LUZ ESPÍRITA
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Página 3 de 4 Anterior  1, 2, 3, 4  Seguinte

Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 19, 2012 8:53 pm

É provável que esse avanço e tais conquistas não sejam conseguidos de uma só vez, mas paulatinamente, mesmo por que aquele que salta do vale abruptamente no topo do monte, usando veículo aéreo, sente a diferença atmosférica, o ar rarefeito, acostumando-se muito lentamente para poder beneficiar-se.

Psicologicamente, as mudanças interiores são também oxigenadas pelas experiências conseguidas nas fases anteriores, nos passos iniciais de sustentação das futuras conquistas, arregimentando recursos para mais audaciosos logros.

Despojar-se dos instrumentos de que o ego se vem utilizando para manter-se, de um para outro momento, causa-lhe transtorno inevitável, razão pela qual a integração com o Self deve dar-se naturalmente, de tal forma que haja equilíbrio, um perfeito estado de individuação.

Há pessoas que aspiram ao sacrifício, ao holocausto, num êxtase de fé religiosa para acercar-se mais de Deus.
Não é de crer-se que Deus assim o deseje, pois sendo a Sua a mensagem de amor, o auto-amor faz parte da Sua agenda de evolução para todos.

Ocorrendo de forma não buscada, constitui oportunidade de sublimação, em que o ego cede lugar ao elemento divino nele existente.
No entanto, o sacrifício pode ser visto como o abandonar das coisas, dos apegos que tanto agradam, trocando-os pela espiritualização libertadora, e o holocausto refere-se ao desprezo pelas paixões inferiores, pelos vícios que dão prazer, pelas pequenezes a que muitos se aferram, tornando-se de valor incontestável e grandioso.

Em uma página rica de sabedoria, Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo XVII, item 3, faz um retrato psicológico de O homem de bem, que traduz com perfeição a conquista do ser pleno.

Diz o Codificador do Espiritismo:
O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza.

Se ele interroga a consciência sobre seus próprios actos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se despregou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele;
enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fiassem.

Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria.
Sabe que sem a Sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas.

Tem fé no futuro, razão porque coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.
Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar.

Possuindo o sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem, sem esperar paga alguma, retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte e sacrifica sempre seus interesses à justiça.

Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos.
Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do próprio interesse.

O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda acção generosa...

...O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus...
...Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.

É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo:
— Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado.

Não se compraz em rebuscar os defeitos alheios, tampouco em evidenciá-los.
Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.
Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las.

Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera.
Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros...

... Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que ê um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões...

...Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus...
(52a. edição da FEB.)

Raramente se pode desenhar um ser humano pleno, conforme o notável educador lionês o fez, como notável psicólogo não académico, mas Espírito incomum que conseguiu a individuação, tornando a sua existência um mundo luminoso para todos quantos se lhe acercaram, permanecendo a claridade dos seus ensinamentos como directriz de libertação de consciências e de perfeita identificação dos mitos na realidade do ser, assim como o perfeito equilíbrio na vivência de inúmeros arquétipos, proporcionando sabedoria e paz.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 20, 2012 9:57 pm

07 - A POSSÍVEL SAÚDE INTEGRAL
A parábola dos talentos
A conquista do Si
Binómio saúde-doença


À medida que o ser humano evolui, abençoado pelas extraordinárias conquistas da ciência e da tecnologia de ponta, mais aspira pelo bem-estar, pela saúde integral.

As incomparáveis realizações médicas, nos seus múltiplos aspectos, conseguiram tornar a existência terrena mais aprazível e digna de ser vivida, conseguindo debelar epidemias destruidoras que, periodicamente, ameaçavam de extinção a Humanidade, possibilitando o uso da anestesia e dos analgésicos em relação à dor, as cirurgias salvadoras, o combate aos vírus e bactérias destrutivos por intermédio de antibióticos poderosos...

Do ponto de vista psicológico e psiquiátrico, diversos transtornos neuróticos, psicóticos e de comportamento puderam ser minimizados e alguns curados, dignificando a criatura humana que jazia encarcerada nas prisões sem grades da loucura e dos distúrbios de conduta.

A vida moderna, no entanto, por outro lado, criou mecanismos escapistas para a fuga da realidade exigente, propondo incontáveis divertimentos, desde os mais singelos até aos desportos radicais, sem nenhuma consideração pelo equilíbrio orgânico, que vai submetido a esforços descabidos, nos campeonatos de exibição narcisista dos seus aficionados.

Por outro lado, os exercícios físicos, trabalhando as formas em favor da beleza estética, pecam pelo excesso de musculação, de caminhadas cansativas, do uso de anabolizantes, de enxertos de silicone, de cirurgias correctivas, tornando-se um distúrbio de natureza psicológica...

O excesso de compromissos, muitos deles insignificantes, como o de estar presente em todos os eventos, de ser conhecido em toda parte, de buscar integrar-se em todos os movimentos, diminui o tempo que se deveria dedicar à reflexão e ao estudo, à meditação e à interiorização, correndo-se de um para outro lado, na busca de coisa nenhuma, na condição de fruto azedo que são os vazios interiores.

Nessa volúpia do prazer, não se dispõe de paz nem de oportunidade para seleccionar os alimentos saudáveis, cozê-los ou não correctamente, fugindo-se para os enlatados, os pré-cozidos, os fast foods, com excesso de gordura bebidas com exagero de gás, álcool e tabaco nos encontros sociais, quando não predomina a eleição das drogas aditivas e destruidoras, nos diversos sectores em que todos se movimentam.

O número de obesos é surpreendente, em face da alimentação mal orientada e da falta de exercícios saudáveis, tornando-se uma enfermidade de natureza pandémica, impondo despesas volumosas aos cofres públicos das diferentes nações, pelo desrespeito total aos programas de saúde.

Dietas absurdas surgem e desaparecem como neve que o Sol derrete, para conseguir-se o corpo ideal, como se todos os indivíduos, com suas próprias características genéticas, pudessem ser transformados em um padrão único de harmonia e de beleza, dando lugar aos transtornos da anorexia e da bulimia de graves consequências.

Por outro lado, cirurgias de diminuição do estômago, com a colocação de balões inflados para reduzir a capacidade alimentar, quando o esforço pessoal, a decisão honesta e sincera de cada qual melhor cuidar-se poderia resolver o impasse...
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 20, 2012 9:57 pm

A ânsia pelo corpo ideal tem levado pessoas neuróticas à retirada de costelas, para melhorar a silhueta, parecendo-se a bonecas famosas como a Barbie, ao invés da consciência de que a mesma foi feita não para servir de modelo, mas inspirada em alguém muito especial na sua constituição física...

Os paradoxos multiplicam-se desvairadamente e os âncoras de programas de rádio e de televisão, muitas vezes aturdidos e a serviço do mercado infeliz, sugerem, irresponsavelmente, o uso de produtos salvadores para a saúde, de SPAs, sigla do velho conceito salute per acqua, que se fazem famosos pela facilidade com que todos emagrecem e libertam-se de vícios, atormentando os ouvintes e televidentes desprevenidos.

O sexo promíscuo transformou-se em elemento vital aos relacionamentos, às actividades de qualquer natureza, e o seu desempenho passou a ser motivo de comentário e de exibicionismo em todo lugar, como maneira de vender sensações, desde que outro não é o interesse dos seus propagadores...

De igual maneira multiplicam-se os gurus astutos e psicologicamente enfermos orientando pessoas igualmente perturbadas e impondo-lhes comportamentos estranhos, fora do normal, como recurso hábil para ser conseguida a meta que se deseja.

Inúmeros outros factores de perturbação da saúde, colocados a serviço falso do bem-estar e do equilíbrio injustificado, enganam e desviam as pessoas dos objectivos essenciais da existência, mais defraudando-lhes a confiança e a esperança de paz.

Cultos religiosos extravagantes e enganosos prometem saúde total, como se oferecem produtos num mercado, atraindo as massas ansiosas e necessitadas, que têm exauridos os seus salários, na compra dos favores divinos, quando os seus líderes não são mais atrevidos e exigem que Deus os atenda nas suas imposições teatrais, que levam os adeptos ao delírio.

As práticas místicas herdadas do passado, atreladas ao mediunismo atormentado, também são buscadas para soluções dos problemas de todo porte, incluindo, os da saúde.

Tudo isso, porque o ser humano perdeu o senso de direccionamento dos objectivos essenciais da existência terrestre, confundida com uma viagem ao país do prazer e às praias do divertimento insensato.

O trabalho honesto e dignificante vai sendo colocado à margem, como cansativo e cruel, exigindo-se sempre leis que diminuam a sua carga horária, que mais beneficiem o servidor, sem igual compromisso com a qualidade que cada um deve apresentar, com a pontualidade exigida, com a responsabilidade que se lhe vincula.

É de grande valor, no entanto, para o equilíbrio psicofísico o trabalho sério e bem executado, que tem função terapêutica valiosa, sustentando os ideais humanos, gerando hábitos morigerados e convivência social edificante entre aqueles que se encontram em acção nos grupos que se movimentam, desincumbindo-se dos compromissos para os quais foram contratados.

Nesse painel, algo deprimente, desempenha papel relevante a vida interior do indivíduo, as suas construções e aspirações mentais, os anelos do sentimento, as mágoas e ressentimentos
defluentes da existência, o cultivo de ideias torpes, vulgares ou perversas, contribuindo de forma vigorosa para o aparecimento, instalação ou prolongamento de enfermidades de diferentes portes...

A auto-consciência em torno dos deveres que dizem respeito à reencarnação e à necessidade de a utilizar de forma adequada, constitui factor primordial para o bem-estar e a paz, que não tem recebido consideração.

No aturdimento, porém, que toma conta das pessoas e da vida social, a conquista dessa consciência de Si-mesmo fica relegada a segundo plano, ou nem sequer valorizada sob justificações infantis de nenhuma relevância.

Há uma necessidade imperiosa quão inadiável de o indivíduo voltar-se para dentro, examinar-se honestamente e compreender-se, para, em seguida, ter definidos os rumos que deverá seguir, buscando a meta principal que é a felicidade possível que lhe está ao alcance.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 20, 2012 9:57 pm

A parábola dos talentos

...Pois é assim como um homem que, partindo para outro país, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens:
a um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual segundo a sua capacidade;
e seguiu viagem.

O que recebera cinco talentos foi imediatamente negociar com eles e ganhou outros cinco;
do mesmo modo o que recebera dois, ganhou outros dois.

Mas o que tinha recebido um só, foi-se e fez uma cova no chão e escondeu o dinheiro do seu senhor.

Depois de muito tempo voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles.

Chegando o que recebera cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco, dizendo:
— Senhor, entregaste-me cinco talentos;
aqui estão outros cinco que ganhei.
Disse-lhe o seu senhor:
— Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito.
Entra no gozo do teu senhor.

Chegou também o que recebera dois talentos, e disse:
- Senhor, entregaste-me dois talentos;
aqui estão outros dois que ganhei.
Disse-lhe o seu senhor:
— Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito.
Entra no gozo do teu senhor.

Chegou, por fim, o que havia recebido um só talento, dizendo:
— Senhor, eu soube que és um homem severo, ceifas onde não semeaste, e recolhes onde não plantaste;
e, atemorizado, fui esconder o teu talento na terra;
aqui tens o que é teu.

Porém o seu senhor respondeu:
— Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei, e que recolho onde não joeirei?
Devias, então, ter entregado o meu dinheiro aos banqueiros e, vindo eu, teria recebido o que é meu com juros.

Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos;
porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância;
mas ao que não tem, até o que tem, ser-lhe-á tirado.
Ao servo inútil, porém, lançai-o nas trevas exteriores;
ali haverá o choro e o ranger de dentes.
(Mateus 25: 14-30.)

Na arte de contar histórias, como em todos os Seus actos, Jesus foi inexcedível.
Tomando de imagens simples e comuns, conhecidas e vivenciadas por todos, conseguiu penetrar nos arquivos profundos do inconsciente para desmascarar os conflitos e a culpa, estabelecendo directrizes para a conquista da autoconsciência, produzindo a perfeita identificação do ego com o Self.

A parábola em estudo é psicoterapêutica por ensejar reflexões profundas e lógicas a respeito do comportamento de todos com a consciência - o senhor que ofereceu os talentos - e que sempre se encarrega de exigir a aplicação dos recursos que são destinados ao indivíduo.

Todas as criaturas são aquinhoadas com talentos morais, intelectuais, do sentimento, das aptidões, que devem ser aplicados em favor do próprio enriquecimento, desenvolvendo habilidades próprias e pertinentes à capacidade de utilização de cada qual.

Tendo-se em consideração os diferentes níveis de evolução, nasce-se com os preciosos recursos que constituem a sua fortuna emocional, e que devem ser utilizados de maneira correta, dando lucros em forma de engrandecimento interior.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 20, 2012 9:57 pm

A parábola dos talentos refere-se aos indivíduos mais aquinhoados na existência, que souberam multiplicar a concessão com que foram honrados e dignificados pela alegria de entrar no gozo do seu senhor, o estado de harmonia emocional e de crescimento mental.

O outro, que recebeu menos, negligente e avaro, receoso e incapaz, enterrou a moeda preciosa, dominado pela preguiça moral de a multiplicar, também temeroso da justiça do seu senhor, que era severo.

Todos os valores que sejam sepultados no solo da indiferença e da falsa justificativa, se transformam em sofrimento interior, porque a culpa que se apresenta no momento da prestação de contas, leva-o às lágrimas e às lamentações...

Merece, no entanto, analisar que a parábola não se refere aos servos que não foram aquinhoados, o que nos conduz à reflexão de que todos os seres humanos encontram-se portadores de bens que devem ser multiplicados, nunca se justificando a não posse, porque ninguém é destituído de oportunidades para evoluir.

Mesmo no caso dos impossibilitados mentais, físicos e emocionais desestruturados, nos refolhos do inconsciente profundo encontram-se as razões da aparente carência, sendo a sua falta o talento de recuperação pelo haver malbaratado nas existências transactas.

