LUZ ESPÍRITA
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Série André Luiz - Nosso Lar

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 16, 2011 11:01 pm

Tapetes dourados e luminosos estendiam-se, dessa maneira, sob as grandes árvores sussurrantes ao vento.

Minhas impressões de felicidade e paz eram inexcedíveis.
O sonho não era propriamente qual se verifica na Terra.

Eu sabia, perfeitamente, que deixara o veículo inferior no apartamento das Câmaras de Rectificação, em "Nosso Lar", e tinha absoluta consciência daquela movimentação em plano diverso.

Minhas noções de espaço e tempo eram exactas.
A riqueza de emoções, por sua vez, afirmava-se cada vez mais intensa.

Após dirigir-me sagrados incentivos espirituais, minha mãe esclareceu bondosamente:
- Muito roguei a Jesus me permitisse a sublime satisfação de ter-te a meu lado, no teu primeiro dia de serviço útil.

Como vês, meu filho, o trabalho é tónico divino para o coração.
Numerosos companheiros nossos, após deixarem a Terra, demoram em atitudes contraproducentes, aguardando milagres que jamais se verificarão.

Reduzem-se, desse modo, formosas capacidades a simples expressões parasitárias.

Alguns se dizem desencorajados pela solidão, outros, como sucedia na Terra, declaram-se em desacordo com o meio a que foram chamados para servir ao Senhor.

É indispensável, André, converter toda a oportunidade da vida em motivo de atenção a Deus.

Nos círculos inferiores, meu filho, o prato de sopa ao faminto, o bálsamo ao leproso, o gesto de amor ao desiludido, são serviços divinos que nunca ficarão deslembrados na Casa de Nosso Pai;
aqui, igualmente, o olhar de compreensão ao culpado, a promessa evangélica aos que vivem no desespero, a esperança ao aflito, constituem bênçãos de trabalho espiritual, que o Senhor observa e regista a nosso favor...

A fisionomia de minha progenitora estava mais bela que nunca.

Seus olhos de madona pareciam irradiar luminosidade sublime, suas mãos transmitiam-me, nos gestos de ternura, fluidos criadores de energias novas, a par de caridosas emoções.

- O Evangelho de Jesus, meu André - continuou amorosamente -, lembra-nos que há maior alegria em dar que em receber.
Aprendamos a concretizar semelhante princípio, no esforço diário a que formos conduzidos pela nossa própria felicidade.

Dá sempre, filho meu.
Sobretudo, jamais esqueças dar de ti mesmo, em tolerância construtiva, em amor fraternal e divina compreensão.
A prática do bem exterior é um ensinamento e um apelo, para que cheguemos à prática do bem interior.

Jesus deu mais de si para o engrandecimento dos homens, que todos os milionários da Terra congregados no serviço, sublime embora, da caridade material.

Não te envergonhes de amparar os chaguentos e esclarecer os loucos que penetrem as Câmaras de Rectificação, onde identifiquei, espiritualmente, teus serviços, à noite passada.

Trabalha, meu filho, fazendo o bem.
Em todas as nossas colónias espirituais, como nas esferas do globo, vivem almas inquietas, ansiosas de novidades e distracção.
Sempre que possas, porém, olvida o entretenimento e busca o serviço útil.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 12:02 am

Assim como eu, indigente como sou, posso ver, em espírito, teus esforços em "Nosso Lar" e seguir as mágoas de teu pai nas zonas umbralinas, Deus nos vê e acompanha a todos, desde o mais lúcido embaixador de sua bondade, aos últimos seres da Criação, muito abaixo dos vermes da Terra.

Minha mãe fez uma pausa, que desejei aproveitar para dizer alguma coisa, mas não pude. Lágrimas de emoção embargavam-me a voz.

Ela endereçou-me carinhoso olhar, compreendendo a situação e continuou:
- Conhecemos, aqui, na maioria das colónias espirituais, a remuneração de serviço do bónus-hora.

Nossa base de compensação une dois factores essenciais.

O bónus representa a possibilidade de receber alguma coisa de nossos irmãos em luta, ou de remunerar alguém que se encontre em nossas realizações;
mas o critério quanto ao valor da hora pertence exclusivamente a Deus.

Na bonificação exterior pode haver muitos erros de nossa personalidade falível, considerando nossa posição de criaturas em labores de evolução, como acontece na Terra; mas, no concernente ao conteúdo espiritual da hora, há correspondência directa entre o Servidor e as Forças Divinas da Criação.

É por isso, André, que nossas actividades experimentais, no progresso comum, a partir da esfera carnal, sofrem contínuas modificações todos os dias.

Tabelas, quadros, pagamentos, são modalidades de experimentação dos administradores, a que o Senhor concedeu a oportunidade de cooperar nas Obras Divinas da Vida, assim como concede à criatura o privilégio de ser pai ou mãe, por algum tempo, na Terra e noutros mundos.

Todo administrador sincero é cioso dos serviços que lhe competem; todo pai consciente está cheio de amor desvelado.
Deus também, meu filho, é Administrador vigilante e Pai devotadíssimo.

A ninguém esquece e reserva-se o direito de entender-se com o trabalhador, quanto ao verdadeiro proveito no tempo de serviço.

Toda compensação exterior afecta a personalidade em experiência;
mas, todo valor de tempo interessa à personalidade eterna, aquela que permanecerá sempre em nossos círculos de vida, em marcha para a glória de Deus.

É por essa razão que o Altíssimo concede sabedoria ao que gasta tempo em aprender e dá mais vida e mais alegria aos que sabem renunciar!...

Minha mãe calou-se enquanto eu enxugava os olhos.
Foi então que ela me tomou nos braços, acariciando-me desveladamente.

Qual o menino que adormece após a lição, perdi a consciência de mim mesmo, para despertar mais tarde nas Câmaras de Rectificação, experimentando vigorosas sensações de alegria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 12:02 am

37 - A PRELECÇÃO DA MINISTRA

No curso de trabalhos do dia imediato, grande era o meu interesse pela conferência da Ministra Veneranda.

Ciente de que necessitaria permissão, entendi-me com Tobias a respeito.
- Essas aulas - disse ele - são ouvidas somente pelos espíritos sinceramente interessados.
Os instrutores, aqui, não podem perder tempo.

Fica você, desse modo, autorizado a comparecer com os ouvintes que se contam por centenas, entre servidores e abrigados dos Ministérios da Regeneração e do Auxílio.

Num gesto afectuoso de estímulo, rematou:
- Desejo-lhe excelente proveito.

Transcorreu o novo dia em serviço activo. O contacto de minha mãe, suas belas observações relativas à prática do bem, enchiam-me o espírito de sublime conforto.

A princípio, logo após o despertar, aqueles esclarecimentos sobre o bónus-hora me haviam suscitado certas interrogações de vulto.

Como poderia estar a compensação da hora afecta a Deus?
Não era atribuição do administrador espiritual, ou humano, a contagem do tempo?
Tobias, porém, esclarecera-me a inteligência faminta de luz.

Aos administradores, em geral, impende a obrigação de contar o tempo de serviços, sendo justo, igualmente, instituírem elementos de respeito e consideração ao mérito do trabalhador;
mas, quanto ao valor essencial do aproveitamento justo, só mesmo as Forças Divinas podem determinar com exactidão.

Há servidores que, depois de quarenta anos de actividade especial, dela se retiram com a mesma insipiência da primeira hora, provando que gastaram tempo sem empregar dedicação espiritual, assim como existem homens que, atingindo cem anos de existência, dela saem com a mesma ignorância da idade infantil.

Tanto é precioso o conceito de sua mamãe - disse Tobias - que basta lembrar as horas dos homens bons e dos maus.

Nos primeiros, transformam-se em celeiros de bênçãos do Eterno;
nos segundos, em látegos de tormento e remorso, como se fossem entes malditos.

Cada filho acerta contas com o Pai, conforme o emprego da oportunidade, ou segundo suas obras.
Essa contribuição de esclarecimento auxiliou-me a ponderar o valor do tempo, em todos os sentidos.

Chegada a hora destinada à prelecção da Ministra, que se realizou após a oração vespertina, dirigi-me, em companhia de Narcisa e Salústio, para o grande salão em plena natureza.

Verdadeira maravilha o recinto verde, onde grandes bancos de relva nos acolheram confortadoramente.
Flores variadas, brilhando à luz de belos candelabros, exalavam delicado perfume.

Calculei a assistência em mais de mil pessoas.
Na disposição comum da grande assembleia, notei que vinte entidades se assentavam em local destacado entre nós outros e a eminência florida onde se via a poltrona da instrutora.

A uma pergunta minha, Narcisa explicou:
- Estamos na assembleia de ouvintes.

Aqueles irmãos, que se conservam em lugar de realce, são os mais adiantados na matéria de hoje, companheiros que podem interpelar a Ministra.
Adquiriram esse direito pela aplicação ao assunto, condição que poderemos alcançar também, por nossa vez.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 12:02 am

- Não pode você figurar entre eles? - indaguei.
- Não. Por enquanto, posso sentar-me ali somente nas noites que a instrutora verse o tratamento dos espíritos perturbados.
Há, porém, irmãos que ali permanecem no trato de várias teses, conforme a cultura já adquirida.

- Muito curioso o processo - aduzi.
- O Governador - prosseguiu a enfermeira explicando - determinou essa medida, nas aulas e palestras de todos os Ministros, a fim de que os trabalhos não se convertessem em desregramento da opinião pessoal, sem base justa, com grave perda de tempo para o conjunto.

Quaisquer dúvidas, quaisquer pontos de vista, verdadeiramente úteis, poderão ser esclarecidos ou aproveitados, mas, tendo em vista o momento adequado.

Mal acabara de falar e eis que a Ministra Veneranda penetrou no recinto em companhia de duas senhoras de porte distinto, que Narcisa informou serem Ministras da Comunicação.

Veneranda espalhou, com a simples presença, enorme alegria em todos os semblantes.
Não mostrava a fisionomia de uma velha, o que contrastava com o nome;
sim, o semblante de nobre senhora na idade madura, cheia de simplicidade, sem afectação.

Depois de palestrar ligeiramente com os vinte companheiros, como a informar-se das necessidades dominantes na assembleia em geral, com relação ao tema da noite, começou por dizer:
- "Como sempre, não posso aproveitar a nossa reunião para discursos de longa tiragem verbal, mas aqui estou para conversar com vocês, relacionando algumas observações sobre o pensamento.

"Encontram-se, entre nós, no momento, algumas centenas de ouvintes que se surpreendem com a nossa esfera cheia de formas análogas às do planeta.

Não haviam aprendido que o pensamento é a linguagem universal?
Não foram informados de que a criação mental é quase tudo em nossa vida?

São numerosos os irmãos que formulam semelhantes perguntas.
Todavia, encontraram aqui a habitação, o utensílio e a linguagem terrestres.
Esta realidade, contudo, não deve causar surpresa a ninguém.

Não podemos esquecer que temos vivido, até agora (referindo-nos à existência humana), em velhos círculos de antagonismo vibratório.

O pensamento é a base das relações espirituais dos seres entre si, mas não olvidemos que somos milhões de almas dentro do Universo, algo insubmissas ainda às leis universais.

Não somos, por enquanto, comparáveis aos irmãos mais velhos e mais sábios, próximos do Divino, mas milhões de entidades a viverem nos caprichosos "mundos inferiores" do nosso "eu".

Os grandes instrutores da humanidade carnal ensinam princípios divinos, expõem verdades eternas e profundas, nos círculos do globo.

Em geral, porém, nas actividades terrenas, recebemos notícias dessas leis sem nos submetermos a elas, e tomamos conhecimento dessas verdades sem lhes consagrarmos nossas vidas.

"Será crível que, somente por admitir o poder do pensamento, ficasse o homem liberto de toda a condição inferior? Impossível!

"Uma existência secular, na carne terrestre, representa período demasiadamente curto para aspirarmos à posição de cooperadores essencialmente divinos.

Informamo-nos a respeito da força mental no aprendizado mundano, mas esquecemos que toda a nossa energia, nesse particular, tem sido empregada por nós, em milénios sucessivos, nas criações mentais destrutivas ou prejudiciais a nós mesmos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 12:03 am

"Somos admitidos aos cursos de espiritualização nas diversas escolas religiosas do mundo, mas com frequência agimos exclusivamente no terreno das afirmativas verbais.

Ninguém, todavia, atenderá ao dever apenas com palavras. Ensina a Bíblia que o próprio Senhor da Vida não estacionou no Verbo e continuou o trabalho criativo na Acção.

"Todos sabemos que o pensamento é força essencial, mas não admitimos nossa milenária viciação no desvio dessa força.

"Ora, é coisa sabida que um homem é obrigado a alimentar os próprios filhos; nas mesmas condições, cada espírito é compelido a manter e nutrir as criações que lhe são peculiares.

Uma ideia criminosa produzirá gerações mentais da mesma natureza; um princípio elevado obedecerá à mesma lei.
Recorramos a símbolo mais simples.

Após elevar-se às alturas, a água volta purificada, veiculando vigorosos fluidos vitais, no orvalho protector ou na chuva benéfica; conservemo-la com os detritos da terra e fala-e-mos habitação de micróbios destruidores.

"O pensamento é força viva, em toda parte; é atmosfera criadora que envolve o Pai e os filhos, a Causa e os Efeitos, no Lar Universal.

Nele, transformam-se homens em anjos, a caminho do céu ou se fazem génios diabólicos, a caminho do inferno.
"Apreendem vocês a importância disso?

Certo, nas mentes evolvidas, entre os desencarnados e encarnados, basta o intercâmbio mental sem necessidade das formas, e é justo destacar que o pensamento em si é a base de todas as mensagens silenciosas da ideia, nos maravilhosos planos da intuição, entre os seres de toda espécie.

Dentro desse princípio, o espírito que haja vivido exclusivamente em França poderá comunicar-se no Brasil, pensamento a pensamento, prescindindo de forma verbalista especial, que, nesse caso, será sempre a do receptor; mas isso também exige a afinidade pura.

Não estamos, porém, nas esferas de absoluta pureza mental, onde todas as criaturas têm afinidades entre si.

Afinamo-nos uns com os outros, em núcleos insulados, e somos compelidos a prosseguir nas construções transitórias da Terra, a fim de regressar aos círculos planetários com maior bagagem evolutiva.

"Nosso Lar", portanto, como cidade espiritual de transição, é uma bênção a nós concedida por "acréscimo de misericórdia", para que alguns poucos se preparem à ascensão, e para que a maioria volte à Terra em serviços redentores.

Compreendamos a grandiosidade das leis do pensamento e submetamo-nos a elas, desde hoje."

Depois de longa pausa, a Ministra sorriu para o auditório e perguntou:
- Quem deseja aproveitar?
Logo após, suave música encheu o recinto de cariciosas melodias.

Veneranda conversou ainda por muito tempo, revelando amor e compreensão, delicadeza e sabedoria.

Sem qualquer solenidade nos gestos para evidenciar o término da conversação, findou a palestra com uma pergunta graciosa.

Quando vi os companheiros levantarem-se para as despedidas, ao som da música habitual, indaguei de Narcisa, surpreendido:
- Que é isso? Acabou a reunião?

A enfermeira bondosa esclareceu, sorridente:
- A Ministra Veneranda é sempre assim.

Finaliza a conversação em meio do nosso maior interesse.
Ela costuma afirmar que as prelecções evangélicas começaram com Jesus, mas ninguém pode saber quando e como terminarão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 12:03 am

38 - O CASO TOBIAS

No terceiro dia de trabalho, alegrou-me Tobias com agradável surpresa.

Findo o serviço, ao entardecer, de vez que outros se incumbiram da assistência nocturna, fui fraternalmente levado à residência dele, onde me aguardavam belos momentos de alegria e aprendizado.

Logo de entrada, apresentou-me duas senhoras, uma já idosa e outra bordejando a madureza.
Esclareceu que esta era sua esposa e aquela, irmã.
Luciana e Hilda, afáveis e delicadas, primaram em gentilezas.

Reunidos na formosa biblioteca de Tobias, examinamos volumes maravilhosos na encadernação e no conteúdo espiritual.

A senhora Hilda convidou-me a visitar o jardim, para que pudesse observar, de perto, alguns caramanchões de caprichosos formatos.

Cada casa, em "Nosso Lar", parecia especializar-se na cultura de determinadas flores.

Em casa de Lísias, as glicínias e os lírios contavam-se por centenas;
na residência de Tobias, as hortênsias inumeráveis desabrochavam nos verdes lençóis de violetas.

Belos caramanchões de árvores delicadas, recordando o bambu ainda novo, apresentavam no alto uma trepadeira interessante, cuja especialidade é unir frondes diversas, à guisa de enormes laços floridos, na verde cabeleira das árvores, formando gracioso tecto.

Não sabia traduzir minha admiração.
Embalsamava-se a atmosfera de inebriante perfume.

Comentávamos a beleza da paisagem geral, vista daquele ângulo do Ministério da Regeneração, quando Luciana nos chamou ao interior, para leve refeição.

Encantado com o ambiente simples, cheio de notas de fraternidade sincera, não sabia como agradecer ao generoso anfitrião.

A certa altura da palestra amável, Tobias acrescentou, sorridente:
- O meu amigo, a bem dizer, é ainda novato em nosso Ministério e talvez desconheça o meu caso familiar.

Sorriam ao mesmo tempo as duas senhoras;
e, observando-me a silenciosa interpelação, o dono da casa continuou:
- Aliás, temos numerosos núcleos nas mesmas condições.

