LUZ ESPÍRITA
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Série André Luiz - Nosso Lar

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 09, 2011 11:04 pm

9 - PROBLEMA DE ALIMENTAÇÃO

Enlevado na visão dos jardins prodigiosos, pedi ao dedicado enfermeiro para descansar alguns minutos num banco próximo.

Lísias anuiu de bom grado.
Agradável sensação de paz me felicitava o espírito.
Caprichosos repuxos de água colorida ziguezagueavam no ar, formando figuras encantadoras.

- Quem observa esta colmeia imensa de serviço - ponderei - é induzido a examinar numerosos problemas.
E o abastecimento? Não tenho notícia de um Ministério da Economia...
- Antigamente - explicou o paciente interlocutor - os serviços dessa natureza assumiam feição mais destacada.

Deliberou, porém, o actual Governador atenuar todas as expressões de vida que nos recordassem os fenómenos puramente materiais.

As actividades de abastecimento ficaram, assim, reduzidas a simples serviço de distribuição, sob o controle directo da Governadoria.

Aliás, a providência constitui medida das mais benéficas.
Rezam os anais que a colónia, há um século, lutava com extremas dificuldades para adaptar os habitantes às leis da simplicidade.

Muitos recém-chegados ao "Nosso Lar" duplicavam exigências.
Queriam mesas lautas, bebidas excitantes, dilatando velhos vícios terrenos.

Apenas o Ministério da União Divina ficou imune de tais abusos, pelas características que lhe são próprias; no entanto, os demais viviam sobrecarregados de angustiosos problemas dessa ordem.

O Governador actual, todavia, não poupou esforços.
Tão logo assumiu obrigações administrativas, adoptou providências justas.
Antigos missionários, daqui, puseram-me ao corrente de curiosos acontecimentos.

Disseram-me que, a pedido da Governadoria, vieram duzentos instrutores de uma esfera muito elevada, a fim de espalharem novos conhecimentos, relativos à ciência da respiração e da absorção de princípios vitais da atmosfera.

Realizaram-se assembleias numerosas.

Alguns colaboradores técnicos de "Nosso Lar" manifestavam-se contrários, alegando que a cidade é de transição e que não seria justo, nem possível, desambientar imediatamente os homens desencarnados, mediante exigências desse teor, sem grave perigo para suas organizações espirituais.

O Governador, contudo, não desanimou.
Prosseguiram as reuniões, providências e actividades, durante trinta anos consecutivos.
Algumas entidades eminentes chegaram a formular protestos de carácter público, reclamando.

Por mais de dez vezes, o Ministério do Auxílio esteve superlotado de enfermos, onde se confessavam vítimas do novo sistema de alimentação deficiente.

Nesses períodos, os opositores da redução multiplicavam acusações.
O Governador, porém, jamais castigou alguém.

Convocava os adversários da medida a palácio e expunha-lhes, paternalmente, os projectos e finalidades do regime;
destacava a superioridade dos métodos de espiritualização, facilitava aos mais rebeldes inimigos do novo processo variadas excursões de estudo, em planos mais elevados que o nosso, ganhando, assim, maior número de adeptos.

Ante pausa mais longa, reclamei, interessado:
- Continue, por favor, meu caro Lísias. Como terminou a luta edificante?

- Depois de vinte e um anos de perseverantes demonstrações, por parte da Governadoria, aderiu o Ministério da Elevação, passando a abastecer-se apenas do indispensável.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 09, 2011 11:04 pm

O mesmo não aconteceu com o Ministério do Esclarecimento, que demorou muito a assumir compromisso, em vista dos numerosos espíritos dedicados às ciências matemáticas, que ali trabalham.

Eram eles os mais teimosos adversários.
Mecanizados nos processos de proteínas e carbohidratos, imprescindíveis aos veículos físicos, não cediam terreno nas concepções correspondentes daqui.

Semanalmente, enviavam ao Governador longas observações e advertências, repletas de análises e numerações, atingindo, por vezes, a imprudência.

O velho governante, contudo, nunca agiu por si só.
Requisitou assistência de nobres mentores, que nos orientam através do Ministério da União Divina, e jamais deixou o menor boletim de esclarecimento sem exame minucioso.

Enquanto argumentavam os cientistas e a Governadoria contemporizava, formaram-se perigosos distúrbios no antigo Departamento de Regeneração, hoje transformado em Ministério.

Encorajados pela rebeldia dos cooperadores do Esclarecimento, os espíritos menos elevados que ali se recolhiam entregaram-se a condenáveis manifestações.

Tudo isso provocou enormes cisões nos órgãos colectivos de "Nosso Lar", dando ensejo a perigoso assalto das multidões obscuras do Umbral, que tentaram invadir a cidade, aproveitando brechas nos serviços de Regeneração, onde grande número de colaboradores entretinha certo intercâmbio clandestino, em virtude dos vícios de alimentação.

Dado o alarme, o Governador não se perturbou.
Terríveis ameaças pairavam sobre todos.

Ele, porém, solicitou audiência ao Ministério da União Divina e, depois de ouvir o nosso mais alto Conselho, mandou fechar provisoriamente o Ministério da Comunicação, determinou funcionassem todos os calabouços da Regeneração, para isolamento dos recalcitrantes, advertiu o Ministério do Esclarecimento, cujas impertinências suportou mais de trinta anos consecutivos, proibiu temporariamente os auxílios às regiões inferiores, e, pela primeira vez na sua administração, mandou ligar as baterias eléctricas das muralhas da cidade, para emissão de dardos magnéticos a serviço da defesa comum.

Não houve combate, nem ofensiva da colónia, mas resistência resoluta.

Por mais de seis meses, os serviços de alimentação, em "Nosso Lar", foram reduzidos à inalação de princípios vitais da atmosfera, através da respiração, e água misturada a elementos solares, eléctricos e magnéticos.

A colónia ficou, então, sabendo o que vem a ser a indignação do espírito manso e justo.
Findo o período mais agudo, a Governadoria estava vitoriosa.
O próprio Ministério do Esclarecimento reconheceu o erro e cooperou nos trabalhos de reajustamento.

Houve, nesse comenos, regozijo público e dizem que, em meio da alegria geral, o Governador chorou sensibilizado, declarando que a compreensão geral constituía o verdadeiro prémio ao seu coração.

A cidade voltou ao movimento normal.
O antigo Departamento da Regeneração foi convertido em Ministério.

Desde então, só existe maior suprimento de substâncias alimentícias que lembram a Terra, nos Ministérios da Regeneração e do Auxílio, onde há sempre grande número de necessitados.

Nos demais há somente o indispensável, isto é, todo o serviço de alimentação obedece a inexcedível sobriedade.

Presentemente, todos reconhecem que a suposta impertinência do Governador representou medida de elevado alcance para nossa libertação espiritual.

Reduziu-se a expressão física e surgiu maravilhoso coeficiente de espiritualidade.

Lísias silenciou e eu me entreguei a profundos pensamentos sobre a grande lição.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 09, 2011 11:04 pm

10 - NO BOSQUE DAS ÁGUAS

Dado o meu interesse crescente pelos processos de alimentação, Lísias convidou:
- Vamos ao grande reservatório da colónia.
Lá observará coisas interessantes.
Verá que a água é quase tudo em nossa estância de transição.

Curiosíssimo, acompanhei o enfermeiro sem vacilar.
Chegados a extenso ângulo da praça, o generoso amigo acrescentou:
- Esperemos o aeróbus. (1)

Mal me refazia da surpresa, quando surgiu grande carro, suspenso do solo a uma altura de cinco metros mais ou menos e repleto de passageiros.

Ao descer até nós, à maneira de um elevador terrestre, examinei-o com atenção. Não era máquina conhecida na Terra.

Constituída de material muito flexível, tinha enorme comprimento, parecendo ligada a fios invisíveis, em virtude do grande número de antenas na tolda.

Mais tarde, confirmei minhas suposições, visitando as grandes oficinas do Serviço de Trânsito e Transporte.

Lísias não me deu tempo a indagações.
Aboletados convenientemente no recinto confortável, seguimos Silenciosos.
Experimentava a timidez natural do homem desambientado, entre desconhecidos.

A velocidade era tanta que não permitia fixar os detalhes das construções escalonadas no extenso percurso.

A distância não era pequena, porque só depois de quarenta minutos, incluindo ligeiras paradas de três em três quilómetros, me convidou Lísias a descer, sorridente e calmo.

Deslumbrou-me o panorama de belezas sublimes.
O bosque, em floração maravilhosa, embalsamava o vento fresco de inebriante perfume.
Tudo em prodígio de cores e luzes cariciosas.

Entre margens bordadas de grama viçosa, toda esmaltada de azulíneas flores, deslizava um rio de grandes proporções.

A corrente rolava tranquila, mas tão cristalina que parecia tonalizada em matiz celeste, em vista dos reflexos do firmamento.

Estradas largas cortavam a verdura da paisagem.
Plantadas a espaços regulares, árvores frondosas ofereciam sombra amiga, à maneira de pousos deliciosos, na claridade do Sol confortador.

Bancos de caprichosos formatos convidavam ao descanso.
Notando o meu deslumbramento, Lísias explicou:
- Estamos no Bosque das Águas. Temos aqui uma das mais belas regiões de "Nosso Lar".

Trata-se de um dos locais predilectos para as excursões dos amantes, que aqui vêm tecer as mais lindas promessas de amor e fidelidade, para as experiências da Terra.

A observação ensejava considerações muito interessantes, mas Lísias não me deu azo a perguntas nesse particular.

Indicando um edifício de enormes proporções, esclareceu:
- Ali é o grande reservatório da colónia.
Todo o volume do Rio Azul, que temos à vista, é absorvido em caixas imensas de distribuição.

