LUZ ESPÍRITA
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Série Psicológica Vol. 5 - O Ser Consciente - Joanna de Angelis

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 10, 2012 9:10 pm

18 - Ciúme

Tipificando insegurança psicológica e desconfiança sistemática, a presença do ciúme na alma transforma-se em algoz implacável do ser.

O paciente que lhe tomba nas malhas estertora em suspeitas e verdades, que nunca encontram apoio nem reconforto.

Atormentado pelo ego dominador, o paciente, quando não consegue asfixiar aquele a quem estima ou ama, dominando-lhe a conduta e o pensamento, foge para o ciúme, em cujo campo se homizia a fim de entregar-se aos sofrimentos masoquistas que lhe ocultam a imaturidade, a preguiça mental e o desejo de impor-se à vítima da sua psicopatologia.

No aturdimento do ciúme, o ego vê o que lhe agrada e se envolve apenas com aquilo em que acredita, ficando surdo à razão, à verdade.

O ciúme atenaza quem o experimenta e aquele que se lhe torna alvo preferencial.
O ciumento, inseguro dos próprios valores, descarrega a fúria do estágio primitivista em manifestações ridículas, quão perturbadoras, em que se consome.

Ateia incêndios em ocorrências imaginárias, com a mente exacerbada pela suspeita infeliz, e envenena-se com os vapores da revolta em que se rebolca, insanamente.

Desviando-se das pessoas e ampliando o círculo de prevalência, o ciúme envolve objectos e posições, posses e valores que assumem uma importância alucinada, isolando o paciente nos sítios da angústia ou armando-o com instrumentos de agressão contra todos e tudo.

O ciúme tende a levar sua vítima à loucura.
O ego enciumado fixa o móvel da existência no desejo exorbitante e circunscreve-se à paixão dominadora, destruindo as resistências morais e emocionais, que terminam por ceder-lhe as forças, deixando de reagir.

Armadilha do ego presunçoso, ele merece o extermínio através da conquista de valores expressivos, que demonstrem ao próprio indivíduo as suas possibilidades de ser feliz.

Somente o self pode conseguir essa façanha, arrebentando as algemas a que se encontra agrilhoado, para assomar, rico de realizações interiores, superando a estreiteza e os limites egóicos, expandindo-se e preenchendo os espaços emocionais, as aspirações espirituais, vencidos pelos gases venenosos do ciúme.

Liberando-se da compressão do ciúme, a pouco e pouco, o eu profundo respira, alcança as praias largas da existência e desfruta de paz com alguém ou não, com algo ou nada, porém com harmonia, com amor, com a vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 10, 2012 9:11 pm

19 - Inveja

Remanescente dos atavismos inferiores, a inveja é fraqueza moral, a perturbar as possibilidades de luta do ser humano.

Ao invés de empenhar-se na auto-valorização, o paciente da inveja lamenta o triunfo alheio e não luta pelo seu;
compete mediante a urdidura da intriga e da maledicência;
aguarda o insucesso do adversário, no que se compraz;
observa e persegue, acoimado por insidiosa desdita íntima.

Egocêntrico, não saiu da infância psicológica e pretende ser o único centro de atenção, credor de todos os cultos e referências.

Insidiosa, a inveja é resultado da indisciplina mental e moral que não considera a vida como património divino para todos, senão, para si apenas.

Trabalha, por inveja, para competir, sobressair, destacar-se.
Não tem ideal, nem respeito pelas pessoas e pelas suas árduas conquistas.

Normalmente moroso e sem determinação, resultado da sua morbidez inata, o enfermo de inveja nunca se alegra com a vitória dos outros, nem com a alheia realização.

A inveja descarrega correntes mentais prejudiciais dirigidas às suas vítimas, que somente as alcançam se estiverem em sintonia, porém cujos danos ocorrem no fulcro gerador, perturbando-lhe a actividade, o comportamento.

A terapia para a inveja consiste, inicialmente, na-cuidadosa reflexão do eu profundo em torno da sua destinação grandiosa, no futuro, avaliando os recursos de que dispõe e considerando que a sua realidade é única, individual, não podendo ser medida nem comparada com outras em razão do processo da evolução de cada um.

O cultivo da alegria pelo que é e dos recursos para alcançar outros novos patamares enseja o despertar do amor a si mesmo, ao próximo e a Deus, como meio e meta para alcançar a saúde ideal, que lhe facultará a perfeita compreensão dos mecanismos da vida e as diferenças entre as pessoas, formando um todo holístico na Grande Unidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 10, 2012 9:11 pm

20 - Necessidade de valorização

Os destrutivos gigantes da alma, que exteriorizam os tormentos e a imaturidade do ego, de alguma forma reflectem um fenómeno psicológico, às vezes de procedência inconsciente, noutras ocasiões habilmente estabelecido, que é a necessidade da sua valorização.

Quando escasseiam os estímulos para esse cometimento do eu, sem crescimento interior, que não recebe compensação externa mediante o reconhecimento nem a projecção da imagem, o ego sobressai e fixa-se em mecanismos perturbadores a fim, de lograr atenção, desembaraçando-se, dessa forma, do conflito de inferioridade, da sensação de incompletude.

Tivesse maturidade psicológica e recorreria a outros construtores gigantes da alma, como o amor, o esforço pessoal, a conscientização, a solidariedade, a filantropia, desenvolvendo as possibilidades de enriquecimento interior capazes de plenificação.

Acostumado às respostas imediatas, o ego infantil deseja os jogos do prazer a qualquer preço, mesmo sabendo que logo terminam deixando frustração, amargura e novos anelos para fruir outros.

A fim de consegui-lo e por não saber dirigir as aspirações, asfixia-se nos conflitos perturbadores e atira-se ao desespero.
Quando assim não ocorre, volta-se para o mundo interior e reprime os sentimentos, fechando-se no estreito quadro de depressão.

Renitente, faculta que ressumam as tendências do prazer, mascaradas de auto-eleição, de autoflagelação, de auto-depreciação.

Entre muitos religiosos em clima de insatisfação pessoal, essa necessidade de valorização reaparece em estruturas de aparente humildade, de dissimulação, de piedade, de protecção ao próximo, estando desprotegidos de si mesmos...

A humildade é uma conquista da consciência que se expressa em forma de alegria, de plenitude.
Quando se manifesta com sofrimento, desprezo por si mesmo, violenta desconsideração pela própria vida, exibe o lado oculto da vaidade, da violência reprimida e chama a atenção para aquilo que, legitimamente, deve passar despercebido.

A humildade é uma atitude interior perante a vida;
jamais uma indumentária exterior que desperta a atenção, que forja comentários, que compensa a fragilidade do ego.

O caminho para a conscientização, de vigilância natural, sem tensão, fundamentando-se na intenção libertadora, é palmilhado com naturalidade e cuidado.

Jesus, na condição de excepcional Psicoterapeuta, recomendava a vigilância antes da oração, como forma de auto-encontro, para depois ensejar-se a entrega a Deus sem preocupação outra alguma.

A Sua proposta é actual, porquanto o inimigo do homem está nele, que vem herdando de si mesmo através dos tempos, na esteira das reencarnações pelas quais tem transitado. Trata-se do seu ego, dissimulador hábil que conspira contra as forças da libertação.

Não podendo fugir de si mesmo nem dos factores arquetípicos colectivos, o ser debate-se entre o passado de sombras — ignorância, acomodação, automatismos dos instintos — e o futuro de luz — plenitude através de esforço tenaz, amor e auto-realização — recorrendo aos dias presentes, conturbados pelas heranças e as aspirações.

No entanto, atraído pela razão à sua fatalidade biológica — a morte — transformação do soma — histórica — a felicidade — e espiritual — a liberdade plena — vê o desmoronar dos seus anseios e reconstrói os edifícios da esperança, avançando sem cessar e conquistando, palmo a palmo, a terra de ninguém, onde se expressam as próprias emoções conturbadas.

Essa necessidade de valorização egóica pode ser transformada em realização do eu mediante o contributo dos estímulos.

Cada acção provoca uma reacção equivalente.

Quando não se consegue uma resposta através de um estímulo positivo, como por exemplo:
— Eu te amo, para uma contestação equivalente:
— Eu também, recorre-se a uma negativa:
— Ninguém me ama, recebendo-se uma evasiva
— Não me inclua nisso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 10, 2012 9:11 pm

Sob trauma ou rancor, o estímulo expressa-se agressivo:
— Não gosto de ninguém, para colher algo idêntico:
— A recíproca é verdadeira.

Os estímulos são fontes de energia.
Conforme dirigidos, brindam com resultados correspondentes.
O ego que sente necessidade de valorização, sem o contributo do self em consonância, utiliza-se dos estímulos negativos e agressivos para compensar-se, sejam quais forem os resultados.

O importante para o seu momento não é a qualidade da resposta estimuladora, mas a sua presença no proscénio onde se considera ausente.

Verdadeiramente, no inter-relacionamento social, quando todos se encontram, o ego isola suas vítimas para chamar a atenção ou bloqueia-as de tal forma que não ficam ausentes, porém tornam-se invisíveis.

Encontram-se no lugar, todavia, não estão ali.
Essa invisibilidade habilmente buscada compensa o conflito do ego, mantendo a autoflagelação de que não é notado, não possui valores atraentes.

Tal mortificação neurótica introjecta as imagens infelizes e personagens míticas do sofrimento, que lhe compõem o quadro de desamparo emocional de desdita pessoal.

Nesse comportamento doentio do ego, a necessidade de valorização, porque não possui recursos relevantes para expor, expressa-se na enganosa autocomiseração que lhe satisfaz as exigências perturbadoras, e relaxa, completando-se emocionalmente.

Quando o self assoma e governa o ser, os estímulos são sempre positivos, mesmo que tenham origem negativa ou agressiva, porque exteriorizam o bem-estar que lhe é próprio.

Se alguém diz:
Não gosto de você, a mensagem transaccional retorna elucidando:
— Eu, no entanto, o estimo.
Se a proposta afirma:
— Detesto-o, a comunicação redargue:
— Eu o admiro.

Não se contamina nem se amargura, porque, em equilíbrio, possui valor, não tendo necessidade de valorização.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 10, 2012 9:12 pm

21 - Padrões de comportamento: mudanças

O comportamento desvela ao exterior a realidade íntima do ser humano.

Nem sempre, porém, tal manifestação se reveste de autenticidade, pois que muitos factores contribuem para mascarar-se o que se é, numa demonstração apenas do que se aparenta ser.

A Psicologia Transaccional procura desvelar os enigmas do comportamento, utilizando-se da comunicação interpessoal para libertar o indivíduo de conflitos e pressões.

De acordo com a maturidade ou não do ser psicológico, a comunicação padece dificuldades que somente poderão ser sanadas quando existir um propósito firme para o êxito.

Há uma tendência natural para o disfarce do ego, quando prevalece um impulso dominante para a convivência, a experiência social, o diálogo.
A ausência de tais imperativos contribui para o desequilíbrio emocional e, por consequência, para os estados psicopatológicos que se multiplicam avassaladores.

A comunicação desempenha, em todas as vidas, um papel relevante, quando visceral, emocional, livre, sem as pressões da desconfiança e da insegurança pessoal.

À medida que o ser se descerra em narrativa afectuosa ou amiga, o interlocutor, sentindo-se acompanhado, descobre-se.

Enquanto coordena as ideias para o diálogo, auto-analisa-se, identifica-se, facilitando o próprio entendimento.
Liberando-se das conversações feitas de interrogações-clichés desinteressantes, penetra-se e faculta ao outro a oportunidade de igualmente desvelar-se.

Quando se repartem informações no inter-relacionamento pessoal, compartem-se emoções.
Quando a conversação, no entanto, é trivial, os clichés sem sentido e costumeiros não dizem nada.

Quando se indaga:
— Como vai? — a resposta é inevitável:
— Bem, obrigado!

Mesmo porque, se o interrogado se resolvesse dizer como realmente vai, é bem provável que o interlocutor não tivesse nenhum interesse em ouvir-lhe a resposta mais complexa e profunda.

Talvez a aceitasse de maneira surda, desinteressadamente, com enfado.
Na grande mole humana destacam-se os biótipos introvertidos e extrovertidos.

Os primeiros, na etapa inicial do desenvolvimento psicológico, assumem uma atitude tímida e fazem a introspecção.
Passada a fase de auto-análise, torna-se-lhes indispensável a extroversão, o relacionamento, rompendo a cortina que os oculta e desvelando-se.

Os segundos, normalmente, escondem a sua realidade e conflitos erguendo uma névoa densa pela exteriorização que se permitem, inseguros e instáveis.
Descobrindo-se honestamente, diminuem a loquacidade e, reflexionando, assumem um comportamento saudável, sem excesso de ruídos nem ausência deles.

Os padrões de comportamento estão estabelecidos através de parâmetros nem sempre fundamentados em valores reais.
Aceitos como de conveniência, aqueles que foram considerados correctos, podem ser classificados como sociais, culturais, morais e religiosos...

Em todos eles existem regras estatuídas pelo ego, para uma boa apresentação, que quer significar engodo, em detrimento do eu profundo ao processo de constantes mudanças e crescimentos.

Nos comportamentos sociais estão estabelecidas as regras do bom-tom, para deixar e transmitir impressões agradáveis, compensadoras.
As pessoas submetem-se às pequenas ou grandes regras da etiqueta, do convívio social, sempre preocupadas em dissimular os sentimentos, de modo que produzam os resultados adrede esperados.

Convive-se com indivíduos em muito encontros sociais, permanecendo, no entanto, todos desconhecidos entre si.
O comportamento cultural reúne as aquisições intelectuais, artísticas, desportivas, mediante as quais a exibição do ego gera constrangimentos perturbadores, às vezes despertando fenómenos competitivos e de presunção lamentável, em total desrespeito pelo si, pela pessoa humana real.

As preocupações financeiras de promoção egóica comprazem o indivíduo pela exposição desnecessária do desperdício e da dissolução, provocando estados auto-obsessivos-compulsivos de ser-se o maior, o mais extravagante, o de mais larga renda...

Logo após, nos raros momentos de auto-encontro, surgem-lhe as depressões, que são asfixiadas sob a acção dos alcoólicos, das drogas aditivas, da auto-emulação exibicionista com que foge da realidade interna para lugar nenhum.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 10, 2012 9:12 pm

O comportamento moral está sujeito aos imperativos legais, estabelecidos conforme o imediatismo dos interesses de grupos e legisladores, às vezes desavisados, que pensam mais em seus prazeres do que no bem geral da comunidade que lhes paga para a servir...

Elaborando leis, desincumbindo-se do que lhes é dever, muitos desses homens públicos, insensatos, dão a impressão de que estão realizando algo extraordinário, que os sacrifica, e não aquilo para o que são regiamente remunerados.

Apoiam-se, então, em comportamento moral-social de tendências egoísticas, sem qualquer consideração para com a vida.

Na área do comportamento religioso, inúmeras imposições castradoras contribuem para condutas falsas, sem qualquer consideração pelos fundamentos das Doutrinas que se devem pautar pelos processos de libertação das consciências, e não de apavoramento, de pressão, de hipocrisia, de discriminação.

Jesus conclamou os Seus seguidores à busca da Verdade que liberta, em cujo comportamento se fundem o ego e o eu, numa formulação de amor sem máscaras e sem conflitos.

Os padrões de comportamento normalmente se fixam em directrizes que não atendem à realidade do ser, geralmente mutilado nas suas aspirações nobres de vida, nos relacionamentos dignos, confiantes, saudáveis...

A certeza da imortalidade da alma abre um elenco de comportamentos autenticados pela educação espiritual na busca do vir-a-ser, do transformar-se, do encontrar o Outro, como propunha Kierkegaard, o filósofo e teólogo existencialista...

O Outro, que facilita o diálogo, Deus, é a Fonte que se deve buscar para atingir a plenitude, a felicidade existencial.

Mudanças

O ser humano prossegue em crescimento, em desenvolvimento contínuo, em mudanças.

É natural que, por efeito, o seu comportamento sofra alteração.

Toda a contextura celular renova-se incessantemente, e as experiências como as vivências contribuem para a mudança de padrões comportamentais, em inevitável processo de aprimoramento do ser, à medida que o self se liberta das contenções impostas pelos arquétipos, defluentes das reencarnações pretéritas.

A estruturação psicológica da pessoa humana está, como decorrência, a exigir renovação e estudo de si mesma, a fim de crescer psiquicamente, na razão em que se lhe desenvolvem os equipamentos orgânicos, responsáveis pelo amadurecimento cultural e social, alargando-lhe a percepção moral e a religiosidade perante as exigências da Vida.

Assim, ninguém é igual a outrem, nem pode ser avaliado mediante as comparações da frágil aparência.

A conquista de si mesmo é o desafio constante para a auto-realização, a harmonia psicológica, o desenvolvimento das percepções parapsíquicas e mediúnicas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 11, 2012 9:00 pm

SEXTA PARTE - CONDICIONAMENTOS

22 - O bem e o mal

Questão de alta complexidade para a criatura humana, o dualismo do bem e do mal encontra-se ínsito na sua psicologia interior, confundindo-a e perturbando-lhe, não raro, o discernimento.

Com características metafísicas, na sua formulação abstracta, essa dualidade concretiza-se nos actos do ser, gerando fenómenos relevantes de consciência, que contribuem para o equilíbrio ou a desordem psíquica, de acordo com as suas respectivas manifestações.

Em todos os períodos da cultura ancestral encontramos o esforço da religião e do pensamento tentando estabelecer os paradigmas em que se apoiam um e outro, para melhor explicá-los.

Ontem, era uma abstracção meramente filosófica ou religiosa, passando, mais tarde, a fazer parte da ética, no capítulo da moral, avançando historicamente até interessar à sociologia, ao comportamentalismo, à psicologia.

O código de Hamurabi, inscrito em uma estela de diorito, já definia as acções louváveis e as reprocháveis, simbolizando o bem e o mal, com as respectivas consequências legais no comportamento humano em relação à criatura em si mesma, à sociedade e ao seu próximo.

Entre medos e persas — o livro sagrado ZendAvesta separava a mesma dualidade nas personificações de Ormuzde — ou representação do bem — e Ariman — ou personificação do mal —, em cuja luta o último seria submetido e por consequência eliminado.

A Bíblia, por sua vez, representa o bem nas deidades angélicas e o mal, nas demoníacas, ambas, no entanto, sob o controle de Deus, contra Quem se rebelara Lúcifer que, expulso do paraíso, tornou-se-Lhe o adversário temerário...

A Metafísica Tradicional, analisando a Criação, estabeleceu os dois princípios, do bem e do mal, que se vinculam ao conciliador, no vértice superior do simbólico triângulo isósceles.
Logo depois, a interpretação chinesa apresentou-os nas duas admiráveis forças cósmicas:
o Yang — masculino, positivo, seco, bom — e o Yin — feminino, húmido, negativo, frio —, que se conciliam sob o comando da suprema perfeição ao confundirem-se, gerando a harmonia.

Inspirada no hinduísmo, a Trilogia da Criação apresenta Brama como Plenipotente, o Princípio Supremo, e as duas forças antagónicas, Vishnu, o Conserva dor, ou princípio construtor e Shiva, o Destruidor, ou princípio aniquilador dos seres, em perene luta até a supremacia do edificador...

Das concepções pretéritas à realidade presente, filosoficamente o bem é tudo quanto fomenta a beleza, o ético, a vida, consoante a moral, e o mal vem a ser aquilo que se opõe ao edificante, ao harmónico, ao bem.

Sociologicamente o bem contribui para o progresso, e todas as realizações que promovem o ser, o grupo social e o ambiente expressam-lhe a grandeza, a acção concreta que resulta da capacidade selectiva de valores éticos para a harmonia e a felicidade.

Como efeito, o mal decorre de todo e qualquer fenómeno que se opõe ou conspira contra esse contributo superior.
A Psicologia não poderia ficar indiferente a essa dualidade que existe no ser humano, remanescendo como as suas aspirações de crescimento e elevação, do nobre e equilibrado, do saudável e propiciador de paz.

Ao mesmo tempo, o atavismo dos instintos agressivos propele-o para a violência — quando deseja possuir —, para o vilipêndio — quando se sente diminuído —, para o grotesco e vulgar — quando derrapa no menosprezo de si mesmo...

Desenvolvendo, no entanto, a consciência que sai do torpor de nível de sono sem sonhos, imediatamente começa a perceber os valores que compensam e os que conflituam o comportamento psicológico, impulsionando-o, embora lentamente, para a adopção de conduta mental e física, idealista e comportamental do bem, tornando-se instrumento útil no grupo social, que se promove e eleva-o a estágio superior, permitindo-lhe aspirar sempre a mais e melhor.

Esse discernimento, que resulta da consciência em libertação dos condicionamentos escravizadores, amplia a capacidade para identificar o bem e o mal, predispondo-o à eleição do primeiro em detrimento do outro.

Se, por acaso, incorre em equívocos de selecção e tomba nas malhas do mal, mesmo que sob as circunstâncias perturbadoras do ódio, do medo, da angústia, da volúpia, da desordem interior, ao descobrir-se em falta, faz o quadro de consciência de culpa e sofre as patologias afugentes, que se lhe tornam mecanismos reparadores.

Afirma-se, porém, que a linha divisória entre o bem e o mal é tão fluida e oscilante que, não raro, o bem de hoje torna-se o mal de amanhã e vice-versa, numa dialéctica sofista, que se poderia considerar anárquica...

Certamente, muitos códigos e leis, de acordo com as conveniências de grupos e castas, de partidos e raças, de religiões e credos, por questões imediatistas, tentam tornar legais comportamentos que não são morais e, reciprocamente, justificando-se atitudes vulgares e tentando liberar-se comportamentos alienados, condutas extravagantes e arbitrárias.

O Decálogo moisaico, no entanto, sintetiza os códigos moral e legal, portanto, o que é bem e o que é mal, havendo facultado a Jesus afirmar, em grandiosa proposta, toda a complexidade desse fenómeno dual: — Não fazer a outrem o que não deseja que ele lhe faça.

Porque ainda injustos os homens, as leis que elaboram possuem os seus parcialismos, defecções, devendo ser respeitadas, sem que a algumas delas se atribuam reais valores morais, significativos e definidores do bem e do mal.

O bem e o mal estão inscritos na consciência humana, em a natureza, na sua harmoniosa organização que deu origem à vida e a fomenta.

Tudo quanto contribui para a paz íntima da criatura humana, seu desenvolvimento intelecto-moral, é-lhe o bem que deve cultivar e desenvolver, irradiando-o como bênção que provém de Deus.

E esse mal, aliás transitório, temporal, que o propele às acções ignóbeis, aos sofrimentos, é remanescente atávico do seu processo de evolução, que será ultrapassado à medida que amadureça psicologicamente, e se lhe desenvolvam os padrões de sensibilidade e consciência para adquirir a integração no Cosmo, liberado das injunções dolorosas, inferiores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 11, 2012 9:01 pm

23 - Paixão e libertação psicológica

As tradições religiosas em torno da paixão de Jesus teimam por revestir-se da notícia trágica, na qual a acção autopunitiva sobressai no comportamento do fiel.

Trabalhando-lhe a mente, a fim de gerar-lhe consciência de culpa, com as consequências do medo em relação à justiça divina, intentam a lavagem cerebral para produzir o ódio pelo mundo, ao tempo em que mantêm os lamentáveis processos de cilícios físicos entre os fanáticos, e mentais ou emocionais naqueles que são constituídos por estrutura psicológica frágil.

Inegavelmente, as ocorrências dolorosas que assinalaram a última semana de Jesus, em Jerusalém, entre as criaturas, foram caracterizadas por ocorrências infelizes, que ainda se repetem na sociedade, embora guardadas as naturais proporções.

Recordar-se da pusilanimidade humana, da fragilidade dos caracteres de Judas e de Pedro, faz-se necessário quando os objectivos são educativos, evocando-se, porém, o estoicismo das mulheres piedosas, de João, de José de Arimateia que Lhe cedeu o sepulcro novo, de modo que a aprendizagem se faça plena, através da dicotomia existente no comportamento humano, buscando-se oferecer uma mensagem de confiança, de arrebatamento e de fé.

O ser humano é ainda muito fragmentário e dúbio, carecendo de amor e paciência, que são terapias excelentes para induzi-lo ao fortalecimento do carácter, da personalidade.

A constante condenação multimilenária deixou marcas profundas no inconsciente colectivo, de que ora se faz herdeiro natural, surgindo-lhe transformada em medo e desprezo por si mesmo ou indiferença pessoal e desleixo no culto dos valores morais.

A lição viva que ressalta em Jesus desde a entrada triunfal e o julgamento arbitrário, sem qualquer defesa, propõe uma releitura do comportamento individual e colectivo dos seres, oferecendo a contribuição de resultados positivos nas reflexões mentais.

As crenças ortodoxas satisfazem-se com as imolações e as atitudes condenatórias que, tomadas em consideração, reconduziriam à ignorância, à treva medieval tormentosa.

As conquistas do momento, nas mais diversas áreas, particularmente da psicologia, não mais facilitam atitudes alienadoras como essas, antes propõem a libertação dos conflitos, a fim de que a responsabilidade, que decorre da consciência lúcida, impulsione o indivíduo ao avanço, ao crescimento, à maturidade.

Toda acção impositiva-castradora ou liberativa-insensata trabalha em favor do desequilíbrio, da desintegração do homem.
Toda a vida de Jesus é um processo que facilita o crescimento e a dignidade do ser humano.

Seus conceitos, refertos de actualidade, prosseguem sendo uma linguagem dinâmica, desobsessiva, sem compulsão, abrindo elencos de alegria e facultando o desenvolvimento daqueles que os recebem.

Cada passo da Sua vida, leva-O a metas adredemente programadas.
Sem rotina, mas, também, sem ansiedade, caracteriza-se pela vivência de cada momento, sem preocupação pelo amanhã, pois que, para Ele, a cada dia bastam as suas próprias preocupações.

A alegria é uma constante em Sua mensagem, apesar das advertências frequentes, das lutas abertas e de sempre O verem chorar...

A verdadeira alegria extrapola os sorrisos e se apresenta, não raro, como preocupação que não deprime nem fragiliza.
Torna-se uma constante busca de realizações contínuas, de vitória sobre as circunstâncias e os fenómenos que são naturais no processo da vida.

Sem paradigmas fixos, toda a Sua doutrina se constitui de optimismo e plenitude.
Quando os Seus seguidores marchavam para o holocausto, o martírio, o testemunho, faziam-no motivados pelo amor, sem fugas psicológicas, sem transferências, em manifestações de fidelidade, joviais e exultantes, sem ressentimentos nem ódios pelos perseguidores, por ser uma opção livre de utilização da vida.

A dinâmica das palavras de Jesus logrou conduzir inumeráveis criaturas à realidade transcendente.
Libertador por excelência, a ninguém impôs fardo, asseverando que o Seu é leve e suave é a Sua forma de julgar, analisar e compreender.

Enquanto ressumem na consciência da Terra as condutas punitivas e as evocações deprimentes na área das religiões, o pensamento de Jesus permanecerá em sombras, conflitos, perturbações.

A conquista de consciências para as fileiras da harmonia somente é possível mediante o estabelecimento de directrizes saudáveis, nas quais, mesmo a dor assumiria a sua realidade de fenómeno degenerativo inevitável, no entanto, possível de ser superada, resistida, diluída através das reflexões e da renovação de energia que preserva o equilíbrio da existência.

A imposição temerária decorre do sentimento de culpa dos religiosos, que a transferem para aqueles que se lhes submetem, passando a depender das suas injunções psicológicas mórbidas.

Sem a semana ultrajante, sem os conteúdos da ingratidão humana em extremo, não Lhe teríamos a morte estóica, eloquente, grandiosa, demonstrando a Sua consciência de imortalidade.

Após a sua ocorrência, todo um solene hino à vida foi apresentado através da ressurreição, do retorno ao convívio com os amigos temerosos e com a humanidade arrependida que Ele veio libertar, amando, paciente e alegre, por conhecer os limites e deficiências daqueles que marcham na retaguarda, no entanto fitam expectantes e avançam no rumo do futuro.
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Série Psicológica Vol. 5 - O Ser Consciente - Joanna de Angelis - Página 2 Empty Re: Série Psicológica Vol. 5 - O Ser Consciente - Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 11, 2012 9:01 pm

24 - Enfermidade e cura

O fenómeno biológico do desgaste orgânico, das distonias emocionais e mentais da criatura humana, é perfeitamente natural como decorrência da fragilidade estrutural de que se constitui.

Equipamentos delicados, que são, sofrem as influências externas e internas que contribuem para as suas alterações, e até mesmo a sua morte, mediante as incessantes transformações a que se encontram sujeitos.

Temperaturas que se alternam e ultrapassam os limites da sua resistência, condições outras atmosféricas e de insalubridade, colónias de bactérias e microorganismos agressivos, quão destruidores, atacam-lhe as peças e quase sempre as vencem, estabelecendo distúrbios que se transformam em enfermidades variadas.

Por outro lado, choques emocionais, estados inabituais de depressão e ansiedade, pressões de qualquer ordem, especialmente as psicossociais e económicas, as afectivas, arrastam-nos a desorganizações perturbadoras.

Sequelas de várias doenças, muitas delas agridem esses mais intrincados conjuntos electrónicos, produzindo perturbações funcionais e psíquicas, que tipificam desequilíbrios da mente e da emoção.

A própria constituição desses órgãos tem muito a ver com as origens genéticas e, posteriormente, com os factores organizadores do lar, da família, do grupo social, contribuindo decisivamente para as manifestações de saúde ou de desconserto.

O ser, porém, em si mesmo trinitário — Espírito, perispírito e matéria — é o resultado de largo processo de educação e desenvolvimento, através das contínuas experiências reencarnacionistas.

Em cada fase da vilegiatura, no corpo ou fora dele, o Espírito conquista bênçãos que incorpora ao património evolutivo, moldando os futuros corpos de acordo com tais aquisições, que são afectadas vibratoriamente pelas ondas de energia positiva ou negativa que emite sem cessar.

Como consequência, cada criatura é especial, com reacções específicas e modelagem própria, embora semelhanças profundas em umas, quão discordantes em outras.

Esse logros da evolução reflectem-se na constituição orgânica, na emocional e na psíquica, seleccionando genes e valores que lhes facultem estabelecer os aparelhos correspondentes e necessários para o prosseguimento da evolução.

Assim organizam-se moralmente as estruturas expiatórias e provacionais, como recursos necessários para a aprendizagem e a fixação dos valores propiciatórios ao progresso.

As expiações normalmente talam o ser orgânico ou psíquico de maneira irreversível, como decorrência dos actos pretéritos de rebeldia:
suicídio, homicídio, perversidade, luxúria, concupiscência, avareza, ódio e os seus sequazes.

As provações, por sua vez, são correctivos temporários que servem de advertência à insânia ou à comodidade, ao erro ou ao vício, facultando a reconquista da harmonia mediante esforço justo de recomposição interior, reintegrando o ser na ordem vigente do Universo.

Não nos referimos aqui aos quesitos das necessidades morais e sociais, detendo-nos, apenas, naqueles pertinentes à saúde e à doença.

Esses quadros das acções morais geram as reacções correspondentes, como leis de causa e efeito, propelindo a resgates idênticos aos danos e prejuízos produzidos.

Conhecidos esses efeitos como carma, também esse pode ser positivo e edificante conforme as realizações anteriores, que propiciem felicidade e paz.
Vulgarmente, porém, o conceito de carma passou a ser aceito como imperativo afugente e reparador, a que ninguém foge, por efeito das suas más acções.

Entretanto, esse carma, quando provacional, tem a liberá-lo o livre-arbítrio daquele que o padece, como através do mesmo pode mais encarcerar-se, a depender do novo direccionamento que lhe ofereça.

As realizações morais geram energias positivas que anulam aquelas negativas, que propiciam o sofrimento de qualquer natureza, ensejando estímulos para a superação das antigas conjunturas atormentantes.

Sujeito, por espontânea escolha, ao carma negativo, o ser expressa, além dos problemas na área da saúde, conflitos diversos na emoção, no comportamento, a surgirem como complexo de culpa (inconsciente), timidez, medo, ansiedade, insegurança...

Ao mesmo tempo, auto-desvalorização, ausência da auto-estima, presença de outros complexos, como os de superioridade, de inferioridade, narcisismo, de Édipo, de Electra, e mais outros, gerando patologias graves que, não obstante, podem ser superadas mediante terapias especializadas e grande esforço pessoal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 11, 2012 9:01 pm

No vasto quadro das enfermidades, a ausência do auto-amor do paciente responde pela desarmonia que o aflige.
Nem sempre essa manifestação é consciente, estando instalada nos seus refolhos como forma de desrespeito, desconfiança e mágoa por si mesmo, defluentes das acções infelizes pretéritas.
Quando uma doença se instala no organismo físico há uma fissura no conjunto vibratório que o mantém.

A mente deve então ser accionada de imediato para corrigir tal distúrbio, de modo a propiciar-se a saúde.
Quase sempre, porém, os tóxicos da ira, da rebeldia e do ressentimento são introjectados no organismo, agravando mais a paisagem afectada.

Quase sempre inseguro, o ser considera que não merece o que lhe ocorre agora e teme pelo agravamento do mal, que se lhe transforma em problema afugente, ao qual acrescenta os fantasmas da dúvida, do aturdimento, do desamor cultivado sob muitos disfarces.

A amor-terapia tem as suas directrizes firmadas no ensinamento evangélico, proposto por Jesus, quando estabeleceu:
— Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, como a si mesmo é um imperativo que não pode ser confundido com o egoísmo, ou o egocentrismo, mas com o respeito e direito à vida, à felicidade que o indivíduo tem e merece.

Trata-se de um amor preservador da paz, do culto aos hábitos sadios e dos cuidados morais, espirituais, intelectuais para consigo mesmo, sem o que, a manifestação do amor ao próximo é transferência da sua sombra, da sua imagem (fracassada) que logo se transforma em decepção e amargura, ou a Deus, a Quem não vê, tudo dEle esperando, ainda como mecanismo de fuga da responsabilidade.

O auto-amor induz à elevação dos sentimentos e à conquista de valores éticos que promovem o indivíduo e o iluminam interiormente, Nele estão os cuidados pelo corpo e sua preservação através dos recursos ao alcance, estimulando órgãos e células a um funcionamento harmónico, decorrente dos pensamentos auto-estimulantes, auto-refazentes.

Igualmente é necessário desenvolver o intelecto e a emoção para marcharem juntos como asas para largo voo, ensejando-se conhecimento e actividade fraternal beneficente, que faz bem primeiro àquele que a pratica, auxiliando depois quem dela necessita.

Não é um referencial ao gozo pessoal nem às auto-satisfações dos sentidos, mas um notável recurso de equilíbrio íntimo com vistas à iluminação pessoal.

Esse amor terapêutico auxilia os campos vibratórios afectados pelas doenças, restaurando-lhes as deficiências e recompondo a harmonia do todo.

Com efeito, não evita que se adoeça ou que se morra, o que, se ocorresse, agrediria a lei da vida que estabelece:
Tudo quanto nasce, morre, no que se refere ao fenómeno biológico terminal da matéria, em incessantes transformações.

Nessa visão do auto-amor, a enfermidade e a morte não constituem fracasso do ser, antes o caminho para a vida, O conceito de realidade então se altera, passando a constituir-se uma plenitude que se alcança no corpo e fora dele, com naturais acidentes de percurso.

A saúde não é mais uma compulsória para a existência corporal, senão um estado sujeito a múltiplas alterações que decorrem das variantes comportamentais do ser integral e que somente será lograda plenamente após o despir dos andrajos físicos, desde que estes são temporais, impermanentes.

Não obstante, o auto-amor enseja o desfrutar de bem-estar, de equilíbrio, de funções e órgãos saudáveis, cooperando para a estabilidade emocional.

Tem-se asseverado que a tensão nervosa é um dos tiranos destruidores do corpo e dos seus equipamentos, no entanto, a forma como é enfrentada, tem muito mais a ver com os seus prejuízos.

Na amor-terapia a tensão cede lugar à confiança e amortece-se face à entrega do ser a Deus, relaxando os focos de desespero e ansiedade, os compressores dos nervos, geradores de tensão.

No auto-amor, a confiança irrestrita na realidade, da qual ninguém foge, faculta o equilíbrio propiciador da saúde.
Esse sentimento produz optimismo, que é factor preponderante para o restabelecimento do campo de energia afectado pelo transtorno, já que favorece com uma mudança de comportamento mental, portanto, agindo no fulcro gerador das vibrações.

Quando se vive de forma diversa à que se exterioriza, isto é, quando se fala e aparenta algo que se não faz, há uma tendência a contrair algum tipo de enfermidade, porque a saúde não suporta essa duplicidade, que é geradora de infortúnio.

