LUZ ESPÍRITA
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Série Psicológica Vol. 5 - O Ser Consciente - Joanna de Angelis

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 08, 2012 8:42 pm

O SER CONSCIENTE
DIVALDO P. FRANCO

DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS

Série Psicológica Vol. 5

ÍNDICE
O Ser Consciente

PRIMEIRA PARTE - A QUARTA FORÇA

CAPÍTULO 1 = A quarta força
CAPÍTULO 2 = Definição e conceito
CAPÍTULO 3 = O homem psicológico maduro
CAPÍTULO 4 = Modelos e paradigmas
CAPÍTULO 5 = A nova estrutura do ser humano

SEGUNDA PARTE - SER E PESSOA
CAPÍTULO 6 = A pessoa
CAPÍTULO 7 = Factores de desequilíbrio
CAPÍTULO 8 = Condições de progresso e harmonia

TERCEIRA PARTE - PROBLEMAS E DESAFIOS
CAPÍTULO 9 = Êxito e fracasso
CAPÍTULO 10 = Dificuldades do ego
CAPÍTULO 11 = Neurose

QUARTA PARTE - FACTORES DE DESINTEGRAÇÃO DA PERSONALIDADE
CAPÍTULO 12 = Auto compaixão
CAPÍTULO 13 = Queixas
CAPÍTULO 14 = Comportamentos exóticos

QUINTA PARTE - PROBLEMAS HUMANOS
CAPÍTULO 15 = Problemas Humanos
CAPÍTULO 16 = Gigantes da alma
CAPÍTULO 17 = Ressentimento
CAPÍTULO 18 = Ciúme
CAPÍTULO 19 = Inveja
CAPÍTULO 20 = Necessidade de valorização
CAPÍTULO 21 = Padrões de comportamento: mudanças

SEXTA PARTE – CONDICIONAMENTOS
CAPÍTULO 22 = O bem e o mal
CAPÍTULO 23 = Paixão e libertação psicológica
CAPÍTULO 24 = Enfermidade e cura

SÉTIMA PARTE - A CONQUISTA DO SELF
CAPÍTULO 25 = A Conquista do Self
CAPÍTULO 26 = Mecanismos de fuga do ego
CAPÍTULO 27 = Medo e morte
CAPÍTULO 28 = Referenciais para a identificação do si

OITAVA PARTE - SILÊNCIO INTERIOR
CAPÍTULO 29 = Silêncio Interior
CAPÍTULO 30 = Desidentificação
CAPÍTULO 31 = Libertação dos conteúdos negativos
CAPÍTULO 32 = O Essencial

NONA PARTE - A FELICIDADE
CAPÍTULO 33 = Prazer e gozo
CAPÍTULO 34 = Felicidade em si mesma
CAPÍTULO 35 = Condições de felicidade
CAPÍTULO 36 = Plenificação pela felicidade

DÉCIMA PARTE - CONQUISTA DE SI MESMO
CAPÍTULO 37 = O homem consciente
CAPÍTULO 38 = Ter e ser
CAPÍTULO 39 = A conquista de si mesmo


Última edição por Ave sem Ninho em Sáb Dez 23, 2023 10:05 pm, editado 4 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 08, 2012 8:43 pm

O Ser Consciente

Esmagado por conflitos que não amainam de intensidade, o homem moderno procura mecanismos escapistas, em vãs tentativas de driblar as aflições transferindo-se para os sectores do êxito exterior, do aplauso e da admiração social, embora os sentimentos permaneçam agrilhoados e ferreteados pela angústia e pela insatisfação.

As realizações externas podem acalmar as ansiedades do coração, momentaneamente, não, porem, erradicá-las, razão por que o triunfo externo não apazigua interiormente.
Condicionado para a conquista das coisas, na concepção da meta plenificadora, o indivíduo procura soterrar os conflitos sob as preocupações contínuas, mantendo-os, no entanto, vivos e pulsantes, até quando ressumam e sobrepõem-se a todos os disfarces, desencadeando novos sofrimentos e perturbações devastadoras.

O homem pode e deve ser considerado como sendo sua própria mente.
Aquilo que cultiva no campo íntimo, ou que o propele com insistência a realizações, constitui a sua essência e legitimidade, que devem ser estudadas pacientemente, a fim de poder enfrentar os paradoxos existenciais — parecer e ser — as inquietações e tendências que o comandam, estabelecendo os paradigmas correctos para a jornada, liberado dos choques interiores em relação ao comportamento externo.

Ignorar uma situação não significa eliminá-la ou superá-la.
Tal postura permite que os seus factores constitutivos cresçam e se desenvolvam, até o momento em que se tornam insustentáveis, chamando a atenção para enfrentá-los.

O mesmo ocorre com os conflitos psicológicos.
Estão presentes no homem, que, invariavelmente, não lhes dá valor, evitando deter-se neles, analisar a própria fragilidade, de modo a encontrar os recursos que lhe facultem diluí-los.

Enraizados profundamente, apresentam-se na consciência sob disfarces diferentes, desde os simples complexos de inferioridade, os narcisismos, a agressividade, a culpa, a timidez, até os estados graves de alienação mental.

Todo conflito gera insegurança, que se expressa multifacetadamente, respondendo por inomináveis comportamentos nas sombras do medo e das condutas compulsivas.

Suas vítimas padecem situações muito afugentes, tombando no abandono de si mesmas, quando as resistências disponíveis se exaurem.
O ser consciente deve trabalhar-se sempre, partindo do ponto inicial da sua realidade psicológica, aceitando-se como é e aprimorando-se sem cessar.

Somente consegue essa lucidez aquele que se auto-analise, disposto a encontrar-se sem máscara, sem deterioração.
Para isso, não se julga, nem se justifica, não se acusa nem se culpa. apenas descobre-se.
À identificação segue-se o trabalho da transformação interior para melhor, utilizando-se dos instrumentos do auto-amor, da auto-estima, da oração que estimula a capacidade de discernimento, da relaxação que libera das tensões, da meditação que faculta o crescimento interior.

O auto-amor ensina-o a encontrar-se e desvela os potenciais de força íntima nele jacentes.
A auto-estima leva-o à fraternidade, ao convívio saudável com o seu próximo, igualmente necessitado.
A oração amplia-lhe a faculdade de entendimento da existência e da Vida real.

A relaxação proporciona-lhe harmonia, horizontes largos para a movimentação.
A meditação ajuda-o a crescer de dentro para fora, realizando-se em amplitude e abrindo-lhe a percepção para os estados alterados de consciência.
O auto-conhecimento se torna uma necessidade prioritária na programática existencial da criatura.

Quem o posterga, não se realiza satisfatoriamente, porque permanece perdido em um espaço escuro, ignorado dentro de si mesmo.
Foi necessário que surgissem a Psicologia Transpessoal e outras áreas doutrinárias com paradigmas bem definidos a respeito do ser humano integral, para que se pudesse propor à vida melhores momentos e mais amplas perspectivas de felicidade.

A contribuição da Parapsicologia, da Psicobiofísica, da Psicotrónica, ampliou os horizontes do homem, propiciou-lhe o encontro com outras dimensões da vida e possibilidades extrafísicas de realização, que permaneciam soterradas sob os escombros do inconsciente profundo, ou adormecidas nos alicerces da Consciência.

Antes, porém, de todas essas disciplinas psicológicas e doutrinas parapsíquicas, o Espiritismo descortinou para a criatura a valiosa possibilidade de ser consciente, concitando-a ao auto-encontro e à autodescoberta a respeito da vida além dos estreitos limites materiais.

Perfeitamente identificado com os elevados objectivos da existência terrestre do ser humano, Allan Kardec questionou os Espíritos Benfeitores.

“Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atracção do mal?”

Eles responderam:
“— Um sábio da Antiguidade vo-lo disse.
Conhece-te a ti mesmo.”(*)
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 08, 2012 8:43 pm

Comentando a resposta, Santo Agostinho, Espírito, entre outras considerações explicitou:
“... O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual.
Mas, direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo?
Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis?
O avarento se considera apenas económico e previdente;
o orgulhoso julga que em si só há dignidade.
Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos.
Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas acções, inquiri como a qualificaríeis se praticada por outra pessoa... “

“E prosseguiu:
“... dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros, e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas.
Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.”

Na análise diária e contínua dos actos, o auto e o alo-amor serão decisivos para a avaliação.
A oração e a meditação irão constituir recurso complementar para afixação das conquistas.

Quem ora, fala;
quem medita, ouve, dispondo dos recursos para exteriorizar-se e interiorizar-se.
Há, no entanto, estruturas psicológicas muito frágeis ou assinaladas por distúrbios de comportamento grave.

Nesses casos, urge o concurso da Ciência Espírita, com as terapias profundas que dispõe;
e, de acordo com a intensidade do distúrbio, torna-se necessária a ajuda do psicoterapeuta, conforme a especificidade do problema, que será equacionado pela Psicologia, pela Psicanálise ou pela Psiquiatria.

Em muitos conflitos humanos, entretanto, ocorrem interferências espirituais variadas, gerando quadros de obsessões complexas, para os quais somente as técnicas espíritas alcançam os resultados desejados, por se tratarem, esses agentes perturbadores, de Entidades extracorpóreas, porém portadores dos mesmos potenciais das suas vítimas:
sentimentos e emoções, inteligência e lucidez, experiências e vidas.

*

O ser consciente é austero, mas sem carranca;
é jovial, porém sem vulgaridade;
é complacente, no entanto sem conivência;
é bondoso, todavia sem anuência com o erro.
Ajuda e promove aquele que lhe recebe o socorro, seguindo adiante sem cobrar retribuição.

É responsável, e não se permite o vão repouso enquanto o dever o aguarda.
Conhecendo suas possibilidades, coloca-as em acção sempre que necessário, aberto ao amor e ao bem.
Só o amadurecimento psicológico, através das experiências vividas, libera a consciência do ser;
e, ao consegui-la, ei-lo feliz, conquistando a Terra da Promissão bíblica.


*

Este modesto livro, que ora trazemos à análise do caro Leitor, pretende, sem presunção, auxiliá-lo na conquista da consciência.
Não apresenta qualquer técnica nova ou milagrosa. Estuda algumas problemáticas humanas à luz da Quarta Força em Psicologia, colocando uma ponte na direcção da Doutrina Espírita, que é portadora de uma visão profunda e integral do ser.

Confiamos que será útil a alguém que se encontre aflito ou fugindo de si mesmo, ajudando-o na solução do seu problema, e isto nos Compensará plenamente.

Salvador, 19 de maio de 1993.

Joanna de Ângelis

(*) O Livro dos Espíritos. 29ª edição da FEB. Questão 919.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 08, 2012 8:43 pm

PRIMEIRA PARTE - A QUARTA FORÇA

1 - A quarta força

Os estudiosos da criatura humana, embora os rígidos controles exercidos pelas conquistas freudianas, anelavam por ampliar os horizontes da compreensão em torno de fenómenos complexos e abrangentes, transumanos, capazes de elucidar problemas profundos da personalidade.

As explicações junguianas amplas, procurando enfeixar nos arquétipos todas as ocorrências da paranormalidade, deixaram espaços para reformulações de conceitos e especulações que se libertam dos modelos e paradigmas académicos, atendendo com mais cuidado, e observações menos ortodoxas, os acontecimentos desprezados, por considerados patológicos ou fraudulentos.

Vez que outra, surgiram ensaios e tentativas de ampliação de conteúdos, como efeito das experiências de Rhine, Wilber, Grof, Kübler Ross, Moody Jr., Maslow, Walsh, Vaughan, Assagioli, Capra e outros corajosos pioneiros, que se preocuparam em ir além dos padrões estabelecidos, penetrando a sonda da investigação no inconsciente e concluindo por novas realidades, antes execradas, lentamente acumulando dados capazes de suportar refutação, critica e desprezo.

Era necessário revisar o potencial humano em toda a sua complexidade, sem preconceitos nem receios.

As teorias apressadas, que pretendiam reduzir a alma a um epifenómeno de vida efémera, vinham sendo superadas pelas pesquisas de laboratório na área da Parapsicologia, da Psicobiofisica, da Psicotrónica e da Ciência Espírita, cujos dados valiosos avolumaram-se de tal forma, com a contribuição da Transcomunicação Instrumental, que não havia outra alternativa senão ampliar o esquema de interpretação do psiquismo, criando-se o que se convencionou denominar como a Quarta Força — além do Comportamentalismo (Behaviorismo), da Psicanálise e da Psicologia Humanista — que é a Psicologia Transpessoal ou profunda.

Indispensável coragem para enfrentar o cepticismo e a arrogância dos académicos, dos reducionistas que, mesmo diante do numinoso, de Jung, permaneciam aferrados ao organicismo e à hereditariedade, aos factores derivados das pressões de toda ordem, às sequelas das enfermidades infecciosas, aos traumatismos físicos e psicológicos...

Os avanços da Física Quântica, a Relatividade do Tempo e do Espaço, a Teoria da Incerteza, abriram perspectivas psicológicas dantes sequer sonhadas, tendo-se em vista o conceito do vir-a-ser.

A abrangência da consciência como estágio mais elevado do processo antropológico-sociológico-psicológico do ser, passou a exigir mais acurada penetração, ampliando o quadro de entendimento dos dementes (autist savant ou sábio idiota), portadores de capacidades e aptidões luminosas, perturbadoras...

