LUZ ESPÍRITA
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Página 7 de 7 Anterior  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7

Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 15, 2018 7:42 pm

20 — P. 200 — "Quando Ramalho sugere a criação de uma revista para a América do Sul, Eça toma-se de horror.
Revista para os sul-americanos?
Mas se nem sequer sabem ler!
Viveu entre eles, conhece-os.
'Puras bestas'. São civilizados?
Está claro que não: usam, apenas, e mal, os instrumentos que os outros inventam
— mas 'nunca tiveram uma só ideia sua, nem um feito, nem uma descoberta, nem um folhetim, nem um dito.'"

21 — Pp. 217-218 — "Estes manuscritos [a respeito de três santos] incompletos, esquecidos, de póstuma publicação — os manuscritos das vidas dos santos — permanecerão sempre um mistério dentro da obra de Eça de Queiroz.
Impossível precisar se se trata de um novo exercício literário, se trata de uma nova aventura do espírito através dos caminhos misteriosos da santidade.
Estas páginas dispersas não consumem, no entanto, uma novidade.
Anos antes, numa carta de Angers, Eça fala que acabará, por escrever, apenas, vidas de santos e livros para crianças. [Correspondência, pág. 60].
Dois pólos que sempre o atraíram: as crianças que ele amou e a religião, cujo sentido procurou tantas vezes sem nunca o encontrar definitivamente, — talvez porque só a procurou pelo gosto estético.
E ainda aqui, nestas biografias mutiladas de santos, observa-se que não é o sentimento religioso mas o literário que anima Eça de Queiroz.
Quando muito, o sentimento literário transborda em religiosidade, mas puramente sentimental também.
S. Cristóvão, Santo Onofre e S. Frei Gil — três caminhos diferentes dentro da vida.
Três caminhos diferentes para a santidade.
E cada um deles parte de um ponto distante:
Cristóvão, filho de um lenhador e pobre; Onofre, sai da classe média e plebeia; Gil, rico e nobre.
Visível a preferência do biógrafo por Cristóvão.
Os aspectos mais característicos e mais marcantes de Cristóvão são aqueles que estão mais de acordo com as suas tendências.
Pode-se dizer: Cristóvão simboliza toda a sua acção ideal.
Tudo o que ele desejaria realizar se tivesse o dom da santidade."

22 — Pp. 223-225 — "Cristóvão, ao contrário [de Onofre, que só no deserto se sente em segurança contra o pecado], o que ele procura é a humanidade, porque não sente nela perigo nenhum.
Tem, ao contrário, o poder de transformá-la e elevá-la.
Veja-se o que Cristóvão faz com os Jacques.
Eram, antes, uns bandos famintos, dispostos a todos os excessos e a todas as revoluções.
Apesar disso é o partido deles que Cristóvão toma — o partido dos pobres contra os ricos. Havia nos Jacques um anseio de justiça social a que o santo da caridade não podia ficar indiferente.
Mas a acção de Cristóvão transforma o grupo desordenado criando uma ordem para o legítimo sentimento da revolta.
O que Eça escrevera nos Maias — 'quanta larga e distante influência pode ter, mesmo isolado de tudo, um coração que é justo.'[ Os Maias, vol. II, pág. 35]
Cristóvão agora iria realizar salvando os Jacques do crime pelos movimentos exclusivos do coração e da bondade.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 15, 2018 7:43 pm

E modificando a revolução, Cristóvão não trai os seus fins mas toma-se o seu instrumento mais firme.
Diante do cavaleiro rico e nobre, o gigante ergue a voz, face a face:
— 'Vimos em paz.
Trazemos as mulheres e as crianças.
Nada temos contra ti...
Mas todos os que me seguem têm fome.
Detrás das tuas muralhas, há tesoiros, arcas cheias de pão, grandes peças de carne diante da lareira...
Estes, que vêm comigo, não têm uma moeda de cobre, trabalham toda a vida, sofrem de fome, vêem as criancinhas devorar as raízes, morrem pelos cantos dos bosques como um lobo, e a vida toda para eles é um tormento...
Dá uma esmola da tua abundância a toda esta pobreza que passa.
Se queres, vem, não receies, passa através dessa multidão, olha para esses corpos magros, vê as criancinhas chorando com fome, as velhas tropeçando sob os fardos, toda uma miséria que já não pode sofrer mais...
Tem piedade!' [Ultimas Páginas, págs. 138-139].
Esta atitude de Cristóvão deve parar aqui como uma imagem alegórica.
Uma imagem da atitude que Eça manteve a vida toda — um inalterado protesto de revolta e de piedade em face das misérias da injustiça social.
Um protesto pelos pobres e contra os ricos — é toda a vida de Cristóvão, dentro da santidade, e toda a vida de Eça, dentro do mundo."

23 — Pp. 248-249 — "O seu papel de escritor seria nem ficar ao lado dos fósseis que queriam paralisar a língua nem também dos que quisessem desmontá-la e construí-la cada dia como se fosse um brinquedo de criança.
Decidiu-se, portanto, pela simples reforma.
É verdade que a reforma linguística não estava, propriamente, estabelecida como um programa; foi antes uma consequência da sua arte.
A arte é que era renovadora e chocou-se com o velho instrumento que não tinha amplitude para contê-la.
A reforma nasceu desse desencontro.
Nasceu e desenvolveu-se mas pela língua portuguesa e não contra ela.
Sucedeu que, ao surgir, encontrou Eça uma língua que tinha parado em Herculano e em Camilo e tinha se tomado de pedra em Castilho.
A arte que concebia precisava de um máximo de movimento, de plasticidade, de ductilidade.
Mas diante dele como um impossível fatal estava a língua parada:
a sintaxe apertada em regras invioláveis, as palavras muito sovadas pelo mesmo uso excessivo, os substantivos unidos com os adjectivos sempre da mesma maneira como casais sem filhos.
Eça desmanchou todas essas formais combinações porque tinha, antes de tudo, um grande respeito e um grande senso das palavras:
a virtude número um do escritor.
Nunca procurou uma palavra para uni-la com outra ou porque ficasse bonito ou porque fosse uma praxe: procurou-a sempre para uni-la em harmonia com o seu pensamento."

