LUZ ESPÍRITA
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Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 17, 2012 8:48 pm

04 - EXPERIENCIAS DE ILUMINAÇÃO
Perder-se e achar-se
Sair de si-mesmo
Rejubilar-se


A existência terrena é uma experiência de aprendizagem valiosa, através da qual o Self, em sua essência superior, penetra nos arquivos grandiosos do inconsciente colectivo e individual, para bem o assimilar, ampliando a sua capacidade de discernimento e de conquistas libertadoras.

Desalgema-se, em consequência, das injunções do passado, porque as compreende, elucidando os enigmas que lhe permanecem em latência, não mais gerando conflitos psicológicos, e abre-se à Essência Divina, o Arquétipo primordial, logrando a plenitude do numinoso.

Nessa conquista, a individuação torna-se-lhe plena e enriquecedora, tornando-se um verdadeiro reino dos Céus, porque sem aflição nem qualquer inquietação.
Cada experiência no carreiro orgânico faculta-lhe conquistar mais conhecimentos e melhor capacidade para desenvolver os sentimentos, aumentando a habilidade para entender-se, para compreender as demais criaturas e amar-se, amando-as.

Não fossem tais oportunidades, e não haveria como compreender-se as diferenças psicológicas, intelectivas, morais, orgânicas, económicas, de saúde, que caracterizam a mole humana.
Reduzindo-se o ser a urna única existência corporal, ei-lo fadado a carregar o peso do acaso feliz ou desventurado, impondo-lhe um destino que não tem direito nem recurso para modificar, submetendo-se, inerme, às injunções desgovernadoras da fátua ocorrência.

Através das reencarnações, no entanto, o livre-arbítrio faculta-lhe a eleição do bem ou do mal sofrer, da alegria ou da tristeza, da desgraça ou da ventura, porquanto a única fatalidade
que existe, melhor dizendo, o determinismo que se lhe impõe é a plenitude, que cada qual adquire conforme o empenho e a luta a que se consagre.

Assim sendo, a aprendizagem do bem-viver, do desfrutar da saúde integral é feita mediante erros e acertos, como tudo quanto diz respeito à existência em qualquer forma através da qual se expresse.

O equívoco de agora enseja-lhe reparação posterior, o acerto de um momento abre-lhe espaço para novas conquistas, impulsionando-o irremediavelmente para a harmonia consigo mesmo e com o Cosmo.

A viagem evolutiva, embora seja individual, impõe relacionamentos valiosos que contribuem para resultados amplos e benéficos, favorecendo toda a sociedade com os recursos para que vicejem condições gerais de equilíbrio entre todos, e, por consequência, de paz e de bem-estar.

Ninguém pode esperar por felicidade a sós, porquanto, a própria solidão constitui um transtorno grave de conduta, empurrando o indivíduo para a alienação.
A existência terrena tem uma finalidade primordial e impostergável, que é a unificação do ego com o inconsciente, onde se encontram adormecidos todos os valores jamais experienciados e capazes de produzir a individuação.

Integrar-se no Arquétipo primordial em a perda da própria consciência, da sua individualidade, é o objectivo da vida humana, após vencidas as diferentes etapas orgânicas e psicológicas da sua evolução.

A força geratriz para essa conquista é o Self totalmente libertado da sombra e dos conflitos contínuos entre a anima-us(*).
Os relacionamentos desenvolvem a capacidade de crescimento e de compreensão do sentido existencial, assim como da necessidade de alcançar-se os objectivos anelados.

Nesse esforço, o ego escravizado às paixões vê-se compelido à libertação, à aliança com as demais pessoas, reconhecendo os próprios limites enquanto alcança outros níveis de entendimento e de conduta.

No início do tentame, quando escasseia a maturidade psicológica, antes da expulsão do paraíso, o ego toma todo o espaço do Self, como se estivessem ambos no Jardim do Éden, sem separação, sem diálogo, sem consciência.

À medida, porém, que vem a expulsão do paraíso, adquire-se o equilíbrio da consciência, quando o ego se libera, embora ainda ocupando uma grande área no Self.
Por fim, ego e Self em um eixo de harmonia faz-se quase consciente, facultando a presença de Deus no imo, o retorno ao Arquétipo primordial.

Jesus sabia dessa ocorrência, e, por essa razão, misturou-se às massas desesperadas, imaturas psicologicamente, sofridas, compartilhou Suas lições com todos, envolveu-Se nos dramas do dia-a-dia, experienciou as dificuldades do trabalho manual, exemplificando que a luta é o clima de crescimento do ser humano, e os grandes inimigos estão no seu mundo interior e jamais no externo, convidando à saída do epicentro do Separa a aquisição da consciência.

Aqueles que se apresentam como adversários de fora nada podem fazer, realmente, de prejudicial, a quem é livre internamente, a quem venceu os impulsos e superou as tendências agressivas.

No entanto, encontrando-se preso aos interesses mesquinhos da superficialidade, rivaliza com esses que se lhe tornam inimigos, porque facilmente se fazem também inimigos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 17, 2012 8:48 pm

O máximo que pode realizar o adversário é criar embaraços na marcha do progresso da vítima, atentar contra os seus valores ou até mesmo contra a sua vida física.
Não consegue ir além disso, porque não lhe atingirá a realidade de ser imortal que é, portanto, invencível, desde que não se deixe dominar pelas veleidades, pelas paixões do primarismo animal por onde transitou.

A grande viagem, iniciada com a expulsão do paraíso, vai ensejar o conhecimento das possibilidades de vitória nas renhidas lutas, novo Adão que é obrigado ao trabalho com suor, com renúncia e esforço, a fim de autodescobrir-se e conseguir o diálogo entre o ser que aparenta e o ser que é — Espírito indestrutível!

A criança que existe em todos inevitavelmente cresce e desenvolve a capacidade de entendimento, a necessidade de libertação, a busca do Si-mesmo, a aventura que lhe dá experiência, a fim de realizar mais tarde, a volta para casa.

Ocorre, então, a primeira mudança na psique colectiva, porque sucedeu a mudança individual, o crescimento do ser, a alteração do inconsciente, avançando para Deus, com a inevitável modificação das construções do mundo psíquico.

Nesse retorno, não existe a culpa, mas a consciência, pois que ambas surgiram ao mesmo tempo, desde que Adão e Eva foram expulsos do paraíso, saíram da ignorância de Si mesmos, para os enfrentamentos.

Após o mito da desobediência, ambos dão-se conta das diferenças anatómicas e escondem-se, envergonhados, em face da libido que surge - a malícia - e fogem também de Deus, ocultando-se, mas nunca do deus interno que os acompanhará em todos os transes e trânsitos, descobrindo os opostos, sentindo as necessidades.

A criança, que neles existia, cede lugar aos adultos, aos seres formados para a procriação, para o desenvolvimento, não mais para a inocência, a ignorância permanente da sua realidade.

A psique amadurece, amplia o seu raio de entendimento e de acção, engrandece-se, faculta a fissão dos eus, de modo que o ego se espraie, que surjam a sombra, os anima-us, que se conquistem os espaços naturais, de maneira a criar o diálogo, a interacção do eixo perfeito entre ele e o Self.

Essa viagem para a casa paterna já não tem retorno.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 17, 2012 8:48 pm

Perder-se e achar-se

O herói adormecido deve seguir adiante, procurar a própria identidade, sair da protecção do Pai misericordioso, a fim de viver as próprias experiências.

Talvez não seja necessária a forma como o filho pródigo tomou a decisão, mas uma escolha decorrente da própria maturidade.

Quando se rompem os primeiros laços entre o filho e a mãe a criança começa a dizer não.
A sua personalidade se vai formando, nasce a sua identidade que necessita de independência para o amadurecimento, para o enfrentamento dos próprios desafios.

O vínculo com o Pai, especialmente no sexo masculino, pode durar por muito tempo como submissão, medo, interesse pela herança, falta de iniciativa para as próprias necessidades que têm sido supridas sem qualquer esforço de sua parte.

Transferindo sempre a responsabilidade dos seus actos ao Pai, o filho não cresce psicologicamente, mantendo uma forma de paraíso infantil, onde se sente bem, embora não realizado.

A experiência libertadora é essencial ao crescimento interior e pessoal, podendo ser realizada, no entanto, sem traumas, sem culpas, sem danos.
Não poucas vezes, nessa fantástica aventura da auto-identificação ocorre o perder-se, a fim de mais tarde achar-se.

A sombra em forma do eu-demónio apressa-se para que aconteça a ruptura, enquanto o eu-angélico aturde-se e introjecta a culpa, que ressumará do inconsciente quando o indivíduo perceber-se perdido e sofrido.

Normalmente ocorrem desenvolvimentos espontâneos e superiores na psique, quando se atinge a idade adulta, no entanto, nela existem factores de compressão e de regressão, que se fazem vigorosos, demonstrando o erro em que se incidiu, abrindo espaço para as reflexões mais sérias destituídas do ego, facultando a corrigenda do erro, sem a perda das qualidades morais adquiridas.

Antes, pelo contrário, graças a esses valores de enriquecimento interior, que ajudam no discernimento, que proporcionam o crescimento e contribuem com as forças necessárias para a reabilitação.

O ser amadurecido pela dor redescobre que tem um Pai misericordioso, que nem sequer o censurou quando ele partiu ou dificultou a sua viagem, mas que, com certeza o espera na sua afeição não ultrajada.

Essa conquista da consciência do si-mesmo é a chave mágica para a decisão de voltar para casa, de retornar às experiências de identificação com a vida.
Já não se trata de uma volta à inocência, agora transformada em conhecimentos diversos, em sofrimentos dignificadores, em discernimento entre raga (a paixão, a ilusão) e a realidade.

Não bastam ser trabalhados o ego e a persona, fortalecidos e construídos muitas vezes pelas experiências existenciais, mas sobretudo o Self consciente.

Quando se atinge a meia-idade essa reflexão faz-se inevitavelmente.
No entanto, o mesmo fenómeno ocorre, também, na juventude, após alguns traumas e frustrações, desencantos e dissabores ante a realidade da vida.

Foi o que pensou e executou o Filho pródigo, no inferno em que se encontrava.
Ele sabia onde estava o paraíso e o de que necessitava era o estímulo que se lhe apresentou como fome e humilhação, com a consequente possibilidade de morte.

Havendo perdido a própria identidade, todos os valores que lhe constituíam a raça, suas heranças, seus prejuízos e suas conquistas, ao trabalhar com porcos - animais imundos na sua crença - em servir a um pagão, pecando contra a fé religiosa - o seu Deus - a mais vergonhosa derrota havia sido essa, de natureza moral, cujos factores de perturbação se lhe acrescentaram como desonra, descrédito, abandono, miséria física e económica, defluentes daquela de natureza espiritual.

No processo de aquisição da consciência, por desconhecimento da realidade, por presunção e fatuidade, muitos perdem-se e transitam imaturos no prazer, desperdiçando a juventude e os tesouros que lhe são pertinentes, até o momento em que surge uma seca, faltam as energias para o prosseguimento e o indivíduo cai em si, avaliando tudo quanto tinha e de que não mais dispõe, sabendo que na terra longínqua onde vivia, tudo está em abundância.

Já não mais aspira à reconquista do que perdeu, porquanto há recursos que não retornam: energia, juventude, pureza de sentimentos, mas há outros que podem ser restaurados:
dignidade, trabalho, renovação, novos logros.

No caso, em tela, servia ao Filho pródigo um lugar entre os trabalhadores, mas ele foi restaurado pelo pai que o reabilitou, que o vestiu e calçou com nobreza, que lhe pôs o anel de distinção e de união.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 17, 2012 8:49 pm

Tudo isto porque ele estava perdido e foi encontrado, estava morto e vivia.

Podemos considerar esse facto, igualmente como o do amor de Deus, em relação às suas criaturas, Seus filhos rebeldes que Lhe abandonam a casa paterna e fogem para o país longínquo da loucura e da ingratidão, entregando-se à ilusão com total olvido da sua origem divina, dissipando as forças elevadas que lhe são concedidas para o desenvolvimento espiritual, moral e intelectual, entregando-se ao servilismo com os animais imundos - as paixões primitivas - disputando as bolotas — insistindo no primarismo ancestral - porque está perdido, mas com possibilidades de auto-encontrar-se.

Fazendo parte da trilogia dos perdidos - a ovelha, a dracma e o filho pródigo — essa parábola também é membro da tríade do encontro, da esperança, da misericórdia, do júbilo.

Achar-se é muito mais importante do que achar.
Acham-se coisas, animais e pessoas perdidos, no entanto, achar-se, quando se está perdido em si mesmo e não no espaço-tempo, é de relevância psicológica, de verdadeira cura, de reabilitação, de auto-encontro, de amadurecimento para o estado numinoso.

Torna-se necessária, nesse momento, a imago Dei na consciência como parâmetro para sair-se do ego extravagante e ditador, recordando-se do Pai misericordioso que sempre aguarda e que, reencontrando o que estava perdido, rejubila-se, propõe e executa uma festa, mantendo a união que fora arrebentada quando o irresponsável fugiu para longe...

A persona está sempre mudando no processo existencial porque resulta das aquisições psicológicas e morais, embora o ego se demore na sua dominação, adquirindo recursos para interagir com as novas conquistas. Durante os períodos de mudanças biológicas, conforme referido anteriormente, essas mudanças sucedem-se com naturalidade, atingindo o clímax na fase adulta-velhice, quando o período é saudável.

Experiencia-se, na Terra actual, não mais o ciclo das culturas da vergonha e da culpa, mas o do narcisismo, do exibicionismo, da falta de censo e de pudor, da extravagância, do poder...

Apesar disso, a psique mantém a herança da culpa e da vergonha no inconsciente individual e mesmo quando anestesiada por circunstâncias e ocorrências casuais, locais, sociológicas, são sempre de breve período de duração, porque ressumam e se expressam de maneira patológica com transtornos de comportamento e síndromes de enfermidades defluentes de somatização.

É compreensível que o necessário sair de casa para tornar-se herói, não deva passar obrigatoriamente pelo insucesso, a depender, portanto, da maneira elegida para essa experiência.