Há um inter-relacionamento entre mente e corpo mais sério do que parece.
Desse modo, o auto-amor estimula à veracidade dos actos e das palavras, sustentando a saúde ou corrigindo a doença.

Os tecidos orgânicos interagem por intermédio de substâncias químicas que se movimentam na corrente sanguínea e pelos hormônios do aparelho endócrino.

A hipófise é-lhes a responsável, que recebe os estímulos mediante impulsos nervosos do hipotálamo, que regula a maior parte dos fenómenos e automatismos fisiológicos.

Todo esse mecanismo ocorre através de fibras nervosas, procedentes do cérebro, que as comanda sob as ordens da mente, consciente ou inconscientemente.

Por isso, a indução do auto-amor promove vibrações harmónicas que terminam por manter, organizar ou reparar o organismo, propiciando-lhe saúde, quando enfermo.

Psicologicamente o auto-amor é, sobretudo, auto-encontro, conquista de consciência de si mesmo, maturidade, equilíbrio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 11, 2012 9:01 pm

SÉTIMA PARTE - A CONQUISTA DO SELF

25 - A Conquista do Self

Todos necessitamos de viajar para dentro, a fim de nos descobrirmos, desidentificando-nos daquilo que nos oculta aos outros e a nós próprios.

Retraídos, em atitude defensiva, por falso apoio de raciocínios incompletos, preferimos não permitir que pessoa alguma volte a magoar-nos, como outras já o fizeram no passado.

Coleccionamos, desse modo, ressentimentos e temores que nos levam a um comportamento de autopiedade, marchando para um estado patológico de autodestruição.
Um enfrentamento consciente com nossas mágoas irá demonstrar-nos que elas não são verdadeiras, nem têm sentido, sendo fruto da imaturidade e da presunção do ego que se atribui merecimentos que não tem.

Normalmente, o que consideramos desrespeito dos outros em relação a nós, resulta de nossa óptica equivocada ao observar os fatos, de precipitação ou mesmo de certo grau de paranóia.

Constituído por estímulos, o nosso relacionamento é malsucedido, porque não sabemos produzir o encontro, quando nos acercamos de alguém.

Evitando abrir-nos à relação, permanecemos suspeitosos e a nossa estimulação é negativa, provocando uma resposta de rejeição.
Em processo de mudanças constantes, as pessoas são imprevisíveis, o que é muito bom, pois que esse fenómeno proporciona novos descobrimentos e correcções de conceitos.

Quando nos apresentamos a alguém com sinceridade, esse alguém se nos desvela com fidelidade. Um estímulo revigorante e dignificador provoca uma correspondência equivalente.

Ao nos darmos a alguém, conhecido ou não, ofertamos uma parte, algo valioso de nós.
Se a outra pessoa não souber responder, não há problema para nós, porque verdadeiramente somos o que expressamos, de que nos não podemos arrepender, nem nos devemos sentir magoados.

Aceitar o mau humor alheio é sintonizar com ele, permitir que nos digam e imponham como devemos agir e nos comportar.
A nossa contribuição à sociedade é preservar-lhe a saúde na forma do inter-relacionamento pessoal, educando os rudes e medicando os enfermos, os anti-sociais.

A mágoa é consequência da imaturidade psicológica e a atitude retraída, desconfiada, resulta de predominância da nossa natureza animal sobre a natureza espiritual.

A conquista do self com todos os seus atributos e possibilidades constitui a meta primordial da existência terrena, em cuja busca devemos investir todo o potencial humano, emocional, moral, intelectual.

Considerando-nos em constante processo de crescimento, que decorre das experiências vividas e dos conhecimentos hauridos, a nossa busca do ser espiritual que somos, torna-se-nos imprescindível.

A vigilância em torno das armadilhas do ego, hábil disfarçador de propósitos, constitui-nos um motivo para superá-lo, a fim de fruirmos felicidade real.

Nesse sentido, a desidentificação dos apegos e paixões surge como passo decisivo no programa de libertação.
Para o desiderato, o amor-próprio deve ser revisto, a fim de ser substituído pelo auto-amor profundo, sem resquícios egoísticos, geradores do personalismo doentio que nos leva a conflitos perfeitamente evitáveis.

A reencarnação tem como objectivo a auto-conquista, que propicia a realização intelecto-moral recomendada por Allan Kardec como indispensável à sabedoria, que sintetiza a aquisição do conhecimento com o amor.

Quando essa meta não é alcançada, reencarna-se o ser e desencarna para retornar, em verdadeira roda de samsara, até quando as Leis estabelecem expiações lenificadoras que interrompem o círculo vicioso, para fomentar o progresso.

Surge o imperativo da dor em lugar do amor, expressão inevitável para o progresso constante dos Estatutos Divinos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 11, 2012 9:02 pm

26 - Mecanismos de fuga do ego

Habituado ao não enfrentamento com o self, o ego camufla a sua resistência à aceitação da realidade profunda, elaborando mecanismos escapistas, de forma a preservar o seu domínio na pessoa.

Desse modo, podemos enumerar alguns desses instrumentos do ego, para ocultar-lhe a realidade, facultando-lhe a fuga do enfrentamento com o eu profundo, tais como:
compensação, deslocamento, projecção, introjecção e racionalização.

Compensação

Foi o admirável pai da Psicanálise individual, Alfred Adler, quem, percebendo que um órgão deficitário é substituído pelo seu par — um pulmão enfermo ou um rim doente —, estabeleceu que ocorre uma compensação correspondente na área psicológica.

Grandes ases da cultura física tornaram-se atletas, porque buscaram compensar a fragilidade orgânica, ou algum limite, entregando-se a extenuantes exercícios que lhes facultaram alcançar as metas estabelecidas. O mesmo ocorre nas artes, na ciência com muitos dos seus paladinos.

Essa compensação se enraíza nos fulcros de algum conflito, nos leva a exagerar determinada tendência como fenómeno inconsciente que nos demonstra o contrário.

O excesso de devotamento a uma causa ou ideia é a compensação ao medo inconsciente de sustentá-lo.
O fanatismo resulta da insegurança interior, não consciente, pela legitimidade daquilo em que se pensa acreditar, desse modo compensando-se.

Há sempre um exagero, um super-desenvolvimento compensador, quando, de forma inconsciente se estabelece um conflito, por adopção de uma crença em algo sem convicção.

O excesso de pudor, a exigência de pureza, provavelmente são compensações por exorbitantes desejos sexuais reprimidos e anelos de gozos promíscuos, vigentes no ser profundo.

Sem dúvida, não se aplica à generalidade das pessoas corretas e pudicas, mas àquelas que se caracterizam pelo excesso, pela ênfase predominante que dão a essas manifestações naturais.

Na compensação ocorre a formação de reacção, que responde pela necessidade de um efeito psicológico contrário.
Desse modo, as atitudes exageradas em qualquer área camuflam desejos inconscientes opostos.

Nessa compensação psicológica, o ego exacerbado está sempre correto e, sem piedade pela fragilidade humana, exprime-se dominador, superior aos demais, que não raro persegue com inclemência.

Na distorcida visão egóica, a sua é sempre a postura certa, por isso exagera para sentir-se aliviado da tensão decorrente da incoerência entre o ego presunçoso e o eu debilitado.

A compensação substituta — uma deficiência orgânica propele o indivíduo a destacar-se noutra área da saúde, sobrepondo a conquista de realce ao factor de limite — também transfere-se para o campo emocional, e o conflito de ordem psicológica cede lugar ao desenvolvimento de uma outra faculdade ou expressão que se pode destacar, anulando, ou melhor dizendo, escamoteando o ocasional fenómeno perturbador.

Graças a compensação substituta o ego se plenifica, embora tentando ignorar o desequilíbrio que fica sob compressão, reprimido.
Todavia, todo conflito não liberado retorna e, se recalcado, termina por aflorar com força, gerando distúrbios mais graves.

A compensação egóíca é, sem dúvida, um engodo que deve ser elucidado e vencido.

Cada criatura é o que consegue e, como tal, cumpre apresentar-se, aceitar-se, ser aceito, trabalhando pelo crescimento interior mediante catarse, consciente dos conflitos degenerativos.

Todo esse mecanismo de evasão da realidade e mascaramento do ego torna a pessoa inautêntica, artificial, desagradável pelo irradiar de energias repelentes que causam mal-estar nas demais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 11, 2012 9:02 pm

Deslocamento

A consciência exerce sobre a pessoa um critério de censura, face ao discernimento em torno do que conhece e experiencia, sabendo como e quando se pode fazer algo, de maneira que evite culpa. Nesse discernimento lúcido, quando surge um impulso que a censura da consciência proíbe apresentar-se sem reservas, o ego produz um deslocamento.

Freud havia identificado essa capacidade de censura da consciência, que situou como superego.
Quando se experimenta um sentimento de revolta ou de animosidade contra alguém ou alguma coisa, mas que as circunstâncias não permitem expressar, o ego desloca-o para reacções de violência contra objectos que são quebrados ou outras pessoas não envolvidas na problemática.

Na antiga arena romana ou nos atuais ringues de boxe se traduzem esses sentimentos recalcados, contra a vítima momentânea, deslocando a fúria oculta, que se mantém contra outrem, nesse ser desamparado.

Subconscientemente, a pessoa que apoia o dominador e pede-lhe para extinguir o contendor, mantém hostilidade que reprime, impossibilitada pelas convenções sociais ou circunstanciais de exteriorizá-la.

A hostilidade da criatura leva-a a reagir sempre através de motivos reais ou imaginários.
Um olhar, uma palavra malposta, uma expressão destituída de mais profundo significado, são suficientes para provocar um deslocamento, uma atitude agressiva.

Face a essa postura, há uma tendência para camuflar os significados perturbadores da vida.
Ao reprimi-los, adopta-se um comportamento agradável para o ego.

Esse mecanismo é de fácil identificação, pois que o ego procura uma vivência de qualquer acontecimento sem sentido, para ocultar um grave problema que não deseja enfrentar conscientemente.

Essa reacção pode decorrer, também, de um ambiente hostil no lar, onde a pessoa se acostumou a deslocar os sentimentos que cultivou, na convivência doméstica, e não deseja reconhecer como de natureza agressiva.

Somente uma atitude de auto-reflexão consegue despertar o indivíduo para a aceitação consciente do seu self, sem disfarce do ego, não deslocando reacções para outrem e lutando contra as perturbações psicológicas.

Projecção

A repressão inconsciente dos conflitos da personalidade leva o ego a projectá-los nos outros indivíduos, nas circunstâncias e lugares, evadindo-se à aceitação dos erros e da responsabilidade por eles.

Se tropeça em uma pedra na rua, a culpa é da administração pública municipal;
se choca com outrem, a culpa é dele...

A projecção alcança reacções surpreendentes.

Um jovem esbarrou noutro na rua e reagiu, interrogando:
Você é cego?”, ao que o interlocutor respondeu:
Sim, sou cego.”

Atropelara o invidente e se permitia o luxo de fazer-se vítima.
Há uma natural e mórbida tendência no ser humano de ignorar certas deficiências pessoais para projectá-las nos outros.

Toda vez que alguém combate com exagerada veemência determinados traços do carácter de alguém, projecta-se nele, transferindo do eu, que o ego não deseja reconhecer como deficiente, a qualidade negativa que lhe é peculiar.

Torna a sua vítima o espelho no qual se reflecte inconscientemente.
Há uma necessidade de combater nos outros o que é desagradável em si.

Pessoas existem que se dizem perturbadas pelas demais, perseguidas onde se encontram, desgostadas em toda parte, revelando carácter e comportamento paranóicos, assim projectando a animosidade que mantêm por si próprias nos outros indivíduos, sob a alegação de que não os estimam, e tentam interditar-lhes o passo, o avanço.

A projecção é facilmente identificável e pode ser combatida mediante honesta aceitação de si mesmo, de como se é, trabalhando-se para tornar-se melhor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 11, 2012 9:02 pm

Introjecção

Outro mecanismo de disfarce do ego é a introjecção, que se caracteriza como a conscientização de que as qualidades das pessoas lhe pertencem.

Os valores relevantes que são observados noutrem, são traços do próprio carácter, constituindo uma armadilha — defesa do ego.
A pessoa introjecte-se na vida dos heróis aos quais ama e com quem se identifica, aceitando ser parecida com eles.

Assume-lhes a forma, os hábitos, os traquejos e trejeitos, o modo de falar e de comportar-se...

Pode acontecer também que se adopte o comportamento infeliz de personagens dos dramas do cotidiano, das películas cinematográficas, das telenovelas, das tragédias narradas pelos periódicos.

Na actualidade, ao lado dos inúmeros vícios sociais e dependências dos alcoólicos, tabaco e drogas outras, há, também, a dependência das telenovelas, mediante as quais as personagens, especialmente as infelizes, são introjectadas nos telespectadores angustiados.

Essa morbidez deve ser liberada e o indivíduo tem a necessidade, que lhe cumpre atender, de assumir a realidade interior, identificando-se numa harmoniosa combinação entre o self e o ego, mantendo o equilíbrio emocional através do exercício de autodescobrimento, eliminando as ilusões, os romances imaginários, pois que tais mecanismos de fuga, não obstante o momentâneo prazer que dispensam, terminam por alienar o ser.

Racionalização

A racionalização é o mecanismo de fuga de maior gravidade do ego, por buscar justificar o erro mediante aparentes motivos justos, que degeneram o senso crítico, de integridade moral, assumindo posturas equivocadas e perniciosas.

Sempre há uma razão para creditar-se favoravelmente os actos, mesmo os mais irreflectidos e graves, através das razões apresentadas, que não são legítimas.

Essa dicotomia — o que se justifica e o que se é — torna-se um mecanismo perturbador, por negar-se o real a favor do que se imagina.

As razões legítimas dos hábitos e condutas são mascaradas por alegações falsas.
Por não admitir o que se prefere fazer ou ser, e se tem em conta de que é errado, assume-se a máscara egóica da racionalização.

Essa falta de honestidade, como expressão falsa do eu, torna-se um desequilíbrio psicológico, que termina em perda de sentido existencial.

Ninguém pode mudar um mal em bem, apenas porque se recusa a aceitar conscientemente esse mal, que lhe cumpre trabalhar para melhor, ao invés de ignorá-lo ou justificá-lo com a racionalização.

A tendência humana da escolha é sempre direccionada para o bem.
Assim, há uma repulsa natural pelo mal, de que a racionalização tenta alterar a contextura, a fim de apaziguar a consciência, gerando a perturbação psicológica.

Essa luta, que se trava entre o intelecto e a razão, busca justificativa para tornar o mal em um bem, que é irreal.
Desse modo, quando a pessoa age erradamente e a razão lhe reprocha, o intelecto busca uma alegação justa para reprimir o bem e prossegui na acção.

A execução supera a razão e a mente justifica o mal, do qual surgirá um bem, para si ou para outrem, como racionaliza o ego em desequilíbrio.

Somente uma vontade severa e nobre, exercendo sua força sobre os mecanismos de evasão, para preservar o equilíbrio entre a razão e o intelecto com a emoção do bem e do justo, propondo o ajustamento psicológico do ser.

Fora disso, tais mecanismos de camuflagem da realidade conduzem à alienação, ao sofrimento.
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27 - Medo e morte

Os mecanismos de evasão do ego mascaram a realidade do self, normalmente receoso de emergir e predominar, o que é a sua fatalidade.

Factores ponderáveis, porém, respondem pelos estados fóbicos do ser, desde os distúrbios gerados pelo quimismo cerebral, responsáveis por desarmonias variadas, até os fenómenos de natureza psicológica, decorrentes dos conflitos vivenciados pela mãe gestante, reaccionária à concepção, tensa ante a responsabilidade, amargurada pelas incertezas, e os insucessos de parto, predominando os choques pós-natais quando o ser é retirado do aconchego intra-uterino, onde se sente seguro, e colocado num meio hostil no qual tudo parece ameaçar-lhe a frágil existência.

Podem-se assinalar ainda outros factores, quais os de natureza psicogénica, como de carácter preponderante na formação patológica dos comportamentos fóbicos.

A educação no lar, a mãe dominadora e o pai negligente ou reciprocamente, não raro esmagam a personalidade do educando durante o trânsito infantil.
São inumeráveis os factores preponderantes como predisponentes nas psicopatologias do medo, responsáveis por estados lamentáveis na criatura humana.

Insinua-se o medo de forma subtil, aparentemente lógica, tomando conta das paisagens da psique, como insegurança tormentosa povoada de pesadelos hórridos, que levam a alucinações e impulsos incontroláveis de fuga até mediante o concurso da morte.

Com o tempo, alternam-se as condutas no paciente: apatia mórbida ou pavor contínuo, ambas de gravidade indiscutível.

Na psicogénese, porém, dos estados fóbicos em geral, não se pode descartar a anterioridade existencial do ser, em Espírito, peregrino que é de inumeráveis reencarnações, cuja história traz escrita nas tecelagens intrincadas da própria estrutura espiritual.

Comportamentos irregulares, actividades lesadoras, acções perversas ocultas que não foram desveladas, inscrevem-se na consciência profunda como necessidade de reparação, que ressurgem desde a nova concepção, quando ocorrem os factores que os despertam, permitindo-lhes a imersão do inconsciente, e passam a trabalhar o ser real, levando-o da insegurança inicial ao medo perturbador.

A reencarnação é método para o Espírito aprender, agir, educar-se, recuperando-se quando erra, reparando quando se compromete negativamente.

Inevitável a sua ocorrência, ela funciona por automatismo da Vida, impondo as cargas de uma experiência na seguinte, em mecanismo natural de evolução.

Inscritos os códigos de justiça na consciência individual, representando a Consciência Cósmica, ninguém se lhe exime aos imperativos, por ser fenómeno automático e imediato.

A cada acção resulta uma reacção semelhante, portadora da mesma intensidade vibratória.
Quando recalcado o efeito, ele assoma, predominante, propiciando os estados de libertação ou sofrimento, conforme seja constituído o seu campo de energia.

O autodescobrimento é a terapia salutar para que sejam identificadas as causas geradoras e, ao mesmo tempo, a conscientização de quais recursos se podem utilizar para a liberação.

Conhecendo o factor responsável pelo medo, antepor-se-lhe-á a confiança nas causas positivas, que resultarão em futuros equilíbrios de fácil aquisição.
Ao lado das terapias académicas, conforme a etiopatogenia do medo em cada criatura, a renovação pessoal pelo optimismo, a auto-estima, o hábito das ideações elevadas, da oração, da meditação, constituem eficientes recursos curativos para o auto-encontro, a paz interior.

O medo é inimigo mórbido, que deve ser enfrentado com naturalidade através do exercício da razão e da lógica.

Entre as várias expressões de medo ressalta o da morte, herança atávica dos arquétipos ancestrais, das religiões castradoras e temerárias, dos cultos bárbaros, das conjunturas do desconhecido, das imagens mitológicas que desenharam no tecido social as impressões do temor, das punições eternas para as consciências culpadas, dos horrores inomináveis que o ser humano não tem condições de digerir...

O pavor da morte, às vezes patológico, afigura-se tão grave, que a criatura se mata a fim de não aguardar a morte...
Compreensivelmente, desde o momento da concepção manifesta-se o fenómeno da transformação celular ou morte biológica.

Nesse processo de transformações incessantes, chega o momento da parada final dos equipamentos biológicos, e tal ocorrência é perfeitamente natural, não podendo responder pelos medos e pavores que têm sido cultivados.

Não é a primeira vez que ocorre a morte do corpo, na vilegiatura da evolução dos seres.
O esquecimento do fenómeno, de maneira alguma, pode ser considerado como desconhecido pelo Espírito, que já o vivenciou antes.

Um aprofundamento mental demonstra que a morte não dói, não apavora, mas o estado psicológico de cada um, em relação à mesma, transfere as impressões íntimas para o exterior, dando curso às manifestações aparvalhantes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 11, 2012 9:03 pm

A Psicologia transpessoal, lidando com o ser psíquico, o ser espiritual, sabe-o em processo de evolução, entrando no corpo — reencarnação — e dele saindo — desencarnação — da mesma forma que o corpo se utiliza de roupas, que lhe são necessárias e dispensáveis, conforme as ocasiões.

O simples hábito de dormir, quando se mergulha na inconsciência relativa, é uma experiência de morte que deve servir de padrão comparativo para o fim do processo biológico.

Conforme o eu profundo considere a morte, povoando-a de incertezas, génios do mal, regiões punitivas ou aniquilamento, dessa forma a enfrentará. O oposto igualmente se dá. Vestindo a morte de esperança de reencontros felizes, de aspirações enobrecidas, de agradável despertar, ocorrerá o milagre da vida.

O medo da morte decorre da ignorância da realidade espiritual e do apego ao transitório físico.

Freud afirmava que o instinto da morte é superior ao de conservação da vida, o que é perfeitamente natural, tendo-se em vista que o corpo é fenómeno, e este passa, permanecendo a causa, que é a energia, a vida em si mesma.

A psicoterapia preventiva, como curadora para o medo da morte, propõe uma conduta harmónica com os níveis superiores de consciência desperta, lúcida, avançando para a transcendência do eu, até culminar na identificação com a Cósmica.

Pensar e agir bem.
Amar e amar-se.
Servir, como forma de ser feliz.
Vincular-se à Fonte da Vida Perene, Causal e Terminal.
Meditar, beneficiando-se com o autodescobrimento e tornando-se um agente de esperança e de paz, eis como viver sem morrer e morrer para perpetuar a vida.
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28 - [b]Referenciais para a identificação do si[b]

Inevitavelmente, as pessoas necessitam de experienciar algumas dessas escamoteações do ego, seus jogos, por falta de estrutura psicológica para suportar a realidade, a verdade.

O mecanismo de fuga pode constituir uma necessidade de reprimir algo para cuja manifestação o ser não se sente preparado.

É sempre um risco intentar-se, de inopino, empurrar o indivíduo para o encontro claro e imediato com o si, face à sua ausência de valores íntimos para reconhecer-se frágil — sem deprimir-se, necessitado — sem insegurança em relação ao futuro, aturdido — sem esperança...

O ser psicológico é, estruturalmente, a soma das suas emoções e conquistas, que caracterizam a individualidade pessoal no processo de evolução.

A libertação, portanto, dos complexos artifícios de fuga, dar-se-á mediante terapias adequadas, que facultarão o amadurecimento psicológico para a auto-estima e o enfrentamento da realidade suportável.

Qualquer tentativa de esgrimir a verdade — afinal, a verdade de cada qual — pode resultar em conflito mais grave.
A queda da máscara desnuda o indivíduo e nem sempre ele deseja ser visto como é — mesmo porque se ignora —, podendo sofrer um choque com o descobrimento prematuro ou alienar-se, por saber-se identificado de forma inadequada, desagradável.

A verdade é absorvida, a pouco e pouco, através da identificação dos valores reais em detrimento dos aparentes, do descobrimento do significado da existência e da sua finalidade.

Os convites existenciais que propelem para o exterior, para a aparência, modelam a personalidade impondo inúmeros mecanismos de sobrevivência do ego, aos quais o indivíduo se aferra, permanecendo ignorante quanto à sua realidade e aos relevantes objectivos da vida.

As ilusões, desse modo, são comensais da criatura, que se apresenta conforme gostaria de ser e não de acordo com o si, o eu profundo, o que é.

Extirpá-las é condenar o outro ao desamparo, retirar-lhe as bengalas psicológicas de apoio.
Isto não significa apoio aos comportamentos falsos, às personalidades estereotipadas, antes é respeito ao direito de cada um viver como pode, e não consoante gostaria de ser.

Imprescindível que se seja leal, honesto para consigo mesmo, desvelando-se e trabalhando-se interiormente.
A experiência de identificação do si é um passo avançado no processo de autodescobrimento, de auto-amadurecimento.

Essa busca interior expressa-se como uma forma de insatisfação em relação ao já conseguido — os valores possuídos não preenchem mais os espaços interiores, deixando vazios emocionais;
uma necessidade de aprimoramento psicológico, superando os formalismos, os modismos, o estatuído circunstancial, nos quais a forma é mais importante do que o conteúdo, o exterior é mais relevante que o interior;
uma consciência lúcida, que desperta para os patamares superiores da existência física; uma incontida aspiração pelas conquistas metafísicas, face à vigência permanente do fenómeno da morte em ameaça contínua, pois que a transitoriedade da experiência física se apresenta de exíguo tempo, facultando frustração;
uma imperiosa busca de paz desvestida de adornos e de condicionais, e um amplo anseio de plenitude.

Com estes referenciais há uma inevitável auto-penetração psicológica, uma busca do si, do autodescobrimento, a fim de bem discernir o que se anseia e para que, o que se possui e qual a sua aplicação, a análise do futuro e como se apresentará.

A emersão do si, predominando no indivíduo, e característica de cristificação, de libertação do deus interno, de plenitude.
Quando começa, uma transformação psicológica se opera automaticamente, a escala de valores se altera e o comportamento muda de expressão.

A saúde emocional e mental se estabelece, ensejando uma visão correta em torno dos acidentes orgânicos, que não mais desequilibram, e o fenómeno morte se torna perfeitamente natural, sem fantasmas apavorantes ou anelos de antecipação.

Ocorre uma plena harmonia entre o viver — existência física — e a Vida — realidade total.

O self, em razão do processo reencarnatório, fica imerso na névoa carnal, adormecido pelos tóxicos e vapores da indumentária física sob a pressão das experiências humanas, dos relacionamentos sociais, nos quais a astúcia e não a sabedoria, a simulação e não a honestidade, a falácia e não o silêncio promovem o indivíduo, granjeiam lugar de destaque na comunidade.

Essa conduta irregular, tal critério, são impeditivos para a liberação do si.

Campeiam as psicopatologias como efeito da atitude do ego em relação ao eu, estando a exigir maior conhecimento das necessidades legítimas.

A conquista do self é processo que se deve começar imediatamente, recorrendo-se às terapias próprias e, simultaneamente, aos recursos da oração, da meditação, das acções edificantes.

Cada logro enseja a ambição de alcançar novo patamar, que se torna um desafio atraente, estimulador.

Ninguém, pois, pode deter-se nos níveis inferiores de consciência, relegando a plano secundário o si, a realidade ambicionada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 12, 2012 8:40 pm

OITAVA PARTE - SILÊNCIO INTERIOR

29 - Silêncio Interior

A grande problemática-desafio da criatura humana é a aquisição da paz.

Empenhando-se na sua conquista, raramente busca e segue os caminhos ideais, capazes de conduzir à sua meta.
Vivendo uma época de conturbação nas diversas áreas, tumultua-se com facilidade, mesmo quando pensa encontrar-se no rumo certo.

Atavicamente amante do ego, apega-se aos valores externos, e esse comportamento se torna responsável pelos seus contínuos insucessos.
Desequipada dos instrumentos interiores que a harmonizariam em relação ao próximo e ao Cosmo, exaspera-se com frequência e desanima diante dos primeiros impedimentos que considera intransponíveis.

Adaptada às conquistas exteriores de fácil logro, abandona os propósitos iniciais de encontrar a paz, deixando a postura de não-violência para unir-se aos beligerantes, embora disfarçando a agressividade.

A Terra tem vivido sempre em guerra, e as Nações apenas repousam no interregno dos conflitos, saindo de um para outro, sem encontrar o caminho para a preservação da tranquilidade geral.

A essas guerras violentas sucedem os armistícios — que são pequenos períodos de repouso, nos quais os litigantes recuperam as forças para novas lutas — sempre eclodindo focos de destruição decorrentes de motivos injustificáveis e de razões nenhumas, como se os houvesse legítimos para a hediondez das batalhas sangrentas.

Tal sucede, porque os indivíduos não têm paz íntima.
Desde que não são capazes de se tolerarem reciprocamente em pequenos grupos, não se encontram em condições de respeitar os tratados, por eles mesmos firmados, os quais apenas escondem-lhes a brutalidade que passa a ter característica de civilização e cultura.

Como decorrência, a paz mundial ainda é uma utopia, em razão da falta de inteireza moral e pacificadora da própria criatura.
Esse fenómeno resulta dos seus apegos egóicos, das suas fantasias douradas, das suas paixões e da sua volúpia pela dominação dos outros.

Apegos morais, emocionais, culturais, pessoais, a objectos, a raças, a grupos sociais, são as fugas do ego arbitrário, ambicioso e louco, responsável pelas disputas lamentáveis que, deterioradas, são os germes das guerras.

Esse estado psicológico, de transferência e projecção da sombra da personalidade imatura, é fruto da balbúrdia, dos interesses mesquinhos e múltiplos aos quais se aferra, desajustando-se diante da ordem, da natureza e da vida.

É indispensável uma revisão do comportamento humano, de um estudo profundo a respeito do silêncio íntimo, assim como da harmonia interior.
A única maneira de lográ-lo, é viajar para dentro de si, domando a mente irrequieta — que os orientais chamam o “macaco louco que salta de galho em galho” — e induzi-la à reflexão, ao autodescobrimento.

Há quem tema a quietude, porquanto, ao dar-se esta, ocorre a libertação do ego e o ser se ilumina.

Todos somos escravos da mente.
O universo existe em razão daquele que o observa, da mente que o analisa, da percepção com que o abarca.

Aquele cuja mente não dispõe de tirocínio e lucidez, não se dá conta da realidade, que para ele tem outros conteúdos e significados.

Face a tal conduta, fala e produz ruído.
É nobre e útil quando se comunica e, no entanto, torna-se grandioso se consegue viver em silêncio mental.

Os conteúdos psíquicos em relação ao ego, quando captados por este, constituem a consciência lúcida, e o silêncio torna-se de grande importância para essa conquista.

O silêncio interior é feito de paz e completude, quando o ser compreende o significado da sua vida e a gravidade da sua conduta em relação aos demais membros que formam o Cosmo.

A Ciência hoje une-se à Religião — trata-se de uma perfeita identificação do ego e do eu, do Logos e de Eros — vinculando-se uma à outra, passando a contribuir para a felicidade humana sem enfrentamentos, qual ocorreu outrora através dos antagonismos absurdos.

Até aqui a Ciência vinha trabalhando apenas pelo conhecimento, enquanto a Religião buscava somente religar a criatura ao Criador, marchando separadas e em oposição.

A Psicologia Transpessoal, estudando os estados alterados de consciência, indo além da consciência em si mesma, facultou a união das técnicas místicas do oriente com a razão do ocidente, favorecendo o entrosamento de Eros e Logos a benefício da individuação plena do ser.

Marcham, vinculadas, agora, fé e razão, contribuindo para o surgimento do ser feliz.

O silêncio interior constitui o grande intermediário da paz, que dessa união advém, por desenvolver na criatura o sentimento de amor — por Deus, por si mesmo, pelo próximo —tornando-se este amor o produto alquímico que dilui o ódio, que vence as barreiras impeditivas da fraternidade e inunda-a com os recursos e conteúdos psíquicos libertários.

O apego egoísta, superado, cede lugar à generosidade, à doação, e o indivíduo, livre de algemas, em silêncio íntimo, empreende a grande experiência de viver o self em harmonia com as Leis da Vida. Isto porque, o nível mais elevado da consciência, pelo menos na graduação humana, é o cósmico, que resulta da identificação entre o si e o Universo, mergulhando o pensamento em Deus e realizando-se totalmente.
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30 - Desidentificação

Podemos considerar a personalidade humana constituída de essência e substância.

A primeira são as energias que procedem do Eu profundo, as vibrações que dimanam da sua causalidade, e a segunda é a reunião dos conteúdos psíquicos, transformados em actos, experiências, realizações, decorrentes do ambiente, das circunstâncias, e reminiscências das existências passadas.

São as substâncias que respondem pelo comportamento do ser, propiciando-lhe liberdade ou escravidão e dando nascimento ao eu.

Numa pessoa média, portadora de consciência, sem a nobre conquista do discernimento e da vivência compatível, a ilusão e os engodos se estruturam, passando à posição das realidades únicas, que ignoram, por efeito, a legítima Realidade.

Essa deturpação psicológica proporcionada pelo ego, que se entorpece e se engana, contribui para as experiências utópicas e alienadoras, que lhe alteram a conduta, produzindo estados profundamente perturbadores.

O hábito e o cultivo dos pensamentos viciosos, de qualquer natureza, tornam-se as substâncias que formam a personalidade doentia, que se adapta aos factores dissolventes, rompendo a linha do equilíbrio e do discernimento, empurrando para o trânsito pela senda da irrealidade.

Sem dúvida, a pessoa portadora de substâncias fragmentadoras move-se em um verdadeiro nevoeiro, que é mais compacto ou mais subtil, conforme as fixações, os vícios a que se aferra.

Identificando-se com as ideias que lhe são convenientes — algumas de procedência psicopatológica — adapta-se-lhes e incorpora-as, deformando a personalidade, e esta irrealidade termina por afectar-lhe a individualidade, caso não se resolva pela psicoterapia específica e urgente.

Expressam-se essas identificações nas áreas fisiológicas — como sensações — e psicológica — como emoções.
Toda vez que a pessoa tenta a conscientização íntima, o encontro com o Eu profundo, a busca interior, as sensações predominantes nas paisagens físicas perturbam-lhe a decisão, impedindo a experiência.

São sensações visuais, gustativas, olfactivas, auditivas, tácteis, com as quais convive em regime de escravidão, e que assomam no silêncio, na concentração, ocupando o espaço mental, desviando a atenção da meta que busca.

São ruídos externos que, em outras circunstâncias, não são percebidos;
imagens visuais arquivadas, aparentemente esquecidas;
olfacção excitada, que provoca o apetite;
coceiras e comichões que surgem, simultâneos, em várias partes do corpo;
salivação e desejo de alimentar-se, tomando os centros de interesse e desviando-os da finalidade libertadora.

Por outro lado, nos tentames do silêncio interior para reequilíbrio da personalidade, as sensações produzem associações de ideias que levam a evocações insensatas.

Música e perfume retornam à sensibilidade orgânica e induzem a recordações atribuladoras, com lamentáveis anseios de repeti-las e frui-las novamente.

A mente viciada e o corpo acomodado dificultam o despertar da consciência para a lucidez.

A actividade de desidentificação, por isso mesmo, torna-se urgente.
Mediante a mudança dos hábitos mentais, do cultivo das ideias — substituindo as perturbadoras por outras saudáveis, já que todo espaço deve ser preenchido — do exercício disciplinado dos pensamentos, passando à alteração dos prazeres e gozos ilusórios que devem ceder lugar àqueles que se expressam como manifestação da Realidade plenificadora, ocorrerá a libertação dos vícios e fixações, desidentificando-se da conduta tormentosa.

Como envoltórios concêntricos que asfixiam as irradiações do Eu real, as identificações deverão ser liberadas de dentro para fora, portanto, da essência para a substância.

A medida que a consciência se desenovela dos impedimentos psíquicos, mais amplas descobertas são logradas nas áreas das identificações, que passam a ser diluídas, permitindo-a fulgir qual estrela poderosa no velário da noite transparente.

A consciência desidentificada com a personalidade fragmentada, enfermiça, proporciona bem-estar.
Essa conquista, a da consciência plena, faculta alegria.

Como consequência, o silêncio interior consciente, responsável pela saúde psíquica e emocional, predispõe o ser ao crescimento das aspirações e ao esforço dos ideais de enobrecimento.

Nessa fase de desidentificação e lucidez plena, a consciência predispõe-se à conquista do estágio mais elevado, pelo menos na área humana, que é a sua harmonização total com a de natureza Cósmica.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 12, 2012 8:41 pm

31 - Libertação dos conteúdos negativos

Graças ao atavismo predominante em sua natureza, o homem guarda as primeiras expressões da consciência em nível inferior, no qual confunde o eu com o objecto, e a sua é somente uma percepção sensorial.

A identificação com o próprio corpo propicia-lhe uma consciência orgânica, deformada, de que se libera a pouco e pouco, avançando para a transferência desse conteúdo para outro nível de discernimento e direccionamento.

No processo de evolução, porque estagia nas faixas do instinto que o submete, vai adquirindo outros valores, sem desidentificar-se dos conteúdos fixados, em razão dos quais a marcha se lhe torna muito lenta.

A consciência individual, representando a Cósmica, a princípio parece deslocada e diferenciada.
No entanto, o Deus em nós do conceito evangélico reflecte-se nessa percepção embrionária, que se desenvolverá na sucessão das experiências até liberar-se e alcançar a totalidade.

De forma penosa, não raro, a libertação dos conteúdos negativos — paixões dissolventes, apegos, ilusões, sentimentos inferiores — faculta os anseios pelas conquistas de outros níveis, nos quais o bem-estar e a paz formam os novos hábitos, a nova natureza do ser.

A Psicologia tradicional, considerando patológicos os níveis superiores, define cada um deles com nomenclatura especial, por desinteresse de penetrar nos estados alterados da consciência, que levariam à constatação do ser preexistente ao corpo como sobrevivente à morte.

No nível de consciência inferior, os estados alterados demonstram que muitos desses conteúdos negativos, emergentes e predominantes, procedem das reencarnações passadas, não foram liberados, nem conseguiram diluir-se através das acções enobrecedoras.

Todos os conteúdos primitivos provêm de realizações e fixações sempre anteriores, que somente as disciplinas do esforço, da concentração, da meditação para a acção, conseguem libertar.

Em razão disso, a meditação é uma terapia valiosa para superar os conteúdos negativos, com o objectivo de liberar o inconsciente, ao invés de esmagá-lo ou asfixiá-lo, e, longe, ainda, de o conscientizar, gerar novas formulações e identificações atuais que, no futuro, assomarão como recursos elevados.

Todos os formuladores da consciência superior são unânimes, seja no orientalismo ou na Psicologia Transpessoal, em recorrer à terapia da meditação, que faculta o autoconhecimento, preenche os vazios causados pela insatisfação, anula o eu corporal — rico das necessidades dos sentidos — para despertar os ideais subjectivos, as transferências metafísicas.

No nível de consciência superior, o eu deixa de ser mais eu, para ser uma síntese e vibrar em harmonia com o Todo.

Desaparece a fragmentação da Unidade e o equilíbrio transpessoal sincroniza com a Consciência Universal.
A característica fundamental do nível inferior, portanto, da prevalência dos conteúdos negativos, é a fragilidade do Eu profundo ante as exigências do ego atormentado, gerando projecções da sombra e desarticulando os projectos de paz.

A Psicologia espírita, por sua vez, cuidando do homem integral, distingue também nos conteúdos psíquicos, negativos, a ingerência de mentes desencarnadas obsessoras, que se comprazem no intercâmbio perturbador, propiciando desconforto e aflição em desforços cruéis, mediante alienações de variados cursos.

Ao mesmo tempo, seres outros desencarnados, invejosos quão infelizes, vinculados às criaturas humanas por afectividade mórbida ou despeito cruento, estabelecem fenómenos de hipnose que retardam o desenvolvimento da consciência daqueles que lhes experimentam o cerco.

Na psicoterapia espírita, o conhecimento da sobrevivência e do inter-relacionamento entre os seres das duas esferas — física e espiritual — oferece processos liberativos centrados sempre na transformação moral do paciente, sua renovação interior e suas acções edificantes, que facultam o discernimento entre o bem e o mal, propiciando a transferência para o nível superior, no qual se torna inacessível à indução perversa.

A meditação, a busca interna, nessa fase, são relevantes e cientificamente basilares para o processo de crescimento, de discernimento, de lucidez.

O homem avança no rumo da sua destinação, a passo vagaroso nos primeiros níveis de consciência, por desinteresse, ignorância, apressando a marcha na razão directa em que vence tais patamares e descobre a excelência das conquistas com que se enriquece.

A libertação dos conteúdos negativos é inevitável; no entanto, vários fenómenos patológicos e preferências emocionais, perturbadoras, interferem para que sejam mantidos, sendo necessário que os psicoterapeutas vigilantes insistam junto a esses pacientes em que se descubram e encontrem os benefícios dos níveis superiores.

Libertação é felicidade, e consciência enriquecida pelos conteúdos superiores significa plenitude, reino dos céus, mesmo durante o trânsito terrestre.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 12, 2012 8:41 pm

32 - O Essencial

Face ao inevitável processo de crescimento do Eu profundo, a vida assume características variadas, e as oportunidades se deparam convidativas, acenando com a libertação, que somente se consegue a penosos esforços.

Na fase inicial da predominância egocêntrica, o ser projecta-se no mundo com o qual se identifica, aprisionando-se no emaranhado das coisas exteriores, sob conflitos que não tem condições de administrar, quase sempre desequilibrando-se e passando a estados neuróticos de insatisfação, ansiedade, medo ou a alucinações variadas.

O apego, essa fixação perturbadora à impermanência, a que pretende dar perenidade, constitui-lhe a meta existencial.
Mais tarde, em tentativas de desenvencilhamento da situação psicológica infantil, avança para a posição egoísta, cultivando os valores pessoais, narcisistas, com os quais se engolfa, despertando na amargura, sob os camartelos do tempo degenerador e da frustração tormentosa.

O essencial, quase sempre, permanece-lhe em plano secundário na paisagem psicológica das aspirações conflitivas.

À medida que amadurece, transfere-se das coisas e prisões egóicas para a conquista da sua realidade: o desenvolvimento do Eu profundo que deve predominar comandando os anelos e programas de libertação.

Somente a consciência de si propiciar-lhe-á a visão diferenciadora dos fenómenos perturbadores, em relação àqueloutros de plenificação.

Em tentativas brilhantes e sucessivas de penetrar os níveis, os patamares da consciência, psicólogos e estudiosos outros, das áreas das ciências psíquicas, levantam-lhe a cartografia que, variando de escola e estágio, segue os mesmos processos de desenvolvimento que são compatíveis com o crescimento do ser, conforme as suas experiências vivenciais na busca da saúde real.

Desejando ampliar o campo da análise dos seus pacientes, enquanto Freud fundamentava a Psicanálise e a difundia, Roberto Assagioli, na Itália, porque defrontava com dificuldades para aplicar, em alguns deles, as recomendações da doutrina que absorvera do mestre vienense, começou a trabalhar na organização da Psico-síntese, na qual encontrou mais amplos recursos terapêuticos para liberá-los, assim alargando os campos do entendimento das personalidades conflitivas.

Posteriormente, o bioquímico Robert De Ropp, estudando carinhosamente as reacções cerebrais, entre outras experiências, e buscando produzir estados alterados de consciência, formulou as bases e os paradigmas da sua Psicologia Criativa, inspirando-se nas experiências de George Ivanovitch Gurdjieff, com os seus complexos contributos psicológicos e cosmológicos místicos.

Buscando interpretar o mestre russo, De Ropp classificou os níveis de consciência em cinco estágios: consciência de sono sem sonhos;
de sono com sonho; de sono acordado;
de transcendência do eu e de consciência cósmica...

Para ele, o homem evolve de maneira inesperada, às vezes, de um para outro nível, especialmente nos dois primeiros estágios de adormecimento...

Mediante psicoterapia acurada e exercícios cuidadosos, logra-se o avanço pelos diversos patamares, até a etapa final, que se torna de difícil verbalização face às emoções e descobrimentos conseguidos, nesse momento de perfeita integração com o que poderíamos chamar o Logos, o pensamento divino.

No primeiro nível — quando se transita no sono sem sonhos — apenas os fenómenos orgânicos automáticos se exteriorizam, assim mesmo sem o conhecimento da consciência, tais:
respiração, digestão, reprodução, circulação sanguínea...

Como se estivesse anestesiada, ela não tem acção lúcida sobre os acontecimentos em torno da própria existência, e a ausência de vontade do indivíduo contribui para o seu trânsito lento do instinto aos pródromos da razão.

No segundo nível, o sono com sonhos, ele libera clichés e lentamente incorpora-os à realidade, passando pelas fases dramáticas — os pesadelos, os pavores — para os da libido — acção dos estímulos sexuais — e os reveladores — que dizem respeito à parcial libertação do Espírito quando o corpo está em repouso...

O desenvolvimento da consciência atinge o terceiro nível, o de sono acordado, no qual a determinação pessoal, aliada à vontade, conduz o ser aos ideais de enobrecimento, à descoberta da finalidade da sua existência, às aspirações do que lhe é essencial, ao auto-encontro, à realização total.

Naturalmente, a partir daí, ascende ao quarto estado, que é a descoberta da transcendência do eu, a identificação consigo mesmo, com a consequente liberação do Eu profundo, realizando a harmonia íntima com os ideais superiores, seu real objectivo psicológico existencial.

A superação dos conflitos, das angústias, a desidentificação dos conteúdos psicológicos afugentes, permitem a iluminação, e a próxima é a meta da vinculação com a consciência cósmica.

Nem sempre, porém, o homem e a mulher conseguem alcançar esse nível ideal, fenómeno que, não obstante, será realizado através das reencarnações que lhes facultarão a vitória sobre os carmas negativos e, mediante as leis de causa e efeito, passo a passo, em esforço contínuo poderão fazê-lo.

Da mesma forma, a reencarnação aclara a cartografia da consciência de De Ropp, quando ele analisa os níveis que diferenciam os indivíduos na imensa mole humana.

As experiências acumuladas promovem ou retêm o indivíduo nos fenómenos decorrentes das acções praticadas, beneficiando-os ou afligindo-os com as sombras que lhes permanecem dominadoras, na condição de resíduos espirituais.

A consciência filtra-os e, por não os poder digerir, transforma-os em conflitos, perturbações, estados psicopatológicos, requerendo terapias especializadas e contínuas.

Em qualquer nível, porém, a partir do sono com sonhos, a vontade desempenha um papel relevante, impulsionando o ser a novas realizações e conquistas completadoras que enriquecem o arsenal psicológico, amadurecendo o essencial à vida e seleccionando-o do amontoado egóico do supérfluo.

Psicoterapeuta Excepcional com a Sua visão realista e criativa, Jesus definiu a necessidade de buscar-se primeiro o reino dos Céus, pois que esse fanal ensejaria a conquista de todas as outras coisas. E óbvio que, ao se adquirir o essencial, todas as coisas perdem o significado, por se encontrarem destituídas de valor face ao que somente é fundamental.

Outrossim, alertou sobre o imperativo de fazer-se ao próximo o que se gostaria que este lhe fizesse, fixando no amor o processo de libertação, na acção edificante o meio de crescimento e na oração fortalecedora a energia que proporciona o desiderato.

Esse desempenho favorece a perfeita identificação do sentimento com o conhecimento, resultando na conquista do Eu profundo em sintonia com a Consciência Cósmica.

(*) Vide: Rumo às estrelas — Luís C. Postiglioni — Capítulo 20 — Espíritos diversos — Instituto de Difusão Espírita.
Médiuns e Mediunidade — Espírito Vianna de Carvalho — Capítulo 5 — Editora Arte e Cultura. - Nota da Autora espiritual.
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NONA PARTE - A FELICIDADE

33 - Prazer e gozo

O sentido, o significado da vida centra-se na busca e no encontro da felicidade.
Constitui o mais frequente desafio existencial responsável pelas contínuas realizações humanas.

A felicidade, por isso, torna-se difícil de ser lograda e, não raro, muito complexa, diferindo de conteúdo entre as pessoas em si mesmas e os grupos sociais.

Confundida com o prazer, descaracterizasse, fazendo-se frustrante e atormentadora.
A visão da felicidade é sempre distorcida, levando o indivíduo a considerar que, quando não se encontra feliz, algo não está bem, o que é uma conclusão incorrecta.

O sonho humano da felicidade é róseo, assinalado pelo conforto, o ócio e o poder, graças aos quais se desfrutaria de bem-estar e gozo, inadvertidamente considerados o seu logro.

Certamente as pessoas ricas dispõem, em quantidade, de horas assim vividas, sem que se hajam considerado felizes, mas antes se encontrado tediosas, e o tédio é, sem dúvida, um dos seus grandes opostos, em cujo bojo fermentam muitas desgraças.

A felicidade se expressa mediante vários requisitos, entre outros, os de natureza cultural, atavismo que lega ao indivíduo o meio social de onde se origina e no qual se encontra, de nível de consciência e de maturidade psicológica.

Esses factores estabelecem as diferenças de qualidade do que é ser feliz, face às variações que impõem nos grupos e nos seres humanos, demonstrando que as aspirações de uns nem sempre correspondem às de outros.

O nível de consciência e o amadurecimento psicológico estabelecem os graus nos quais se expressa, as realizações plenificadoras, os estados de felicidade.

Perseguindo-se o gozo, o prazer, experimenta-se alegria toda vez que são alcançados, assinalando-se esses momentos como de felicidade que, no entanto, não correspondem ao sentido profundo, de magnitude que ela reveste.

A interpretação equivocada conduz a buscas irreais, que perdem o significado quando se alteram os factores que a constituem.
A sua visão, em determinada época da existência, muda completamente em outro período.

A imaturidade psicológica de uma fase, a juvenil, por exemplo, predispõe a uma aspiração de felicidade que, conseguida, logo desaparece, e observada mais tarde apresenta-se desagradável, perturbadora.

Por essa razão, é necessário que se entenda que a felicidade tem a ver com o que o indivíduo é e com o que ele pensa ser.
A diferença, entre o que supõe ser e a sua realidade, dimensiona o seu quadro de desejos, de prazeres e gozos que interpreta como a busca plenificadora da felicidade.

Assim, a felicidade tem a ver com a identificação do indivíduo com os seus sentidos e sensações, os seus sentimentos e emoções, ou as suas mais elevadas aspirações idealistas, culturais, artísticas, religiosas, com a verdade.

Na fase dos sentidos, o gozo se transforma depois de fruído em insatisfação, ansiedade ou depressão;
no período dos sentimentos, o prazer derrapa em paixões possessivas, que dão margem a tragédias e angústias logo estejam saciados;
no ciclo idealista, religioso, transcendental, a busca transpessoal fomenta a autodescoberta, a auto-realização, a auto-doação, em serviços desinteressados de libertação do ego e participação na vida, individual como colectiva, dos seres, da vida, da Terra.

Essa busca é diferente da ambição de ser virtuoso, na qual mascara o ego e apresenta-o, entregando-se a macerações que ocultam gozos patológicos ou a narcisismos, em mecanismos de evasão da realidade para planos egóicos, masoquistas-exibicionistas, com aparência de humildade e renúncia.

Quando reais, essas expressões de virtude são ignoradas pelo próprio candidato em quem são naturais, sem os condimentos do prazer embutidos na fuga psicológica que as falseiam.

Para que a identificação do indivíduo com a sua busca de serviço seja legítima, há uma perfeita união com o self, de tal forma que não haverá diferença entre dar e receber, amar e ser amado, viver e morrer...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 12, 2012 8:41 pm

Apressadamente, há quem afirme que a felicidade tem a ver com o princípio freudiano do prazer, e que através desse comportamento se poderiam satisfazer as necessidades e evitar a dor.

Não obstante, a dor não pode ser evitada.
Considerá-la como um fenómeno natural do processo de evolução, encarando-a como instrumento de promoção do ser em relação à vida, eis uma forma eficaz de lograr a alegria, superando os seus mecanismos desgastantes e as ocorrências degenerativas, que não compreendidos e aceitos com equilíbrio conduzem à infelicidade.

Da mesma maneira, a felicidade não se radica na satisfação de qualquer desejo do ego, porquanto, após satisfazê-lo, manifesta-se com veemência, gerando ansiedade e desconforto.

Surge então a compreensão transpessoal da existência, e o desejo egóico cede lugar à aspiração espiritual, a uma busca mais profunda, desidentificada com os condicionamentos passados com pessoas e coisas.

Provavelmente, nessa busca surgirão o sofrimento, o desconforto, que irão cedendo lugar à harmonia e ao bem-estar, a medida que se alcancem as bases objectivadas da realização plenificadora.

Lentamente desaparece a frustração da vida cotidiana, alargando-se o campo do idealismo e da identificação com a deidade, mediante afirmação religiosa ou, com o eu profundo, em manifestação psicológica.

A princípio, o caminho da busca se afigura escuro qual um túnel, cuja claridade está distante, mas que se torna maior quanto mais se lhe acerca da saída.
Essa busca, qual ocorre com qualquer outra, é realizada com a mente, que deve solucionar as dificuldades, à proporção que se apresentem, eliminando o sofrimento perturbador, tratando-se de um contínuo e lúcido trabalho interno.

Na busca da felicidade são inevitáveis os estágios de sofrimento e de prazer, por constituírem fenómenos da experiência humana, da realização do self desidentificando-se do ego.

O lamentável, nessa ocorrência, tem lugar com o surgimento e instalação do tormentoso sentimento de culpa, que nega inconscientemente ao indivíduo o direito de fruir a felicidade, ou mesmo o prazer, sem o estigma do sofrimento.

Para fugir-lhe à imposição, busca-se o oceano do gozo, afogando ali os ideais mais altos na denominada opção realista, que entretanto consome os sentimentos e perturba as emoções, saturando-os ou desbordando-os, rebaixando-os ao nível das sensações.

Há um mecanismo castrador impeditivo da experiência do prazer, que podemos considerar como sendo inibição.
Além dele, a consciência de culpa conspira contra a realização da felicidade.

Tão arraigada se encontra no ser humano, que toda vez que as circunstâncias propiciam a presença do prazer — a pessoa crê não merecer desfrutá-lo — ou da felicidade — o indivíduo receia vivê-la, não se permitindo experienciá-la — surge o temor de que algo mau sucederá.

Para desarticulares se mecanismo conflituador, torna-se necessária uma tomada de consciência de si mesmo, procurando descobrir a fonte geradora da inibição, para a psicoterapia libertadora conveniente, que pode ter origem na conduta infantil — educação coercitiva, meio social asfixiante, família dominadora — ou proceder de reencarnações passadas — uso incorrecto do livre-arbítrio, conduta irregular, exagero de paixões.

Tal inibição, associada ao sentimento de culpa, castiga o ser, impedindo-o de fruir momentos de recreação, de ócio, levando-o a tormentos quando não se encontra produzindo algo concreto, o que se lhe torna uma necessidade compulsiva, portanto patológica.

Certamente não se deve viver para a ociosidade dourada, tampouco, exclusivamente, para a actividade estressante.

Há todo um rico arsenal desportivo, um infinito painel de belezas naturais convidativas, um sem-número de estesias mediante a leitura, a arte, a conversação, um abençoado campo de idealismo através da prece, da meditação, do controle da mente, que se constituem tónicos revigorantes para as acções geradoras da felicidade e dos quais todos podem e devem dispor quanto aprouver.

Esses interregnos nas actividades, enriquecidos de prazeres mais amplos, são estímulos para a criatividade, a libertação de cargas psicológicas compressivas, a auto-realização.

Essa busca, do self profundo, deve superar e mesmo arrebentar as resistências inibidoras, o sentimento de culpa, cujas energias serão canalizadas para a conquista da felicidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 12, 2012 8:42 pm

34 - Felicidade em si mesma

Considerando a felicidade como sendo a harmonia entre o ego e o self, o descobrimento dos valores profundos do ser e a consciência da sua legitimidade que induz a conquistá-los, eleger os métodos da plenificação interior torna-se o próximo passo nessa busca desafiadora.

Quem coloque a felicidade como sendo a conquista de títulos e triunfos mundanos, destaque social e poder, desfrutar de privilégios e dinheiro, não saiu da periferia imediatista dos prazeres sensuais, que respondem pela competitividade e pelo desequilíbrio da emoção.

Jesus definiu com segurança o conceito pleno de felicidade, no conteúdo do pensamento meu reino não é deste mundo, tendo em vista a impermanência da vida física, a transitoriedade do ser existencial, terrestre, em constante transformação, no seu contínuo vir-a-ser.

A criatura não é o que se apresenta, nem como se encontra.
Esse estado impermanente é trânsito para o que se será.

Em prazer ou em sofrimento, não se é isso, mas se está isso, conscientizando-se do continuum no qual se encontra mergulhado.

O empenho para a busca da felicidade conduz à eleição de objectivos fora do mundo físico.
Todavia, não é necessário alienar-se do mundo, odiá-lo, para conseguir por meio de transferências e fugas psicológicas.

A meta além do mundo se estabelece como prioritária, porque, na vida terrestre, o que se constitui essencial numa faixa etária, noutra se transforma em pesada carga, responsável por arrependimentos e angústias insuportáveis.

De acordo com as mudanças e realizações culturais, alteram-se os objectivos da busca, superando-se uns anseios e surgindo outros.
Por isso, os valores sensuais tendem a produzir vazio, e as conquistas existencialistas perdem os seus conteúdos, logo são alcançadas, transformando-se em tédio.

Parte da Unidade Universal e individual nela, o ser humano pode desfrutar dos fenómenos existenciais, sem abandono da meta transpessoal, como degraus vencidos na ascensão que levará ao patamar da felicidade.

Quando se adquire a consciência da unidade e da valorização de si mesmo, sem a presunção narcisista do excesso de auto-importância, avança-se na busca, desenvolve-se interiormente, acende-se a luz da determinação de fazer-se feliz em quaisquer circunstâncias, em todos os momentos, prazenteiros ou não.

Embora a felicidade não dependa do prazer, o prazer bem estruturado é-lhe caminho.

A sua ausência, no entanto, em nada a afecta, por estar acima das sensações e emoções imediatas.
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35 - Condições de felicidade

Como decorrência de uma visão caótica e pessimista da vida, estabeleceu-se que a felicidade resulta do triunfo em qualquer área e dos prazeres de rápido deleite, o que deu origem aos de natureza material, portanto sensuais, como o orgasmo, o dinheiro, o êxito com todo refinamento de sucedâneos, desde a alimentação aos relaxantes banhos, massagens, variações de moda, frivolidades...

Apesar do bem-estar que proporcionam, cedem lugar a outros anseios, convertendo-se em tormentos — conscientes ou não — geradores de conflitos por competitividade, como diante do inevitável desgaste corporal face à idade e à doença, às fugas espectaculosas para os alcoólicos, drogas aditivas, tabaco ou depressões profundas...

Além desses, surgem, como metas felizes, os prazeres emocionais, que induzem aos relacionamentos humanos, promocionais, de lideranças e representações sociais, políticas, económicas, religiosas, portadoras de grande valorização para o ego.

Essas metas, que são gratificantes, também têm o sentido do efémero, tão rápidos são os relacionamentos, e perturbadores os status humanos, que não preenchem os vazios interiores.

Somente quando há uma reciprocidade honesta nesses relacionamentos, quando o intercâmbio se expressa leal e afectivo, é que a felicidade se estabelece, visto que, do ponto de vista psicológico transpessoal, ela é o amar, possuir a capacidade de amar plenamente, sem imposições nem paixões egóicas.

Esse amor não pede e sempre doa;
não tenta modificar os outros e sempre se aprimora;
não se rebela nem se decepciona, porquanto nada espera em retribuição;
não se magoa nem se impacienta — irradia-se, qual mirífica luz que, em se expandindo, mais se potencializa.

Porque esse amor não tem apego, nunca é possessivo, portanto faz-se libertador, infinito, não se confundindo com a busca do relacionamento sexual, que pode estar embutido nele, sem lhe ser causalidade. O prazer que gera na comunhão dos sentidos não é fundamental, embora seja contributivo.

A saúde, nos seus vários aspectos, depende muito do amor, especialmente a de natureza psicológica, emocional, resultante, quase sempre dos relacionamentos íntimos, conjugais, como mecanismo completador da harmonia pessoal.

Esse contributo do amor preserva também o equilíbrio mental, sem o qual a felicidade se torna uma utopia paranóica.
Nesse caso, o relacionamento proporciona um bem-estar igualmente físico e espiritual, já que não se pode dissociá-los, enquanto na conjuntura carnal.

Para esse amor de plenitude torna-se indispensável uma entrega autêntica, sem subterfúgios, sem aparências, fazendo-se que sejam retiradas as máscaras e as sujeições.

A felicidade se estabelece quando os dois níveis — físico e mental — harmonizam-se, ensejando o prazer emocional e transpessoal.
Nesse passo alcança-se, mediante a criatividade, o prazer mental, o bom direccionamento da mente, que consegue alterar para melhor a compreensão do mundo.

Esse sentido da vida, essa finalidade induz a sacrifícios de bens, riquezas, relacionamentos, para a entrega à inspiração, do significado à busca da felicidade.

Tal prazer não se restringe apenas à arte em si mesma, ou à cultura, porém, à vida e aos seus valores, às realizações no campo pessoal, com vistas ao bem da humanidade, à superação do ego.

Um dos pontos-chave da desdita, como dos conflitos, reside na evocação dos acontecimentos infantis menos felizes, que ressumam frequentemente em ressentimentos e torturas.

A crença indevida de que a infância tranquila, descuidada, sem preocupações, seria um período sem traumas, nem sempre corresponde à realidade. Sem dúvida, uma infância rósea é factor positivo, porém, não essencial à felicidade.

Certas constrições e castrações, o relacionamento com a mãe, as inibições e pavores infantis geram inegavelmente tormentos que surgem e ressurgem em todos os demais períodos da existência.

Apesar disso, em uma visão transpessoal da vida e do ser, cada um traz consigo as predisposições comportamentais e cármicas para a actual experiência, convivendo com os factores que merece, graças aos quais deve amadurecer emocionalmente e dispor-se para a auto-realização.

Qualquer tipo de crescimento, especialmente psicológico, redunda em sofrimento emocional.
A libertação de uma fase — infantil, adolescência, idade da razão — ocorre como se fora um parto com dor, culminando, biologicamente, com a terceira idade, quando se dá a morte do invólucro carnal.
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