Futuro Espiritual da Terra - André Luiz/Samuel Gomes

Capítulo 12 - Os trabalhos espirituais serão tão importantes quanto os profissionais
Rumamos em direcção à futura casa de Lísias. Ao chegar, pudemos perceber que as coisas corriam tranquilamente, a gestação estava se desenvolvendo dentro do esperado em função da sintonia existente entre mãe e filho, vinculados pela longa trajectória de convivência entre ambos.
Normalmente, nos primeiros dias da maioria das gestações, surgem ocorrências de mal-estar devido à adaptação dos fluidos mentais e perispirituais do reencarnante com a mente da mãe. Essas ocorrências permanecem até que se ajustem os psiquismos de ambos, apresentando uma troca de sustentação e equilíbrio. Se os reencarnantes não tivessem suas consciências tamponadas, criariam sérios problemas para suas futuras mães, que se sentiriam verdadeiramente esquizofrénicas, pois teriam uma sensação de múltiplas personalidades.
Para evitar este distúrbio, a providência divina proporciona o adormecimento e o encolhimento do perispírito dos que estão voltando para melhor adaptá-los à condição de hibernação temporária. Seu despertar completo25 só se dará ao longo do desenvolvimento físico e psíquico que se consolidará na pré-juventude26, por meio das crises de identidade decorrentes das lutas íntimas entre as aquisições do seu passado e as conquistas atuais, devidamente direccionadas pela educação recebida com a finalidade de modelar as características de sua nova personalidade.
O estudo aprofundado desse processo de transição personalística deixaria extasiados os psicólogos modernos, que, sem o entendimento da imortalidade da alma e as múltiplas existências, ainda se encontram muito distantes de compreender a mente e seus complexos mecanismos de exteriorização. Esses mecanismos produzem diversos aspectos doentios, conforme as forças que predominam no funcionamento psíquico de uma pessoa.
Estávamos, porém, diante de uma reencarnação que apresenta uma boa sintonia, baseada no amor. A tendência para o futuro é que essa seja a característica do maior número dos renascimentos da Terra, já que os de cunho expiatório estão com os anos contados.
Era impressionante ver amigos tão queridos revestidos por novas roupagens corporais, nomes e afazeres. Notava a maturidade de nossa irmã Márcia que conhecíamos muito bem sendo a antiga Laura, com todo aquele cabedal de recursos adquiridos em sua passagem por Nosso Lar e pelo auxílio doado em favor do próximo.
Foi quando Clarêncio me tirou dessas reflexões, ponderando:
-Nossa amiga Márcia, hoje, é a responsável directa, junto de seu marido Marcos, pela direcção de uma das instituições espíritas dessa grande cidade, e vem desempenhando suas atribuições muito satisfatoriamente.
Encontramos cada vez mais aqueles que saem das instituições espirituais com possibilidades de acertos muito grande, materializando as lições vividas e aprendidas em nosso plano e mostrando que nossa actuação não é infrutífera. Muitos deles se tornam líderes ou exemplos vivos de dedicação e empenho e acabam por influenciar outros que se encontram no meio do caminho e ainda precisam de alguém que lhes mostre o que fazer e como, auxiliando-os a se manterem nas linhas do trabalho e dos compromissos assumidos antes de seu retorno ao mundo material.
Hoje acompanharemos mais directamente os trabalhos organizados por Márcia e Marcos na casa onde buscam consolar, esclarecer, auxiliar e aperfeiçoar aqueles que lhes cruzam o caminho, buscando as portas dessa instituição de caridade na esperança de encontrarem paz e segurança. Agindo assim, aperfeiçoam a si mesmos.
Márcia estava se sentindo muito bem com relação à gestação e vamos encontrá-la nesta manhã, depois que sua filha já estava na escola, dedicando-se aos compromissos do seu dia. Entre esses compromissos, estava a preparação de uma aula de evangelização infantil a ser realizada no mesmo horário da reunião dos adultos. O tema que deveria ser trabalhado era “Respeito à natureza” e ela já estava lendo alguns livros que lhe inspirariam na organização da aula.
Suas reflexões giravam em torno do agradecimento que devemos ter perante tudo que recebemos do Pai, desde o nascimento, a alimentação, a vestimenta, o zelo de todos pelo bem-estar social, bem como pela própria natureza, que é uma mãe abençoada.
No final, chegou a algumas conclusões sobre a Providência Divina: “Levarei para as crianças algumas reflexões sobre o quanto temos recebido e o quanto temos que agradecer a Deus que nos fornece tudo isso.”.
Enumerou algumas abordagens sobre o respeito pelas coisas, tais como a escova de dentes para os cuidados pessoais; o guardar e arrumar seus pertences, brinquedos e matérias escolares; o uso sem desperdício da água e dos alimentos; o quanto é importante respeitarmos a vida e outros tantos exemplos. Dessa forma elaborou a aula, ficando apta a executar a tarefa com presteza.

O horário dedicado a essa preparação passou sem que ela sentisse, mostrando-nos que quando fazemos alguma coisa com dedicação e carinho, não percebermos o tempo passar.
Observando suas actividades, Clarêncio falou:
-Dia virá em que todas as tarefas espirituais serão feitas com o mesmo nível de responsabilidade e compromisso que as de ordem material. Nas tarefas doutrinárias, muitos ainda se encontram na condição de actuar com base na boa vontade, cumprindo-as com a mesma sensação que apresentavam nos campos religiosos do passado, como se fossem obrigações convencionais. Por representar uma tarefa não remunerada, fica a impressão errada de que se pode executá-la de qualquer modo, sem um compromisso real, diferentemente do exemplo que estamos vendo na experiência de Márcia.
Muitas pessoas nem percebem que serviços dessa natureza representam aspectos muito sérios ligados ao seu futuro e ao daqueles que influenciam, de forma directa ou indirecta. O homem ainda persiste em manter-se como uma eterna criança, esperando que a vida faça tudo por ele. Mas virá o momento em que assumiremos nossa parte no concerto da criação. Somos peças de uma gigantesca engrenagem, e temos fundamental importância no seu funcionamento de forma harmónica e útil.
É necessário acordar para nossas responsabilidades como seres co-criadores, por sermos filhos legítimos de Deus. Ao assumir essa postura, despertaremos para o desenvolvimento da inteligência, apropriando-nos de nossa herança divina para mudar as condições da existência exterior e desenvolvendo os recursos a serem aproveitados em benefício de todos.
Todos os que abraçam uma tarefa espiritual estão, no fundo, voltando a comer do fruto da “árvore da vida” que estava no meio do jardim do Éden27, da qual Adão (razão) e Eva (sentimento) comeram, e assim tiveram seus olhos abertos para o desenvolvimento de suas possibilidades íntimas.
Agora, com a consciência mais esclarecida e operando as forças criadoras, voltamos a ter a permissão de nos alimentar daquele fruto novamente. Mas, como está escrito, uma espada flamejante estaria protegendo esse lugar sagrado e só quando o homem estivesse pronto poderia comer de novo o fruto daquela árvore,28 que representa as forças superiores a serem utilizadas para finalidades nobres e elevadas.
O terreno protegido pela espada flamejante está localizado na própria intimidade do ser, na sua qualidade de espírito que usará a inteligência, reflectindo naturalmente o movimento do Universo que nasce da mente de Deus.
Quando abraçamos esses trabalhos superiores que transcendem a realidade material e os interesses imediatos, entramos no sector em que todos os seres conscientes e esclarecidos atuam como co-criadores em planos maiores e usam as forças emanadas pelo Criador para construir os impérios estelares e as possibilidades de desenvolvimento dos espíritos, em todos os graus evolutivos em que se encontram.
Trabalhar dessa maneira, seja nos centros espíritas ou nas diversas instituições religiosas que se encontram espalhadas no orbe, é conquistar material de qualidade superior. E a responsabilidade exigida aos que se candidatam a abraçar essas tarefas é ter uma atitude de profundo respeito, santificando-as e fazendo delas seu ministério divino.
Palestras, estudos, tarefas assistenciais, trabalhos mediúnicos, de cura, de organização de um templo religioso e todas as ocupações deste teor são mananciais de vida que devemos assumir com a responsabilidade que elas merecem. Devemos lembrar ainda do personalismo e da vaidade, posturas inadequadas aos tarefeiros. Exaltemos, pois, a importância dessas actividades e não de quem as executam.
No momento em que a luz do trabalho começa a aparecer como efeito positivo pelo que proporciona às pessoas, surge também uma claridade em nós. Nesta hora, precisamos apagar nossa própria luz, pois só assim Deus atravessará nossa intimidade. Devemos ter lucidez quando buscamos trabalhos dessa natureza no preenchimento de nossas ocupações. Dia virá que os valores despertados, ao executar esses trabalhos, se transformarão em qualidades naturais e aparecerão naturalmente em nossos comportamentos do dia a dia, seja na profissão, no lar ou na sociedade, implantando em nossa alma um estado de adoração permanente que se manifestará por uma fé viva no templo da existência.
Clarêncio calou-se, envolvido por essas reflexões, e não ousei interrompê-las. Procurei sentir no meu coração a mesma paz que encontrei em seu semblante.

Capítulo 13 - A reencarnação sairá do padrão de prova e expiação
À tarde, Márcia distraía-se com sua filhinha de 5 anos, acompanhando-a nos exercícios escolares básicos.
Ao observá-las, eu reflectia comigo mesmo sobre as condições da vida física que agem com imperiosa força bloqueadora da realidade incorpórea, proporcionando uma intensa identificação com a nova personalidade, imprescindível para o sucesso da existência, envolvendo os seres de uma forma tão patente que gera uma sensação extremamente real de que somente a condição material existe.
O homem comum está bastante subjugado por essas sensações e se entrega à experiência física, vivendo com tal intensidade os seus anseios de prazer que não se abre para reflexões de ordem superior. Mesmo assim, devemos agradecer pelas sementes plantadas no trabalho religioso.
Clarêncio, como se estivesse “lendo” minhas reflexões, esclareceu:
-André, sabemos que a reencarnação, na maioria das vezes, promove um tamponamento quase total do potencial divino que o homem traz. Um estudioso das ciências psicológicas não poderia, com um simples olhar, perceber facilmente a natureza da mente para determinar a totalidade da sua estrutura.
Pouco antes de mergulhar no cenário material, o ser já se encontra submetido ao esquecimento de seu passado milenar, mantendo uma inconsciência dos registos e aquisições localizados na estrutura nomeada de maneira subconsciente, mas que ainda trazem consigo um campo de recursos e aprendizados que marcaram sua personalidade imortal, acrescido pelas experiências recém-aprendidas nas instituições do plano extra-físico.
Quando renascem, sentem o choque desse mergulho, em que é apagado um amplo aspecto de sua memória. Surge assim uma nova área de subconsciência além daquela que já carrega consigo em sua infinita trajectória evolutiva. Esta subconsciência é mais superficial do que a preexistente porque obedece às leis que regem a matéria bruta, necessária para se aprender uma nova linguagem, adaptar-se a outros costumes, a uma cultura diferente e assim formar uma nova personalidade encarnada, cuja expressão é seu consciente activo e desperto. Esse estado de consciência é um raio de luz que emerge do subconsciente rico de recursos, que se expressam como impulsos automáticos ligados à linha evolutiva do passado.
Somente os que se encontram em planos mais elevados conseguem, por sua força interior, vencer essas resistências de ordem material, deixando traços de sua natureza mais profunda atravessar esse túnel de impedimentos, de tal forma que seus conscientes apresentem características incomuns, de personalidades mais espiritualizadas.
Na actualidade, quando vemos pessoas com expressões de genialidade, podemos afirmar que muitas delas conseguiram imprimir seus potenciais adquiridos na repetição das experiências, ressaltando que são sempre ajudados pelas equipes espirituais a fim de que esses valores não sejam tamponados e a claridade de suas luzes atravesse com mais facilidade os véus espessos do esquecimento. Por isso se destacam como seres excepcionais em comparação com a experiência comum.
Observamos nossa amiga Márcia com predisposições naturais para agir nas escolhas que faz, mostrando uma espontaneidade nas diversas áreas de trabalhos a que hoje se entrega e que são o reflexo do que ela fazia em Nosso Lar, antes de nascer.
Além disso, possui maior resistência moral para não atender aos convites imediatistas dos anseios terrestres, comuns à sua geração, e sua mente aceita com muita facilidade os conceitos elevados da Doutrina Espírita como se já os conhecesse, operando naturalmente nas tarefas beneficentes. Com essa postura, dá continuidade àquilo que fazia em nosso plano além da matéria.
Tudo isso serve para mostrar que, como candidatos às futuras reencarnações, podemos também dar continuidade aos encargos iniciados aqui sem, com isso, apresentar um padrão de genialidade profunda, manifestando assim uma predisposição de alimentar os padrões que nos sustentam hoje, fixando-os em nós, progressivamente, para despertá-los da própria intimidade, que é a sua fonte verdadeira.
Esses recursos são luzes da personalidade de nossa Laura actuando na condição de Márcia, fundamentando características de uma na outra para formar um novo ser até que, com o tempo, e actuando sob outras condições, ultrapasse os nomes e as formas e viva cada vez mais a qualidade profunda do ser essencial que é, sem se prender tanto às expressões do tempo e às circunstâncias materiais. Não consegue actuar com a consciência completa de Laura, mas se molda à Márcia que passa a ser, daqui para a frente, uma dinâmica ampliadora para uma individualidade desapegada de marcas pessoais.

A própria estrutura reencarnacionista trabalha com leis que atendem a essa forma modeladora porque a matéria é predominantemente mais forte que as forças nascidas do espírito no seu potencial de criação, por causa das condições evolutivas da terra até agora. Por isso mesmo a herança genética dos pais tem uma acção acentuada na formação dos corpos dos filhos. Encontramos patologias congénitas ainda tão naturais entre eles que, neste contexto, percebemos o reencarnante transmitindo algo para o futuro corpo, principalmente os núcleos perturbados de seu passado, com o potencial magnético muito similar ao campo vibratório da matéria, que se manifesta ao longo de sua jornada física. É assim que essas distonias de ordem inferior estão muito próximas da realidade material, em sua estrutura atómica e na forma de funcionar, expressando-se naturalmente nessa realidade.
Já as vibrações que nascem de uma ordem superior, como os casos de amigos que granjearam direitos e méritos no mundo causal, necessitam de novas leis de renascimento para mudar as realidades atómicas e materiais do actual padrão que a Terra oferece. É por isso que, ao reencarnar, precisam de nossa intervenção directa para usufruir desses recursos em seu próprio favor.
Onde quero chegar com isso tudo? Quero esclarecer que, neste trabalho de transição planetária, uma das coisas que mudará e que já está sendo implantada no orbe é a característica reencarnacionista. Os renascimentos na Terra sairão do padrão de mundos de prova e expiação para se afinarem a padrões de mundos elevados que favoreçam a predominância do espírito sobre a matéria, processo este que pede novas leis de acção material dentro da dinâmica de funcionalidade. Este projecto está nas mãos dos responsáveis por essas mudanças que devem se fixar no orbe por volta do primeiro centenário do milénio que nasce.
Os mecanismos da nova era estão subordinados a uma alteração profunda. Até que sejam estabelecidas essas características, outras perspectivas relacionadas à vida humana se transformarão também para consolidar a evolução dos aspectos espirituais que o planeta apresentará em seu futuro.
Tudo mudará vertiginosamente. As necessidades, as estruturas perispirituais e neuro psíquicas, o trabalho, o tempo, as características sociais e os próprios recursos da natureza material se tornarão bem mais subtis. O que chamamos de regeneração é exactamente essa mutação de realidades dos mundos que saem de protótipos materiais para os de condições espirituais. É por isso que os homens modernos, nas suas pesquisas junto a outros mundos, não conseguem ver além do que suas condições materiais permitem, sem poder perceber os aspectos transcendentes que marcam as naturezas reais dos outros orbes. Enquanto permanecer com esse comportamento imediatista na maneira de pensar e agir, o homem terreno estará longe de antever a grandeza do Cosmos com os olhos do espírito.
Clarêncio parou por alguns minutos para coordenar as ideias e continuou:
-André, um dia os traços do velho mundo não serão mais encontrados, e os homens do amanhã quase não compreenderão porque apresentam características tão diferentes das que eles tinham no passado.
Dessa forma, vamos entender que há leis diferentes regendo o mundo material, o semi-material e o divino, bem diferentes entre si. Faz-se necessário acrescentar que o próprio ser é o agente mais importante de tudo isso, pois é nele que essas verdadeiras mudanças devem ocorrer para somente depois os mundos se adaptarem às suas condições e se ajustarem à realidade maior, entrando em comunhão com as forças universais que o levarão sempre à felicidade imperturbável.
Allan Kardec perguntou aos espíritos sobre as condições da subtilização do perispírito29 e eles responderam que esta é a condição dos espíritos puros. Acrescentaram que esta realidade seria antes a da felicidade eterna30 dos que não mais se perturbam com as mesquinhas preocupações humanas.
Calou-se o mentor, numa atitude de veneração à Sabedoria, e assim continuamos junto daquele lar que também nos pertencia, pelos laços de afinidade que tínhamos com aqueles corações amados.

Capítulo 14 - A instrução espiritual prevalecerá sobre as outras
Ao fazermos o acompanhamento das actividades da noite na instituição espírita onde a família de nossos amigos actuava, Clarêncio e eu nos encontramos com alguns companheiros da Colónia Nosso Lar que tinham trabalhos na casa. Entre eles estava Joel, que nos recebeu logo na entrada com um semblante tranquilo e olhar penetrante:
-É um prazer enorme tê-los junto a nós! Em que podemos ser úteis?
Após abraçar Joel afectivamente, Clarêncio respondeu:
-Viemos ajudar na reencarnação de nosso amigo Lísias e estamos aproveitando a oportunidade para reflectir sobre o tema da transição planetária. Queremos que nossos irmãos reflictam e aproveitem nossas observações para criarem condições íntimas de se comportar adequadamente diante dos desafios que os atuais momentos de mudança impõem. É necessário que se coloquem como instrumentos passivos na recepção de nossas intuições e activos na sua aplicação, criando uma sintonia com nossas tarefas de auxílio, aproximando os acontecimentos dos objectivos traçados pelo alto.
-Que bom! Todos nós temos responsabilidades nesse campo e, quanto mais centrados nos objectivos do bem e em nossa reforma íntima, mais fáceis serão esses momentos.
-É por isso que precisamos esclarecer nossos amigos encarnados a fim de que venham somar seus esforços com os nossos.
-Fiquem à vontade e, se precisarem de mim ou de nossa equipe de trabalhadores, é só falar.
Entramos naquele grande prédio com intensa movimentação nos dois planos existenciais. Enquanto Márcia se dirigia com a filha para o sector de evangelização infantil, acompanhamos Sandro, responsável pela direcção da casa, que naquele momento tomava decisões administrativas para depois se dirigir ao salão principal e realizar a palestra da noite.
Naquele momento, ele administrava as obrigações materiais e organizacionais da instituição, que tem seus desafios de subsistência e manutenção. Para continuarem operando com o necessário, buscavam recursos financeiros por meio de doações de seus membros, sócios e, de vez em quando, de colaboradores anónimos. Faziam eventos entre seus membros, criando assim uma oportunidade de confraternização entre eles e de arrecadação de recursos complementares.
Sem nos prender a esses assuntos, nos dirigimos ao salão principal que já começava a se encher de pessoas que vinham assistir à palestra da noite, bem como de uma quantidade enorme de desencarnados que, em número expressivo, acompanhavam os nossos amigos encarnados. Alguns deles eram trazidos por trabalhadores do nosso plano pela necessidade de assistência; outros eram meros curiosos que entravam pelas portas da instituição em função do grande movimento que ocorria.
Os grupos de trabalhadores do nosso plano organizavam-se para os tratamentos, seja auxiliando as equipes de passe dos encarnados ou realizando o resgate desses irmãos para levá-los às organizações mais especializadas de nossa esfera, que tinham por objectivo o esclarecimento e a recuperação da saúde.
Observando toda essa movimentação, Clarêncio falou:
-Os centros espíritas de hoje estão muito activos e vêm realizando tarefas em favor do auxílio humano e espiritual. Transformaram-se em verdadeiros instrumentos do bem. Mesmo que a maioria dos que lhes batem à porta traga consigo necessidades materiais e de recuperação da saúde desperdiçadas, são para esses corações que as equipes que dirigem e orientam os afazeres do lado de cá fazem todos os trabalhos.
É claro que existem serviços e equipes de diversos graus de desenvolvimento sintonizados com as necessidades específicas de quem procura socorro. O nível de atendimento e acção está relacionado com o tipo de busca. No âmbito geral, cada instituição tem um responsável de hierarquia moral expressiva a introduzir o objectivo maior da transformação moral do ser que está acima das que buscam solucionar acontecimentos exteriores.
As actividades de evangelização infantil, os estudos que objectivam o desenvolvimento espiritual e as reuniões públicas são trabalhos em evidência sobre os outros.
Devemos direccionar nossos esforços e energias para a transformação moral da criatura e lançar as sementes de renovação no terreno da alma.
Ainda hoje as ocorrências não são diferentes do que acontecia na época em que Jesus esteve aqui connosco. A maioria das pessoas que O buscavam queria ser beneficiada pelos fenómenos que Ele produzia, principalmente os da cura.

Ele atendia a essas necessidades dentro da possibilidade de cada um, mas Sua passagem pelo orbe se deu, primeiramente, para resgatar os corações já despertos dos espíritos exilados que vinham contribuir com Seu coração amoroso na formação e no desenvolvimento do orbe, trazendo suas experiências do passado para implantá-las na mente do homem terreno. O segundo objectivo foi deixar um roteiro de vida para aqueles que começavam a despertar espiritualmente em suas experiências e quisessem encontrar uma estrada segura de soerguimento e um estímulo para fazer algo em benefício de si e dos outros, tomando-O como guia e modelo a ser seguido.
Naquela época, os anseios da maioria eram os prodígios espectaculares que Ele fazia e que eram chamados de sinais dos céus. Hoje, todo esse movimento não é diferente, e as buscas são as mesmas.
Muitos querem reencontrar seus parentes desencarnados por mera curiosidade, pela dor diante da separação ou por carências emocionais, sem compreenderem que essa actividade é desenvolvida para demonstrar a imortalidade da alma e a dos afectos, bem como a responsabilidade de nossas escolhas relacionadas ao que desejamos como felicidade.
Outros procuram nos passes e tratamentos a cura de seus corpos, para novamente os desequilibrarem pela incapacidade de utilizarem-se dele com sabedoria. O reequilíbrio das funções corporais os leva a ter bom senso no que fazem e sentem, criando a predisposição para uma saúde plena.
Eles não vêem que a desobsessão é realizada para despertar a consciência do que fazem e usam todos os seus recursos na busca de harmonia e utilidade para todos. É um alerta para não alimentarem em si as emoções perturbadoras, o rancor ou o ódio por alguém.
Não percebem que o desenvolvimento mediúnico não tem a finalidade de demonstrar fenómenos, como muitos interpretam os das mesas girantes, mas sim criar um intercâmbio sério entre os dois planos existenciais, visando ao aprimoramento das actividades terrenas, deixando sempre a maior responsabilidade nas mãos humanas e servindo, cada vez mais, como uma janela de comunicação para os objectivos da espiritualidade superior não separada dos movimentos da vida planetária.
A mediunidade não será buscada para se perguntar sobre o futuro ou problemas pessoais, para saber se a pessoa vai se casar ou não, se ganhará dinheiro ou se irá recuperar um bem, se a pessoa que se ama vai voltar e outras tantas petições que raiam para o campo da irresponsabilidade e da imaturidade.
Chegará o dia em que essas duas esferas trabalharão tão sintonizadas que a curiosidade e a especulação não terão lugar. No amanhã, muitos espíritos elevados poderão se apresentar aos homens no dia a dia, trazendo-lhes instruções e ideias quanto aos problemas de ordem colectiva, a fim de auxiliar seus trabalhos.
Os cultos no lar terão a presença de seus familiares desencarnados, estando eles em condições de recuperação ou já equilibrados e operantes no bem da família.
Muitas transformações nos aguardam para o futuro, quando estivermos numa sociedade regenerada e os homens adequarem suas acções, materiais ou espirituais, às suas verdadeiras finalidades.
Os centros espíritas sérios e organizados são o campo experimental onde essa realidade se materializa. E o mais importante, para que tudo isso ocorra, é o interesse que cada encarnado deve ter em realizar sua renovação íntima. A transformação moral de cada um é muito importante e necessária para essa concretização.
A existência tem nuances muito profundas e requer que a consciência desta realidade se desenvolva a fim de mudar a forma como se vive na Terra. A oportunidade da reencarnação é uma bênção de extraordinária beleza e não há nada mais divino do que a própria vida e a oportunidade de representá-Lo onde e como estivermos.
Calou-se Clarêncio, uma vez que as tarefas de esclarecimento e orientação iriam começar, atendendo à programação da noite.

Capítulo 15 - Análise das condições do orbe e dos aspectos mentais
Estávamos há algum tempo entre nossa colónia e o plano físico acompanhando os trabalhos dos amigos valorosos e o desenrolar dos acontecimentos da reencarnação de Lísias, que passaremos a chamar de Luciano. Após as primeiras actividades, havia chegado o tempo em que precisaríamos encerrar essa primeira parte de nossos trabalhos. Observando os últimos detalhes, Clarêncio falou:
-André, as circunstâncias da existência de Luciano devem caminhar para sua concretização e desenvolvimento. Nosso propósito até aqui foi o de demonstrar aos encarnados que se empenham nas lutas sublimadas o esforço de nosso plano de acção para a regeneração planetária dentro dos propósitos estabelecidos pelo coração amoroso de Jesus. Dentro dessa escola de almas chamada Terra, Ele planeou, numa perspectiva colectiva, as experiências necessárias ao crescimento dos espíritos, tomando por base a história universal de outros planetas, estabelecendo o tempo necessário para que as almas desenvolvam o grau de espiritualidade que as coloquem acima das modestas forças da materialidade perecível.
Observando os fatos que envolvem o renascimento de Luciano, devemos agora deixar o seu encaminhamento a cargo do tempo e dos amigos que lhes acompanham a trajectória de lutas mais de perto, a fim de que tudo se faça de forma natural e dentro da programação estabelecida a seu favor pelos companheiros da nossa colónia.
Devemos voltar nossas responsabilidades mais directas para ela e, depois de algum tempo, aproximadamente quarenta anos, voltaremos mais directamente ao tema da regeneração da Terra, para extrairmos experiências e estudos sobre os acontecimentos que envolverão a humanidade, principalmente o Brasil, no início do século 21, quando então aproveitaremos para rever esses irmãos na viagem de lutas e vitórias.
Provavelmente encontraremos outras condições e acontecimentos em que poderemos verificar o quanto a proposta renovadora já estará estabelecida no cenário de lutas para todos nós, habitantes desse abençoado corpo celeste, cuja estrutura oferece experiências de imersão constante em sua paisagem de redenção e evolução.
Você continuará acompanhando temporariamente os acontecimentos em torno dos trabalhadores amigos e daqueles ligados ao seu afecto mais directo, mas, quando completar o período estabelecido para o encerramento desta momentânea interrupção, retornaremos confiantes para consolidar a tarefa em favor do esclarecimento aos encarnados e, quem sabe, com nosso esforço, criar directrizes de estímulos para os mais acentuados tempos de transição pelo qual a Terra estará passando.
Analisaremos as condições do orbe e os aspectos mentais dos homens nos instantes mais decisivos para que se comportem com firmeza ante as lutas que os envolverão e fortalecerão as verdades abraçadas por eles em testemunho de paz e operosidade.
Nesta etapa de nossas reflexões, falamos das realidades dos trabalhos imprescindíveis para um mundo em regeneração, que busca com mais assertividade sua condição sublimada pelo desenvolvimento dos aspectos de espiritualidade superior.
Quem sabe, até lá, estaremos próximos de nossa própria volta ao campo de serviços terrenos que se transformarão em estímulo para darmos nossa contribuição mais directa nas transformações necessárias ao orbe que tem nos beneficiado há longo tempo. Daqui para a frente, precisamos retribuir tantas bênçãos com nosso trabalho em favor de sua melhoria, que será a nossa também.
Esperemos de Jesus as forças necessárias para registrar a segunda parte desses apontamentos e para o enfrentamento das lutas transformadoras. Com a vontade fortalecida em Suas vibrações de amor, confiemos na preparação adequada de nossas experiências deste outro lado, para que possamos voar rumo ao infinito da Vida, onde o eco da Verdade nos convida a ir em direcção à fonte de amor, ouvindo a melodia de Suas vibrações para nossos anseios de felicidade.
Por agora, deixemos nossos irmãos em suas experiências pessoais e amanhã voltaremos para lhes acompanhar mais um pouco nessa subida ao monte de elevação.
Plainamos um pouco sobre o ambiente que foi nosso campo de estudos e, com uma determinação mais forte, volitamos em direcção à nossa colónia. Daí a alguns anos, retornaremos com a finalidade de consolidar mais essa tarefa de educação tanto do meu ser quanto no dos companheiros de jornada que quiserem aproveitar nossas experiências e reflexões para suas existências, como um alimento de sustentação da alma.
Paz no coração!

SEGUNDA PARTE

Capítulo 1 - A limpeza astral traz espíritos perturbados para o plano físico
Chegamos à cidade de Belo Horizonte numa manhã clara e fria, fazendo com que as pessoas se agasalhassem mais, na busca do conforto físico. Aproximamo-nos da mente de nosso amigo medianeiro que seria, em futuro breve, o intermediário do conteúdo desta obra. Nesses dias, ele estava psicografando mensagens para os momentos de regeneração. O trabalho de psicografia, realizado há muitos anos nas reuniões frequentadas, serviu de preparo para iniciarmos este trabalho que agora apresentamos.
Seus pensamentos já reflectiam nossa conversa de inúmeras reuniões, realizadas quando ele estava no estado de emancipação espiritual pelo sono físico. Nesses encontros, buscamos minimizar os impedimentos psíquicos criados por ele e que poderiam surgir como obstáculos para o desenvolvimento da tarefa. Ouvíamos ele perguntar se seria capaz de escrever um conteúdo mais extenso e com características narrativas já que, até agora, toda sua escrita mediúnica tinha sido de pequenas mensagens reflexivas.
Por nossa vez, realizamos em seu cérebro perispiritual e físico algumas operações que, através de passes e concentrações fluídicas nos centros coronário e frontal, se desdobrariam em recursos para que as psicografias pudessem ocorrer a contento.
O livro teria duas partes: os capítulos da primeira seriam a transmissão das minhas lembranças a fim de preparar o médium para a continuidade dos trabalhos numa segunda fase, que narraria acontecimentos dos dias atuais, visando oferecer esclarecimentos e informações de nossos orientadores maiores. Como a primeira tem carácter de passado, precisamos adaptar as informações nesta segunda parte para continuarmos em cronologia mais actual.
Ainda integrados ao ambiente da bela cidade, Clarêncio disse:
-André, precisamos organizar nossas acções para levantar informações mais precisas para os momentos em que estamos vivendo, agravados pelas vibrações que envolvem o globo como resultado da estrutura falida do materialismo, do consumo exagerado, da busca de uma felicidade frágil e da exploração dos prazeres sensoriais que nos mostram a pobreza da busca desenfreada pela ilusão.
No ambiente actual, de extremo pessimismo, encontramos o medo que tem aumentado, na maioria das criaturas do plano físico, em sintonia com entidades inferiores que aproveitam dessa circunstância para alimentar esse estado. Isso ocorre em função da grande dificuldade que eles têm para mudar os rumos de suas existências e, principalmente, porque alguma coisa lhes fala, intimamente, que esta é a última oportunidade de pertencer ao grupo de espíritos que permanecerão no orbe. Eles sempre colocam a culpa de suas frustrações na luta moral que travam nos factores externos e, nestes momentos de crise pelos quais o país atravessa, colocam a culpa, principalmente, no comportamento de líderes e políticos como se eles fossem os únicos exemplos de virtude e de força que têm para vencer as lutas, embora reconheçamos o papel de referência social lhes cabe. Não percebem que muitos que assumem cargos e posições não são capazes sequer de mudar a decadência de seus anseios de poder e grandeza.
Em todas as áreas humanas, encontraremos missionários e pessoas conscientes ocupando cargos políticos e de liderança, prontos para darem o recado positivo como resposta ao desequilíbrio generalizado.
Não só esses departamentos da realidade existencial estão sendo convocados a mudar, mas todos os que a presença do homem comum opera, pois deverão renovar suas características de funcionamento.
O comprometimento, por parte dos que querem implantar a mudança, deve ocorrer onde são chamados e a partir de suas atitudes na profissão executada com empenho e carinho; na fé e na religiosidade pelo compromisso de viver-lhes a mensagem; no uso do dinheiro com equilíbrio e finalidade útil; na família que realiza uma educação integral de seus membros; nos negócios que buscam o benefício geral.
Chegou a hora de despertar em nós o estado de responsabilidade maior com a harmonia imprescindível para que as condições do mundo se estruturem. Não podemos mais esperar que apenas nossas palavras sejam as bases dessa renovação, mas sim realizar a transformação íntima. É a partir daí que todo o trabalho de transformação deve ser feito.
Os planos espirituais inferiores estão sendo limpos com grande eficácia e muitos espíritos perturbados sobem em direcção ao plano físico, aproximando-se cada vez mais dos encarnados que, por sintonia, os mantêm próximos de si.

Essa proximidade, acrescida pelas condições vibratórias desequilibradas, criam as sensações de peso que sentimos quando nos aproximamos da psicosfera da Terra, que influencia os homens invigilantes, aumentando suas perturbações que envolvem a humanidade nestes dias.
-Mas este estado de desarmonia continuará até quando? – perguntei, admirado.
-Até quando o Plano Maior achar que devem mudar ou, o que seria melhor, até quando todos mudarmos de condições íntimas, buscando compreender as forças destrutivas que acalentamos há milénios e não lhes dando mais vazão, construindo comportamentos equilibrados e harmónicos como marcas de nossa sobriedade.
O homem passa por um momento de sua evolução no qual terá de voltar-se para dentro de si mesmo de qualquer jeito. A satisfação pela conquista de valores externos não poderá aplacar a sede de se encontrar com sua realidade de espírito imortal.
Quanto mais ele se esconde por trás de suas ilusões, maior é o nível de frustração e angústia que o atormenta. Não poderemos mais comprar o céu como pretendíamos fazer no passado. Não há uma forma externa de ser religioso, este comportamento não facilitará nossa entrada nos planos maiores nem as oferendas e os donativos comprarão nossa passagem para os altos planos da vida plena.
Para ser verdadeira, toda conquista deve nascer em nossa intimidade. Jesus esteve na Terra para implantar o reino dos céus no coração do homem, mas isto não se faz de fora para dentro e sim no encontro profundo da alma consigo mesma, e isso só é possível por meio do auto-conhecimento.
Quando Ele disse que o reino de Deus não viria por aparências exteriores, queria dizer que não poderemos adoptar posturas superficiais de virtudes, parecendo ser quem na verdade não somos. As qualidades profundas não têm nada a ver com atitudes vazias de conteúdo e sim com os sentimentos nobres que são despertados em nós.
Quando acordarmos para essa realidade, veremos os desafios reais e concretos para desenvolver uma postura firme e consciente rumo à libertação de nossas condições inferiores, não só quanto a nós mesmos, mas também para os que se sentem perdidos e precisam de uma luz para clarear seus caminhos. Será no exemplo vivo que daremos o testemunho da verdade que antes acreditávamos apenas racionalmente.
Depois de uma pausa nas reflexões, para que eu pudesse acompanhar seu raciocínio, Clarêncio voltou a dizer:
-Vamos falar novamente aos corações de nossos irmãos da humanidade no sentido de despertarem com determinação e coragem para enfrentar o trabalho transformador. De mãos dadas andaremos unidos na construção de um mundo renovado. Assim, as mudanças ocorrerão em todos os quadrantes da Terra, nos dois planos da vida.
E olhando para o médium que seria o intérprete desta mensagem, concluiu:
-Preparemos seu campo de recepção e oremos a Jesus, nosso Orientador maior, rogando que nos ampare os propósitos do bem, pois, antes de tudo, é para Ele que devemos convergir todas as nossas intenções e acções. Somente Seu coração magnânimo poderá determinar a melhor condição para todos.
Após estas expressivas reflexões, Clarêncio calou-se. Em seguida, saímos em busca dos objectivos traçados com muita disposição e fé, com a certeza de que tudo está de acordo com a vontade d’Aquele que é o nosso Mestre maior.

Capítulo 2 - Arrependimentos sinceros evitam o exílio
Para melhor retratar a triagem dos espíritos em condições de permanecer no planeta, vamos destacar aqueles que apresentam uma predisposição ao arrependimento e um desejo de mudança perante os erros cometidos. Não chegam a ser classificados como maus ou perturbadores da ordem e do equilíbrio, mas são irmãos que prejudicam mais a si que aos outros.
Estávamos diante do quadro de uma pessoa prestes a passar pelo transe desencarnatório, Clarêncio e eu procurávamos auxiliar de alguma forma e também extrair reflexões sobre os dramas dolorosos dos que despertam sob o peso da culpa.
Clarêncio, com a mesma claridade nas palavras sábias e lúcidas, informou:
-Os que se encontram nos quadros angustiosos do desespero e do arrependimento não estão enquadrados como espíritos a serem exilados do planeta, por ainda apresentarem no fundo de suas almas um padrão de renovação e disposição sincera de redimir seus erros. Precisam de um trabalho mais intenso de nossa parte para despertar-lhes esse potencial, orientando-os ao que é necessário fazer para atingir este fim.
Já os nossos irmãos, cujo arrependimento tardio está ligado ao peso de crimes, à usurpação de bens colectivos, às lesões ao direito alheio com repercussões profundas e às outras situações de maior gravidade, serão exilados porque o planeta não mais poderá oferecer a eles as oportunidades de, em experiências do mesmo teor, alcançar a reeducação de que precisam. O caso que observamos se enquadra na primeira condição, podendo nosso irmão permanecer aqui depois de desencarnado.
Ele será levado, como acontece com muitos de nós, para as instituições do plano imaterial, a fim de limpar as ilusões acalentadas pelas impressões materiais e seus valores fúteis e frágeis, conscientizando-o de que nenhum património lhe pertence e que cargos e funções são oportunidades de crescimento e não instrumentos de definição de qualidade pessoal, compreendendo a transitoriedade de seus anseios.
Os que se arrependerem a tempo serão amparados por trabalho activo, conquistarão o padrão mental inicial para se enquadrar à educação que se estabelecerá e, com o auxílio de pais e educadores, darão continuidade aos esforços aqui iniciados, gerando o despertar de seus potenciais espirituais que os farão se afinar um dia com a maioria dos espíritos que buscam patamares mais elevados.
As bem-aventuranças do Evangelho de Jesus repercutirão em seus corações como um cântico divino em ressonância com suas propostas de vida, estabelecendo em suas almas o reino dos céus prometido por Jesus.
Eles serão o campo mais propício para todos que querem se dedicar com maior afinco ao auxílio dos que se encontram na retaguarda evolutiva para fixarem em si mesmos as qualidades morais que ajudam a desenvolver nos outros.
Por isso mesmo, lembramos a esses irmãos que saem do arrependimento sincero, transmutando-o em energia edificante no empenho renovador, as palavras expressivas de Jesus quando disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.”31.
Continuaremos a auxiliar aquele companheiro bastante abatido pela luta mental a qual se entregava, ante o arrependimento e a necessidade de se esforçar pela possibilidade de reabilitação e da acção do bem tardiamente compreendida. Isso significaria a balsa suave que o recolheria diante do mar apresentado aos seus olhos na transição da realidade física para o mundo do além.

Capítulo 3 - Mudança do padrão vibratório durante a noite
Recomeçamos nossas actividades junto a companheiros com os quais já tínhamos contacto e que participavam das tarefas assistenciais do movimento espírita, tirando desse trabalho de auxílio as lições para nossas reflexões.
Integramos a equipe de um auxílio feito em plena rua no qual o grupo de amigos encarnados levava alimentos para os que não tinham nenhum recurso material. Poderíamos classificar, para fins de nossos estudos, que grande parte daquelas pessoas que ali viviam eram seres umbralinos, já que a semelhança entre ambos é ampla. Exceptuando alguns casos especiais de trabalhadores de nosso plano que operavam em benefício desses mesmos companheiros, diríamos que estávamos em pleno umbral, considerando as altas horas da noite em que a tarefa se realizava.
Observamos a movimentação nas duas realidades existenciais e percebemos que encarnados e desencarnados eram cúmplices naturais, não tendo outros propósitos a não ser a busca de prazer ou a possibilidade de tirar vantagens pessoais, seja por meio de pequenos delitos para ganho financeiro ou para a satisfação de seus vícios e dependências de forma mais “fácil”, criando um padrão de movimentação cujas condições espirituais eram mais brutas e animalizadas e nas quais se sentiam mais livres para agir.
O clima espiritual naquele horário da noite era a materialização clara dos planos inferiores da realidade extrafísica. Ressaltamos que essas características não podem ser encobertas pela condição da categoria social das pessoas que frequentam as ruas nestas horas, sejam as mais abastadas ou não. As aparências parecem criar uma falsa impressão de que as inferioridades humanas são características das categorias mais baixas, mas o que podemos notar nesses quadros vivos é que as condições morais inferiores não se limitam a níveis de classe para se manifestar. Todos buscam a “felicidade” que o clima da noite parece oferecer para a satisfação de seus sentidos.
Trazemos estes esclarecimentos com um sentimento de muito respeito às condições de cada um e, ao estudar os casos, busquemos recursos para nos melhorarmos e fazermos algo para plantar nos corações o bem que pudermos, beneficiando-os. Quem sabe estas instruções sirvam de mola propulsora para decidir o que devemos ou não fazer de nossas escolhas?
Com algumas excepções, vamos encontrar profissionais nocturnos que ganham o seu pão de cada dia e outras tantas equipes de auxílio que se preocupam com o sofrimento alheio e são portadoras de intenções nobres e elevadas.
No horário nocturno, muitos se deixam levar por uma liberdade pessoal que têm durante o dia porque são induzidos a adoptar comportamentos mais adequados na convivência em família, nas actividades do trabalho e nos compromissos estudantis.
Associando nossas anotações à visão da Psicologia sobre a estrutura mental, poderemos dizer que o Ego é o senhor do dia, actuando sob a supervisão do Superego, mas que à noite o domínio é do Id ou das características impulsivas e reactivas, na busca de maior “liberdade” do que quando estamos no padrão comum.
É claro que no período da noite também encontramos vários lares ajustados ao campo do equilíbrio; centros de educação do conhecimento; instituições com o propósito de aprendizados espirituais e outros tantos núcleos de progresso. Tudo depende das intenções que movem as criaturas em seus interesses.
Mas, em plena rua, a paisagem nesses horários muda significativamente seu padrão vibratório em função dos interesses de muitas pessoas, incrementando com isso o intercâmbio entre elas e o plano inferior, aumentando as possibilidades de acesso sobre a mente inconsequente daqueles que elegem o comportamento leviano.
Procurei me manter ponderado e vigilante diante dos quadros à minha volta. Clarêncio permitiu que eu reflectisse um pouco mais do aprendizado e, após alguns minutos, esclareceu:
-Observe as características dos ambientes incorpóreo e físico, bem como a facilidade de intercâmbio entre eles. Podemos dizer que há um intercâmbio generalizado entre essas duas realidades ocorrendo de forma subtil e oculta. Isso se dá devido à falta de interesse dos encarnados por um assunto de real importância para eles mesmos. Desconhecendo a irradiação da mente através de seus pensamentos e emoções, criam um campo vivo para vinculações com as mentes desencarnadas que estão à sua volta.
Fica claro que, ao abraçar uma tarefa assim, esses amigos encarnados, que podem ter as mesmas dificuldades ou tendências, abram-se para uma sintonia elevada no exercício do bem, nos atraindo para o lado deles e abrindo possibilidades de respondermos suas indagações inconscientes e intuí-los para a solução de seus desafios de crescimento, já que eles estão buscando solucionar os problemas alheios.

Muitos desses encarnados e desencarnados, assistidos pela caridade, guardam no fundo de suas almas a semente da bondade que, no amanhã, germinará, criando uma predisposição para sua mudança e para o despertar da vontade de auxiliar aqueles que se encontram em sofrimento.
Nesta dinâmica, percebemos a acção do exemplo e os reflexos que uma atitude nobre pode provocar na intimidade de alguém. Quando vemos uma pessoa disposta a auxiliar, não temos uma ideia clara de como começou o estímulo desse interesse. Quantas mãos silenciosas já nos ajudaram anteriormente para que hoje tenhamos essa atitude?
Na pausa que se fez, fiquei imaginando quem teriam sido os semeadores do bem que plantaram a semente da vida em meu terreno íntimo. Clarêncio percebeu minhas reflexões e continuou suas observações:
-Levando nosso raciocínio para o entendimento de nosso tema central, que é a transição planetária, esse quadro do qual temos a oportunidade de participar e que estamos avaliando pode mostrar as mudanças em jogo. A acção espiritual inferior junto aos homens demonstra um aumento de sua presença na superfície da crosta e sua diminuição das esferas espirituais mais profundas e do Umbral. O próximo passo é que sejam retirados daqui, já que não poderão voltar às zonas inferiores por não terem mais condições de permanência no planeta.
-Clarêncio, como esse número tão grande de espíritos que perambulam entre os encarnados serão recolhidos? Sabemos que existem equipes de resgate com o objectivo de levá-los às nossas colónias e postos espirituais de recuperação para lhes abrirem as portas da reencarnação. E se parte desses companheiros socorridos não puder mais reencarnar na Terra, como será?
-Aqueles que apresentarem alguma indicação de mudança poderão aproveitar a oportunidade de renascimento, sendo levados às esferas superiores e preparados para esse fim.
O que está acontecendo é uma limpeza dos campos espirituais inferiores, favorecendo a leveza que a regeneração exige, e o primeiro passo para que isso ocorra é deslocar esses espíritos para a superfície da crosta. Mesmo que não possam mais voltar pelas bênçãos de um renascimento, atuam através de suas intenções como instrumento de avaliação e aferição junto àqueles com os quais se sintonizam, buscando-lhes a companhia. Alguns ainda podem ser tocados por uma situação que despertará neles o desejo de mudança, podendo assim continuar neste planeta-escola.
Ficou estabelecido pela sabedoria do nosso Mestre divino que a partir do ano 2000 não nasceriam mais irmãos predominantemente imperfeitos, limitando dessa forma a presença de seres que não têm direito a essa oportunidade em função do grande desprezo que guardam por elas. Ao serem privados desta bênção, aprenderão a valorizá-las algum dia. É claro que em tudo há excepções, um ou outro espírito ainda é aceito em função das lutas que impõe aos que convivem com eles, transformando essa relação em aprendizado de alguém ou de um grupo que sofre com a sua presença. Excluindo esses casos isolados, tem sido muito raro o retorno deles à esfera física. Só podem reencarnar os que apresentam, pelo menos, uma possibilidade de serem tocados e sensibilizados para uma melhoria de si mesmos.
-Mas, como explicar tantos casos de violência e desequilíbrio ocorrendo no planeta, demonstrando o contrário do que você está dizendo? Como ampliar essa visão para o olhar de nossos amigos encarnados hoje na Terra?
-Muitos desses espíritos que se apresentam em noticiários infelizes, mesmo os mais jovens, nasceram, em sua maioria, antes do ano 2000. Neste período não só nasceram espíritos nobres para efectivarem as mudanças necessárias, mas também um contingente de outros amigos que precisariam das lições na própria vida a fim de assimilar esses elementos educativos. Muitos deles estão perambulando nas grandes cidades ou mesmo em algumas nações cujo carma colectivo ofereça a oportunidade de passar por choques mais pesados, determinando experiências de natureza mais grave. Experimentam pela dor, que é a consequência de suas escolhas precipitadas e infelizes, o efeito educacional de vivências com materiais de crescimento que reflectirá por séculos em suas vidas.
Guerras, agressões e violências descabidas, sentimento de separatividade, inconsciência colectiva ligada à barbárie, acções de interesse económico exclusivista, lutas étnicas e éticas, disparates sociais entre grupos e tantas outras calamidades ocorrem como repercussão das escolhas para que, sob o peso destas, o homem aprenda em suas lições derradeiras o que fazem a si mesmos por não ter consciência de sua real natureza, que é espiritual. Somente por meio desta essência sublime o homem terá a condição de eleger uma boa forma de se relacionar consigo mesmo, com a vida e com os outros, considerando-os com a mesma medida que dá a si mesmo, a fim de que um sentimento real de fraternidade possa surgir.

Os novos valores para o nosso mundo serão construídos tendo por referência o que não queremos mais que faça parte de nós e, por consequência, o que não queremos que faça parte da nossa relação com o próximo. O homem está se cansando do mal e verá que não vale mais a pena sustentá-lo, apagando-o assim do cenário do orbe.
O mundo de hoje, em sua característica violenta, está simbolicamente na condição daquela multidão que buscava por Jesus ao pé da montanha, procurando alívio e paz para suas dores. Hoje são ouvidas as expressões amorosas da voz do Pastor de ovelhas perdidas reverberando em nossas almas, para nos levar ao aprisco seguro e feliz: “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados; os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos32; vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei; tomai sobre vós o meu jugo que é suave e o meu fardo é leve.”33
Com aquela melodia divina a sair dos seus lábios, Clarêncio calou-se para que ela pudesse ecoar em todos aqueles corações que trabalhavam pelo bem do próximo, como também para aqueles que se sentiam perdidos e desamparados. No fundo, todos nós buscávamos a tão almejada felicidade.

Capítulo 4 - Alterações cirúrgicas nos perispíritos trazem mutações no corpo físico
Ainda estávamos acompanhando as equipes de trabalho dos encarnados que operavam em plena rua, dando esperança àqueles corações adormecidos e desorientados que elegeram essa situação por meio de escolhas infelizes do passado. Todos eles estavam subordinados a algum tipo de vício constrangedor que os impedia de enxergar a própria condição precária e, quando isso acontecia, não tinham forças suficientes para tomar uma decisão firme e modificar aquela triste realidade em que se encontravam.
Muitos mentores esperavam pelos trabalhos assistenciais que criavam momentos raros de reflexão nos assistidos para lançarem ideias de mudanças em suas mentes, utilizando essas oportunidades como instrumentos de resgate, abrindo portas para o início de suas recuperações.
A espiritualidade maior sabe quem quer e pode sair dessa triste situação. Para a maioria das pessoas este modo de viver significa sofrimento, mas para quem está nele pode ser bastante prazeroso, desde que consiga atender às suas necessidades.
Essas necessidades podem estar relacionadas ao vício em drogas químicas, no sexo desenfreado, na bebida alcoólica, além da dificuldade em assumir responsabilidades sociais e mesmo a fuga depois de experimentarem decepções afectivas, acreditando que a satisfação em seus vícios lhes ameniza a dor.
Todos esses aspectos íntimos determinam suas escolhas e interesses, fazendo com que criem uma falsa condição de vida que, com o tempo, se torna natural para eles.
Clarêncio, percebendo os meus pensamentos, esclareceu:
-Muitos dos que vivem nessas condições são retratos vivos daqueles que encontramos também em nossos planos espirituais inferiores, buscando sustentar seus anseios por meio dos vínculos criados em torno das pessoas. Eles precisam se libertar e buscar a realidade do espírito imortal e não utilizar recursos mentais para criarem espaços infernais ou purgatórios.
Essa distorção da realidade, na maioria das vezes, é uma fuga da própria consciência perturbada pelas escolhas inconsequentes em suas experiências materiais e por não quererem se confrontar com o resultado de suas acções adiando a solução de seus desafios e a libertação dessas correntes escravizadoras.
Transformam o ambiente em que se vivem no reflexo vivo do que estruturaram internamente, dando asas à imaginação e juntando-se a outros que vivem nas mesmas condições, criando zonas de convivência colectiva, verdadeiras cidades astrais de expressões desequilibradas nas quais mantêm suas alucinações.
Como esses companheiros têm se aproximado cada vez mais da esfera dos homens, temos encontrado com frequência a presença dessa realidade vibratória na superfície da crosta como consequência das construções distorcidas de suas mentes. O próprio uso das drogas e de bebidas alucinogénias faz com que seus psiquismos projectem para fora aquilo que trazem por dentro.
As equipes de socorro da erraticidade avaliam suas condições mentais e espirituais e, a partir daí, definem aqueles que ainda podem permanecer no orbe e aqueles que serão deslocados para outras moradas siderais para promover, de forma mais adequada, a sua reforma íntima.
Esta separação espiritual reflecte a passagem evangélica na qual Jesus esclarece que esta triagem é natural, referindo-se ao grupo que parte para outro orbe como sendo simbolicamente “os bodes” e a outro que permanece na Terra como “as ovelhas”.34
Os tarefeiros responsáveis pela limpeza vibratória têm aproveitado essas circunstâncias para realizarem suas transferências a lugares de carácter transitório35 que funcionam como grandes centros portuários ou alfandegários, com funções de triagem de valores morais. Não há a presença de encarnados nesses centros, cuja finalidade é de iniciar o deslocamento definitivo destes espíritos para o planeta que os receberá para o processo de reajustamento de suas experiências futuras.
-Esse planeta está próximo de nosso sistema solar?
-Depende do que chamamos de próximo, levando em consideração as referências de medida terrena para determinarmos a distância correta desse orbe acolhedor. Ele faz parte de outra constelação de estrelas, foi previamente escolhido e teve suas condições materiais estudadas, possuindo algumas características que hoje não temos. Quase poderíamos dizer que é um novo mundo, ainda muito primitivo em sua formação geológica, mas que está próximo de se tornar habitável por animais desenvolvidos neurologicamente e permitirá, no futuro, a existência da vida humana em sua superfície.

Os arquitectos e biólogos siderais levam os exilados para se ambientarem por milhões de anos36 às características materiais e fluídicas desse mundo e à estruturação de um novo perispírito37 caracterizado pelas condições químicas e biológicas inerentes ao seu fluido cósmico universal, que, actuando sobre esses elementos, foram aperfeiçoando os corpos espirituais e físicos, com o objectivo de movimentá-los em seus ecossistemas.38
-A forma do corpo e do perispírito serão diferentes daquelas de nosso planeta?
-Como não! – respondeu Clarêncio, com ar natural. O que fica resguardada é a expressão de humanização que esses corpos precisam ter, mas que em cada organismo desenvolve órgãos específicos e com funções próprias conforme o material químico que esse planeta oferece para a formação de suas estruturas celulares. A partir daí, serão formados seus sistemas de funcionamento39, operando num processo contínuo de captação e reprodução, dentro do dinamismo assimilador e criador que caracteriza o funcionamento do Universo.
Mesmo nós, quando saímos para outras esferas mais subtis ou mais densas, precisamos adaptar nossos corpos espirituais para movimentá-los dentro dessas realidades vibratórias. Esse ajuste é obtido por estarmos ali em carácter de visitação rápida ou estágios um pouco mais prolongados. Se tivermos de viver definitivamente naquela localidade, será necessário revestimo-nos com as mesmas condições perispirituais daquela nova realidade de vida, passando por aquilo que alguns estudiosos da Doutrina Espírita nomeiam como sendo uma segunda morte.40
No processo de transferência dos exilados de um orbe para outro, a segunda morte é a troca definitiva dos perispíritos gerando sensações iguais àquelas que se sente no processo de desencarnação. Nesses momentos ocorrem verdadeiras cirurgias espirituais que adaptam os espíritos na formação dos futuros corpos perispirituais e físicos.
Nos dias atuais, já está sendo realizado um número expressivo de alterações cirúrgicas nos perispíritos para atender às necessidades dos que aqui permanecerão. Essas modificações, feitas em nossos laboratórios espirituais, já começam a exercer algumas mutações no corpo físico do homem por meio dos mecanismos reencarnatórios. A Medicina ainda não compreende essas transformações, interpretando-as como enfermidades estranhas ou desconhecidas, mas, na verdade, são expressões desse ajustamento entrando em choque com as leis que regeram a formação do corpo físico até agora.
No futuro, os corpos físicos apresentarão determinadas capacidades para que a inteligência humana se expanda, alterando a anatomia do corpo físico que deixará de ter certos órgãos e desenvolverá outros, assim como outras alterações serão implantadas pela necessidade de sobrevivência na regeneração.
Façamos a nossa parte, auxiliando o homem a se conhecer e actuar na introdução de recursos para o revestimento corporal e perispiritual necessários para sua manifestação no amanhã.
Por isso mesmo, Paulo já nos informou que se semeássemos corpos celestiais41 – perispírito – eles transformariam os corpos corruptíveis – corpo físico. As mudanças ocorrerão primeiramente em nós para que a própria força dos fatos faça com que ocorram no círculo da realidade física de forma espontânea e concreta.
Após esses esclarecimentos do amado benfeitor, colocamo-nos em prontidão juntos àqueles amigos trabalhadores, para podermos fazer algo que beneficie as necessidades dos que seriam atendidos pela acção doadora.

Capítulo 5 - As comunicações entre os dois planos serão de âmbito colectivo
Estávamos novamente junto de Luciano – “Lísias” – agora com quarenta e seis anos, casado e com dois filhos, uma menina de oito anos e um garoto de dez. Apresentava no semblante uma característica de amadurecimento que deveria ter sido formada nas suas responsabilidades espirituais e profissionais, já que exercia a função de médico. Actuava também como orientador e palestrante no centro espírita, auxiliando seus pais na condução da casa que estava sob sua responsabilidade.
Com que alegria pude revê-lo e perceber em seus olhos o mesmo olhar que tinha quando estávamos em diálogos esclarecedores em nossa colónia! Ele é um amigo que guardo com muito carinho em meu coração. Sempre que o vejo me sinto muito bem.
Naquela noite ele iria fazer um estudo sobre o tema da mediunidade. Fui convidado pelo mentor que o acompanhava nessa tarefa específica de inspirá-lo em seu trabalho, já que o orientador percebia a sintonia natural que existia entre nós, nascida do coração.
Prontifiquei-me a ajudá-lo e, perguntado sobre qual aspecto o tema seria abordado, ele me disse que seria sobre a mediunidade de efeitos físicos. Então, concentrei-me por alguns minutos para buscar em minha memória tudo o que tinha aprendido sobre o assunto nas instruções que obtive na colónia e também nas experiências vivas, onde pude presenciar os trabalhos do lado de cá e participar deles de forma efectiva.
No horário determinado para o início da tarefa, comecei um processo de ligação mental e coloquei a mão sobre a cabeça de Luciano, direccionando minhas energias sobre ele para criar um intercâmbio em que minhas irradiações o envolveriam por completo. Após a criação do vínculo, retirei a mão e posicionei-me às suas costas, na distância de alguns centímetros, no lugar em que podia perceber naturalmente seus pensamentos unindo-se aos meus e vice-versa, de forma simultânea, como se fosse ele mesmo que pensava.
Deixei-o iniciar a palestra com aquilo que ele já havia preparado e intervinha com algumas ideias com as quais ele imediatamente trabalhava, acrescentando alguma coisa de minhas experiências, de maneira que estas pareciam ser uma inspiração a nascer de sua própria mente.
Luciano iniciou o tema apresentando a diferença entre a mediunidade de efeitos físicos e a mediunidade de efeitos intelectuais, conforme Allan Kardec apresentou em O livro dos médiuns, uma de suas obras básicas. Ele demonstrou que a primeira utilizava maior índice de energias materiais que, como o ectoplasma, estavam ligadas aos três chacras inferiores do perispírito enquanto a segunda se utilizava de recursos energéticos mais subtis da substância mental, utilizando os outros quatro chacras superiores, envolvendo, como base para essas manifestações, uma ligação mais directa com o sistema nervoso central.
Esclareceu que, na época de Kardec, a utilização da mediunidade de efeitos físicos estava ligada aos fenómenos que mais impressionavam e chamavam a atenção dos estudiosos daquele tempo com o objectivo de demonstrar a existência de uma inteligência espiritual por trás dos fenómenos, desfazendo a análise precipitada sobre eles, que eram encarados até então como manifestações extraordinárias e que fugiam das leis regentes dos fenómenos físicos da matéria. A partir de estudos e pesquisas, perceberam que as forças actuantes no mundo material tinham sua origem na realidade extra-física.
Pude inspirá-lo a observar que os homens mais sérios e estudiosos já não precisam desses mecanismos como afirmação da existência dos espíritos, que a confiança e segurança dessa verdade só seriam possíveis pelo estudo de seus princípios não só ligados aos fenómenos em si, mas de sua moral, fazendo com que esses fenómenos sejam utilizados para outros fins, como os de tratamento do sofrimento humano e na aproximação das esferas espirituais superiores e a física, materializando os mentores do Plano Maior que vem esclarecer, orientar e ensinar as finalidades elevadas de acordo com a maturidade dos participantes das reuniões mediúnicas.
Ele fechou o tema e procurei não interferir mais directamente para que pudesse ficar em evidência sua dedicação para a tarefa e, no final dos trabalhos, orei junto com ele e pude sentir seus pensamentos e sentimentos junto aos meus, em um intercâmbio de forças. Procurei direccionar meus mais nobres sentimentos ao seu coração sensível, a ponto de algumas lágrimas escorrerem pelo seu rosto, pelo nível de nossa afinidade e em agradecimento pela oportunidade de trabalharmos juntos.

Terminado o estudo, Clarêncio aproximou-se e, com suas argumentações superiores e belas, disse:
-André, fico contente em ver seu crescimento e o desenvolvimento do trabalho estabelecido pelo Plano Maior em seu favor, o qual você soube aproveitar com muita competência e dedicação, aprimorando o seu potencial divino. Você pode agora dar muito mais de si em benefício dos outros, principalmente dos amigos que ontem o acolheram e o ajudaram, como no caso de nosso irmão Luciano.
Nosso plano actuará com maior intensidade junto aos companheiros encarnados, e nossa contribuição será ainda maior no momento em que eles tiverem mais maturidade para servir. Os dons mediúnicos se desdobram e as comunicações entre os dois planos serão de âmbito colectivo. Com isso, poderemos auxiliá-los no desenvolvimento das artes, da oratória, das manifestações espirituais, das curas e das instruções elevadas, caminhando juntos nas transformações que o mundo pede.
O corpo físico de nossos amigos estará mais sensível a ponto de o sexto sentido ser uma conquista natural, e os que não o tiverem desenvolvido se sentirão como os cegos, mudos e surdos.
O médium Chico Xavier é o exemplo de mediunidade que se apresentará em todos, pois o que ontem era exclusivo para poucos, amanhã será uma conquista geral e natural para quase todos.
Esperamos que as transições se efectivem para que possamos perceber essas realidades e ver o quanto a humanidade se tornará muito mais espiritualizada.
Silenciando, Clarêncio abraçou Luciano carinhosamente e nos retiramos para que, no dia seguinte, pudéssemos acompanhar algumas tarefas espirituais ligadas directamente à limpeza do planeta.

Capítulo 6 - Resgate nas trevas para exílio planetário
Estávamos a caminho dos trabalhos de resgate de alguns irmãos que se apresentavam com disposição para receber auxílio. Ao resgatá-los, uma equipe de espíritos mais elevados organizaria também o acolhimento de alguns companheiros das trevas que seriam encaminhados para outra moradia sideral, acelerando o processo de seus resgates nas condições favoráveis ao seu desenvolvimento.
Clarêncio e eu nos colocamos à disposição para o trabalho e Cláudio, um dos coordenadores, nos sugeriu que ficássemos junto à equipa de suporte e apoio. Dessa forma, poderíamos fazer nossas observações de forma útil e, ao mesmo tempo, actuar em benefício da tarefa.
Organizados e divididos em grupos menores, seguimos os orientadores e os guias do caminho, adentrando na sub-crosta e levando junto, pelas portas do sono físico e em desdobramento, um companheiro encarnado, que serviria de médium de efeitos físicos por meio da doação de ectoplasma, ajudando-nos a concretizar algumas acções em que essa energia precisava ser usada.
Descíamos trilhas íngremes até que chegamos a uma gruta que lembrava um dos antigos templos secretos, com archotes e velas da época medieval acesas, deixando um ar pesado e com características de um ritual macabro. Mantínhamo-nos invisíveis às condições vibratórias dos companheiros do culto estranho, no qual haveria um sacrifício para evocar uma entidade das trevas profundas, conhecida como sendo um dos Dragões.
Numa grande pedra usada para sacrifícios estava presa uma moça desfigurada, semi-nua, maltratada por suplícios de toda ordem, que serviria para aquela prática de satânica intenção. Em todos os momentos procurávamos ter por todos eles um sentimento de compaixão, transmitindo vibrações harmónicas de paz e de amor.
Após alguns minutos de observação, Clarêncio falou ao meu ouvido, como se sussurrasse:
-André, estamos diante de um daqueles actos de adoração primitiva, no qual se deseja atrair uma entidade das trevas com grande domínio sobre os companheiros perturbados e perdidos que, a seu comando, têm provocado muita dor e sofrimento, não só aos encarnados como também aos desencarnados que se ligaram inconscientemente a eles.
Poderemos tirar dessas condições degradantes grande aprendizado junto ao caso de nossa irmã, antiga suicida42, que necessita renascer em gestação frustrada para receber um choque vibratório por meio do seu retorno rápido ao mundo físico, criando assim uma leve melhoria nas condições de sua saída do planeta, para que possa resgatar seu passado com maior probabilidade de sucesso.
Ela está ligada intimamente a muitos desses companheiros aqui presentes, principalmente ao chefe dessa falange. No novo orbe poderão reiniciar suas caminhadas de redenção de retorno à casa do Pai, como foi descrito na parábola do filho pródigo.43
Nosso interesse não é resgatar apenas a nossa irmã, mas, principalmente, o antigo judeu, nosso irmão das trevas. Ao executar esse programa traçado pelos nossos espíritos maiores, estaremos desfazendo um grande núcleo de trevas que sustenta essas regiões obscuras.
Agora, centremos nossas mentes na oração, pois já está quase na hora da acção planeada pelo alto. Um mensageiro do bem se fará presente a qualquer momento para o desfecho final, recebendo a colaboração do médium em desdobramento, que servirá de doador das energias do ectoplasma e que se mantém à distância com outros amigos que doarão suas energias, quando necessário.
Ficamos em silêncio e centrados na oração para auxiliar a tarefa.
O ritual começou e uma batida de instrumentos de percussão se fez forte aos nossos ouvidos. Se não tivéssemos realizado outras tarefas como essa, o ritmo nos teria despertado uma sensação de medo e angústia íntima. Fixamos mais ainda nossa mente na prece silenciosa para facilitar a actividade.
Num dado momento, o chefe do ritual pegou uma adaga e desferiu, num ato firme e forte, um golpe no meio do peito de nossa irmã que, na mesma hora, começou a dar gritos alucinantes de dor, mesmo estando semi-inconsciente. O agressor, com seu capuz escuro, parecia indiferente ao seu sofrimento e pronunciava palavras cabalísticas, evocando a entidade esperada. O ambiente estava sob uma luz bruxuleante, em meio a uma fumaça colorida e aromática, típica dos alquimistas do passado na condição de mestres da magia negra que, para impressionar as pessoas, deixavam o ambiente se impregnar com cheiros fortes, dentre os quais se destacava o de enxofre. Todo o grupo encapuzado se ajoelhou e, em postura ritualística, estendiam as mãos para o chão e as levantavam, repetindo palavras ininteligíveis.

Neste momento, alguns desencarnados que estavam deitados em um canto da caverna na mesma posição de nossa irmã em sacrifício expeliam uma substância esbranquiçada muito parecida com o ectoplasma, que tinha por finalidade produzir a materialização da entidade evocada. Alguns momentos depois, apareceu um ser animalizado parecendo uma besta mitológica. Ele se mantinha naquela feição para imprimir medo e, ao mesmo tempo, admiração às almas despreparadas, que se posicionaram com as cabeças para baixo em sinal de respeito, quase todas ao mesmo tempo.
Neste mesmo instante, nossa equipe, manipulando as energias tiradas do médium, produziu uma grande luz que fez alguns daqueles irmãos correrem desesperadamente. Daquela claridade, surgiu uma entidade madura e iluminada.
Diante do ocorrido e com muita surpresa, a entidade personificada na figura do dragão falou com voz rouca e austera:
-Quem vocês pensam que são, filhos da luz, para se atreverem a entrar em nosso antro? Com quem contam para fazer essa ousada invasão? Quem são vocês para estarem aqui, intrusos infelizes?
E, com voz clara e firme, respondeu, numa expressão calma e convincente, um ser que se fez visível para nós naquele momento e que mais parecia um anjo das alturas:
-É chegado o dia de iniciar a sua redenção, caro Jeremias! Você não poderá mais fugir às responsabilidades que lhe cabem diante da justiça e do amor que regem a vida universal. Os olhos do nosso meigo Nazareno voltam-se para seu coração endurecido, sustentado pelos actos de ignorância e maldade, mas também cheio de dor e sofrimento.
-Não tenho nada com aquele verme que padeceu numa crucificação humilhante pela força dos poderosos que eu hoje represento. Eu sou da ordem desses mesmos seres que mandam no mundo e determinam as directrizes de suas experiências colectivas. Saiam de uma vez por todas de nossos recintos! Isto é uma ordem! – exclamou a entidade em tom agressivo e implacável.
-O que é isso, Jeremias! Por acaso você não se lembra mais de nossas intenções de amor ao Nazareno quando buscávamos a nossa liberdade? Esqueceu-se de que almejamos refazer juntos os nossos caminhos? Hoje Ele nos dá a oportunidade de redireccionarmos novamente os passos para essa libertação definitiva.
Sua fala era tão amorosa que as energias de seu tórax atingiam em cheio a mente do ser endurecido e frio.
Numa acção que surpreendeu a todos, a entidade ajoelhou-se com gestos de profunda revolta e, entre lágrimas, desabafou:
-Quanta decepção! Não me faça lembrar aqueles dias do passado, quando esperei que o Messias nos libertasse das mãos inescrupulosas dos representantes da águia dominadora44 que nos escravizavam aos seus interesses. A partir do dia em que o Messias foi crucificado, soube claramente que nunca alcançaríamos a liberdade para o nosso povo que sempre esteve nas mãos duras de nossos algozes. Nem os profetas nem o Messias conseguiram nos trazer o poder que tanto queríamos – disse a entidade com desespero e revolta, quase em pranto incontrolado.
-Jeremias, será que você não percebe que o cansaço o alcança e que suas acções de violência nunca lhe darão, verdadeiramente, qualquer sinal de libertação e sim algemas, como consequência dolorosa de suas acções precipitadas? Nossa real liberdade está dentro de nossas almas na exacta medida em que sabemos nos libertar dos sentimentos da revolta, da violência, do ódio, da vingança e da brutalidade das emoções.
Precisamos reorganizar nossos interesses para outra direcção e você hoje já sabe, no fundo de seu coração, que é chegada a hora da escolha mais precisa e verdadeira para seu espírito.
-Como? Quantas dores causei, quantos crimes planeei e executei? E tudo isso por nada? Se o Messias não nos libertou, eu e os meus nos libertaremos! Nem que seja a ferro e fogo! Se não for assim, a vida realmente não tem sentido nenhum, nem na realidade da matéria nem mesmo nessa dimensão, na qual só vemos uma eterna condição de dor e sofrimento.
Aproximando-se com carinho paternal daquele ser em extremo martírio e colocando a mão sobre sua cabeça, grande fluxo de energias descia sobre ele. Amorosamente, o amigo do passado falou:
-Você está se enganando, meu querido. O infinito nos aguarda a todos, não importando quanto tempo levaremos para nos reerguer, mas ainda é e sempre será o tempo de recomeçar com Jesus. Deixe-se ir comigo e desfrutaremos possibilidades de realizações superiores, conquistas essas que estão destinadas à sua realidade imortal. Seremos, um dia, viajantes da eternidade, e nessa condição poderemos nos reencontrar com nossos amores de ontem. Joana espera até hoje uma réstia de luz de sua transformação para poder caminhar a seu lado.

Ao ouvir aquele nome ser pronunciando, ele mudou completamente sua postura erecta e rígida e, mostrando um leve traço de humildade reflectido em sua postura e em seus olhos, perguntou:
-Joana? Como ela está? Onde se encontra?
Após uma pausa expressiva em sua fala, na qual podíamos perceber a luta íntima que se travava em sua alma, ele voltou a falar:
- Eu sou um monstro. Como um criminoso como eu teria o direito de estar novamente ao lado daquele anjo de Deus?
Depois deste desabafo, colocou as mãos no rosto, cobriu os olhos, como se enxergar a sua realidade fosse demais para ele, e chorou amargamente.
Ao vê-lo recapitular sua vida diante da lembrança da sua amada e se entregar ao primeiro momento de arrependimento em muitos séculos, aquele nobre ser o acolheu nos braços, dirigiu um sinal de cabeça para o coordenador que organizou o resgate e, num ato de beleza indescritível, levou aquele fardo amado rumo ao infinito.
Neste instante, com uma voz firme e forte, Eurípedes Barsanulfo, que era exactamente aquele que recebeu o sinal da entidade amiga, pronunciou um convite a todos que estavam ali presentes:
-Irmãos, a claridade do alto abre-se também para todos vocês nesse instante. Venham connosco e lhes proporcionaremos uma jornada em busca da paz e da recuperação.
Alguns daqueles espíritos desesperados que continuavam na postura adorativa, ainda de joelhos durante todo o diálogo, passaram a direccionar esta atitude para Eurípedes, que se aproximou de um deles e o acolheu junto a si, dizendo:
-Venha, meu irmão, Jesus o aguarda para a renovação.
Por minha vez, busquei aconchegar um desses espíritos ao meu coração, falando em tom fraternal:
-Venha, meu amigo, Jesus também o convida para uma vida nova.
E, imantando-o com minhas energias, pude levá-lo até uma maca improvisada, na qual iriam conduzi-lo a um posto de socorro adequado para ser atendido.
Quando olhei para Clarêncio, este fazia o mesmo e tinha em seus braços a irmã que sofrera a agressão e ainda estava semiadormecida. Ela recebia energias superiores do nobre mentor que cobriam todas as suas chagas e marcas de violência, preparando-a para os trabalhos de recuperação mais intensos no posto de socorro. Futuramente, a oportunidade do choque reconstrutor pela reencarnação melhoraria suas condições mentais.
Terminados os trabalhos de resgate, rumamos para um desses postos espirituais que servem de recolhimento de entidades desse padrão vibratório, preparando-as, em sua maioria, para o retorno ao corpo físico no futuro, só que não mais neste planeta em processo de redenção e sim numa moradia que lhes oferecerá possibilidades de libertação e crescimento em direcção à harmonia e à paz.

Capítulo 7 - Os exilados de capela, Adão, Eva e a Serpente
No dia imediato aos últimos acontecimentos, algumas dúvidas pairavam em minha mente. Como seriam transportados todos aqueles espíritos em direcção a um planeta tão distante de nosso sistema solar? E em que condições iriam para esse orbe? Eu sabia do desenvolvimento das viagens interplanetárias estudadas em nossa colónia que estão mais aprimoradas em recursos, muito além da realidade actual do planeta.
Clarêncio, observando minhas cogitações íntimas e atendendo às necessidades que poderiam se desdobrar para os nossos amigos da Terra, esclareceu:
-Sabemos, André, que o homem está destinado a explorar, cada dia mais, os novos tipos de energias e como tecnologias capazes de diminuir as distâncias astronómicas do Universo. O estudo dos diferentes níveis vibratórios cria verdadeiros mundos que coexistem e interagem, apesar de estarem em realidades diferentes. O conhecimento deste fato quebrará barreiras além das do som e da luz, desenvolvendo maneiras mais fáceis de viajar naturalmente no futuro, mostrando nuances da existência até agora ignoradas pela ciência humana.
Em se tratando de levá-los da Terra para o ambiente extra-físico do novo corpo celeste, usaremos naves interplanetárias oriundas de sistemas evoluídos cuja tecnologia já é empregada em nossa colónia e também em outras, aprimorando sempre os meios de transportes. Para a maioria dos homens despreparados, estas naves podem ser confundidas com verdadeiros óvnis.
Essas naves ultrapassam as velocidades conhecidas pelos homens e no futuro comporão a realidade humana, já que muitos de nossos técnicos ligados a esta tecnologia estão renascendo no planeta com a missão de melhorar a vida em todos os aspectos. Os espíritos com este potencial extraordinário de usar a ciência farão muito daqui para a frente. Serão inimagináveis as conquistas em todos os sectores de estudos e o que hoje se conhece de mais sofisticado se encontrará totalmente obsoleto daqui a vinte anos.
Não tem nada de extraordinário no trabalho de migração entre orbes, levando em consideração que muitos já estão sendo levados para iniciarem esse processo de adaptação para a formação e o desenvolvimento do perispírito, tanto quanto do próprio corpo humano que lá será usado.
Foi o que aconteceu com os exilados de Capela que puderam aprimorar o corpo físico da Terra, ao longo do tempo, introduzindo nos protótipos primitivos os novos recursos que o aperfeiçoariam e que seriam transmitidos pela matriz genética de seus perispíritos ao corpo físico em formação, despertando potenciais adormecidos que hoje já encontramos em actividade na realidade humana.
Podemos dizer, pela simbologia descrita na Génese de Moisés, que as Raças Adâmicas45 já estavam sendo introduzidas na psicosfera do globo em formação que viria ser a Terra, para fornecer ao Cristo e a seus prepostos a possibilidade de implementar o desenvolvimento psico-fisiológico daqueles organismos em formação.
Muitos dos animais que estão entrando em extinção são levados junto aos exilados, como uma verdadeira Arca de Noé, introduzindo no novo orbe as mutações necessárias aos seus tipos e espécies mais aprimoradas e aproveitando os modelos já desenvolvidos em sua superfície. Nesse processo, muitos deles poderão sofrer mudanças no perispírito devido às condições químicas das substâncias e elementos de lá.
Os primeiros exilados chegam numa condição psíquica de profundo adormecimento consciencial. Podemos então, mais uma vez, fazer uma analogia com os ensinos do livro de Moisés, que faz referência ao fato de que Adão nasceria numa condição de “profundo sono”46. Este estado de entorpecimento da mente manteria seu nível de consciência muito próximo ao dos homens primitivos, fazendo com que os exilados mergulhem nessa psicosfera quase sem perceber direito o que está acontecendo. Esse estado de adormecimento, sentido pelos primeiros espíritos que nasceram no Egipto, foi tão patente, que chegaram a descrevê-lo como se fosse uma metempsicose47, que é a possibilidade de voltar a revestir corpos animais, crença esta que era aceita como realidade espiritual viável naquele tempo.
Essa primeira leva de companheiros espirituais promoveram um ajuste de desenvolvimento das matrizes biológicas e o despertar dos potenciais necessários ao uso de seus sistemas funcionais que, se dependesse do ser primitivo que se originou no planeta, levariam milhares de anos para o aprimoramento que esses companheiros exilados proporcionam como cooperação evolutiva.

Passado expressivo período de tempo, chega uma segunda leva de irmãos degredados com um nível de consciência mais desperta do que a primeira e também mais ligados ao desenvolvimento de seus potenciais emocionais. Fazendo uma referência ao surgimento de Eva, chamaríamos esse grupo de Raça Evânica. Neste enfoque, Adão e Eva seriam grupos de espíritos introduzidos neste planeta, em etapas distintas, e se encontrariam para consolidar a integração de valores íntimos, dando passos profundos para a criação da futura humanidade e introduzindo as primeiras lendas desses personagens como o surgimento dos primeiros homens.
Clarêncio parou por alguns minutos, para ordenar suas ideias, e continuou:
-Mais tarde chegaria uma terceira etapa de introdução desses agrupamentos espirituais e, neste grupo, os exilados não teriam o tamponamento da consciência como os outros, mas teriam um clima de revolta e brutalidade. Saíram de Capela com um grande grau de inconsciência moral. Ao reencontrarem os outros dois grupos já fixados no processo de despertamento, eles se ligariam, atraídos por afinidades cármicas, e o reajuste entre eles recomeçaria.
Devido ao desenvolvimento das condições planetárias nestes tempos, esse terceiro grupo já teria um número maior de espíritos e poderíamos localizá-lo simbólica e historicamente, falando na figura da serpente que seduz Adão e Eva para experimentarem o fruto proibido, despertando em suas consciências adormecidas todo o potencial psíquico do passado, através desse contacto entre eles – Adão, Eva e Serpente. Com isso, os vínculos seriam refeitos e os recursos de inteligência acordados, rumando assim para a solução dos problemas de ontem que viriam como propostas de trabalho desse reencontro.
Com tudo isso acontecendo, o desenvolvimento da ciência em seus rudimentos acabará ocorrendo, para a solução das necessidades de sobrevivência da religião, em seus anseios de contacto com a natureza espiritual e da filosofia que responderia às suas buscas por sabedoria. O surgimento destes recursos significará o lançamento das sementes que caem no terreno mental dos seres nascentes do planeta, germinando, crescendo e impulsionando o desenvolvimento de suas inteligências rudimentares.
O tema era fascinante demais, e Clarêncio prometeu se aprofundar nele à medida que os acontecimentos surgissem. Pelas próprias características das ocorrências, as informações descritas simbolicamente nos capítulos do Livro Sagrado dos Hebreus48 seriam ampliadas. Este livro conta sobre o exílio dos irmãos saídos de Capela para renascerem na Terra com o intuito de auxiliar Jesus no desenvolvimento da humanidade que nascia naquele tempo.
Após aqueles entendimentos, dirigimo-nos para os trabalhos de ordem mediúnica, com o objectivo de resgatar seres extremamente perturbados que seriam retirados dos grandes núcleos trevosos do fundo dos abismos.

Capítulo 8 - Intervenções na memória dos espíritos recalcitrantes
Naquela noite em especial, fomos designados para operar junto ao trabalho denominado pelos mentores do alto como higienizador das sombras, no qual uma equipe de encarnados atua como médiuns de transporte e recolhimento de entidades profundamente endurecidas e ligadas a núcleos das trevas que, concentradas no mal, criaram uma psicosfera pestilencial nos campos subcrostais do planeta.
Esta tarefa foi implantada em muitos centros espíritas da actualidade e estávamos focados em companheiros que se comprometeram com o resgate das entidades pertencentes às falanges de decaídos da Constelação do Cocheiro, um dos orbes da estrela Capela, e que ainda se acham extremamente endurecidos após séculos de experiências na Terra.
A maioria deles seria degredada pela segunda vez por se manter na intenção de prejudicar a evolução de muitos grupos ainda vinculados a eles, induzidos constantemente a acções perturbadoras junto aos encarnados.
Apesar de serem nossos irmãos em Cristo, eles poderiam ser classificados como verdadeiros criminosos espirituais. Grande parte era recolhida de forma inesperada, constrangida em suas acções e pega de surpresa.
Os degredados estavam sendo acolhidos carinhosamente pelo director do trabalho, nosso querido Cristiano, substituto do próprio pai na coordenação das actividades quando ele retornou, pela porta da reencarnação, a compromissos renovadores. Tivemos algumas oportunidades de trabalhar junto com Cristiano pelas linhas da intuição, quando ele ainda estava encarnado e actuava como divulgador da Doutrina Espírita e, sob a intuição de Emmanuel, tinha estudado a Bíblia, especialmente o Novo Testamento, de uma forma toda especial, dando interpretações particulares, palavra por palavra, dos versículos. No dizer do mentor de Chico Xavier, esses estudos são pérolas retiradas de um colar único no qual, cada uma delas, tem valor inestimável.
A tarefa que começamos a acompanhar tem sido referência para muitas outras similares por trazer experimentos novos, como, por exemplo, as cirurgias no campo da memória dos espíritos recalcitrantes.
Nessas intervenções, as recordações do passado são retiradas e armazenadas e eles são induzidos a reviver experiências desde a sua condição de princípio inteligente até a sua humanização, fazendo-os recapitular o processo evolutivo por meio de choques de vivências nos diversos reinos anteriores ao humano.49
Assim, são predispostos a reescreverem suas histórias evolutivas e, quando estiverem prontos, receberão de volta esse arsenal de lembranças para avaliá-lo e compará-lo com as impressões desenvolvidas depois da intervenção, podendo se desfazer do passado obscuro em um recomeço para suas libertações.
Uma grande equipa era utilizada para essa tarefa específica com técnicos de diversas áreas, desde os responsáveis directos pela transformação moral destes companheiros até caboclos e índios que auxiliavam na entrada e na segurança desses lugares trevosos como os irmãos recolhidos destes lugares e que, arrependidos de seu passado, trocaram de lado e ajudavam nos resgates, dando verdadeiras ordens de prisão às entidades capturadas de forma inesperada e mais uma falange de guardiões da luz encarregada de colocar as directrizes do mais alto em prática.
Neste grupo, além de muitos outros trabalhadores, contávamos também com nosso amigo Negrão, uma entidade esclarecida que se apresenta na feição de um ex-escravo e vem exercendo o papel de orientação directa a um dos médiuns, em parceria com José de Arimateia50, cooperador ligado à especialidade médica, formando assim um grupo preparado para auxiliar na limpeza do planeta.
Para evitarmos quaisquer expressões de vaidade ou curiosidade vazia, evitaremos falar particularmente dos trabalhadores encarnados, cujo grupo vem crescendo conforme a preparação preestabelecida de nosso plano para a concretização de tarefas desse teor.
Citaremos, a título de aprendizado, o caso de um dos companheiros encarnados que é médium nesse trabalho e que foi recolhido dessas tristes paisagens e se prontificou a auxiliar os companheiros perdidos como ele mesmo foi um dia. Como medianeiro, tinha uma compleição física mais robusta, actuando como verdadeiro guindaste ou elevador que, chegando ao lugar determinado pelo Plano Maior, utiliza-se do próprio perispírito como veículo de captura e transporte envolvendo magneticamente o espírito necessitado, para a retirada e encaminhamento para outro orbe, esvaziando dessa maneira os planos mais inferiores da Terra.
Esse trabalhador, em quase todas as ocasiões que atua, recebe das mãos sábias dos técnicos espirituais a recomposição de seu perispírito como se “ganhasse” outro novinho em folha, mas, mesmo com um corpo astral revigorado, mantêm-se nele as mesmas condições de seus abusos e escolhas pessoais, para que não haja uma protecção irresponsável diante do livre-arbítrio de cada um, como era comum de se dizer entre os orientadores mais directos.
Essas explicações preliminares são necessárias para podermos descrever com mais tranquilidade alguns dos trabalhos realizados por essa equipe, que tem sido um exemplo para outras em crescimento nos centros que abraçaram o compromisso com a limpeza fluídica dos planos inferiores da Terra.

Capítulo 9 - Psiquismo reduzido para evolução mais rápida
Dando continuidade aos nossos trabalhos junto àquele grupo de trabalhadores encarnados, estávamos diante de um quadro muito incomum aos olhos dos estudiosos das religiões espiritualistas, mesmo no círculo de nossos irmãos da Doutrina Espírita. Vínhamos realizar mais um resgate em região escura e, diante de um local que poderíamos chamar de covil, encontramos uma entidade deitada em posição fetal revestida de uma substância viscosa e escura. Era mantida em cativeiro completamente inconsciente, aprisionada por um grupo de espíritos rivais especializados na exploração das energias humanas. Esta entidade era um dos chefes de uma facção adversária que fora capturado e mantido escondido como prisioneiro.
Nossa atenção voltou-se para dois médiuns que actuavam em diferentes posições. Um deles acompanhava os fatos para a narração simultânea do atendimento à equipe encarnada, servindo como doador energético, e o outro, que tinha seus sentidos perceptivos tamponados, foi conduzido para junto daquele irmão aprisionado, imantando-o ao seu próprio campo vibracional para ser resgatado e posteriormente colocado em cúpulas de hibernação para transporte de degredo. Quando acordar, estará preparado para o renascimento no novo planeta ou terá de passar pelo processo de redução do perispírito, a fim de receber choques existenciais reeducadores.
O médium que se encontrava tamponado tinha seu corpo mental amparado por entidades técnicas de nosso plano, que faziam a reestruturação do seu corpo subtil, envolvendo-o com substâncias próprias retiradas dos médiuns sustentadores participantes do trabalho no plano físico, verdadeiras baterias de forças que viabilizam as importantes reestruturações perispirituais do médium. Esse procedimento era necessário em função da perda transitória do perispírito do medianeiro que serviu como revestimento de captura e resgate do sofredor.
Após esse aporte energético, uma explosão de forças iniciou o processo de limpeza dos miasmas pestilenciais que imperava naquela região, criando uma mudança de ares, queimando completamente aqueles elementos e transformando-os em fluidos novos para construção de um ambiente mais saudável.
Observando aqueles quadros, Clarêncio informou-nos:
-Presenciamos uma verdadeira incineração de um ambiente extremamente infeccioso, portador de agentes que provocariam grandes distúrbios patológicos, se entrassem em contacto com os homens ou se fossem deslocados para a esfera física, onde causariam uma série de infecções virais ou bacterianas de difícil tratamento pela Medicina actual. Caso fosse possível a análise desse material astral virulento, os cientistas descobririam a origem de doenças nesses agentes infecciosos e em outros com semelhante constituição.
Essas mentes poderosas são verdadeiros núcleos de influenciação negativa por meio da exploração das mentes humanas em seus pontos vulneráveis que se afinam com esses propósitos. Com esta actuação, acabam se transformando em forças regeneradoras e direccionados dos acontecimentos cármicos, nos quais as pessoas envolvidas por elas resgatam débitos pesados do passado nas expiações ou têm os acontecimentos transformados em testes para a aferição dos valores da fé, redireccionando seus passos rumo ao bem maior.
Muitas vezes, esses espíritos são transferidos de planetas sem terem a menor ideia do que está acontecendo com eles, tentando reconstruir um domínio de trevas. Nessas condições, são apanhados pelas consequências de suas acções, que ressurgem para renová-los por meio de dores e sofrimentos.
Quando não são levados nas condições de um psiquismo reduzido e apagado, passam pelo procedimento de reiniciar a romagem evolutiva numa trajectória de recapitulação do pretérito milenar, em choques vibratórios, mas em condições mais rápidas do que a fieira comum de progresso. Com a base de sustentação da estrutura mental já elaborada em suas experiências adquiridas, eles redireccionam as conquistas como uma recapitulação do aprendizado, porém em campos novos. Introduzem-se por caminhos educativos que os farão mais fortes quando tiverem de rever o plantio do passado que emergirá do seu campo mnemónico, introduzindo-o aos poucos na sua memória actual para colocar em avaliação suas quedas no mal, mostrando que há sempre oportunidades de escolher fazer o bem, tanto para si como para aqueles que atravessarão seu caminho.
De qualquer forma, a Inteligência superior do Universo codificou as linhas do crescimento de todas as criaturas para a vitória espiritual da verdade sobre a ignorância, pela descoberta da essência divina que levará todos nós para uma união eterna de propósitos com essa Fonte de vida sustentada no amor.
Estamos fadados ao progresso que, no fundo, representa o encontro connosco mesmo e que faz com que este encontro se desdobre na mesma qualidade de encontro com o próximo e com Deus.
Calou-se Clarêncio em reverência à Sabedoria, e em silêncio caminhamos para trabalhos de aprendizado que nos aguardavam.

Capítulo 10 - Reeducação dos que fazem justiça com as próprias mãos
Dando continuidade ao resgate, penetramos em um antro das trevas que gerenciava e comandava vários campos de exploração sexual e de drogas com objectivo secundário de sustentar uma indústria de abortos.
As entidades que comandavam estas actividades tentavam punir aqueles que os prejudicaram no passado ou aliciavam vinganças de outros que se colocavam como justiceiros, fazendo com que as vítimas de ontem se transformassem em algozes dos seus agressores. Entidades vingativas os procuravam com o desejo de entrar para o grupo a fim de aumentar suas possibilidades pessoais, integrando-se à falange do mal na prática de crimes que a justiça humana não puniu, mas que não ficariam despercebidos da implacável “justiça” daquele grupo cruel.
A justiça Divina computaria como acção reeducadora e sensibilizadora as responsabilidades quanto às escolhas de fazer justiça com as próprias mãos, criando para si os caminhos de recapitulação que deveriam trilhar com o fim de sentirem na própria pele aquilo que não deveriam causar ao outro, nem mesmo nas condições de revanche, onde o amor e o perdão deveriam surgir para colocá-los na posição sublime de pertencerem às escalas de espíritos nobres que aguardam a todos pelo trabalho de auto-aprimoramento.
Muitos desses núcleos trevosos acreditam agir com autonomia, mas todos eles são vigiados e acompanhados de perto por protectores de hierarquia maior que permitem suas acções inconscientes e as direccionam para atingir funções educativas, transformando-as em material didáctico para o crescimento directo ou indirecto dos envolvidos por elas.
Outros médiuns estão sendo preparados para executar o trabalho de resgate de um número maior desses companheiros perturbados, facilitando a acção dos amigos do Plano Maior, que buscam multiplicar essa tarefa com a da cooperação de vários grupos espíritas que trabalham no mesmo horário, possibilitando uma força-tarefa desdobrada.
No período em que esse núcleo desmantelou-se, muito dos antros que existiam na realidade material eram abandonados ou extintos e, no caso específico dos centros de abortos, os médicos eram descobertos em suas acções ocultas de explorar as irmãs inconscientes que tiram a possibilidade do renascimento pela prática do crime contra seres indefesos, contrariando os propósitos de elevação pelo qual o universo precisa passar.
Muitos dos trabalhos elaborados pelos nossos mentores são acompanhados pelas acções humanas que operam em sintonia e são estimulados por eles a desarticular, por “coincidência”, esses mesmos locais no plano físico, acabando com todos os vestígios da criação perturbadora que aquele grupo sustentava como raiz de uma árvore inútil.
Naquele dia específico, o plano de operação conseguiu resgatar um grande número de irmãos, alguns de forma mais coagida e outros que se entregavam por livre escolha, demonstrando, neste segundo grupo, certa saturação das acções do mal que acabavam por lhes causar mais desarmonia do que satisfação em relação àqueles que perseguiam.
Entre as figuras actuantes, estava a presença respeitada do Apóstolo da Caridade, o nosso amigo Bezerra de Menezes que, neste caso, tinha interesse pessoal por uma das entidades recolhidas, um antigo laço de afecto. Mesmo apresentando o estado de inconsciência muito acentuado, o amoroso benfeitor fazia questão de acolhê-lo nos próprios braços por ora sem se fazer reconhecido, para que, no dia do despertar de sua consciência, estivesse directamente ligado à sua renovação, vendo-o caminhar nos trilhos da redenção cuja amizade superior estabelecida no tempo poderia ser acessada e sustentada.
Conversando directamente com esse amoroso irmão, ele mesmo nos informou:
-Este amigo de coração, em muitas de suas existências, esteve ligado a interesses políticos e de poder. Tivemos a oportunidade de conviver nesses cenários de experiências e ele fez muito por mim e por outras pessoas, por isso tenho por este espírito profunda gratidão.
Noto agora que ele se encontra pronto para iniciar sua escalada evolutiva nas linhas do bem. Embora tenha sido designado a fazer essa subida em outro planeta, farei questão de acompanhá-lo, dentro de minhas possibilidades, nessa trajectória de soerguimento, onde quer que ele se encontre, para vê-lo vencer as próprias imperfeições.
Conversamos mais algum tempo com aquele prestimoso amigo dos trabalhos espirituais vinculados ao Consolador nas terras brasileiras, a quem dedicamos grande carinho e amizade sincera.
Clarêncio e eu nos despedimos daquelas experiências enriquecedoras de resgate para trazer aos homens nossos conhecimentos e mostrar a quantidade de trabalhos organizados pelos amigos da realidade maior, no intuito de promover a limpeza da Terra, levando connosco a certeza de que, em alguns anos, esse planeta estará mais leve e não mais encontraremos, em seu seio profundo, a presença desses espíritos recalcitrantes no mal.