Revelando-se matemáticos, músicos, artistas plásticos, linguistas que, de repente, romperam o véu do silêncio e passaram a comunicar-se com lucidez, apresentando dotes de excepcional capacidade realizadora, puseram-se a exigir elucidações que destruam as tradições negativas, actualizando a predominância do Espírito sobre a matéria, da mente sobre o cérebro gravemente danificado, assim demonstrando que preexistem aos órgãos e os sobrevivem, ao invés de serem suas elaborações ou efeitos dos seus mecanismos.

A grandiosa contribuição do pensamento oriental, de Buda a Vivekananda, a Rama Krishna e outros, dos taoistas tibetanos aos físicos nucleares, enseja a revisão dos parâmetros aceitos, bem como dos modelos estabelecidos, propondo a identificação de fórmulas com aparência diversa, no entanto, que se harmonizam, unindo as duas culturas — a do passado e a do presente — em uma síntese perfeita, em favor de um homem e de uma mulher holísticos, completos, ao revés de examinados em partes.

Esse concurso que se vinha insinuando multissecularmente, logrou impor-se através das terapias liberadoras de conflitos, tais a meditação, a respiração, a oração, a magnetização da água, a bioenergia, os exercícios da tai-chichuan, o controle mental de inegáveis resultados nas mais variadas áreas do comportamento, do inter-relacionamento pessoal, da saúde...

Os diques erguidos pela intolerância romperam-se ante as novas conquistas, e as técnicas regressivas da memória, com exclusiva definição terapêutica, o uso de algumas drogas psicodélicas como o ácido lisérgico, a hipnose, demonstraram que muitos factores psicopatogénicos são anteriores à concepção do ser, eliminando a predominância genética na condição de desencadeadora de psicoses, neuroses, conflitos e tormentos degeneradores da personalidade...

A telepatia, a clarividência, os fenómenos retro e precognitivos, as ectoplasmias, os deslocamentos de objectos sem contactos e outros facultaram mais acurados exames do indivíduo, que a análise transpessoal pode abordar com segurança ou neles apoiar-se, a fim de solucionar os enigmas predominantes em pacientes marginalizados pelas outras correntes da Psicologia ou facilmente rotulados de psicopatas.

O ser humano é constituído de elementos complexos, que escapam a uma observação superficial.

A conceituação materialista de forma alguma atende-lhe as necessidades éticas e sociológicas, não logrando elucidar o ser psicológico, excepto quando, ignorando-lhe a realidade transcendente, relega-a indiferença, à desconsideração catalogada de patologia irreversível.

O ser dual — Espírito e matéria — do espiritualismo ortodoxo, permanece incompleto, deixando escapar incontáveis expressões de conteúdo, por falta do elemento intermediário, processador de inúmeros fenómenos que lhe completam a existência.

Somente quando estudado na sua plenitude — Espírito, perispírito e matéria — podem-se resolver todos os questionamentos e desafios que o compõem, alargando-lhe as possibilidades de desenvolvimento do deus interno, facultando completude, realização plenificadora, estado de Nirvana, de samadhi, ou de reino dos Céus que lhe cumpre alcançar.

Essa gigantesca tarefa cabe à moderna Psicologia Transpessoal ou Quarta Força, que inicia um período de real compreensão da criatura como ser indestrutível que é, fadado à felicidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 08, 2012 8:44 pm

2 - Definição e conceito

Definir, de alguma forma, é limitar, restringir.
Mesmo quando as definições são elásticas, reduzem o pensamento e o enclausuram em palavras, retendo as largas possibilidades que necessitam ser penetradas.

Conceituando a psicologia transpessoal, não nos podemos furtar aos seus paradigmas, que ampliam as linhas das definições clássicas da doutrina psicológica em si mesma, de modo a dar-lhe a abrangência que alcança o ser humano na sua estrutura física, psíquica e transcendental.

Remontando-se à história do pensamento psicológico, encontraremos os seus primeiros postulados na ética filosófica ancestral, que se iniciou no ocidente com Anaxímenes e Anaxágoras, percorrendo todos os períodos históricos até a sua formação organicista, na segunda metade do século 19, e prosseguindo pelas várias escolas freudiana, junguiana, adleriana, enquanto se ia ampliando nas concepções humanista, comportamentalista e psicanalítica.

Nos seus primórdios, a ciência da alma encontrava-se embutida nos conceitos socráticos e platónicos, preocupados com a criatura humana dual, cujas origens se encontravam no mundo das ideias, para onde retornava após o périplo carnal, a fim de experimentar felicidade ou desdita.

A sua ética moral, optimista, estimulava ao equilíbrio mente-corpo, conduta saudável e solidariedade com as demais criaturas.
Procedente de uma realidade metafísica, o ser a ela retornava com o somatório das experiências adquiridas, que lhe plasmariam futuros renascimentos na Terra, conforme os conteúdos existenciais vividos.

Nessa paisagem, o planeta terrestre pode ser considerado uma escola, na qual se forma e aprimora o carácter, desenvolvendo o germe divino que nele dorme, qual ocorre na semente com o vegetal...

Posteriormente, Aristóteles lhe agregou a enteléquia, e propôs uma criatura trinária, seguindo os modelos da filosofia oriental e recusando-se à aceitação dos episódios reencarnacionistas necessários à evolução.

Concomitantemente, as propostas atomistas reduziam o ser humano ao amontoado de partículas infinitamente pequenas, esféricas, com ganchos, segundo uns, ou deles destituídos, conforme outros, unindo-se e desestruturando-se graças ao vácuo e ao movimento, resultando, portanto, do capricho do acaso que os reúne e desagrega, produzindo vida e morte ao sabor das ocorrências anómalas, eventuais.

Avançando, paralelamente, em antagonismo estrutural, alcançaram culminâncias ora uma, ora outra corrente, através de São Tomaz de Aquino ou de Leibniz, de Descartes ou Bacon...

Enquanto o pensamento oriental estruturava o fenómeno psicológico em um ser herdeiro de Deus e a Ele semelhante, isto é, portador de recursos inimagináveis que lhe cabe desenvolver, ampliaram-se as concepções em torno do universo, da criação, da vida, muito antes que a cultura ocidental se apercebesse da causalidade do existir.

Como verdadeiro ponto de equilíbrio apareceu o pensamento ético de Jesus, colocando uma ponte psicológica e filosófica entre as duas civilizações, desenvolvendo o idealismo socrático e o reencarnacionismo do vedanta e da budismo, então fecundado pelo amor, único tesouro que logra produzir a plenificação do ser humano.

Psicoterapeuta superior, Jesus não foi apenas o filósofo e o psicólogo que compreendeu os problemas humanos e ensejou conteúdos libertadores, mas permanece como terapeuta que rompeu as barreiras da personalidade dos pacientes e penetrou-lhes a consciência de onde arrancou a culpa, a fim de proporcionar a catarse salvadora e a recomposição da individualidade aturdida, quando não em total infelicidade.

Possuidor de transcendente capacidade de penetração nos arquivos do inconsciente individual e colectivo, Ele tornou-se o marco mais importante da psicologia transpessoal, por adoptar a postura mediante a qual considera o indivíduo um ser essencialmente espiritual, em transitória existência física, que faz parte do seu programa de autoburilamento.

Conscientizando as criaturas a respeito da sua responsabilidade pessoal diante da vida, estabeleceu terapias de invulgar actualidade, trabalhando a estruturação da personalidade, com o passo de segurança para a aquisição da consciência.

No postulado não fazer ao próximo o que não deseja que ele lhe faça, estatuiu a condição de segurança para a identificação do indivíduo consigo mesmo, com o seu irmão e com o mundo no qual se encontra, proporcionando uma ética simples e facilmente aplicável, no inter-relacionamento pessoal, sem conflito nem culpa.

Da mesma forma, propondo o auto-aperfeiçoamento pela superação das paixões dissolventes, trouxe o futuro para o presente, tornando o reino dos céus um estado de consciência lúcida, longe do sono, do sonho e das psicoses totalmente superadas.

O Cristianismo, no entanto, através dos tempos, sofrendo as injunções dos pseudoconversos, invariavelmente portadores de grandes traumas e conflitos, procurou castrar e coibir todas as fontes de prazer, as expressões existenciais, mediante regras e dogmas punitivos, que se caracterizaram pela repressão, restrição e condenação.

Não obstante os luminares que, de vez em quando, buscaram libertar os indivíduos do temor e do ódio, levando-os à confiança e ao amor, quais São Francisco de Assis, Santa Tereza de Ávila e alguns outros, predominaram a ignorância e o terror, produzindo uma consciência de culpa colectiva, verdadeiro arquétipo de natureza punitiva, que venceu as gerações e ressurge, ainda hoje, nos indivíduos e grupamentos sociais, fazendo-os responsáveis pelo deicídio no Calvário — confundindo Jesus com Deus — ou, mais remotamente, com a herança da tentação, em que Eva tombou, levando Adão ao erro, assim tornando a mulher inferior no processo humano da evolução, em flagrante desrespeito ao simbolismo da criação humana, que passou à condição de realidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 08, 2012 8:44 pm

O culto ao mito, ao símbolo, ao fantasioso, à aceitação do modelo, são necessidades psicológicas, para os mecanismos de transferência da realidade e fugas da consciência responsável.

Assumindo a postura teológica, responde por males que se repetem milenarmente, possibilitando alienações e desditas inimagináveis.

A evolução das ciências vem logrando anular esse efeito pernicioso, e, graças ao advento da psicologia espírita com Allan Kardec, recupera-se o ser humano do conflito em que se encontrava, promovendo-o à condição de possuidor de valores preciosos que lhe cumpre desenvolver, embora a esforço de trabalho paciente e constante.

A quarta força, alargando as imensas possibilidades da psicologia, faz que sejam descortinadas as possibilidades ímpares para a perfeita integração da criatura com o seu Criador, e da sua com a Consciência Cósmica, pulsante e universal.

Nesse homem transpessoal cantam, então, as glórias da vida e se dilatam os dons nele existentes, em pleno desenvolvimento da sua realidade, que supera as culpas e as dores, as angústias e as inquietações, tornando-o pleno e feliz.

3 - O homem psicológico maduro

O ser humano é o mais alto e nobre investimento da vida, momento grandioso do processo evolutivo que, para atingir a sua culminância, atravessa diferentes fases que lhe permitem a estruturação psicológico, seu amadurecimento, sua individuação, conforme Jung.

Ao atingir a idade adulta deve estar em condições de viver as suas responsabilidades e os desafios existenciais.
É comum, no entanto, perceber-se que o desenvolvimento fisiológico raramente faz-se acompanhar do seu correspondente emocional, o que se transforma em conflito, quando um aspecto não identificado com o outro.

Em tal caso, o período infantil alonga-se e predomina, fazendo-se característica de uma personalidade instável, atormentada, insegura, depressiva ou agressiva, ocultando-se sob vários mecanismos perturbadores.

O seu processo de amadurecimento psicológico, portanto, pode ser comparado a uma larga gestação, cujo parto doloroso propicia especial plenificação.

Procedente de atavismos agressivos, imantado ainda aos instintos, o ser cresce sob pressões que lhe despertam a necessidade de desabrochar os valores adormecidos, qual semente que se intumesce sob as cargas esmagadoras do solo, a fim de libertar o vegetal embrionário, que se agigantará através do tempo.

Factores compressivos e difíceis de liberados, pelos processos castradores do ambiente, quase sempre contribuem para que se prolongue a sua imaturidade psicológica.
Do ponto de vista tradicional, apresentam-se os factores hereditários, psicossociais, económicos, que colaboram positiva ou negativamente para o desenvolvimento psicológico, quase sempre contribuindo para a preservação do estado de imaturidade.

Graças à sua constituição emocional e orgânica, na vida infantil o ser é egocêntrico, qual animal que não discerne, acreditando que tudo gira em torno do seu universo, tornando-se, em consequência, impiedoso, por ser destituído de afectividade ainda não desenvolvida, que o propele à liberdade excessiva e aos estados caprichosos de comportamento.

Passado esse primeiro período, faz-se ególatra, acumulando tudo e apenas pensando em si, em fatigante esforço de completar-se, isolando -se socialmente dos demais ou considerando as outras pessoas como descartáveis, cujo valor acaba quando desaparece a utilidade, de imediato ignorando-as, desprezando-as...

Em sucessão, apresenta-se introvertido, egoísta, possuindo sem repartir, detentor de coisas, não de paz pessoal.
A imaturidade expressa-se através da preservação dos conflitos, graças aos quais muda de comportamento sem liberar-se da injunção causal, que são a frustração, o desconforto moral, a presença da infância.

E mesmo quando se apresenta completado, as suas reacções prosseguem infantis, destituídas de sensibilidade, no tormento de metas sem significado.
Para ele, o sentido da vida permanece adstrito ao círculo estreito da aquisição de coisas e à sujeição de outras pessoas aos seus caprichos.

Torna-se ditador impiedoso, sicário implacável, juiz cruel.
Proporciona-lhe prazer mórbido a dependência das massas e dos indivíduos particularmente, fruindo, de maneira masoquista, do prazer na dor própria ou alheia, desenvolvendo a degenerescência afectiva até o naufrágio fatal...

Certamente, factores genéticos contribuem para o desenvolvimento ou não da maturidade psicológica, em se considerando as cargas hereditárias na constituição orgânica, na câmara cerebral, na aparelhagem nervosa e glandular, especialmente nas de secreção endócrina, na constituição do sexo.

Todavia, não podemos ignorar a preponderância do modelo organizador biológico (MOB) ou perispírito, responsável pela harmonização dos implementos de que o Espírito se irá utilizar para o seu processo evolutivo no corpo transitório.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 08, 2012 8:44 pm

Face a isso, cada pessoa é a soma das suas experiências transactas, e sua mente é o veículo formador de quanto se lhe torna necessário para o processo iluminativo.
Essa percepção, o entendimento desse factor, faz-se relevante em qualquer proposta de psicologia transpessoal, no estudo das causalidades de todos os fenómenos humanos.