Quando o senhor parte para outro país e deixa os seus bens nas mãos dos seus servos de confiança, o facto, à luz da psicoterapia, representa a não interferência da consciência nas decisões que definem o rumo da aplicação dos talentos, momentaneamente sob a governança da sombra.

O Self sempre vigilante acciona os mecanismos da inteligência e estimula aqueles que se tornaram portadores de maior responsabilidade a que multipliquem os haveres recebidos, embora correndo riscos de os perder.

Todo empreendimento experimenta a circunstância do êxito ou do insucesso, cabendo ao investidor eleger a aplicação, no caso em tela, mais rendosa, menos perigosa, conforme o fizeram os dois servos dedicados.

Todos os dons pertencem à vida, vêm de Deus e são concedidos como empréstimos, como experimento, a fim de que se posam fixar na realidade, produzindo os efeitos correspondentes.

A vida é dinâmica, não se permitindo vacuidades e desleixos sob pena de consequências afugentes para os levianos e irresponsáveis, que sempre têm enterrado aquilo que deveriam e poderiam aplicar ampliando as suas possibilidades de crescimento.

Por isso, reencarnam-se em penúria, em tormentos e angústias que lhes são impostos pela consciência, o senhor severo que colhe onde não semeou, porque a sua seara é o Universo que a precedeu, possuidor de todos os haveres imaginados.

Esse acomodado guardador da moeda, embora houvesse agido de maneira equivocada, poderia ter-se complicado, perdendo-a no jogo, usando-a de forma incorrecta, o que lhe acarretaria situação mais deplorável, como acontece com todos aqueles que se utilizam dos valores de que são investidos para a degradação, as aventuras perturbadoras, os prazeres desarvorados...

As heranças atávicas geradoras da sombra e a infância emocional que teima em permanecer como criança ferida em muitos comportamentos, fazem dos indivíduos pacientes piegas ou astutos, que se negam o esforço na esperança de que outrem lhes ofereça o que lhes cabe conquistar.

Tornam-se egoístas e displicentes.
Era comum essa dicotomia entre pessoas que antes alugavam casas:
plantar ou arrancar árvores.

Algumas, quando se mudavam, deixavam as árvores que plantaram no terreno que lhes não pertencia, enquanto outras as arrancavam, demonstrando avareza e insensibilidade.
Diversas evitavam plantá-las porque o solo não era delas e afirmavam que não iriam trabalhar, justificavam-se, para o bem de estranhos, no entanto, alegravam-se quando encontravam verdadeiros pomares que foram preparados por outras que não conheceram, mas os fizeram para o futuro...

Se cada qual realizar a sua parte, pensando nos bens do futuro, não importando quem seja aquele que colhe onde não semeia, seus talentos estarão sempre aumentados e receberão outros mais que lhes são confiados...

O servo bom, do bom trabalho retira a prosperidade, enquanto que o ocioso converte a acção em penúria, vindo a sofrer a restrição do prazer e da harmonia.

Os servos diligentes são todos aqueles que não se detêm atemorizados ante as dificuldades existenciais e trabalham a fim de removê-las, facilitando a oportunidade dos que se encontram na retaguarda.

Sempre se viverá beneficiado ou não pelos ancestrais, aqueles que caminharam antes pelas veredas por onde agora peregrinam.
Foram eles que abriram as picadas, facilitando a primeira experiência na mata fechada, depois outros alargaram os caminhos, vieram mais tarde muitos outros que asfaltaram ou não a estrada agora percorrida com facilidade.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 20, 2012 9:58 pm

Quando se tem consciência desse valor dos antepassados, ao conseguir-se a cura das neuroses, logo surge o interesse por servir, auxiliar os familiares, os mais próximos, treinando fraternidade e generosidade para com todos os demais seres humanos.

A experiência do significado e do bem-estar proporciona tal alegria que o paciente recuperado não se basta, não fica indiferente ao que acontece à sua volta, porque sente-se membro do conjunto e sabe que da mesma forma que uma célula enferma compromete o órgão, a saudável trabalha pela sua reconstituição.

Embora a significativa e volumosa parte das acções humanas e das suas aspirações procedam do inconsciente, o despertar da consciência consegue valiosos contributos para a harmonia e a vivência saudável em todos os grupos sociais nos quais venha a viger a identificação do eixo ego-Self, cooperando pelo ajustamento de todos os membros à mesma conquista.

Muitos pacientes adquirem conflitos e complexos, especialmente de inferioridade, em decorrência da constelação familiar, na qual se encontram humilhados, submetidos aos caprichos dos distúrbios do grupo doméstico.

Nada obstante, a vítima da circunstância deve desenvolver a esperança e relativizar as circunstâncias e os acontecimentos danosos, tentando recomeço, psicoterapia apropriada e descobrirão como são portadores de elevados talentos, que foram soterrados pelos desavisados membros do clã.

Com muita facilidade perceberá que os tesouros enterrados podem ser recuperados e multiplicados em abundância, superando as limitações e conflitos até então dominantes.

A consciência lúcida, dando-se conta do esforço empreendido, dirá:
- Entra no gozo do teu senhor.
E esse lhe conferirá outros tantos talentos, ampliando o seu campo de possibilidades inimagináveis.

O indivíduo é o que se faz a si mesmo, no entanto, em face do seu instinto gregário e da sua necessidade social, não se podem evitar os efeitos da convivência no grupo no qual nasceu, se educou ou permanece vivendo.

Embora a ocorrência, o Self pode suprir as carências, demonstrando que a sintonia com o divino que se encontra nele próprio diluirá a sombra perturbadora que o enjaula no conflito de qualquer natureza.

Quando as mulheres e os homens contemporâneos utilizarem-se dos bens da vida com o desejo honesto de ser fiéis à alma, uma religiosidade espiritual assomará do inconsciente profundo trabalhando a sua realidade emocional e impulsionando-os ao desenvolvimento da saúde e do bem-estar em forma de contribuição interior para o equilíbrio e exterior para o grupo no qual se encontra.

Tem-se, portanto, o grupo familiar que se impõe como necessidade para o desdobramento dos valores morais, resultando nas acções pretéritas das existências passadas, que proporcionam as facilidades ou os problemas que devem ser enfrentados sem pieguismo nem ressentimento para o amadurecimento interno que conduz à individuação.

Essa conscientização deve ser iniciada pelos membros da sociedade em crise existencial, moral e espiritual.
A perda do significado pode ser reparada mediante a renovação dos sentimentos, os empenhos pelo equilibrar-se interiormente, pelas tentativas do silêncio mental, abrindo campo aos divinos insights.

Ante a conturbação que assola, as pessoas tímidas receando o enfrentamento com os alucinados enterram os talentos, dissimulando as virtudes, ocultando-as com medo de serem ridicularizadas, levadas à zombaria ou tidas por débeis mentais.

Sucede que, em tempo de loucura a razão parece deslocada, enquanto que o desvario é o estado aceito e prescrito.

Partindo-se para um outro país de experiências multifárias e realizações incomuns, é natural que sejam repartidos os haveres com aqueles que permanecem no cotidiano da existência, sem motivações ou estímulos para o próprio crescimento intelecto-moral, propiciando-lhes os talentos que deverão ser investidos ou aplicados nos bancos da produção espiritual, a fim de que sejam beneficiados pelos juros do equilíbrio.

A saúde, neste capítulo, é um dos mais valiosos talentos que o Senhor oferece ao Espírito no seu processo de evolução, em face das valiosas possibilidades que enseja ao seu possuidor, que tem por dever preservá-la, multiplicando as experiências iluminativas e o crescimento intelecto-moral.

Nem todos, porém, agem com esse discernimento, sendo a grande maioria constituída por aqueles que a malbaratam, nem sequer a preservam, vivenciando cada hora no desperdício do tesouro que se lhes vai esgotando até o desaparecimento completo.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 20, 2012 9:58 pm

Chegará, também, para esses, o momento da prestação de contas, e constatando as leviandades praticadas, a conduta irresponsável vivenciada, sofrer-lhes-ão os efeitos graves, em batalha intérmina para reconquistá-la, o que não é fácil, sendo pela consciência atirados às trevas exteriores, em reencarnações pungentes e aflitivas.

Todos os talentos são valiosos porque, multiplicados, proporcionam a fortuna do bem-estar, da alegria de haverem sido utilizados com sabedoria.

A palavra, por exemplo, é um talento, que nem todos aplicam conforme deveriam, porquanto, através dela se produzem as rixas e as brigas, as intrigas e maledicências, as infâmias e as acusações, muitas vezes culminando em guerras infernais... quando a sua finalidade é exactamente o contrário.

A sua semelhança, o discernimento, a razão constituem valores inapreciados, em razão das infinitas possibilidades que oferecem, como permitir o conhecimento do Cosmo, a identificação dos elevados valores da vida, do serviço de edificação moral e espiritual do próprio possuidor, assim como da Humanidade como um todo.

A existência física é uma viagem de curto prazo pelos caminhos do planeta terrestre, porque transitória e finita, constituindo-se parte fundamental da vida no seu carácter de imortalidade, pois que, desde quando criado o Espírito não mais se extingue, abençoado pelo vir e volver ao Grande Lar onde é avaliado pela própria consciência e pelos seus Guias espirituais, que se encarregam de o auxiliar no processo evolutivo.

Os talentos, pois, de que dispõe cada um, tanto podem ser renovados como retirados, de acordo com a aplicação que se lhes dê.
São empréstimos divinos que o Senhor coloca à disposição de todos, sem excepção, com generosidade e confiança, mas sob a condição de serem prestadas contas da sua utilização.

Mesmo o sofrimento, quando bem pensado, é um talento valioso, pelo que oferece de dignidade e de libertação dos compromissos infelizes, facultando a perfeita identificação do eixo ego-Si mesmo, com a integração da sombra e o logro da individuação.

É claro que todo empreendimento exige esforço, vigilância, cuidados, não sendo diferente naqueles que dizem respeito ao carácter moral, ao significado espiritual.

Analisando-se Jesus, como possuidor dos talentos de vida eterna, descobrir-se-á facilmente como os aplicou em todos os dias da Sua existência terrenal, especialmente durante o período de Sua vida pública, enriquecendo o mundo com sabedoria e liberdade, com beleza e esperança de plenitude.

E quando foi traído, negado, julgado insensatamente, condenado e crucificado, o tesouro da Sua misericórdia e cordura transformou-se em bênção que vem atravessando os séculos como a única maneira de encontrar-se a felicidade, que é conseguida somente pelo amor, por amor-terapia.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 20, 2012 9:58 pm

A conquista do Si

Toda a vilegiatura carnal do Espírito deve ser direccionada para a conquista do Si-mesmo.

Herdeiro das experiências evolutivas, tem viajado longamente dos instintos à razão, ao discernimento, à aquisição da consciência, descobrindo a sua realidade de ser imortal, cuja trajectória ilimitada prossegue além da vestidura carnal...

O inconsciente colectivo que nele se encontra ínsito, na maioria das vezes é resultado das próprias vivências nos referidos períodos antropológicos, quando em trânsito de uma para outra faixa da evolução, seja física, moral ou transcendental.

Armazenadas no Self são essas incontestáveis tentativas de acerto e de erro, que lhe delineiam as novas caminhadas corporais.
Por isso mesmo, a sombra resultante dos conflitos instalados nos refolhos da psique, normalmente surge-lhe ameaçadora gerando dificuldades de raciocínio, de comportamento saudável, de harmonia.

Iniciando o desenvolvimento do Si-mesmo, na condição de simples e ignorante, destituído de conhecimentos, de habilidades e de treinamentos, a pouco e pouco, à semelhança da semente no seio generoso da mãe-terra, vão-se-lhe desenvolvendo os germes da sabedoria adormecida, experienciando os jogos dos sentidos, em avanço para a lógica e o raciocínio, dando lugar aos atavismos primitivos que devem ser ultrapassados sem traumas nem choques emocionais.

A medida que se lhe tornam mais complexas as admiráveis possibilidades de que dispõe para evoluir, surgem-lhe as marcas dos hábitos ancestrais que teimam em prendê-lo no já conhecido, no já desfrutado, confundindo os valores de qualidade com as comodidades do prazer.

Atraído pelo Deotropismo da sua origem, não se pode furtar ao conflito entre o que tem sido e o que lhe aguarda.
Nem sempre, porém, aspira por situação ou condição melhor de vida, bastando-lhe o atendimento das necessidades fisiológicas básicas, em olvido proposital ou não daquelas de natureza psicológica essenciais para a individuação.

Quando descobre o significado existencial e ainda não dispõe da maturidade emocional indispensável, pretende a transformação interior a golpes de exigências descabidas e de sacrifícios que se impõe, sem dar-se conta de que a violência não faz parte da programação orgânica para uma existência feliz.

Em face da desorientação religiosa do passado, e que, infelizmente ainda vige em muitos sectores da sociedade, impõe-se a fuga do mundo, buscando o isolamento, que constitui tremendo adversário do bem-estar humano, desde quando, gregário, necessita da convivência, do relacionamento com o seu próximo, que resulta em profundas frustrações interiores que levam a desastres psicológicos ou ao abandono da opção...

Outras vezes, entregando-se ao transtorno masoquista, propõe-se sofrimentos injustificáveis, que mais ampliam o desconforto emocional e o desequilíbrio psicofísico.

A existência humana deve ser vivenciada dentro de uma pauta de deveres morais e espirituais, ademais dos sociais, familiares e para com o corpo, estabelecidos por cada indivíduo, a fim de que a carga imposta não lhe seja superior às forças interiores, assim evitando os desastres nos insucessos.

O comportamento dentro das directrizes convencionalmente denominadas como normalidade, constitui-lhe caminho de segurança para o avanço contínuo na direcção da meta estabelecida.

Ao invés de imposições de fora para dentro, da aparência dentro dos padrões estabelecidos pelo grupo social, a lúcida interpretação das próprias necessidades e a condução tranquila quão equilibrada de cada função ou ocorrência vivencial, a fim de conseguir o estado saudável e progressista na marcha da iluminação.

