LUZ ESPÍRITA
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Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 30, 2018 7:44 pm

Getúlio Vargas em Dois Mundos
Wanda A. Canutti.

Eça de Queirós

Revisão e Posfácio:
"Espiritualmente Renovado, o velho Eça de Volta", de autoria do Dr. Elias Barbosa

GETÚLIO VARGAS EM DOIS MUNDOS
É uma obra que percorre importantes e polémicos factos da História, da época em que Vargas foi presidente do Brasil. Mas vai além.
Descreve seu retorno ao plano espiritual pelas portas do suicídio; o demorado restabelecimento das forças e da consciência, até ser capaz de analisar o encadeamento dos factos de sua última trajectória terrena, intimamente relacionados com amigos e desafectos de tempos imemoriais.
Ditado pelo espírito Eça de Queirós, a obra surpreenderá o leitor mais familiarizado com a extensa obra deixada pelo grande Eça há quase um século. Palavras do autor espiritual:
"Sem querer ser imodesto, muitos apreciarão nosso livro, basta que não queiram encontrar nele o outro Eça de Queirós, que nunca encontrarão.
Já pensaste se, após muito ter sofrido, aprendido e me esforçado fizesse uma repetição do que já fiz apenas para agradar àqueles que ficam procurando detalhes para comparar, se nada daquela obra, agora, está de acordo com meus novos objectivos?
Por que novamente repetir o que aqui ficou?
Por que querer imitar o Eça de então, se o Eça de agora é outro?"
Leia o livro, confira os argumentos do autor e julgue você mesmo.

AGRADECIMENTOS
Quem somos nós, seres pequeninos e insignificantes diante da grandeza do Universo e da Sabedoria e Omnipotência Divinas, para dispor do que já estava disposto por mãos Maiores?
Este livro, o quinto recebido no conjunto de um trabalho que vem sendo realizado há alguns anos, e que já acumula um número considerável de volumes, na verdade, deveria ter sido o primeiro.
Entretanto, se por razões que aqui não são pertinentes, ele não o foi na ordem de recepção, o planeado se cumpre na ordem de publicação.
Depois de uma espera que não foi pequena, porque as dificuldades sempre se fazem, eis que ele vem à luz, trazendo a sua contribuição para o esclarecimento das verdades espirituais, aquelas das quais ninguém foge e com as quais todos devem se deparar um dia, trazendo, também, muita alegria a Eça de Queirós, por ver quitado o compromisso assumido no Mundo Espiritual, com o protagonista deste livro, que desejava trazer a público a sua história, a que foi além dos anais deste País, a que foi além da História conhecida por todos.
Se este momento está sendo possível, cumpre-nos agradecer, em primeiro lugar, a Deus e a Jesus que nos permitiram realizar essa tarefa, a Eça que a colocou em nossas mãos e tem sido um amigo sempre presente, aos benfeitores espirituais que tanto nos têm amparado e protegido, e a todas as pessoas que, de uma forma ou outra, colaboram connosco.
Dentre estas, porém, ressalto o senhor Amélio Fabrão Fabbro Filho, amigo que sempre se interessou por esse trabalho, apoiou a sua realização, e foi o responsável pelo abrir de portas a essa obra que começa a cumprir os objectivos para os quais foi trazida até nós, os encarnados.
Ainda mais, foi o instrumento do qual a Providência Divina se utilizou para forjar um "acaso", a fim de que o planeado se cumprisse e nós tivéssemos, das mãos do Dr. Elias Barbosa, baluarte da Doutrina Espírita, o excelso estudo que realizou sobre o autor espiritual, Eça de Queirós, de cuja identidade ele nunca duvidou, e a quem desejo expressar também o meu agradecimento eterno.

Wanda
Araraquara, 30 de julho de 1998.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 30, 2018 7:44 pm

ÍNDICE
PALAVRAS DO AUTOR
PRIMEIRA PARTE
NO PLANO TERRESTRE
EM RETORNO
A CHEGADA DA OPORTUNIDADE
A REVOLUÇÃO DE 1932
CONSTITUIÇÃO DE 34
O LEVANTE COMUNISTA DE
O GOLPE DE ESTADO
O ESTADO NOVO
REVIDES
LUTA PELA REDEMOCRATIZAÇÃO
COMO NÃO PARTICIPAR?
NOVA OPORTUNIDADE
SOLUÇÃO DEFINITIVA
SEGUNDA PARTE
NO MUNDO ESPIRITUAL
INCONSCIÊNCIA
VISITA ESCLARECEDORA
RESTABELECIMENTO
DEPARTAMENTO DOS RECUPERADOS
ARQUIVO DE PLANIFICAÇÃO
PRELEÇÃO DO MENTOR
NOVA ACTIVIDADE
PRIMEIRAS PREOCUPAÇÕES
FACTOS E ANÁLISES
SONHO OU REALIDADE
ELUCIDAÇÕES VALIOSAS
O GOLPE CONTRA SI PRÓPRIO
O ESTADO NOVO SOB OUTROS OLHOS
HIATO DE TERNURA
HUMILHAÇÃO E ORGULHO
OPORTUNIDADES
O ACTO FINAL
LEGADO DE MORTE
ORIENTAÇÕES
SURPRESA RECONFORTANTE
ENTREVISTA COM O MENTOR
NUM TEMPO REMOTO
CONSCIÊNCIA PLENA
EM TAREFA
UM NOVO LEGADO
ESPIRITUALMENTE RENOVADO,
O VELHO EÇA DE VOLTA
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 30, 2018 7:45 pm

PALAVRAS DO AUTOR
Ao desejarmos escrever esta obra que se inicia com estes preâmbulos, queríamos apenas que fosse revelado ao mundo aquilo que, muitas vezes, fica escondido no recôndito dos corações dos protagonistas.
Levados por motivos inexplicáveis para nós, vêem-se enredados em situações difíceis, em situações que os fazem praticar actos degradantes, mas que, aos olhos do Pai, têm sua razão de ser.
Não que o Pai deseje que seus filhos não pratiquem as virtudes deixadas e ensinadas por seu Filho, quando aqui esteve, mas, enredos antigos os levam a acções que os degradam, e Deus o permite, primeiro, porque existe o livre-arbítrio, e depois, porque não conhecemos o outro lado — o lado espiritual — que muito explicaria, mas os que aqui vivem, não o sabem!
Meu desejo é trazer esta história, de forma a que todos entendam o que se passou com a nossa personagem principal, como também com aqueles que com ele conviveram.
Todos os actos que praticou, tudo o que o enredou, até que chegasse àquele final, já conhecido de todos nós.
Mas, como tudo tem sua explicação, o ato final a terá também!
Aqueles que o amaram, e foram muitos, sentir-se-ão felizes!
Os que o odiaram, terão a oportunidade de examinar melhor as razões que o levaram a actos com os quais nem sempre concordaram, mas que entenderão agora.
Compreenderão que cada um, ao nascer, traz, em linhas gerais, as tarefas que devem executar, em todos os campos.
Aqueles que têm a missão de dirigir nações trazem consigo, muito mais definido ainda, muito mais forte, impregnado em todo o seu ser espiritual, o que devem realizar.
Muitas vezes, porém, essas realizações ficam aquém das planeadas, pelos interesses materiais que passam a ser outros.
Entretanto, em meio a tudo isso, medidas importantes são tomadas em favor da causa que abraçaram, e tudo lhes é computado quando daqui partem — nem sempre felizes como desejavam, nem sempre satisfeitos consigo próprios, mas com a certeza de que algum bem foi realizado.
E essa nossa personagem realizou muito!
Isso foi para ele a luz de que necessitava, para que as sombras que se fizeram, em razão de outros actos, pudessem ser menos escuras!
Este livro não pretende ser nenhum documento histórico, que destes, as bibliotecas estão cheias.
Era necessário, contudo, que alguns actos que envolveram o homem político Getúlio Vargas, fossem revistos, para que os propósitos de Getúlio Vargas, Espírito, fossem melhor compreendidos.
Por isso, a primeira parte desta narrativa se constitui num relato sucinto dos principais fatos que marcaram a passagem da nossa personagem, pelo plano terrestre.
Aqueles que com ele conviveram, aqueles que não o conheceram, mas tiveram notícias através dos compêndios históricos, recordar-se-ão.
Os que nenhuma dessas oportunidades tiveram, que o saibam agora, para compreenderem a intenção mais profunda que levou nosso irmão — num ato de grande humildade, talvez estranha para os que o conheceram — a desejar que seu exemplo aqui fosse trazido, revelando o outro lado — aquele que a história não conhece, aquele que faz parte do âmago do seu ser espiritual, com suas vitórias, suas falhas e sofrimentos, numa advertência aos que ainda aqui permanecem, mas que, mais dia, menos dia, terão de se defrontar com a realidade do Mundo Espiritual.

Eça de Queirós
Araraquara, 17 de novembro de 1992
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PRIMEIRA PARTE
NO PLANO TERRESTRE

"Saio da vida para entrar na história”


1 - EM RETORNO
No Mundo Espiritual há muitos recantos, muitas colónias, onde Espíritos necessitados de refazimento, de atendimento espiritual, se abrigam, para desfazerem enganos, erros cometidos, e restabelecerem o equilíbrio, ou prepararem-se para novas oportunidades redentoras, no plano terrestre.
Assim, numa pequena Colónia, afastada deste orbe, muitos irmãos aguardavam a oportunidade de retornarem, para cumprirem as promessas feitas, e colocarem em prática o que planificaram, tendo em mente os mais sublimes desejos de colaborarem, para minorar um pouco mais o sofrimento dos seus habitantes.
A Terra é um lugar de muito sofrimento!
E nela que os resgates são efectuados, e os acertos, diante de propósitos realizados, levados a efeito.
Muitos desejam conviver com aqueles que lhes foram inimigos em encarnações anteriores, visando a uma reconciliação, visando a amparar suas necessidades, reerguendo os que se encontram em situação difícil e em estágios evolutivos diferentes.
Há, porém, aqueles que desejam trabalhos maiores, objectivando não apenas um Espírito inimigo, ou o reerguimento de um ente querido decaído.
Há Espíritos que têm em mente, não só um círculo pequeno e acanhado que se reúne dentro do lar, mas pretendem muito mais!...
Visam a ajudar, a fazer progredir toda uma cidade, um estado, ou mesmo uma nação.
São os idealistas, amantes da Pátria, e desejam fazê-la crescer, equiparando-a às grandes nações do Universo.
Desejam ajudar a reerguer todo um povo sofrido e sacrificado, proporcionando-lhe oportunidades para uma vida mais feliz, dentro de condições de trabalho digno e construtivo, atendendo às suas necessidades particulares, pois que, do trabalho de todos, a nação cresce, progride, enriquece!
Esse é o objectivo de alguns que partem do Mundo Espiritual, para levarem à Terra a sua colaboração, em um país que amam e desejam vê-lo evoluído.
Se voltarmos nossos olhos àquela pequena Colónia, localizada num dos espaços siderais, vamos encontrar uma entidade feliz, idealista, planeando, organizando empreitada, submetendo seu plano à aprovação de Mentores maiores.
Um trabalho muito bem concatenado, para que, ao retornar, pudesse executar o que desejava.
E o desejo daquela entidade era ser o mandatário supremo de uma nação!
Desta Nação amada, desta Nação tão carente, tão sofrida, e com tanta urgência de ser bem organizada, de progredir, de saciar tanta fome, de cobrir tantos corpos desnudos.
Como seus objectivos eram nobres!
Como sua planificação era sublime!
A dedicação, a renúncia com que se aplicaria nessa tarefa, era a mais abnegada possível, a mais nobre, a mais bela.
Era um idealista!
Mas a Nação precisava desse idealista, precisava de vontade firme, para que essa planificação fosse executada, e este País, organizado adequadamente!
As promessas eram efectuadas, os planos arquitectados e, diante de tanta convicção, a aprovação foi conseguida.
Tudo fariam a fim de que aquela entidade, no momento certo, reencarnando, tivesse as facilidades para colocar em prática plano tão elevado, tão direccionado às urgências desta Nação!
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Quando tudo estava já delineado, a preparação para a reencarnação se iniciou.
Para tais propósitos, a família era importante!
Os ideais dos pais colaborariam na concretização dos ideais do filho.
Assim também, unindo necessidades afectivas do passado, unindo objectivos que seriam postos em prática, a família foi preparada para receber aquela entidade, que deveria se tornar, um dia, um grande defensor da Nação, aquele que teria em suas mãos, os cordéis para manejar em favor dos necessitados!
Aquele que traria o desejo de promover o seu crescimento, levando consigo o progresso de cada indivíduo, livrando-o da miséria e proporcionando-lhe também oportunidades para tantos colaborarem. Cada ser vivente, diante de uma nação, é uma peça importante a contribuir para o seu crescimento!
Escolhida a família, dentro do que era essencial, iniciou-se a preparação do Espírito.
Quando aqui chegasse, trazendo em si, do Mundo Espiritual, aquela semente, deveria encontrar as condições para a germinação no tempo certo.
Aquele preparo, imprescindível ao Espírito, para esquecer as existências anteriores e viver tão-somente restrito ao que idealizou, foi efectuado.
Aconselhamentos realizados, enfim, tudo o que se executa nesses momentos para que, ao chegar ao mundo dos encarnados, haja apenas a semente para a germinação futura, contendo em seu cerne o firme desejo de conseguir o que prometeu, através dos planos arquitectados, sem nem mesmo ter ciência dos compromissos assumidos.
É um período de desligamento das lembranças do Mundo Espiritual, favorecendo a visão do futuro, deixando solidificadas no seu íntimo, para trazer ao plano terrestre, as convicções a serem concretizadas no momento adequado.
Completada essa preparação, aquela entidade, com uma missão muito importante, era trazida ao orbe terrestre, para uma pequena cidade do Rio Grande do Sul, a fim de vir à luz.
Passado o tempo necessário à formação do corpo, e os primeiros vagidos fossem dados diante da luz terrestre, diante do sorriso dos pais felizes, eis que aquele Espírito, já encarnado naquele corpinho frágil, é colocado nos braços dos pais, que o baptizaram com o nome de Getúlio — Getúlio Dornelles Vargas!
Aquele que trazia, sem que ninguém o soubesse, uma bagagem direccionada ao País, ao povo de sua terra, a toda esta Nação Brasileira!
A alegria de receberem aquele entezinho no lar foi muito grande, e confirmava os anseios dos pais, quando um bebé chega, satisfazendo muito mais ainda o orgulho do pai, que sempre deseja receber filhos homens.
Ao saber que era mais um homenzinho que chegava — o terceiro de seus filhos, também homens, — e, de acordo com suas próprias tendências, já prenunciava o seu futuro:
— Quero fazer dele um militar, aquele que um dia poderá ter cargos elevados dentro da Escola Militar, dentro do Exército, e, quiçá, do nosso País!
— Cuidado, querido, ele mal acaba de chegar, por que esses prognósticos tão longínquos? — contestava a esposa.
— É o que pretendo para ele, e tudo farei para conseguir! Os pais sempre desejam fazer de seus filhos o que queriam para si próprios.
Querem ver neles a continuidade de seus pendores e, quando não os conseguem para si, querem que os filhos o realizem.
O menino era forte, robusto, e logo estava andando, crescendo como todas as crianças, e, quando os pais dão acordo, já chega a hora de frequentarem uma escola.
Isso também ocorria com o pequeno Getúlio.
Criado junto dos irmãos, distinguia-se sempre em inteligência, em agudez de espírito, demonstrando, desde os primeiros dias em que se sentou nos bancos escolares, a sua argúcia, perspicácia e aplicação.
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Por isso destacava-se e progredia.
Ele era a esperança e as alegrias do pai, também um lutador, um idealista, um defensor da Pátria!
Tudo isso o menino ia presenciando e, mais ainda crescia em si a pequena sementinha que trouxera, para, no momento certo, germinar, trazendo bênçãos de flores em forma de amparo, de organização e em auxílio a todos, futuramente.
Os anos decorriam, a sua vontade era estimulada pela vontade do pai, que desejava vê-lo numa Escola Militar, e para isso preparava-se.
No entanto, para que esse sonho se concretizasse, precisava conseguir vaga, mas estava difícil.
Elas eram poucas, principalmente àqueles que não traziam nenhuma experiência da vida militar.
Assim, ingressou no Exército como soldado raso, e, no desempenho de suas tarefas, sofreu todas as vicissitudes a que estão sujeitos aqueles que abraçam tais funções.
Chegado o momento, ingressou na tão almejada Escola Militar, levando o ardor da juventude e o pai como modelo.
Era sempre o mais afoito, e não se adaptava muito bem a seu regime, porque nem sempre concordava com as ordens dadas.
Às vezes queria fazer à sua maneira, prejudicando o bom andamento do regimento interno, e não pôde permanecer por muito tempo.
Não era considerado um bom exemplo aos obedientes, aos subordinados, e foi obrigado a deixá-la, quando seus companheiros provocaram uma insurreição.
Os que participam de uma corporação têm que ser submissos diante de imposições e de ordens, para que a paz interna não se perca, o mau exemplo não seja dado, a insubordinação não cresça e a ordem não degenere.
Assim, o jovem Getúlio abandonou a Escola Militar, para desgosto próprio e de seu pai, que demonstrou a sua decepção e até vergonha diante dos seus dirigentes.
Fora da escola que tanto ansiara frequentar, voltou a ser soldado, e, como teria que servir em Porto Alegre, resolveu, concomitantemente, ingressar no curso de Direito.
Tinha que tomar uma atitude, precisava continuar os estudos, pois considerava-os importantes.
O curso de leis seria muito bom, quem sabe o ajudaria a ser mais dócil, mais submisso.
Será que algum dia ele soube ser submisso a alguém, a alguma instituição? (1)
Nunca soube, nunca se submeteu, a não ser que para isso tivesse sido obrigado, quando interesses outros estavam presentes e, devendo demonstrar submissão, tinha já em mente como agir depois.
Durante a sua permanência em Porto Alegre, tomou contacto com o meio político local, mantendo-se sempre atento às iniciativas governamentais.
Durante esse período iniciaram-se as campanhas para a sucessão do Presidente do Estado, e Getúlio, já ligado à política, passa a escrever artigos em jornais.
Em 1907 concluiu o curso de Direito.
A sua permanência em Porto Alegre lhe foi muito favorável para o que trazia em si, e pôde desenvolver, a par dos estudos, as suas tendências políticas.
Formado que foi, passou a ocupar o cargo de Promotor Público de Porto Alegre, e, como sói acontecer à maioria dos jovens, contraiu matrimónio com uma jovem de nome Darci Sarmenho.
A semente política remexia-se dentro de si, e ele voltava os olhos à Assembleia de Representantes do Estado, tendo para ela sido eleito no ano de 1909.
Passou a dividir o seu tempo entre a política, em Porto Alegre, e a advocacia, em São Borja, sua cidade natal.
Permaneceu na Assembleia trabalhando em favor do povo, mas, revoltado por discordar de atitudes tomadas por seu partido, na pessoa do governador do Estado, Borges de Medeiros, resolveu renunciar a seu cargo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 30, 2018 7:46 pm

Através de nova eleição, anos mais tarde, voltou à mesma Assembleia, conquistando a posição de seu líder, e, em seguida, também pelo voto, é levado ao Congresso Nacional, na investidura de Deputado Federal.
Nesse período, muito auxiliou o seu Estado, sobretudo no momento em que, em 1922, rompeu com o governo federal e passou a apoiar o candidato da oposição.
Houve um período de lutas, e ele conseguiu impedir que o governo federal interviesse.
Nessa época, Getúlio Vargas, por obrigações de suas novas funções, transferia sua residência, com a família, para o Rio de Janeiro.

(1)"Aprendeu a controlar seu temperamento impaciente, ardoroso, quase intempestivo, nas lides da própria experiência. "- Alzira Vargas do Amaral Peixoto, em "Getúlio Vargas, Meu Pai". — Editora Globo, pág. 4.
- Nota da Médium.
Mais tarde, quando o paulista Washington Luís foi eleito Presidente da República, convidou-o a fazer parte do seu ministério, entregando-lhe a Pasta da Fazenda, em cujo desempenho demonstrou muita seriedade e honradez.
A um deputado, ainda sem muita projecção em âmbito nacional, tal função ser-lhe-ia o prelúdio de oportunidades que lhe chegariam, satisfazendo a concretização de seus anseios políticos — aqueles que trazia em si!
Em 1928, é eleito Presidente de seu Estado!
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A CHEGADA DA OPORTUNIDADE
Preparavam-se, em âmbito nacional, algumas mudanças.
Aproximava-se o período em que a sucessão presidencial começaria a ser tratada.
O partido político do Presidente em exercício dominava todo o país, mas forças oposicionistas começavam a se formar.
Em São Paulo, a criação do Partido Democrático Paulista era uma demonstração de que nem todos estavam satisfeitos com a política vigente até então.
Ao mesmo tempo, no Rio Grande do Sul, a Aliança Libertadora também se formara, opondo-se à política do governo federal.
Para o momento político em que o País penetraria, essas duas forças opositoras se uniram, formando o Partido Democrático Nacional.
Ao mesmo tempo, pela alternância que vinha ocorrendo, em relação à sucessão presidencial — alternância essa entre os Estados de Minas e São Paulo — o então governador de Minas, António Carlos, com um passado de dedicação à vida pública, reconhecia-se no direito de ser o candidato às eleições, e, com os olhos voltados ao referido cargo, começava seus contactos políticos com bastante antecedência, diante do silêncio do Presidente Washington, quanto à aludida sucessão.
Mas eis que, contrariando as expectativas, o governo federal, sem o declarar abertamente, trabalhava a candidatura de Júlio Prestes — o grande defensor de seu plano financeiro na Câmara, e indicado posteriormente para governador de São Paulo — sobre o qual teria ascendência, a fim de dar continuidade ao seu projecto económico.
Apesar de nada ter sido declarado publicamente, todos tinham como certa a candidatura Júlio Prestes, que, com o auxílio da máquina administrativa do governo, teria a vitória garantida.
Porém, o governador mineiro, que abrigava em si tal intenção, sentindo-se frustrado em seus anseios, recorre ao Rio Grande do Sul, para a formação de uma aliança, e ambos estatuírem uma candidatura de oposição ao Presidente.
O Estado do Rio Grande do Sul, que se via relegado ao esquecimento por não ver nenhum de seus filhos prestigiado com o governo federal, mostrou-se receptivo ao apelo dos mineiros, com a condição de que o candidato fosse gaúcho.
Minas concorda e, na Câmara Federal, os deputados de ambos os Estados começam a reunir adeptos.
Promoveram a união interna do Rio Grande do Sul, e aliaram-se na luta de derrubada da oligarquia paulista, formando a Aliança Liberal.
Lançaram como candidato, o então governador do Estado — Getúlio Vargas — que aceitou, depois de certa relutância, e, muito cuidadoso, comunicou-se com Washington Luís sobre a sua candidatura, colocando-se à disposição para qualquer entendimento.
Mas o Presidente, em resposta, afirmou-lhe que todos os Estados eram unânimes em apoiar o seu candidato, com excepção da Paraíba, que a isto havia se negado.
Diante dessa afirmativa, e da recusa do governador da Paraíba, João Pessoa, em apoiar o candidato da situação, e, tendo-se aliado aos revoltosos, ele foi convidado para, juntamente com Getúlio Vargas, concorrer à vice-presidência.
O movimento crescia e o povo se empolgava!
Mas, chegadas as eleições, em primeiro de março, o candidato presidencial foi o vitorioso em todos os Estados, menos naqueles que faziam parte da Aliança Liberal.
Os desmandos do Presidente, durante a campanha política, foram muito grandes, principalmente no combate aos adversários.
Foram utilizados todos os recursos da máquina governamental, gerando ainda mais a indignação entre os adeptos da Aliança, e entre o povo por ela advertido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 30, 2018 7:47 pm

Os ânimos estavam acirrados e preparavam um movimento, uma vez que, concluído foi, que nunca poderiam enfrentar essa máquina, nos moldes em que era manejada — só uma revolução solucionaria o problema!
Borges de Medeiros, ex-govemador do Rio Grande do Sul, em entrevista a um jornal, aconselhava a todos que aceitassem pacificamente o resultado das eleições, mas viram-se impedidos, quando o próprio governo, usando de arbitrariedade, não reconheceu os candidatos eleitos pela Aliança.
Entretanto, um acontecimento, entre todos, seria o estopim que viria a incendiar os corações de revolta, de tristeza, de consternação!
— Foi o assassinato, no Recife, de João Pessoa!
A partir daí, nada mais deteria os revoltosos!
Borges de Medeiros também aderiu ao movimento, convidando um oficial nordestino que a eles se juntara—Góis Monteiro — para prepará-lo. Em reuniões constantes de preparações e estratégias, designaram o dia 3 de outubro, para o início do movimento.
Tudo o que lhes pudesse oferecer resistência ou perigo, seria alvo de controle e até de ataques.
O entusiasmo, em quase todos os Estados, era grande!
Por conveniência de estratégia, São Paulo e Rio de Janeiro foram deixados para o final das operações.
No momento combinado, as diligências se efectivaram, e iniciada foi a revolta, em diversos pontos do País, com muita precisão.
Por onde passavam, iam rendendo as forças de resistência, depondo governadores, até que chegariam a São Paulo, o Estado que lhes trazia um pouco mais de preocupação.
Getúlio Vargas, deixando o governo de seu Estado a Osvaldo Aranha, comandou pessoalmente os contingentes que partiram do Sul.
Ao mesmo tempo em que essa operação se desenvolvia, no Rio de Janeiro, um grupo de generais envidava esforços para que o Presidente Washington Luís se reconhecesse derrotado, e renunciasse pacificamente.
Ele, entretanto, resistia, mas acabou sendo convencido pelo cardeal Leme, cujo auxílio Mena Barreto e os outros generais solicitaram, para que uma solução pacífica fosse encontrada.
Vendo-se sem condições de resistência, cedeu aos seus apelos e entregou a Presidência.
Era o dia 24 de outubro de 1930!
Foi organizada uma Junta Militar Pacificadora, que governou até 3 de novembro, quando o poder foi passado a Getúlio Vargas — comandante da revolução.
Os propósitos realizados no mundo espiritual cumpriam-se!
O cargo que desejava, viera-lhe às mãos, no momento em que lhe fora entregue o governo, embora o fosse provisório.
A oportunidade chegava-lhe!
O desejo maior de ser o chefe desta Nação abençoada por Deus, concretizava-se.
A necessidade deste País submisso e dócil, com todas as suas riquezas, com todas as suas deficiências, estava aberta amplamente à sua frente.
Ele era o seu chefe supremo! Tudo o que havia preparado em objectivos, em favor de tantos, poderia ser colocado em prática.
Os amigos espirituais que sempre se dispõem a ajudar aqueles que partem do Plano Espiritual, trazendo tarefas tão importantes, estavam a postos para ampará-lo, orientá-lo e fazê-lo lembrar, de forma intuitiva, e como ideias, os propósitos previamente estabelecidos.
Ele não chegava ao governo como deveria ter sido, a aclamação popular, pelo voto da maioria!
Mas, já lá estava! Bastava apenas que fosse receptivo aos amigos que se comprometeram a protegê-lo e ampará-lo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 30, 2018 7:47 pm

