LUZ ESPÍRITA
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Lírios Colhidos - Luiz Sérgio/Irene Pacheco Machado

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 24, 2020 7:50 pm

Um caridoso não pode viver com alguém que só amou a usura.
O famoso irmão foi socorrido, mas não podemos assegurar onde será a sua morada, pois não sabemos o que ele tem depositado no banco da providência divina.
Se ele deve muito, terá de trabalhar primeiro em tarefas bem simples para aprender a conviver com a humildade.
Mas também pode o irmão ter uma boa cota de belas acções, que o colocará ao lado dos trabalhadores deste País tão amado, junto aos espíritos encarregados de fazer brilhar a estrela de Jesus na pátria brasileira.
Joana foi-se retirando e eu, que não tinha assistido a este socorro, senti-me gratificado pela visita da minha querida irmã.
Assim, nós dois, conversando e apreciando a natureza, que é velada por Deus, fomos ao encontro de Deleuze, Edouard e Patrice.
“Muitos dos lírios colhidos na terra trazem ainda nos pés o lodo da imperfeição”.
Pensando isso, dirigimo-nos a um hospital da espiritualidade, onde vários recém-desencarna- dos estavam sendo tratados.
O hospital, em formato redondo, era circundado por palmeiras.
Muitos olhos d’água enfeitavam o jardim, onde a cor azul predominava, apesar do prédio ser pintado de branco.
Até as hortências, cravos e rosas me pareciam azulados.
Na portaria, fomos recebidos por Sillos, que conversou muito com Deleuze.
A sala de espera apresentava em suas paredes vários quadros de pessoas que nunca vi, verdadeiras obras de arte.
Dada a permissão, entramos em um pátio redondo onde uma fonte de águas claras e coloridas borrifava os doentes que ali se encontravam na grama ou nos bancos.
Já me impacientava, por não saber o motivo pelo qual ali nos encontrávamos, quando avistamos a doutora Matilde.
Muito gentil, convidou-nos para uma visita às enfermarias do Hospital de Lucas.
Eram poucas as camas na enfermaria número um, e nelas dormiam espíritos que davam a aparência de mumificados.
Aproximamo-nos.
Através da doutora Matilde e outro médico ali encontrado - o doutor Sabá - ficamos sabendo que aqueles irmãos tinham os corpos congelados na terra.
Julgavam-se mortos, apesar do tratamento que vinham recebendo.
A cama me pareceu aquecida por várias lâmpadas:
ora acendia a azul, ora outro tom de azul, depois a cor de rosa, em seguida voltava a azul.
Logo após uma lâmpada amarela acendeu no centro cardíaco.
Finalmente, voltou a azul.
Os espíritos em sono profundo, pareciam “mortos”, porque ignoravam qualquer presença.
Passamos pelas camas e observamos todos a dormir um bom sono.
Joana comentou:
— Até que deve ser bom a gente desencarnar assim, não é mesmo?
— Eu é que não queria esse desencarne, perda de tempo, e depois, acredito que esses espíritos devem estar sentindo um frio louco.
E se fosse na terra e faltasse luz? - brinquei.
Edouard, que estava perto de nós dois, sorriu, dizendo:
— Talvez assim voltassem à realidade.
— Eles desencarnaram na Sibéria?
— Não, congelaram seus corpos para a volta do espírito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 24, 2020 7:51 pm

— É mesmo?
Coitados, esperam com isso driblar a morte?
— Mais ou menos.
— E os que tomavam sol no jardim?
— São os convalescentes, logo estarão trabalhando.
— Mas dizem que existem muitos que nem desencarnaram ainda.
E como se encontram aqui?
— Não sabemos disso.
Os que socorremos já desencarnaram.
Mas tinham tanta certeza de que não iriam desencarnar que até hoje se julgam congelados.
— Gente tem cada mania...
— Existem propagandas para o congelamento.
— É, o freezer está fazendo sucesso.
Não só perus, porcos e galinhas, mas os corpos humanos também estão sendo nele guardados.
Sabe, Deleuze, eu senti imensa vontade de tocar naqueles corpos, mas ao me aproximar de um deles senti tanto frio!
Deleuze sorriu, dizendo-me:
— Por isso eles estão no Hospital de Lucas, se não fossem socorridos sofreriam muito mais.
— Gostaria de voltar ao jardim.
— Vamos, lá recuperaremos as energias que dispersamos aqui, junto a esses irmãos.
Ao retornarmos ao jardim, procurei reconhecer alguns dos convalescentes, mas a brisa, o perfume, o sol, o orvalho, tudo era tão digno que a curiosidade se dissipou e eu apenas baixei a cabeça, orando a Deus:
“Senhor, eu não sou digno de entrar em Sua casa, mas faça com que meu espírito seja salvo junto àqueles que se distanciaram do Seu coração.
Assim seja”.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 24, 2020 7:51 pm

Capítulo XVII - CORAÇÕES TREVOSOS DE ÓDIO
Minha vida é pontilhada de grandes surpresas, factos que muito marcaram meu espírito, dando-me a certeza da bondade divina.
Devo muito aos meus companheiros, amigos queridos que seguraram as minhas mãos nos momentos em que os meus passos resvalaram no caminho da saudade.
Todos os dias são importantes em nossas vidas.
Infeliz daquele que deixa em vão algumas horas do dia, talvez jamais tenha tempo de reencontrá-las.
Digo sempre: o importante da vida é dar valor a ela e só acreditando em Deus é que respeitamos a nós mesmos.
O homem sem fé não procura viver bem, joga fora, através da ira, da ganância e da maledicência, os seus preciosos momentos.
A fé é o sustentáculo da vida, ela tira o argueiro dos nossos olhos e então passamos a ser severos connosco mesmos e brandos e pacíficos para com o nosso próximo.
O homem que procura o porquê da vida descobre o quanto é frágil o seu corpo físico e extremamente valiosa a sua alma.
Nessa descoberta, ele inicia a valorização da alma, regando-a com a água da prece, adquirindo paciência, amor, humildade, desprendimento e caridade.
Assim, ele alcança Deus e se sente na obrigação de tornar-se filho obediente.
Descobre que um dia Deus lhe ofertou a vida e que, por mais que tente destruí-la, jamais o conseguirá.
A eternidade existe nas coisas divinas e a alma é uma delas.
Fico horas meditando sobre a Inteligência Divina e na Sua bondade.
Como Deus ama os Seus filhos!
Somente quem ama oferece tanta liberdade.
O homem que não crê na grandeza de Deus não parou para pensar em si próprio, na perfeição do seu corpo físico, que cientista algum consegue fabricar um igual; na natureza, que tanto oferece aos homens, e que bastaria um só sopro de Deus para sentir o quanto dela necessita.
Não adianta os mais poderosos desejarem driblar a morte, inventando métodos absurdos que só mesmo mentes sem fé podem imaginar obter sucesso.
O pobre, o rico, todos eles terão de devolver à terra o que a terra lhes emprestou e voltarem ao mundo espiritual para prestarem contas de tudo o que na terra fizeram.
— Luiz! chamou-me Deleuze.
— Sim, amigo. Desculpe, mas meus pensamentos estavam aproveitando a bondade divina, voando pelos espaços da imaginação.
— Bravo! O poeta está inspirado — disse Joana.
— É isso aí, boneca, o papai aqui está filosofando sobre a vida.
— Sendo assim — falou-me Edouard — vamos ao trabalho.
Desejei perguntar para onde iríamos, mas me calei.
Patrice acercou-se de mim, apoiando-se em meu braço, o que tornou mais agradável o percurso.
Amo os meus amigos, é muito bom contarmos com a companhia deles.
Para esse trabalho dirigimo-nos a um departamento especial, onde fomos orientados e recebemos vários passes reequilibrantes.
Quando de lá saímos, senti que flutuava.
Gostei muito.
Também não perguntei o porquê de tanta preparação, mas senti que iríamos enfrentar uma legião de espíritos trevosos.
Notamos que um círculo de luz banhava o local onde o irmão ia receber socorro, como para isolá-lo.
A curiosidade teimava em tomar conta do meu espírito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 24, 2020 7:51 pm