Compreendendo que a sombra é presença normal e constante na sua psique, a sua fusão natural no Self é o objectivo do autoconhecimento, da conquista que o desaliena, ensejando-lhe melhor visão da realidade e do mundo que o cerca.

Tal identificação — do que deve fazer e como realizá-lo, superando as sequelas do passado - abre-lhe espaços mentais e emocionais para ser feliz.
Nesse labor consciente, reaccional e objectivo, a individualidade cresce e desenvolve-se, facultando o surgimento de outros valores dantes não considerados, que constituem elementos superiores para uma vivência com sentido enobrecido.

Nem sempre se compreende o significado da conquista do Si-mesmo, supondo-se que esse labor diz respeito a questões da mística religiosa ou das tradições filosóficas orientais do passado.

Certamente, têm razão no significado, mas não na proposta, porque as doutrinas orientais, descobrindo a realidade do ser que se é, encontraram na meditação, na yoga, nas diversas técnicas da concentração e da abstracção em relação ao tempo e aos sentidos, um excelente instrumento pedagógico para a auto-conquista.

Por outro lado, algumas religiões, com boas intenções, sem dúvida, procuraram auxiliar o ser na superação dos conflitos, e ignorando-lhes a intensidade bem como a sua génese, estabeleceram normativas, umas felizes, outras nem tanto, para que o fiel tivesse um fio de Ariadne para sair do labirinto existencial em que se encontra.

A partir das regras estabelecidas, entre outros, por Inácio de Loyola, os exercícios espirituais têm produzido excelentes resultados naqueles que os praticam de maneira racional e sem fanatismos.

A concentração racional com meditação reflexiva igualmente constitui um recurso de fácil aplicação diária para a conquista do Self, por ensejar o autoconhecimento, a observação do que se é, descobrindo-se os tesouros que estão ao alcance, mediante o vir-a-ser.

Aquele que se impede a auto-identificação, permanece na periferia da existência, facilmente aturdido ante as ocorrências, sempre considerando-as perturbadoras e destituídas de significados, quando, conscientemente enfrentadas, podem transformar-se em valiosas conquistas de plenificação interior.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 20, 2012 9:58 pm

Ninguém se pode afligir pelo facto de ser humano, de ter inclinações tormentosas, que são resultados de vivências malogradas, que serão superadas com disciplina e vontade resultante da selecção das aspirações que fazem parte da agenda de cada pessoa.

Quando o indivíduo se compreende, havendo conseguido esse entendimento a respeito do ser que é, muito mais fáceis se lhe tornam os enfrentamentos dos desafios e dos problemas, porque, libertando-se dos complexos de inferioridade e da necessidade da culpa, assim como da autopunição, considera-os essenciais à evolução.

Todo processo de transformação exige sacrifício e luta, como é natural.
No que diz respeito às de natureza psicológica, evidentemente devem ser analisadas com decisão firme para superá-las, bem como produzir bem-estar e alegria pela oportunidade de encontrar-se activo, produzindo sempre para melhor.

A essa conquista denominamos como o bem, porque proporciona satisfações elevadas, portadoras de resultados saudáveis.

Quem se conhece é possuidor de sabedoria a um passo da auto-iluminação que o torna profundamente feliz.
Avançar com segurança, destituído dos conflitos geradores de transtornos de variada qualificação, é conquista que se encontra ao alcance de todo aquele que opta pela integral consciência de Si-mesmo.

Aquele que se ignora caminha inseguro e enfermo emocional, buscando soluções fora dele, realizando processos de transferência da culpa, a fim de poder suportar-se, de não tombar em situações lamentáveis de desajustes psicológicos mais graves.

O objectivo essencial da existência terrena é o de auto-conhecer-se, de penetrar os imensos abismos do inconsciente actual, a fim de descobrir os objectivos da vida, enquanto adquire recursos para alcançar a super-consciência e captar as mensagens superiores da imortalidade, que o convidam à auto-superação dos impedimentos enquanto desenvolvem as aptidões dignificadoras.

Ninguém consegue o estado de paz sem a harmonia entre a psique, a emoção e o físico.
Certamente, não será pela falta de ocorrências desagradáveis, que sempre sucederão, mas pelo compreendê-las na condição de necessárias, responsáveis pelos progressos e pelas inevitáveis transformações após descobri-las.

Quem alcança o acume de um monte, venceu todos os obstáculos que se encontravam pelo caminho...
Nenhuma ascensão é fácil, o mesmo ocorrendo com a autotransformação para melhor.

É compreensível que haja uma aceitação normal do estado em que muitos se encontram, acomodados às circunstâncias, sem aspirações relevantes.
Nesse nível de consciência de sono as necessidades atêm-se mais àquelas orgânicas, quais sejam alimentar-se, dormir, exercer o sexo, num círculo de automatismos primários.

Como o progresso é inevitável, lentamente despertam as ambições emocionais, por saturação das físicas, e ocorre a mudança para o nível de consciência desperta (ainda semiadormecida, porque há prevalência da anterior), aparecendo anelos não habituais, desconforto em relação ao já vivenciado, insatisfação diante da vida...

O Self desenvolve-se mediante os esforços existenciais que lhe facultam o despertar dos tesouros adormecidos, produzindo a imaginação, a ambição de crescimento, o desejo de conquistas novas.

São, portanto, muito saudáveis, alguns estados de mal-estar, de queixa, de tristeza, desde que se não transformem em tormento, em hábito doentio de reclamação inoperante, mediante a qual a pessoa justifica a própria indolência.

Quem se basta com o habitual permanece em hibernação de consciência, aguardando que fenómenos-dor o sacudam, provocando-lhe a busca da renovação e a disposição para mudanças psicológicas, para novas aspirações que lhe constituirão objectivos a trabalhar.

O Si-mesmo é a fonte da vida do corpo em todas as suas expressões:
psíquicas, emocionais e físicas.

Nele residem os dínamos geradores de todos os recursos para a existência humana, e, quando liberto das injunções do processo material na Terra, ei-lo que, ideal e numinoso, avança na direcção da plenitude.

Todos os esforços devem ser aplicados pelo ser consciente na auto-conquista, na superação das forças atávicas do ontem e na atracção dos iluminados patrimónios da super-consciência.

É um retorno, de alguma forma, à deusa, uma reconquista do que foi mal aplicado ou perdido no processo da evolução.

Esse lutador vitorioso, que alcança a compreensão lógica da existência, torna-se modelo e arrasta outros, porque o exemplo de felicidade contagia todos quantos se encontram na desdita e na insegurança.

Esse talento sublime que a vida oferece a todos - a oportunidade de evoluir e de descobrir o infinito - tem que ser multiplicado, a fim de que o Senhor da Abundância se regozije e propicie a conquista do reino dos Céus, que nele se encontra e necessita de exteriorizar-se.

Quem conquista os outros, perde-se em conflitos, em relação aos métodos, nem sempre nobres de que se utilizou, experimentando insegurança quanto à vitória aparente.

Mas aquele que se conquista a si mesmo, esse atingiu a meta estabelecida pelo processo evolutivo e é feliz.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 20, 2012 9:59 pm

Binómio saúde-doença

A aquisição da saúde real, integral, constitui meta primordial a ser alcançada por todas as pessoas.

Caracterizando-se pelo bem-estar emocional, equilíbrio psíquico, harmonia fisiológica e normalidade socioeconómica, a saúde é um tesouro - talento - cuja estabilidade resulta de inúmeros factores, especialmente os derivados do comportamento moral.

Embora a hereditariedade desempenhe um papel fundamental para a sua vigência, a constituição genética do ser obedece à influência do Espírito quando da programação reencarnatória, em face das necessidades evolutivas impostas pelas Soberanas Leis.

Sendo o Espírito responsável pelos actos perpetrados, especialmente aqueles de natureza negativa, que são geradores de sofrimentos e desaires nos outros, todos eles insculpem-se nas delicadas tecelagens do corpo perispiritual, nelas imprimindo o mapa das necessidades reparadoras que se delinearão no código genético, no qual encontram os recursos materiais para a sua manifestação.

Dessa maneira, surgem os fenómenos teratológicos, as deficiências mentais e limitações orgânicas, as dificuldades psicológicas, os tormentos de toda e qualquer natureza física, assim como um sistema imunológico incapaz de defender a maquinaria em que se hospeda pelo renascimento, experimentando, em consequência, enfermidades de diversos teores que constituem os mecanismos de reparação moral e espiritual necessários à paz.

Quando os factores que proporcionam a doença não são resultado da negligência e dos abusos cometidos durante a jornada actual, como é muito comum, especialmente em relação à inobservância dos elementos preservadores do equilíbrio e do processo de desenvolvimento psicofísico, são as heranças do pretérito as responsáveis pelas ocorrências penosas e desgastantes que ressumam em forma de doenças crónicas, transitórias, repetitivas, ocasionais...

Compreende-se que o nobre instrumento corporal, de acordo com a maneira como é utilizado, experimente alterações compatíveis com o uso, seja do ponto de vista estrutural orgânico, seja de natureza mental ou emocional.

Essa tríade que constitui a realidade do ser - mental, emocional e fisiológica - é regida pelo Self que, dominado pelo ego sob os impulsos do primarismo, mantendo o desequilíbrio de qualquer natureza abre espaço a disfunções normais, como ocorre com qualquer veículo mal utilizado ou cuja manutenção se faça precária.

Pode-se afirmar que a enfermidade também resulta do natural processo de envelhecimento celular, do desgaste neuronal e do seu contínuo desaparecimento, do enfraquecimento do fluido vital que mantém o equilíbrio geral, anunciando o fenómeno inevitável da morte.

Apesar disso, é possível, mesmo com as diversas disfunções e deperecimento de forças, manter-se um estado saudável, harmónico, propiciador de alegria e de actividades responsáveis pelo perfeito ajustamento do indivíduo no grupo social.

Em razão da anterioridade das experiências humanas e de relacionamento, renasce-se no clã familiar, no qual se encontram geneticamente os elementos básicos propiciatórios ao programa de elevação moral e espiritual, em vez de naqueles que se gostaria de viver.

Nesse grupo doméstico, é muito comum encontrar-se também os familiares inamistosos de ontem que voltam a reunir-se a fim de reorganizar-se, trabalhando as imperfeições, rectificando a direcção dos sentimentos vis de outrora, através da fraternidade, do respeito que deve viger entre todos.

O cérebro não é, por isso mesmo, uma folha de papel em branco, segundo a acepção de diversos estudiosos das doutrinas psicológicas.
Certamente, na sua constituição, é destituído de quaisquer marcas, que são assinaladas posteriormente pelo Espírito em processo de reencarnação...

Normalmente, em razão das adversas situações criadas nas existências anteriores, defronta-se uma genitora perversa ou descuidada, uma super-mãe ou uma inimiga tenaz que agride e mágoa sem qualquer condescendência.

Noutra circunstância, é o genitor irresponsável ou atormentador, alcoólatra ou déspota, que parece desforçar a infelicidade que o caracteriza na prole, especialmente nesse ou naquele descendente, o mais comprometido, portanto, no grupo doméstico.

De igual modo, irmãos e demais membros do clã serão constituídos por companheiros de caminhada anterior, nem sempre ditosa ou digna, dando lugar à felicidade do grupo ou aos mal-entendidos frequentes geradores de desdita e de crimes, não poucas vezes, hediondos:
abusos de toda ordem, especialmente pedofilia, parricídio, infanticídio, uxoricídio, perseguições sistemáticas...

Por essa razão, existem as famílias que se vinculam pelos laços espirituais e aquelas que resultam dos fenómenos biológicos, portanto, consanguíneas.

Em ambas se apresentam os sucessos necessários aos impositivos da evolução.
Quando se está consciente dessa realidade, descobre-se que a saúde é um talento precioso que o Senhor da Vida oferece ao Espírito reencarnado, e cuja aplicação lhe será cobrada posteriormente.

Aquele que desperdiça a excelente oportunidade de um corpo harmónico, de um conjunto emocional e psíquico lúcido sem as inquietadoras constrições expiatórias ou provacionais, é semelhante ao servo mau, negligente, que enterrou o talento, sendo mesmo um pouco mais irresponsável, porque lhe desperdiçou o valor, aplicando-o negativamente...

Com esse conhecimento das inextricáveis ocorrências que contribuem para a saúde ou abrem espaço para as doenças, sejam aquelas congénitas ou aqueloutras adquiridas ao longo do curso existencial, o despertar do SELF torna-se uma aflição para o ego totalitário e dominador.

No entanto, na segunda fase da vida, quando a maturidade ocorre e o indivíduo já se encontra em estágio definido de extroversão ou de introversão, impõe-se-lhe o discernimento que o convida à reflexão em torno da sua realidade em relação ao transitório da existência.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 20, 2012 9:59 pm

Quase ninguém, que seja portador de normalidade, pode viver indefinidamente na inconsciência de si mesmo.
Os mecanismos que regem o corpo e a mente propiciam inevitavelmente o despertar dos interesses para aquilo que já não atende aos hábitos, porque repetitivo, sem sentido psicológico, monótono, despertando o herói adormecido que tem necessidade de ir a um país longínquo, onde as experiências são todas novas e desafiadoras.

É necessário investir os recursos da mente e da emoção - talentos preciosos - aguardando que se multipliquem e ofereçam rendimento de saúde e de paz.
Quando isso não ocorre, a saturação e a indiferença pelos familiares e amigos estabelece-se, levando o indivíduo a patologias delicadas.

Na parábola dos talentos, pode-se identificar o Senhor que emprestou os recursos aos servos, como o Self portador de infinitas potencialidades, que sempre as distribui, a fim de que sejam canalizadas para a multiplicação de resultados bons.

É de relevância, portanto, que o Self, na condição de deus interior, enseje a aquisição de uma crença, religiosa de preferência, destituída de fanatismo e cultos extravagantes, para melhor desenvolver-se, contribuindo para a diluição de toda a sombra, harmonizando o anima-us de maneira a experienciar os benefícios da existência.

A crença em Deus, o conhecimento de Jesus, não mais como arquétipos, mas sim, como realidades que transcendem a compreensão imediata do ego e que se encontram ínsitos no Self, proporciona ilimitada satisfação de viver e de lutar, por poder-se considerar a grandeza do Homem de Nazaré e as Suas vitórias incessantes como exemplo para todos, representando a saúde integral.

Nesse particular, o cientista dedicado, mesmo que desvinculado de qualquer crença religiosa, à semelhança do artista, vivência uma experiência também religiosa em face da anuência do Self com os objectivos existenciais a que se entrega, proporcionando auto-realização e alegria de viver muito responsáveis pela saúde.

São também essas habilidades talentos valiosos, que devem ser considerados como aquela maior importância entregue pelo Senhor - o Self — ao servidor da vida...
O confronto, portanto, entre o Self e o ego, normalmente na segunda fase da vida do ser humano, nesse período de conscientização, é inevitável, com todas as consequências benéficas para a saúde.

Nessa fase, pode ocorrer o que se denomina efeitos colaterais do surgimento dessa força grandiosa, que é o Self dando lugar a alguns desconfortos emocionais e físicos, que não podem ser considerados doenças, mas resultado das naturais transformações que se vêm operando no mundo íntimo do indivíduo que se conscientiza da realidade.

Como o ego é perseverante, pode utilizar-se da circunstância e infundir entusiasmo exagerado, quase narcisista, no qual a necessidade de buscar-se a tranquilidade da natureza, a meditação, a prece, apresentando-se a tentação de o mesmo converter-se em guia e líder de outros, infelizmente sem a estruturação plena para empreendimento de tal natureza.

Nessa fase, em contínuo esforço para a perfeita filtragem entre o inconsciente colectivo e o Self tem surgimento a personalidade-mana, cuja energia poderosa que invade o ser necessita ser orientada.

A criatividade, quase inevitavelmente, pode surgir como um mecanismo saudável para a sua diminuição, em face da sua aplicação, proporcionando uma canalização bem direccionada, que harmoniza o indivíduo.

Essa criatividade pode ressumar do perispírito — em forma de inconsciente colectivo - onde se encontram registradas as experiências transactas, que ora se expressam em forma de arte, de pensamento, de ciência, de tecnologia...

Nesse despertar do mana, a consciência desempenha o seu papel relevante, que é o de estabelecer parâmetros elevados para que sejam alcançados os objectivos que, por extensão, transformam-se em saúde e libertação das doenças.

Para que sejam alcançadas essas metas surgem continuamente os desafios, que emulam ao avanço e são constantes, pois que, vencido um, logo surge outro mais amplo e complexo, impondo a necessidade de encontrar-se um significado psicológico de alta magnitude para a existência.

Nesse processo de estruturação da realidade psicológica e espiritual do ser, após o enfrentamento da sombra e sua aceitação, harmonizando o anima-us, logo se torna factível conectar-se com todas as coisas existentes, em contínuos fluxos de sentimentos, tais sejam as montanhas e vales, os vegetais e animais, as criaturas humanas...

Desse modo, o Self torna-se a razão única da natureza essencial do ser — o Espírito imortal!
A busca da saúde, nesse sentido, transforma-se em um objectivo próximo, insuficiente, no entanto, para alcançar-se a totalidade, a individuação, que se amplia no sentido existencial em relação ao mundo em que se vive.

Com esse comportamento, as aspirações multiplicam-se, quebrando as amarras do egoísmo e libertando as manifestações altruísticas responsáveis pelo progresso da sociedade e do próprio indivíduo.

Nesse sentido, para ser conseguido o êxito a educação dos sentimentos é de alta significação para a existência saudável, o que equivale dizer, um comportamento jovial e feliz nas mais diversas situações, quando enfermo ou sem doença declarada.

Como a saúde não pode ser considerada como falta de doença, mas um estado agradável de vida, no qual as ocorrências internas podem ser perfeitamente administradas, sem danos ou prejuízos para as actividades normais, não poucas vezes ocorrem desgastes que, mais tarde, se apresentam como desestruturações dos equipamentos orgânicos exigindo tratamento e equilíbrio emocional.

Nesse processo que leva ao numinoso, o binómio saúde-doença cede lugar à saúde integral, aquela que resulta do perfeito equilíbrio interior do ser humano.

Nem sempre, porém, o indivíduo consegue esse estado de harmonia a sós, necessitando de ajuda especializada, para que tenha a coragem de avançar guiado pelo país longínquo, a fim de que evite os transtornos que lhe deram experiência, mas que muito martirizaram o filho pródigo, filho pródigo que todos são na busca da sua realidade.

Vigilante, portanto, o Self distribui talentos e cobra a sua aplicação, deixando de ser prepotente, como o era na fase primária, relevando o ser que se é, em outra hipótese, o que poderá ser, nessa formosa aventura da auto-conquista.

Saudável, o ser encontra a plenitude...
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 21, 2012 9:03 pm

08 - A BUSCA DO SIGNIFICADO
O bem e o mal
Os sofrimentos no mundo
A individuação


O sentido profundo da existência humana é a busca do significado, a plenificação do Self - a imago Dei - a substância divina que orienta a existência e dignifica-a.

Ninguém, portador de consciência, pode peregrinar pela Terra, sem um sentido existencial que se espraie além das denominadas necessidades imediatas, que deixam de atender as exigências emocionais, logo que são vivenciadas.

Por essa razão, a experiência interior torna-se de relevante significado, sem a qual todas as realizações externas perdem a significação, porque passam a ser possuídas sem atender as exigências emocionais, que, não resolvidas, desencadeiam o vazio existencial.

Nessa viagem interna, que pode ser comparada a uma aventura interior, a consciência amplia-se ao infinito, portanto, indo muito além dos limites habituais adstritos aos desejos do ter e do prazer.

Invariavelmente, essa busca profunda apresenta-se na criatividade da arte ou na abnegação da crença religiosa, como recursos hábeis para a conquista do infinito e do indefinível.

No mais profundo do inconsciente colectivo estão adormecidos esses dois anelos que tiveram origem na fase primitiva da evolução, quando o ser humano começou a entender a grandeza da vida, sua beleza e suas ameaças contínuas presentes em a Natureza, e a entrega às forças desconhecidas que pareciam manejar-lhes os destinos, facultando o surgimento do mito religioso, na condição de mecanismo de fuga das angústias e perturbações, atendendo aos caprichos que se impunham como soluções imediatas.

O esforço desse ser primitivo em comunicar-se com o outro e desenvolver a consciência mediante a escrita e a pintura rupestres, são as expressões iniciais da criatividade e do processo de comunicação consciente, organizada, que permanecerão em toda a sua trajectória antropológica.

Não sendo a vida humana senão a materialização do mundo cósmico, os Espíritos que desencarnavam naquele período, profundamente ignorantes da sua realidade, ao manifestar-se aos contemporâneos na intimidade das cavernas, deram início às primeiras expressões do culto religioso, sem o desejarem, tornando-se deuses bárbaros uns e gentis, benévolos outros, que iriam povoar o imaginário das gerações sucessivas, inscrevendo-se no panteão de todas as culturas terrestres.

Reavivar essas imagens e decodificá-las, é a proposta da psicologia profunda, retirando-lhes a sombra perniciosa e ameaçadora da tradição, de tal forma que, em estágio de consciência lúcida, adquiram o seu exacto sentido, que é a imortalidade.

Porque a fase de primarismo não permitia o raciocínio lógico, o natural culto de respeito e de devoção, mais pelo temor do que pelo amor, revestiu-se do mágico, do imaginoso, do sobrenatural, necessitando das excentricidades que se tornaram complexas em forma de cerimónias e de sacrifícios, inclusive humanos, para depois, de natureza animal irracional e, por fim, vegetal, por meio das flores, como preito de amor e de gratidão, de respeito, de súplica...

De tal maneira o inconsciente ficou sobrecarregado do fetiche criado e transferido de uma para outra geração que, mesmo na fase do discernimento, permanecem as heranças dominadoras, induzindo ao temor, ao respeito exagerado, às fugas espectaculares para livrar-se da culpa, resgatando-a por meio de oferendas e de sacrifícios...

O mergulho interior, desmistificando essa miscelânea de condicionamentos e de atavismos de natureza mágica, irá contribuir para o encontro com a religiosidade real, esse sentimento engrandecido que é a identificação com a imago Dei, com a manifestação de Deus.

Certamente, não será o deus antropomórfico - arquetípico, não real - portanto, humanóide, caprichoso, mítico, mas aquele que é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas (*).
Esse conceito está perfeitamente identificado com a definição apresentada pelo filósofo holandês Baruc Spinosa, quando afirma que Deus é a natura naturans.

Desse modo, Deus está além de qualquer conceito que o limite e o transforme em conteúdo, quando, em razão da Sua indecifrável realidade, é o Continente que tudo envolve.

A viagem, portanto, de carácter religioso, desagua no sentimento de religiosidade, de encontro com o divino que se encontra no Si-mesmo, aguardando compreensão e vivência da sua realidade, além de qualquer tipo de culto externo ou de submissão temerária.

Nessa incursão, a mente subtiliza-se e descobre significados desconhecidos que dão motivações à existência para ser vivenciada com alegria e irrestrita confiança nos resultados futuros.

Ao invés de significar uma fuga, uma transferência da imagem do pai para a Divindade, representa o encontro com a Consciência universal, com ela identificando-se e tentando plenificação.

As várias maneiras de realizar a religiosidade mediante a fé, a abnegação, a concentração nos postulados da vida, na prece, na integração solidária nos serviços de beneficência e de caridade, dão sentido à existência física, enriquecendo-a de alegria e de bem-estar pelo prazer de contribuir em favor da satisfação geral, da diminuição do sofrimento, da miséria, das necessidades que assolam em toda parte...
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 21, 2012 9:04 pm

Imediatamente a criatividade, nesse momento, também se expressa grandiosa, numa explosão de imagens que necessitam de ser exteriorizadas, dando lugar à arte que se transforma em poderoso recurso de beleza, traduzindo as fixações que se encontram no inconsciente, transitando das formas grotescas ao classicismo e chegando às profundas manifestações do modernismo, do cubismo, do surrealismo, do abstraccionismo, porque não podem, na pintura, na música, na escultura, por exemplo, ficar contidas no reduzido das formas...

Todo limite que se lhes imponha, impede-lhes a expansão, a libertação dos abismos do inconsciente colectivo.
Em todo período de crise, de indecisão e de perda de significado existencial da sociedade, ocorrem mudanças, algumas radicais, em relação ao já experienciado, ao conhecido, em forma de ânsia de libertação das imposições castradoras anteriores.

Nesse processo inevitável da evolução, todo um expressivo número de artistas conseguiu quebrar os limites impostos pela tradição, para alcançar o além das formas definidoras de conteúdos.

Isso se tornou possível em razão da viagem interior que foram convidados a fazer, após sentirem-se saturados pelo já apresentado, que as modernas conquistas da tecnologia poderiam fazer de maneira perfeita, em cópias iguais, portanto, sem necessidade da sua contribuição pessoal...

Os mais audaciosos detiveram-se, a princípio, rompendo os velhos padrões, no realismo e no impressionismo, para depois darem o grande salto em novas concepções que desvelam o inconsciente de cada qual e abrem campo a novas observações numinosas e psicoterapêuticas libertadoras.

Por intermédio de algumas dessas expressões artísticas, especialmente a pintura, a escultura, a música, pode-se penetrar nos conflitos dos pacientes e, utilizando-se de recursos curativos
algo semelhantes, trabalhar-lhes as causas dos transtornos de conduta e de emoção.

Com essa modificação na arte, particularmente na pintura, mais tarde em outros ramos culminando na música, na escultura, na literatura, no balé, nos mais diversos ramos do conhecimento,
as denominadas realidades objectivas cederam lugar aos conteúdos metafísicos e transcendentais, ampliando as conquistas do pensamento humano sem limite nem forma...

Graças a essa aventura em direcção ao interior, ao inconsciente, a arte se transformou em um fenómeno místico, quase religioso pelo seu significado libertador, sem qualquer vínculo
com denominação, mas dirigido à imensidão do Cosmo e da vida.

Proibidas essas expressões durante o período religioso dominador e restritivo, todas as imagens que vinham desde a remota antiguidade, porque herança do primarismo, os artistas conseguiram romper com os cânones do denominado estético, belo, harmónico, convencionalmente aceitos, demonstrando outras expressões de significados idênticos, de acordo com a visão e a percepção de cada criatura.

O inconcebível pôde ser externado de maneira própria, favorecendo a identificação de novos padrões de beleza.
O que antes era tido como arte moderna de tal maneira se impôs tornando-se natural, que já não se atém às admiráveis expressões sob essa ou aquela denominação, estando presente na condição que lhe é própria, de arte reconhecida e aceita.

O observador consciente e sincero, diante de alguma dessas expressões que romperam com o tradicional, identifica-se além da forma, em mensagens subliminais ou directas, auxiliando-o a melhor entender-se, decifrar-se, em face dos padrões que o limitavam e lhe dificultavam a auto-compreensão, atormentando-o e alienando-o...

Ela provoca, de início, um choque, pela estranheza de que se reveste, em qualquer um dos seus aspectos, na variedade de expressões em que se manifesta, para logo, à medida que 'a atenção a focaliza ou a recebe, produz a identificação do inconsciente que libera informações e faculta a aceitação natural dos seus conteúdos, porque se encontram também nele mesmo.

Costuma-se dizer que a maioria das pinturas da arte contemporânea, expressa angústia, dor, sofrimento, discórdia, luta, o que, de certo modo, é verdade, porquanto, representa a visão da jornada longa da evolução e reflecte a realidade existencial, muitas vezes disfarçada pela hipocrisia ou oculta pelos 'denominados multiplicadores de opinião.

