LUZ ESPÍRITA
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Página 6 de 7 Anterior  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7  Seguinte

Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 12, 2018 8:36 pm

— Estou reconhecendo muitos dos que conviveram e trabalharam comigo!
Alguns do meu governo, sobretudo militares que me foram fiéis, e que me ajudaram bastante nos planos que organizávamos, para que as nossas estratégias fossem bem-sucedidas!
— Pelo que vejo, então, a situação parece ter sido a mesma!
Planeavam ali, uma conquista, e tinha, a seu serviço, os mesmos asseclas que o ajudaram nesta sua última encarnação!
— Sim, vejo-os como se estivesse vendo os mesmos companheiros!
Até, parece incrível, vejo entre eles, o meu irmão Benjamim!
— Estão ali muitos com os quais conviveu!
Veja, amigo, que em uma encarnação, temos ao nosso redor muitos dos que estiveram connosco em anteriores!
Podemos continuar?
— Sim, quero ver mais!
As imagens continuaram e ele pôde ver a realização do que planejavam — a conquista realizada!
Mas para que ela tivesse sido vitoriosa, muitos pereceram pelo caminho, muitos foram aniquilados e tiveram suas casas destruídas, seus familiares mortos, e o chefe dos inimigos também, despojado de seu posto.
Irmão José pediu que novamente as imagens fossem interrompidas e fixas naquele ambiente de muito sangue, quando traziam para o rei, como troféu, aquele chefe inimigo, amarrado, espezinhado, sofrido!
— Por que, irmão, interrompeu num local tão sangrento, assim?
— Apenas para que visse do que era capaz, e, muito mais que isso!
Olhe bem para aquele que vem sendo trazido à sua presença — foi para isso que o conservaram vivo e aniquilado!
Para que o visse!
Veja bem e procure reconhecê-lo!
Lembra-se, irmão, de alguma pessoa com quem conviveu, lá na Terra?
Quem pode ser identificado como sendo este que assim vê?
— Estou reconhecendo, sim, o meu inimigo mais ferrenho!
Aquele que voltou para poder justiçar o que lhe fora feito naquela ocasião!
Aquele que me oprimiu de todas as formas, até que eu próprio tive que me retirar da vida!
— Veja, irmão, como se realiza a Justiça Divina!
Não foi ele que o oprimiu para que se retirasse da vida, foi você próprio, que, acovardado moralmente, não quis enfrentar as consequências de um ato que imputou de calunioso e injusto!
— Assim me pareceu!
Quando lá estamos, não sabemos o que fizemos, e consideramos estar sendo alvo da maledicência.
— Pois então!
Aquele jornalista, sem nem mesmo saber porque, tinha um ódio imenso por sua pessoa, e atacava-o de todas as formas, querendo derrubá-lo do governo, como você o fizera, através
de seus comandados, em outra oportunidade, e muito mais, arrasando tudo o que estava sob a sua jurisdição.
— Este trabalho será feito somente hoje, ou o faremos em partes, como o anterior?
— Apenas lhe mostraremos fatos que têm relação com a sua última experiência na Terra, e você, após, terá em sua mente, ligando os acontecimentos, toda a sua vida.
Assim, realizá-lo-emos todo hoje! Podemos continuar?
— Sim, mas me está sendo difícil!
— Nunca é fácil verificarmos nossos erros, mesmo que sejam de um tempo longínquo!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 12, 2018 8:36 pm

A aparelhagem foi novamente ligada, as imagens tiveram vida, movimentando-se à sua frente, e ele pôde ver os vencedores adentrarem-se no palácio, jubilosos, levando submisso, à presença do rei, aquele que trouxeram abatido e dominado.
— Aqui está, majestade, o troféu que é a prova da conquista por nós efectuada!
Trouxemo-lo para provar a Vossa Majestade, o que conseguimos!
O território, antigamente dele, vos pertence totalmente, e ele aqui está, para que façais de sua pessoa, o que bem desejardes!
Vossa Majestade merece tê-lo em vossas mãos!
— Regozijo-me com todos vós, pela conquista efectuada, pelo acréscimo de meus domínios, e, merecedores são todos, de grande festa que daremos, hoje mesmo, à noite!
Tereis bebidas, quanto quiserdes, mulheres, todas as que desejardes!
Quero também que esse troféu seja exibido no local mais alto, como prova de nossos feitos!
A estas palavras, uma ovação muito forte foi ouvida, manifestada por todos os que haviam partilhado da tarefa.
— Podeis retirar-vos agora, que providenciaremos o festim para esta noite, mas deixai essa criatura no salão, num local onde todos possam vê-lo!
Aquela criatura, humilhada, urrava pedindo misericórdia, mas ninguém lhe deu ouvidos.
Foi colocado num pátio, onde todos o viam.
A humilhação era muito grande, a execração a que o obrigavam foi a mais dolorosa e terrível que sofreu em sua vida, muito maior que se o tivessem eliminado, juntamente com quase todos do seu povo.
Sua cabeça baixa não mais pronunciava uma única palavra!
Sabia que, após os festejos, após todos terem-no visto, teria também um fim terrível.
Os festejos chegaram e, para eles foram trazidos todos do palácio.
Convites foram expedidos com urgência, e, do lado de fora, a algazarra era imensa, porque todos os guerreiros lá estavam, bebendo e se divertindo.
No grande salão, a alegria não era menor!
Os mais graduados ali estavam, aqueles mesmos que viram no início, num conciliábulo com o rei, planejando o ataque.
E o vencido também ali estava!...
Ficaria até altas horas!...
Nem um alimento lhe fora dado, e era alvo de todas as humilhações dos presentes.
Aqueles homens fortes, mas com mentalidades estreitas, e que divertiam o rei com lutas, demonstrando-lhe a sua fidelidade e sua força, também haviam sido trazidos para as festividades.
Eram fiéis ao rei e procuravam servi-lo em tudo.
Um deles, muito forte e muito alto, mas com a cabeça pequena e gestos até infantis, se destacava entre todos.
A um dado momento, o rei chamou-o para perto de si e disse-lhe:
— Ao final da festa, aqui, podereis levar o prisioneiro aos festejos lá de fora, e lhe dareis o fim que desejardes!
Ele é todo vosso!
Aquela imensidão de corpo sorria, e demonstrava alegria junto ao rei, considerando aquele gesto como se fora agraciado com um novo brinquedo.
Nesse instante, Irmão José interrompeu as imagens, e verificou o quanto Getúlio estava chocado e compenetrado naquelas cenas todas.
Mas chamou-o e perguntou-lhe:
— Reconhece naquele lutador, cuja presa lhe foi dada para dar o fim que quisesse, alguém que com você conviveu?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 12, 2018 8:36 pm

— Sim, amigo, e isso foi o que me surpreendeu mais!
— Ele era fiel ao seu soberano, feliz na sua pouca inteligência, e agradava-lhe que o rei lhe dispensasse atenção!
E o rei era atencioso com ele porque precisava de sua força bruta e pouca inteligência, para dar fim àqueles que mais directamente o importunassem, sem que houvesse um campo de luta.
— Por isso ele me foi tão fiel e me protegia de todas as formas!
Mas ainda sua inteligência não estava suficientemente desenvolvida para saber que, às vezes, ao me proteger, estava me prejudicando, como ao determinar aquele crime, que foi o começo do meu próprio fim!
— E note-se que foi com a mesma criatura que, revoltado, quis fazer justiça por tudo o que havia sofrido por sua culpa!
— Irmão José, ainda é necessário que vejamos mais?
Não gostaria de ver mais nada, e parece-me que nada mais do que possa me mostrar, seja tão triste quanto já o vi!
— Apenas mais um pouquinho, e logo mais estará terminado!
Vejamos o final da festa!
— Se pudesse ainda fazer algum pedido, eu rogaria, irmão, paremos com tudo isso!
O senhor já sabe o que aconteceu com aquele vencido, colocado para a execração pública!...
Ele dali não sobreviveria, ainda mais que foi entregue ao lutador, não é verdade?
— Você está a par do que o lutador fez com ele após a festa?
— Sim, irmão, e não desejo vê-lo!
— Lembra-se de que após todos se divertirem com ele do lado de fora do palácio, quando estavam já bêbados e inconscientes, o lutador o jogou na vala dos animais?
— Sim, lembro-me de tudo!
— Então, penso que podemos nos retirar!
Irmão José agradeceu ao jovem encarregado da aparelhagem e retiraram-se.
Getúlio saiu cabisbaixo, mas Irmão José tinha que trazê-lo de volta à realidade actual e assim falou-lhe:
— Compreendeu, amigo, o que lhe aconteceu nos últimos tempos de sua mais recente encarnação?
Compreendeu porque tantos o atacaram e queriam retirá-lo do governo?
Compreendeu porque foi vítima da execração pública através dos jornais?
Os tempos eram outros e os meios também outros!
— Compreendi tudo, e até que mereci o que me fizeram!
Nunca mais direi que fui caluniado e difamado!
— A maioria dos fatos que nos envolvem em uma encarnação têm origem em pontos muito distantes de nossa vida de Espírito eterno!
Nesta última encarnação você conseguiu resgatar muitos dos débitos adquiridos naquela!
— Quanto tempo faz, que essa encarnação que vimos hoje, ocorreu?
— Você deve ter verificado, pelos costumes, pelas roupas, pelas atitudes, pelo palácio!
Todos esses detalhes podem precisar bem a época em que se passou!...
— O senhor tem razão!
E desde aquele período só voltei como Getúlio?
Como foi o fim daquele rei que fui?
— Envelheceu no trono e partiu para o Mundo Espiritual em condições muito tristes, de muito sofrimento!
— E nunca mais encarnei?
— Sim, teve duas encarnações mais!
Aprendeu muito, porém, nunca mais em condições de mando.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 12, 2018 8:36 pm

Ser-lhe-ia perigoso!
Poderia novamente assumir mais compromissos!
— O que fiz, então?
— A primeira delas lhe foi muito difícil, tanto em relação a condições financeiras como físicas, favorecendo-o de muitas formas, a pensar, a reflectir em seu próprio benefício, e nada realizar em desfavor de tantos!
— E a outra?
— Na outra havia já resgatado bastante, e teve meios de aprimorar os estudos e ter uma vida melhor!
Pôde fazer algo em favor de muitos, ressarcindo débitos em razão de sua dedicação a uma pequena comunidade, onde exercia a função de pároco, levando-lhes o conforto da palavra e da ajuda material.
Foi o que pediu, para começar a auxiliar, onde muito havia errado!
— Foi no mesmo local, então?
— O local não importa! O que importa são Espíritos ajudados e, naquela encarnação, você realizou bastante!
Era um teste para que pudesse novamente envergar a posição de mando, e verificar se os propósitos idealizados pelo seu Espírito, estavam já cristalizados no coração, ou se falharia novamente!
— E eu falhei, não é irmão?
— Não podemos fazer tal afirmativa!
Por tudo o que analisamos, sabe que também muito realizou, muito ajudou, organizou o País, deu início a diversos departamentos que se desenvolveram, facilitando a sua economia!
Enfim, se errou, também ajudou!
— E agora, o que me resta fazer?
— Teremos as ordens de Irmão Fabrício, que lhe dará uma actividade para desenvolver, possibilitando o resgate de muitos dos seus débitos!
Mas, enquanto isso, continuará a estudar, a ler, a orar e, sobretudo, a reflectir, para quando voltar — não sabemos quando —, partir com um plano concreto e solidificado em si, a fim de conseguir, não só resgatar débitos, mas progredir bastante!
— Quem sabe um dia também poderei ser como o senhor, e ainda chegue a ser um orientador!
— Isso não vem ao caso!
Não me tome para exemplo, que também temos nossos erros!
O nosso único modelo e guia será sempre Jesus.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 12, 2018 8:36 pm

CONSCIÊNCIA PLENA
Muito mais do que já havia visualizado e recordado, Getúlio precisava pensar.
Tudo o que vivera estava ligado a fatos anteriores, mas nada do que constatara, servia para atenuar-lhe as culpas, pelo contrário, sentia-as mais intensamente.
Se não lhe diminuíram os compromissos, pelo menos serviram-lhe para mudar a mente, em razão de pessoas que julgava terem-no perseguido, caluniado, e lhe imputado responsabilidades que não reconhecia como suas.
Agora mudava a maneira de pensar — deixava os outros para pensar somente em si, em tudo o que fizera naquela encarnação longínqua, trazendo reflexos, após séculos!
Sobre esse particular, depois de muitas reflexões, quando teve oportunidade, conversou com o instrutor amigo, pedindo-lhe esclarecimentos, começando por indagar:
— Por que levamos tanto tempo para resgatar débitos tão antigos, e por que convivemos com pessoas com as quais estivemos em épocas tão remotas?
— O que fazemos de errado em uma encarnação, não saldamos logo na seguinte, para não acumularmos tanto sofrimento para nós!
Suas perguntas afiguram-se-me um tanto ingénuas, após tudo o que tem aprendido!
— Não entendo porquê?
— É muito simples!
Os nossos actos insanos e tão comprometedores fazem-nos acumular tantas dívidas, que não é possível as resgatemos de uma só vez!
Não suportaríamos uma carga tão forte!
Lembra-se do que já lhe disse — Deus não tem pressa, e faz-nos pagar suavemente o que realizamos de modo intempestivo, irresponsável e até desumano!
As vezes, levamos milénios, para saldarmos compromissos contraídos pelo nosso Espírito, em uma única existência!
— Isso quer dizer que ainda tenho muito para saldar!
— Todos nós temos! Uns em menor, outros em maior escala, mas temos que encarnar muitas vezes para resgatar nossos débitos!
Isso ainda quando procuramos viver de forma cristã, dentro dos ensinamentos de Jesus, trabalhando em auxílio a muitos, para não adquirirmos mais compromissos.
Deus se agrada muito do trabalho que realizamos em favor de outrem, e desconta, a nosso favor, e com a nossa permissão, já que cada um tem montado um tribunal, dentro de si mesmo, em decorrência do livre-arbítrio, débitos que ainda trazemos, amenizando-os.
— Compreendo, irmão!
Tudo depende de nós, é de nossa responsabilidade — o praticar e o saldar!
— Sim, é o que se dá!
Às vezes nossos débitos são tão profundos, que pedimos a Deus a oportunidade de renascer em condições difíceis, para resgatarmos um tanto mais depressa, o que talvez levasse muitas encarnações!
De outras, as condições difíceis nos são compulsoriamente impostas, porque a nossa inconsciência é tanta, que não teríamos condições de escolher ou de resgatar de outro modo, tudo sob a supervisão dos Maiores da Espiritualidade!
— Nada se perde diante da Justiça Divina, que é a perfeição em si mesma, não é verdade, irmão?
— Não há privilégios, não há subornos, nada que desarmonize!
Tudo decorre com uma precisão infinita!
Está satisfeito com as respostas?
— Muito satisfeito, e compreendo agora que, se tivesse que ter saldado logo em seguida, todas as minhas acções daquela época, não teria suportado.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 13, 2018 7:55 pm

— Tudo vai acontecendo de forma a que a nossa ficha, nos registros divinos, vá sendo aliviada ou mais acumulada!
— Entendo, então, que, como Getúlio, saldei, em parte, meu débito com aquele infeliz que tanto humilhamos naquela oportunidade!
— Em parte, sim, esse foi o saldar maior dentre outros, mas enquanto não houver perdão mútuo — entre você e a antiga vítima — e ambos venham a se amar como verdadeiros irmãos, o saldar não terá sido completo, requisitando mais tempo da Divina Providência!
Muito ressarciu também em relação a tantos que o atacavam e queriam vê-lo fora do governo!
A tantos que a sua pessoa incomodava, a tantos que nunca simpatizaram com você!
— Nada fica perdido, não é mesmo?
O que me preocupa, é que nesta minha última encarnação, conquanto tenha resgatado débitos antigos, assumi muitos outros, inclusive o mais grave de todos, ao forçar os umbrais da desencarnação, destituído do mínimo de coragem moral.
— Depende muito da compreensão, do esforço, do aprimoramento, o resgate de nossas dívidas! Se você tem consciência de que deve se esforçar para progredir, a reparação de compromissos se faz de forma pacífica, conquanto necessariamente dolorosa, sem revoltas, compreendendo o que lhe acontece, pacientemente, sem reclamações e sem revides.
— A nossa preparação é muito importante, sobretudo aqui, antes de nos reencarnarmos!
Mas, quando lá chegamos, esquecemos tudo e reincidimos nos mesmos erros.
— Isso significa que o nosso Espírito não está suficientemente trabalhado, mas, de qualquer forma, sempre progredimos um pouco!
Em cada encarnação que nos é oferecida, caminhamos um pouquinho em favor de nós mesmos e dos que nos cercam!
— O senhor sempre nos traz uma palavra de conforto, apesar de todos os erros que cometemos!
Quero me esforçar bastante, e quando me for permitido voltar, quero levar comigo uma bagagem em meu espírito, que me permita viver de modo o mais correto possível, resgatando muitos dos meus débitos, e quero progredir também um pouco!
A propósito, quando estarei desenvolvendo a minha actividade?
— Irmão Fabrício já a tem, e mais alguns dias lhe será dada!
Mas quero adiantar-lhe:
não espere posição de mando e nem privilégios, que aqui, sabe, não os temos!
— Nada disso me importa! Sinto-me bem e quero desempenhar a função que me for determinada!
Seja a mais ínfima, vou me esforçar para realizá-la bem!
Entendo agora que tudo o que fizermos para os outros, estaremos fazendo para nós mesmos!
Quem sabe um pouco do que não realizei lá, possa fazê-lo aqui?
Getúlio estava visivelmente modificado por todo o trabalho realizado, que lhe dera plena consciência de toda a sua vida, com erros e acertos, e da sua ligação com passado longínquo.
Tinha condições de se esforçar, para, a cada dia, aprender mais, e melhorar a si próprio.
Assim, na manhã em que Irmã Cíntia o avisou de que Irmão José o esperava no seu gabinete, ele para lá se dirigiu, certo de que já teria a sua tarefa para desempenhar.
Lá sempre comparecera para conversar, aprender e receber o estímulo e o conforto das suas palavras, entretanto, naquela manhã, fora chamado e, se assim ocorrera, não era para uma conversa fraterna e informal, embora todas fossem sempre de muito proveito.
Quando entrou, foi saudado com muita alegria.
— Recebi o seu recado, e penso ser o que espero há tempos!
— Realmente, tem razão! Irmão Fabrício chamou-me, ontem, para passar-me o que deverá realizar, em tarefa, nesta Colónia, onde há tantos necessitados!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 13, 2018 7:55 pm

— Quero fazer o melhor que puder!
Esforçar-me-ei para isso!
— Pois bem, então vamos a ela!
Depois de estudar, para verificar o que lhe será melhor aproveitado, Irmão Fabrício determinou a sua ocupação!
Espero que a realize com bastante amor e dedicação, adiantando-lhe que você a ela não está obrigado!
Aqui instruímos, informamos, conduzimos, porém, não obrigamos, mas espero que não vá se furtar!
— Se a aguardo há algum tempo, jamais deixaria de cumpri-la!
Já lhe disse: esforçar-me-ei para realizá-la o melhor que puder!
— É muito bom ouvir isso!
Lembra-se de Irmão Fulgêncio?
— Como não!
Devo-lhe muito, e a todos os que com ele colaboravam, no atendimento a tantas carências naquele departamento!
— Você deverá estagiar lá, só que agora, graças ao Pai, em condições bem melhores, pois que é sempre melhor poder auxiliar que precisar receber o auxílio!
— Vou trabalhar com Irmão Fulgêncio?
— Sim, é para lá que deverá ir, e doar, algumas horas do seu dia, no auxílio àquele departamento.
— E o que farei?
Estou contente de novamente poder conviver com ele!
— O seu trabalho terá duas partes bem distintas!
Você sabe, porque lá viveu, que há diversas espécies de atendimento, mas, para que cheguemos aos mais nobres, temos que começar pelos mais simples!
— Já sei o que deverei fazer lá!
— Como assim?
— Naquele departamento, como recebem irmãos infelizes, ainda inconscientes de si próprios — eu, por exemplo, não me lembrava nada do fim dramático de minha vida física — o trabalho de limpeza é muito grande!
Há muito esforço por parte dos Benfeitores Espirituais, para que aqueles espíritos possam ir se libertando do sofrimento e partir para a recuperação!
— Vejo que já aprendeu bastante!
— Eu lá estarei!
É isso que devo realizar?
— De certa forma sim!
Você trabalhará uns tempos de auxiliar, mas o fará em relação aos necessitados, ajudando-os em seus leitos, para que após, os outros auxiliares possam entrar com a outra parte, que é um atendimento mais direccionado ao Espírito. Caso se esforce, e se saia bem nessa tarefa, depois de uns tempos passará também a auxiliá-los nessa segunda parte, e deixará o outro serviço.
— Eu sei que não me será fácil, mas não importa, me esforçarei!
É para o meu próprio bem e o conforto maior deles!
Eu também fui atendido assim, embora, naquele tempo, não tivesse consciência.
Mas estou feliz!
Além do trabalho que realizarei, terei o conforto da amizade e da palavra de estímulo do Irmão Fulgêncio.
Enquanto conversavam, eis que achega aquela figura tão amiga de Getúlio, Irmão Fulgêncio!
— Como está, amigo? Já tive notícias de que irá estagiar connosco, no nosso departamento, e vim trazer-lhe o meu apoio, uma palavra de estímulo, e também externar a minha alegria em tê-lo connosco novamente, não mais como um grande necessitado, mas exercendo um trabalho!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 13, 2018 7:55 pm

— A alegria em vê-lo, é muita, mas, necessitado sempre o serei! Se não o fosse, para lá não seria mandado!
— E uma bênção de Deus poder realizar um trabalho em favor dos que sofrem!
— Estou feliz, ainda mais por trabalhar com o senhor!
Quando devo começar?
— Agora mesmo, se desejar, eu o levarei até lá!
— Gostaria, mas preciso ainda de algumas instruções de Irmão José e, se puder me esperar, iremos logo em seguida!
— Estou à sua disposição! — falou-lhe Irmão José.
— Quero saber quantas horas lá devo passar, pois pretendo também poder continuar a receber suas orientações, que me são tão valiosas, e saber onde ficarei abrigado!
— Continuará no seu compartimento, que ainda este trabalho faz parte de sua recuperação!
Trabalhará apenas quatro ou cinco horas por dia, por se tratar de serviço pesado, e por precisar de algum tempo para os estudos e para os passeios!
— E posso procurá-lo nas minhas horas disponíveis?
— Quantas vezes desejar!
— Não irei atrapalhar o seu trabalho?
— Se até aqui pude também desenvolvê-lo, por que não o faria agora?
Lembre-se de que terei ainda todo o tempo em que estiver naquela enfermaria!
— Assim ficarei mais tranquilo! — e, dirigindo-se a Irmão Fulgêncio, completou: Se desejar, podemos ir!
— Pois então vamos! Hoje apenas lhe mostrarei o serviço, passarei instruções, e amanhã, no horário que vou determinar, poderá começar!
— Que Jesus o abençoe, nesta sua nova tarefa, e que possa realizá-la com todo o amor de que seu coração é capaz, não só em benefício daqueles que lá estão, mas em seu próprio!
— Obrigado, Irmão José!
Tenha a certeza de que vou me esforçar bastante!
Getúlio despediu-se e retirou-se juntamente com irmão Fulgêncio, para uma nova jornada que lhe seria muito difícil, mas da qual, tinha certeza, sairia vitorioso!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 13, 2018 7:56 pm

EM TAREFA
No início daquela actividade, apesar de todo o esforço de Getúlio, e de toda a boa vontade com que desejava realizá-la, era impossível não sentir certa repugnância.
Um trabalho ao qual nunca fora submetido — em tempo algum precisara realizá-lo quando encarnado — e agora se defrontava com aquela situação que era uma constante nos leitos — emanações viscosas, escuras e mal cheirosas, expelidas por muitos dos que ali se encontravam...
Ele devia estar atento e fazer a assepsia, proporcionando àqueles irmãos em recuperação, um pouco mais de conforto e um ambiente mais limpo e agradável, para que os outros auxiliares pudessem se preocupar com a mente, e irem trabalhando de acordo com as necessidades.
Nos primeiros dias, tão cansado e enojado ficou, que ele próprio, após o término do trabalho, requisitava um auxílio para refazer-se.
Passou três dias sem procurar Irmão José, extremamente deprimido, mas pôde contar com a palavra de estímulo, força e amizade do Irmão Fulgêncio, que, vendo-o tão sofrido, perguntou-lhe se desejava desistir, mas ele, determinado e persistente, não aceitou.
— Se foi a tarefa que me determinaram, como sendo a mais importante ao meu progresso espiritual, ao meu resgate, eu a realizarei, se Deus quiser, e sei que Ele o quer!
Fico assim só nos primeiros dias, depois me habituarei!
— Louvo muito a sua insistência! Insistindo e persistindo, venceremos!
Da dedicação e amor com que a realiza, quem sabe seu tempo de permanência nela seja menor!
— Quando me habituar, poderei permanecer, que não terá mais importância!
Irmão José também não o procurou.
Precisava deixá-lo à vontade, e, sabedor de que estava sob as atenções do Irmão Fulgêncio, embora ansioso para lhe falar, conteve-se, limitando-se apenas às informações que colhia do responsável por aquele departamento, quanto ao seu desempenho.
Mas, passados mais alguns dias, foi procurado em seu gabinete por Getúlio.
— Que alegria vê-lo, amigo!
Como está se saindo em sua nova tarefa?
— Não me está sendo fácil, mas penso que os dois ou três primeiros dias me foram muito piores!
— Quanto tempo está permanecendo lá?
— Não vejo o tempo passar, tanto serviço há, e, após três ou quatro horas, nem sei, Irmão Fulgêncio me dispensa e manda-me passear pelo jardim e pelo parque, respirar ar puro e agradável, para eu me refazer!
— Então está sendo tão difícil assim?
— Foi difícil, mas estou me habituando, e ainda quero chegar a um tempo de realizá-la sem nada sentir!
Tenho procurado ver, em cada um que atendo, um necessitado como eu próprio o fui, e assim está ficando mais fácil.
Sinto até alegria quando me retiro de perto de um leito, deixando aquele irmão limpo e mais confortável!
— Estou feliz por ouvi-lo falar com entusiasmo, de uma tarefa aparentemente tão difícil como esta que lhe foi designada!
— Já falamos de mim, deste meu trabalho... falemos agora do senhor, de como tem aproveitado o tempo em que o tenho deixado livre!
— Como já sabe, tenho escrito muito!
— Posso fazer-lhe uma pergunta?
— Todas as que desejar!
— Por que escrever tanto, aqui?
Qual a finalidade deste seu trabalho?
— Você conhece a nossa Biblioteca, não é mesmo?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 13, 2018 7:56 pm

— Sim, para lá tenho ido sempre que posso, e estou lendo e me instruindo bastante!
— Pois bem!
Tudo o que escrevo tem duas finalidades: uma, levar àqueles que a frequentam exemplos de irmãos nossos que viveram na Terra, e para o Mundo Espiritual voltaram, trazendo compromissos ou trazendo bênçãos de uma vida dedicada a outrem!
Faço-o de forma a que aprendam e se estimulem a não praticar erros, como também a seguir os exemplos dos que voltaram vitoriosos de missões tão importantes de amparo, de trabalho dedicado, que levaram à Terra!
A tudo isso, procuro sempre colocar os ensinamentos de Jesus, para um aprendizado através de lições concretas!
— Exactamente como tem feito comigo, sempre me transmitindo, de cada ato, de cada facto, ensinamentos e conselhos que me têm sido tão valiosos!
— É isso mesmo!
— Mas falou em duas finalidades!
Qual será a outra?
— A outra, é a de que, quando me for permitido, quero levar à Terra, através de algum médium que me for designado, esse meu trabalho, para que lá também, de forma diferente desta aqui, concreta para os encarnados, tenham todos esses exemplos a que já me referi!
— Como isso é possível?
— Um dia ainda voltaremos a esse assunto, e lhe explicarei, detalhadamente!
Você entenderá!
É possível levarmos para o mundo dos encarnados, a nossa experiência, os ensinamentos de Jesus, através de histórias, de forma a serem absorvidos pelos que os lerem.
— Dessas explicações, ocorreu-me uma ideia, que, se me permitir, eu lha exporei!
— A sua vida não é mais segredo para mim, você sabe disso! Pode dizer!
— Será possível, um dia, quando o senhor puder realizar esse trabalho lá na Terra, levar ao meu povo — àqueles que me amaram, àqueles que me ofenderam, àqueles que me atacaram — a minha história, a história de Getúlio Vargas, ligada ao Plano Extrafísico, depois daquele meu tresloucado gesto de que me arrependo amargamente?
— Você gostaria de ter a sua actual experiência aqui, exposta lá na Terra?
— Penso que me será benéfico, se puder ser, um dia, realizada!
— Poderei escrevê-la sob a sua orientação, dizendo-me a parte que pretende, seja descrita!
— Não há segredos! Poderá fazê-la como entender, diante de tudo o que conhece e que vimos juntos, e, muito mais, diante do que sabia e eu não, e me foi mostrado há pouco! O que pensa desta ideia?
— Sabe que preciso pedir permissão a Irmão Fabrício!
— Ele permitirá, por certo!
A minha intenção, ao fazer-lhe este pedido, é mostrar ao mundo o quanto erramos, o quanto nos afastamos dos propósitos aqui realizados, e o quanto a nossa vida lá, está ligada a actos que nós próprios cometemos num passado distante!
Mostrar a todos, que devem, também lá, apegar-se mais aos ensinamentos que Cristo nos trouxe e ter uma vida mais voltada para os outros e não para si próprios, e, particularmente aqueles que terão a incumbência de dirigir uma nação, que tenham a minha apagada vida — Getúlio, em dois mundos — como o mais simples de todos os exemplos!
— As intenções são muito boas, poderemos pensar!
Devo deixar amadurecer esta ideia em mim e, após, consultar Irmão Fabrício.
Depois, tomaremos ao assunto!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 13, 2018 7:56 pm

Irmão José, um tanto surpreso por aquele pedido, pensava já em poder realizá-lo, pois, passado o primeiro momento, analisando todo o alcance que teria, quando pudesse trazê-lo à Terra, compreendeu e concordou com ele.
Indubitavelmente será um exemplo útil a muitos!
Se todos os que estivessem na Terra fossem conscientes de seus vínculos com a Espiritualidade Superior, não se sentiriam tão egoístas e orgulhosos, dominados pela vaidade, desobrigados dos compromissos assumidos anteriormente, e das consequências do que realizariam.
Não viveriam apenas o momento presente, sem ontem e sem amanhã!...
Essa obra seria um meio de lhes mostrar o que realmente ocorre.
A colheita dos nossos actos impensados, como também a conscientização de que, aqueles que nos rodeiam, são, na maioria das vezes, nossos velhos conhecidos de antigas jornadas terrenas!
Tudo, enfim, seriam esclarecimentos a muitos!
Ainda mais, mostrar-lhes-ia essa ligação de forma concreta, individualizada, com uma personalidade marcante que lá viveu, e não apenas um simples nome, que passaria, aos muitos leitores, por uma simples trama de ficção!
Passados alguns dias em que esse pensamento permanecia em sua mente, delineou um esboço de como a obra deveria ser, e consultou Irmão Fabrício a respeito.
Expostas que foram todas as ideias, após relatar-lhe a solicitação de Getúlio, Irmão Fabrício pediu-lhe o esboço do livro, dizendo que também iria pensar no assunto.
Apesar de confiar muito em Irmão José, o relator de todos os factos, um trabalho dessa natureza tinha que ser muito bem estudado anteriormente, para não correrem o risco de trazer um efeito contrário, a leitores incautos!
Irmão José compreendeu e louvou o cuidado de Irmão Fabrício, e colocou-se à disposição para todos os esclarecimentos que desejasse, como também, a obra pronta, caso a permissão lhe fosse dada, seria levada para a sua apreciação e crítica.
Assim ficou combinado!
Irmão José transmitiu esses esclarecimentos a Getúlio, que continuava o trabalho naquela enfermaria, não o sentindo mais tão difícil, desempenhando-o até com alegria.
Getúlio entendeu, também, a precaução de Irmão Fabrício, embora ainda sem o alcance que ambos possuíam, mas agradeceu a decisão, mesmo porque Irmão José lhe afirmou, que talvez ainda demorasse muito para ter permissão de levar o seu trabalho à Terra.
A amizade de ambos continuou sempre e a cada dia mais forte!
Agora tinham, além de tudo o que conversavam, mais um motivo — o assunto do livro, que cada vez mais crescia e os empolgava.
— Se não for permitido, Irmão José, penso que terei uma frustração!
Esse desejo já está muito grande em mim, e ficarei triste!
— Sempre temos que compreender as decisões dos superiores, cujo alcance e visão são muito maiores que os nossos! Se não nos for permitido realizá-la, devemos aceitar, como nos sendo salutar.
— Eu entendo! Quem sabe é uma vaidade que está me envolvendo neste momento!
— Pelos motivos expostos, não acredito em vaidade, pelo contrário, é uma humilhação!
O reconhecimento de que erramos, não é orgulho nem vaidade!
A demonstração do sofrimento porque passou também não o é, e ainda mais, se colocarmos no livro, o trabalho que vem realizando, acha que seria alguma demonstração de vaidade?
— O senhor tem razão, e quero que tudo isto seja colocado também, pois do contrário, a minha intenção de alerta e advertência àqueles que lá estão, perderia o seu sentido!
Aqui no Mundo Espiritual trabalhamos com a verdade, não há subornos, e se é essa a verdade que enfrento agora, nada tenho a esconder!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 13, 2018 7:56 pm

Muitos não acreditarão; não tem importância, o que importa é que estamos sendo honestos, e temos a consciência em paz!
— Vejo que aprendeu bastante, irmão!
Estou feliz pelos conceitos que formulou, baseados todos no aprendizado que vem realizando.
— Estou me esforçando!
Também não tenho ideia exacta, mas o senhor deve saber há quanto tempo estou aqui, o quanto passei naquelas regiões infelizes, e, se consegui, após tudo isso, com sofrimento e com aprendizado, compreender melhor as verdadeiras finalidades da nossa criação, já me sinto feliz!
— O tempo, amigo, quando já temos em nós algum entendimento, não importa!
De que lhe adiantaria dizer que passou naquelas regiões, dez ou vinte anos?
De que lhe adiantaria dizer que está aqui há dois, três, cinco ou dez anos?
— Mas eu gostaria de saber!
Quanto tempo faz que deixei o meu corpo na Terra?
— Se isso lhe for benéfico, um dia saberá!
Por ora, posso lhe adiantar apenas que faz muito tempo, se lá na Terra estivesse contando os dias!
Porém, no Mundo Espiritual, diante da eternidade do Espírito, podemos dizer que é um tempo ínfimo!
— O senhor tem razão!
Lembrei-me agora do que me mostrou naquela época em que fui rei, e pareceu-me que tudo tinha acontecido há poucos dias!
— O que importa, é o que vamos acumulando em nós, seja a nosso favor, em realizações de amor, seja em compromissos, se praticarmos o mal!
É nisso que devemos pensar, para sermos cada vez melhores, pelo esforço em estudar, em aprender, em levar auxílio aos semelhantes, a partir do amor, na sua mais sublime expressão!
O amor sem fronteiras, que não vê hora, nem local e nem escolhe aqueles a quem deseja ajudar!
O amor que emana dos corações, dedicado aos que nos rodeiam, colocado em todas as nossas acções!
O amor voltado a Deus, a quem devemos louvar pela nossa criação, e a Jesus, pelos ensinamentos que nos trouxe!
Compreende o que representa o amor!
— Graças a Deus deram-me o senhor como orientador, pois a cada vez que conversamos, levo comigo um aprendizado, uma palavra de estímulo e uma força muito grande.
Que Deus o abençoe por tudo isso!
— Aprendi com a vida, com o sofrimento, com a resignação, que podemos distribuir amor, mesmo que o coração esteja sangrando pela dor que nos acicata!
Que conversa edificante para o Espírito de Getúlio!
Quanta força hauriu daquela convivência tão fraterna e amiga!
Ele saiu revigorado e desejoso de poder transmitir muito amor àqueles a quem dedicava um trabalho tão insignificante, tão simples, por tudo o que ele fora, mas o que lhe possibilitaria um resgate muito grande dos débitos que acumulara!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 13, 2018 7:57 pm

UM NOVO LEGADO
Ansiosos ainda estavam pela resposta de Irmão Fabrício, e os dias decorriam.
Muitas vezes mais estiveram juntos, mas nada lhes chegava, até que numa oportunidade em que Irmão José precisou conversar com ele, aproveitou para perguntar-lhe daquele pedido feito há algum tempo.
Obteve como resposta que ainda estava estudando, mas, pelo que já havia visto, acreditava não haver nenhum impedimento.
Os propósitos eram bons e, muito mais que tudo, era uma demonstração pública do reconhecimento dos erros, e um testemunho das qualidades que estava adquirindo, mostrando a muitos e muitos, o que passou no Plano Extrafísico, inclusive o trabalho que ora desempenhava.
— O irmão não toma como uma manifestação de orgulho ou de vaidade, pelo fato de lá na Terra não mais estar, mas, através do livro, da sua história, ter uma nova oportunidade de retomar, de forma diferente, embora, pelas narrativas da sua vida, reunidas em dois mundos, o dos encarnados e o dos desencarnados?
— Não, filho, não vi dessa maneira, mas como alguém que parece bem-intencionado e que, talvez, por não ter podido realizar, por si próprio, os propósitos formulados aqui, queira levar a outros a oportunidade de não cometerem os mesmos erros, e de policiarem-se mais, quando investidos de posto tão importante ao País, e, ao mesmo tempo, tão comprometedor a seus Espíritos!
— Fico satisfeito que assim tenha interpretado, porque são exactamente essas as suas intenções!
— Se o irmão não se importar, permito que escreva tudo o que sabe, o que viu e temos, como escritor renomado que foi, e continua sendo aqui, para nós!
Porém, quero apreciá-lo, depois de concluído, não que não confie no seu trabalho, conforme já o disse, mas precisamos saber como disporá o assunto, assim também como colocará, em cada fato, o ensinamento adequado!
As orientações que puder inserir no transcurso dos acontecimentos, aquelas mesmas que tem transmitido ao nosso irmão, é que serão muito mais importantes que o próprio fato em si, porque, na Terra, pela personalidade que ele foi, o simples transcorrer de sua vida, não tem novidade e nem interesse, que todos já a conhecem de sobejo!
— Entendo, irmão, e por isso fiz o esboço preliminar que deixei para a sua apreciação!
Porém, no desenvolvimento das narrativas, procurarei transmitir sempre ensinamentos que possam servir, não só a ele que aqui está connosco, mas muito mais ainda àqueles que lá estão, imersos em problemas materiais, e afastados do que lhes seria a própria vida, considerando a eternidade do Espírito!
— Sei que posso confiar no irmão e deixo-o à vontade para realizá-lo como deseja, apenas recomendo que o traga após, para a minha apreciação!
— Há outro particular ainda!
Tenho já muitas obras que gostaria de levar à Terra, mas não sabemos quando isso me será permitido, não é mesmo?
— O irmão compreende como tudo deve se passar!
O seu plano de retomo para esse trabalho lá, já saiu de minhas mãos e está agora com Mentores maiores.
Diante da eternidade do Espírito, como já disse, o tempo é sempre muito pequeno, e, quando menos esperar, terá uma resposta!
O irmão sabe que saiu de minhas mãos com o parecer favorável, mas, como se trata de trabalho tão importante, não posso decidir sozinho, que também sou subordinado a queridos prepostos de Jesus!
— Eu entendo e saberei esperar!
Agradeço o seu parecer favorável e, enquanto aguardo, vou desempenhando o meu trabalho aqui, em favor dos que de mim necessitarem!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 13, 2018 7:57 pm

Nos momentos em que puder, desempenharei essa outra actividade, que é a razão da minha vida, e irei acumulando livros, para, quando tiver a permissão, ter muitos para levar!
— Que Deus o abençoe!
Que possa, cada vez mais se dedicar aos outros, porque, mesmo só escrevendo, o seu trabalho, quando puder ser levado à Terra, é dedicado não a um só, como o que realiza entre nós, mas aos milhares que poderão ter o alimento a seus Espíritos, com os ensinamentos que lhes transmitir. Irmão José, tenho a certeza de que tudo será aprovado!
Poderá escrever essa obra, e, assim que terminar o trabalho que já havia começado, trabalhará na vida de Getúlio!
O devotado orientador sabia como deveria realizá-lo, e o faria de acordo com o esboço levado a Irmão Fabrício.
Quando encontrou Getúlio, falou-lhe da conversa com o Mentor, sem, contudo, mencionar a autorização, porque sentiu nele a ansiedade para também fazer-lhe uma comunicação.
Assim, deixando-o falar primeiro, ele revelou o seu encontro com Irmão Fulgêncio, transmitindo-lhe, palavra por palavra, a conversa que mantiveram, através da qual ele fora informado de que sua tarefa actual estava encerrada, e que seria deslocado para novas funções.
— Pelo que vejo, o dia de hoje reservou-lhe muitas alegrias, pois o Irmão Fabrício também me permitiu escrever a sua história!
— Eu sabia e confiava que ele não impediria!
Quando começará?
— Logo que terminar o que escrevo!
Você saberá!
— Poderei lê-lo todo, depois de concluído?
— Sim, a história é sua!
No transcurso do meu trabalho, ainda trocaremos muitas ideias!
— Quero fazer-lhe um pedido que não havia feito ainda, por não saber se a minha solicitação seria autorizada!
Ser-me-á possível ter uma participação também nesse trabalho?
— Mas você participará do começo ao fim, se é de você próprio que falaremos!
— Eu compreendo, mas é meu desejo, naturalmente se houver permissão para tanto, enviar à Terra, ao término do livro, escrita por mim mesmo, uma carta!
— Ora, amigo, por quê?
— E importante para mim, enviar a todos os que lá estão, de meu próprio punho, uma outra carta!
Não aquela em que saio da vida para entrar na história, mas outra, em que volto da história para ensinar a vida!
Permite-me, irmão?
— O livro é todo seu, e quando chegar o momento eu lhe direi!
Getúlio tinha em mente cada detalhe delineado, tudo o que desejava transmitir, e que constituía a sua intenção maior — o alerta, o seu apelo consciente, pelo muito que havia aprendido.
Quando Irmão José lhe disse que o avisaria no momento de escrevê-la, ele sabia que não haveria essa necessidade porque já estudava os pontos que pretendia ressaltar.
Irmão José trabalhava no término do livro que escrevia, mas também, com o esboço que havia traçado, ocupava-se mentalmente do assunto, dos detalhes. Um dia aquela obra ainda chegaria à Terra!
Estava esperançoso no trabalho que aqui viria realizar, e a traria como um desejo daquele irmão.
Algum tempo mais foi passando, e Getúlio se viu acomodado na sua nova função.
Mais tranquilo, aplicava-se aos estudos, e ajudava, muitas vezes, mesmo fora de suas actividades, a irmãos que sabia, também precisavam de uma palavra de conforto, justamente de quem já passara pelo acerbo e inexorável sofrimento de alimentar e pôr em prática o ato de auto-eliminarão do corpo denso.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 13, 2018 7:57 pm

Estava feliz!
Já até deixara o Departamento dos Recuperados e passara para o Departamento dos Auxiliares.
O bom desempenho do seu trabalho propiciou-lhe esta nova e abençoada oportunidade de regeneração, para, da união dos que
auxiliavam em diversos sectores, da troca de ideias, do desejo de ajudar, conversarem, comentarem algum caso, aumentando o sentimento de fraternidade, pois todos trabalhavam também para si mesmos, para a sua recomposição plena e para o seu progresso.
Mas ele não deixava de estar, quando lhe era permitido pelas próprias actividades que desenvolvia, com Irmão José, o grande amigo, como o considerava e era considerado.
E, quando tinham essa oportunidade, o assunto do livro, que já estava sendo escrito, era sempre discutido com entusiasmo.
— A carta, Irmão José, tenho-a pronta!
Logo a trarei e a deixarei com o senhor, pois vejo que, em pouco tempo, o meu livro estará pronto!
— Sim, amigo, já está bem adiantado!
Se a deixa comigo, pretendo, antes de transcrevê-la, analisá-la detidamente, embora saiba, em detalhes, de suas intenções!
Mas, já que falamos em carta, deveremos lembrar daquela que lá deixou antes do seu ato estouvado, e que ainda não tivemos ocasião de comentar!
— Não me agrada falar sobre ela, embora saiba que foi muito comentada, quando lá deixei o meu corpo!
Serviu para que muitos se comovessem, e muitos não acreditassem na sua autenticidade, mas lhe afirmo: aquela carta já estava escrita há muitos dias!
Tive ocasião de estudá-la, de corrigi-la, de fazer acertos e de deixá-la pronta, para qualquer eventualidade, pois eu sabia, conquanto me fosse pesaroso e difícil, o que faria quando nada mais me restasse!...
Por isso, ela, toda pronta, me acompanhava sempre para que ninguém a descobrisse e pudesse me impedir do desassisado gesto que, doentiamente, aguardava o momento de praticá-lo!
Mas eu digo e reafirmo, eu próprio a escrevi e, pensando nela, foi que me veio esta vontade de escrever outra!
Aquela encerrou a minha vida lá!
E esta, será para levar à Terra, a notícia de que continuo vivo, não mais perturbado e temeroso, mas feliz e tentando me equilibrar sempre mais, espiritualmente, desejoso de transmitir àqueles que lá estiverem, a minha amarga experiência!
Quem sabe outros, pretendendo fazer o que fiz, desistam, ao conhecer a minha verdadeira história — não aquela de lá, que todos a conhecem, mas a daqui —,
levando-lhes a minha consciência plena, não das mágoas que trouxera em razão dos que me oprimiam, mas a mágoa do que eu próprio amealhei para mim mesmo!
— Compreendo, e acho que tocamos num ponto importante, que havia ficado para o momento oportuno, e ele se fez agora!
— Na próxima vez que aqui vier, trarei a carta e a deixarei com o senhor!
Poderei até lê-la, em voz alta, se o desejar, e, quando o livro estiver pronto, é só encerrá-lo com ela!
Poderá dizer que essa carta é o meu novo legado à minha Nação!
Não mais um legado de morte, mas um legado de vida, de advertência e de amor, dedicado a todos os que lá ainda estão!
— A sua modificação tem sido muito grande!
— Graças a Deus, a Jesus, ao senhor que muito tem me ajudado e a tudo o que me proporcionaram aqui! Só tenho a lhes agradecer!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 14, 2018 8:30 pm

— Agradeça a Deus a oportunidade que lhe vem dando, e peça-lhe também que possa aproveitar, de cada situação, de cada olhar de sofrimento que vê nos rostos dos necessitados, uma ocasião para transformá-los em momentos de amor, que pode transmitir a todos!
Que Deus o abençoe, auxiliando-o a continuar neste novo caminho, sempre em direcção a Ele, pelo seu esforço em reflectir, analisar, estudar, ajudando e trabalhando em favor dos outros, que só isto fará que esteja trabalhando para si mesmo!
Getúlio se retirou, deixando Irmão José feliz do que observava, comparado àquele dia em que fora levado ao seu leito, por Irmã Cíntia, onde o encontrara tão abatido, desesperançado e triste!
Mas, graças a Deus, tudo estava mudado e mudaria muito mais ainda, até que novamente ele pudesse ter outra oportunidade de retomo à Terra, em condições e situação que só Deus o poderia determinar!
Passados mais alguns dias, eis que seu livro caminhava para o final.
Getúlio visitou novamente Irmão José, e levou-lhe a carta de que tanto falara.
— Quero, por gentileza, que a leia para mim, antes que eu possa lê-la por mim mesmo!
Anseio por sentir o efeito da reacção que terá o leitor lá na Terra, e não como um documento que devo incluir no livro!
Quero ouvi-la, e recebê-la como um cidadão encarnado, vivendo no seu País!
— Posso lê-la, sem mais detença?
— Sim, serei todo atenção!
Que as bênçãos de Jesus possam envolver, neste momento, todos os que desta mensagem tomarem conhecimento, e saibam compreender aquele que aí viveu, e agora retorna, não mais com uma mensagem-testamento, de mágoas e frustrações, mas para provar-lhes a sobrevivência do Espírito, e transmitir-lhes uma palavra de reconhecimento e de amor!
O reconhecimento, como conscientização dos erros que aí cometi, quando da oportunidade maior que me foi colocada às mãos, a meu próprio pedido, para auxiliar esse País necessitado, e o reconhecimento, em forma de gratidão, ao País que me acolheu e ao povo que me amou!
Por isso retorno, não como aquele que aí viveu, mas como este que hoje sou, após muito ter sofrido, por tantos erros e actos impensados praticados!
Entretanto, apesar de muito ter errado e me afastado dos planos que deveriam ter sido postos em prática,
Deus, na sua misericórdia e justiça, também levou em conta, para atenuar as minhas faltas, o que pude realizar em favor dos outros!
Volto, com a consciência, a meu ver, mais equilibrada e lúcida, para mostrar-lhes que assumimos compromissos profundos, quando não vivemos pautados pelos ensinamentos da Doutrina Cristã, e temos que responder, após, por todos os actos praticados em desfavor de outrem!
Muito padeci aí, por tantos que me oprimiam, mas a eles também transmito o meu agradecimento!
Serviram para que débitos antigos fossem ressarcidos, e hoje, lembro-me deles com muito respeito!
Que todos os que ofendi possam lembrar deste velho Presidente, como alguém que hoje está modificado, e muito tem sido ajudado, aqui, neste País da Verdade, agora, onde me encontro!
Quero lhes dizer ainda que, às vezes, pensamos que aí sofremos por injustiças, mas um passado longínquo, com o qual temos ligações profundas, pela prática de actos reprováveis diante de Deus, nos obrigou àquele sofrimento.
Mas, graças a Ele mesmo, a Jesus, e aos Amigos Espirituais, temos a oportunidade de retornar, quantas vezes forem necessárias, para que os resgates sejam efectuados!
Que todos possam ter o meu apagado exemplo, como um alerta em suas vidas, para não cometerem o que cometi, mas que se esforcem, por sempre fazerem o melhor, não para si próprios, mas o melhor diante de Deus! Que nunca pratiquem o que pratiquei, como retirada do mundo dos encarnados, porque o sofrimento que nos aguarda, depois, é muito grande!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 14, 2018 8:30 pm

Se volto, através desta mensagem, é para mostrar que agora estou bem, e dizer o quanto sofri, o quanto me arrependi, após, pois tudo o que valorizamos aí, e pelo qual lutamos, aqui pouco importa!
Aqueles que me amaram, àqueles que me perseguiram, àqueles que me oprimiram, ao País que me acolheu, a Deus que me amparou, embora eu d'Ele tenha me afastado muito, a minha gratidão!
Que Deus abençoe a todos, dando-lhes a força para sempre reagirem aos impulsos infelizes, para que um dia, de retorno à Pátria Verdadeira, possam encontrar a alegria dos que os acompanharam, a gratidão dos que foram beneficiados pela sua companhia, e o amor de Deus, em forma de amparo e de luz para si próprios!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 14, 2018 8:30 pm

ESPIRITUALMENTE RENOVADO, O VELHO EÇA DE VOLTA
Ao prezado leitor, habituado a lavrar o campo da Literatura Mediúnica, poderá parecer surpreendente que um autor, famoso pela marca deixada em seus livros, em sua grande maioria negativos do ponto de vista espiritual, mas que por se revelarem estilisticamente estruturados, passaram a integrar, pela sua importância, um género literário bem-sucedido na França, enriquecendo a intelligentsia não só de seu país de origem quanto a das demais nações de fala portuguesa, poderá parecer surpreendente, repetimos, que um autor com essas características, retome através da instrumentalidade medianímica, com um estilo — que se frise isto — linear, sem a preocupação maior de se revelar como era.
A sua intenção, agora, é revelar-se como está, após conseguir, sob ingentes esforços, o avanço espiritual, na grande senda do progresso, que se processa nos dois planos da Vida Imortal, para transmitir as suas novas vivências para as massas, disposto a ser renegado, se preciso for, pelos seus antigos pares e pelos críticos que continuam se deixando influenciar pelos materialistas desencarnados.
Aliás, em prefácio datado de 3 de outubro de 1962, à obra Antologia dos Imortais, recebida pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira (Rio, FEB, Ia edição, 1963, pp. 19-20), já ficou registrada a nossa modesta opinião quanto à possibilidade de encontrar o leitor, "de permeio com autênticas obras-primas, poesias menos belas, quer quanto à forma, quer quanto ao fundo, de vez que não há poeta que viva sempre em momentos sublimes.
Todos eles, no mundo experimentam dificuldades e angústias, inibições e frustrações de estaca-zero e não seria lícito esperar que, desencarnados, comparecessem, entre nós, invariavelmente no apogeu da cultura e da emoção, segundo os cânones e as regras estabelecidas pela crítica humana. Forçoso igualmente considerar que o médium não pode ser responsável pelos hiatos, lacunas, oclusões e omissões por parte dos poetas
desencarnados comunicantes, compreensivelmente muito mais ocupados e interessados na eliminação dos conflitos íntimos, ante a grandeza da vida, que se lhes descerra além do túmulo, que atentos à observação e à análise da opinião pública terrestre."
Um ponto ficou bastante claro: é que todos os poetas, quase sem excepção, buscaram ater-se à confirmação do continuísmo da vida após a morte do corpo físico e aos consoladores ensinos da Doutrina Espírita, preocupação que não existia, num sentido total, no Parnaso de Além-Túmulo, primeira obra recebida pelo médium Xavier, lançada pela Federação Espírita Brasileira, em 1932.
O mesmo se pode dizer, cremos, a propósito do Espírito de Eça de Queirós (ao longo de toda esta Introdução, ora grafaremos Queiroz, ora Queirós, obedecendo à fidelidade que se toma imperiosa à transcrição de passos das obras consultadas).
Ao percorrer as páginas 26-29 do órgão de divulgação da Federação Espírita do Rio Grande do Sul (FERGS) — A Reencarnação (Ano LIX, N° 405, Maio/93, "Chico Xavier, um Homem entre dois Mundos"), verá o leitor que fizemos um breve estudo sobre o estilo de Eça-encamado e Eça-Espírito, transcrevendo-lhe trechos da sua obra terrena, demonstrando que o grande escritor português retomou autocrítico, mas com a mesma personalidade literária, com base nas duas dúzias de mensagens transmitidas ao médium português Fernando Augusto de Lacerda (Loures, 6 de agosto de 1865 — Rio de Janeiro, 7 de agosto de 1918), na primeira década deste século, a partir de 31 de dezembro de 1906, e por Francisco Cândido Xavier, duas belíssimas comunicações, a última datada de 6 de dezembro de 1934.
A primeira vista, poderá parecer um apanhado unilateral do assunto o que foi feito com o que pretendemos agora fazer, mas, na essência, devemos convir que o Espírito, à medida que verifica o quanto errou neste mundo, por não compreender o quanto lhe tornaram benéficas as humilhações que lhe foram infligidas, desde a primeira infância, há de se esforçar pelo crescimento espiritual, deixando de lado a preocupação de agradar in totum os críticos literários e os seus fiéis leitores e releitores, mas se preocupando, ao contrário, em mandar ao mundo a mensagem viva do quanto é difícil governar qualquer povo que precisa sofrer para se despojar de antigas mazelas, cultivadas, colectivamente, ao longo dos milénios.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 14, 2018 8:31 pm

Na verdade, ao que tudo indica, Eça não espera que venham a reconhecê-lo tal qual era, depois de tantos anos na erraticidade, já que o seu objectivo, agora, é ajudar a Humanidade, em nome do Cristo e de acordo com os ensinos de Allan Kardec, procurando recuperar o tempo aparentemente perdido, ventilando assunto ligado à Política, à qual deu atenção, mas de forma galhofeira, sem assumir com ela compromisso sério, quando envergava a libré carnal.
Mais adiante, veremos as diversas declarações dele — Eça —, com relação à temática sobre o nosso enfoque, mas, antes, vejamos algo sobre a sua biobibliografia e as mensagens transmitidas do além, às quais acima nos referimos.
No Volume II de Os Imortais da Literatura Universal (Editor Victor Civita, São Paulo, Abril, 1972, p. 102), há um passo muito importante sobre os primeiros anos de vida de nosso José Maria, descrevendo, de início, a sua saída da casa de ensino, onde estudava, ao lado de outros alunos, e dados importantes sobre o que lhe viria a moldar o carácter:
"Quando tocar o sino, haverá beijos e abraços nos corredores da escola, onde esperam, impacientes, os pais dos estudantes.
Só ele ficará sozinho. Inexplicavelmente, seus pais pouco ou nenhum interesse manifestam por sua existência.
Com apenas dez anos de idade, o menino não compreende ainda aquilo que, algum tempo mais tarde, lhe causará vergonha e humilhação frente aos colegas.
O pequeno era o produto de uma aventura entre Carolina
Augusta Pereira de Eça e o delegado de comarca José Maria de Almeida Teixeira de Queirós.
Ao constatar sua gravidez, a moça abandonou o lar paterno e refugiou-se num casarão da Praça do Almada, em Póvoa de Varzim, bastante próxima da cidade do Porto.
Ali, aos 25 de novembro de 1845, nasceu José Maria.
Quatro anos mais tarde, sem que fosse necessária a intervenção do delegado — pois, afinal, o próprio Queirós já exercia esta função —, os dois amantes resolveram casar-se, e foram morar no Porto.
Só então chamaram o filho para perto de si.
A criança, que passara esses anos sob a guarda dos padrinhos, era para eles um estranho.
Apesar de ter tido posteriormente outros filhos, o casal jamais colocou José Maria em pé de igualdade com os demais.
Ele seria sempre o filho ilegítimo, a lembrança de um passado ilícito.
Interno no Colégio da Lapa, no Porto, o menino cresceu quase como um órfão, passando suas férias alternadamente com os padrinhos ou com amigos da família.
Mais tarde, procuraria apaixonadamente a resposta aos misteriosos sentimentos e instintos em consequência dos quais viera ao mundo.
Essa procura se tornaria uma constante em toda a sua obra.
No mês de outubro de 1861, o jovem Eça de Queirós, bem vestido, empertigado, atravessava os portões de Coimbra.
Na velha e tradicional faculdade, assistia, perplexo, a longas e pedantes prelecções: lógica, retórica, moral, tudo era ensinado segundo antigos cânones escolásticos, tendo-se a impressão de que os mestres nada mais faziam senão tirar o pó dos compêndios seculares da biblioteca e recitá-los com fidelidade, ano após ano.
Havia no ar, entre os alunos, um sentimento de revolta contra o tradicionalismo da universidade.
Identificados com a renovação espiritual que vinha da França, os rapazes de Coimbra indignavam-se com o atraso e a indiferença intelectual de sua terra.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 14, 2018 8:31 pm

O radicalismo liberal de Voltaire (1694-1778) e Rousseau (1712-1778), o socialismo utópico de Saint-Simon (1760-1825) e de Proudhon (1809-1865), a dialéctica de Hegel (1770-1831), as teorias evolucionistas de Darwin (1808-1882), o positivismo de Auguste Comte (1798-1857) fervilhavam e confundiam-se na mente dos jovens estudantes, que procuravam neles uma saída moderna e 'racional' para seus próprios problemas e para as misérias de Portugal. (....)
Eça presenciou com interesse a polémica [entre Antero de Quental (1842-1892) e Ramalho Ortigão (1836-1915), com quem chegou a bater-se em duelo, depois de se polemizar com o velho Castilho (1800-1875)], também conhecida como Questão Coimbra.
Sua posição, contudo, não se definia; uma admiração espontânea empurrava-o na direcção dos 'modernos', mas suas leituras preferidas situavam-no no campo romântico: a poesia de Théophile Gautier (1811-1872) e de Gérard de Nerval (1808-1855), e, sobretudo, os romances de Victor Hugo (1802-1885).
Sua timidez e um certo sentimento de inferioridade compeliam-no mais a ouvir que a pronunciar-se."
De valor para os nossos estudos, sem dúvida, o que se encontra a certa altura da nota "Eça de Queirós", com que Massaud Moisés enriquece o seu livro A Literatura Portuguesa através dos textos (São Paulo, Editora Cultrix, MCMLXXI, pp. 322-323):
"Formado, segue para Lisboa, a fim de advogar, e de lá para Évora (1867).
Em 1868, de regresso à Capital, integra o grupo do 'Cenáculo', e no ano seguinte viaja para o Cairo a fim de assistir à inauguração do Canal de Suez, e fazer-lhe a reportagem mais tarde enfeixada no Egipto (1926).
De regresso, participa das Conferências do Cassino Lisbonense, e depois de passar algum tempo em Leiria como administrador do Concelho (de que lhe vem a ideia do Crime do Padre Amaro, publicado em 1875), abraça a carreira diplomática, indo servir em Havana (1873), de que se transfere para Bristol (Inglaterra), e de lá, em 1878, para Paris, onde se casa e encontra tranquilidade para dedicar-se à sua obra literária, e onde falece [na tarde de 16 de agosto] em 1900. Escreveu: romance (Mistério da Estrada de Sintra, em colaboração com Ramalho Ortigão), 1871; O Crime do Padre Amaro, 1875; O Primo Basílio, ISIS; O Mandarim, 1879; A Relíquia, 1887; Os Maias, 1888; A Ilustre Casa de Ramires, 1900; A Correspondência de Fradique Mendes, 1900; A Cidade e as Serras, 1901; A Capital, 1925; Alves & Cia., 1925; conto {Contos, 1902) jornalismo, literatura de viagens e hagiografías {Uma Campanha Alegre, 2 vols., 1890-1891); Cartas de Inglaterra, 1903; Prosas Bárbaras, 1905; Cartas Familiares e Bilhetes de Paris, 1907; Notas Contemporâneas, 1909; O Egipto, 1926; Últimas Páginas, 1912), etc."
Das páginas D-10 a D-12 que O Estado de S. Paulo, de 12 de abril de 1997 (Cultura — N° 866 — Ano 17) dedicou ao lançamento dos dois primeiros volumes da nova edição da Obra Completa de Eça de Queirós — Ficção Completa —, organizados e anotados pela professora Beatriz Berrini para a Editora Nova Aguilar, num dos quais aparecem A Tragédia da Rua das Flores e os textos póstumos fragmentários, vale a pena deter-nos em alguns pontos.
De "Ficção de Eça sai em edição bem cuidada", de Vilma Areas, professora de Literatura Brasileira na Unicamp:
"Um capítulo importante e reconhecido da actuação de Eça diz respeito à transfiguração da língua portuguesa, que começou a ser arejada e amaciada pelo esforço de Garrett, contra o que era arcaico e arrastado ainda na prosa romântica.
Mas nas mãos de nosso autor a língua transformou-se num instrumento dúctil, plástico, subtil, capaz de dar conta do mundo e da arte moderna."
Da entrevista ("Ficcionista continua actual, diz especialista") que Carlos Haag fez com a professora Beatriz Berrini:
"Estado — O Eça anti burguês e que criticava a família, ao final, transformou-se no Eça mais humanitário de A Cidade e as Serras. O que aconteceu?
Berrini — Ele estabeleceu-se, criou família e ficou mais calmo, mais conformado, atenuando a sua crítica da humanidade.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 14, 2018 8:31 pm

Eça passou a aceitar que os homens são fracos e ponto final, perdendo o ideal de lutar com as palavras por um mundo melhor. Não desistiu de todo, continuando a usar seu verbo para defender ideias, embora não acreditasse que, com elas, iria reformar o mundo.
Ainda assim, ele permaneceu fiel a esses ideais até o fim de sua vida. Algumas leituras superficiais insistem em dizer que não, mas o estilo crítico o acompanhou sempre.
Certo, não pensava mais em mudar a sociedade, estava mais céptico e mais jovial.
Porém é o mesmo nas entrelinhas, cheias de descrições duras.
Estado — Qual é o grande atractivo do leitor?
Berrini — É a sua actualidade constante.
Ele descrevia os vícios eternos, que atravessaram o seu tempo e permanecem entre nós: corrupção política, as traições conjugais, as misérias humanas.
Mas o fazia de forma extremamente sedutora. Outra qualidade é o seu estilo. As frases de Eça são inesquecíveis e sua escrita é simples, directa, quase coloquial.
Mas só na aparência, porque há muito trabalho de revisão cuidadosa do texto."
Digno de consulta, a nosso ver, o artigo "Helvécio Ratton leva Eça para as telas", de Luiz Zanin Oricchio, e as palavras do próprio cineasta que ficou conhecido como director de dois filmes destinados a crianças — A Dança dos Bonecos (1986) e Menino Maluquinho (1995) — em "Bom filme é forma de homenagear escritor".
* * *
A fim de reflectirmos sobre o motivo por que Eça, desencarnado há quase um século, somente agora veio a se preocupar com um tema recente da História de nosso País, a par da clareza do estilo, vejamos alguns trechos de Álvaro Lins relacionados com a política e os políticos, o anseio de perfeição quanto ao jogo de combinação das palavras, na obra terrena de nosso Autor, extraídos de História Literária de Eça de Queiroz (Edições de Ouro, Rio de Janeiro, RJ, Tecnoprint Gráfica Editora, MCMLXV, conforme a quarta edição de "O CRUZEIRO"), referindo-se o ilustre membro da Academia Brasileira de Letras, às págs. 78 e 179, metaforicamente, ao Espiritismo e a um "espírito desencarnado":
1 —[b] Pp. 23-24/b] — "Quando esta geração [de 1865] apareceu em Coimbra, a decadência de Portugal tinha se tomado um acontecimento irremediável.
Não era mais uma decadência só pressentida pelos filósofos, pelos historiadores, pelos críticos.
Era uma cena espectacular entrando pelos olhos mais distraídos ou mais sonhadores.
A decepção para os jovens de 1865 deve ter sido tremenda.
Porque não há nada de mais triste do que a decadência: é mais triste do que a morte.
E como um morrer, com metade de vida; uma sensação de enterrado vivo.
Nem fica a certeza — que é uma forma de viver pela saudade — da missão que foi cumprida.
A decadência corrompe e devora até mesmo a lembrança de um passado gordo e glorioso.
Diante da decadência, nenhuma atitude de meio-termo seria possível, tomava-se preciso escolher entre a conformidade que era a morte, e a luta, que era a vida.
É uma circunstância que explica este paradoxo de cépticos, à maneira de Eça, que se dedicam todos ao combate afirmativo e quase heróico.
Mas era um combate de reacção mesmo quando parecia mais destruidor; uma luta contra o artificial pela volta ao que era natural; uma campanha contra 'o actual' pela vontade de retomar as linhas da verdadeira tradição portuguesa.
Repudiavam o que estava mais perto, e que soava falso, para atingir o que estava mais longe, e que lhes parecia autêntico."
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 14, 2018 8:31 pm

2 — P. 30 — "Diante de Antero [que se matou com um tiro, aos pés de uma inscrição onde se lia a palavra "esperança", a posição de Eça não foi bem a de um discípulo, mas a de um admirador estático.
Em Coimbra, ele mesmo confessa, não tomou parte nas agitações ideológicas e pessoais dos seus companheiros.
Enquanto os outros faziam discursos em favor da liberdade da Polónia,
Eça dava-lhes a sua contribuição representando — ora de virgem traída e vestida de branco, ora de traidor, soltando gargalhadas cínicas — em espectáculos de benefício no Teatro Académico."

3 — P. 35 — "Chegando a Lisboa, de volta de Coimbra, vinha já tomado e devorado das suas ambições. Mas todas muito imprecisas e, à maneira das de Carlos Eduardo as suas 'flutuavam, intensas e vagas'.
Escreve folhetins.
Redige um jornal político de província. Viaja pelo Oriente.
Debate-se em procura do seu caminho verdadeiro."

4 — R 36 — "Eça sentiu, muitas vezes, poeticamente, mas não encontrou nunca a expressão poética.
A seu favor seria um argumento dizer que o absoluto poético está no silêncio.
Mas também o absoluto poético no silêncio é um privilégio exclusivo dos místicos e Eça é o tipo mais comum do antimístico."

5 — Pp. 39-40 — "Mais tarde haveria de se espantar do abuso das imagens, dos adjectivos que se acumulavam, em desordem, na frente e nas costas dos substantivos, e de períodos como este:
'A lua que ao nascer é material e metálica como uma moeda d' oiro nova, depois, na suavidade do azul, é tão pura, tão casta, tão imaculada, tão consoladora, como uma chaga de Cristo por onde se lhe visse a alma.' [Prosas Bárbaras, pág. 27).
Haveria também de achar estranho que tivesse transmitido um conceito de arte que seria o oposto da sua:
'Na arte só têm importância os que criam almas, e não os que reproduzem costumes.
A arte é a história da alma.
Queremos ver o homem — não o homem dominado pela sociedade, entorpecido pelos costumes, deformado pelas instituições, transformado pela cidade, mas o homem livre, colocado na livre natureza.' [Prosas Bárbaras, pág. 159].

6 — Pág. 41 — "O que resulta, a princípio, desta viagem [partindo de Lisboa com destino ao Oriente, ao lado do conde de Rezende] é bem pouco: uns cadernos de notas, esquecidos, só encontrados 57 anos depois, e que formam o Egipto.
Mas com estas notas já aparece a sua capacidade de descobrir os aspectos reais do mundo através das suas aparências.
Diante do Egipto, Eça não quer ver as construções modernas, as postiças instituições europeias, o pequeno círculo internacional da capital. Atravessa esta camada para encontrar o fellâh e a miserável organização social do país."

7 — Pp. 42-43 — "O Oriente agiu sobre Eça despojando-o do que havia nele de contrário às suas próprias tendências.
Os mundos antigos, os mundos aparentemente mortos, contêm esta força inexplicável de colocar o homem diante de si mesmo.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 14, 2018 8:32 pm

Há de ter sido poderosa a repercussão, em Eça, desse espírito das cidades antigas que pousa suavemente sobre nós, cheio de um sentido que nem sequer explicamos e todo feito de mistérios. Um sentido que aniquila o tempo e nos dá a possibilidade de viver outras vidas, muitas vidas, em outras épocas, em séculos distantes e esquecidos.
A emoção de andar devagar, indiferente ao tempo; de olhar as mas e as casas que não mudam e que não mudarão nunca; de entrar numa velha igreja, fugindo de tudo o mais; tudo isso que só será possível nas cidades antigas deixa marcas definitivas.
Deixou-as em Eça de Queiroz."

8 — Pp. 57-58 — "Os menos prudentes chegaram mesmo a falar em plágio e de um modo insensato. Isolaram-se frases dos primeiros folhetins, do Mandarim, da Relíquia, para compará-las com outras de Gérard de Nerval, de Renan, de Flaubert. Quase sempre frases comuns que se tomaram propriedade deste vago sábio que se chama todo-o-mundo.
Procurou-se identificar o Primo Basílio como um pastiche de Madame Bovary.
E ninguém quis anotar que, apesar de todas as aproximações, Eça sempre permaneceu o próprio Eça. Mas o autor, ele mesmo, foi quem mais contribuiu para essa incompreensão julgando-se, em mais de uma ocasião e com um exagerado rigor, uma expressão da influência estrangeira.
Nem reparou muito em si próprio — para constatar que se não estivesse colocado por cima das excitações vindas de fora, teria desaparecido como uma unidade popular, sem nome e sem significação."

9 — Pág. 59 — "Na sua página autobiográfica, o Francesismo, Eça conta que foi num ambiente francês que viveu desde menino.
As histórias que ouviu nas pernas do velho escudeiro preto foram as de Carlos Magno e dos Doze Pares.
Na escola inicia-se na leitura por intermédio de um livro francês e, em Coimbra, os compêndios vinham dessa mesma fonte.
Nos costumes, na vida política, no teatro, na literatura — a França, sempre a França diante dele.
Explica assim, salvando-se da responsabilidade, o que há de estrangeiro na sua obra.
E, por isto, esta página de autobiografia causa pena: é a primeira vez que Eça condescende com o gosto vulgar dos seus leitores mais destituídos de interesse."

10 — Pp. 65-66 — "De Proudhon Eça aproveitou sobretudo ideias políticas, sociais-económicas — as que se deduzem indirectamente dos seus romances, as que estão explícitas nos ensaios e artigos de jornal.
A campanha, por exemplo, que empreendeu contra a decadência da instituição da família, tão ardente no Primo Basílio e nas Farpas, encontrou muitas das suas bases no autor de "La pomocratie ou les Femmes dans les temps modernes"— no Proudhon, de quem diz Bouglé, que 'si cet esprit anti-religieux conserve une religión, c'est bien celle du foyer.' [C. Bouglé, La sociologie de Proudhon, pág. 225].
Mas Eça difere de Proudhon justamente porque não é um espírito anti-religioso.
Poucos escritores terão, à sua maneira, perseguido, com mais constância e mais paixão, os assuntos religiosos.
Desde a Morte de Jesus até os manuscritos dos santos nas Últimas Páginas — toda obra de Eça parece desenvolver-se por entre três tendências que quase se tomam monótonas na sua insistência: a religião, o oriente, o realismo literário.
E na interpretação dos fenómenos religiosos o seu guia é Renan.
Foi com Renan que ele apreendeu da religião, mutilando-a, o seu exclusivo lado sentimental.
Sentimentalismo religioso que explica a sua grande fascinação pelo cristianismo e também a sua incompreensão diante da realidade da doutrina do Cristo.
conto Suave Milagre é, por isso, uma página que Renan assinaria com alvoroço, como se fosse uma das suas manifestações mais queridas.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 14, 2018 8:32 pm

11 — Pp. 81-83 — "Para Eça, o realismo fora um elemento salvador, como para todos os portugueses e brasileiros.
Somos, por invencível fatalidade étnica, sentimentais, efusivos, transbordantes; o romantismo será sempre, no nosso caso, um excesso de temperamento.
Instintivamente românticos, com a excitação dessa escola, atingimos, positivamente, o grotesco.
O realismo representou, para nós, o restabelecimento do equilíbrio interior.
No entanto, para Eça de Queiroz a escola não significa uma prisão; não foi um círculo de peru mas um ponto de partida, uma excitação para a sua personalidade artística.
Não se constituiu um fanático das suas ideias, porque sempre esteve distante de todos os fanatismos: o religioso, o político, o literário. (....)
Eça assiste e sente a nova corrente, mas não quer reagir contra ela.
Confessa, ainda rindo, a mina do positivismo, do naturalismo, do cepticismo, e conclui falando dos jovens:
'Em suma, esta geração nova sente a necessidade do divino.' [Notas Contemporâneas, pág. 268]."

12— P. 93 — "Serviu também o Crime do Padre Amaro para definir o género de romance que Eça vai executar: o romance de costumes.
O romance que será, ao mesmo tempo, uma obra literária e um
documento humano e social da sua pátria e da sua época.
Porque não é propriamente o enredo (o antigo e precioso elemento 'romanesco') o que o apaixona na novela.
Através do enredo, qualquer romance de Eça facilmente se concentraria num pequeno conto.
(Não será sem significação o facto da Cidade e as Serras ter servido para um conto e um romance).
O que ele visa é o estudo do social e do humano em função do meio — o que fez da sua obra uma espécie de história do seu tempo e tão legítima quanto a dos livros de Oliveira Martins."

13 — P. 96 — "É que o pessimismo de Eça exercia-se, apenas, em face da sociedade — do estado social do momento.
Diante do animal humano, em si mesmo, o seu sentimento é todo benévolo e cheio de condescendência.
Eça está, com todo o seu século, impregnado do princípio rousseauneano da bondade natural do homem e da perversão da sociedade.
Veja-se o Crime do Padre Amaro ou qualquer outro dos seus livros, principalmente a Cidade e as Serras.
Mesmo os seus personagens que mais se degradam não são essencialmente maus.
O seu processo, em que há tanta influência de Taine, é sempre o de mostrar o que o ambiente vai fazendo da criatura humana — a educação incompleta, incerta e falhada; a degradação moral que se tomou norma e estímulo aos instintos mais baixos; a sociedade, na decadência que tudo aceita e tudo tolera."

14 — P. 101 — "Não sinto, de modo nenhum, no Crime do Padre Amaro, este carácter de tese e de doutrina de que anda sempre envolvido.
Pelo menos de urna tese contra a Igreja ou contra o próprio clero.
É verdade que, ao escrevê-lo, Eça estava animado por um vago socialismo irreligioso e anticlerical."

15 — Pp. 111-112 — "A culpa é da educação que os formou [os personagens Basílio, Luísa e Juliana] e da sociedade que os tolera.
(....) Os personagens é que estão determinados pelo temperamento, pela educação, pela sociedade."
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 14, 2018 8:32 pm

16 — Pp. 122-123 — "Os Maias traçam, em desenvolvimentos paralelos, a história de uma família e a crónica da Lisboa de 1880 — educada num romantismo retardatário e formada num constitucionalismo artificial.
No meio deste ambiente em decomposição, o velho Afonso da Maia, com a sua saúde do corpo e do espírito, com os seus nobres princípios, com a sua existência austera e grave, é como um símbolo do antigo Portugal; uma figura isolada, ampliando-se pelo contraste, dentro da sociedade romântica e doente que parece extinguir-se por si mesma, sem heroísmo nem grandeza.
Uma grande lição, aliás, a que Afonso da Maia transmite com a sua presença: uma lição de amor e aceitação viril da vida que é um dom de Deus."

17 — Pp. 124-125 — "Os Maias, dos romances de Eça, é aquele que dá a impressão mais nítida e mais exacta do seu humor.
É através dele que o 'artista vingador' reage contra a miséria social da burguesia e contra a miséria individual dos seus contemporâneos.
O 'sarcasmo ibérico' de Eça assume, nos Maias, proporções acima de todas as medidas e de todas as convenções.
Alegre e destraidor este livro?
É visível que não, pois até mesmo a sua comicidade é uma aparência, um revestimento da sua realidade.
(....) Extrai a comicidade dos aspectos exteriores: dos tics dos personagens, das suas frases, das situações inesperadas como esta:
' Villaça ressentiu amargamente esta desconsideração pelo artista nacional;
Esteves foi berrar no seu centro político que isto era um país perdido.
E Afonso lamentou também que se tivesse despedido o Esteves, exigiu mesmo que o encarregassem da construção das cocheiras.
O artista ia aceitar — quando foi nomeado governador civil.' [ Os Maias, pág. 9]."

18 — Pp. 187-188 — "A favor dele poder-se-ia argumentar que se trata de uma blague de diletante
Do diletante de quem Eça diz que foi 'o devoto de todas as Religiões, o partidário de todos os Partidos, o discípulo de todas as filosofias. [A Correspondência de Fradique Mendes, pág. 79].
Muito mais inteligente é o diletantismo de Eça:
o abstémio de todas as religiões, o ausente de todos os partidos, o céptico de todas as filosofias.
É que o diletantismo de Eça vem da razão, o de Fradique vem da confusão.
E é preciso não esquecer o detalhe esclarecedor da educação de Fradique que 'fora singularmente emaranhada'.' [A Correspondência de Fradique Mendes, pág. 15]."

19 — Pp. 191-192 — "Pela descaracterização de Portugal, Fradique responsabiliza o Constitucionalismo e o Parlamentarismo — o que fez António Sardinha anunciar, para o seu nome, um dístico que é muito mais um título de Eça de Queiroz: 'Mestre da contra-revolução'. [António Sardinha, Purgatório das Ideias, pág. 55].
E, por isso, por coerência com esta atitude, e por motivos os mais complexos e vários, até os higiénicos, ele detesta os políticos e lhes tem horror: horror intelectual, horror mundano, horror físico.
Este horror é que anima a sua magnífica exposição de certas situações cómicas ou dos costumes e figuras particulares de sua pátria: as cartas a Ramalho e a Madame Jouarre."
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 6 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Página 6 de 7 Anterior  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7  Seguinte

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos