LUZ ESPÍRITA
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Lírios Colhidos - Luiz Sérgio/Irene Pacheco Machado

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 21, 2020 7:07 pm

A filha foi logo avisada.
Os netos, chorando muito, elogiavam a avó, pois ela os havia criado.
Vendo esta cena, comentei:
— Criou e os criou muito mal.
O neto que não respeita os pais de seus pais é um doente da alma.
Senti muita piedade, isso mesmo, piedade de Erica e família.
Eles agora representavam uma comédia, lamentando a morte de Marialva.
Tentavam dar satisfação à sociedade do abandono que infligiram a uma pessoa que tanto os havia ser vido.
Érica soluçava e nós fomos saindo devagar.
Quando passei pelo hospital em que se encontrava Marialva, pasmo fiquei, pois ela chorava, preocupada com a filha e os netos, acreditando que eles a pranteavam, com saudade.
Escutei-a dizer:
— Meu Deus, consola minha filha e meus netos, eles estão sofrendo tanto!
Olhei para Patrice e ela me falou:
— É, meu amigo Luiz, o amor cega.
— Será que Érica nunca vai sentir que falhou com a mãe, fingindo-se uma óptima filha?
— Não sei, não, Luiz, mas nada como o tempo.
Hoje, abandonou a mãe em um hospital, amanhã esse exemplo que ela deu pode ser imitado pelos seus filhos, que farão o mesmo.
Faça o que eu faço de bom e desfaça o que eu faço de errado.
Ainda virei-me para trás, sacudindo a cabeça e perguntando para mim mesmo:
por que o homem tenta enganar a si próprio?
Naquela casa, Érica, chorando e se lamentando junto aos filhos, ensinava-os a se tornarem hipócritas, pois ela jamais se importara com a mãe, velha e doente.
Exemplo é como uma chuva que, ao seu contacto, nos molha de amor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 21, 2020 7:07 pm

Capítulo IX - O RESPEITO À CRIANÇA
Mais um lírio fora colhido e muito aprendemos com a sua transmutação.
— Luiz, o que você acha de conviver junto aos encarnados? - indagou-me Patrice.
O seu trabalho é tão activo junto a eles que às vezes me pergunto se isso não o cansa.
— Graças a Deus estou sempre fazendo algo pelo meu próximo e se não fosse o amor de todos, não sei onde estaria agora.
Gostaria que todos fossem felizes.
Oro pela paz de cada irmão, sofro e vibro com todos os meus amigos.
Aceitando convite de Aécio, dirigimo-nos até uma casa de onde partiam pedidos de socorro.
Seguimos para lá e, ao transpormos a entrada da sala, divisamos um casal que brigava, agredindo-se não só com palavras como também fisicamente.
Fitei meus companheiros, indagando:
— O que vamos fazer aqui?
Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, já dizia a minha adorada avó.
Antes que viesse uma resposta, Patrice correu para socorrer um garoto de um ano e meio que a tudo assistia, apavorado.
Naquela casa, que não podemos chamar de lar, uma pobre criança pouco entendia o que se passava, vendo o jovem casal agredir-se mutuamente.
Prestamos ajuda a Pablo e ele brincou connosco, esquecendo o triste acontecimento.
Depois que o casal terminou a briga, o pai foi para perto da criança e falou asperamente:
— Sua praga, por sua causa estou amarrado.
Se não tivesse você eu me mandava.
Mas essa criatura me fez de otário e me arranjou você.
A mãe socorreu a criança, mas não deixou de dizer:
— Ele não tem culpa, não pense você que o queria também.
Ele veio contra a minha vontade.
O Departamento da Reencarnação é sábio, por isso presta excelente ajuda.
Pablo, embalado por Patrice, procurou uma posição para dormir.
Estava triste, muito triste.
Além de nós, ali compareceu um encarregado do Departamento da Reencarnação.
Os pais precisam conscientizar-se de que a criança tudo percebe e sofre com as palavras pronunciadas sem pensar.
Se até o feto capta se é amado ou não, imagine uma criança de um ano!
Confesso que senti vontade de fazer aqueles dois se calarem, mas eram tão sem conhecimentos evangélicos quanto pobres de amor. Desisti.
Pablo dormiu e nós pudemos conversar com seu espírito.
Ele se sentia muito infeliz, desejando até desencarnar.
Deleuze, que chegara depois, falou com ele sobre a oportunidade que é viver no corpo físico.
Pablo sofria e quando despertasse sentir-se-ia doente, com febre e muito abatido.
Então a mãe ficaria preocupada julgando que fosse gripe.
A criança pequena precisa de um ambiente limpo, arejado e, principalmente, equilibrado.
Ela percebe se é ou não amada, ou se seus pais são infelizes.
Não julgue seu bebé um objecto.
Ele é alguém que está de volta à carne, presente em espírito e verdade a tudo o que o rodeia.
O bebé possui um espírito antigo e Deus fez com que ele retornasse à terra como criança, necessitando de cuidados que só o amor maternal lhe pode dispensar.
Mas no corpo frágil do bebé se encontra um espírito com todas as faculdades conservadas em estado latente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 21, 2020 7:07 pm

O bebé está resguardado das lembranças, para isso Deus lhe dá um lar.
Por que certos pais não tratam os seus bebés com respeito?
Brigar perto de uma criança é desrespeitar sua inocência.
O espírito que está de volta precisa de alguém que o elucide com exemplos nobres, para que o seu espírito desperte para a vida eterna sem as tendências do passado, às vezes até tendências bem perversas.
Brigando diante de um bebé, falando palavrão, estamos fracassando, não cumprindo com a tarefa de educadores e, sim, fazendo aflorar em nossos filhos o joio, resquício do passado.
Ninguém deve tratar com aspereza uma criança, ela é um botão que deve desabrochar sem violência.
Hoje os casais estão tratando os seus bebés como se fossem bonecos.
As crianças estão sendo violentadas, porque os pais estão fazendo com que elas cresçam ligeiro demais.
Desde cedo são educadas não para se tornarem adultos responsáveis, mas para serem bonitas, ricas e poderosas.
E nem todos podem ser prósperos, daí vir o sofrimento.
Se cada casal educasse seus filhos como filhos de Deus na Terra, teríamos menos lágrimas.
Infelizmente, as crianças hoje são filhas da televisão e esta, impiedosa e fria, ensina-as sem amor.
— Luiz Sérgio, vamos agora a um lugar onde um garoto de doze anos necessita de nossa ajuda, disse Aécio.
Sorri, pensando: quando menos se espera estou eu com os pequenos.
Chegamos à casa de Tácito.
Deitado em sua cama, ele pensava, tristonho.
Tentei falar-lhe e pude perceber que o nosso amiguinho possuía ideia fixa em sexo, só pensava nisso.
Olhei-o, condoído.
Um garoto com essa idade é para estar vivendo ainda num mundo de sonhos.
Ele não tem condição de conviver com algo tão complicado como o sexo.
E o nosso amigo sonhava com uma bela mulher, recortando figuras de uma das revistas pornográficas da casa.
Observando-o, íamos ficando assombrados com tanto conhecimento sobre sexo.
Procuramos a “arma do crime”, encontrando revistas, fitas de videocassete, livros, tudo com que o garoto se distraía para passar o tempo.
Perguntei aos meus amigos:
— Como podemos ajudar?
— Apenas orando.
Aqui dificilmente a mãe, o pai e os irmãos poderão dar uma educação disciplinada.
Esse garoto precisa urgentemente praticar algum desporto, ir ao cinema, teatro, festas familiares.
Ele não pode viver sozinho, entregue às suas fantasias sexuais.
Sem demora, ligou o videocassete e nós nos retiramos.
Não existe cabeça, principalmente a de uma criança, que não se perturbe diante de tanta sujeira.
Os pais estavam em viagem e acreditavam que nada podia acontecer ao filho.
Eles dizem: nada, tudo é criancice.
Não é assim.
Os pais precisam lutar para que seus filhos sejam felizes; no entanto, criança alguma é feliz enfrentando cedo as realidades duras da vida.
Bateram à porta.
O garoto desligou a TV e foi abri-la.
O irmão mais velho entrou e, rindo, lhe disse:
— Aí, hem!
Curtindo, não é, seu malandro? — achando bonita tanta precocidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 21, 2020 7:07 pm

Não sabia ele que o irmão estava morrendo; logo deixaria de sonhar e, ao contacto com uma realidade dura, sofreria muito.
O sexo é puro, desde que o respeitemos e uma criança não possui discernimento para separar corpo e alma.
Para iniciarmos qualquer jornada, precisamos conhecer o caminho, ninguém chega ileso sem uma bagagem de bom senso.
Fomo-nos retirando.
O que poderíamos fazer?
Nada. Ah só a matéria tinha valor.
Um dia talvez eles busquem algo além da vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 21, 2020 7:07 pm

