LUZ ESPÍRITA
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A ESCADA DE JACÓ - Inácio Ferreira / Carlos A. Baccelli

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A ESCADA DE JACÓ  - Inácio Ferreira / Carlos A. Baccelli - Página 4 Empty Re: A ESCADA DE JACÓ - Inácio Ferreira / Carlos A. Baccelli

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 30, 2014 8:58 pm

Para onde se retirara a entidade que, com certeza, permanecia à espreita?
Imerso em tais elucubrações, praticamente fomos sacudidos pelo forte deslocamento de ar provocado por uma bomba de alto poder de destruição, que estourara a poucos metros de nós.

Corpos dilacerados voaram a grande distância e, então, um facto inesperado aconteceu:
o espírito de uma jovenzinha, não aparentando mais que treze anos de idade, com o abalo da explosão, teve, instantaneamente, as faculdades psíquicas dilatadas e pôde ver-nos com nitidez.

A sua casa se fizera em pedaços e os seus familiares simplesmente haviam desaparecido na poeira...

Fixando-se em Odilon que, com certeza, de nós quatro fora quem mais lhe chamara a atenção, a adolescente, trémula e em pranto convulsivo, correu em sua direcção e se lhe atirou aos braços paternais, enlaçando-se-lhe ao pescoço.

A cena era comovedora e, confesso, não consegui conter as lágrimas, que escorreram, silenciosas, pelo meu rosto semi-coberto de pó.

Odilon, acolhendo-a como se ela lhe fora uma neta muito querida, tentava confortá-la, sussurrando-lhe palavras tranquilizadoras aos ouvidos, enquanto lhe alisava os cabelos algo respingados de sangue.

- Por favor, leve-me com o senhor! – Pedia a menina, em soluços.
Leve-me daqui!...
Todos os meus familiares com certeza morreram e eu não tenho mais ninguém...

A minha casa voou pelos ares!
Não deixe que os soldados me façam mal...
Leve-me com o senhor!...

Eu, Adroaldo e Manoel Roberto permanecemos em expectativa.
Que faria o Mentor, naquelas circunstâncias?

De facto, a jovenzinha perdera toda a sua família de uma única vez, nos arredores, nem mesmo percebíamos vestígios dos espíritos daqueles que haviam sido seus parentes...

- Qual é o seu nome, minha filha? – perguntou Odilon, com inexcedível ternura.
- Jamile! O meu nome é Jamile, senhor!
Por favor, não deixe que os soldados me peguem!...

Eu morava com minha mãe, minha avó e um irmão menor, o meu pai foi morto antes de a guerra começar...
Eu não tenho mais ninguém!
Por favor, leve-me daqui!...

- Acalme-se Jamile! Ninguém lhe fará mal.
Você ficará connosco.
Agora, procure se tranquilizar e, se possível, dormir.
Eu e os meus amigos velaremos por você!

Não se passaram mais de cinco minutos e a pequena vítima ressonava nos braços de Odilon, o qual, então, nos comunicou:

- Ela seguirá connosco!
- Ser-nos-á permitido apartá-la assim da família? – Perguntei de maneira ingénua, ainda penalizado.
- A família dela agora somos nós, Inácio!...
- Para onde foram os seus?

- Não sabemos, talvez, mais tarde, possamos localizá-los...

Confesso-lhes que, daquele instante, senti uma ponta de inveja do amigo que, de imediato, inspirara confiança ao espírito daquela criança iraquiana morta, que se lhe agarrara ao peito, exemplo de uma flor que, arrancada ao jardim, se colara, de súbito ao tronco vetusto de uma árvore extremamente acolhedora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 30, 2014 8:58 pm

CAPÍTULO 25

A guerra, sem dúvida, é um dos maiores horrores da Humanidade!

Representa a precipitação da força das Trevas que, por fim, colimam através dos próprios homens os seus objectivos de destruição e de fazer com que a civilização retroceda na conquista dos valores que a emancipam.

O que víamos , em torno, nos deixava profundamente tristes e abalados, a não ser pelas sofisticadas armas e pelos modernos aviões que cortavam os céus da cidade, tínhamos a impressão de que entráramos num máquina do tempo e recuáramos, séculos e séculos, à época em que o homem ensaiava os primeiros passos fora da caverna. Tínhamos, sim, muito ainda a caminhar!

Mal havíamos nos recuperado da explosão que dizimara a família de Jamile, um outro míssil, chamado “inteligente”, caíra em cheio sobre uma choupana próxima e, novamente, assistimos ao tétrico espectáculo de corpos de homens, mulheres e crianças indefesas voando, dilacerados, pelos ares.

As consequências do que estava acontecendo à população civil seriam dolorosas aos responsáveis pela chacina.

Quando a fumaça e a poeira se desfizeram, escutei, em meio aos escombros, os gemidos de uma criança.

Eram tantos os feridos e necessitados, que os poucos espíritos socorristas, espalhados por Bagdad, não bastavam a tanta gente...

Afastando-me do grupo, deparei-me com um quadro que me fez cair de joelhos, rente a um menino que tivera os dois braços decepados e, do tórax para baixo, revelava graves queimaduras, vendo-o quase inconsciente e esvaindo-se em sangue, agi sem nenhuma prévia consulta a Odilon, que nos advertira quanto à inconveniência de qualquer espécie de interferência naquela terra onde, afinal de contas, é ramos considerados estrangeiros.

Debruçando-me sobre o garoto, utilizei ambas as mãos como torniquetes e procurei estancar a hemorragia que o colocara em risco de vida.
Não sei explicar-lhes, do ponto de vista científica, a causa de situações extremas de sofrimento e de perigo provocar o afloramento das faculdades medianímicas das criaturas envolvidas em tais processos.

Digo-lhes que, como acontecera a Jamile, a jovem que procurara abrigo nos braços do nosso Orientador, em determinado momento da minha acção para salvá-lo, aquele rapazola arregalou os olhos e, vendo-me debruçado sobre o seu corpo, pediu-me, entre soluços:
- Doutor, não me deixe morrer!
O que houve com os meus braços, que não consigo senti-los?

Onde estão o meu pai e a minha mãe, a minha avó e os meus primos?
Está doendo muito, Doutor!...

- Acalme-se, meu filho! – Disse-lhe em resposta, lutando com todas as forças, na tentativa de auxiliá-lo ao máximo.
Com discreto aceno de cabeça, solicitei o concurso de Manoel Roberto, que se aproximou, ouvindo-me as explicações:

- Precisamos de uma porção de ectoplasma, pois, se não estancarmos a hemorragia, o menino desencarnará, além do risco de infecção generalizada devido às queimaduras espalhadas pelo corpo.
Providencie!
- Onde, Dr. Inácio? – Perguntou-me o companheiro o que, de pronto, eu não saberia informar.

- Vire-se, Manoel!
Este garoto precisa sobreviver...
- Doutor, não seria melhor...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 30, 2014 8:58 pm

- Não, não seria!
Os mutilados de guerra são advertências vivas à consciência da Humanidade...
Depressa! Não temos tempo a perder!...

A uns duzentos metros do local, um camelo atingido por tiros de metralhadora agonizava e observei que, de sua boca e narinas, escorria uma substância esbranquiçada.

- O “plasma” daquele pobre animal nos servirá!
Teça com ele uma espécie de manta...
Não temos tempo a perder!

- Doutor – voltou a falar-me o menino, cujo espírito eu podia ver quase a destacar-se do organismo físico em lastimável condição - onde estão os meus braços?
Eu queria ser médico como o senhor, mas...
E agora? O que farei sem minhas mãos?

- Você tem o principal, meu filho – respondi-lhe - você tem inteligência, e a doença maior da Humanidade não se cura com remédios e cirurgias...
Torne-se um médico da alma!
A guerra é consequência de uma enfermidade mental das mais complexas

- Quem é o senhor? Qual o seu nome?
- Você não me conhece, mas eu me chamo Inácio Ferreira e venho do Brasil!
E você, como se chama?
- Ismail! O meu nome é Ismail!...

Eu dialogava com o garoto, procurando mantê-lo consciente, até que Manoel Roberto retornasse e o socorro de uma equipe médica nas imediações o conduzisse a um dos poucos hospitais que haviam ficado de pé em Bagdad!!

- Eis, Doutor, o que pude fazer – disse-me o amigo, estendendo-me uma manta de gás e tenuíssima, com a qual envolvi o corpo de Ismail, também com o propósito de aquecê-lo.

Às vezes, uma guerra como esta, um pobre animal agonizante consegue ser mais útil ao homem do que o próprio homem bestializado!...

Com o material ectoplasmático extraído do camelo, improvisei curativos nos cotos de ambos os braços decepados do rapaz que desfalecera e protegi-lhe as feridas abertas, procurando, tanto quanto possível, mantê-las assépticas.

Somente no final da operação é que três homens apareceram e, revirando os escombros, depararam-se, surpresos, com Ismail, que ainda respirava.

Espantados de ver que sobrevivera à grande explosão, providenciaram uma padiola e, entrando em contacto com uma unidade médica móvel nas imediações, o removeram com extremo cuidado, transportando-o para um precário hospital onde receberia os primeiros socorros.

Acompanhando meu pequeno paciente até ao veículo à guisa de ambulância, depositei em sua fronte o meu ósculo paternal e não consegui conter as lágrimas, que viraram lama ao se confundirem com o pó!

Neste instante, Adroaldo, que se conservara ao lado de Odilon, se aproximou e disse-me que precisávamos partir, não nos convinha permanecer por mais tempo, pois a onda de saques que começava na capital iraquiana dava ensejo a que outras entidades que, até então, se mantinham escondidas, entrassem em cena, ameaçando-nos a segurança.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 30, 2014 8:58 pm

Ao nos afastarmos do local em que o míssil caíra instantes atrás, arrasando com os sonhos e as esperanças de uma família completamente indefesa, passei próximo ao cadáver do camelo que nos servira e pude ver-lhe o duplo que, como um bezerro recém-nascido, se colocava de pé com extrema dificuldade.

- Pelo menos – pensei -, os homens não mais lhe poderão fazer mal!...
De facto, Adroaldo tinha razão:
estranhos seres, como que emergindo do solo, começavam a caminhar, detendo-se a sugar as vísceras dos porcos espalhados por toda a parte; espíritos de formas bizarras, quais seres humanos que houvessem regredido à condição primitiva, focinhavam os corpos, revirando-os, dando preferência àqueles que ainda sangravam...

De nossa parte, que podíamos fazer?
Digo-lhes que absolutamente nada.
Com o pensamento em Deus, seguíamos por larga avenida de um bairro residencial de Bagdad...

As forças da Coligação estavam prestes a vencer – mas vencer o quê?
Mais uma vez, ficava evidente o fracasso da Humanidade.
Com certeza, os responsáveis directos pelo conflito já estariam distantes...

O fanatismo religioso dos líderes muçulmanos, que eu sempre supunha cega fidelidade aos preceito exarados no Corão – nem mesmo ele resistia ao jogo dos interesses mesquinhos!

A “Guerra Santa” também não passava de mero pretexto a ambição pelo poder.

Enquanto o povaréu destruía as inúmeras estátuas que o ditador erigira a si mesmo, colocando em evidência a sua insanidade e megalomania, e a ajuda humanitária custava a chegar a quem o pão começava a faltar, os soldados norte-americanos e ingleses protegiam os poços de petróleo – e a guerra – afirmara-se – não acontecia se – não para coibir o avanço do terrorismo internacional, no combate às armas químicas e biológicas que não foram encontrados!

Todavia este é um assunto para o mundo discutir e não para mim, que , logo após morrer, fui sumariamente excluído e não mais tenho o direito de opinar, sob pena de os próprios espíritas me considerarem um espírito excessivamente apegado às coisas materiais.

Não que a opinião deles me importe.
Um dia, eles – esses aos quais me refiro – igualmente deixarão a carcaça e, então, perceberão que o Mundo Espiritual não é o que querem que seja, em obediência a conveniências de ordem pessoal.

Os católicos esquematizaram o seu Céu e, agora, os espíritas desejam fazer o mesmo com o Mundo Espiritual. Surpreender-se-ão!
Que ninguém passe para cá, na esperança de encontrar apenas o que está nos livros...

Com Jamile nos braços, Odilon informou-nos:
- Antes de atravessarmos as fronteiras do País, necessito de comparecer à presença de um dos mais respeitáveis patriarcas espirituais do povo iraquiano.

E explicou:
- Não podemos conduzir Jamile connosco, sem o seu devido consentimento.

- Concordo, Odilon – disse por minha vez o que o Instrutor, por elegância, jamais haveria dito - pois, caso contrário, nos acusarão de sequestro...

E emendei:
- Os “vivos” e não os “mortos”!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 30, 2014 8:59 pm

CAPÍTULO 26

Portanto, antes que deixássemos o Iraque, dirigimo-nos a extenso acampamento e nos fizemos anunciar.

Eram milhares e milhares de barracas instaladas, agrupando entidades que se revelavam em condições de receber adequada assistência nas regiões limítrofes à crosta planetária.

Observei que todas elas eram da mesma cor, sobressaindo-se, no entanto, das demais, uma de cor alaranjada que se localizava no centro do acampamento.

Os guardiões que nos conduziam afastavam, naturalmente, os curiosos, que se aglutinavam à nossa passagem, tomando-nos, talvez, por norte-americanos ou ingleses, pois que as nossas vestes contrastavam com as roupas que, à guisa de mantos, sempre lhes caracterizaram o antigo hábito de se cobrir.

O silêncio reinante e a ordem que imperava entre os que povoavam a referida região no Espaço, permitia-nos entrever que a população obedecia ao comando sem maiores contestações.

Alguns, inclusive, vendo-nos passar com Odilon carregando uma criança de origem nos braços, chegavam a se inclinar, em sinal de respeito.

À entrada da tenda, os guardas, que havíamos deliberado procurar na fronteira, recomendaram-nos que aguardássemos, enquanto um deles anunciava a nossa presença ao líder espiritual daquela gente que, do Outro Lado da Vida – tive a impressão -, se mantinha em expectativa com relação ao próprio futuro.

O que, afinal de contas, esperavam?
Estariam, todos, conscientes de sua actual situação?
SE, de acordo com a própria crença religiosa, não admitiam a Reencarnação, em realidade o que pretendiam, já que não haviam logrado alcançar as promessas com relação ao Paraíso?

E, positivamente, a vida pós-morte que desfrutavam não podia ser comparada ao Inferno...
O que se passava na cabeça de cada um daqueles irmãos, que prosseguiam fiéis às convicções religiosas que professavam no mundo?

Como seria resolvida tal questão, sem violentar consciências!
Parecia-me – ao observá-los – impossível que, colectivamente, conseguissem subir a mais altos planos, visto que, mentalmente, não se habilitariam a tanto...

Por quanto tempo se demorariam ali?
Alguns, dentre os que mais haviam se aproximado de nós, me davam a impressão de espíritos velhos, com longas barbas e cabelos brancos a emoldurar-lhes a figura, que exibia profundas rugas no rosto e uma certa melancolia no olhar.

Em poucos instantes, o guarda retornou com a permissão para que adentrássemos a grande tenda de cor alaranjada, onde fomos conduzidos à presença do patriarca Amir, que nos recebeu com leve sorriso nos lábios, pedindo-nos que nos acomodássemos nas almofadas espalhadas em semicírculo.

Ordenando que os seus assessores directos nos deixasse a sós, o líder explicou-se, começando a falar:
- Perdoem-me não recebê-los condignamente...
Estou informado de quem se trata e agradeço-lhes todo o auxílio prestado ao povo iraquiano.
Sintam-se à vontade...

Tomando a iniciativa de falar, o Mentor esclareceu:
- Patriarca...
- Por favor, trate-me simplesmente por Amir!
Somos irmãos e compreendo os seus objectivos – disse, olhando-me significativamente, como se estivesse a vasculhar-me os mais secretos pensamentos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 31, 2014 8:36 pm

- Amir, esta criança...
- Jamile! – Pronunciou-lhe o nome, com a intimidade do pastor que conhece todas as ovelhas do rebanho.
Sei de quem se trata... Continue.

- Esta criança apegou-se a mim...
- ...ao senhor, Odilon – redarguiu, sem que nenhum de nós a ele tivesse se identificado.
Sua família pereceu no bombardeio e ela ficou aparentemente sozinha, sentindo-se insegura...

- ...Pediu-me que eu a levasse comigo e...
- ...O senhor apegou-se a ela, como um avô a uma neta extremamente querida!
- Abraçou-se a mim e...

- ...O seu coração abraçou-se ao dela!
Quem sabe, senhor Odilon, não tenha sido um encontro casual e que vocês não tenham vindo a Bagdad meramente para acompanhar o que acontece nos bastidores da guerra!

- Venho pedir-lhe autorização...
- Conheço os que lhe foram os actuais pais consanguíneos, Ibrahin e Samira.
Entre os três nunca existiram vínculos espirituais anteriores...
Ibrahin estava sendo treinado por uma facção terrorista e Samira, infelizmente, não lhe respeitava o lar, ambos devem agora se encontrar vagando nos descaminhos da morte...

- Eu cuidaria dela, a educaria...
- Eu sei Sr. Odilon, e é uma pena que igualmente Ismail não pudesse ser adoptado pelo Sr. Inácio – disse, deixando-me desconcertado - ele agiu com tanta perícia – ele e o camelo! - que as possibilidades de que o menino sobreviva são muito grandes...

Afinal, “os mutilados de guerra são advertência vivas à consciência da Humanidade”, não é?

Como aquele homem pudera reproduzir, palavra por palavra, o que eu dissera a Manoel Roberto?!
Eu estava, deveras, impressionado e, confesso-lhes, poucas vezes alguém me causara tanta admiração.
Seria Amir um profeta, um telepata de extrema sensibilidade, um semideus?...

- Nenhuma coisa nem outra, Doutor – respondeu-me aos pensamentos.
Digamos que o meu espírito esteja com meu povo e que, por causa disso, eu seja dotado – como vocês diriam – de uma faculdade mediúnica especial...

Voltando-se para Odilon, o patriarca de semblante irradiando bondade e paz declarou:
- Sr. Odilon, Jamile poderá seguir em sua companhia, o senhor tem nossa autorização!...
- Prometo que fará parte da nossa família...

- Os diferentes povos do mundo necessitam estreitar laços – enfatizou o patriarca - enquanto subsistir o orgulho racial a Humanidade não viverá em paz...
No Grande Futuro, os países não terão fronteiras geográficas definidas e o homem, cidadão do Universo, não mais será um estranho em sua própria casa planetária!

E, dirigindo-se a mim, esclareceu:
- Carecemos de esperar pelo amadurecimento do espírito, como o pomicultor espera pelo amadurecimento dos frutos no pomar!
Se o Criador não se impõe a nenhuma de suas criaturas, por que haveríamos de nos impor uns aos outros?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 31, 2014 8:36 pm

A Verdade, em sua revelação aos homens, deve assemelhar-se às pétalas de uma flor, abrindo-se gradativamente...
Quantos conhecem o que tantos ignoram, todavia não conseguem viver segundo as próprias criações?

O profeta Muhammed unificou o povo árabe e, se o Corão prega a “Guerra Santa”, igualmente ensina a compaixão e preconiza deveres espirituais que, em essência, não diferem dos que o Cristo preconiza aos seguidores do Evangelho.
Muhammed, no entanto, era um homem, o Cristo estava acima da condição humana...

Efectuando diminuta pausa, prosseguiu:
- Estou informado de que vocês quatro se encontraram, no Brasil, vinculados a um Movimento de restauração do Evangelho de Jesus em sua mais completa pureza.
A água da fonte jorra sempre cristalina da nascente, são os que dela se abeiraram, com o fito de saciar a sede, que, por vezes, a conspurcam...

O terrorista muçulmano não é diferente do terrorista cristão.
As maiores e mais sanguinolentas guerras da Humanidade foram, paradoxalmente, deflagradas pelos seguidores do Divino Crucificado!

Não raro, os que mais sabem do perdão são os que menos o exercem.
Acautelem-se para que não venham acometer o mesmos equívocos que cometeram promissores movimentos religiosos da Humanidade.
O maior problema do homem reside dentro dele mesmo!

E, continuando a me olhar, acentuou:
- Não se preocupe, Senhor Inácio...
A reencarnação é Lei Universal e, embora de forma velada, o próprio Corão a ensina.

Milhões e milhões – para servir-me da terminologia a que estão acostumados empregar -, reencarnam e desencarnam, todos os dias na mais completa inconsciência...

O amadurecimento psíquico é trabalho para séculos e séculos incontáveis.
Não tenhamos a pressa que Deus não tem!
O rio corre para o mar, sem que nenhum obstáculo o impeça de alcançá-lo no curso incessante do tempo.

Amir, ao terminar de falar, ergueu-se e, tomando Jamile nos braços, depositou-lhe um ósculo na fronte e pronunciou palavras que, sinceramente, eu não lograria traduzir com fidelidade.
Devolvendo-a, em seguida, a Odilon, cumprimentou Adroaldo e Manoel Roberto que, como sempre, se mantiveram em silêncio.

Ao apertar-me a mão, o patriarca cuja figura me inspirava profunda reverência, sorriu e gracejou:
- Quem sabe, meu caro Doutor, em sua próxima existência na Terra, o Senhor nos dê a honra de renascer por aqui, em nosso meio, para ensinar ao nosso povo o que já existe muita gente ensinando no Brasil...
O Senhor seria muito bem-vindo entre nós!

Devolvendo-lhe o gracejo, respondi:
- Agradeço-lhe o convite e prometo apreciá-lo um pouco mais adiante!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 31, 2014 8:37 pm

CAPÍTULO 27

De regresso do Sanatório, Odilon despediu-se e conduziu Jamile ao Liceu, a benemérita instituição que dirigia, orientando a formação de novos seareiros no campo da mediunidade; o Liceu, todavia, não se restringia a estudos alusivos à sensibilidade mediúnica:

O seu currículo, abrangente, compreendia as mais importantes áreas do Conhecimento:
História, Filosofia, Linguística, Física Moderna, Origem das Religiões...

- Assim que puder, voltarei – prometeu-me.
Cuidaremos do caso de Flávio...
Modesta, que nos aguardava a chegada, perguntou-me:

- E então, Inácio?...
O que de real existe nas notícias que nos tem chegado da Crosta em relação à guerra?

- Infelizmente – respondi -, ficam aquém da realidade...
O momento é de graves preocupações.
De maneira indirecta, são vários os países envolvidos no conflito e, ao que me parece – sem desejar ser pessimista -, ele se estenderá, colocando em risco o futuro da civilização...

- Será possível que os homens, seres tão minúsculos no contexto da Criação, tenham semelhante poder?
- Constituíram poderosíssimas armas de destruição e, sem dúvida, podem fazer com que o Planeta “voe pelos ares”...
Conforme sabemos, muitos se encontraram empenhados na paz – talvez, a maioria -, mas o poder permanece nas mãos de alguns poucos...

A decisão caberá ao Senhor, que nos respeita o livre-arbítrio.
Quem sou eu para questionar as Leis Divinas, mas, sinceramente, acho que o homem não se encontra preparado para gerir o próprio destino.

Tenho a impressão, Modesta, de que o homem está perdendo precocemente o medo da morte:
jovens soldados se expondo ao fogo das metralhas e outros amarrando bombas ao corpo em atitude suicida...
Sei que não estamos perdendo a “batalha”, mas confesso-lhe que, por vezes, é no que chego a pensar...

- O leme da embarcação planetária permanece nas mãos de Jesus, Inácio!
- Porque temos semelhante certeza é que não esmorecemos e nem haveremos de esmorecer na luta.
Não interprete mal as minhas palavras.

O inconsciente humano está recebendo a “informação” de que a morte não existe e o ser encarnado não está sabendo lidar com a ideia da imortalidade – eis o que quero dizer, quando afirmo que o homem está perdendo precocemente o medo da morte...

Continua falando em Inferno e Paraíso, porém não mais acredita neles!
Pratica de modo formal as mais diversas religiões, sem se interessar por sua essência filosófica...

É uma coisa estranha:
Parece-me saber que viverá para sempre e não tem pressa alguma em atingir a Perfeição!
Para ele, entrar e sair do corpo está deixando de ser um momento solene, de suma transcendência.

- Aliás, Inácio, já vínhamos detectando o problema, não é?
Jovens sem perspectiva em relação ao futuro, que se entregam às drogas, à velocidade, aos prazeres, comprometendo-se na experiência física... ?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 31, 2014 8:37 pm

Quantos têm empreendido mais cedo a viagem de volta?
Nunca, na História da Humanidade, o número de óbitos foi tão elevado entre os jovens.
Não se preocupam com a saúde, não se resguardam – dizem que querem aproveitar o momento...

- Espiritualmente, Modesta, foram desamparados; as igrejas católicas estão vazias e os templos pentecostais não atraem os intelectualmente mais exigentes...
Por outro lado, a penetração do espiritismo entre os jovens ainda deixa a desejar: a ala conservadora espírita, extremamente ortodoxa, não está sabendo lidar com a juventude – está fazendo um Espiritismo de velhos!

Positivamente, o Movimento Espírita não tem se direccionado para a criança e o adolescente...
Preocupa-se mais com a mediunidade nos centros espíritas do que, por exemplo, com evangelização infanto-juvenil...

- O que não deixa de ser profundamente lamentável!
- - Os jovens estão pedindo socorro!
As drogas estão se difundindo com uma velocidade impressionante...

Os soldados que ficam batendo no Iraque estavam com o cérebro superexcitado, não posso dizer que estivessem sob o efeito de alguma droga ilegal, mas, quando se alimentavam, recebiam um complemento alimentar com base em vitaminas que os “encorajavam”...

Isso, evidentemente, sem levar em conta a doutrinação, verdadeira lavagem cerebral de seus superiores que permaneciam, tranquilos, nas casernas, enquanto os subordinados saíam para morrer no campo de batalha...

- A questão das drogas é uma ameaça mais grave do que a guerra para o futuro da Humanidade!
- Sem dúvida, Modesta.
Sabemos, por exemplo, que, deste Outro Lado da Vida, o problema continua...
Odilon já conversou comigo a respeito do assunto e temos elementos para afirmar que, na actualidade, a disseminação das drogas entre a juventude é o principal objectivo dos espíritos que se opõem aos propósitos do Evangelho no mundo.

Muitos traficantes continuam operando depois da morte...
Temos notícias de que, nas vizinhanças da Crosta, existem maus cientistas desencarnados trabalhando na composição de novos produtos químicos que em breve, serão conhecidos pelos homens.

Praticamente, uma geração inteira, ou mais, se encontra comprometida pelo uso de drogas, quanto me refiro às drogas, é evidente que incluo em primeira escala o álcool e o tabaco, através dos quais os jovens dão o seu primeiro passo rumo à derrocada.

Lamento, Modesta, mas lamento profundamente, como ex-fumante, o mau exemplo que dei!
Você sabe quanto padeci para me ver livre do vício.
É evidente que existem vícios mais comprometedores para o espírito, no entanto...

- Inácio – solicitou-me a companheira - voltemos a falar sobre a juventude que, com as excepções de praxe, vivem sem perspectivas espirituais...
- A ressalva é válida, Modesta.
Existem, sim, milhares de jovens idealistas, que estudam e que trabalham – jovens que se preocupam com o Amanhã!

Quantos deles não tem se dedicado às obras de solidariedade entre os homens?!
Graças a Deus, não nos faltam espíritos corporificados na Terra, exemplificando a renúncia e a abnegação desde os alvores da mocidade, constitui-se em promissoras sementes de luz para o porvir da Humanidade!...

Estão emergindo, notadamente, das camadas sociais mais sofridas, aprendendo a conquistar o seu espaço com esforço digno e suor honesto, muitos deles pouco ou nada ficam a dever à mocidade cristã dos tempos primitivos – são moças e rapazes que nos comovem profundamente, pelo seu anónimo heroísmo na resistência contra os arrastamentos deste século e as facilidades que fazem perder os espíritos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 31, 2014 8:37 pm

E prosseguiu, após a pausa que se fez natural:
- Os jovens sem perspectivas diante da vida, aos quais nos referimos, são espíritos imaturos que, invigilantes, tombam, vitimados pela obsessão...
É, deveras, impressionante, o número de desencarnados que vive na condição de comensais dos seres encarnados, o vampirismo espiritual é uma calamidade!...

De modo subtil, esses espíritos obsessores sussurraram aos ouvidos dos jovens que lhe oferecem sintonia:
“Aproveitem ao máximo”, “o corpo físico é mero instrumento do prazer”, “não tenham receio da morte”, “o espírito tem a Eternidade ao seu dispor”, “não se preocupem em adquirir virtudes apressadamente”, “desfrutem da oportunidade”, “o tempo no mundo passa depressa”...

E, médiuns que todos somos, eles registam os negativos apelos dos espíritos que se frustraram no caminho da Evolução, e atendem-lhes o alvitre:
não investem, espiritualmente, no próprio futuro, varam as madrugadas participando de festas e dormem durante todo o dia – quando estão “acordados”, alienam-se no prazer; quando dormem, alienam-se da realidade a que foram chamados a viver no contacto social...

- Inácio, é terrível!
- Por esta razão, Modesta, muitos espíritos têm recuado diante da necessidade de renascer no Planeta:
estão à espera de melhores tempos...

- Os tempos sempre foram assimilados por dificuldades específicas...
- Concordo, no entanto os actuais se caracterizam por mais numerosos e diversificados perigos de queda para o espírito, mormente para aquele que ainda não conseguiu fortalecer o suficiente a vontade de eleger prioridades com determinação...
Sem o Cristo como ponto de referência, fatalmente nós perderemos a jornada!

- Os homens, nossos irmãos, já que se encontram conscientes dessa verdade, necessitam trabalhar em dobro...
- Todavia, repito, sem Jesus a inspirá-los no funcionamento de suas instituições, fracassarão.

Quase todo homem, infelizmente, está tão-somente atento aos próprios interesses:
raros os que pensam nas gerações porvindouras ou até mesmo nos seus netos...
O homem que devasta uma floresta, em quem está pensando?
E o que polui os rios, o que envenena o ar?...

- Diante do exposto por você, como nosso trabalho, na condição de espíritos libertos, é limitado!...

- É limitado, Modesta, porque depende da receptividade mental dos encarnados, o que, convenhamos, é mais raro de se encontrar do que pepita de ouro no meio de cascalho... desprovidos de órgãos físicos, só nos resta o pensamento!
E, assim mesmo, existe gente espírita achando que nós, os mortos, cometemos ingerências demais no mundo dos vivos...

- Gente espírita, Inácio?...
- Diria, com maior propriedade, gente espiritada!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 31, 2014 8:37 pm

CAPÍTULO 28

Depois de alguns dias, Odilon retornou ao sanatório e começamos a conversar sobre o Movimento Espírita.

Novamente participando connosco de nossas reflexões em torno do assunto, estava o Dr. Wilson Ferreira de Melo.

- Tenho receio, Dr. Wilson – disse-lhe, no diálogo que, entre nós, se desdobrou -, de que nossos confrades, sem perceberem, elitizem o Movimento...
Há fortes indícios de que tal possa acontecer.
Sofremos tantas perseguições no passado que, agora, não sabemos o que fazer com a liberdade...

- O senhor tem razão, Doutor, e, igualmente, tenho me preocupado com os rumos que o nosso Movimento vem tomando; o excesso de personalismo é joio na seara...
Na minha opinião, o espiritismo não deve perder as suas características de simplicidade.

Está, sim, começando a haver um certo distanciamento do povo – do povo para o qual Ele veio!
Uma doutrina académica não nos interessa, Jesus ensinou o Evangelho nas praças públicas e, tanto quanto possível, falava em nível do entendimento popular...

- Somos a favor da realização de congressos, simpósios e encontros que objectivem o estudo e a maior divulgação dos nosso postulados, todavia, esses conclaves devem ser organizados para ensejar oportunidade de participação a maior número possível de interessados: nada de realizá-los em hotéis de luxo, estipulando taxas de inscrição inacessíveis ao bolso da maioria....

A sua advertência é justa e oportuna: o Espiritismo não deve se academizar!

- A doutrina cresceu e continua crescendo na periferia...
Não somos contra associações que congregam profissionais espíritas que actuam nas mais diversas áreas do Conhecimento: posicionamo-nos contrário à elitização que pode advir da falta de vigilância e do isolacionismo...

Foram os operários que, primeiro, abraçaram o Espiritismo que, depois, fez adeptos entre os considerados mais cultos.
Devemos reunirmos para traçar planos de acção, e não para discutir interminavelmente assuntos de menor importância.

- É desnecessário dispêndio de energia – aduzi -: os espíritas têm polemizado demais e agido de menos!
Antigamente, não era assim.
Éramos combinados e nos uníamos: hoje, livres de tantas perseguições dos adversários da Causa, estamos nos dando ao luxo de contender internamente...

Para mim, falando sem rodeios, é falta do que fazer.
Os que se consideram intelectuais da Doutrina relegam ao esquecimento um de seus preconceitos básicos: a Caridade!

- Está na moda dizer que caridade é assistencialismo...
- A palavra assistencialismo soa-me estranho aos ouvidos!
- Aos meus também, Doutor, principalmente partindo da boca dos que se dizem espíritas.
Para mim, trata-se de mais uma urdidura das Trevas...

- Não devemos, é claro, lançar a culpa de tudo sobre os inimigos desencarnados da Doutrina, mas, em semelhante mister, concordo com o senhor: as Trevas agem com subtileza e competência e, ao que estamos informados, existem gente condenando, inclusive, o trabalho da sopa fraterna mantido pelas casas espíritas...

- Assim a distribuição de pães, de agasalhos, medicamentos...
- Até o passe espírita vem merecendo; a água fluidificada, ou magnetizada...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 31, 2014 8:38 pm

- As reuniões de desobsessão...
- Estão mesmo a fim de imobilizar o trabalho, através do qual, a par da excelência de sua Mensagem, o Espiritismo conquistou credibilidade...
- Neste sentido, meu caro Dr. Inácio, louve-se, uma vez mais, abençoada tarefa que o médium Chico Xavier cumpriu entre os homens!

- Sem dúvida, foi um dos maiores méritos:
manter a Doutrina vinculada ao Evangelho do Cristo!
Recordo-me de que interpretando o Mundo Espiritual, ele nos advertia quanto aos que pretendiam tirar Jesus do Espiritismo!...

- Pretendiam e pretendem! Os que combatem o seu aspecto religioso não querem outra coisa...
- Partir-lhe a espinha dorsal...
- É reduzi-lo a uma filosofia sem expressão, posto que, sem as suas consequências de ordem moral, o que se torna adepto não se sente comprometido com a própria renovação...

- Quem encerra toda a essência da Terceira Revelação! Conhecimento sem compromisso é teoria vazia de substância.
- Um corpo sem alma!
O espírita está no Espiritismo para se fazer cristão.
Não é uma afirmativa redundante; aliás, na finalidade de se conhecer a Verdade é a de se chegar ao Amor!...

- De maneira geral – é, aqui, muitos de nós, espíritas, nos achamos incluídos - o homem rotula a humanidade e a indulgência, renuncia e a compreensão de virtudes piegas, ultrapassadas, não consentâneas com a modernidade dos tempos...
- E não adianta querer aprender a ler, fugindo ao abecedário!
- Queremos edificar sobre a areia...

- A casa vai ruir-se!...
- Como tem ruído, Dr. Wilson...
Vejamos a situação em que o mundo se encontra: conhecimento não falta, mas falta Amor, falta Evangelho...

- Em suma: falta o Cristo no coração!
- O Espiritismo é uma doutrina completa, que alguns supostos adeptos querem esfacelar...
Precisamos acordar.
O Espiritismo verdadeiro é o que é praticado nos centros espíritas!

- No difícil quotidiano das casas espíritas, diga-se de passagem.
Do fortalecimento dos núcleos espíritas e de sua melhor adequação depende o futuro da Doutrina, no que tange à sua divulgação e ao papel espiritual que lhe cabe no contexto da História.

- Os movimentos unificacionistas e as federações carecem de se voltar com maior atenção para os centros espíritas, que, a bem da verdade, vêm abrindo as suas portas precariamente.

- Heroicamente!...
- Sem dúvida, pois os grupos espíritas não têm sido frequentados pelos que se julgam a elite do Movimento, que crêem já ter superado esta fase...

- De que fase, Dr. Inácio?
Para não cair na fascinação, quanto mais conhecedor da Doutrina, mais tem necessidade o seu adepto de se vincular às actividades consideradas primárias.

O espírita não empresta a sua colaboração directa a um templo espírita não conhece o espírito da Doutrina.
Eu mesmo, até hoje lamento não ter sido mais constante nas tarefas doutrinárias de base.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 31, 2014 8:38 pm

- Acredite que não é só você!...

Odilon, que nos acompanhava o diálogo com interesse, começou a falar:
- Todos temos as nossas falhas pessoais, que se reflectem em tudo quanto fazemos.
O espírita é um ser humano repleto de fragilidades.
O problema é que, com certa frequência, ele se esquece de tal realidade:
julga-se um missionário e se despensa do esforço diuturno de melhorar...

Não é fácil modificar hábitos.
Egressos de outras religiões, chegamos ao Espiritismo com determinadas concepções que, durante bom tempo, nos impedem de assimilar as novas ideias, modificando conceitos e posturas.
Não se coloca remendo de pano novo em pano velho – frisou-nos Jesus.

A luta do espírita é uma luta consciente.
Quem melhor se conhece sabe quanto lhe falta compreender, em termos de renovação íntima.
Por esse motivo, o espírita esclarecido não abre mão da oportunidade de ser mais útil e combate em si mesmo toda inclinação da natureza infeliz.

Se tem o dever de ocupar a tribuna, não se recusa a transpirar na tarefa assistencial que a disciplina, se é chamado ao exercício de mediunidade ostensiva, no trato com os desencarnados, não foge igualmente de exercê-la junto aos irmãos encarnados; despe-se de toda a vaidade e personalismo e, assim, não alimenta perigosas ilusões a respeito de seus predicados, jamais se considera um ser privilegiado e não reivindica direitos em detrimento dos seus deveres...

Sem que ousássemos interrompê-lo, o Instrutor continuou:
- o espírita que se elitiza está sobre o fascínio do passado...

As maiores expressões espirituais do nosso Movimento, dentre os quais destacamos Bezerra de Meneses, Eurípedes Barsanulfo, Batuira, Cairbar Schutel, Chico Xavier, Anália Franco, Aura Celeste, Benedita Fernandes e tantas outras, levaram o Espiritismo para o meio do povo e se notabilizaram pelas obras sociais que desenvolveram, foram simples e humildes, pregando mais pelo exemplo do que pela palavra!

Tivemos muitos outros companheiros e irmãs de ideal que se notabilizaram na convivência de nossos postulados, todavia, caso fôssemos citá-los, cometeríamos lapsos imperdoáveis.

Interessante é que, na memória das pessoas, os intelectuais jazem praticamente esquecidos, porque, talvez, não tivessem tido tempo para lhes enxugar as lágrimas...

A Humanidade não deve mais, por exemplo, a Einstein que a Francisco de Assis a Freud que a Gandhi!...

Quando houver necessidade de se apresentar publicamente, a Mensagem Espírita, através dos seus representantes, deve fazê-lo com a simplicidade a que caracteriza: nada de formalismo ou de extensos currículos de seus titulados adeptos, nada de coleccionar homenagens e sumariar elogios, qual se a Doutrina disso necessitasse para se engrandecer, nada, enfim, que nos coloque pessoalmente em evidência ou soe como incentivo à vaidade ou, ainda, como desrespeito àqueles que não são convidados para compor a mesa de solenidades doutrinárias, o que, na maioria das vezes, não passa de disfarçado exercício de personalismo...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 31, 2014 8:38 pm

CAPÍTULO 29

- Tenho, meu caro Odilon – disse o Dr. Wilson -, me preocupado com a juventude espírita; na minha opinião, os companheiros que se sintam à frente do Movimento deveriam dedicar maior atenção aos jovens que, a bem da verdade, não vêm encontrando espaço para actuar em seus grupos doutrinários...

Raras são as casas que têm incentivado os moços e moças espíritas, apoiando-lhes as iniciativas enobrecedoras.

- Estou de acordo – disse, antes que o Instrutor se manifestasse a respeito -; nos mais antigos da Doutrina parecem ficar enciumados dos mais jovens...
Muitos centros espíritas não dedicam à mocidade a atenção que deveriam, para a formação de novos seareiros.
Preocupam-se em excesso com as reuniões mediúnicas e opõem resistência às iniciativas da juventude, que, não raro, são vistas como ameaça ao equilíbrio do grupo.

Falta bom senso e visão de futuro!
Os jovens da actualidade serão os herdeiros naturais da tarefa e necessitam ser preparados, para a responsabilidade que lhes pesará sobre os ombros.

Graças a Deus, deste equívoco estou livre, pois, quando no corpo, fui um incentivador da Mocidade Espírita e fiz o possível para unir os seus integrantes, com os quais, aliás, eu sempre tinha algo a aprender.

Respondendo ao Dr. Wilson, Odilon considerou:
- Estamos vivendo dias difíceis na Terra, os apelos à diversão e ao cultivo do prazer estão em cada esquina...

O Movimento Espírita, de facto, está vivenciando uma crise:
os jovens de pais espíritas, com excepções de praxe, não têm dado continuidade ao esforço na tarefa.

Todavia o assunto demanda análise mais acurada. Infelizmente, poucos são os lares espíritas que, por exemplo, levam adiante a realização do Culto do Evangelho, neste sentido, os progenitores têm feito perigosas concessões às crianças e adolescentes, consentindo que eles não participem do seu indispensável momento de oração familiar:
o pretexto de liberdade religiosa ou de suposta ojeriza ao fanatismo, relaxam na disciplina e não fazem questão de que os filhos estejam presentes quando, uma vez por semana, se reúnem em torno do Evangelho...

- Desculpe-me, Odilon – aparteei - quando efectivamente se reúnem, pois, na maioria das vezes, se julgam dispensados de semelhante iniciativa, alegando que já oram em demasia no centro e que, portanto, os Benfeitores Espirituais lhe devem o mínimo de cobertura...

- O Dr. Inácio tem razão – considerou o Dr. Wilson Ferreira de Melo - os nossos irmãos de ideal (espero que não me tomem a palavra por crítica, mas, sim, por fraterna advertência) efectuam campanhas alusivas ao Culto do Evangelho no Lar, no entanto eles mesmos não se sentem no dever de realizá-lo...

- Ora, Doutor, sejamos mais directos:
pregam para os outros, em prejuízo de si mesmos!
Há espírita convencido de que já fez muito...

Nós estamos aqui, deste Outro Lado, sentindo-nos frustrados, porque tivemos oportunidade de fazer mais e não conseguimos nos superar.
E, em nosso tempo, não existia televisão, as boates e os clubes eram escassos, festas mais ainda, porque dinheiro no bolso ninguém tinha; no máximo, era o cinema com a namorada no fim de semana ou uma taça de sorvete...

- A questão, meus amigos – ponderou Odilon - começa com o descaso dos dirigentes espíritas no que se refere à evangelização infanto-juvenil, as nossas crianças e adolescentes não têm o incentivo de frequentar a casa espírita e, consequentemente, não são educados à luz da Doutrina...
Os evangelizadores não têm o apoio de que necessitam para levarem adiante a sublime empreitada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 31, 2014 8:38 pm

- Com relação à evangelização infanto-juvenil – emendou o Dr. Wilson -, o descaso é significativo: pouco ou quase nada se investe neste sentido!...
- Mais que significativo, o descaso é tremendo! – Enfatizei.
Lembro-me de que as nossas irmãs evangelizadoras, verdadeiras heroínas da educação espírita, me procuraram pedindo material didáctico...

A directoria do centro não queria nem saber e achava que fazia muito em conceder-lhes um espaço, no fim da tarde de sábado, para se reunirem com as crianças.

Lanche para os meninos, guloseimas e doces?
As pobrezinhas tinham que se virar para conseguir algumas balinhas, no intuito de agradar os meninos, na esperança de que eles voltassem na semana seguinte, se não pelas aulas em si, mas, pelo menos, por causa das balas...

O Mentor, sorrindo do meu jeito de expor o problema, retomou a palavra, explicando:
- Inácio, neste sentido não era tão-somente descaso: os centros espíritas sempre lutaram com reais dificuldades para se manterem, hoje é que a coisa, do ponto de vista económico, melhorou um pouco...
Muitas casas funcionavam à luz de lampião, porque não conseguiam numerário suficiente para instalar energia eléctrica.

Deixemos, no entanto, estes aspecto de lado e detenhamo-nos no mais importante: a evangelização infanto-juvenil e a juventude espírita, que, de certa maneira, estão sendo esquecidas pelo Movimento.
Não podemos restringir o Movimento Espírita aos adultos, sob pena de criarmos um vácuo doutrinário impreenchível e comprometermos o futuro.

E o mais grave: os pais espíritas estão falhando na missão que lhes foi confiada, junto aos espíritos que receberam na condição de filhos na presente encarnação!
Sem dúvida, conforme tivemos oportunidade de destacar, o mundo hoje oferece n opções para o jovem se distrair e se omitir espiritualmente...

- Os pais têm sido demasiadamente coniventes – esta que é a verdade, Odilon, crianças a partir de 6, 7 anos de idade estão mandando dentro de casa... é um absurdo sem precedentes!
A televisão e o computador estão despertando a mente infantil do sono do esquecimento muito mais cedo...
Os meninos retomam o património do passado e querem revivê-lo no presente.

A educação necessita se antecipar...
Não sou favorável à pedagogia da vara de marmelo, mas sou pela disciplina: os filhos têm que obedecer aos pais, e nada de avós ou tios interferindo.

Como é que vamos ficar ante a questão das drogas?...
Hoje, a escola é o seu principal foco de disseminação.

- Doutor – interveio o Dr. Wilson - o senhor tocou num assunto que vem destruindo a juventude, prova da qual nem mesmo os pais espíritas têm se isentado...
- Prova voluntária! – exclamei.
Nem tudo é consequência do pretérito; a questão das drogas é mais uma leviandade do presente...
Existe a acção de espíritos obsessores?

É lógico que existe, mas é uma acção consentida.
O joio se alastra onde encontre campo desguarnecido...
A raiz do problema e a desestruturação familiar!

- O homem ainda não está preparado para tanta liberdade – falou Odilon.
Vejamos como, em síntese, tudo é devido à falta de Evangelho no coração.
Do ponto de vista espiritual, o homem está desnorteado; desamparado pelas religiões tradicionais, mantém a fé por conveniência...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 01, 2014 8:13 pm

A Ciência avançou muito e a Religião não acompanhou as exigências da Razão.
Por esse motivo, observamos o fenómeno das chamadas religiões pentecostais ocupando o espaço que, antes, pertencia à Igreja, com seu discurso imediatista e o seu fanatismo, o novo pentecostalismo vem fazendo milhões de adeptos, mormente entre os mais desesperançosos e os que a ele tem aderido por interesses que, agora, não nos compete analisar.

O Espiritismo, digamos, vem correndo paralelamente, visto que, infelizmente, poucos são os que se encontram maduros para aceitá-lo.
O homem ainda não abdicou da ideia de um Céu fácil...

Já o Espiritismo conscientiza e impõe responsabilidades.
Assim mesmo, dentro da Doutrina, vamos nos deparar com companheiros que insistem em adaptar a Verdade às sua convicções de ordem pessoal.

Efectuando ligeira pausa, o Benfeitor acrescentou:
- Apenas e tão-somente o conhecimento da Reencarnação poderá redimir o homem, porque torná-lo-á responsável por si mesmo!

- Mas é justamente, Odilon, o que o homem não quer – argumentei.
É muito mais cómoda a ideia de que um Deus que nos salva que de um Deus que nos deixa à mercê do próprio esforço ascensional.

Eis a razão do sucesso do discurso das igrejas evangélicas:
prometem solucionar problemas, curar doenças, dar emprego ao desempregado, afastar a influência do suposto Demónio, e isto tudo já, por simples obra da fé, ninguém carece de verter uma gota de suor para tanto, mas apenas, é claro, colaborar com o dízimo, pois, sem ele, nada de orações especiais ou algum tipo de deferência divina...

- No entanto, Doutor – ponderou o nosso caro confrade Dr. Wilson - mais cedo ou mais tarde, o espírito amadurecerá o entendimento e voltará a experimentar grande sensação de vazio interior.
Ninguém se furta ao confronto consigo mesmo!
O senhor sabe: existem cardápios e cardápios...

Um pedaço de pão mata a fome, mas, quando o paladar se torna mais exigente...
A fé se tornará cada vez mais racional e, neste sentido, não há doutrina capaz de competir com os postulados espíritas.

O espírito, pelas indefectíveis leis da Evolução, está submetido a irreversível processo de maturação psíquica:
para quem atinge a maior idade espiritual, não há mais retrocesso!

- Sabemos que assim é, todavia quanto tempo a Humanidade ainda haverá de esperar! – Lamentei.
- Inácio, retrucou Odilon - se analisarmos bem, verificaremos que tudo se prepara para o Grande Amanhã!

Reparando no monturo, quem será capaz de dizer que dele a semente despontará em breve?
Enquanto não entra em estado de erupção, sucessivas vezes, o vulcão não se extingue!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 01, 2014 8:13 pm

CAPÍTULO 30

- Voltemos a considerar a questão das drogas – observou o Mentor – que, infelizmente, não vem merecendo das autoridades constituídas o devido empenho no seu combate.
Ao continuarem se alastrando, comprometendo gerações, não sabemos como há de ser o futuro da Humanidade.

Trata-se de um problema social dos mais graves.
A indiferença dos governantes e das pessoas em geral, em todo o mundo, tem ensejado que os traficantes se organizem...

- Há muito dinheiro envolvido, muita corrupção – considerei.
- Sem dúvida, todavia medidas enérgicas carecem de ser tomadas; os homens de bem carecem de se mobilizar, pois, caso contrário...

- Na minha opinião, está passando da hora; milhares de jovens têm sido vítimas de semelhante processo de vampirização...

- Os traficantes profissionais, Inácio, são espíritos obsessores reencarnados; foram do Mundo Espiritual para a Terra com o propósito de disseminar o vício, impedindo que os espíritos dêem sequência ao seu esforço de evolução – no fundo, trata-se de oposição declarada ao Evangelho...

Nunca, na História da Humanidade, houve uma guerra que vitimasse tanta gente!
Milhares e milhares tombam todos os dias, rendendo-se ao uso da maconha, da cocaína, a heroína e de outros opiáceos que vêm sendo desenvolvidos nos laboratórios das Trevas...

AS drogas afectam a máquina cerebral e, em consequência, anulam a capacidade discernir – o espírito, então, passa a ser duplo prisioneiro da matéria: além das limitações naturais que o corpo lhe impõe, sente-se constrangido a viver para atender aos reclamos do vício!
A droga, por assim dizer, provoca uma subjugação d natureza física e moral – é o que, verdadeiramente, chamaríamos de possessão!
A droga é a obsessão que penetra pelas veias e narinas de suas vítimas, entranhando-se profundamente.
Um único viciado no grupo familiar é suficiente para transtornar todos seus integrantes e, indirectamente, envolvê-los.

- O assunto, em verdade, é demasiadamente complexo – comentou o Dr. Wilson -; a situação dos que chegam deste Outro Lado vítimas de overdose é lastimável!
Temos socorrido jovens em tal situação, que requisitam ser isolados em celas especiais, por tempo indeterminado; o uso contínuo de drogas cria uma dependência que não cessa com a morte...

O nosso Dr. Adroaldo Modesto Gil vem se dedicando ao tratamento dos que desencarnam na condição de espíritos suicidas, porque se entregam completamente ao vício.

Seria interessante que pudéssemos ouvi-lo com a experiência que vem acumulando; por exemplo, ele me diz que não é fácil dialogar com os que deixam o corpo “possuídos” pelo vício das drogas...

Como se, telepaticamente, tivesse sido convidado a participar de uma reunião informal que realizávamos, Adroaldo apareceu e, inteirando-se do tema que abordávamos, discorreu com propriedade:

- Um viciado de muitos anos não se descondiciona com facilidade, tenho a impressão de que a química da droga altera a química do cérebro, ocasionando certas mutações que a ciência do mundo ainda não detectou...
A droga é um vírus mutante!
É impressionante o seu poder de modificar a personalidade...

Os jovens desencarnados com os quais tenho conversado parecem não me escutar: alienam-se quase por completo e estou convencido de que somente a terapêutica da reencarnação poderá auxiliá-los de modo mais efectivo, todavia, inevitavelmente – refiro-me à maioria -, renascerão com tendências que, se não combatidas desde a infância, os induzirão a repetir a desastrosa experiência...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 01, 2014 8:14 pm

Tenho catalogados diversos espíritos que, por seguidas encarnações foram drogados!!

Começaram bebendo e, simplesmente, fumando, aprofundando-se, após, no uso de outros produtos tóxicos, inclusive de
medicamentos que circulam livremente no mercado:
anti-depressivos, anti-alucinógenos, analgésicos derivados da morfina...

- Existem organizações de espíritos desencarnados que se dedicam com exclusividade à disseminação das drogas entre a juventude – revelou Odilon.
- Como?! – Perguntei, estupefacto.
Organizações assim por aqui?
E o que tem sido feito para combatê-las?...

- O possível, Inácio – respondeu-me o Instrutor -, no entanto as dificuldades que enfrentamos não são menores das que enfrentam os nossos irmãos que lhes dão combate na Terra.
Essas organizações situam-se nas mais baixas regiões do Mundo Espiritual e não são de fácil acesso.

O Mal sabe se defender e se preservar...
A insanidade, conforme você não ignora, está em toda parte:
existem químicos desencarnados que, a serviço de inteligências perversas, desenvolvem pesquisas laboratoriais, na tentativa de potencializar a acção de drogas já conhecidas e descobrir novos agentes tóxicos, para inspirá-los à indústria do crime...

- Seria possível que tentássemos uma aproximação, mesmo que rápida, num desses “laboratórios”? – Questionei.
- Sim, com a devida cautela – exclamou Odilon.
Estamos informados de que, a certa distância daqui, um grupo vem se reunindo e produzindo drogas em larga escala, inclusive comercializando-as com entidades que ainda não lograram ser amparadas depois da morte – espíritos que, por diversos motivos, não se recolheram a nenhuma de nossas instituições de tratamento.

- Como, então, exigirmos uma atitude das autoridades encarnadas, concernente ao combate às drogas, se nós mesmos não agimos?...
- Não é bem assim, Inácio; o nosso contingente é pequeno...
Numa floresta, existem áreas impenetráveis aos raios do Sol!

Os nossos hospitais estão repletos e as nossas escolas funcionando no limite.
Você sabe que, infelizmente, a indiferença é também uma realidade na Vida de além-túmulo.

Não basta ser espírito para se importar...
Muitos deixam o corpo e continuam gravitando em torno dos próprios interesses.

Tomando a palavra, o Dr. Wilson explicou:
- A questão não é tão simples:
o tráfico de drogas é alimentado dos Dois Lados da Vida e, de certa forma, funciona em sintonia...

- Inacreditável! – Comentei, indignado.
- Mas é a realidade – prosseguiu o Dr. Wilson - os que deixam o corpo não se regeneram de imediato e nem sofrem as consequências de seus desmandos, com a rapidez que imaginamos...
- Quer dizer que os traficantes que morrem não vão para as trevas?...

- Vão, muitos deles para continuarem traficando...
- Até quando?...
- Até que comecem a sofrer; que se arrependam; que se cansem de fazer o mal; que reencarnem em circunstâncias adversas, de verdugos passando a vítimas...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 01, 2014 8:14 pm

- Para quem espera por justiça, não é nada consolador... – redargui, reticente.
- Inácio – pontificou Odilon -, se a morte fosse solução para todos os problemas humanos, solucioná-los não seria tão complexo assim.
- E a Lei de Retorno?
Não funciona?...

- Sim e sempre, porém no seu devido tempo.
Compreendamos, de uma vez por todas, que a violência não consta da Lei Divina.
No fundo, tudo se nos constitui em necessário aprendizado e o mal, quando extrapola – e extrapola inevitavelmente - acaba se mostrando com a finalidade de ser erradicado. O Mal será sempre uma excrescência!

- Odilon, já que estamos no assunto, perguntaria: os policiais deste Outro Lado prosseguem com as suas investigações e diligências?
- Como não?! Todavia não nos convém, por enquanto, entrar em maiores detalhes.
Digo-lhes, com a finalidade de que você informe aos nossos irmãos encarnados, que os policiais sérios, mormente os que pereceram em serviço, continuam se dedicando ao cumprimento da lei...

Juízes assassinados, delegados, promotores, advogados, enfim todos os que se sacrificaram pela justiça, graduados ou não, não esmorecem no combate à criminalidade e seguem caçando os infractores.

- Amanhã mesmo, Doutor – disse Adroaldo - receberemos a visita de um companheiro que foi morto por traficantes na cidade de São Paulo, ele era policial e foi vítima de uma emboscada quando estava prestes a desvendar a acção de uma quadrilha que, inclusive, corrompera alguns de seus subalternos...

- Solicitaremos, então, Adroaldo – falou o acatado Mentor -, que, se possível, ele nos acompanhe à excursão que pretendemos realizar a pedido de Inácio.
- Tenho certeza de que ele se disporá a nos acompanhar de boa vontade:
Elpídio é um amigo de extrema confiança.

- Odilon – indaguei uma vez mais ao Mentor -, na sua opinião, o que deveria ser feito no combate efectivo às drogas?
- A curto prazo, sanear os poderes constituídos moral e intelectualmente, pois a questão do tráfico e da corrupção é também um problema cultural que, em essência, é de origem espiritual; a médio e longo prazo, efectuar um trabalho de recuperação da família e, neste sentido, a escola carece de passar por uma transformação radical.

- O Brasil agora, pelo menos teoricamente, possui um governo social – ponderei.
- Não importa a natureza do governo e, sim, o comprometimento moral e o idealismo dos que o constituem. Infelizmente, no mundo todo, o que se vê é muita teoria e pouca acção; enquanto os interesses pessoais falarem mais alto que os interesses da colectividade...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 01, 2014 8:14 pm

CAPÍTULO 31

- Enquanto o homem – prosseguiu Odilon – não se inspirar no Evangelho para tomar as suas decisões, o egoísmo falará mais alto e a civilização sempre estará em risco.
Por esse motivo, Inácio, não podemos esmorecer.
A Religião vem sendo relegada a plano secundário.

Há, entre os homens, um pensamento de que a fé religiosa é algo alienante...
De facto, os interesses dos espírito e os que dizem respeito à vida material são inconciliáveis.
Sem que a criatura encarnada se desapegue do que é transitório, não terá olhos para os valores imutáveis da Criação Divina.

O Mentor estava com a razão: infelizmente, o homem havia reduzido o Evangelho a simples moldura de uma tela que retrata a paisagem ideal, a Religião, para a maioria, não passava de formalidade e Jesus Cristo se transformara em mito...

O papel do Espiritismo, na revivescência do Cristianismo, tornava-se essencial para o futuro da Humanidade, no entanto espíritas não me pareciam compenetrados de tal realidade.
Despedimo-nos.

No outro dia, pela manhã, Adroaldo veio ter connosco na companhia de Elpídio, um moço simpático e sorridente que logo nos conquistou pela sua simplicidade.

Após nos ter sido apresentado, o detective desencarnado sumariou a sua história:
- Eu estava investigando ramificações do tráfico da Colômbia no Brasil, aliado ao roubo de cargas transportadas por caminhão que aconteciam e ainda acontecem nas imediações de Campinas...
Fui vítima de uma emboscada que, segundo estou apurando, envolveram os meus dois companheiros, que, com certeza, foram subornados.

A situação é muito mais grave e complexa do que a própria imprensa imagina e tem divulgado:
políticos, ricos empresários e autoridades outras fazem parte do esquema que, à época, era liderado por Pablo Escobar.

- O que lhe aconteceu - Perguntei.
- Recebi um tiro de escopeta no peito...
Estávamos na Rodovia dos Bandeirantes, apurando a denúncia de que um caminhão transportando madeira escondia uma carga de muitos quilos de maconha e cocaína.

Dividimo-nos e eu fiquei sozinho, em determinado ponto estratégico, logo após um pedágio.
Quando avistei o caminhão suspeito e quis comunicar-me pelo rádio com os companheiros, percebi que o aparelho havia sido danificado, rapidamente, sem que eu nada pudesse fazer, aproximou-se uma moto e o encapuzado que estava na garupa disparou contra mim à queima-roupa...

Recebi o impacto do projéctil no peito; no entanto, embora aturdido, sem compreender exactamente o que se passava – eu não era espírita e pouco ou quase nada entendia de vida além da morte -, escutei os dois companheiros, que haviam retornado, conversando, simulando me socorrer:
- “é uma pena, mas ele não nos deixou alternativa...

Podíamos ter divido por três: cinquenta mil reais para cada um!...
Quantos meses teremos que trabalhar para perceber tal soma?
Elpídio era um bom sujeito, mas certinho demais para o meu gosto...
Jamais aceitaria uma proposta dessas!”
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 01, 2014 8:14 pm

- Durante meses – prosseguiu o investigador -, me entreguei ao desespero, pois, afinal de contas, além de estar noivo e de casamento marcado, éramos só eu e uma irmã doente: as despesas com os meus pais já idosos, e com a minha irmã eram feitas por mim...
Vocês poderão fazer uma ideia de como me senti e, por vezes – confesso-lhes -, me sinto.
Os meus progenitores ainda choram todos os dias e não têm sido fácil para mim controlar as emoções e o desejo de vingança.

Quando eu estava no auge da revolta, disposto a me aliar a certas entidades espirituais para fazer justiça com as próprias mãos, o meu avô paterno, Pedro, que tinha desencarnado havia mais de dez anos veio ao meu encontro e, gradativamente foi me convencendo do contrário.

É evidente, prezado leitor, que estamos nos servindo de nomes fictícios na narrativa em pauta, com o propósito de evitar comprometimentos para quem quer que seja.

De modo geral, o homem não dá valor ao depoimento de morto, mas, do jeito que as coisas andam, é possível que eu e o médium fôssemos chamados a depor e, antecipando-me, por mim e por ele, digo-lhes que nada mais sabemos do caso.

- Elpídio – explicou Adroaldo - eu e os nossos amigos, a título de alguns estudos que estamos realizando, pediríamos que você nos acompanhasse em uma região da Crosta onde estamos informados de que existe um grupo de traficantes fora do corpo...
Você se disporia?
- Perfeitamente – respondeu com solicitude -; cabe-me, porém, adverti-los quanto aos perigos...

- Desculpe-me a pergunta – aparteei -, mas se vocês sabem da actuação de grupos semelhantes, por que não agem?
Deste Outro Lado da Vida, a polícia conta com as mesmas limitações?
Por que não desmantelam a quadrilha e não prendem esses marginais?
Será possível que até aqui...

Sem deixar que eu concluísse, Odilon tomou a palavra e esclareceu:
- Inácio, compreendo a sua indignação, que também é nossa, mas as coisas não são tão simples assim...
Seria, de fato, óptimo se , depois da morte, tivéssemos vales de sofrimento à espera dos mais diversos infractores da lei – por certo que estaríamos em um deles! -, todavia não é assim.

Estivemos, há pouco no meio de uma guerra e, a rigor, o que pudemos fazer?
Conseguimos evitar que pelo menos um soldado deixasse de disparar a sua metralhadora?

- Mas aqui os espíritos são nossos iguais, Odilon!...
Eu não estou falando de influenciar encarnados...
Por exemplo, os nossos irmãos que souberem de nossas dificuldades deste Outro Lado, para fazer com que o Bem impere acima de quaisquer circunstâncias, ficarão desanimados.
Como é que eu vou transmitir a eles uma notícia dessas?

- Amenize...
- Seria faltar com a verdade, você não acha?
- E quem disse a você, Inácio, que a Verdade absoluta nos interessa?

Odilon, que me deixara sem argumentação com a sua derradeira resposta, observou:
- Conforme constataremos, esses nossos irmãos que se reúnem à margem da lei nas circunvizinhanças do Orbe, vivem em regiões quase inacessíveis e, depois, não nos cabe agir com violência, formam comunidades numerosas e nos enfrentariam, como os traficantes rechaçam os policiais que intentam prendê-los em seu habitat...

Não nos esqueçamos de que o assunto não é de nossa alçada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 01, 2014 8:15 pm

- Não estamos omissos, Doutor – ponderou o jovem delegado - temos, sim, logrado trancafiar em nossas penitenciárias marginais desencarnados de alta periculosidade...
Mesmo depois da morte, não é fácil equacionar certos problemas que, infelizmente, são alimentados mentalmente pelos nossos irmãos que vivem na Crosta.
Os desencarnados e os encarnados afins fortalecem-se de maneira recíproca.

- Inácio, repito:
a questão da justiça estaria resolvida se, ao deixar o corpo, o espírito se encaminhasse directamente para o lugar compatível com as suas acções...

Se não é assim no mundo, por que haveria de ser assim na Vida de além-túmulo?
Quantos espíritos delinquentes reencarnam em lares abastados, estudam em Universidades, possuem curso superior, falam diversos idiomas, desfrutam de invejável saúde?

Os de maior periculosidade, via de regra, são os mais inteligentes...
Por que, então, a Justiça Divina não os constrangeria a renascer em corpos mutilados e débeis?
Jovens robustos e belos, sob o aspecto físico, muitas vezes são espíritos portadores de terríveis deformidades morais.

O Dr. Wilson que circunspecto, até então não se pronunciara, tomou a palavra e disse:
- Definitivamente, o homem não faz ideia do que seja a Vida nas dimensões próximas da nossa casa planetária...

Eu mesmo esperava que fosse conduzido a uma região isenta de tantas lutas, não que me considerasse em condições espirituais que me habilitassem a tal, mas pela esperança de encontrar o mundo que sonhamos que a Terra venha a se transformar um dia.

O Orbe Terrestre e o Mundo Espiritual que, agora, é o nosso domicílio, assemelham-se a dois espelhos, um com a face voltada para o outro, projectando a realidade que lhes diz respeito.

A isto Adroaldo juntou:
- A melhora de um determina a melhora dou outro...
Sem que o indivíduo avance, a colectividade não avançará.

O esforço dos homens nos interessa directamente, no sentido de que as nossas próprias condições de vida, deste Outro Lado, se aperfeiçoem.

Enquanto houver gleba propícia, a erva daninha se alastrará...
E, de nossa parte, igualmente fazendo o possível, estaremos colaborando para que a pressão psíquica dos desencarnados diminua sobre os encarnados e a reencarnação dos espíritos, que necessitam retomar o corpo, aconteça de modo mais favorável.

Necessitamos, pois, de nos unir, conscientes de que um só espírito que vá ao mundo em melhor condição espiritual estenderá a sua benéfica influência a dezenas de outros.
A semente do Bem, em terreno fecundo, se propaga prodigiosamente! Não percamos as esperanças.
O Cristo começou sozinho e, hoje, os seus seguidores estão por toda parte.

Allan Kardec, nos primórdios da Codificação, não contava senão com alguns poucos companheiros que lhe secundaram o ideal...

Hoje, pela Graça Divina, contamos com inúmeras organizações doutrinárias incalculável contingente de seareiros de boa vontade dos Dois Lados da Vida!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 01, 2014 8:15 pm

CAPÍTULO 32

Guiados por Elpídio, demos início à nossa excursão ao domínio das Trevas, com a finalidade de observar a acção do tráfico de drogas no submundo da Vida além da morte.

Com a necessária cautela e a possível discrição, começamos a caminhar em direcção Crosta, sempre descendo à medida que seguíamos à frente.

Impossível descrever, com detalhes, tudo com que íamos nos deparando, pois, confesso, nem mesmo quando encarnado, jamais tivera oportunidade de visitar qualquer região semelhante:
o terreno se tornava cada vez mais acidentado e inacessível; urubus se agrupavam sob montões de lixo, e outras aves vulturinas, cuja espécie não me foi possível identificar, disputavam entre si os restos de alimentos deteriorados...

No percurso, deparamo-nos com o espírito de uma mulher que me causou extrema piedade.

Perambulando, com várias receitas médicas na mão, interpelou-nos com voz cadenciada:
- “Por caridade, um dinheiro para comprar remédios para minha cabeça...
Eu sou epiléptica e não posso trabalhar.
Por caridade, um dinheiro...”

Endereçando-lhe algumas palavras de conforto, Odilon prometeu que assim que possível, providenciaria para a infeliz irmã receber o tratamento necessário.

- “Eu já estou me tratando – respondeu - eu queria dinheiro para aviar estas receitas, pois sofro desmaios e não posso trabalhar...”
Quando nos distanciamos um pouco, o Instrutor explicou-nos:
- Trata-se de alguém que, infelizmente, de tanto faltar com a verdade para auferir vantagens económicas, explorando, em nome da Caridade, a boa-fé dos semelhantes, terminou, de facto, adoecendo...

Sugestionou-nos tanto à porta das casas bancárias onde pedia auxílio e nos semáforos, sensibilizando os motoristas com a história que inventou que despojando-se do corpo físico, passou a acreditar no que, para ela, durante muitos anos, não foi mais que um meio de vida...

- E agora? – Perguntei.
- Agora, Inácio, é candidata a tratamento de longo curso, sendo provável que conviva com as sequelas de sua imaginação doentia por um tempo que não podemos precisar.

Por detrás de um morro, onde sentíamos um estranho cheiro de fumaça, Elpídio esclareceu-nos:
- Deve ser um dos muitos grupos que, nas imediações, costuma fazer uso de maconha e de “crack”...

Caminhando mais um pouco, defrontamo-nos com um grupo de sete entidades que mal deram pela nossa presença, tal o estado de alienação em que se encontravam: quatro rapazes e três mulheres mais maduras manipulavam cachimbos improvisados e soltavam baforadas, pronunciando, semi-sonolentos, palavras desconexas...

- É o mais barato, cara!
Estou flutuando... Vejo anjos à minha volta...
Está tudo solto e leve!
Estou pirando... – Dizia um dos jovens que, certamente, se vitimara por overdose.

- É um transe legal!
Emendava a que me parecia a líder do grupo, incentivando os demais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 01, 2014 8:15 pm

– A droga é uma iniciação...
Tudo que é proibido é bom!
Cuca fresca, sem grilos...
Preciso conseguir mais, ainda hoje, Pô!

Um deles, ao nos avistar, aproximou-se, cambaleante, com o nariz sangrando:
- Olhem a turma de volta – disse, tentando chamar a atenção dos companheiros e confundindo-nos com fornecedores.
Dinheiro, não temos, mas podemos negociar...
O que vocês curtem?
Topamos qualquer parada e estamos a fim...

- Meu Deus! – Exclamei de lábios cerrados, profundamente consternado.
Quantos jovens em situação idêntica devem existir por aqui?...
Que noção eles possuem da Vida?

Será que não percebem que são imortais?
Por quanto tempo haverão de continuar assim?
Por onde andarão os responsáveis por eles?...

Inútil, no momento, qualquer tentativa de socorrê-los, pois, se quiséssemos ajudá-los, praticamente teríamos que conduzi-los à força para o hospital e, depois, onde haveríamos de colocá-los, se não contávamos com uma vaga sequer?...
Como haveríamos de recolher aquela gente toda?

- Não se angustie, Inácio – socorreu-me Odilon.
A Misericórdia Divina permanece atenta e, para cada um de nossos irmãos, chegará o instante de mudar, o amparo de que nos revelamos necessitados, sempre se encontra a caminho...
I
nfelizmente, o cálice em que eles continuam sorvendo o embriagante licor da ilusão ainda não transbordou!
Enveredando por uma trilha entre saliências rochosas, sem que, em toda a trajectória, sequer nos deparássemos com uma única flor, Elpídio recomendou-nos absoluto silêncio.

À nossa frente, a boca de uma caverna se escancarava e, observando se, por perto, não havia nenhuma sentinela a postos, convidou-nos a entrar.
O que vimos, então, foi de causar náuseas.

Numa espécie de amplo e penumbroso salão, uma verdadeira “festa de embalo” estava acontecendo: eram dezenas de entidades, em meio a sufocante fumaça, sacudindo o corpo quais espectros, ao som de música estridente que me feria os ouvidos...

Quase todos, homens e mulheres de todas as idades, estavam nos e simulavam actos libidinosos.
Seria aquilo uma dessas boates que diziam existir na Terra?
Não era possível...

Esgueirando-nos rente à parede rochosa, quando olhei para cima, exactamente sob a minha cabeça, pude ler a inscrição insculpida na pedra:
“Sodoma e Gomorra”!

Poupem-me, prezados leitores, de informações mais próximas da realidade, mesmo porque não desejo criar-lhes qualquer espécie vínculo mental com os quadros que presenciávamos.
O nosso intuito, guiados por Elpídio, era o de atravessar o salão e seguir por um corredor que, segundo ele, nos levaria a uma espécie de depósito, no qual os traficantes se abasteciam.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 01, 2014 8:15 pm

Ali, qualquer reacção de nossa parte, seria, no mínimo, imprudente.
Aquele local era uma pequena comunidade e, de acordo com o destemido policial que nos acompanhava, constituía-se de, aproximadamente, dez mil espíritos, que se espalhavam pelas imediações.

O número de habitantes de toda a região era quase de cinquenta mil!
E pasmem: todos vivendo em função do prazer, resumindo-se em antigo slogan – sexo, droga e rock and roll!

Todavia, avançando sorrateiramente mais alguns passos, fomos barrados por um segurança, um negro de mais de dois metros de altura, que, cobrindo-se apenas com uma tanga, nos indagou:
- o que vocês estão fazendo?
De onde vieram?
Ainda não se serviram?...

Aquele “ainda não se serviram” soou-me estranho aos ouvidos e compreendi que ele estava se referindo à droga por oferta da casa.

- Acabamos de chegar e estou mostrando o local a estes amigos – respondeu Elpídio.
Espero que não se importem...
E, em seguida, pronunciou algumas palavras em castelhano, dizendo-se amigo e integrante da “família” de Pablo.

É possível que muitos companheiros que nos estejam seguindo a narrativa – e eu lhes dou razão - estejam se questionando:
por que, ao invés do nome de um traficante, não mencionaram o de Jesus Cristo?

Digo-lhes que, o tempo todo, o nosso impulso era exactamente este, mas – acreditem – ninguém nos daria ouvidos e, com certeza, seríamos expulsos ou mantidos sob cativeiro.
Vocês acham que, no recinto do amplo salão, não havia nenhum símbolo religioso?

Havia, sim, um enorme cruz talhada em madeira que (talvez este não seja o termo correcto)
Ironizava com sarcasmo a figura do Cristo, aquela imensa orgia recordava-me as bacanais de Roma posteriores a Júlio César e Octávio Augusto, em que o homem, em sua insanidade, misturava o divino ao profano!

O gigante de ébano se afastou e Elpídio advertiu-nos:
- Precisamos ser rápidos!...

E, de facto, precisávamos mesmo, pois aquele ambiente estava mexendo com as minhas reminiscências das vidas que um dia se foram, mas que, talvez, não tenham sido convenientemente sepultadas pelo tempo.

Ante o barulho que nos estourava os tímpanos e o ar que se tornava cada vez mais irrespirável, tivemos acesso a estreito e mais escuro corredor, que desembocava num salão de menores dimensões, onde vimos caixas e caixas empilhadas e alguns produtos químicos utilizados para potencializarem o efeito das drogas.

Alguns espíritos com forma humana, ou seja, sem nenhuma aberração de carácter físico, inspeccionavam o serviço dos outros que, sinceramente, eu não conseguiria descrever, sem causar espanto:
junto a diversos tubos de ensaio e pipetas, cubas e fogareiros acesos, aqueles estranhos seres que, um dia, certamente haviam sido homens, experimentavam formulações que exalavam fétido odor, semelhante ao da amónia e do enxofre...

- Como é, Guida? – Perguntou um dos chefes do tráfico naquela região.
Estamos sendo pressionados...
Você prometeu-nos uma droga duas vezes mais potente que o “Ecstasy”...

Respondendo não sei por qual orifício da face macilenta e deformada, o químico disse:
- Estou quase chegando lá...
Descobriremos e inspiraremos aos homens uma droga, perto da qual todas as demais não passarão de inocente barra de chocolate!

Ficaremos milionários e dominaremos!...

E, feito um cientista louco, gargalhava como se o fizesse por uma fenda aberta na traqueia!...
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