Achar-se é uma necessidade do si-mesmo para desfrutar da alegria de viver, não sucumbindo em distúrbios de conduta, sempre lamentáveis e dolorosos.
Quando se pensa que o Cosmo possui um sistema de natureza moral, organizador, descobre-se alegremente que a vida oferece processos evolutivos que impulsionam ao engrandecimento pessoal e à plenitude ou individuação.

Pode-se alcançar esse crescimento sem que se passe compulsoriamente pelo insucesso do ego, pelas incertezas do Self, realizando-se a viagem de volta a casa, em clima de alegria.

Jesus concebeu e expôs a Parábola do Filho pródigo, assim como as duas outras, sobre os perdidos, para demonstrar que Ele viera para esses sofredores e desorientados, que Ele encontraria e reconduziria às suas origens, na doce expressão do Pai misericordioso, o que conseguiu com êxito retumbante, demonstrando, sub-repticiamente, aos seus antagonistas que, de alguma forma, eles estavam perdidos, mas que também estavam sendo encontrados, tendo a chance de retornar à casa paterna...

O desafio de Jesus prossegue na actualidade com as mesmas características, representadas no Seu chamamento à consciência de felicidade, naturalmente para aqueles que a perderam ou não a tiveram, ante o crivo dos novos fariseus presunçosos e enganados em relação à vida e ao seu determinismo.

São, por enquanto, Filhos pródigos saindo da casa paterna, para desfrutar as heranças divinas no país longínquo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 17, 2012 8:49 pm

Sair de si-mesmo

Para que o si-mesmo possa expressar-se com segurança, especialmente na parábola em análise, torna-se indispensável a integração da persona com a sombra.

Jung considerou a persona e a sombra como classicamente opostos, encontrando-se no ego a expressar-se, numa visão total da psique, como polaridades.
Trata-se de uma aceitação consciente do si-mesmo, compreendendo o seu lado sombra e as suas dificuldades em lidar com ele.

Devem-se considerar as ocorrências negativas e perturbadoras como naturais, sem os constrangimentos nem a vergonha das manifestações pessoais que são tidas por perversas, demoníacas.

Como esse lado não está de acordo com a persona, a aparência que se mantém, surgem os problemas interiores, os conflitos que devem ser evitados, tendo-se em vista que esse aparente mal, desde que não prejudique a outrem, é também responsável por muitos acontecimentos bons, por momentos de bem-estar e de alegria.

Estar-se aberto às diversas manifestações existenciais, sem repugnância pelo chamado lado mau, pela exteriorização do eu-demónio, sobrepondo, sem violência nem conflito, o eu-angélico, proporciona uma pré-individuação, porque nessa luta de opositores surge uma terceira coisa, que é a conquista do estado numinoso.

Normalmente os conteúdos da sombra são contestados pela persona (o irmão mais novo e o irmão mais velho da parábola em estudos), que também podem encontrar-se no mesmo indivíduo, quando esse sofre a repulsa de si mesmo e o desejo de elevar-se, ocorrendo inevitáveis conflitos de comportamento.

Jung propõe um novo símbolo que sempre trará algo de ambos, que é o esforço para a integração daqueles conteúdos, numa diferente e renovada concepção de mundo como decorrência da transformação do ego.

O filho mais moço da parábola sentia que o seu irmão mais velho não o aceitaria e, malgrado essa percepção antecipada, gerou o movimento do retorno, porque naquele momento a sua visão qualitativa do mundo era diferente, assim valorizando o lado bom do mesmo e considerando o seu esforço de arrependimento voltando para casa.

Quando se foi para o país longínquo, estava buscando o si-mesmo, embora saindo;
quando retornou, descobriu-se caindo em si-mesmo.

Muitas das actividades humanas e ocorrências psicológicas são o resultado dessa saída sem a perspectiva, pelo menos racional, da volta, o que se transforma numa atitude de definição e de responsabilidade pelo que possa acontecer no futuro.

A medida, porém, que a persona se fortalece, ampliando a capacidade de compreensão e de identificação, torna-se maleável, submete-se às necessárias mudanças, conseguindo a integração com a sombra, fundindo os dois eus.

Há, entretanto, indivíduos com uma tal carga de energia da sombra que não conseguem a aceitação dos seus erros pela persona, tornando-se uma questão patológica necessitada de terapia especializada.

Essa conduta antinómica é resultado dos instintos ainda dominantes na psique, herança poderosa da natureza animal do ser em relação à sua natureza espiritual, à sua origem no Uno.

As experiências das reencarnações privilegiando em uma etapa os valores intelectuais, noutra aqueles de natureza moral, em diversas ocasiões o desenvolvimento das tendências artísticas e culturais, os labores científicos e filosóficos, as místicas religiosas com todas as suas cargas simbólicas e mitológicas, havendo gerado o peso dos conflitos, a descoberta do bem e do mal, a perda do paraíso, ensejam o predomínio de um arquétipo sobre o outro.

Em determinado período mais primitivo da evolução, é a sombra, mais tarde é a presença marcante da persona, em diferentes oportunidades o anima-us, por muito tempo o ego até o momento da estruturação complexa do Self, na sua amplitude que se espraia além dos limites do indivíduo.

Por sua vez, o Pai amoroso saiu de si mesmo para receber o filho perdido e o acolheu no coração, que jamais deixara de o amar, pois que nunca o expulsara dos seus sentimentos, quando constatando que o outro filho, o mais velho, se recusava a entrar em casa e fora tomado pela revolta, assim como a ira, filhas dilectas da sombra, novamente saiu de si-mesmo e foi em sua busca, por constatar que estava perdido também, necessitando de ser encontrado.

No processo da evolução do Espírito, faz-se necessário muitas vezes, sair-se de si-mesmo, para alcançar-se a meta a que se propõe, porque há situações difíceis de conflitos psicológicos em torno, que necessitam da presença do ser divino que se possui no imo.

Jesus assim o fez inúmeras vezes, pois que Ele veio para as ovelhas desgarradas, sacrificou a Sua vida para resgatá-las da perdição, confundiu-se com a sombra individual de cada qual e a colectiva de Israel, de Jerusalém assassina, que matava os profetas, a fim de manter a sua corrupção, aguardando um vingador para esmagar aqueles que lhe dominavam o povo, olvidando-se que a pior escravatura é a que procede dos instintos, dos arquétipos inferiores do Self em formação e desenvolvimento.

Sair de si-mesmo é fruir por antecipação o retorno que se dará com a conquista realizada, quanto sucedeu com Jesus, crucificado, mas livre, indesejado, no entanto, triunfante, porque conseguira atingir o estágio mais alto da psique:
a vitória sobre os impositivos existenciais, embora já fosse perfeito como o Pai Celestial é perfeito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 17, 2012 8:49 pm

Considerando-se as parábolas da esperança, da consolação, dos júbilos, dos perdidos, pode-se ver Jesus na condição de Filho Pródigo do Amor.
Afastou-se do Reino com os Seus inestimáveis bens e veio ao terreno país longínquo, para desperdiçar os Seus tesouros com as meretrizes e ladrões, os de má vida, que se Lhe tornaram más companhias, sem permitir-se contaminar com as suas misérias.

E porque eram incontáveis esses necessitados, Ele entregou tudo quanto possuía e, repentinamente, viu que se abatera sobre o país a fome de amor e de misericórdia, de compaixão e de solidariedade, resolvendo-se por entregar-se in totum, a partir do momentoso Sermão da montanha...

Apesar dessa doação máxima de amor, foi desprezado pelos habitantes soberbos e ingratos desse país, os prepotentes e dominadores, ficando com a ralé, simbolicamente representando os suínos, como era quase considerada, não aceita e espezinhada, optando pela cruz do sacrifício de afecto jamais ocorrido na Terra, voltando, porém, rico de bênçãos ao Pai misericordioso, que O recebeu em júbilo, permitindo que Ele ficasse ainda, por mais tempo, num e noutro lugar, acenando com a imortalidade gloriosa.

No estado numinoso, Ele tentou dissipar a sombra individual, que espera pelo esforço do Self de cada qual, iniciando-se, então, esse processo de unificação com a persona através dos dois milénios, a partir do momento em que se inicie a terapia psicotrópica da renovação interior, proporcionando aos neuro comunicadores a produção das monoaminas restauradoras da saúde psicológica e da moral através da vivência dos Seus incomparáveis enunciados psicoterapêuticos.

Herdeiro de si mesmo, o ser humano é a soma das suas experiências, que desenvolvem os valores para a própria evolução.
O que lhe constitui desafio em uma etapa desse crescimento, noutra se lhe torna mais acessível, dando lugar ao surgimento dos arquétipos muito bem examinados pelo eminente mestre de Zurique, Carl Gustav Jung.

Entende-se que a predominância da sombra ou do animaus em indivíduos biologicamente portadores de polaridades orgânicas opostas, resulta das experiências malsucedidas e que, repetidas, lhes proporcionam o ensejo de ajustamento, de integração moral, qual ocorre com a persona na construção do Self iluminado, liberado das pesadas cargas dos conflitos ancestrais.

A conquista da saúde integral é, compreensivelmente, um desafio que está diante de cada qual, dependendo do seu esforço enfrentá-la desde logo ou postergá-la, quando complicada e perturbadora.

Graças às conquistas da medicina nos seus mais diversos sectores, e das doutrinas psicológicas iluminadas pelo Espiritismo, com o seu valioso contributo psicoterapêutico preventivo e curador, dispõe o ser humano destes dias de instrumentos valiosos para o logro da felicidade mesmo na Terra, embora o Reino não seja deste mundo, nele iniciando-se e prolongando-se pelo infinito dos tempos e dos espaços.
A Parábola do Filho pródigo, assim como a da dracma e a da ovelha perdida constituem preciosas lições de autodescobrimento de todo aquele que deseja identificar a finalidade da jornada terrestre, o significado real da vilegiatura carnal, conseguindo superar o vazio existencial com objectivos dinâmicos e seguros em favor da sua completude emocional e espiritual.

Resgatando as perdas, envolve-se em aquisições de relevante significação para a sua imortalidade, na qual, desde ontem, se encontra mergulhado.

Cumpre-lhe, por consequência, vigiar as subpersonalidades comprometidas com a sombra, expressões que, de alguma forma, dela se derivam, preservando o bom humor e evitando as suas alterações, que abrem espaço para a interferência dos Espíritos inferiores que pululam em toda parte, gerando alucinações e ressentimentos, portadores de enfermidades de várias etiologias, produzindo infelicidade e desar.

Sair de si-mesmo, de maneira objectiva, a fim de ajudar os que se encontram na retaguarda, é a imagem do Pai misericordioso recebendo o Filho pródigo de volta a casa...

Em assim sendo, a reencarnação é de valor inestimável, que não pode ser desconsiderada, nem postergados os ensejos de crescimento interior.

Procedente do ontem, o Espírito apresenta-se com o património amealhado, construindo o porvir que lhe está reservado.
O seu esforço em favor da aquisição do estado numinoso deve constituir-lhe meta essencial na luta em que se empenha.

Essa conquista independe de qualquer façanha paranormal, seja anímica ou mediúnica, antes valendo pelo autoconhecimento e as transformações emocionais para melhor que possa conseguir.

A sua saúde psicológica e física, psíquica e moral, dependerá sobretudo desse empenho, desse entendimento da finalidade do corpo que o capacita para a plena libertação dos arquétipos tormentosos que ainda o mantêm em escravidão.

Vez que outra se sentirá impulsionado a sair da casa paterna e o fará, desde que, de maneira sábia, investindo os valores que lhe são concedidos no crescimento interno, onde quer que se encontre, antevendo a possibilidade de retornar em situação saudável, sem o desgaste nem a miséria assinalados no fracasso do Filho pródigo.

Fracasso, porém, que o Pai misericordioso transformou em lição de desenvolvimento moral, não lhe concedendo a posição de servo ou de escravo, mas de filho que o era, pois que, perante Deus não existem filhos perdidos e cujos actos sejam irreparáveis.

Desse modo, a evolução do ser, sua felicidade e harmonia dependem exclusivamente dele mesmo, contando com a misericórdia e a bonança do amor sempre responsável pela concessão da plenitude.

Quando os indivíduos se aperceberem das vantagens do amor a si mesmo, de início, ao seu próximo como consequência, e, por fim, a Deus, tudo se lhe modificará durante o périplo orgânico, pois que esse tropismo superior alçá-lo-á ao estágio de individuação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 18, 2012 9:43 pm

Rejubilar-se

O júbilo é defluente da conquista superior da saúde psicológica, por sua vez, da harmonia que deve viger entre o físico, o emocional e o psíquico.

O Pai generoso rejubila-se com o filho de volta, não considerando a sua defecção, que é tida como uma leviandade da fase juvenil, exactamente daquele período de imaturidade e de incerteza, quando ainda existem as inseguranças da infância e as perspectivas da idade adulta, sem a definição da personalidade.

É natural que, nessa busca do herói, da identificação do eixo ego-self, ocorram essas nuanças de insucesso, que levam à maturidade, de inquietação e de aprendizado, necessários ao processo de crescimento interior, desde que o conquistador esteja disposto a refazer caminhos, a reconquistar-se, superando a sombra e não se permitindo fixar na culpa.

Toda viagem interior, à semelhança daquilo que ocorre quando se viaja para fora, é uma aventura de alto significado, sendo que, as sucessivas camadas de experiências negativas que vitalizam o eu-inferior, demoníaco, geram impedimentos emocionais, dando largas a conflitos de natureza infantil, como as fugas para a lamentação, as queixas, a necessidade de colo materno.

O júbilo deve permanecer no coração de todos os indivíduos, mesmo quando enfrentando situações embaraçosas ou difíceis, pois que proporciona claridade mental, enquanto a sisudez, a mágoa, o autodesprezo podem ser considerados como revides do eu-infeliz punindo o malsucedido.

Rejubilar-se na comunhão com as propostas da vida, na convivência com as pessoas e a Natureza, consigo mesmo, constitui dever psicológico derivado da harmonia que se consegue mediante esforço e auto-identificação de valores.

A atitude do Pai misericordioso em relação ao filho arrependido deve constituir uma lição viva de comportamento que todos os indivíduos devem manter em relação àqueles que se encontram em dificuldades de qualquer natureza, auxiliando, sem exigências descabidas, sem arrogância de triunfador em face da queda do outro, de maneira edificante e estimuladora.

Quando se reprocha outrem pelo comportamento malsão, em consequência das suas acções incorrectas, deve ser levado em conta que o tombado espera ajuda e não somente repreensão, buscando-se corrigir-lhe o erro, quando seja possível, sem criar-lhe conflitos de inferioridade que o podem empurrar para situações mais deploráveis.

Há uma tendência natural para a tristeza entre muitos seres humanos, que se transforma em melancolia e contribui para o desinteresse pela vida, para a falta de observância da beleza que existe em toda parte.

Esses pacientes trazem de reencarnações anteriores alguma culpa que se transformou em autopunição, trabalhando para que não experimentem alegria, inconscientemente por acreditarem que não a merecem.

Predomina-lhes, então, no comportamento, a sombra com a sua carga de negativismo, de punição...
A vida humana é um hino grandioso que exalta a grandeza do Uno em toda parte, convidando ao desenvolvimento dos valores adormecidos, do deus interno em expectativa de despertamento.

Todos os seres humanos estão comprometidos com o Universo, assinalados por um importante labor a desempenhar em qualquer situação em que se encontre.

A harmonia é resultado de muitos factores, alguns diversos que se unem, formando um conjunto de equilíbrio.
O equilíbrio interior não significa paralisia, ausência das colisões, antes, pelo contrário, são elas que favorecem o encontro da situação ideal, após os choques inevitáveis dos processos em litígio.

Para alcançar-se, nesse aprendizado, a integridade, é necessário que ocorra o perfeito entendimento do Self pela consciência, a identificação das polaridades antes em conflito e oposição, apesar das novas aparições que se transformam em materiais inusitados a integrar.

Sempre se está crescendo durante toda a existência, em cada fase conseguindo-se novos contributos para o enriquecimento da vida psicológica.
Somente assim é possível rejubilar-se consigo mesmo, quando cada qual descobre a riqueza interior que vai acumulando, a maneira como supera as crises que surgem e as situações desafiadoras.

Cada etapa da vida, portanto, tem as suas imagens arquetípicas, os seus comportamentos e as suas conquistas, trabalhando para a vitória sobre o respectivo período que se vivência.

O Pai misericordioso rejubila-se com o retorno do filho, mas não se esquece de atrair também o outro filho, o ciumento e vingativo, que se nega a entrar em casa, evitando participar da festa de alegria, significando o eu-demoníaco.

O amor, porém, do Pai, desmascara-o, enfrenta-lhe a persona doente, e demonstra que está contente por tê-lo e que se rejubila por conviver e beneficiar-se da sua presença.

Por isso, um cabrito que lhe desse para banquetear-se com os amigos não tinha qualquer sentido, para aquele que lhe dava tudo, porquanto, assim informara:
E tudo quanto é meu é teu...

A vida é um poema de júbilos.
Rejubilar-se com tudo e com todos é o passo feliz para a individuação.

Utilizar-nos-emos, em tempo, da expressão anima-us para significar a anima e o animus.
Nota da autora espiritual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 18, 2012 9:44 pm

05 - CONVIVER E SER
Cair em si
A coragem de prosseguir em qualquer circunstância
Ser-se integralmente


É inegável que o Evangelho de Lucas possui uma beleza especial, que o torna um dos mais belos livros que jamais se escreveram.

Quando Jesus se dirigia a Jerusalém, nessa subida narrou 19 parábolas, que representam um dos mais belos e atuais estudos do comportamento humano diante da consciência enobrecida e dos deveres para com o próximo.

É chamado de O Evangelho da misericórdia e da compaixão.
Misericórdia e compaixão constituem desafiadores termos da equação existencial humana.

Misericórdia, porém, que seja mais do que piedade, também alegria no júbilo do outro, satisfação ante a vitória do lutador e tudo quanto se puder fazer, que seja realizado com paixão, com um devotamento superior rico de bondade e de enternecimento...

O capítulo XV, que tem merecido nossas reflexões na presente obra, narra as três parábolas dos perdidos, em uma análise das necessidades emocionais do ser diante das ocorrências do cotidiano, dos aparentes insucessos e perdas, que devem instituir motivo de coragem e de busca, jamais de recuo ou de desistência.

...E Ele narrou-as, porque, acossado pela hipocrisia farisaica dos seus ferrenhos inimigos, que O acusavam de conviver com os miseráveis:
meretrizes, ébrios, poviléu, doentes e excluídos, não teve outra alternativa, senão tentar despertar as suas consciências ignóbeis adormecidas para o bem e para a solidariedade.

Caluniado de beberrão e comilão, porque se alimentava com os infelizes, jamais se justificou, isto porque não tinha sombra, era numinoso.
Entretanto, fazia-se mister legar-lhes o tesouro terapêutico da misericórdia, a fim de que entendessem que também eram esfaimados de luz e de amor, debatendo-se nos conflitos hediondos em que se refugiavam.

Preferiam não entender que Ele é a luz do mundo e, à semelhança do Sol que oscula a corola da flor sem perfumar-se, assim como o pântano apodrecido sem macular-se, pairava acima das humanas misérias, erguendo os tombados e evitando que descessem a abismos mais profundos, aqueles que se lhes encontravam à borda...

Preocupavam-se, os seus infelizes acusadores, em manter os hábitos e a tradição, sempre exteriores, com o mundo íntimo em trevas, comprazendo-se em vigiar os outros, descarregar as culpas e mesquinhezes naqueles que invejavam porque não eram capazes de se assemelhar ou pelo menos de aproximar-se-lhes moralmente...

Captando-lhes os pensamentos hostis e despeitados, ouvindo-lhes as acusações, o Homem Integral, compadecendo-se da sua incúria, expôs a Sua tese, através de interrogações sábias e respostas adequadas:
Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai em busca da que se havia perdido até achá-la?

Quando a tiver achado, põe-na cheio de júbilo sobre os seus ombros e, chegando a casa, reúne os seus amigos e vizinhos e diz-lhes:
Regozijai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se havia perdido.
Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos, que não necessitam de arrependimento.

E prosseguiu, intimorato e intemerato:
Qual a mulher que, tendo dez dracmas e perdendo uma, não acende a candeia, não varre a casa e não a procura diligentemente até achá-la?
Quando a tiver achado, reúne as suas amigas e vizinhas, dizendo:
Regozijai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido.

Assim, digo-vos, há júbilo na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.
(versículos 4 a 10)

As profundas parábolas dos perdidos e achados são o prólogo da extraordinária narrativa do Pai que tinha dois filhos...

Nas três narrativas, o inconsciente colectivo libera inúmeros arquétipos ocultos que se fazem presentes, de maneira clara, como acompanhamos no texto, quando o homem e a mulher são apresentados, respeitando o anima-us, para servir de base ao estudo psicológico do ser humano que, embora a diferença de sexo, as emoções se equivalem, as aspirações são idênticas, as ansiedades e alegrias são características do seu comportamento.

A saúde, a paz de espírito, o equilíbrio emocional e psicológico, a harmonia doméstica, a confiança, a alegria de viver podem ser considerados ovelhas e dracmas valiosas que todos estimam e lutam por preservar.

Nada obstante, as circunstâncias do trânsito carnal, não poucas vezes, criam situações difíceis e perdem-se alguns desses valores ou, pelo menos, um deles, essencial à vitória e ao bem-estar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 18, 2012 9:44 pm

É sábio quem, não considerando os outros tesouros, empenha-se por buscar o que foi perdido, lutando com tenacidade até encontrá-lo e, ao tê-lo novamente, quanto júbilo que o invade!
Irrompe-lhe a satisfação imensa, o desejo de anunciar a todos:
amigos, vizinhos e conhecidos a alegria de que se encontra tomado pela recuperação do que havia perdido e voltou a fazer parte da sua existência.

Todos os indivíduos conduzem no inconsciente individual a sua criança ferida, magoada, que lhe dificulta a marcha de segurança na busca da paz interior, da saúde e da vitória sobre as dificuldades.

Essa criança ferida é o ser humano perdido no deserto, ou na casa, que necessita ser varrida, a fim de retirar as camadas de ressentimentos que impedem a claridade da razão, do discernimento.

Mediante a reflexão e a psicoterapia equilibrada, a criança ferida, libera o adulto encarcerado que não se pode desenvolver e ocorre uma integração entre a sombra e o ego, proporcionando alegrias inenarráveis ao Self, que aspira à perfeita junção das duas fissuras da psique.

Jesus conhecia essa ocorrência, identificava os opositores internos, e por isso trabalhava com as melhores ferramentas da bondade e da compaixão, que Lhe constituíam recursos psicoterapêuticos para oferecer à massa dos sofredores e, ao mesmo tempo, dos adversários soezes que O não conseguiam perturbar.

As três parábolas da esperança, que são os tesouros arquetípicos existentes no inconsciente de todos os indivíduos, têm urgência de ser vivenciadas, seja num mergulho de reflexão em torno da existência de cada qual, seja pela observação dos acontecimentos naturais do dia-a-dia, trabalhando os conflitos que decorrem das perdas para que sirvam de alicerces para as resistências na busca para o encontro.

A sociedade é constituída em todos os tempos por pessoas como aquelas às quais Jesus deu prioridade, comendo e bebendo com elas, isto é, sentando-se à mesa da fraternidade, alimentando-se sem alarde e sem preocupações exteriores das observâncias israelitas, demonstrando sua preocupação maior com o interior, com a psique, do que com o exterior, o ego, a aparência dissimuladora.

O número de transtornados psicologicamente é muito grande, em face da preservação da criança ferida em cada um, dos complexos narcisistas e de inferioridade, do egoísmo e da presunção que impedem o indivíduo de auto-realizar-se.

Sempre está observando o que não tem, o que ainda não conseguiu, deixando-se afligir pela imaginação atormentada, fora da realidade objectiva, perdendo-se...
O encontro somente será factível quando se resolver por auto-penetrar-se, por buscar identificar a raiz do drama conflitivo e encorajar-se a lutar em favor da libertação, regozijando-se com cada encontro, cada realização dignificante.

Quem teme o avanço e somente observa a estrada, permanece impossibilitado de conquistar espaços e alcançar o cume da montanha dos problemas desafiadores.
Passo a passo, etapa a etapa, vão ficando para trás os marcos das vitórias, pequenas umas, significativas outras, facultando a integração da própria na Consciência Cósmica sem a perda da sua individualidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 18, 2012 9:44 pm

Cair em si

As perdas têm uma trajectória na psique humana, desde os primórdios da evolução, quando ocorreu a saída do paraíso, a perda da inocência, ante os gravames das castrações culturais, religiosas, sociais, que geraram o mascaramento da necessidade substituída pela dissimulação, dando surgimento aos primeiros sinais de insegurança e aos registros de criança ferida no indivíduo.

Embora reconhecendo-se problematizado, esse indivíduo ainda hoje foge da responsabilidade do enfrentamento das culpas e desafios, normalmente transferindo-a para os demais, que são -justamente considerados como inimigos e perturbadores da sua paz íntima.

Poderá, realmente, alguém de fora, criar embaraços ou sombrear a luz interna, a paz de cada qual, trabalhada na consciência tranquila em torno dos deveres rectamente cumpridos?
É claro, que não.

No entanto, torna-se mais fácil ao ego transferir responsabilidades do que enfrentar a sombra devastadora a que se acostumou.
O estágio da doença prolongada gera uma aceitação da circunstância com certa dose de alegria, porque o doente não trabalha, mas dá trabalho, não se preocupa com as ocorrências deixando que outrem as assuma, permanecendo num estado infantil de dependência, de lágrimas e de queixas, com que se compraz, enquanto se aflige...

A conscientização da culpa, assim como das necessidades de serem saudáveis, são sempre retardadas pelos Espíritos enfermos, que se refugiam nas decantadas fraquezas de que se dizem possuídos, atribuindo aos lutadores incansáveis forças que não lhes foram concedidas, como se houvesse privilégio entre as criaturas, aquelas que desfrutam de benesses imerecidas e aqueloutras que são as castigadas pela vida, portanto, dignas de piedade e de amparo.

O desenvolvimento psicológico é contínuo, excepto quando impedido pela acomodação do ego dominador.
O Evangelho de Jesus, particularmente as parábolas narradas por Lucas, são, indubitavelmente, um tratado valioso de psicoterapias espirituais, morais, sociais e libertadoras para todos os indivíduos que as examinem em todos os tempos depois de escritas...

Falando através de parábolas, Jesus utilizou-se dos mais valiosos recursos orais que existem, porque os arquétipos vivenciados encontram-se em todos os indivíduos, ocultos ou não, e que, através dos diferentes períodos, sempre se expressam com carácter de actualidade.

Na parábola do pai misericordioso, quando o filho ingrato experimenta miséria económica, moral, social pelo desprezo de que é objecto, após reflexionar muito na situação de penúria em que se encontrava, caindo em si resolveu buscar o pai que atendia aos seus empregados com nobreza, optando por não mais ser aceito, nem sequer como filho, porque não o merecia, mas como servo...

E assim o fez, sendo recebido, não como empregado, mas como filho de retorno ao coração afectuoso.

Foi necessário cair em si...
Cair em si foi o triste despertar de Judas ante a injunção da culpa, desertando mais lamentavelmente através do suicídio, num surto perverso de depressão...

Cair em si foi o momento em que Pedro conscientizou-se após as negações, redescobrindo o Amigo traído e abandonado, oferecendo, então, a existência inteira, a partir dali, consciente e lúcido para recuperar-se...

Cair em si foi a oportunidade que se permitiu a mulher equivocada de Magdala, que se transformou interiormente, a ponto de haver sido escolhida para ser a mensageira da ressurreição...

Cair em si deve constituir-se o passo inicial a ser dado por todos os doentes da alma, por aqueles que se comprazem nos conflitos e que se recusam as bênçãos da saúde real, que estorcegam no sofrimento optando pela piedade e comiseração ao invés do apoio do amor e da fraternidade...