As águas que servem a todas as actividades da colónia partem daqui.
Em seguida, reúnem-se novamente, abaixo dos serviços da Regeneração, e voltam a constituir o rio, que prossegue o curso normal, rumo ao grande oceano de substâncias invisíveis para a Terra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 09, 2011 11:04 pm

Percebendo-me a indagação íntima, acrescentou:
- Com efeito, a água aqui tem outra densidade. Muito mais ténue, pura, quase fluídica.

Notando as magníficas construções que me fronteavam, interroguei:
- A que Ministério está afecto o serviço de distribuição?

- Imagine - elucidou Lísias - que este é um dos raros serviços materiais do Ministério da União Divina!
- Que diz? - perguntei, ignorando como conciliar uma e outra coisa.

O visitador sorriu e obtemperou prazenteiro:
- Na Terra quase ninguém cogita seriamente de conhecer a importância da água.
Em "Nosso Lar", contudo, outros são os conhecimentos.
Nos círculos religiosos do planeta, ensinam que o Senhor criou as águas.

Ora, é lógico que todo serviço criado precisa de energias e braços para ser convenientemente mantido.
Nesta cidade espiritual, aprendemos a agradecer ao Pai e aos seus divinos colaboradores semelhante dádiva.

Conhecendo-a mais intimamente, sabemos que a água é veículo dos mais poderosos para os fluidos de qualquer natureza.

Aqui, ela é empregada sobretudo como alimento e remédio.

Há repartições no Ministério do Auxílio absolutamente consagradas à manipulação de água pura, com certos princípios susceptíveis de serem captados na luz do Sol e no magnetismo espiritual.

Na maioria das regiões da extensa colónia, o sistema de alimentação tem aí suas bases.

Acontece, porém, que só os Ministros da União Divina são detentores do maior padrão de Espiritualidade Superior, entre nós, cabendo-lhes a magnetização geral das águas do Rio Azul, a fim de que sirvam a todos os habitantes de "Nosso Lar", com a pureza imprescindível.

Fazem eles o serviço inicial de limpeza e os institutos realizam trabalhos específicos, no suprimento de substâncias alimentares e curativas.

Quando os diversos fios da corrente se reúnem de novo, no ponto longínquo, oposto a este bosque, ausenta-se o rio de nossa zona, conduzindo em seu seio nossas qualidades espirituais.

Eu estava embevecido com as explicações.
- No planeta - objectei -, jamais recebi elucidações desta natureza.

- O homem é desatento, há muitos séculos - tornou Lísias -;
o mar equilibra-lhe a moradia planetária, o elemento aquoso fornece-lhe o corpo físico, a chuva dá-lhe o pão, o rio organiza-lhe a cidade, a presença da água oferece-lhe a bênção do lar e do serviço;
entretanto, ele sempre se julga o absoluto dominador do mundo, esquecendo que é filho do Altíssimo, antes de qualquer consideração.

Virá tempo, contudo, em que copiará nossos serviços, encarecendo a importância dessa dádiva do Senhor.
Compreenderá, então, que a água, como fluido criador, absorve, em cada lar, as características mentais de seus moradores.

A água, no mundo, meu amigo, não somente carrega os resíduos dos corpos, mas também as expressões de nossa vida mental.

Será nociva nas mãos perversas, útil nas mãos generosas e, quando em movimento, sua corrente não só espalhará bênção de vida, mas constituirá igualmente um veículo da Providência Divina, absorvendo amarguras, ódios e ansiedades dos homens, lavando-lhes a casa material e purificando-lhes a atmosfera íntima.

Calou-se o interlocutor em atitude reverente, enquanto meus olhos fixavam a corrente tranquila a despertar-me sublimes pensamentos.

(1) Carro aéreo, que seria na Terra um grande funicular.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 09, 2011 11:05 pm

11 - NOTÍCIAS DO PLANO

Desejaria meu generoso companheiro facultar-me observações diferentes, nos diversos bairros da colónia, mas obrigações imperiosas chamavam-no ao posto.

- Terá você ocasião de conhecer as diversas regiões dos nossos serviços - exclamou bondosamente -' pois, conforme vê, os Ministérios do "Nosso Lar" são enormes células de trabalho activo.

Nem mesmo alguns dias de estudo oferecem ensejo à visão detalhada de um só deles.
Não lhe faltará oportunidade, porém.

Ainda que me não seja possível acompanhá-lo, Clarêncio tem poderes para obter-lhe ingresso fácil em qualquer dependência.

Voltamos ao ponto de passagem do aeróbus, que não se fez esperar.
Agora, sentia-me quase à vontade.
A presença de muitos passageiros não me constrangia.

A experiência anterior fizera-me benefícios enormes.
Esfervilhava-me o cérebro de úteis indagações.
Interessado em resolvê-las, aproveitei o minuto para valer-me do companheiro, quando possível.

- Lísias, amigo - perguntei -, poderá informar-me se todas as colónias espirituais são idênticas a esta?
Os mesmos processos, as mesmas características?

- De modo algum. Se nas esferas materiais, cada região e cada estabelecimento revelam traços peculiares, imagine a multiplicidade de condições em nossos planos.

Aqui, tal como na Terra, as criaturas se identificam pelas fontes comuns de origem e pela grandeza dos fins que devem atingir;
mas importa considerar que cada colónia, como cada entidade, permanece em degraus diferentes na grande ascensão.

Todas as experiências de grupo diversificam-se entre si e "Nosso Lar" constitui uma experiência colectiva dessa natureza.

Segundo nossos arquivos, muitas vezes os que nos antecederam buscaram inspiração nos trabalhos de abnegados trabalhadores de outras esferas;
em compensação, outros agrupamentos buscam o nosso concurso para outras colónias em formação.

Cada organização, todavia, apresenta particularidades essenciais.
Observando que o intervalo se fazia mais longo, interroguei:
- Partiu daqui a interessante formação de Ministérios?

- Sim, os missionários da criação de "Nosso Lar" visitaram os serviços de "Alvorada Nova", uma das colónias espirituais mais importantes que nos circunvizinham e ali encontraram a divisão por departamentos.

Adoptaram o processo, mas substituíram a palavra departamento por Ministério, com excepção dos serviços regeneradores, que, somente com o Governador actual, conseguiram elevação.

Assim procederam, considerando que a organização em Ministérios é mais expressiva, como definição de espiritualidade.
- Muito bem! - acrescentei.

- E não é tudo - prosseguiu o enfermeiro, atencioso -, a instituição é eminentemente rigorosa, no que concerne à ordem e à hierarquia.

Nenhuma condição de destaque é concedida aqui a título de favor.
Somente quatro entidades conseguiram ingressar, com responsabilidade definida, no curso de dez anos, no Ministério da União Divina.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 09, 2011 11:05 pm

Em geral, todos nós, decorrido longo estágio de serviço e aprendizado, voltamos a reencarnar, para actividades de aperfeiçoamento.

Enquanto eu ouvia essas informações, justamente curioso, Lísias continuava:
- Quando os recém-chegados das zonas inferiores do Umbral se revelam aptos a receber cooperação fraterna, demoram no Ministério do Auxílio;
quando, porém, se mostram refractários, são encaminhados ao Ministério da Regeneração.

Se revelam proveito, com o correr do tempo são admitidos aos trabalhos de Auxílio, Comunicação e Esclarecimento, a fim de se prepararem, com eficiência, para futuras tarefas planetárias.

Somente alguns conseguem actividade prolongada no Ministério da Elevação, e raríssimos, em cada dez anos, os que alcançam intimidade nos trabalhos da União Divina.

E não suponha que os testemunhos sejam vagas expressões de actividade idealista.
Já não estamos na esfera do globo, onde o desencarnado é promovido compulsoriamente a fantasma.
Vivemos em círculo de demonstrações activas.

As tarefas de Auxílio são laboriosas e complicadas, os deveres no Ministério da Regeneração constituem testemunhos pesadíssimos, os trabalhos na Comunicação exigem alta noção da responsabilidade individual, os campos do Esclarecimento requisitam grande capacidade de trabalho e valores intelectuais profundos, o Ministério da Elevação pede renúncia e iluminação, as actividades da União Divina requerem conhecimento justo e sincera aplicação do amor universal.

A Governadoria, por sua vez, é sede movimentada de todos os assuntos administrativos, numerosos serviços de controlo directo, como, por exemplo, o de
alimentação, distribuição de energias eléctricas, trânsito, transporte e outros.

Aqui, em verdade, a lei do descanso é rigorosamente observada, para que determinados servidores não fiquem mais sobrecarregados que outros; mas a lei do trabalho é também rigorosamente cumprida.

No que concerne ao repouso, a única excepção é o próprio Governador, que nunca aproveita o que lhe toca, nesse terreno.

- Mas, nunca se ausenta ele do palácio? - interroguei.
- Somente nas ocasiões que o bem público o exige.

A não ser em obediência a esse imperativo, o Governador vai semanalmente ao Ministério da Regeneração, que representa a zona de "Nosso Lar" onde há maior número de perturbações, dada a sintonia de muitos dos seus abrigados com os irmãos do Umbral.

Numerosas multidões de espíritos desviados ali se encontram recolhidas.

Aproveita ele, pois, as tardes de domingo, depois de orar com a cidade no Grande Templo da Governadoria, para cooperar com os Ministros da Regeneração, atendendo-lhes os difíceis problemas de trabalho.

Nesse mister, priva-se, às vezes, de alegrias sagradas, amparando a desorientados e sofredores.
Deixara-nos o aeróbus nas vizinhanças do hospital, onde me aguardava o aposento confortador.
Em plena via pública, ouviam-se, tal qual observara à saída, belas melodias atravessando o ar.