Capítulo X - BRINCADEIRA FATAL JOVENS E VELHOS ENTRELAÇADOS
Rumamos para um local onde as preces nos chamavam.
Era um confortável lar de pessoas de posses.
No seu interior, as cadeiras derrubadas anunciavam que houvera uma briga e gritos ainda eram ouvidos.
Avistamos, então, um rapaz de vinte e dois anos quebrando tudo e batendo na mãe, no pai e nos irmãos.
Fui para perto dele, que me julgou um personagem de seus inúmeros delírios, mas a minha fisionomia era de tanta crítica que ele parou de enforcar o pai.
A mãe orava, chamando-me, assim como a todos os Raiozinhos de Sol.
Confesso que tive vontade de aplicar umas boas palmadas naquele jovem sem amor, porém logo me envergonhei; quem sou eu para criticar alguém?
Deleuze, aproximando-se, imobilizou-o e ele, meio sonolento, foi levado para um hospital, mas ali ficara uma família a sofrer.
O jovem não estudava, não trabalhava e ainda agredia toda a família.
As autoridades precisam levantar uma campanha contra as drogas, pois existem muitos lares onde este mal está destruindo a paz.
Ninguém pode imaginar a importância desse trabalho.
Tentei consolar o pai, a figura da derrota.
Sonhara ter um filho homem e, quando Rodolfo chegou, ele o cobriu de carinho.
Com o passar dos anos, o excesso fez Rodolfo um ser egoísta e vaidoso, sem a mínima educação, porque sempre lhe fizeram todos os gostos.
Apesar de bater nas irmãs e gritar com a mãe, Rodolfo era o preferido da casa.
Para ele eram os melhores pratos, as melhores roupas, carro, enfim, o Rodolfinho era o “menino” dos seus pais.
E agora ele não tinha futuro e não tinha mesmo, principalmente no plano físico.
Logo depois de sua internação no hospital, Rodolfinho suicidou-se.
Queria apenas dar um susto nos seus, por terem tido a coragem de interná-lo, porém o seu enfraquecimento era tanto, devido às drogas, que o momento foi fatal.
Corremos para o local e com pesar vimos que Rodolfinho não era um lírio colhido, mas um lírio destruído.
No banheiro jazia o corpo do jovem, tendo ao lado o seu espírito em desespero.
Pensei logo nos seus pais.
Quanta dor para uma família!
Diante daquele corpo imóvel e de seu espírito alucinado, pouco pudemos fazer.
Jamais esquecerei os olhos suplicantes de Rodolfo a me pedir ajuda.
Ele, que antes havia-me enxergado durante o delírio da droga, agora me suplicava que o tirasse daquela situação tão aflitiva.
Gostaria de lhe dizer da minha incapacidade, mas ele teria de muito aprender para saber que em certas ocasiões só nós mesmos podemos nos ajudar.
— Não me conformo com a dor do suicida.
O que Deus pode fazer para aliviá-la? — considerou Patrice.
— Nada. Não é Deus quem castiga, nós é que nos aleijamos.
Deus nos oferta a vida — espírito — e nós adquirimos os corpos, os quais, se bem cuidados, embelezados serão e darão ao espírito a paz que almeja.
O suicida, ao destruir o corpo, desequilibra ainda mais o espírito.
No ato do suicídio o impacto da “morte” é tão violento que rompe o cordão de prata e este, seriamente machucado, transmite ao espírito os sofrimentos do corpo denso.
Só o próprio suicida tem poder sobre a sua dor e só ele pode amenizá-la.
Deus não interfere em nossas decisões e quem se suicida já não deseja permanecer na matéria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 22, 2020 8:05 pm

Portanto, ele rasgou uma veste emprestada — o seu corpo físico — e terá de pagar por isso.
Deus não mata nem castiga, o homem é que tenta matar a bondade de Deus.
O corre-corre no hospital continuava e nós caminhávamos devagar, olhando ao nosso redor, quando resolvemos visitar um amigo.
Ao entrarmos no quarto deparamos com ele, imóvel, olhar perdido no tempo, o corpo físico gasto, mas muito bem cuidado pelos médicos e enfermeiros.
Sorriu para nós, julgando-nos visita.
Tentou falar, porém sua voz, já bem fraca, não foi capaz de ser ouvida pela enfermeira.
Se assim ocorresse ela poderia até se assustar.
Ele quis dizer:
— Quem são vocês?
Não os conheço.
Você — dirigindo o olhar para mim — não me parece estranho.
Oramos junto ao nosso amigo e pudemos presenciar o desatar lento do laço fluídico, os fluidos vitais se dispersando.
Perguntei a um dos encarregados do desencarne:
— Por que esse irmão, há tanto tempo hospitalizado, ainda não desencarnou?
— Por sorte dele, apesar de sofrer bastante, está queimando o combustível, protegido graças às preces da sua esposa e dos amigos.
Do contrário, já teria desencarnado e sofrido com os sugadores.
— Sugadores?
— Sim. Existem espíritos sem evolução que aproveitam os fluidos vitais dos suicidas inconscientes para viverem na terra praticando sexo ou fazendo trabalho de feitiçaria.
— E o sofrimento dele era para acontecer?
— Não. Se esse irmão, mesmo doente, tivesse se dedicado ao trabalho junto aos infelizes, não chegaria a esta situação.
Teria gasto todo o seu fluido vital de maneira caridosa.
— E vocês, do Departamento do desligamento dos corpos, deixam os vampiros sugarem os doentes quando estes não estão em um ambiente equilibrado?
— Nós não temos permissão para montar guarda a um doente suicida inconsciente.
Só nos aproximamos dele para imantar o cordão de prata, para que este se desamarre sem ser violentado.
E depois, fluidos vitais foram ofertados para a vida no plano físico.
Quem a todo momento se queixa de doença, tomando remédios sem necessitar deles, é um candidato certo ao suicídio inconsciente.
— Existem muitas pessoas nessa situação?
— Mais do que você imagina.
Mas a culpa é da própria sociedade, que discrimina os velhos.
O homem é devorador do próprio homem.
Quem menospreza a velhice é ignorante, porque todos estão ficando velhos, até o bebé.
Se é um facto natural, por que o preconceito?
É por causa dele que existe um acomodamento quanto à velhice.
Portanto, vamos dar oportunidade de trabalho aos velhos, tratá-los com dignidade e não como se fossem inválidos.
Ajudemos quem já muito nos ajudou.
No Brasil, por existirem muitas crianças e jovens, um homem com cinquenta anos é tido como velho e já sofre no trânsito, no trabalho e no círculo familiar.
Todavia, um homem com cinquenta anos não é velho!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 22, 2020 8:05 pm

Precisamos conscientizar o jovem de que a velhice não existe.
Existe, sim, a responsabilidade.
Jovens e velhos terão de bem cumprir as tarefas reencarnatórias.
Se o velho já está aposentado, é digno buscar fazer alguma coisa sem ficar preso à televisão, pois ele precisa levar uma vida normal.
Se ele se julgar necessitado de descanso e só ficar dormindo ou vendo televisão, logo estará decrépito.
Conhecemos senhores com mais de cem anos trabalhando e raciocinando muito bem, porque o homem na activa não adormece a sua mente.
A velhice não toma conta só do homem.
Se olharmos um objecto sem uso ele também apresentará desgaste e poeira.
Vamos amar os velhos, dando-lhes carinho e os incentivando ao trabalho, porque amanhã seremos nós que estaremos desfrutando do que hoje iniciamos.
O homem pode muito bem gastar os seus fluidos vitais longe de uma cama de hospital.
E isso só ocorrerá se a sociedade não aposentar o homem antes do tempo.
Há países em que o velho possui o direito de bem viver a sua idade, dirigindo, passeando, viajando.
Vamos ensinar nossos filhos a respeitar os velhos, dar-lhes a felicidade de conviver com os mais novos e, junto deles, envelhecerem com dignidade.
Meu amigo, Francisca Theresa incentiva as pessoas sempre com mais idade a trabalharem junto aos jovens e sempre diz:
antiguidade não é qualidade e ser jovem não é ser irresponsável.
Todos, jovens e velhos, possuem responsabilidade com Deus e com a sociedade e, juntos, podem trocar experiências.
Trabalhando unidos, velhos e jovens, teremos um recanto de amor.
Os velhos precisam olhar os jovens como pessoas capazes e os jovens, no convívio com os mais idosos, devem ter em mente que a mocidade é eterna quando envelhecemos com Jesus.
Ficaria ah mais tempo, mas o trabalho é imenso e prometi a Jesus trazer à terra o que venho recebendo no mundo espiritual.
Ah, diante de alguém que estava preparando-se para partir, eu muito aprendi, principalmente quando uma grande mulher, companheira e amiga do seu velho esposo, abriu o Evangelho Segundo o Espiritismo e leu com voz alta para o moribundo escutar a Colectânea de Preces Espíritas, Capítulo XXVIII, item 12:
“Espíritos esclarecidos e benevolentes, mensageiros de Deus, que tendes por missão assistir os homens e conduzi-los pelo bom caminho, sustentai-me nas provas desta vida; dai-me a força de suportá-las sem queixumes, livrai-me dos maus pensamentos e fazei que eu não dê entrada a nenhum mau espírito que queira induzir-me ao mal.
Esclarecei a minha consciência com relação aos meus defeitos e tirai-me dos olhos o véu do orvalho, capaz de impedir que eu os perceba e os confesse a mim mesmo...”
Bem perto da irmã, abrimos o Antigo Testamento e oramos.
Jeremias, Capítulo I, versículos 6 e 7:
“Então disse eu: Ah, senhor!
Eis que não sei falar, porque sou uma criança.
Mas o Senhor me disse:
Não digas:
Eu sou uma criança.
Porque aonde quer que eu te enviar, irás, e tudo quanto te mandar, dirás”.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 22, 2020 8:05 pm