A conquista da autoconsciência tem início nesse cair em si, graças ao sofrimento experimentado, que é o desencadeador da necessidade de encontro, de auto-encontro profundo.
O sofrimento consciente que faculta reflexões, convida, normalmente, à mudança de comportamento, porque expressa distonia na organização física, emocional ou psíquica que necessita de ajustamento.

Essa experiência evolutiva conduz com segurança ao encontro com o Cristo interno, ajudando-o a ampliar as suas infinitas possibilidades de crescimento e de libertação.
Encarcerado no egoísmo e vitimado pelas paixões ancestrais, o homem de todos os tempos padece a injunção da ignorância dos males que o visitam, que nele mesmo se encontram, procurando mecanismo de evasão e justificativas irreais, para evitar-se o enfrentamento, a busca real e necessária do Si.

Um número expressivo de problemas emocionais que se encontram na criança ferida, que se sente, mesmo na idade adulta, desamada e injustiçada, pode ser corrigido quando o sofrimento deixa de ser manifestação de revolta para tornar-se viagem na direcção da autoconsciência, através da qual consegue compreender as ocorrências humanas sem acusações nem desforços.

Provavelmente, os pais ou educadores que se encarregaram de conduzir e orientar os passos iniciais da criança, foram, a seu turno, vítimas da mesma injunção decorrente da ignorância dos seus ancestrais, que se comportaram com impiedade e indiferença, negligenciando os deveres e deles exigindo demasiadamente...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 18, 2012 9:45 pm

Não será justo, que o mesmo painel de amarguras seja transferido para a outra geração, nesse círculo vicioso que tem de ser interrompido pelo despertar da consciência.
Para que isso ocorra, no entanto, é necessário que cada qual caia em si, analisando com tranquilidade as suas dificuldades emocionais e trabalhando-as com dedicação, a fim de serem reformuladas e revivênciadas.

Noutras vezes, quando a ferida é muito profunda, torna-se necessária a psicoterapia especializada, a fim de levar o paciente a reviver os momentos angustiosos que foram asfixiados pelo medo, submetidos aos impositivos da prepotência dos adultos, perturbando o desenvolvimento psicológico.

Mediante a análise de cada sombra dominadora, será projectada a luz do Self em busca da integração, favorecendo o amadurecimento emocional do paciente e concedendo-lhe ensejos de recuperação e de alegria de viver.

Essa psicoterapia levará à catarse de todos os conflitos que permanecem ditatorialmente governando a existência quase fanada, facultando que, por intermédio das associações, abram-se horizontes adormecidos e surja o sol do bem-estar e da harmonia interior.

Já não lhe será necessário o refúgio infantil da lamentação nem da acusação, mas a lucidez para compreender o sucedido, facultando-se renovação e entusiasmo nos enfrentamentos que proporcionam a descoberta da alegria.

A tristeza que, periodicamente, assalta a casa emocional do ser humano não é negativa, quando se apresenta em forma de melancolia, por falta de algo, por desejo de conseguir-se alguma coisa não lograda...

Essa expressão da emoção vibrante caracteriza o bom estado de saúde mental, porque é uma fase de curta duração, abrindo campo para novas percepções dos valores mais elevados que não estão sendo considerados e logo se transformam em recursos portadores de bem-estar.

Nada obstante, a experiência deve ser de breve duração ou vigência, a fim de não criar um clima psicológico doentio que venha a transformar-se em condição patológica.

Somente as pessoas normais, em equilíbrio, experimentam as várias emoções que constituem o painel da sua realidade emocional.
Saúde e bem-estar sustentam-se nos alicerces das experiências diversificadas vividas pelo indivíduo em equilíbrio e harmonia.

Ninguém espere felicidade como uma horizontal assinalada somente por alegrias e ocorrências satisfatórias, que não existem de maneira permanente, mas como uma grande estrada sinuosa, com altibaixos, sendo que a próxima descida jamais deve atingir o nível inicial de onde se começou a marcha...

Nas duas parábolas das perdas da ovelha e da dracma, enfrenta-se uma situação muito delicada, que é, no primeiro caso, deixar-se todo o rebanho, a fim de ir-se buscar a extraviada, ou preocupar-se, no segundo caso, exclusivamente com a moeda que desapareceu...

Quando ocorre um problema no comportamento emocional, como se fora uma ovelha que se desgarra do conjunto psicológico, a necessidade de trabalhar-se a sua falta e encontrar-se a melhor solução, não exige que se distraia das outras faculdades, de modo a não vir o desfalecimento do entusiasmo e da alegria de viver.

As demais ovelhas no deserto, normalmente estão guardadas por cães pastores que se encarregam de mantê-las unidas, enquanto não chega o condutor...
De igual maneira, é necessário que a vigilância interior, o cão actuante, esteja cuidando dos demais valores, a fim de que a harmonia do conjunto não seja perturbada, e, ao encontrar o perdido, realmente o ser se permita invadir pelo regozijo, a todos comunicando, mesmo que, sem palavras, o júbilo de que se encontra possuído.

Todos necessitam de vivenciar, vez que outra, alguma perda, a fim de melhor valorizar o que possui.
Enquanto se encontram em ordem os valores, as emoções seguem o curso harmónico das ocorrências, o Self acomoda-se à sombra e às injunções do momento.

Um choque, um acontecimento representativo de perda produz uma reacção emocional correspondente à qualidade do perdido, ensejando a busca, a reconquista do que se possuía e agora se transforma num valor cuja qualidade não era conhecida, porque existia e estava à disposição.

É comum afirmar-se com certa razão, que somente se valoriza algo quando se o perde.
É certo que há excepções, no entanto, diante dos problemas humanos, os apegos às coisas levam o indivíduo a desconsiderar todos os tesouros que possui e, momentaneamente, não lhes concede o mérito devido, a qualidade que possuem.

Uma organização física saudável, em que os sentidos sensoriais atuam com automatismo, constitui um precioso recurso que muitos somente consideram quando vitimados por qualquer problemática em algum deles.

Enquanto isso não se apresenta, utiliza-lhe a função sem a real consideração que merece.
O mesmo sucede com a bela imagem da dracma, em considerando o seu valor para a subsistência da mulher e a manutenção da sua dignidade social.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 18, 2012 9:45 pm

Os Espíritos frágeis na luta, os enfermos emocionalmente, deixam-se vencer pelas perdas de muitos bens emocionais, sem envidar o menor esforço pela sua preservação ou mesmo reconquista, deixando que o tempo se encarregue de solucionar aquilo que lhes diz respeito, complicando, cada vez mais, a sua saúde comportamental.

A negligência a esse respeito é muito grande e, por isso, a maioria dos padecentes emocionais somente busca ajuda quando se encontra experimentando a fome das algarrobas duras e raras, caindo, então, em si, quanto à própria situação em que se encontra.

É nesse momento, que eles se recordam que têm um pai misericordioso, e somente o buscam porque têm necessidade, já que o sentimento de amor e de respeito não foi levado em conta.

Cair em si, portanto, é uma forma de conversão, de voltar-se para algo novo ou redescobrir o valor do que possuía e desperdiçou.
Ninguém pode assumir uma postura madura e equilibrada sem o contributo da reflexão profunda que lhe permite mergulhar no Si, valorizá-lo e entregar-se com coragem, rastreando os caminhos percorridos e rectificando as anfractuosidades que ficaram na retaguarda.

A coragem de auto descobrir-se, identificando os erros que se permitiu, e o desejo real por uma nova conduta facultam que o Self aceite a sombra e integre-a harmoniosamente, facultando-se
a alegria da recuperação.

Como Psicoterapeuta invulgar, ao narrar as duas parábolas Jesus tomou como exemplos um homem e uma mulher, colocando em igualdade psicológica o anima-us, para demonstrar que as necessidades e emoções são iguais, embora as diferenças de sexo.

O pastor, que sai à procura da ovelha desgarrada, é estimulado pela sua anima, e quando a encontra, condu-la maternalmente, com carinho ao rebanho, rejubilando-se como a galinha que agasalha todos os seus pintainhos sob a sua segurança...

Por sua vez, a mulher que perdeu a dracma é automaticamente comandada pelo seu animus, que a leva a varrer a casa, a acender uma candeia para conseguir luz e põe-se afanosamente a procurá-la até o momento em que a encontra, e então, funde-se-lhe o anima-us, e exultante, a todos notifica o acontecimento.

Para muitos pacientes, libido é a alma da vida, utilizando--se de toda a sua pujança para a auto-realização que não ocorre dessa forma.
Quando, porém, qualquer circunstância gera um conflito e os mesmos têm a impressão de a haverem perdido, transtornam-se e a tudo abandonam somente pensando no retorno da sua função, da sua aspiração preponderante...

Essa atitude pode parecer muito bem com a do pastor, diferindo em essência, quando este último ama a todas as suas ovelhas com igualdade, não desejando, como é natural, perder nenhuma.

O paciente, no entanto, valoriza, à exorbitância, essa energia que expressa vida, e logo faz o quadro depressivo, considerando-se indigno e incapaz de viver.

A sua busca é ansiosa e assinalada pelos tormentos da incerteza, enquanto o pastor estava consciente do êxito do empreendimento.
A existência terrena, portanto, deve ser considerada em conjunto, em totalidade, de modo que todos os valores que constituem a sua realidade mereçam igual interesse e valorização.

Nenhuma função é mais relevante do que outra, porquanto, na harmonia da organização fisiológica devem prevalecer o bem-estar psicológico e a claridade mental.
Em razão disso, os fenómenos orgânicos acontecem como resultado do bem elaborado projecto psíquico responsável pela marcha evolutiva.

Qual de vós?
Interrogou Jesus, demonstrando que todos os seres humanos experimentam as mesmas angústias e ansiedades, buscam as mesmas realizações e, quando convidados ao sofrimento, sentem necessidade de paz e de renovação.

Não importa se têm haveres ou se vivem com carências, porque, mesmo no desvalimento sempre se possuem outros recursos de natureza emocional e moral, que lhes são de alto significado, não abdicando, por exemplo, do orgulho, da presunção, do egoísmo...

Não é difícil encontrar-se na miséria económica os indivíduos dominados por sentimentos de rancor e de mágoa, vencidos pela sombra, que teima em preservá-los no primitivismo...

Esses sentimentos inferiores constituem tesouros para muitos afligidos, que não se incomodam de sofrer, desde que não se vejam impulsionados à mudança interior de atitude perante a vida.

Quando possuírem outros bens, considerados de alto significado, a eles apegando-se, tornam-se mais déspotas, vingativos e desditosos.

Se perdem algo, aturdem-se, deblateram e revoltam-se, considerando-se injustiçados pela vida, até o momento em que o sofrimento os leva a cair em si, quando tem começo a sua renovação.

A partir desse momento, atiram-se na busca da ovelha ou da dracma perdidas, rejubilando-se ao reencontrá-las.
Há muitos valores morais em jogo na existência e no seu curso, alguns quando correndo perigo fogem para o deserto ou perdem-se na sala do próprio lar...

A saúde real consiste no encontro e assimilação desses bens indispensáveis à paz interior e ao equilíbrio emocional, sem perdas, nem prejuízos gerados por culpas ora superadas.

Nessa circunstância, a criança ferida que existe em cada pessoa está renovada, sem cicatrizes nem marcas dos transtornos passados, vivenciando a individuação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 18, 2012 9:45 pm

A coragem de prosseguir em qualquer circunstância

A existência humana pode ser comparada ao curso de um rio que busca o mar.

A sua nascente com aparente insignificância, não, poucas vezes, vai formando singelo curso que aumenta de volume à medida que recebe a contribuição de afluentes, vencendo obstáculos, arrastando-os, seguindo a fatalidade que o aguarda, que é o mar ou o oceano...

As experiências da aprendizagem que ampliam a capacidade interior do discernimento e do conhecimento, constituem afluentes que favorecem o crescimento individual do ser humano, à medida que surgem dificuldades e problemas que não podem parar o fluxo.

A força do seu volume, em forma de amadurecimento psicológico, proporciona a capacidade para superar os impedimentos de toda ordem que são encontrados pela frente.
Toda ascensão exige sacrifícios.

O tombo no rumo do abismo é quase normal, em face da lei da gravidade moral, enquanto que a elevação interior, a coragem de descer ao íntimo para subir ao entendimento, constitui um dos desafios existenciais mais complexos, em face do hábito resultante da acomodação em torno do já experienciado, do já conhecido, sem a aspiração impulsionadora para romper com a rotina e superar o estado de modorra em que se demora.

A busca e preservação da saúde é meta que deve priorizar, dando sentido psicológico à existência.
Desse modo, as perdas impõem a necessidade urgente do encontro mediante os riscos naturais que toda viagem heróica exige.

Mede-se a estrutura moral da criatura não somente pelos êxitos alcançados, mas pelo empenho no prosseguimento das lutas desafiadoras, ferramentas únicas responsáveis pelo crescimento ético-moral e espiritual ao alcance da vida.

A busca do Cristo interior, nesse cometimento assume um papel de relevante importância, que é o esforço pela conquista da super-consciência.

Quando se consegue essa integração com o ego, alcança-se a individuação.
Conceituou-se, por muito tempo, que a saúde seria a falta de enfermidade, e que os indivíduos portadores desse requisito eram mais bem aquinhoados que os demais.

Constatou-se, porém, através das experiências, que a saúde não é apenas o efeito da harmonia orgânica, da lucidez mental e da satisfação psicológica, porque outros factores, como os de natureza socioeconómica, desempenham também importante papel na sua conquista e preservação.

Enquanto se movimenta na argamassa celular o Espírito estará sempre defrontando as consequências das suas realizações passadas, que lhe impõem compromissos reparadores quando se equivocou, e estímulos de crescimento quando se manteve dentro dos padrões do equilíbrio e do dever.

A harmonia, portanto, que deve existir entre todos os factores, nem sempre ocorre de maneira perceptível, apresentando-se em formas variadas de achaques, de melancolias, de estresses, todos temporários, sem que se constituam problemas perturbadores, transtornos na área da saúde.