Deleuze conversou com o irmão que nos recebeu e que nos levou até o quarto do hospital terreno, onde alguém esperava o desencarne.
Para nossa surpresa quase todo o recinto se encontrava no escuro, a não ser em redor da cama do doente; só ali existia luz, pois alguns espíritos tratavam do desligamento.
A uns dois metros percebi uma tela iluminada, impedindo que uma legião de espíritos se aproximasse dele.
Fixei bem a vista e vi fisionomias assustadoras, que gritavam e diziam nomes horríveis.
Os encarregados do desencarne continuavam tranquilos sua tarefa, alheios àquela multidão de espíritos raivosos.
— Quem é ele?
Por que é tão odiado? - perguntei a Edouard.
— Um torturador, respondeu.
— Ele torturou todos esses espíritos?
— Não só esses, mas muitos outros que não desejam vingança.
— E vão pegá-lo?
— Se ele acatar as instruções dos espíritos de luz não sofrerá nas mãos dos inimigos, mas se fraquejar será torturado pelas antigas vítimas, ou, num método mais seguro, voltará para o corpo físico, através da reencarnação, para ficar escondido.
— E os raivosos não descobrem?
— Muitas vezes sim, daí as obsessões terríveis.
— Mas se esse irmão for descoberto pelas suas vítimas vai sofrer muito.
— É, Luiz. Um dia ele plantou ódio e violência e hoje tem de colher nem que seja alguns espinhos de desespero.
O irmão que sofria a separação dos corpos me pareceu duro e frio.
Os momentos de lucidez espiritual, quando podia ver algumas das fisionomias ou ouvir os impropérios dirigidos a ele, fechava os punhos e cerrava os dentes, na impossibilidade de atingir seus agressores.
— Deleuze, ele ainda tem muito ódio dentro de si!
— Luiz, quem apenas soube odiar vai demorar para aprender a gostar de alguém.
— Coitado, é um infeliz quem não cultiva o amor.
Foi quando o nosso irmão voltou-se para uma mulher
que lhe mostrava o ventre ainda portando marcas de tortura, falando:
— Se preciso for, farei tudo novamente.
Não permiti e não permitirei que gente da sua raça venha à terra para contaminá-la.
Eu os odeio.
Nesse momento, quase morri de susto.
Fez-se um buraco na tela protectora e alguns espíritos caíram sobre ele, torturando-o.
Nós, inertes, apenas orávamos, mas a equipe especializada não se alterou, logo isolando o doente, que estava apavorado.
Segurava a mão do doutor Albuquerque e pedia protecção.
O médico disse:
— Está em tuas mãos o sossego.
Enquanto o ódio minar do teu coração eles serão alimentados e te buscarão em qualquer lugar.
Nem Deus pode livrar-te das tuas vítimas, só tu mesmo.
— Mas eu os odeio.
— Eles também te odeiam e com mais razão, as torturas que sofreram atingiram até os seus espíritos.
Irmão, procura arrepender-te e vamos aproximar-nos de Deus, só assim não sofrerás tanto.
Comentei com Patrice:
— Só buscar Deus não vai livrá-lo do sofrimento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 24, 2020 7:51 pm

Olhando o seu perispírito percebi que ele estava completamente deformado.
Cada vítima havia plasmado nele uma fístula de ódio.
Seu corpo perispiritual parecia um verme disforme, apenas o duplo e o físico ainda possuíam imagem humana.
Em todos os meus trabalhos jamais vira um perispírito tão negro e deformado.
Tive a impressão de que a matéria perispiritual era de um lodo de ódio, tão feia e mal cheirosa estava.
Acercando-me de Deleuze, perguntei:
— Estando o seu corpo perispiritual tão deformado, como as suas vítimas vão reconhecê-lo no mundo espiritual?
— Sérgio, é uma longa estória.
Se de um lado os torturadores são terríveis, de outro as vítimas se organizam de tal maneira que conhecem os seus algozes até pelo olfacto.
Existe no mundo espiritual organização de busca dos torturadores.
— Está brincando...
Igualmente como na terra?
— O serviço de busca da terra é precário em comparação com o do mundo espiritual.
Eles são terríveis e se auxiliam entre si.
Até os que sofreram pequenas torturas fazem parte de tais falanges.
É uma organização, torno a repetir, e das mais poderosas.
— E Jesus permite?
— Jesus e Seus mensageiros oferecem toda protecção a qualquer espírito e graças à luz divina essa organização não consegue o que deseja.
Mas que ela assusta, isso assusta.
— É, Deleuze, a sabedoria popular diz “quem aqui faz aqui paga”.
Mas deixa pra lá, vamos orar para que na terra a luz da bondade brilhe nos corações trevosos de ódio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 24, 2020 7:52 pm

Capítulo XVIII - AS RESPONSABILIDADES DO SER HUMANO
A terra é um pântano onde os lírios têm por obrigação tirar os pés do lodo da imperfeição.
No momento em que me defronto com o término das oportunidades terráqueas, vejo como o espírito, quando encarnado, esquece os compromissos assumidos na espiritualidade.
Um tio de Patrice convidou-nos para irmos até sua casa, onde uma de suas filhas se via às voltas com o domínio da droga.
E para lá nos dirigimos.
Andréa dormia encolhida e já passava da meia-noite.
O tio de Patrice aproximou-se dela, olhando-a com carinho.
Era um corpo por demais maltratado.
Muito magra e pálida, Andréa era a propaganda negativa da droga, a decadência do ser humano.
Aproximei-me; ela lutava para se levantar, mas lhe faltavam forças, só o conseguindo depois de puxar fumo.
Levantou-se cambaleante, foi à geladeira, tomou dois copos de leite e pensou em voltar para a cama, tal a sua fraqueza.
O telefone tocou e, ao atendê-lo, ficou pálida: alguém ameaçava ir até sua casa cobrar a droga não paga.
Tentamos acalmá-la, porém, ao desligar o telefone, foi à procura da mãe para pedir-lhe dinheiro.
Esta lhe negou, dizendo possuir só o necessário para as despesas.
Andréa investiu sobre a velha apertando-lhe o pescoço, enquanto nós fazíamos tudo para detê-la.
Domício, o tio de Patrice, desesperado se encontrava e tudo o que fazíamos não surtia efeito, pois Andréa estava alucinada.
Só conseguimos impedir que estrangulasse a mãe, mas dona Luiza, não suportando o choque, desencarnou com colapso cardíaco.
A filha, apesar de vê-la caída no chão, correu para o quarto da mãe à procura do dinheiro.
Ao encontrá-lo, saiu de casa para pagar a droga e adquirir mais.
Recebemos o espírito de Luiza, enquanto alguns Raiozinhos seguiram Andréa.
Depois de dar algumas picadas em seu frágil corpo, voltou para casa onde encontrou o único irmão já providenciando o enterro.
Andréa ficou desesperada, gritando que fora ela quem matara a mãe.
Todos a julgaram louca.
Só o irmão acreditou, pois ao chegar à casa achou uma seringa jogada no banheiro.
No entanto, escondeu da polícia o facto tão triste da irmã não respeitar o próprio lar.
Fechando-se no quarto, Andréa se picava doidamente, era um farrapo humano, o fim de uma consciência.
Podíamos apenas dispersar os efeitos das picadas, para o tóxico não entrar em seu organismo.
Quando seu irmão Paulo a encontrou, estava envolta em um mar de sangue proveniente das veias furadas inutilmente.
Apenas isso conseguimos fazer por Andréa, pois somente ela poderia acender o farol do bom senso.
Até quando iria se drogar com o dinheiro alheio?
O viciado deve ter a dignidade de não roubar o que ele tanto deseja: dinheiro, dinheiro e dinheiro.
Andréa foi socorrida e nós nos retiramos, vendo Luiza ser consolada na espiritualidade por seu marido, apesar de muito preocupada com o destino de sua filha.
Orava tanto a Deus que não tive dúvida de que só as orações das mães terão forças para salvar seus filhos.
Dali, alcançamos um hospital onde alguns espíritos sofriam com o momento do desencarne e um deles, de nome Francisco, relutava em deixar o corpo físico.
Suas lembranças lhe davam forças para distanciar os encarregados do desencarne. Embora tendo sofrido amputação da perna, a gangrena lhe tomava o corpo.
Consciente, lutava contra a energia negativa que tornava o seu corpo um campo magnético de grande potência.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 24, 2020 7:52 pm

Presenciamos suas células nervosas recebendo uma sobrecarga de energia, levando o cérebro a um trabalho acelerado por demais.
Assistimos ao tratamento de retirada dos fluidos nos centros de força localizados no perispírito.
À medida que a equipe espiritual agia, os médicos da terra recebiam intuição para um tratamento mais acertado e contente ficavam pelas ideias brilhantes que lhes ocorriam.
O corpo físico de Francisco era separado do duplo, isto é, afastado, e ganhava uma veste fluídica que me pareceu um bloco de gelo.
Enquanto isto, o perispírito continuava recebendo tratamento, pois o desgaste das células físicas ocorria muito rápido.
Pensei: enquanto uns se suicidam, outros lutam para viver.
E oportunidade encarnatória não se joga fora.
A vida é eterna e ai daqueles que não a respeitam.
Ali fiquei por muitas horas, olhando o corpo humano e os canais de ligação entre o duplo e o perispírito, e mais uma vez reverenciei o nosso Pai por tão perfeita obra: o ser humano.
Pena que o homem ainda não se tenha conscientizado do seu valor e corte a cada momento a sua oportunidade de viver.
A destruição de um corpo é tão problemática para o espírito que cada ser deve procurar ser digno de si mesmo.
A dor existe e se chama remorso.
Trabalhando no umbral da vida, dia após dia me defronto com cenas de terror que nunca pensei presenciar, entretanto, minha fé também cresce a cada dia, porque vejo que Jesus convidou para essa tarefa uma das mais poderosas falanges que existe no Universo a falange do amor e do perdão.
Graças ao Seu caminho, encontraremos a verdade, que é Deus, nosso Pai amado.
Só Jesus segura as mãos de cada doente sem temer o contágio, por ser Ele tão puro.
Portanto, quem estiver sozinho e desesperado, procure na fé a força e ela o salvará.
Sem fé somos uma canoa remendada, prestes a afundar no mar da vida.
Somente a fé e o trabalho vão nos oferecer a esperança e a luz do amanhã.
Busquemos acender a luz da fé para não vivermos na escuridão do materialismo.
Cada lírio colhido no jardim de Jesus terá de prestar contas a Deus pelo tempo que lhe foi concedido para que se tornasse perfumado.
Todos nós temos responsabilidades intransferíveis.
Vamos lutar para não fugir do trabalho nem da vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 24, 2020 7:52 pm

Capítulo XIX - A DROGA COLHE UM LÍRIO
Muitos de nós tememos nos defrontar com as realidade duras da vida, mas nesses momentos damos prova da verdadeira fé.
Sem ela, consumidos somos pelo desespero.
Neste livro, vivemos junto a uma equipe que presta assistência não só aos doentes, como também aos familiares, que às vezes os retêm no leito de dor apenas por desejá-los junto deles.
Todavia, a viagem de cada ser é inevitável.
Infeliz daquele que ficar esquecido em um dos dois planos.
Todos nós temos de cortar as arestas e isso se dá na porta estreita da encarnação e do desencarne.
Por isso a fé em Deus dá ao homem a certeza de que nada morre, principalmente ele.
Cada um terá de encontrá-Lo um dia, não para prestar contas dos maus actos, mas sim para dizer: obrigado, Senhor.
Deleuze convidou-nos a dar uma chegada a um dos departamentos do Recanto e lá nos deparamos com um jovem sendo socorrido: desencarne: droga.
Fiquei muito triste ao constatar que os Centros Espíritas quase nada estão fazendo por seus doentes.
Por mais que se lute, torna-se difícil um trabalho homem a homem com os enfermos e suas famílias.
O certo é ajudá-los através do conhecimento da vida além vida, dedicando a esses jovens e seus familiares maior atenção.
As lágrimas afluíram aos meus olhos ao fitar Enoque e vê-lo de semblante tão amargurado junto àquele corpo jovem.
Fui saindo devagar.
Enoque seguiu-me, chamando-me:
— Sérgio, por que a tristeza?
— Sinto que fracassamos, Enoque.
Desde o livro Na Esperança de Uma Nova Vida venho pedindo ajuda aos espíritas e nenhuma Casa se prontificou a dar assistência aos toxicómanos e seus familiares.
Por mais que gritemos, não encontramos auxílio.
Bem sabemos quantos jovens estão se destruindo, não só a eles, mas também a seus pais e nós, que somos chamados, quase nada podemos fazer.
— Não deixa de ter razão, Sérgio.
Mas não se esqueça de que a Doutrina Espírita ensina ao homem o caminho de Jesus, mas não o obriga a caminhar.
Ela elucida sobre onde encontrar as verdades do Cristo; a cada homem concede a oportunidade de buscar a verdade nos livros doutrinários para ele mesmo discernir.
A Casa Espírita não deve ter líder para obrigar o homem a encontrar Deus.
Ela, sendo a casa do caminho, apresenta ao homem as verdades cristãs, sem peias e sem ameaças.
É encontrando o caminho do Cristo, a Sua verdade, que descobrimos o valor da vida.
Descobrindo que o espírito terá de responder por seus actos, cada um procurará tornar-se melhor e, diante do conhecimento da vida, cuidará do seu espírito e do seu corpo.
Agora, para entender tudo isso precisa o espírito desejar.
Forçando-o, estaremos infringindo a lei de Deus, que é amor.
— Enoque, e se a Casa fizesse um trabalho com o drogado e seus pais, como sabemos existir em outras religiões?
— Sérgio, disse Jesus:
não atires pérolas aos porcos.
Para esse trabalho precisamos de gente capacitada e com tempo para prestar assistência diária ao toxicómano e a maioria das Casas é muito pequena para tamanho trabalho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 24, 2020 7:52 pm

— E as outras, por que não o fazem?
— Porque mesmo as grandes Casas Espíritas não contam com trabalhadores que lhes dediquem as vinte e quatro horas do dia.
Todas possuem muito trabalho e poucos obreiros e esta tarefa necessita de pessoas possuidoras de muito amor, sem nenhuma vaidade.
Além disso, Sérgio, a Doutrina Espírita existe para elucidar o homem no sentido de procurar se salvar através da reforma íntima, e os viciados dificilmente buscarão um livro para ler ou desejarão trabalhar.
— Mas como explicar tanto desencarne e vários filhos de espíritas passando para outra religião?
— Os espíritas não estão isentos da dor nem dos escândalos.
Se alguém deixa de ser espírita quando sofre é porque a Doutrina não penetrou no seu coração.
Quanto aos filhos de espíritas que estão deixando de ser espíritas, esses nunca chegaram perto da Doutrina.
Seus pais esperavam que eles se decidissem a ser espíritas e eles viveram sem religião e sem fé.
As pessoas vazias por dentro procuram sempre algo para se agarrar.
No caso do dependente da droga, muitas vezes, para abandonar o vício, ele precisa de algo forte, algo que o obrigue a isso.
Graças a Deus a Doutrina Espírita é liberdade.
Poucos a compreendem e reverenciam, porque ela é filosofia, ciência e religião, e quem só deseja um apoio não a entenderia.
Se teimarmos em levar um toxicómano à força ao Centro, ele jamais irá compreender o valor do passe e a bondade de Deus.
A espiritualidade está ao lado do sofredor, entretanto, ao encarnado é dado escolher o método certo de ajuda, sem atirar pérolas ao porcos, porque muitas vezes os doentes ainda não possuem capacidade para enxergar a luz e irão esmagá-la com suas zombarias.
As Casas Espíritas têm é de orar, e muito, pelos viciados, ajudando-os através de preces, como fazem aos suicidas, pois eles são os suicidas encarnados.
Porém, se uma Casa desejar prestar auxílio directo ao doente, precisará de tempo e de pessoas com real capacidade: psicólogos, psiquiatras e médiuns equilibrados que não falem demais e exemplifiquem o amor a cada minuto.
O doente precisa sentir-se amado e protegido.
— Gostaria tanto de ajudar essas famílias!
Elas morrem a cada aspirada de pó e a cada tragada do baseado que o ente querido absorve.
— Pode ajudá-las, Sérgio, orando por elas, evitando que seus filhos desencarnem.
Obrigar, através de lavagem cerebral, que se tornem espíritas, não se adapta ao que se propõe a Doutrina.
E depois, não importa a maneira pela qual nos tornamos cristãos, o importante é que sejamos fiéis a Cristo.
Não importa que rótulo tenha a Casa que frequentamos, o importante é a beleza das nossas atitudes.
Cada templo religioso trabalha para Deus e ai dele se desejar o aplauso dos homens.
— Mas fico triste ao constatar que crianças às quais tentamos apresentar Deus estão bem longe de nós.
— Ainda bem que de nós e não de Deus.
— Mas, Rayto, muitas delas também estão morrendo!
— Sei disso, Sérgio, mas não as temos abandonado, embora nem lembrem que existimos.
Por falar nisso, vamos socorrer uma delas.
— É mesmo, confesso que não gostaria de ver um miosótis de Maria esmagado pelo vento do tóxico.
Acompanhei-o e ele, sempre seguro, guiava-nos pelo tortuoso mundo da droga.
Ao nos aproximarmos da casa, ouvimos os gritos de angústia da mãe, tendo ao seu colo o filho quase agonizante.
Um quadro dos mais tristes.
Enoque intuiu-a para levar o garoto de treze anos ao hospital e ela no mesmo instante o fez.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 24, 2020 7:53 pm

Quando lá chegamos, a equipe de socorro já nos aguardava. Iniciou-se a luta contra o veneno da droga no organismo.
O garoto se debatia, sofrendo convulsões terríveis.
Quando percebemos seu coração quase parando vimos os doutores Carlos, Sadu e Paulo aplicando os mais modernos métodos de tratamento desintoxicante.
Mesmo assim, o lírio não conseguiu permanecer no canteiro da terra, sendo expulso do seu corpo físico pelo excesso de tóxico.
Asfixiado, aquele espírito continuava sofrendo na espiritualidade.
Os seus corpos permaneciam unidos e o seu espírito, em desespero, não conseguia aspirar o oxigénio terráqueo nem tinha condição de respirar no novo mundo, por este lhe oferecer um ar muito puro para o seu organismo, contaminado pela poluição dos antros do vício.
Eu nada fazia a não ser orar, depois ajudei aquela mãe que, para meu espanto, falou assim:
— Ainda bem, Luiz Sérgio, que você o levou para Deus.
Já estava cansada de vê-lo morrer aos poucos.
Sou mais feliz vendo-o “morto” do que levando a vida que levava.
Quis dizer àquela sofrida mulher que eu não tinha poder para colher nenhum lírio, mas ela estava convencida de que a minha ajuda havia sido no sentido do que vinha pedindo, não sabendo que o seu filho era um suicida e ainda sofria no mundo espiritual as consequências dos seus actos.
Aquele garoto, estendido na laje fria, dava a cada um de nós a lição de que Deus não mata, mas o próprio homem, que a cada dia se torna mais distante da verdade.
Longe dela torna-se presa fácil das coisas perecíveis do mundo físico.
O jovem padecia e ainda não estava compreendendo o que ocorria ao seu lado.
Gritava pelos pais e lutava para respirar.
— Enoque, esse menino tem treze anos.
Até que idade ele ficaria na terra? perguntei.
— Setenta e oito anos.
— Quê? E o plano de Deus?
— Ninguém o muda.
Ele não terá condição de voltar sadio.
Lesou os seus corpos, esmagou o cordão fluídico, portanto, terá de sofrer várias encarnações.
Queira Deus ele se recupere logo.
— E o plano de Deus? tornei a perguntar.
— Ai está a culpa do suicida.
Ele prejudica não só a si próprio, porém muito mais a várias outras pessoas que terão de levar para a frente o que ele deixou de fazer.
Deus não castiga, nós é que ferimos a nossa alma com actos indignos e destruímos os sonhos por desejar sonhar demais.
— Onde se encontra a equipe do desencarne?
Onde estão o doutor Albuquerque e os outros?
— Está-se esquecendo de que eles desligam o laço e que Rodrigo violentou o seu?
— Como podemos ajudá-lo?
— Não podemos.
Já chamei outra equipe, que tentará levá-lo para um pronto-socorro.
Aí, a Casa Espírita entra em acção.
Ajuda-os, mas com médiuns firmes, equilibrados.
Podemos prestar auxílio a esses doentes apenas com médiuns que dizem não fazer nada no Centro.
Esses médiuns são portadores de muito ectoplasma e quando reunidos em grupo prestam muito auxílio aos doentes recém-desencarnados, principalmente aos suicidas pela droga.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2020 7:18 pm

Lembre-se: suicida não é obsessor, é doente, e os dirigentes de grupos precisam conscientizar-se de que a Doutrina esclarece, com livros da Codificação, como proceder em uma mesa mediúnica.
Gritos, jogadas de corpo, barulhos ruidosos denotam que o médium é mais doente do que aqueles que ele julga auxiliar.
O dirigente precisa ficar convicto de que nem sempre o que diz receber um espírito sofredor o está ajudando.
Muitas vezes o médium, que muitos acreditam nada fazer, tem condição de oferecer fluidos à equipe de socorro, que alivia e permite que ele seja melhor socorrido.
Um grupo disciplinado é silencioso e seus médiuns não fazem alarde da mediunidade.
Quem vive alardeando os seus dotes longe está da mediunidade com Jesus.
Espero que cada irmão espírita busque a Doutrina e não os espíritos.
Se o homem terráqueo estiver com Jesus, viver para Jesus, jamais precisará ser doutrinado após o seu desencarne.
Hoje o plano físico tem mais obsessor do que o mundo espiritual.
Portanto, vamos cuidar daquele que busca os Centros Espíritas, oferecendo-lhe estudo para aprender a desencarnar, porque actualmente só a Doutrina Espírita ensina ao homem a vida na terra com os pés no “céu”, isto é, voando da dor e do desespero.
Os grupos espíritas precisam mudar a imagem que está sendo formada sobre espiritismo.
Nem todos os que os buscam precisam desenvolver a mediunidade.
Todos, entretanto, precisam educá-la.
Mediunidade educada, médiuns sábios; enquanto o vaidoso só desejar receber espíritos, ele mais estará afastado das verdades doutrinárias.
Esperamos que um dia os Centros Espíritas ofereçam ao encarnado e ao desencarnado a água da vida eterna.
Muitas Casas têm condição para isso.
É só dar aos homens exemplos de amor e caridade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2020 7:19 pm

Capítulo XX - A CADA DESENCARNE UMA AULA
Enoque muito falou sobre assistência aos toxicómanos e as dificuldades ainda encontradas nas Casas Espíritas.
Eu o ouvia com carinho e respeito por conhecer sua luta em prol da felicidade das famílias, orando e ajudando as crianças e os jovens.
O garoto de Deus desejou-me paz e continuou sua lida, indo até a casa do lírio colhido consolar a família do jovem desencarnado.
Isso vem acontecendo quase todos os dias, um mal que a sociedade finge desconhecer.
Mas deixa para lá, tenho de acompanhar a equipe do desencarne à casa de Aristides, pois se aproxima o desligamento dos seus corpos.
Lá chegando, presenciamos a dedicação de sua nora, sempre carinhosa, dando-lhe banho e o alimentando.
— Eles são amigos de outras encarnações? - perguntei a Deleuze.
Ele sorriu, nada respondendo.
Patrice foi quem falou:
— Tornaram-se tão corriqueiras as antipatias de sogro e de sogra que quando vemos uma nora dando amor ao sogro nos assustamos, mas isso é que é o certo.
Se somos todos irmãos, como fugir da lei do amor?
E com os domésticos temos mais responsabilidade.
Ficamos naquela casa onde os encarregados do Departamento já se encontravam há uma semana.
Aristides havia sofrido um derrame há vários anos e era tratado pela nora.
Aproximando-me dele percebi o seu corpo físico já rejeitando parte do alimento e ele engasgava.
Nada pude fazer, estava ali apenas como estudante, mas o doutor Albuquerque intuiu Ana a levá-lo até o seu quarto e lá iniciou o real desligamento.
Um dos encarregados dava passes, dispersando os fluidos dos alimentos pesados ingeridos anteriormente por Aristides.
O quarto nem parecia o de um doente que sofrera derrame, tudo muito limpo e em ordem.
Aristides era tratado como se fosse uma criança.
Ao perceber que ele estava desencarnando, a nora chamou a vizinha médium espírita que também nos ajudou, orando em silêncio.
Porém, quase se apavorou.
Mesmo percebendo a paralisação de quase todos os órgãos, via o espírito de Aristides colado aos corpos, sem poder afastar-se.
Quando o filho chegou, constatou que Aristides estava “morto”, mas, para a médium, não.
Notava-o tão presente que as suas mãos pareciam as de uma pessoa ainda encarnada.
Iniciaram-se os preparativos e a médium, ali ao lado, orando e pedindo socorro, temia um caso de catalepsia, porquanto o doutor Albuquerque e sua equipe somente haviam afrouxado o laço fluídico.
A médium, ao divisar-me, perguntou o que ocorria e eu lhe mostrei o cérebro físico de Aristides.
Nele um aparelho vibratório fazia reviver as células, dando-lhe vida.
Nesse instante ele recordou de cada momento de sua vida e vi rolar no seu rosto várias lágrimas, de remorso, não sei, mas uma eu colhi, de agradecimento a todos os que dele cuidaram durante a doença.
As células atingidas pelo derrame ganharam vida e ele, que ultimamente registara em sua mente a revolta, a dor e o desespero, sentiu que lhe voltava a saúde.
Recordou-se da sua imagem de homem vaidoso e sorriu feliz, pois não estava mais doente.
O aparelho no cérebro mantinha o corpo físico como se estivesse congelado.
Isso a médium presenciou e só aí tranquilizou-se.
Mas ainda levou algumas horas a total separação.
Os familiares desencarnados de Aristides, que o vieram buscar, davam-lhe as boas-vindas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2020 7:19 pm

O quarto muito cooperou para o sucesso do nosso trabalho, tudo muito limpo, principalmente o doente.
Nosso amigo buscou a imagem de alguém que lhe dedicara muitas horas de auxílio, a nora Ana, e nunca presenciei um olhar tão belo.
Nele a palavra gratidão era iluminada com a cor do amor.
A médium ali ainda orava.
O laço já havia desatado, mas uma equipe especializada fazia com que Aristides apagasse, nem que fosse por momentos, os vestígios da doença.
— Por que esse estranho desligamento? - perguntei a Deleuze.
Ele me respondeu:
— É preferível um trabalho maior agora do que levá-lo para a espiritualidade ainda numa cadeira de rodas e com os miasmas do derrame.
Neste instante, de sua tela mental está sendo retirado todo o desespero de sua mente por força da doença.
— Então ele vai chegar ao hospital curado?
— Não, mas logo estará andando e já pronto para ingressar em qualquer colónia de trabalho.
— Pensei que com todo esse tratamento ele fosse sair daqui andando e raciocinando normalmente.
— Não, Sérgio.
Aristides viveu muitos anos dependente, muito dependente de terceiros, e não é de um momento para outro que vai livrar-se dos vestígios da doença.
Mas o seu cérebro espiritual já se recuperou quase oitenta por cento.
Isso é uma vitória enorme, graças à bondade divina.
— Até quando ele vai ficar aí, colado ao seu corpo físico?
Percebo que o seu duplo está ainda recebendo do perispírito, mesmo este já desligado, uma energia que mantém os chacras rodando normalmente.
— Para apagar as lembranças tristes da mente de Aristides, o espírito não pode ficar alheio, pois não se esqueça de que por vários anos o corpo físico foi companheiro do seu espírito e não podemos separá-lo com violência.
Ele não é um suicida.
— Confesso, doutor Albuquerque, que não estou compreendendo bem.
Nem eu nem a médium, aqui presente, participando desse trabalho.
E se a família resolve enterrá-lo agora?
— Seria desastroso, mas o seu filho tem conhecimentos espíritas, é um trabalhador da Seara.
Se para a cremação temos de obedecer às setenta e duas horas, por que para enterrar não respeitamos as vinte e quatro horas que os antigos tanto respeitavam?
— Não sei, não.
Hoje está tudo tão diferente...
Se a família resolver enterrá-lo daqui a duas horas a equipe já o terá desligado totalmente?
— Sérgio, Aristides se encontra como se estivesse anestesiado, portanto, mesmo que a família o enterrasse agora, nós é que sofreríamos mais, pois teríamos de vencer vários obstáculos da matéria, em vez de realizar um trabalho com preces e cânticos.
— Sabe, amigo, acho que os Centros Espíritas deveriam elucidar o homem a saber desencarnar.
Principalmente os que ficam devem saber o que é preciso fazer para ajudar a espiritualidade.
Já narrei em outros capítulos que a música e as conversas edificantes auxiliam aquele que está fazendo a grande viagem.
Aristides, pairado sobre o duplo e o físico, estava percebendo o que ocorria ora no físico, ora no plano espiritual, e me pareceu feliz.
Já havia notado que estava desligando-se do plano físico.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2020 7:20 pm

Depois das explicações, a médium, antes preocupada, ficou mais tranquila, ele já desencarnara, mas ali permanecia em tratamento para chegar ao hospital não mais como um doente com o cérebro danificado, e sim em convalescença.
A médium ainda presenciou o trabalho da equipe de socorro e, graças a Deus, a família muito cooperou.
Cada caso é um caso e confesso que muito auxilia a higiene do doente e do lar ou do hospital onde ele se encontra.
Muitos julgam que o enfermo não precisa de quarto arejado e vestes limpas.
A espiritualidade tem dificuldade em trabalhar em local sujo, pois o desequilíbrio nele se aloja.
Nesse caso, a equipe do doutor Albuquerque não teria condição, de trabalhar como o fizera: no centro de força coronário.
A equipe tratava do cérebro espiritual na medida em que o físico cessava o seu trabalho de longos anos.
O tratamento do diencéfalo, onde se situa o centro de força coronário, foi o mais rápido, passando logo para o frontal, onde se aglutinam, transmitem e disseminam energias do córtex cerebral para o funcionamento normal do sistema nervoso, que se mostrava enfraquecido, muito enfraquecido, como se vários fios houvessem queimado.
Ao tocá-lo, todo o perispírito de Aristides se iluminou.
Na medida em que os médicos da equipe tocavam esse centro de força, todo o seu perispírito ganhava vida, como se fosse adquirindo força.
Nosso amigo sentiu que voltava a ter a sua mente sã.
Então, foram tratados o laríngeo, pois Aristides, com o derrame, tinha dificuldade para falar; cardíaco, pois com a doença o nosso paciente ficou em desequilíbrio e é nesse centro de força que a aura da emoção e da circulação fornece energias de base ao equilíbrio orgânico.
Depois, foi tratado o esplénico.
Nesse centro de força a equipe dispersou os miasmas do alimento, pois Aristides havia almoçado antes do desencarne.
Não vamos nos esquecer de que esse tratamento foi feito em seu perispírito, mas outra equipe tratava do cérebro físico.
— Complicado, não? - comentei, aproximando-me da médium.
— Complicado, Luiz Sérgio?
Uma loucura!
Minha cabeça está a mil!
E tinha razão.
Só quem trabalha em desencarne pode compreender essa maravilhosa equipe.
Eles são tão eficientes que, ao vê-los trabalhar, julgamos que são técnicos de aparelhos electrónicos desligando fios e ligando outros.
E com que rapidez o fazem!
Aproximei-me de Kelim, um médico da equipe, dizendo:
— Obrigado, amigo, pela aula.
Ele apenas sorriu, continuando o seu trabalho no cérebro espiritual de Aristides.
Quando voltei ao meu grupo, perguntaram-me:
— Vais-te juntar ao doutor Albuquerque?
— Quem me dera já possuir tamanha evolução!
Penso que para chegarmos a essa equipe temos de muito evoluir, ela é composta de grandes médicos, profissionais que fizeram da Medicina um sacerdócio, tratando o pobre e o rico com igual respeito e carinho.
Eles só honraram a Medicina e hoje continuam estudando o desencarne para tratar no amanhã, quando reencarnados, da morte física.
— Tens razão, Sérgio, eles são os técnicos da vida — falou-me Deleuze.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2020 7:20 pm

E foi assim que assistimos à viagem de Aristides para o mundo espiritual.
Queira Deus ele logo se recupere.
Dali fomos atender a outro chamado de pessoas ligadas a nós.
Quando chegamos, o irmão delirava. Os seus corpos espiritual, duplo e físico balanceavam, sofrendo pelo desequilíbrio. De que se tratava? Infelizmente, o irmão havia abusado por demais da bebida, brincando com a vida.
Procurei os chacras e esses rodavam como se o irmão suicida fosse.
— Mas ele não está com gripe? - indaguei.
— Sim, está não só com gripe mas com todo o sistema nervoso alterado.
Ali fiquei ao lado de Raul.
Ele se debatia, lutando para respirar.
Os entrelaçamentos de filetes nervosos que se estendem aos pares junto à coluna vertebral, formando o sistema nervoso simpático, sofriam pressão muito grande.
Eram energias acumuladas, ou melhor, desequilibradas.
Nesses entrelaçamentos dos nervos simpáticos víamos o coração e pulmões, fígado e intestinos completamente atingidos pela vida desregrada do amigo, vez por outra às voltas com a doença, doença esta provocada pelos excessos.
Analisei-o: um jovem senhor, aparentando quarenta anos de idade.
— Ele sai dessa crise? perguntei.
— Dificilmente, respondeu Deleuze.
O coração já está bem fraco.
E depois, veja só o fígado.
A bebida bloqueou de tal maneira as suas funções que dificilmente poderá voltar ao normal.
— Mas então é um suicida?
— Sim, inconsciente.
— E mesmo assim está sendo tratado?
— O Pai não abandona os Seus filhos, até aqueles que não obedecem às Suas leis.
Fiquei calado, enquanto a equipe dispersava os fluidos pesados e dava passes que faziam com que Raul voltasse por momentos ao equilíbrio.
Assistíamos ao tratamento, à luta da equipe reencarnatória para que Raul na terra ficasse para cumprir a sua tarefa, mas logo esta equipe se retirou, entrando a do desencarne, e foi aí que presenciei o porquê do suicídio inconsciente.
É que ele, ingerindo bebida alcoólica por demais, foi atacando axônios e dendrites.
Observávamos as ligações dos corpos violentadas por excessos concentrados nas células nervosas.
Quando naquele corpo físico doente foi cessando a vida, vimos por que o homem precisa se cuidar.
O espírito de Raul lutava para ficar no corpo físico, não aceitando a separação, mas logo o seu perispírito e o seu espírito tiveram de abandonar o duplo e o físico, pois este não tinha mais condição de operar como condutor do espírito.
O físico foi-se apagando; poucos órgãos de Raul não se encontravam doentes.
Mesmo desatado violentamente, o perispírito ali permanecia como se desejasse ficar, pois na programação divina eles teriam de ficar juntos uns setenta e cinco anos, e agora sofriam a separação.
A equipe tentava fazê-lo dormir para não presenciar o próprio desencarne, mas os fluidos vitais dos fios da vida o prendiam ali, como se fora um ímã.
Olhei o cordão de prata e vi que mesmo desamarrado ele ainda não havia ganho elasticidade.
Vamos explicar: quando se rompe o cordão de prata, ele recorda um carretel de linha para soltar pipa, vai-se desamarrando, desamarrando, à medida em que a pipa sobe.
Aqui a pipa é o perispírito e a linha o cordão fluídico.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2020 7:20 pm

Em Raul, o cordão permanecia sem ganhar elasticidade.
Ele, bastante tonto, não sabia o que estava acontecendo, mas um senhor chamado Francisco aproximou-se do seu espírito e ficou orando.
Imediatamente o irmão adormeceu, só voltando a ficar ao lado do corpo na capela, mesmo assim bastante perturbado, ora na terra, ora no plano espiritual.
Agora volto ao velho assunto: as pessoas devem conscientizar-se de que na hora da partida precisamos ter muito respeito pelo chamado “morto”.
Na capela, Raul sofria ao ouvir alguns comentários referentes à sua vida e muitas vezes chorou ao presenciar o desespero de seus filhos e de sua família.
“Meu Deus, por que me deixaste errar tanto?
Por que, Senhor? “ - lamentava.
Assim como Raul, muitos ainda culpam Deus pelos próprios erros.
Eu orava e confesso que muitas vezes precisei secar as lágrimas.
Ali, o pai e marido de pessoas que muito amo debatia-se no mar do arrependimento e ninguém o ajudava, só comentários maldosos dos “ditos” amigos.
— Nada podemos fazer por ele?
Nada fez de bom? - perguntei a Patrice.
— Se olhares bem, respondeu Deleuze, podes ver o quanto Raul está sendo ajudado.
Mesmo sendo suicida inconsciente, ele possui no banco da providência divina muitos méritos, um deles é a bondade do seu espírito.
Ele foi bom pai, bom amigo e bom filho.
Os seus corpos ainda estavam juntos, colados, e só uma nuvem cinza os envolvia, pois a aura espiritual havia-se deslocado.
Raul, mesmo já desligado, conseguia reter em si a matéria etérica do corpo físico e se confundia nela.
Por isso ali se encontrava, sofrendo ao lado dos encarnados, sofrimento esse inteiramente desnecessário.
Na capela, junto a uma médium, fomos orando, até que se aproximou dona Maria.
Ela colocou a mão na fronte de Raul e ele sorriu.
De imediato o carretel se desenrolou, com uma rapidez imensa, e vimos os corpos físico e duplo lutando em busca da luz da vida — o espírito — mas este já havia sido transformado em um lírio e fora colhido por Deus.
Não sabia até quando Raul iria precisar de tratamento, mas tinha certeza de que ele seria protegido pelas mãos do médico Jesus e que seus familiares todos os dias iriam acender a luz da caridade em prol do seu crescimento espiritual, para que ele se recuperasse logo e pudesse pagar a sua dívida para com Deus, através de um trabalho junto aos alcoólatras, que se suicidam dia-após-dia.
Feliz daquele que encontra no corpo físico o esclarecimento da vida além vida e procura viver em Cristo e sempre Cristo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2020 7:21 pm

Capítulo XXI - A SIMPLICIDADE DE UM LÍRIO
Voltamos à Colónia, onde passamos alguns dias.
Fui convidado pela equipe a ir à casa de Marta.
Aceitei de pronto, não podia deixar de descrever mais um desencarne.
Lá chegando, encontramos sua filha bastante preocupada, queria dar mais conforto à mãe, mas não sabia que Marta já estava recebendo da espiritualidade um tratamento muito especial.
O órgão afectado encontrava-se completamente isolado e mesmo com o intestino tomado pelo câncer, ela fazia as necessidades fisiológicas quase normalmente.
Os médicos davam-lhe uma assistência extraordinária.
Ela vivia ora no mundo espiritual, ora no físico.
Para os familiares ela estava sem memória, como muitas vezes julgava não ter-se alimentado.
Entretanto, tudo isso era devido aos seus corpos se encontrarem quase separados.
Assistimos a muitas aplicações de luzes em sua aura da saúde.
A irmã estava tendo um desprendimento fácil, pois era desapegada das coisas do mundo.
Tudo para ela era empréstimo de Deus, sempre aspirou aos bens espirituais e cumpriu com sua tarefa familiar.
Notamos os laços enfraquecidos se desatando docemente.
Sua perturbação não passava de leve entorpecimento, como se estivesse sonhando.
Recordava a luta ao lado do marido e sorriu, feliz, pois tinha cumprido com sua missão de mãe e de esposa.
O seu passado lhe pareceu uma branda chuva, que somente por um momento lhe molhou o espírito, parando logo em seguida com a chegada do sol.
Este banhava o seu corpo e o seu espírito, fortalecendo-os e lhe dilatando a visão espiritual, dando a condição de rever o marido e outros familiares.
Que belo sol divino este que queima os miasmas da dor e da velhice.
Viu-se remoçada e sorriu feliz.
Teve consciência da “morte” e a bendisse, pensando:
“já realizei tudo o que tinha de realizar, só queria que todos os meus filhos estivessem ao meu lado”.
Nessa hora, uma lágrima correu por sua face, era o momento do adeus.
Prestando muita atenção, Marta afigurava-se-me um aparelho eléctrico que se foi desligando normalmente.
Mesmo separado o perispírito do duplo e do físico, ele recebeu uma luz que banhou todo o abdómen, principalmente o fígado, os rins e os intestinos.
Marta levou a mão à garganta, como se estivesse asfixiando-se.
Uma luz azul lhe acariciou o laríngeo e ela adormeceu.
Aparentava ser bem mais jovem agora.
— Por que esse rejuvenescimento? perguntei a Deleuze.
— Bondade de coração, respondeu.
Marta é uma mulher de sentimentos bons, sem orgulho.
Sentia-se feliz com o que a vida lhe presenteara.
— Mas ela é rica?
— É rica de dons espirituais.
Mesmo não sendo uma frequentadora assídua de grupos espíritas ela fez de seus actos lindas preces de amor a Deus.
Não é preciso ter uma religião para nos salvarmos, o que é preciso é que cada ser se conscientize da sua tarefa reencarnatória e não deixe para trás o que deva ser feito hoje.
Voltei a fitar Marta.
Parecia dormir.
Apesar de desligado do físico, o seu espírito ali permanecia em tratamento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2020 7:21 pm

O câncer lhe destruíra quase todo o aparelho digestivo e os médicos tentavam tirar de sua mente a doença que a havia castigado.
Porém, algo atrapalhava aquele trabalho: o corre-corre da família e algumas preocupações.
Ainda assim, o doutor Albuquerque fazia com a sua equipe um trabalho de mestre.
Às vezes o choro dos familiares a despertava, mas era logo adormecida.
Enquanto se desenrolava este desencarne, pude avaliar quão importante é a família em nossas vidas.
Marta olhava os seus filhos com muito amor e já sentindo saudade, mas não com menos amor divisava os entes queridos na espiritualidade, um deles seu genro.
— Uai, você aqui? perguntou-lhe.
— Sim, senhora, vim esperá-la — aí Marta foi-lhe contando os últimos acontecimentos familiares.
O doutor Albuquerque sorriu.
— Ah, se todos partissem numa boa, como a nossa querida irmã... — falei.
Quando já ia saindo, voltou, olhou o seu corpo físico bastante magro e indagou ao marido:
— Essa sou eu?
— Sim, Marta, é você.
— Meu Deus, como estou feia!
Não, isso não é certo.
A gente trabalha, luta, cumpre com o dever e se vê de uma hora para outra com uma doença tão ruim, que come a gente.
Mas deixa para lá, Deus é quem sabe das coisas.
Olhando mais uma vez o seu corpo material, falou:
— Será que eles vão me arrumar direitinho no caixão?
Estou com os olhos abertos e assim fica muito feio.
Não sei onde irão encontrar flores, gosto muito delas.
Se precisar coloca folha mesmo.
Para onde eu vou agora? — perguntou, virando-se para Ambrósio.
— Vamos para uma casa de repouso, respondeu.
— Mas eu estou me sentindo tão bem!...
— Sabemos disso, contudo, depois da viagem é preciso repousar.
Comentou, então, muito gentilmente:
— Está bem, mas só gostaria de ir depois do sepultamento do meu corpo, mesmo sabendo que ele para mais nada serve.
Mas queria presenciar ser velado pelos meus amigos.
— Sentimos muito, Marta — interveio o doutor Albuquerque.
Não é prudente assistir ao seu sepultamento.
Muitos dos seus familiares irão se desesperar e ficará triste.
— Que nada, doutor!
Todos não têm de morrer?
Para que chorar?
Ficarei triste se eles cantarem e dançarem junto ao meu caixão.
Isso sim, acho falta de respeito.
Não sei, não, doutor, mas antigamente os familiares nem ligavam o rádio quando morria um dos seus.
Agora, nesse modernismo que vive por aí, nem bem o defunto sai da casa e é rádio, televisão, festa.
Eu sou da antiga, acho que devemos respeitar os “mortos”.
Mesmo sendo espírita não me conformo com esse tipo de coisa.
“Morto” é morto e merece de todos muito respeito.
Marta falava sem parar, enquanto os familiares faziam os preparativos e a equipe do desencarne entregava o serviço a outra, a socorrista.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2020 7:21 pm

Dando a cada um de nós lições a serem aproveitadas por todos, dizia ela:
— Fui espírita, ou melhor, acreditei nos espíritos, mas nunca saí por aí em busca de fenómeno.
O que cada um deve fazer é reformar o seu espírito, isso não com palavras, mas todos os dias da nossa existência.
Ter a simplicidade do espírito é uma bênção.
Espírita orgulhoso é como pau-de-sebo, ninguém sobe nele, mas também ele, coitado, não tem folhas nem dá frutos.
Procurei viver a minha crença, crer em Deus e agradecer a Ele tudo o que tenho.
Todos os que dão importância às coisas materiais se intoxicam espiritualmente, vivem azedos e criando caso com tudo e com todos.
Frequentam Centros mas apenas se dizem espíritas.
Mansamente, foi levada para um hospital espiritual e ali a tudo examinava.
Quando notou não ser a única no quarto em que fora alojada, foi logo acercando-se dos outros e perguntando:
— O que faz aqui?
Morreu há quanto tempo?
Observou a enfermaria, comentando:
— Que beleza, meu Deus!
O quarto simples apresentava impecável limpeza.
Pela janela, bem ampla, divisava um jardim florido que lhe dava as boas-vindas.
As camas, forradas de branco, contrastavam com o vaso repleto de rosas coloridas.
— Onde estou? - perguntou a uma companheira.
— No Hospital de Maria, - respondeu.
Aqui estamos ligados ao grande Hospital do Amor, onde Jesus Cristo é o médico que cura as nossas verdadeiras dores.
— Não gosto de hospital, mas esse, sendo de Jesus, deve ser bom —falou, sorrindo.
Tive vontade de colocá-la nos braços.
Como recordei da minha flor Margarida, vovó, e acreditei nos homens!
Existem seres fora de série, bons, nobres e espiritualizados.
Marta logo se ambientou e nós nos despedimos, dando- lhe um abraço.
— Qual é mesmo o seu nome? - perguntou-me.
— Luiz Sérgio.
— Muito prazer.
Despedi-me, assim como todos os da equipe.
Saí dali pensando: não existe morte, existe uma eterna luta de seres que precisam chegar a Deus.
Se nós não nos unirmos tornar-se-ão cada vez mais difíceis as idas e vindas.
Mas lutando, amigos, sempre encontraremos a mão bendita de Jesus.
Ele, o jardineiro de Deus, estará sempre colhendo os lírios e a perfumá-los com a essência eterna da paz e do amor.
Só Jesus tem condição de nos oferecer o remédio para as nossas almas doentes.
Sem ele somos folhas machucadas pelo vento da dor.
Unamo-nos, espíritas, ou melhor, todos os religiosos, e vamos ensinar ao homem encarnado a bondade da “morte” e prepará-lo para a verdadeira vida espiritual.
Não com ameaças, porém com esclarecimentos.
De nada adiantará nos dizermos espíritas se não tivermos no coração a Doutrina, só ela nos oferece o passaporte para um mundo de paz.
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Lírios Colhidos - Luiz Sérgio/Irene Pacheco Machado - Página 3 Empty Re: Lírios Colhidos - Luiz Sérgio/Irene Pacheco Machado

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2020 7:21 pm

Capítulo XXII - O PÁSSARO LIBERTO
Ao narrar as histórias dos lírios colhidos tive muitas vezes de recuar, a verdade incomoda.
Mas mesmo assim não deixei passar em branco o meu contacto com a equipe do desencarne.
Graças a ela constatei a importância de um ambiente limpo e saudável, seja em casa ou num hospital; a limpeza ajuda não só no conforto do doente como aos médicos espirituais.
Neste livro procuro ajudar as famílias que passam por momentos difíceis de doenças, dizendo-lhes da importância de um quarto limpo, arejado e silencioso, principalmente em um hospital; que a televisão é inimiga terrível de um doente em estado grave; que os melindres familiares, mesmo ocultos ao doente, o perturbam bastante.
O enfermo precisa de atenção, amor e respeito.
Procuro dizer, também, que muitos lírios relutam em deixar a terra e sofrem nesse momento, querendo, por tudo, permanecer junto ao corpo que lhe serviu.
A prece dos familiares e amigos é grande bênção e muito ajuda uma alma a se desprender do corpo físico.
Além disso, deveriam ser obedecidas por lei as vinte e quatro horas de espera para um corpo descer à terra, pois a pressa em enterrar alguém pode dificultar o seu total desligamento.
Presenciei a luta de uma equipe contra o tempo mínimo e daqui alerto as pessoas que, para não sofrerem a tristeza do velório, correm para enterrar seus “mortos”, prejudicando um trabalho tão bonito como esse das equipes de desencarnação. Perguntamos sempre: quantas horas são precisas para a cremação?
No livro “O Consolador”, escrito por Emmanuel e psicografado por Francisco Cândido Xavier, pergunta 151, encontramos a resposta:
“Na cremação, faz-se mister exercer a piedade com os cadáveres procrastinando por mais horas o ato de destruição das vísceras materiais, pois, de certo modo, existem sempre muitos ecos de sensibilidade entre o Espírito desencarnado e o corpo onde se extingui o “tónus vital”, nas primeiras horas seguintes ao desenlace, em vista dos fluidos orgânicos que ainda solicitam a alma para as sensações da existência material”.
Por que para o sepultamento hoje queremos modernizar?
Os nossos antepassados jamais enterravam alguém antes do prazo de vinte e quatro horas após o desenlace.
Seria bom reflectirmos sobre isso.
Está certo que o túmulo só vai abrigar o corpo físico, mas existe um trabalho que deve ser respeitado, apesar de cada um nascer e desencarnar de acordo com a sua evolução.
Bem, mas agora quero narrar-lhes a apoteose de uma alma, um espírito que a princípio relutei em narrar a sua metamorfose por estar a ele ligado por fortes laços do sentimento, entretanto, quis a vida que eu colocasse no papel algo tão meu, tão meu, que os meus leitores nem podem imaginar o que representa você presenciar o desencarne de alguém que sempre foi o seu ídolo.
É isso, camaradas, aqui estou, trémulo e ansioso, pois fui informado de que alguém muito amado vai chegar para junto de mim.
Cerrei os olhos e as lágrimas me molharam o rosto ainda jovem.
“Meu Deus, será que estarei preparado para suportar tanta emoção?”
Patrice apertou-me o ombro e me aproximei do lar que muitas vezes me abrigou com amor e respeito.
E ali estava, recostado em sua cadeira, o meu grande amigo Lucas, os olhos cansados, as pernas envelhecidas pelos anos, já não obedecendo ao espírito lúcido e inteligente.
Deitei-me no seu colo e ele sorriu.
— Luiz, você está por perto?
— Não só perto, mas dentro do seu coração — queria gritar. Iniciamos um diálogo de coração para coração:
— Sei que chegou o momento.
Nada tenho a recear, somente preocupa-me a Rosa, que também não anda muito bem de saúde.
O José, graças ao Senhor meu Deus, está preparado, ao lado da querida esposa e filhos, a caminhar sem mim, mas não deixa de ser dolorido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2020 7:22 pm

Somos muito unidos e a ausência física machuca o coração.
Quis falar alguma coisa, mas ele continuou:
— Hoje passarei para o Oriente Eterno e, tenho certeza, reencontrarei vários irmãos, muitos deles companheiros de Casa.
Ao apertar-lhes a mão, sentirei que as minhas estarão mais leves, não mais tão pesadas pela dependência carnal.
Serei igual ao pássaro que, ao se desprender da gaiola de ouro, diz ao vento forte que lhe ameaça as frágeis asas:
“ Vento, por que me castigas agora?
Já deixei a veste
E a minha alma também chora
Neste campo silvestre.
Vento, leva a carta-saudade
De quem amou de verdade
A cada companheiro.
Diz que fui libertado,
Ou melhor, agraciado,
Pelo querido Cordeiro.”
E ali ficamos nós, conversando.
A alma de um grande homem, digno, amigo e leal companheiro, mesmo encarnado, já se encontra deixando os seus familiares.
Há muito Lucas vinha preparando-se para partir.
Que bom se todos tivessem esse dom!
Mas é uma conquista própria e ele, com a sua bondade, adquiriu no banco da providência divina a passagem da paz.
A equipe, a postos, já realizava o trabalho.
Ele, o tio Lucas, o amigo Lucas, o companheiro, sussurrou docemente:
— Abre-se a porta do Templo e digo: sejam bem-vindos.
Estou pronto para partir, o meu tempo terminou e não desejo fazê-los esperar.
Cerrou os olhos.
Uma luz lhe cobriu os corpos e estes se separaram em cadência lírica, oferecendo aos meus olhos um espectáculo divino.
O físico recebeu luzes de coloração azul e dourada; o perispírito, já desligado, foi carregado por um cortejo que entoava belos hinos.
Não sabia se corria atrás do cortejo ou se permanecia junto ao corpo querido.
E me vi não mais o Luiz Sérgio espírito.
Senti-me junto a outros companheiros, em fila, velando o corpo do irmão.
Lucas ali se encontrava, mãos cruzadas sobre o peito, não mais na sua casa nem no hospital, mas sim na “estação da morte”.
Muito bem vestido, a “Flamígera” cintilando, dava um colorido divino ao momento da partida.
Das suas mãos partiam ondulações coloridas, isto é, fluidos como se apertando a mão de cada um dos presentes.
Lucas ali estava, corpo e espírito sendo velados pelos amigos dos dois planos.
— Por que ele permanece velado como se estivesse “morto”, já no plano espiritual? - perguntei a Deleuze, intrigado.
Não sei se estou me fazendo compreender:
Lucas estava sendo velado na terra e no mundo espiritual, com uma guarda de irmãos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2020 7:22 pm

O cântico era tão lindo que muitas vezes enxuguei meus olhos.
Deleuze respondeu-me:
— Ora, todos sabem perfeitamente como é difícil abandonar hábitos arraigados em nós.
O nosso irmão está sendo velado pelos seus companheiros.
— Não vejo a hora de abraçá-lo, estou contando os minutos!
O nosso querido amigo estava sendo velado nos dois planos e as famílias física e espiritual se comportavam com muita dignidade.
— Que bom se todos desencarnassem assim - falou-me Patrice.
Quanta paz! As flores se misturavam no intercâmbio do amor e da fraternidade.
E todas as Lojas entrelaçavam as auras num pranto de saudade.
O espírito de Lucas, em agradecimento, buscava Deus e agradecido a Ele por sua passagem pela terra, dizia em prece:
“Senhor, deste-me um corpo para servir-Te, hoje peço-Te perdão se o tempo o desgastou.
Agradeço-Te por ter-me permitido saldar as minhas dívidas e reencontrar almas tão amadas.
Agradeço-Te, meu Deus, pelas minhas vitórias, e se fracassos eu tive, não afectaram o amor por Ti e por todas as criaturas, eles foram mínimos diante do brilho da Tua estrela em minha vida.
Vela, Senhor, pelos que ficaram, e ajuda-me a buscá-los sempre, mas com a consciência de que novos trabalhos aqui me esperam em novo e remoçado corpo.
Quero, Senhor, seguir-Te nas verdades da vida, conquanto a morte fica distante quando no nosso coração a estrela de Davi, reluzindo verdades, faz-se farol à nossa frente, conduzindo-nos para o infinito.
No Oriente Eterno quero buscar a fonte da vida celeste através do trabalho, como fiz quando encarnado, e já me dessedento.
Dos meus lábios molhados quero que parta, em direcção a todos, o meu muito obrigado.
Eu amo vocês. ”
Nisso, os corpos saíram da capela.
Um, para a quadra da saudade, o outro, para o jardim de Deus.
Não sabia para onde me dirigir, quando uma energia maior juntou-me a outros irmãos, pois eu também estava vestido de acordo com o cortejo espiritual de Lucas.
Dali partimos, levando o amigo nos braços até o Hospital de Maria.
Lá ainda ficamos algumas horas, recebendo Lucas.
Somente depois ele foi entregue aos médicos.
Cada um do seu cortejo carinhosamente o cumprimentou e foi emocionada a minha voz ao chegar minha vez!
Novamente eu me vi criança, correndo para seus braços, pedindo socorro.
Só que desta vez me olhou como se ele fosse um garoto, dizendo, assustado:
— Luiz, estou aqui, cuide de mim, sim?
Vou precisar tanto da sua esperança!...
Nossas lágrimas se misturaram num aperto de mão e nossos corpos, hoje tão distantes dos corpos do passado, estremeceram de alegria por estarem novamente juntos.
— Meu grande amigo e mestre, seja bem-vindo à Pátria-Mãe.
Espero que logo estejamos passeando pelas alamedas da paz.
Como de costume, colocou a sua outra mão por cima da minha, acariciando-me, e nos abraçamos com carinho.
Ali estava o meu grande protector.
— Luiz, vejo-me de volta à casa, a fim de meditar e orar.
Preciso obter alguma luz sobre este momento, que me parece tão obscuro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2020 7:22 pm

Recordo do Senhor:
“Os estultos e tardios de coração para crer tudo que anunciaram os profetas”.
Eu não sabia nem como me dirigir a ele, tanta a minha emoção.
Só pude dizer:
— Venha em paz, amigão!...
Ele me sorriu.
— Luiz, você até que remoçou, os anos não passaram para você?
Nem posso dizer que não convive com a dor, pois, conhecedor do seu trabalho, sei como sofre junto aos desvalidos.
— Aqui o que conta são as virtudes e eu luto para conquistá-las.
Para isso, vivo procurando trabalho.
Lucas sorriu, dizendo:
— Está bem, pode logo me arrumar emprego, não posso ficar parado, já descansei demais.
Quando o papo ia ficando animado, fomos cercados por parentes e amigos de Lucas aos quais ele sorria feliz, mas notei que algo o preocupava e informei, para tranquilizá-lo:
— José e tia Rosa estão óptimos, dignos da sua escola de amor.
— É um momento decisivo para todos nós, ninguém pode fugir dele, entretanto, dói, e muito, deixar para trás o aconchego de um lar onde floriu o mais doce sentimento.
Nisso, abriram-se largamente, de par em par, as portas da Colónia e Lucas passou por elas ao som de arrebatadora música. Todas as hostes rodearam o recém-chegado, esperando vê-lo tomar assento na cadeira a ele reservada. Notei a branca toga do companheiro resplandecente de luz.
Do seu peito partia uma luz azulada que se fundia ao ambiente florido.
Fiquei ah mais alguns minutos, olhando para o alto.
O triângulo da vida parecia dar as boas-vindas a Lucas que, ajoelhado, orou:
“Pai, aqui estou, tentando ultrapassar o portão da vida para cair nos Teus braços amorosos.
Faz com que o meu despertar seja breve.
Não sei se fui um deus do bem, da fé, da caridade, deste-nos a escolha, tudo fiz para acertar, mas, conhecedor das minhas fraquezas, aqui estou ajoelhado, contrito, confiante de que serei amparado pela Tua bondade. ”
Falando assim, pôs-se de bruços no chão.
Os cânticos e as luzes faziam a saudação ao nosso Lucas, que viveu na terra com a alma no céu, bom, amigo e justo, o grande irmão de todos, que deixou saudades na terra e trouxe para o mundo espiritual as lembranças dos que ficaram e sei que jamais deixará de orar por todos.
Lucas, deitado ali no chão com os braços abertos, era coberto com a imagem de Jesus crucificado.
Olhando-o, tive a impressão de que a imagem da cruz descia sobre ele e logo Deleuze me esclareceu:
— Não, Sérgio, neste templo não há imagens, é o seu coração que almeja que o irmão mais velho abrace o querido amigo.
Você deseja ajudá-lo, mas só Jesus pode fazê-lo.
Ele está guardado no cofre do reino e o Arquitecto do Universo irá pouco a pouco lhe oferecendo as sete chaves.
Quando isso acontecer, ele, resplandecente, irá dizer:
“Agnus Dei... rogai por nós para que sejamos dignos das vossas promessas”.
O inconsciente, que é o conjunto dos conscientes, irá clarear os factos do ontem e do hoje, dando-lhe a real vida além vida e com carinho nós o receberemos para prestarmos ajuda ao próximo.
Lucas não vai ficar parado.
— Isso eu sei, falei, aparando a lágrima de alegria por ter grandes amigos e um deles hoje eu recebo com amor e gratidão: o meu tio, amigo, irmão e mestre — Lucas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2020 7:23 pm

Capítulo XXIII - A MARGARIDA DO MEU JARDIM
“Ah! meu irmão, sinto-me bem, ser-lhe-ei mais útil no céu do que na terra e é com contentamento que lhe venho anunciar a minha próxima entrada nessa cidade bem-aventurada”.
Estas belas palavras ditas por Teresa de Lisieux encaixam perfeitamente nos pensamentos da vovó Margarida.
Ela cumpriu sua tarefa encarnatória tão bem que deixou o corpo físico somente porque as células se desgastaram.
Nada mais foi acrescentado à sua ficha.
Ela soube viver bem vividos seus noventa e quatro anos passados na terra; quanta dignidade em um ser!
A princípio, guardei só para mim estas linhas; para que passar adiante?
Muitos poderiam dizer:
“Isso ele diz porque se trata da avó dele”.
Mas depois resolvi passar para os meus irmãos um pouco dos muitos exemplos que recebi de dona Margarida.
O Sol já declinava, o céu parecia agasalhá-lo em seus braços.
Tudo era um imenso silêncio, só nós dois ali no quarto, eu e vovó.
Ela cochilava e de vez em quando tentava abrir os olhos.
Vendo-me, fechou-os rapidamente; não queria acordar, era o sonho com o neto desencarnado.
Sorri com carinho, ou melhor, com um amor imenso.
Senti o quanto a amava e lhe beijei as mãos.
Ela sorriu e disse baixinho:
— É você, Luiz Sérgio?
Nem vou contar para a Zilda o sonho que tive.
Ela está preocupada com o Júlio e comigo.
— Vovó — sussurrei no seu ouvido.
Uma lágrima correu dos seus olhos, era a amarga lágrima da saudade.
Retirei-me quando a equipe do doutor Albuquerque se aproximou.
— O que está acontecendo, Sérgio, por que a tristeza?
— Desculpe, irmão, é que me encontro entre a cruz e a espada: não vejo a hora de ter vovó ao meu lado e ao mesmo tempo sinto por aqueles que ainda permanecerão na terra, pela saudade que ela deixará.
— Sérgio, feliz a criatura que ao chegar a essa idade deixa uma lacuna entre seus amigos.
Quantos, mais novos, só deixam cansaço e alívio!...
— Meu Deus, não concebo, doutor Albuquerque, que alguém não ame um ser tão seu, só porque já é velhinho ou se encontre doente.
— Mas você bem conhece, Sérgio, as estórias tristes contadas pelas pessoas que trabalham com idosos.
— É verdade, ainda vou escrever um livro sobre eles, esperando poder ajudá-los.
Confesso que me encontrava envergonhado diante da equipe do desencarne.
Desde que soube que a vovó ia deixar o corpo físico, coloquei-me junto aos meus familiares para ajudá-los e sempre tive ao meu lado médicos e enfermeiros abnegados que muito fortaleceram minha mãe e a vovó.
Olhei os meus amigos e pedi desculpas; mas eles estavam acima, muito acima do agradecimento, porquanto notei que nem sabiam por que eu estava pedindo desculpas.
Nisso, doutor Albuquerque alertou-me:
— Sérgio, está chegando o momento e tudo está sendo preparado; será prudente o irmão sair um pouco e logo mais o chamaremos para recebê-la.
Baixei a cabeça e ganhei a rua.
Fitava as pessoas, principalmente os jovens, e falei com Jesus:
“Senhor, dai-lhes a certeza de que a vida é eterna; segurai, Senhor, as mãos dessas crianças, para que elas se fortaleçam cada vez mais e vençam a tormenta que as ameaça a cada dia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2020 7:23 pm

Não deixeis que a tentação cerre seus olhos antes do tempo; a perturbação de um espírito é profunda ferida na alma, difícil de ser aliviada.
Ajudai as autoridades, os meios religiosos e as famílias para que todos, unidos, possam orar numa só sintonia a prece do amor ao próximo.”
Andei pelo Rio de Janeiro e nem posso contar o que vi, assim anteciparei o meu próximo livro.
Ao retornar à casa, tudo me pareceu normal.
A equipe estava orando e outros dois médicos, Márcio Bittencourt e Chang1, também assistiam vovó.
Ela procurou a Zildinha e com alegria pensou: “que bom que vou parar de dar trabalho.
Minha filhinha precisa descansar, está tão abatida!”
Papai sempre fazia brincadeiras com vovó, dizendo coisas que às vezes ela acreditava, deixando-a um pouco preocupada, mas depois achava graça.
Contudo, esse dia era especial e a flor sentiu uma brisa mais forte balançar-lhe o corpo; o ar ficou diminuto e o espasmo se fez presente.
Seu olhar buscou os filhos queridos.
Eu, Luiz Sérgio, o neto desencarnado, segurei suas mãos não só com amor mas muito mais gratidão e respeito, pelo momento da sua mutação.
O desespero dos filhos tentando lhe reter a alma durou poucos segundos, mas o espírito da vovó, num impulso divino, deixou a carcaça física e foi desligando-se suavemente da matéria.
Mais parecia mansa onda beijando as areias da praia.
Cerrei os olhos em prece.
O momento era solene, ali caía o vestuário de carne, banhado por uma luz, e sua alma apareceu despida, descortinando-se diante da vovó todos os seus actos e seus desejos.
As recordações de uma vida inteira desenrolaram-se diante de seus olhos.
Na sua mansidão e humildade, rememorou todas as dificuldades passadas.
É nesse momento que o espírito sente a tortura do remorso por tudo o que deixou de fazer, o que não ocorreu com a vovó.
Ela venceu na vida, pois só plantou amor e humildade.
O quadro era belíssimo, uma música suave era ouvida por nós.
No momento, quis consolar meus pais e meus tios, porém logo me reequilibrei, estava ali em serviço.
Aí pude notar que os meus avôs Artur e Jucundino2 ali se encontravam dando as boas-vindas à vovó.
Ela, ainda perturbada, queria consolar os filhos, no entanto, ao perceber o marido e outros familiares desencarnados, foi logo perguntando:
— E o Luiz Sérgio, onde está?
Corri para abraçá-la e como a beijei com carinho!
Vovô Artur segurou suas mãos.
Tudo isso durou poucos segundos.
Fomos convidados a deixá-la por alguns momentos com a equipe, que a transportou para uma cabine bem distante do corpo físico, onde adormeceu por breves minutos.
Ao despertar, já se encontrava no quarto da casa transitória.
Mesmo assim os seus fios magnéticos ainda estavam sendo desligados e às vezes ela captava a saudade dos familiares no plano físico.
O vovô Jucundino me falou:
— Luiz, como você se sente, filho, tendo de receber sua avó e de narrar os factos?
— Sinto-me o mais abençoado dos espíritos por ter a felicidade de pertencer a uma equipe que trabalha para Jesus.
Apesar de ter pouco tempo na espiritualidade, pesa sobre os meus ombros a responsabilidade de enviar mensagens de fé e esperança.
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