Observemos Guernica, do espanhol Pablo Picasso, e identificaremos a tragédia do bombardeio aéreo sobre a cidade infeliz e a degradação que tomou conta de tudo.
De igual maneira, O Grito, do norueguês Edvard Munch, expressa nessa figura andrógina toda a sua angústia, resultante de uma infância infeliz, de insucessos afectivos, da visão tormentosa de um entardecer de sangue e de fogo, que ele tentou expressar em o Desespero, sem o haver logrado integralmente, o que conseguiu, logo depois, na outra obra que ficou imortal...

Enquanto a ciência dirige-se ao intelecto e a reduzido número de indivíduos, a arte, em face das suas expressões, é mais abrangente, sendo aceita por todos, não importando o nível de cultura ou de sentimento, ou de consciência em que se encontre, porque sempre traduz o que se passa no mundo interior dos seus autores, expressando a mesma ocorrência naqueles que se lhe vinculam.

Esta é também uma forma de enfrentamento com o inconsciente, no que o insigne mestre Jung denominou como a luta mítica contra o dragão, na representação tradicional de S. Jorge, o vitorioso, o herói.

Nada obstante, essa é uma luta antiga realizada pelo Espírito que tem necessidade de superar os impedimentos da matéria em que se ergastula durante o processo da evolução, para desvelar as potências nele adormecidas, o seu deus interno.

O divino em cada um luta inevitavelmente contra o humano, a força transcendente em alerta contra o poder do animal ególatra e escravizador.
Pode-se dizer que se trata de um esforço imenso esse emergir da escuridão da ignorância para a claridade do discernimento e da razão.

É a auto-conquista realizada pelo Self cuja trajectória é interior.
A falta de sentido existencial, portanto, de significado, gera transtornos neuróticos muitas vezes confundidos com outros motivos que seriam os responsáveis pelo desequilíbrio.

Assim, a conquista de objectivo, de um significado básico para a existência é fundamental para o equilíbrio do eixo ego-Self.

Na actualidade generaliza-se essa problemática, definida por Jung, já, no seu tempo, como a neurose geral do nosso tempo, em razão da constatação da inutilidade a que cada indivíduo se atribui, tornando-se quase invisível no meio social onde se encontra.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 21, 2012 9:04 pm

O bem e o mal

Desde quando a razão e a consciência começaram a desenvolver-se no ser humano, a dicotomia do bem e do mal se apresentou de maneira conflitiva.

Antes, no período de vivência no mitológico Jardim do Éden, a inocência não pôde identificar o que significava o bem, o que representava o mal, em razão do estado paradisíaco de total ignorância moral.

No momento em que os impulsos, especialmente os da sexualidade, quebraram a harmonia existente, impondo-se, tudo era natural, porque defluente das necessidades biológicas.

Lentamente, porém, os sentimentos e o discernimento apresentaram-se para estabelecer o que era edificante em relação ao que se fazia perturbador e destrutivo.
Nesse surgimento do Self, percebeu-se a necessidade de estabelecer-se critérios, iniciando-se pela condenação do incesto, proibindo-se e impedindo-se comportamentos que se consideravam perniciosos, dando lugar ao claro-escuro da fronteira entre o bem e o mal.

Com a sucessão do tempo, estabeleceram-se directrizes definidoras do que representa um como o outro valor.
As diversas doutrinas religiosas do oriente e as filosofias do ocidente apresentaram normativas de significação para a felicidade e a vivência do que se considerava o bem em detrimento dos comportamentos que produzem o mal.

O maniqueísmo, por exemplo, criado por Manes, nascido na Pérsia, no século III d.C. depois do aparecimento de um anjo, por duas vezes, levou-o a seleccionar os princípios de algumas doutrinas orientais existentes, do zoroastrismo e do cristianismo, estabelecendo que o bem e o mal estão presentes na vida de todos os indivíduos e que o mundo encontra-se dividido exclusivamente nessas duas constantes, sendo o objectivo da existência a vitória da luz contra a treva, da verdade contra a impostura...

O maniqueísmo espalhou-se com muita facilidade pelo mundo de então, apresentado os dois lados do comportamento em forma de sombra e de claridade, no qual os justos, que a tudo renunciassem, lograriam a plenitude.

Embora o cristianismo, muito antes, mantivesse, de certo modo, a mesma observância, o conceito de Jesus a esse respeito é mais amplo, demonstrando que todas as experiências humanas contribuem para o processo de libertação do ser, da ignorância que nele predomina, sendo o mal uma conjuntura transitória, na qual somente o bem tem prevalência.

O apóstolo Paulo, por sua vez, prescreveu que se deve vencer o mal com o bem.
Essas propostas, especialmente a maniqueísta, ainda em voga, são portadoras de comportamentos fanáticos, definitivos, gerando graves conflitos na cultura, na sociedade, porque, aquilo e aquele que são bons, que representam o bem para determinado segmento humano, são maus para outro...

Condutas consideradas socialmente aceitas e dignas em um povo, recebem reproche de outro, que as tem em condição de agressividade e de primitivismo.

Esses conceitos, portanto, não podem ser considerados de modo absoluto.

O que significa, porém, o bem?
Tudo aquilo que contribui em favor da vida, do seu desenvolvimento ético e moral, a sua construção edificante e propiciadora de satisfações emocionais, é considerado como o bem.

Necessário, no entanto, evitar confundir o de natureza física com a emoção de harmonia, de equilíbrio interior, de felicidade que se adquire por meio de pensamentos, palavras e acções dignificantes, não geradoras de culpa.

O mal, por sua vez, é tudo quanto gera aflição, que se transforma em problema, que trabalha pelo prejuízo de outrem e do grupo social, levando ao desconforto moral, à destruição...

Entretanto, do ponto de vista educacional, se for observada criteriosamente essa ocorrência, poder-se-á constatar que muito mal de determinado momento, administrado correctamente pode transformar-se em grande bem.

Por outro lado, o que pode parecer um mal para determinado indivíduo, proporciona-lhe o despertar da consciência, o caminho que o levará ao auto-descobrimento.

A dificuldade, muitas vezes, em diferenciar-se no íntimo o que é bem e o que é mal, dá origem à sombra, que também tem raízes no ego dominador e arbitrário.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 21, 2012 9:04 pm

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, interrogou os Espíritos superiores, conforme a questão de n° 630:
Como se pode distinguir o bem do mal?

E eles responderam:
"O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus;
o mal, tudo o que lhe é contrário.
Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus.
Fazer o mal é infringi-la."(l)

O ser humano é portador de fenómenos lógicos, que nem sempre sabe discernir, que se apresentam conscientes e inconscientes.

Inicialmente, no processo evolutivo era todo instinto e paixão, adquirindo através do desenvolvimento antropológico da evolução a consciência de si, a conquista da razão, dentro de uma área restrita, que ainda não pôde abarcar a totalidade das ocorrências interiores e emocionais, auxiliando-o no comportamento mais compatível com o estágio de lucidez alcançado.

No seu íntimo estão os desejos do prazer ou gozo e a realidade, conforme as conclusões do eminente Freud.
Esses impulsos dominadores têm, no entanto, que enfrentar a cultura de cada época, os hábitos estabelecidos, os códigos impostos, dando lugar a que as pulsões fossem erradamente consideradas como manifestações demoníacas, forças que o arrastariam para o sofrimento, mais tarde decodificado como o Inferno das religiões castradoras.

Para superar o mal que nele existe, vem-se tornando necessário que estabeleça variados símbolos de transferência ou de projecção, para superar a situação incómoda em que transita.

Por essa razão, os sentimentos perversos do ódio, dos desejos irrefreáveis, dos ciúmes, das ambições desmedidas levam-no a transferi-los para outros indivíduos que passam a figurar como as representações demoníacas ou satânicas, suas adversárias.

É certo que esse mecanismo ocorre de maneira inconsciente, em forma de fuga da situação vigente para a transformação dirigida ao bem que busca inconscientemente.

Nessa visão torpe e insensata, surge a luta feroz, mediante a qual o bem deve destruir o mal, na qual se devem envidar todos os esforços, mesmo os mais infames para a vitória, que não passa de derrota interior, porque os mecanismos da batalha são nefastos, portanto, igualmente maus...

Esse fenómeno sempre ocorre quando se deseja exterminar um adversário, que pode ser um indivíduo como uma raça inteira, uma ideia como um grupo idealista, apresentando-o na condição de personificação demoníaca contra a qual todas as armas podem e devem ser utilizadas a fim de aniquilá-los.

Em realidade, a substituição do mal pelo bem, ainda conforme o conceito paulino, é o mais eficiente recurso para que se estabeleça o equilíbrio emocional no indivíduo e no grupamento no qual se encontra.

Toda vez, quando alguém se põe contra algo ou alguém, é inevitável que se arme, o que se transforma num mal.
Todavia, quando se põe a favor do bem, desarma-se e logo ama, o que modifica totalmente a questão, demonstrando a excelência do seu propósito.

Há uma regra para melhor identificar-se o bem em relação ao mal, que é a utilização do amor em seu sentido amplo e universal, que oferece a resposta mais hábil para a condução equilibrada de si mesmo e o trabalho generalizado em favor de todos.

Nesse momento, alcança-se a consciência moral, que discerne o que se deve e se pode fazer, em relação ao que se pode, mas não se deve fazer, ou se deve, mas não se pode fazer...

Através das reencarnações, o Espírito aprende a compreender o que o auxilia na evolução, o que o entorpece e o retarda, assim identificando os mecanismos poderosos para a libertação da psique do primarismo dos instintos - demónios - ensejando-lhe a claridade do esclarecimento - a angelitude.

A imago Dei, que nele se encontra, traz-lhe a pulsão do bem, da vida, que rompe as camadas grosseiras das tecelagens cerebrais, a fim de expressar-se em pensamentos, palavras e acções, que assinalam o estágio de saúde real ou de patologias defluentes dos comportamentos impostos pelos instintos.

Responsável pelo amplo discernimento, auxilia a racionalizar o mal, mediante a observância dos resultados dele advindos e dos instrumentos que poderiam ter sido utilizados para efeitos mais consentâneos com o bem-estar e o prazer, ao invés da culpa, do arrependimento e da angústia que se lhe instalam no íntimo...

A individuação apresenta-se, a partir desse momento, como todo esse esforço para a união das duas pulsões em uma única expressão de vida, que é aquela encarregada de propiciar harmonia, eliminando ou superando os desvios do passado que respondem pelos sofrimentos e conflitos tanto individuais como colectivos.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 21, 2012 9:04 pm

O estado numinoso, desse modo, resulta da vivência do bem, portanto, simbolicamente da luz, do entendimento, da consciência de si.

A dualidade do bem e do mal no ser humano é fenómeno natural de desenvolvimento da psique, apresentando situações antagónicas, como alto e baixo, belo e feio, claro e escuro, bom e mau, certo e errado...

Jesus, o incomum Psicoterapeuta, utilizou-se de uma bela imagem para essa dualidade quando se referiu ao joio e ao trigo, portanto, àquilo que é danoso na seara e o que é benéfico, porque fomentador de vida.

Ao mesmo tempo, propôs que não se resistisse ao mal, ao que equivale dizer, que através da acção cordial e perseverante, sem entrar em oposição ao pernicioso, consegue-se a situação ideal, a vitória sobre o que é prejudicial.

O bem, portanto, não é ausência do mal, assim como o mal não pode ser considerado como fora do bem, mas experiências que podem ser conduzidas criteriosamente pela consciência para a auto-conquista.

Muitas vezes, em face da ausência de consciência moral, o indivíduo interpreta equivocadamente uma ou outra dessas situações, sendo, portanto, a responsabilidade da escolha conforme o nível de conhecimento, de estrutura moral e espiritual.

Do ponto de vista psicológico, a adopção do bem representa saúde emocional e discernimento moral, ambos propiciadores de bem-estar, dando significado à existência, porquanto, à medida que o indivíduo se educa, disciplinando os impulsos decorrentes do primarismo, experiência verdadeiro estado de plenitude.

Isso não o impede de viver momentos de definição, de dúvida, de incerteza, avançando, porém, na linha direccional do equilíbrio que se impôs.

Pensa-se, erradamente, que a prática do bem impede que o mal se apresente.
Enquanto não for diluído nos painéis do inconsciente, periodicamente ressuma, em forma da fissão da psique, como força demoníaca que deve ser orientada, jamais impedida.

Reconhecer, portanto, a presença do mal no Si-mesmo já é uma forma de identificar o bem.
Igualmente se confunde o não fazer-se o mal como um grande bem, quando, em verdade, não fazer o bem constitui um tremendo mal, não bastando, portanto, apenas deixar-se de o mal praticar.

Toda vez que se pode iluminar, espraiar o trigo generoso e não se realiza esse dever, amplia-se a área de sombra e domina o escalracho prejudicial.

E como regra fundamental, para que ninguém tenha dúvida quanto à vigência de um ou de outro no cotidiano, asseverou Jesus com sabedoria:
Vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos fizessem.
Tudo se resume nisso. Não vos enganareis."
(O Livro dos Espíritos, resposta à questão n° 632).
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 21, 2012 9:05 pm

Os sofrimentos no mundo

A dinâmica da vida estrutura-se nas experiências que capacitam o Self a sua plenificação.

Nesse sentido, o fenómeno dos sofrimentos faz parte inevitável da conjuntura existencial, constituindo mecanismo de valorização do equilíbrio interior como directriz de segurança para a vivência do bem-estar.

Acreditar-se na ausência dos sofrimentos no mundo constitui utopia elaborada pela ilusão decorrente do mito a respeito do paraíso perdido, onde tudo contribuía para a felicidade que, certamente, após vivenciada por longo período se tornaria fastidiosa, desinteressante, pela falta de estímulos para novas conquistas e realizações.

O ser humano tem necessidade de constantes desafios que lhe facultam o desenvolvimento dos recursos não conhecidos, que despertam sob os estigmas do desconforto pessoal, das dores, das incertezas, das lutas propiciadoras de conquistas novas.

A ânsia de liberdade plena, por si mesma, é geradora de sofrimento quando da impossibilidade existente de eleger-se apenas o bem em detrimento do mal, em face dos impulsos primários e das circunstâncias hostis da convivência social, que permanecem ínsitos no inconsciente individual assim como no colectivo...

A estabilidade orgânica, igualmente, é portadora de relatividade muito expressiva, porquanto altera-se a cada momento, pelo processo da renovação celular, das injunções emocionais, dos factores existenciais e reencarnatórios, produzindo os inevitáveis sofrimentos.

Ei-los, portanto, de natureza física, emocional, mental, social, económica e de outras expressões.

Foi a observância desse sofrimento que levou o príncipe Siddhartha Gautama, o Buda, à reflexão de que tudo no mundo é sofrimento, apresentando as suas Quatro nobres verdades, estudando as suas causas e consequências, os mecanismos de libertação e as técnicas da harmonia integral.(2)

Descobrindo a presença da sombra inaceitável para a grande maioria dos seres humanos, ele propôs a compreensão da mesma e sua aceitação, trabalhando o eixo ego-Si-mesmo de maneira a diluí-la, quando causada pelo sofrimento ou do sofrimento gerada.

É normal que o indivíduo se pergunte se é livre para eleger a maneira de viver apenas o bem e, claro, que logo defronta com a resposta em torno dos limites dessa liberdade, como efeito das circunstâncias em que transita no corpo.

A opção negativa apresenta o efeito do sofrimento hoje como o recurso para a conquista do equilíbrio mais tarde.
O denominado mal é uma presença natural no psiquismo, como as experiências negativas do primarismo, que se inscreveram no cerne do ser, definindo os rumos que normalmente se alteram quando a dor se instala e a necessidade de ser feliz apresenta-se em carácter de urgência.

Aí se originam as experiências reencarnacionistas, mediante as quais, em uma existência se reparam os erros da anterior, transformando em conquista o que antes fora prejuízo, aprimorando os sentimentos e desenvolvendo o intelecto, de modo a enriquecer o Self e predispô-lo à real individuação.

Muitos obstáculos, no entanto, surgem, nesse cometimento, derivados da sombra e de outros arquétipos que são construídos durante a vilegiatura evolutiva.

Nesse sentido, a criança maltratada que permanece no ser, continua necessitando do colo de mãe, de apoio, de compreensão, a fim de encontrar a libertação que somente existe no esforço pessoal de cada um ou através da orientação lúcida dos estudiosos do comportamento humano, conhecedores da injunção da sombra, do conflito do anima-us, do ego insatisfeito nos processos psicoterapêuticos especializados...

Enquanto permanecem as ambições infantis, disfarçadas de aspirações do amadurecimento psicológico, os sofrimentos no mundo prosseguem dominando as criaturas em todos os segmentos da sociedade, porque o falso conceito de que bem-estar é ausência de preocupações, de responsabilidades e de enfermidades, predispõe à perda de identidade dos objectivos essenciais à existência, substituídos pelo prazer do imediatismo fisiológico.

Os sofrimentos encontram-se no mundo, porque os Espíritos que o habitam ainda permanecem num período de desenvolvimento ético-moral em que a dor lhes constitui uma necessidade psicológica.

Proceder bem, para não sofrer, cumprir os deveres, a fim de não ser penalizado, trabalhar pelo progresso da sociedade para fruir benefícios, tornou-se uma transferência do Deus-temor ancestral pelo negocismo interesseiro, mediante o qual Deus retribui em bênçãos tudo quanto se faz de bom, punindo severamente quando se pratica o mal.

O mal como o bem são relativos, não podendo ter um carácter de conceituação absolutista, em face dos seus próprios significados, facultando ao discernimento as boas acções como frutíferas para aqueles que as praticam, em razão da satisfação pelo praticá-las e não apenas pelos interesses pessoais em jogo.

Quem conduz perfume impregna-se, da mesma forma como ocorre com aquele que carrega putrefacção...
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 21, 2012 9:05 pm

Quando se opera em termos de saúde emocional e significado psicológico, satisfações profundas ressumam do inconsciente e tomam conta da realidade consciente, estimulando à continuação do comportamento e da plena sintonia com a imago Dei, ampliando o raio de pensamento na direcção de Deus.

Nesse acrisolar do arquétipo divino em si-mesmo, estabelece-se um canal com a Causa Absoluta, proporcionando a conquista do Reino dos Céus, portanto, o não-sofrimento, porque, mesmo um desconforto, uma perda, os prejuízos de uma ou de outra natureza deixam de ter a significação que lhes é atribuída, tendo-se em vista o essencial para a psique, que são as aspirações do belo, do quase inatingível, do transcendente...

Os sofrimentos no mundo, portanto, defluem dos dramas existenciais dos indivíduos em desajuste e em carência afectiva, tresmalhados do rebanho, aguardando que o pastor deixe as demais ovelhas para buscá-los.
É nessa fase conflitiva que o herói adormecido assume a postura do filho pródigo que parte para um país distante, que são as experiências inusitadas, muitas vezes transformando-se em sofrimentos que o trazem de volta ao regaço do pai misericordioso que o aguarda, sempre olhando a estrada que ele deverá percorrer no retorno ao lar.

Por outro lado, podem-se considerar os sofrimentos como talentos que são concedidos para dignificar os seus possuidores que os deverão aplicar de maneira produtiva, mantendo a resignação e a coragem, qual aconteceu no mito de Jó, quando esse, testado e espoliado pela Divindade, permaneceu-Lhe totalmente fiel e confiante.

Ele amava a Deus, não pelo que dEle havia recebido, mas pelo efeito da Sua paternidade.
Apostando com Satã, esse outro mito arquetípico do inconsciente humano, Deus resolveu experimentar Jó para provar que ele Lhe era fiel, e o servo tornou-se digno de receber a recompensa que o levou de volta à paz e à alegria de viver.

Esse Deus, naturalmente antropomórfico, na visão junguiana, é um tremendum, pelo aspecto aterrador que assumiu, quando, na sua antinomia, apresentou a outra face, a da misericórdia e do amor, recompensando aquele que permanecera confiante, mesmo quando o sofrimento alcançara limites quase insuportáveis.

Compreende-se, desse modo, a resistência de muitos indivíduos que, em se encontrando sob tormentos e aflições inomináveis, permanecem confiantes e seguros da misericórdia divina, em face da certeza de que jamais estão abandonados.

Os mártires de todos os tempos, as vítimas dos holocaustos de todas as épocas deram esse testemunho de Jó, mantiveram o Self, na fragmentação individual da Divindade mesma, harmonizando-se e permanecendo em vinculação com Deus.

Encontramos essa antinomia nos dois Testamentos:
no Velho, Deus é inclemente e gosta de ser temido, enquanto que no Novo, é misericordioso e compreensivo, desejando somente ser amado na condição de Pai.

Eis, pois, que se encontra presente no Self essa fissão da psique, aguardando a ocorrência da fusão mediante a superação da sombra pela presença do amor.
Desse modo, o mal não desaparecerá de um para outro momento do mundo, porque ele é o inverso do bem a se transmudar, adquirindo as qualidades do último.

Assim, mesmo, no auge das amarguras, dos desaires, das aflições, de tudo quanto significa o mal gerador dos sofrimentos, existe da luz uma réstia em plena treva (sombra) apresentando a solução, propondo o reencontro com Deus.

Além da consciência do ser, no psiquismo profundo, temporariamente Deus apresenta-se nesse aspecto ambivalente:
o temor e o amor, que atendido pelo Self capaz de discernir, irá fundir-se no amor, no processo de iluminação interior, saindo da sombra existente.

Quando se sabe encarar o sofrimento como uma necessidade de entendimento do ego com todas as suas máscaras, inclusive a do bem aparente, o trágico e o desvalimento transformam-se em alicerce para a construção da realidade humana, no seu sentido divino e transcendente, porque o ser, em si mesmo, é indestrutível, é imortal.

Como valioso contributo para a vitória nesse teste da evolução, a prece, que significa a comunicação com Deus através do pensamento optimista e confiante, proporciona a captação de energias poderosas que dão resistência para as lutas transitórias que se encarregam de eliminar as sucessivas camadas de primitivismo, de paixões asselvajadas em predomínio, diluindo-as até o cerne onde está a imago Dei gentil e pura aguardando ser encontrada para tomar conta do indivíduo todo.

Os sofrimentos, portanto, no mundo, são portadores de variada conceituação, de significados específicos e próprios, dependendo daqueles indivíduos que os experimentam, tornando-se grande mal para uns e superior bem para outros.

Estranham-se, muitas vezes, as resistências morais de que são portadores determinados indivíduos que, postos a provas de sofrimentos inenarráveis, permanecem tranquilos e estóicos, como ocorreu durante o holocausto do povo judeu nas garras impiedosas dos nazistas.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 21, 2012 9:05 pm

Muitas dessas vítimas, após a libertação, ao invés de se deixarem consumir pelo ódio contra os seus algozes, buscaram auxiliá-los e trabalhar pelo renascimento do país. Quando interrogados, afirmaram:
- O ódio não nos trará de volta os afectos assassinados, as alegrias roubadas, a saúde vilipendiada, a vida perdida...
Somente pelo amor poderemos demonstrar que nenhuma força física, política ou social é mais poderosa do que a confiança em Deus...

Dentre muitos desses sobreviventes, um dele de nome o Alegre Gui, que houvera padecido horrores no campo de extermínio de Auschwitz, prosseguiu sorridente e gentil auxiliando o povo que o havia esquecido e aqueles que o haviam infelicitado em hediondos processos de crueldade...

Apesar dessas reflexões, existem indivíduos emocionalmente fragilizados que, diante do sofrimento, vinculados teoricamente a qualquer denominação religiosa, sentem-se defraudados e interrogam, aflitos:
— Por que Deus permite que isso me aconteça?
Onde está Deus que não me vem em socorro?
Será que, realmente, existe Deus?

O seu conceito a respeito da Divindade é mágico, retrocede ao período primário em que o arquétipo do miraculoso predominava no seu inconsciente, a tudo resolvendo, impedindo que acontecessem as experiências iluminativas, ou cujas conquistas podiam ser conseguidas mediante o tráfico de milagres por meio de espórtulas, dízimos, doações materiais...

Pululam ainda hoje na sociedade pacientes portadores dessa estrutura emocional deficitária.
A verdadeira fé, aquela que é racional e se fundamenta na experiência da imortalidade, é a única portadora das resistências morais para os enfrentamentos que se expressam como solidão, sofrimento, silêncio, expectativa, angústia...

Quando qualquer desses fenómenos psicológicos que produzem dor se abatem sobre os portadores de espiritualidade ou de maturidade emocional, ei-los que possuem um reservatório de forças transcendentes que haurem em Deus e logram superar as situações mais perigosas e os acontecimentos mais afugentes e danosos.

É fácil a constatação desse facto, nos enfermos pelos quais se ora, que conseguem, sem saber desse contributo de estranhos, apresentar melhoras nos problemas orgânicos que experienciam.

Quando, por sua vez, oram, adquirem mais resignação, enfrentam a situação de maneira saudável e recuperam-se mais rapidamente.
Por fim, quando se ora por eles, e, tendo conhecimento eles também oram, os efeitos são muito mais imediatos e durante o trânsito da enfermidade as terapias tornam-se mais eficientes.

Compreende-se que, essas pessoas, em face da fé, da força mental de que dão mostras, estimulam os neurónios a produzirem as substâncias propiciadoras do reequilíbrio, da saúde, da harmonia.

Quando Jesus era convidado a curar alguém, Ele sempre interrogava:
- Tu crês que eu te posso curar?
Ou: - Tu queres que eu te cure?

Desse modo, ensejava a contribuição do próprio paciente no processo de recuperação, produzindo neuro peptídeos responsáveis pelo refazimento orgânico, emocional e mesmo psíquico, tornando-se receptivos à força que dEle emanava.

A acção, portanto, da vontade, em qualquer área de comportamento é relevante, por ensejar a produção de neuro comunicadores que promovem a saúde.

A fé religiosa saudável, bem direccionada, também adquire e oferece significado à existência humana, emulando o crente ao prosseguimento dos compromissos que abraça, dignificando-se com os esforços que empreende para ser sempre melhor e numinoso como resultado das disposições internas voltadas para a felicidade.

Os indivíduos dúbios, imaturos psicologicamente, encontram-se despreparados para o sofrimento, sempre esperando que a solução venha do exterior, de outrem, permanecendo na mesma dependência em que transcorre a sua existência, sem o esforço pessoal para a aquisição da consciência lúcida e produtiva.

A medida, portanto, que sejam adquiridas a consciência de si, a compreensão do significado existencial, o dever de superar a sombra após aceitá-la, o sofrimento cede lugar ao estágio de harmonia propiciadora de individuação.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 21, 2012 9:05 pm

A individuação

A busca do significado na existência humana deve expressar-se no rumo da individuação, o que equivale dizer, da própria identidade, que não se circunscreve ao conceito de individualismo, mas de individualidade, que induz ao conhecimento real do que se é e não apenas do que parece ser no turbilhão das exterioridades do ego.

Para o eminente Jung, o criador do termo, o significado é que a existência se realize como individualidade do Self, como perfeita integração do Si-mesmo, da sua totalidade, o que não significa sua perfeição, que constitui um ideal...

Trata-se do esforço que deve ser envidado para que se alcance a perfeita consciência da sua realidade, sem disfarces, como realmente cada um é, sem o conflito de somente apresentar-se com características que não são verdadeiras.

Compreende-se que se trata de um esforço titânico, porque o arquétipo numinoso do Self apresenta-se como um tentame que pode ter repercussão perturbadora inesperada, como no caso, da auto-presunção de desejar tornar-se um super-homem — Ubermensch — conforme sonhado por Frederico Nietzsche, no seu delírio masoquista, ou um homem-deus...

Indispensável evitar-se tais ambições, considerando que a conquista não pode levar a esquecer-se a realidade do ser individual que se é, os limites naturais de humanidade que o caracterizam.

Enquanto o Self é a expressão da divindade interna no ser humano, nessa busca, a da individuação, deve apequenar-se até a postura do ego, tornando-se consciente da sua condição imensurável da psique, sendo, simultaneamente, o seu conteúdo mais significativo e real.

Isso exige um grande confronto em luta contínua com os constructu do inconsciente, eliminando, ou iluminando as pesadas condensações da sombra, das experiências dolorosas umas, infelizes outras, abençoadas algumas e frustrantes diversas...

Trata-se da conquista dos valores que se encontram programados para o vir-a-ser, e que podem ser logrados mediante o esforço de superação sobre o ego, por meio das renúncias e compreensão do significado existencial.

Não se consegue essa meta a golpes aventureirescos, sob entusiasmos e exaltações da persona, porém, mediante conquistas diárias, lentas e seguras, que vão sendo incorporadas ao consciente, na razão que liberta os traumas e conflitos do inconsciente.

Essa individuação pode apresentar-se num conteúdo espiritual, artístico, cultural, científico, de qualquer natureza, porquanto a sua meta é a ampliação da consciência além dos limites habituais em forma de compreensão da vida em todas as suas dimensões.

Isso se dá através das transformações dos conceitos existenciais, conduzindo o indivíduo à superação dos arquétipos perturbadores —persona, sombra, anima-us - em urna consciente integração.

Somente aceitando a vida - a realidade existencial - conforme é, e trabalhando para que se apresente melhor, desenvolvendo o auto-amor - respeito por si mesmo, autotransformação, intelectualização e moralidade - a fim de poder entender e participar da convivência com as demais pessoas.

Essa integração do Self com a realidade confere responsabilidade consciente ao indivíduo que supera as injunções habituais dos percalços das enfermidades, das fugas psicológicas, das transferências da culpa, da criança maltratada, para lograr a maturidade psicológica libertadora.

Através do processo da evolução, houve alienação em referência aos instintos, por castração, por imposições de falsa moral, de reproche ao mundo, o que tornou a consciência distante da realidade, tornando-se necessário agora como impositivo o retorno à compreensão de todos os valores e à conduta saudável das ocorrências do quotidiano.

O desenvolvimento da inteligência contribui de maneira objectiva para a conquista da individuação, mas não através do intelectualismo sem a cooperação da conceituação moral, do sentido ético-filosófico do comportamento.

No conceito junguiano, a individuação plena e total não pode ser conseguida, por motivos óbvios, em face da sua transcendência à consciência, o que significa a momentânea impossibilidade de o Espírito alcançar os horizontes infinitos da perfeição, somente pertencente a Deus.

Dentro desses limites que lhe dizem respeito, a plenitude significa um estado de iluminação e de paz, não de conquista absoluta, na relatividade do seu processo evolutivo.

Cada indivíduo é portador da sua própria programação existencial, trabalhado pelos recursos defluentes das conquistas alcançadas no carreiro das reencarnações, não constituindo a etapa actual o último passo, a situação definitiva, mas sendo, isto sim, um segmento do conjunto que abarcará, um dia, quando conseguir libertar-se do impositivo da evolução.

Todo o seu esforço deve ser direccionado em favor da superação dos impulsos dos instintos agressivos e de natureza egóica, desenvolvendo os sentimentos de identificação com a harmonia e o bem-estar, com os labores da solidariedade que fomenta o progresso de todos, a auto-iluminação.

Desse modo, o Self é específico e individual, embora o seu carácter colectivo, ainda no conceito junguiano, porque representa a unidade que deve ser conquistada como o destino que o aguarda.

Nessa realização individual, o Self reunirá os conteúdos inconscientes aos conscientes, conseguindo uma harmonia que faculta a perfeita lucidez da destinação humana sem os atavismos perturbadores do passado nem as ambições desenfreadas em relação ao futuro.

Esse trabalho é possível, na razão directa em que o mesmo vai penetrando nos depósitos do inconsciente e libertando as fixações e imagens ancestrais, que respondem pela desorientação do indivíduo sempre quando emergem, gerando conflito com a consciência, com os valores éticos estabelecidos, com as necessidades que se impõem.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 21, 2012 9:06 pm

Quando se inicia a identificação desses conteúdos graves, normalmente surgem a angústia, a rejeição de si mesmo, a surpresa com os significados mórbidos e perversos, vulgares e destituídos de sentimento que se encontravam adormecidos, podendo produzir alguns transtornos neuróticos...

No entanto, perseverando-se no objectivo, passa-se a outro nível do inconsciente, com diferentes conteúdos amenos e estimulantes.
É normal que isso tenha lugar, porque toda vez que se mergulha em águas acumuladas, chega-se até aos depósitos de lama, que após vencidos permitem a transparência cristalina do líquido armazenado.

No esforço empreendido, vão-se dando as transformações emocionais e os aspectos da saúde sob os vários ângulos considerada, constituindo grande motivo de prazer e de alegria, ante a perspectiva do encontro com o repouso, a paz, o Nirvana...

Após as primeiras experiências nirvânicas, a sede de progresso, de imortalidade, de sublimação retorna, e o trabalho interior prossegue, porque o repouso absoluto seria a negação da própria vida, a perda de sentido psicológico da evolução.

Não foi por outra razão que Jesus enunciou que o reino dos Céus está dentro de cada indivíduo, propondo a reflexão profunda e a auto-conquista como meios para a libertação das anteriores aquisições alienantes e dos desejos do ego presunçoso.

O conceito, portanto, de individuação, de totalidade, abrange a conquista dos conteúdos possíveis de conscientização, que desaparecem nos significados psicológicos elevados que cada qual estabelece como sua meta existencial.

Esse tentame, naturalmente propõe novos paradigmas de comportamento que surpreendem, porque o novo e desconhecido são sempre motivo de preocupação e de mal entendimento.

Tais paradigmas, no entanto, estão ínsitos no ser, porque são uma visão nova de perspectivas de conduta e de aspiração de vida, interpretação diferenciada do aceito e comum, das circunstâncias caóticas que devem ser modificadas e do esforço pessoal em benefício do equilíbrio geral.

Quando isso não ocorre, estabelece-se a neurose moderna como a que toma conta da sociedade actual.
Esse tipo de transtorno neurótico expressa-se em forma de ansiedade, de insatisfação, de frustração, de desconfiança e de solidão, asfixiando os mais belos ideais da humanidade intelectualizada, tecnologicamente rica e profundamente infeliz em seu sentimento pessoal.

Os efeitos imediatos são as depressões bipolares na área da afectividade, a síndrome do pânico, as fugas hediondas pelo suicídio, pelo homicídio, as opções tormentosas pela violência, pelo estupro, pelo esdrúxulo e primitivo no comportamento para chamar a atenção, em face do desprezo que as suas vítimas sentem por si mesmas.

Ante a impossibilidade de considerar a sua valorização pelos significados nobres, assume as agressivas posturas que lhes atendem ao desconforto interior, tornando-se temíveis, por saber que não são amadas, em carência profunda e em estado de infância abandonada...

Desse modo, a busca da individuação é também a maneira psicológica de encontrar-se o melhor meio para o bom relacionamento com o Si-mesmo, com o outro, com a sociedade.

Não se pode viver de maneira saudável sem considerar-se a presença de outrem no contexto social, sendo, por sua vez, o outro daquele...

Algo somente passa a ter existência real na consciência quando é pela mesma detectado.
Observar-se algo ou alguém é também ser observado por esse objecto ou pessoa em observação.

Inevitavelmente, nesse momento, dá-se um relacionamento, um descobrimento do outro, a necessidade de intercâmbio com ele, a sua convivência, que constituem a forma de cada qual existir e ter valor no mundo.

Por tal motivo, o isolamento, o distanciamento da sociedade sob a justificativa de encontrar Deus e melhor servi-lO, oculta uma alienação defluente de algum conflito forte em relação ao próximo, uma agarofobia que pode ter razão profunda na libido atormentada, na culpa mal disfarçada.

A fuga do mundo não impede que o indivíduo se leve até onde for procurar esconder-se.

No início da divulgação da doutrina cristã, especialmente no século III d.C. houve uma epidemia de eremitas, de pessoas que buscavam a solidão, de processos autopunitivos ou de busca pela autoflagelação, caracterizando a morbidez da cultura e o alto índice de tormentos que assolavam a ética e a sociedade que se comprazia no deboche e nos absurdos de conduta, fugindo para a libertação dos conflitos.

Infelizmente, porém, tornaram-se mais exemplos de inutilidade e de egoísmo do que de serviço ao bem, às propostas de Jesus, que optou pela convivência com os infelizes, a fim de ajudá-los a libertar-se de si mesmos, das suas misérias, das suas dores.

Convivendo com a ralé, manteve a sua aristocracia espiritual, demonstrando o mais elevado nível de individuação, do Self totalizado e em integração perfeita com Deus, em nome de Quem viera para amar e ensinar a conquista da saúde total e da felicidade às criaturas, constituindo-se o mais elevado exemplo de vitória sobre as circunstâncias e ocorrências de que se tem notícias.

Seguir-Lhe o exemplo, reflexionar nas Suas palavras e, sobretudo nos Seus exemplos, é a mais segura directriz para encontrar-se a individuação.
Mediante a conquista da individuação, a fissão da psique torna-se unidade.

(*) Questão n° 1 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, 29a . edição da FEB.
(1) Todas as citações nossas a respeito de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, estão presentes na 29a . edição da FEB.
(2) Plenitude, de nossa autoria espiritual. LEAL Editora.
Notas da autora espiritual.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 22, 2012 9:21 pm

09 - BUSCA INTERIOR
Identificando o inconsciente
Fé e religião
Pensamento e acção


O mundo objectivo, a realidade das sensações exercem um poderoso controlo sobre a psique humana, em face das restrições e condicionamentos defluentes dos seus significados.

Encarcerado o Self nos condutos cerebrais pelos quais se expressa, na infância registra ocorrências que serão as matrizes do seu comportamento, dando lugar às manifestações de equilíbrio ou desarmonia que acompanharão o indivíduo por toda a existência.

Em razão da anterioridade ao corpo, traz, também, armazenados no perispírito os contributos das vivências passadas, que se manifestam desde cedo, como tendências, aptidões, anseios ou conflitos, inquietações, impulsos autodestrutivos, de sublimação e complexos de comportamentos que irão tipificar o ser humano.

Carregando, no entanto, ínsita no cerne das estruturas energéticas desse mesmo Self, a imago Dei, lentamente indu-lo às conquistas dos espaços, à ampliação do entendimento de si mesmo e dos outros, à saída dos contornos limitados da organização cerebral, às percepções de outras realidades, incluindo as de natureza paranormal, que muitas vezes encontram-se fixadas na super-consciência, facultando a descoberta do mundo da energia com as suas variações surpreendentes.

Fenómenos incomuns, inabituais surgem na infância, estados paroxísticos apresentam-se espontâneos, alucinações surpreendentes ocorrem, durante toda a existência, chamando a atenção para a vida em outras dimensões.

A força, porém, incoercível, da matéria e dos seus implementos, os condicionamentos orgânicos e os mecanismos convencionais da educação e do conhecido, criam embaraços a essas manifestações, produzindo recalques e castrações, quando não produzem os fenómenos do pavor e os conflitos psicológicos que empurram para alienações e desastres de conduta.

Ocorre, porém, que a mediunidade é uma faculdade orgânica inerente a todos os indivíduos, conforme a definiu com segurança o mestre Allan Kardec, estabelecendo metodologias e disciplinas de educação e aprofundamento das suas expressões.

A vida, em consequência, rompe a barreira do mundo físico e das suas manifestações para expressar-se em toda a sua plenitude como de natureza energética ou espiritual, constituindo a realidade pulsante de onde emerge a de formação material, por onde o Espírito transita muitas vezes, em períodos breves estabelecidos entre o berço e o túmulo.

A psicologia analítica não pode negar-se a uma investigação honesta em torno do tema, considerando as próprias experiências paranormais de que foi objecto o eminente neurologista e psiquiatra Jung, conforme as suas próprias narrações e todos os tumultos em que esteve envolvido, atraído pelo invisível e resistente ao seu apelo irrefreável.

Foi necessário que uma enfermidade fizesse-o diminuir o controlo sobre a consciência, a própria resistência, a fim de, logo depois, escrever a sua Resposta a Jó, realizando a extraordinária façanha quase que de uma só vez, informando que se sentiu pegar o espírito pelo cangote (que) foi o modo pelo qual este livro nasceu.

Outras marcantes experiências levaram-no a interessar-se pela fenomenologia mediúnica, sendo ele próprio instrumento constante para a sua ocorrência, especialmente quando, na Inglaterra, passando fins de semana numa residência assombrada no ano de 1920, confessou o estado de ansiedade que o dominava à noite, quando ocorriam diversas manifestações estranhas, ruídos que se assemelhavam ao roçar da seda e ao gotejamento.

Entretanto, foi nessa ocasião que observou uma aparição, à distância de cinquenta centímetros, sobre um travesseiro, que era a cabeça de uma mulher, em constituição semi-sólida com um dos olhos semiaberto que nele se fixava.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 22, 2012 9:21 pm

Ao término do fenómeno, que se prolongou por alguns minutos, ele acendeu uma vela e ficou o resto da noite sentado em uma poltrona meditando.

Mas essa foi, somente, uma das muitas ocorrências parapsíquicas que lhe sucederam durante a existência desde a infância, devendo-se recordar que a sua genitora havia sido médium, e que o seu avô referia-se ao aparecimento da esposa desencarnada, que se sentava numa poltrona que mantinha no seu gabinete e lhe ditava alguns dos sermões.

Ainda, segundo informações de sua secretária Aniela Jaffé, o grande pesquisador participou, conforme fizera antes com sua prima, no começo da sua carreira, de experimentos com o extraordinário investigar Schrenck-Notzing, tendo como médium o famoso Rudi Schneider, que produzia fenómenos de materialização.

