Futuro Espiritual da Terra - André Luiz/Samuel Gomes

Capítulo 11 - A solidariedade mundial é padrão da regeneração
Encontrávamo-nos no meio de uma tarefa de socorro urgente advinda de um dos cataclismos que vem varrendo a Terra nesses dias de limpeza e aferições de valores espirituais dos encarnados e dos desencarnados envolvidos naquele drama. Uma grande tempestade inundou repentinamente grande parte das ruas daquela cidade, alagando muitas delas e ainda causando mais estragos com a força das correntes de águas do rio, resultando em muitas perdas materiais e em algumas mortes, por afogamento ou por deslizamentos de terra.
Nossa equipe procurava auxiliar no recolhimento dos desencarnados que estivessem intimamente abertos para o socorro. Muitos deles, apegados aos bens terrenos, prendiam-se a eles, impermeabilizando a mente contra qualquer perspectiva de auxílio directo e efectivo.
Resgatamos os espíritos de dois recém-nascidos cujos corpinhos foram engolidos pelo barro que deslizou rápido sobre os casebres paupérrimos onde a família, sem poder reagir ao acontecimento, foi pega de surpresa. Todos desencarnaram.
Muitos companheiros do plano físico juntavam suas forças para tentar recuperar alguns pertences e, principalmente, resgatar alguém que pudesse ter sobrevivido em meio aos escombros do soterramento que resultou num grande lamaçal.
A solidariedade desses momentos mostra que muitos homens já carregam um sentimento natural de fraternidade nas acções de socorro aos que sofrem. Infelizmente, surge um ou outro oportunista que procura se dar bem naqueles momentos de descuido e perturbação, tentando espoliar alguma coisa para si. São pobres seres que terão suas existências submetidas a doloroso processo educativo, que os ensinará que os bens pertencem a todos e que os verdadeiros donos de algo são exactamente aqueles que sabem adquiri-los quando possível, mas também sabem perder ou desprender-se deles quando necessário.
Entidades dos planos inferiores procuravam envolver um ou outro recém-desencarnado que se encontrava em estado de choque e desequilíbrio e mantinham natural sintonia com seus pendores e interesses, tornando-se presas fáceis. Nessas circunstâncias, não podíamos fazer quase nada a não ser deixá-los entregues à própria sorte, pois aquilo era resultado de suas escolhas. Estavam sendo procuradas pelos infelizes em declínio espiritual que queriam explorar suas energias e direccioná-las para seus interesses.
Observando aqueles fatos, Clarêncio falou em tom de muita compaixão:
-Como você vê, André, em momentos como esses cada um de nós apresenta sua verdadeira face espiritual. O heroísmo e a sobriedade são para poucos. A maioria é pega de surpresa e se entrega, quase sempre, a emoções perturbadoras onde o medo predomina quase por completo, fazendo com que se precipitem e se tornam joguetes inconscientes de irmãos infelizes. Precisamos compreender que, nesses acontecimentos de características catastróficas, quando muitos se entregam ao desequilíbrio emocional, há os que trazem consigo boas condições decorrentes de suas conquistas morais e pelas quais criam resistência contra o assédio do mal, acumulando créditos suficientes para serem resgatados e levados a nossos postos de atendimento.
Essa imagem mostra o quanto precisamos mudar a realidade das divisões sociais nas quais os desvalidos da sorte são os que mais sofrem perdas. É lógico que devemos levar em consideração o tipo de acidente geológico que ocorre, sendo que, no exemplo que estamos presenciando e procurando auxiliar, quem mais sofrerá, em todos os sentidos, são exactamente as classes mais vulneráveis.
Nesse meio, podemos ver algumas pessoas da classe mais privilegiada que estão perdendo seus bens devido à enchente, mas estes são, em sua maioria, sítios de descanso ou casa de campo. Essas perdas são quase insignificantes para os que possuem fartura de recursos, o que difere muito daqueles outros que lutaram para conseguir alguma coisa e que acontecimentos como estes colocam tudo a perder, acentuando ainda mais o seu sofrimento quando tem de assistir a morte de entes queridos sem ter o que fazer, sentindo-se impotentes diante dos acontecimentos que surgem inesperada e avassaladoramente.
São companheiros que aprendem no resgate do passado e pelas circunstâncias do carma colectivo a dar testemunhos de que suas consciências buscam se harmonizar perante a Justiça Divina, contra a qual agiram em oposição às suas sábias determinações, procurando o próprio bem-estar às custas do sofrimento alheio.
As catástrofes são um convite para reflectirmos sobre como temos utilizado os recursos da natureza e as consequências do mau uso, seja ele de responsabilidade individual ou colectiva, convidando-nos a pensar mais naqueles que estão ao nosso lado, em situações mais precárias de sobrevivência.

Essas ocorrências devem fazer com que os governos, cidadãos e pessoas de posse e poder venham a usar os bens e recursos públicos em auxílio e melhoria da vida de todos, evitando desviá-los para outros fins. Infelizmente, esse comportamento inadequado tem raízes na nossa história desde quando tivemos a oportunidade de nos envolver com a administração dos bens públicos.
A própria Terra começa a ajustar-se, fisicamente falando, para mudanças em todos os aspectos, sejam de ordem climática, na fauna e flora, ou na estrutura urbana e social para criar possibilidades de receber em seu seio seres com características diferentes dessa actual geração. Os que ficarem aqui terão de se adaptar a esses novos padrões de existência para acompanhar o crescimento que se fará daqui para a frente.
Se analisarmos profundamente o que é um mundo de regeneração, veremos que se refere, na verdade, a uma fase de transição que um orbe passa entre suas condições mais materiais, das quais o mundo primitivo e o de provas e expiações são o exemplo vivo, para se transformar em planetas espiritualizados como os de naturezas sublimes e divinas.
Tudo passará por reformulações organizadas pelas inteligências maiores, directoras dessa transição, só que a parte mais brusca das transformações de um orbe em transição acontece exactamente quando o planeta está mais próximo de sua realidade de expiação e provas do que quando se aproxima da condição de mundo ditoso.
À medida que o mundo se aproxima desse estado evolutivo superior, essas mudanças são feitas sem causar danos para os seres que vivem nele, uma vez que eles mesmos já desenvolveram inteligência suficiente para lidar com essas mudanças e actuar sobre elas.
Clarêncio meditou alguns minutos antes de concluir:
-Dentro do possível, estudaremos esses grandes cataclismos para podermos auxiliar as equipes de apoio e resgate, bem como tirarmos reflexões dessa transição planetária que vem se efectuando cada vez mais em nosso planeta, consolidando sua realidade de mundo em regeneração.
Em silêncio, partirmos para auxiliar uma família que tinha parte de seus integrantes soterrados e precisava de nossa intervenção directa.

Capítulo 12 - Jesus determina o fim das fronteiras idiomáticas
Ainda nas experiências de auxílio em grandes catástrofes, fui convidado por Clarêncio a participar de uma missão junto aos nossos irmãos norte-americanos, onde presenciamos a destruição causada por um tornado.
Pudemos acompanhar o trabalho activo de amigos espirituais daquela região, ligados ao movimento da Fraternidade Branca, que rege e organiza os trabalhos nos campos espirituais daquele país. Acompanhamos de perto o resgate de muitos, cooperando com nossas energias do passe, trazendo conforto, colocando muitos deles em estado de sono e criando condições para serem acolhidos por trabalhadores cuja função era muito parecida com a de nossos samaritanos da Colónia Nosso Lar.
No contacto com os irmãos da Fraternidade de Saint Germain, trouxemos orientações dessa linha espiritualista, como também aprendemos com a presença de outras vertentes dos movimentos cristãos de protestantes e católicos que já se encontravam despertos para a realidade imortal. Todos esses grupos se uniam para atender às necessidades espirituais diante daquela tragédia, fazendo um trabalho conjunto de auxílio.
Clarêncio, em dado momento, esclareceu-me com seus apontamentos superiores:
-André, estamos diante de um trabalho de aproximação dos planos espirituais da Terra, preparando-nos para uma universalização das tarefas socorristas e maior harmonização entre os espíritos do planeta. Jesus determinou que, para sermos uma grande família, precisamos destruir as fronteiras que separam os filhos de Deus. Esse passo ocorrerá primeiramente no plano espiritual para mais tarde ser introduzido nos planos materiais.
No futuro, novas formas de comunicação entre os seres diminuirão os impedimentos que os diversos idiomas criaram, estabelecendo um diálogo com base na transmissão dos sentimentos captados directamente por uma mente já modificada, criando um real e efectivo entendimento entre todos.
Muitos pregam a necessidade de uma língua universal, mas se esquecem de que uma linguagem externa é ainda bastante superficial para que os corações se comuniquem entre si. O potencial mental da regeneração caminhará para contactos que vão ultrapassar essas limitações.
Ainda aqui, em nosso plano, são as dores colectivas que incentivam essas iniciativas, fazendo com que os espíritos de todos os quadrantes planetários se unam uns aos outros em colectividades espirituais. Os propósitos do Cristo são para que o planeta do amanhã seja regido por um só presidente ou governador encarnado na posição de liderança administrativa da Terra, onde todos serão vistos como irmãos.
Os actos de “amar uns aos outros” e “fazer ao próximo o que gostaríamos que fizessem a nós mesmos” serão a musicalidade dessa unificação, verdade esta expressa pelo verbo de nosso Regente Planetário, que é de carácter universal.
A possibilidade de contactar os irmãos de outros orbes passa pela necessidade e pela conquista de que estejamos vivendo como uma única nação. As diferenças serão apenas as das experiências individuais e de cunho colectivo com seus aspectos regionais porque, pela consciência e pelo coração, sentirmo-nos numa condição única de ligação.
Muitos irmãos de outros planetas do nosso sistema solar esperam que atinjamos esse estágio para entrar em contacto connosco com maior expressividade, de forma a nos ajudar na reconstrução planetária e atingirmos estágios mais elevados de evolução.
A Terra tem sete níveis de campos espirituais em torno de si, e os dois primeiros apresentam aspectos mais próximos das condições humanas. Neles há divisão por idioma, religião e costumes que geram certo grau de separatismo. Na hierarquia dos planos espirituais, Nosso Lar está no primeiro nível e a colónia Alvorada Nova51, no segundo. A partir do terceiro nível temos ainda outras colónias já libertas dessas limitações.52
Ocorrerá uma reunião entre as várias cidades espirituais próximas da Terra em que os representantes de nossa colónia estarão presentes para tomar decisões sobre essa unificação planetária. Além desses representantes, que são os que ainda se submetem de alguma forma ao aspecto separatista, devido às condições intermediárias de evolução, espíritos de escol de outras colónias e de cidades espirituais, que se localizam acima delas, estarão presentes e afirmam que o próprio Mestre se materializará neste conclave.
Estão próximas as possibilidades de crescimento da Terra que, em seu aspecto de perturbação, destoa consideravelmente de outras moradas redimidas e aguardam nossos passos mais firmes na busca deste objectivo.

Clarêncio silenciou por alguns instantes e pude então perguntar:
-Desculpe-me a indiscrição, mas você vai participar desse encontro em que decisões tão sérias serão tomadas em favor da Terra?
-Sim, meu filho. Integrarei a comitiva de Nosso Lar e responderei pelo Ministério do Auxílio. Talvez possamos colocá-lo na comitiva como repórter, para trazer algumas informações aos encarnados.
Fiquei surpreso com aquela possibilidade, pois não me achava portador de qualidades e responsabilidades espirituais que me credenciassem à participação numa reunião como aquela.
Como se lesse os meus pensamentos, Clarêncio voltou a falar:
-Não há privilégio nenhum em participar dessas reuniões; pelo contrário, é um convite para termos mais responsabilidades com nossos compromissos, já que estaremos abraçando deveres de maior envergadura. Sua presença entre nós é o fruto de seus esforços no trabalho de esclarecimento junto aos homens e, muitos deles, aguardam informações de sua parte. Nossos Maiores vêem com bons olhos esse trabalho, pela oportunidade que as instruções têm de influenciar as responsabilidades cabíveis a eles nesse contexto de mudanças.
Podemos afirmar que outras reuniões deverão se efectivar com mais frequência daqui para a frente, para colocar em funcionamento as mudanças necessárias em várias áreas de actuação humana e que devem se direccionar para a harmonização.
Calou-se Clarêncio, e nos pusemos na acção auxiliadora junto àqueles que se separavam de nós pela simples limitação de idioma, barreira superada com a atitude fraternal que se abre como linguagem universal do amor e é representada nas manifestações da bondade.

Capítulo 13 - A revolução na estrutura social tem base em cada ser
Estávamos em acção de suporte e amparo junto a uma passeata pacífica em favor das mudanças relacionadas ao Governo e apoiadas pela insatisfação com a realidade económica do país. Ficamos perto de um grupo de entidades desesperadas que corriam para lá e para cá, buscando influenciar os manifestantes mais exaltados introduzidos por grupos de oposição partidária para criarem uma agitação, mesmo que isso significasse usar de actos de violência, mudando o carácter de reivindicação pacífica para baderna generalizada.
O policiamento reagia de forma a conter as acções agressivas de quebradeiras e saques, acrescidas pela participação de grupos oportunistas infiltrados ali que, sabendo que essas confusões poderiam ocorrer, aguardavam para levar alguma vantagem.
A intenção desses encarnados que manipulavam as massas era a de tomar o poder, desacreditar as reivindicações e criar um clima de medo e revolta na população. Na verdade, serviam de instrumentos das mentes desencarnadas que, sentindo que o cerco se fechava sobre eles às vésperas da regeneração, aproveitavam as brechas de maior movimentação inconsciente para produzir turbulência e abalos morais.
Há também um grupo expressivo de encarnados que transfere suas insatisfações pessoais a terceiros, normalmente aos seus governantes, uma vez que são incapazes de alterar seu modo individual de viver. Em sua maioria, os integrantes desses grupos não assumem as responsabilidades de organizar e gerir de forma equilibrada os recursos que a vida lhes empresta e também administram mal seus relacionamentos em função do seu desequilíbrio emocional. Essa imperícia pode induzi-los a compensar as insatisfações nas fugas pelos entorpecentes, pelo usufruto do sexo descomprometido e pela compensação momentânea das diversões extasiantes.
Precisamos ressaltar que, ao lado de manifestantes perturbados, estão os muitos grupos equilibrados de familiares, amigos e trabalhadores que participam dessas reivindicações, procurando ressaltar o descaso das autoridades pelos problemas sociais do país, exigindo governantes mais conscientes e comprometidos com uma administração mais limpa e que direccione os recursos para a solução das dificuldades sociais que abatem a população.
Observando a perturbação e confusão generalizada que se estabeleceu, Clarêncio então falou:
-Muitos acreditam que as transformações necessárias devem ocorrer de cima para baixo, isto é, partir de líderes políticos, administradores públicos e empresários poderosos, para só então a população mudar suas atitudes e comportamento. Esperam que essas transformações ocorram de fora para dentro. Essa esperança ilusória criará neles um sentimento de decepção e frustração, pois somente se efectivará uma revolução mais profunda na estrutura social quando a intimidade de cada pessoa se apresentar renovada. Ressaltamos que os companheiros comprometidos com essas funções governamentais e administrativas deveriam ser os primeiros a dar o exemplo, como acontece nos planos mais altos da espiritualidade.
As atitudes de corrupção e desvios sempre estiveram presentes na história do homem. A maioria dos descontentes de hoje são os mesmos que ontem usurparam os bens e procuraram o ganho fácil, aproveitando-se das ocasiões em que essas facilidades surgiram. Na maioria das vezes em que pudemos escolher entre ganhar desonestamente e nos negar a adoptar esta infeliz postura moral, escorregamos nos mesmos erros e anseios de usufruir em prejuízo dos outros.
A revelação das corrupções e do uso dos recursos colectivos em interesses pessoais surge hoje em função da necessidade de uma limpeza geral e profunda em todos os aspectos da existência humana.
Não é só no âmbito dos impactos sociais que as impurezas serão reveladas, mas em muitas ocorrências individuais que começam a surgir em todos os ângulos do relacionamento humano. Traições que são captadas e reveladas nas redes sociais; sociedades desfeitas por falta de ética entre os sócios; crimes que são revelados por denúncias anónimas, agressões e transgressões individuais que são filmadas, divulgadas e expostas à zombaria geral e enganos de todas as ordens vêm aparecendo nas menores circunstâncias para que o saneamento surja para todos.
Cada um enfrentará os resultados de suas próprias escolhas e a forma como lidam com as coisas, situações e pessoas. Diante das dores que aparecem é necessário mostrar as causas que as criaram para que os envolvidos não se sintam injustiçados. O convite para a mudança já foi estabelecido há muito tempo, pelos chamamentos religiosos que tem por finalidade ajustar a consciência do ser com a harmonia que rege o universo. Não podemos mais nos esconder por trás das religiões sem termos religiosidade, não podemos acreditar nos conceitos espirituais sem desenvolver uma espiritualidade interior.

A verdade chega para todos e os que se enganam são chamados pelas leis da vida para os devidos acertos de contas perante a justiça universal. Estejamos atentos, pois todos teremos de justificar nossas acções.
Que esses chamados nos cheguem quando estivermos com as mãos ocupadas no trabalho do bem e na reforma de nossos valores. Poderemos então apresentar a senha de entrada que dá o testemunho da nossa vontade de permanecer no planeta em renovação.
Não foi sem proveito que Allan Kardec descreveu as características do verdadeiro espírita identificado com a real condição em ser cristão: “Conhecereis os verdadeiros espíritas pelo esforço que fazem para domar as más tendências e inclinações.”53.
Estejamos conscientes das infelizes insinuações internas que governam nosso modo de ser, não as atendendo mais na regência da nossa existência, para conseguirmos ouvir os apelos profundos de nosso espírito imortal que a cada dia se faz mais vivo em nossa intimidade.
Silenciou o mentor em pensamentos profundos, para deixar em mim as reflexões quanto ao que devo fazer para, quando a reencarnação vier me chamar, eu esteja atento ao que devo realizar nos exactos momentos de aferição.

Capítulo 14 - O evangelho será estudado por todas as ciências humanas
Acompanhávamos um grupo de amigos espíritas do plano físico que realizava o estudo do Evangelho de Jesus e gravava seus estudos e bate-papos numa mídia de transmissão de informações denominada podcast, criando assim um material a ser assistido por muitas pessoas, não só no Brasil, como também em outras nações pelas quais tantos brasileiros se encontram espalhados, mas sem deixar de acompanhar os estudos doutrinários relacionados aos temas espíritas e evangélicos.
O expoente desse grupo tinha um compromisso com a divulgação dessas verdades, não só como orador e expositor, mas também como escritor. Como muitos outros, sua tarefa é a de espalhar as sementes da verdade para que germinem na mente dos que a buscam como inspiração para suas existências tão atribuladas nesses tempos modernos.
Observávamos aquele trabalho descontraído e espontâneo de conversação elevada, quando Clarêncio falou:
-O Evangelho sempre será a orientação segura para a caminhada nas lutas terrenas. Os companheiros que passam por tribulações na Terra precisam dos recursos que temos encontrado na Doutrina Espírita para interpretar os ensinamentos de Jesus. Os que não estão prontos e despertos para enfrentar esses embates surgidos a todo momento só encontrarão o apoio real nas orientações sobre Sua vida e mensagem.
Os exemplos do Cristo são referências para todos que se sentem perdidos e precisam de um direccionado do melhor caminho a seguir para encontrar a paz e a harmonia. Não é por acaso que os abnegados instrutores que organizaram as informações espirituais, catalogados por Allan Kardec, afirmaram ao codificador que o modelo e o guia para a humanidade terrena é Jesus.
No mundo regenerado, o Evangelho será estudado por todas as áreas humanas na investigação da realidade imortal, buscando referência nos exemplos do espírito puro que caminhou na superfície do planeta. Esse estudo já está sendo realizado nos planos mais elevados.
Só em contacto com o nosso ser poderemos compreender e sentir os exemplos de Jesus e, para nos aprofundarmos no entendimento do Cristo, precisamos da ferramenta do autoconhecimento que fará surgir uma nova metodologia de estudos.
Somente com uma visão interior poderemos encontrar a sintonia com as verdades essenciais depositadas por Deus em cada um de nós.
O esforço dos amigos encarnados para divulgar a Doutrina da Verdade, seja daqui das Minas Gerais ou de qualquer recanto desta pátria-coração do mundo, é necessário a muitos que precisam de orientação para direccionar melhor sua existência. Oradores que esclarecem grandes grupos ou pequenas plateias fazem o mesmo trabalho de disseminar essa mensagem essencial para a vitória sobre si mesmo, dentro das lutas humanas.
Nossos irmãos precisam ficar atentos para que nos trabalhos como expositores, médiuns e escritores não se entreguem ao personalismo e à vaidade de sentir que são especiais ou missionários, já que esta tarefa foi exemplificada por um Ser que escolheu nascer numa manjedoura e morreu crucificado ao lado de dois homens catalogados pela justiça humana como malfeitores.
A humildade é a armadura para que esses companheiros cumpram a tarefa designada a eles, a de transmitirem o recado com que se comprometeram, pois foram preparados em nosso plano para tal, a fim de que, acima deles, seja o Cristo que sobressaia. Isso exemplifica a fala de João, quando afirmou que: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua.”54.
E, passando a mão sobre a cabeça daquele colaborador que vem dando seus testemunhos na divulgação da Doutrina Espírita e do Evangelho de Jesus, arrematou, dizendo:
-Apoiemos quaisquer iniciativas que venham a melhorar a vida alheia, sustentando, por nossa vez, suas mais nobres intenções de vencerem a si mesmos nesta batalha contra as imperfeições do passado. Oferecemos todo o nosso apoio a esses corações que tanto se esforçam e tem colocado a própria alma nos compromissos abraçados, uma vez que esta doutrina representa o mesmo pão que Jesus dividiu entre os apóstolos na ceia anterior a sua crucificação.
Continuamos a observar e a inspirar o esforço daqueles companheiros que, junto de outros tantos operários do bem de todos os quadrantes do Brasil, abraçaram a missão de divulgar a verdade para que, quando despertassem no além, seja ela que os ampare na trajectória em direcção ao infinito.

Capítulo 15 - A MATURIDADE PEDE QUE CADA UM SAIBA O QUE QUER
Tivemos a oportunidade de acompanhar os trabalhos de divulgação doutrinária pelos livros e notamos acentuada preocupação com esse meio de divulgação, principalmente em relação ao livro mediúnico que, nestes dias, tem sido amplamente produzido.
Acompanhamos um médium escritor que no actual momento das lutas era combatido por trazer informações novas e que mexiam com a mente tradicional e conservadora dos que se acreditam defensores da verdade, na tentativa de preservar os princípios da Doutrina Espírita.
Inúmeras vezes a matriz desse comportamento é o medo e, na falta dessa percepção, defendem mais pontos de vistas do que realmente a preservação das verdades transformadoras que não precisam de defesa. Esses trabalhadores perdem assim a oportunidade de canalizar essa energia na edificação de suas renovações íntimas. Infelizmente, muitos se colocam como referência de autoridade dentro da doutrina, esquecendo que ela não é nossa, mas dos espíritos.
Sem pretensões de também trazer a verdade absoluta sobre o tema, devemos respeitar o comportamento de todos, entregando a Deus a melhor forma de nos educar para vivenciarmos a fraternidade que deve nortear os relacionamentos nos trabalhos pelo Espiritismo. É para este aspecto que nossos mentores dão maior importância. Dilatar o respeito mútuo não significa ter conivência com os erros alheios, e muito menos com os nossos. Caso contrário, identificamo-nos mais com os valores humanos do que com a grandeza espiritual que devemos alcançar.
Nosso amigo estava acompanhado pelas entidades que o inspiram e orientam em seus trabalhos de escrita mediúnica para a elaboração de mais uma obra de cunho reflexivo sobre as emoções, focada na carência afectiva, aspecto da vida humana que vem sendo a matriz de muito sofrimento entre os homens nestes tempos de solidão e ajustes existenciais, onde somos chamados a conviver melhor com nós mesmos em primeiro lugar.
Um amigo, de elevado nível, estava preparado para abordar este tema e era interessante notar que estava transfigurado em um preto velho, na mais pura expressão de simplicidade. Ele adoptava esta personalidade que, na realidade, lembrava suas experiências do passado escravo que lhe proporcionou a entrada pela porta estreita da redenção.
Acompanhamos a disciplina do medianeiro que dedicava certo período de reclusão para trabalhar na psicografia, a fim de cumprir a meta de escrever mais essa obra com o objectivo de trazer importantes reflexões sobre a necessidade de nos amarmos, principalmente diante de tantas lutas de nossa alma na área do afecto, chamando-nos a desenvolvê-lo em prol do enriquecimento emocional.
Clarêncio, que acompanhava silenciosamente a tarefa, falou sobre esse tema tão desafiador para esses dias que a humanidade tem passado:
-André, vemos aqui o esforço de companheiros da nossa esfera em trazer orientações aos homens. Cada vez mais a mente humana se desenvolve, facilitando o intercâmbio que estamos vivendo. Cada um de nós deverá ler e reter aquilo que mais nos convém, deixando o restante das informações para os que necessitam delas. Estamos vivendo um tempo em que a maturidade pede a cada um que saiba o que quer alimentar em seu coração e o que é melhor para si.
Muitos encarnados no papel de dirigentes e orientadores nutrem preocupação com o grande número de obras mediúnicas que vem surgindo na vasta biblioteca espírita. Eles têm receio de que muitos destes livros introduzam informações deturpadoras aos princípios doutrinários organizados por Allan Kardec, assumindo a posição de preservadores da doutrina e evitando que essas informações influenciem as mentes que abraçam “tais conhecimentos”.
Precisamos entender que, a partir de agora, cada um será chamado a ter uma consciência lúcida sobre esse assunto, para sabermos o que melhor nos caberá, referente aos esclarecimentos e estudos.
Esse é um padrão da mente que viverá no mundo de regeneração, menos dependente das orientações exteriores, necessitando buscar recursos na verdade que traz dentro de si e na identificação com os conhecimentos que lhe chegam. Chegará um dia em que as informações escritas não serão mais necessárias, pois nos transformaremos em livros vivos nos quais Deus escreverá por nossa forma de viver a cada momento.
Nesses instantes de transição, muitos livros surgem por parte dos irmãos desencarnados de todos os níveis evolutivos e vão atender a necessidades variadas de conformidade com o mundo íntimo de cada um. Por isso mesmo, Jesus, compreendendo a diversidade de interesses e modo de viver, falou com sabedoria: “Na casa do meu Pai há muitas moradas”55, indicando que cada um de nós é um mundo que se movimenta em órbitas diferentes.

Mais do que nos preocupar com a quantidade de escritos feitos nessa perspectiva, busquemos na capacidade de amar uns aos outros o respeito que todos devemos ter com nossos irmãos de caminhada, no intuito de que a fraternidade não seja apenas uma palavra saída de nossas bocas, mas vazia em nossos corações.
Sabemos que existem grupos de entidades infelizes que querem deturpar os ensinamentos, que há “médiuns” que querem divulgar sua forma particular de interpretar os acontecimentos, que vários grupos mantêm as mentes fechadas a novas informações, mas a verdade predominará acima de tudo sem precisarmos atacar ninguém. Aqueles que se enganam, em quaisquer funções que ocupem, acharão nos propósitos sábios de Deus o esclarecimento e o aprendizado para corrigirem suas escolhas.
Não podemos ser juízes numa área em que todos estão comprometidos por desvios e enganos. Só o amor nos dará a autoridade correta para avaliar e criar uma disposição correta de auxílio, corrigindo aqueles que abraçam a tarefa de intermediários junto aos amigos de nosso plano.
Vendo o trabalho à nossa frente, abraçamos os companheiros da esfera invisível e deixamos um beijo de gratidão ao esforço mediúnico do irmão encarnado entregue ao serviço para o qual foi chamado a executar.
E saindo, Clarêncio ainda informou:
-Se os homens valorizassem mais o esforço e a dedicação de cada pessoa que se entrega a seus compromissos e tarefas, sobraria menos tempo para ficar vigiando e falando dos outros, ampliando as energias e disposições para cumprirem seus próprios deveres. Por nossa vez, dilatemos nossa compreensão para que, diante das críticas e oposições às nossas actividades, superemos essas predisposições infelizes a nascerem no mundo obscuro de nossas imperfeições, pois o amor pede entendimento.

Capítulo 16 - O legado espiritual das raças adâmicas
Clarêncio e eu estávamos envolvidos no resgate de irmãos que há muito tempo se encontravam prisioneiros de suas crenças, hipnotizados pelas ilusões e cristalizações de seus pensamentos religiosos, vinculados ao movimento cristão nas linhas religiosas tradicionais.
Criaram para si a condição de verdadeiras múmias, paralisados por um sono profundo, aguardando o tão esperado anseio de libertação: a ressurreição do último dia.
Aguardavam que Jesus e os anjos viessem despertá-los56 para a nova Terra – a Nova Jerusalém57 – para que, na posição de escolhidos, pudessem usufruir dessa condição privilegiada, devido ao esforço que fizeram para entrar nesse paraíso, na adopção de uma forma rígida de adoração a Deus.
Era uma tarefa extremamente detalhada para a equipe, pois seria necessário ter um tato muito sensível ao despertar-lhes a consciência para não causar transtornos e perturbações diante da realidade que os esperava. O despertamento deveria ser feito da maneira mais tranquila e dentro de suas capacidades de recepção.
Um pastor que apresentava um nível espiritual elevado prontificou-se a ser o intérprete desse contacto.
A equipe de apoio recebeu autorização para despertá-los com a energização dos passes que há muito tempo era empregada nesse objectivo, precedendo a esse instante de acordá-los.
À medida que iam acordando desse sono, observavam o ambiente em torno sem ter clareza do que estava acontecendo. O local fora preparado adequadamente à maneira de um templo, com características dos seus cultos na Terra, para que se sentissem mais adaptados. Logo puderam perceber a presença de um pastor fazendo uma palestra na intenção de conduzi-los a participarem do culto, como se estivessem em plena assembleia.
Quando todos estavam acordados e participando, quase inconscientes, daquela reunião, ouviu-se a voz de uma irmã de nossa equipe num canto em louvor a Deus e ao renascimento para uma vida nova, que foi prontamente acompanhado por eles numa alegria inocente, pois aquela melodia tocava seus corações.
Terminando o louvor, o pastor falou em tom forte e convicto:
-Amigos, despertem para a nova realidade, Jesus convida a todos para uma jornada na qual serão organizadas outras funções para vocês exercerem. O paraíso de Deus chama-nos para continuar o trabalho de construir um mundo de paz e harmonia para todos.
Vocês serão conduzidos para nossa moradia e cada um de vocês será acompanhado por um irmão de crença, que estará à disposição para tirar suas dúvidas, esclarecer e orientar seus passos nesse recomeço, nessa ressurreição da carne58 pela qual acabam de passar.
Enquanto nosso amigo falava para esses corações que despertavam a fim de enfrentar os desafios futuros, Clarêncio veio trazer algumas reflexões sobre aqueles acontecimentos inusitados:
-Veja bem, André, esses irmãos acabam de acordar para a realidade imortal, mas se encontram, por hora, incapazes de compreender a condição em que se encontram e o quão distantes estão daquele paraíso imaginário, cultivado pelos seus anseios infantis de adoração e que só existirá quando todos nós o edificarmos em nossa intimidade, pela pacificação da nossa animalidade e pela identificação com o nosso espírito, factores esses indispensáveis para a construção desse estado íntimo de paraíso.
Precisarão de um trabalho de doutrinação por parte daqueles que já acordaram para a visão superior de espiritualidade, para que não haja a possibilidade de causar tantos choques aos seus corações, visando a adaptá-los para a realidade extrafísica e desenvolvendo neles uma visão mais dilatada da Vida. É claro que estamos aqui diante de crentes sinceros que conseguiram adquirir razoável bagagem de qualidades morais que predispõe e facilita a execução de nossas tarefas.
Mas existem aqueles grupos de religiosos que sustentam uma inconsciência muito grande e não se encontram preparados para compreender a realidade de nossa existência, não podendo ser efectivamente despertados. Estes serão acordados em outro planeta, que os receberá para que possam introduzir os aspectos religiosos de suas tradições para os homens primitivos em desenvolvimento junto a eles. Correspondem ao exemplo do trabalho realizado pela raça judaica quando vieram em exílio para a Terra, introduzindo a adoração ao Deus único e a escrita de seu livro sagrado – a Bíblia – com toda a história de sua peregrinação, citando a formação do novo mundo, o paraíso perdido e tudo aquilo que será escrito, de forma simbólica, sobre o seu degredo para esse planeta.

Aqueles que apresentam condições espirituais para continuarem na Terra são dirigidos a mais amplos esclarecimentos e trabalhos de preparação para contribuírem, por sua vez, com a parte que lhes cabe na estruturação do mundo regenerado.
Com relação ao grupo que será deportado e reflectindo o estudo das raças adâmicas que se dividiram em quatro braços, representando os quatros rios que desceram do Éden59, encontramos na Terra os estudiosos da Bíblia – judeus; espiritualistas – hindus; cientistas – egípcios; materialistas e ateus;- arianos.60 Cada um desses grupos será chamado a contribuir com o novo Cristo planetário de acordo com seus compromissos específicos, auxiliando-O na edificação dos potenciais que precisam ser desenvolvidos naquele orbe em crescimento.
Se forem felizes nessa tarefa de germinação, voltarão ao planeta para reencontrar os corações que deixaram para trás, reunindo-se com eles e vivendo uma felicidade imperturbável.
Assim, como aconteceu com os espíritos que vieram para o nosso planeta, esses companheiros se juntarão por afinidade e estabelecerão os tipos de raças que influenciarão a formação da nova casa planetária, vindo a melhorá-la e aperfeiçoá-la na edificação de um homem mais completo em decorrência das características específicas de cada um desses grupos.
Após um breve intervalo para organizar melhor os pensamentos, ele voltou a falar:
-Aproveitando o ensejo desse assunto, voltemos a analisar a história de Adão e Eva. Adão é o tronco de raça nesse expurgo espiritual que, num primeiro momento, ajudará no desenvolvimento neuro psíquico e na implementação da coroa da razão iniciante. Eva é o segundo grupo de espíritos que abrirá oportunidade para o desenvolvimento das emoções e sensações para despertar no futuro os sentimentos elevados que vão bem além dos instintos herdados do estágio de evolução no reino animal.
Como vimos antes, a serpente é o terceiro agrupamento de exilados trazidos de Capela no estado de inconsciência do bem, trazendo a predisposição para a acção no mal, que os aproximou muito da realidade dos primitivos nascidos na Terra.
Esse estado de inferioridade é consequência da incapacidade de vivenciar a educação recebida pelos seres que tinham a razão mais desenvolvida, porém não moralizada – Adão; pelos espíritos que apresentavam um grau de emoções mais dilatadas ligadas às paixões – Eva, já introduzidos no orbe; e aqueles que eram mais ignorantes, predominantemente sensuais, brutos e que foram influenciados pelos dois grupos anteriores - Serpente que volta a reencontrá-los, aproxima-se deles e abre-lhes as portas para que pudessem renascer ali também.
Como filhos de Adão e Eva, vamos ver esse grupo reencarnado simbolicamente na personalização de Caim. Além desses companheiros, outro grupo de orientadores responsáveis por suas reencarnações, juntamente com almas nobres e alguns amores do passado, pedem para renascer junto deles, vindo na condição de missionários, com o intuito de introduzir princípios educativos e morais aos três grupos, surgindo nesse cenário personalizado como Abel.
Dessa forma, a miscigenação desses companheiros de jornada no tempo e no espaço iria viabilizar o aprimoramento das condições humanas, expressa em uma vasta gama de valores personalizados em Sete, Enoque, Abraão, Isaque, Jacó61, e assim por diante.
Todo este processo mostra o encadeamento de todas as coisas que representam a jornada espiritual do ser na sua passagem pelos orbes do Universo.
Calou-se o mentor amigo, acreditando que essas informações já seriam suficientes para a compreensão dos estudiosos sobre toda a simbologia dos livros sagrados que apareceram na Terra, vislumbrando o trabalho activo dos operários siderais para a elaboração paciente do desenvolvimento neurológico e psíquico do homem.
Saímos agradecidos pela oportunidade de aprendizado proporcionado pelas experiências daqueles irmãos que foram despertados naquela noite e que poderiam, quem sabe, dar os primeiros passos na construção de um paraíso eterno e verdadeiro.

Capítulo 17 - O que nos convém fazer numa terra espiritualizada
Dando continuidade ao nosso trabalho de estudos, estávamos desta vez em um posto construído espiritualmente numa região da Bahia, acompanhando os festejos de carnaval. Ficamos à disposição para dar nosso auxílio às equipes de amparo que montaram um verdadeiro hospital de socorro em favor de encarnados e desencarnados que, naqueles dias, viviam a liberação de vínculos espontâneos com entidades dos planos mais baixos e que procuravam também usufruir dessas sensações dentro das oportunidades que surgissem.
Quando muitos se entregam à busca irresponsável de prazer, abrem brechas para ocorrer experiências “descomprometidas” de seus resultados, possibilitando que obsessões e explorações energéticas ocorram com mais facilidade. As drogas e bebidas alcoólicas tem seu uso exagerado fazendo com que o domínio que as pessoas têm de seu próprio corpo e de sua vontade relaxe, a ponto de permitir que estímulos de entidades exploradoras em sintonia com suas emoções mais primitivas direccionem seus comportamentos e escolhas.
Muitos encarnados, distraídos, acabam por se comprometer a tal ponto que, quando caem em si, se vêem aprisionados pelas precipitações que lhes marcaram as acções de alguns dias, complicando muitas vezes seu futuro, sem saber quando poderão se reequilibrar. Perdem dessa forma as oportunidades de crescimento que a vida lhes reserva.
Estar vigilante e comprometido com um comportamento mais equilibrado e recto é um grande desafio nesses instantes de chamamento e definição pelos quais o orbe vem passando.
Nosso papel ali era o de auxiliar no recolhimento dos desencarnados, criar apelos de inspiração para aqueles mais equilibrados e abertos à nossa influenciação mais directa para se manterem numa atitude mais consciente. Além disso, criávamos possibilidades para impedir as pessoas de se envolverem em problemas irreflectidos e de intervir em outras tarefas emergenciais que aqueles momentos pediam.
Ao observar toda aquela loucura na busca de satisfação dos sentidos, Clarêncio falou comedidamente:
-Os encarnados que se encontram nessas circunstâncias não percebem ainda o quanto deixam seu passado se manifestar, dando vazão aos instintos que temos de vigiar para não sermos dominados por eles. Esses anseios pela busca da “felicidade” dos sentidos têm feito com que muitas pessoas, relativamente equilibradas, se abram para dolorosos desvios que as conduzirão a uma roda-viva na qual perdem o controlo de sua vida. Quando percebem onde estão, já não conseguem mais voltar às mesmas condições de vida que tinham antes, e se tornam presas fáceis nas mãos de obsessores que querem vê-los desequilibrados e perturbados.
Nesse trâmite da Terra, será necessário que as pessoas estejam sempre mais alertas e operantes para não escorregarem diante dos desafios impostos, surgidos com o intuito de guiar escolhas mais conscientes para a própria existência delas.
Diversão e lazer são áreas da vida humanizada do espírito, mas, à medida que a consciência do ser vai se dilatando para as expressões espirituais, todos esses anseios e buscas tenderão a uma plenitude, dando saltos para estágios mais elevados e nobres no campo do entretenimento. Todas as esferas dos valores terrenos sofrerão mudanças profundas quando a regeneração ocorrer de fato, apresentando em todas elas uma harmonia e um equilíbrio que traz transtornos ao íntimo das criaturas.
Hoje ainda estamos distantes desses fatos porque a maioria dos encarnados na Terra, jovem ou adulta, é composta de pessoas ainda presas à sua primitividade mais do que aos seus aspectos espirituais.
Ligar-se a drogas, álcool, sexo descontrolado e outros tantos desregramentos representa, aparentemente, uma porta fácil de entrar, mas a saída pode significar experiências de grandes sacrifícios.
É claro que as possibilidades de soerguimento para quem quer que seja, mesmo para os exilados, sempre existirão, mas enfrentar as lutas nas condições de esclarecimento encontradas aqui será mais tranquilo, em contraposição às situações mais complicadas cheias de obstáculos que o mundo de exílio oferecerá.
Dentro de uma perspectiva mais futurista, numa Terra a caminho de sua espiritualização, estaremos mais aptos a fazer escolhas pelas facilidades que este nível de evolução proporcionará. Precisamos estar atentos ao que nos convêm ou não fazer, para não corrermos o risco de pisar em terrenos movediços, pois, ao acordarmos, podemos nos ver em prisões criadas por nós mesmos, sem conseguir nos movimentar.
Clarêncio encerrou sua fala observando o burburinho daquela festividade que poderá representar descanso e lazer para alguns, mas, para muitos, são elos de uma corrente que significa a marca de uma penosa escravidão.

Capítulo 18 - Cristo espera que não nos identifiquemos com o que não somos
Os Salões Verdes62 estavam repletos de participantes de todos os ministérios de Nosso Lar. Em plena assembleia, aguardávamos uma palestra do nosso querido mentor Alexandre sobre o tema “O Amanhã da Terra”, para esclarecer suas ocorrências transformadoras.
Nosso companheiro é bastante querido por todos e me sentia feliz em rever aquele que foi um verdadeiro mestre em minha jornada inicial. Estive também com ele, por algum tempo, em várias actividades no plano físico, entre elas a reencarnação de Segismundo63, um amigo seu do passado.
A noite estava repleta de estrelas e uma lua de majestosa beleza cintilava no céu, como se até os astros quisessem assistir à palestra.
Alexandre entrou na assembleia, acompanhado por alguns ministros da Comunicação e do Esclarecimento, e irradiava uma impressão de bem-estar marcante. Depois de ouvirmos sublimada música que mais parecia uma prece feita por um coral de vozes femininas, desceu do alto uma chuva de energias condensadas na forma de minúsculas pétalas que nos atingiu como irradiações salutares, levando todos ao arrebatamento.
Saudando a todos, Alexandre começou a falar num tom de natural expressão:
-Que as bênçãos de nosso Pai caiam sobre todos os seus filhos que retornam ao caminho do bem sobre o abrigo dos trabalhos inspirados por Jesus! O espírito é a acção de Deus no silêncio da criação manifestada muito mais em essência intangível que nas expressões da realidade densa.
Para que nossos irmãos encarnados sejam tocados por reflexões mais profundas, os acontecimentos devem atingir suas pobres percepções por meio de acontecimentos drásticos ou fenómenos que atinjam colectividades. Só dessa maneira muitos se mobilizam para a reconstrução e para o apoio que precisam oferecer. Infelizmente, tiram conclusões precipitadas e distorcidas de que essas ocorrências colocam em risco suas existências, deixando evidente o quanto estão distantes de sintonizar com a vontade d’Aquele que nos criou para operarmos o bem, que é a base do Universo.
Somos chamados a assumir a herança divina que Ele depositou em nossa intimidade como semente de perfeição e que deve aflorar em nossos pensamentos e sentimentos – veículos da manifestação de nosso ser – representando o núcleo energético de nossa criação infinita.
Estes dois centros da vida – Deus e nós – representam a forma de produção com que o ser se manifesta na matéria para dar corpo à Acção Criadora. Deus criou o Universo, livro sagrado de Sua sabedoria, e o homem vem aprendendo a ler este livro e a repetir o ato de co-criar por meio de palavras, pensamentos e acções.
As construções inferiores edificadas quando desvirtuamos o nosso pensar e o nosso sentir devem ruir para que possamos reconstruir os níveis de manifestação.
O Mestre de nossos corações determinou que a Terra entre na órbita de sua espiritualização e este movimento não está ligado à rotação, nem à transladação, mas sim, a uma actividade de ordem interior a nascer dos seres que a habitam e que deve sustentar seus movimentos espirituais dentro do sistema sideral, ritmo esse que determina o movimento dos orbes redimidos.
A voz do Cristo repercute no íntimo de nossas almas a nos chamar: “vinde a mim vós que estais sobrecarregados”.64 Ele espera que larguemos, de uma vez por todas, as cargas inúteis de nossas ilusões que nos identificam com aquilo que não somos.
Sua chamada amorosa aparece dizer: “Filhos de meu coração, ampliem suas possibilidades íntimas e nosso Pai se fará mais presente em todos, pois vocês têm mais luzes que a maior das estrelas que existe no Universo e mais forças que qualquer fenómeno da criação. Sois todos a vontade operante da Sabedoria que espera que cada um seja a expressão pura das verdades eternas, uma obra-prima de belezas em movimento constante de criatividade e um jardim com flores e perfumes que venham trazer paz e felicidade onde se apresentarem.”.
Seu convite é para caminharmos por uma estrada diferente de todas pelas quais já passamos em nossas conquistas exteriores, que nos levará à porta estreita das veredas do coração.
É nos sentimentos sublimados e nobres que iremos encontrar Sua presença permanente e viva. Não existe templo mais divino do que aquele que escolhemos ser na expressão de nosso espírito imortal. É exactamente em nossa essência que está a directriz que transformará a Terra em um planeta divino. Não se pode esperar a elevação de nossa morada a níveis mais altos sem que, como agentes dessa transformação, façamos isso, em primeiro lugar, em nós mesmos.

O amanhã dessa moradia planetária estará repleto de seres aprimorados pelas duas asas que os farão voar além da atmosfera material. A primeira é a sublimação da razão baseada numa justiça sentida na direcção do próximo, afirmando a bem-aventurança dos que tinham fome e sede de justiça, o que significa dizer que não esperamos a justiça de fora nos alcançar, mas temos uma necessidade profunda de sermos justos. A segunda é a plenificação dos sentimentos suaves e elevados como a compaixão, a misericórdia e a abnegação, expressões do amor e qualidades do espírito. O planeta do amanhã apresentará a beleza como característica de todos os habitantes de seus espaços, independentemente da dimensão que os envolva.
Quanto mais o homem se espiritualizar, mais as barreiras vibratórias em torno da Terra deixarão de existir e os planos incorpóreo e material pulverizarão suas diferenças para se tornarem um só no encontro definitivo com nosso Pai de amor.
Alexandre parecia uma estrela. Nossos olhos estavam em lágrimas pela sintonia com as energias que o envolviam e tocavam nossa sensibilidade. Parecia que a presença do Cristo se aproximava da sua mente, e esta passou a ser instrumento do Verbo celestial.
Sua palestra continuou em tons transcendentes e extraordinários até que, já no final, Alexandre mudou sua feição e postura, transfigurando-se para todos nós em autêntico fenómeno de materialização espiritual de um ser de beleza infinita que deixou o recado final para nossos ouvidos atentos e admirados:
-Amados de meu Pai, vocês são a esperança nestas horas de mudanças que essa escola de almas precisa enfrentar para que expresse a mensagem única da criação – o amor como marca de Deus – legada a todos e deixada em tudo. Ninguém resistirá a essa força que envolve a vida nos mínimos detalhes.
Os seres proscritos desse educandário abençoado estarão matriculados em uma instituição educadora, já que o propósito da Sua sabedoria e amor é desenvolver os germes dessas mesmas qualidades adormecidas no fundo de suas inteligências.
Não há erros ou distorções nos planos de Deus. A percepção incorrecta só se verifica quando as coisas parecem não acontecer no âmbito das limitadas deduções dos que ainda não sabem abranger com sua visão a presença da Bondade por trás de tudo, criando sempre um redireccionamento para despertar-lhes a grandeza interior.
A Terra, mãe de todos os seres que pisaram em seu seio abundante, é destinada a engrandecer-se e proporcionar àqueles que viverem em suas paisagens diferentes aprendizados e experiências pelos caminhos retos da Verdade.
Ao entrar definitivamente em direcção à categoria de um orbe sublimado, a Terra estará aberta a receber a acção universal de todos os seres que estão ao seu lado, seja em outras dimensões, seja em outras moradias planetárias. Todos lhe proporcionarão recursos e lhe abrirão os braços, acolhendo essa esfera de luz que, como o filho pródigo que retorna à casa de seu Pai, estará entrelaçada pelos corações de todos os outros filhos que já vivem no seio da felicidade imperturbável. Ela estará, a partir de agora, envolvida pelas vibrações dos que são reconhecidos por muitos se amarem, assim como o Pai vos tem amado, e continuará a amar, na eternidade.
Sob o impacto de forte emoção, a palestra terminou com um abraço colectivo. Nossas almas tornaram-se mais leves ao assimilarmos o sentimento de solidariedade daquela comunidade de irmãos felizes por viverem aqueles momentos divinos.

Capítulo 19 - Homem ou mulher?
Encerrados os trabalhos da noite, estávamos com amigos queridos em plena saída de uma instituição espírita de grande cidade quando nos deparamos com um fato bastante frequente e sobre o qual seria importante tecer algumas considerações, pois tinha relação com nossas actividades espirituais.
Sob a nossa vista tínhamos um casal de homo-afectivos e, como este é um tema muito debatido actualmente, seria interessante reflectirmos um pouco dentro do assunto.
Clarêncio, vendo o casal se afastar, pediu para que o acompanhássemos em suas observações sobre o mundo em processo de regeneração.
Aos poucos, o casal foi se sentindo mais livre para atitudes de carinho e afecto e dirigiu-se para uma comemoração em um local de encontros e lazer característico de casais homossexuais, em que se sentiam mais à vontade, já que ali não encontravam tantas resistências ou críticas.
Observando atentamente o ambiente, Clarêncio falou:
-Veja, André, como ainda nos encontramos debaixo de uma realidade social em pleno processo de transição que afecta vários aspectos nos quais o homem atua, destacando aqui os relacionamentos amorosos. Devemos a esses trabalhadores espíritas o maior respeito e carinho em função da seriedade e dignidade com que assumem suas responsabilidades na vida, bem como a todas as criaturas em suas escolhas, principalmente no âmbito da busca afectiva que está estreitamente ligada ao aspecto sexual, nas condições atuais de evolução, tanto para homossexuais quanto para héteros.
Se a felicidade é um estado ainda distante para a maioria de nós é porque ela está, até então, associada ao prazer que se torna a base para muitas pessoas se sentirem realizadas e felizes.
Vendo os casais que trocavam carícias e carinhos, e outros que simplesmente mantinham um bate-papo alegre e descontraído, Clarêncio continuou suas observações com um sentimento de profunda reverência:
-Sabemos que o trabalho de adaptação ao corpo e às transformações pelas quais essa estrutura deve passar, para expressar melhor a inteligência individualizada, fará com que as características do campo material sejam modificadas no tempo, aproximando-se gradualmente de suas qualidades reais. Hormônios, predisposições psicofísicas, funções biológicas, expressões personalísticas, condicionamentos diversos, papéis sociais exercidos nas funções de mãe, filho, pai, profissão, homem e mulher, todos esses factores são expressões do estado actual da sociedade que precisa ajustar-se a novas funções para que, no amanhã, a organização e as actividades sejam outras.
Romper com tradições, condicionamentos e características da retaguarda é uma luta presente em todos os quadrantes do planeta. Podemos afirmar claramente que hoje o mundo é dividido em três grandes grupos: os homens, as mulheres e as pessoas com características entre essas duas disposições mentais e físicas, chamados na actualidade de homossexuais. Este, na verdade, é um dos aspectos para fixar as características do homem futuro, que não ficará subordinado às posições dessa trindade – homem, mulher, homossexual – no restabelecimento do equilíbrio da arquitectura humana.
Chegará o dia em que as características do homem serão a harmonia desses dois polos e o ser não será nem homem nem mulher, mas espírito no uso equilibrado das forças criadoras. A maioria das criaturas que hoje passa por essas expiações e provas se apega muito mais ao uso de suas energias sexuais que à funcionalidade corporal em si. No futuro ultrapassarão esse marco e imprimirão no orbe um grau maior de respeito na relação afectiva. Nessa realidade, a reencarnação de um ser com características acentuadamente femininas em um corpo masculino ou vice-versa não terá lugar, pois o espírito regerá as forças hereditárias recebidas e determinará o sexo conforme sua natureza íntima.
Nas atuais circunstâncias da existência, o plano superior utiliza desses desafios para causar o escândalo65 nas estruturas enfermiças do preconceito, do machismo e de tantos comportamentos extremistas. Muitos dos espíritos nestas experiências pediram-nas como provas e outros sofreram sua imposição dentro da lei de causa e efeito, para promover experiências de aprendizados, resgates e ajustamentos. Ao mesmo tempo, servem como instrumentos para o desenvolvimento do respeito que deverá um dia existir para todos os aspectos da relação entre os seres, a fim de que a aceitação em relação ao outro e a si mesmo seja a base da fraternidade que regerá a vida comunitária. Romper barreiras do preconceito, dos pensamentos fechados e constatar a realidade do espírito sobre a influência das células físicas mostra que o ser é mais importante que seu corpo físico e seus conceitos.

-Mas como ficam os comportamentos violentos e os crimes ligados à homofobia que têm aparecido com tanta frequência nos noticiários da Terra?
-Não são diferentes de outros tantos crimes anunciados nos meios de comunicação que apresentam o mesmo fundo de intolerância em relação às diferenças, sejam políticas, raciais ou outras tantas. Qual é a diferença deste comportamento agressivo ainda predominante em irmãos mais primitivos em relação aos casos de violência sexual em crianças ou de agressão contra mulheres? Não são todos desvios espirituais?
Os tempos de renovação chegaram, em que a sementeira de ontem convida a mudanças de hoje aqueles que foram motivo de escândalo e que são chamados pela lei a reflectirem sobre suas escolhas e a observarem suas tendências. Graças à capacidade de os corações endurecidos do passado se sensibilizarem à dor, os agressores de ontem passam por essas experiências, solicitadas por eles mesmos, para sentirem na própria pele o que fizeram ao outro.
Muitos perguntarão apressadamente se é necessário “pagar” pelo crime que se cometeu para evoluir, como se Deus fosse um carrasco antes de ser Pai; um vingador, e não um Educador. Precisamos esclarecer que a maioria pede experiências semelhantes com objectivos educacionais e não punitivos; aprende, assim, a não fazer com o outro o que não gostaria que fizessem a si mesmos.
Não estamos debaixo de uma lei fria, mas sim de uma acção amorosa e justa. Muitos desses irmãos inconsequentes, que seguem seus próprios impulsos e anseios, parecem ser peças de cumprimento da justiça em desígnios preestabelecidos pelo plano superior, mas isso não é verdade. Eles seguem a força da sintonia e de atracção, em que a ignorância educa a ignorância, como pedras que se atritam a fim de se transformarem para propósitos mais úteis.
Entidades mais lúcidas, mas ainda ligadas ao mal, tentam induzir as mentes brutas em suas intenções infelizes, e assim dominá-las, criando um ambiente psíquico vibratório que atrairá pessoas que precisam passar por essas expiações, decorrentes de agressões semelhantes executadas por elas no passado, com o intuito de se sensibilizarem e nunca mais fazerem o mesmo com ninguém.
É lógico que essas ocorrências são mais complexas e detalhadas do que essa abordagem rápida de nossos apontamentos sobre a lei de acção e reacção, que, para ser compreendida em profundidade, exige estudo apurado. Aproveitamos esse tema para reflectir sobre as transformações bio-psíquico-espirituais que devem ocorrer para a fixação dos caracteres do homem do amanhã. A espiritualidade maior está utilizando lutas edificantes relacionadas às readaptações sexuais das criaturas para mudar aquilo que precisa evoluir.
A sabedoria de Deus sempre aparecerá acima das experiências espirituais e físicas que servem para o desenvolvimento da inteligência. Quando todos esses seres estiverem caminhando pelos trilhos retos da evolução, verão que tudo isso que antes chamava a atenção e causava constrangimento foi necessário e não guardam importância pelo modo como eram evidenciadas, compreendendo a transitoriedade destas pela edificação de sua liberdade real.
As experiências humanas com os órgãos do corpo físico e sua funcionalidade deixarão de ter a importância que tinham e precisavam ter em certo período, para que os valores venham a florescer na intimidade imortal.
Clarêncio calou-se, observando nossos amigos espíritas que lutavam pelo bem por meio do auxílio ao próximo e abraçavam tarefas de responsabilidades nobres, em que seus esforços são tão iguais quanto os de seus irmãos heterossexuais. Em se tratando de espíritos na condição humana, todos trazem os mesmos anseios de felicidade e as mesmas limitações e tendências do passado, e ninguém possui algo que os caracterize como especiais ou exclusivos para destacá-los entre si. Todos buscam as mesmas conquistas, mas tropeçam nos mesmos obstáculos dentro da estrada chamada Eternidade.

Capítulo 20 - Viver em um planeta não é para satisfações fantasiosas
Trabalhávamos para a edificação da paz na Terra, influenciando a mente dos encarnados para que não entrassem em sintonia com o pessimismo imperante no ambiente planetário, principalmente no Brasil, pelo comportamento dos corruptos e de desvios de conduta.
A humanidade tem uma visão limitada da existência, acreditando que a escassez de recursos, os desafios de sobrevivência, os transtornos no clima e outros tantos factores mais difíceis devem estar circunscritos aos campos de visão negativa que só enxergam catástrofes e coisas ruins.
Nosso apelo aos companheiros de jornada é para que desloquem seus raciocínios aos campos da confiança e da tranquilidade, sustentando um nível de percepção e entendimento mais alto de onde verão que tudo tem uma finalidade de transformação. Aqueles que se encontram desconfiados da vida acreditam que ela é uma expressão imediata e superficial, sem um objectivo maior por trás de tudo.
Os amigos da Doutrina Espírita, junto a outros religiosos conscientes, devem adoptar uma postura equilibrada e aproveitar desse instante de instabilidade causada pela falsa sensação de segurança ligada a posições e posses para despertar o estado de garantia na única realidade de verdadeiro valor: o seu espírito imortal.
Centrar na acção operativa do bem, transmitir confiança e positividade pelo exemplo de conduta e orientar pela disposição sincera de ser útil são as melhores atitudes para a construção de um mundo com características de superioridade.
Acalentar o desespero e o medo é dirigir e caminhar para precipícios e sofrimentos perturbadores.
Nunca houve tantas mensagens edificantes como as que agora existem, e nunca foi tão fácil transmitir informações com tanta velocidade e capacidade como ocorre na actualidade. Devemos alertar, porém, que não é só para aspectos elevados que tudo isso é favorável, mas também para as induções destrutivas e desvirtuadas da ordem e da paz.
A divulgação em massa de cenas de violência e de comportamentos desequilibrados está em todos os lugares e envolvem pessoas de todas as idades, espalhando terror e calamidades. Em contrapartida, não faltam exemplos reais do amor, da abnegação e da caridade, enviando aos quatro cantos as reflexões nobres que criam estados de segurança e confiança nos estímulos elevados.
O céu e o inferno são escolhas de cada um que os procura e deles se alimenta em forma de substâncias específicas. No caso do céu, essas substâncias são a alegria, a paz, a aceitação, a compreensão, a bondade e muitas outras virtudes. Em se tratando de inferno, remetem a raiva, inveja, mágoa, ciúme, maldade, entre outras emoções difíceis e dolorosas. O filtro para qualificar aquilo que buscamos é de carácter individual e segue a tendência daquilo que mais impressiona e sustenta nossas intenções.
A importância da educação em torno dos assuntos da espiritualidade, que nunca se apresentará ultrapassada, é necessidade colectiva e essencial para a felicidade humana. Daqui para a frente o ser mudará o seu padrão de entendimento e assimilação para atender à sua maturidade e para adquirir uma compreensão profunda.
Clarêncio, acompanhando minhas reflexões e análises elaboradas pela observação das ocorrências que actuavam sobre o planeta, veio acrescentar suas informações esclarecedoras:
-André, as experiências colectivas que ocorrem em todos os lugares do Globo chamarão cada vez mais a atenção dos homens para que assumam a necessidade de se amarem sem distinção. São convites inadiáveis para romper as barreiras de separativismo e exclusividade, a fim de que possam ver que a dor que afecta o outro é a mesma que nos atinge.
Não podemos prescindir da acção de cuidado com a colectividade descrita claramente na fala do Cristo e que repercute em todos os ouvidos: “Amai ao próximo como a si mesmos”. Esta recomendação não é teoria ou filosofia vazia, é uma lei que se aplica como única solução dos problemas que afligem as criaturas terrenas.
Com esta verdade, porém, aprenderemos a dividir para saber usar e preservar. Usaremos os recursos por meio das trocas naturais sem o acúmulo desnecessário, conscientes de que se sobra aqui é porque faltou ali. A importância que damos a nós, devemos dirigi-la ao outro. A mesma ilusão que alimentamos em nós, deslocamos para o próximo. Assim, mudaremos a forma de nos tratar e também ao semelhante. Procuraremos nos interessar mais por qualidades interiores, como as virtudes e os valores morais, que por reconhecimento pessoal, pela posse de bens ou pelos papéis sociais que exercemos.

É necessário chegar a esse grau de dor e desespero para valorizar o simples e o verdadeiro, traduzidos pela forma como nos relacionamos. Só quando buscarmos a felicidade conjunta alcançaremos a alegria duradoura.
Sabemos que a limpeza astral é necessária, e que fatos mais graves acontecerão, para que aqueles que foram preparados por nós permaneçam firmes diante dos desafios da transição e despertem para a necessidade de mudar a forma como enxergam a existência. O machado foi colocado na raiz das árvores e, nessa linha de entendimento e de anseio na forma de viver, não ficará uma só que não dê frutos.
Outros tantos deixarão o orbe levando consigo a lição de que a vida em um planeta não acontece por mera brincadeira ou satisfação fantasiosa. Serão essas as lições que lhes marcarão, assim como Caim foi marcado por matar Abel, carregando consigo os sinais66 de suas irreflexões dolorosas.
Após pequena pausa, fiquei imerso em pensamentos que pareciam pressagiar fatos dolorosos sob a acção de grupos humanos inconsequentes, assim como fenómenos geológicos dolorosos. Clarêncio, identificando minhas interpretações, continuou:
-Não veja em minhas palavras profecias apocalípticas com a finalidade de gerar medo ou assustar mentes despreparadas. São apenas conclusões óbvias das escolhas de cada um.
Alertamos aos que procuram a luz em si mesmo a influenciar, pelo exemplo, os que caminham ao seu redor, para que tenham consciência de que a harmonia e o equilíbrio são indispensáveis ao comportamento de todos.
O medo que tem sido a marca generalizada do homem preso ao seu passado será regido pelo sentimento de serenidade e amor, agentes libertadores de sua transmutação.
A chamada de cada um ou de um grupo específico está ligada à maneira como têm vivenciado suas escolhas, e virá de fora em sintonia com o que trazem por dentro.
Optemos pela acção edificadora no bem, e o Bem Maior aparecerá para todos como a solução de nossa subida no monte da espiritualidade.
Só aqueles que elegem a escuridão acharão as trevas que acalentam em si próprios como metodologia educativa na retomada de novos rumos que os levarão ao crescimento em direcção à luz.
Sejamos firmes em nossa romagem para que nosso exemplo fortaleça as almas tímidas e inseguras, incentivando-as para a mesma disposição de servir Àquele que nos aguarda há milénios com os braços abertos, dizendo: “Vinde a mim amados do meu coração, pois vos preparei o lugar e agora tens o direito de usufruir da felicidade que sempre existiu e que é o da comunhão com Deus nosso Pai dentro da Eternidade.”.

Capítulo 21 - Reencarnações desperdiçadas
A reunião corria bem até que um grupo de desencarnados desesperados foi trazido para atendimento e causou certo tumulto. Chegaram ao ambiente de trabalhos mediúnicos cheios de vibrações pesadas e perturbadas, provocando imediatamente uma mudança no comportamento geral da equipe de servidores encarnados.
Os médiuns iam captando aqueles irmãos perturbados conforme a sintonia mental e emocional causada pela aproximação de suas características pessoais. Assim permaneciam prontamente, ao lado de cada um deles, como se fossem uma esponja a absorvê-los, preparando-se para a manifestação que ocorreria de forma bastante inconsciente, já que aquelas entidades não tinham a menor ideia do que estava acontecendo.
No intercâmbio com os médiuns eles eram interpelados por uma voz que lhes chegava aos ouvidos com estímulos acolhedores aos quais eles respondiam quase mecanicamente, sem que seus pensamentos seguissem uma ordem ou uma sequência lógica, tal era o grau de desordem mental.
Pareciam verdadeiros robôs transmitindo a sensação de estarem perdidos, dificultando ainda mais para os médiuns a identificação das entidades.
A tarefa daquela noite proporcionaria a eles um choque anímico, como primeiro passo para lhes dar alguma luz, iniciando dessa forma um tratamento mais aprofundado que lhes despertaria maior grau de percepção de quem eram. O auxílio necessitava ser repetido para que, aos poucos, recuperassem suas lembranças pessoais e os fatos que antecederam seus desencarnes, e pudessem se abrir para a realidade que os aguardavam.
Esses espíritos foram resgatados depois que sofreram um desencarne em grupo, pegos de surpresa em um incêndio numa casa nocturna. Estavam desorientados, pois de uma hora para a outra veio o susto, a perturbação geral, o corre-corre, fazendo com que as coisas piorassem ainda mais. Drogas e bebidas já tinham sido consumidas em exagero e a capacidade de acção estava completamente comprometida. Dessa forma, a tragédia estava consumada.
Para o plano espiritual, o trabalho de emergência se desdobraria de forma a acolher, de imediato, alguns irmãos que possuíam o merecimento de não passar por sofrimentos maiores e apresentassem condições de ser socorridos. Porém, grande parte deles não teve a possibilidade de compreender o que estava acontecendo e permaneceram desligados da realidade, pois não tinham como enfrentar aquela situação inusitada.
Vários desencarnados que também se divertiam ali se assustaram com o ocorrido, apresentando as mesmas condições de muitos recém-desencarnados. Nesse momento, o ambiente astral da casa nocturna fora invadido por um bando que disputava com outros desencarnados, de inferior condição, a possibilidade de posse e domínio das vítimas e seus acompanhantes espirituais, para levar aquelas “presas” invigilantes aos seus antros de exploração e subjugação energéticas.
Devido ao despreparo religioso, faltava-lhes a capacidade de se auto-proteger e, pela entrega ao vício e à irresponsabilidade, muitos daqueles jovens estavam como verdadeiros zumbis a ponto de, com o tempo, perderem suas identidades.
Estava planejado para aquela noite o resgate de parte desses recém-desencarnados que se encontrava em cativeiro. Eles apresentavam uma condição mínima para o resgate articulado por uma de nossas equipes espirituais, que também dariam início ao tratamento de abertura mental deles para a realidade imortal.
Clarêncio e eu ajudávamos no trabalho de acolhimento e preparo psíquico dos que recebiam o choque anímico, acompanhando-os depois de saírem daquela condição de consciências amortizadas pelas vibrações inferiores. Em pouco tempo eles começariam a cair em si, e descobririam o desfecho de suas acções e escolhas precipitadas que definiriam um novo destino dali para a frente.
Para esclarecer melhor, Clarêncio acrescentou:
-André, a maioria dos irmãos está despreparada para viver e assumir as responsabilidades que a existência pede no desenvolvimento dos seus potenciais. Esses espíritos enxergam apenas a perspectiva do prazer e da diversão, distorcendo os objectivos reais a que são chamados. Após a desencarnação, amplia-se para eles o peso das oportunidades perdidas.
Grande parte dessa geração ainda segue os preceitos da chamada geração hippie, criando uma possibilidade de viver de maneira descomprometida e deslocando as mudanças que precisam realizar na vida prática para o âmbito dos ideais utópicos direccionados ora para a política, ora para a filosofia existencialista, na esperança de um mundo melhor.

Mesmo nos movimentos activistas, quando são chamados a executar suas ideias, sentem-se perdidos, incapacitados e sem reacção, buscando saídas fantasiosas ou um escape pelas drogas para suas fugas mentais. Para complicar ainda mais o processo, tornam-se joguetes dos grupos exploradores, que se sentem no direito de controlar seus destinos mesmo após sua morte.
Vários são filhos de pais que, numa tentativa de dar tudo a eles, acabaram por tirar-lhes as possibilidades de acção consciente na evolução, atrapalhando suas jornadas de aprendizado.
Nesta fase de evolução, o ser identifica-se com a realidade material e com as sensações corporais ligadas, principalmente, ao prazer que a existência lhes proporciona. Não assumem responsabilidades nem compromissos e procuram sempre o que é de fácil ganho, o que não requer esforço para adquirir.
Apesar de ser um grupo com ideais nobres, apresenta uma fraca disposição para concretizá-los, caracterizando as reencarnações que parecem ter pouco aproveitamento para a reforma e o crescimento do ser. Essa é a fase mais difícil de mudanças para o espírito que sai da infância espiritual e passa a ter consciência de suas ricas possibilidades e poder de realização, até então não utilizados. Por estarem despreparados para tomar posse de sua herança divina, querem usufruir ao máximo da oportunidade da vida, criando a fantasiosa condição existencial de viver para aproveitar tudo enquanto é tempo.
Muitos desses espíritos terão de se saturar dessa postura até que as decepções e as frustrações lhes preparem o psiquismo para enfim buscarem um objectivo maior. Como a Terra não tem mais lugar para oferecer experiências de resgate para este tipo de entidade, a possibilidade de deportação é muito grande, e lhes será proporcionada a oportunidade de descobrirem que a vida não foi feita para mera diversão, chamando-os a responsabilidades espirituais e ampliando suas decisões em direcção a metas mais relevantes. Não podemos classificá-los como maus, mas imprevidentes e imaturos. Muitos deles serão a mola propulsora de transformação e revoluções para o mundo que os acolherá, na actuação que não conseguiram fazer aqui em nosso planeta por estarem presos à esfera dos ideais e sonhos irrealizáveis.
Se permanecessem aqui, ficariam agarrados a esta realidade e perderiam o ensejo de crescimento mais rápido e menos doloroso. Se no novo orbe alimentarem a revolta ou a preguiça, entrarão em sintonia com os que não querem se renovar, criando as estruturas dos planos espirituais inferiores no orbe em formação para servirem de provas e expiações tanto para si mesmos como para os que se afinem aos seus interesses.
A dor da separação de seus entes queridos, a reflexão sobre o tempo perdido e a consciência de que buscaram uma felicidade utópica serão o impulso para suas transformações diante das energias estagnadas pela ausência de aproveitamento dos recursos recebidos da Providência Divina e pela sua falta de esforço pessoal. Serão impulsionados em suas acções por um dinamismo de operosidade, o que contribuirá para o seu desenvolvimento de todas as áreas de crescimento e a solução dos desafios a serem enfrentados de uma vez por todas.
Vários irmãos estão sendo chamados para essa mudança por intermédio de acidentes como esse, e esse chamamento se desdobra para seus pais e educadores, que não souberam lhes orientar para abraçar maiores responsabilidades.
O sofrimento será o verdadeiro mestre proporcionando a esses irmãos reflexões tardias, mas úteis, para que sua visão, antes limitada, abranja ângulos mais profundos da existência. Seus pés serão recolocados nos trilhos correctos para que se aproximem do encontro consigo mesmos, se assumindo como espíritos eternos, filhos de Deus, e possam cumprir a parte que lhes cabe no desenvolvimento universal da Vida.
Acolhamos esses amigos em nosso regaço depois de receberem os choques anímicos, preparando-os para o despertamento em nossa realidade, com novas possibilidades de trabalho no desenvolvimento do ser imortal.

Capítulo 22 - Avanços tecnológicos em mãos inconscientes
Em nosso campo de observação, analisávamos os meios de comunicação em seu rápido desenvolvimento na área da telefonia, da computação e das telecomunicações, proporcionando bem-estar e crescimento.
Se por um lado estes recursos concorrem para o aprimoramento da vida, apresentam também um lado preocupante. Eles vêm aprisionando as mentes invigilantes, que se entregam ao entretenimento para matarem o tempo que deveria ser empregado em ocupações produtivas relacionadas ao despertar espiritual.
Necessidades essenciais de sobrevivência obrigam as pessoas a trabalhar e ocupar positivamente seu tempo; não fosse isso, grande parte delas comprometeria demasiadamente suas encarnações por se prenderem nesses recursos como meio de fuga de suas realidades.
Sabemos que esses instrumentos têm utilidades benéficas e, no futuro, sua utilização será para fins superiores, como já ocorre em nossos planos de acção. Na verdade, o desenvolvimento dessas tecnologias e transformações nasce aqui no plano extra-físico pela inspiração dos responsáveis por esse sector. Esses responsáveis podem, inclusive, vir a reencarnar com o intuito de levar ao mundo físico as inovações neste campo da inteligência.
Temos assistido a luta enorme de muitos pais para que seus filhos assumam as responsabilidades escolares e as de casa, surgindo daí verdadeiros conflitos e às vezes até atritos mais violentos. Essas crianças não encontram prazer nos deveres simples que lhes cabem no aprendizado de enfrentamento da realidade. Não querem se comprometer com coisas sérias, que para elas não tem graça, não divertem. Buscam, então, esses aparatos como um meio de se sentirem felizes.
A importância de uma educação exemplar é necessária para o direccionamento desses espíritos. Os próprios adultos, porém, são também escravos desses mecanismos, não encontrando autoridade própria e suficiente para tomarem medidas inadiáveis nesse sentido.
A evolução tecnológica, nascida para o crescimento e o bem-estar, vem se transformando em um grande problema que precisa ser resolvido de forma salutar e equilibrada.
Nosso mentor amigo, ao analisar essas lutas, trouxe algumas reflexões sobre o tema:
-É importante salientar que esses instrumentos nas mãos de pessoas esclarecidas e conscientes tem uma finalidade completamente diferente nas mãos de pessoas inconscientes. Para que esses recursos tenham o aproveitamento adequado e sejam utilizados com proveito, exige-se certo grau de maturidade. É lógico que a maioria das descobertas, nesse sentido, está sendo elaborada para os espíritos com maior possibilidade de utilização que amanhã estarão vivendo no planeta.
A maioria das pessoas que buscam de forma inadequada, essas tecnologias cada dia mais sofisticadas, procura uma substituição de aperfeiçoamento do mundo íntimo. Essas pessoas encontram nesses instrumentos a projecção dos próprios valores que precisam desenvolver, criando uma auto-imagem e a falsa ideia de que realizam aquilo que não conseguem no campo dos relacionamentos interpessoais do dia a dia.
A vida apresenta características sérias e convida o ser a objectivos elevados, mas ele está sempre preso aos condicionamentos do uso inadequado da tecnologia. Ao se relacionarem com pessoas a distância, acreditam agradar a todos e serem mais bem aceitos, criando falsas expressões de suas capacidades. Isso quando não utilizam esses recursos para atrapalhar ou prejudicar alguém, em vários aspectos, desde o emocional ao económico.
Existem muitos desenvolvimentos tecnológicos aguardando para chegar ao homem, esperando que ele tenha condições e aptidões como o respeito em seus relacionamentos, o direito adquirido pelo equilíbrio, a disposição ao trabalho, o merecimento sincero, a afectividade bem conduzida e tantas outras virtudes que o avalizem a ter acesso a esses recursos.
Vários recursos têm sido desperdiçados ou desvirtuados de seus objectivos nobres, satisfazendo o desequilíbrio, o abuso e até mesmo o crime. A qualidade espiritual da humanidade deverá crescer para que a vida fique mais fácil de ser vivida, possibilitando que o auxílio e a aplicação das tecnologias ajudem na evolução. O aprimoramento das técnicas e instrumentos ocorre para o benefício colectivo, para a diminuição dos obstáculos e para o aprimoramento da inteligência.
No futuro, a humanidade dependerá cada vez menos de equipamentos exteriores, encontrando em si mesma os recursos mais perfeitos dos quais todos esses elementos superficiais são apenas uma cópia muito limitada. E, pelo amor e pela capacidade de beneficiar a todos, aprenderemos a viver essencialmente.

Capítulo 23 - Espíritos amadurecidos ligam-se a deus
Partimos em direcção aos trabalhos daquele dia com o intuito de contribuir com nossas energias na reconstrução dos perispíritos mutilados e destruídos por catástrofe ocorrida no Nepal. Este país tem suas estruturas históricas e tradições espirituais ligadas ao Hinduísmo e ao Budismo, que deixaram um legado de templos e estruturas sociais e religiosas de valor inestimável. A natureza, porém, é implacável, e não respeita as construções humanas, por mais expressivas que sejam, destruindo-as e mostrando a transitoriedade de suas criações.
Auxiliávamos, diante daquele povo simples, os planos espirituais que coordenavam e orientavam os trabalhos. Foi criado um pronto-socorro de emergência em pleno local, onde fazíamos diversas intervenções. Em nosso caso específico, actuávamos na função de médicos cirurgiões, com a diferença básica de que não usávamos os instrumentos cirúrgicos comuns da Terra, e sim nossas capacidades mentais de concentração e de energização.
O despreparo espiritual ainda é muito grande, não importa em que parte do Globo estejamos. Aquela região teve a base de sua crença religiosa em Krishna e em Buda, que deixaram o rico legado de suas experiências e conhecimentos. Como seus seguidores e continuadores não apresentavam o mesmo grau de evolução de seus mestres, não conseguiam manter a aplicação plena daquelas verdades.
Em se tratando de crença religiosa, muitas criaturas ainda necessitam se apegar a imagens, rituais e símbolos para se sentirem tocados em seus anseios de adoração, o que lhes transmite segurança e garante a expressão da fé.
A religiosidade e a espiritualidade pura ainda estão distantes de muitos e até mesmo nós, da realidade extrafísica, passamos por uma transição de conceitos e experiências. Temos que, aos poucos, desmaterializar nossas tendências e actos adorativos para compreendermos que o estado de religiosidade deverá nascer dentro de cada um, no templo vivo do espírito.
O que dificulta a acção da espiritualidade maior no auxílio ao homem, em todo o mundo, é a própria formação religiosa que ele traz e colocada em evidência quando chamados para nossa realidade. Os seres chegam aqui como verdadeiros analfabetos do espírito, apegando-se demasiadamente às manifestações exteriores trazidas de seus conceitos religiosos. Muitas dores e desilusões ocorrem quando são chamados a dar passos mais adiantados neste sentido, já que novos horizontes se abrem constantemente para este entendimento.
Exceptuando-se alguns grupos que representam almas mais amadurecidas e despertas, as religiões ainda permanecem caracterizadas por formas infantis de adoração, necessitando caminhar para o amadurecimento que o mundo de hoje exige.
Foi exactamente esse aspecto que mais me fez sofrer em minhas experiências após a morte67, pois precisava abrir mão de minhas concepções antigas e arraigadas para que eu crescesse e ampliasse meu olhar em direcção às grandes manifestações e objectivos de Deus.
Os trabalhos universais de cooperação socorrista estavam acontecendo nos planos espirituais da Terra que ocorria, crescentemente, pelo propósito de unificação, com base na fraternidade que não tem pátria nem religião.
O universo é a nossa morada e o amor deve ser a religião de todos os seres conscientes.
Retornando das nossas actividades de amparo e aprendizado, Clarêncio veio ao encontro de meus raciocínios, abrindo reflexões diferentes para o meu entendimento e o de nossos irmãos terrenos:
- A função de toda religião é promover uma identificação com quem somos e nos religar profundamente com Deus. Perceber nossa qualidade essencial cria uma relação com a Paternidade divina, com o nosso próximo, e nos prepara para usufruirmos dos recursos existenciais.
Um espírito amadurecido não segue padrões de crenças religiosas, mas estabelece um estado de religiosidade que o liga a Deus. Um espírito, no início de sua evolução, vê Deus nos elementos e fenómenos da natureza, enxerga seu próximo como alguém que o ameaça na mesma medida em que ele mesmo intimida o outro e percebe as coisas em torno de si somente como recursos que promovam sua subsistência. Sua religião é a do medo, e a característica de seu criador é conter uma força imponente e amedrontadora.
Vemos hoje características inadequadas de Deus nas variadas concepções humanas. Para algumas pessoas, Deus é um grande comerciante, que tem a obrigação de pagar, trocar e comercializar seus interesses. Para outros, é um Ser particularista, que ama apenas alguns seres e atende aos anseios desse grupo, em detrimento daqueles que não seguem os mesmos princípios e a qualquer momento podem destruí-los.

Mesmo nas religiões e filosofias espiritualistas mais desenvolvidas no planeta, como é o caso da Doutrina Espírita, do Budismo, do Hinduísmo, e em várias outras nessa mesma linha de entendimento, vamos encontrar concepções diferentes sobre Inteligência Suprema.
O próprio Espiritismo tem sua evolução, e não é a representação da última palavra em termos de espiritualidade, mas um convite para unificar a fé com a razão, valores que buscam necessidades mais abrangentes. Como nos disse Jesus, quem busca, acha, e quem pede, recebe.68 O Pai dá ao filho os recursos de crescimento por meio do direito adquirido com base nos deveres bem cumpridos. A Verdade apresenta nuances cada vez mais claras para iluminar as trevas de nossa inconsciência.
Ao buscarmos, conscientemente, nossa realidade íntima, veremos Deus e comungaremos com Seu amor de maneira mais autêntica. Nossas concepções religiosas deixarão de ser exteriores para serem íntimas.
O planeta regenerado nos conduzirá a uma atitude plena de adoração, na qual nascerá as manifestações expressivas de nossa fé que, em forma de perfumes, inebriarão todos os ambientes onde estivermos, pois seremos o templo vivo de Deus na Terra.

Capítulo 24 - Arte desperta e desenvolve os sentimentos divinos
Numa bela tarde, fomos recebidos pela nossa abnegada Sheila, mentora de um centro espírita de grande cidade. Ela nos acolheu com muito carinho e pediu ao irmão Inácio, que a auxiliava na organização, para nos acompanhar e nos conduzir às tarefas que quiséssemos presenciar, com a finalidade de auxiliar e tirar lições interessantes para o nosso aprendizado e dos amigos da esfera física.
Inácio levou-nos até a sala de ensaios da equipe do coral e ficamos a sós para que aproveitássemos aqueles instantes e ficássemos livres em nossas acções.
Passamos a observar a movimentação dos dois planos, unidos pela combinação dos trabalhos a desenvolver. Os cantores dedicados deixavam seus sentimentos se manifestarem nas vozes com o propósito de alegrar, suavizar e proporcionar harmonia no ambiente físico e espiritual daquela instituição, que parecia ao mesmo tempo uma grande universidade do espírito conjugada a uma estrutura hospitalar. Eram oferecidos ali tratamentos diversos como passes, águas fluidificadas e assistências espirituais para encarnados e desencarnados.
A equipe ensaiava uma música atrás da outra e víamos o quanto o conjunto emitia luzes de tonalidades múltiplas conforme a vibração de cada integrante ao cantar e, sob a batuta da maestrina, produzia verdadeiro espectáculo de sublime luminosidade.
O equilíbrio do conjunto de vozes produzia energias de paz e cura, actuava sobre os dois planos da vida e beneficiava a retirada de energias para uso junto a enfermos e perturbados, amenizando seus sofrimentos.
Muitas das músicas homenageavam e lembravam os exemplos de Jesus, o valor da caridade e a presença de companheiros espirituais que passaram sobre o planeta, principalmente no Brasil, dando sua contribuição ao movimento e aos trabalhos espíritas.
Como era bom ver o esforço daquelas almas, verdadeiros pássaros divinos que, acompanhados por uma equipe especializada da espiritualidade, criavam, através da arte, oportunidades de serviço em favor da vida!
Clarêncio, vendo toda aquela movimentação, disse:
-André, o futuro abrirá suas portas para a expressão artística que desperta e desenvolve os sentimentos mais suaves da natureza divina das criaturas. Em toda parte, a arte é a manifestação divina que busca expressar-se no que mais se aproxima da sua natureza real.
As produções artísticas são puras expressões espirituais qualificadas pelo tipo e grau de evolução em que o artista se encontra. A arte terrena caminha para sua espiritualização, lembrando que, no passado, ela foi estruturada pelos exilados que, de tempos em tempos, mergulharam na realidade vibratória da matéria para mostrar algo de nobre aos homens, resgatando sua origem real – o mundo espiritual e sua condição de espírito eterno.
Da arte mais bruta, filha da expressão dos originados no planeta, vemos sua expansão e subtilização acompanhando o crescimento do próprio ser que se encontra hoje em plena transição, período em que muitos trabalhadores comprometidos com essa área renascem para fornecer novas directrizes.
O mundo de regeneração é um planeta artístico. Por estarmos na fase do desenvolvimento pelas linhas do sentimento, esse centro de forças é como se fosse uma palheta, um instrumento de cordas ou de sopro, um pincel ou as mãos do artista que manipula o barro, dando-lhe formas divinas. A Terra será um lugar celeste, no qual todos os seus recantos expressarão a sensibilidade e o movimento em forma de sons, criando um ambiente sempre em festa, onde corações congregados na fraternidade se encontram para glorificar o Criador. Jovens com potenciais maravilhosos, nesse aspecto, abrirão ao mundo uma nova forma de qualificação das vibrações que envolverá as existências.
A arte chegará em seu ápice e representará a presença de Deus, a harmonia do Universo, o amor e a caridade. Estes serão os temas a inspirar suas expressões como uma fonte de vida, inebriando os corações de todos os seres.
Nas áreas da Ciência, na Política, em todas as profissões, no trânsito, na produção de alimentos, na cultura, na religião e em tantas outras, esse aspecto de manifestação estará estritamente interligado em seus movimentos. No passado, as expressões artísticas mostravam o nível dos exilados que aportaram nesse orbe trazendo suas sementes de valor inestimável. No amanhã, estas sementes sairão do interior de cada um, estabelecendo a era do espírito, e a arte será sua divina manifestação a criar louvores ao Senhor para que, quando irmãos de outras plagas aportarem em nossas cidades, percebam de longe que chegaram a um mundo elevado.

Capítulo 25 - Reprogramando jornadas rumo à nova escola
Amparados pelas forças superiores que presidiam nossa tarefa de resgate, naquele dia, penetramos em verdadeira zona obscura das trevas, para presenciar uma sessão sinistra conduzida por um grupo de entidades vinculadas à grande facção criminosa no mundo material.
Espíritos extremamente perturbados amaldiçoavam a existência e os seguidores do Cordeiro, proferindo palavrões em vozes desconcertantes e agressivas, falando contra o avanço cada vez maior da limpeza astral que se fazia em seus campos de domínio.
Vestidos com túnicas negras, apresentavam fisionomias bizarras e animalizadas que deixariam qualquer filme de terror produzido pelos homens inferiorizado nas características aterrorizadoras com que se apresentavam. Num estado invisível a eles, mantínhamo-nos em oração o tempo todo, alimentando por aquelas almas nossos sentimentos de mais sincera compaixão.
Uma grande luz ia se formando aos poucos e, quando estava bem expressiva, surgiu dela um ser translúcido, portando túnica alvinitente e causando tanta surpresa que muitos correram espavoridos e amedrontados.
O líder, que se mantinha firme e disposto à luta na preservação de seu poder e domínio, gritou em voz rouca e forte como se fosse uma manifestação bestial:
-O que você está fazendo aqui, representante infame da luz? Por acaso não sabe que este lugar é de domínio dos dragões?
Com um olhar de profunda compaixão e amorosidade, e a voz de um anjo numa expressão celestial, o ser de luz pronunciou-se:
-Meu irmão, não vê que tudo o que existe e todos os recantos do Universo pertencem a nosso Pai, que nos ama a todos? Não percebe que mesmo nessas condições que transformaram essa paisagem em triste reflexo de suas mentes, paira a força sustentadora da vida? Nesta infeliz criação, vocês utilizam as mesmas energias de que os astros se servem para circular em seus centros de vitalidade, ou a que uma haste frágil e delicada emprega para sustentar uma flor.
-Cale-se, verme infame! Acaso não percebe que tenho poder suficiente para destruí-lo em meus domínios? O que você está fazendo aqui? Veio para tentar nos humilhar com suas claridades e mostrar nossas misérias e dores? Volte para o seu céu, pois não queremos saber dele, já que um dia nos foi negada a possibilidade de entrar lá quando então carregávamos as insígnias de sua religião e nada ganhamos com isso, senão maldição e sofrimento!
-Desvirtuamos os princípios elevados que norteavam a caminhada para a libertação real de nossa inferioridade e que tem nos aprisionado séculos afora? O mal é criação transitória de nosso ego distorcido pelo desejo de conquistar míseras posições e poderes frágeis sem fundamentos reais?
O amor de Deus esperará o tempo que for preciso para usarmos essas mesmas energias de forma adequada, consciente e com interesse real de renovação, hoje transmutadas por obscuras buscas. O dia de sua escolha definitiva chegou. Decida por seguir para a reeducação de sua alma em direcção ao alto que nos ampara a todos ou mergulhar mais uma vez nas trevas da fuga consciencial, desprezando a Verdade que está gravada no livro sagrado de sua intimidade.
Aquelas palavras foram pronunciadas em tom tão amoroso que todos ficaram sensibilizados, desejando seguir o convite daquele ser angélico sem titubear. Porém, aquele coração endurecido parecia não escutar. Numa primeira impressão, nossos ouvidos deviam escutar numa frequência e os dele em outra, como se fossem dois canais diferentes, sendo que no dele, o ser se mantinha insensível pela rebeldia e ferocidade.
-Não me venha com propostas de crescimento e lutas para o meu futuro, que eu não suportaria abraçar e muito menos aceitar. Saia definitivamente deste lugar, você não é bem-vindo – disse, levantando os punhos com a intenção de atacar a qualquer momento.
Com o mesmo olhar e sorriso suave e belo, o amigo celestial encaminhou-se em sua direcção e, posicionando-se próximo a ele, falou:
-Meu irmão, por acaso você se esqueceu de nossa mãe, que é uma das razões de nossa existência e felicidade pelos milénios em que vivemos felizes? Esqueceu a voz meiga e amorosa que, em muitas existências, nos acalentou os sonhos e também o carinho de seus abraços? E as suas orientações amorosas e constantes a nos sustentar em nossas caminhadas para encontrarmos o Cristo?