24 — Pp.261-263 — "Pode-se dizer, com Fidelino de Figueiredo, num ensaio recente, que, em Eça de Queiroz, a arte é estilo.
A perfeição que ele procurou a vida toda, com um sofrimento de desesperado, foi a perfeição pelo estilo.
E nunca julgou que a tivesse atingido, como se a perfeição fosse um exacto ponto de chegada e não um mito ilusório da sua ambição de artista.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 15, 2018 7:43 pm

Uma ilusão de absoluta mobilidade.
Por isso colocava-se diante da sua obra tomado de inquietude e hesitações nos julgamentos e sempre insatisfeito diante delas.
Refere-se a cada um dos seus livros com extremo rigor.
Sobre O Crime do Padre Amaro:
'O Padre Amaro é mais adivinhado que observado." [Correspondência, pág. 60]. Sobre O Primo Basílio:
'Acabei o "Primo Basílio"— urna obra falsa, ridícula, afectada, disforme, piegas e 'papoulosa' — isto é, tendo a propriedade da papoula: — 'sonolificiente' [Cartas a Ramalho, D. Casmurro, ed. 10-9-938]. Sobre Os Maias:
'Eu não estou contente com o romance:
é vago, difuso, fora dos gonzos da realidade, seco, e estando para a bela obra de arte, como o gesso está para o mármore.
Não importa. Tem aqui e além uma página viva — e é uma espécie de exercício, de prática, para eu depois fazer melhor. [Cartas a Ramalho, D. Casmurro, ed. 24-9-939].
Sobre A Relíquia:
'Eu, por mim, salvo o respeito que lhe é devido, não admiro pessoalmente A Relíquia.
A estrutura e composição do livreco são muito defeituosas.
Aquele mundo antigo está ali como um trambolho, e só é antigo por fora, nas exterioridades, nas vestes e nos edifícios.' [Correspondência, pág. 138].
E a respeito de todas elas em conjunto:
'Não sei como é:
dou-lhes a minha vida toda e elas nascem mortas; e quando as vejo diante de mim, pasmo que depois de tão duro esforço, depois de tão ardente, laboriosa insuflação de alma, saia aquela coisa fria, inerte, sem voz, sem palpitação, amortalhada numa capa de cor.' [Notas Contemporâneas, pág. 157].
Imagine-se também o sofrimento desta constatação:
'Nunca hei-de fazer nada como o Pai Goriot e você conhece a melancolia, em tal caso da palavra nunca'!
E voltava-se para Ramalho, como pedindo o apoio e a animação do grande amigo:
'sou uma irremissível besta'. [Cartas a Ramalho, D. Casmurro, ed. 10-9-938].
Tudo, o amor da perfeição como ele mesmo explicou numa carta, das mais curiosas e reveladoras, ao conde de Arnoso.
Aliás, ouso sugerir que a sua luta pela realização de um estilo pessoal e perfeito é mais uma revelação das suas tendências aristocráticas.
Lutava pelo estilo como um nobre pelo seu rei.
O estilo seria também para ele mais uma modalidade de diferenciação."

25 — Pp. 283-293 — "O que Eça pretendeu, com as Farpas e com os romances realistas, foi uma afirmação da vida portuguesa, mostrando a sociedade postiça e artificial que a encobria.
A sua lição, ele a resumiu toda nos três conselhos de Afonso da Maia:
'aos políticos — menos liberalismo e mais carácter; aos homens de letras — menos eloquência e mais ideia; aos cidadãos em geral — menos progresso e mais moral'. [Os Maias, vol. II, pág. 292].
O programa da sua arte está neste trecho de carta que esclarece tudo:
'A minha ambição seria pintar a sociedade portuguesa, tal qual a fez o constitucionalismo de 1830 — e mostrar-lhe, como um espelho, que triste país que eles formam — eles e elas.
É o meu fim nas Cenas da Vida Portuguesa.
É necessário acutilar o mundo oficial, o mundo sentimental, o mundo literário, o mundo agrícola, o mundo supersticioso — e com todo o respeito pelas instituições que são de origem eterna, destruir as falsas interpretações e falsas realizações que lhes dá uma sociedade podre.' [Correspondência, pág. 44].
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 15, 2018 7:43 pm

E, numa outra carta, meio pilhérica, ao conde de Ficalho toma-se ainda mais claro:
'Sempre a França, sempre ela! Sempre os nossos males públicos ou privados, resultante da chocha imitação, da reles tradução, que nós fazemos da França, em tudo, desde as ideias até aos potages!
E a culpa é sua!
[E dos seus amigos os liberais, do Sr. D. Pedro IV, dos homens de 20, e de Fernandes Tomaz!]
Essa gente não compreendeu que este país, para ter prosperidade e saúde, não se devia afastar nunca da verdadeira tradição nacional.' [Correspondência, pág. 71].
Destruir as falsas interpretações e as falsas realizações, com um grande respeito pelas instituições de origem eterna — isto me parece um resumo perfeito de tudo o que há de combativo e ideológico na obra de Eça de Queiroz.
Nesta disposição procurou um ponto de vista à distância e longe de todo part-pris.
As suas ideias políticas não são, por isso, nem muito nítidas nem muito firmes.
Sabe-se muito bem o que ele combatia, o que não queria; mas é com dificuldade que se pode deduzir o que ele aspirava.
Dificuldade muito natural em um artista que fez questão de não ser político.
Já o dissera, ele mesmo, apresentando as Farpas:
'Não sabemos, talvez, onde se deva ir; sabemos, de certo, onde se não deve estar.' [Uma Campanha Alegre, vol. I, pág. 5].
Onde se não devia estar era no constitucionalismo.
O constitucionalismo, tomado não como instituição, mas na forma de que se revestira em Portugal.
Procurava, assim, no fenómeno da decadência, os motivos políticos.
Mas não se ligou a uma instituição ou a uma forma de governo, nem achou relação entre a arte e a política, à maneira de Zola, que queria que a república adoptasse o seu sistema literário e escrevia, ingenuamente:
'La Republique será naturaliste ou elle ne será pas.'
Eça, ao contrário, sempre manteve um inalterado desprezo de todas as actividades políticas e uma fria indiferença às formas de governo.
Um desdém, que aprendera talvez em Proudhon, a todas as instituições transitórias.
Pareceu acreditar que um povo encontra, por si mesmo, o seu equilíbrio social e económico, independente das fórmulas jurídicas.
Como Proudhon, também não acreditava na concepção contratualista de Rousseau, e inclinava-se para uma espécie de organicismo social, espontaneamente constituído e realizado.
Indiferentemente exerceu a sua crítica em face não só dos grandes partidos — o socialista, o democrático, o monárquico — como dos miúdos que se debatiam em Portugal.
Não pertenceu nem se inclinou por nenhum.
Todos, então, se aproveitaram dele e todos o combateram, acusado de revolucionário pelos conservadores, e de reaccionário pelos republicanos.
Mas à sua revelia.
(....) Eça hesitou sempre entre as verdades limitadas, vendo em cada uma delas uma parcela da verdade total que desejava atingir, englobando-as.
Mas as circunstâncias de não ter pertencido a nenhum partido não quer dizer que tenha sido um indiferente à sorte dos homens.
Ao contrário, poucos escritores terão tido preocupações sociais tão ardentes e tão constantes.
Mantinha-as, porém, acima dos grupos políticos e tudo observava de um ponto de vista exclusivamente humano.
Procura, em todos os casos, entre as soluções opostas uma fórmula intermediária ou sugere uma nova, acima das convencionadas.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 15, 2018 7:43 pm