Notando-me a expressão indagadora, Lísias explicou fraternalmente:
- Essas músicas procedem das oficinas onde trabalham os habitantes de "Nosso Lar".

Após consecutivas observações, reconheceu a Governadoria que a música intensifica o rendimento do serviço, em todos os sectores de esforço construtivo.
Desde então, ninguém trabalha em "Nosso Lar", sem esse estímulo de alegria.

Nesse ínterim, porém, chegáramos à Portaria.
Atencioso enfermeiro adiantou-se e notificou:
- Irmão Lísias, chamam-no ao pavilhão da direita para serviço urgente.

O companheiro afastou-se, calmo, enquanto eu me recolhia ao aposento particular, repleto de indagações íntimas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 10, 2011 11:42 pm

12 - O UMBRAL

Após receber tão valiosas elucidações, aguçava-se-me o desejo de intensificar a aquisição de conhecimentos relativos a diversos problemas que a palavra de Lísias sugeria.

As referências a espíritos do Umbral mordiam-me a curiosidade.
A ausência de preparação religiosa, no mundo, dá motivo a dolorosas perturbações.

Que seria o Umbral?
Conhecia, apenas, a ideia do inferno e do purgatório, através dos sermões ouvidos nas cerimónias católico-romanas a que assistira, obedecendo a preceitos protocolares.

Desse Umbral, porém, nunca tivera notícias.
Ao primeiro encontro com o generoso visitador, minhas perguntas não se fizeram esperar.

Lísias ouviu-me, atencioso, e replicou:
- Ora, ora, pois você andou detido por lá tanto tempo e não conhece a região?

Recordei os sofrimentos passados, experimentando arrepios de horror.
- O Umbral - continuou ele, solícito - começa na crosta terrestre.
É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos.

Quando o espírito reencarna, promete cumprir o programa de serviços do Pai; entretanto, ao recapitular experiências no planeta, é muito difícil fazê-lo, para só procurar o que lhe satisfaça ao egoísmo.

Assim é que mantidos são o mesmo ódio aos adversários e a mesma paixão pelos amigos.
Mas, nem o ódio é justiça, nem a paixão é amor.
Tudo o que excede, sem aproveitamento, prejudica a economia da vida.

Pois bem: todas as multidões de desequilibrados permanecem nas regiões nevoentas, que se seguem aos fluidos carnais.

O dever cumprido é uma porta que atravessamos no Infinito, rumo ao continente sagrado da união com o Senhor.
É natural, portanto, que o homem esquivo à obrigação justa, tenha essa bênção indefinidamente adiada.

Notando-me a dificuldade para apreender todo o conteúdo do ensinamento, com vistas à minha quase total ignorância dos princípios espirituais, Lísias procurou tornar a lição mais clara:
- Imagine que cada um de nós, renascendo no planeta, somos portadores de um fato sujo, para lavar no tanque da vida humana.

Essa roupa imunda é o corpo causal, tecido por nossas mãos, nas experiências anteriores.

Compartilhando, de novo, as bênçãos da oportunidade terrestre, esquecemos, porém, o objectivo essencial, e, ao invés de nos purificarmos pelo esforço da lavagem, manchamo-nos ainda mais, contraindo novos laços e encarcerando-nos a nós mesmos em verdadeira escravidão.

Ora, se ao voltarmos ao mundo procurávamos um meio de fugir à sujidade, pelo desacordo de nossa situação com o meio elevado, como regressar a esse mesmo ambiente luminoso, em piores condições?

O Umbral funciona, portanto, como região destinada a esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena.

A imagem não podia ser mais clara, mais convincente.
Não havia como disfarçar minha justa admiração.

Compreendendo o efeito benéfico que me traziam aqueles esclarecimentos, Lísias continuou:
- O Umbral é região de profundo interesse para quem esteja na Terra.

Concentra-se, aí, tudo o que não tem finalidade para a vida superior.
E note você que a Providência Divina agiu sabiamente, permitindo se criasse tal departamento em torno do planeta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 10, 2011 11:43 pm

Há legiões compactas de almas irresolutas e ignorantes, que não são suficientemente perversas para serem enviadas a colónias de reparação mais dolorosa, nem bastante nobres para serem conduzidas a planos de elevação.

Representam fileiras de habitantes do Umbral, companheiros imediatos dos homens encarnados, separados deles apenas por leis vibratórias.

Não é de estranhar, portanto, que semelhantes lugares se caracterizem por grandes perturbações.
Lá vivem, agrupam-se, os revoltados de toda espécie.
Formam, igualmente, núcleos invisíveis de notável poder, pela concentração das tendências e desejos gerais.

Muita gente da Terra não recorda que se desespera quando o carteiro não vem, quando o comboio não aparece?

Pois o Umbral está repleto de desesperados.

Por não encontrarem o Senhor à disposição dos seus caprichos, após a morte do corpo físico, e, sentindo que a coroa da vida eterna é a glória intransferível dos que trabalham com o Pai, essas criaturas se revelam e demoram em mesquinhas edificações.

"Nosso Lar" tem uma sociedade espiritual, mas esses núcleos possuem infelizes, malfeitores e vagabundos de várias categorias.

É zona de verdugos e vítimas, de exploradores e explorados.
Valendo-me da pausa, que se fizera espontânea, exclamei, impressionado:
- Como explicar? Então não há por lá defesa, organização?

Sorriu o interlocutor, esclarecendo:
- Organização é atributo dos espíritos organizados. Que quer você?
A zona inferior a que nos referimos é qual a casa onde não há pão: todos gritam e ninguém tem razão.

O viajante distraído perde o comboio, o agricultor que não semeou não pode colher.
Uma certeza, porém, posso dar-lhe:
- não obstante as sombras e angústias do Umbral, nunca faltou lá a protecção divina.
Cada espírito lá permanece o tempo que se faça necessário.

Para isso, meu amigo, permitiu o Senhor se erigissem muitas colónias como esta, consagradas ao trabalho e ao socorro espiritual.

- Creio, então - observei -, que essa esfera se mistura quase com a esfera dos homens.

- Sim - confirmou o dedicado amigo -, e é nessa zona que se estendem os fios invisíveis que ligam as mentes humanas entre si O plano está repleto de desencarnados e de formas-pensamento dos encarnados, porque, em verdade, todo espírito, esteja onde estiver, é um núcleo irradiante de forças que criam, transformam ou destroem, exteriorizadas em vibrações que a ciência terrestre presentemente não pode compreender.

Quem pensa, está fazendo alguma coisa alhures.
E é pelo pensamento que os homens encontram no Umbral os companheiros que afinam com as tendências de cada um.

Toda alma é um ímã poderoso.
Há uma extensa humanidade invisível, que se segue à humanidade visível.

As missões mais laboriosas do Ministério do Auxílio são constituídas por abnegados servidores, no Umbral, porque se a tarefa dos bombeiros nas grandes cidades terrenas é difícil, pelas labaredas e ondas de fumo que os defrontam, os missionários do Umbral encontram fluidos pesadíssimos emitidos, sem cessar, por milhares de mentes desequilibradas, na prática do mal, ou terrivelmente flageladas nos sofrimentos rectificadores.

É necessário muita coragem e muita renúncia para ajudar a quem nada compreende do auxílio que se lhe oferece.

Interrompera-se Lísias. Sumamente impressionado, exclamei:
- Ah! como desejo trabalhar junto dessas legiões de infelizes, levando-lhes o pão espiritual do esclarecimento!

O enfermeiro amigo fixou-me bondosamente, e, depois de meditar em silêncio, por largos instantes, acentuou, ao despedir-se:
- Será que você se sente com o preparo indispensável a semelhante serviço?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 10, 2011 11:43 pm

13 - NO GABINETE DO MINISTRO

Com as melhoras crescentes, surgia a necessidade de movimentação e trabalho.

Decorrido tanto tempo, esgotados anos difíceis de luta, volvia-me o interesse pelos afazeres que enchem o dia útil de todo homem normal, no mundo.

Incontestável que havia perdido excelentes oportunidades na Terra;
que muitas falhas me assinalavam o caminho.
Agora, porém, recordava os quinze anos de clínica, sentindo um certo "vazio" no coração.

Identificava-me a mim mesmo, como vigoroso agricultor em pleno campo, de mãos atadas e impossibilitado de atacar o trabalho.

Cercado de enfermos, não podia aproximar-me, como noutros tempos, reunindo em mim o amigo, o médico e o pesquisador.

Ouvindo gemidos incessantes nos apartamentos contíguos, não me era lícita nem mesmo a função de enfermeiro e colaborador nos casos de socorro urgente.
Claro que não me faltava desejo.

Minha posição ali, contudo, era assaz humilde para me atrever.
Os médicos espirituais eram detentores de técnica diferente.

No planeta, sabia que meu direito de intervir começava nos livros conhecidos e nos títulos conquistados; mas, naquele ambiente novo, a medicina começava no coração, exteriorizando-se em amor e cuidado fraternal.

Qualquer enfermeiro, dos mais simples, em "Nosso Lar", tinha conhecimentos e possibilidades muito superiores à minha ciência.

Inexequível, portanto, qualquer tentativa de trabalho espontâneo, por constituir, a meu ver, invasão de seara alheia.
No apuro de tais dificuldades, Lísias era o amigo indicado às minhas confidências de irmão.

Interpelado, esclareceu:
- Por que não pedir o socorro de Clarêncio?
Atendê-lo-á por certo. Peça-lhe conselhos.

Ele pergunta sempre por sua pessoa e tudo fará a seu favor.
Animou-me grande esperança. Consultaria o Ministro do Auxílio.

Iniciando, contudo, as providências, fui informado de que o generoso benfeitor somente poderia atender na manhã seguinte, no gabinete particular.

Esperei ansioso o momento oportuno.
No dia imediato, muito cedo, procurei o local indicado.
Qual não foi, porém, minha surpresa vendo que três pessoas lá estavam aguardando Clarêncio, em identidade de circunstâncias!

O delicado Ministro do Auxílio chegara muito antes de nós e atendia a assuntos mais importantes que a recepção de visitas e solicitações.

Terminado o serviço urgente, começou a chamar-nos, dois a dois.
Impressionou-me tal processo de audiência.

Soube, porém, mais tarde, que ele aproveitava esse método para que os pareceres fornecidos a qualquer interessado servissem igualmente a outros, assim atendendo a necessidades de ordem geral, ganhando tempo e proveito.

Decorridos muitos minutos, chegou-me a vez.
Penetrei no gabinete em companhia de uma senhora idosa, que seria ouvida em primeiro lugar, por ordem de precedência.

O Ministro recebeu-nos, cordial, deixando-nos à vontade para discorrer.
- Nobre Clarêncio - começou a companheira desconhecida -, venho pedir seus bons ofícios a favor de meus dois filhos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 10, 2011 11:43 pm

Ah! já não tolero tantas saudades e estou informada de que ambos vivem exaustos e sobrecarregados de infortúnios, no ambiente terrestre.

Reconheço que os desígnios do Pai são justos e amorosos; no entanto, sou mãe!
Não consigo subtrair-me ao peso da angústia!...
E a pobre criatura se desfez, ali mesmo, em copioso pranto.

O Ministro, dirigindo-lhe um olhar de fraternidade, embora conservando intacta a energia pessoal, respondeu, bondoso:
- Mas, se a irmã reconhece que os desígnios do Pai são justos e santos, que me cabe fazer?
- Desejava - replicou, aflita - que me concedesse recursos para protegê-los eu mesma, nas esferas do globo!...

- Ah! minha amiga - disse o benfeitor amorável -' só no espírito de humildade e de trabalho é possível a nós outros proteger alguém.

Que me diz de um pai terrestre que desejasse ajudar os filhinhos, mantendo-se em absoluta quietação no conforto do lar?

O Pai criou o serviço e a cooperação como leis que ninguém pode trair sem prejuízo próprio.
Nada lhe diz a consciência, neste sentido?
Quantos bónus-hora (1) poderá apresentar em benefício de sua pretensão?

A interpelada respondeu, hesitante:
- Trezentos e quatro.
- É de lamentar - elucidou Clarêncio, sorrindo -, pois aqui se hospeda, há mais de seis anos, e apenas deu à colónia, até hoje, trezentos e quatro horas de trabalho.

Entretanto, logo que se restabeleceu das lutas sofridas em região inferior, ofereci-lhe actividade louvável na Turma de vigilância, do Ministério da Comunicação...

- Mas aquilo por lá era serviço intolerável - atalhou a interlocutora -, uma luta incessante contra entidades malfazejas.
Era natural que não me adaptasse.

Clarêncio continuou, imperturbável:
- Coloquei-a, depois, entre os Irmãos da Suportação, nas tarefas regeneradoras.
- Pior! - exclamou a senhora - aqueles apartamentos andam repletos de pessoas imundas.
Palavrões, indecências, miséria.

- Reconhecendo suas dificuldades - esclareceu o Ministro -, enviei-a a cooperar na Enfermagem dos Perturbados.

- Mas quem os tolerará, senão os santos? - inquiriu a pedinte rebelde - fiz o possível; entretanto, aquela multidão de almas desviadas assombra a qualquer!

- Não ficaram aí meus esforços - replicou o benfeitor sem se perturbar -, localizei-a nos Gabinetes de Investigações e Pesquisas do Ministério do Esclarecimento e, contudo, talvez enfadada com as minhas providências, a irmã se recolheu, deliberadamente, aos Campos de Repouso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 10, 2011 11:44 pm

- Era, também, impossível continuar ali - disse a impertinente -, só encontrei experiências exaustivas, fluidos estranhos, chefes ásperos.

- Pois note, minha amiga - esclareceu o devotado e seguro orientador - o trabalho e a humildade são as duas margens do caminho do auxílio.

Para ajudarmos alguém, precisamos de irmãos que se façam cooperadores, amigos, protectores e servos nossos.
Antes de amparar os que amamos, é indispensável estabelecer correntes de simpatia.
Sem a cooperação é impossível atender com eficiência.

O camponês que cultiva a terra alcança a gratidão dos que saboreiam os frutos.
O operário que entende os chefes exigentes, executando-lhes as determinações, representa o sustentáculo do lar, em que o Senhor o colocou.

O servidor que obedece, construindo, conquista os superiores, companheiros e interessados no serviço.
E nenhum administrador intermediário poderá ser útil aos que ama, se não souber servir e obedecer nobremente.

Fira-se o coração, experimente-se a dificuldade, mas, que saiba cada qual que o serviço útil pertence, acima de tudo, ao Doador Universal.

Depois de pequena pausa, continuou:
- Que fará, pois, na Terra se não aprendeu ainda a suportar coisa alguma?

Não duvido da sua dedicação aos filhos queridos, mas importa notar que haveria de comparecer por lá, como mãe paralítica, incapaz de prestar socorro justo.

Para que qualquer de nós alcance a alegria de auxiliar os amados, faz-se necessária a interferência de muitos a quem tenhamos ajudado, por nossa vez.

Os que não cooperam não recebem cooperação.
Isso é da lei eterna.
E se minha irmã nada acumulou de seu para dar, é justo que procure a contribuição amorosa dos outros.

Mas, como receber a colaboração imprescindível, se ainda não semeou, nem mesmo a simples simpatia?

Volte aos Campos de Repouso, onde se abrigou ultimamente, e reflicta.
Examinaremos depois o assunto com a devida atenção.
Sentou-se a mãe inquieta, enxugando lágrimas copiosas.

Em seguida, o Ministro fitou-me compassivamente e falou:
- Aproxime-se, meu amigo!

Levantei-me, hesitante, para conversar.

(1) Ponto relativo a cada hora de serviço. (Nota do Autor espiritual.)
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 10, 2011 11:44 pm

14 - ELUCIDAÇÕES DE CLARÊNCIO

Pulsava-me precipite o coração, fazendo-me lembrar o aprendiz bisonho, diante de examinadores rigorosos.

Vendo aquela mulher em lágrimas e ponderando a energia serena do Ministro do Auxílio, tremia dentro de mim mesmo, arrependido de haver provocado aquela audiência.

Não seria melhor calar, aprendendo a esperar deliberações superiores?
Não seria presunção descabida pedir atribuições de médico naquela casa, onde permanecia como enfermo?

A sinceridade de Clarêncio, para com a irmã que me antecedera, despertara-me raciocínios novos.
Quis desistir, renunciar ao desejo da véspera e voltar ao aposento, mas, era impossível.

O Ministro do Auxílio, como se adivinhasse meus propósitos mais íntimos, exclamou em tom firme:
- Pronto a ouvi-lo.

Ia solicitar instintivamente qualquer serviço médico em "Nosso Lar", embora a indecisão que me dominava;
entretanto, a consciência me advertia:
Por que referir-se a serviço especializado?

Não seria repetir os erros humanos, dentro dos quais a vaidade não tolera outro género de actividade senão o correspondente aos preconceitos dos títulos nobiliárquicos, ou académicos?

Esta ideia equilibrava-me a tempo. Bastante confundido, falei:
- Tomei a liberdade de vir até aqui, rogar seus bons ofícios para que me reintegre no trabalho.

Ando saudoso dos meus misteres, agora que a generosidade do "Nosso Lar" me reconduziu à bênção da harmonia orgânica.

Qualquer trabalho útil me interessa, desde que me afaste da inacção.
Clarêncio fitou-me longamente, como a identificar-me as intenções mais íntimas.

- Já sei. Verbalmente pede qualquer género de tarefa;
mas, no fundo, sente falta dos seus clientes, do seu gabinete, da paisagem de serviço com que o Senhor honrou sua personalidade na Terra.

Até aí, as palavras dele eram jactos de conforto e esperança, que eu recebia no coração, com gestos confirmativos.

Depois de uma pausa mais longa, porém, o Ministro prosseguiu:
- Convém notar, todavia, que às vezes o Pai nos honra com a Sua confiança e nós desvirtuamos os verdadeiros títulos de serviço.

Você foi médico na Terra, cercado de todas as facilidades, no capítulo dos estudos.
Nunca soube o preço de um livro, porque seus pais, generosos, lhe custeavam todas as despesas.

Logo depois de graduado, começou a receber proventos compensadores, não teve sequer as dificuldades do médico pobre, compelido a mobilizar relações afectivas para fazer clínica.

Prosperou tão rapidamente que transformou facilidades conquistadas em carreira para a morte prematura do corpo.

Enquanto moço e sadio, cometeu numerosos abusos, dentro do quadro de trabalho a que Jesus o conduziu.
Ante aquele olhar firme e bondoso ao mesmo tempo, estranha perturbação apossara-se de mim.

Respeitosamente, ponderei:
- Reconheço a procedência das observações, mas, se possível, estimaria obter meios de resgatar meus débitos, consagrando-me sinceramente aos enfermos deste parque hospitalar.

- Impulso muito nobre - disse Clarêncio sem austeridade -, contudo, é preciso convir que toda tarefa na Terra, no campo das profissões, é convite do Pai para que o homem penetre os templos divinos do trabalho.

O título, para nós, é simplesmente uma ficha;
mas, no mundo, costuma representar uma porta aberta a todos os disparates.

Com essa ficha, o homem fica habilitado a aprender nobremente e a servir ao Senhor, no quadro de Seus divinos serviços no planeta.
Tal princípio é aplicável a todas as actividades terrestres, excluída a convenção dos sectores nos quais se desdobrem.

Meu irmão recebeu uma ficha de médico.
Penetrou o templo da Medicina, mas sua acção, lá dentro, não se verificou em normas que me autorizem a endossar seus actuais desejos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 10, 2011 11:44 pm

Como transformá-lo, de um momento para outro, em médico de espíritos enfermos, quando fez questão de circunscrever observações exclusivamente à esfera do corpo físico?

Não nego sua capacidade de excelente fisiologista, mas o campo da vida é muito extenso.
Que me diz de um botânico que alinhasse definições apenas com o exame das cascas secas de algumas árvores?

Grande número de médicos, na Terra, prefere apenas a conclusão matemática diante dos serviços de anatomia.
Concordemos que a Matemática é respeitável, mas não é a única ciência do Universo.

Como reconhece agora, o medico não pode estacionar em diagnósticos e terminologias.
Há que penetrar a alma, sondar-lhe as profundezas.

Muitos profissionais da Medicina, no planeta, são prisioneiros das salas académicas, porque a vaidade lhes roubou a chave do cárcere.

Raros conseguem atravessar o pântano dos interesses inferiores, sobrepor-se a preconceitos comuns e, para essas excepções, reservam-se as zombarias do mundo e o escárnio dos companheiros.

Fiquei atónito.
Não conhecia tais noções de responsabilidade profissional.

Assombrava-me a interpretação do título académico, reduzido à ficha de ingresso em zonas de trabalho para cooperação activa com o Senhor Supremo.

Incapaz de intervir, aguardei que o Ministro do Auxílio retomasse o fio das elucidações.
- Conforme deduz - continuou ele -, não se preparou convenientemente para os nossos serviços aqui.
- Generoso benfeitor - atrevi-me a dizer -, compreendo a lição e curvo-me à evidência.

E, fazendo esforço por conter as lágrimas, pedi, humilde:
- Submeto-me a qualquer trabalho, nesta colónia de realização e paz.

Com um profundo olhar de simpatia, respondeu:
- Meu amigo, não possuo apenas verdades amargas.
Tenho igualmente a palavra de estímulo.
Não pode ainda ser médico em "Nosso Lar", mas poderá assumir o cargo de aprendiz, oportunamente.

Sua posição actual não é das melhores;
entretanto, é confortadora, pelas intercessões chegadas ao Ministério do Auxílio, a seu favor.
- Minha mãe? - perguntei, inebriado de alegria.
- Sim - esclareceu o Ministro -, sua mãe e outros amigos, no coração dos quais você plantou a semente da simpatia.

Logo após sua vinda, pedi ao Ministério do Esclarecimento providenciasse a obtenção de suas notas, que examinei atentamente.

Muita imprevidência, numerosos abusos e muita irreflexão, mas, nos quinze anos de sua clínica, também proporcionou receituário gratuito a mais de seis mil necessitados.

Na maioria das vezes, praticou esses actos meritórios, absolutamente por troça; mas, presentemente, pode verificar que, mesmo por troça, o verdadeiro bem espalha bênçãos em nossos caminhos.

Desses beneficiados, quinze não o esqueceram e têm enviado, até aqui, veementes apelos a seu favor.
Devo esclarecer, no entanto, que mesmo o bem que proporcionou aos indiferentes surge aqui a seu favor.

Concluindo, a sorrir, as elucidações surpreendentes, Clarêncio acentuou:
- Aprenderá lições novas em "Nosso Lar" e, depois de experiências úteis, cooperará eficientemente connosco, preparando-se para o futuro infinito.

Sentia-me radiante.
Pela primeira vez, chorei de alegria na colónia.
Oh! Quem poderá entender, na Terra, semelhante júbilo?

Por vezes, é preciso se cale o coração no grandiloquente silêncio divino.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 10, 2011 11:45 pm

15 - A VISITA MATERNA

Atento às recomendações de Clarêncio, procurava reconstituir energias para recomeçar o aprendizado.

Noutro tempo, talvez me sentisse ofendido com as observações aparentemente tão ríspidas;
mas, naquelas circunstâncias, lembrava meus erros antigos e sentia-me confortado.

Os fluidos carnais compelem a alma a profundas sonolências.
Em verdade, apenas agora reconhecia que a experiência humana, em hipótese alguma, poderia ser levada à conta de brincadeira.

A importância da encarnação na Terra surgia-me aos olhos, evidenciando grandezas até então ignoradas.
Considerando as oportunidades perdidas, reconhecia não merecer a hospitalidade de "Nosso Lar".

Clarêncio tinha dobradas razões para falar-me com aquela franqueza.
Passei dias entregue a profundas reflexões sobre a vida.
No íntimo, grande ansiedade de rever o lar terreno.

Abstinha-me, porém, de pedir novas concessões.
Os benfeitores do Ministério do Auxílio eram excessivamente generosos para comigo.

Adivinhavam-me os pensamentos.
Se até ali não me haviam proporcionado satisfação espontânea a semelhante desejo, é que tal propósito não seria oportuno.

Calava-me, então, resignado e algo triste.
Lísias fazia o possível por alegrar-me com os seus pareceres consoladores.
Eu estava, porém, nessa fase de recolhimento inexprimível, em que o homem é chamado para dentro de si mesmo, pela consciência profunda.

Um dia, contudo, o bondoso visitador penetrou, radiante, no meu apartamento, exclamando:
- Adivinhe quem chegou à sua procura!

Aquela fisionomia alegre, aqueles olhos brilhantes de Lísias, não me enganavam.
- Minha mãe! - respondi, confiante.

Olhos arregalados de alegria, vi minha mãe entrar de braços estendidos.
- Filho! meu filho! Vem a mim, querido meu!

Não posso dizer o que se passou então.
Senti-me criança, como no tempo em que brincava à chuva, pés descalços, na areia do jardim.

Abracei-me a ela carinhoso, chorando de júbilo, experimentando os mais sagrados transportes da ventura espiritual.

Beijei-a repetidas vezes, apertei-a nos braços, misturei minhas lágrimas com as suas lágrimas, e não sei quanto tempo estivemos juntos, abraçados.

Afinal, foi ela quem me despertou do enlevo, recomendando:
- Vamos, filho, não te emociones tanto assim!
A alegria também, quando excessiva, costuma castigar o coração.

E em vez de carregar minha adorada velhinha nos braços, como fazia na Terra, nos derradeiros tempos de sua romagem por lá, foi ela quem me enxugou o pranto copioso, conduzindo-me ao divã.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 10, 2011 11:45 pm

- Estás ainda fraco, filhinho. Não desperdices energias.
Sentei-me a seu lado e ela, cuidadosamente, ajeitou-me a fronte cansada, em seus joelhos, afagando-me de leve, confortando-me à luz de santas recordações.

Senti-me, então, o mais venturoso dos homens.
Guardava a impressão de haver o barco de minha esperança ancorado em porto mais seguro.
A presença maternal constituía infinito reconforto ao meu coração.

Aqueles minutos davam-me a ideia de um sonho tecido em trama de felicidade indizível.
Qual menino que procura detalhes, fixava-lhe as vestes, cópia perfeita de um dos seus velhos trajos caseiros.

Notando-lhe o vestido escuro, as meias de lã, a mantilha azul, contemplei a cabeça pequenina, aureolada a fios de neve, as rugas do rosto, o olhar doce e calmo de todos os dias.

Mãos trémulas de contentamento, acariciava-lhe as mãos queridas, sem conseguir articular uma frase.

Minha mãe, todavia, mais forte que eu, falou com serenidade:
- Nunca saberemos agradecer a Deus tamanhas dádivas.
O Pai jamais nos esquece, meu filho.

Que longo tempo de separação!
Não julgues, porém, que me houvesse esquecido.
Às vezes, a Providência separa os corações, temporariamente, para que aprendamos o amor divino.

Identificando-lhe a ternura de todos os tempos, senti que se me reavivavam as chagas terrenas.
Oh! como é difícil alijar resíduos trazidos da Terra!
Como pesa a imperfeição acumulada em séculos sucessivos!

Quantas vezes ouvira conselhos salutares de Clarêncio, observações fraternais de Lísias, para renunciar às lamentações;
mas, ao carinho maternal, como que se reabriam velhas feridas.

Do pranto de alegria passei às lágrimas de angústia, relembrando exacerbadamente os trâmites terrestres.

Não conseguia atinar que a visita não era para satisfação dos meus caprichos, e sim preciosa bênção de acréscimo da misericórdia divina.

Copiando antigas exigências, concluí erroneamente que minha progenitora deveria continuar como repositório de minhas queixas e males sem-fim.

Na Terra, quase sempre, as mães não passam de escravas, no conceito dos filhos.
Raros lhes entendem a dedicação antes de as perder.
Na mesma falsa concepção de outros tempos, descambei para o terreno das confidências dolorosas.

Minha mãe ouviu-me calada, deixando transparecer inexprimível melancolia.
Olhos húmidos, aconchegando-me de quando em quando mais estreitamente ao coração, falou, carinhosa:
- Oh! filho, não ignoro as instruções que o nosso generoso Clarêncio te ministrou.

Não te queixes. Agradeçamos ao Pai a bênção desta reaproximação.
Sintamo-nos agora numa escola diferente, onde aprendemos a ser filhos do Senhor.
Na posição de mãe terrestre, nem sempre consegui orientar-te como convinha.

Também eu trabalho, pois, reajustando o coração.
Tuas lágrimas fazem-me voltar à paisagem dos sentimentos humanos.
Alguma coisa tenta operar o retrocesso de minh'alma.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 10, 2011 11:45 pm

Quero dar razão aos teus lamentos, erigir-te um trono, qual se foras a melhor criatura do Universo;
mas essa atitude, presentemente, não se coaduna com as novas lições da vida.

Esses gestos são perdoáveis nas esferas da carne;
aqui, porém, filho meu, é indispensável atender, antes de tudo, ao Senhor.

Não és o único homem desencarnado a reparar os próprios erros, nem sou a única mãe a sentir-se distante dos entes amados.

Nossa dor, portanto, não nos edifica pelos prantos que vertemos, ou pelas feridas que sangram em nós, mas pela porta de luz que nos oferece ao espírito, a fim de sermos mais compreensivos e mais humanos.

Lágrimas e úlceras constituem o processo de bendita extensão dos nossos mais puros sentimentos.
Depois de longa pausa, em que a consciência profunda me advertia solene, minha mãe prosseguiu:
- Se é possível aproveitar estes minutos rápidos, em expansões de amor, por que desviá-los para a sombra das lamentações?

Regozijemo-nos, filho, e trabalhemos incessantemente.
Modifica a atitude mental.

Conforta-me tua confiança em meu carinho, experimento sublime felicidade em tua ternura filial, mas não posso retroceder nas minhas experiências.
Amemo-nos, agora, com o grande e sagrado amor divino.

Aquelas palavras benditas me despertaram.
Guardava a impressão de fluidos vigorosos que partiam do sentimento materno vitalizando-me o coração.

Minha mãe me contemplava desvanecida, mostrando belo sorriso.

Ergui-me, respeitoso, e beijei-a na fronte, sentindo-a mais amorosa e mais bela que nunca.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 11, 2011 10:48 pm

16 - CONFIDÊNCIAS

Consolou-me a palavra maternal, reorganizando-me as energias interiores.

Minha mãe comentava o serviço como se fora uma bênção às dores e dificuldades, levando-as a crédito de alegrias e lições sublimes.

Inesperado e inexprimível contentamento banhava-me o espírito.
Aqueles conceitos alimentavam-me de estranho modo.

Sentia-me outro, mais alegre, animado e feliz.
- Oh! minha mãe! - exclamei comovido - deve ser maravilhosa a esfera da sua habitação!
Que sublimes contemplações espirituais, que ventura!.

Ela esboçou um sorriso significativo e obtemperou:
- A esfera elevada, meu filho, requer, sempre, mais trabalho, maior abnegação.
Não suponhas que tua mãe permaneça em visões beatificas, a distância dos deveres justos.

Devo fazer-te sentir, no entanto, que minhas palavras não representam qualquer nota de tristeza, na situação em que me encontro.

É antes revelação de responsabilidade necessária.
Desde que voltei da Terra, tenho trabalhado intensamente pela nossa renovação espiritual.

Muitas entidades, desencarnando, permanecem agarradas ao lar terrestre, a pretexto de muito amarem os que demoram no mundo carnal.

Ensinaram-me aqui, todavia, que o verdadeiro amor, para transbordar em benefícios, precisa trabalhar sempre.

Desde minha vinda, então, procuro esforçar-me por conquistar o direito de ajudar aqueles que tanto amamos.
- E meu pai? - perguntei - onde está? Por que não veio com a senhora?

Minha mãe estampou singular expressão no rosto e respondeu:
- Ah! teu pai! teu pai!...
Há doze anos que está numa zona de trevas compactas, no Umbral.

Na Terra, sempre nos parecera fiel às tradições da família, arraigado ao cavalheirismo do alto comércio, a cujos quadros pertenceu até ao fim da existência, e ao fervor do culto externo, em matéria religiosa;
mas, no fundo, era fraco e mantinha ligações clandestinas, fora do nosso lar.

uas delas estavam mentalmente ligadas a vasta rede de entidades maléficas, e, tão logo desencarnou o meu pobre Laerte, a passagem no Umbral lhe foi muito amarga, porque as desventuradas criaturas, a quem fizera muitas promessas, aguardavam-no ansiosas, prendendo-o de novo nas teias da ilusão.

A princípio, ele quis reagir, esforçando-se por encontrar-me, mas não pôde compreender que após a morte do corpo físico a alma se encontra tal qual vive intrinsecamente.

Laerte, portanto, não percebeu minha presença espiritual, nem a assistência desvelada de outros amigos nossos.

Tendo gasto muitos anos a fingir, viciara a visão espiritual, restringira o padrão vibratório, e o resultado foi achar-se tão-só na companhia das relações que cultivara irreflectidamente, pela mente e pelo coração.

Os princípios da família e o amor ao nosso nome ocuparam algum tempo o seu espírito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 11, 2011 10:48 pm

De algum modo, lutou, repelindo as tentações; mas caiu afinal, novamente enredado na sombra, por falta de perseverança no bom e recto pensamento.

Muitíssimo impressionado, perguntei:
- Não há, porém, meios de subtrai-lo a tais abjecções?
- Ah! meu filho - elucidou a palavra materna -, eu o visito frequentemente.
Ele, porém, não me percebe. Seu potencial vibratório é ainda muito baixo.

Tento atraí-lo ao bom caminho, pela inspiração, mas apenas consigo arrancar-lhe algumas lágrimas de arrependimento, de quando em quando, sem obter resoluções sérias.

As infelizes, das quais se tornou prisioneiro, retiram-no às minhas sugestões.

Venho trabalhando intensamente, anos a fio, Solicitei o amparo de amigos em cinco núcleos diversos, de actividade espiritual mais elevada, inclusive aqui em "Nosso Lar".

Certa vez, Clarêncio quase conseguiu atraí-lo ao Ministério da Regeneração, mas debalde.
Não é possível acender luz em candeia sem óleo e sem pavio...
Precisamos da adesão mental de Laerte, para conseguir levantá-lo e abrir-lhe a visão espiritual.

No entanto, o pobrezinho permanece inactivo em si mesmo, entre a indiferença e a revolta.
Depois de longa pausa, suspirou, continuando:
- Talvez não saibas ainda que tuas irmãs Clara e Priscila vivem hoje igualmente no Umbral, agarradas á crosta da Terra.

Sou compelida a atender às necessidades de todos.
Meu único auxílio directo repousava na cooperação afectuosa de tua irmã Luísa, aquela que partiu quando eras pequenino.

Luísa esperou-me aqui muitos anos, foi meu braço forte nos trabalhos ásperos de amparo à família terrena.

Ultimamente, contudo, depois de lutar corajosa, a meu lado, em benefício de teu pai, de ti e das irmãs, tão grande é a perturbação dos nossos familiares, ainda na Terra, que voltou a semana passada, a fim de reencarnar entre eles, num gesto heróico de sublime renúncia.

Espero, pois, que te restabeleças breve, para que possamos desdobrar actividades no bem.
Assombravam-me as informações referentes a meu pai.

Que espécie de lutas seriam as dele?
Não parecia sincero praticante dos preceitos religiosos, não comungava todos os domingos?

Enlevado com a dedicação maternal, perguntei:
- A senhora, entretanto, auxilia o papai, não obstante a ligação dele com essas mulheres infames?

- Não as classifiques assim - ponderou minha mãe -' diz, antes, meu filho, nossas irmãs doentes, ignorantes ou infelizes.
São filhas de nosso Pai, igualmente.

Não tenho feito intercessões apenas por Laerte, mas por elas também, e estou convencida de haver encontrado recursos para atraí-los todos ao meu coração.
Espantou-me a grande manifestação de renúncia.

Pensei subitamente em minha família directa.
Senti o velho apego à esposa e aos filhos queridos.

Perante Clarêncio e Lísias, deliberava sempre recalcar sentimentos e calar indagações;
mas o olhar materno encorajava-me.
Alguma coisa me fazia sentir que minha mãe não se demoraria muito tempo a meu lado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 11, 2011 10:48 pm

Aproveitando o minuto que corria célere, interroguei:
- A senhora, que tem acompanhado o papai devotadamente, nada poderá informar relativamente a Zélia e às crianças?

Aguardo, ansioso, o instante de voltar a casa, a fim de auxiliá-los.
Oh! minhas imensas saudades devem ser igualmente compartilhadas por eles!
Como deve sofrer minha desventurada esposa com esta separação!...

Minha mãe esboçou um sorriso triste e acrescentou:
- Tenho visitado meus netos periodicamente. Vão bem.

E, depois de meditar alguns instantes, acentuou:
- Não deves, porém, inquietar-te com o problema de auxílio à família.
Prepara-te, em primeiro lugar, para que sejamos bem sucedidos;
há questões que precisamos entregar ao Senhor, em pensamento, antes de trabalhar na solução que elas requerem.

Quis insistir no assunto para colher pormenores, mas minha mãe não reincidiu nele, esquivando-se, delicada.

A palestra estendeu-se ainda longa, envolvendo-me em sublime conforto.
Mais tarde, ela despediu-se.
Curioso por saber como vivia até ali, pedi permissão para acompanhá-la.

Afagou-me então, carinhosa, e disse:
- Não venhas, meu filho.

Esperam-me com urgência no Ministério da Comunicação, onde serei munida de recursos fluídicos para a jornada de regresso, nos gabinetes transformatórios.

Além disso, preciso ainda avistar-me com o Ministro Célio, para agradecer a oportunidade desta visita.

E, deixando-me n'alma duradoura impressão de felicidade, beijou-me e partiu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 11, 2011 10:49 pm

17 - EM CASA DE LÍSIAS

Não se passaram muitos dias, após a inesperada visita de minha mãe, quando Lísias me veio buscar, a chamado do Ministro Clarêncio.

Segui-o, surpreso.
Recebido amavelmente pelo magnânimo benfeitor, esperava-lhe as ordens com enorme prazer.

- Meu amigo - disse, afável -, doravante está autorizado a fazer observações nos diversos sectores de nossos serviços, com excepção dos Ministérios de natureza superior.

Henrique de Luna deu por terminado seu tratamento, na semana última, e é justo, agora, aproveite o tempo observando e aprendendo.

Olhei para Lísias, como irmão que devia participar da minha felicidade indizível, naquele instante.
O enfermeiro correspondeu-me ao olhar com intenso júbilo.
Não cabia em mim de contente.

Era o início de vida nova.
De alguma sorte, poderia trabalhar, ingressando em escolas diferentes.

Clarêncio, que parecia perceber minha intraduzível ventura, acentuou:
- Tornando-se dispensável sua permanência no parque hospitalar, examinarei atentamente a possibilidade de sua localização em ambiente novo.

Consultarei alguma de nossas instituições...
Lísias, porém, cortou-lhe a palavra, exclamando:
- Se possível, estimaria recebê-lo em nossa casa, enquanto perdurar o curso de observações; lá, minha mãe o trataria como filho.

Fitei o visitador num transporte de alegria. Clarêncio, por sua vez, também lhe endereçou um olhar de aprovação, murmurando:
- Muito bem, Lísias! Jesus alegra-se connosco, sempre que recebemos um amigo no coração.

Abracei o prestativo enfermeiro, sem poder traduzir meu agradecimento.
A alegria às vezes nos emudece.

- Guarde este documento - disse-me o atencioso Ministro do Auxílio, entregando-me pequena caderneta -, com ele, poderá ingressar nos Ministérios da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação e do Esclarecimento, durante um ano.

Decorrido esse tempo, veremos o que será possível fazer relativamente aos seus desejos.
Instrua-se, meu caro.
Não perca tempo. O interstício das experiências carnais deve ser bem aproveitado.

Lísias deu-me o braço e saí, enlevado de prazer.
Passados minutos, eis-nos à porta de graciosa construção, cercada de colorido jardim.

- É aqui - exclamou o delicado companheiro.
E, com expressão carinhosa, acrescentou:
- O nosso lar, dentro de "Nosso Lar".

Ao tinido brando da campainha no interior, surgiu à porta simpática matrona.
- Mãe! Mãe!... - gritou o enfermeiro, apresentando-me alegremente - este é o irmão que prometi trazer-te.
- Seja bem-vindo, amigo! - exclamou a senhora nobremente. - Esta casa é sua.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 11, 2011 10:49 pm

E abraçando-me:
- Soube que sua mamãe não vive aqui.
Nesse caso, terá em mim uma irmã, com funções maternais.
Não sabia como agradecer a generosa hospitalidade.

Ia ensaiar algumas frases, para demonstrar minha comoção e reconhecimento, mas a nobre matrona, revelando singular bom humor, adiantou-se, adivinhando-me os pensamentos:
- Está proibido de falar em agradecimentos.

Não o faça. Obrigar-me-ia a lembrar, de repente, muitas frases convencionais da Terra...
Rimo-nos todos e murmurei, comovido:
- Que o Senhor traduza meu agradecimento a todos em renovadas bênçãos de alegria e paz.

Entramos. Ambiente simples e acolhedor.
Móveis quase idênticos aos terrestres; objectos em geral, demonstrando pequeninas variantes.

Quadros de sublime significação espiritual, um piano de notáveis proporções, descansando sobre ele grande harpa talhada em linhas nobres e delicadas.

Identificando-me a curiosidade, Lísias falou, prazenteiro:
- Como vê, depois do sepulcro não encontrou ainda os anjos harpistas; mas aí temos uma harpa esperando por nós mesmos.

- Oh! Lísias - atalhou a palavra materna, carinhosa -, não faças ironia.
Não te recordas como o Ministério da União Divina recebeu o pessoal da Elevação, no ano passado, quando passaram por aqui alguns embaixadores da Harmonia?

- Sim, mamãe; mas quero apenas dizer que os harpistas existem, e precisamos criar audição espiritual, para ouvi-los, esforçando-nos, por nossa vez, no aprendizado das coisas divinas.

Em seguida aos conceitos obrigatórios de apresentação, com que relacionei minha procedência, vim a saber que a família de Lísias vivera em antiga cidade do Estado do Rio de Janeiro;
que sua mãe chamava-se Laura e que, em casa, tinha consigo duas irmãs, Iolanda e Judite.

Respirava-se, ali, doce e reconfortante intimidade.
Não conseguia disfarçar meu contentamento e enorme alegria.
Aquele primeiro contacto com a organização doméstica na colónia, enlevava-me.

A hospitalidade, cheia de ternura, arrancava-me ao espírito notas de profunda emoção.
Em face do tiroteio de perguntas, Iolanda exibiu-me livros maravilhosos.

Notando-me o interesse, a dona da casa advertiu:
- Temos em "Nosso Lar", no que concerne à literatura, uma enorme vantagem; é que os escritores de má-fé, os que estimam o veneno psicológico, são conduzidos imediatamente para as zonas obscuras do Umbral.

Por aqui não se equilibram, nem mesmo no Ministério da Regeneração, enquanto perseveram em semelhante estado d’alma.

Não pude deixar de sorrir, continuando a observar os primores da arte fotográfica, nas páginas sob meus olhos.

Em seguida, chamou-me Lísias para ver algumas dependências da casa, demorando-me na Sala de Banho, cujas instalações interessantes me maravilharam.

Tudo simples, mas confortável.
Não voltara a mim da admiração que me empolgava, quando a senhora Laura convidou à oração.
Sentamo-nos, silenciosos, em torno de grande mesa.

Ligado um grande aparelho, fez-se ouvir música suave.
Era o louvor do momento crepuscular.

Surgiu, ao fundo, o mesmo quadro prodigioso da Governadoria, que eu nunca me cansava de contemplar todas as tardes, no parque hospitalar.

Naquele momento, porém, sentia-me dominado de profunda e misteriosa alegria.

E vendo o coração azul desenhado ao longe, senti que minh'alma se ajoelhava no templo interior, em sublimes transportes de júbilo e reconhecimento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 11, 2011 10:49 pm

18 - AMOR, ALIMENTO DAS ALMAS

Terminada a oração, chamou-nos à mesa a dona da casa, servindo caldo reconfortante e frutas perfumadas, que mais pareciam concentrados de fluidos deliciosos.

Eminentemente surpreendido, ouvi a senhora Laura observar com graça:
- Afinal, nossas refeições aqui são muito mais agradáveis que na Terra.

Há residências, em "Nosso Lar", que as dispensam quase por completo;
mas, nas zonas do Ministério do Auxílio, não podemos prescindir dos concentrados fluídicos, tendo em vista os serviços pesados que as circunstâncias impõem.

Despendemos grande quantidade de energias.
É necessário renovar provisões de força.
- Isso, porém - ponderou uma das jovens -, não quer dizer que somente nós, os funcionários do Auxílio e da Regeneração, vivamos a depender de alimentos.

Todos os Ministérios, inclusive o da União Divina, não os dispensam, diferindo apenas a feição substancial.
Na Comunicação e no Esclarecimento há enorme dispêndio de frutos.
Na Elevação o consumo de sucos e concentrados não é reduzido, e, na União Divina, os fenómenos de alimentação atingem o inimaginável.

Meu olhar indagador ia de Lísias para a Senhora Laura, ansioso de explicações imediatas.

Sorriam todos da minha natural perplexidade, mas a mãe de Lísias veio ao encontro dos meus desejos, explicando:
- Nosso irmão talvez ainda ignore que o maior sustentáculo das criaturas é justamente o amor.

De quando em quando, recebemos em "Nosso Lar" grandes comissões de instrutores, que ministram ensinamentos relativos à nutrição espiritual.

Todo sistema de alimentação, nas variadas esferas da vida, tem no amor a base profunda.

O alimento físico, mesmo aqui, propriamente considerado, é simples problema de materialidade transitória, como no caso dos veículos terrestres, necessitados de colaboração da graxa e do óleo.

A alma, em si, apenas se nutre de amor.
Quanto mais nos elevarmos no plano evolutivo da Criação, mais extensamente conheceremos essa verdade.

Não lhe parece que o amor divino seja o cibo do Universo?
Tais elucidações confortavam-me sobremaneira.

Percebendo-me a satisfação íntima, Lísias interveio, acentuando:
- Tudo se equilibra no amor infinito de Deus, e, quanto mais evolvido o ser criado, mais subtil o processo de alimentação.

O verme, no subsolo do planeta, nutre-se essencialmente de terra.
O grande animal colhe na planta os elementos de manutenção, a exemplo da criança sugando o seio materno.

O homem colhe o fruto do vegetal, transforma-o segundo a exigência do paladar que lhe é próprio, e serve-se dele à mesa do lar.

Nós outros, criaturas desencarnadas, necessitamos de substâncias suculentas, tendentes à condição fluídica, e o processo será cada vez mais delicado, à medida que se intensifique a ascensão individual.

- Não esqueçamos, todavia, a questão dos veículos - acrescentou a senhora Laura -, porque, no fundo, o verme, o animal, o homem e nós, dependemos absolutamente do amor.

Todos nos movemos nele e sem ele não teríamos existência.
- É extraordinário! - aduzi, comovido.
- Não se lembra do ensino evangélico do "amai-vos uns aos outros"? - prosseguiu a mãe de Lísias atenciosa - Jesus não preceituou esses princípios objectivando tão-somente os casos de caridade, nos quais todos aprenderemos, mais dia, menos dia, que a prática do bem constitui simples dever.

Aconselhava-nos, igualmente, a nos alimentarmos uns aos outros, no campo da fraternidade e da simpatia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 11, 2011 10:50 pm

O homem encarnado saberá, mais tarde, que a conversação amiga, o gesto afectuoso, a bondade recíproca, a confiança mútua, a luz da compreensão, o interesse fraternal - patrimónios que se derivam naturalmente do amor profundo - constituem sólidos alimentos para a vida em si.

Reencarnados na Terra, experimentamos grandes limitações; voltando para cá, entretanto, reconhecemos que toda a estabilidade da alegria é problema de alimentação puramente espiritual.

Formam-se lares, vilas, cidades e nações em obediência a imperativos tais.

Recordei instintivamente as teorias do sexo, largamente divulgadas no mundo;
mas, adivinhando-me talvez os pensamentos, a senhora Laura sentenciou:
- E ninguém diga que o fenómeno é simplesmente sexual.

O sexo é manifestação sagrada desse amor universal e divino, mas é apenas uma expressão isolada do potencial infinito.

Entre os casais mais espiritualizados, o carinho e a confiança, a dedicação e o entendimento mútuos permanecem muito acima da união física, reduzida, entre eles, a realização transitória.

A permuta magnética é o factor que estabelece ritmo necessário à manifestação da harmonia.
Para que se alimente a ventura, basta a presença e, às vezes, apenas a compreensão.

Valendo-se da pausa, Judite acrescentou:
- Aprendemos em "Nosso Lar" que a vida terrestre se equilibra no amor, sem que a maior parte dos homens se aperceba.
Almas gémeas, almas irmãs, almas afins, constituem pares e grupos numerosos.

Unindo-se umas às outras, amparando-se mutuamente, conseguem equilíbrio no plano de redenção.
Quando, porém, faltam companheiros, a criatura menos forte costuma sucumbir em meio da jornada.
- Como vê, meu amigo - objectou Lísias contente -, ainda aqui é possível relembrar o Evangelho do Cristo.

"Nem só de pão vive o homem."
Antes, porém, de se alinharem novas considerações, tiniu a campainha fortemente.
Levantou-se o enfermeiro para atender.
Dois rapazes de fino trato entraram na sala.

- Aqui tem - disse Lísias, dirigindo-se a mim gentilmente - nossos irmãos Polidoro e Estácio, companheiros de serviço no Ministério do Esclarecimento.
Saudações, abraços, alegria.

Decorridos momentos, a senhora Laura falou sorridente:
- Todos vocês trabalharam muito, hoje.
Utilizaram o dia com proveito.
Não estraguem o programa afectivo, por nossa causa.
Não esqueçam a excursão ao Campo da Música.

Notando a preocupação de Lísias, advertiu a palavra materna:
- Vai, meu filho. Não faças Lascínia esperar tanto.
Nosso irmão ficará em minha companhia, até que te possa acompanhai nesses entretenimentos.
- Não se incomode por mim - exclamei, instintivamente.

A senhora Laura, porém, esboçou amável sorriso e respondeu
- Não poderei compartilhar das alegrias do Campo, ainda hoje.
Temos em casa minha neta convalescente, que voltou da Terra há poucos dias.
Saíram todos, em meio do júbilo geral.

A dona da casa, fechando a porta, voltou-se para mim e explicou sorridente:
- Vão em busca do alimento a que nos referíamos.
Os laços afectivos, aqui, são mais belos e mais fortes.

O amor, meu amigo, é o pão divino das almas, o pábulo sublime dos corações.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 11, 2011 10:50 pm

19 - A JOVEM DESENCARNADA

- Sua neta não vem à mesa para as refeições? - perguntei à dona da casa, ensaiando palestra mais íntima.

- Por enquanto, alimenta-se a sós - esclareceu dona Laura -, a tolinha continua nervosa, abatida.
Aqui, não trazemos à mesa qualquer pessoa que se manifeste perturbada ou desgostosa.

A neurastenia e a inquietação emitem fluidos pesados e venenosos, que se misturam automaticamente às substâncias alimentares.

Minha neta demorou-se no Umbral quinze dias, em forte sonolência, assistida por nós.

Deveria ingressar nos pavilhões hospitalares, mas, afinal, veio submeter-se aos meus cuidados directos.

Manifestei desejo de visitar a recém-chegada do planeta.
Seria muito interessante ouvi-la.
Há quanto tempo estava sem notícias directas da existência comum?

A senhora Laura não se fez rogada quando lhe dei a conhecer meu desejo.
Demandamos um quarto confortável e muito amplo.
Uma jovem muito pálida repousava em cómoda poltrona. Surpreendeu-se vivamente ao verme.

- Este amigo, Eloísa - explicou a progenitora de Lísias, indicando-me -, é um irmão nosso que voltou da esfera física, há pouco tempo.

A moça fitou-me curiosa, embora os olhos perdidos nas fundas olheiras traduzissem grande esforço para concentrar atenção.

Cumprimentou-me, esboçando vago sorriso, dando-me eu a conhecer, por minha vez.
- Deve estar cansada - observei.

Antes, porém, que ela respondesse, adiantou-se a senhora Laura, procurando subtrai-la a esforços sobre posse fatigantes:
- Eloísa tem estado inquieta, aflita.
Em parte, justifica-se.

A tuberculose foi longa e deixou-lhe traços profundos; entretanto, não se pode prescindir, a tempo algum, do optimismo e da coragem.

Vi a jovem arregalar os olhos muito negros, como a reter o pranto, mas em vão.
O tórax começou a arfar-lhe violentamente e, colando o lenço ao rosto, não conseguia conter os soluços angustiosos.

- Tolinha! - disse a meiga senhora abraçando-a - é necessário reagir contra isso.
Estas impressões são os resultados da educação religiosa deficiente, nada mais.

Sabes que tua mãe não se demorará e que não podes contar com a fidelidade do noivo, que, de modo algum, está preparado a te oferecer uma sincera dedicação espiritual na Terra.

Ele ainda está longe do espírito sublime do amor iluminado.
Naturalmente, desposará outra e deves habituar-te a esta convicção.
Nem seria justo exigir-lhe a vinda brusca.

Sorrindo maternalmente, a senhora Laura acrescentou:
- Admitamos que viesse, forçando a lei.
Não seria mais duro o sofrimento?
Não pagarias caro a cooperação que houvesses desenvolvido nesse particular?

Não te faltarão amizades carinhosas, nem colaboração fraternal, para que te equilibres aqui.
E se amas, de facto, o rapaz, deves procurar harmonia para beneficiá-lo mais tarde.
Além disso, tua mãe não tarda a chegar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 11, 2011 10:50 pm

Penalizou-me o pranto copioso da jovem.
Procurei estabelecer novo rumo à conversação, tentando subtrai-la à crise de lágrimas.
- Donde vem você, Eloísa? - interroguei.
A mãe de Lísias, agora calada, parecia igualmente desejosa de vê-la desembaraçar-se.

Após longos instantes em que enxugava os olhos lacrimosos, a moça respondeu:
- Do Rio de Janeiro.
- Mas não deve chorar assim - objectei. Você é muito feliz.
Desencarnou há poucos dias, está com os seus parentes e não conheceu tempestades na grande viagem...

Ela pareceu reanimar-se, falando mais calma:
- Não imagina, porém, quanto tenho sofrido.
Oito meses de luta com a tuberculose, não obstante os tratamentos... a mágoa de haver transmitido a moléstia a minha carinhosa mãe...

Além disso, o que padeceu por minha causa o pobre noivo, é inenarrável...
- Ora, ora, não diga isso - observou a senhora Laura a sorrir.
Na Terra temos sempre a ilusão de que não há dor maior que a nossa.

Pura cegueira:
há milhões de criaturas afrontando situações verdadeiramente cruéis, comparadas às nossas experiências.
- Arnaldo, porém, vovó, ficou sem consolo, desesperado.
Tudo isso dá que pensar - acentuou contrafeita.

- E acreditas sinceramente nessa impressão? - perguntou a matrona com inflexão de carinho.
Observei teu ex-noivo, diversas vezes, no curso da tua enfermidade.
Era natural que ele se comovesse tanto, vendo-te o corpo reduzido a frangalhos;
mas não está preparado para compreender um sentimento puro.

Reconfortar-se-á muito depressa.
Amor iluminado não é para qualquer criatura humana.
Conserva, portanto, o teu optimismo.

Poderás auxiliá-lo, sem dúvida, muitas vezes, mas no que concerne à união conjugal, quando puderes excursionar às esferas do planeta, em nossa companhia, já o encontrarás casado com outra.

Admirado por minha vez, notei a surpresa dolorosa de Eloísa.
Não sabia a convalescente como portar-se ante a serenidade e o bom senso da avó.

- Será possível?
A progenitora de Lísias esboçou um gesto extremamente carinhoso e falou:
- Não sejas teimosa, nem tentes desmentir-me.

Vendo que a enferma parecia tomar a atitude íntima de quem deseja provas, a senhora Laura insistiu, muito meiga:
- Não te recordas da Maria da Luz, a colega que te levava flores todos os domingos?

Pois nota: quando o médico anunciou, em carácter confidencial, a impossibilidade de restabelecer-te o corpo físico, Arnaldo, embora muito magoado, começou a envolvê-la em vibrações mentais diferentes.

Agora que aqui estás, não demorarão muito as resoluções novas.
Ah! que horror, vovó!
- Horror, por quê?
É preciso te habituares a considerar as necessidades alheias.
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