Capítulo XI - A JUSTIÇA DA REENCARNAÇÃO - AS TRÊS REVELAÇÕES DIVINAS
O trabalho que ora realizamos não é mais do que um aprendizado de vida.
Visitando os encarnados, defrontamo-nos com a dor a todo momento e constatamos que cada um convive com o seu próprio sofrimento.
Existe dor e existem dores, mas todos os que sofrem merecem de nós um olhar de amor.
Voltamos ao Departamento de socorro e lá recebemos fluidos reequilibrantes, pois a demorada permanência no plano físico não é benéfica para o desencarnado.
No Departamento reencontramos vários amigos e, ao avistar Irmã Celeste, pedi-lhe que me narrasse algo sobre as cores e ela prontamente me atendeu, explicando:
— Como no Universo toda vibração é colorida e sonora, os corpos materiais mantêm essas qualidades na vibração, no som e na cor.
Como a cor possui vibração própria ela mo transmite conforme a emoção.
— E as auras?
— A aura que circula o corpo físico reflecte o carácter da pessoa, seu grau de espiritualidade, porém, é aconselhável tornarmos muito cuidado por ser ainda um assunto muito complexo.
Existem várias auras e somente um bom vidente pode estudá-las.
Contudo isso só deve ocorrer se o paciente estiver precisando de cuidados médicos.
Olhar a aura de alguém apenas por divertimento é desaconselhável.
A aura muda de cor e a nossa própria curiosidade poderá influenciá-la e alterá-la.
Queria perguntar mais, entretanto Irmã Celeste despediu-se e nós voltamos ao plano físico.
Mais um lírio seria colhido.
Dirigimo-nos a um leprosário, onde Turíbio lutava para consolar os seus colegas através da Doutrina Espírita.
Compreendemos a dor do homem presenciando o apodrecimento do seu próprio corpo.
Turíbio escrevia com dificuldade, mas mesmo assim copiava belas mensagens.
Algo me emocionou: ele copiava mensagens do meu livro Consciência.
Aquele homem que lutava para viver não compreendia como um jovem sadio se suicida a cada minuto, drogando-se.
Ele, já deficiente, sem uma das mãos e em vista de perder a outra, amava a Deus e acreditava na vida eterna.
Acerquei-me, pois percebeu minha presença.
Falou, sem mesmo me enxergar:
— É você, Luiz Sérgio?
Eu gosto muito de seus livros.
Não pare, não, companheiro, mostre a essa meninada que o que eles estão fazendo irá pesar-lhes demais.
Não se joga uma encarnação fora e eles estão nesse caminho.
Turíbio orou por nós, os Raiozinhos de Sol, porque a droga se alastra e os traficantes se multiplicam.
Seus olhos marejaram-se de lágrimas e o abracei com carinho.
Saindo dali, juntei-me aos meus amigos e fomos até a enfermaria de onde Solano seria conduzido para a espiritualidade.
Na hora em que os encarregados desataram o laço da vida física, Solano caiu como num vácuo, decorrendo poucos segundos essa sensação.
Quando abriu os olhos viu Jésus Gonçalves, que socorre todos os leprosos.
Esfregou a vista e quando percebeu que a “morte” havia chegado, chorou segurando a mão iluminada de Jésus Gonçalves.
Solano contava apenas vinte e cinco anos.
O seu desencarne foi bem tranquilo.
Fitei aquele corpo — se posso chamá-lo de corpo — todo mutilado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 22, 2020 8:06 pm

Procurei o perispírito e este ainda conservava alguns vestígios da lepra.
Não compreendi, pois tempos atrás havia presenciado o desencarne de um leproso e constatado que as partes do corpo físico que a lepra atingira emitiam uma luz que brilhava no perispírito e em Solano a lepra ainda se encontrava no perispírito.
Não sabia se perguntava ou se me calava.
Lavínia correu em meu socorro.
— Solano sempre lamentou a doença e jamais quis acreditar na vida do espírito, portanto ele em nada crê, é um revoltado.
— Vai continuar leproso?
— Não, mas até o dia em que ele se julgar leproso o seu perispírito continuará marcado.
— Coitado! falei.
— Não, Luiz, coitado, não.
Mesmo assim ele só recebeu a lepra. Foi pouco para um espírito que queimava sem piedade os corpos das pessoas que julgava serem inimigas, ao tempo da Inquisição.
— Queimava?
— Sim, Solano gostava de untar os corpos com azeite para depois queimá-los.
— Solano está colhendo o que plantou — falou Patrice e o nosso querido Turíbio?
Outro irmão que ali prestava auxílio esclareceu-nos
— No ano de 1232 o “Santo” Ofício criou um tribunal especial para investigar a vida dos suspeitos e obrigar os hereges a crer na Igreja.
O Papa Gregório IX era terrível.
Em nome de Jesus ele mandava os frades actuarem como juízes e os inquisidores torturavam os suspeitos.
Os hereges, na maioria judeus que se recusavam a mudar de convicção, eram jogados na fogueira.
Todavia, foi na Espanha que Torquemada tornou-se mais brutal.
Ele foi o Inquisidor-Geral durante quinze anos e nesse período milhares de pessoas foram executadas.
Seus seguidores tentaram condenar Teresa D’ Ávila como suspeita de heresia mais de uma vez, sem o conseguirem.
— Quer dizer que Turíbio foi Torquemada?
Mas hoje ele é tão bom...
— Sim, esta é uma das últimas encarnações de Torquemada.
Ele já sofreu demais.
Por isso Turíbio é tão inteligente.
— Meu Deus, como a vida é importante!
Ainda ficamos conversando e, quando ia-me retirar, pedi permissão para rever Turíbio e ao avistá-lo senti um grande afecto por aquele espírito que vinha cumprindo bem suas tarefas reencarnatórias.
Ele fez sofrer, mas como vinha sofrendo!
Por trás de uma velha escrivaninha, não deixara de possuir o porte altivo; usava um pequeno chapéu bem afundado na cabeça, a fisionomia fechada, mas serena.
Fomos ler os escritos de Turíbio e notamos nas suas mensagens palavras muito usadas na Inquisição: conselho-geral, judaizantes, marrano, Merisinho, queimadeiro, sambenito, abjuração.
O líder dos hansenianos era um antigo inquisidor.
Quando Turíbio levantou-se, percebemos que já possuía o corpo deformado, com uma das pernas cortada até o joelho.
Levava nas mãos muito papel.
Pregava a doutrina das vidas sucessivas e ninguém melhor do que ele, o terrível de ontem, para exemplificar o sofredor de hoje.
Naquele leprosário estavam confinados muitos dos antigos inquisidores, aqueles que queimavam e torturavam os que defendiam convicções religiosas diferentes das suas.


Última edição por Ave sem Ninho em Sáb Ago 22, 2020 8:08 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 22, 2020 8:06 pm

Queira Deus que nenhum dos espíritas de hoje seja coberto pelo orgulho e levado ao fanatismo, que nunca levante a voz para ferir alguém por não professar os mesmos princípios que ele.
O homem não pode julgar a fé do seu próximo; a cada um é dado o direito de escolher a sua crença.
A religião que teme outra não possui fundamentos cristãos.
Não basta ao espírita verdadeiro encarar a razão face a face.
Ele deve fazer do seu dia-a-dia a razão do viver com o Mestre e para Ele, de modo que os outros sigam o Cristo por sua causa.
A Inquisição jamais deve voltar, mesmo sendo muitos de nós os inquisidores do ontem.
Se a ideia surgir em nossa mente, recordemos que a natureza não dá saltos e as tendências do passado podem desejar aflorar.
O espírita deve procurar a dignidade nos pequenos gestos de amor ao próximo.
Poucos homens, muito poucos, tidos como fortes em religião, não cometeram injustiças.
A Doutrina dos Espíritos é simples, mas verdadeira, sem doutores da lei, sem mestres, sem inquisidores, por isso permanecerá apesar de alguns homens desejarem deturpá-la.
A Doutrina Espírita é raio de luz que varre qualquer treva, principalmente a do orgulho, a da injustiça e a do fanatismo.
A Doutrina é Deus novamente ditando para a humanidade as leis do amor como amar ao próximo como a si mesmo.
Quem ama não atira a primeira pedra, portanto, o espírita tem obrigação de cultivar o amor ao próximo.
Se ontem as outras religiões perderam-se entre os muros dos templos, a Terceira Revelação de Deus soprará em todos os lugares.
A Doutrina Espírita não tem descobridor nem dono, ela é a voz de Deus pelos lábios dos Espíritos do Senhor.
Se buscarmos a Primeira Epístola de João, versículo 7, leremos:
Porque três são os que testificaram no céu:
o Pai, a Palavra e o Espírito Santo e estes três são um.
E os católicos baptizaram de Santíssima Trindade.
Todavia, o tempo nos trouxe a verdade saída da letra.
Deus é o Pai, a Palavra é Jesus, que tão bem exemplificou as leis de Deus; o Espírito Santo é a Doutrina Espírita que elucida os encarnados sobre a ressurreição dos mortos.
Ela dá ao homem a esperança de que nada se acaba, principalmente o próprio homem
Esses os três testemunhos das verdades divinas:
Deus — causa única de tudo; Deus — Pai de todos.
Uno, Indivisível e Eterno;
O Verbo — Jesus — manifestação visível da acção de Deus sobre todas as coisas.
Ninguém viveu o Decálogo como Jesus, por ser Ele um Espírito puro;
O Espírito Santo — a Terceira Revelação — são os Espíritos do Senhor, enviados celestes que fazem a ligação do plano espiritual com o plano físico.
Graças à Terceira Revelação, que Kardec denominou Doutrina Espírita, o homem pode compreender Deus, amar a Jesus e lutar pela melhoria própria por ficar conhecendo toda a sua origem e a sua eternidade.
Segundo essa filosofia, o homem olha o túmulo como um túnel por onde terá de transitar, para ressuscitar.
Para o espírita o túmulo é o lugar para onde será devolvida a veste usada — o corpo físico.
Por conseguinte, a dogmática Santíssima Trindade trouxe ao homem as revelações divinas:
primeiro Moisés, depois Jesus Cristo e posteriormente, a Doutrina Espírita.
Estudando esta última podemos entender Moisés e Jesus e a nós próprios.
Se os nossos irmãos católicos consideram Deus como um Ser dividido, os espíritas, graças a um homem chamado Allan Kardec, que não adulterou as palavras divinas, compreendem que os dogmas são inerentes à falta de conhecimento e que o homem conserva a sua individualidade eternamente, por isso terá de lutar pela perfeição.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 22, 2020 8:06 pm