Diante da liberdade e da autoridade, tomadas cada uma propriedade dos partidos irreconciliáveis, sonha com um regime que as possa juntar sem constrangimento.
Um regime que integrasse as suas tendências aristocráticas, sem ser despótico, e suas simpatias pelo povo, sem ser demagógico.
Não encontrava esse equilíbrio, ou melhor, esse ideal de artista, nem no comunismo, nem na república, nem no absolutismo, e a todos combateu e ridicularizou.
Temia deles o que via na base das suas propagandas: a violência.
Este horror à violência é o seu sentimento mais vivo de repulsa — violência do poder público, violência da massa, violência de qualquer natureza.
Democrático não foi porque jamais pôde acreditar no povo, como uma entidade pensante ou deliberativa.
Inclinava-se mais para uma aristocracia, uma espécie de monarquia paternal e popular.
Amava o povo mas como uma criatura que é preciso fazer feliz a despeito dela mesma, que é preciso dirigir sem a consultar.
Era bem um 'demófilo'— na nomenclatura lógica de Vaugeois e que Octávio de Faria pôs em circulação no Brasil. [Octávio de Faria, Destino do Socialismo].
O que, na ausência de uma palavra mais precisa, se convencionou chamar o 'socialismo' de Eça de Queiroz, foi muito mais um sentimento do que uma ideia.
Um sentimento de revolta diante das injustiças sociais, um sentimento de simpatia pelas crianças e de piedade pelos pobres.
Mas uma revolta, diga-se logo, mais sentimental e platónica do que revolucionária.
A impressão que sempre lhe ficava dos acontecimentos era a da sua imutabilidade e da inanidade de qualquer transformação institucional.
Escrevendo sobre o Natal em Londres volta o seu pensamento para os pobres.
Mas não tem nada de explosivo este pensamento.
Ao contrário, constata, embora com amargura, que haverá sempre os pobres, num mundo desigual e injusto.
'É justamente, lembra, nestas horas de festa íntima, quando pára por um momento o furioso golpe do nosso egoísmo — que a alma se abre a sentimentos melhores de fraternidade e de simpatia universal, e que a consciência da miséria em que se debatem tantos milhares de criaturas, volta com uma amargura maior.' [Cartas de Inglaterra, pág. 51].
E logo depois:
'Não é possível mudar.
O esforço humano consegue, quando muito, converter um proletariado faminto numa burguesia farta; mas surge logo das entranhas da sociedade um proletariado pior.
Jesus tinha razão: haverá sempre pobres entre nós.
Donde se prova que esta humanidade é o maior erro que jamais Deus cometeu.' [Cartas de Inglaterra, pág. 52]. (....)
Um sentimento de piedade e de amor pelos pobres, um sentimento de inquietação pelo destino das crianças — eis o socialismo de Eça.
Um socialismo sentimental que se mantém invariável desde as Farpas até as Últimas Páginas.
Já no fim da vida, em 1897, escreve ainda apóstrofes de uma veemência fora do comum contra a burguesia e o dinheiro. [Notas Contemporâneas, págs. 405 e segs.].
Na Cidade e as Serras o tom é o mesmo, nem sequer atenuado pela idade:
'E um povo chora de fome, e da fome dos seus pequeninos —, para que os Jacintos, em Janeiro, debiquem, bocejando sobre pratos de Saxe, morangos gelados em Champagne e avivados dum fio de éter.' [A Cidade e as Serras, pág. 128].
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 15, 2018 7:44 pm

Foi este socialismo que o colocou sempre numa atitude de incompreensão diante do cristianismo e da Igreja.
A sua crítica ao catolicismo orienta-se, em todas as ocasiões, neste exclusivo sentido.
E parece que não se modificou, na velhice, como escreveu Eduardo Prado.
Aquele 'se Deus quiser', com que acompanhava os seus projectos, está claro que era mais uma fórmula do supersticioso que só atravessa as portas com o pé direito e que faz orações confusas nos tempos de espectacular ateísmo.
Um ateísmo que foi, mesmo na mocidade, como o de João da Ega, uma simples atitude de snob.
Eça, com obstinada convicção, julgava a Igreja distante dos ideais do cristianismo que ele estimava como o mais alto destino para a humanidade.
Via em Jesus um doutrinador socialista e na Igreja uma instituição de plutocratas.
Esta foi a visão religiosa que transmitiu em tudo o que escreveu, sem excepção nenhuma.
Em 1897, ainda censura o Papa porque não é todo do partido dos pobres contra os ricos.
Escreve, nestes derradeiros anos, o ensaio sobre Joana d'Arc.
E no último livro, na Cidade e as Serras, fala das figuras da Igreja como sempre as vira, à sua maneira.
Vale a pena transcrever esta página que transmite uma ideia exacta da concepção religiosa do escritor:
'Eis pois a esperança da terra novamente posta num Messias!
Um decerto desceu outrora dos grandes céus; e para mostrar bem que mandado trazia, penetrou mansamente no mundo pela porta dum curral.
Mas a sua passagem entre os homens foi tão curta!
Um meigo sermão numa montanha, ao fim duma tarde meiga; uma repreensão moderada aos fariseus, algumas vergastadas nos vendilhões; e, logo, através da porta da morte, a fuga radiosa para o Paraíso!
Esse adorável filho de Deus teve demasiada pressa em recolher à casa de seu Pai!
E os homens, a quem ele incumbira a continuação da sua obra, bem depressa esqueceram a lição da Montanha e do lago Tiberíade — e eis que por seu turno revestem a púrpura, e são Bispos, e são Papas, e se aliam à opressão, e reinam com ela, e edificam a duração do seu Reino sobre a miséria dos sem-pão e dos sem-lar.' [A Cidade e as Serras, pág. 129].
Eça, como se vê, não mantinha diante da Igreja uma atitude só formada de preconceitos; fortificava-se também sobre argumentos os mais pobres e os mais indignos, para a sua inteligência.
(....) O que ele queria era uma igreja sempre repetindo, fora do tempo e do espaço, a aventura divina de Jesus:
o Papa, seguido dos pobres e dos simples, fazendo milagres, crucificado todos os anos; os bispos e padres, todos descalços, esmolando ou pescando nos lagos da Europa.
(....) Pode-se falar, então, diante de Eça, num socialismo cristão.
Se houvesse realmente um socialismo cristão, é certo que estaria, ideologicamente, classificado.
Mas não declarou Pio XI, falando em nome da Igreja, que cristianismo e socialismo são palavras incompatíveis e de impossível justaposição?"