Pode-se estar saudável, embora portando-se disfunções orgânicas ou doenças em tratamento...
O equilíbrio da emoção responde pelo comportamento enquanto se manifestam os fenómenos das alterações celulares, das transformações que se operam em quase todos os órgãos como resultado do seu funcionamento, das agressões internas e externas, sem que afectem o bem-estar geral que deve ser mantido.

Outras vezes, instabilidades emocionais defluentes de expectativas naturais do processo de crescimento, preocupações em torno das necessidades que constituem o mapa da conduta social, aspirações idealísticas, dores morais internas, insatisfações com alguns resultados de empreendimentos não exitosos, contribuem para a ansiedade, porém sob controlo da mente administradora, que prossegue estimulando a produção das monoaminas responsáveis pela alegria, pela felicidade: dopamina, crotonina, noradrenalina...

O vento que vergasta o vegetal dá-lhe também resistência e vigor.
De igual maneira, os fenómenos, às vezes, desagradáveis, que têm curso durante a jornada humana, contribuem para vitalizar os sentimentos e fortalecer a coragem, proporcionando valores dignificantes.

Ninguém, que se movimentando no corpo físico, não esteja sujeito a tropeços e quedas, de igual maneira, ao soerguimento e à continuação da marcha.
Como elemento vitalizador da luta evolutiva, o amor é de primacial importância, mesmo quando proporciona preocupações e desencantos.

É natural que se ame desejando algum retorno, em face da precariedade dos sentimentos ainda não desenvolvidos.
Ideal, no entanto, será que o amor se manifeste como efeito da alegria de viver e de expandir as emoções, os regozijos de que a pessoa se sente possuída, por descobrir esse dom precioso - a dracma perdida no desconhecimento - que é muito mais benéfico para quem o possui.

O conceito, entretanto, vigente em torno do amor, é que ele aprisiona, reduz a capacidade de entendimento em torno dos valores da vida, elege ídolos de pés de barro que não suportam o peso da própria jactância e arrebentam-se, destruindo o herói.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 18, 2012 9:45 pm

O medo de amar ainda encarcera muitas mentes e corações que se estiolam a distância, fugindo desse impulso de vida que é vida.
No entanto, somente através do amor, isto é, a serviço dele, é que se estruturam os ideais edificantes e enobrecedores da sociedade.

Não é o amor que aprisiona, senão a insegurança do indivíduo que transfere para outrem os seus medos, as suas inquietações, as suas ansiedades, aguardando tê-los resolvidos sem o esforço que se faz exigido para tanto.

Quando se estabelece o sentimento de respeito e de amizade entre duas ou várias pessoas, há um enriquecimento interior muito grande porque o ego se expande, dilui-se, e o sentimento da fraternidade solidária alcança o Self, proporcionando o bem-estar, no qual o indivíduo sente-se realizado, operando cada vez mais em favor do grupo, sem olvido de si mesmo.

Nesse expandir do sentimento afectivo, há valorização sem exorbitância do Si-mesmo, que passa a merecer consideração emocional, libertando-se das traves que lhe impedem o desenvolvimento.

Quanto mais se ama, muito mais se ampliam os seus horizontes afectivos.
É através do amor que a Divindade penetra a consciência humana, por meio dos seus desdobramentos em forma de interesse pelo próximo, pela vida, do labor em favor de melhores condições para todos, incluindo o planeta ora quase exaurido...

Esse Deus está muito além da superada manifestação antropomórfica, sendo a inteligência suprema e a causa primeira do Universo.
Não necessita de qualquer tipo de culto externo, de manifestações formais, das celebrações que deslumbram, dos comportamentos extravagantes...

Deus encontra-se na atmosfera, que é fonte de vida, nutrindo tudo quanto existe, mas também nos ideais, e mais além, em toda parte, nos sacrifícios, na abnegação de santos e de mártires, de cientistas e de trabalhadores, de intelectuais e de idiotas, em todas e quaisquer expressões de vida, desde o protoplasma ao complexo humano.

É através dEle que se alcança o processo de individuação.
Supõe-se que a individuação irá ocorrer somente por meio dos momentos exitosos, das vitórias sobre a sombra, da autoconsciência conseguida.

Sem dúvida, que assim ocorre, mas também, nesse processo de individuação, surgem períodos muito difíceis, que são defluentes das alterações orgânicas, em face do avanço da idade, de conjunturas psicológicas, algumas delas afugentes, de inquietações mentais, no entanto, instrumentos hábeis para o amadurecimento interior, para a visão correta em torno da existência, para o trabalho de auto-burilamento.

A individuação não é uma conquista fácil, tranquila, mas resultante de esforços contínuos, devendo passar, às vezes, por fases de sacrifícios e de renúncias.

Ninguém consegue uma vida de bem-estar sem o imposto exigido em forma de contínuas doações de dor e de coragem, enfrentando todas as situações com estoicismo, sem queixas, porque, à semelhança de quem galga uma elevação, à medida que se esforça para consegui-lo, beneficia-se do ar puro, do melhor oxigénio.

A individuação é o oxigénio puro de manutenção do ser.
A conquista desse estado numinoso pode ser comparada a uma forma nova de religiosidade, na qual se consegue a harmonia entre a vida na Terra e no céu.

Anteriormente, por não existir a psicologia analítica, a religião albergava todas as necessidades humanas e a confissão auricular produzia um efeito psicoterápico na liberação da culpa, mantendo, no entanto, irresponsável o indivíduo, que achava muito fácil errar e ser perdoado, ferir e ser desculpado, sem realizar o processo de auto-iluminação.

Graças, porém, à visão nova de Jung, os mitos religiosos podem ser substituídos pelos arquétipos e os conflitos, ao invés de recalcados e desculpados, devem merecer catarse, diluição, enfrentamento e reparação dos danos que hajam causado.

São os arquivos do inconsciente que conduzem o indivíduo e não o seu ego sujeito às alternativas dos interesses imediatos.
Nesse arquivo grandioso do Espírito, o ego pode e deve manter diálogos com o Self para tomar conhecimento lúcido dos seus conteúdos e melhor conduzir os equipamentos de que dispõe na sua proposta de vida.

É identificando o erro que se aprende a melhor maneira de não o repetir. O que denominamos como erro, no entanto, trata-se de uma experiência incorrecta, aquela que ensina a como não mais proceder dentro dos seus parâmetros, terminando por ser valiosa contribuição à evolução.

O ser humano, portanto, é algo maior do que as expressões exteriores, os êxitos momentâneos, constituindo-se de toda a sua história que registra insucessos e vitórias, tristezas e alegrias, produzindo-lhe o equilíbrio que o segura e mantém no rumo certo.

O pastor que resgata a ovelha perdida, torna-se mais vigilante em relação à mesma, assim como às demais, evitando-se excesso de confiança, porque, à medida que o rebanho avança, existem desvios e abismos perigosos...

Ante a ovelha que foge, a atitude do pastor é o socorro maternal, nada obstante, às vezes, o animal rebelde liberta-se dos braços protectores e novamente desaparece, optando pelo desvão no qual se oculta...

Em tal situação, em seu benefício, o pegureiro assume o seu animus e, vigoroso, aplica-lhe o cajado ou atiça-lhe o cão, encaminhando-o de volta ao aprisco.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 18, 2012 9:46 pm

É, portanto, inadiável o dever de prosseguir-se no compromisso relevante sob qualquer custo, seja qual for a circunstância em que se apresente.
A insistência de que se dá provas, quando se optando pela situação doentia, pelas sinuosidades do comportamento sem responsabilidade, propele a consciência - o pastor vigilante - a impor sofrimentos que se encarregam de apontar o rumo correto, de encontrar-se o que se está extraviando ou foi deixado na retaguarda...

O ocidental acostumou-se com os limites da emoção e adaptou-se aos prazeres da sensação de tal modo, que tudo aquilo que o convida à inversão desse comportamento parece-lhe de difícil aplicação e, por tal razão, evita viver a proposta de olhar para si mesmo, para dentro, de auto-penetrar-se para descobrir os incomparáveis tesouros da alegria íntima, da vivência elevada,
sem cansaço, sem ansiedades nem expectativas.

Esse esforço é realizado somente quando não tem outra alternativa e quando apresenta cansaço em torno do conhecido gozo dos sentidos.
É necessário passar por todas essas experiências, experimentar dificuldades e acertos, sofrer perseguições e ser eleito, porque tudo isso faz parte da constituição arquetípica da evolução, e ninguém pode vivenciar um estágio sem passar pelo outro.

Essas necessárias capacitações desenvolvem os sentimentos, aprimoram a visão em torno da vida, amadurecem o ser psicologicamente, trabalhando-lhe o Self, a fim de que os seus valores profundos abram-se em benefício da individuação.

Normalmente as criaturas queixam-se das cruzes que carregam e as fazem sofrer, parecendo-lhes injusto ter que as conduzir com dificuldades, vivendo em situações difíceis e ásperas.

De alguma forma, o conceito e peso da cruz estão muito vinculados ao complexo da infância que se encarregou de dar a visão do mundo.

De acordo com a educação recebida a criança passa a ter conceitos da existência que são herdados dos pais.
Por essa razão, para alguns, o que constitui fardo, para outros é aprendizado valioso.

A pessoa deve aprender desde cedo a enfrentar os fenómenos existenciais como parte do seu programa evolutivo, o que equivale significar que, se dando conta da própria sombra não a deve transferir para outrem, mas cuidar de diluí-la, mediante a compreensão das ocorrências.

A sombra tem uma vestidura moral em contínuo confronto com a personalidade-ego, exigindo, por isso mesmo, o grande esforço de igual magnitude moral, para conscientizar-se, compreendendo e aceitando os fenómenos perturbadores que lhe ocorrem como inevitáveis.

A maioria, no entanto, não a aceita como inerente, elemento constitutivo de todos os seres, portanto, presente em todas as vidas.
Rejeitar ou ignorar a sombra é candidatar-se a conflitos contínuos que poderiam ser evitados, caso se reconhecesse a ocorrência desse fenómeno próprio do ser humano.

Ela faz parte do ser, de igual forma como o ego, o Self e todos os demais arquétipos, que são as heranças do largo trânsito da evolução.

Na história mítica da Criação, quando Adão comeu o fruto que lhe foi oferecido por Eva, teve que enfrentar a realidade da sua e da nudez em que ela se encontrava, reagindo automaticamente, procurando um arbusto para esconder-se, quando lhe surgiu o discernimento do ético, do bem e do mal, da malícia e do desejo, resultando nessa fissão da psique, o anjo e o demónio, cuja harmonia deve ser conseguida através do enfrentamento de ambos, num processo psicoterapêutico de consciência lúcida.

De igual maneira, a sombra que dali procedeu permanece no complexo psicológico do ser exercendo o seu papel como herança ancestral do conflito inicial.

A inocência bíblica das duas personagens é referencial mítico para ocultar as funções edificantes da sexualidade, que a castração religiosa considerou como manifestação de inferioridade e de tormento.

A semelhança de outro órgão, o sexo tem as suas exigências que devem ser atendidas com a dignidade e o respeito que lhe são pertinentes.
Quando o indivíduo se permitiu a corrupção de qualquer natureza, ei-la reflectindo-se também no comportamento sexual, que se torna válvula de escape para a fuga da responsabilidade moral.

Desse modo, os desafios da sombra merecem observação carinhosa a fim de conseguir-se a sua integração no Self, não mais separando o indivíduo do ser divino que ele carrega no íntimo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 18, 2012 9:46 pm

Ser-se integralmente

A dicotomia psicológica do ter-se e do ser-se constitui grave questão no comportamento individual e social da Humanidade.

Educa-se a criança, invariavelmente, para ter, para triunfar na vida e não sobre a vida com as suas dificuldades, mas para possuir e gozar.
Como, felizmente, a existência não se constitui exclusivamente das sensações, mas especialmente das emoções, e o ser é mais psicológico do que fisiológico, mesmo quando o ignora, é natural que esse conflito esteja presente em todos os instantes nas reflexões, nas ambições, nas programações existenciais.

Como consequência dessa falsa concepção tem-se uma visão neurótica do mundo e de Deus, que teriam como função precípua e exclusiva atender aos desejos e caprichos do ser humano, destituindo-o da faculdade de pensar e de agir, como alguém numa viagem fantástica por um país utópico, no caso, o planeta terrestre.

Quando algo constitui uma incitação à luta em favor do crescimento intelecto-moral, ao desenvolvimento espiritual, a conduta neurótica espera que tudo lhe seja solucionado a passe de mágica, pelo fenómeno absurdo da crença religiosa, mediante um milagre, por exemplo, ou uma concessão especial, que lhe constitua privilégio, como se fosse um ser excepcional...

Como todos assim pensam, resulta que o conceito em torno desse deus apaixonado e antropomórfico, transferência inconsciente da imagem do pai que foi superada durante o desenvolvimento orgânico e mental, sofrem o impacto da descrença, da decepção, da amargura, que dão lugar a conflitos perturbadores.

Se a educação infantil se preocupasse em preparar a criança para tornar-se um ser integral, sem fraccionamentos, utilizando-se de todos os preciosos recursos de que é constituída, à medida que evoluísse não experimentaria os tormentos das frustrações defluentes das lutas pelo ter e pelo poder.

Ao mesmo tempo, o conceito de Deus inerente e transcendente a tudo e a todos, como a força inicial e básica do Universo, evitaria a transferência do conceito paterno, mantendo-lhe, não obstante, a aceitação da Causalidade absoluta.

O Si-mesmo com facilidade identificaria os objectivos reais da existência, evoluindo com os processos orgânicos e psíquicos, sem apequenar-se diante das necessidades que se apresentam durante o crescimento espiritual.

Esse programa educativo evitaria a criança interior ferida pela negligência ou superprotecção dos pais, facultando-lhe um desenvolvimento compatível com o nível de evolução em que estagia cada Espírito.

O conceito de culpa seria examinado sem castrações, demonstrando que é perfeitamente normal a sua presença, resultado inevitável do cair em si após comportamentos irregulares, aceitando-a e liberando-a por intermédio da reabilitação, do processo de recomposição dos danos que foram causados pela presunção ou pela ignorância.

Uma vida saudável estrutura-se no ser e não naquilo que se tem e com frequência muda de mãos.

O ter e o poder transformam-se em algozes do indivíduo, porque se transferem do estado de posse para tornar-se possuidores, escravizando-o na rede vigorosa do egoísmo e dos interesses subalternos.

Produzem conceitos falsos nos relacionamentos humanos, porque dão a impressão de que não se é amado, sendo que, todos aqueles que se acercam estão mais interessados nos seus recursos do que naquele que lhes é detentor.

De certo modo, infelizmente assim ocorre na maioria das ocasiões, havendo excepções respeitáveis.
O indivíduo não é o que tem ou que pensa administrar, mas são os seus valores espirituais, a sua capacidade de amar, os tesouros inalienáveis da bondade, da compaixão, do sentido existencial.

Em face da ilusão em torno da perenidade da vida material, os apegos às posses levam aos conflitos, à insegurança, às suspeitas, muitas vezes, infundadas, porque são fugidios e o que proporcionam é de efémera duração.

Sai-se de uma experiência dominadora para outra mais escravista, tendo os interesses fixados no ego e nos fenómenos dele decorrentes, quais sejam a ambição de mais ter e de mais poder, responsáveis pela prepotência, pela arrogância, que são seus filhos espúrios, ao invés da luta para conseguir alcançar a realidade interna.

Quando há uma preocupação real pelo autoconhecimento, interpretando as ocorrências normais como necessárias ao processo da evolução, a saúde integral passa a fazer parte do calendário emocional daquele que assim procede.

Esse processo impõe o impositivo da ligação com a alma, o que equivale dizer, uma constante vigilância com o ser profundo, o ser espiritual que se é e não pela aparência de que se veste para a caminhada terrestre.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 19, 2012 8:50 pm

No passado, as religiões tradicionalistas, e ainda hoje, criaram e prosseguem gerando cultos e cerimónias externas que se encarregam de manter visualmente a vinculação, estabelecendo dogmas em torno delas, responsáveis pelo temor e pela submissão.

Sendo positiva a proposta, perde o seu significado e torna-se perturbadora pela imposição sacramental e rigorosa, de carácter compensatório ou punitivo.
No caso das compensações, dá lugar a uma sintonia falsa, vinculada ao interesse dos benefícios advindos com a prática exterior, o que impede a ligação interna, profunda, significativa.

No referente às punições, compromete o adepto que se preocupa mais com a forma do que com o conteúdo, e aqueles que são sinceros, tornam-se tementes ao invés de conscientes em torno dos resultados psicológicos da identificação com o Si-mesmo.

No entanto, uma análise descomprometida com o formalismo religioso ou com as denominações estabelecidas na área da fé, permite que, na Bíblia, esse notável manancial de inspiração e de sabedoria, separado o trigo do joio, encontrem contribuições valiosas para a interpretação de conflitos e orientações necessárias ao bem-estar, em aforismos e lições de beleza ímpar, nos seus arquétipos e mitos muito bem-estabelecidos, que podem ser interpretados e integrados ao eixo ego-Self.

Mediante esses ensinamentos é possível pela reflexão voltar-se para o mundo interior, encontrar-se a residência da alma, conviver-se com as suas necessidades não perturbadoras.

Nesse cometimento, o amor exerce um papel preponderante porque somente através dele se podem alcançar os painéis da alma, da alma que dele necessita para expandir-se, atingindo a sua finalidade evolutiva.

Através desse esforço contínuo, redescobrindo-se a criança interior saudável, que inspira ternura e amizade, despida de malícia e de ideias preconcebidas, logra-se um estado interno de harmonia, porque a ausência de suspeitas e de insegurança proporciona o bem-estar responsável pela felicidade.

A criança expressa uma confiança no adulto que ultrapassa os limites da razão.
Aquilo que esse lhe promete ou lhe faz assinala-lhe fortemente a personalidade em formação, o carácter em desenvolvimento, e porque não é portadora de incertezas, entrega-se totalmente, deixando-se conduzir.

Alguém afirmou com beleza rara, que diante da criança sempre se encontrava diante de um deus...

É certo que o Espírito em si mesmo, não é criança, mas a forma, a indumentária que o reveste, proporcionando-lhe o esquecimento do ontem e ensejando-lhe a ingenuidade do hoje para a sabedoria do futuro, proporciona essa ternura e afeição que a todos comove.

Tudo quanto, pois, se instala no período infantil, permanece durante toda a existência.
Quando de um dos muitos terremotos que abalam periodicamente a Turquia, houve o desabamento de uma escola infantil onde se encontravam dezenas de crianças.

Todas as providências foram tomadas no sentido de ainda resgatá-las com vida.
Após dias de trabalho exaustivo, os especialistas chegaram à conclusão de que, em face do tempo transcorrido, mesmo que se chegasse até elas, seria tarde demasiado, porque todas estariam inevitavelmente mortas.

Um pai, no entanto, escavando, pedindo ajuda, informando que tinha certeza de que seu filho e outros haviam resistido e se encontravam com vida.
Já não havia mesmo esperança, e os trabalhadores vencidos pelo cansaço começaram a desistir, menos o pai.

... Por fim, após esforços hercúleos, abaixo do desmoronamento, havia uma brecha, e logo se pôde perceber que algumas crianças estavam sob vigas que se sustentaram umas sobre as outras, permitindo-lhes espaço para respirar e viver.

O genitor aflito chamou pelo filhinho, que lhe respondeu:
- Eu tinha certeza que você viria papai.

A seguir, estimulou todas as crianças a serem retiradas, ficando em último lugar, porque sabia que o seu pai não desistiria enquanto ele não fosse libertado.
O pai tinha o hábito de dizer-lhe que confiasse sempre no seu amor e nunca temesse qualquer dificuldade, porque ele estaria onde quer que fosse para o proteger e amparar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 19, 2012 8:51 pm

Essa confiança, a criança transferiu aos amiguinhos, conseguindo sobreviver pela certeza, sem qualquer sombra de dúvida de que o pai os salvaria...

No sentido inverso, quando a criança é estigmatizada, punida, justa ou injustamente, embora nunca seja crível uma punição infantil denominada justa, ela absorve as informações e castigos, passando a não acreditar em seus valores, não experimentando estímulo para avançar, crescer e prosseguir, porque mortalmente ferida, carrega a marca, tornando-se rebelde, cruel, cínica, destituída de sentimentos bons, que estão asfixiados sob o lixo da perversidade dos pais ou dos adultos que a insultaram, menosprezaram, condenaram-na...

O ser é, portanto, a grande proposta da psicologia, no sentido profundo ainda do vir-a-ser, conscientizando-se das incomparáveis possibilidades que se lhe encontram adormecidas e que devem ser despertadas pelo amor, pela educação, pela convivência social, a fim de que atinja a individuação.

A realidade da psique propõe, portanto, o desenvolvimento das possibilidades existenciais que se encontram em germe em todos os seres, crescendo no rumo da realidade e do saudável comportamento, para alcançar o patamar de um ser integral, portador de saúde total.

A conquista da consciência humana iluminada, conforme propunha Jung, rompe a cadeia do sofrimento, adquirindo assim significado metafísico e cósmico.
Romper essa cadeia do sofrimento, representa manter uma conduta superior, elegendo o que fazer ao próximo, conforme recomendava Jesus, nunca revidando mal por mal, por ser a única terapêutica possuidora do valioso recurso de gerar tranquilidade interior.

Quando os adultos compreenderem esse significado, não transferirão para os filhos as suas próprias feridas emocionais, amando-os integralmente e apresentando-lhes a alma, o ser metafísico e cósmico.

Todo o empenho, pois, deve ser aplicado na busca do ser e não do ter...
As parábolas a respeito da ovelha que se perde, assim como da dracma que desaparece, dizem respeito ao ter, convidando ao encontro para o equilíbrio da posse, a que se dá extremada importância na vida social.

No entanto, Jesus, após enunciá-las, coroou a Sua proposta iluminativa, respondendo àqueles que O perseguiam porque convivia com as misérias alheias manifestas dos afligidos e desamparados, ensinando a importância de ser e não de ter, a coragem de cair em si, de recuperar-se, de encontrar-se...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 19, 2012 8:51 pm

06 - O SER HUMANO EM CRISE EXISTENCIAL
As conquistas externas
A grande crise existencial
O ser humano pleno


As incomparáveis conquistas nas diversas áreas do conhecimento e do pensamento contemporâneo trouxeram bênçãos incontáveis para a vida em todas as suas expressões na Terra.

Os avanços da sociologia, por exemplo, ampliaram os horizontes da fraternidade, dos direitos humanos, ainda não respeitados conforme foram propostos, demonstrando a excelência da comunhão espiritual entre as criaturas.

Lamentavelmente, porém, as duas grandes guerras perversas que assinalaram o século XX, cujos efeitos dolorosos a sociedade actual ainda experimenta, facultaram demonstrações de primitivismo e de atraso moral das criaturas humanas, que parecem haver regredido em determinados segmentos ao período primevo da evolução, tal a crueldade que as caracterizou.

Um dos momentos excruciantes foi aquele que assinalou a explosão atómica sobre a cidade de Hiroxima, no Japão, no dia 6 de agosto de 1945, tornando-se a fronteira do passado em relação ao presente-futuro, com o surgimento do período denominado como pós-industrial ou pós-modernidade, conforme conceitos exarados muitos especialmente por Émile Durkheim, o filósofo francês da educação.

Essa fase, que se torna cada vez mais perturbadora nas mentes e nos comportamentos, responde pela perda emocional de valores de alto porte, que vêm reduzindo o ser humano à condição robótica.

De um lado, a evolução da ciência e da tecnologia, e do outro, o isolamento em relação ao grupo social, as mudanças drásticas a respeito da vida e do seu significado, diante dos mentirosos padrões elegidos como ideais para o bem-estar e a felicidade.

A extraordinária contribuição virtual facilitou a comunicação, a tomada de conhecimento de ocorrências on-line, no mesmo momento em que vem acontecendo em toda a Terra, ao tempo que a soma de disparates e de estímulos à violência, ao ódio, ao racismo, ao crime, ao suicídio, às mudanças de conduta, aturde e domina internautas desavisados ou menos resistentes moralmente.

Relações amorosas suspeitas estabelecem-se, dando largas à fantasia e à ilusão, com a consequência de lares e de vidas que se estiolam através de personalidades psicopatas, destituídas de sentimento de elevação, que se utilizam do recurso para esconder--se, dando vazão às paixões soezes...

O culto ao corpo e ao prazer, o desvio das funções sexuais, a mentirosa vitória na telinha com os seus poucos e desvairados quinze minutos de fama, enlouquecem a juventude ansiosa e sem rumo, que busca o fácil através da venda ignóbil da inocência, antecipando as experiências humanas dolorosas no período juvenil, quando ainda não tem robustez para os enfrentamentos, fanando-lhes as esperanças de maneira insensível...

O tempo rápido, em razão da necessidade de a tudo participar, de estar a par das ocorrências, asfixiando a liberdade de pensamento e de movimentação, culmina em tormentosa ansiedade e frustração dolorosa, empurrando para o abismo da depressão ou da revolta as suas vítimas inermes.

A falta de comunicação verbal e escrita, de contacto humano sem suspeição nem deslumbramento, facultando relacionamentos saudáveis, conduz as pessoas para os interesses egóicos sem nenhuma participação na convivência com os demais, como fruto espúrio dessa pós-modernidade doentia e sem significado psicológico.

Corpos belos trabalhados por excesso de musculação, sarados, e interiormente vazios de aspirações e de significado, dão lugar a condutas extravagantes, que elevam à glória equivocada e derrubam em ritmo acelerado aqueles que foram arrastados pelas fantasias dos seus apaniguados.

Com as excepções compreensíveis, vive-se o período no qual a sociedade encontra-se enlouquecida, buscando coisa nenhuma, em razão da transitoriedade das conquistas e do imediato vazio existencial, que envelhecem e envilecem com rapidez os seus adeptos apaixonados e embriagados pelo licor dos sentidos físicos...

As mudanças de humor contínuas e a debandada dos compromissos éticos, que dão sentido à vida, caracterizam com perfeição esta fase de incertezas.

Indiscutivelmente, o ser humano encontra-se em crise existencial.
A falta de identificação entre o ego e o Self produz a ausência de discernimento a respeito do existir e de como proceder, dando lugar à dominação da sombra ignorada em todos os comportamentos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 19, 2012 8:51 pm

Por consequência, aumenta o número de infelizes e de infelicitadores com a sua patologia mal disfarçada.

Esta experiência individual e colectiva, no entanto, é indispensável ao amadurecimento e à evolução do ser humano, que se apartou de si mesmo, buscando fora a alegria que somente se encontra nele próprio.

Ninguém pode proporcionar felicidade e bem-estar reais, porque essas emoções independem de circunstâncias externas, embora muitos pensem ao contrário.
São sensações que se expressam como emoções e logo cedem lugar aos transtornos, às frustrações e amarguras quando o objecto ou pessoa propiciadora do prazer altera a sua conduta ou se desinteressa em continuar no que ora se lhe apresenta como tedioso.

Contribuindo de maneira habilmente proposital, a mídia cria ídolos e devora-os, a cada instante, exaltando o crime e os criminosos que se lhe tornam manchete contínua, exaurindo os clientes, especialmente através da televisão, nas repetições exorbitantes das cenas de horror, nos julgamentos arbitrários daqueles aos quais atribui a responsabilidade pela desgraça, no estímulo à justiça pelas próprias mãos, encorajando psicopatas adormecidos a se tornarem famosos pela utilização dos hórridos espectáculos exibidos...

O despudor agressivo que arrebata as multidões, especialmente acompanhando as cenas de deboche nos aplaudidos programas de degradação humana, para a conquista da fama pela imoralidade e do dinheiro pela perda da dignidade, favorece o surgimento de múmias morais, que são os seres destituídos de emoção e de sensibilidade que a tudo se submetem para atingir as metas estimuladas pelo mercado do sexo e da drogadição...

Naturalmente encontram-se incontáveis labores de elevação moral e dignificação da criatura humana, ainda insuficientes, no entanto, para conduzir a grande massa ao caminho do discernimento e da saúde real.

São esses nobres exemplos de fidelidade ao dever e de continuidade da acção edificante que contribuem para equilibrar a balança moral do planeta humano, com os braços distendidos para o socorro aos tombados, para a minimização do desespero dos fracassados, para a solidariedade junto aos abandonados pelo triunfo mentiroso.

Eles comprovam que o ser humano está fadado à ascensão e que o estágio inferior em que se compraz é transitório, por mais que dure, ensejando-lhe a experiência vivencial para a construção da sua individuação.

A conquista dessa individuação é como um parto.
Todos os partos doem, mesmo aqueles denominados sem dor...
Portanto, as dores íntimas e as faltas consideradas importantes, mas sem valor real, são o período de gestação para o parto da plenitude.

Inevitavelmente, o ser humano traz o mito do significado e mesmo incapaz de o identificar, momento chega em que a nuvem anestesiante do prazer desapareça ante o sol da realidade, ei-lo impulsionando para o avanço interno, a compreensão da mensagem do viver e do crescer psicologicamente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 19, 2012 8:51 pm

As conquistas externas

O processo de evolução antropológica tem sido um extraordinário desafio da vida, produzindo mudanças nas formas e funções orgânicas, facultando o desenvolvimento das faculdades mentais até o momento em que alcançou a formidanda área da inteligência e dos sentimentos.

Não é por outro motivo que o instinto, na sua inteireza, é já uma forma de inteligência embrionária, por criar os condicionamentos que, mais tarde, a razão irá ampliar até proporcionar a compreensão dos conceitos subtis e das abstracções...

Os impositivos para a sobrevivência desenvolveram os instintos agressivos que predominaram no ser humano por milénios e, quando ocorreu a conquista dos pródromos da razão e o seu estabelecimento no cerne do Espírito, aquelas heranças prosseguiram com forte domínio no comportamento.

A libertação lenta do primarismo e a aspiração do belo e do nobre, o Geotropismo se vêm impondo, de forma que a consciência hoje pode administrar os impulsos violentos, orientando-os para as acções de edificação, sem traumas nem conflitos.

Nada obstante, o individualismo, esse filho dilecto da conquista do materialismo, que se rebelou contra as imposições absurdas do religiosismo exterior, sem significados internos, expressa-se, na actualidade, como forma de uma incompleta auto-realização, impulsionando o indivíduo a ter, a destacar-se, a obter o que deseja de qualquer maneira, tornando-se consumista insaciável e inquieto.

Em face desse instalado pós-modernismo, à ciência atribuem-se valores e significados quase divinos, parecendo incorruptível e insuperável, ao tempo em que as referências pessoais nos relacionamentos que não se aprofundam, mantendo-se sempre na superficialidade, tornam as afeições descartáveis, como tudo quanto se compra na sede voraz de possuir.

Os afectos fazem-se ligeiros e amedrontados, oportunistas e descomprometidos, com medo, cada qual, de ser dominado pelo outro, evitando submeter-se, o que se caracteriza como pequenez, falta de personalidade, risco de perda, quando se estabelece a dependência...

A tremenda confusão entre afectividade e interesse sexual, entre amor e compensações sentimentais, é responsável pelo desinteresse da convivência fraternal saudável, destituída de interesses subalternos, deixando-se a sombra dominar todos os espaços do ego, ao tempo em que não se abrem as possibilidades psicológicas do Self para a realidade.

As artes, que sempre têm expressado o estágio evolutivo, político, comportamental da sociedade, nestes dias conturbados, são agressivas e destituídas, em muitas áreas, de propostas elevadas de beleza, expressando apenas os conflitos, as aspirações doentias, a revolta e o desânimo dos seus portadores.

A música, por exemplo, descendo do pedestal das musas, enveredou pela contracultura, pelos desvãos da ironia, da perversão moral, do deboche, da agressividade, do duplo sentido com destaque para o pejorativo, como se o ser humano devesse sempre reagir, mesmo quando pode agir, se deixasse tombar no vale do desespero, quando poderia aspirar pela alegria real de viver, modificando o status quo e contribuindo para o mundo melhor, onde é possível a vida expressar-se em harmonia e grandeza.

Impossibilitados de conduzir os povos, por se haverem perdido nas malhas da burocracia e nos interesses partidários, os governantes da Terra, aturdidos, demonstram não saber o que fazer nem como realizá-lo.

Permitem a desorientação das massas, a sua revolta contínua, por esquecimento das responsabilidades não cumpridas e que foram apresentadas nos seus programas eleitoreiros, enganando o povo desorientado.

Surgem, então, revoltas, revoluções, amolentamento do carácter e perda da moral, com reacções em cadeia, cada vez mais violentas e ameaçadoras, porque os limites da ordem e do respeito foram superados pela não fronteira da rebeldia.

Os desportos, que sempre constituíram oportunidades excelentes para catarses colectivas, competições saudáveis, alegrias e entusiasmo colectivo, transformaram-se em fontes mafiosas de domínio e de conquistas financeiras, construindo deuses frágeis que logo tombam do pedestal, tornando-se campo de batalha pelas torcidas ferozes que se digladiam com frequência em sucessivos espectáculos deprimentes que culminam com a morte de alguns dos seus fanáticos...

O desrespeito pelos valores internos do ser humano propõe a significação das suas conquistas exteriores, tornando-o avaro e pretensioso.
A falta de concentração das pessoas nas questões importantes do ser interior tem contribuído para a futilidade em triunfo e o desconhecimento da própria realidade, supondo ser a existência esse enganoso passeio fantástico pelo país da pressa dourada, em que tudo é de efémera duração, impedindo a reflexão e o encontro com a consciência, com o Si-mesmo.

Essa sombra teimosa consegue separá-las do eu divino que existe no íntimo e de que se constitui, sendo necessário transmudar esse material inferior num processo alquímico emocional, para realmente encontrar o significado existencial.

Ter em mente a presença da sombra, a fim de vencê-la, torna-se uma necessidade psicológica inadiável, como sucede nos contos de fadas, nos mitos ancestrais, facultando a liberação do ser oculto, misteriosamente transformado pela magia da ignorância (A bela e a fera, O príncipe sapo, Branca de neve, A bela adormecida, etc.)

Com essa consciência, fica muito claro que não adiantam as lutas externas, os combates inglórios contra os outros, a ânsia de superar os competidores, o afã de ultrapassar os demais, por insegurança pessoal, facultando-se encontrar e viver-se o sentido da vida.
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Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 2 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 19, 2012 8:52 pm

Ninguém pode viver de maneira saudável sem o culto interno da integração da fé religiosa com a razão, numa harmonia estimuladora ao prosseguimento dos embates inevitáveis do dia-a-dia, haurindo confiança nos momentos difíceis e renovando a coragem ante a ameaça do desânimo.

Esse sentido da vida não pode ser desenhado pelos hábitos externos, mas construído de maneira subjectiva, idealista, interior, mediante o enriquecimento das aspirações que engrandecem a existência.

É impossível, de maneira definitiva, viver-se sem o sentimento dos conceitos eternos, daqueles que dão dignidade à criatura humana, proporcionando-lhe ética e moralidade para ser fiel aos objectivos existenciais.

Com essa percepção, descobre-se que os conflitos, as aflições em torno das posses e o medo de perdê-las são fenómenos pessoais interiores da própria insegurança, levando a transtornos de comportamento e a distúrbios orgânicos repetitivos.

A legítima psicoterapia objectiva conduzir o indivíduo ao redescobrimento da sua realidade, da sua origem espiritual, da finalidade existencial, do seu futuro imortal, que se lhe transformam em alicerces de segurança para as lutas contínuas, evitando a projecção dos seus conflitos nos outros, assumindo a culpa e liberando-a do inconsciente em que jaz produzindo sombra e desar.

Quando Jesus enunciou que é necessário tomar a sua cruz e segui-lO, Ele propôs a conquista da autoconsciência, a definição para assumir as próprias responsabilidades, ao invés de permanecer-se divagando em torno de como encontrar o melhor processo para o equilíbrio, que não se expressa em formas exteriores ou mediante as fugas de transferência de responsabilidades, ou para os prazeres que se extinguem, por mais se prolonguem...

A psique necessita de apoio transcendente para proporcionar elementos dignificadores, por intermédio da realidade em que todos se encontram mergulhados, elegendo aqueles que são mais compatíveis com as aspirações e as possibilidades, de execução.

Todos dependem de Deus, porque, afinal, estamos mergulhados em Deus, sendo necessário reconhecê-lO em nós, a fim de que O manifestemos por intermédio do comportamento emocional e das acções sociais, familiares, espirituais...

Quando indagaram a Jung se ele acreditava em Deus, respondeu com humildade e sabedoria, que não necessitava de crer, informando:
- Eu sei, não preciso acreditar...

Há uma contínua batalha para definir-se Deus e atribuir-Lhe exclusivamente carácter religioso, limitando-Lhe a grandeza, o que faculta àqueles que pensam e se libertaram das crenças ligeiras, negá-lO, porque a sua visão é mais ampla e abrangente do que a limitada proposição do fanatismo religioso.

Se for considerado como a vida, por exemplo, passa a existir naquele que O imagina, porquanto a Sua realidade somente pode ser aceita pela consciência depois que se começa a concebê-lO.

Sem um valor maior, que mereça investimento, ninguém se arvora à luta, ao sacrifício, porque tudo superficial logo perde o sentido.
É semelhante a determinados tipos de metas humanas, que são imediatas, como conseguir coisas, posses, amealhar fortuna, conviver com pessoas, e ao alcançá-los, terminando o objectivo, surgem as frustrações e os desencantos.

Há pais que se entregam à educação dos filhos, depositando neles todas as suas aspirações e também insatisfações, esperando compensação quando os mesmos adquiram a idade adulta.

Quando essa ocorre, e os descendentes são convidados a seguir a própria existência, atormentam-se, acreditam-se abandonados, sofrem depressões, perdem o sentido existencial...

O significado da vida não é esse compromisso breve da existência.

Mas o mesmo fenómeno ocorre com o trabalho, com a carreira profissional, com as aspirações políticas e culturais, artísticas e religiosas...
Alcançado o patamar programado, a ausência de nível mais elevado conduz ao tédio, ao desinteresse, à perda de sentido da vida...

Isto porque a educação infantil é feita de ilusões que escravizam e se transformam em metas primordiais, tornando-se uma proposta neurótica e destituída de significado.

Descobrir o destino e trabalhá-lo, programar essa fatalidade honorável e saudável é o objectivo da vida, aquele que proporciona saúde integral, porque não é conquistado de um para outro momento, não se reduz a encantos transitórios, não é monótono, apresentando-se sempre novo e situado um passo à frente.

A medida que a religião enfraqueceu nas famílias, o desinteresse pelo ser espiritual igualmente padeceu atrofia emocional, deixando-se que cada um eleja, quando oportuno, o seu conceito de vida e de espiritualidade, como se fosse crível permitir-se que alguém primeiro se contamine de alguma enfermidade para depois expor-se aos perigos que a mesma proporciona.

A criança deve sentir o valor da família, compreender o significado desse grupo social reduzido, a fim de poder conviver com aquela outra, a social e ampla, com ideias religiosas liberais
e enriquecedoras, a fim de amadurecer psicologicamente com segurança e respeito pela existência.

Uma visão infantil bem trabalhada pelos pais e educadores permanecerá conduzindo-lhe a vida para toda a existência.
Os diferentes símbolos de cada fase etária serão decodificados e transformados com naturalidade sem choques nem perdas, substituídos por outros mais oportunos e significativos, que abrirão
espaço para o encontro com a realidade existencial desvestida de fantasmas e de bichos-papões.

Os mitos pessoais, as fantasias, os complexos e os sonhos não realizados quando se expressam naturalmente, são superados pelas conquistas do discernimento e da razão, da contribuição da psique, unindo as duas fissões numa só significação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 19, 2012 8:52 pm

A grande crise existencial

Embora os conflitos que a fé religiosa produziu em muitas vidas, no passado, especialmente nos já longínquos dias da idade média, nos quais prevaleciam a ignorância, o temor e o absolutismo do poder clerical, o arquétipo espiritual tem sido uma necessidade para o desenvolvimento psicológico do ser.

Lamentavelmente, personalidades psicopatas, na sua grande maioria, temerosas da vida e portadoras de conflitos refugiam--se nas doutrinas religiosas, como noutras áreas da sociedade, mas especialmente nas primeiras, ocultando os seus dramas e medos, ao tempo que, em nome da salvação, castram os valores intelectuais e a sensibilidade dos crentes, submetendo-os aos seus caprichos e insânia.

Proíbem tudo quanto pode proporcionar-lhes alegria de viver, liberdade de pensamento, ampliação do sentido da vida, exaltando a experiência humana, porque se encontram conturbados e invejam os saudáveis.

Condenam tudo quanto lhes constitui sofrimento, pela covardia que os caracteriza em relação ao auto-enfrentamento, preferindo a sombra à plenitude do Self.

Toda religião, no seu significado profundo, objectiva religar a criatura ao seu Criador, o que representaria estabelecer o eixo pleno ego-Self, o ser aparente com o real, proporcionando-lhe condições de saúde e de paz.

Ao invés disso, as mentes atormentadas e mal desenvolvidas, os Espíritos angustiados, auto-supliciando-se, como se os seus corpos fossem os responsáveis pelos pensamentos e conflitos resultantes da fissão da psique no anjo e no demónio, com predominância desse último, em face das tendências tormentosas não vencidas, evitavam o mundo e o odiavam em conduta masoquista.

É natural que o desenvolvimento da sociedade e as conquistas da inteligência, a partir do período industrial, da revolução inevitável imposta pelo progresso, voltassem-se para combater esse parasitismo emocional e retrocesso cultural, abrindo portas a novas experiências e desmistificando as informações fantasistas das condenações infernais e das punições divinas.

Lentamente, mas com segurança, as filosofias do positivismo, do existencialismo e do niilismo encarregaram-se de apresentar o lado agradável da existência, as belezas que existem em tudo e em toda parte, as concessões formosas do prazer e do ter, as novas experiências do conhecimento, arrebatando as multidões.

Ao mesmo tempo, a ampliação dos conceitos em torno do universo e sua incomparável grandeza, afastou os antigos fregueses das religiões dos arraiais da fé para a convivência com outro tipo de realidade que desmentia suas afirmações, agora fáceis de ser comprovadas, dando lugar ao cepticismo, à crítica mordaz dos seus textos e dogmas, bem como ao inevitável abuso defluente dos excessos.

A hipocrisia religiosa não pôde suportar a realidade dos comportamentos humanos rompendo os limites que lhes foram impostos multimilenarmente, atirando-se com sede excessiva nos usos que se transformaram em abusos de consequências igualmente danosas.

Os avanços da ciência apoiada na tecnologia dignificou a vida, facultando uma visão optimista e encantadora da existência humana, aumentando o seu poder até chegar aos extremos de tornar-se omnipotentes, de tal modo, que nada se faz sem o seu concurso, chegando-se mesmo a considerá-las os novos deuses do panteão cultural da actualidade.

A era industrial revolucionou todos os padrões de comportamento então vigentes, e o ser humano lentamente submeteu-se às máquinas que concebeu e criou, tornando-se-lhes servos obedientes.

A ganância de possuir mais ampliou o seu desempenho, fascinando os governos das nações poderosas que enlouqueceram pelo fascínio de mais conquistar, submetendo, lentamente, os demais povos à sua dominação arbitrária, disfarçada ou não, por meio das falsas ajudas aos países em desenvolvimento, explorando-os e escravizando-os, utilizando-se da política arbitrária e de mecanismos perversos de controlo por intermédio das suas agências de espionagem e de corrupção, atingindo culminâncias de glórias e de recursos, quais ilhas fantásticas no meio de oceanos de miséria à sua volta.

De igual maneira, com habilidade e sem escrúpulo, fomentaram as guerras de extermínio, em nome de suas raças prepotentes, decantadas como superiores pela cor da epiderme, pelo sangue, pela tradição...

O ser psicológico, porém, é livre, mesmo quando se encontra submetido a circunstâncias e situações indignas e escravistas.

A sombra predomina na conduta, mas o Si-mesmo permanece orquestrado pela esperança e pelas aspirações de liberdade e de triunfo.
Pôde-se observar essa situação conflitiva nos campos de concentração de trabalhos forçados e de extermínio, quando judeus, colocados como kapos, para vigiarem seus irmãos de raça, apresentavam, não poucas vezes, mais crueldade do que a dos seus indignos comandantes.

Narra-se um desses momentos, quando um kapo luta tenazmente com um pai, para que esse lhe dê o filho para ser encaminhado à câmara de gás.

No esforço desenvolvido pelo progenitor da vítima, esse gritou-lhe:
- Você não tem filho, para ter uma ideia do que é perder-se um de forma tão malvada?
E ele respondeu, trémulo:
- Sim, é claro que tenho.
Por isso sou obrigado a eleger cinco crianças para a câmara, conforme solicitaram-me, ou o meu filho irá no lugar vazio...

A sombra alucinada não tem dimensão da própria loucura e o ego torna-se de uma crueldade sem limite.

Vale a pena recordar outro terrível momento de crueldade e infâmia no período em que a Polónia sofria o drama do holocausto, quando os sicários solicitaram a um rabino do gueto que seleccionasse expressivo número de judeus para as câmaras de gás, e ele, ameaçado, optou pelo suicídio na difícil situação, não se tornando algoz dos seus irmãos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 19, 2012 8:52 pm

A outro, que o substituiu, foi feita a mesma absurda proposta, e ele viu-se na contingência de eleger os que seriam assassinados, constatando depois que fora ludibriado pelos agentes da crueldade...

Muito difíceis soluções em circunstâncias dessa natureza, quando o Self perde a dimensão da sua espiritualidade e deixa-se dominar pelo ego da sobrevivência física ao comando da sombra e dos arquétipos da esperança, da felicidade e do significado passadas aquelas horas intermináveis...

A perda do sentido espiritual e religioso produziu seres insensíveis, cruéis e sem nenhum compromisso com a vida e os valores transcendentais, resultando na situação deplorável da ausência de respeito por si mesmos, pelos demais e por tudo, incluindo a Natureza.

Esse desvario, num crescendo alucinado, proclama o prazer pessoal acima de todas e quaisquer circunstâncias, apelando mesmo para a morte, quando aparentemente surge qualquer ameaça ao seu ego exacerbado, que exige prazer até a exaustão.

Não é outro o fenómeno que diz respeito ao aborto provocado, como instrumento de libertação da responsabilidade e do trabalho, embora sabendo-se que a coabitação sexual, como é natural, leva à concepção que poderia ser evitada pelas pessoas egoístas que não desejam compromissos e se equivocam, pensando sempre no eu insensível, até o momento futuro da solidão e da amargura...

De igual maneira, o crime da eutanásia, quando o paciente não deseja experimentar o processo degenerativo, os factores decorrentes das enfermidades, as situações purificadoras pelo sofrimento, exigindo a interrupção da própria existência, em terríveis actos suicidas assistidos, ou quando a família resolve pela interrupção da vida de um dos seus membros que lhe exaure os recursos com os procedimentos médicos de alto custo...

Ao lado desses terríveis algozes psicológicos da sociedade contemporânea, que sofre os efeitos dessas amargas decisões, o suicídio cresce em estatística, em razão do niilismo que tudo reduz à consumpção da vida pela morte.

Uma sociedade que mata fetos indefesos, idosos e enfermos irrecuperáveis e justifica-se, como pode tornar-se fraterna e solidária?
Como quebrar esse gelo emocional de mulheres e de homens interessados apenas no momento fugaz pelo qual transitam, sem pensar na própria situação, logo mais?

Não seja de estranhar a tragédia do quotidiano, a crise existencial que toma conta dos indivíduos e da sociedade.

Uma nova religião psicológica, sem cultos nem dogmas lentamente surge, a partir da visão holística de Jung, que vivenciou experiências mediúnicas inumeráveis com a jovem prima Helena Preiswerk, na intimidade do lar, na personificação que o dominava uma que outra vez, revendo-se como alguém do século anterior.

O Espiritismo, por sua vez, doutrina profundamente positivista, fundamentada nas experiências psicológicas e transpessoais da imortalidade do ser, do seu triunfo sobre a morte, da multiplicidade das existências, respondendo pelo conhecimento arquivado no inconsciente colectivo, oferece as certezas para o avanço do ser que se é, sem dúvida o verdadeiro imago Dei, no rumo de Deus...

Com certeza, Aquele que está acima das descrições bíblicas, que somente dão uma pálida ideia arquetípica da Sua realidade, que supera a conceituação antropomórfica, abarcando o Universo como Causalidade e Fatalidade de tudo e de todos.

O autor da psicologia analítica afirmou com ênfase:
- "Através da minha experiência, eu conheço um poder maior do que meu próprio ego.
Deus — é o nome que dou a esse poder autónomo", portanto, fora dele e dominante nele.

Ora bem, para que a culpa apareça, torna-se necessária a presença de Deus na consciência, mesmo que sem dar-se conta, porque é através da Sua transcendência que o indivíduo possui o padrão interno do que é certo e do que é errado.

Ei-lO, pois, ínsito no mais profundo abismo do Si-mesmo.

Na sua obra monumental, o Aion, ainda se refere o admirável mestre:
- "Cristo é o homem interior a que se chega pelo caminho do autoconhecimento."

Esse Cristo ou estado crístico logrado por Jesus, na Sua condição de Médium de Deus, foi alcançado pelo apóstolo Paulo e por muitos discípulos que se Lhe entregaram em regime de totalidade, e ainda pode ser logrado quando se atinge o estado numinoso, tornando-se livre dos processos reencarnatórios, das injunções penosas do corpo, das circunstâncias impositivas da evolução.

Auxiliar, na conquista desse estado, é missão da psicoterapia profunda, trabalhando o ser integral, rompendo a concha grosseira em que a sombra muitas vezes se oculta, evitando ser identificada.

Dessa crise existencial que desestrutura o ser humano, transformado em máquina de prazer, que logo se desgasta e decompõe, surgirá uma nova proposta de humanização do ser que se erguerá dos descalabros para a valorização do divino que nele existe, dos sentimentos que engrandecem, que elevam moralmente e dão real significado existencial, trabalhando-o para que, na condição de célula social, ao transformar-se para melhor contribua para todo o conjunto.

Será, então, factível acreditar-se no mundo melhor, saudável e abençoado, onde seja possível amar e ser amado, construir para sempre sem medo e sem perda, conquistando o infinito que está ao alcance...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 19, 2012 8:53 pm

O ser humano pleno

Frederico Nietzsche, dominado por terrível pessimismo, atormentado por contínuas crises de depressão e amargura, concebeu o super-homem como aquele que poderia vencer o niilismo e com a sua sede de poder tudo conquistar.

Esse verdadeiro arquétipo que predomina em muitos indivíduos, estimulando-os à conquista desse símbolo representado na personagem fictícia americana do Superman, é um sonho atormentado que não encontra respaldo nos conteúdos psicológicos e somente vige na imaginação.

Ao conceber esse protótipo, Nietzsche não imaginou o modelo ariano como ideal, que, de certo modo, detestava, mas um alguém que superasse o homem morto, do Assim falava Zaratustra, que talvez não suportasse os imensos conflitos gerados à sua volta.

Por algum tempo, esse conceito gerou incompreensão em torno do autor, quando sua irmã, aquela que conviveu com ele nos últimos tempos, ofereceu a Hitler uma bengala que lhe havia pertencido, deixando transparecer simpatia do filósofo pelo nazismo...

Idealizar-se um super-homem é tentativa frustrada de desprezar-se o homem e todas as potências que se lhe encontram em germe.
Porque o seu processo de experiências é realizado por etapas caracterizadas por incertezas e dificuldades, aspira-se, inconscientemente, à possibilidade mitológica de tornar-se alguém inacessível aos fenómenos dos sofrimentos, das angústias e da morte, conforme a concepção em voga em torno do Super man.

A conquista dessa robustez e grandeza moral somente é possível pela inversão de valores, que se apresentam no mundo exterior como portadores de poder e de glória, estando adormecidos no Si-mesmo, que deve ser conquistado com decisão, em processos vigorosos de reflexão e de acção iluminativa, de forma que nenhuma sombra consiga predominar na aquisição da plenitude.

A conquista de humanidade conseguida pelo psiquismo após os bilhões de anos de modificações e estruturações, transformações e adaptações, faculta, neste período da inteligência e da razão, a fantástica conquista do pensamento, essa força dinâmica do Universo que o sustenta e revigora incessantemente.

Não foi sem sentido psicológico profundo que o astrofísico inglês Sir James Jeans declarou:
O universo parece mais um pensamento do que uma máquina, coroando-se com a declaração do nobre Eddington informando que:
A matéria-prima do universo é o espírito.

Por isso mesmo, quando o ser humano auto-examina-se, percebe-se como um todo com possibilidades especiais independentes de qualquer outra condição externa, mas ao abrir os olhos dá-se conta do meio ambiente, das circunstâncias e das imposições sociais, tornando-se parte do conjunto, embora mantendo alguma independência.

Surgem-lhe, então, as necessidades de auto-afirmação, de auto-realização, buscando a integração no conjunto sem perder a sua identidade, a sua individualidade, o Si-mesmo.

Logo se lhe manifestam as ambições pelo poder, pelo ter, que o estimulam à luta, impulsionando-o a vencer os obstáculos que se interpõem na marcha, tentando dificultar-lhe a conquista dos seus objectivos.

A insistência de que dá mostra fortalece-o, auxiliando-o a definir os rumos do progresso, para logo depois, à medida que amadurece psicologicamente, dar-se conta de que essas conquistas do ego são interessantes, proporcionadoras de comodidade, de prazeres, porém insuficientes para sua plenificação.

Amadurecido, sem tormento de frustrações, mas por análise das ocorrências e das posses, descobre outra ordem de valores interiores, de aspirações mais significativas, de sentido mais lógico e grandioso para a existência, passando a aspirar pela plenitude, esse estado de samadi, preservando a dinâmica de intérmino crescimento.

Considerando-se que o processo de evolução é infinito, quanto mais consciente se encontra o ser humano, a mais aspira e melhores anelos trabalham-lhe o íntimo, porque a sua concepção da realidade é abrangente e compensadora.

Quem anda num vale tem limitada a visão, nada obstante a beleza da paisagem.
A esforço, começando a ascensão montanha acima, amplia-se-lhe o horizonte observado, apesar de permanecerem distantes os contornos dos montes e dos abismos...

No entanto, quando atinge o acume, sente-se triunfante e pequeno ante a grandeza do que abarca visual e emocionalmente, não se contentando somente em observar, mas em ser também parte significativa desse conjunto, que não existia para ele até o momento em que pôde contemplar...

O observador existe quando detecta o que antes não tinha vida para ele, que, por sua vez, passa a ser observado pelo que observa.
No pandemónio dos conflitos existenciais, o ser humano apequena-se e parece consumido pelas situações psicológicas em que se vê envolvido, como alguém num vale em sombras, sem perspectivas mais amplas que lhe facultem os horizontes de infinita alegria e de bem-estar.

Os tormentos cegam a razão, o egoísmo limita os passos, estreitando as aspirações que pretendem abarcar tudo, sem possibilidade de fruí-lo, o que é lamentável, tornando o possuidor possuído pela posse possuidora...

Quando se liberta dos tentáculos que arrastam tudo de maneira constritora para o centro do ego, respira o oxigénio saudável da alegria inefável por estar livre das conjunturas tormentosas do ter e do temer perder, do ser admirado pelo que possui, não pelo que é, de ser visto como triunfador de fora, no que é admirado, mas raramente amado...

Livre de qualquer tipo de dependência factual do cotidiano das coisas, pode voar pela imaginação e pelos sentidos em qualquer direcção, sem medo nem ansiedade, porque se encontra pleno.

A aventura existencial é toda uma saga, e a moderna psicologia analítica, avançando com o progresso da Humanidade, oferece os recursos hábeis para as conquistas interiores valiosas, sem bengalas de sustentação, mas com reforços de lucidez e autoconhecimento para que seja alcançada a vitória sobre as injunções da caminhada orgânica.
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