Deus está tão acima da nossa pobre imaginação que não devemos tentar analisá-Lo, mas, sim, a nós mesmos, porque só então chegaremos a comprendê-Lo como um Ser sublime.
Sendo o homem uma grande obra divina ainda não compreendida pelas grandes inteligências, não precisamos analisar Deus para obter a fé.
Devemos proceder à análise não só de nós mesmos, como de tudo o que nos oferece a razão da vida física.
A Doutrina Espírita ensina o homem a ser feliz e a amar a Deus através do caminho, da verdade e da vida — Jesus Cristo — porque foi Ele, o Mestre, quem nos apresentou Deus como Ele é: bondoso e amigo.
Foi ainda o Mestre jesus quem nos prometeu o Consolador, e hoje o Consolador tenta nos amparar.
Três são as revelações divinas.
Duas já deixamos passar e a terceira — a Doutrina Espírita — está esperando que matemos o homem velho e ressurjamos dos mortos para a vida livre dos espíritos.
O Consolador ensina o homem a voar sobre a dor, dispersando-a com a prece, buscando o céu da tranquilidade através do Evangelho.
É a doutrina que oferece ao homem a luz do esclarecimento dos muitos mistérios do ontem e tira a lápide do túmulo para mostrar que além da vida está a verdadeira vida.
Cada cidadão tem o direito de escolha, mas direito maior é a luta travada para ser bom.
A bondade se adquire através dos conhecimentos divinos.
A Doutrina Espírita, sendo a última revelação, dá ao homem a certeza da existência de Deus e do Seu perdão.
Só a reencarnação oferece a cada um de nós a resposta a tantas desigualdades que existem.
A reencarnação concede ao espírito culposo do pretérito a oportunidade de reencontrar no presente os seus desafectos e lhes pedir perdão.
Só a Doutrina Espírita esclarece, só ela responde a todas as indagações, porque veio, após o Verbo, completar o ditado divino.
— Luiz, como você está entendido de Doutrina!...
— Não, Patrice, eu apenas coloquei o que venho aprendendo com os Espíritos do Senhor.
Sou um aluno tentando passar para os meus irmãos os conhecimentos da Pátria-Mãe.
E a “Santíssima Trindade” sempre me baratinou; só depois que amei e respeitei o Deus único pude compreender Jesus e a Doutrina Espírita.
A princípio, eu buscava a verdade sem muita convicção, mas ela chegou até o meu coração através de concretos factos, todos repletos de amor.
A Doutrina bem vivida é Jesus em acção.
No entanto, o espírita que fica apenas na letra terá apagado o seu nome do livro dos trabalhadores da última hora.
A seara é imensa, mas como ainda faltam valentes e amorosos trabalhadores!
— Luiz Sérgio, ainda existem espíritos que consideram certa a Inquisição?
— Sim, existem e estão reencarnados, por isso há tantas brigas não só nas igrejas como na Doutrina.
São os falsos profetas que, vestidos de cordeiros, pregam a desunião.
Eles estão aí mesmo, é fácil reconhecê-los.
O seguidor do Mestre é manso e pacífico, corajoso e justo.
O seguidor do Mestre não só empresta a capa, mas ainda oferece a mão para caminharem juntos, trocando energias em prol da obra de Deus e também luta para que cada um cumpra com o dever de cristão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 22, 2020 8:06 pm

Capítulo XII - OS PERIGOS DO VÍCIO CRIANÇAS SOZINHAS
O homem é matéria bruta quando não busca as verdades.
Elas estão ao nosso redor, ou melhor, em nós mesmos.
Se formos capazes de analisar nosso corpo veremos que o maior cientista jamais criará um igual.
O corpo humano é máquina cujas peças funcionam em perfeita harmonia.
E a natureza?
Alguém seria capaz de viver sem ela, cercado apenas das máquinas feitas pelos homens?
Quem não crê em Deus é bastante infeliz e sempre um revoltado.
Diante daqueles corpos mutilados pela lepra, compreendi melhor o perdão da reencarnação e, graças a esta bênção divina, os pecadores voltam para pagar suas dívidas.
O homem que só crê no presente não pode possuir esperança nem motivação para ser bom.
Quando vejo criaturas, mesmo se dizendo espíritas, muito apegadas ao dinheiro, pergunto a mim mesmo:
“para quem elas irão deixar o seu tesouro?”
Ao remorso de não ter embelezado a sua passagem para a eternidade.
— Sérgio, por que o silêncio? - indagou Deleuze, vendo-me pensativo.
— Busco, amigo, a explicação para a teimosia do homem.
— E por falar nela, vamos atender a um chamado?
O dia já despontava quando nos dirigimos a uma bela casa.
No seu interior uma serviçal a todos atendia, enquanto três adolescentes se preparavam para as aulas.
Só a mãe ainda dormia.
O pai, fisionomia fechada, não percebia, ou por outra, nem procurava viver aquele momento tão passageiro na vida de uma pessoa: a vida no lar.
Observamos que Roberto, o filho mais velho, desejava falar alguma coisa com seu pai, mas este nem notou sua inquietação.
Quando saiu, acompanhamo-lo e para surpresa nossa, perto do colégio ele fumou um baseado.
Nos seus doze anos, Roberto estava iniciando-se no vício e ali chegando só procurou a companhia de garotos desequilibrados.
— Amigo, falei a Deleuze, tenho a impressão de que estou no lugar errado.
Já narrei vários fatos iguais a esse nos meus livros.
Ele me sorriu, dizendo:
— Sei disso, mas a avó deles, já desencarnada, pediu para que ajudássemos Roberto.
Ela teme o pior, pois a sua turma está de assustar,
— Quê? Assustando?
Mas eles ainda são bebés!...
— Por isso mesmo precisam de nós.
— Quem mais precisa de nós é a família materialista e egoísta.
Vivem com os filhos mas não são pais.
— Você tem razão.
Voltaremos àquela casa e vamos ver o que podemos fazer.
Esperamos o anoitecer.
Mãe e pai preparavam-se para cumprir mais um compromisso social.
A garota Tamara pediu algo à mãe, obtendo resposta áspera.
Os filhos não existiam para aquele casal.
Tentamos despertar a atenção para os seus deveres familiares, mas qual o quê, viviam a vida deles.
Só eles, eles e eles.
Sentei-me na varanda, admirando o belo jardim; era uma linda casa, onde viviam almas distantes do sentimento familiar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 22, 2020 8:06 pm

Vimos o casal retirar-se para mais uma das festas.
Cada um dos filhos vivia à sua própria maneira, apesar do mais velho ter somente doze anos.
Tamara deitou-se para dormir.
Rodrigo procurou um colega pelo telefone, mas Roberto ganhou a rua para fumar junto a outros garotos.
Pensei que deixaríamos aquela família, mas Deleuze convidou-nos a acompanhar o casal à festa:
— A uma festa social? inquiri.
— Sim, a uma festa social.
Calei-me, mas confesso, nada compreendendo.
Chegamos. No local muitos carros à porta.
A festa corria animadamente e nós apenas olhávamos os convidados, quando Deleuze nos comunicou:
— Vamos tentar impedir que Pedro Paulo beba muito.
Respondi:
— Pare aí, babá de criança tá bem, mas de marmanjo?!...
Eles riram, conhecendo o meu lado brincalhão,
Tentamos intuir Pedro Paulo e sua mulher Helena a não beberem tanto, porém estavam tão acostumados a isso, que nem nos escutaram.
Fizemos de tudo, até sentirem mal-estar estomacal. Mas nada!
Eram alcoólatras granfinos.
Ali reconhecíamos o que é uma pessoa sem fé.
Ela vive o momento e a futilidade é sua bandeira.
O acontecimento social, quando é um encontro de fofocas, traições e transacções comerciais, não é um divertimento saudável à alma.
Percebemos que vários outros espíritos também ali estavam, enquanto a festa corria na sua sumptuosidade.
O casal que havíamos acompanhado até ah ria estridentemente.
Pedro contava casos que ninguém aguentava mais ouvir, de tão velhos.
Nisso, resolveram retirar-se.
Deleuze, muito preocupado, tudo fez para que Pedro Paulo desistisse de dirigir, entretanto Helena estava ainda mais bêbada que o marido.
O carro custou a pegar e agora compreendia por que estávamos ali.
Tentávamos impedir um suicídio.
Sim, pois não havia chegado a hora de Pedro e Helena partirem.
Todavia, naquela madrugada, completamente embriagados, o casal não só deixou a festa como também seus corpos físicos.
Carro destruído, corpos mutilados.
Os dois, alcoolizados, não viram o poste e também não perceberam a morte das suas oportunidades.
Deixaram a vida física não tendo sequer cumprido o dever de pais.
O casal estava sendo socorrido e senti um aperto no coração, porque esses lírios voltaram para a Pátria-Mãe de maneira bastante violenta.
Foram retirados dali, mas por muito tempo ainda permaneceriam completamente perturbados.
Pedi para ir até a casa de Helena e Pedro Paulo.
Lá chegamos junto com a notícia.
Os filhos, assustados, choravam muito.
De um dia para outro suas vidas iam mudar muito.
Roberto indagava:
— Como pode papai e mamãe morrerem e deixarem tudo?
A vida é muito má!
Para que serve o nosso dinheiro se não podemos subornar a morte?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 22, 2020 8:07 pm