26 — Pp. 295-300 — "Isole-se uma frase de Eça, e será um socialista e talvez um comunista; isole-se outra, será um monarquista e um reaccionário.
Mas ele mesmo não está nem dum lado nem do outro.
A vida que criou é que não seria vida, estaria diminuída e amesquinhada, se não estivesse em condições de se renovar e se apresentar, continuamente, em situações até então inesperadas.
Não seria a vida se não estivesse cheia de contradições aparentes e de surpresas.
Na interpretação de Teófilo Braga, Eça foi um republicano e um revolucionário.
Na de António Sardinha, um mestre da contra-revolução.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 15, 2018 7:44 pm

Num sentido absoluto, nem uma cousa nem outra.
Mas, no caso particular de Portugal, Eça serviu muito mais à reacção do que à revolução.
O constitucionalismo já era a revolução, postiça, importada, caricatural, e que a república procurava ampliar.
Eça combateu-o não como um regime mas pela mutilação que realizava nos valores humanos e tradicionais de Portugal. (....)
É preciso que um povo nem fique a vida toda olhando para trás, contemplativo e estático, nem avance tumultuariamente quebrando as suas tradições — eis o sentimento nacional de Eça de Queiroz.
Acredita na civilização e não no progresso, sobretudo no progresso material, que foi a tendência do seu século.
'As nossas máquinas, os nossos telefones, a nossa luz eléctrica têm-nos tomado intoleravelmente pedantes: estamos prontos a declarar desprezível uma raça, desde que ela não sabe fabricar pianos de Erard.'
[Cartas de Inglaterra, pág. 152].
Quando Souza Neto pergunta a João da Ega se acredita no progresso, ele responde firmemente:
'não acredito.'
E Eça não acreditava.
Pelo menos que o progresso material fosse uma solução para a vida humana e para Portugal. (....)
Pode-se dizer, talvez, que foi um destruidor e não um construtor.
Mas o que se queria que construísse como artista?
Um novo sistema político, uma filosofia, uma fórmula científica de prolongamento da vida?
O seu dever não era o de ensinar nem o de doutrinar que não são estes os fins da arte.
Nem os homens que o acusam estariam dispostos a ouvir e seguir esta voz de artista solitário e cada vez mais desencantado.
Não podia transmitir do mundo senão a forma que o mundo tinha tomado aos seus olhos.
Dez anos antes da morte, em 1889, escrevendo sobre a Rainha, o velho 'socialista' dá uma das suas últimas lições de cepticismo, transmite, num pequeno trecho, toda a imagem do seu desencontro com os homens, toda a imagem da sua posição diante deles:
'Depois, a presença angustiosa das misérias humanas, tanto velho sem lar, tanta criancinha sem pão, e a incapacidade ou indiferença de Monarquias e Repúblicas para realizar a única obra urgente do mundo — 'a casa para todos, o pão para todos', lentamente me tem tomado um vago anarquista entristecido, idealizador, humilde, inofensivo...'
[Notas Contemporâneas, pág. 500].
Também a lição que Eça deixou não foi de ordem política mas de ordem estética e humana.
Mais tarde, quando tiverem desaparecido a burguesia e o constitucionalismo, ainda subsistirá a sua arte, independente e livre dos motivos.
(....) Compreendeu que não pode existir uma literatura de partido, de classe, de regime; que a literatura será uma expressão da vida mas nunca das suas divisões, no serviço mesquinho da direita ou da esquerda, dos grupos ou das ideologias.
A sua interpretou todas as tendências sem se ligar a nenhuma.
Interpretou-as todas pela criação da harmonia entre o que é humano e o que é artístico.”
* * *
Das páginas transmitidas ao médium Fernando de Lacerda, que mereceriam estudo bastante detalhado, retiremos apenas alguns ligeiros comentários, uma vez que o espaço de que dispomos já está prestes a se esgotar.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 15, 2018 7:44 pm

Do Vol. I de Do País da Luz (Rio, FEB), com um corajoso e eruditíssimo Prólogo do Dr. Sousa Couto:
1 — Cap. I, pp. 61-65 — Carta assinada por E. de Queiroz, datada de 30 de Janeiro de 1907, dirigida ao seu médium, da qual transcrevemos a parte inicial: "Meu caro Fernando.
Com pouco te preocupas.
Bastou que alguém te pusesse em dúvida a existência real da minha individualidade, para que te sentisses fraquejar.
Que te deve importar a opinião dos outros, quando ela é destituída de base séria que lhe mantenha o peso?
Que te importa o que os outros pensam?
Cada um pensa como quer, como sabe, como lhe deixam ou como lhe convém.
Nunca tive a pretensão de estabelecer regras ao pensamento humano, que é a coisa mais livre do Universo."
2 — Cap. XI, pp. 117-121 — Carta assinada por Eça de Queiroz, datada de 25 de Novembro de 1906, em que faz o melancólico balanço de toda a sua produção literária quando neste mundo, verificando que estava pobre:
"Encontrei: — Riso 40 por cento; ironia 50; amargura 5; dor 4; de todos os outros sentimentos 1.
Era um escritor falido."
Deixando claro que o riso e a ironia são artigos a que na Espiritualidade se dá muito pouco valor, acrescenta:
"Perdoa a causticidade. Isto hoje não é ironia; é soda cáustica, é vitríolo. Queima, chaguenta.
E que me recordo, com desespero, que por ter querido eliminar pelo riso, ou quando menos modificar pela troça, os ridículos e as maldades do meu semelhante, me esqueci de que era como ele, ridículo e pretensioso; estéril e seco de carinhos e afectos, como um Saara humano, e por isso fali desastradamente na minha obra espiritual.
Não confundir com a minha obra de espírito; que essa ainda deu algum dinheiro aos editores, algum riso aos parvos, alguns pensamentos aos filósofos, algum desprezo aos tristes, uma meia estátua a mim; e aos velhos, aos lascivos, aos sátiros, uma bela e escultural mulher... de pedra, para a admiração da vista e obnóxias recordações culturais."
3 — Cap. XXIV, pp. 178-185, de 16 de Dezembro de 1906
— Lembra ao médium o quanto leva a sério a tarefa de ambos, valendo a pena ao primeiro ser chamado de impostor, já que foi este o epíteto que deram também ao maior e ao mais belo Espírito que veio ao mundo, e a ele, Eça, o riso e a mofa dos que o viessem a ler.
4 — Cap. XXV, pp. 186-187, de 21 de Dezembro de 1906 — Usa de franqueza para com o seu medianeiro, insuflando-lhe, ao mesmo tempo, forças para encarar com naturalidade a sua vida do dia-a-dia, sugerindo-lhe continuar amando os seus pequenos: "Amas muito os teus pequeninos, não é assim?
Ama-os, que bem to merecem; mas se lhes queres deixar uma riqueza inigualável, que nenhuma outra suplantará, educa-os no amor a Deus, no culto ao bem e no hábito do trabalho.
Se ficarem pobres de bens terrenos, ficarão riquíssimos de virtude."
5 _ Cap. XXIX, pp. 205-206, de 25 de Dezembro de 1906 — Belíssima página sobre o dia do nascimento, "na Terra, de Jesus, o Mestre, o maior de todos."
6 — [b]Cap. XXXV, pp. 228-231,
de 31 de Dezembro de 1906 (à meia-noite) — Agradecido por verificar que o ano que exalava o seu último alento fora o do início de sua tarefa com Fernando de Lacerda.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 15, 2018 7:44 pm

Do Vol II, com novo Prólogo do Dr. José Alberto de Sousa Couto, a quem Fernando de Lacerda dedica o livro:
1 — Cap. I pp. 29-35 — Referindo-se à opinião desfavorável dos críticos literários ao Vol. I da obra sob nosso enfoque, chega a afirmar:
"Os críticos, que desfraldando o estandarte da negação e revestidos das suas armaduras de aço adamantino, têm vindo ao terreiro terçar armas em combate, não merecem resposta como críticos."
2 — Cap. II, pp. 36-39 — Discorrendo sobre o Dia de Reis, depois de considerar a Terra uma vasta aldeia onde todos se conhecem, relembra:
"Eu, que vivi e observei no foco irradiante da moderna concepção das reivindicações sociais, testemunho de visu, que os mais preclaros apóstolos da igualdade não gostavam da multidão, porque lhes cheirava a gente; não se aproximavam dos miseráveis, porque receavam o seu contacto, que lhes sujava o brilho do facto e lhes transmitia o micróbio patogénico de várias doenças infecciosas, e confessavam, desdenhosamente, o seu asco pela porcaria revoltante do Senhor-Povo, a que enalteciam e lisonjeavam nas frases campanudas dos seus discursos, ou dos seus escritos demagógicos e igualitários."
3 — Cap. XII, pp. 80-84 — Compreendendo que não merece a pena cantar ditirambos ao mal, visto que ele — o mal — não existindo, é uma nuance do bem, nuance necessária, corolário indispensável, assim conclui a sua maravilhosa página:
"O diamante, se tivesse vida e pudesse, fugiria ao sacrifício da lapidação.
Nisso estaria o seu bem, pelo seu sossego.
Entretanto, continuaria a ser pouco mais do que um seixo vulgar de ribeira areenta; enquanto que, depois da lapidação dolorosa, passa a ser um pedaço de luz materializada, como que um fragmento de estrela, de preço inestimável.
Qual era o bem? Qual era o mal?
Ora, aqui fica uma incógnita de que eu gostava de conhecer a definição, dada pelos sábios da Terra, onde também tive pretensões de saber alguma coisa!..."
4 — Cap. XVII, pp. 105-111 — Mais uma vez, chama a atenção de Fernando para não se preocupar com a crítica malévola:
"Deixa que cada um fale.
Não te prendas com teias de aranha.
Não faças como as crianças, a quem o medo à correcção materna conserva presas por uma linha ao pé de uma banca.
Trabalha, trabalhemos, que sem trabalho não há seara nenhuma que produza.
Que te importa se não colheres pessoalmente o fruto?
Se todos se acobertassem a essa consideração egoísta ninguém faria nada na Terra, receosos de que lhes não chegasse a hora da colheita compensadora."
5 — Cap. XX, ,pp. 117-119 — Carta dirigida à Mme. Lacombe, a respeito da qual o médium colocou a seguinte nota, à p. 230:
"Uma noite, em casa do Mr. Lacombe, engenheiro distinto e director da Empresa Industrial, conversava-se sobre pacifismo.
Mme. Lacombe, um dos mais belos, mais vivos e mais artísticos espíritos que conheço, presidente, em Portugal, da Liga da Paz e Desarmamento pelas mulheres, manifestou desejo de que algum dos Espíritos de pessoas idas dissesse qualquer coisa sobre o assunto da conversação.
Veio papel e eu fiz o pedido.
Acedeu prontamente o que conheço como sendo Eça de Queirós.
Mme. Lacombe foi tocar ao piano e eu continuei em animada conversação com Mr. Lacombe, enquanto a pena corria rápida sobre o papel.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 15, 2018 7:45 pm

Quando terminou havia escrito a comunicação à página 117." Do Vol. III, com carta do Sr. Silva Pinto, a quem o livro foi dedicado, datada de 1/4/911, a Fernando de Lacerda:
1 — Cap. I, pp. 17-26 — "Perdi-me na parlenga, e ia por aí em fora, modulando ditirambos às modernas virtudes que enfloram o tálamo nupcial da Sociedade livre pensante portuguesa — anónima criatura, filha incestuosa da Ignorância e do Atrevimento, com o ilustre cidadão Livre Pensamento, filho adulterino da Vaidade e do Amor-Próprio; e esqueci-me que não foi para isso que eu vim"
2 — Cap. II, datado de Lisboa, 30 de Novembro de 1907, pp. 27-41 — Importante a nota do médium à frase inicial de Eça:
"Não há dúvida — era eu."
Ei-la:
"Em uma sessão de investigação manifestou-se, entre outros, um Espírito que disse ser Eça de Queiroz.
Fizeram a este várias perguntas, às quais ele não respondeu tão satisfatoriamente como os ouvintes desejavam.
Deste facto surgiram dúvidas sobre a identidade do comunicante.
Como resposta a estas dúvidas, veio a presente comunicação.
Publica-se, porque, apesar do seu carácter particular, tem necessárias correcções e excelentes ensinos, ao modo como se investiga e se deve investigar a verdade espírita."
Da referida mensagem vale a pena destacarmos mais o seguinte:
"Acharam aí que eu fui pessoa ilustre em méritos literários.
(Não lhes discuto o gosto, por dever de cortesia.
Tinham a noção de que eu havia escrito coisas irónicas, feito críticas de forma bizarra, e (com um bocadinho de generosa boa vontade) por vezes cintilante, fazendo revolutear palavras, num esfuziante estralejar de frases torturadas, vazias de sentimento, rebrilhantes de espírito, e supuseram-me logo com tiara para pontificar de duplex sobre filosofia e teologia, perscrutando, de passagem, o abismo da origem dos seres, na sua relação com as manifestações espirituais e evolucionistas da matéria animada. (....)
E depois, não há quem possa saber de tudo. Se houver quem se proponha a sábio em tudo, conseguirá ser em tudo simplesmente ignorante."
3 — Cap. III, pp. 42— 119: "Aqui, vive-se, trabalha-se, sofre-se e ama-se.
Há encantos, há ilusões, há desgostos como aí.
A diferença consiste em que tudo se passa por modo adequado ao meio em que cada um vive, cujos cambiantes são infinitos.
Aqui, como aí.
O observador atento vai encontrar aí mesmo, de povoação para povoação, de indivíduo para indivíduo, radicais alterações no modo de viver, de amar, de sofrer, de pensar e de dizer. (....)
A inteligência, a razão e a vontade, sã mente impulsionadas, formando um todo homogéneo, constituem uma força sem igual.
Uma inteligência lúcida e uma razão justa hão-de produzir uma vontade inabalável; e uma vontade inabalável, servindo uma inteligência lúcida e uma razão justa, consegue tudo que é possível conseguir-se na situação em que cada indivíduo se encontre.
Tem, pois, o homem necessidade de apurar e educar a sua inteligência, a sua razão e a sua vontade, como quem valoriza o mais rico património indispensável à vida."
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 16, 2018 7:40 pm

Do Vol. IV, com Prefácio do Espírito de Fernando de Lacerda, recebido pelo médium J. C, e "Uma Explicação" dos Editores, segundo a qual o médium, já no Mundo Espiritual, deu as devidas coordenadas para a organização deste volume, rogando que se colocasse à frente o ditado de Eça, para que não faltasse ao compromisso que a sua lealdade lhe exigia para com aquele Espírito amigo:
1 — Cap. I, pp. 13-17 — Fazendo alusão aos dois caminhos abertos à sua inexperiência para o reino encantado do seu sonho:
"O primeiro era o caminho espirituoso; o segundo, o caminho espiritual.
Não hesitei.
Atirei-me pelo primeiro.
Folgaria nele, pensava.
Reconheci presto o engano, mas já tarde.
Estava perdido na turba-multa que seguia ébria de alucinação e não podia recuar.
Segui de roldão, sofrendo pisadelas e encontrões, fingindo rir para não desentoar, mas vertendo sangue pela alma em dilaceramento."
2 — Cap. IV, pp. 26-30 — Sobre o que valem realmente as boas-festas.
3 — Cap. XI, pp. 75-78 — "Vai por aí grande celeuma porque o ilustre e ilustrado parlamento da nossa terra resolveu, num ato de ríspida e vingadora justiça, retirar a pensão que um outro parlamento menos ilustre e com certeza muito menos ilustrado havia, perdulariamente, concedido à minha mulher e a meus filhos enquanto menores, para lhes custear a vida, que eu, na minha qualidade de cigarra desprevenida e palreira, deixei sem celeiro, nem recursos de abastecimento.
Essa celeuma é injusta.
Corro em defesa do ato de severa moralidade do parlamento ilustre.
Que fui eu?
Um funcionário mais que modesto do nosso país, perdido no anonimato da burocracia, e um escrevinhador de romances e croniquetas.
Nunca fui político, não fui salvador, não estive na Rotunda e nem sequer pertenci a nenhum dos sol-e-dós do registo civil."
4 — Cap. XII, pp. 79-83 — Sobre a definição de amor.
5 — Cap. XXII, pp. 117-121 — Volta, mais uma vez, a se referir ao ano-novo.
6 — Cap. XXXIV, pp. 170-176 — Seriíssimo, por vezes amargo, ao julgar uma ofensa comparar os seus patrícios com "os previdentes e laboriosos himenópteros fórmicos."
7 — Cap. XXXIX, pp. 202-205 — Dirigindo-se ao Espirito de Júlio Diniz, chegando por concluir ser uma sofrível prova de abelhudice ele, o autor de As Pupilas do Senhor Reitor desejar paz ao mundo, "que não deseja senão a guerra."
8 — Cap. XLVII, pp. 250-253 — Novamente insiste em deixar claro a inoperância dos críticos literários a respeito de sua produção mediúnica.
9 — Cap. XLVIII, pp. 254-257 — "Não conheces ainda o mundo e os homens?
De quem e de onde esperas socorro?
Espera-o só de Deus.
Ele to dará do seu cofre infinito de graças e de amor.
O seu cofre não tem dinheiros...
Tem saúde, tem bênçãos, tem dotes de alma, tem torrentes de luz, tem bálsamos para todas as dores, tem consolações para todos os sofrimentos das almas...
Do recheio de seu cofre Ele reparte prodigamente contigo.
Chega para ti e para aqueles a quem queiras distribuir.
Pede-lhe e aceita e distribui.
Mas não contes com mais.
Nem com os teus, nem com os teus, crê.
Conta contigo.
Cambia em trabalho útil e produtivo toda a rica moeda que Deus te pode dar do seu erário e desse trabalho irás tirando, com amargura surdamente dolorida, o pão para ti e para os teus.
Não delires. Abandona esses propósitos de apostolado.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 16, 2018 7:40 pm

Numa época utilitária e fria, cheia de egoísmo e materialidades sombrias não encontrarás quem para teu apostolado te dê o auxílio de um pataco.
Talvez encontrasses... se tivessem um pataco falso."
Nota: Todos os capítulos dos quatro volumes foram transladados para o Eça de Queirós, Póstumo, com excepção do XXIX do Volume I.

No referido Eça de Queirós, Póstumo, são inéditos os seguintes capítulos:
1 — O V, pp. 49-50, intitulado "O Natal do Cristo", datado de 25 de Dezembro de 1906.
A seu ver, o Cristo é "o mais poderoso revolucionário do mundo", humilde, simples e bom, que proclamou e exemplificou a igualdade; e que a palavra de Jesus "será eterna, porque resistirá a tudo, como a verdade."
2 — O XIII — "A Esmola" —, pp. 86-87, do próprio médium Fernando de Lacerda, com pequeno bilhete de Eça ao Dr. Archer da Silva, em resposta à pergunta formulada a propósito da esmola, sob o ponto de vista mundano e sob o aspecto social.
3 — O XXVI — "Piparote ao Futurismo" —, pp. 224-229, recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier, no início da década de trinta, lembrando-se "dos bons tempos em que o Fernando transmitia a esse mundo sublunar as minhas asneiras, em cartas sensaboronas, que faziam o prato delicioso da sociedade alfacinha."
4 — O XXVII e último do volume — "Julgando Opiniões", — pp. 230-232, também recebido por Chico Xavier, a 6 de Dezembro de 1934:
"As nacionalidades estão depauperadas porque possuem demasiadamente; são vítimas da sua abundância e do descontrole.
A crise de génios tem a origem na superabundância deles.
As Academias fabricam-nos às dúzias e a concorrência intensifica a vulgaridade. (....)
Buscam pouso na burocracia. E o conseguem.
Abdicam então das suas faculdades de raciocínio e reclamam o azorrague de um político que os comande.
Transformam-se em azémolas indiferentes, passivas.
Temos, aí, quase a totalidade dos génios da época.
À sombra da acolhedora máquina do Estado, engordam e apodrecem, pensando pela cavidade abdominal; gastrónomos e artistas têm o cérebro curto e o ventre dilatado, enorme.(....)
Que outros se enriqueçam e se locupletem.
Procura as riquezas da alma, os tesouros psíquicos que te servirão na Imortalidade.
Não busques ser o génio.
Sê o apóstolo."
* * *
Vejamos, em seguida, de modo sumário, alguns dados biográficos de nossa prezada médium, incluindo pequenos trechos de mensagens íntimas por ela recebidas, atinentes a esta obra.
Nascida em Araraquara, SP, em 1932, solteira, a Professora Wanda A. Canutti completou o curso Normal, em 1950; de 1951 a 1964, leccionou recreação, num Parque Infantil da cidade, do qual veio a ser directora alguns anos depois; após formar-se em Letras Anglo-germânicas, em 1963, aprovada em concurso, leccionou Português, não somente em escolas de sua terra natal, dentre outras, a actual Escola de Primeiro e Segundo Graus Prof. Victor Lacorte, quanto em Santa Lúcia, cidade vizinha, mas foi na Escola Estadual de Primeiro Grau "António J. de Carvalho", de Araraquara, que ela se aposentou, em 1981.
Desde bastante criança, ouvia, em casa, falar da Doutrina Espírita, pelo seu progenitor, que passara a frequentar algumas sessões públicas.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 16, 2018 7:41 pm

De tudo o que sempre ouvia do Espiritismo, parecia que nada lhe era estranho, encontrando bases lógicas em todos os seus postulados, acompanhando a senhora sua mãe, que desencarnou em 1971, a algumas explanações evangélicas, das quais gostava muito, mas nada além disso.
Decorridos uns poucos meses da passagem de sua Mamãe para o Plano Espiritual, a Professora Wanda, em decorrência de um problema súbito, aparentemente de ordem física, e de consultas médicas que nada diagnosticaram, ela foi levada ao trabalho mediúnico, na Casa Espírita, o Centro Assistencial Batuíra, onde desempenhou suas tarefas, com denodo, de 1971 a 1993, quando, por motivos de saúde, precisou dele afastar-se, mas foi aí que recebeu, pela primeira vez, a 10 de julho de 1990, psicofonicamente, o Espírito que, mais tarde, veio a identificar-se como sendo Eça de Queirós e, pela psicografia, começou, a 6 de dezembro daquele ano, a transmitir-lhe o livro de que estamos nos ocupando — Getúlio Vargas em Dois Mundos — e vários outros que permanecem inéditos, já frequentando, também, com a irmã, outra Casa" Espírita — "O Consolador", onde trabalha até hoje.
A 3 de setembro do mesmo ano, enviou-nos extractos de duas mensagens que lhe foram transmitidas pelo mesmo Espírito, respectivamente, a 2 de outubro e 12 de novembro de 1992, a primeira delas uma prece, nas quais deixa claro que ao escrever o livro sob nossa análise, seu pensamento era
somente o de cumprir o que havia prometido ao Espírito de seu biografado, que há tempos almejava que alguém comunicasse ao Plano Físico o quanto nele sofreu, nele e no Mundo Espiritual, evitando entrar em detalhes sobre as trágicas consequências da forma como forçou os umbrais da desencarnação, certamente levando em conta que tais sofrimentos experimentados pelos suicidas já haviam sido narrados pelo seu amigo Camilo Castelo Branco, à médium Ivonne A. Pereira, numa que é hoje considerada obra-prima, procurando deter-se em outros lances de sua atormentada vida.
Após a leitura que a médium fez das obras Do País da Luz e Eça de Queirós, Póstumo, ela, evidenciando a "genialidade mediúnica de Fernando de Lacerda" através da qual esses livros foram transmitidos, dá-nos conta da sua preocupação, ao comparar o estilo do autor espiritual, naquela oportunidade, com o de agora, mesmo compreendendo que, segundo Allan Kardec, pouco valor tem o nome de que se utiliza o Espírito, mas sim o conteúdo da sua mensagem.
Logo a seguir, Eça explicou-lhe, em mensagem de 20-2-92, que depois de passado quase um século, o seu modo de pensar era outro, devido à visão que tinha do mundo espiritual e do mundo material, tendo obedecido à lei do progresso, de que duvidava, quando encarnado; no que se referia ao progresso material, fez as seguintes considerações:
"Dizem que a Língua Portuguesa ganhou muito com os meus livros, com o meu modo de escrever!
Se pelo menos nisso, eu pude contribuir um pouco para o meu país de origem, naquela encarnação, dou-me por feliz, porque, de resto, o confesso, nada do que me interessa agora transmitiram aos leitores!
E por isso que hoje, com outro pensamento, com outra vontade, quero refazer tudo! (....)
Não se incomode em escrever como Eça escreveu!
Para quê? Apenas para que Eça seja reconhecido?
Isso não mais me importa! Não direi uma palavra, querendo provar que foi Eça quem escreveu, como já o fiz por diversas vezes, naquela outra oportunidade.
Hoje, estou interessado em deixar os ensinamentos de Jesus, em deixar algumas normas de vida que possam encaminhar também as pessoas a Ele — Jesus."
Em 11-04, voltou a insistir:
"O Eça de agora, voltado para Jesus, não quer provar nada a ninguém!
Só quer provar a si mesmo e ao próprio Jesus que é outro, mudou, melhorou, progrediu!...
Por que, então, ter que manter o estilo daquele Eça, que agora, de onde está, analisou e concluiu que nada de bom aqui deixou?
Meus livros, agora, também serão diferentes!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 16, 2018 7:41 pm

A única coisa que faço questão de conservar e que seja igual, é esse nome — Eça de Queirós —, pois que no momento em que o conservo, para mostrar ao mundo que é o Eça quem escreve, estou mostrando também que, apesar do nome — o Eça é outro!
É esse Eça de agora que me traz um pouco mais de alegria, é esse que está feliz por ter dado um passo adiante, na escala evolutiva, e por ter tido a permissão de Jesus para mostrar que se esforçou no sentido da própria reforma íntima!
Isso também é importante!
Não que eu queira proclamar aos quatro ventos que estou modificado, pois, se isso o fizesse, demonstraria apenas um orgulho que agora, onde estou, já não mais se encontra em tão alto grau, mas quero mostrar que se muda, todos o podem também, porque é para isso que Deus nos criou, para que progridamos sempre em direcção a Ele!"
E a mesma a tónica da mensagem de 3 de maio.
A 5 de setembro do mesmo ano — 1992 — traz este passo, até certo ponto confidencial, mas que, a nosso ver, vale a pena ser transcrito:
"Quando me propus a essa tarefa, fiz um plano que foi submetido à apreciação de Irmãos Maiores que o estudaram sob todos os ângulos, e muito tempo levou até que pude obter o consentimento para realizá-la.
Indicaram-me você, filha, dizendo-me que havia um afecto antigo, que tinha todas as condições de me atender!
Lembra-se, já lhe contei isso!"
A 15 de abril de 1993, voltou ao fulcro da questão:
"Já pensaste, após quase um século que deixei uma obra na Terra, e após muito ter sofrido, aprendido e me esforçado, fizesse uma repetição do que já fiz, apenas para agradar aqueles que ficam procurando detalhes para comparar, se nada daquela obra, agora, está em acordo com meus novos objectivos?
O que eu criticava, hoje procuro compreender!
O sarcasmo e o riso com que interpretava situações, agora procuro vê-las com o coração, e, se não posso aceitar, também não as trato com ironia.
Aqueles que critiquei, aqueles a quem respondi ataques e críticas que me eram feitos, hoje procuro entendê-los."
Por ocasião do 3º Encontro Internacional de Queirosianos, que se realizou, em São Paulo, de 18 a 21 de setembro de 1995, promovido pelo Centro de Estudos Portugueses da USP, o Espírito Eça, noutra mensagem à médium, que mesmo à distância teve sua atenção voltada para aquele evento, afirma, como já o fizera através de Fernando de Lacerda, ter sido estática a sua obra terrena, reconhecendo que não trouxe nenhuma informação salutar ao leitor, eivada de crítica acirrada à sociedade corrupta e a seus membros corruptíveis, demonstrando que a moral familiar estava falida, e que o clero, de quem deveria vir o exemplo maior das virtudes proclamadas e ensinadas pelo Cristo, era o mais pervertido de todos, perguntando, a certa altura:
"Em que aquele trabalho contribuiu para melhorar a sociedade que eu atacava, as instituições que eu criticava ou a organização familiar que colocava em meus romances como falida, onde o respeito mútuo entre seus membros era difícil de ser encontrado?
De que me adiantou ter ressaltado esses pontos com os quais não concordava, se não consegui transformá-los, nem tomá-los melhores? (....)
Aqueles que se atêm apenas ao que Eça de Queirós deixou, como se ele estivesse acabado, não sabem que ele continua vivo.
- Digo vivo em toda a plenitude do significado que a palavra encerra, porque estou vivo para as verdades espirituais, estou vivo para compreender as oportunidades que perdi, e, graças a Deus que me permitiu retomar para este trabalho, estou vivo para construir outra obra, e feliz, muito feliz do que temos feito."
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 16, 2018 7:41 pm

Sobre este livro, que agora sai à luz, e o leitor nos dá a honra e o prazer de estar compulsando, e sobre toda a sua obra de Espírito renovado, eis o que enfatiza, na mesma mensagem, o Espírito do velho Eça:
"Se algum dia este meu novo trabalho for analisado, e compreendidas as minhas mais puras e nobres intenções ao realizá-lo, aí, sim, sentir-me-ei feliz por ter contribuído para o esforço de modificação de cada um.
E só isso o que importa aos olhos do Pai — o esforço que cada filho seu realiza em aprimorar-se, através das suas próprias reflexões, da aquisição de virtudes, da prática da caridade em favor daqueles que ainda não compreenderam as verdades de Jesus, ou dos que necessitam de um pedaço de pão."
* * *
Não nos sendo possível, devido ao espaço de que já nos assenhoreamos, talvez abusivamente, deter-nos sobre Getúlio Dornelles Vargas, tomamos a liberdade de sugerir a quem até agora nos concedeu a gentileza da atenção, a consulta aos seguintes livros:
A Escalada — memórias, de Afonso Arinos de Melo Franco (Rio, Livraria José Olympio Editora, 1965); Brasil:
De Getúlio a Castelo (1930-1964), de Thomas Skidmore (Tradução brasileira por uma equipe coordenada por Isménia Tunes Dantas, Apresentação de Francisco de Assis Barbosa, Rio, Paz e Terra, 4a edição, 1975);
História da República Brasileira, de Hélio Silva e Maria Cecília Ribas Carneiro, volumes de 7 a 15, que cobrem o período de 1927 a 1955, São Paulo, Editora Três, 1975);
Minha Razão de Viver — Memórias de um Repórter, de Samuel Wainer, Coordenação Editorial de Augusto Nunes, Rio, Record, 9a edição, 1988;
Artes da Política — Diálogo com Amaral Peixoto, de Aspásia Camargo, Lúcia Hippolito, Maria Celina Soares D'Araújo, Dora Rocha Flaksman, Rio, Nova Fronteira, 1986;
e Diário, de Getúlio Vargas, com notas registadas de 3 de outubro de 1930 a 27 de setembro de 1942 (Siciliano/FGV, 1995) ou a reportagem de capa de Veja (Editora Abril — Edição 1.422 — Ano 28 — N° 50, 13 de dezembro de 1995, págs.122-135, especialmente O lápis da História, com este apontamento de 5 de outubro de 1930, que complementa o seu ponto de vista exarado dois dias antes, revelando, de modo cristalino, explicável à luz da Reencarnação, a tendência suicida do nosso ilustre ex-revolucionário, ditador e Presidente da República, que foi considerado "pai" dos pobres e dos ricos:
"5 de outubro . Excelentes notícias:
Juarez Távora à frente de 8.000 homens, queda de Recife, Natal, marcha sobre Alagoas e Ceará, tropas de um moral magnífico.
A Revolução está triunfante.
Começo a fazer meus preparativos a fim de seguir para o teatro de operações, no Paraná.
Desejo fazê-lo, porque esse é o meu dever, decidido a não regressar vivo ao Rio Grande, se não for vencedor."
* * *
Dadas as proporções tomadas por este nosso modesto estudo, apressemo-nos em colocar-lhe o ponto final, mas não sem antes rogar ao paciente leitor preces por todos os escritores que deixaram no mundo obras perniciosas do ponto de vista espiritual.
Orações rogamos, enfim, pela nossa ilustre Professora Wanda A. Canutti, que cedeu a sua instrumentalidade mediúnica para a recepção desta obra, pelo Espírito Eça Queirós, que a transmitiu, pelo Getúlio Vargas, e, como não poderia deixar de ser, pelo autor destes apontamentos, a fim de que ele possa continuar estudando as obras de Allan Kardec e, dentro da sua insignificância, buscar forças em Jesus, sob o amparo dos Benfeitores Espirituais, para domar as suas tendências menos dignas, a todos pedindo desculpas pela inexpressividade deste arrazoado, inobstante o imenso esforço por fazer o melhor ao seu alcance.

Elias Barbosa

Uberaba, 18 de abril de 1998

§.§.§- Ave sem Ninho
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 7 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Página 7 de 7 Anterior  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos