Futuro Espiritual da Terra - André Luiz/Samuel Gomes

Futuro Espiritual da Terra
Samuel Gomes

Pelo espírito André Luiz

Trilogia Regeneração
Futuro espiritual da terra
A decisão: Cristos planetários definem o futuro espiritual da terra
Xeque-mate nas sombras: A vitória da luz

SUMÁRIO
PREFÁCIO
Ciclos de reparação
Apresentação

PRIMEIRA PARTE
Capítulo 1 - Convocação para o novo ciclo do planeta
Capítulo 2 - De volta às lutas redentoras da matéria
Capítulo 3 - Nosso ajuste ao equilíbrio dos outros orbes
Capítulo 4 - Reencarnação – os que vão e os que ficam
Capítulo 5 - Assumindo uma nova identidade
Capítulo 6 - Materialização das colónias espirituais
Capítulo 7 - Regeneração nos primeiros cem anos do milénio
Capítulo 8 - Seja um líder da transformação planetária
Capítulo 9 - O desenvolvimento do lar regenerado
Capítulo 10 - O preparo nas escolas da espiritualidade para as lutas regeneradoras
Capítulo 11 - A mudança dos padrões mentais é fonte de regeneração
Capítulo 12 - Os trabalhos espirituais serão tão importantes quanto os profissionais
Capítulo 13 - A reencarnação sairá do padrão de prova e expiação
Capítulo 14 - A instrução espiritual prevalecerá sobre as outras
Capítulo 15 - Análise das condições do orbe e dos aspectos mentais

SEGUNDA PARTE
Capítulo 1 - A limpeza astral traz espíritos perturbados para o plano físico
Capítulo 2 - Arrependimentos sinceros evitam o exílio
Capítulo 3 - Mudança do padrão vibratório durante a noite
Capítulo 4 - Alterações cirúrgicas nos perispíritos trazem mutações no corpo físico
Capítulo 5 - As comunicações entre os dois planos serão de âmbito colectivo
Capítulo 6 - Resgate nas trevas para exílio planetário
Capítulo 7 - Os exilados de capela, Adão, Eva e a Serpente
Capítulo 8 - Intervenções na memória dos espíritos recalcitrantes
Capítulo 9 - Psiquismo reduzido para evolução mais rápida
Capítulo 10 - Reeducação dos que fazem justiça com as próprias mãos
Capítulo 11 - A solidariedade mundial é padrão da regeneração
Capítulo 12 - Jesus determina o fim das fronteiras idiomáticas
Capítulo 13 - A revolução na estrutura social tem base em cada ser
Capítulo 14 - O evangelho será estudado por todas as ciências humanas
Capítulo 15 - A MATURIDADE PEDE QUE CADA UM SAIBA O QUE QUER
Capítulo 16 - O legado espiritual das raças adâmicas
Capítulo 17 - O que nos convém fazer numa terra espiritualizada
Capítulo 18 - Cristo espera que não nos identifiquemos com o que não somos
Capítulo 19 - Homem ou mulher?
Capítulo 20 - Viver em um planeta não é para satisfações fantasiosas
Capítulo 21 - Reencarnações desperdiçadas
Capítulo 22 - Avanços tecnológicos em mãos inconscientes
Capítulo 23 - Espíritos amadurecidos ligam-se a deus
Capítulo 24 - Arte desperta e desenvolve os sentimentos divinos
Capítulo 25 - Reprogramando jornadas rumo à nova escola
Capítulo 26 - Reencarnação – o perispírito e os dons se ampliarão
Capítulo 27 - A reforma íntima orientada pela educação escolar
Capítulo 28 - Factores determinantes no uso dos recursos e bens no futuro
Capítulo 29 - Acidentes por imprudência já representam a limpeza do orbe
Capítulo 30 - Mudança nos planos espirituais do planeta
Capítulo 31 - A visita de um amado companheiro
Capítulo 32 - Os dramas humanos já são apocalípticos
Capítulo 33 - Mudanças fundamentais na desencarnação
Capítulo 34 - Diminuindo as distâncias na comunicação

Prefácio
Ciclos de reparação
“Cabendo-lhe fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. Não se comporá exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e aptos a secundar o movimento de regeneração.”
A Génese, capítulo 18, item 28

Quem observar o planeta neste turbilhão de acontecimentos terá muita dificuldade em admitir que existam paneamentos, metas e acções da misericórdia celeste perante tanta desordem e interesse pessoal. Entretanto, em meio a inumeráveis calamidades sociais, nasce um ciclo no qual o estabelecimento de uma nova ordem de cultura e conduta serão os alicerces da humanidade futura.
Nenhum fato, nenhum plano sórdido de terrorismo ou violência, nenhum episódio sombrio da corrupção passam despercebidos dos olhares do Mais Alto. Mapas completos, com nomes, endereços, genealogias e fichas reencarnatórias dos mais temidos líderes das sombras, reencarnados ou desencarnados, estão sobre a mesa dos espíritos superiores que cuidam dos destinos desta casa planetária. Uma jurisdição astral das mais importantes para o futuro das nações já está constituída.
A Terra deixa de ser um planeta prisão e a prioridade dos servidores que a acompanham com cuidado e amor, atenção e discernimento, é constatar o que pode ser feito com a ajuda da acção humana para instaurar o bem.
Nos planos do Senhor, os ciclos de depuração estão entrando em fase final, e iniciamos com intensidade os ciclos da reparação.
Reparar é recompor a proposta de origem, resgatar a abundância da riqueza espiritual que se encontra gestada no planeta.
Os ciclos de restauração da proposta Divina incluem o serviço árduo e definitivo de implantar novos conhecimentos e alinhar conquistas morais renovadoras, para que as nações compreendam, sob a luz da fraternidade, o glorioso destino que está traçado ao orbe terreno.
Para que essa obra se consolide, o benfeitor André Luiz descortina diversos caminhos que, no futuro, serão os alicerces dos tempos inovadores. Uma geração nova com mais alma e bondade, compreensão humana e alteridade, se apronta e já começa a ingressar em todas as latitudes dos continentes, objectivando a fixação dos caracteres raciais que vão secundar o movimento de regeneração.
A esperança e a noção do direito com amor e perdão serão os principais fluxos de energia emanados por essas almas benditas, que carregam para as sociedades a bandeira da pacificação e do desprendimento, da ética e da rectidão de propósitos.
Os ciclos reparadores são o prenúncio mais concreto de que se tem notícia nos planos astrais para, de fato, um tempo novo se efectivar na nossa casa abençoada sob o cuidado amoroso de Jesus.
Agradecemos a André Luiz pelos seus esforços continuados na expansão da luz e abençoamos o médium Samuel Gomes que faz parte da geração dos depuradores, batendo a enxada afiada nos campos rudes da espiritualização para plantar as sementes viçosas do esclarecimento e da fé. Ambos tiveram em Nosso Lar a bênção de Clarêncio e de Isabel de Aragão para servirem como operários destemidos, aplainando os caminhos daqueles que vão chegar para reparar o planeta e edificar a obra do bem no coração de todos.
Eu, Maria Modesto Cravo, amante do bem e servidora do Cristo, os abençoo com muita paz!1

Apresentação
Na tentativa de esclarecer nossos irmãos encarnados que buscam as orientações dos amigos que já se encontram além da existência material é que volto a escrever, informando sobre a acção dos incansáveis trabalhadores do mundo maior que auxiliam àqueles que estão abertos a essa dádiva divina em favor de suas mentes sedentas de verdades superiores.
Procuro atender também aos pedidos silenciosos de muitos que, acostumados com as instruções educadoras que efectivei, junto ao nosso irmão Chico Xavier, aguardam alguns apontamentos relativos ao processo de regeneração pelo qual a Terra vem passando.
Tenho a oportunidade de trazer a orientação desses amigos, mostrando o esforço dos que atuam anonimamente junto à mente dos homens com o propósito único de auxiliá-los a passar por esse período de transição de uma forma segura e tranquila.
A narrativa se passa na década de setenta e, desde aquela época, muitas coisas mudaram. A primeira parte foi baseada em minhas lembranças relacionadas à oportunidade de acompanhar um amigo do coração em seu retorno ao corpo físico. A segunda parte foi escrita como reflexo do actual momento do planeta, principalmente em nosso Brasil – o coração do mundo e a pátria do Evangelho - que tem suas responsabilidades próprias no concerto geral para a edificação dessa nova era. Não indicamos as datas corretas desses acontecimentos, já que, por bom senso e discrição, precisamos preservar esses companheiros, em sua maioria ainda encarnados, evitando especulações e estímulos da vaidade junto aos irmãos que trabalham anonimamente para cumprirem as tarefas a eles destinadas.
Quando me propus a escrever este livro, procurei por um mediador que tivesse certa sintonia com nossos trabalhos pessoais e, dentre os companheiros preparados por nossa colónia espiritual, tivesse assumido os compromissos acordados com os que lhe programaram a reencarnação. Por meio das tarefas e de outras actividades decorrentes de deveres criados por ele no passado, seguia na actual existência cumprindo os projectos de sua recuperação interior.
Tenho acompanhado e participado periodicamente das tarefas de psicografia desse amigo para me sintonizar com suas condições de trabalho. Alguns companheiros do lado de cá também se utilizam de seus esforços no bem e dos conhecimentos que oferece e são envolvidos por suas palestras e estudos que coordena na divulgação da Doutrina Espírita, reparando as acções do passado quando desvirtuou muitas almas da direcção maior, conduzindo-as ao despenhadeiro dos erros e dos sofrimentos.
Que, com seus propósitos de soerguimento, possamos cumprir nossa parceria na reeducação do espírito pela dedicação aos trabalhos que a espiritualidade maior nos oferece, para darmos juntos alguns passos em direcção à libertação que todos nós almejamos. O sol inovador nasce nos horizontes obscuros do planeta, tanto quanto a luz imorredoura da realidade espiritual desperta na intimidade do homem saturado pelas loucuras do ontem, recolhidas nas dores de hoje e que representam o material vivo das transformações que se operam sobre o quisto das imperfeições para o restabelecimento de sua frágil saúde.
Que as bênçãos de nossos orientadores cheguem a tocar alguns corações para que venham a cooperar, por sua vez, com as transformações desta hora e que, no amanhã, sob a luz clareadora da Verdade, venhamos a cantar “Hosanas ao Senhor” e traduzir nossa gratidão por tudo o que temos recebido e, por meio do nosso esforço, operar em prol da harmonia e da paz, clima perfeito da Terra renovada.
E, nessa harmonia e beleza, deixo meu carinhoso abraço e agradeço por mais essa oportunidade de escrever aos amigos da Terra.

Muita paz!

André Luiz
Belo Horizonte, junho de 2015.

PRIMEIRA PARTE

Capítulo 1 - Convocação para o novo ciclo do planeta
A assembleia de ouvintes era um dos cenários bucólicos e resplandecentes criados sob a orientação de Veneranda para ser núcleo de aprendizado e educação dos trabalhadores que ansiavam retornar ao plano material. Buscavam sua reabilitação e queriam também cooperar com Jesus na transformação do orbe em uma morada renovada.
Dando início aos trabalhos, o mentor, Albério, proferiu em tom firme e profundo:
-O nascimento de uma consciência renovada está sendo implementada em todos os espíritos que estagiam na Terra sob o amparo do Cristo.
O planeta precisa fechar as portas para a inferioridade que ainda influencia a vida humana, pois muitos se encontram distraídos para a realidade imortal que lhes aguarda além-túmulo.
Entidades experientes e esclarecidas nasceram e continuam a nascer em todos os continentes para lançar as sementes do despertar espiritual da humanidade, e também para fazer com que os homens busquem, com mais intensidade, a origem divina que permanece adormecida dentro deles.
A Doutrina Espírita vem cumprindo a sua missão de abrir as portas da espiritualidade aos espíritos já amadurecidos por experiências científicas e racionais. Estas conquistas representam os recursos de preparação da mente que, ao receber os esclarecimentos trazidos pelo Espírito de Verdade, transformará o orbe numa morada elevada que entrará de vez no rol de mundos redimidos.
Após uma breve pausa na fala, para que a mensagem ecoasse nos ouvintes atentos e sedentos pelas informações esclarecedoras, continuou:
-Cada um de nós precisa comprometer-se com o trabalho de edificação espiritual a fim de desenvolver qualidades que carregamos para a mutação dos cérebros físicos, uma vez que, ao despertar nosso potencial, provocamos alterações em nosso perispírito e corpo físico. Aumentaremos, assim, o percentual de uso da mente, aparelhagem delicada e eficiente projectada pelos técnicos da evolução para a manifestação do espírito e de suas qualidades de inteligência, capaz de criar e transformar o mundo à nossa volta.
O que não farão os futuros homens, com os recursos mentais bem mais dilatados, em favor da vida colectiva?
Novas disposições, capacidades adquiridas, fenómenos extraordinários e menor necessidade de exigências biológicas mudarão as condições da vida humana, anulando todas as características que contenham vestígios de animalidade. Isto acontecerá tanto em nível emocional quanto físico, pois serão modificadas as necessidades alimentares, os interesses sexuais, as atitudes de violência nas conquistas exteriores e as posturas nas relações afectivas que reflectirão os sentimentos da abnegação e da doação pura, nos quais a caridade será a principal característica no trato entre as pessoas e nas actividades do quotidiano.
As paisagens de dor e mendicância desaparecerão das ruas e praças, e as instituições educativas farão com que a dignidade humana espiritualizada, que existe hoje nas colónias e cidades espirituais superiores, seja reflectida na Terra, influenciando directamente a existência material.
Albério calou-se novamente, ante a expectativa de todos.
Observei atento o efeito daquelas palavras nos que estavam próximos e pude notar neles a aura de alegria e o anseio de aprender que também existiam dentro de mim.
O orador da noite esclareceu outras notas de necessidades renovadoras aos homens e a todos nós, trabalhadores empenhados com o programa de regeneração do orbe, como estímulo enobrecedor para nossos serviços.
Lísias, que me acompanhava nessa palestra, sorriu para mim e disse quase sussurrando:
-André, preste atenção na reflexão que Albério trará a todos no final da palestra.
E, com a voz comovida, Albério arrematou o encontro:
-Um novo ciclo de valores envolve o planeta e não somos apenas os observadores dessa transição, mas as mãos do Cristo para a realização dessa obra que nasce de Seu coração amoroso em direcção a todos nós.
Aceitamos o desafio de transformar nossas existências em exemplos de dedicação e empenho, a fim de que a mudança efective para sempre os verdadeiros valores estabelecidos pelos propósitos do Mestre.

Desde o princípio da formação do orbe Ele vem concretizando suas determinações, deixando claro que a liberdade de escolha dos homens deve sintonizar com o Seu objectivo de fixar o amor como força de sustentação de todos. Sentir-nos-emos como verdadeiros irmãos, e a fraternidade será a expressão do planeta renovado.
Seus ensinos evangélicos já não serão encontrados em livros e sim na manifestação natural dos seres encarnados, pois nos transformaremos no Evangelho vivo, trazendo Sua divindade como essência do nosso ser a espalhar-se para todos os recantos do globo.
Benditos todos vocês que escolheram nascer neste momento de exemplificação e testemunho, aproveitando a abençoada oportunidade de edificar o reino dos céus prometido por Jesus.
Oxalá em vossos corações! E que a coragem e a firmeza da fé sejam os pilares de vossas emoções nessa intenção de trabalho em que Ele, o mestre da manjedoura, vem influenciando nossas escolhas para o trabalho pela regeneração do orbe.
Paz a todos vocês, é o que desejo!
Olhei para Lísias e vi duas lágrimas descendo em seu rosto. Também fui tomado de grande emoção, ao lado desse irmão espiritual com quem tive uma afinidade imediata, desde minhas primeiras atitudes conscientes após ser trazido das regiões umbralinas. Lá estagiei por necessidade de limpeza dos miasmas pesados acumulados em função das distorções sobre a realidade e sobre Deus.
Lembrei-me dos momentos em que sua mãe, dona Laura, também se preparava para reencarnar2, e desta vez era ele que se encontrava próximo de retornar3 e se juntar ao seu coração maternal, cumprindo a missão que muitos companheiros abnegados de Nosso Lar estavam realizando nesses dias para imprimirem os trabalhos de base da nova condição da Terra, passando do mundo de provas e expiações para um mundo de regeneração.
Queria muito ir também, mas Clarêncio me informou de que iria precisar de mim novamente, para transmitir informações sobre as acções espirituais nesses momentos de transformações planetárias, e que meu momento não tardaria.
Lançando-me um olhar amoroso, Lísias disse:
-Vamos, André! As lições foram proveitosas aos nossos corações e serviram de estímulo para não termos medo das programações reservadas às reencarnações em massa, advindas de todas as colónias espirituais. Nosso objectivo é auxiliar nas transformações que já chegam a seu ápice, na intenção de que esta manhã, que nasce agora para os homens, imprima para sempre suas qualidades nobres, em que nem a sombra nem as trevas terão vez.
Em seguida, fomos para a casa de Lísias participar de uma reunião de despedida.

Capítulo 2 - De volta às lutas redentoras da matéria
Ao chegarmos à casa de Lísias, um grupo de mais ou menos trinta pessoas já aguardava a sua chegada. Lá estavam também uma de suas irmãs, Teresa4, já que a outra se encontrava encarnada, sua sobrinha Eloísa5 e sua companheira de jornada Lascínia, que num futuro próximo também voltaria às lides materiais para encontrá-lo, cumprindo os compromissos estabelecidos no campo matrimonial em função do programa preestabelecido pelos Ministérios do Esclarecimento e da Comunicação.
A alegria estava estampada na fisionomia de todos os presentes, que nos acolhiam com carinho e consideração.
Após os cumprimentos afectivos, Clarêncio, no centro dos trabalhos da noite, convidou-nos para sentar em torno de uma grande mesa com uma câmara cristalina ligada a ténues fios. O aparelho possibilitava que entidades amigas se manifestassem, fossem elas encarnadas e previamente preparadas, como no caso de hoje, ou desencarnadas e vivendo em outros planos espirituais. O objectivo da presença dessas entidades era trazer mensagens de consolo ou estímulo às tarefas edificantes realizadas por companheiros de nossa colónia e aos trabalhos preparatórios de reencarnação.
Quando o relógio marcou uma hora da madrugada, surgiu a imagem de uma senhora que já conhecíamos, em subtil forma gasosa. Era Laura, em sua nova forma física, que nos saudou calorosamente, com o semblante emocionado:
-Que a paz esteja com todos vocês!
E olhando directamente para Lísias, disse carinhosamente:
-Meu filho do coração! É chegado o momento tão esperado de estarmos juntos para as tarefas que planeamos realizar no plano físico. Estas já estão sendo colocadas em prática pela nossa família espiritual, mas, devido a compromissos do passado, perdemos valiosas oportunidades de dar exemplos de fé e coragem em nome do nosso Mestre do coração.
Parou alguns instantes, para organizar os pensamentos, e continuou:
-Será uma alegria muito grande recebê-lo novamente na condição de filho para podermos dar nossa contribuição aos trabalhos espirituais a nós designados.
As perspectivas são bem grandes, principalmente com o apoio que temos recebido de nossos amigos do Nosso Lar, além do esclarecimento que a Doutrina Espírita nos dá por meio de sua clara orientação. Que não nos desvirtuemos dos propósitos estabelecidos pela colónia quanto às tarefas que precisamos executar!
Nosso compromisso é com a proposta de sedimentar os campos espirituais da Terra, tarefa já realizada hoje por muitos companheiros nossos, espíritos preparados pelos institutos astrais com a missão de estabelecer a nossa contribuição na transformação do mundo, pelo exemplo e pela dedicação às tarefas.
Conto com seu abnegado carinho e o de todos vocês para obtermos nossa vitória sobre as disposições inferiores que ainda carregamos, rogando aos céus que nossas actividades se ajustem aos objectivos organizados por Jesus para o benefício deste planeta.
Agradeço o carinho de todos e desde já me sinto feliz com a aproximação de sua presença na esfera material.
Dando um sinal de que iria terminar a visita, olhou para todos nós com agradecimento, em especial para Lascínia que iria renascer futuramente, dedicando-lhe palavras de carinho e afecto em relação ao trabalho que o grupo familiar deveria realizar em época vindoura.
Finda a manifestação, todos estavam felizes por partilhar esses momentos de fraternidade.
Lísias aproximou-se de mim e disse:
- André, fico feliz por estar aqui connosco, já que o considero um irmão do coração. Espero que você possa dar prosseguimento na tarefa para a qual foi convidado pelos nossos orientadores, que é a de esclarecer um pouco mais os encarnados, mostrando-lhes o quanto as instituições espirituais como as nossas, nesse período de mudanças, têm para contribuir de forma directa com o crescimento do planeta rumo à paz definitiva.
Espero que em suas viagens à superfície da crosta você possa nos visitar, trazendo suas vibrações para aliviar a saudade em nossos corações.
Comovido, escutei aquelas palavras de carinho e respondi com um abraço amigo e reconfortante:
-Não se preocupe. Sempre que puder estarei com vocês, pois me sinto ligado a todos por meio de nossas trajectórias evolutivas. Nossos laços afectivos são de muito tempo e não quero jamais perder de vista essa amizade que guardo em meu coração.
Despedi-me dos companheiros e, quando já estava de saída, Clarêncio pediu que eu me preparasse para ir com ele e mais um grupo de amigos levar Lísias à superfície da crosta para a sua preparação reencarnatória e aproximação do seu futuro lar. Disse já ter requerido o afastamento temporário dos meus trabalhos e que, na madrugada do dia seguinte, partiríamos para a tarefa.
Agradeci-lhe a dedicação amiga e orientadora. Quando me entreguei ao descanso abençoado, tive a impressão de ser arrebatado em direcção às estrelas pelas janelas do sono.

Capítulo 3 - Nosso ajuste ao equilíbrio dos outros orbes
Como me informou Clarêncio, na madrugada do dia seguinte, um grupo de vinte companheiros deslocou-se em direcção à crosta para dar início ao projecto da reencarnação de Lísias, traçado pelos engenheiros geneticistas, e também para auxiliar em algumas tarefas específicas. Estávamos acostumados a realizar essas tarefas junto a instituições variadas, principalmente as de carácter espírita, e esse auxílio consistia em oferecer socorro a encarnados que apareciam constantemente, em carácter de emergência, para melhorar suas condições, a fim de que a encarnação actual não ficasse comprometida em sua continuidade.
Lísias parecia-me mais concentrado e reservado, o que diferia de suas características naturais, o que é muito natural àqueles companheiros que se aproximam do processo reencarnatório. Eram os primeiros passos em direcção às trocas fluídico-energéticas mais intensas com o psiquismo da futura mãe.
Aproximamo-nos de uma das grandes metrópoles brasileiras. À distância em que nos encontrávamos, o lugar parecia um palco iluminado, dando a impressão de ser uma cidade-luz.
A obra feita pelas mãos humanas mostrava o quanto a intelectualidade do ser pode fazer em benefício da existência quando é direccionada para fins elevados.
Nesse momento, Clarêncio tirou-me dessas reflexões e falou carinhosamente:
-André, eu percebo suas considerações. Quando as criaturas humanas forem inspiradas pelas verdades eternas de Deus, atingirão o ápice de suas possibilidades e resolverão todas as dificuldades que até agora têm sido motivo de preocupações. Aí, finalmente, encontrarão o equilíbrio.
Parou alguns momentos para organizar os pensamentos e depois continuou:
-Quando os seres humanos tomarem posse da sua herança divina, todas as dificuldades desaparecerão como por encanto e suas acções criarão infinitas possibilidades para o seu bem-estar e o de todas as pessoas à sua volta.
Para que isso aconteça, é lógico que algumas barreiras devem ser vencidas como, por exemplo, a abertura para trocas espontâneas e verdadeiras entre as nações e a percepção do papel especial e da responsabilidade de cada uma delas, a fim de que a harmonia geral aconteça de fato e o monstro do egoísmo seja extinto no orbe.
Assim como o Brasil é o coração do mundo, abrindo espaço para os sentimentos de fraternidade se fixarem na Terra, outras pátrias têm funções diferentes que precisam sair do patamar de exclusividade e de angariar benefícios nacionais em direcção a todos os outros povos, que na verdade representam um corpo só e precisam do auxílio de todos os órgãos e países para recuperar a saúde.
As informações de Clarêncio instigavam-me os pensamentos sobre a transição planetária e seus valores dentro da regeneração, tema tão discutido nesses dias atuais.
Clarêncio continuou:
-Você entendeu bem o tema e o objectivo da nossa simples conversa? Na regeneração, o próprio Mestre é o orientador maior dos objectivos elevados que o globo tem no contexto do sistema solar do qual Ele faz parte. A Terra precisa se ajustar ao equilíbrio dos outros orbes que já se encontram harmonizados ao bem e que esperam há tempos que ela venha fazer parte do concerto de movimentos harmónicos do sistema e receba de outros mundos o auxílio necessário para sua estruturação e reconstrução.
-Isso quer dizer – perguntei admirado – que teremos contactos interplanetários com os homens de outros orbes do Sistema Solar?
-Como não, André! O Universo é sustentado por uma união entre tudo e todos, e só a maneira de pensar dos seres encarnados em nossa morada educadora se expressam em aspectos de individualismo e separação.
Notei que o tema exigiria uma reflexão mais aprofundada sobre a percepção que a maioria das criaturas humanas tem de si mesmas, do mundo e da estruturação do seu jeito específico de viver.
-Você pensa correctamente, meu caro amigo. É exactamente na maneira de perceber a si mesmo que o homem se identifica com sua forma física, percepção esta que se baseia nas janelas dos seus cinco sentidos e direcciona sua felicidade para as satisfações passageiras da carne, distorcendo sua real origem e natureza. Estamos no momento exacto de romper com esses comportamentos corrompidos.

Quando analisamos mais detidamente o nascimento de Jesus, narrado no Evangelho de Mateus, notamos que a união de vários aspectos do campo mental humano foi importante para a alternância da compreensão de si mesmo. Nas anotações do evangelista, vemos em Maria a sublimação dos sentimentos saturados pelas dores e decepções do egoísmo familiar e consanguíneo, redireccionando o afecto para sentimentos universais e derrubando definitivamente as distorções que criam exclusividade nos relacionamentos.
Em José, pai de Jesus, notamos o trabalho de aperfeiçoamento da razão sendo fecundada pelos princípios da justiça, favorecendo a igualdade tanto de direitos como de deveres, a fim de que as responsabilidades sejam harmonizadas nos compromissos estabelecidos por cada um, no trato com os semelhantes. E o ingrediente que faltava na formação de uma mentalidade renovada é a “noção espiritual de si mesmo”, simbolizada pela descida do Espírito Santo sobre Maria6, introduzida nesse encontro entre o sentimento elevado e a razão purificada, ampliando a visão dos seres para além das realidades transitórias de sua forma e nome e lançando-os a uma viagem interior na qual encontrariam o poder de solução de todos os seus desafios de crescimento.
A conversa estava ficando cada vez mais intrigante e curiosa, mas procuramos concentrar nossos esforços para o trabalho a fazer, já que nos aproximávamos das grandes vias de acesso à cidade.
Clarêncio silenciou por instantes, e falou:
-Continuaremos depois nossa conversa a respeito das transmutações necessárias para a existência humana, e não nos esqueçamos de que o melhor aprendizado se faz junto à acção do bem, para que ele não se transforme em apenas informações vazias à intelectualidade inactiva.
Fomos em direcção à futura residência de Lísias para iniciarmos os preparativos de seu retorno ao corpo, marcado para dali a alguns dias, quando as condições necessárias surgissem. Não se tratava de uma encarnação comum e sim do renascimento de um espírito que, por merecimento, receberia auxílio directo em seu projecto para futuras iniciativas de conquistas espirituais.
Paramos diante de um moderno prédio cujas características representam muito bem o desenvolvimento da Engenharia, tanto na parte técnica quanto no estilo de edificação.
Foi com muita emoção que, ao entrar naquele lar, reencontramos amigos de nossos corações, encarnados e perfeitamente identificados com a proposta de vida focada nos interesses das experiências humanas.

Capítulo 4 - Reencarnação – os que vão e os que ficam
Instalado no futuro lar de Lísias, nossa equipe montou um laboratório espiritual que seria monitorado por outros amigos de Nosso Lar já presentes na casa para actuar em parceria com aquela família nas actividades assumidas, ou seja, estabelecer na Terra a verdade proposta pelo Espiritismo.
Ficaríamos ali até que toda a primeira parte do ajustamento reencarnatório fosse efectivada. Depois disso, nossa participação não seria mais necessária.
Apesar de já ter cooperado pessoalmente várias vezes em trabalhos dessa natureza, Clarêncio esclareceu-me que, à medida que a ciência médica avança, esta vem realizando cada vez mais intervenções espirituais que antigamente eram de nossa responsabilidade, no acompanhamento do processo reencarnatório. Hoje essas intervenções são realizadas pelos modernos aparelhos que fazem diagnósticos do desenvolvimento fetal.
Ampliando suas observações, ele acrescentou:
-Os homens têm crescido em obrigações dessa ordem, já que são convocados a assumir natural e paulatinamente a parte que lhes toca no concerto da vida, uma vez que, após as nossas intervenções iniciais, a reencarnação fica submetida a um processo material, pois ela é, quase totalmente, influenciada pela fisiologia da mulher.
Lembramos a fala de Jesus a Nicodemos7 sobre o nascer de novo ser um trabalho de retorno do espírito ao corpo e que, apesar de se tratar de um fenómeno que ainda8 está ligado às responsabilidades do Plano Maior, Ele denominou como “coisa terrestre”. Nem Nicodemos, considerado um sábio em sua época, conhecia os detalhes das leis que regem os mecanismos da reencarnação!
Sabemos do esforço de entidades inferiores para manter na ignorância as mentes humanas. Eles conseguem fazer com que, até mesmo os que estão vinculados aos trabalhos espirituais sofram certa manipulação, mantendo as consciências fechadas com relação às revelações mais profundas da espiritualidade em decorrência dos preconceitos religiosos. Usam para isso reuniões com os principais representantes dos dois planos existenciais e, com interesses mesquinhos e intenções exploradoras, influenciam a mente comum na tentativa de impedir o seu crescimento em direcção à própria liberdade.
Também sabemos que tudo isso ocorre com a supervisão superior, que respeita o livre-arbítrio de cada um. O ser humano, se quisesse, sairia dessa subjugação colectiva e buscaria com maior interesse os valores reais de espiritualidade, como tem acontecido agora nesses tempos de transição.
O que se vê é o desespero desses espíritos inferiores que percebem a perda cada vez maior de suas influências sobre o psiquismo amadurecido dos homens. Eles sabem que Jesus já decretou a limitação de sua presença aqui na Terra, além de os planos inferiores estarem passando por uma rápida limpeza que os amedronta pela incerteza do que acontecerá com eles. Por isso fazem de tudo para tentar, numa última cartada, levar consigo alguns desses companheiros que se encontram encarnados trabalhando na política, na religião, na ciência, nas artes e demais áreas de actuação humana. Como consequência dessa situação, os companheiros perturbados por eles se transformam em instrumentos de aferição para a humanidade. Vale reflectir sobre as palavras do Mestre, quando disse que o escândalo seria necessário, mas ai daqueles por quem o escândalo viria!9
Assim, meu caro André, todos nós estamos fazendo a nossa escolha para determinar quem vai continuar neste mundo rumo à sua recuperação ou estagiar em experiências mais áridas e em regime de expiação em outro planeta que se encontra em fase inicial de desenvolvimento.
-É aí que poderemos entender a questão dos anjos decaídos, tão comentada na Bíblia, bem como nos estudos de Allan Kardec, orientados pelos instrutores na codificação.10
-Isso mesmo, meu filho. A queda dos anjos, assim simbolizada, é a representação do exílio que os seres em evolução se submetem quando não conseguem se ajustar ao bem. Vivem hoje na escola chamada Terra, que actualmente vem passando por esse processo de saneamento, e são convidados a passar para outro planeta, mais inferior. Isso simboliza o paraíso perdido, que lhes proporcionará aprendizados de acordo com suas necessidades de aprimoramento íntimo.
O que ocorre é que esses irmãos não conseguiram acompanhar o processo de crescimento espiritual que outros, mais despertos, realizaram, pelo esforço individual e pelo bom enfrentamento de suas lutas íntimas de transformação, em busca de sua própria origem em direcção ao Pai.

Dessa forma, lembramo-nos do Evangelho na passagem sobre “muitos os chamados e poucos os escolhidos”11, mostrando que um terço dos espíritos mais evoluídos12, esteja nos planos espirituais ou físico, se encontra apto a continuar realizando seu crescimento junto ao planeta, rumo à regeneração.
Outro terço da população do orbe se encontra nas condições mais primitivas e inferiores, tendo sido deslocado para esse mundo que se afina por sintonia com suas condições íntimas.
Mas existe ainda outro terço, no qual se encontra a maioria das criaturas, composto por espíritos vinculados ao umbral espiritual, tanto encarnados quanto desencarnados, que tem ainda alguma possibilidade de ficar na Terra e continuar seu trabalho de aperfeiçoamento ou de serem retirados dela para o “choro e o ranger de dentes”13, mencionado nos ensinos de Jesus.
Clarêncio parou por alguns minutos, a fim de que eu assimilasse os seus esclarecimentos, e acrescentou:
-É claro, André, que a misericórdia divina está tanto aqui como no planeta que acolherá esses companheiros, e ambos têm o objectivo de aperfeiçoar os espíritos para a sua glória imortal.
Nisto está a responsabilidade que cabe a cada um de nós quanto ao que desejamos fazer com a própria vida.
Clarêncio calou-se, sem querer falar mais naquele assunto, pelo menos por enquanto. Estávamos diante da oportunidade de actuar nas circunstâncias que envolviam a reencarnação de Lísias.
Busquei contribuir com aquilo que podia, facilitando a aproximação de nosso amigo reencarnante junto ao ambiente psíquico de Márcia, nome fictício que utilizo aqui para representar nossa irmã Laura, que se propunha novamente a recebê-lo como filho.

Capítulo 5 - Assumindo uma nova identidade
Aguardávamos o momento exacto para entrar no quarto do casal. À maneira de médicos ginecologistas, iríamos introduzir o núcleo energético do perispírito de Lísias, já profundamente adormecido e bastante reduzido em seu tamanho perispiritual, no centro de forças genésicas de Márcia que, naquele momento sagrado, apresentava condições para o processo de fecundação do óvulo pelo espermatozóide, devidamente seleccionado para a produção da célula-ovo.
Buscávamos, assim, facilitar a fecundação com a aproximação do núcleo perispiritual de Lísias, que influenciaria magneticamente todo aquele campo de formação, juntamente com o auxílio energético do chefe da equipe reencarnacionista que actuaria como força preponderante nos agentes psíquicos ou princípios inteligentes, tanto do óvulo como da célula ágil produzida por Sandro, o futuro pai. Esta intervenção iria atingir o centro feminino de reprodução, mas seria dirigida pelas forças superiores da mente do mentor técnico, que escolheria o melhor e mais eficiente espermatozóide identificado com as qualidades genéticas do futuro.
Actuaria também a mente materna que, como um modelo, imanta o campo de formação do corpo e todos os acontecimentos a ele relacionados, repetindo uma linha de automatismo biológico dentro da evolução pela qual o útero materno serve de incubadora para a entrada do ser no mundo material. Ele é o núcleo de materialização, centro de forças muito admirado pelos irmãos mais conscientes e despertos, que fazem dele um altar venerável de respeito e adoração.
Clarêncio organizava tudo e mantinha o trabalho de magnetização junto de Lísias para introduzi-lo no momento exacto ao encontro com o ambiente propício que iria recebê-lo, quando então deixaria tudo ocorrer naturalmente na esfera da execução mecânica dentro da lei dos renascimentos.
Toda a equipe permanecia em concentração absoluta, cada integrante exercendo a sua função. Poderíamos dizer que a actuação do grupo retractava o ambiente de um templo iniciativo, em que a seriedade e o comportamento de profunda fé marcavam suas características, devido ao grau de responsabilidade que um trabalho como aquele exigia.
Eu procurava usar dos meus recursos de energias mentais para auxiliar Clarêncio na tarefa de influência fluídica junto a Lísias, doando o melhor de mim àquele que foi o meu primeiro instrutor das verdades eternas, quando cheguei à colónia que me acolheu com carinho.
“Como o mundo dá voltas!” – pensei comigo – agora era eu quem o auxiliava, preparando sua chegada a outro porto, o da realidade material do mundo físico, envolvido por outras características genéticas, onde receberia outro nome junto às renovadas propostas de existência e se transformaria em uma personalidade diferente.
O esquecimento do passado ocorreria no intuito de tornar a mente, que se desenvolveria a partir dali, um papel em branco para receber experiências educativas, ricas de estímulos vivos, do carinho amoroso de sua mãe, da instrução escolar feita por muitos mestres e da companhia de amigos na construção da personalidade. Esta, independentemente dessas influências e apesar das forças adormecidas do passado, estará aberta a novas experiências, que farão dele um novo homem.
Como o trabalho reencarnacionista faz com que nos libertemos de nossas fixações e apegos! Somos convidados a mudar de forma, nome, profissão, posição social e núcleo familiar. Ora estamos no papel de filhos, ora no papel de pais.
Essa inversão de papéis é importante para quebrar a tendência que carregamos de fazer com que as coisas e os acontecimentos sejam interpretados de um único jeito, mostrando para todos a diversidade do movimento universal.
Deus, em sua Sabedoria, vai nos mostrar o quanto precisamos nos desprender de tudo e de todos, mantendo apenas os sentimentos de ligação uns com os outros, aperfeiçoando nossa forma de amar, até termos por todas as pessoas um sentimento de fraternidade legítima, que é a síntese dessa força nas relações entre os seres em qualquer lugar do espaço sideral que transitoriamente se encontre, até que um dia atinja o topo da evolução e conquiste o direito de ser cidadão do universo, condição essa dos espíritos puros que reflectem o dizer do Mestre a Nicodemos: “[...] mas não sabes de onde vem, nem para onde vai [...]”.14
Este sentimento de desapego, acrescido de um profundo amor por todos e com tudo, é a marca dos seres sublimados que executam as determinações imediatas do Criador para o benefício das criaturas, dentro da eternidade existencial.
Um dia seremos os eleitos pelo Pai, eleição essa nascida das escolhas pessoais reflectindo nosso interesse em crescer e desenvolver o potencial divino em nós, para uma cooperação sem limites, transformando-nos em agentes universais da criação pela qual, numa comunhão indescritível com a mente do Criador, nos colocaremos na posição de engenheiros do cosmo, químicos divinos, geólogos da criação, biólogos da eternidade, matemáticos do infinito, médicos da alma, artífices da vida e tantas outras funções que nos dão condições de fazer a vontade d’Aquele que é a luz do princípio.

Capítulo 6 - Materialização das colónias espirituais
Depois de algumas semanas envolvidos na fixação e na manutenção natural da gestação de Lísias, alguns de nossos amigos, já libertos do compromisso inicial, tinham a permissão de retorno à colónia Nosso Lar, enquanto outros deveriam ficar acompanhando o desenvolvimento fetal para assegurar tranquilidade na formação do corpo. Clarêncio convidou-me então para sairmos e executarmos algumas tarefas sob sua responsabilidade na esfera do plano físico.
Eu não sabia para onde iríamos, mas o acompanhei com satisfação no desejo de poder ser útil.
Encaminhamo-nos para um centro de actividades espirituais que era a base em que se realizavam diversos trabalhos, desde a orientação evangélica às crianças, jovens e adultos, bem como a prática da mediunidade, dos trabalhos assistenciais aos necessitados, dos tratamentos diversos como o passe até os atendimentos especiais dos grupos de estudos mais específicos, sejam doutrinários ou evangélicos. Poderíamos dizer que ali existia o ensaio para a materialização futura dos diversos Ministérios que existem em nossa colónia, constituindo-se como verdadeiras miniaturas destes.
Clarêncio esclareceu-me:
-Os homens trabalham de forma inconsciente para organizar estruturas iguais às das diversas colónias do Plano Maior que os envolvem, e, por nossa vez, ao nos aperfeiçoarmos no tempo, efectivamos as mudanças de nossas instituições espirituais nas características daquelas outras que se encontram em melhores condições que as nossas, seja na forma de funcionamento ou na própria estrutura organizacional. Conforme os encarnados nos materializam, nós também nos materializamos àqueles que estão mais subtis em relação a nós, numa escalada infinita de recursos e crescimento.
em que eles percebam, as instituições religiosas agrupam-se com seus diversos campos de actuação para a formação de verdadeiros núcleos de trabalhos que darão origem à formação de Ministérios. Estes, ao fugir da feição personalística ou egoica que reflecte mais a pessoa que a sua obra, se comprometerão com o trabalho em primeiro lugar, valorizando os efeitos positivos que esses núcleos promoverão na existência dessas pessoas no resgate e regeneração.
É assim que teremos no orbe verdadeiros centros de estudos aprofundados das realidades transcendentes à feição do Ministério do Esclarecimento, ligados aos grandes núcleos científicos que se interessarão pelos estudos da realidade espiritual.
Também encontraremos nos hospitais terrenos a manifestação do Ministério do Auxílio com todas as funções que este tem em nossa colónia nos sectores da recuperação da saúde interior, com departamentos de tratamento de desobsessão, da aplicação fluídica, como também a medicamentosa e de oração em benefício dos doentes em recuperação, realizando a limpeza final das imperfeições em busca da harmonia perfeita.
Os trabalhos de informação e os contactos entre as diversas instituições terrenas, assim como com os núcleos espirituais de trabalho, acontecerão de forma mais natural e espontânea. Será algo comum na sociedade futura, não só com as esferas espirituais próximas da Terra, mas também com planetas vizinhos materializando o Ministério da Comunicação.
Assim também ocorrerá com os outros sectores da actuação humana, materializando no orbe os Ministérios da Elevação e da União Divina.
Somente o Ministério da Regeneração estará fadado a desaparecer, já que, com o tempo, o orbe entrará na busca de uma perfeição mais consciente, realizando a limpeza das esferas inferiores e diminuindo acentuadamente sua existência até que não tenhamos mais planos inferiores, apenas campos de sublimação e crescimento efectivo.
Estava admirado com as orientações a respeito das características do mundo de regeneração no qual o planeta estava se tornando. Era uma bênção estar sob a orientação desse mentor amigo presente desde os primeiros momentos do meu despertar15 e que, aos poucos, me entregou a responsabilidade de caminhar com meus próprios pés, libertando-me das dependências mentais em que eu costumava me manter para continuar na posição de criança espiritual, sem querer caminhar para a minha libertação real.
Foi quando Clarêncio, lendo meus pensamentos, esclareceu:
-Uma das características da personalidade regenerada é a de, à medida que desperta, precisar cada vez menos de orientação externa para buscar a sua iluminação e conseguir desenvolver os valores espirituais depositados por Deus como potencial divino em seu ser. O caminho, a partir de agora, deverá ser para dentro de si mesmo, do mergulho no universo interior pela auto-descoberta do que propriamente uma necessidade de esclarecimentos que venham de fora. A fase do auto-conhecimento acontecerá em todos os quadrantes do planeta.

Clarêncio parou alguns minutos para coordenar as ideias, e continuou:
-O homem terá de caminhar na direcção de sua real natureza: o espírito. Dessa forma, desenvolveremos as condições para que ele predomine sobre a matéria, abrindo caminho para transformar a Terra em um Mundo Ditoso, movimentando-se na concretização de ser divino ou celeste, como esclareceram os mentores da espiritualidade a Kardec16. Para isso, precisamos fazer primeiro a nossa purificação no encontro com essa natureza essencial, que traz potenciais de criação inimagináveis para a inteligência comum dos homens contemporâneos.
Se com essa caminhada interior o homem aumentar a capacidade de uso do seu cérebro, ampliando os limites que apresenta hoje, ultrapassaremos gradualmente esse potencial para muito além, até que despertemos totalmente nossas qualidades espirituais.
O espírito é a força de Deus dentro da vida e é por ele que as coisas acontecem para mudar as perspectivas da matéria, em qualquer lugar em que ela esteja. Todos nós representamos a capacidade de actuação do Pai em todos os lugares, reflectindo a grandeza da Sua magnanimidade e sabedoria. Não queremos dizer com isso que vamos materializar Deus em nós, mas, quando passarmos a fazer a Sua vontade acima das nossas e nos identificarmos com Seus propósitos divinos, que são a essência do próprio Universo, apagaremos todos os traços das personalidades transitórias que já tivemos e criaremos uma comunhão perfeita com Sua vontade superior. No dizer de Jesus, começaríamos a ser um com Ele.17
À medida que falava sobre este tema, Clarêncio começava a iluminar o semblante amigo, como se estivesse envolvido por forças invisíveis que o inspiravam nas colocações. Após alguns instantes, continuou:
-André, meu filho, apesar de os homens ainda não compreenderem a importância de uma mudança profunda em seu comportamento, é com esse propósito que todos nós, amigos e protectores, temos trabalhado. Precisamos que nos ajudem a despertar a necessária mudança dos valores desse planeta e que sintonizem connosco nela. Quanto mais os homens assumirem a real consciência de transformação, mais faremos o trabalho contínuo de parceria que tanto necessitam, e será tão clara e natural essa colaboração mútua que quase não haverá separação entre as duas esferas: a do mundo material e a do mundo incorpóreo. Ambas farão parte de uma só realidade que funcionará perfeitamente, buscando uma finalidade única, que é o aperfeiçoamento de todos. Nesses dias, a humanidade começará a compreender o que significa a legítima fraternidade. Os padrões da existência, em carácter geral, serão influenciados por virtudes como a abnegação, a caridade, o perdão espontâneo pela compreensão do outro, o carinho natural e o respeito a todos, transformando o mundo num verdadeiro paraíso celestial.
Amanhã a Terra não terá as características de hoje, tais como a separação das raças, religiões e interesses colectivos. As doenças desaparecerão aos poucos, o trabalho será harmonioso e satisfatório para todos, não existirá peso algum naquilo que fazemos, pois escolheremos naturalmente o jugo suave e leve18 que nos prometeu Jesus no passado, confirmando o desaparecimento de nossas dores.
Estava tão embevecido com a contemplação desse futuro humano que algumas lágrimas desciam espontaneamente dos meus olhos. Não havia percebido também o subtil e silencioso afastamento de Clarêncio, na intenção de me alimentar da sensação de paz e harmonia que seus esclarecimentos tinham me proporcionado e pudesse aproveitar melhor meu estado de serenidade interior.

Capítulo 7 - Regeneração nos primeiros cem anos do milénio
Voltando a me concentrar na tarefa, procurei por Clarêncio e indaguei sobre o que iríamos fazer ali.
Depois de conversar com um dos responsáveis pelos trabalhos daquela casa de caridade, ele me informou:
-Estamos aqui, aproveitando os trabalhos desse grupo dedicado à divulgação e à vivência da Doutrina Espírita, com a finalidade de tirar lições sobre a transição planetária. Esta experiência nos revelam particularidades dessa mudança no nosso campo interior, entendendo seus efeitos no mundo material.
-Isso quer dizer que essas mudanças ocorrem primeiramente na esfera pessoal para depois atingir o campo exterior do mundo?
-Isso mesmo, meu caro André. É lógico que os responsáveis pelas transformações do orbe fazem a sua parte ao adaptá-lo às condições materiais do amanhã que serão mais subtis do que as de hoje, mas é imperioso convir que é a partir do ser que as coisas devem ocorrer daqui em diante.
O planeta foi organizado pela mente augusta de Jesus, que elaborou as condições materiais para receber um psiquismo em que a matéria predominava sobre o espírito. Dessa forma, o mundo surgiu primeiro para depois abrigar o ser como um berço de desenvolvimento para seus potenciais de inteligência. Como estamos passando por uma fase evolutiva, em que o espírito deve predominar sobre a matéria, isso nos faz concluir que é a partir das mudanças que o ser opera em si mesmo que o campo da matéria será alterado.
É responsabilidade do ser pensante e gerador de fluxos energéticos mostrar-se como verdadeiro centro de vida que passa a actuar na constituição do seu habitat. Se observarmos as criações humanas de hoje, veremos a subtilização do material empregado por eles em tudo que produzem, ou seja, aqueles elementos mais pesados utilizados na construção de tudo vão dando lugar a materiais mais subtis e refinados.
Hoje, porém, quando avaliamos o conteúdo interior da maioria dos seres humanos, vemos a amplitude da acção negativa de suas forças num fluxo contínuo de influência, causando verdadeiras transformações no meio ambiente e no clima. E não falo aqui só do conjunto de condições atmosféricas, mas também do clima mental que, somado ao dos desencarnados, que os seguem na produção de substâncias tóxicas, causam, crescentemente, mudanças na atmosfera, decorrentes do clima colectivo desgovernado, dando condições para a materialização de agentes viróticos e bactericidas do astral que se aperfeiçoam conforme a sagacidade e os interesses maldosos nutridos por eles. São as disposições mórbidas e patológicas a nascerem do grau de inconsciência por não saberem usar todo esse potencial divino para fins nobres e elevados.
Clarêncio parou por alguns instantes, dando-me tempo para assimilar o conteúdo dos ensinamentos, e concluiu:
-Dessa forma, vamos acompanhar alguns amigos e grupos de trabalhos para extrairmos das actividades alguns ensinamentos e aprendizados, mostrando aos homens o quanto precisamos mudar a forma como pensamos e reavaliar quais objectivos queremos manter em nossas existências.
Estamos dentro de uma instituição espírita que representa a presença de Jesus junto a eles, assim como Ele se encontrava na Judeia do passado orientando e auxiliando seus discípulos para os trabalhos que deveriam desenvolver após sua crucificação. A diferença agora é que o Mestre de amor voltou na condição invisível e essencial do conjunto de princípios do Consolador Prometido, convocando o homem que escolhe seguir Seus passos a fazer o mesmo: subtilizar-se e tornar-se oculto na acção prática do amor que é a caridade, na intenção de que Deus apareça silenciosamente através de sua dedicação ao bem.
O amado instrutor aproximou-se de um grupo que iria iniciar uma pesquisa focada nas obras de Kardec e tinha o objectivo de fixá-los como base de entendimento doutrinário, de forma a conduzir os estudos sem uma dependência directa de um expositor ou palestrante, deixando os trabalhos sob a orientação de alguém que o coordenava. Porém, todos os participantes tinham a responsabilidade de fazer a sua parte no aprendizado e desenvolvimento das lições.
Por alguns minutos ficamos observando o grupo que estudava as questões relacionadas à mediunidade e a troca de observações entre eles, e percebemos o interesse com que se entretinham nesta tarefa.
Depois de algum tempo, Clarêncio falou:
-Vemos aqui um grupo que sai da posição comum de simplesmente buscar o saber como ocorre nas reuniões de cunho público e desenvolve uma postura mental diferente daqueles que buscam apenas consolo para seus sofrimentos. Aproveitemos o momento para tirarmos nossas lições.

Se Jesus disse que a quem muito for dado, mais será pedido19, a lição cabe para nossas observações. Esses companheiros buscam se aprofundar no conhecimento elevado abrindo a disposição pessoal para responsabilidades dentro da existência, transformando esses recursos adquiridos em comportamentos e acções junto da sociedade. Tornam-se exemplos vivos para outras pessoas que inconscientemente buscam por alguém que as conduza, como ovelhas perdidas, e procuram por um lugar que lhes dê segurança e lhes seja acolhedor.
Nossos amigos são os trabalhadores da última hora20, apresentados numa das parábolas de Jesus à mente imatura dos homens de Sua época. Esse convite é actual e pede que ajam de forma efectiva por onde passem, seja no próprio lar ou nos lugares onde são chamados a operar conscientemente para que as mudanças necessárias ocorram na sociedade por meio de suas colaborações.
Precisamos compreender que esses trabalhadores foram aqueles mesmos que receberam os primeiros convites da parábola em épocas reencarnatórias do passado, conforme a maturidade que apresentavam e o modo como poderiam actuar nos compromissos assumidos.
Se fixarmos nosso olhar no passado, perceberemos que os convites das primeiras horas estava ligado às conquistas exteriores da existência que já poderiam ser mudadas, ampliando as melhorias sociais com as construções de estradas, dos meios de comunicação, do desenvolvimento de equipamentos, da higiene, dos cuidados urbanos, do desenvolvimento da educação, da implementação da saúde física e mental e dos campos do progresso que buscavam o bem-estar geral.
O convite dos dias atuais, que se refere à última hora, já não tem propostas exteriores, ele está alicerçado na reforma íntima que precisamos fazer para servirmos de referência àqueles que ainda anseiam por uma felicidade superficial na vida.
Observando esses amigos, vamos perceber que a maioria saiu de nossos centros de aperfeiçoamento e aprendizado que você conhece muito bem em nossos educandários, e que agora promovem os primeiros plantios nesse terreno de desenvolvimento. Começam relembrando os ensinamentos recebidos de nossas colónias e instituições para, num segundo momento, desenvolvê-los na intimidade do ser a expandi-los para fora.
Se a própria Doutrina Espírita já vem passando da fase de aquisição do conhecimento para a da aplicação prática dos seus princípios na vida pessoal, precisamos preparar esses companheiros para actuarem, de forma efectiva, na aplicação desses recursos, a fim de que, ao final dos primeiros cem anos do milénio, tenhamos estabelecido na Terra a condição de mundo regenerado.
-Então – perguntei admirado – até os primeiros cem anos após a virada do século 20 teremos a revolução das condições do planeta?
-Sim, André. Os responsáveis pela evolução do planeta, directamente influenciados pelo Cristo, determinaram que são chegados os dias do amadurecimento geral e as condições de existência devem afunilar a partir daí, até que as mentes mais preparadas assumam as rédeas dos acontecimentos sob suas responsabilidades em todas as áreas nas quais foram chamadas a operar.
Assim, depois de uma turbulenta limpeza nos planos inferiores e nos vastos sectores de desenvolvimento humano, nos quais não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada21 de suas construções ilusórias e desvirtuadas, é que a bonança e a activação do alto operarão de forma mais incisiva nas mudanças importantes.
Tudo parecerá perdido, mas só estará para os iludidos que buscam uma felicidade inexistente, até que venham a compreender que a felicidade verdadeira se encontra dentro de cada um.
Observando aquele grupo em seus movimentos de aprendizado mais efectivo, concluiu:
-Esses amigos ainda não têm noção exacta do que fazem e do que se espera deles. Pensam mais no acúmulo do saber que faz com que tenham uma sensação de se encontrarem melhor que a maioria, mas, quando o terreno íntimo deles estiver saturado por essas sementes de vida eterna, serão convocados a transformar esses gérmens em flores e frutos de testemunho vivo, a fim de que seus exemplos floresçam no terreno íntimo daqueles que convivem com eles. Assim, numa cadeia sucessiva de transformação, todos cumprirão a parte que lhes cabe no trabalho de mudanças que, no actual momento, representa o caminho para a efectiva regeneração.
O mentor silenciou suas ponderações e saímos para acompanhar alguns dos integrantes do grupo que buscavam o lar para o descanso, pelas portas abençoadas do sono reparador, depois de um dia de trabalhos e estudos.

Capítulo 8 - Seja um líder da transformação planetária
Clarêncio escolheu o próprio responsável pelo funcionamento do estudo em grupo para acompanhar. Era um homem de seus quarenta e cinco anos, tinha características intelectuais mais desenvolvidas e certo clima íntimo que lhe dava uma autoridade moral em crescimento.
Depois das despedidas do grupo, Carlos pegou o seu carro para retornar ao lar. Clarêncio pediu que eu me concentrasse em sua mente a fim de perceber o material de seus recursos íntimos para análise em nossos estudos. Concentrei-me no seu campo interior, e logo várias imagens, paisagens, pensamentos e pessoas surgiram aos nossos olhos.
Ainda sob a influência dos estudos da noite, Carlos reflectia consigo mesmo: “Como os ensinos doutrinários nos ampliam o entendimento! Nos estudos de hoje sobre a mediunidade, percebemos como as ocorrências neste sector têm se desdobrado para a humanidade e o quanto ainda nos encontramos distantes dos ideais de trabalho elaborados pelos instrutores e Allan Kardec para termos amplas possibilidades de comunicação entre as duas realidades. Quantas orientações poderíamos receber dos amigos que vivem no outro lado da vida? Vejo, porém, o quanto precisamos ainda melhorar para atingir os objectivos esperados e concretizá-los.”.
As ruas estavam bastante movimentadas e barulhentas, com veículos e buzinas que chamavam a atenção de Carlos, fazendo com que ele se desligasse de seus pensamentos para dirigir o carro de forma segura.
Foi quando Clarêncio falou:
-Estamos diante de um dos modelos daqueles que abraçam a responsabilidade de orientar e conduzir as actividades de um estudo e outras tarefas, numa casa na qual alguns respondem por toda a instituição, com várias responsabilidades diante de compromissos que podem beneficiar a existência.
Carlos é um exemplo daquele que aprimorou o saber adquirindo responsabilidades sobre os outros, que, por sua vez, confiam em sua direcção e exemplos. Poderíamos classificá-lo como um apóstolo da actualidade, e aqueles que o acompanham se encontram na condição de discípulos do bem.
Do primeiro, exige-se naturalmente dedicação e comprometimento na condução dos trabalhos, estudo aprofundado, desenvolvido por conta própria e um esforço perseverante, além do comum, para a aplicação das verdades abraçadas, atitudes que fazem com que ele ultrapasse a simples crença adquirida, com a possibilidade de desenvolver os sentimentos de amor junto a todos com quem convive no dia a dia. Poderíamos classificar pessoas assim como verdadeiros líderes de transformação, e é através desses dedicados amigos que os mentores espirituais atuam constantemente para se transformarem em exemplos vivos e espalharem a mensagem do alto com eficácia àqueles que buscam o alívio para suas dores, a consolação orientadora e o esclarecimento elevado que os direccione e incentive.
-Então serão eles espíritos elevados vivendo junto aos homens?
-Não poderemos classificá-los como espíritos elevados, pois eles têm uma missão específica e de envergadura maior, como é o caso de alguns companheiros que influenciam um número muito grande de pessoas como, por exemplo, e especialmente, Chico Xavier, que você conhece tão bem, caracterizado pela personificação da caridade e do amor aos semelhantes. Médiuns como Divaldo Franco, José Raul Teixeira e tantos outros também são verdadeiros divulgadores da palavra e da escrita mediúnica, isto só para termos uma ideia, em se tratando de trabalhadores comprometidos com a Doutrina Espírita na actualidade.
Personalidades como Dalai Lama, Krishinamurti, Deepak Chopra, Sai Baba, entre outros companheiros, estão influenciando as religiões no Oriente e no Ocidente, trazendo reflexões transformadoras para os homens. Lembramo-nos também dos corações amorosos de muitas mulheres como Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce e tantos outros agentes que permanecem anónimos nos noticiários da TV, jornais e revistas. Poderíamos multiplicar ainda mais esse número se adentrássemos nos campos da ciência e da arte, já que todos estes que atuam de forma diferenciada na humanidade são manifestação da vontade do Pai na orientação dos homens.
São poucos os que poderíamos classificar como mensageiros do Alto, mas tomando o exemplo de Carlos como referência, encontramos homens e mulheres que foram preparados pelos planos espirituais para servirem de exemplo aos que principiam a jornada da transformação moral e não podem conviver directamente com os poucos missionários da exemplificação colectiva. Estes encontram nesses corações o estímulo de renovação nos que ainda estão muito próximos de suas próprias necessidades e que, apesar de lutarem bravamente consigo mesmos, já possuem algo a mais para dar.

São companheiros que já sabem se conduzir com certo nível de acertos com seu esforço pessoal direccionado para a conquista da elevação espiritual, e possuem recursos para vencer os desafios que suas missões lhes propõem, bem como os obstáculos de ordem pessoal pelos quais, se bem cumpridos e vencidos, lhes marcarão na encarnação actual a condição de completistas.22
Além disso, candidatam-se como os futuros representantes directos da renovação espiritual da Terra, pois trabalham pela fixação dos valores elevados em si por meio de suas próprias transformações íntimas que o orbe tanto necessita implantar.
Compreenderemos então que esse trabalho não acontecerá em uma única existência, mas contará com um número de encarnações que irão ultrapassar as necessidades de um mundo de provas e expiações, tornando-se um processo em linha recta de crescimento, realizado nos dois planos existenciais.
Silenciou por alguns minutos, e continuou:
-Chegará o dia em que todos nós, que adquirimos tantas experiências neste lado de cá da vida, contribuiremos directamente para que o programa de elevação não seja feito apenas por nossos irmãos de redenção. Encontramo-nos na condição de espíritos em regeneração e estimamos também dar nossa contribuição para essa revolução planetária, em agradecimento a tudo que temos recebido da Misericórdia Divina.
Não será uma felicidade efectivarmos, por meio de nossos esforços, a elevação da Terra à condição de um mundo superior, colocando um tijolinho nesse edifício em construção, proporcionando a essa morada a mudança necessária?
Ao ouvir a pergunta de Clarêncio, sorri, com satisfação e alegria, e respondi entusiasmado:
-Como não?! Seremos muito felizes se isso acontecer.
-Pois é para esse fim que estamos aqui nessa empreitada. Preparando-nos para voltar a esse palco onde tivemos muitas decepções e dores, bem como felicidades e aprendizados, junto a muitos corações que amamos tanto.
Todos nós somos os “Carlos” da vida, e precisamos restituir à Terra tudo o que ela nos deu e continua dando, para que o nosso despertar espiritual aconteça. Partilhamos com nossos amigos encarnados a luta pelo bem, que é o objectivo maior d’Aquele que é o verbo do princípio23. Ele deseja ver esse planeta atingir as finalidades traçadas pela Sua sabedoria e amor, na perfeição adequada que O fará brilhar em direcção ao infinito como moradia de luz e esplendor.
Dos olhos de Clarêncio desciam lágrimas que não ousei questionar, e parecia que sua visão se perdia em paisagens futuras que somente sua mente nobre poderia alcançar.

Capítulo 9 - O desenvolvimento do lar regenerado
Depois de algum tempo, entrávamos na residência de Carlos para aproveitar a lição que seu exemplo poderia oferecer ao tema desta obra, a transição planetária.
Ali estava a representação característica de uma família moderna em seu apartamento de médio porte que dava para um grupo de cinco pessoas viverem bem. Vamos encontrar sua esposa, Ana, nos afazeres domésticos, preparando o jantar depois de também voltar de suas actividades profissionais. O casal tinha dois filhos, João, um menino de oito anos e Clara, uma menina de aproximadamente cinco anos. Enquanto as crianças se entretinham com brinquedos próprios da idade, Carlos foi tomar um banho para repor as energias.
O ambiente era acolhedor, harmónico, com vibrações calmantes e sustentadoras, transmitindo um padrão de paz em todas as dimensões, característico dos ambientes onde se realiza o Culto do Evangelho no Lar.
Observando o ambiente saudável, Clarêncio informou:
-Quando avaliamos a personalidade de alguém, podemos ver suas características nos ambientes em que essa pessoa mora, trabalha e movimenta-se com mais frequência. Você pode observar a qualidade fluídica deste ambiente, a harmonia existente entre os familiares, os objectivos consagrados pela família na boa utilização dos recursos e as reflexões de ordem elevada. Este é o princípio dos padrões familiares do futuro, no qual os objectivos bem delineados e o compromisso com qualidades morais superiores farão com que a existência seja bem aproveitada e útil. Esse núcleo familiar foi projectado com a missão específica de desenvolver essas condições, estabelecidas pelo plano maior. O casal e as crianças são companheiros vindos de nossa colónia, preparados para os trabalhos que agora cumprem com carinho e dedicação.
Ana é uma médium de qualidade e boa evangelizadora infantil que tem se dedicado com muito carinho às tarefas sob sua responsabilidade, como verdadeiro exemplo cristão. De todos da família, a que vem se ajustando com maior dificuldade é Clara, que vem pedir asilo e auxílio, iniciando dessa forma seu reajustamento desde cedo. A possibilidade de Ana abraçar as tarefas ligadas à educação moral de crianças surgiu para o seu coração como oportunidade de atender às necessidades da filha. Para não auxiliar apenas sua pequena, pensou em favorecer também outras crianças com o benefício que daria a ela.
Assim, sob a inspiração das lições de Jesus, e como uma família dedicada ao trabalho educador, abraçaram a tarefa desde que a pequena começou seus primeiros movimentos conscientes, demonstrando, pelos instintos e reacções, uma necessidade de redireccionamento. Eles fazem desse trabalho um real sacerdócio, mostrando seu efeito não só em benefício daqueles que são instruídos pela sua actuação, mas também na aplicação dessas directrizes em sua vida, abraçando os valores que pregam para a própria vida, facilitando a influência sobre as crianças com mais resistência em acolher os abençoados ensinamentos.
No início, a aceitação da filhinha aos trabalhos espirituais era mais difícil, em função da superficialidade no proceder, mas os ensinos vêm, aos poucos, tocando sua alma pelo amor dos pais comprometidos com os serviços de ordem superior. Hoje ela se tornou a assistente nas tarefas de evangelização, que incentivam nela uma pequena tendência para a prática do bem e amor ao seu próximo. Soma-se a isso a influência que a limpeza energética de sua aura tem recebido para transmutar as cargas estagnadas e desarmónicas que estão em seu perispírito e no seu corpo em desenvolvimento.
A família abraçou uma actividade assistencial, uma vez por semana, em que os filhos podem compartilhar do auxílio aos menos favorecidos e são ensinados, desde cedo, a sentirem compaixão pelo sofrimento alheio.
Hoje, as crianças já se sentem bastante familiarizadas com a tarefa que tem sido também uma forma de tocar algumas entidades do passado ligadas a eles por sentimentos de animosidade e cobrança, mas que, com o exemplo e a postura com que se aplicam às obras relacionadas ao bem e à caridade, acabam por tocar as fibras íntimas dos adversários para criar uma predisposição de mudança, diminuindo assim os anseios de vingança.
-São eles pessoas sem maiores problemas? Vivendo em meio a uma sociedade ligada aos padrões das provas e expiações, com tantas perturbações à sua volta, como não são influenciados?
-Mesmo nesse meio perturbado, podemos dizer que existem espíritos em condições de regeneração tanto quanto os habitantes dos planos da espiritualidade maior. Hoje, se existe algum vínculo desses amigos com os campos conturbados à sua volta, é por meio do auxílio a eles, da prática da caridade e da educação com a qual se comprometeram, seja pela evangelização ou pelas tarefas do bem, diminuindo dessa forma o estado de desarmonia que permanecerá por algum tempo ainda no Planeta.

Quando os trabalhadores reencarnam e estão realmente compromissados com as obrigações espirituais para as quais foram preparados na erraticidade, fazendo delas o seu sacerdócio, já se encontram a caminho da libertação. É claro que não estamos falando de movimento religioso aparente ou de mera especulação daqueles que, em sua maioria, buscam essas fontes de sustentação para benefício próprio, sem se comprometerem de forma alguma com o que deveriam fazer para o bem geral. Esses são os que procuram as verdades apenas para receber dádivas em troca.
Olhando os movimentos religiosos da Terra, percebemos que muitos já se comprometem verdadeiramente em implantar seus princípios na própria existência e a expandi-los junto daqueles que lhes acompanham.
Não podemos classificá-los como missionários, na acepção exacta da palavra, mas são seres compromissados com o bem e a verdade e farão a diferença neste cenário em constante mudança. Acendem uma luz em meio às trevas, servindo de farol para orientar as embarcações perdidas no agitado mar da vida, indicando portos seguros de trabalho e equilíbrio.
Clarêncio silenciou um pouco as considerações. Ficamos a olhar os acontecimentos daquela família exemplar que se dedicava ao estabelecimento da paz entre eles e também em favor dos outros.
Todos já estavam sentados à mesa para o jantar. Clara, a mais viva e esperta, perguntou ao pai:
-Papai, você vai sair hoje para fazer palestra?
-Não, minha filha, hoje papai vai ficar em casa com vocês, para podermos brincar. O que você acha?
-Que bom!
-Muito bem, Clara, mas agora é hora de comer – disse a mãe, tentando fazê-la prestar atenção na comida.
Foi quando Joãozinho falou:
-Mas hoje não é dia do nosso culto?
-Não, meu filho, o nosso culto é amanhã, mas fico feliz em ver o quanto você está atento aos nossos momentos de estudo em família – respondeu Carlos, com carinho.
O jantar transcorreu tranquilo, sem nenhuma nota a mencionar, mostrando que, mesmo em um mundo com tanto desequilíbrio, existem pontos de luz, símbolos de ambientes familiares equilibrados.
Observando a cena familiar, Clarêncio voltou a esclarecer:
-Como é importante o compromisso abraçado pelos encarnados em relação às obrigações de ordem espiritual! Essas crianças não têm grande elevação espiritual, mas aceitam responsabilidades pelo ideal de se espiritualizar por meio da doutrina que estudam. Enfrentam as dificuldades comuns, apresentam tropeços aqui ou ali, o que é muito normal para os padrões da Terra, mas que em nada comprometem as suas reencarnações. Influenciados pelos princípios da Doutrina Espírita, aos quais abraçaram por livre-arbítrio e pelos pais que dão o exemplo pela própria conduta cristã, mostram que realmente querem crescer, que é possível obter a vitória sobre as dificuldades e que podem cumprir com os programas assumidos antes de reencarnar.
Muitos poderão dizer que eles não estão passando por provações mais fortes como doenças graves, falta de recursos materiais, dificuldades com preconceitos e outros tantos desafios que dificultam a existência de muitos. Não podemos avaliá-los de forma precipitada, tirando conclusões falsas. No estado em que se encontram, como muitas outras famílias, poderiam se perder por ilusões tão desafiadoras quanto os sofrimentos maiores, tais como a escolha por aproveitar exageradamente de tudo, desligando-se das obrigações e compromissos que envolvem a existência, adoptando as futilidades das aparências sociais, o luxo exagerado, os desperdícios de recursos, os jogos do convencionalismo, as disputas de poder temporário e tantos outros desafios que parecem levar a um modo de viver mais fácil, mas se transformam em dores no amanhã.
Muitos acreditam que humildade é o mesmo que pobreza material ou um estilo de vida simples. Não percebem a riqueza que há em tudo, alimentando a ilusão de que o Universo é pobre e Deus busca seres miseráveis para representar o bem.
Para muitos crentes, a imagem de um Cristo pobre e simples em plena Judeia é padrão de vitória e elevação. Porém, precisamos entender que Jesus escolheu os exemplos da humildade por estar fundamentado em valores espirituais em oposição directa aos anseios de falsa grandeza e das aparências de uma felicidade irreal.
Se olharmos com profundidade, perceberemos que Deus é a inteligência suprema que desenvolve no espírito a capacidade de ser sem precisar se prender às aparências; à habilidade de saber usar as coisas sem depender delas, estando-se pronto para perdê-las quando necessário; à capacidade de agir pelo simples facto de tornar-se útil sem tentar ser respeitado ou lembrado pelo que fez.

Toda riqueza ou grandeza nasce dentro de nós, mostrando a herança que trazemos de nossa origem.
Precisamos modificar nossos conceitos quanto às virtudes para que não venhamos a distorcê-las em suas verdadeiras características. Ser simples não é nos transformarmos em mendigos, mas saber lidar com sabedoria quando na posse das coisas, fazendo delas o que for preciso em benefício próprio e dos outros, em todos os seus potenciais. E, quando atravessarmos os momentos de escassez de recursos, precisamos nos tornar criativos diante do que temos, trabalhando sem nos sentir diminuídos ou carentes, em aspecto nenhum.
É bom saber da transitoriedade de tudo, mas devemos ser capazes de engrandecer todas as possibilidades, sabendo cumprir as determinações do Alto em relação ao que nos acontece. Desta forma, faz-se necessário rever os conceitos em torno desse tema tão importante, para que os valores essenciais emergentes do próprio ser não se transformem em mera especulação da moral vazia que se prende a uma visão externa de elevação e que, no fundo, representa nossa vaidade pessoal para aparentar quem na verdade não somos.
A postura de quem é verdadeiramente rico com o Pai é não depender de nada para sê-lo e :utilizar de tudo para o bem geral.
No mundo de regeneração, as doenças vão desaparecer porque os seres procurarão viver no equilíbrio e na harmonia do agir, pensar e sentir. Não haverá mais pobreza, pois todos buscarão ser sábios no “ter” e no “usar”, tanto quanto saberão distribuir e dividir aquilo que não precisam ter. Não haverá mais ignorância, porque a sabedoria será o anseio de todos, e assim seremos as mãos de Deus operando na transformação do que nos cerca. Os sofrimentos deixarão de existir porque todos promoverão a felicidade geral, assim como buscam a sua própria.
Os encarnados e desencarnados se ajustarão às condições dos irmãos mais elevados, o que reflectirá na harmonia do Universo, espelho vivo da vontade d’Aquele que nos criou.
Em comunhão com Seu amor, actuaremos no despertar das almas adormecidas para essa nova realidade sem a ansiedade perturbadora de querer mudá-las, deixando-as caminhar no ritmo dos próprios passos.
Procuraremos acordá-las para a felicidade que estamos vivendo, mas respeitando suas escolhas, mesmo que, temporariamente, o façam por roteiros obscuros que levam ao sofrimento. Tenhamos a certeza de que todos vencerão, pois este é o destino dos espíritos da Terra como também o de todos os seres deste Universo infinito.
Terminando assim suas reflexões, saímos daquele lar com um sentimento de que no futuro nosso planeta será um mundo regenerado.

Capítulo 10 - O preparo nas escolas da espiritualidade para as lutas regeneradoras
Buscamos acompanhar outra pessoa do grupo de estudos daquela casa de trabalhos espirituais. Desta vez aproximamo-nos de um lar modesto, em que as dificuldades materiais eram visíveis, e encontramos Sérgio, um dos mais jovens trabalhadores que frequentavam as reuniões, buscando forças nas actividades do centro para enfrentar suas lutas pessoais.
Ao entrarmos em seu quarto simples, vimos o material de estudos do curso universitário que frequentava na parte da manhã, além de alguns livros espíritas para suas reflexões, todos guardados no canto de um velho móvel.
Como já era noite, o encontramos adormecido, e seu espírito já não estava presente por se encontrar em desdobramento nos círculos além da matéria.
Volitamos em sua direcção e o vimos confabulando com uma entidade feminina de nosso plano. Clarêncio logo me informou tratar-se de sua mãe que já havia desencarnado e vivia em nossa colónia espiritual.
Fomos percebidos por ela, mas Clarêncio fez um sinal indicando que não nos faríamos visíveis a ele, de forma que poderíamos acompanhar a conversa sem precisar interferir.
Sérgio dirigia-se a ela em tom de angústia:
- Mas, mãe, não sei se conseguirei vencer as dificuldades que estão acontecendo lá em casa sem o apoio do papai que se entrega, cada dia mais, a aventuras ilusórias. Também não posso contar com o Ricardo que só se preocupa com ele mesmo sem dar atenção ao nosso lar que tanto precisa da sua cooperação.
-Não desanime, meu amor, nossas lutas estão apenas começando. Não se deixe levar por esses pensamentos angustiantes que atrapalham mais que auxiliam. Sua trajectória de crescimento e busca por uma consciência tranquila precisa desses desafios para que suas conquistas sejam verdadeiras. Somente com os deveres abraçados e a confiança em Deus poderemos chegar à vitória desejada.
-Mas, têm horas que me sinto tão sozinho! E com a sua falta, as dificuldades pesam ainda mais nesses momentos.
-Filho do meu coração, Deus sabe o que é melhor para todos nós. Se Ele achou melhor essa separação transitória é porque acredita que, tanto para mim como para vocês que lá ficaram, existem possibilidades de vencermos essas dificuldades. Elas nos farão melhores e mais capazes.
Transfira suas necessidades relacionadas à falta da minha presença àquelas mães solitárias e tristes, esquecidas pelos filhos do egoísmo e da indiferença. A doutrina que nos orienta e foi nosso recanto de segurança e trabalho é a fonte de inspiração para o que você precisa fazer. Jesus está constantemente ao nosso lado, principalmente nesses momentos de lutas e aferição de valores morais. Seja forte, filho querido. Procurarei estar ao seu lado sempre que possível.
Ao escutar aquelas palavras de reconforto, o semblante de Sérgio modificou-se e, como se quisesse voltar a ser criança, deitou-se no colo da amada mãezinha e logo adormeceu, sentindo e absorvendo as energias que saíam do coração materno em direcção a seu espírito.
Clarêncio agradeceu a oportunidade de presenciar aqueles momentos de carinho e orientação entre mãe e filho e pediu permissão para levá-lo de volta ao corpo, ao que ela concordou com satisfação. Levando consigo aquele fardo precioso, em estado de sono profundo, Clarêncio aconchegou-o ao corpo, falando sem seguida:
-André, Sérgio é mais um amigo que saiu de Nosso Lar no intuito de resgatar o passado culposo e transformar a existência actual em um grande impulso para sua evolução espiritual e libertação.
Ontem, ele induziu muitos à queda pela capacidade intelectual que possuía, e dentre estes o pai e o irmão são os credores de maior necessidade de resgate. Pediu pelas dificuldades que enfrenta, principalmente diante dos compromissos assumidos com esses espíritos pelas infelizes escolhas que fez. Agora, inicia a sua jornada de soerguimento junto a eles, ajudando-os por meio de exemplos que deve dar e não poderão se limitar a meras palavras de doutrinação vazia, mas a comportamentos retos e aplicação da vontade perseverante no bem. Se Sérgio conseguir subir para níveis mais altos na sua evolução, poderá induzi-los a buscar as mesmas direcções. Sua mãe, nomeada a tutora do auxílio, foi autorizada a recebê-los como filhos nessa oportunidade de lutas, mas só pôde dar essa contribuição, pois voltou para nosso plano há dois anos, em função da frágil saúde. Agora, teve permissão para acompanhar mais de perto o trabalho dessas almas que tem ligações com ela por longas experiências. Por ter créditos adquiridos nos trabalhos de renúncia e doação aos que sofrem, somados a experiências dessa última encarnação, ela granjeou o direito de intervir indirectamente, quando possível, em benefício de todos os envolvidos nessa trama.

Assumindo o papel de anjo da guarda, ela estará mais perto de Sérgio, e poderá auxiliá-lo no cumprimento de sua programação reencarnatória pela vitória sobre si mesmo, abrindo com isso oportunidades para, no futuro, seu pai e irmão fazerem também o mesmo trabalho de renovação a que todos somos chamados um dia.
Sérgio é o exemplo de muitos companheiros que, nesse momento de mudanças, poderão aproveitar as circunstâncias proporcionadas pelas lutas para obter sua espiritualização no serviço de auxílio aos que sofrem e ao estudo nobre aos quais devem se dedicar, pois são recursos para a vitória pessoal, candidatando-se pelo trabalho a permanecer no planeta quando a Terra estiver renovada.
Fez diversos cursos nas escolas de Nosso Lar e traz potencial de inteligência para ser um cooperador nas tarefas de divulgador doutrinário, como expositor espírita. Em momento específico, desenvolverá a inspiração e a intuição, fazendo-se instrumento dócil nas mãos dos companheiros que poderão usá-lo como intermediador das verdades superiores.
Assim como Sérgio, muitos companheiros foram preparados para divulgar as elevadas mensagens espirituais e as transformarem em fertilizante, fortalecendo as almas no enfrentamento das dificuldades. Esta actividade se intensificará à medida que a Terra se aproximar mais intensamente dos dias de transição.
Se Sérgio continuar comprometido, como tem feito até agora, com a assiduidade nos estudos que frequenta naquela casa de caridade e não se sentir abatido pelas lutas a serem enfrentadas, principalmente relacionadas aos desafios materiais, estará, paulatinamente, mais apto ao despertar desses potenciais acumulados nas experiências de nosso plano. As dificuldades materiais são necessárias para sua experiência pessoal e estarão sempre presentes em sua vida, a fim de que não fuja das obrigações que abraçou em sua programação reencarnatória. Ao viver com mais simplicidade, ele enriquecerá não só a si mesmo, mas também as pessoas que, sedentas de orientação superior, vão buscar em suas palavras os valores sagrados.
No futuro, ele encontrará uma companheira de trabalhos espirituais que o ajudará a se sustentar nessa empreitada e, se tudo correr como o planejado, voltará à nossa realidade com créditos para abrir outros horizontes de actuação e desenvolvimento, a fim de produzir as asas que o farão voar além dos campos dolorosos dos resgates expiatórios.
Por alguns momentos, ficamos olhando aquele amigo profundamente adormecido junto ao corpo, quando Clarêncio arrematou:
-Vamos! Amanhã acompanharemos seus passos na intenção de ajudá-lo em alguns detalhes. Procuraremos, contudo, deixar as coisas caminharem conforme as directrizes do Alto em benefício de sua paz.

Capítulo 11 - A mudança dos padrões mentais é fonte de regeneração
No dia imediato, logo pela manhã, quando entramos no lar de Sérgio, o encontramos tomando o seu café, sozinho e entregue a seus pensamentos: “Como será que conseguirei trabalhar hoje? Sinto que estou ficando preocupado com as actividades da faculdade que preciso fazer, mas estou quase sem tempo. É difícil viver assim, tendo que estudar de manhã, trabalhar à tarde e ainda ter minhas obrigações espirituais quase todas as noites. Mas não tem problema, hoje me levantei mais disposto, parece que sonhei com mamãe que dizia estar comigo nesta minha luta.”.
Aniceto aproveitou que ele se abriu para pensamentos positivos e colocou a mão em sua cabeça, sugerindo que fizesse uma leitura edificante para começar aquele dia. Imediatamente, sob o influxo energético do mentor, ele pensou: “Estou precisando de uma leitura inspiradora para começar o meu dia. Quem sabe assim eu possa me sentir melhor!”.
Pegou um livro de mensagens e abriu “por acaso” numa reflexão sobre o mal que o pessimismo, os pensamentos negativos e as emoções perturbadas nos causam, criando uma visão distorcida da existência. Que é necessário mudar a disposição íntima para encarar os fatos em que a irritação e a reclamação são princípios de doenças mentais graves.
Ficou pálido com a mensagem tão clara para seu comportamento naquela manhã e, como em outras vezes, pensou consigo mesmo: “Eu estou apenas começando e já estou assim reclamando, alimentando esse estado negativo e com isso vou acabar atraindo companhias espirituais de baixo padrão. Isso eu não quero para mim. Está decidido! Tive uma ideia! Para começar bem as minhas actividades diárias, vou ler uma página como esta todos as manhãs e meditar sobre seus ensinamentos.”.
Demonstrando uma mudança de atitude, foi pegar seu material escolar e saiu para suas obrigações estudantis. Era interessante perceber que parte de seus raciocínios tinha algum conteúdo recebido pela mãe em sua conversa no nosso plano como se fosse uma intuição.
Foi quando Clarêncio falou:
-Perceba nesse exemplo como muitas pessoas começam o dia. Com um conflito íntimo intenso, no qual os pensamentos e as emoções se atritam constantemente, predispondo a mente a choques perturbadores e causando doenças e influências espirituais obsessivas. Podemos perceber o grau de inconsciência das pessoas sobre esse fenómeno regular da mente, que produz um estado generalizado de desequilíbrio emocional nos homens.
Os orientais estudam o tema com maior profundidade e procuram, com o exercício da meditação, entender melhor o funcionamento da mente. Já os ocidentais, que possuem uma característica mais racional, alimentam-se muito de pensamentos e emoções, e até se entretêm com eles, criando um verdadeiro mundo paralelo em torno de si, com suas fantasias e imaginações. Não percebem esse núcleo contínuo, a nascer de si mesmos, que sustenta as vibrações circundantes e mantém o padrão vibratório do campo mental humano que envolve o planeta.
A Terra possui uma aura energética constituída pelo conjunto de pensamentos e emoções de todos os seus habitantes, sejam eles encarnados ou desencarnados. Mas, conforme a sintonia existente entre os interesses comuns, haverá níveis com uma qualidade vibratória diferente, nos quais encontramos as diversas regiões psíquicas em conformidade com os núcleos que as sustentam.
Os abismos encontram-se em condições fluídicas muito mais densas e conturbadas que os ambientes do Umbral. Estes, por sua vez, diferem das vibrações de Nosso Lar. Você sabe muito bem que nossa colónia precisa manter-se em um clima de harmonia e paz, e cada um deve fazer sua parte para sustentar essa realidade com nossos pensamentos mais nobres, conversações sadias e emoções educadas. Exceptuando os espíritos acolhidos no Ministério da Regeneração e no Ministério do Auxílio, que não compreendem essa necessidade, todos os integrantes dos demais Ministérios já são conscientes quanto à importância desse comportamento. Sabemos que o que pensamos e sentimos afecta directamente a atmosfera ao nosso redor e, para não sustentarmos desequilíbrios e perturbações, precisamos estar vigilantes e operantes.
Esse ato de estudar atentamente a qualidade de nossos pensamentos e emoções, que representam nossa vida mental, é um dos primeiros trabalhos para desvendar os segredos da existência.
A maioria das pessoas ainda espera que este trabalho de descoberta venha de fora e, iludidos, acreditam que as coisas mudarão por essa vertente de acontecimentos. Não vêem que Jesus nos convidou, há mais de dois mil anos, para uma reforma no nosso modo de viver, dizendo-nos que não se chega ao Reino dos Céus pela aparência exterior e, sim, este será construído a partir da nossa própria intimidade. É necessário realizar o autoconhecimento para desvendar a realidade profunda.

As entidades inferiores que procuram apoderar-se da mente dos homens aprenderam a fazer isso estudando minuciosamente seus pensamentos, pesquisando suas tendências, anotando suas palavras nas conversas e com isso acham os pontos fracos pelos quais criam vínculos de exploração iniciando, a partir daí, uma simbiose mental perturbadora.
Da mesma forma, precisamos estar naturalmente atentos para as produções de nossa mente, inventariando todos os pensamentos e emoções, para nos conhecermos de verdade. Jesus disse para vigiarmos esse núcleo, pois é através dele que nos aproximamos da realidade divina, já que Deus é o centro maior da criação.
Assim, é por meio de nosso núcleo mental que criamos e influenciamos o que nos cercam. Conforme o que plasmamos, poderemos afirmar se estamos próximos de Deus ou regidos pela nossa animalidade, que persiste em predominar em nosso mundo íntimo.
Dar vazão à raiva pelos pensamentos, palavras e atitudes é sustentar essa natureza inferior, aumentando seu poder em contraposição aos recursos mais nobres. Dessa forma, quando nossos pensamentos e emoções materializam mágoas, raivas, invejas, desesperos, medos e ciúmes, estamos dando a eles potenciais de crescimento e poder de comando sobre nós para solucionarem os desafios que nos chegam. Porém, com esse fundo perturbado, os desafios acabam se transformando em problemas.
No Apocalipse de João, vamos encontrar uma figura que simboliza este aspecto – o dragão –, que é quando damos asas a nossos pensamentos e acções sustentados por essas energias básicas de sobrevivência animal. Precisamos alterar os recursos utilizados diante dessas ocorrências desafiadoras e accionar, no lugar deles, o bom senso, o diálogo e a razão esclarecida, juntamente com sentimentos de compaixão e amor, os verdadeiros propósitos humanos, dando características diferentes à capacidade de lidar com as situações e pessoas.
Assim, quando o espírito estagia no reino humano, deve encarar os acontecimentos accionando esses recursos positivos, até que possa se aproximar de sua natureza divina, sublimando e desenvolvendo novos recursos e capacidades, fazendo-se intérpretes da vontade do Criador. Esses potenciais só se desenvolverão quando não mais estiverem subjugados pelas forças inconscientes dos seus impulsos e emoções desgovernadas.
O caso de Sérgio é igual ao de todos que ainda não acordaram para essa realidade criadora, esperando encontrar o espírito nas manifestações mediúnicas, nas materializações espirituais, nos fenómenos extraordinários, e esquecem de encontrá-lo em sua intimidade, como núcleo do ser, por meio do estudo íntimo que se expressa no auto-descobrimento. Sem buscar esse caminho interior precisam de um muro de arrimo nas leituras, orações e estudos para disciplinar a mente e caminhar com maior segurança.
Clarêncio silenciou por alguns minutos, favorecendo meu entendimento de tão sublimes ensinamentos para, mais adiante, acrescentar:
-Deixemos nosso amigo com suas obrigações imediatas e esperemos que se habitue a fazer uma leitura edificante para começar o dia, pois isso já será um medicamento poderoso contra a queixa e o azedume, factores básicos da revolta que alimentamos inconscientemente.
Voltemos à residência de Márcia para ver se as coisas estão se desenrolando de forma natural no que diz respeito ao desenvolvimento do corpo físico de Lísias.
Já fizemos nossa parte junto de nosso companheiro e, se ele fizer desse hábito uma tarefa para sua vida, terá muitos ganhos. Por nossa vez, poderemos influenciar outros leitores dessas anotações no sentido de assumirem o mesmo projecto de percepção de si mesmos, com tanta entrega que aprenderão a fazer uma faxina interna sem precisar pensar negativamente. Ao trabalhar seus conflitos, deixam de lançar seus lixos mentais, evitando, assim, prejudicar o próprio ambiente psíquico e o do orbe, deixando de criar zonas de doenças e obsessões que os acompanhariam.
Não foi à toa que Jesus nos disse: “Vós sois a luz do mundo.”24.