Diante de tão cruel realidade, Roberto percebeu que a vida não era para ser vivida negligentemente, precisamos vivê-la bem e tudo fazer pelo futuro espiritual que nos aguarda no amanhã; que a desobediência às leis traz sérias consequências; que seus pais tinham tudo para viverem bem, contudo a falta de religiosidade os levou à “morte”.
Quem dirige não pode exceder-se no álcool nem na velocidade.
Roberto, diante do sofrimento, descobriu que a vida é muito mais do que viver ou “aproveitá-la”.
Demos assistência àquela família e quando encontramos Jerónima, a mãe de Helena, Deleuze lhe disse:
— Irmã, nada pudemos fazer para evitar o acidente.
Eles não nos escutaram.
Ela sorriu tristemente, agradecendo o socorro à sua filha, e respondeu:
— Agora, amigos, só espero que eles busquem o Cristo.
Helena foi criada na Doutrina, mas sempre achou que a vida era para ser “bem vivida”.
Mesmo recebendo educação cristã desde criança, quando se casou preferiu seguir Pedro Paulo, materialista convicto.
Não lutou para transmitir ao marido um pouco de conhecimento cristão, preferiu esquecer o que aprendera e aí está o resultado: encontrou a “morte” por desejar “viver a vida”.
O carro arrebentado era atracção de curiosos que dificultavam o trabalho dos encarregados.
Nas ferragens restou apenas a lembrança de um casal que havia esquecido a família em casa.
Dizem alguns:
”muito estranha a atitude de Deus.
Ele, que se diz bondade, lança a dor e o desespero nos lares.
Quantas mães sozinhas e sofredoras têm de criar os filhos sem a presença dos pais!”
É de difícil compreensão, principalmente para quem longe se encontra da Doutrina Espírita.
Somente um estudo sério dá ao homem condição de aceitar os fatos desta vida.
Nesse novo trabalho confesso que às vezes me entristeço.
São tantas as lágrimas de saudade que meu espírito se vê incapaz de aplacar tão pungentes dores, mas tudo tem uma razão de ser e esta oportunidade, ao lado de espíritos capacitados, procuro não desperdiçar.
Deleuze chamou-me à realidade:
— Sérgio, o grupo do desencarne encaminha-se agora para a casa de um dos seus amigos.
— Quê? Onde?
Ele não me respondeu, mas eu o segui, preocupado.
A casa humilde recebia protecção especial pois a dona, muito enfraquecida e sem os devidos cuidados, estava acelerando o seu desencarne.
Seus fluidos vitais se esvaíam rapidamente.
Mesmo assim, recebia dos encarregados espirituais as atenções necessárias.
— Não há um meio de avisá-la, sendo ela espírita?
— Não. A cada um foi dado a sua própria consciência.
Ali ficamos tentando prolongar a existência da nossa
amiga na terra mas, muito nervosa, ela se deixava envolver com todos os desequilibrados da família.
Apreensivos, presenciamos o desentendimento com um dos filhos.
Com isso,, acelerou-se-lhe a corrente sanguínea e o coração doente não aguentou.
Vimo-la tombar à nossa frente, sem meios para ajudá-la.
Os encarregados lhe prestaram ajuda, porém, no momento em que se alterou o sistema circulatório, já se iniciara a morte de algumas das células, principalmente as nervosas, e assim chegou o desencarne.
Nossa amiga se via ora lúcida, no plano físico, ora vislumbrando o mundo espiritual.
E, assim, muitas vezes me pediu socorro.
Segurando suas mãos, esperei-a com carinho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 22, 2020 8:07 pm

Quando o laço se rompeu, ela respirou, contente.
Apenas uma preocupação a dominava: a de que ninguém devia sentir-se culpado.
A morte não é o fim e sim o começo de uma nova vida.
Mesmo desligada, nossa irmã não queria ser socorrida, isto é, ser levada para um hospital.
Queria ainda dizer tantas coisas aos filhos... para não se separarem, para se respeitarem.
Tudo o que não conseguiu fazer no corpo físico, desejava fazer agora.
Em momento muito emocionante, uma velhinha simpática estendeu-lhe a mão, orientando:
— Filha, siga Jesus e não olhe para trás.
Se nesses anos todos você não conseguiu guiá-los, não será agora que irá fazê-lo, recorde que hoje eles nem a enxergam mais.
Depois, os filhos não são nossos, a cada um Deus deu o direito de escolher o seu caminho. Vamos orar para que façam uma boa escolha.
Chorando, nossa irmã abraçava sua velha mãe e foi aí que irmã Sheila entrou, acompanhada de várias crianças, cantando o Hino da Caridade.
Apesar de ter sido pobre, aquela senhora jamais deixara de ofertar o seu óbulo de viúva.
Das suas mãos saíram inúmeras peças em direcção aos pobres.
Quando ela percebeu a nossa irmã Sheila, não se conteve, chorou muito, dizendo:
— Ah! Se eu pudesse contar para os meninos o que estou vendo, que maravilha!
Uma das crianças entregou-lhe uma rosa branca, dando-lhe as boas-vindas. Só então, ela abandonou o corpo físico e dele se viu distante.
Maria, naquele momento, esqueceu as preocupações do seu lar e enfrentou a realidade com uma doce atitude:
— Irmã, aqui eu vou trabalhar mais, pois não tenho casa para me ocupar.
— É isso mesmo, aqui só temos uma casa, a do Senhor, e nela mora a esperança.
Não se aflija, os que ficaram terão de prosseguir.
Esperemos que o façam junto com Cristo e que as discussões não voltem ao seu lar; que cada um saiba respeitar a sua ausência, que todos busquem na fé a reforma de seus espíritos agitados; que o bom exemplo seja o cartão de visita de cada um e que as palavras, principalmente quando duras e desequilibradas, morram em seus lábios; que a lição dada pela vida não seja em vão.
A cada um foi dada a oportunidade de fazer o que deseja mas ninguém tem o direito de ser duro e violento.
A irmã era muito nervosa e isso dificultou a sua passagem pela terra.
As pessoas nervosas e agitadas queimam demais os seus fluidos e desgastam as suas células, prematuramente.
A irmã adormeceu enquanto o coro de crianças cantava.
O nosso grupo foi-se retirando.
Nada mais a fazer, somente esperar que Maria se recuperasse totalmente e voltasse ao trabalho.
Outro chamado.
Meu grupo dirigiu-se a um lar onde um jovem casal vivia com dois filhos, um de treze e uma menina de onze anos.
Casa confortável, filhos sadios.
Chegamos de manhã.
Cada um se levantou e nem um bom-dia foi dado para Deus e Jesus.
Naquela casa só Mamom era o mestre.
Desde cedo o assunto foi dinheiro.
Ficamos olhando em silêncio.
— Quem vai desencarnar? - perguntei depois de algum tempo a Patrice.
— Ninguém, mas se essas crianças continuarem com o excesso de liberdade que têm, logo o casal ficará sozinho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 23, 2020 7:02 pm

O garoto de treze anos foi à garagem tirar o carro, sob os risos dos pais.
Garoto muito precoce ...
O carro parecia um pudim, indo de um lado para outro.
A menina, de onze anos, usava uma saia curtíssima, já penteada e vestida como adulta.
— Será que não percebem que os filhos estão crescendo antes do tempo?
Que esta menina aos treze anos vai estar namorando livremente e sem condição de compreender uma relação homem-mulher? - perguntei.
— Mas é essa a educação que os pais julgam ser a certa: moderna, livre e sem neurose.
Patrice, observando a garota de lábios pintados, brincos enormes, falou-me:
— Ela nem parece ter onze anos.
Pedi para acompanhá-la até o colégio.
Lá, conheci uma nova vida, a vida das crianças de hoje.
O assunto era a AIDS e o homossexualismo, tema rotineiro; nada choca esta geração.
Vi crianças tão adultas, tão sem sonhos!
A garota com vários namorados, e que namoro!... já iniciara a fumar não só o cigarro comum, como também o baseado.
Por que não? É ficar na onda ...
Ninguém pode imaginar o assunto dessas meninas, que não falam do estudo nem da política, só de droga e sexo.
Dali saímos desiludidos, indagando-nos o que será do amanhã com jovens tão doentes.
Aproximamo-nos do garoto.
Ele era líder do seu grupo.
Os assuntos: motoca, carro, mulher, cavalo-de-pau, pega e droga.
Esses caras não se preocupam com o futuro?
Não pensam em estudar, trabalhar, namorar?
Não, para eles o importante é viver o hoje.
O garoto, que aqui chamarei de Carlos, estava convidando os colegas para andar em sua moto e os outros o olhavam com admiração.
“Pai bom é o de Carlos, que deu uma moto ao filho!” - pensavam.
Não sabiam eles que o pai de Carlos propiciara ao filho sua entrada para o túnel da dor.
Embora recebendo tudo dos pais, era nervoso, insatisfeito e infeliz, algo lhe faltava.
Isso mesmo, ninguém é feliz sem uma realização.
Distantes de Deus somos vermes sem amanhã.
Garotos de onze, doze, treze e quatorze anos ali se encontravam à minha frente.
Senti vontade de abraçá-los bem forte, desejando protegê-los, tirá-los desse mundo de sonhos, dar-lhes evangelização, mostrar-lhes que tudo passa nesse mundo físico, só ficando em nós as recordações e, queira Deus, jamais remorsos.
Carlos e Jeane ali permaneceram, mas em minha lembrança ficaram gravadas as atitudes de um casal sem o mínimo preparo para a educação familiar.
Os pais precisam conquistar os filhos, porém não através do dinheiro, que não é tudo.
Aquele casal logo ficaria sozinho, pois seus filhos estavam crescendo rápido demais.
Já me encontrava em outro trabalho, quando fui chamado.
Algo trágico acontecera.
Carlos agonizava.
Pegara o carro do pai e sofrera um acidente.
O pai culpava Deus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 23, 2020 7:03 pm

