Filho pródigo não apenas foi recebido, mas também abraçado pelo Pai.
Há muitas maneiras de receber-se quem chega de viagem.
Naquele caso, somente havia júbilo, porque há mais alegria quando se encontra a ovelha perdida, conforme acentuou Jesus.

Nas lutas de sublimação dos valores egóicos, que se devem transformar em claridades no imo do ser, há um abraço paternal da saúde real em relação aos múltiplos distúrbios da jornada evolutiva.

Esse abraço expande-se, albergando, também, o outro filho, o insatisfeito, que pode ser também o eu demónio da fissão da psique.
Trabalhar pela fusão desses antagónicos eus constitui o desafio psicológico da busca do estado numinoso, no qual não há espaço para sombra alguma, suspeita injustificável, aceitação de tormento ou de conflito.

O processo da volta para casa após a jornada pelo país longínquo é feita de experiências libertadoras, de crescimento e amadurecimento emocional, de superação dos tormentos infantis que permanecem dominadores na personalidade, de identificação com a realidade desafiadora que deve ser vivida com entusiasmo.

O filho é uma experiência juvenil, pois que avança para tornar-se pai, no processo natural da perpetuação da espécie.
A longa experiência da filiação irá oferecer-lhe madureza para a paternidade responsável, sem os descaminhos das emoções exacerbadas.

No inconsciente individual, quando alguém se recusa ao autoconhecimento, provavelmente está negando-se à futura paternidade/maternidade, que a vida impõe, seja sob o aspecto biológico ou afectivo.

Não apenas é genitor aquele que reproduz, mas também quem ensina, quem educa, quem se responsabiliza e guia, numa pater-maternidade espiritual de longo significado, que muitas vezes se torna mais representativa do que a biológica.

Essa última é automática, impositivo da união sexual, enquanto a outra é optativa, espontânea, idealista, libertadora.
Quem se isola na tristeza, negando-se a claridade da alegria e a música do júbilo, encarcera-se na soledade, sem reproduzir-se em afecto ou em dedicação, podendo ser considerado, conforme a parábola da figueira que secou, muito simbólica, em relação às vidas ressequidas, não produtivas, que se tornam inúteis, muitas vezes pesando na economia da sociedade, sem esforço para tornar-se contribuinte, optando por dependência, a doentia dependência infantil.

Cada período existencial apresenta-se como ensejo de alcançar-se a próxima etapa, mais amadurecido, mais lúcido.
É o que anela o Pai amoroso da parábola. Aqueles filhos seriam pais um dia e era necessário que compreendessem, desde cedo, que o afecto não tem limite, seja qual for a circunstância que se apresente. Quando exige, toda vez que se impõe, torna-se capricho emocional ao invés de alimento da vida.

Esse crescimento na direcção da paternidade/maternidade independe de cultura, de posição social, de recursos financeiros, por tratar-se de amadurecimento interior, de reflexões profundas que se derivam das experiências existenciais nas mais diferentes expressões da reencarnação.

A culpa do filho pródigo cedeu lugar à confiança do amor do pai, de tal forma que não teve pejo em desculpar-se, em expor-se, em apresentar-se desnutrido, descalçado, malvestido, em situação deplorável, porém, vivo e confiante.

Não ouviu do Pai generoso as expressões usuais do perdão, ao lado da repreensão, do acolhimento, mas também da queixa pelo tempo que foi malbaratado, ao lado da fortuna que foi desperdiçada. Encontrou abrigo e compreensão, oportunidade renovadora, como se nem sequer houvesse ido ao país longínquo, porque jamais se afastara do seu coração bondoso.

Esse é o mais elevado troféu do sentimento de paternidade, de dever humano e social, de construção da vida em todas as suas expressões.
Quando se deseja paz mediante lutas, alegria entre vexames e queixas, somente brumas e sombras surgem empanando o Sol da vida.

A volta para casa é inevitável, porque todos retornarão ao país longínquo-próximo da Espiritualidade de onde se veio para a experiência de crescimento e de desenvolvimento do deus interno.

Transgrida-se ou não o compromisso de respeitar os tesouros de que se dispõe, a volta é inevitável, porque essa é a finalidade existencial do processo imortalista.
O ser humano é construído para a plenitude do Self, após as inevitáveis experiências de ida e de volta para casa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 17, 2012 8:47 pm

Amar para ser feliz

A Parábola do Filho pródigo faz parte da trilogia narrada por Jesus, em resposta ao farisaísmo hipócrita e perseguidor.

Era-Lhe hábito conviver com os pecadores e os publicanos, que se sentiam atraídos pelos Seus ensinamentos libertadores.

*Os doentes do corpo buscavam a cura que lhes restaurasse a saúde.
Os seus enganos eram tidos como graves compromissos pela intolerância religiosa e social da sociedade castradora e perversa.
A sombra colectiva pairava sobre Israel e os seus servidores mais credenciados, os fariseus, os levitas, os escribas, os sacerdotes viviam da aparência enganosa.

Mantinham a preocupação de atender aos 613 preceitos que diziam respeito ao corpo e à sociedade, embora interiormente se encontrassem deteriorados pela morte do sentimento e pela presunção de coisa nenhuma.

Os seus conflitos eram mascarados porque lhes importavam os falsos prestígios e distinções, os comentários bajulatórios e a extravagância da aparência, quanto possível impecável, embora apodrecendo de inveja, de insatisfação, enfermos em espírito com mais dificuldade para a recuperação.

Nas parábolas psicoterapêuticas narradas por Jesus, percebe-se que os Seus inimigos não censuravam a conduta daqueles que foram excluídos da vida social, por serem pecadores e cobradores de impostos sempre detestados, mas a do Mestre em conviver com eles.

Olvidavam-se que era natural que o Homem integral, Aquele que não tinha sombra nem qualquer tipo de conflito acercasse-se dos impuros, a fim de os recuperar, de os integrar na vida.
Haviam-se esquecido, por conveniência e pela perversidade em que se compraziam, da grandeza do amor, da poderosa proposta libertadora de que se reveste, do significado profundo de que é portador.

Por isso, pode-se considerar que as três parábolas dos perdidos, a do homem que deixa o rebanho para buscar a ovelha que se perdeu, a da mulher que perdeu uma dracma e a do Filho pródigo, que se perdeu, podem ser consideradas como as do encontro e do auto-encontro.

Sob outro aspecto, pode-se denominá-las como as mensagens de júbilos e de misericórdias, porque todos, ao encontrarem o que haviam perdido, ao Auto encontrar-se exultavam, convidando todos, servos e amigos, para que se banqueteassem, para que sorrissem, para que se rejubilassem com os resultados felizes.

A saúde é jovial e enriquecedora de alegria, promovendo a tranquilidade e ampliando a capacidade de amar.
O pai misericordioso em todos os momentos da narrativa profunda ama, tanto àquele que foge em busca da auto-realização e fracassa, quanto ao outro que fica ao lado, vivendo emocionalmente distante do carinho e do sentimento de ternura para com o progenitor.

Em momento algum demonstra afecto, porque está morto na sua conduta formal, pusilânime, que aparenta fidelidade, mas é apenas interesseiro, porquanto não se refere àquele que retorna humilhado e destroçado interiormente, como seu irmão.

Usa de uma expressão dura para com o pai e ferinte para com o sofrido, dizendo:
- Esse teu filho aí...

Havia um proposital desprezo, um ciúme doentio e um indescritível sentimento de vingança.
O irmão era visto agora como competidor, que estava reabilitado, que voltava a ter direito aos haveres do pai, que iria disputar com ele a herança...

O pai, no entanto, redargui com paciência amorosa, sem lhe censurar a conduta e o ressentimento:
- Filho (menino), tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.

O Self do pai sabia a razão do despeito do ego do filho mais velho e procurou tranquilizá-lo, sem o conseguir de imediato.

Então aduziu:
— Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver;
ele estava perdido e foi encontrado!

Somente um sentimento de amor profundo e desinteressado poderia concluir de tal maneira, na análise do comportamento do filho que retornou, ao mesmo tempo, demonstrando o significado da alegria.

O amor do pai é automático em expressar-se, em oferecer-se em júbilo.
Ao ver o filho de longe correu e encheu-se de compaixão, lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos.

Esse beijo na face é incontestável sinal de perdão e de compaixão, de renascimento e de vida.
Não deu tempo ao filho ingrato de justificar-se, demonstrando-lhe que estava novamente no seu lar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 17, 2012 8:48 pm

Somente então o desertor confessou que pecou contra ele e contra o céu, não sendo mais digno de ser considerado filho.
Esperava ser tratado como empregado, porque a culpa estava nele insculpida, em face da deserção, do desinteresse pelo pai idoso, quando mais necessitava de apoio e de segurança.

* O amor é, sem dúvida, a terapia eficiente para os males que afligem os indivíduos em particular e a sociedade em geral, porque desperta a reciprocidade, arrancando do esconderijo do egoísmo esse sentimento que é inato, mas necessita de estímulo, de ser despertado, de ser trabalhado, de ser aceito.

O filho mais velho ficara com os sentimentos ressequidos, entregando-se ao trabalho rotineiro e não compensador de amealhar, não para o pai, na expectativa da herança, portanto, para ele mesmo. Por consequência, não sentia a manifestação do amor de maneira alguma, o que o tornava doente emocionalmente, mesquinho e distante.

Negando-se a entrar em casa e rejubilar-se, mantinha-se preso ao instinto de conservação dos sentimentos doentios, não dando oportunidade ao Self de desenvolver-se, mantendo-se distante e cerrado.

É necessário entrar-se na casa dos sentimentos e renová-los com a alegria, com a satisfação pela felicidade dos demais.
É comum chorar-se com quem chora, poucas vezes, porém, sorrir-se com os júbilos dos outros, porque a inveja, filha dilecta do egoísmo, não se permite compreender a vitória, a real alegria do outro...

Provavelmente, na sua solidão, o filho mais velho ambicionasse adquirir independência após a morte do pai, atrair amigos e afectos, pensando que somente o poder e o ter conseguem companhia e participação nos júbilos. Interiormente, prosseguiria ressequido, desejando ser amado, levado em consideração, desfrutando o destaque, superando o complexo de inferioridade em que se debatia por depender do pai sem o amar...

Não se encontra a felicidade fora do amor, que é o elã sublime de ligação entre todas as forças vivas da Natureza, é o alimento das almas, fortalecimento da psique, é vida e força espiritual.

Enquanto não viger o amor natural, o ser humano rumará perdido num país longínquo, gastando haveres que transitam de mãos e sempre deixam solitário aquele que deseja a multidão de presenças exteriores, igualmente vazias de companheirismo.

Quem almeja o encontro, mesmo que inconsciente do Self, deve perceber que somente através de um mergulho interior, na reflexão silenciosa, é possível descobrir e dominar os tesouros adormecidos, trazendo-os para a ponte que facilitará a comunicação entre os dois eus, realizando a identificação do ego com os valores legítimos da vida.

As heranças ancestrais de precaver-se para sobreviver, de agredir antes de ser atacado, de manter-se na retaguarda são todas deploráveis experiências que perturbam a saúde emocional e psíquica dos indivíduos.

Abrindo-se ao amor, cada um descobre que qualquer tipo de fuga é perturbador, enquanto que todo avanço na direcção do serviço fraternal, da solidariedade, do amor constitui próximo encontro com a saúde.

Por outro lado, o estado de semi-aniquilamento físico e moral do filho mais moço demonstra que toda fantasia em torno da vida constitui perigo, e a entrega ao prazer desmedido se transforma em frustração, em desgaste e culpa.

A autoconsciência é o elemento que deve ser buscado sempre e de forma lúcida, a fim de poder eleger-se o que se deve fazer e se pode realizar em detrimento daquilo que se pode, mas não se deve, ou se deve, mas não se pode executar.

Aquele filho mais velho possuía a religião formal, aquela aparência social, mas ainda não encontrara o sentido existencial, o significado do amor em toda a sua plenitude e na mais variada
expressão.

Na censura que faz, esse filho mais velho esquece-se da justiça, pensando em ser justo, pelo menos para com ele mesmo, porque acredita ser o único merecedor de todas as homenagens.
Assim procedem todos os egoístas.

Olvida-se que os haveres são do pai, e que, mesmo idoso, enquanto viva, tem o direito de reparti-los, de utilizá-los conforme lhe aprouver, pois que foram os seus braços que deram início ao património, foram a sua administração e a constância no trabalho que mantiveram os recursos agora disputados tenazmente pelo infiel que se dizia fiel...

A sociedade ainda vive de maneira farisaica, sempre censurando os pecadores e os cobradores de impostos, requerendo cada membro mais atenção e cuidado, no inconsciente com inveja dos prazeres que esses experimentam e eles não se encorajavam a vivenciar, em face dos preconceitos vigentes...

Não seja de estranhar que alguém seja censurado por uma atitude, veementemente combatido porque quebrou algum tabu social, não porque se permitiu a leviandade, mas porque o seu censor gostaria de estar no seu lugar e não tem as forças para fazê-lo, vindo, no entanto, mais tarde, a viver de maneira equivalente, demonstrando o conflito em que vivia, a exulceração oculta superficialmente, mas igualmente pútrida.

Provavelmente, esse filho mais velho via o pai como um fornecedor dos haveres de que desfrutaria no futuro, não como o pai generoso e amigo que também participa da vida, das suas alegrias, das suas tristezas, embora traga o coração angustiado pela saudade do filho perdido...

O amor abarca o mundo, e por mais se divida, jamais diminui de intensidade, conseguindo multiplicar-se e ampliar-se ao infinito.
Somente no amor está a felicidade, porque nele se haure vida e vida em abundância, facultando o encontro com a consciência de si, o auto-encontro com o Self.
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