Isso durante o ano de 1920.
Mais tarde, em 1930, assistiu a outras experiências de materialização com o referido investigador e outros cientistas.

Em decorrência de muitas reflexões nesse campo, acentuou, oportunamente:
Se, de um lado, nossas faculdades críticas duvidam de todo caso individual de aspecto espírita, somos, contudo, incapazes de demonstrar um caso sequer da não-existência de Espíritos.

Devemos, por esse motivo, limitar-nos, a esse respeito, a julgamento non liquet, ou seja, não está claro, a coisa oferece dúvida, não está bem esclarecida, há necessidade de maiores informações.

Noutra oportunidade, escreveu: Embora eu nunca tenha feito qualquer notável pesquisa original nesse campo (psíquico), não hesito em declarar que observei uma quantidade suficiente de tais fenómenos (participando, então, das surpreendentes pesquisas do barão Albert Schrenck-Notzing), que me convenceram inteiramente de sua realidade.

Não pôde Jung dedicar-se a esse campo experimental porque a sua tarefa científica era outra, à qual deu toda a existência, abrindo horizontes quase infinitos para a psique, em favor da construção da psicologia analítica, muitas vezes combatida com vigor pelos adversários gratuitos de todas as ideias novas.

O espaço das pesquisas ficou em aberto para os seguidores e discípulos do valoroso mestre do estudo da realidade esmagadora, procedendo a pesquisas exaustivas, nele mesmo e nos seus pacientes, para mergulhar mais no contexto histórico e psicológico da vida.

A mediunidade, inerente a todos os seres humanos, em diferenciado grau de desenvolvimento, influi no comportamento do ser psicológico, dando lugar a conflitos parapsíquicos, muitas vezes interpretados como pertencentes à realidade objectiva.

O ser humano é, desse modo, muito mais complexo do que a dualidade psique-corpo, mente-matéria, nele se encontrando o Espírito imortal e o seu envoltório perispiritual encarregado da
modelagem das formas físicas nas multifárias reencarnações.

Mediante a visão espiritual do ser, muitos conceitos junguianos encontram confirmação de alto significado, por estarem centrados na realidade subjectiva expressa por intermédio da vasta fenomenologia mediúnica e pela conjuntura de ser o indivíduo possuidor de recursos não próprios, que se lhe associam mediante o intercâmbio com outros seres desencarnados que o cercam e que
fazem parte do seu comportamento psíquico, emocional e físico.

A busca interior não se pode deter na periferia da realidade física, mas penetrar no cerne do ser e das suas faculdades, ampliando o elenco de realizações com a visão do indivíduo indimensional, o Self com os seus atributos divinos.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 22, 2012 9:21 pm

Identificando o inconsciente

A nossa abordagem a respeito do inconsciente, no presente item, refere-se ao colectivo e não ao individual, onde se encontram os mais antigos arquétipos e se sediam inúmeras emoções, como o medo, a angústia, a ansiedade, a vida e a morte...

Esse inconsciente encontra-se nas camadas mais profundas da psique, constituindo-se os arquivos mais significativos e duradouros de que se têm notícias.
Abarcando o conhecimento geral dos acontecimentos do passado, responde por inúmeros conflitos que assaltam a criatura humana, revelando-se, especialmente, nos sonhos repetitivos, simbólicos e representativos de figuras ou factos mitológicos, cuja interpretação, além de complexa, constitui um grande desafio.

A psicologia analítica, através do seu fundador, nele deposita a existência dos arquétipos, especialmente do Self animal us, ego, persona, psicóide, sendo, realmente desconhecido, tendo também um carácter de um constructu energético não localizado, sendo, em últimas palavras uma hipótese, pela imensa dificuldade de demonstrá-lo de maneira concreta...

O conceito do inconsciente, de alguma forma, nessa significação, é muito antigo, do ponto de vista filosófico desde Plotino, passando por Platão, na antiguidade, e prosseguindo com Leibnitz, Goethe e outros pensadores de ontem como da actualidade.

A sua observação não pode ser realizada de forma objectiva, mas somente penetrada nas suas estruturas, psiquicamente, quando se lhe detecta o essencial.

Não pode ser constatado, mas aceito por conclusão, o que também não tem como ser negado.
A sua concepção por Jung, foi resultado da lógica de que existindo uma consciência, haveria, por efeito, um inconsciente qual satélite girando em torno de um foco central...

É ele o responsável pelas imposições sobre a consciência, comandando-a quase, assim dando lugar à existência dos arquétipos, que são as suas seguras manifestações.

Enquanto a consciência é apenas uma pequena parte da realidade, ele é a quase totalidade na orientação do ser humano.
Numa análise moderna, tendo por alicerce os conceitos reencarnacionistas, pode-se afirmar que essas fixações, que pertenceriam aos tempos passados, também resultam de experiências que foram vividas pelo Self, nas épocas e situações, nos povos e culturas que têm arquivados e periodicamente expressa.

Como o Self tem sua realidade além do tempo, é mortal no corpo e imortal após ou antes do corpo, ei-lo que preserva os acontecimentos em que esteve envolvido, mantendo uma camada de olvido em cada renascimento, no entanto, portadora de recursos libertadores das impressões mais fortes, que nele se apresentam como conflitos e perplexidades, distúrbios de conduta, estados fóbicos, mas também afectividade, idealismo, significação...

Nos processos psicoterapêuticos de regressão de memória a existências passadas, por exemplo, ressumam desses arquivos as vivências perturbadoras, os factos causadores de traumas e de sofrimentos que, após a catarse e o diálogo saudável entre o paciente e o especialista, se diluem, libertando a consciência do objecto de desequilíbrio.

O inverso também é verdadeiro, porque o arquivo, em si mesmo, é neutro.
Existem gráficos edificantes, realizações enobrecedoras que ficaram interrompidas com a morte, anseios não realizados, porém, de vital importância para o ser e sua realidade.

Essas imagens primordiais, conforme as denominou Jung no começo das suas investigações, possuem grande força de expressão, porque umas são lembranças doridas recalcadas e impedidas de manifestar-se, por atentatórias aos valores éticos aceitos, dando lugar a inquietações e sofrimentos.

Outras, por sua vez, são também imperiosas pelas propostas de dignificação e de acções que constroem o bem interior e ajudam no desenvolvimento da comunidade humana.
Na abrangência do conceito reencarnacionista e todo o seu conteúdo de lembranças arquivadas, mas não mortas, a existência actual de cada indivíduo é sempre o somatório daquelas vivências que necessitam de liberação.

Não poucas reaparecem como tendências e aptidões guiando o Self e o ego, que também lhes sofrem as influências, conforme a natureza de cada facto que representam.
Nos sonhos, e através da imaginação activa, consegue-se encontrar os símbolos representativos que, em se tornando conscientes, liberam o indivíduo da sua incidência e da acção morbosa da representação onírica portadora de conflitos.

Examine-se, por exemplo, a questão da homossexualidade, que tem raízes em múltiplas vivências do Self, ora num como noutro corpo anatomicamente masculino ou feminino, preservando as emoções de um como do outro equipamento.

Por outro lado, a culpa, o pavor, a timidez, que têm raízes próximas a partir da vida intra-uterina - consciente individual - procedem, quase sempre, de atitudes indignas que foram praticadas em existências transactas, passando ignoradas por todas as pessoas menos por seu autor, que os transferiu, na condição de conflito, de uma para outra existência corporal.

As tendências para o bem, o bom, o belo, o santo, em pessoas de procedência humílima, nascidas em situações deploráveis, com ascendentes genéticos perniciosos ou incapazes de produzir seres bem-equipados para a vida, apresentando génios, heróis e missionários de diversos tipos, que se tornam promotores da humanidade pelos seus exemplos, sua dedicação ao ideal que esposam, seus sacrifícios homéricos em clima de felicidade merecem reflexões mais profundas.

A proposta da reencarnação torna-se, pelo menos, uma possibilidade a considerar, qual ocorre nos fenómenos da simpatia, da antipatia, em muitos casos de sincronicidade, de premonição, nos sonhos proféticos...
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 22, 2012 9:22 pm

Tenham-se em mente os indivíduos belicosos, que descendem de famílias pacíficas, assim como os privilegiados pela capacidade de adquirir e multiplicar conhecimentos, habilidades, expressões de sabedoria e de arte, de tecnologia e de pensamento, com antecedentes em indivíduos broncos, senão incapazes alguns e se verificarão evidências de vida-antes-da-vida...

Estudem-se em comparação sincrónica as vidas de Alexandre Magno, Júlio César e de Napoleão Bonaparte, e se encontrará o mesmo SELF ambicioso, conquistador, inquieto, modificando as estruturas geográficas e históricas da Humanidade.

Por outro lado, examinem-se as vidas de Hipócrates, de Paracelso e de Samuel Hahnemann, na luta sacrificial em favor da saúde e se poderá encontrar o SELF missionário, trabalhando a ciência médica, modernizando o conhecimento num processo progressista, com destino de abnegação e serviço proporcionadores do equilíbrio psicofísico e do bem-estar.

Graças aos seus contributos as doenças passaram a merecer cuidados e providências curativas, tornando a existência mais apetecível e menos sofrida.

Há um encadeamento intérmino em todos os fenómenos da Natureza, desde a formação das primeiras moléculas, suas aglutinações e complexidades até a transcendência do ser, da vida, de todas as ocorrências.

A visão do caos como caos é incorrecta, em razão de nele haver algum tipo de ordem, de determinismo, de programação...

O ser humano é imanente e é transcendente.
À medida que o seu super-consciente mantém as ainda não detectadas possibilidades de sintonia com o divino, registrando o psiquismo da vida, o inconsciente individual preserva as experiências da actual jornada, enquanto o colectivo arquiva as lembranças de todas as vivências pretéritas.

Os exercícios de meditação, os treinamentos da yoga, as leituras edificantes com as consequentes fixações e reflexões, a oração bem-direccionada e frequente constituem mecanismos seguros de penetração no inconsciente, nele diluindo impressões infelizes, estimulando lembranças honoráveis, enquanto se abrem as comportas do super-consciente para a captação das forças sublimes da Paternidade divina.

Sem dúvida, vive-se mais sob a acção dos fenómenos automáticos, das imposições do inconsciente, em face da necessidade de liberação dos factores de perturbação, que necessitam da catarse libertadora, a benefício da lucidez e plenitude do Self, da aceitação da sombra, da harmonia do anima-us, rumando-se em direcção da felicidade.

Afirmava Séneca: O sofrimento faz mal, mas não é um mal.
A existência do sofrimento radica-se nas acções inescrupulosas praticadas pelo Espírito, dando lugar à culpa e, por consequência, aos efeitos morais dela defluentes, nos atentados aos códigos de harmonia que vigem no universo.

Na impossibilidade de se evitar o mal, porque é um efeito, por não se poder retroceder no tempo, a fim de impedir-lhe a causa, tem-se, pelo menos, o dever de utilizar-lhe a ocorrência em proveito da aprendizagem pessoal, a fim de mudar-se o comportamento, de seleccionar-se o melhor método para a produção da harmonia e do bem-estar, portanto, da felicidade a que se aspira.

Todos anelam e lutam pela conquista da felicidade, quase desconhecida pelo inconsciente, mesmo quando se impondo sofrimentos na expectativa das sensações posteriores que representam alegria e serenidade.

Nessa visão, a felicidade tem um aspecto masoquista que deve ser evitado, porque o prazer não pode estruturar-se, primeiro, no desconforto como propiciatório àquela.
Em sânscrito, existe a palavra sukha, tendo como significado um estado de harmonia, de nirvana, que liberta da ignorância da verdade, abrindo espaço para a sabedoria, para o entendimento das leis geradoras de equilíbrio e de plenitude.

Enquanto o inconsciente permaneça ignorado pelo ego, que se atribua a capacidade de impor-se ao Self, na tormentosa ambição do poder e do prazer, serão liberadas impressões destrutivas, porque tormentosas, insustentáveis.

É impositivo primordial para a saúde a penetração do ser consciente nos arquivos do inconsciente, equipado, no entanto, de entendimento e de valor moral, a fim de auto-enfrentar-se, não se permitindo o surgimento de conflitos pelo descobrir-se como realmente se é e não conforme se pensa ou se projecta para o mundo exterior.

A psicologia espírita, utilizando-se do paradigma da imortalidade para explicar o ser real e todas as suas mazelas e grandezas, propõe o esforço bem-direccionado pelo bem-fazer, pelo fazer-se bem, na utilização do amor, da compaixão, da benevolência em relação a todos e a si mesmo, que são recursos valiosos para a integração do eixo ego-Self, a conquista de sukha.

«Não se trata aqui de fazer o bem para ganhar o céu, ou de praticar-se a caridade para lograr-se a salvação.

Céu e salvação encontram-se ínsitos no ato de realizar o melhor em favor de si mesmo e do seu próximo, isto porque, a satisfação com que se administram valores de bondade, de ternura, distribuindo-se alegria e generosidade, já constitui a almejada felicidade.

Feliz, portanto, é todo aquele que reparte com prazer, multiplicando os talentos com que foi enriquecido pelo Senhor da Vida, despertando do letargo para voltar para casa, retornando do país longínquo, mesmo que algo destroçado, abrindo-se à aceitação do amor do Pai, sempre generoso, e do irmão mais velho, que se encontra no inconsciente em forma de mágoas e reservas, desconfianças e insatisfações em relação ao herói de volta.

Desse modo, liberar o irmão mais velho do ressentimento e da insegurança que lhe são habituais em relação aos propósitos do outro filho de seu pai, que somente agora descobriu a ventura e está trabalhando para anular o passado - sublimar as lembranças do inconsciente - transferindo-o para a consciência e avançando na direcção do super-consciente, onde foram depositados os talentos que se estão multiplicando.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122635
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis - Página 3 Empty Re: Série Psicológica Vol. 15 - Em Busca da Verdade/Joanna de Angelis

Mensagem  Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Página 3 de 4 Anterior  1, 2, 3, 4  Seguinte

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos