LUZ ESPÍRITA
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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 05, 2018 7:54 pm

Amor e Sacrifício
Wanda A. Canutti

Pelo espírito Eça de Queiroz

Orelha
Nesse eterno intercâmbio entre os encarnados e os libertos, podemos perceber quão intensa é a influência que recebemos da Espiritualidade.
Influência essa que depende do teor dos nossos pensamentos, das intenções que nos movem, voltadas para o bem ou para o mal.
A par disso, muito claramente foi demonstrado que até aos que têm sombrios propósitos de vingança ou de traição, os Espíritos de luz, após sondagem dos mais íntimos pensamentos e pretensões, também levam esclarecimentos e orientações, na esperança de desviá-los daqueles perigosos atalhos que os afastam do Criador.
Vale a pena acompanhar o desenrolar desta narrativa até os últimos momentos; são aprendizados para todos, são experiências que bem podemos transpor para nossa vida, mesmo distante de castelos e de toda a realeza, uma vez que a verdadeira nobreza, sem coroa e sem brasões, é a do Espírito.

PALAVRAS DO AUTOR
Graças vos damos, Senhor, pelas oportunidades que nos são oferecidas!
Graças vos damos quando conseguimos fazer de cada oportunidade que nos ofereceis, momentos dedicados a vós!
E o que desejamos, Jesus, fazer dos nossos momentos, momentos que seriam vossos, se ainda estivésseis entre nós!
Mas felizes ficamos pela oportunidade de obrarmos em vosso nome, ajudando nossos irmãos a encontrar um caminho que os leve a vós, pela prática dos ensinamentos que nos viestes trazer!
Esse caminho é difícil, muitas pedras atravancam a nossa caminhada e outras nos são atiradas quando passamos.
Entretanto, se com todos os entraves e ataques, conseguirmos continuar sem que nenhuma atiremos de volta aos que desejavam nos ofender, quão felizes nos sentiremos!
Se as dores da primeira pedra forem muito intensas, mas nos curvarmos e prosseguirmos, as outras que recebermos doerão menos, e o sacrifício que fizermos em continuar, nos será benéfico.
Ao fim da caminhada, nem sequer perceberemos se há pedras espalhadas pelo chão, ferindo-nos, ou se há alguém à margem da nossa estrada, atirando-nos outras.
Quanta felicidade sentiremos e quão feliz faremos o nosso Senhor, que nos testou nesse caminho, porém conseguimos vencê-lo!
Ah, mas há ainda muito mais que poderemos fazer!
Sim, quando já não sentirmos as pedras que nos ofendem, se conseguirmos retomar, recolhendo as que ficaram espalhadas pelo chão, para que outros não se firam, quão felizes ficaremos e mais feliz tornaremos o Senhor!
Se, além de recolhermos as pedras com amor, chegarmos até aqueles que as traziam nas mãos para nos atirar ou atirar em outros que passassem pelo caminho, e, carinhosamente, com muita compreensão e boa vontade os desarmarmos, conseguindo que eles no-las entreguem ou simplesmente as deixem cair ao chão, quão maravilhosa será essa estrada, e quanta paz sentirão aqueles que por ela passarem!
Sejamos nós aqueles que retornam recolhendo as pedras, mesmo feridos pelas que recebemos que, num futuro muito próximo, essa mesma estrada estará toda florida e, ao passarmos por ela, sentiremos apenas o perfume das flores que nós mesmos deixamos florescer!

Eça de Queiroz

Araraquara, 5 de fevereiro de 1994
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 05, 2018 7:55 pm

Capítulo 1 - NUM PEQUENO REINO...

Estamos num pequeno reino, no ano de 1614!
Ao redor do palácio real agregavam-se pequenas casas, simples, formando a comunidade gerenciada pelo rei, que nele morava com seus familiares e seu séquito subserviente.
Não podemos dizer que ele fosse mau, mas tinha que manter sua postura e tomar as providências que as diversas situações premiam, e, em vista disso, nem sempre podia ser generoso e complacente com aqueles que o cercavam de forma traiçoeira.
Sua família, ao contrário das da época, não era grande.
Para seu profundo desgosto, nunca tivera o filho homem que tanto desejara, mas apenas duas filhas, agora jovens e bonitas, prontas para o matrimónio.
Ele poderia, por esse facto, ter dispensado a esposa e casado com outra que pudesse satisfazer esse seu desejo.
Contudo, apesar das esperanças frustradas por não receber no lar um varão para substituí-lo, nunca quis desfazer-se dela porque a amava.
Respeitava-a e adorava as filhas, que sempre foram, desde o nascimento, a sua alegria, os seus momentos de paz, quando os problemas do reino o atribulavam.
A mais velha, de nome Mafalda, era loura de olhos azuis muito temos e amava o pai.
Crescera e se tomara uma linda jovem, cobiçada por muitos para uma união de interesses.
A mais jovem tinha nos olhos a negritude dos olhos da mãe, vinda de outro reino mais distante para unir-se ao rei em matrimónio, por isso, com características diferentes das dos que lá viviam.
Os cabelos claros, porém, herdara do pai, e também era uma jovem muito bonita, aguardando a chegada de algum príncipe que a levasse para um reino encantado, porque essa — Margarida era o seu nome — era muito mais romântica e sonhadora que a irmã.
O rei era feliz.
Admirava a beleza das filhas e, embora ambas estivessem prontas para um consórcio matrimonial, tinha receios.
Amava-as e nunca quisera entregá-las a nenhum daqueles que já lhe haviam feito várias propostas.
Elas, às vezes, inquiriam o pai a respeito, mas ele respondia que não tivessem pressa.
No momento certo, o príncipe lhes chegaria.
A rainha-mãe, sempre em companhia das filhas, orientava-as, aconselhava-as, para que um dia, quando fossem levadas para um novo lar, acompanhando aqueles que as receberiam como esposas, soubessem conduzi-lo diante da posição que ocupariam.
Na época, a união de interesses era um preceito e, por meio dos matrimónios, uniam-se reinos, mas o rei não pensava nisso.
Não desejava ampliar domínios por intermédio das filhas, porém, esperava surgir algum pretendente que pudesse permanecer com eles e substituí-lo, no momento em que se visse impedido pela idade, pelas enfermidades, ou mesmo pela sua partida.
Por isso não tinham pressa.
As festas para distraí-los eram frequentes, como sempre ocorre nos palácios onde a fartura é regra geral, mesmo que, ao redor deles, a miséria seja uma realidade.
Com isso não se preocupavam.
Nessa rápida descrição, tomamos conhecimento do ambiente onde começará a nossa história, da situação em que lá viviam, bem como da pequena família real.
Enquanto nada acontecia de anormal, a rotina era aquela já conhecida.
Os domínios do rei eram pequenos, mas a região, ao redor, muito bonita.
A Natureza fora privilegiada por Deus, e a beleza dos campos floridos, dos rios de águas límpidas sob um céu muito azul, quando da primavera e do verão, completavam aquele quadro que, nem o mais exímio dos pintores conseguiria retractar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 05, 2018 7:55 pm

Por isso as jovens, segregadas à vida do palácio, não obstante sempre com muitas distracções, gostavam de sair e realizar passeios.
O pai, zeloso das filhas, permitia, desde que a mãe as acompanhasse, protegidas ainda por uma guarda especial que se mantinha mais a distância, mas atenta e com os olhos em todas as direcções.
Elas obedeciam, porém, certa vez Mafalda, a mais velha, conversando com o pai, perguntou-lhe:
— Papai, por que cada vez que saímos precisamos ter tantos a nos olhar?
Perdemos a nossa liberdade e não aproveitamos o passeio como desejaríamos!
— O que pretende, filha, realizar nos seus passeios, que não gosta de ser vigiada?
— Nada mais do que fazemos, mas sabendo que estamos livres para correr, se quisermos, sem que ninguém nos corra atrás!
Deitarmo-nos na relva, à beira do rio, sem que ninguém nos observe.
Sinto-me mal, papai!
Gostaria muito de ir só!
Eu mesma dirigindo o nosso carro, ou até sair a cavalo por esses campos e cavalgar sem destino, sentindo a aragem agradável batendo em meu rosto!
— É muito perigoso, filha!
Isso nunca poderá fazer!
Sua reputação seria maculada pelos comentários, em prejuízo até dos pretendentes que pudessem se achegar.
Afora isso, nunca se sabe, poderá encontrar alguém que não só a moleste, como até realize alguma traição.
— Nisso não acredito!
Todos gostam muito do senhor!
Ninguém se atreveria a nada!
Pelo contrário, quando passamos na carruagem, com o séquito a que nos obriga, todos param o que estão fazendo, reverenciam-nos com um sorriso nos lábios, felizes por nos verem.
— Acredito que sim, mas sempre há, entre os que nos amam, os descontentes!
Se encontrar um desses mais enraivecidos, poderá atingi-la, mesmo com toda a guarda que a acompanha.
— Então nunca poderei andar livremente?
— Não, filha, não é conveniente!
Limite-se a ficar circunscrita ao palácio!
Nossos jardins são muito belos, e nesta época do ano estão floridos, pode ver daqui da janela.
— Sei que estão floridos e acho-os belos, mas são sempre iguais, sem surpresas!
Compreendo os seus cuidados, e sinto, às vezes, ser filha de um rei e não ter a liberdade de que todos nós necessitamos.
As moças do nosso reino são muito mais felizes do que eu!
— Não diga isso! Tenho a certeza de que todas a invejam e gostariam de estar em seu lugar e no de sua irmã!
— Quem sabe não poderíamos trocar um dia, não é mesmo, papai?
Uma delas passaria um dia, aqui, como princesa, e eu iria lá, como provinciana!
Seria uma experiência extraordinária!...
— Pare, filha, com pensamentos absurdos, e fique feliz com o que possui!
O rei ficou assustado pela conversa da filha.
Jamais imaginou que ela se sentisse tolhida em sua liberdade, e muito mais que isso, que conseguisse ter tais anseios e manifestá-los, quando o uso, o comum da época era aquele, ainda mais para uma família real.
Pensando, concluiu que ele próprio deveria ser o culpado.
Sempre quis que elas tivessem instrução.
Sempre aguardou o filho varão que nunca chegou, e proporcionou às filhas o que proporcionaria a ele.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 05, 2018 7:55 pm

Elas sabiam ler e escrever correntemente, e liam muito.
Tudo o que lhes caísse às mãos não ficava sem que seus olhos passassem por todas as letras, tomando conhecimento do que se tratava.
A biblioteca do palácio compunha-se de muitos compêndios, e cada novidade que chegava, era disputada por ambas, para ver quem a leria primeiro.
Com isso, os anseios, os devaneios aumentavam e extrapolavam os limites do palácio, dentro do qual se sentiam segregadas.
As duas partilhavam desse mesmo pensamento, mas fora Mafalda quem tivera a coragem de externâ-lo.
Eram belas, tinham cultura, grande para a época em que as mulheres, não sendo reconhecidas como merecedoras de ter seus horizontes ampliados pela instrução, deveriam apenas se preparar para saber executar trabalhos concernentes ao lar, ou mesmo dirigi-los, como no caso das princesas.
Mas Mafalda e Margarida eram diferentes das outras jovens.
Possuíam, a par da cultura, a preparação necessária para desempenhar suas funções de donas do lar, quando os pretendentes fossem aceitos — que desse particular a mãe era ciosa.
Ambas estavam prontas, aguardando aqueles que roubariam seus corações ainda virgens de amor, contudo, até aquela data, os que haviam se apresentado, foram recusados pelo pai, sem que nenhum ressentimento ficasse nelas.
Divertiam-se nas festas, recebiam convidados vindos de outros reinos para um intercâmbio de amizade e de interesses, dançavam, passeavam nos limites do palácio, todavia nada, ninguém ainda lhes tocara o coração como esperavam, principalmente o de Margarida, mais romântica e sonhadora.
Ela imaginava o amor, a convivência com o esposo num elo intenso de felicidade, mas só o admitia, amando.
Às vezes, em conversa com a irmã, conjecturava:
— Já pensou, Mafalda, em como será o homem que terá o nosso amor, aquele que também nos amará?
Não vejo a hora de ter o meu coração todo tomado por um jovem belo que eu ame, que me ame e me faça muito feliz!
Será a felicidade maior de minha vida e o aguardo ansiosamente!
— Não sonhe tanto, Margarida!
Se um dia aparecer algum pretendente que papai julgar conveniente, entregará uma de nós!
Seus sonhos ficarão frustrados e você se sentirá muito infeliz se não conseguir amá-lo.
— Papai não faria isso connosco!
Já tem recusado tantos sem nem nos consultar!
— Isto porque não lhe convinha!
Mas quando encontrar algum que se disponha a aqui ficar, ajudando-o a reinar, saindo em empreitadas, tomando providências de acordo com o que lhe interessar, nos dará em casamento.
— Se eu não gostar dele, não aceitarei! — respondeu Margarida, decepcionada, vendo desmoronarem as suas esperanças.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 05, 2018 7:55 pm

Capítulo 2 - AGUARDANDO VISITAS
Assim transcorria a vida das jovens princesas, no palácio real, cansadas, às vezes, da rotina, ou felizes quando uma festa, um passeio, ou alguma visita vinha quebrar a monotonia de todas as horas que ali passavam.
Visitas de parentes ou de emissários de outros reinos, que vinham tratar de interesses, sempre as tinham.
Quando isso ocorria, os jantares eram mais requintados, divertimentos eram-lhes propiciados após, no grande salão, e a reunião se prolongava pelas horas, que, em outras ocasiões, eram destinadas ao repouso.
Naquele dia, um emissário de um país vizinho chegara com uma mensagem, dizendo que delegação influente de seu reino viria, daí a três dias, para tratar de assunto importante com Sua Majestade, e que também o filho do seu soberano, jovem intrépido, forte e belo, os acompanharia.
Quando tomaram conhecimento, o coração das jovens perdeu a tranquilidade e sobressaltou-se.
Sabiam que aquele rei tinha três filhos, dois já casados, sendo que o mais velho deles se colocara, uma vez, como pretendente de Mafalda.
Agora vinha o mais jovem, que não conheciam, mas do qual tinham notícia pela sua intrepidez, força, coragem e beleza.
As jovens estavam afoitas.
Queriam saber do pai o que os traria ao palácio, de que tratariam, mas o rei, sempre solícito em atender às perguntas das filhas, nada pôde responder porque a mensagem não especificava.
Dizia apenas que chegariam daí a três dias, e permaneceriam o tempo que lhes fosse necessário à resolução do que os levava até lá, pedindo que os hospedasse durante o referido período.
Todas as providências foram tomadas, no palácio, para a recepção dos visitantes, mas, em relação às jovens, o armário de roupas estava sendo consultado a todo instante, para dele tirarem as sugestões das vestes que usariam.
Até trajes novos pediram à mãe, para as cerimónias que certamente o rei mandaria preparar para visitas tão ilustres.
A mãe, cuidadosa e experiente, acalmava as filhas, explicando-lhes que não sabiam quem viria, nem a que viriam.
— Sabemos disso, mamãe! — dizia Margarida.
No entanto, se vem um jovem forte e belo, por que não devemos nos apresentar bem?
Não sabemos de suas intenções!
E se vier em pedido a alguma de nós?
Se gostarmos dele e quisermos que papai o aceite?
— Que pedido, filha?
Não sabe o que os traz!
Contenha essa ansiedade e espere!
— De qualquer forma, teremos visita e precisamos nos apresentar bem!
— Ambas são lindas, de qualquer jeito que se apresentem!
Os três dias que mediaram entre a mensagem e a chegada dos visitantes, foram poucos para tantas diligências.
Visitas vindas de outros reinos, sempre as tiveram e muitas:
soberanos, membros importantes de outras cortes, e sempre se prepararam bastante para recebê-las.
Dessa vez, porém, foi diferente.
As jovens participaram de tudo e exigiam até mais do que normalmente se fazia ao mais digno dos reis.
Nem sabiam quem viria e a que viriam.
Somente que o jovem, único filho ainda solteiro do soberano, cujo reino era vizinho ao deles, os acompanharia.
Os outros dois já haviam se casado com princesas de outras regiões, e o mais velho deles, certa vez se manifestara como pretendente de Mafalda, mas fora recusado pelo rei, seu pai.
Na condição de varão primogénito de uma família real, ele teria que permanecer em seu reino, levando sua filha, deixando-o sem possibilidades de conseguir-lhe um marido que ali pudesse ficar.
Agora vinha o mais jovem, sem oportunidade de pretensões junto ao reino do pai, por ser o terceiro filho, e poderia, sem dificuldade, servir para o que o rei desejava.
Esse pensamento passara pela mente do soberano e de sua esposa, sem manifestá-lo às jovens.
Não desejavam antecipar-se, nem sabiam como as filhas, embora ansiosas, o receberiam.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 05, 2018 7:56 pm

Capítulo 3 - O PRÍNCIPE FERNANDO CONTINI
O dia tão ansiado chegou.
Desde as primeiras horas todos os preparativos foram ultimados, mas o rei foi avisado somente no fim da tarde, de que a caravana, trazendo os visitantes, se aproximava.
Para a cerimónia de recepção, ele colocou-se no salão do trono acompanhado da esposa e das filhas, que fizeram questão de estar presentes desde o primeiro momento em que eles fossem introduzidos no palácio.
Logo mais, foram anunciados e adentraram o grande salão.
Tendo o jovem à frente, encaminharam-se até Sua Majestade para as reverências habituais.
As filhas, postadas do lado esquerdo do pai, admiravam-no desde os primeiros passos que ele dera em direcção ao soberano.
Era alto, forte, cabelos negros e bastos, olhos brilhantes numa tez morena.
Muito belo! — concluíram as jovens.
Depois de transmitir ao rei as recomendações de seu pai, cumprimentou a rainha mãe e as jovens, com um leve aceno de cabeça.
As duas, ante seus olhos, eram dois esplendores de beleza.
Difícil seria, se tivesse que dizer — esta ou esta é a mais bela.
Não conseguiria!
Passado o primeiro instante, um membro da comitiva adiantou-se e transmitiu ao rei a razão primeira da visita, que se apresentava de interesse político e administrativo de ambos os reinados.
O rei, em resposta, disse-lhe que deveriam reunir-se para, mais detalhadamente, estudarem o assunto.
Porém, deixá-lo-ia para o dia seguinte, uma vez que tudo havia sido preparado para que permanecessem por alguns dias.
Não haveria pressa.
Que descansassem nos aposentos que lhes haviam sido preparados, para onde seriam levados por um criado, pois, logo mais, queria todos reunidos para partilharem do jantar com seus familiares.
Num leve aceno de cabeça, retiraram-se do salão, e as jovens começaram os comentários que lhes haviam sido difíceis de conter, diante de presença tão bela.
Cada uma, à sua maneira, entusiasmada, falava sem parar, impedindo qualquer manifestação dos pais.
Num dado momento, o rei recomendou-lhes:
— Agora chega, já falaram o bastante!
Penso que até demais, por tão pouco tempo em que eles aqui permaneceram. Vocês viram o que nem eu nem sua mãe vimos!
— Porque não estavam interessados nele!
O senhor estava pensando nos negócios que iria realizar, nas propostas que eles trouxeram.
Nós, como não temos nada a ver com reinados nem com outros interesses, vimos somente a ele! — e, como se algo lhe acudisse à mente, continuou:
— É mesmo, lembrei-me agora, não soubemos o seu nome!
O senhor sabe, papai? — perguntou Mafalda, depois destas considerações.
— Conhecemos o nome de família!
Ele é Contini, sabe disso, mas seu prenome não sei.
— À hora do jantar, saberemos! — interferiu a mãe.
— O que importa o nome, se já simpatizamos com ele! — dizia Margarida.
Terá ele também simpatizado connosco?
— Não viu que demorou o olhar em nós, quando se despediu, e como nos olhava enquanto o emissário que o acompanhava expunha a papai o objectivo da visita?
— observou Mafalda.
— Resta-nos saber agora, de qual das duas ele gostou mais! — voltou a falar Margarida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 05, 2018 7:56 pm

— Já falaram demais sobre isso!
Esperemos até a hora do jantar!
Quem sabe poderão conversar com ele, saber seu nome, e se realmente se interessou por alguma de vocês.
Vão agora, aprontem-se para o jantar e voltem bem bonitas se o querem atrair!
— Não fale assim, querido! — recomendou a rainha.
— Depois sou obrigada a ouvir que não têm roupas suficientes nem adequadas aos seus desejos.
Não estimule mais a vaidade em nossas filhas!
Elas retiraram-se, continuando os comentários animados, deixando o rei e a rainha sós.
— Não podemos encorajá-las para depois se decepcionarem, — dizia a rainha — mas também percebi como ele as olhava!
— Talvez tenha chegado a hora que tanto desejamos!
Os Continis são pessoas de bem, e, sendo os nossos reinos contíguos, muito nos favoreceria, não na extensão de nossos domínios, que com isso não me importo, mas na utilização das suas experiências, porque têm mais possibilidades que nós, pela própria constituição familiar — três filhos varões!
— E melhor não nos precipitarmos! — recomendou a rainha.
— Se ele não tivesse esses mesmos pensamentos, não teria vindo!
Por que veio, se foi o emissário que expôs os planos que traziam?
Apenas para que ficasse livre para observar!
E se os planos forem somente o pretexto para finalidades maiores?
— De qualquer forma, aguardemos!
Só tenho um receio, querido!
— Por que receio, se tudo caminha melhor do que esperávamos?
— Eu conheço o coração de nossas filhas, e sei o quanto Margarida é sensível, romântica e fácil de apaixonar, ainda mais por um rapaz tão belo!
Se ele for solícito com ela, ao primeiro galanteio, estará completamente apaixonada.
— E isto é mau? — perguntou o rei.
— Não seria, se não houvesse também a Mafalda!
Ela é mais racional, mas, por ser a mais velha, pode ser a escolhida.
Ela também tem o coração ansiando por amor, por um companheiro!
— Há dias tivemos uma conversa, e ela revelou-me estar cansada da monotonia de sua vida aqui, desejando mais liberdade...
— Eu sei e, por isso, receio!
Talvez ela se insinue a ele, mesmo que a escolhida seja Margarida, apenas para mudar sua vida.
— Vamos aguardar, querida, a hora do jantar, pois poderemos verificar melhor!
Após, proporei algumas distracções para estendermos mais o ensejo de ficarmos juntos, e teremos algum prognóstico.
Vamos também nos preparar, que a noite de hoje pode ser decisiva para o nosso reino.
— Isto demonstra que também está esperançoso!
— Sempre tivemos essas preocupações!
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Capítulo 4 - O JANTAR
Assim que as jovens chegaram aos seus aposentos, começaram a desfazer-se das vestes que usavam e a escolher outras que as tomassem mais belas, mais atraentes para o tão ansiado jantar.
A mãe deixou-as a sós com as criadas que as ajudariam, e também foi preparar-se.
À hora marcada, antes de se dirigirem à sala onde uma mesa repleta de iguarias os aguardava, era hábito que a família esperasse os hóspedes no grande salão.
O rei novamente estava postado em seu trono, com a esposa e as filhas na mesma disposição de quando os receberam à tarde.
Ele não se fez demorar.
Vinha à frente de sua delegação, composta de seis membros.
Ao apontar no salão, as princesas, já inquietas, perturbaram-se.
Imponente e belo em seus novos trajes, ele foi chegando; cumprimentou o rei, a rainha e as filhas, seguido pelos que o acompanhavam.
O rei dirigiu-lhes algumas palavras de cortesia e convidou-os para acompanhá-los até à mesa do jantar, recomendando-lhe:
— Acompanhe minhas filhas, Alteza!
Elas o conduzirão!
Ele, num aceno de aquiescência, estendeu a mão a ambas que desceram do patamar onde se encontravam, e ofereceu-lhes o braço, uma de cada lado, e caminharam sem nada dizer.
Quando se aproximaram da mesa, foi-lhe indicado um lugar entre as duas, com as quais poderia, se quisesse, conversar.
Tendo feito as mesuras que recomendava a etiqueta, para que elas se sentassem, depois de dizer que estavam muito belas, sentou-se também.
As iguarias e os vinhos começaram a ser servidos, e todos comiam animadamente.
Ele, entre as duas, não sabia a qual se dirigir primeiro, mas Margarida não esperou.
Falou-lhe logo, perguntando o seu nome.
— O meu nome é Fernando Contini!
E o seu, bela jovem que deslumbra e agrada os meus olhos?
— Chamo-me Margarida, Alteza, e sinto-me feliz que esteja connosco!
Minha irmã, — acrescentou, para ser gentil — é Mafalda!
— Admira-me que duas jovens tão belas, aqui estejam sós, sem que nenhum príncipe as tenha descoberto ainda!
— É muito galanteador, Alteza! — atreveu-se Mafalda.
Entre uma e outra, durante a refeição, ele empregou o seu tempo.
As duas tinham seus encantos e as duas sentiam-se entusiasmadas por ele.
Os pais observavam-nas, enquanto conversavam com os outros membros da comitiva, e o jantar terminou.
O rei convidou-os a se dirigir ao salão, onde alguns divertimentos lhes seriam proporcionados.
Novamente, ao se retirarem, Sua Alteza ofereceu o braço às jovens, levando-as a sentarem-se no lugar determinado às princesas, permanecendo em pé, atrás, entre as cadeiras das duas, como era próprio a um cavalheiro.
Quando o rei entrou, acompanhado pela rainha e pelos outros que participaram do jantar, parou junto das filhas, dirigiu-lhes algumas palavras e depois falou ao jovem:
— Alteza, estou feliz que esteja fazendo companhia às minhas filhas!
Elas são sempre sós, e a sua presença lhes dá alegrias.
A sua experiência de vida em outro reino, lhes trará assuntos diferentes que lhes interessarão sobremaneira.
Após algumas distracções que promoveremos, poderão dançar, se desejarem.
Os músicos estarão a postos.
Se iniciarem, todos da corte os seguirão.
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— Agradecido, Majestade, por tanta deferência e por confiar-me jovens tão belas e agradáveis.
Será uma honra poder acompanhá-las nas danças!
A retirada do rei, as duas, felizes, comentavam as suas palavras, e cada uma, silenciosamente, disputava o privilégio de ser escolhida em primeiro lugar.
A noite decorria e, enquanto as distracções se sucediam, pouco puderam conversar, tão grande era o distanciamento — ele, em pé, atrás de suas cadeiras, e elas, sentadas.
Vez por outra ele se curvava e fazia algum comentário, deixando-as felizes.
Quando a música começou, ele não sabia como fazer e consultou-as:
— Terei a honra de dançar com ambas, Altezas, não somente uma vez, espero!
Mas qual será a primeira?
Prefiro que as senhoritas me sugiram, para não parecer que estou sendo indelicado com a que ficar!
Por favor, ajudem-me!
Pretendendo demonstrar desprendimento, cada uma indicou a outra.
Como resolver tal situação?
Ele percebera que as duas estavam entusiasmadas, e que teria junto delas a pessoa para ser sua esposa — viera com esse propósito!
Contudo, escolher somente pela aparência e pelo interesse que demonstravam por ele, seria impossível, pois havia igualdade de posição.
Deveria conversar com cada uma separadamente e descobrir por qual delas o seu coração penderia.
Não que o amor importasse nessas uniões, mas desde que deveria escolher entre
duas, em que uma nada tinha a perder para a outra, deixaria a escolha para ele.
Era perigoso, naquelas circunstâncias, quando sabia o que o rei esperava do marido de suas filhas, entregar uma resolução ao coração, que não tem a coerência da razão para fazer escolhas.
É cego e estouvado em seus cometimentos, mas deixar-se-ia levar por ele...
— Bem, desde que a escolha está difícil e estamos perdendo o tempo em que já poderíamos estar dançando, faço uma sugestão.
Começarei pela mais jovem, sem que com isso esteja ofendendo a mais velha.
As senhoritas mesmas terão que me dizer.
Por mim, jamais saberia qual a mais jovem e qual a primogénita!
Margarida, à sua palavra, levantou-se imediatamente para ser conduzida ao meio do salão.
Os pais, embora entretidos com os outros visitantes, estavam atentos, sem saber o que o levara a escolher Margarida.
Ela estava feliz junto dele e deixava-se levar pela dança, com leveza, harmonia, mas com o coração inquieto e ansioso.
Ele também estava satisfeito e, nos momentos em que podia dirigir-lhe a palavra, dizia-lhe galanteios.
Mas a dança terminou, eles retomaram, e, quando foi reiniciada, ele conduziu Mafalda ao meio do salão.
O resto da noite foi assim, revezando-se entre uma e outra, dançaram algumas vezes.
No momento de se recolherem, elas o convidaram para um passeio pelos jardins do palácio, na manhã seguinte, deixando-o satisfeito.
Quem sabe, num outro ambiente, à luz do dia e entre as flores, ser-lhe-ia mais fácil sentir com qual das duas o seu coração estaria mais feliz.
Ao se retirarem, a rainha não se conteve.
Apesar de nada ter deixado transparecer das suas pretensões, foi ao aposento das filhas para ouvir-lhes os comentários.
Encontrou-as entusiasmadas.
Cada uma sentindo que também não havia sido indiferente ao príncipe, fazia comentários elogiosos à sua pessoa.
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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti Empty Re: Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 05, 2018 7:56 pm

— A senhora viu, mamãe, o quanto ele é cavalheiro? — perguntou-lhe Margarida.
— Só porque a convidou para dançar em primeiro lugar?
— Dizendo estar confuso, pediu a nós mesmas que sugeríssemos!
Como cada uma indicou a outra, deixando-o ainda em situação difícil, ele resolveu começar pela mais nova, quando deveria ter sido o contrário!
Não pensa assim, mamãe? — explicou-lhe Mafalda.
— Ele saiu-se bem!
É muito difícil fazer a corte às duas!
Ele teria que encontrar uma solução.
— Mamãe, a senhora imagina que ele se interessou por alguma de nós? — perguntou-lhe Margarida.
— Não sabemos, filhas!
Vocês não devem se entusiasmar para não sofrer! — aconselhou-as a mãe.
— Eu gostei muito dele e, se me pedisse a papai, sentir-me-ia muito feliz. — afirmou Margarida.
Ele é jovem, belo e galante!
— Não se antecipe! — recomendou ela à Margarida.
Você e Mafalda têm que estar
preparadas! Caso ele tenha alguma intenção, se sentirá confuso, como se sentiu ao escolhê-las para uma simples dança.
Não se esqueçam disso, e não se entusiasmem demais!
Do momento em que ele escolher uma, se o fizer, a outra ficará preterida.
Ele não poderá casar com as duas, se alguma intenção, nesse sentido, tem.
Aguardem, mas deixem seus corações distantes, não os envolvam para não sofrerem.
Usem somente a razão!
Ela leva a caminhos de menos sofrimentos, que os levados pelo coração, sempre um insensato.
Deixem-se apaixonar apenas quando ele se decidir, e não antes!
Estejam em sua companhia, dêem-lhe a oportunidade de estar feliz, dêem-lhe o ensejo de até se apaixonar por uma de vocês, mas tenham cuidado!
Não quero ver uma de minhas filhas feliz e a outra sentindo-se desventurada.
— Está bem, mamãe, sabemos de tudo isso!
Se ele veio com essa intenção, fatalmente só uma de nós será a escolhida!
Estamos preparadas! — tranquilizou-a Mafalda.
— Não ficaria tranquila, filhas, nem vocês mesmas!
A preferida não estaria feliz com a irmã sofrendo.
Sempre foram amigas e souberam até dividir os brinquedos com harmonia, mas agora já não se trata mais de um brinquedo.
— Entendemos, mamãe! — reafirmou Mafalda.
Não precisa ter tantos cuidados!
Pode ser que, terminado o tempo das negociações, ele vá embora sem nada dizer...
— Sabemos disso, mas é bom que o coração de cada uma também o saiba!
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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti Empty Re: Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 06, 2018 8:04 pm

Capítulo 5 - O PASSEIO
Aquela noite mal conseguiram dormir.
Tinham muito em que pensar — no que ocorrera naquele dia e no que ocorreria no dia seguinte.
Cada uma desejava ter para si as atenções do jovem que, além de belo, poderia preencher as condições almejadas pelo pai, e as condições ansiadas pelos seus corações.
Sonhavam de olhos abertos, vendo-se conduzidas ao matrimónio por ele.
Chegaram até a imaginar a grande festa, reunindo a nobreza dos dois reinos, mais os convidados de outros que certamente viriam.
Seria um grande acontecimento.
Na manhã imediata, tão aguardada, ele levantou- se cedo e, antes de encontrá-las, percorreu todos os domínios do palácio, intramuros, e sabia já de todos os seus detalhes.
Quando retornou, conferenciou rapidamente com os membros da sua comitiva, quanto às negociações que empreenderiam, não se esquecendo de recomendar-lhes que nada decidissem com urgência, que demorassem o mais que pudessem, porque a negociação maior seria outra, e dela estava cuidando ele.
Que não apressassem a volta, enquanto a sua missão, aquela particular, importante, que envolvia não só pequenas transacções, mas todo o reino, ainda não estivesse, pelo menos, firmada e confirmada.
Ao encontrar as princesas para o passeio anteriormente combinado, ofereceu-lhes o braço como o fizera na véspera, e conduziu-as ao jardim, contando-lhes que já o havia percorrido todo, logo que se levantara.
Margarida, um tanto decepcionada, perguntou-lhe:
— Então não nos deixou a oportunidade de conduzi-lo aos recantos mais aprazíveis, aqueles de que mais gostamos?
— Não se ofendam por isso!
Levantei-me cedo e precisava respirar o ar puro do jardim e caminhar um pouco, mas deixo-me conduzir agora. Levem-me aonde desejarem!
— Vossa Alteza é sempre muito cortês e galante, e de forma alguma ficaríamos ofendidas! — acrescentou Mafalda, mais comedida em suas atitudes.
Eles efectuaram o passeio por todo o imenso jardim, e chegaram a um recanto, onde uma grande pérgula lhes ofereceria o abrigo para o calor do sol e o descanso da caminhada.
O príncipe convidou-as para entrar.
Enquanto elas se sentavam, felizes, ele as deixou por um
instante, e rapidamente voltou trazendo duas belas rosas — uma vermelha que entregou a Mafalda, e uma branca que ofereceu a Margarida.
Felizes com a delicadeza do gesto, Mafalda perguntou-lhe:
— Por quê, Alteza, nos ofertou as rosas de cores diferentes?
— Porque as flores trazem a linguagem dos nossos sentimentos!
— O que quer dizer com isso? — perguntou-lhe ingenuamente Margarida.
— Não sei, senti assim em meu coração!
Que a senhorita, D. Mafalda, deveria receber a vermelha, e a senhorita, D. Margarida, deveria receber a branca!
Nada de mais importante, apenas um impulso do momento.
— Mas falou em sentimentos! — retrucou, curiosa, Mafalda, sentindo-se já a escolhida por saber o significado da rosa vermelha.
— Sim, sentimentos de amizade que nutro por ambas, e em agradecimento a tanta gentileza que me têm dispensado.
— Vossa Alteza também tem nos trazido felicidade com a sua presença, quando a nossa vida, aqui, é tão segregada a nós mesmas.
Foi uma alegria muito grande recebê-lo! — confessou-lhe Mafalda.
— A alegria e os momentos de felicidade que me têm proporcionado, diante esta minha permanência aqui, são muito grandes e eu é quem lhes devo agradecer!
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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti Empty Re: Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 06, 2018 8:04 pm

— Não veio para tratar de negócios com papai? — aventurou-se a perguntar Margarida.
— Sim, viemos!
Mas para isso trouxe a minha comitiva, os emissários de papai!
Eles participarão das reuniões e eu tenho a alegria de fazer-lhes companhia!
— Até quando pretende permanecer? — indagou Margarida, visivelmente interessada em saber por quanto tempo ainda desfrutariam da sua companhia.
— Nada está determinado! Dependerá dos entendimentos que realizarem com seu pai.
Eu, por mim, já vi que não preciso ter pressa.
A companhia tão agradável que me proporcionam, faz-me querer ficar aqui para sempre.
— Vossa Alteza sabe que, ao nos casarmos, papai pretende que o nosso marido permaneça aqui para ajudá-lo e herdar o seu reino?
Por isso tem negado todos os pedidos dos pretendentes que se apresentaram até agora! — disse-lhe Margarida.
— Não sabia, ou talvez tenha ouvido dizer alguma coisa e não me lembrava!
Então se explica por que, sendo tão belas, ainda permanecem solteiras.
— Estamos esperando aparecer algum príncipe de quem gostemos, e que preencha os requisitos exigidos por papai, para também nos casarmos! — afirmou Mafalda.
— Muito interessante essa afirmativa, muito interessante...
Ele expressava-se como se nada soubesse, mas, na verdade, viera para isso.
Apenas estava se deixando levar, e esperaria até que seu coração o ajudasse a decidir.
A hora foi transcorrendo e eles deveriam retomar.
Estavam há um longo tempo fora do palácio, e a rainha, ansiosa, os aguardava.
Enquanto passeavam, os emissários do reino Contini estiveram em reunião com o rei, para a discussão de algumas das propostas que haviam trazido, mas tão diversificado era o assunto, que nada ficou resolvido, como era desejo do príncipe Fernando.
No dia seguinte se reuniriam novamente, e, enquanto isso, iriam tendo oportunidade de um estreitamento maior, para a decisão do verdadeiro motivo que os trouxera.
As duas, entusiasmadas, foram aos seus aposentos, seguidas pela rainha, enquanto Fernando foi ter com os membros da sua comitiva, ainda reunidos com o rei.
A rainha ouviu delas o relato de todas as conversas, até da rosa que haviam recebido, comentando o significado da cor de cada uma.
— Estará ele, mamãe, — perguntou-lhe Mafalda — interessando-se por mim, por ter me agraciado com a vermelha?
— Ele mesmo deve dizê-lo, filha!
Já falamos sobre isso, e não quero que sofram, colocando ilusões em seus corações.
— Se assim for, eu não tenho mais esperanças porque recebi a branca!
— A branca é sinal de pureza, de paz, filha!
Talvez a tenha recebido por ser a mais jovem!
Quem sabe ele percebeu mais ternura e meiguice em você. — e, falando às duas, aconselhou-as:
— Esqueçam-se disso!
O príncipe deve tê-las dado sem nenhuma das preocupações que tomam agora.
De qualquer forma já tiveram um contacto maior com ele.
E se é isso que pretende, deu para conhecê-las melhor.
— Hoje teremos mais oportunidades de estar em sua companhia!
— Seu pai disse que quer preparar um baile para hoje à noite!
Mais descansados da viagem, eles poderão participar das festividades.
— Mas ontem já dançamos também! — exclamou Margarida.
— Ontem foi apenas para as distracções se prolongarem um pouco mais, mas hoje, o motivo principal será o baile e haverá mais chances...
Ele fará o comunicado durante o almoço.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 06, 2018 8:05 pm

— Estaremos com o príncipe novamente, mas seria bom se uma o deixasse estar com a outra, mais a sós, para verificarmos a sua reacção! — falou Mafalda.
— É uma óptima ideia! — concordou Margarida.
Todavia, cada uma tem que revelar à outra toda a conversa, exactamente como se passou, sem esconder nada!
Talvez, a sós, ele tenha o ensejo de decidir, pois poderá nos avaliar mais intimamente.
Após o almoço dar-lhe-emos essa oportunidade com a apresentação de alguma desculpa.
— Qual de nós se retirará em primeiro lugar? — perguntou Mafalda.
— Como a ideia foi sua, você escolherá! — sugeriu a irmã.
— Está bem!
Eu fico e você se afasta com algum pretexto, depois volta, e quem se retira sou eu!
Que tal essa ideia, mamãe?
— Tenho receios, já lhes disse!
Vão devagar e com muito cuidado!
— Pode confiar em nós que saberemos como agir! — tranquilizou-a Mafalda.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 06, 2018 8:05 pm

Capítulo 6 - FAVORECENDO OPORTUNIDADES
Assim combinado, voltaram a se reunir para o almoço que transcorreu em amabilidades, como no jantar da noite anterior.
Terminada a refeição, durante a qual o rei lhes fez a comunicação do baile da noite, Mafalda, em cumprimento ao combinado, disse a Sua Alteza:
— Príncipe Fernando, gostaria de mostrar-lhe a nossa biblioteca.
A leitura é a nossa melhor distracção, e nossa biblioteca é muito rica!
— Com muito prazer, senhorita!
Acompanha-nos, D. Margarida? — perguntou-lhe.
— Tenho uma providência a tomar para hoje à noite, e logo mais os encontrarei lá!
Vá, que Vossa Alteza gostará!
Margarida pediu licença e retirou-se, deixando-os a sós.
Fernando ofereceu o braço a Mafalda que o conduziu à biblioteca, mostrando-lhe e explicando o que encontravam pelo caminho.
Ao entrarem, Mafalda fechou a porta e começou a falar a Fernando sobre os livros que lá existiam, destacando os que havia lido, e ele, muito atento, disse-lhe:
— Admira-me, senhorita, que fale dessa forma a respeito de livros e de seus assuntos, dos quais, pelo que me conta, já tem conhecimento!
— Eu e Margarida lemos muito!
É a forma de nos distrairmos da vida monótona aqui no palácio.
— Sente sua vida monótona?
Mas é tão bela, inteligente, ocupa posição invejável, não deveria sentir monotonia!
Era o ensejo de que necessitava para insinuar-se a ele, e, aproveitando, respondeu:
— Deve ser a solidão que me faz sentir insipidez em tudo!
Quando o meu príncipe chegar, talvez me sinta mais alegre em sua companhia e esqueça o insulamento em que vivo.
— Tem um príncipe em sua companhia!
Como está o seu coração agora?
— Muito feliz da companhia que ele me faz, mas é muito pouco, porque a passagem desse príncipe por este reino, será rápida, e, quando ele partir, o meu coração estará mais
solitário que antes.
— Agrada-me ouvir isso, senhorita!
Meu coração também é solitário de amor e também espero a minha princesa.
Antes de qualquer resposta ou definição, a porta se abriu e Margarida entrou, causando muita raiva em Mafalda.
Margarida percebeu um clima de ternura entre ambos, mas nada disse, apenas comunicou à irmã que a mãe a esperava para resolver um traje para a noite.
Conforme o combinado, Mafalda retirou-se, prometendo voltar assim que se desvencilhasse do problema.
Quando ela os deixou, ele, muito solícito, começou a conversar com Margarida.
— A senhorita também se interessa por leituras?
Admirei-me quando sua irmã me disse que passam longas horas do dia, aqui, em leituras.
— É verdade, Alteza, nos distraímos bastante com os livros!
— Por quê, senhorita?
Também sente solidão, monotonia, como me afirmou sua irmã?
— Nossa vida é semelhante!
Não podemos passear à vontade, não viajamos como Vossa Alteza.
Só quando temos visitas, nos distraímos mais, como agora, com a sua agradável companhia.
— Gosta de minha companhia, então?
— Muito, Alteza!
Tem nos feito felizes, mas sentiremos quando partir...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 06, 2018 8:05 pm

— As senhoritas precisam se casar!
Teriam uma vida diferente, logo viriam os filhos e as preocupações seriam outras.
— Tem razão! Estamos esperando o nosso príncipe, que está custando a chegar por causa das pretensões de papai!
— Sabe que eu poderia preencher perfeitamente as exigências de seu pai, Sua Majestade, o rei?
Margarida, simulando recato, abaixou a cabeça e nada respondeu.
— Nada me diz, senhorita?
— Que diria, Alteza?
— Diga-me, pelo menos, o que sente a meu respeito!
— Não posso! Não desejo sofrer, se dissesse que me é importante.
E existe minha irmã que pode já ter conquistado o seu coração.
— O meu coração só a mim pertence!
Não o entreguei a ninguém ainda, mas também anseio por constituir a minha família, ter meus filhos!
— Se pudesse confiar a mim, os cuidados do seu coração, só me faria feliz!
— Por que não tentamos?
Quem sabe eu o entregue totalmente aos seus cuidados.
— Que posso responder, Alteza?
Como entender as suas palavras?
— Entenda-as como quiser!
Devemos tentar, do contrário, como saber se posso entregá-lo à senhorita?
— Deixa-me confusa e perturbada.
— Hoje teremos o baile, no qual tenho muitas esperanças!
Durante as danças escolherei, entre a senhorita e sua irmã, a quem devo entregar o meu coração.
Ele estaria muito bem cuidado pelas duas, mas, como o coração só se entrega a uma pessoa, terei que esperar.
A porta abriu-se e Mafalda retornou.
Estava ansiosa para saber o que havia se passado na sua ausência, e aborrecida por ter sido interrompida, quando algo de muito importante poderia ter resultado.
Quando ela se aproximou, o príncipe, sem nenhum pejo, falou-lhe:
— Senhorita, dizia à sua irmã que meu coração também anseia por amor, e disse-lhe que, hoje à noite, durante a realização do baile, o deixarei decidir-se com qual das duas sentir-se-á melhor, mais feliz, sem que, com isso, esteja desprezando a outra.
Não! Ele estaria bem com as duas, mas só uma deverá cuidar dele.
Não poderei entregá-lo a ambas, porque um coração repartido é muito infeliz!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 06, 2018 8:05 pm

Capítulo 7 - O FACTO
O baile passou a ter outro significado, muito mais importante que um simples entretenimento.
Era intenção do rei, ao promovê-lo, efectivar uma aproximação mais estreita entre o príncipe Contini e suas filhas.
Não imaginava, porém, o rumo que os acontecimentos haviam tomado, e a significação maior que ele teria para elas, para si próprio e para todo o seu reino.
Os minutos custavam a passar...
Os trajes já estavam escolhidos, mas, diante da importância do acontecimento, duvidavam se os que haviam separado, seriam adequados a momento tão significativo.
Muito falaram, comentaram, contaram à mãe que se sobressaltou e após contou ao rei.
A ansiedade era grande...
Qual das duas seria a escolhida para partilhar com o príncipe, dos seus momentos de ternura e amor?
Qual das duas dividiria com ele a oportunidade de também gerir o reinado de seu pai, podendo até vir a ser a rainha?
Os prognósticos eram muito felizes para a escolhida, entretanto, e a outra, a rejeitada, como se sentiria?
Tanto poderia ser Mafalda, quanto Margarida!
Como deveriam se portar depois?
Até então só haviam pensado na vitória, na preferida, mas essa preocupação começou a invadir o coração de Margarida, a mais esfuziante em demonstrações de entusiasmo.
Com o ânimo um tanto arrefecido, ela disse à irmã:
— Tenho receios, Mafalda!
— Receio por quê?
Hoje será a noite que tanto aguardamos!
Uma de nós será pedida, ou, pelo menos, o príncipe se definirá!
O que a preocupa?
— Mamãe advertiu-nos e sabemos que, do momento em que uma for a escolhida, a outra será preterida.
— Ah, muito bem lembrado!
Desde que a decisão será hoje, devemos deixar bem
determinadas as nossas posições, após!
— Como faremos? — indagou Margarida, preocupada:
— Se o príncipe concordar com as exigências de papai, e se o casamento se efectuar, o casal continuará a viver aqui no palácio, em constante contacto com a outra!
O que devemos fazer?
— Isto é muito fácil! — afirmou-lhe com segurança Mafalda.
Se organizamos um plano para favorecê-lo na decisão, devemos traçar outro para o depois!
— Será muito difícil!
— Não será, pois ainda não o amamos!
Estamos entusiasmadas porque vimos nele a nossa oportunidade.
Vir a amá-lo, depois, não será difícil!
No entanto, a preterida terá que compreender a sua decisão e portar-se de modo a nunca se insinuar, perturbando e comprometendo a felicidade da irmã.
— Eu nunca faria isso, Mafalda!
— Nada devemos prometer sem sabermos como será hoje à noite, mas temos que acertar, para que cada uma fique feliz no seu lugar, sendo escolhida ou não, entendeu?
Não devemos deixar o coração influenciar nossas atitudes para não sofrermos, se formos a preterida, nem se formos a escolhida!
Sejamos leais uma com a outra e compreendamos a decisão do príncipe!
A que ficar, logo terá também a sua oportunidade.
Se o príncipe Contini aqui veio e poderá permanecer, até ficará mais fácil para a outra!
— E verdade! Papai talvez não faça mais a mesma exigência, e logo a outra terá o seu marido.
— E isso mesmo! Sempre nos demos muito bem, e a nossa amizade continuará!
Não seremos responsáveis pela escolha que ele fizer, portanto, temos que acatá-la sem sofrer.
— Combinado, então!
Sempre amigas?!...
Abraçando-se para consolidar o pacto e perpetuar
a amizade que sempre as unia, elas exclamaram em uníssono:
— Sempre amigas!
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Capítulo 8 - O BAILE
A ¦noite tão ansiada chegou!
Io jantar foi concluído, e, passado o tempo que o separou do inicio do baile, as danças
começaram, ao som que os músicos do palácio retiravam de seus instrumentos, numa harmonia perfeita, propiciando a todos momentos muito agradáveis.
Quando o baile se realizava em razão de algum acontecimento oficial, como Sua Majestade transformara aquele, era sempre aberto pelo rei que, convidando a rainha, conduzia-a ao meio do salão, iniciando as danças.
Ninguém se atreveria a sair dançando, mesmo que a música estivesse enchendo o ar com seus acordes melodiosos, antes que isso acontecesse.
Depois, sim, o amplo salão estava à disposição de todos.
Muitas moças da corte estavam presentes, disputando o privilégio de ser convidadas pelos membros da comitiva dos Continis.
O príncipe fazia companhia às princesas, e o momento de levá-las ao salão, chegou.
Para que nenhum embaraço houvesse, disse-lhes que faria como na noite anterior, e levaria primeiro Margarida, desculpando-se com Mafalda.
Enquanto dançavam animados, um outro membro da corte convidou-a, e ela, acompanhando-o, não tirava os olhos de Fernando e Margarida.
Na impossibilidade de ouvir-lhes a conversa, ela desejava, pelo menos, perscrutar- lhes os gestos e a expressão fisionómica.
O rei fora avisado de que, naquela noite, uma de suas filhas seria escolhida, entretanto, como nenhum comunicado oficial lhe chegara, mantinha-se calado, mas muito observador.
Para ele, qualquer uma das duas estaria bem para os seus propósitos, desde que o príncipe concordasse com suas exigências.
A rainha, porém, conhecedora do coração das filhas, estava temerosa.
Muito as havia aconselhado, mas, em assuntos do coração, nem sempre os conselhos são ouvidos, e ela temia pela outra, justamente porque a convivência continuaria.
Contudo, nada poderia fazer, e tinha que aceitar, dispondo-se a ajudar a preterida para não sofrer, vendo a irmã feliz.
As músicas sucediam-se e o príncipe não dançou com mais ninguém, a não ser com as duas princesas.
Revezava- se entre uma e outra, dizia galanteios a ambas, e o baile quase se findava pelo transcorrer das horas, e ele nada ainda havia falado que lhes confirmasse as pretensões.
Num dos intervalos entre uma música e outra, quando ele fazia companhia a ambas, esperando o reinicio das danças, Mafalda perguntou-lhe:
— Príncipe Fernando, está se divertindo com o baile?
— Certamente, senhorita!
Ambas têm sido para mim uma companhia muito agradável, e não saberia dizer qual das duas, dança melhor.
— Sempre as incertezas, não é mesmo, Alteza? - falou-lhe Margarida.
Hoje, à tarde, nos prometeu algo e, no entanto, nada nos disse ainda!
— Como pode falar assim ao príncipe, Margarida?
Ele deve saber o que fazer, e, se nada
nos disser, será sua decisão!
Hoje ele pode ter sido levado por um entusiasmo do momento, por ter estado a sós connosco!
— Não fale assim, princesa!
Sei cumprir minha palavra e, se lhes disse que deixaria a minha escolha ao meu coração, tenho que aguardar o que ele me diz!
Já está querendo dizer-me algo,... mas,... aguardarei o final do baile!
Nesta noite sairemos daqui com um compromisso, tenha certeza!
Quando o baile terminar, dirigir-me-ei a Sua Majestade, e a ele farei a minha confissão, o meu pedido!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 06, 2018 8:05 pm

— Sem antes falar connosco? - perguntou-lhe Margarida.
— Sim, Alteza! Foi a melhor forma que encontrei, sem deixar nenhuma das duas aborrecidas comigo.
Quero que saibam que estaria feliz com qualquer uma das duas, entretanto, só posso escolher uma.
Que a outra continue a ver em mim, sempre um grande amigo que a admira e quer vê-la feliz!
Ao final destas palavras, a música recomeçou, e ele, convidando Mafalda, retomou ao salão.
Durante a dança ela interpelou-o, dizendo:
— Pelo que compreendi, príncipe, já tem sua escolha feita, apenas não quer nos ofender!
— É muito perspicaz, senhorita!
Logo o baile estará terminado, pedirei uma audiência ao rei e far-lhe-ei a comunicação, solicitando-lhe o consentimento para realizar o meu sonho.
— E deixa-nos nesta ansiedade até o momento de falar com papai?
— Não posso fazê-lo de modo diferente!
É-me penoso ter que decidir, quando as duas têm todos os predicados para ser óptimas esposas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 06, 2018 8:06 pm

Capítulo 9 - A DECISÃO
Algumas poucas danças mais, e o baile terminou.
Quando anunciado foi que seria a última, o príncipe, sem convidar nenhuma das jovens para dançar, ofereceu- lhes o braço e levou-as junto de Sua Majestade.
— Divertiu-se, Alteza? — perguntou-lhe o rei, vendo- o feliz entre suas filhas.
— Tive uma das noites mais belas de minha vida e devo agradecer a Vossa Majestade!
— Nada deve agradecer-me, Alteza!
— Sim, agradeço-lhe, não só pelo baile, mas sou-lhe grato por possuir duas filhas tão belas, tão encantadoras, que tomaram a minha noite feliz!
— Sua Alteza gostou da companhia de minhas filhas?
— Estou encantado, Majestade, e gostaria de lhe falar justamente sobre elas.
— Pois fale, que seremos todo atenção!
— É-me difícil dizer o que preciso, neste instante, e para o qual peço-lhe licença e perdão, se porventura vier a ofendê-lo, que não é essa a minha intenção...
— De que se trata, Alteza?
Alguma de minhas filhas o magoou?
— Longe disso!
Eu é que receio magoar uma delas, neste momento!
— Por que me diz isso?
O que fará que poderá magoar uma delas?
— Majestade, se me permite, tenho a honra de pedir a mão de sua filha Mafalda em casamento!
Mafalda, ao ouvi-lo, não podia manifestar-se diante do rei e da situação, mas ficou exultante.
Margarida, porém, a mais tema e sensível, a que prometera não se abalar e ficar feliz qualquer que fosse a escolha, sentiu uma punhalada no coração, e teve ímpetos de deixá-los e sair correndo para o seu quarto.
No entanto, tinha que manter a posição que ocupava e a promessa feita.
Com os olhos secos mas o coração em prantos, sorriu com a alegria da irmã.
— O que o leva a pedir Mafalda em casamento?
— Espero não ter ofendido a Vossa Majestade com o meu impulso, sem que nenhuma preparação lhe tenha sido feita.
É meu modo de ser! Gosto de surpresas, e, se Vossa Majestade me compreender e aceitar, far-me-á um homem muito feliz.
— Nada tenho a impedir, desde que preencha as minhas pretensões e necessidades do meu reino, que já deve saber quais são!
— Sim, Majestade!
Se me atrevi a fazer o pedido é que estou plenamente de acordo com todas as condições que me impuser.
— Fico feliz, mas ainda não respondeu a minha pergunta!
O que o levou a escolher Mafalda?
— Gostaria de não mencionar, Majestade, para que elas não se sintam ofendidas.
Suas duas filhas estariam à altura de compartilhar das alegrias do meu coração, méis só uma me era dado o direito de escolher!
O rei, dirigindo-se à filha que até então nada pudera dizer, perguntou-lhe:
— Que me diz, filha, do pedido do príncipe?
Nada quero resolver que não vá ao encontro dos seus desejos, sabe disso!
— Curvo-me, papai, à sua vontade, mas saiba que me sinto venturosa!
A companhia do príncipe, nestes poucos dias em que está connosco, tem me feito feliz, e aceitarei o seu pedido com muita alegria.
— Concede-me, então, Majestade, a mão de sua querida filha?
— Se é de seu gosto, só tenho a dizer que também estou feliz!
Mas temos ainda muito sobre o que conversar, e não o faremos hoje, pelo adiantado da hora.
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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti Empty Re: Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 06, 2018 8:06 pm

— Certamente!
Curvo-me também aos seus desígnios e ao que me determinar, contanto que não me impeça de unir-me à sua filha Mafalda!
Estava sendo penoso para Margarida ali permanecer, e a rainha percebia.
Gostaria de sair de seu lugar, abraçar a filha, consolá-la, porque compreendia que ela estava sofrendo.
— Amanhã conversaremos, Alteza, e decidiremos não só os nossos interesses, mas o prazo que pretende, a cerimónia, tudo...
— Aguardarei ansioso esse momento, e depois partirei para fazer a comunicação a papai, que também ficará feliz!
— Talvez não, porque sabe das minhas exigências!
— Ele tem meus irmãos, Majestade, que o ajudam e que herdarão o trono!
Eu sou o terceiro, não lhe farei falta, a não ser no seu coração, mas essa, saberei como supri-la! — e, completando, indagou-lhe:
— Tenho a sua permissão de estar um pouco a sós com a senhorita Mafalda, e dirigir-lhe algumas palavras?
Posso retirar-me e acompanhá-la até a porta de seu quarto?
A estas palavras, a rainha pediu licença, e, levantando-se, foi ao encontro de Margarida para conduzi-la de volta ao quarto, antes que todos saíssem.
Ela, com um leve curvar de cabeça, retirou-se com a mãe.
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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti Empty Re: Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 07, 2018 7:45 pm

Capítulo 10 - PREPARATIVOS
Ah, pobre Margarida!
Fez-se forte, mas não o era.
Formulou propósitos, mas não sabia se teria forças para cumpri-los, e já sofria muito...
Era um misto de derrota que fere o orgulho, era a rejeição, era a solidão, porque perderia até a companhia da irmã com quem sempre partilhara a sua vida, e, além de tudo isso, o que não revelara, o que tentara esconder até de si própria, era o amor que sentia pelo príncipe.
Sua mãe entendia e, acompanhando-a ao quarto, conduzia-a sem nada dizer.
Ninguém precisaria saber o que se passava.
Mas, quando entraram e fecharam a porta, Margarida lançou-se nos seus braços e chorou muito.
A mãe, tema e compreensiva, acariciava-lhe os cabelos e confortava-a com palavras de encorajamento, mas ela a nada reagia.
Num dado momento, percebendo a filha mais calma daquele choro convulso, falou-lhe:
— Filha, por essa atitude, concluo que já estava apaixonada por ele! É isso verdade?
— Sim, mamãe, é verdade!
Apaixonei-me desde que o vi entrar no salão, quando aqui chegou!
— Mas não devia!
Foi uma temeridade de seu coração!
— Como evitar? A senhora me conhece!
Não pude resistir aos seus encantos, aos seus galanteios.
— Que ele dizia também à sua irmã! — completou a mãe.
Devia ter sido mais cuidadosa!
Avisei que não queria ver minhas filhas sofrerem!
— Não foi por minha vontade!
O que farei agora?
Não quero que Mafalda me veja assim.
Ela tem direito de ser feliz, foi a escolhida.
Não quero atrapalhar a sua felicidade...
— Você se acostumará com a ideia e o tirará do coração!
O príncipe não poderia escolher as duas, sabe disso, e sabe também que gostou de você.
— Como vou receber Mafalda a hora que ela entrar?
— É muito simples!
Limpe os olhos, seja forte, que ela, tão feliz, nada perceberá!
Fizeram um pacto, não é verdade? Pois cumpra-o!
Mesmo sofrendo, nada deve demonstrar.
Logo ele irá embora, e, uns dias longe daqui, a ajudarão a esquecê-lo.
— No entanto, quando voltar, será definitivo e muito pior.
— Até lá já se acostumou com a ideia e não se importará mais!
Teremos muito trabalho para providenciar a cerimónia das núpcias, você tomará parte dos preparativos e o esquecerá.
— Como esquecer, se estarei participando do que gostaria de realizar para mim?
— Lembre-se, filha, de que desde criança a ensinei a orar!
Ligue-se a Deus e peça-Lhe que a ajude!
Ore bastante que encontrará conforto!
— Vou tentar, mas estou sofrendo muito!
— Porque descuidou do seu coração!
Venha, vou colocá-la na cama e, se não quiser falar hoje com Mafalda, faça de conta que dorme.
Amanhã estará mais calma! Verá que o amanhã não será tão negro quanto se lhe apresenta agora.
Apoie-se na oração, filha, peça a Deus que Ele a ajudará!
Enquanto a mãe auxiliava a filha, Mafalda e o príncipe conversavam, e logo que a rainha se retirou, eles chegaram à porta do quarto.
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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti Empty Re: Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 07, 2018 7:45 pm

— Querido príncipe, hoje Vossa Alteza me fez a mulher mais feliz da Terra!
— Então somos os dois mais felizes, porque também me sinto assim!
— Contudo, falta dizer-me por que fui eu a escolhida!
— Esqueça-se dissofO que importa é que a escolhi e não por que o fiz.
Estamos juntos e seremos felizes, pense somente nisso!
— No entanto quero saber, para que a minha felicidade aumente ainda mais!
— Contente-se com a que já está sentindo, e deixe a sua curiosidade!
— Irá partir, agora?
Sentirei muito a sua falta!
— Preciso comunicar a meu pai, bem como levar o resultado das conferências com Sua Majestade!
— Diga-me, príncipe, quando aqui veio, tinha já a intenção de nos conhecer e até de escolher a sua esposa?
— Nada disso me movia, mas não pude resistir ao seu encanto!
Amanhã combinarei com seu pai os detalhes do nosso casamento e da cerimónia.
Depois partirei, e, quando retomar, permanecerei para sempre a seu lado e a farei muito feliz, como também o serei!
— Sinto-me venturosa ao ouvir isso!
Meu coração alegra-se e a minha felicidade é imensa!
Entretanto, tenho um pouco de receio por Margarida.
Ela também estava aguardando ser escolhida como eu.
— Mas não o foi!
Gosto muito dela, mas escolhi a senhorita, e isso basta!
— Por que, Alteza, eu fui a escolhida e hão ela?
— Outra vez a mesma pergunta!
Não quer que me zangue?
— De forma alguma!
Quero que me ame muito, como eu já o amo!
Quero ser feliz e fazê-lo feliz!
— Então esqueça o que não tem importância, e pense somente em nós!
Quando Mafalda entrou no quarto para regozijar-se com Margarida, encontrou-a dormindo profundamente, como sua mãe lhe recomendara, impedindo qualquer comentário que a fizesse sofrer mais, deixando Mafalda perceber.
Ela também deitou-se, mas tinha tanto em que pensar que não conseguiu dormir senão quase pela madrugada, e demorou-se a acordar.
Margarida levantou-se antes dela e foi caminhar pelo jardim, para esquecer um pouco suas mágoas.
O príncipe reuniu-se com Sua Majestade, o rei, e todos os acertos concernentes às bodas foram efectuados.
Determinado foi que o prazo mínimo necessário a que todas as providências fossem tomadas, os convites expedidos, o aposento do casal preparado, — um mês!
Após um mês a cerimónia seria efectuada.
O príncipe permaneceria mais um ou dois dias para uma convivência mais estreita com a então sua noiva, e retomaria para junto dos familiares.
Sua comitiva teria tempo de também terminar as negociações com o rei, e partiriam, levando tudo o que haviam vindo em busca, mas que nem o rei nem Mafalda sequer sonharam.
— Que ele, o príncipe Fernando Contini, ali estivera em missão de união mais estreita dos reinos!
Ele combinou com o rei, seu futuro sogro, que em vinte dias estaria de volta com pequena comitiva, bem como com um seu criado de confiança para permanecer, e que a família de seu pai chegaria nos dias mais próximos ao enlace.
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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti Empty Re: Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 07, 2018 7:45 pm

Os dois dias que o separaram da sua partida, foram de muito enlevo para Mafalda, que parecia não mais caminhar, nem mudar os passos, mas deslizar e flutuar, tanta era a sua felicidade.
Margarida evitava o mais que podia a presença de ambos, mas nem sempre era possível.
Soube fingir até diante da irmã que nada percebeu, embora seu íntimo sofresse mais ainda por vê-los tão felizes.
Não sabia se suportaria a vida do dia-a-dia, naquelas circunstâncias, após o matrimónio.
Num momento em que o príncipe a surpreendeu sozinha, olhando-a ternamente nos olhos, indagou-lhe:
— Já estou perdoado, senhorita Margarida?
— Perdoado por quê, Alteza?
Não me consta que tenha me ferido em nada!
— É melhor assim! Não poderia escolher as duas, não obstante quero que saiba que também tocou muito o meu coração.
A sua ternura quase ingénua, a sua simplicidade, cativaram-me sobremaneira!
— Mas escolheu minha irmã, e fico feliz com isso!
— Sim, a escolhi, mas tenho os meus motivos!...
Nisso Mafalda entrou, surpreendeu-os conversando,
mas nada a molestou.
Quando se aproximava, o príncipe dirigiu-lhe alguns galanteios, e ela, satisfeita, não teve tempo para receios.
Fora a escolhida sem que nada tivesse feito para isso,
portanto tinha que confiar.
Com a irmã havia um pacto feito, e sabia que Margarida nunca impediria a sua felicidade.
Transcorridos os dois dias, o príncipe com sua comitiva partiu, levando o sucesso em todas as negociações que viera realizar, principalmente naquela que fazia parte somente do mais íntimo de seu ser e de todas as suas pretensões.
Voltava feliz e levaria a notícia ao pai.
— Sim, dir-lhe-ia que, o que o irmão não havia conseguido tempos atrás, ele o conseguira agora.
Que seus domínios logo estariam aumentados, acrescidos de mais um reino que, fatalmente, seria seu.
Casar-se-ia com a filha mais velha, e nada o impediria legalmente de ser o herdeiro do trono do sogro, que logo uniria ao de seu pai, formando um grande reino, para a felicidade das pretensões de seus familiares, os Continis.
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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti Empty Re: Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 07, 2018 7:45 pm

Capítulo 11 - AS BODAS
O espaço de tempo pretendido e solicitado para os preparativos decorria e, vinte dias após, dez antes da cerimónia, o príncipe Fernando estava de volta.
Colocaram-no nos aposentos que pertenceriam ao casal, para que ficasse bem instalado, aguardando apenas a realização do enlace para levar a esposa, a princesa Mafalda.
O dia da cerimónia chegou.
Convidados de outros reinos vieram com suas comitivas, e os Continis já estavam no palácio havia dois dias.
A azáfama era intensa.
Foi necessário contratar mais criados no reino, para que nada falhasse.
O assunto em todas as rodas, mesmo fora do palácio, era o casamento da princesa.
Quebrando as normas obrigatórias para que toda a cerimónia fosse realizada em palácio, a princesa pediu licença à Sua Majestade, seu pai, para casar-se na igreja do pequeno reino, fora do palácio.
Era justo que também o povo participasse, pelo menos vendo-a passar em sua carruagem, porque a igreja era pequena até para os convidados.
O rei concordou, como também o príncipe, e a cerimónia do casamento estendeu-se além do palácio.
A igreja foi decorada como requer a uma princesa; o isolamento para que o público não a invadisse foi feito, e a cerimónia transcorreu como Mafalda desejava.
Quando ela deixou a igreja com o príncipe, o povo, acotovelando-se para vê-la, aplaudia muito.
Nunca haviam visto uma festa semelhante.
O rei determinara algumas concessões ao povo, e todos estavam felizes.
De retomo ao palácio, uma grande festa os aguardava.
Músicas e as mais finas iguarias faziam parte do grande banquete.
A alegria e a felicidade era geral, menos no coração de Margarida.
Quanto havia se esforçado para aparentar alegria!
Estava já no limite de suas forças e não via a hora de que os festejos terminassem, para poder ficar só em seu quarto e chorar muito.
Até então, com a presença de Mafalda, precisara fingir a todo o instante.
Mas agora teria o aconchego do seu travesseiro, confidente e amigo para receber-lhe as suas lágrimas e ouvir-lhe os lamentos.
Teria a liberdade de manifestar a sua tristeza, todavia, só a simples lembrança de que Mafalda estaria em outro aposento, com o príncipe, fazia-a sofrer mais.
Uma, tão embriagadoramente feliz, e a outra, tão desventurada.
Esforçara-se o mais que pudera para nada demonstrar e não perturbar a felicidade da irmã.
Queria que ela fosse para o casamento, consciente de que tudo estava bem e de que o pacto estava sendo cumprido.
Mas até quando suportaria, não sabia ainda.
Pensara muito nos últimos dias, e tinha uma ideia em mente.
Por nada seria empecilho à felicidade da irmã, mas também precisava cuidar de si própria.
Se seu sofrimento continuasse a atormentá-la, se não conseguisse ver o príncipe com Mafalda, sem sofrer, sabia já o que fazer.
Nada mais esperava da vida, porque tinha certeza de que a nenhum outro conseguiria amar como amava o príncipe Fernando, e, sem amor, nunca se casaria.
Mesmo que algum pretendente aparecesse, recusaria, e o pai não teria como obrigá-la a aceitar.
Para seu mal, só havia um lugar.
Nada diria por enquanto, mas acalentava esse pensamento, vendo-se já, recolhida num local onde os sofrimentos de amor são superados, e uma vida de contemplação a Deus era o bálsamo de que necessitava.
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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti Empty Re: Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 07, 2018 7:46 pm

Esperaria mais algum tempo e decidir-se-ia.
Passadas as festividades, todos os convidados retornariam a seus lares, e a vida no palácio estaria novamente circunscrita somente aos familiares, entre os quais o contacto seria mais frequente.
Em presença de Mafalda, Margarida estimulava-a a parecer mais bela diante do príncipe, a fazer o de que ele gostava, contudo, no íntimo, era o que ela própria gostaria de fazer para ele.
Seus passeios pelo jardim passaram a ser mais frequentes, e ela percebeu que estava sendo observada pelo príncipe.
Às vezes, quando Mafalda estava distraída ou ausente, surpreendia-o olhando atentamente para ela, e isso a preocupava.
Em outra época se sentiria lisonjeada e muito feliz, mas agora não poderia permitir.
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