O corpo é uma barreira de esquecimento!
A convivência, os interesses pessoais de cada um, fazem com que, muitas vezes, promessas realizadas fiquem esquecidas, mas os amigos, junto dele, o auxiliariam.
A par dos amigos espirituais, um chefe de nação tem que se acercar de outros aqui deste plano, que nem sempre são verdadeiros, pois querem, também, ver concretizados os seus interesses.
Um chefe de nação, embora tenha o poder nas mãos, tenha a palavra final, muito realizam aqueles que o assessoram, tanto ajudando-o, como desviando-o dos objectivos para os quais aqui veio, e para os quais foi levado ao cargo máximo.
Assim, entregue o governo em suas mãos, provisório seria, até que o País se organizasse e os ânimos da revolução se acalmassem.
Providências deveriam ser tomadas, e começaram pelo fechamento do Congresso Nacional, das Assembleias Estaduais e das Câmaras Municipais, centralizando o poder no Executivo, reforçando a sua autoridade.
Criou-se um Ministério, cujas pastas foram confiadas aos companheiros que o auxiliaram nessa escalada.
Tomadas essas medidas, o governo começou as suas actividades sem um programa anteriormente estabelecido, o que veio a gerar maiores dificuldades.
O País estava desorganizado em decorrência do próprio momento político e administrativo que vivera, e os problemas aguardavam soluções.
A organização política dos Estados era importante, e, para isso, começou-se por nomear interventores, directamente ligados ao poder central, em lugar de governadores, resultando assim, no controle ou na supressão da autonomia de que cada Estado gozava.
O poder centralizava-se, acumulando as funções executiva e legislativa, ampliando a autoridade federal a que os interventores estavam subordinados.
Aqueles que não acreditaram no sucesso da revolução, os adversários da Aliança Liberal, já criticavam as medidas do governo que começava, por isso, a ser combatido.
Com a nomeação dos interventores, o País ia se organizando, mas faltava São Paulo, ao qual o governo teria que dispensar uma atenção especial, por algumas razões de grande relevância no momento político e no concerto geral da Nação.
Era o Estado mais rico da Federação, muito bem localizado, com a prerrogativa das facilidades que o progresso económico lhe conferira, e nele se localizava a grande força política — o P R P — que, embora abatido, dominara o País durante algumas décadas, e, ao qual pertencia o governo deposto, ainda respeitado pela sua grande maioria.
O Partido Democrático, que combatera na revolução, esperava ser agraciado com a escolha do interventor, dentro do seu partido.
Mas, eis que, não só para surpresa, mas descontentamento geral, Getúlio Vargas nomeia um líder revolucionário, o tenente João Alberto, e outro líder, Miguel Costa, também tenente, para o cargo de chefe de polícia.
A pressão dos paulistas contra João Alberto, foi de tal monta, e chegou a gerar uma crise tão séria, que ele, após alguns meses, demitiu-se para salvaguardar a integridade do governo federal, já então ameaçada.
O governo desenvolvia o seu trabalho baseado em correntes divergentes — o Partido Democrático de São Paulo, que tinha como adeptos uma parte da classe média e os antigos cafeicultores, lutando por um governo constitucional, por eleições livres e pelas liberdades civis.
Outra corrente era a defendida pelos militares, por um outro sector da classe média, e os operários, que desejavam um governo
centralizado, forte, e com unidade nacional, rejeitando as oligarquias agrárias, principalmente a cafeeira.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 01, 2018 8:11 pm

Esse ponto de vista era defendido pelos tenentes, em sacrifício mesmo dos ideais democráticos, com o intuito de promover mudanças sociais e económicas.
Criou-se o Clube 3 de Outubro, formado pelos tenentes, combatentes na revolução, com a finalidade de dar apoio ao governo.
A presidência foi entregue ao general Góis Monteiro.
Foi um período que coincidiu com a crise mundial, cujos reflexos foram sentidos aqui também, pela diminuição da exportação do principal produto do País — o café — trazendo consequências no seu valor de mercado, que teve seu preço diminuído.
Criou-se, em decorrência disso, o Conselho Nacional do Café, que, com intenção de melhorar os preços, incinerou milhões de sacas do produto.
A revolução, que tinha sido levada a efeito, sobretudo para dirimir uma crise gerada em decorrência do predomínio das oligarquias cafeeiras, nada estava conseguindo realizar em favor dos outros produtos, e os problemas continuavam.
Desempregados havia muitos!
A insatisfação dos que sofriam era grande e constituía uma ameaça ao governo.
Os desempregados reuniam-se em praças públicas, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, à espera de soluções.
Essa situação de dificuldade entre o proletariado facilitava a penetração e expansão dos comunistas, que, mesmo na ilegalidade, estimulava-os à rebelião, provocando a desordem, principalmente nas capitais.
Os que trabalhavam, faziam-no em péssimas condições, e a Aliança Liberal entendeu que algumas providências, em favor dos trabalhadores, deveriam ser tomadas.
Assim, o Ministério do Trabalho, criado logo após a instalação do governo provisório, tendo como seu Ministro, o senhor Lindolfo Collor, tomou diversas medidas que satisfizeram, em parte, algumas das reivindicações trabalhistas.
Mas, ao mesmo tempo, reteve para si o controle das actividades sindicais, terminando com a sua liberdade e tomando ainda outras medidas que desagradaram os operários, como a proibição de greve e a suspensão temporária de férias.
Terminada a liberdade sindical, outra atitude governamental seria necessária — o combate aos comunistas, deturpadores da ordem.
As perseguições começaram, e os presos eram enviados à Colónia Correccional de Ilha Grande.
Essa perseguição não se limitou somente aos comunistas ou supostos comunistas, mas se estendeu também aos políticos do governo anterior.
A imprensa passou a ser censurada, através de normas estabelecidas pelo então Ministro da Justiça, Osvaldo Aranha, sob pena de fechamento, em caso de desobediência.
Muitas sublevações, em diversos pontos do País, estavam surgindo, mostrando a insatisfação popular pelo governo revolucionário.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 01, 2018 8:11 pm

A REVOLUÇÃO DE 1932
Getúlio Vargas era o mandatário maior desta grande Nação, tão cheia de problemas aguardando soluções.
Tivera em suas mãos o poder de mando, há um ano já.
As circunstâncias que o levaram ao posto, por demais conhecidas, deixaram-no aturdido, e trabalhara sem um projecto definido, lutando
por firmar-se no governo, desprezando antigos ideais tão proclamados por ocasião do momento revolucionário.
Contudo, se não os tinha de forma sólida, elaborados aqui neste plano, trazia os outros, arduamente trabalhados dentro de propósitos tão sublimes de renúncia de si próprio, de dedicação e de trabalho incansável, para reerguer esta Nação sofrida, proporcionando-lhe oportunidades de grande progresso individual e colectivo.
Mas, após esse ano de governo, perguntamos:
Havia realizado aquilo que planejara?
Havia sido feliz no seu desejo de ajudar o povo?
Havia agido, ordenado e comandado correctamente, dentro dos princípios que devem reger a integridade de carácter, o espírito humanitário e, ao mesmo tempo, enérgico?
Teria realizado tudo, ou, pelo menos um pouco do que desejava, em prol de seus irmãos de nacionalidade?
Deus o julgaria!
E nós, continuaremos a narrar os factos que se sucederam.
Terminado esse primeiro ano, o país estava praticamente acomodado, porém, o maior Estado, o mais rico, o mais progressista, vira-se lesado em seus mais elevados anseios.
Tivera o seu governo deposto e o partido dominante vencido.
Os paulistas — que é do Estado de São Paulo que falamos — não se conformavam e envidavam todos os esforços para retomar o poder.
No entanto, o governo provisório munira-se da arma com que contava, em razão de seus interesses — não nomear um paulista para a interventoria — podando, pela raiz, qualquer tentativa que pusesse em perigo a sua permanência no poder.
Quando da nomeação de João Alberto, os ânimos de São Paulo recrudesceram, e eles, que viam, no seu Estado, pessoal capacitado para desempenhar tal função, não se conformaram e o combateram o mais acirradamente que puderam, até que, desprestigiado, ao cabo de algum tempo, demitiu-se do cargo.
Entretanto, o governo federal tinha que se precaver, e essa era a forma.
Alguns outros interventores foram nomeados, mas sempre tiveram a hostilidade do povo, que queria no poder um paulista e civil, o que conseguiram depois, na pessoa de Pedro de Toledo.
O PRP, alijado do governo federal, procurava reforçar-se.
Era um partido tradicional, com longa permanência no poder, e tinha como adeptos os velhos coronéis, a aristocracia cafeeira, mas precisava modernizar-se, atingir outros sectores da sociedade.
Em vista disso, procurou infiltrar-se entre os jovens, sobretudo os universitários, concitando-os a lutarem pela reconquista do poder.
A 25 de janeiro, data do aniversário da cidade, organizaram um grande comício, propondo uma luta em favor da constitucionalização do País, reivindicação que já era um dos motivos de seus empenhos.
O PRP e o PD aproximavam-se, e, imbuídos que estavam do mesmo ideal, resolvem se unir completamente, formando uma ampla Frente Única, em favor dos ideais constitucionalistas e o fim do governo provisório.
Em 23 de maio, estudantes e outros revoltosos procuram combater alguns jornais e entidades que davam apoio ao governo federal, provocando um tiroteio, durante o qual quatro jovens universitários perderam a vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 01, 2018 8:11 pm

Com as iniciais de seus nomes, formou-se a sigla que passaria a ser o símbolo da revolução — MMDC.
São Paulo começa a formar seus contingentes, recrutando até mesmo voluntários!
Ao mesmo tempo, a situação do governo federal agravou-se em decorrência de uma crise nos meios militares, e, muitos dos que haviam apoiado a revolução de trinta, passaram a integrar o movimento paulista, lutando ao lado deles, visando à destituição do governo provisório. Era o auxílio de forças federais que lhes chegava, e também o apoio do seu interventor, Pedro de Toledo.
Getúlio Vargas, ciente de toda essa situação, convocou o general Góis Monteiro para organizar a defesa do Rio de Janeiro, tanto por mar quanto por terra.
Mas ele não se limitou só ao que lhe fora solicitado, e ainda enviou tropas de encontro aos revoltosos.
Três grupos foram formados — um avançando pelo vale do Paraíba, outro pela Mantiqueira e outro vindo do Sul, comandado por Benjamim Vargas, irmão do Presidente.
As lutas iniciadas a 9 de julho prosseguiram até setembro.
São Paulo não tinha condições de continuar.
Não esperavam que se prolongassem tanto.
Faltavam soldados, e os que resistiam, estavam cansados e descontentes.
Faltavam armas e munições, que não poderiam ser supridas, pelo bloqueio do porto de Santos, ordenado por Getúlio Vargas, apesar das resistências de Pedro de Toledo.
As indústrias não tinham condições de repô-las.
As forças federais avançavam mais e mais. O general Klinger, comandante da revolução, ex-participante da deposição do antigo Presidente, resolve pedir um acordo de paz, que foi tratado com Góis Monteiro, tendo este sido firmado em primeiro de outubro.
São Paulo, aparentemente, estava derrotado, mas lutara por um ideal que foi conseguido.
O governo federal sentiu-se compelido a atender as suas exigências, e as eleições foram realizadas, a constituinte votada e, em 1934, a nova Constituição entrava em vigor.
Para a alegria de São Paulo, foi nomeado para o seu governo, Armando de Sales Oliveira, paulista e civil, como era o desejo de todos.
O Presidente estava feliz.
Tudo o que planeara fora realizado.
As suas manobras, as suas reuniões, as suas ordens, os seus comandados, enfim, tudo havia saído a contento.
Conseguira realizar os seus objectivos, e, nesse primeiro problema um tanto mais sério, desde que investido do cargo de governo, embora provisório, pôde demonstrar a inteligência, o poderio, e a força de liderança de que era dotado, juntamente com alguns de seus auxiliares fiéis e dedicados que, às vezes, tomavam até decisões por ele, orientando-o quanto à melhor forma de agir.
Estava feliz, conseguira vencer a rebelião de São Paulo, e tinha o apoio de quase todo o resto do País. Convocara forças, planos foram arquitectados e vencera.
Julgava ter se saído fortificado desse engenho, e ciente de que não encontraria mais oposição para o que desejasse, pretendia se reafirmar ainda mais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 01, 2018 8:14 pm

CONSTITUIÇÃO DE 34
Quase todos os estados estavam acomodados, com excepção do Rio Grande do Sul, justamente a terra natal de Vargas, onde um certo descontentamento abalava o seu prestígio de Presidente.
Após a revolução paulista, através de antigos partidos tradicionais que se uniram para formar a Frente Única, esse mesmo Estado criou o Partido Republicano Liberal.
O Clube Três de Outubro formou outro partido — o Socialista — que pretendia se infiltrar nas classes operárias, e, para isso, criou uma Acção Trabalhista.
Getúlio Vargas, com sua habilidade e astúcia, soube manejar muito bem as bases de ambos os partidos e assim conseguiu, por esse meio, conquistar a classe trabalhadora.
Foi organizada uma comissão para elaborar um Código Eleitoral, no mesmo ano de 1932, cujos resultados, após aprovados, foram incluídos na Constituição.
Ele concentrava em si algumas das aspirações de muitos, principalmente as dos revoltosos paulistas.
Através desse novo Código, a idade mínima para exercer o direito de "voto, antes 21 anos, passava para 18, e as mulheres, que não tinham esse direito, passavam a tê-lo. Incluídos foram também os deputados classistas, por exigência de Vargas, eleitos pelos sindicatos profissionais de patrões e empregados, com as mesmas prerrogativas dos outros.
Era uma forma de ter quarenta operários na Constituinte, e um meio de o próprio governo central ter mais controle sobre a Assembleia.
Foi criada também a Justiça Eleitoral.
As eleições foram realizadas normalmente, sem maiores problemas, e, em São Paulo, foi eleito um governador civil e paulista, como desejavam, Armando de Sales Oliveira, anteriormente nomeado pelo governo federal para o cargo de interventor.
No Rio Grande do Sul, elegeu-se Flores da Cunha, através do Partido Republicano Liberal, e, nos outros Estados, principalmente nos do Norte, onde os tenentes eram os interventores, passaram a ser seus governadores, através do voto.
A Assembleia Constituinte instalou-se em novembro de 1933, já tendo em mãos um anteprojecto que lhe fora entregue por uma comissão composta de juristas e políticos, nomeada pelo governo federal.
A nova Constituição foi aprovada em julho de 1934, e constava de suas disposições transitórias a eleição indirecta para Presidente da República.
Assim, Getúlio Vargas, obtendo a maioria dos votos, seguido por Borges de Medeiros, foi eleito para um mandato que deveria durar até 3 de maio de 1938, quando passaria o cargo ao novo Presidente eleito, através das eleições que se realizariam em janeiro do mesmo ano.
A Assembleia Constituinte foi transformada, a seguir, em Câmara de Deputados.
Essa nova Constituição demonstrava o interesse do governo pelo campo social, quanto à saúde, educação e trabalho, e incluía, em um dos seus artigos, alguns direitos que seriam garantidos aos trabalhadores, preocupação essa que nunca fizera parte das anteriores.
Era a primeira que legislava a favor deles, assegurando-lhes um salário mínimo, uma jornada de trabalho de oito horas, descanso semanal e férias remuneradas, indemnização por dispensa sem justa causa, proibição de trabalho aos menores de 14 anos, assistência e licença à gestante. Criou também a Justiça do Trabalho.
A par disso, liberou a actividade dos partidos, entre os quais o Comunista, que até então agia na clandestinidade, e a Acção Integralista, criada em São Paulo por Plínio Salgado, comprometendo os ideais democráticos.
Essa Constituição teve curta duração, pois, no ano seguinte, o país passou por diversas crises, obrigando o governo federal a decretar Estado de Sítio, e assim os seus direitos foram suspensos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 01, 2018 8:14 pm

O LEVANTE COMUNISTA DE 35
As oportunidades favoreciam o primeiro mandatário da Nação.
Era Presidente eleito, e, no entanto, não se encontrava satisfeito.
Obrigado pelo que impunha a Constituição, seu tempo de governo estava já determinado e, em poucos anos expiraria.
Tudo terminaria, tudo passaria, mas o desejo de continuar era grande, embora inconfessável.
Para isso utilizava-se de todas as oportunidades, e, juntamente com seus comandados, ia preparando o que mais ambicionava.
Todas as suas atitudes eram profunda e anteriormente manipuladas, visando a um único objectivo.
O partido Comunista era um desses pontos que lhe favoreceria situações para serem trabalhadas.
Pretendendo promover a defesa do povo, estimulava-o a lutar por seus direitos, o que nem sempre era realizado de forma pacífica, ocasionando a desordem social.
Liberados pela própria Constituição, comunistas e integralistas passaram a propiciar ao governo os ensejos de que necessitava.
Os integralistas, a princípio opositores de Vargas, uniram-se a ele, numa comunhão de interesses, para mais facilmente combaterem os comunistas que temiam, gerando a desordem.
A conturbação se disseminava pelo País, e, nessa ampla liberdade de acção, comprometiam a democracia, favorecendo a Vargas, o golpe que de há muito preparava.
Luís Carlos Prestes, capitão revolucionário liberal, que comandara a coluna Prestes por todo o país, exilado em Buenos Aires, voltou-se ao marxismo, rompendo com a coluna, e, após a promulgação da Constituição de 34, ingressou no Partido Comunista.
Em alguns países da Europa, bem como nos Estados Unidos, o desemprego era grande.
Muitos dos reflexos de acontecimentos no exterior, eram sentidos aqui.
O principal deles foi o nascimento do nazismo.
Hitler, através de um golpe, tomou o poder, derrotando o partido comunista alemão.
Ao mesmo tempo surgia um movimento revolucionário anticapitalista mundial, e, em muitos lugares, os comunistas fortaleciam mais o seu poderio e suas ideias.
O fascismo foi uma forma de protecção aos capitalistas, que se viam ameaçados.
Crescia também um movimento que se apresentava como uma contra-ofensiva a esse tipo de reacção.
Isso se concretizou na formação de Frentes Populares, que congregavam os operários de esquerda.
Aqui, essas Frentes, a exemplo do exterior, tiveram sua instalação através da Aliança Nacional Libertadora, com características próprias locais, e que conseguiu, num curto espaço de tempo, arrebanhar as massas populares, sobretudo as classes médias e o proletariado, tendo, na sua retaguarda, o comando comunista, sob a orientação de Prestes.
Quando ele retornou ao Brasil, depois da instalação da Aliança, vinha para chefiar a sublevação e, a partir daí, passou a comandar efectivamente o Partido Comunista.
Trouxe consigo sua esposa, Olga Benário, comunista, de nacionalidade alemã.
Os objectivos básicos da Aliança Nacional Libertadora eram, entre outros, a luta pela suspensão do pagamento da dívida externa, pela nacionalização das empresas estrangeiras, pela entrega de terras dos grandes proprietários aos trabalhadores rurais e camponeses.
A polícia não reprimia os passos de Prestes, mas, atenta, deixava-o agir livremente, como resultado de um plano de Vargas, para atingir os fins que colimava.
Em julho de 1935, um manifesto de Prestes surpreende a população.
Graves acusações nele contidas, contra o governo de Vargas, eram o móvel principal que concitava a todos para a insurreição, mostrando as vantagens da instalação de um governo popular revolucionário.
Homens de sua confiança foram enviados a todos os Estados para preparar o movimento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 01, 2018 8:14 pm

As lutas que se travavam entre os integralistas e a Aliança estavam gerando conflitos por todo o país, muitos dos quais incitados pelo Presidente Vargas, sempre ciente do que se planeava, pela penetração de elementos de sua confiança nesses meios.
Tudo em razão dos planos que elaborava.
Surgiram muitas greves, a agitação se espalhava, deixando por todo o país muitos mortos e feridos.
Quando Vargas tomou conhecimento do manifesto de Prestes, expediu um decreto, fechando, por seis meses, todos os núcleos da Aliança Nacional Libertadora.
Essa atitude veio fortalecer o integralismo e sua união maior com Vargas, porém, não impediu que a Aliança continuasse a subsistir na ilegalidade, estimulando-a a marcar com maior determinação, a data para a insurreição.
O dia 27 de novembro foi o escolhido para o levante em todo o país, mas, manobras utilizadas, fizeram com que eclodisse em datas diferentes, nos diversos lugares, perdendo assim a sua força.
Como o governo estava sempre muito bem informado, e, sabedor de que reservavam para o dia 27 graves acontecimentos para o Rio de Janeiro, já no dia anterior, através de um decreto, declarava Estado de Sítio, para todo o território nacional.
A rebelião foi iniciada em alguns pontos do Rio, mas sufocada logo em seguida, graças aos bons préstimos do general Dutra.
Foi um período de terror!
A polícia praticou actos de crueldade sem conta.
Prendeu indiscriminadamente sem verificar classe social ou política.
Prendeu comunistas e membros dirigentes da Aliança.
Foi efectuada também a prisão de Olga Benário, a esposa de Luís Carlos Prestes, grávida, que, enviada de volta à Alemanha, morreu num campo de concentração.
Luís Carlos Prestes, assumindo toda a responsabilidade do levante, foi preso e julgado pelo Tribunal Militar.
Após esse período difícil da revolução, Vargas conseguiu do Congresso algumas emendas constitucionais, outorgando-lhe certos direitos, que traziam em seu cerne o germe ditatorial.
A partir daí, a terra estava preparada para nela ser lançada a semente da ditadura.
Juntamente com as forças militares e conservadoras, e os integralistas, tendo como pretexto o comunismo, ele começou a preparar o golpe de 37.
Mas, na realidade, a sua intenção era outra — era pessoal.
O seu mandato terminaria com as eleições de 4 de janeiro de 1938.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 01, 2018 8:14 pm

[b]O GOLPE DE ESTADO/b]
Os ânimos efervescentes da revolução de 35 acalmaram-se, graças aos métodos utilizados pela polícia.
As greves ameaçadoras da paz foram também reprimidas, e a Aliança Nacional Libertadora, bem como o partido Comunista, sufocados.
Os ideais democráticos, tanto na Itália quanto na Alemanha, enfraqueciam-se pela grande ascendência do fascismo e do nazismo, fortificando, aqui, os anseios ditatoriais, de há muito acalentados por Getúlio, que, sorrateiramente, preparava a sua continuidade no governo.
Estimulava-o, entre outros, o general Góis Monteiro, grande personalidade do Exército e ex-ministro da Guerra, que, não vendo o Congresso com bons olhos, preferia tê-lo fechado.
Getúlio Vargas, que também compartilhava desses sentimentos, deixou patente que não hesitaria em dissolvê-lo, caso opusessem qualquer resistência às reformas que pretendia implantar.
Ele sabia que poderia contar, no momento certo, com o apoio das Forças Armadas e dos integralistas que, a partir da revolução comunista de 1935, vira crescer muito o número de seus adeptos.
Quase todos os governadores dos Estados também o apoiariam, com excepção de Flores da Cunha, governador do Rio Grande do Sul, que pretendia candidatar-se à sucessão presidencial, e de Armando de Sales Oliveira, governador de São Paulo, que também se apresentava como candidato ao mesmo posto.
Era preciso afastar esses dois empecilhos.
De Flores da Cunha, Góis Monteiro se incumbiu pessoalmente, e, trabalhando o seu prestígio nos pontos encontrados como falhos no governo, preparou-lhe um cerco.
Em relação a São Paulo, que não perdera as esperanças de voltar ao governo federal, desde a deposição de Washington Luís, e tendo o seu candidato na pessoa do seu governador, Armando de Sales Oliveira, que já havia renunciado ao cargo para concorrer às eleições, a manobra seria outra.
Deveriam arranjar-lhe um concorrente, apoiado pelo governo, demonstrando ao povo que as eleições realmente se realizariam — a maioria duvidava —, e o candidato de São Paulo passaria a ser visto como de oposição.
Articulações foram efectuadas, até que, após as primeiras dificuldades, foi lembrado o nome do paraibano José Américo, considerado pessoa de prestígio, por ter sido ministro do governo, antigo tenente e escritor de talento.
As duas candidaturas foram lançadas em maio — Armando de Sales Oliveira e José Américo —, que mantiveram a campanha num nível de respeito e ordem, contrariando as pretensões e os interesses do governo que esperava, do confronto entre os candidatos, a concretização do seu maior desejo.
Vargas, porém, usando da sua sagacidade e contando com a conivência de algumas classes, preparou o golpe.
Auxiliaram-no o general Góis Monteiro; o recém-nomeado Ministro da Justiça, Francisco Campos, já encarregado de redigir a nova Constituição; os integralistas e a polícia do Distrito Federal, sob o comando de Filinto Muller.
Os preparativos continuavam, os conchavos eram realizados, e as oportunidades surgidas naturalmente, ou provocadas, eram aproveitadas como meios que os levariam ao objectivo final — garantir a continuidade de Vargas no governo!
Após a dissolução da Aliança, os comunistas que passaram à clandestinidade, aderiram à candidatura José Américo.
A presença dos comunistas, embora clandestina, era sempre uma ameaça, e foi aproveitada para alarmar a população, de forma exagerada, pela incitação militar, criando, assim, um ambiente propício ao golpe.
A situação política internacional, principalmente na Europa, onde o nazismo e o fascismo dominavam, contribuía em muito para tais articulações.
Aqui, tudo era meticulosamente aproveitado para infundir medo à população.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 01, 2018 8:15 pm

O ponto máximo dessa preparação surgiu em fins de setembro, quando anunciaram a descoberta de um plano subversivo, organizado na Europa, segundo o qual pretendiam instalar aqui o comunismo.
O plano vinha assinado por um nome estranho — Cohen.
O governo passou a se utilizar dele, apresentando-o como terrorista, através de comunicados oficiais pelo rádio e pela imprensa.
Alguns perceberam tratar-se de um plano forjado, assim como também o nome que trazia, mas o governo o dava como verdadeiro, publicando até listas de nomes de pessoas que seriam fuziladas.
O governo, continuando a desenvolver o que havia planeado — diante da gravidade da situação — pedia a decretação de estado de guerra e, logo após, foi levada a efeito a intervenção no Rio Grande do Sul.
O golpe não tinha nenhum obstáculo a impedi-lo, e já não era segredo para ninguém, uma vez que Getúlio obtivera o apoio dos governadores de quase todos os Estados.
Na manhã do dia 10 de novembro, Getúlio, com a polícia de Filinto Muller, fechava o Congresso.
À noite, num pronunciamento em cadeia de rádio, justificou o golpe, e logo no começo de dezembro, extinguiu todos os partidos políticos.
A nova Constituição foi apresentada à Nação, no mesmo dia do golpe, por publicação pelo Diário Oficial, e redigida, em sua maior parte, por Francisco Campos, confirmando, assim, que tudo estava já preparado.
Ao novo regime ditatorial que se instalava no País, foi dado o nome de Estado Novo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 01, 2018 8:15 pm

O ESTADO NOVO
Os dias passavam, desde aquele em que o nosso herói fora investido no seu cargo, o que vinha de preparar de há muito, ou melhor, aquele que preparara desde o primeiro dia em que ali se assentara provisoriamente.
Tudo o que fizera — suas acções, suas atitudes — visava ao que mais desejava, dominar o País de forma absoluta.
Para que Congresso?
Apenas para impedir e entravar as suas decisões! Por que não fechá-lo, dissolvê-lo?
Assim fez, como consequência de tantos fatos já aqui narrados.
Os seus companheiros o ajudaram.
Aqueles que mais de perto tinham em si os anseios de absolutismo, aqueles que eram contra a liberalidade, não só o apoiaram, mas também contribuíram para a sua concretização.
Foram usados métodos correctos, dentro do que manda a moral elevada, os sentimentos humanitários, a correcção de carácter?
O que importa, quando interesses tão grandes estavam em jogo?
O prazo de seu mandato expirava, e a continuidade ser-lhe-ia impedida.
Os meios existentes foram bem aproveitados e, quando não teriam a força suficiente para derrubar todas as barreiras para a consecução dos objectivos colimados, outros foram criados.
O plano Cohen foi o mais triste dos recursos montados para amedrontar o povo, e era preciso que isso ocorresse.
O povo, temeroso, precisava de um pai que o protegesse, e esse pai se apresentava, em nome de toda a Nação, trazendo o seu amparo, colocando o País em ordem, terminando com os conflitos e a pretensão de muitos, para que apenas uma pretensão maior prevalecesse.
E ela prevaleceu.
Sim, o ato final concretizou-se, naquela manhã de 10 de novembro, depois de uma preparação sorrateira de muito tempo.
Tudo estava já preparado.
As maiores autoridades do País estavam coniventes.
Não haveria revolta, não haveria reacção, não haveria nada a impedir, pelo contrário, ele seria o salvador da Nação, num momento em que muitas forças se apresentavam para querer dominar o País, principalmente as forças comunistas, como assim apresentava o plano Cohen.
Diante de toda essa situação, o que dizer dos planos efectuados no mundo espiritual?
Suas vitórias aqui conquistadas, da forma como o foram, faziam parte de planificação tão sublime?
Estavam os mentores que autorizaram a execução dos seus propósitos, satisfeitos com as suas conquistas?
Eram essas vitórias, aquelas que levam ao Mundo Espiritual o regozijo pelo bom desempenho dos compromissos assumidos, aquelas mesmas que contam com o auxílio dos amigos espirituais que acompanham seus protegidos?
Ou esses amigos foram totalmente esquecidos, e seus apelos, nunca ouvidos, porque a voz do interesse e da ambição pessoal pelo poder, falara mais alto?
Quantas indagações que um dia teriam as respostas, e fariam parte das próprias reflexões e análises do nosso protagonista.
Por ora, deixemo-lo entregue aos seus próprios anseios e ao prazer de sentir-se um Presidente Absoluto!
A forma de realização dos seus objectivos, a condução dos seus actos, como o mandatário maior desta Nação, todos serão de sua total responsabilidade.
Se acertar, cabe-lhe o reconhecimento do Mundo Espiritual e a satisfação de ter trabalhado, não só em favor de tantos, mas de si próprio, do seu progresso espiritual!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 01, 2018 8:15 pm

Se errar, cabe-lhe a responsabilidade dos compromissos assumidos e não cumpridos.
Não seremos nós a julgá-lo.
Mas, deixemos as considerações, e voltemos para junto daquele que não teria mais empecilhos a entravar seus propósitos.
Era o governador absoluto, e todos lhe deveriam obediência.
Os governadores voltaram a ser interventores, subordinados ao governo central, uno e forte.
Todo o poder emanava de um mesmo ponto, que se localizava num gabinete do Palácio Guanabara, onde se assentava o nosso herói — Getúlio Vargas!
Tudo estava como ele desejara há tanto tempo!
A Nação foi notificada com suas justificativas, como vimos.
As acções começariam a ser praticadas, as atitudes tomadas, seguindo o que prescrevia a carta magna da Nação, diferente e elaborada de antemão, por aquele que lhe dera força e ajudara intelectualmente na articulação do golpe, assegurando-lhe ampla liberdade.
Logo na manhã do mesmo dia do golpe, ela lá estava, para quem quisesse tomar conhecimento, já publicada no Diário Oficial, trazendo em si os pontos necessários para que o governo, agora absoluto, tivesse todo o controle da Nação, sem que ninguém interviesse em seus actos.
Por algumas de suas disposições transitórias, o governo poderia estatuir no País o estado de emergência, em consequência do qual teria o direito de, se necessário e conveniente lhe fosse, agir contra os que se constituíssem em embaraços, prendendo-os ou mesmo desterrando-os.
Até a imprensa seria censurada.
Nessa liberdade ampla que a Constituição lhe outorgava, poderia, pois, retirar legalmente, qualquer entrave que tentasse impedir a sua caminhada, mesmo que esses entraves fossem seres humanos.
Foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda, através do qual seria efectuada a repressão aos órgãos de imprensa, cujas publicações passariam a ser censuradas.
As greves também foram totalmente proibidas!
Devemos, pois, reconhecer, que o chefe do governo do Estado Novo trabalhava, apoiado em dois pontos importantes:
os seus verdadeiros anseios nacionalistas, estimulando-o a estabelecer profundas reformas no País, e os seus anseios de ordem pessoal.
Entendia que as transformações operadas no concerto geral das nações desenvolvidas, onde a democracia, a liberalidade viam-se ameaçadas pela infiltração comunista, teriam aqui também seus reflexos.
Este País não poderia ser diferente dos modelos europeus, mais precisamente da Itália e da Alemanha, que, lutando contra essas forças, estabeleceram o fascismo e o nazismo, trazendo em seu bojo um governo ditatorial.
As instituições se enfraqueciam e, antes que deterioradas, perdessem sua idoneidade, deixando que as forças comunistas delas se apoderassem, foi efectivado o golpe, que, ao mesmo tempo, atendia ao outro ponto — mais pessoal que político, mais íntimo que nacional — o anseio de Getúlio Vargas pelo poder, e pela sua permanência no governo.
As instituições já deixavam de atender às necessidades da população, em crescente aumento, particularmente as das classes trabalhadoras, que careciam de condições adequadas de vida, através de um amplo programa social que lhes propiciasse uma sobrevivência digna e estável.
Para atender a essas reais reivindicações, o poder não poderia se dispersar, mas partir de um único ponto, sólido e convicto, centralizando, como o foi, legislativo e executivo, reprimindo todos os anseios de liberalismo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 02, 2018 9:11 pm

A industrialização crescia, o poderio económico não deveria estar nas mãos de uns poucos, de pequenos grupos, em desfavor de muitos, sobretudo da classe trabalhadora, sofrida, e sem nenhuma garantia.
Tudo isso o governo defendia, com as prerrogativas que lhe conferia a nova Constituição.
Trabalhava, assim, conformando as suas decisões com a necessidade de acomodação político-administrativa, tentando harmonizar seus anseios patrióticos, com outro, muito forte e secreto, o fascínio pelo poder, e a vontade intensa de permanecer no governo e nele continuar, o quanto pudesse, utilizando-se de todas as armas.
Equilibrando-se entre esses dois pólos, desenvolvia as suas actividades, e muito conseguiu realizar, colocando ordem no País, num momento de tanta conturbação, criando condições ao seu progresso, e dando segurança às classes trabalhadoras.
Em vista disso, conseguiu manter-se no seu posto por um grande espaço de tempo.
Algumas medidas de real importância foram tomadas no ano seguinte (1938), satisfazendo os seus objectivos de desenvolvimento nacional.
Dentre elas estão a regulamentação da importação e exportação de petróleo, através da criação do seu Conselho Nacional; a criação do Conselho Nacional das Águas e Energia Eléctrica, do Banco da Borracha, dos Códigos de Minas, de Águas e de Ar.
Ampliou-se a competência do Instituto do Açúcar e do Álcool.
Estabeleceu-se a nova moeda — O Cruzeiro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 02, 2018 9:11 pm

REVIDES
O governo caminhava tranquilo, uma vez que, o Congresso fechado, as assembleias estaduais dissolvidas, os interventores nomeados, os partidos políticos também fechados, tudo lhe proporcionava um gerenciamento seguro, ainda mais que contava com o apoio dos chefes militares.
Alguns problemas de ordem política, porém, começaram a surgir, gerados pelo fechamento dos partidos políticos, entre os quais ficara incluso o Partido Integralista.
A oposição de alguns generais simpáticos ao partido, como Góis Monteiro, não conseguiu demover o Presidente, dessa medida.
Os integralistas sentiram-se lesados em seus propósitos de participação, num governo para o qual haviam lutado.
Plínio Salgado, seu chefe, e todos aqueles que com ele comungavam nesses anseios, após o golpe, viram-se alijados dele, colocados à margem de sua composição, e das suas decisões.
No entanto, Vargas desfazia, propositadamente, todos os vínculos com quem pudesse intervir e atrapalhar suas atitudes.
Mas eles, vendo o partido desfeito e a sua acção impedida, usando de alguns recursos legais, transformaram-se, e continuaram suas actividades, passando de aliados a opositores, promovendo campanhas contra a actuação do governo.
Um grupo mais radical, em revanche pela ingratidão de que fora alvo, planeou um ataque ao palácio Guanabara, onde Getúlio Vargas residia com a família, para eliminá-lo, como também, todos os que lhe opusessem resistência.
Na noite de 10 de maio de 1938, Getúlio Vargas e seus familiares foram surpreendidos, no palácio, por um tiroteio que se estendeu até à manhã do dia seguinte, quando foi debelado pela polícia e militares do governo, chegados tardiamente. Muitos elementos da guarda governamental, assim como dos invasores, foram encontrados feridos e até mortos.
A falta dos reforços oficiais de defesa, ela foi efectuada pelo próprio Presidente com sua família, e pela guarda do palácio, reconhecida, depois, como falha.
Após esse episódio, a acção dos integralistas foi encerrada de vez, pela represália rigorosa imposta pelo governo, que efectuou muitas prisões, exilando seu chefe, Plínio Salgado.
Se a segurança do palácio tivesse sido mais eficaz, o ataque teria sido evitado.
O governo, preocupado, reconhecendo a sua ineficiência, resolveu promover a sua segurança pessoal, através da criação de uma guarda, para garantir a sua tranquilidade, como a de seus familiares.
Foi formada, em grande parte, por homens vindos do Rio Grande do Sul, habituados ao rigor das lutas, cujo comando foi delegado a seu irmão, Benjamim Vargas.
Tudo foi se asserenando, e o Estado Novo pôde caminhar tranquilo, retornando à normalidade, não pela mudança de convicção dos que pretenderam invadir o palácio e até depor o Presidente, como desejavam, mas pela contenção severa efectuada pelo governo, através de suas medidas de repressão.
Essa foi a arma utilizada para impedir qualquer resistência.
Contudo, no cenário mundial, uma grande peça se preparava, um grande drama iria se desenrolar, pela expansão do fascismo e do nazismo, sufocando as democracias liberais, estimulando expectativas até aqui no Brasil, dadas as grandes colónias de imigrantes italianos e alemães, existentes no Sul do País.
Enquanto isso ocorria, um sentimento curioso e contraditório envolvia o governo do Estado Novo.
Se reprimiu e combateu os integralistas, que pretendiam ser aqui um prolongamento do fascismo europeu, como proceder em relação a esse movimento mundial, do qual Getúlio Vargas era um simpatizante?
O Estado Novo tinha suas bases no fascismo, e muitos dos chefes militares do governo mantinham suas simpatias pela política do eixo Roma-Berlim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 02, 2018 9:11 pm

Hitler, em setembro de 1939, invadiu a Polónia e promoveu o extermínio dos judeus poloneses, dando cumprimento à faceta marcante do nazismo — o anti-semitismo.
Os conflitos na Europa abalavam todas as nações e, aqui, no mês de outubro, Getúlio Vargas declarava a neutralidade do Brasil, pretendendo deixá-lo à margem desses acontecimentos.
Hitler, no entanto, não parou, e, continuando a sua sanha conquistadora, invadiu outros países.
Logo após, em comemoração à batalha do Riachuelo, mais precisamente ali de junho, Getúlio Vargas proferiu um discurso, demonstrando sua satisfação pelas vitórias de Hitler, e anuência àquele que combatia os ideais democráticos, causando certa preocupação.
Um facto, porém, no decurso das pretensões hitlerianas, veio demonstrar que os ideais democráticos não estavam de todo sufocados e que lutavam por eles.
Foi a primeira decepção sofrida por Hitler, quando a aviação alemã é derrotada pela Inglaterra.
O povo estimulava, os governos se uniam, e a sanha alemã deveria ser detida.
Getúlio Vargas passou a ser mais cauteloso nos seus pronunciamentos e, quando os japoneses atacaram a base naval americana do Pacífico — Pearl Harbour — e os Estados Unidos entraram na guerra, o Brasil rompeu as relações diplomáticas com os países do eixo, solidarizando-se com os americanos.
Essa atitude do governo brasileiro gerou aqui duas situações divergentes:
uma, a represália alemã, que passou a afundar os navios brasileiros no Atlântico Sul, tanto para intimidar o governo, quanto para impedir o livre curso de materiais de guerra.
A outra, proveio de os Estados Unidos, que passaram a aparelhar as forças de defesa nacional, bem como os aeroportos do Norte e Nordeste, como resultado de um acordo entre os dois países.
O governo brasileiro, diante das dificuldades de se estabelecer comércio com os países europeus, em virtude da guerra, dos oceanos repletos de submarinos, vira-se forçado a patentear a sua solidariedade ao governo americano, sem o qual não poderia viver.
Como resultado desse apoio, passou a receber auxílio financeiro durante a guerra, que lhe permitiu o incremento da siderurgia, e um suporte para as exportações.
Desde que os navios brasileiros foram afundados, formou-se aqui um ambiente de protesto, e o povo começou a atacar as casas e estabelecimentos comerciais dos italianos e alemães, exigindo que o Brasil declarasse Estado de Guerra, mas Getúlio resistia.
Sabia que não lhe convinha, e o que o aguardava, como consequência desse ato.
Mas o povo, revoltado, exigia, e Getúlio decidiu ceder.
Era o dia 22 de agosto de 1942!
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 02, 2018 9:13 pm

LUTA PELA REDEMOCRATIZAÇÃO
Quando as decisões do governo vêm de encontro aos anseios do povo, este se acomoda, se retrai e fica feliz.
O País precisava preparar-se.
Lutas internas poderiam advir.
Os imigrantes, procedentes dos países pertencentes ao Eixo, instalados em colónias, no Sul do Brasil, constituíam uma ameaça e traziam preocupações ao governo, pelas possibilidades de subversão que ofereciam.
Por outro lado, o afundamento dos barcos brasileiros, poderia gerar actos de violência, com graves consequências para o País.
Mas o Presidente, agindo com prudência, conseguiu superar esse problema.
No ano seguinte, 1943, sob a responsabilidade do então Ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, começou-se o treinamento dos soldados a serem enviados aos campos de lutas, para se juntarem aos aliados, conforme intenção do Presidente.
Assim, em 1944, partiram três contingentes, e no início do ano seguinte, mais um, formando a Força Expedicionária Brasileira, que lutou na Itália, de onde voltou vitoriosa.
Com a declaração de guerra, a popularidade de Getúlio cresceu muito, embora essa atitude lhe viesse a ser "uma faca de dois gumes".
Ao mesmo tempo que conquistava ainda mais a estima do povo que o admirava, este não deixava de se mostrar antagónico ao seu regime de governo, colocando em risco a sua permanência.
A supremacia dos ideais democráticos, na Europa, estava se tornando realidade.
Aqui no Brasil, o fim da ditadura era o sonho da maioria!
Como conservar-se o homem, embora estimado, combatendo o seu regime de governo?
Ambos, naquela conjuntura, eram um só — um uno indivisível!
No momento em que se rejeitasse um, o outro também seria rejeitado.
Iniciavam-se, assim, aqui, alguns movimentos para a reconquista das liberdades democráticas, e, algumas manifestações começaram a surgir, através dos intelectuais.
O "Manifesto dos Mineiros" foi um deles, e todos os seus manifestantes foram punidos pelo governo.
Outros movimentos foram sendo levados a efeito, mas, com uma retaguarda legal, através de Ligas e Sociedades.
Entrelaçando objectivos, começaram a trabalhar a restauração do processo democrático no País, sofrendo também as repressões governamentais.
Não foi poupado nem seu amigo Osvaldo Aranha, Ministro do Exterior que, convidado para ocupar um cargo na directoria de uma dessas sociedades, foi impedido de tomar posse.
Em represália, Aranha demitiu-se das funções de Ministro.
Esse trabalho continuou, foi se intensificando, estendendo-se de Norte a Sul.
Contactos eram realizados, até que os próprios militares do governo, como os generais Dutra e Góis Monteiro, compreenderam que eram necessárias mudanças, reconhecendo que o regime do Estado Novo já estava superado, passado o período em que se fizera indispensável.
Um candidato começou a emergir desse movimento liberal, para a sucessão de Vargas — o brigadeiro Eduardo Gomes.
Na Europa, as forças aliadas venciam, esmagando o nazismo, para o ressurgir das liberdades democráticas.
Ora, se os brasileiros lá estavam, combatendo ao lado dos aliados, para a recuperação dessas liberdades, como suportar aqui, o que combatiam lá?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 02, 2018 9:13 pm

Se o avanço nazista fortaleceu a implantação do Estado Novo, de carácter ditatorial, como a reconquista das liberdades democráticas não repercutiria, estimulando os brasileiros a esses movimentos de redemocratização?
Tudo o que ficara reprimido, durante tanto tempo, começava a caminhar em direcção à luz da liberdade.
E essa luz deveria se espalhar em muitas direcções e atingir muitos pontos.
Um deles foi a Imprensa, envolta que fora pelas névoas que encobriam, não só a veracidade dos factos, mas a liberdade de expressão.
Essa luz a ela se achega, no dia 22 de fevereiro de 1945, quando publica, através de um jornal carioca — o Correio da Manhã — uma entrevista de José Américo, na qual atacava as atitudes do governo do Estado Novo, dizendo da necessidade de se convocar eleições, com o voto livre do povo.
Foi o primeiro clarão que brilhou, a primeira palavra que se levantou publicamente, para reflectir os anseios do povo, e dizer das suas insatisfações.
Houve muitas mudanças após essa entrevista!
A candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes passou a ser divulgada abertamente pela imprensa, que já não sofria a repressão tão intensa da censura.
O próprio Getúlio Vargas, diante do momento que se configurava no território nacional, como consequência do que se passara no cenário mundial, sem nunca ter dado cumprimento à Constituição, salvo nos itens que lhe eram convenientes, passa a reconhecer que ela não mais correspondia à realidade vigente e, através de lei, restabelece as eleições directas para Presidente e para a Assembleia Constituinte.
Um outro candidato surge, o general Eurico Gaspar Dutra, para contrapor-se à candidatura já anunciada.
Partidos começaram a ser criados, cada um congregando em si aqueles que a eles se ligavam e se conchegavam, movidos pela simpatia e interesses.
Dentre os que surgiram na ocasião, os três mais significativos, com maior repercussão, foram:
União Democrática Nacional, que congregava os opositores do governo, ao qual se filiou o brigadeiro Eduardo Gomes.
O Partido Social Democrático, de carácter conservador, ao qual se filiou o general Dutra.
O Partido Trabalhista, que congregava os populares e as classes sindicais, que davam um suporte maior a Getúlio.
O apoio que as massas facultavam ao candidato liberal era grande, e Getúlio, preocupado, precisava diminuí-lo, ampliando o número de seus adeptos.
Para isso era necessário atrair a esquerda comunista e aproximá-la da ditadura, e foi o que fez!
Em abril, Prestes é posto em liberdade, através do decreto de amnistia, e, logo em seguida, Vargas retorna o Partido Comunista Brasileiro à legalidade.
A popularidade de Getúlio crescia cada vez mais e, apoiado nela, pensava poder manter o seu regime político e continuar no poder.
As eleições, embora já marcadas através de decreto, para o dia 2 de dezembro, muitos não confiavam na sua realização.
A esse tempo, grupos de pessoas, ligados ao Presidente, surgiam nas ruas, com a intenção de mostrar ao povo o quanto ele ainda era querido.
Eram os chamados "queremistas", que repetiam continuadamente:
"Nós queremos Getúlio".
Esses grupos, porém, contavam com o apoio dele próprio, auxiliado por populares e comunistas.
Esse movimento crescia, ganhando cada vez mais adeptos, ao ponto de se reunirem em uma grande concentração, quando das comemorações da revolução de 30.
No dia 28 de outubro, no auge dessas manifestações, Getúlio fez alterações em alguns cargos de confiança do governo, com o propósito de colocar seu irmão Benjamim, na chefia de polícia.
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