Os velhos paradigmas e modelos sobre o homem cedem passo à introdução do conceito do ser ancestral, com toda a historiografia das suas reencarnações, que se tornam responsáveis pelo desenvolvimento do eu profundo.

A enunciada cisão entre o eu e o si, atávica, desaparece quando a análise do perispírito demonstra que a personalidade resulta da experiência de cada etapa, mas a individualidade é a soma de todas as realizações nas sucessivas reencarnações.

Graças a esses fenómenos, as pressões psicossociais — ambiente, educação, lutas e actividades — aparecem contribuindo, de uma ou de outra forma, para a realização das metas ou reparação delas, em razão dos processos de mérito ou débito de que cada um se faz portador.

Todos nascem ou renascem nos núcleos familiares e sociais de que necessitam para aprimorar-se, e não conforme se assevera tradicionalmente:
que merecem.

As cargas de genes e cromossomas, as condições psicossociais e económicas, formam o quadro dos processos de burilamento moral-espiritual, resultantes da reencarnação caldeadora dos dispositivos individuais para a evolução.

Tal razão prepondera na elucidação das diferenças psicológicas dos indivíduos, mesmo entre os gémeos uniovulados, defluentes das conquistas anteriores.
A maturidade psicológica tem um curso acidentado, feito de sucessos e repetições, por formar um quadro muito complexo na individualidade humana.

A sua primeira fase expressa-se como maturidade afectiva, quando o ser deixa de ser captativo por fenómeno atávico, para tornar-se ablativo, que é a fatalidade do processo no qual se encontra.

Da posição receptiva egoísta, profundamente perturbadora, surge a necessidade de crescer e ampliar o círculo de amigos, na sua condição de animal gregário, surgindo as primeiras expressões do amor.

Expande o sentimento afectivo e compreende que o narcisismo e o egoísmo somente conduzem à autodestruição, à perturbação.
O amor é a chama que arde atraente, oferecendo claridade e calor, ao tempo que alimenta com paz, face à permuta de energias entre quem ama e aquele que se torna amado.

Desenvolve-se então uma empatia que arranca o ser do seu primitivismo, conduzindo-o à imensa área do progresso, onde a experiência de doação torna-se enriquecedora, trabalhando pelo olvido do ser em si mesmo com a lembrança constante do seu próximo.

Quem aspira por ser amado mantém-se na imaturidade, na dependência psicológica infantil, coercitiva, ególatra.
A afectividade é o campo central para a batalha entre as diversas paixões de posse e de renúncia, de domínio e abnegação, ensejando a predominância da doação plena.

No amadurecimento afectivo, o ser esplende e supera-se.
O próximo passo é o amadurecimento mental, graças à compreensão de que a vida é rica de significados e o seu sentido é a imortalidade.

Com essa identificação alteram-se os interesses, e as paisagens se clareiam ao sol da razão, que consubstancia a fé no homem, na vida e em Deus.
O amadurecimento mental, que se adquire pela emoção e pelo conhecimento que discerne os valores constitutivos da filosofia existencial, amplia as perspectivas da realização completadora.

Somente após lograr o amadurecimento afectivo, consegue o mental, por encontrar-se livre dos constrangimentos e das pseudonecessidades emocionais.
A conquista da razão é relevante, por ser o princípio ordenador, responsável pela formação do discernimento, que reúne em um só conjunto as diferentes conquistas intelectuais, a fim de que possa utilizar o pensamento de maneira justa, real e compatível com a consciência.

A razão proporciona a superação do fenómeno infantil da ilusão, da fantasia, responsável pelo sofrimento, em se considerando a impermanência e todos os acontecimentos e aspirações físicas.

A mente, no seu contexto e complexidade, resulta de duas expressões da sua natureza: o intelecto e a razão, sendo a segunda de formação discursiva e a primeira de carácter intuitivo.

Disso decorrem duas condutas de aprendizagem no que tange ao pensamento e ao seu uso correto.
Pensar acertadamente é uma meta elevada, porque nem todo acto de pensar correctamente o é, face à interferência dos desejos e supostas necessidades.

Assim, a concentração nos objectivos ideais, distinguidos dos imaginados, leva à correcção do pensamento.
Há uma grande variação de níveis de pensamento, resultantes das conquistas intelectuais.
Para que ocorra o amadurecimento se torna indispensável pensar, exercitando a mente e ampliando-lhe a capacidade de discernir.
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Série Psicológica Vol. 5 - O Ser Consciente - Joanna de Angelis Empty Re: Série Psicológica Vol. 5 - O Ser Consciente - Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 08, 2012 8:44 pm

Logo se apresenta o desafio do amadurecimento moral, responsável pela superação dos instintos, das sensações grosseiras, imediatistas.
A escala dos valores rompe os limites das conveniências restritivas e interesseiras, para apoiar-se nos códigos da ética universal, ancestral e perene, que têm, por base, Deus, os seres, a natureza e o próprio indivíduo, compreendendo-se que o limite da própria liberdade começa na fronteira do direito alheio, nunca aspirando para si o que não gostaria de receber de ou trem...

A maturidade moral liberta, por despedaçar os códigos da hipocrisia e das circunstâncias que facultam o desenvolvimento do egoísmo, da vaidade, da autocracia.

Essa realização moral é dinâmica e entusiasta, alargando as possibilidades de crescimento ético, estético e espiritual do ser.

Dois sensos morais surgem no contexto da maturação:
o convencional — que é o aceito, oportunista e, às vezes, amoral ou imoral, — porque imposto pelas conveniências de cada época, civilização e cultura — e o verdadeiro — que supera os limites ocasionais e sobrepaira legítimo em todas as épocas, qual aquele estatuído no Decálogo e no Sermão da montanha.

A conquista da maturidade moral verdadeira torna-se indispensável para a auto-realização do ser e da sociedade em geral.
Vencida essa etapa, a maturidade social surge naturalmente, porque, autoconhecendo-se e autotrabalhando-se, o homem psicológico torna-se harmónico no grupo, é aglutinador, compreensivo, líder natural, proporcionando bem-estar em sua volta e alegria de viver.

O amadurecimento psicológico é imperativo que surge naturalmente, ou por necessidade que se estabelece no processo da evolução.
O ser imaturo, ambicioso, apaixonado, frustra-se, irrita-se sempre, mata e mata-se, porque o significado da sua vida é o ego perturbador e finito, circular estreito e sem metas.

Superar o estado egocêntrico, para tornar-se útil socialmente, caracteriza o rompimento com o círculo familiar da infância e abre-o à comunidade, que é a grande escola da vida.

O indivíduo não pode viver sem relacionamentos, pois que, por contrário, aliena-se.
O seu desenvolvimento deflui dos contactos com a natureza e as criaturas, dos seus inter-relacionamentos pessoais, renunciando à liberdade interior, a fim de plenificar-se no grupo.

Com o conflito embutido no comportamento pessoal, torna-se impossível o relacionamento social.
Indispensável que sejam realizados encontros e experiências de grupos, gerando adaptação e convivência salutar com outras pessoas.

Quem lograr a sua consciência individual, supera a violência, a separatividade e, afectuoso, racional, integra o grupo social promovendo-o e desenvolvendo-se cada vez mais, rico de compreensão, fraternidade, amor e paz.

O homem maduro psicologicamente vive a amplidão infinita das aspirações do bom, do belo, do verdadeiro, e, esvaído do ego, atinge o self, tornando-se homem integral, ideal, no rumo do infinito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 08, 2012 8:45 pm

4 - Modelos e paradigmas

O processo da evolução — antropológico, sociológico, psicológico — da humanidade vem impondo, ao largo do tempo, necessárias releituras e revisões de paradigmas variados, que entram em choque com as descobertas do pensamento e a natural aceitação cultural de processos renovadores, estruturados na experiência humana diante dos conceitos tradicionais.

Na área psicológica, por exemplo, a rigidez dos postulados ancestrais vem sofrendo fissuras estruturais diante da volumosa contribuição das filosofias orientais, ora desveladas ao ocidente, ao mesmo tempo em que as conquistas relevantes da Parapsicologia, da Psicotrónica, da Psicobiofísica, da Física Quântica, da Biologia Molecular, vêm confirmar os paradigmas do Espiritismo, dilatando o campo da realidade humana — antes do berço e depois do túmulo —, assim modificando a concepção dos estados alterados de consciência, que deixaram de ser patológicos para se confirmarem como de natureza paranormal.

Como consequência, o estudo e a observação imparciais dos fenómenos anímicos e mediúnicos não mais se submetem aos modelos estreitos da psicologia tradicional, tornando-se urgente a adopção do comportamento transpessoal, face à sua abrangência, no que diz respeito ao homem integral.

Criada pela necessidade de actualização urgente de novos e complexos paradigmas, graças ao devotamento de homens e mulheres notáveis, que aprofundaram na vida parafísica a sonda da investigação psicológica, a quarta força pode contribuir para uma interpretação mais coerente e racional do ser pensante, sem descartar a possibilidade da precedência e sobrevivência da consciência à concepção fetal, assim como à anoxia cerebral.

Antes desprezadas ou marginalizadas por contundente preconceito, as manifestações paranormais deixaram de ser epifenómenos do sistema nervoso, para tornarem-se expressões da realidade em níveis mais profundos da consciência humana.

O advento da Psicologia Transpessoal ocorreu no momento grave do desalinho comportamental das gerações novas, dos anos sessenta deste século, e por se tornar evidente a necessidade do desenvolvimento da Psicologia Humanista, surgida na ocasião, mediante a ampliação dos seus conceitos e a aceitação de novos paradigmas, qual sucedeu, na década imediata, consoante previra Maslow...

Assim, a Psicologia Transpessoal tem como meta ampliar a sua área de pesquisa levando em conta as experiências do ser, em laboratório e no comportamento humano, vinculadas às necessidades do equilíbrio da saúde físico-psíquica e da satisfação plenificadora.

Como resultado, estrutura-se nas conquistas da ciência contemporânea, unidas às contribuições vivenciais da experiência oriental, desenvolvendo as possibilidades adormecidas da criatura — o seu incessante vir-a-ser.

A sua proposta objectiva é tornar-se parte das multidisciplinas do comportamento, que contribuem para o logro da saúde mental.
Impossível descartar-se hoje os factos decorrentes dos estados alterados de consciência, que são importantes para o equilíbrio fisiológico e o bem-estar psicológico dos indivíduos.

O ser transcendental deixa, dessa forma, o estágio de paranóide, assumindo a paranormalidade indispensável à harmonia do seu comportamento com a sua realização psicológica.
As experiências terapêuticas de muitos analistas transpessoais demonstraram que os seus pacientes transcendem os níveis normais de consciência, quando estimulados por drogas químicas, auto-sugestão, ioga, hiperventilação, indução hipnótica, concentração, meditação, oração, interferências mediúnicas...

Nesses estados dilatam-se-lhes a percepção dos sentidos, a lucidez, o conhecimento do passado e do futuro, como expressões essenciais da natureza humana, após os quais há o retorno da saúde — quando em psicoterapia — do bem-estar, do relacionamento interpessoal.

O ser humano, desse modo, deixa de permanecer fragmentado, para tornar-se inteiro.
Todos os modelos e paradigmas são passíveis de revisão, confirmação ou modificação.

Os antigos modelos psicológicos, por estreiteza de visão, não abarcavam as atuais conquistas que facultam mais ampla compreensão da personalidade humana, do inconsciente, do eu profundo.

Uma larga documentação experimental, porém, veio facultar o surgimento do modelo transpessoal e dos seus atuais paradigmas.
A Psicanálise, por exemplo, tem concepção específica em torno da determinação da conduta, conflituando com a natureza da modificação do comportamento.

O psicanalista enfatiza as forças intrapsíquicas, como fundamentais, predominantes, responsáveis pelo comportamento. Já os comportamentalistas estabelecem, como indissociáveis da conduta, as condições ambientais.

Desse modo, surge o quesito da motivação, determinando o comportamento.
Seja a libido — motivação freudiana —, o anseio de superioridade, como superação dos instintos agressivos — motivação adleriana — ou o imperativo ambiental — motivação comportamentalista —, o ser é levado ao êxito nas suas buscas, não podendo fugir a uma ou outra dessas condições.

Antes desse alargamento da visão transpessoal, todas as experiências místicas eram tidas como neurose narcisista, e a conquista da iluminação era considerada como uma automática regressão a estágios intra-uterinos.

Nesses choques de modelos e propostas, tornava-se inevitável a disputa em torno de qual seria o verdadeiro, com desprezo pelos demais...
O estudo transpessoal não pretende ser único, antes alarga os conceitos existentes, respeita-lhes a validade, buscando desenvolver e ampliar as dimensões da natureza humana e a sua realidade intrínseca.

O seu potencial é imprevisível, e o ser espiritual é imensurável na sua estrutura profunda, que lhe cabe desenvolver ao largo das sucessivas reencarnações.
Unindo tecnologia e observação, experiência e treinamento paranormal, desenvolvem-se-lhe os recursos latentes, no rumo do Infinito.

O novo modelo e paradigma transpessoal, portanto, estrutura-se na sabedoria do oriente e nas modernas experiências do ocidente, compondo o homem, o ser interior:
espírito, perispírito e matéria, conforme a proposta kardequiana, embora a nomenclatura diferenciada que vem sendo adoptada pelos psicólogos e terapeutas transpessoais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 08, 2012 8:45 pm

5 - A nova estrutura do ser humano

À medida que a Psicologia vem aprofundando a sonda da investigação nos alicerces psíquicos do ser, tentando compreender as alterações da consciência, mais se agigantam as perspectivas do conhecimento para tornar a existência humana mais digna de ser vivida.

A súbita mudança de conceitos cartesiano-newtonianos a respeito de tempo e espaço — graças aos admiráveis descobrimentos da física quântica, face aos nobres intentos vitoriosos das neurociências e da Biologia molecular, em razão do aprofundado estudo do cérebro através da holografia, diante da análise cuidadosa dos estados alterados de consciência por meio da hipnose, da aplicação de drogas psicodélicas, da meditação, — ensejou melhor visão em torno do ser humano e sua grandiosa dimensão.

Estudos acurados dos hemisférios cerebrais concluíram que o esquerdo é responsável pela razão e lógica, pelas funções verbais, pela globalização, enquanto o direito se encarrega do comportamento místico, indutivo, intuitivo, orientação espacial...

Como consequência, estabeleceu-se que, nos ocidentais, o hemisfério esquerdo é mais desenvolvido do que o direito, esse mais usado pelos orientais e, por isso mesmo, portador de mais amplos recursos.

Por outro lado, graças aos estudos e observações de alguns neuropsiquiatras, constatou-se que todo o cérebro é detector da memória, necessitando de ser devassado para melhor compreender-se os múltiplos fenómenos paranormais de que se faz instrumento, ora inconscientemente, noutras ocasiões mediante induções, concentrações e contribuições conscientes.

A Psicologia Transpessoal e a Parapsicologia, unindo-se para interpretar os estados alterados de consciência, eliminando a esdrúxula e tradicional explicação de que são fenómenos patológicos, aproximam-se da realidade do Espírito, que é indissociável de todo acontecimento físico e psíquico.

Toda a gama de fenómenos parapsicológicos na ordem psigama — clarividência, telepatia, pre e retrocognição, escrita automática — ou psikapa — transporte, ectoplasmia, desmaterialização, bicorporeidade — conduz à certeza de um agente racional e lúcido — o Espírito — como causa de todas as manifestações, encontrando-se encarnado ou não.

O ser organicista, em razão disso, cede lugar ao indivíduo psi ou espiritual, portador de percepções extra-sensoriais e faculdades mediúnicas, que lhe constituem instrumentos de trabalho e progresso, mediante as experiências continuadas na esteira das reencarnações.

O Espírito é a base da Psicologia Transpessoal, conforme demonstra a Ciência Espírita, em inumeráveis experiências mediúnicas.
Essa visão nova explica os desarranjos comportamentais, as diferenças de coeficiente intelectual, os estados patológicos variados, ao mesmo tempo enriquecendo as psicoterapias com arsenal de informações libertadoras, hauridas no estudo das obsessões, das reencarnações e dos desconsertos mediúnicos.

Desse modo, o ser humano supera a condição reducionista a que foi submetido por alguns psicólogos e amplia a dualidade corpo-espírito, para apresentar-se em estrutura completa, que abarca todas as ocorrências que lhe sucedem.

Organizando o corpo somático, o Espírito se utiliza dos equipamentos do perispírito, tornando-se o indivíduo um ser trino, no qual a morte física dilui a forma sem aniquilar a sua realidade, transferindo, mediante o corpo intermediário, para o Espírito que sedia a vida, conquistas e prejuízos que lhe programam os futuros renascimentos.

A unicidade da existência corporal não corresponde à realidade, face às diferenças morais, culturais, sociais, psicológicas, orgânicas, que caracterizam as criaturas humanas, estagiárias nos mais diferentes patamares da vida.

A reencarnação, pelo contrário, faculta a compreensão dos fenómenos evolutivos, favorecendo todos os seres com as mesmas possibilidades de crescimento, desde a monera ao arcanjo, vivenciando as mesmas oportunidades e adquirindo sabedoria — conquista do conhecimento e do amor — que culmina em sua plenitude.

Reconhecida a nova estrutura do ser humano —Espírito, perispírito e matéria — a Psicologia pode melhor penetrar nos arcanos do inconsciente, que possui todo o conhecimento de tempo — passado, presente e futuro — como a dimensão de espaço — o infinito no finito.

Sediando o Espírito, conforme a visão espírita assevera, a lei de Deus está escrita na consciência (*) detentora da realidade, que a pouco e pouco se desvela, conforme a evolução do próprio ser, no seu processo de lapidação de valores e despertamento das leis que nela dormem latentes.

Nos alicerces do inconsciente se encontram todas essas bênçãos que, lentamente, assomam à consciência e se tornam património da lucidez, fazendo o ser compreender que nem tudo quanto pode fazer, deve-o; da mesma forma que nem tudo quanto deve, pode;
conseguindo a sabedoria de fazer somente o que deve e pode como membro consciente que age de acordo com a harmonia cósmica.

Esse, o grande desafio para a Psicologia profunda, qual seja, avançar cada dia mais na interpretação do ser humano, sem deter-se em modelos estáticos, tradicionais, atenta às informações das demais ciências e do Espiritismo, assumindo uma posição aberta e holística.

(*) Questão 621 de O Livro dos Espíritos de Allan Kardec. - Nota da Autora espiritual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 08, 2012 8:45 pm

SEGUNDA PARTE - SER E PESSOA

6 - A pessoa

Boécio, poeta e filósofo da decadência romana, nos séculos 5º e 6º, definiu a pessoa como constituída por uma substância individual de natureza racional.

A filosofia, através dos séculos, buscou demonstrar que a pessoa é distinta do indivíduo e do ser psicofísico, o que deu margem a considerações demoradas por pensadores e escolas variadas.

Santo Tomaz de Aquino, por exemplo, preferiu seguir o conceito de Boécio, que teve muita influência significativa durante a Idade Média, enquanto Emmanuel Kant se apoiou em conteúdos mais profundos, quando da análise da pessoa em si mesma.

Do ponto de vista psicológico, a pessoa é um ser que se expressa em múltiplas dimensões, desde os seus conteúdos humanista, comportamentalista e existencial, a novos potenciais que estruturam o ser pleno.

A psicologia ocidental, diferindo da oriental, manteve o conceito de pessoa nos limites berço-túmulo com uma estruturação transitória, enquanto a outra sustenta a ideia de uma realidade transcendente, embora a sua imanência na expressão da forma e relatividade corporal.

Os estudos transpessoais, incorporando as teses orientais, consideram a pessoa um ser integral, cujas dimensões podem expressar-se em várias manifestações, quais a consciência, o comportamento, a personalidade, a identificação, a individualidade, num ser complexo de expressão trinária.

Não apenas o corpo, o ser psicofísico, porém, a matéria — efeito —, o perispírito — modelo organizador biológico — e o espírito — a individualidade eterna.

Não pretendemos inovar modelos, antes resumir correntes e apresentar uma síntese.
A visão transpessoal espírita, porque completa, elucida os inúmeros fenómenos paranormais de natureza anímica e mediúnica que caracterizam a existência humana, concedendo-lhe dinâmica imortalista e conteúdo de significado, de causalidade.

A pessoa, observada do ponto de vista imortal, é preexistente ao corpo, e sua origem perde-se nos milénios passados do processo evolutivo, desenvolvendo-se fiel a uma fatalidade que se manifesta em cada experiência corporal — reencarnação — como aquisição de novos implementos, faculdades e funções que tangenciam ao crescimento e à felicidade.

A pessoa sintetiza, quando corporificada, as dimensões várias que lhe cumpre preservar e aprimorar, facultando o desabrochar de recursos que lhe fazem embrionários e são essenciais ao seu existir.

A consciência Jung definiu a consciência como a relação dos conteúdos psíquicos com o ego, na medida em que essa relação é percebida como tal pelo ego.

A complexidade, no entanto, das conceituações de consciência, nem sempre responde aos conteúdos de que se constitui.
Para entendê-la, é necessário situá-la além dos limites do sono, do sonho, do delírio, e estabelecê-la como condição de óptima ou lúcida, na qual os episódios psicóticos cedem lugar à normalidade, ao discernimento, ao equilíbrio gerador de harmonia.

A psicologia tradicional, aferrada ao organicismo ancestral, prefere ignorar os elevados níveis de consciência, nos quais os estados alterados transcendentes facultam a visão dilatada da realidade, sem os limites do real aceito, do real psicótico, do real em sonho.

As experiências nas diversas áreas de consciência alterada, conseguidas por substâncias psicodélicas ou através de meditação profunda, ao invés de revelarem situações patológicas, abrem perspectivas fascinantes para terapias liberadoras e que proporcionam dilatação do conhecimento e do sentido mais amplo da vida.

A psicologia filosófica do oriente sempre proporcionou os estados de plenitude e nirvana, ensejando a superação dos limites do estágio de normalidade, através de transes e da contemplação profunda.

A consciência adquirida — a perfeita identificação do conhecimento e do fazer, do saber e do amar — faculta a ampliação das próprias possibilidades para penetrar em dimensões metafísicas, onde outras realidades são bases do ser pessoal.

O comportamento

As atitudes que caracterizam a pessoa resultam do convívio social e das aspirações cultivadas, gerando a consciência individual, que responde pela do grupo social, face à aplicação dos valores adquiridos.

Ressaltam, no comportamento, as ambições do desejo, responsáveis pelo grau de libertação emocional, ou presídio, no qual o ser transita pelos vínculos que se permite desenvolver.

A pessoa é, acima de tudo, a sua mente. O que elabora, torna-se; quanto cultiva, experimenta.
A mente algema e libera, necessitando de austeras disciplinas para ser comandada, ao invés de ser a dominadora irredutível.
Nesse imperativo, o desejo expressa a qualidade evolutiva da pessoa, respondendo pela conduta e pelos factores daí decorrentes.

O comportamento impõe necessidades e as expressa simultaneamente, definindo a pessoa.
Somente o autoconhecimento favorece o comportamento com as possibilidades de desenvolvimento pessoal, estruturador profundo do ser imortal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 09, 2012 8:52 pm

A personalidade

Em permanente representação dos conteúdos mentais, e dominada pela imposição das leis e costumes de cada época e cultura, a personalidade representa a aparência para ser conhecida, não raro, em distonia com o eu profundo e real, gerador de conflitos.

A personalidade é transitória e assinala etapas reencarnacionistas, definidoras de experiências nos sexos, na cultura, na inteligência, na arte e no relacionamento interpessoal.

Cada pessoa reencarna com as características herdadas das experiências anteriores e submete-se aos condicionamentos de cada fase, por ela transitando com os seus sinais tipificadores.

Assimilar todos os condicionamentos e exteriorizar uma personalidade consentânea com o ser real, eis o desafio da terapia transpessoal, trabalhando a pessoa para que assuma a sua realidade positiva e superior, crescendo em conteúdos mentais e desencarcerando-se, até permitir-se a perfeita harmonia entre ser e parecer.

A identificação

De duas formas a pessoa se identifica com os valores do progresso:
externa e internamente.

A identificação externa impõe as lutas e os conflitos da assimilação dos comportamentos sociais, nos quais o apego assume a condição mais importante, a primeira e última da existência.

O apego externo, no entanto, é menos danoso do que o interior, responsável pelos vícios e paixões degenerativos, que conduzem a patologias dolorosas, cruéis.

A identificação assinala o estágio de evolução de cada pessoa, fadada à elevação, que, para conseguir, deve liberar-se daqueles valores, desidentificando-se de hábitos milenários, fixados, alguns, atavicamente, aos painéis do ser, gerando falsas necessidades, que se tornam fundamentais, portanto responsáveis pelo sofrimento nas suas várias facetas.

A psicologia oriental estabelece na ilusão, na impermanência da vida física, com as quais a pessoa se identifica, algumas preponderantes razões para o sofrimento.

A desidentificação induz à conquista de patamares elevados, metafísicos, nos quais o ser se auto-encontra e se realiza.

A individualidade

Somatório de todas as experiências, a individualidade é o ser pleno e potente, que alcançou a auto-realização.

Imperecível, a individualidade é o Espírito em si mesmo, que reúne as demais dimensões e sabe conscientemente o que fazer, quando fazê-lo e como realizá-lo, para ser a pessoa integral, ideal.

Enquanto a filosofia informava que a pessoa não é o indivíduo, na visão da psicologia profunda, este, que superou os condicionamentos e comportamentos pessoais de consciência livre, é o ser total, pessoa transitória, individualidade eterna.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 09, 2012 8:53 pm

7 - Factores de desequilíbrio

A saúde da criatura humana resulta de factores essenciais que lhe compõem o quadro de bem-estar:
equilíbrio mental, harmonia orgânica e ajustamento sócio-económico.

Quando um desses elementos deixa de existir, pode-se considerar que a saúde cede lugar à perturbação, que afecta qualquer área do conjunto psicofísico.

Sendo, a criatura humana, constituída pela energia que o Espírito envia a todos os departamentos materiais e equipamentos nervosos, qualquer distonia que a perturbe abre campo para a irrupção de doenças, a manifestação de distúrbios, que levam aos vários desconsertos patológicos, conhecidos como enfermidades.

Por isso, é possível que uma criatura, em processo degenerativo, possa aparentar saúde, face à ausência momentânea dos sintomas que lhe permitem o registro, a percepção do insucesso.

Da mesma forma, podemos considerar que, escrava da mente, a criatura transita do cárcere dos sofrimentos aos portões da liberdade — das doenças à saúde ou vice-versa — através da energia direccionada ao bem, à harmonia, ou sob distonias, conflitos e traumas.

De relevantes significados são os conteúdos negativos do comportamento emocional, geradores das disritmias energéticas, que passam a desvitalizar os campos nos quais se movimentam, enfraquecendo-os e abrindo-os à sintonia com os microorganismos degenerativos.

Entre os muitos factores de destruição do equilíbrio, anotemos o amor, a angústia, o rancor, o ódio, que se convertem em gigantes da vida psicológica, com poderes destrutivos, insuspeitáveis.

A mente desordenada, que cultiva paixões dissolventes, perde o rumo, passando a fixações neuróticas e somatizadoras, infelizes, que respondem pelos estados inarmónicos da psique, da emoção e do corpo.

Os conteúdos do equilíbrio expressam-se no comportamento, propiciando modelos de criaturas desidentificadas com as manifestações deletérias do meio social, das constrições de vária ordem, das dominações bacterianas.

A auto-análise, trabalhada pela insistência de preservação dos ideais superiores da vida, é o recurso preventivo para a manutenção do bem-estar e da saúde nas suas várias expressões.

O amor

Confundidas as sensações imediatas do prazer com as emoções emuladoras do progresso moral, o amor constitui o grande demolidor das estruturas celulares, pela força dos desejos de que se faz portador.

Certamente, referimo-nos ao amor bruto, asselvajado, possessivo, que situa no desejo a sua maior carga de aspiração.

Ocultando frustrações pertinazes e gerando mecanismos de transferência neurótica, as personalidades atormentadas aferram-se ao amor-desejo, ao amor-sexo, ao amor-posse, ao amor-ambição, deixando-se consumir pelos vapores da perturbação, que a insistência mental e insensata do gozo desenvolve em forma de incêndio voraz.

O atormentado fixa a sua identidade na necessidade do que denomina amor e projecta-se, inconscientemente, sobre quem ele diz amar, impondo-se com sofreguidão irrefreável, ou acalentando intimamente a realização do que anela, em terrível desarmonia interior.

A quanto mais aspira e frui, mais exige e sofre; se não logra a realização, mais se decompõe, perdendo ou matando, com os raios venenosos da mente em desalinho, as defesas imunológicas e a vibração de harmonia mental, logo tombando nos estados enfermiços.

A angústia

A insegurança pessoal, decorrente de vários factores psicológicos, gera instabilidade de comportamento, facultando altas cargas de ansiedade e de medo.

Sentindo-se incapaz de alcançar as metas a que se propõe, o indivíduo transita entre emoções em desconserto, refugiando-se em fenómenos de angústia, como efeito da impossibilidade de controlar os acontecimentos da sua vida.

Enquanto transite nos primeiros níveis de consciência, a carência de lucidez dos objectivos essenciais da vida levá-lo-á a incertezas, porquanto, as suas, serão as buscas dos prazeres, das aspirações egoístas, das promoções da personalidade, sentindo-se fracassado quando não alcança esses patamares transitórios, equivocados, em relação à felicidade.

Aprisionando-se em erróneos conceitos sobre a plenificação do eu, que confunde com as ambições do ego, pensa que ter é de relevante importância, deixando de ser iluminado, portanto, superior aos condicionamentos e pressões perturbadoras.

A angústia, como efeito de frustração, é semelhante a densa carga tóxica que se aspira lentamente, envenenando-se de tristeza injustificável, que termina, às vezes, como fuga espectacular pelo mecanismo da morte anelada, ou simplesmente ocorrida por efeito do desejo de desaparecer, para acabar com o sofrimento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 09, 2012 8:53 pm

Normalmente, nos casos de angústia cultivada, estão em jogo os mecanismos masoquistas que, facultando o prazer pela dor, intentam inverter a ordem dos fenómenos psicológicos, mantendo o estado perturbador que, no paciente, assume características de normalidade.

O recurso para a superação dos estados de angústia, quando não têm um factor psicótico, é a conquista da autoconfiança, delineamento de valores reais e esforço por adquiri-los ou recorrendo ao auxílio de um profissional competente.

As ocorrências de insucesso devem ser avaliadas como treinamento para outras experiências, recurso-desafio para o crescimento intelectual, aprendizagem de novos métodos de realizações humanas.

Exercícios de autocontrole, de reflexões optimistas, de acções enobrecedoras, funcionam como terapia libertadora da angústia, que deve ser banida dos sentimentos e do pensamento.

O rancor

Fenómeno natural decorrente da insegurança emocional, o rancor produz ácidos destruidores de alta potencialidade, que consomem a energia vital e abrem espaços intercelulares para a distonia e a instalação das doenças.

Entulho psíquico, o rancor acarreta danos emocionais variados, que levam a psicoses profundas e a episódios esquizofrénicos de difícil reparação.

A criatura humana tem a destinação da plenitude.
O seu passo existencial deve ser caracterizado pela confiança, e os acontecimentos desagradáveis fazem-se acidentes de percurso, que não interrompem o plano geral da viagem, nunca impeditivos da chegada à meta.

Por isso, os acontecimentos impõem, quando negativos, a necessidade de uma catarse libertadora, a fim de não se transformarem em resíduos de mágoas e rancores que, de contínuo, assumem mais danoso contingente de ocorrência destrutiva.

A psicoterapia do perdão, com os mecanismos da renúncia dinâmica, consegue eliminar as sequelas do insucesso, retirando o rancor das paisagens mentais e emocionais da criatura, sem o que se desarticulam os processos de harmonia e equilíbrio psíquico, emocional e físico.

O ódio

Etapa terminal do desarranjo comportamental, o ódio é tóxico fulminante no oxigénio da saúde mental e física.

Desenvolve-se, na sua área, mediante a análise injusta do comportamento dos outros em relação a si, e nunca ao inverso.

Fazendo-se vítima, porque passou a um conceito equivocado sobre a realidade, deixa-se consumir pelo complexo de inferioridade, procedente da infância castrada, e descarrega, inconscientemente, a sua falta de afectividade, a sua insegurança, o seu medo de perda, a sua frustração de desejo, em arremessos de ondas mentais de ódio, até o momento da agressividade física, da violência em qualquer forma de manifestação.

O ódio é estágio primevo da evolução, atavicamente mantido no psiquismo e no emocional da criatura, que necessita ser transformado em amor, mediante terapias saudáveis de bondade, de exercícios fraternais, de disciplinas da vontade.

Agentes poluidores e responsáveis por distúrbios emocionais de grande porte, são eles os geradores de perturbações dos aparelhos respiratório, digestivo, circulatório.

Responsáveis por cânceres físicos, são as matrizes das desordens mentais e sociais que abalam a vida e o mundo.

A saúde da criatura humana procede do ser eterno, vem das experiências em vidas anteriores, conforme ocorre com as enfermidades cármicas, no entanto, dependendo da consciência, do comportamento, da personalidade e da identificação do ser com o que lhe agrada e com aquilo a que se apega na actualidade.
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Série Psicológica Vol. 5 - O Ser Consciente - Joanna de Angelis Empty Re: Série Psicológica Vol. 5 - O Ser Consciente - Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 09, 2012 8:53 pm

8 - Condições de progresso e harmonia

Na estrutura profunda da individualidade humana, encontram-se as experiências milenárias do ser, nem sempre harmonizadas entre si, geradoras de conflitos e complexos negativos que a atormentam.

Atavicamente vinculada ainda às sensações decorrentes da faixa primária por onde transitou, a líbido exerce-lhe poder preponderante no comportamento, conforme as constatações de Freud, que a considerou factor essencial na vida humana.

Observando os diversos fenómenos de conduta e as terríveis angústias, como exacerbações da emotividade das criaturas, o mestre de Viena organizou todo o edifício da psicanálise na manifestação sexual castradora ou liberada, bem como na complexa influência materno-paternal, que desde a infância conduziu o ser sob os tabus perniciosos e as constrições dos desejos irrealizados, das consciências de culpa, dos implementos perturbadores da personalidade patológica.

Estamos, sem dúvida, diante de factores incontestáveis, todavia adstritos às áreas fenomenológicas e não causais, em se considerando que, herdeiro de si mesmo, o Espírito é o autor do seu destino — nunca será demasiado repeti-lo — renascendo em lares nos quais mantém vínculos afectivos e familiares, conforme a sua conduta anterior.

Face à variedade de renascimentos, nem sempre consegue diluir as lembranças que permanecem em forma de tendências e aptidões, de desejos e necessidades.

Não digeridas, as frustrações, eis que se impõem mais graves, ao ressurgirem, na sucessão das ocorrências comportamentais, em forma de distúrbios psicológicos de variada catalogação.

Preocupada com o ser-máquina, a psicologia não tem ensejado uma compreensão maior da criatura, que fica, na visão reducionista, limitada a um feixe de desejos e paixões primitivas.

Em uma análise transpessoal, o ser enriquece-se de valores que lhe cumpre multiplicar cada vez mais, autoconhecendo-se e autodisciplinando -se, à medida que a sua consciência adquire lucidez e torna-se óptima.

Abrem-se-lhe então as perspectivas antes cerradas, e facultam-se-lhe as oportunidades de dilatação do campo intelecto-emocional, passando a vencer as sequelas das existências anteriores, ainda predominantes no psiquismo, que se exteriorizam em forma de desarmonia.

A desidentificação com os graves compromissos que ainda o atormentam torna-se factível, mediante a impregnação com outros ideais e aspirações mais abrangentes quão agradáveis, que passam a povoar-lhe a paisagem mental.

Nesse esforço, faz-se viável o autoconhecimento, como primeiro tentame de crescimento psicológico.
A necessidade de tornar a mente um espelho, e postar-se defronte dela desnudo, é inadiável.

Somente através de um exame da própria realidade, observando-se sem emoção — o que impede os sentimentos de autocompaixão como os de autopromoção, de justificação ou culpa — consegue-se um retrato fiel do que se é, e do que cumpre fazer-se para mais amar-se e ajudar-se como segmento imediato do esforço.

Enquanto a criatura não se despoja dos artifícios com que se oculta, evitando desnudar-se em uma atitude infantil repressiva, qualquer tentame exterior para o progresso e a harmonia resulta inócuo, quando se não torna perturbador.

Ninguém é culpado conscientemente de ser frágil, fragmentário, ocorrências naturais do processo de evolução. Não obstante, a permanência na postura denota imaturidade psicológica ou manifestação patológica do comportamento.

Quando alguém aspira por mudanças para melhor, irradia energias saudáveis, do campo mental, que contribuem para a realização da meta.

Através de contínuos esforços, direccionados para o objectivo, cria novos condicionamentos que levam ao êxito, como decorrência normal do querer.

Nenhum milagre ou inusitado ocorre, nessa atitude que resulta do empenho individual.
O autodescobrimento tem por finalidade conscientizar a pessoa a respeito do que necessita, de como realizá-lo e quando dar início à nova fase.

Acomodada aos estados habituais, não se dá conta das incalculáveis possibilidades que lhe estão ao alcance, bastando-lhe apenas dispor-se a desdobrá-las.

O auto-encontro pode ser logrado através da meditação reflexível, do esforço para fixar a mente nas ideias positivas, buscando saber quem se é, e qual a finalidade da sua existência corporal e do futuro que a aguarda.

Equipada de honesto desejo de equacionar-se, a esfinge perturbadora atira-se ao mar do discernimento e desaparece, deixando o indivíduo livre seguir, sem a maldita fatalidade de ser desditoso.

A consciência liberta-o das heranças paterno-maternais, produzindo o conhecimento lúcido e benéfico, que se torna filho capaz de conduzi-lo pelos caminhos da vida, sem a imposição caprichosa do deus-destino.

Ao lado da meditação, encontra-se a acção solidária no concerto social, que alarga as possibilidades no campo onde se movimenta e promove o ser profundo, limpando-o dos caprichos do ego e liberando-o das arbitrárias injunções limitadoras, angustiantes.

O intercâmbio social com objectivos fraternais rompe as amarras do medo, dando outra dimensão à afectividade — sem apego, sem paixão, sem desejo, sem neurose —, facultando a harmonia pessoal — sem ansiedade, sem conflito, sem culpa —, ensejando saúde mental e emocional indispensáveis à física.

As condições do progresso e harmonia do eu real propõem um estudo das virtudes evangélicas, uma releitura dos seus fundamentos e posterior aplicação na conduta pessoal.

Amor indistinto, manifestando-se em todas as expressões e começando por si próprio, com segurança de propósitos, metas e realizações, é o passo inicial da fase nova, ao lado do perdão liberador de ressentimentos, desgosto e inferioridade geradora de reacções de violência ou de depressão com carácter autopunitivo.

Na visão transpessoal, o progresso e a harmonia são conquistas internas do ser humano, que se exteriorizam como entendimento da vida e atracção por ela, num empenho incessante de crescer e jamais cansar-se, saturar-se ou desistir.

O progresso é fatalidade da vida, e a harmonia resulta da consciência desperta para a conquista da sua plenificação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 09, 2012 8:53 pm

TERCEIRA PARTE - PROBLEMAS E DESAFIOS

9 - Êxito e fracasso

O estado normal da criatura é o de saúde, no qual o bem-estar e o equilíbrio proporcionam clima respirável de satisfação.

Elaborada para um ritmo harmónico de vida, a maquinaria físico-psíquica obedece a automatismos precisos, dos quais resultam a saúde e as disposições emocionais, para galgar-se patamares reais elevados nos processos das aspirações idealistas.

Ser pensante, destaca-se a criatura na escala zoológica, compreendendo os mecanismos da vida e aplicando o conhecimento para os logros da auto-realização e da auto-plenificação que lhe constituem o ápice da saúde.

Saúde seria, portanto, um fenómeno natural.
Não fossem, do ponto de vista biopsicológico, as heranças genéticas, os factores psicossociais, as ocorrências familiares e o convívio do lar, o ser não atravessaria os caminhos difíceis dos distúrbios e doenças perturbadoras.

Considerado o ser apenas como uma máquina, teríamos a vida sem finalidade nem objectivo, porquanto ele já nasceria sob os estigmas dos ancestrais — no que diz respeito às heranças genéticas, ao lar condicionador e à sociedade — no caso das distonias e anormalidades, das síndromes degenerativas e dos fenómenos patológicos vários, que determinam as desgraças de uns, e, por outro lado, os propiciatórios para a felicidade, a saúde e a beleza de reduzida faixa dos demais.

Sem dúvida, tal colocação falha pela ausência de uma sustentação lógica, considerando todas as ocorrências como procedentes do acaso fatalista e absurdo...

A análise transpessoal do ser concede-lhe dignidade causal e destinação final, mediante a travessia do percurso que lhe cumpre trilhar, gerando os meios felicitadores, ou desditosos, que são efeitos das suas realizações precedentes.

Passo a passo, desenvolvem-se os atributos da personalidade, ampliando-se os conteúdos da individualidade e aprimoram-se as aptidões latentes que são o germe da presença divina em todos.

Possuidor de recursos e potências não dimensionadas, o ser desabrocha e cresce sob as condições que lhe são inerentes, cabendo-lhe seguir o heliotropismo superior que o leva à sua destinação gloriosa.

Impregnado pelas partículas e moléculas materiais que o vestem, enquanto reencarnado, não raro a visão do êxito apresenta-se-lhe distorcida, caracterizando-se como o deleite contínuo, resultante dos prazeres hedonistas que a posição social relevante e o poder político-económico proporcionam, ensejando um prolongado desfrutar.

Esquecendo-se da impermanência de tudo e da fugacidade do tempo — pelo qual apenas transita, na sua dimensão de eternidade — desgasta-se, envelhece, adoece e morre...

O imprevisível surpreende-o, e surgem-lhe a saturação, o desinteresse, os sentimentos apaixonados e os frustrados, proporcionando desequilíbrios interiores que se expressarão em tormentos para si e para os outros no inter-relacionamento pessoal.

Na busca do êxito, o ser, psicologicamente imaturo, investe todos os valores, e na competição encontra o estímulo para galgar os degraus do destaque, descendo moralmente, na escala dos padrões, à medida que ascende na aparência.

Essa dicotomia de ocorrências — a interna e a externa — resultará em infelicitá-lo, perturbando-lhe o senso de avaliação e de consideração da realidade, talvez ferindo profundamente a pessoa.

Caça-se o êxito como se fosse, na floresta humana, o objectivo essencial à vida, confundindo-se triunfo de fora com realização de harmonia interior.

Denigre-se então o adversário, que não o sabe, tornado assim por estar à frente ou mais alto;
segue-se-lhe o passo, ocupando-lhe o lugar imediatamente inferior por ele deixado, até emparelhar-se-lhe e derrubá-lo, assumindo-lhe a posição.

Inevitavelmente, porque não permanecem espaços vazios nos relacionamentos humanos, enquanto, por sua vez ascende, deixa o degrau aberto que logo estará ocupado por aqueloutro que lhe será o substituto.

O triunfo de hoje é o prólogo do desencanto e das lágrimas de amanhã;
sorrisos se tornarão esgares, e aplausos far-se-ão apedrejamentos, considerando-se, na população humana, as mesmas aspirações e os equivalentes conflitos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 09, 2012 8:54 pm

A criatura são as suas necessidades.

O psicólogo americano pragmatista, William James, classificou os biótipos humanos em espíritos fracos e fortes, enquanto Ernesto Kretschmer, psiquiatra alemão, considerou as personalidades de acordo com a compleição do indivíduo em pícnico, ou pessoa redonda;
atlético, ou pessoa quadrada;
e o asténico, pessoa delgada.

Face a tal conclusão, afirmou que há espíritos esquizóides e ciclotímicos, enquanto Carlos Gustavo Jung os considerou introvertidos e extrovertidos.

Em todos há uma ânsia comum:
os fracos fortalecerem-se, os ciclotímicos harmonizarem-se e os introvertidos exteriorizarem-se.

As psicoterapias são aplicadas conforme as revelações do inconsciente, arrancando dos arquivos do psiquismo os factores que geraram os traumas e determinaram os conflitos, interpretando as ocorrências dos sonhos nos estados oníricos e as liberações catársicas nas demoradas análises.

Nem sempre, porém, serão encontradas as matrizes de tais patologias, que estão profundamente registradas no Espírito, como decorrência de condutas, de actividades, dos sucessos das reencarnações passadas.

Somente a sondagem cuidadosa dos arcanos do ser pretérito enseja o encontro das causas passadas, geradoras dos problemas actuais.

Uma análise transpessoal libera-o dos tabus, inclusive, da visão distorcida da realidade, que deixa de ser a exclusiva expressão terrena, para transportá-la para a vida imortal, precedente ao corpo e a ele sobrevivente, demonstrando que o êxito, o triunfo, o fracasso, o insucesso, não se apresentam conforme a proposta social imediatista, porém outra mais significativa e poderosa.

Convém determinar-se que o êxito material pode significar fracasso emocional, espiritual, e, às vezes, o insucesso, a aparente falta de triunfo constitui a plena vitória sobre si mesmo, suas paixões e pequenezes, uma forma de opção para o crescimento interior, ao invés do empenho pelo amealhar de moedas e reunião de títulos que não acalmam as emoções nem tranquilizam as ambições.

Certamente, a criatura deve possuir e dispor de recursos necessários para uma vida saudável, consentânea com o grupo social no qual se encontra.

No entanto, o êxito não pode ser medido em contas bancárias, prestígio na comunidade e destaque político.
Da mesma forma, não é factível definir-se por fracasso a ausência desses troféus.

Os homens e mulheres plenos, vitoriosos de todos os tempos, venceram-se, completaram-se e, sem qualquer tipo de conflito, optaram pela realização interior, respeitando todas as aspirações e direitos dos demais indivíduos, porém, a eles próprios impondo-se a auto-realização que lhes propiciou saúde — mesmo quando enfermos —, felicidade — embora perseguidos algumas vezes — e êxito — isto é, a vitória no que anelavam, apesar de levados ao martírio.

A visão transpessoal do êxito e do fracasso está ínsita na pessoa interior, real, a criatura harmonizada consigo mesma, com as outras pessoas, com a natureza e a vida.

Êxito é encontro, enquanto fracasso é domínio pelo ego.
O êxito gera paz, e o fracasso inquieta.

Auto-analisando-se, cada qual se descobre, assim dando-se conta do triunfo ou do insucesso, podendo recomeçar para alcançar o êxito, nunca o fracasso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 09, 2012 8:54 pm

10 - Dificuldades do ego

Característica iniludível de imaturidade psicológica do indivíduo, é a sua preocupação em projectar o próprio ego.

Atormentado pela ausência de valores pessoais, quão inseguro no comportamento, apega-se às atitudes afugentes da autopromoção, passando a viver em contínua inquietação, porque sempre insatisfeito.

Afirmou Freud que o sofrimento é inevitável, considerando os grandes problemas que aturdem os seres nas várias expressões em que se exteriorizam.

De fato, a transitoriedade da vida física responde pela morte rápida da ilusão e pela destruição dos seus castelos, produzindo lamentáveis estados emocionais naqueles que se lhes agarram com todas as veras.

Logo percebem-se de mãos vazias, sem qualquer base em que apoiem e firmem as aspirações que acalentam.

As diversas enfermidades e as variadas frustrações, que se radicam no ego, têm, porém, uma historiografia muito larga, transcendendo a existência actual, remontando ao passado espiritual do ser.

Não conhecendo a génese das mesmas, o indivíduo centraliza, nas necessidades de afirmação da personalidade, os seus anseios, derrapando nas valas da projecção indébita do ego.

Quando não se consegue aparecer através das realizações edificantes, mascara-se, e promove situações que vitaliza no íntimo, desde que chame a atenção, faça-se notar.

Em alguns casos, vitimado por conflitos rudes, elabora estados narcisistas e afoga-se na contemplação da própria imagem, em permanente estado de alienação do mundo real e das pessoas que o cercam.

Patologicamente sente-se inferiorizado, e oculta o drama interior partindo para o exibicionismo, como mecanismo de fuga, sustentando-se em falsos pedestais que desmoronam e produzem danos psicológicos irreparáveis.

A criatura que não se conhece, atende ao ego, buscando tornar-se o centro das atenções mediante tricas e malquerenças, que estabelece com rara habilidade, ou envolvendo-se nos mantos que a tornam vítima, para, desse modo, inspirar simpatia, colimando o objectivo de ser admirada, tida em alta conta.

Toda preocupação que se fixa, conduzindo a autopromoção, constitui sinal de alarme, denunciando manifestação dominadora do ego em desequilíbrio, que logo gerará problemas.

A conscientização da transitoriedade da existência física conduz o ser ao cooperativismo e à natural humildade, tendo em vista as realizações que devem permanecer após o seu desaparecimento orgânico.

Por outro lado, o autodescobrimento amadurece o ser, facultando-lhe compreender a necessidade da discrição que induz ao crescimento interior, à plenitude.

Toda vez que alguém se promove, chama a atenção, mas não se realiza.
Pelo contrário, agrada o ego e fica inquieto observando os competidores eventuais, pois que, em todas as pessoas que se destacam vê inimigos, face ao próprio desequilíbrio, assim engendrando novas técnicas para não ficar em segundo plano, não passar ao esquecimento.

O tormento se lhe faz tão pungente e perturbador que, em determinadas áreas das artes, criou-se o brocardo:
Que se fale mal de mim; mas que se fale, numa asseveração de que a evidência lhes preenche o ego, mesmo quando é negativa.

A Psicologia Transpessoal, diante de tal estado, propõe uma revisão dos conteúdos da personalidade, do ego, estabelecendo, como factor essencial no processo da busca da saúde, a conquista do ser pleno, realizador, identificando-se preexistente ao corpo e a ele sobrevivente, sem o que a vida se lhe torna, realmente, um sofrimento inevitável.

Nas faixas da evolução mais densa, em que estagia a grande mole humana, o sofrimento campeia, por ser uma forma de malho e de bigorna que trabalham o indivíduo, nele insculpindo o anjo e arrancando-lhe o demónio do primitivismo aí predominante.

Ciúme, ressentimento, inveja, ódio, maledicência e um largo cortejo de emoções perturbadoras são os filhos dilectos do ego, que deseja dominação e, na ânsia de promover-se, nada mais logra do que projectar a própria sombra, profundamente prejudicial, iníqua.

A superação dessa debilidade moral, dessa imaturidade psicológica ocorrerá, quando o paciente, de início, vigiar as nascentes do coração, conforme propôs Jesus, o Psicoterapeuta Excelente, realizando um trabalho de crescimento emocional e uma realização pessoal plenificadores.

Qualquer escamoteamento da situação mórbida constitui risco para o comportamento, face aos perigos que são produzidos pelos problemas do ego dominador.
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11 - Neurose

Enfermidade apirética, decorrente de perturbações do sistema nervoso, sem qualquer lesão anatómica de vulto, a neurose é mal que perturba expressivo número de criaturas da mole humana.

Com características próprias e sem causalidade cerebral, desequilibra a emoção e gera desajustes fisiológicos sem patogénese profunda.
Para um melhor, breve, estudo metodológico, recorremos a Freud, que classificou as neuroses em dois grupos, embora a complexidade moderna de conceitos e variedades ora apresentados por especialistas.

O célebre médico vienense, que muito se interessou pelas neuroses, estabeleceu que as há verdadeiras e psiconeuroses.
As primeiras decorrem de fixações e pressões de vária ordem, desajustando o sistema nervoso, sem que necessariamente o lesionem.

Ao lado do mecanismo psicológico causal, apresentam uma temporária perturbação orgânica.
São elas: a neurastenia, a hipocondria, as de ansiedade, as de origem traumática...
Ao se instalarem, apresentam estados de angústia, de ansiedade, de insegurança, de medos...

As segundas, porque de origem psicogénica, conduzem a uma regressão de fixações da infância, expressando-se como manifestações de histeria conversiva, ansiosa, incluindo os estados obsessivo e compulsivo.

As neuroses, porque de apresentação subtil no seu começo — tiques nervosos, repetições de palavras ou de gestos, dependências de bengalas psicológicas, fixações psíquicas que se agravam — grassam, na sociedade, especialmente em decorrência de exigências do grupo social e da colectividade, em formas de pressões reais ou aparentes, que, nos temperamentos frágeis, produzem desarmonia, dando curso a inquietações, às vezes, alarmantes.

É comum fazerem-se acompanhar de episódios e fenómenos somáticos mui variados, como taquicardias, prisões de ventre, dores que parecem reais.

A medida que se agravam, podem levar a paralisias, distúrbios de postura, de fonação, movimentos desconexos...
Quando se apresentam com manifestações fóbicas — medos de ambientes fechados, de altura, de doenças, amnésia, etc. — trazem componentes graves, de mais difícil recuperação.

O quadro dos estados histéricos, conversivos e ansiosos, radica-se na psique e tende a avançar para as fixações obsessivas e compulsivas atormentantes.
Generalizando a sua etiopatogenia, também podem manifestar-se em carácter misto, isto é, verdadeiro e psicogénico, simultaneamente, assumindo proporções mais sérias, a um passo dos estados psicóticos, às vezes, irreversíveis.

Não raro, as neuroses apresentam-se com carácter de culpa, atormentando o paciente com a inquietante ideia de que, sobre todo mal e insucesso que lhe acontece, a responsabilidade pertence-lhe.

A manifestação do pensamento de culpa tem um significado autopunitivo, perturbador, que dissocia a personalidade, fragmentando-a.
Outras vezes, expressam-se como forma de transferência, e a necessidade de culpar outrem aturde o paciente, que se apresenta sempre na condição de vítima, buscando, fora de si, as razões que lhe justifiquem as ocorrências mínimas ou máximas que o desagradem.

Quando ele não encontra um responsável próximo e directo, apela para a figura do abstracto colectivo: a sociedade, o governo, Deus...
Os estados neuróticos são profundamente inquietadores e desarmonizam o psiquismo humano, necessitando receber conveniente terapia, bem como perseverante esforço de recomposição psicológica.

Aprofundando-se a sonda da inquirição na psicogénese dos fenómenos neuróticos, defrontar-se-ão as causas reais na conduta anterior do paciente, que atrelou a consciência a comportamentos desvariados e passou injustamente considerado, recebendo simpatia e amizade dos amigos e conhecidos, quando deveria haver sido justiçado, transferindo os receios e inseguranças, que permaneceram camuflados por aparência digna para a actual reencarnação, na qual assomam do inconsciente profundo as culpas e os conflitos que ora se manifestam como processos reparadores.

Eis por que, ao lado das neuroses, surgem episódios de obsessão espiritual que agravam a débil constituição do enfermo, empurrando-o para processos longos de loucura.

Assim ocorre, porque as vítimas das suas acções ignóbeis morreram, porém não se consumiram, e porque prosseguiram vivendo, reencontram, por afinidade de consciência de dívida-e-cobrança, os adversários, infligindo-lhes então maior soma de aflições, a princípio telepaticamente, depois sujeitando-os pelo controle mental e, ainda, mais tarde, de natureza física, quando ocorrem as subjugações lamentáveis.

A consciência inquieta, que reflecte na psicologia do indivíduo os estados neuróticos, encontra-se vinculada a acontecimentos pretéritos, negativos, quão infelizes.

As moléstias, particularmente na área psíquica, instalam-se, por serem doentes da alma os seus portadores.
Toda terapia liberativa deve ter como recurso de auxílio a renovação moral do paciente, sua reeducação através das disciplinas espirituais da oração, da meditação, da relevante acção caridosa, por cujo meio ele se lenifica e se apazigua com aqueles que o odeiam e consigo mesmo, por constatar a excelência da própria recuperação.

Lentamente, a Psicologia Transpessoal identifica esses seres — personalidades anómalas, dúplices, etc. — que interferem no comportamento das criaturas humanas e as perturbam, não sendo outros, senão, as almas dos homens que antes viveram na Terra e permanecem vivos.

Como terapia preventiva a qualquer distúrbio neurótico, a auto-análise frequente, com o exame de consciência correspondente, desidentificando-se das matrizes perturbadoras do passado, e abrindo-se às realizações de enobrecimento no presente, com os anseios da conquista tranquila do futuro.

Certamente, conhecendo a etiopatogenia das enfermidades em geral, Jesus asseverou:
A cada um segundo as suas obras...

Actuar sempre com segurança após saudável reflexão, pensar com rectidão e viver em paz consigo mesmo, representam o mais equilibrado e expressivo carácter psicológico de criatura portadora de saúde mental.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 09, 2012 8:54 pm

QUARTA PARTE - FACTORES DE DESINTEGRAÇÃO DA PERSONALIDADE

12 - Auto compaixão

Psicologicamente, o homem que cultiva a autopiedade desenvolve tormentos desnecessários que o deprimem na razão directa em que a eles se entrega.

Reflexões sobre dificuldades pessoais constituem fenómeno auxiliar para acções dignificadoras, facultando a identificação dos recursos disponíveis, bem como avaliação das atitudes que redundaram em insucesso ou desequilíbrio, a fim de as evitar no futuro ou corrigi-las quanto antes.

Toda aprendizagem assenta-se nos critérios do erro e do acerto, seleccionando as experiências consideradas saudáveis, benéficas, que se fixam pela natural repetição.

Desse modo, os insucessos são patamares que propiciam avanços para que se alcancem degraus mais elevados.
Quando, porém, o indivíduo elege a posição de vítima da vida, assumindo a lamentável condição de infelicidade, encontra-se a um passo de perturbações emocionais graves, logo derrapando em psicopatologias devastadoras.

A mente, conforme seja accionada pela vontade, torna-se cárcere sombrio ou asas de libertação, e ninguém se lhe exime à influência.
Conduzida pelos escuros corredores da lamentação, desatrela condicionamentos que aprisionam o ser demoradamente.

Por isso mesmo, o cultivo da autocompaixão, mediante a insistente reclamação em torno dos acontecimentos da vida, demonstrando insatisfação sistemática, transforma-se em mecanismo masoquista de perturbadora presença no psiquismo.

A pseudo-aflição mantida converte-se em motivo de alegria, realizando um mecanismo de valorização pessoal, cujo desvio comportamental plenifica o ego.
Todo aquele que se faculta a autocompaixão neurótica é portador de insegurança e de complexo de inferioridade, que disfarça, recorrendo, inconscientemente, às transferências da piedade por si mesmo, sem qualquer respeito pelas demais pessoas.

Desenvolve os sentimentos de indiferença pelos problemas dos outros, fechando-se no círculo diminuto da personalidade mórbida.

No seu atormentado ponto de vista, somente a sua é uma situação dolorosa, digna de apoio e solidariedade.
E, quando essas expressões de socorro lhe são dirigidas, reage, recusando-as, a fim de permanecer na postura de infelicidade que o torna feliz.

Aquele que se entrega à autocompaixão nunca se satisfaz com o que tem, com o que é, com os valores de que dispõe e pode movimentar.
Não raro, encontra-se mais bem aquinhoado do que a maioria das pessoas no seu grupo social; no entanto, reclama e convence-se da desdita que imagina, encarcerando-se no sofrimento e exteriorizando mal-estar à volta, com que contamina as pessoas que o cercam ou que se lhe acercam.

Os grandes vitoriosos do mundo lutaram com tenacidade para romper os limites, os problemas, as enfermidades, os desafios.

Não nasceram fortes; tornaram-se vigorosos no fragor das batalhas travadas.
Não se detiveram na lamentação, porque investiram na acção todo o tempo disponível.

Milton, o poeta cego, prosseguiu escrevendo excelentes poemas, ao invés de lamentar-se;
Beethoven continuou compondo, e com mais beleza, após a surdez total;
Chopin, tuberculoso, deu seguimento às músicas ricas de ternura, entre crises de hemoptises, e Mozart, na miséria, sofrendo competições ultrizes, traduziu para os ouvidos humanos as belas melodias que lhe vibravam na alma...

Epícteto, escravo e doente, filosofava, estóico; Demóstenes, gago, recorreu a seixos da praia, colocando-os sobre a língua, para corrigir a dicção;
Steinmetz, aleijado, contribuiu para o engrandecimento da Química...

Franklin D. Roosevelt, vitimado pela poliomielite, tornou-se presidente da América do Norte e colaborou grandemente para a paz mundial durante a Segunda Guerra;
Helen Keller, cega, surda e muda, comoveu o mundo com a sua coragem, cultura, e amor a Deus, ao próximo, à vida e a si própria...

A galeria é expressiva e iluminada pelo génio e pela coragem desses homens e mulheres extraordinários.
Quando se mantém a autocompaixão, extermina-se o amor, não se amando, nem tampouco a ninguém.
O homem tem o dever de aprofundar meditações em torno das aflições e dos seus problemas, a fim de os superar.

A desenvolvimento saudável do ser psicológico impele-o à confiança e o induz à actividade para a aquisição do sentido da vida, da sua finalidade.

Quem de si se compadece, recusa-se a crescer e não luta, estagiando na amargura com a qual se compraz.

Factor de desintegração da personalidade, a auto-compaixão deve ser rechaçada sempre e sem qualquer consideração, cedendo espaço mental para os tentames que levam à vitória, à saúde emocional e à harmonia íntima.
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Série Psicológica Vol. 5 - O Ser Consciente - Joanna de Angelis Empty Re: Série Psicológica Vol. 5 - O Ser Consciente - Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 09, 2012 8:55 pm

13 - Queixas

O golfo de Corinto, na Grécia, é região de beleza ímpar.
As suas águas, em tonalidade azul-turquesa, parecem um espelho, emoldurado pelas montanhas que lhes resguardam a tranquilidade multimilenária.

No monte Parnaso, em lugar de destaque, erguia-se o santuário de Delfos, o mais importante da época, onde se cultuava Apolo, o deus da razão, da cultura, da luz.

Na mitologia grega arcaica, Apolo era o símbolo do conhecimento, equacionador dos enigmas e dos conflitos.
Para o seu templo, em consequência, acorriam multidões aturdidas e ansiosas em busca de orientação, de segurança emocional, de solução para os problemas.

Psicanaliticamente, era um reduto onde nasciam as identificações inconscientes do ser, organizadoras do eu.
Ali, as sibilas, que transmitiam as repostas do deus evocado, desempenhavam papel importante no comportamento dos consulentes, bem como das cidades-estados que lhes buscavam ajuda, inspiração.

Era o santuário no qual se sucediam os apelos, e se multiplicavam as queixas dos desesperados, dos que necessitavam de soluções imediatas para a sobrevivência moral, financeira, social, emocional...

Hoje, reduzido a escombros, ainda permanece a sua mensagem no inconsciente da criatura, herdeira do arquétipo arcaico, que prossegue buscando soluções fáceis, miraculosas, sem o contributo do esforço pessoal, que deve ser desenvolvido.

Permanecendo na infância psicológica, aquele que de tudo se queixa tem a personalidade desestruturada, permanecendo sob constantes bombardeios do pessimismo, do azedume e dos raios destruidores da mente rebelde.

A queixa de que se faz portador é reacção mental e emocional patológica, reflectindo-lhe a insegurança e a perturbação, responsáveis pelas ocorrências negativas que procura ignorar ou escamotear.

Ocultando os conflitos perturbadores, transfere para as demais pessoas as causas dos seus insucessos, sem conseguir enunciá-las, porque destituídas de lógica, passando as acusações para os tempos nos quais vive, às autoridades governamentais, à má sorte, aos fados perversos, assim acalmando-se e tornando-se vítima, no que se compraz.

Os mitos trágicos, que remanescem no inconsciente, assomam-lhe, e personificam-se nas criaturas, que passa a detestar ou nas circunstâncias, que são denominadas como aziagas.

Certamente, há factores humanos e ocasionais que respondem pelas dificuldades e problemas humanos.
São, no entanto, a fragilidade e a insegurança do paciente que ocasionam o insucesso, que poderia ser transformado em êxito, caso, no qual, abandonando a queixa, perseverasse na acção bem direccionada.

Não consideramos sucesso apenas o triunfo económico, social, político, religioso, artístico, quase sempre responsável por expressões de profundo desequilíbrio no comportamento, gerador de estados neuróticos e de perturbações lastimáveis, que se agravam com as queixas.

Referimo-nos a sucesso, quando o indivíduo, em qualquer circunstância, mantém a administração dos seus problemas com serenidade, conserva-se em harmonia no êxito social ou na dificuldade, sem nenhuma perturbação ou desagregação da personalidade, através dos bem aceitos recursos de evasão da responsabilidade.

Por isso, o santuário de Delfos ensinava o conhece-te a ti mesmo como psicoterapia relevante, e mediante esta contribuição o ser amadureceria, crescendo interiormente, assegurando-se da sua fatalidade histórica, a plenitude.

A queixa, como ferrugem na engrenagem do psiquismo, é cruel verdugo de quem a cultiva.
Substitui-la pela compreensão, perante os fenómenos da vida, constitui mecanismo valioso de saúde psicológica.

Diante de quaisquer injunções perturbadoras, o enfrentamento tranquilo com as ocorrências deve ser a primeira atitude a ser tomada, qual se se buscasse Apoio — o discernimento —, deixando-se conduzir pela razão lúcida — a sibila — e descobrisse a real finalidade de todos os factos existenciais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 10, 2012 9:09 pm

14 - Comportamentos exóticos

A dependência psicológica do morbo da queixa, traduzindo insegurança e instabilidade emocional, leva a estados perturbadores que se podem evitar, mediante o cuidado na elaboração das ideias e do optimismo na observação das ocorrências.

O queixoso perdeu o endereço de si mesmo, transferindo-se para os departamentos da fiscalização da conduta alheia.
Síndrome compulsiva para aparecer, o paciente oculta-se na mentirosa postura de vítima ou na condição de portador de conduta inatacável, escorregando pela viciação acusadora, que mais lhe agrava o distúrbio no qual estertora.

Da simples fixação do erro e apenas dele — conforme afirma o brocardo popular, enxerga uma agulha num palheiro — modifica o comportamento perdendo a linha convencional do que é correto e saudável para viver de maneira alienada, cultivando exotismos, dando largas ao inconsciente, responsável pelas repressões que se transformaram em mecanismos de afirmação da personalidade.

Saúde, em realidade, é estado de bom humor, com inalterável tolerância pelas excentricidades dos outros e seus correspondentes erros.

O homem saudável sobressai pela harmonia e optimismo em todas as situações, mantendo-se equilibrado, sem os azedumes perturbadores, os ademanes chamativos, nem as agravantes manifestações anómalas.

A doença caracteriza-se pela inarmonia em qualquer área da pessoa humana, gerando os distúrbios catalogados nos diferentes departamentos do corpo, da mente, da emoção.

A insegurança, a frustração, os complexos de inferioridade, perturbando o equilíbrio psicológico, transferem-se para as reacções nervosas, manifestando-se em contracções musculares, fixações, repetições de gestos, palavras e conduta alienadoras, que degeneram nas psicoses compulsivas, específicas, cada vez mais constritoras, em curso para o desajuste total...

O excêntrico é ser atormentado, ególatra;
frágil, que se faz indiferente;
temeroso, que se apresenta com reacções imprevisíveis;
insensível, que se recusa enfrentar-se.

Ignora os outros e vive comportamentos especiais, como única maneira de liberar os conflitos em que se aturde.

A psicoterapia própria, reajustadora, apresenta-se propondo-lhe uma revisão de valores culturais e sociais, envolvendo-o no grupo familiar e nos problemas da comunidade, a fim de que rompa a carapaça da dissimulação e assuma as responsabilidades que interessam a todos, tornando-se célula harmónica, activa, ao invés de manter-se em processo degenerativo, ameaçador...

Atavicamente herdeiro dos hábitos pretéritos, conduz, de reencarnações infelizes, excentricidades multiformes, como arquétipos do inconsciente colectivo que, no entanto, são gerados por ele próprio.

Nessa área, surgem os distúrbios do sexo, predominando a psicologia à morfologia, caracterizando biótipos extravagantes, que chamam a atenção pelo desvio de conduta, por fenómeno psicológico de não-aceitação de sua realidade, compondo uma personificação que agride aos outros, e a si mesmo se realiza em fenómeno de autodestruição.

A exibição não é apenas uma forma de assumir o estado interior, psicológico, mas, também, de chocar, em evidente revolta contra o equilíbrio mente-corpo, emoção-função fisiológica...

Por extensão, a compulsão psicótica leva-o à extroversão exagerada, em todas as formas da sua comunicação com o mundo exterior, pondo para fora os conflitos, mascarados em expressões que lhe parecem afirmar-se perante si mesmo e as demais pessoas.

Outrossim, algumas dessas personalidades exóticas fazem-se isoladas onde quer que se encontrem, evitando o relacionamento com o grupo, em postura excêntrica, de natureza egoísta.

Exigem consideração, que não dispensam a ninguém; auxílio, que jamais retribuem; gentilezas, que nunca oferecem, sendo rudes, mal-humorados, insensíveis e presunçosos.

Essa é uma fase adiantada do comportamento exótico, que exige mais acentuada terapia de profundidade.
Nesse estágio da conduta, os sonhos são-lhes caracterizados pela necessidade tormentosa de conseguirem a realização plenificadora, que não atingem.

Devaneios íntimos povoam-lhes o campo onírico, referto de transtornos e pesadelos, que mais os inquietam quando no estado de consciência lúcida.
Os fatos da infância ressurgem-lhes fantasmagóricos, e a imagem da mãe, excessivamente dominadora ou tragicamente benévola, que transferiu para o rebento suas frustrações e nele passou a realizar-se, anelando para a felicidade do ser querido tudo aquilo quanto não fruiu, neurótica, portanto, na sua estrutura maternal.

A psicoterapia deve apoiar-se na busca da conscientização do paciente, para que assimile novos hábitos, empenhando-se em harmonizar a sua natureza interior com a sua realidade exterior, exercitando-se no convívio social sem a tentação de destacar-se, sendo pessoa comum, identificada com os objectivos normais da vida, que escolherá conforme as próprias aptidões, trabalhando com esforço a modelagem da nova personalidade.

O desenvolvimento da criatividade contribui para o ajustamento da personalidade ao equilíbrio, gerando o enriquecimento interior, que anulará os condicionamentos viciosos.

Sem dúvida, o acompanhamento do psicólogo assim como do analista atentos lhe propiciará o encontro com o eu profundo e seus conteúdos psíquicos, liberando-se das heranças neuróticas e dos condicionamentos psicóticos.

O homem e a mulher saudáveis têm comportamento ético, sem pressão, e tornam-se comuns, sem vulgarizarem-se.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 10, 2012 9:10 pm

QUINTA PARTE - PROBLEMAS HUMANOS

15 - Problemas Humanos

Os problemas humanos ou desafios existenciais fazem parte do organograma da evolução.

A criatura pensante é um ser incompleto ainda, em constante processo de aprimoramento, de transformações, em prolongado esforço para desenvolver os potenciais psicofísicos, parapsicológicos e mediúnicos nela em latência.

Aferrada às impressões mais grosseiras do ego, face ao que considera como factores indispensáveis à sobrevivência — valores materiais que propiciam alimentação, vestuário, repouso, prazer e tranquilidade ante a doença e a velhice — desenvolve o apego e exterioriza o sentimento centralizador da posse, mantendo-se em alerta para a preservação desses bens, que lhe parecem de significado único, portanto, essenciais.

Qualquer ameaça, real ou imaginária, que possa produzir a perda, torna-se problema, que logo se incorpora à conduta, gerando perturbação, desar.
Além desses, outros (problemas) há de natureza psicológica, como heranças reencarnacionistas, que ressumam em forma de fenómenos patológicos, inquietadores.

Somem-se-lhes os que se derivam do inseguro inter-relacionamento pessoal, como decorrência do que se consigna em condição de imperfeições da alma.
Os problemas enraízam-se, não raro, nos tecidos da malha delicada do psiquismo, avultando-se ou perdendo o sentido, de acordo com as resistências fortes ou frágeis da personalidade individual.

O que a uns constitui gravame, aborrecimento, a outros não passa de insignificante acidente de percurso que estimula a marcha.
Quanto mais se valoriza o problema, mais vitalidade se lhe oferece, aumentando-lhe a força de acção com os seus correspondentes efeitos.

Nas personalidades instáveis, normalmente os complexos psicológicos assumem as responsabilidades pelas ocorrências problematizantes.
Quando algo em que se confia, ou do qual se espera resultado positivo, transforma-se em desastre, insucesso, o ego foge, escamoteia-o, por falta de consciência lúcida, afirmando: Eu sou culpado.

A inferioridade psicológica desenvolve o complexo em que se refugia, e, mesmo quando em aparente conflito, nele se realiza, justifica-se, deixa de lutar.

Certamente, cada problema merece um tipo de atenção, de cuidado especial para a sua solução. Esse esforço deve ser natural, destituído dos estímulos negativos do medo ou da ansiedade, de modo a analisar a situação conforme se apresente, e não consoante os fantasmas da insegurança desenhem na imaginação criativa — refúgio para a irresponsabilidade que não assume o papel que lhe diz respeito.

Em outros temperamentos, quando o problema se converte em dificuldade e ocorrência prejudicial, o ego estabelece:
A culpa é do outro;
ou da saúde;
ou da família;
ou do grupo social;
ou da sociedade em geral, ou do destino...

Resolve-se a questão utilizando-se do complexo de superioridade, e mediante esta conduta coloca-se acima de qualquer suspeita de fragilidade, escondendo-se nas justificativas de incompreendido, perseguido, infeliz...

Evitando considerar o problema na sua real significação, passado o momento, compõe a consciência de culpa e esse mesmo ego recorre à condicional dos verbos, afligindo-se:
Eu deveria ter feito de tal forma; eu poderia ter enfrentado;
eu tentaria evitar...

Mecanismos perversos de imaturidade compõem a tecedura protectora do escapismo, para fugir das consequências dos problemas, cuja finalidade é testar as possibilidades e valores de cada uma em particular e de todas as criaturas em geral.

O problema humano, portanto, maior e mais urgente para ser equacionado, é a própria criatura.
Para consegui-lo, mister se torna o amadurecimento psicológico, decorrente do esforço sério e bem direccionado, do estudo do eu profundo e da sua busca incessante, que são as metas existenciais mais urgentes.

Na transitoriedade da condição humana, o eu profundo deve emergir, desatando os inestimáveis recursos que lhe são inatos, graças aos quais o psiquismo comanda conscientemente a vida, abrindo o leque imenso das percepções paranormais.

Nesse elenco de registros parapsíquicos desabrocham os recursos mediúnicos que propiciam o livre trânsito entre as duas esferas da vida: a física e a espiritual.
Essa dilatação da capacidade parafísica propicia o mergulho do eu profundo — o Espírito — na causalidade dos fenómenos humanos, assim interpretando, na origem, os problemas que sempre procedem das experiências anteriores.

Mesmo quando são atuais e começaram recentemente, o ser que os enfrenta necessita deles, recuperando-se moralmente, trabalhando o amadurecimento, porquanto, o estado de infância psicológica decorre da ausência de realizações evolutivas.

Ninguém permanece vivo sem o enfrentamento com os problemas, que existem para ser resolvidos, oferecendo o saldo positivo de evolução.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 10, 2012 9:10 pm

16 - Gigantes da alma

Envolto na pequenez das aspirações egóícas, o ser move-se sob as injunções das necessidades de projecção da imagem, por sentir-se incapaz de superar a sombra, manifestando a força do eu real, imagem e semelhança de Deus.

Gerado para alcançar o Infinito e a Consciência Cósmica, é deus em germe, que as experiências evolutivas desenvolvem e aprimoram.

O ego, projectando-se em demasia, compõe os quadros de aflição em que se refugia e, negando-se a lutar, desenvolve os fantasmas gigantes que o protegem, quais cogumelos venenosos que desabrocham em terrenos húmidos e férteis, medrando no seu psiquismo atormentado e passando ao domínio escravizador.

Entre os terríveis gigantes da alma, que têm predomínio em a natureza humana, destacam-se: os ressentimentos, os ciúmes e as invejas que entorpecem os sentimentos, açulam a inferioridade e terminam por vencer aqueles que os vitalizam, caso não se resolvam enfrentá-los com hercúlea decisão e pertinaz insistência.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 10, 2012 9:10 pm

17 - Ressentimento

Entre os tormentos psicológicos alienadores, a presença do ressentimento na criatura humana tem lugar de destaque.

Injustificável, sob todos os pontos de vista, ele se instala, enraizando-se no solo fértil das emoções em descontrole do paciente, aí engendrando males que terminam por consumir aquele que lhe dá guarida.

A vida expressa-se em padrões sociais, resultado da condição evolutiva das criaturas que se inter-relacionam.
Como é natural, porque há uma larga variedade de biótipos emocionais, culturais e religiosos ou não, as suas são reacções compatíveis com os níveis de consciência em que se encontram, exteriorizando ideias e comportamentos que lhes correspondem ao estado no qual se demoram.

A convivência humana é feita por meio de episódios conflitivos, por falta de maturação geral que favoreça o entendimento e a transacção psicológica em termos de bem-estar para todos os parceiros.

Predominando a natureza animal em detrimento dos valores espirituais e éticos, a competição e o atrevimento armam ciladas, nas quais tombam os temperamentos mais confiantes e ingénuos, que se deixam, logo após, mortificar.

Descobrindo-se em logro, acreditando-se traído, o companheiro vitimado recorre ao ego e equipa-se de ressentimento, instalando, nos painéis da emotividade, cargas violentas que terminarão por desarmonizar-lhe os delicados equipamentos e se reflectirão na conduta mental e moral.

O ressentimento, por caracterizar-se como expressão de inferioridade, anela pelo desforço, consciente ou não, trabalhando por sobrepor o ego ferido ao conceito daquele que o desconsiderou.

No importante capítulo da saúde mental, indispensável ao equilíbrio integral, o ressentimento pode ser comparado a ferrugem nas peças da sensibilidade, transferindo-se para a organização somática, reflectindo-se como distúrbios gástricos e intestinais de demoradas consequências.

Gastrites e diarreias inexplicáveis procedem dos tóxicos exalados pelo ressentimento, que deve ser banido das paisagens morais da vida.
As pessoas são, normalmente, competitivas, no sentido negativo da palavra, desejando assenhorear-se dos espaços que lhes não pertencem e, por se encontrarem em faixas primitivas da evolução, fazem-se injustas, perseguem, caluniam.

É um direito que têm, na situação que as caracterizam.
Aceitar-lhes, porém, os petardos, vincular-se-lhes às faixas vibratórias de baixo teor, no entanto, é opção de quem não se resolve por preservar a saúde ou não deseja crescer emocionalmente.

Quando o ressentimento exterioriza as suas manifestações, deve ser combatido, mental e racionalmente, eliminando a ingerência do ego ferido e ensejando a libertação do eu profundo, invariavelmente esquecido, relegado a plano secundário.

O indivíduo, através da reflexão e do auto-encontro, deve preocupar-se com o desvelamento do si, identificando os valores relevantes e os perniciosos.

sem conflito, sem escamoteamento, trabalhando aqueles que são perturbadores, de modo a não facultar ao ego doentio o apoio psicológico neles, para esconder-se sob o ressentimento na justificativa de buscar ajuda para a autocompaixão.

O processo de evolução é incessante, e as mudanças, as transformações fazem-se contínuas, impulsionando à conquista dos recursos adormecidos no imo, o Deus interno que jaz em todos os seres.

A liberação do ressentimento deve ser realizada através da racionalização, sem transferências nem compensações egóicas.

À medida que a experiência fixa aprendizados, esse terrível gigante da alma se apequena e se dilui, desaparece, a partir do momento em que deixa de receber os alimentos de manutenção pela ideia fixa e mediante o desejo de revidar, de sofrer, de ser vítima...
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