O seu único filho ali jazia, colhido pela própria imprudência, ao conduzir o carro que aprendera a dirigir incentivado pelo pai.
Este não tivera o bom-senso de fazê-lo respeitar as leis.
Agora, ali gemia com remorso.
É muito lindo ter filhos precoces, mais bonito, porém, é o pai que ensina o filho a viver em sociedade, cujas leis devem ser obedecidas.
Com a agonia de Carlos também desaparecia a alegria de seus pais.
Aquela criança de treze anos tinha uma programação para viver até os setenta e cinco.
Quantos anos jogados fora só porque os pais fracassaram!
Meu Deus, o que está acontecendo com as famílias?
Por que os pais não querem mais ter o trabalho de educar os filhos?
Por que não conversam com suas crianças?
Por se sentirem tão sozinhas, vivem elas à procura de fortes emoções.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 23, 2020 7:03 pm

Capítulo XIII - ÓRFÃOS DE PAIS VIVOS
Cada homem recebe de Deus um pedaço de terra e feliz daquele que a cultivar com desvelo, fazendo nela florescer um jardim de amor.
O homem que plantar espinhos e pedras terá de colher desespero.
Convivendo com os amigos do Departamento do Desencarne, tive inúmeras oportunidades de constatar que o homem brinca com a vida.
Ele não busca as verdades que o cercam nem avalia a beleza do seu corpo físico, este maquinismo que funciona harmoniosamente, obra exclusiva de Deus.
Se ele percebesse tudo isso, sentiria a fragilidade física e cuidaria mais do seu espírito imortal.
Mas ele faz o contrário: abusa do corpo físico e mutila o espírito, através de actos indignos ou mesmo alimentando o orgulho, a vaidade e a avareza.
Se estudássemos o nosso corpo, veríamos que ele pode deixar de funcionar de um momento para outro, mas a luz pensante, que é a alma, estará sempre acesa.
O corpo veio do corpo, a alma veio de Deus.
A caravana com a qual hoje trabalho luta muitas vezes para prolongar a vida no corpo físico, porém o próprio homem apressa, por ignorância, o seu fim.
Achando que os filhos precisam de condução, muitos pais entregam as chaves dos seus carros para eles, concorrendo, com isso, para o fracasso de um homem que, desde cedo, é incentivado a desrespeitar a lei, já que esta não permite que menor dirija qualquer veículo.
Vemos avós ensinando os netos, em tenra idade, a dirigir.
A criança que aprende com os adultos a não respeitar as leis viverá sempre revoltada com a sociedade, que nos cobra um comportamento digno.
Desde a infância ela deve ser guiada com honestidade.
Os bons exemplos dos pais serão a força dos seus passos.
Fala-se demais dos jovens, entretanto eles estão alcançando a adolescência muito sozinhos.
Mesmo cercadas de conforto, as crianças estão entregues a si mesmas.
Com os pais trabalhando para o sustento da casa, porque a situação não está fácil, elas são obrigadas a frequentar creches na mais tenra idade.
A creche dá à criança uma disciplina de vida, mas muitos pais abusam quando pedem às educadoras que fiquem com seus filhos no sábado e no domingo para que possam passear.
Essas crianças serão os futuros neuróticos.
A solidão lhes faz companhia desde pequenas.
Volto a dizer: a creche ajuda muito, mas são os pais que, sem preparo para receberem os filhos, não completam a disciplina lá exigida.
E assim, a criança, ao chegar à casa, quebra objectos e fica insubordinado, tudo fazendo para chamar a atenção dos pais desatenciosos.
Acompanhamos Laurinho, um belo garoto de três anos, o segundo filho de um casal.
Laurinho já foi recebido em sua casa como intruso, pois os pais queriam uma menina.
Todos os dias, muito feliz, preparava-se para ir a escola e lá, junto aos coleguinhas, se divertia, mas na hora de voltar para casa chorava muito.
A educadora, preocupada, perguntou à mãe qual era o procedimento do menino em casa.
Ela prontamente respondeu:
— Ele é uma fera, morde o irmão mais velho, quebra tudo, é um demónio esse garoto!
A educadora disse-lhe que algo devia estar errado, já que Laurinho era outro na creche.
— Mas eu o educo com boas chineladas.
Ali estava a resposta:
Laurinho tudo fazia para chamar a atenção dos pais, que caíam de amores pelo filho mais velho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 23, 2020 7:03 pm

E a rebeldia foi a sua reacção.
Ficamos alguns dias acompanhando o trabalho daquela creche e a vida do garoto sem que eu atinasse com o motivo, mas me calara.
Enquanto Laurinho dormia, fazíamos a doutrinação do seu espírito e dos seus pais.
Deleuze tinha pelo garoto muito amor.
Um dia, Laurinho amanheceu febril.
A mãe, aborrecida, não sabia o que fazer, pois ele, doente, não deveria ir à creche.
Quanto a deixá-lo com a empregada, esta não suportaria suas peraltices.
Não ir trabalhar para ficar com o filho era demais para Luciene!
Achou melhor tentar a creche e lá se foi com Laurinho.
A educadora tratou dele em sala separada, mas naquela manhã mesmo avisou a mãe de que o garoto piorava.
A jovem senhora, acreditando que era mais uma do levado filho, só apareceu para buscá-lo na hora regulamentar.
Laurinho, muito quieto, nem queria conversar, logo ele, que era tão falante.
Passou a noite. Muitas vezes chorou e foi repreendido.
Pela manhã, quando o pai foi acordar Laurinho para levá-lo à creche, viu que ele fora colhido pelo desencarne. Ficou desesperado e a mãe quase enlouqueceu.
Julgaram que a criança, colocada por Deus naquele lar, era um brinquedo sem alma.
Eles mataram o filho pela indiferença.
Enquanto estava sendo examinado pelos médicos terrenos, recordava-me de Laurinho chegando à casa e muitas vezes dormindo com fome, pois a mãe dizia não ter tempo para lhe fazer um bom jantar ou um bom lanche, dava-lhe um refrigerante, alguns biscoitos, pão e o mandava para a cama.
Muitos Laurinhos existem por aí, precisando de amor, órfãos de pais vivos.
Acho que precisam ser criadas escolas nas quais os pais sejam educados a fim de receberem filhos.
muita responsabilidade vir de Deus um ser e você o modelar com as suas neuroses.
Os pais não são donos dos filhos, são mestres, e se não os educarem sofrerão as consequências.
Casos como este de Laurinho existem aos montes, culpa das mães e dos pais coniventes que têm preguiça de criar seus filhos.
Não é só na classe pobre que se vê criança suja e maltrapilha.
Nas classes média e rica as crianças também são mal cuidadas.
Cada mãe devia fazer curso para aprender a cuidar dos filhos, porque muitas não estão sabendo fazê-lo.
Quem trabalha em creche conhece o problema dos pais indiferentes.
Ainda bem que existem educadores que tudo fazem para oferecer um pouco de felicidade às crianças.
— Sérgio, nunca tinha visto tantas crianças mal cuidadas! exclamou Patrice.
Fiquei abismada em constatar que muitos casais gostam de deixar os pequenos fora de casa, até nos sábados e domingos.
É, Sérgio, os lírios estão precisando do sol divino para continuar a sonhar com uma bela manhã.
E os pais de Laurinho, como estão?
— Desesperados de remorsos.
Queira Deus que eles não matem o outro filho fazendo o contrário, sufocando-o de cuidados, queira Deus.
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Lírios Colhidos - Luiz Sérgio/Irene Pacheco Machado - Página 2 Empty Re: Lírios Colhidos - Luiz Sérgio/Irene Pacheco Machado

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 23, 2020 7:03 pm

Capítulo XIV - RESPEITEM AQUELES QUE PARTEM
Procurando esquecer o que presenciei, juntei-me aos outros irmãos.
— Sérgio, falou-me Deleuze, o que viste hoje é muito corriqueiro, há inúmeros casos semelhantes.
Pensam alguns pais que criança só precisa de alimento para sobreviver, entretanto, temos socorrido bebés desnutridos e mal cuidados fisicamente, com assaduras e micoses.
— Tem razão.
Preocupado com os jovens viciados, eu precisava mesmo inteirar-me da vida das crianças, mas, ao descobrir o seu mundo, defrontei-me com duras realidades.
O mundo infantil não é tão belo quanto se julga.
Nele já estão presentes o abandono, a violência e a falta de amor.
Mães irritadas descarregam por nada suas neuroses sobre os filhos e os pais não querem ser incomodados.
Ninguém pode imaginar o que presenciamos.
Como existem crianças abandonadas dentro de lares confortáveis!...
Dali nos dirigimos a uma clínica onde um senhor esperava a hora do seu desencarne.
Ao lado de Jaime, alguns de seus filhos.
Já bem mal, ele relutava em deixar o corpo físico, pois precisava ainda assinar alguns documentos.
Vi o desespero no seu olhar, principalmente quando um dos filhos, que aqui chamaremos de Celso, reclamou dos gastos com o pai:
— Não sei por que vocês teimam em prolongar a vida de papai.
— Celso, papai trabalhou demais e é justo que ele seja bem tratado — respondeu Mara, a irmã.
— Vocês estão jogando dinheiro fora — retrucou Celso.
Enquanto discutiam sobre dinheiro, o nosso amigo Jaime, agonizante, sofria por constatar a falta de amor de seus filhos.
— Papai devia ter dividido tudo! continuou Celso.
— Cala-te, imbecil, respeita o corpo do velho! sussurrou, contrariado, um outro irmão.
— É, você sempre se deu bem, vivia na pior e o velho sempre lhe ajudava, agora não pense que vai entrar com o seu prestígio.
Amanhã mesmo já vou lutar pelos meus direitos — ameaçou Celso.
Eles não notaram que dos olhos de Jaime as lágrimas rolaram por ter percebido que havia criado monstros.
Sim, monstros, filhos que não respeitam os pais velhos e doentes, e depois, ninguém deve ficar à espera de herança.
Os pais trabalharam e o dinheiro a eles pertence, quem desejar enriquecer que trabalhe.
Os encarregados espirituais tentavam adormecê-lo mas ele buscava as mãos da velha companheira, tentando dizer que se cuidasse, senão ficaria sem recursos, pois os filhos não eram amigos de ninguém.
Olhava com interesse o tratamento espiritual ali realizado quando uma simpática senhora, aproximando-se, falou-me:
— Jaime é culpado pelo comportamento dos filhos.
Criou-os dando muito valor ao dinheiro. Sempre dizia que só a riqueza engrandece o homem.
Aos filhos não ofereceu exemplos de caridade, desde pequenos só ouviam falar em ganhar dinheiro.
Vendo-me meio assustado, ela explicou:
— Sou a mãe de Jaime.
Ele esqueceu a família ao ficar bem de situação.
Os irmãos, ele ignorou, agora está sofrendo.
Nas suas lembranças surgem os pais, os avós, os irmãos, enfim, seus piores anos de vida.
O remorso lhe beija a alma, hoje bastante sofrida diante de filhos tão insensíveis.
— Mas nada justifica as palavras duras dos filhos, irmã.
— Não estou de acordo com eles.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 23, 2020 7:03 pm

Sofro por Jaime, porém, foi ele quem ajudou os filhos a pensar só em enriquecer, e dinheiro é apenas um meio de vida, não a razão de viver.
A moeda serve para alimentar o corpo e vesti-lo, contudo, precisamos muito mais do alimento do espírito, que é a fé.
Ela correu para perto do filho que piorava e lhe beijou as mãos.
Ao percebê-la, assustou-se, ela era a presença da morte, mas logo serenou.
Quando os médicos do desencarne deram o passe final, Jaime foi desprendendo-se da matéria.
O seu duplo pairava sobre o seu corpo físico, e o seu perispírito, a veste do espírito, ia afastando-se dos velhos e cansados companheiros — seus corpos.
Aquele quadro mostrava- me Jaime amparado por médicos e enfermeiros do mundo espiritual, enquanto os do mundo físico diziam: “nada mais a fazer”.
Aí olhei para trás, pois já me retirava.
A família, agora, lamentava o desencarne, aos gritos, principalmente os filhos que só ambicionavam a herança.
— Gente é bicho complicado, não é mesmo, Deleuze?
— Sim, Sérgio, gente é um complicado animal cujas reacções são surpreendentes.
Tudo em nossas vidas é interessante.
O bebé nasce, é registado como cidadão, inicia a sua escalada física, até o dia em que cumpre sua tarefa, abandona a terra e deixa de existir no campo físico; apaga o seu nome dos livros dos cartórios e desaparece da vida social, fazendo a viagem da vida para a “morte”.
Não sei como ainda existe materialista se todos os dias os passageiros estão partindo, a despeito de todos os modernos tratamentos.
Nada: dinheiro, posição social, absolutamente nada retém um espírito no corpo físico quando soa a hora da partida.
Por que o homem é tão orgulhoso?
Quantos homens matam por dinheiro, quando a vida é tão curta!...
A casa mental de Jaime ainda oscilava entre o mundo espiritual e o mundo físico.
Perguntaram-me se eu ali ficaria para narrar aos meus leitores.
— Não, respondi.
Para quê?
Sei que os filhos ainda vão aprontar, não respeitando o corpo do pai.
Para mim, o momento do enterro é tão importante para o espírito como o nascimento de uma criança.
Não se concebe, nessa hora, comentários desagradáveis sobre o “morto” nem o que o levou ao desencarne.
Quero apenas presenciar Deus colhendo os lírios do jardim de Jesus.
A Terra é o jardim do Mestre e nós somos os lírios que precisam ser colhidos para deixarmos de ter os pés no lodo.
Nascendo e morrendo vamos ficando puros e belos como os lírios divinos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 23, 2020 7:04 pm

Capítulo XV - A RESPONSABILIDADE DO MÉDIUM
Para ocupar uma elevada posição diante dos homens, Deus escolhe obreiros que devem assumir posição humilde perante a Humanidade.
O mais humilde dos obreiros é o preferido de Deus.
Aqueles que exaltam a si mesmos, o Senhor faz com que sejam postos de lado.
Deus não precisa dos orgulhosos, pois Sua obra não se detém por causa do afastamento deles, ao contrário, vai para frente com maior força.
A seara é grande, pequeno, entretanto, é o número dos que atuam lado a lado com Jesus.
Estava meditando diante de um grupo de médiuns.
Falavam sobre mediunidade e cada um enaltecia o seu próprio dom.
Uma jovem contava os seus sucessos, outros os seus, e nós, os espíritos que aguardavam a hora do trabalho, presenciávamos um facto desagradável no espiritismo: o médium vaidoso.
O mais eloquente orgulhava-se das últimas mensagens recebidas, todas elas de recém-desencarnados.
Terminada a conversa, impressionados com aquele bate-papo, resolvemos acompanhar Clotilde e, para surpresa nossa, ficamos sabendo que ela sonhava em se tornar médium famosa e para isso nada melhor do que receber mensagem daqueles que partiram deixando suas famílias desesperadas.
Clotilde não tinha critério algum, apenas levada pelo entusiasmo pensava estar ajudando e muitas vezes causava muitas dores.
Vários factos constatamos:
o “morto” não tinha ainda se desligado do corpo físico e a nossa amiga já dava notícias dele.
Insisto nesse assunto, porque estamos preocupados com o rumo que está tomando a mediunidade.
Um bom médium faz passar pelo crivo da razão todas as mensagens que recebe, não tendo tempo de correr atrás daqueles que partiram pedindo mensagem para os que ficaram.
Existem médiuns que vão até a casa dos familiares, sofridos pelas saudades, dar notícias ainda mais tristes, até a dizer que o “morto” está nos umbrais.
Isso não se faz, amigos.
Deus, ao selar com a chave do silêncio muitos factos da vida espiritual, sabia que a língua é fraca e o homem falível.
Acompanhei Clotilde porque há vários dias fui chamado para prestar ajuda a um lírio colhido — um menino de treze anos que, brincando com seu colega, fora alvejado com um tiro, acidente que deixou a família traumatizada.
O saudável garoto, que irradiava alegria, jazia ali no caixão, frio, inerte.
Seu espírito, criado sem nenhuma religião, teimava em ficar ao lado dos familiares, chorando muito.
Fizemo-lo compreender que encarnados e desencarnados possuem responsabilidades distintas e não podem misturá-las; que o mundo físico é lindo, mas nós, que já estamos do lado de cá, não podemos nele viver e nem os encarnados ficarem junto a nós, no mundo espiritual.
Clóvis deu um pouco de trabalho, mas logo compreendeu que muito tinha de aprender no mundo que ele encontrou.
Entretanto, Clotilde, que conhecia os pais do garoto, iniciou uma série de notícias:
“Clóvis sofre de saudade; Clóvis está perturbando um dos irmãos; Clóvis fora assassinado pelo homem que tirara a vida em outra encarnação”.
Assim, as mais absurdas notícias eram transmitidas à família, que estava ficando com raiva do espiritismo, porque não tinha capacidade para compreender os loucos recados sobre seu filho.
Certo dia, Clotilde pediu aos pais para dar as roupas e todos os pertences do jovem; só assim ele teria paz.
Até que um grupo do Departamento de Notícias deu um basta:
fez chegar às mãos da família uma mensagem de amor e paz, um lenço branco de verdades que secou aqueles olhos marejados de lágrimas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 23, 2020 7:04 pm

Clotilde encerrou, com aquela família, o seu rosário de fanatismo religioso.
Muitas Clotildes estão por aí, portanto, a melhor mensagem é a da caridade.
Os familiares devem procurar nas sarjetas da vida um meio de mandar as suas mensagens de amor.
A criança que recebe um alimento é o melhor porta- voz para seu ente querido que partiu.
Para reconhecer o bom médium é só buscá-lo através da conduta.
Um médium com Jesus não vive procurando seus clientes nem distribui receita em praça pública.
Assim como o bom médico tem uma vida repleta de trabalho e não pode viver à cata de pacientes, da mesma forma o bom médium:
ele não sai à procura das pessoas para ditar mensagens, pois não tem tempo a perder em conversas vãs.
Portanto, amigos médiuns, vamos recordar a época de Moisés, quando o espiritismo foi proibido pelos abusos que ocorriam em nome dos espíritos.
Jesus, conversando com Elias e Moisés no Tabor e logo no caminho de Emaús, anulou a proibição e veio a Doutrina, ensinando que o dom mediúnico é uma bênção, mas que ninguém deve dele abusar; que o bom médium é perfume de flor rara e não alto-falante de esquina.
Vamos, médiuns, falar pouco e trabalhar mais, tendo cuidado com o nome dos espíritos.
Jesus foi muito explícito quando nos alertou para respeitarmos o Espírito Santo.
Os espíritos só têm a Doutrina para defendê-los, o que dá ao médium a elucidação de passar pelo crivo do bom senso as mensagens recebidas.
Cuidado, amigos, não queiram apenas receber espírito, vamos primeiro educar o nosso.
Não percamos a oportunidade, quem sabe fomos chamados ao espiritismo para nos evangelizar?
Na ânsia de ajudar o próximo podemos comprometer-nos seriamente, não só a nós mesmos, como à límpida Doutrina Espírita.
Vamos, dirigentes de grupos, alertar os médiuns para que eles não caiam no ridículo.
É muito triste presenciarmos senhoras e senhores dando espectáculos gratuitos apenas para satisfazerem a própria vaidade.
Quando voltei da casa de Clotilde, Deleuze me perguntou:
— E você, Sérgio, ficou sabendo por que Clóvis desencarnou?
Por que o menino Carlos foi o autor do disparo, quando eram tão amigos?
— Deleuze, confesso que não resisti e, procurando saber a causa, constatei que Clóvis foi mais uma vítima da negligência dos adultos, que não só possuem arma de fogo em casa, como a deixam ao alcance das crianças.
Muitos pais, desejando que os filhos fiquem homens cedo, ensinam a atirar e a criança tem fascínio por armas de fogo, que são perigosíssimas.
— Então Clóvis não pagou uma conta atrasada? - perguntou Deleuze.
— Não, Clóvis jamais havia atingido Carlos, eles sempre foram amigos.
— E agora, Carlos contrairá um sério compromisso?
— Sim, mas um compromisso, não um carma, que teria de pagar olho por olho ou dente por dente.
O que vai acontecer é eles voltarem juntos e percorrerem as estradas da vida lutando, e lutando muito, pela felicidade mútua.
Carlos e Clóvis podem voltar juntos e almejarem a vitória de um determinado empreendimento e muitas vezes sentirem a derrota.
Eles retornarão, mas não para atirar um no outro.
— E no Departamento, como fica a situação de Clóvis, que teria de desencarnar com setenta anos? inquiriu Patrice.
— Voltará logo, é só o tempo de limpar a sua casa mental.
Ele será neto de seus pais, completando o livro de sua vida. Já encarnado, entretanto, escutará a triste estória da sua última existência.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 23, 2020 7:04 pm

— Bendita a reencarnação, bendita oportunidade de vida, bendita! exultou Patrice.
De volta ao meu quarto, abri o Antigo Testamento, Eclesiástico, e encontrei no Capítulo 48, versículos de 9 a 11:
“9 — Tu, que foste arrebatado ao céu em redemoinho de fogo, em carroça tirada por cavalos ardentes.
10 — Tu, de quem está escrito que no tempo do julgamento virás para abrandar a ira do Senhor: para reconciliar o coração dos pais com os filhos e para restabelecer as tribos de Jacó.
11 — Bem aventurados os que te viram e que foram honrados na tua amizade”.
Nesta passagem, onde está bem clara a reencarnação, pude também perceber que o versículo dez aplica a Elias a profecia de Malaquias, Capítulo 4, versículos 5 e 6, que no Novo Testamento é aplicada a João Baptista, apresentado pelo anjo como aquele que haveria de viver no espírito e com o poder de Elias.
Jesus disse que João era o Elias esperado.
Fiquei a meditar:
“o maior cego é aquele que não quer enxergar.
Não foram os espíritas que criaram a reencarnação, ela está nas Escrituras”.
E quem duvidar, busque este trecho do Antigo Testamento, muito claro, quando se refere a João como sendo o Elias prometido.
A sua volta na figura de João Baptista é tão viva e real!
No final do Livro de Malaquias só falta a palavra “reencarnação”.
Seria mais fácil para o homem compreendê-la, pois apenas ela oferece consolo àqueles que ficam e luz para aqueles que partem.
A reencarnação é a operação que sofremos para sobreviver além da vida.
Jacó, um espírito amigo, diz:
“eu a considero a plástica divina”.
Diante da reencarnação nós compreendemos o porquê de tantos sofrimentos, só ela nos dá a resposta; assim, os lírios são colhidos e replantados neste belo jardim de Jesus, mas eles estão morrendo de maneira muito triste, pelo suicídio, por falta da água do Evangelho.
Em muitos lares os lírios estão murchando e somente sobreviverão se amparados pelo sol divino.
Tendo a raiz no lodo de terra, o espírito necessita estar ligado com o Alto, de outra maneira logo lhe faltará fôlego para viver em paz.
Precisam os pais urgentemente conscientizar-se de dar aos filhos educação, a fim de que não sejam transportados para um outro mundo sem preparo algum e chorem de remorso pelas oportunidades perdidas.
Se Elias voltou na pessoa de João Baptista, por que não crer que amanhã estaremos de volta com outro nome?
E queira Deus retornemos com poucas contas a pagar.
O importante é começar agora, amanhã será outro dia e não sabemos se estaremos dispostos.
Hoje é hoje, o que importa é que nós estamos vivos e devemos dar graças ao Senhor por Ele nos ter confiado uma missão de amor: a vida.
Ela é nossa, só nós podemos embelezá-la ou deformá-la, só nós.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 23, 2020 7:04 pm

Capítulo XVI - NO CONGELAMENTO DOS CORPOS, A ILUSÃO
Sempre que volto à Colonia onde moro procuro olhar ao meu redor para sentir a beleza da natureza e, feliz, busco a companhia das flores e dos pássaros.
Olhando tudo sinto o quanto Deus é bom.
A maioria dos encarnados, por julgar que a morte é o fim da estrada, não se preocupa em agir correctamente e se auto-destrói.
E a vida é contínua, um rio de oportunidades cujas águas um dia chegarão a Deus.
Até lá, temos por obrigação nos tornarmos puros.
Muitos, vivendo somente o hoje por julgarem que no amanhã só existe o nada, não preparam uma bagagem digna.
Quando chega a “morte”, o espírito, completamente perturbado, se sente muito infeliz, não se conforma com a realidade do mundo espiritual e só pensa em viver junto aos encarnados, não percebendo o mal que faz a si próprio.
Nisso Joana aproximou-se de mim:
— Sérgio, por que a preocupação?
— Encontrava-me somente pensando como pode um homem não aceitar a imortalidade da alma.
Quem assim pensa não crê em Deus, apenas recita o Seu nome em vão.
Se Deus destruísse as Suas obras Ele não seria perfeito, portanto, não possuiria bondade.
E quantos que se dizem crentes nas Suas palavras esperam a hora do descanso eterno.
— Mas é difícil, Sérgio, para muitos, buscar as verdades do mundo espiritual, principalmente os que no corpo físico só pensaram em se divertir.
Não é fácil para o orgulhoso imaginar que depois da morte terá de viver ao lado dos pobres que desprezou e muitas vezes labutar por uma ocupação, quase sempre bem longe daquela que gostaria de exercer.
Esta semana fomos socorrer um irmão que quando encarnado foi reverenciado pelo equilíbrio e pela inteligência.
O seu espírito, ao constatar que se desprendia da matéria, procurava ao seu redor a razão de se manter ainda vivo.
Apesar de ter lido alguns livros sobre a morte, ele a tudo examinava e, ao perceber que do lado espiritual os equipamentos médicos eram quase iguais aos do mundo físico, curioso ficou em conhecer o outro lado da vida.
Quando seus familiares vieram dar-lhe as boas-vindas, ele, chorando muito, disse ao pai:
— Por que não se aprende sobre a morte nas salas de aula?
Evitaria que o homem errasse tanto.
Foram poucos os anos vividos na terra e não sei se os vivi dignamente.
— Meu filho, agora somente sua consciência responderá.
Espero que ela não se torne juiz por demais severo.
Aquele espírito, mesmo sendo levado na maca, tinha no olhar a indagação e nos gestos as atitudes de um homem público.
Depois de socorrido, pouco tínhamos para fazer ali.
Os familiares já esperavam o desencarne, portanto, podíamos retirar-nos, e quando o fazíamos vimos aproximar-se do recém-desencarnado o espírito de uma mulher que ainda tinha a aparência de preta velha.
O nosso amigo, ao reconhecê-la, chorou muito, abraçado a ela, que carinhosamente o amparou nos braços.
Era o reencontro num mundo onde todos somos socialmente iguais, só havendo a separação por vibração magnética.
Não é Deus quem nos manda para o “inferno” ou o “purgatório”, mas a nossa consciência, que nos coloca no lugar apropriado às nossas lembranças.
Um homem sem carácter não pode ficar ao lado de um que viveu na justiça.
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