Imagine que fui casado duas vezes...
E, indicando as companheiras de sala, prosseguiu num gesto de bom humor:
- Creio nada precisar esclarecer quanto às esposas.

- Ah! sim - murmurei extremamente confundido -, quer dizer que as senhoras Hilda e Luciana compartilharam das suas experiências na Terra...
- Isso mesmo - respondeu tranquilo.

Nesse ínterim, a senhora Hilda tomou a palavra, dirigindo-se a mim:
- Desculpe o nosso Tobias, irmão André.
Ele está sempre disposto a falar do passado, quando nos encontramos com alguma visita de recém-chegados da Terra.

- Pois não será motivo de júbilo - aduziu Tobias bem-humorado -, vencer o monstro do ciúme inferior, conquistando, pelo menos, alguma expressão de fraternidade real?

- De facto - objectei -, o problema interessa profundamente a todos nós.
Há milhões de pessoas, nos círculos do planeta, em estado de segundas núpcias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 12:03 am

Como resolver tão alta questão afectiva, considerando a espiritualidade eterna?
Sabemos que a morte do corpo apenas transforma sem destruir.
Os laços da alma prosseguem, através do Infinito. Como proceder?

Condenar o homem ou a mulher que se casaram mais de uma vez?
Encontraríamos, porém, milhões de criaturas nessas condições.

Muitas vezes já lembrei, com interesse, a passagem evangélica em que o Mestre nos promete a vida dos anjos, quando se referiu ao casamento na Eternidade.

- Forçoso é reconhecer, todavia, com toda a nossa veneração ao Senhor - atalhou o anfitrião, bondoso -, que ainda não nos achamos na esfera dos anjos e, sim, dos homens desencarnados.

- Mas, como solucionar aqui semelhante situação? - perguntei.
Tobias sorriu e considerou:
- Muito simplesmente; reconhecemos que entre o irracional e o homem há enorme série gradativa de posições.

Assim, também, entre nós outros, o caminho até o anjo representa imensa distância a percorrer.
Ora, como podemos aspirar à companhia de seres angélicos, se ainda não somos nem mesmo fraternos uns com os outros?

Claro que existem caminheiros de ânimo forte, que se revelam superiores a todos os obstáculos da senda, por supremo esforço da vontade;
mas a maioria não prescinde de pontes ou do socorro de guardiães caridosos.

Em vista dessa verdade, os casos dessa natureza são resolvidos nos alicerces da fraternidade legítima, reconhecendo-se que o verdadeiro casamento é de almas e essa união ninguém poderá quebrantar.

Nesse instante, Luciana, que se mantinha silenciosa, interveio, acrescentando:
- Convém explicar, todavia, que tudo isso, felicidade e compreensão, devemos ao espírito de amor e renúncia de nossa Hilda.

A senhora Tobias, no entanto, demonstrando humildade digna, acentuou:
- Calem-se. Nada de qualidades que não possuo.
Buscarei sumariar nossa história, a fim de que nosso hóspede conheça meu doloroso aprendizado.

E continuou, depois de fixar um gesto de narradora amável:
- Tobias e eu nos casamos na Terra, quando ainda muito jovens, em obediência a sagradas afinidades espirituais.

Creio desnecessário descrever a felicidade de duas almas que se unem e se amam verdadeiramente no matrimónio.

A morte, porém, que parecia enciumada de nossa ventura, subtraiu-me do mundo, por ocasião do nascimento do segundo filhinho.

Nosso tormento foi, então, indescritível.
Tobias chorava sem remédio, ao passo que eu me via sem forças para sufocar a própria angústia.

Pesados dias de Umbral abateram-se sobre mim.

Não tive remédio senão continuar agarrada ao marido e ao casal de filhinhos, surda a todo esclarecimento que os amigos espirituais me enviavam, por intuição.
Queria lutar, como a galinha ao lado dos pintainhos.

Reconhecia que o esposo necessitava reorganizar o ambiente doméstico, que os pequeninos reclamavam assistência maternal.

Tornava-se a situação francamente insuportável.
Minha cunhada solteira não tolerava as crianças e a cozinheira apenas fingia dedicação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 12:03 am

Duas amas jovens pautavam toda a conduta pessoal pela insensatez.
Não pôde Tobias adiar a solução justa e, decorrido um ano da nova situação, desposou Luciana, contrariando meus caprichos.

Ah! se soubesse como me revoltei!
Semelhava-me a uma loba ferida.
Minha ignorância deu até para lutar com a pobrezinha, tentando aniquilá-la.

Foi aí que Jesus me concedeu a visita providencial de minha avó materna, desencarnada havia muitos anos.

Chegou ela como quem nada desejava, enchendo-me de surpresa, sentou-se a meu lado, pôs-me em seguida ao colo, como noutro tempo, e perguntou-me lacrimosa:
- "Que é isso, minha neta?
Que papel é o seu na vida?
Você é leoa ou alma consciente de Deus?


Pois nossa irmã Luciana serve de mãe a seus filhos, funciona como criada de sua casa, é jardineira do seu jardim, suporta a bílis do seu marido e não pode assumir o lugar provisório de companheira de lutas, ao lado dele?

É assim que o seu coração agradece os benefícios divinos e remunera aqueles que o servem?
Quer você uma escrava e despreza uma irmã?

Hilda! Hilda! onde está a religião do Crucificado que você aprendeu?
Oh! minha pobre neta, minha pobre!..."

Abracei-me, então, em lágrimas, com a velhinha santa e abandonei o antigo ambiente doméstico, vindo em companhia dela para os serviços de "Nosso Lar".

Desde essa época, tive em Luciana mais uma filha.
Trabalhei, então, intensamente.

Consagrei-me ao estudo sério, ao melhoramento moral de mim mesma, busquei ajudar a todos, sem distinção, em nosso antigo lar terrestre.

Constituiu Tobias uma família nova, que passou a me pertencer, igualmente, pelos sagrados laços espirituais.

Mais tarde, voltou ele, reunindo-se a mim, acompanhado de Luciana, que veio também ter connosco para nossa completa alegria.

E aí tem, meu amigo, a nossa história...
Luciana, contudo, tomou a palavra e observou:
- Não disse ela, porém, quanto se tem sacrificado, ensinando-me com exemplos.
- Que dizes, filha? - perguntou a senhora Tobias, acariciando-lhe a destra.

Luciana sorriu e ajuntou:
- Mas, graças a Jesus e a ela, aprendi que há casamento de amor, de fraternidade, de provação, de dever, e, no dia em que Hilda me beijou, perdoando-me, senti que meu coração se libertara desse monstro que é o ciúme inferior.

O matrimónio espiritual realiza-se, alma com alma, representando os demais simples conciliações indispensáveis à solução de necessidades ou processos rectificadores, embora todos sejam sagrados.

- E assim construímos nosso novo lar, na base da fraternidade legítima - acrescentou o dono da casa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 12:04 am

Aproveitando o ligeiro silêncio que se fizera, indaguei:
- Mas como se processa o casamento aqui?
- Pela combinação vibratória - esclareceu Tobias, atencioso -, ou então, para ser mais explícito -, pela afinidade máxima ou completa.

Incapaz de sopitar a curiosidade, esqueci a lição de bom-tom e interroguei:
- Mas, qual a posição de nossa irmã Luciana neste caso?

Antes, porém, que os cônjuges espirituais respondessem, foi a própria interessada que explicou:
- Quando desposei Tobias, viúvo, já devia estar certa de que, com todas as probabilidades, meu casamento seria uma união fraternal, acima de tudo.

Foi o que me custou a compreender.
Aliás, é lógico que, se os consortes padecem inquietação, desentendimento, tristeza, estão unidos fisicamente, mas não integrados no matrimónio espiritual.

Queria perguntar mais alguma coisa;
entretanto, não encontrava palavras que revelassem ausência de impertinente indiscrição.

A senhora Hilda, contudo, compreendeu-me o pensamento e explicou:
- Fique tranquilo. Luciana está em pleno noivado espiritual.
Seu nobre companheiro de muitas etapas terrenas precedeu-a há alguns anos, regressando ao círculo carnal.

No ano próximo, ela seguirá igualmente ao seu encontro.
Creio que o momento feliz será em São Paulo.

Sorrimos todos alegremente.
Nesse instante, Tobias foi chamado à pressa, para atender a um caso grave nas Câmaras de Rectificação.

Era preciso, desse modo, encerrar a palestra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 12:04 am

39 - OUVINDO A SENHORA LAURA

O caso Tobias impressionara-me profundamente.

Aquela casa, alicerçada em princípios novos de união fraterna, preocupava-me como assunto obsidente.

Afinal de contas, também ainda me sentia senhor do lar terrestre e avaliava quão difícil para mim próprio seria semelhante situação.

Teria coragem de proceder como Tobias, imitando-lhe a conduta?

Admitia que não. A meu ver, não seria capaz de aborrecer tanto a minha querida Zélia e jamais aceitaria tal imposição por parte de minha esposa.

Aquelas observações da casa de Tobias torturavam-me o cérebro.
Não conseguia encontrar esclarecimentos justos que pudessem satisfazer-me.

Tão preocupado me senti que, no dia imediato, deliberei visitar Lísias, num momento de folga, ansioso de explicações da senhora Laura, a quem votava confiança filial.

Recebido com enormes demonstrações de alegria, esperei o momento propicio, em que pudesse ouvir a mãezinha de Lísias com calma e serenidade.

Depois de se ausentarem os jovens, a caminho de entretenimentos habituais, expus à generosa amiga o problema que me apoquentava, não sem natural acanhamento.

Ela sorriu, com a grande experiência da vida, e começou a dizer:
- Você fez bem em trazer a questão ao nosso estudo recíproco.
Todo problema que torture a alma pede cooperação amiga para ser resolvido.

E depois de ligeira pausa, prosseguiu, atenciosa:
- O caso Tobias é apenas um dos inumeráveis que conhecemos aqui e noutros núcleos espirituais, que se caracterizam pelo pensamento elevado.

- Mas, choca-nos o sentimento, não é verdade? - atalhei com interesse.
- Quando nos atemos aos pontos de vista propriamente humanos, essas coisas dão até para escandalizar;
entretanto, meu amigo, é necessário, agora, sobrepor-mos a tudo os princípios de natureza espiritual.

Nesse sentido, André, precisamos compreender o espírito de sequência que rege os quadros evolutivos da vida.
Se atravessamos longa escala de animalidade, é justo que essa animalidade não desapareça de um dia para outro.

Empregamos muitos séculos para emergir das camadas inferiores.
O sexo participa do património de faculdades divinas, que demoramos a compreender.

Não será fácil para você, presentemente, a penetração, no sentido elevado, da organização doméstica que visitou ontem;
entretanto, a felicidade, ali, é muito grande, pela atmosfera de compreensão que se criou entre as personagens do drama terrestre.

Nem todos conseguem substituir cadeias de sombra por laços de luz em tão pouco tempo.

- Mas temos nisso uma regra geral? - indaguei.
Todo homem e toda mulher, que se tenham casado mais de uma vez, restabelecem aqui o núcleo doméstico, fazendo-se acompanhar de todas as afeições que hajam conhecido?

Esboçando um gesto de grande paciência, a interlocutora explicou:
- Não seja tão radicalista.
É indispensável seguir devagar.
Muita gente pode ter afeição e não ter compreensão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 12:04 am

Não esqueça que nossas construções vibratórias são muito mais importantes que as da Terra.
O caso Tobias é o caso de vitória da fraternidade real, por parte das três almas interessadas na aquisição de justo entendimento.

Quem não se adaptar à lei de fraternidade e compreensão, logicamente não atravessará essas fronteiras.
As regiões obscuras do Umbral estão cheias de entidades que não resistiram a semelhantes provas.

Enquanto odiarem, assemelham-se a agulhas magnéticas sob os mais antagónicos influxos;
enquanto não entenderem a verdade, sofrerão o império da mentira e, consequentemente, não poderão penetrar as zonas de actividade superior.

São incontáveis as criaturas que padecem longos anos, sem qualquer alívio espiritual, simplesmente porque se esquivam à fraternidade legítima.

- E que acontece, então? - interroguei, valendo-me da pausa da interlocutora - se não são admitidas aos núcleos espirituais de aprendizado nobre, onde se localizarão as pobres almas em experiências dessa ordem?

- Depois de padecimentos verdadeiramente infernais, pelas criações inferiores que inventam para si mesmas - redarguiu a mãe de Lísias -, vão fazer na experiência carnal o que não conseguiram realizar em ambiente estranho ao corpo terrestre.

Concede-lhes a Bondade Divina o esquecimento do passado, na organização física do planeta, e vão receber, nos laços da consanguinidade, aqueles de quem se afastaram deliberadamente pelo veneno do ódio ou da incompreensão.

Daí se infere a oportunidade, cada vez mais viva, da recomendação de Jesus, quando nos aconselha imediata reconciliação com os adversários. O alvitre, antes de tudo, interessa a nós mesmos.

Devemos observá-lo em proveito próprio.

Quem sabe valer-se do tempo, finda a experiência terrena, ainda que precise voltar aos círculos da carne, pode efectuar sublimes construções espirituais, com relação à paz da consciência, regressando à matéria grosseira, suportando menor bagagem de preocupações.

Há muitos espíritos que gastam séculos tentando desfazer animosidades e antipatias na existência terrestre e refazendo-as após a desencarnação. O problema do perdão, com Jesus, meu caro André, é problema sério.

Não se resolve em conversas.
Perdoar verbalmente é questão de palavras;
mas aquele que perdoa realmente, precisa mover e remover pesados fardos de outras eras, dentro de si mesmo.

A essa altura, a senhora Laura silenciou, como quem precisava meditar na amplitude dos conceitos expendidos.
Aproveitando o ensejo, aduziu:
- A experiência do casamento é muito sagrada aos meus olhos.

A interlocutora não se surpreendeu com a afirmativa e obtemperou:
- Aos espíritos ainda em simples experiência animal, nossa conversação não interessa;
mas, para nós, que compreendemos a necessidade da iluminação com o Cristo, é imprescindível destacar, não só a experiência do casamento, mas toda experiência de sexo, por afectar profundamente a vida da alma.

Ouvindo a observação, não deixei de corar, lembrando o meu passado de homem comum.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 10:57 pm

Minha mulher fora para mim um objecto sagrado, que eu sobrepunha a todas as afeições;
no entanto, ao ouvir a mãe de Lísias, ocorriam-me a mente as palavras antigas do Velho Testamento:
- "não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu jumento, nem o seu boi, nem coisa alguma que lhe pertença".

Num instante, senti-me incapaz de prosseguir, estranhando o caso Tobias.

A interlocutora, porém, percebeu minha perturbação intima e continuou:
- Onde o esforço de consertar é tarefa de quase todos, deve haver lugar para muita compreensão e muito respeito à misericórdia divina, que nos oferece tantos caminhos a rectificações justas.

Toda experiência sexual da criatura que já recebeu alguma luz do espírito, e acontecimento de enorme importância para si mesma.

É por isso que o entendimento fraterno precede a qualquer trabalho verdadeiramente salvacionista.

Ainda há pouco tempo ouvi um grande instrutor no Ministério da Elevação assegurar que, se pudesse, iria materializar-se nos planos carnais, a fim de dizer aos religiosos, em geral, que toda caridade, para ser divina, precisa apoiar-se na fraternidade.

Nessa altura, a dona da casa convidou-me a visitar Eloísa, ainda recolhida ao interior doméstico, dando a entender que não desejava explanar outras minudências sobre o assunto;
e depois de verificar as melhoras crescentes da jovem recém-chegada do planeta, voltei às Câmaras de Rectificação, mergulhado em profundas cogitações.

Agora não mais me preocupava a situação de Tobias, nem as atitudes de Hilda e Luciana.

Impressionava-me, sim, a imponente questão da fraternidade humana.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 10:58 pm

40 - QUEM SEMEIA COLHERÁ

Eu não sabia explicar a grande atracção pela visita ao departamento feminino das Câmaras de Rectificação.

Falei a Narcisa, do meu desejo, prontificando-se ela a satisfazer-me.
- Quando o Pai nos convoca a determinado lugar - disse, bondosa, -, é que lá nos aguarda alguma tarefa.

Cada situação, na vida, tem finalidade definida...
Não deixe de observar este princípio em suas visitas aparentemente casuais.

Desde que nossos pensamentos visem à prática do bem, não será difícil identificar as sugestões divinas.

No mesmo dia, a enfermeira acompanhou-me, à procura de Nemésia, prestigiosa cooperadora naquele sector de serviço.

Não foi difícil encontrá-la.
Filas de leitos muitos alvos e bem cuidados exibiam mulheres, que mais se assemelhavam a frangalhos humanos.

Aqui e ali, gemidos lancinantes; acolá, angustiosas exclamações.
Nemésia, que se caracterizava pela mesma generosidade de Narcisa, falou com bondade:
- O amigo deve estar agora habituado a estes cenários.
No departamento masculino a situação é quase a mesma.

E, fazendo um gesto significativo à companheira, acentuou:
- Narcisa, faça o obséquio de acompanhar nosso irmão e mostrar os serviços que julgar convenientes ao aprendizado dele. Fiquem à vontade.

Minha amiga e eu comentávamos a vaidade humana, sempre atida aos prazeres físicos, enumerando observações e ensinamentos, quando atingimos o Pavilhão 7.

Localizavam-se ali algumas dezenas de mulheres, em leitos separados, um a um, a regular distância.
Estudava eu a fisionomia das enfermas, quando fixei alguém que me despertou mais viva atenção.

Quem seria aquela mulher amargurada, de aparência original?

Velhice que parecia prematura tipificava-lhe o semblante, em cujos lábios pairava um rito, misto de ironia e resignação.
Os olhos, embaciados e tristes, mostravam-se defeituosos.

Memória inquieta, coração oprimido, em poucos instantes localizei-a no passado.
Era Elisa. Aquela mesma Elisa que conhecera nos tempos de rapaz.
Estava modificada pelo sofrimento, mas não podia ter quaisquer dúvidas.

Lembrei, perfeitamente, o dia em que ela, humilde, penetrara em nossa casa levada por velha amiga de minha mãe, que aceitou as recomendações trazidas, admitindo-a para os serviços domésticos.

A princípio, o ritmo comum, nada de extraordinário; depois, a intimidade excessiva, de quem abusa da faculdade de mandar e da condição de servir alguém.

Elisa pareceu-me bastante leviana, e, quando a sós comigo, comentava sem escrúpulo certas aventuras da sua mocidade, agravando com isso a irreflexão de nossos pensamentos.

Recordei o dia em que minha progenitora me chamou a conselhos justos.
Aquela intimidade, dizia, não ficava bem.

Era razoável que dispensássemos à serva generosidade afectuosa, mas convinha pautar nossas relações com sadio critério.
Entretanto, estouvadamente, levara eu muito longe a nossa camaradagem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 10:58 pm

Sob enorme angústia moral, abandonou Elisa, mais tarde, a nossa casa, sem coragem de me lançar em rosto qualquer acusação.
E o tempo passou, reduzindo o facto, em meu pensamento, a episódio fortuito da existência humana.

No entanto, o episódio, como alguma coisa da vida, estava também vivo.
A minha frente tinha Elisa, agora, vencida e humilhada!
Por onde vivera a mísera criatura, tão cedo atirada a doloroso capitulo de sofrimentos?

Donde vinha? Ah!... naquele caso, não me defrontava o Silveira, perto de quem pudera repartir o débito com meu pai.

A dívida, agora, era inteiramente minha. Cheguei a tremer, envergonhado da exumação daquelas reminiscências, mas, qual criança ansiosa de perdão pelas faltas cometidas, dirigi-me a Narcisa, pedindo orientação.

Eu mesmo me admirava da confiança que aquelas santas mulheres me inspiravam.

Talvez nunca tivesse coragem de pedir ao Ministro Clarêncio as elucidações que pedira à mãe de Lísias e, possivelmente, outra seria minha conduta naquele instante, se tivesse Tobias a meu lado.

Considerando que a mulher generosa e cristã é sempre mãe, voltei-me para a enfermeira, confiando mais que nunca.
Narcisa, pelo olhar que me endereçou, parecia tudo compreender.

Comecei a falar, contendo o pranto, mas, a certa altura da confissão penosa, minha amiga obtemperou:
- Não precisa continuar. Adivinho o epílogo da história.
Não se entregue a pensamentos destrutivos. Conheço o seu martírio moral, de experiência própria.
Entretanto, se o Senhor permitiu que reencontrasse agora esta irmã, é que já o considera em condições de resgatar a dívida.

Vendo a minha indecisão, prosseguiu:
- Não tema. Aproxime-se dela e reconforte-a.
Todos nós, meu irmão, encontramos no caminho os frutos do bem ou do mal que semeamos.

Esta afirmativa não é frase doutrinária, é realidade universal.
Tenho colhido muito proveito de situações iguais a esta.
Bem-aventurados os devedores em condições de pagar.

E, percebendo-me a resolução firme de empreender o necessário ajuste de contas, acentuou:
- Vamos, mas não se dê a conhecer, por enquanto.
Faça-o, depois de beneficiá-la com êxito.

Isso não será difícil, pelo facto de continuar ela em cegueira quase completa, temporariamente.
Pelas forças que a envolvem, noto-lhe a triste característica das mães fracassadas e das mulheres de ninguém.
Aproximamo-nos. Tomei a iniciativa da palavra confortadora.

Elisa identificou-se, dando o próprio nome e prestando, de boa-vontade, outras informações.
Havia três meses que fora recolhida às Câmaras de Rectificação.

Interessado em castigar a mim mesmo, diante de Narcisa, para que a lição me penetrasse n’alma com caracteres indeléveis, perguntei:
- E sua história, Elisa? Deve ter sofrido muito...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 10:58 pm

Sentindo a inflexão afectuosa da pergunta, sorriu, muito resignada, e desabafou:
- Para que lembrar coisas tão tristes?
- As experiências dolorosas ensinam sempre - objectei.

A infeliz, que apresentava profunda modificação moral, meditou alguns momentos, como quem concatenava ideias, e falou:
- Minha experiência foi a de todas as mulheres doidivanas que trocam o pão bendito do trabalho pelo fel venenoso da ilusão.

Nos tempos da mocidade distante, como filha de um lar paupérrimo, vali-me do emprego em casa de abastado comerciante, onde a vida me impôs imensa transformação.

Esse negociante tinha um filho, tão jovem quanto eu, e depois da intimidade estabelecida entre nós, quando toda a reacção de minha parte seria inútil, esqueci criminosamente que Deus reserva o trabalho a todos os que amem a vida sã, por mais faltosos que tenham sido, e entreguei-me a experiências dolorosas, que não preciso comentar.

Conheci, de perto, o prazer, o luxo, o conforto material e, em seguida, o horror de mim mesma, a sífilis, o hospital, o abandono de todos, as tremendas desilusões que culminaram na cegueira e na morte do corpo.

Errei, muito tempo, em terrível desespero, mas, um dia, tanto roguei o amparo da Virgem de Nazaré, que mensageiros do bem me recolheram por amor ao seu nome, trazendo-me a esta casa de abençoada consolação.

Comovidíssimo até às lágrimas, perguntei:
- E ele? Como se chama o homem que a fez tão infeliz?
Ouvia-a, então, pronunciar meu nome e de meus pais.

- E você o odeia? - indaguei, acabrunhado.
Ela sorriu tristemente e respondeu:
- No período do meu sofrimento anterior, amaldiçoava-lhe a lembrança, nutrindo por ele um ódio mortal;
mas a irmã Nemésia modificou-me.

Para odiá-lo, tenho de odiar a mim mesma.
No meu caso, a culpa deve ser repartida.
Não devo, pois, recriminar ninguém.
Aquela humildade sensibilizou-me.

Tomei-lhe a destra sobre a qual, sem que o pudesse evitar, rolou uma lágrima de arrependimento e remorso.
- Ouça, minha amiga - falei com emoção forte -, também eu me chamo André e preciso ajudá-la. Conte comigo, doravante.

- E sua voz - disse Elisa, ingenuamente - parece a dele.
- Pois bem - continuei, comovido -, até agora, não tenho propriamente uma família em "Nosso Lar".
Mas você será aqui minha irmã do coração.
Conte com o meu devotamento de amigo.

No semblante da sofredora, um grande sorriso parecia uma grande luz.

- Como lhe sou grata! - disse ela enxugando as lágrimas - há quantos anos ninguém me fala assim, nesse tom familiar, dando-me o consolo da amizade sincera!... Que Jesus o abençoe.

Nesse instante, quando minhas lágrimas se fizeram mais abundantes, Narcisa tomou-me as mãos, maternalmente, e repetiu:
- Que Jesus o abençoe.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 10:59 pm

41 - CONVOCADOS À LUTA

Nos primeiros dias de setembro de 1939, "Nosso Lar" sofreu, igualmente, o choque por que passaram diversas colónias espirituais, ligadas à civilização americana.

Era a guerra europeia, tão destruidora nos círculos da carne, quão perturbadora no plano do espírito.

Entidades numerosas comentavam os empreendimentos bélicos em perspectiva, sem disfarçarem o imenso terror de que se possuíam.

Sabia-se, desde muito, que as Grandes Fraternidades do Oriente suportavam as vibrações antagónicas da nação japonesa, experimentando dificuldades de vulto.

Anotavam-se, porém, agora, fatos curiosos de alto padrão educativo.

Assim como os nobres círculos espirituais da velha Ásia lutavam em silêncio, preparava-se "Nosso Lar" para o mesmo género de serviço.

Além de valiosas recomendações, no campo da fraternidade e da simpatia, determinou o Governador tivéssemos cuidado na esfera do pensamento, preservando-nos de qualquer inclinação menos digna, de ordem sentimental.

Reconheci que os Espíritos superiores, nessas circunstâncias, passam a considerar as nações agressoras não como inimigas, mas como desordeiras e cuja actividade criminosa é imprescindível reprimir.

- Infelizes dos povos que se embriaguem com o vinho do mal - disse-me Salústio -; ainda que consigam vitórias temporárias, elas servirão somente para lhes agravar a ruína, acentuando-lhes as derrotas fatais.

Quando um país toma a iniciativa da guerra, encabeça a desordem da Casa do Pai, e pagará um preço terrível.

Observei, então, que as zonas superiores da vida se voltam em defesa justa, contra os empreendimentos da ignorância e da sombra, congregados para a anarquia e, consequentemente, para a destruição.

Esclareceram-me os colegas de trabalho que, nos acontecimentos dessa natureza, os países agressores convertem-se, naturalmente, em núcleos poderosos de centralização das forças do mal.

Sem se precatarem dos perigos imensos, esses povos, com excepção dos espíritos nobres e sábios que lhes integram os quadros de serviço, embriagam-se ao contacto dos elementos de perversão, que invocam das camadas sombrias.

Colectividades operosas convertem-se em autómatos do crime.
Legiões infernais precipitam-se sobre grandes oficinas do progresso comum, transformando-as em campos de perversidade e horror.

Mas, enquanto os bandos escuros se apoderam da mente dos agressores, os agrupamentos espirituais da vida nobre movimentam-se em auxílio dos agredidos.

Se devemos lastimar a criatura em oposição à lei do bem, com mais propriedade devemos lamentar o povo que olvidou a justiça.

Logo após os primeiros dias que assinalaram as primeiras bombas na terra polonesa, encontrava-me, ao entardecer, nas Câmaras de Rectificação, junto de Tobias e Narcisa, quando inesquecível clarim se fez ouvir por mais de um quarto de hora.

Profunda emoção nos invadira a todos.
É a convocação superior aos serviços de socorro a Terra - explicou-me Narcisa, bondosamente.

- Temos o sinal de que a guerra prosseguirá, com terríveis tormentos para o espírito humano - exclamou Tobias, inquieto -, embora a distância, toda a vida psíquica americana teve na Europa a sua origem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 10:59 pm

Teremos grande trabalho em preservar o Novo Mundo.
A clarinada fazia-se ouvir com modulações estranhas e imponentes.
Notei que profundo silêncio caiu sobre todo o Ministério da Regeneração.

Atento à minha atitude de angustiosa expectativa, Tobias informou:
- Quando soa o clarim de alerta, em nome do Senhor, precisamos fazer calar os ruídos de baixo, para que o apelo se grave em nossos corações.

Quando o misterioso instrumento desferiu a última nota, fomos ao grande parque, a fim de observar o céu.
Profundamente comovido, vi inúmeros pontos luminosos, parecendo pequenos focos resplandecentes e longínquos, a livrarem-se no firmamento.

- Esse clarim - disse Tobias igualmente emocionado - é utilizado por espíritos vigilantes, de elevada expressão hierárquica.

Regressando ao interior das Câmaras, tive a atenção atraída para enormes rumores provenientes das zonas mais altas da colónia, onde se localizavam as vias públicas.

Tobias confiou a Narcisa certas actividades de importância junto aos enfermos e convidou-me a sair, para observar o movimento popular.

Chegados aos pavimentos superiores, de onde nos poderíamos encaminhar à Praça da Governadoria, notamos intenso movimento em todos os sectores.

Identificando-me o espanto natural, o companheiro explicou:
- Estes grupos enormes dirigem-se ao Ministério da Comunicação, à procura de noticias.

O clarim que acaba de soar, só vem até nós em circunstâncias muito graves.
Todos sabemos que se trata da guerra, mas é possível que a Comunicação nos forneça algum detalhe essencial.

Observe os transeuntes.
Ao nosso lado, vinham dois senhores e quatro senhoras, em conversação animada.
- Imagine - dizia uma - o que será de nós no Auxílio.
Há muitos meses consecutivos, o movimento de súplicas tem sido extraordinário.

Experimentamos justa dificuldade para atender a todos os deveres.
- E nós, com a Regeneração? - objectava o cavalheiro mais idoso - os serviços prosseguem consideravelmente aumentados.

No meu sector, a vigilância contra as vibrações umbralinas reclama esforços incessantes.
Estou avaliando o que virá sobre nós...

Tobias segurou-me o braço, de leve, e exclamou:
- Adiantemo-nos um pouco. Ouçamos o que dizem outros grupos.

Aproximando-nos de dois homens, ouvi um deles perguntando:
- Será crivei que a calamidade nos atinja a todos?

O interpelado, que parecia portador de grande equilíbrio espiritual, replicou, sereno:
- De qualquer modo, não vejo motivo para precipitações.
A única novidade é o acréscimo de serviço que, no fundo, constituirá uma bênção.

Quanto ao mais, tudo é natural, a meu ver.
A doença é mestra da saúde, o desastre dá ponderação.
A China está sob a metralha, há muito tempo, e não mostrou você, ainda, qualquer demonstração de assombro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 10:59 pm

- Mas agora - objectou o companheiro, desapontado - parece que serei compelido a modificar meu programa de trabalho.

O outro sorriu e ponderou:
- Helvécio, Helvécio, esqueçamos o "meu programa" para pensar em "nossos programas".

Atendendo a novo gesto de Tobias, que me reclamava atenção, observei três senhoras que iam na mesma direcção à nossa esquerda, verificando que o pitoresco não faltava, igualmente ali, naquele crepúsculo de inquietação.

- A questão impressiona-me sobremaneira - dizia a mais moça -, porque Everardo não deve regressar do mundo agora.

- Mas a guerra - disse uma das companheiras -, ao que parece, não alcançará a Península. Portugal está muito longe do teatro dos acontecimentos.

- Entretanto - indagou a outra componente do trio -, porque semelhante preocupação?
Se Everardo viesse, que aconteceria?
- Receio - esclareceu a mais jovem - que ele me procure na qualidade de esposa.

Não o poderia suportar.
É muito ignorante e, de modo algum, me submeteria a novas crueldades.
- Tola que és! - comentou a companheira - olvidaste que Everardo será barrado pelo Umbral, ou coisa pior?

Tobias, sorrindo, informou:
- Ela teme a libertação de um marido imprudente e perverso.

Decorridos longos minutos, em que observávamos a multidão espiritual, atingimos o Ministério da Comunicação, detendo-nos ante os enormes edifícios consagrados ao trabalho informativo.

Milhares de entidades acotovelavam-se, aflitamente.
Todos queriam informações e esclarecimentos.
Impossível, porém, um acordo geral.

Extremamente surpreendido com o vozerio enorme, vi que alguém subira a uma sacada de grande altura, reclamando a atenção popular.

Era um velho de aspecto imponente, anunciando que, dentro de dez minutos, far-se-ia ouvir um apelo do Governador.
- É o Ministro Esperidião informou Tobias, atendendo-me a curiosidade.

Serenado o barulho, daí a momentos ouviu-se a voz do próprio Governador, através de numerosos alto-falantes:
- "Irmãos de "Nosso Lar", não vos entregueis a distúrbios do pensamento ou da palavra.

A aflição não constrói, a ansiedade não edifica.
Saibamos ser dignos do clarim do Senhor, atendendo-Lhe a Vontade Divina no trabalho silencioso, em nossos postos."

Aquela voz clara e veemente, de quem falava com autoridade e amor, operou singular efeito na multidão.

No curto espaço de uma hora, toda a colónia regressava à serenidade habitual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 11:00 pm

42 - A PALAVRA DO GOVERNADOR

Para o domingo imediato à visita do clarim, prometeu o Governador a realização do culto evangélico no Ministério da Regeneração.

O objectivo essencial da medida, esclareceu Narcisa, seria a preparação de novas escolas de assistência no Auxílio e núcleos de adestramento na Regeneração.

- Precisamos organizar - dizia ela - determinados elementos para o serviço hospitalar urgente, embora o conflito se tenha manifestado tão longe, bem como exercícios adequados contra o medo.

- Contra o medo? - acrescentei, admirado.
- Como não? - objectou a enfermeira, atenciosa.

- Talvez estranhe, como acontece a muita gente, a elevada percentagem de existências humanas estranguladas simplesmente pelas vibrações destrutivas do terror, que é tão contagioso como qualquer moléstia de perigosa propagação.

Classificamos o medo como dos piores inimigos da criatura, por alojar-se na cidadela da alma, atacando as forças mais profundas.

Observando-me a estranheza, continuou:
- Não tenha dúvida.
A Governadoria, nas actuais emergências, coloca o treinamento contra o medo muito acima das próprias lições de enfermagem.

A calma é garantia do êxito.
Mais tarde, compreenderá tais imperativos de serviço.
Não encontrei argumento de contestação para retrucar.

Na véspera do grande acontecimento, tive a honra de integrar o quadro de cooperadores numerosos, no trabalho de limpeza e ornamentação natural do grande salão consagrado ao chefe maior da colónia.

Experimentava, então, ansiedade justa.
Ia ver, pela primeira vez, a meu lado, o nobre condutor que merecia a veneração geral.
Não me sentia sozinho em semelhante expectativa, porque havia inúmeros companheiros nas minhas condições.

Tive a impressão de que toda a vida social do nosso Ministério convergiu para o grande salão natural, desde o raiar de domingo, quando verdadeiras caravanas de todos os departamentos regeneradores chegavam ao local.

O Grande Coro do Templo da Governadoria, aliando-se aos meninos cantores das escolas do Esclarecimento, iniciou a festividade com o maravilhoso hino intitulado "Sempre Contigo, Senhor Jesus", cantado por duas mil vozes ao mesmo tempo.

Outras melodias de beleza singular encheram a amplidão. O murmúrio doce do vento, canalizado em vagas de perfume, parecia responder às harmonias suaves.

Havia permissão geral de ingresso ao enorme recinto verde, para todos os servidores da Regeneração, porque, conforme o programa estabelecido, o culto evangélico era dedicado especialmente a eles, comparecendo os demais Ministérios, por numerosas delegações.

Pela primeira vez, tive à frente dos olhos alguns cooperadores dos Ministérios da Elevação e União Divina, que me pareceram vestidos em brilhantes claridades.

A festividade excedia a tudo que eu pudesse sonhar em beleza e deslumbramento.
Instrumentos musicais de sublime poder vibratório embalavam de melodias a paisagem odorante.
Às dez horas, chegou o Governador acompanhado pelos doze Ministros da Regeneração.

Nunca esquecerei o vulto nobre e imponente daquele ancião de cabelos de neve, que parecia estampar na fisionomia, ao mesmo tempo, a sabedoria do velho e a energia do moço; a ternura do santo e a serenidade do administrador consciencioso e justo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 11:00 pm

Alto, magro, envergando uma túnica muito alva, olhos penetrantes e maravilhosamente lúcidos, apoiava-se num bordão, embora caminhasse com aprumo juvenil.

Satisfazendo-me a curiosidade, Salústio informou:
- O Governador sempre estimou as atitudes patriarcais, considerando que se deve administrar com amor paterno.

Sentando-se ele na tribuna suprema, levantaram-se as vozes infantis, seguidas de harpas caridosas, entoando o hino "A Ti, Senhor, Nossas Vidas".

O velhinho enérgico e amorável passeou o olhar pela assembleia compacta, constituída de milhares de assistentes.

Em seguida, abriu um livro luminoso que o companheiro me informou ser o Evangelho de Nosso Senhor Jesus-Cristo.

Folheou-o atento e, depois, leu em voz pausada:
- "E ouvíreis falar de guerras e de rumores de guerras;
olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim.,'

- Palavras do Mestre em Mateus, capítulo 24, versículo 6.

Volume de voz consideravelmente aumentado pelas vibrações eléctricas, o chefe da cidade orou comovidamente, invocando as bênçãos do Cristo, saudando, em seguida, os representantes da União Divina, da Elevação, do Esclarecimento, da Comunicação e do Auxílio, dirigindo-se, com especial atenção, a todos os colaboradores dos trabalhos de nosso Ministério.

Impossível descrever a entonação doce e enérgica, amorosa e convincente, daquela voz inesquecível, bem como traduzir no papel humano as considerações divinas do comentário evangélico, vazado em profundo sentimento de veneração pelas coisas sagradas.

Finalizando, em meio de respeitoso silêncio, dirigiu-se o Governador, de maneira particular, aos servidores da Regeneração, exclamando, mais ou menos nestes termos:
- É para vós, irmãos meus, cujos labores se aproximam das actividades terrestres, com mais propriedade, que dirijo meu apelo pessoal, muito esperando da vossa nobre dedicação.

Elevemos ao máximo nosso padrão de coragem e de espírito de serviço.

Quando as forças da sombra agravam as dificuldades das esferas inferiores, é imprescindível acender novas luzes que dissipem, na Terra, as trevas densas.

Consagrei o culto de hoje a todos os servidores deste Ministério, votando-lhes de modo particular a confiança do meu coração.

Não me dirijo, pois, neste momento, aos nossos irmãos cujas mentes já funcionam em zonas mais altas da vida, mas a vós outros, que trazeis nas sandálias da recordação os sinais da poeira do mundo, para exalçar a tarefa gigantesca.

"Nosso Lar" precisa de trinta mil servidores adestrados no serviço defensivo, trinta mil trabalhadores que não meçam necessidade de repouso, nem conveniências pessoais, enquanto perdurar nossa batalha com as forças desencadeadas do crime e da ignorância.

Haverá serviço para todos, nas regiões de limite vibratório, entre nós e os planos inferiores, porque não podemos esperar o adversário em nossa morada espiritual.

Nas organizações colectivas, é forçoso considerar a medicina preventiva como medida primordial na preservação da paz interna.

Somos, em "Nosso Lar", mais de um milhão de criaturas devotadas aos desígnios superiores e ao melhoramento moral de nós mesmos.

Seria caridade permitir a invasão de vários milhões de espíritos desordeiros?
Não podemos, portanto, hesitar no que se refere à defesa do bem.
Sei que muitos de vós recordais, neste instante, o Grande Crucificado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 11:00 pm

Sim, Jesus entregou-se à turba de amotinados e criminosos, por amor à redenção de todos nós, mas não entregou o mundo à desordem e ao aniquilamento.

Todos devemos estar prontos para o sacrifício individual, mas não podemos entregar nossa morada aos malfeitores.

Lógico que a nossa tarefa essencial é de confraternização e paz, de amor e alívio aos que sofrem;
claro que interpretaremos todo mal como desperdício de energia, e todo crime como enfermidade d’alma;
entretanto, "Nosso Lar', e um património divino, que precisamos defender com todas as energias do coração.


Quem não sabe preservar, não é digno de usufruir.

Preparemos, pois, legiões de trabalhadores que operem esclarecendo e consolando, na Terra, no Umbral e nas Trevas, em missões de amor fraternal;
mas precisamos organizar, neste Ministério, antes de tudo, uma legião especial de defesa, que nos garanta as realizações espirituais, em nossas fronteiras vibratórias.

Assim continuou a discorrer, por longo tempo, encarecendo providências de carácter fundamental, tecendo considerações que jamais conseguiria aqui descrever.

Ultimando os comentários, repetiu a leitura do versículo de Mateus, invocando, de novo, as bênçãos de Jesus e as energias dos ouvintes, para que nenhum de nós recebesse dádivas em vão.

Comovido e deslumbrado, ouvi as crianças entoarem o hino que a Ministra Veneranda intitulara "A Grande Jerusalém".

O Governador desceu da tribuna sob vibrações de imensa esperança e foi então que brisas cariciosas começaram a soprar sobre as árvores, trazendo, talvez de muito longe, pétalas de rosas diferentes, em maravilhoso azul, que se desfaziam, de leve, ao tocar nossas frontes, enchendo-nos o coração de intenso júbilo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 20, 2011 9:42 pm

43 - EM CONVERSAÇÃO

O Ministério da Regeneração continuou cheio de expressões festivas, não obstante se haver retirado o Governador ao seu círculo mais íntimo.

Comentavam-se os acontecimentos.
Centenas de companheiros se ofereciam para os trabalhos árduos da defensiva, assim correspondendo ao apelo do grande chefe espiritual.

Procurei Tobias, para consultá-lo sobre a possibilidade do meu aproveitamento, mas o generoso irmão sorriu da minha ingenuidade e falou:
- André, você está começando agora uma tarefa nova.

Não se precipite, solicitando acréscimo de responsabilidade.
Haverá serviço para todos, disse-nos, ainda agora, o Governador.

Não se esqueça de que as nossas Câmaras de Rectificação constituem núcleos de esforço activo, dia e noite. Não se aflija.

Recorde que trinta mil servidores vão ser convocados para a vigilância permanente.
Destarte, na retaguarda, serão muito grandes os claros a preencher.

Identificando-me o desapontamento, o bondoso companheiro, bem-humorado, acentuou depois de ligeira pausa:
- Contente-se com a matrícula na escola contra o medo. Creia que isso lhe fará enorme bem.

Nesse ínterim, recebi grande abraço de Lísias, que integrara, na festa, a deputação do Ministério do Auxílio.

Com a licença de Tobias, retirei-me em companhia de Lísias para gozar de palestra mais íntima.
- Conhece você - indagou ele - o Ministro Benevenuto, aqui na Regeneração, o mesmo que chegou anteontem da Polónia.

- Não tenho esse prazer.
- Vamos ao seu encontro - replicou Lísias, envolvendo-me nas vibrações do seu imenso carinho fraterno -, há muito que tenho a honra de incluí-lo no círculo das minhas relações pessoais.

Daí a momentos, estávamos no grande recinto verde, consagrado aos trabalhos desse Ministro da Regeneração, que eu apenas conhecia de vista.

Numerosos grupos de visitantes permutavam ideias sob a copa das grandes árvores.

Lísias conduziu-me ao núcleo maior, onde Benevenuto trocava impressões com diversos amigos, apresentando-me com generosas palavras.

O Ministro acolheu-me, cortês, admitindo-me na sua roda com extrema bondade.
A conversação continuou nos rumos naturais e notei que se discutia a situação da esfera terrestre.

- Muito doloroso o quadro que vimos - comentava Benevenuto em tom grave -; habituados ao serviço da paz na América, nenhum de nós imaginava o que fosse o trabalho de socorro espiritual nos campos da Polónia.

Tudo obscuro, tudo difícil.
Não se podem, ali, esperar claridades de fé nos agressores, tampouco na maioria das vítimas, que se entregam totalmente a pavorosas impressões.
Os encarnados não nos ajudam, apenas consomem nossas forças.

Desde o começo do meu Ministério, nunca vi tamanhos sofrimentos colectivos.
- E a comissão demorou-se muito por lá? - perguntou um dos companheiros com interesse.
- Todo o tempo disponível - ajuntou o Ministro.

O chefe da expedição, nosso colega do Auxílio, julgou conveniente permanecermos exclusivamente atidos à tarefa, para enriquecermos observações e melhor aproveitar a experiência.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 20, 2011 9:42 pm

Com efeito, as condições não poderiam ser melhores.

Acredito que nossa posição está muito distante da extraordinária capacidade de resistência dos abnegados servidores espirituais que ali se encontram de serviço.

Todas as tarefas de assistência imediata funcionam perfeitamente, a despeito do ar asfixiante, saturado de vibrações destruidoras.

O campo de batalha, invisível aos nossos irmãos terrestres, é verdadeiro inferno de indescritíveis proporções.

Nunca, como na guerra, evidencia o espírito humano a condição de alma decaída, apresentando características essencialmente diabólicas.

Vi homens inteligentes e instruídos localizarem, com minuciosa atenção, determinados sectores de actividade pacífica, para o a que chamam "impactos directos',.

Bombas de alto poder explosivo destroem edifícios pacientemente edificados.
Aos fluidos venenosos da metralha, casam-se as emanações pestilentas do ódio e tornam quase impossível qualquer auxílio.

O que mais nos contristou, porém, foi a triste condição dos militares agressores, quando algum deles abandonava as vestes carnais, compelido pelas circunstâncias.

Dominados, na maioria, por forças tenebrosas, fugiam dos Espíritos missionários, chamando-lhes a todos "fantasmas da cruz".

- E não eram recolhidos para esclarecimento justo? - inquiriu alguém, interrompendo o narrador.

Benevenuto esboçou um gesto significativo e respondeu:
- Será sempre possível atender aos loucos pacíficos, no lar;
mas que remédio se reservará aos loucos furiosos, senão o hospício?

Não havia outro recurso para tais criaturas, senão deixá-las nos precipícios das trevas, onde serão naturalmente compelidas a reajustar-se, dando ensejo a pensamentos dignos.

É razoável, portanto, que as missões de auxílio recolham apenas os predispostos a receber o socorro elevado.
Os espectáculos entrevistos foram, portanto, demasiadamente dolorosos, por muitas razões.

Valendo-se de ligeiro intervalo, outro companheiro opinou:
- É quase incrível que a Europa, com tantos patrimónios culturais, se tenha abalançado a semelhante calamidade.

- Falta de preparação religiosa, meus amigos - definiu o Ministro com expressiva inflexão de voz -, não basta ao homem a inteligência apurada, é-lhe necessário iluminar raciocínios para a vida eterna.

As igrejas são sempre santas em seus fundamentos e o sacerdócio será sempre divino, quando cuide essencialmente da Verdade de Deus;
mas o sacerdócio político jamais atenderá a sede espiritual da civilização.

Sem o sopro divino, as personalidades religiosas poderão inspirar respeito e admiração, não, porém, a fé e a confiança.

- Mas, o Espiritismo? - perguntou abruptamente um dos circunstantes.
Não surgiram as primeiras florações doutrinárias na América e na Europa, há mais de cinquenta anos?
Não continua esse movimento novo a serviço das verdades eternas?

Benevenuto sorriu, esboçou um gesto extremamente significativo e acrescentou:
- O Espiritismo é a nossa grande esperança e, por todos os títulos, é o Consolador da humanidade encarnada; mas a nossa marcha é ainda muito lenta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 20, 2011 9:43 pm

Trata-se de uma dádiva sublime, para a qual a maioria dos homens ainda não possuí "olhos de ver".
Esmagadora percentagem dos aprendizes novos aproxima-se dessa fonte divina a copiar antigos vícios religiosos.

Querem receber proveitos, mas não se dispõem a dar coisa alguma de si mesmos.
Invocam a verdade, mas não caminham ao encontro dela.

Enquanto muitos estudiosos reduzem os médiuns a cobaias humanas, numerosos crentes procedem à maneira de certos enfermos que, embora curados, crêem mais na doença que na saúde, e nunca utilizam os próprios pés.

Enfim, procuram-se, por lá, os espíritos materializados para o fenomenismo passageiro, ao passo que nós outros vivemos à procura de homens espiritualizados para o trabalho sério.

O trocadilho arrancou expressões de bom humor geral, acrescentando o Ministro, gravemente:
- Nossos serviços são astronómicos.
Não esqueçamos, porém, que todo homem é semente da divindade.

Ataquemos a execução de nossos deveres com esperança e optimismo, e estejamos sempre convictos de que, se bem fizermos a nossa parte, podemos permanecer em paz, porque o Senhor fará o resto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 20, 2011 9:43 pm

44 - AS TREVAS

Enriquecendo as alegrias da reunião, Lísias deu-me a conhecer novos valores da sua cultura e sensibilidade.

Dedilhando com maestria as cordas da cítara, fez-nos lembrar velhas canções e melodias da Terra.

Dia verdadeiramente maravilhoso! Sucediam-se júbilos espirituais, como se estivéssemos em pleno paraíso.

Quando me vi a sós com o bondoso enfermeiro do Auxílio, procurei transmitir-lhe minhas sublimes impressões.

- Não tenha dúvida disse, sorrindo , quando nos reunimos àqueles a quem amamos, ocorre algo de confortador e construtivo em nosso íntimo.
É o alimento do amor, André.

Quando numerosas almas se congregam no círculo de tal ou qual actividade, seus pensamentos se entrelaçam, formando núcleos de força viva, através dos quais cada um recebe seu quinhão de alegria ou sofrimento, da vibração geral.

É por essa razão que, no planeta, o problema do ambiente é sempre factor ponderável no caminho de cada homem.

Cada criatura viverá daquilo que cultiva.
Quem se oferece diariamente à tristeza, nela se movimentará; quem enaltece a enfermidade, sofrer-lhe-á o dano.

Observando-me a estranheza, concluiu:
- Não há nisto mistério. É lei da vida, tanto nos esforços do bem, como nos movimentos do mal.

Das reuniões de fraternidade, de esperança, de amor e de alegria, sairemos com a fraternidade, a esperança, o amor e a alegria de todos; mas, de toda assembleia de tendências inferiores, em que predominam o egoísmo, a vaidade ou o crime, sairemos envenenados com as vibrações destrutivas desses sentimentos.

- Tem razão - exclamei, comovido -; vejo nisso, igualmente, os princípios que regem a vida nos lares humanos.

Quando há compreensão recíproca, vivemos na antecâmara da ventura celeste, e, se permanecemos em desentendimento e maldade, temos o inferno vivo.

Lísias teve uma expressão de bom humor, confirmando a sorrir.
Foi, então, que me lembrei de interpelá-lo sobre uma coisa que, de algumas horas, me torturava a mente.

Referira-se o Governador, quando nos dirigiu a palavra, aos círculos da Terra, do Umbral e das Trevas, mas, francamente, não tinha eu, até então, qualquer notícia deste último plano.

Não seria região trevosa o próprio Umbral, onde vivera, por minha vez, em sombras densas, durante anos consecutivos?

Não via, nas Câmaras, numerosos desequilibrados e doentes de toda espécie, procedentes das zonas umbralinas?

Recordando que Lísias me dera esclarecimentos tão valiosos da minha própria situação, no início da minha experiência em "Nosso Lar", confiei-lhe minhas dúvidas íntimas, expondo-lhe a perplexidade em que me encontrava.

Ele esboçou uma fisionomia bastante significativa, e falou:
- Chamamos Trevas às regiões mais inferiores que conhecemos.

Considere as criaturas como itinerantes da vida.
Alguns poucos seguem resolutos, visando ao objectivo essencial da jornada.

São os espíritos nobilíssimos, que descobriram a essência divina em si mesmos, marchando para o alvo sublime, sem vacilações.
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