LUZ ESPÍRITA
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Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

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Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 5 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 10, 2018 8:05 pm

Senti-me tolhido, incapaz e aniquilado!
O que me restava fazer?
Somente me recolher e foi o que fiz, procurando um pouco de paz para a reflexão!
— Então deve ter sido um período bom para o seu próprio Espírito?
— Não foi bem assim!
Pensei muito, reflecti bastante, não da forma como venho realizando agora, mas para ressurgir novamente, com toda a aclamação popular, para mostrar quem era Getúlio Vargas diante do povo, para mostrar quem seria Getúlio Vargas diante de uma nação e de todos os que o abandonaram!
— Era o orgulho ferido, era a vaidade tomando conta da sua pessoa!
Mas penso que não devemos nos antecipar, pois nada disso ainda nos foi mostrado, e precisamos nos ater apenas ao que já vimos!
— As lembranças estão dentro de mim, e é impossível sufocá-las neste momento!
— Lembre-se de que aqui a situação é outra!
Estamos em análises que lhe serão muito úteis, e não deixarei que o orgulho lhe tome novamente o coração, para não perder o que já foi realizado e concluído!
Esta actividade está lhe ajudando no resgate dos débitos, pelo reconhecimento das próprias culpas!
Conversaram e conversaram e, aos poucos, Irmão José fez com que Getúlio entendesse a verdadeira razão das análises que realizavam.
Não era apenas uma comparação de um plano realizado com o que fora executado.
Não era para medir a distância ou a aproximação entre um e outro que efectuavam aquele trabalho.
Ele tinha intenções muito mais profundas e, por isso, um orientador o acompanhava.
Se fosse apenas para que a distância fosse medida, não seria preciso nenhum acompanhamento.
Era necessária a sua presença, para, em momentos de profundo abatimento, reerguer-lhe o ânimo.
Caso verificasse o ressurgir de imperfeições que ainda demoravam no seu Espírito, comprazendo-se com o que fora realizado, o mentor também saberia transmitir-lhe um ensinamento, para mostrar-lhe que a realidade agora era outra.
Assim, após muito conversarem, Getúlio continuou:
— O senhor tem razão, perdoe-me!
Empolguei-me e vi-me novamente naquela situação, procurando, quem sabe, uma revanche.
— Entendemos perfeitamente o que se passou com você, e por isso aqui estamos, para impedir que outra vez se deixe levar por sentimentos inadequados.
— Muito lhe devo!
— A mim nada deve, pois faço o meu trabalho com muito amor, e oro a Deus que me inspire para desempenhar essa tarefa, ajudando-o sempre!
— Devo-lhe muito!
— Não se apegue a isso!
Agradeça sempre a Deus tudo o que Ele lhe proporciona, e, se aqui estamos juntos, neste trabalho, é porque Ele nos permitiu!
Mas devemos continuar!
Há ainda alguma coisa que pretende me dizer?
— Penso que, em linhas gerais, abordamos o necessário.
Sem dizer claramente, o senhor percebeu que eles estavam correctos nos seus receios, pois eu faria tudo para poder continuar!
— Nós até já falamos também sobre isso!
Agradeça a Deus, o ter se livrado de novos compromissos!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 10, 2018 8:06 pm

Assim, aos poucos, aquele período em que Getúlio deveria visualizar o que fizera, reflectir e redescobrir atitudes, caminhava, e, pelo desenrolar dos acontecimentos, logo chegariam a um final, aquele tão importante, e que ainda lhe faltava rever, tão cheio de acontecimentos, de mágoas, de angústias e até de desespero interior.
Novamente os dois se encontraram, na manhã seguinte, para a continuidade do trabalho.
Getúlio pôde ver-se exactamente como o dissera na véspera, no seu recanto, reflectindo, apesar do abatimento que o tomava, e deparou-se, também, com todos os factos que se seguiram à sua retirada do governo, e o seu novo envolvimento nas artimanhas políticas.
Viu o seu triunfo como candidato à assembleia Constituinte, e o pouco sentido que tal função lhe representara, não lhe trazendo nenhum sabor!...
No entanto, o que o deixou satisfeito foi o momento em que se viu como candidato à Presidência da República quando o prazo de Dutra expiraria.
Viu-se nos palanques, em campanha, viu-se fazendo aliança com o partido de Adhémar de Barros, viu o crescimento de sua candidatura, até a vitória, bem como a decepção e a revolta que tomou os udenistas, que tudo apostavam no seu candidato, o brigadeiro Eduardo Gomes.
Mais um período lhe fora mostrado!
Um período que se constituíra numa ponte entre o deixar e o retornar.
Um período que lhe servira para reflexões, como ele próprio admitira, mas a reflexão do arquitectar planos para um retorno.
Era o que estava no seu íntimo — o poder mostrar a todos, sobretudo aos seus adversários, aqueles a quem a sua presença incomodava na chefia da Nação — que podia voltar, e isso ele o admitia, junto do Irmão José.
— Estou feliz, não por agora, que tudo já passou, mas estava feliz naquele momento em que mostrei a todos o quanto o povo ainda me era grato, e quanto desejavam o meu retorno, apesar de muitos o abominarem.
Se era um pleito em que o povo escolhia, a maioria da Nação me escolheu!
O senhor pôde ver o quanto me senti feliz, apenas pelo retorno!
— Pude, realmente verificar, através da aclamação, o quanto ainda o veneravam, e, através do seu júbilo, o quanto estava feliz!
Mas a felicidade demonstrada era muito mais pela satisfação do orgulho, ferido há tempos atrás, que a alegria de poder servir à Nação!
Diga-me se era isso ou não!
— O senhor conhece-me o íntimo, que aqui nada se esconde, e, sem que lhe diga, já percebeu!
— No entanto, é importante para o seu Espírito que o revele!
— E me confesse, para atenuar um pouco das minhas falhas!
— Interprete como quiser!
Mas o que nós próprios reconhecemos como falhas em nós, você sabe que, por si só, já estarão diminuídas!
E um progresso, se compreendemos que precisamos encontrar em nosso íntimo um ponto de partida para ser trabalhado, e delas nos desfazermos.
— Pois bem!
Aquele momento foi muito importante para mim!
Eu não me sentia mais com disposição de enfrentar toda a carga de trabalho, e todas as suas implicações, como um novo chefe da Nação, mas precisava retomar, precisava mostrar que ainda era querido, sobretudo entre as massas trabalhadoras.
— Continue, amigo, não era só isso!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 10, 2018 8:06 pm

— Não, não era!
Tinha que mostrar aos udenistas, aqueles que sempre me atacaram, aqueles que sempre procuraram impedir que o meu governo transcorresse como eu desejava, que eu conseguiria novamente me sobrepor a eles que só acumulavam derrotas sobre si!
— Agora está bem!
Assim está melhor!
Reconhece em tudo isso a manifestação do orgulho e do egoísmo?
— Orgulho, sim, mas por que egoísmo também?
— Porque onde está o orgulho sempre está o egoísmo!
Se você quis mostrar tudo isso, era a manifestação do egoísmo que alimentava o seu desejo pelo exercício do poder!
— Mas o senhor viu que seria diferente!
As condições políticas do País já eram outras!
— Sim, os ideais democráticos tinham retornado e estavam se afirmando, após tantos anos de governo ditatorial que havia imposto ao País, mas eu lhe pergunto:
— O irmão estava preparado para governar naquelas condições?
— O senhor sabe que o meu desejo era voltar, fosse como fosse, e, para lhe dizer a verdade, eu não havia pensado nisso ainda!
Era sabido que não gostava de ter as acções controladas por nenhum Congresso, todavia, se as condições para o retomo eram aquelas, eu me submeteria!
Como ainda não haviam deixado a sala de Revisão, Irmão José consultou Getúlio sobre a possibilidade de continuarem a conversa em outro lugar, e assim dirigiram-se ao gabinete do orientador.
— Por favor, continue o que me dizia! — pediu-lhe Getúlio, depois que se acomodaram.
— Eu quero perguntar-lhe, não o que sentiu naquela oportunidade, quando pôde mostrar o que desejava aos seus adversários e à Nação toda, mas como está o seu íntimo agora, numa situação diferente, e como se sente, ao reconhecer tudo o que o moveu a retomar.
— O senhor tem perguntas, às vezes, que me desconcertam!
Fez-me sair daquela realidade na qual havia penetrado, e aqui retomar para enfrentar esta outra realidade!
— Mas é isso o que importa neste momento, o que viu hoje já passou, já foi realizado.
Cabe-lhe agora analisar os seus sentimentos atuais em relação aos sentimentos antigos!
— É muito difícil!
— Mas necessário!
— O senhor deseja que eu reconheça o meu erro, que não se coloca uma Nação em jogo, apenas para mostrar orgulho, que não se deve proceder como eu procedi?
— Não me cabe dizer nada, mas a você próprio analisar e concluir!
— Se digo que não deveria ter agido daquela forma, agora que reconheço outros valores, eu estarei dizendo a verdade!
Mas, se eu dissesse que naquela época eu não tinha desejado o retomo, eu estaria mentindo!
— A verdade é sempre a que deve prevalecer em qualquer situação, porque, partindo dela, estaremos sendo autênticos para com os outros e para connosco mesmos!
— Eu o reconheço, agora, que, aclamado como o fui, teria a oportunidade de realizar muito em favor daqueles que me elegeram.
Mas, diante do que ainda me falta ver, mesmo estimulado por tanta aclamação, talvez eu não lhes tenha devolvido atitudes que melhoraram as condições de vida da população, levando um pouco mais de progresso àquela Nação!
— O que importa, é o que analisou!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 10, 2018 8:06 pm

E o que virá, deixaremos para a próxima sessão de visualizações.
— O senhor considera que no período visto hoje, meus compromissos, diante da Justiça Divina, aumentaram ainda mais?
— Não serei eu quem deverá concluir, mas a sua própria consciência!
O que ela lhe diz?
— Já me senti muito mais responsável em outras oportunidades!
Talvez esse período em que eu estive afastado do governo, me tenha sido benéfico!
— Não se esqueceu de que, durante esse período, tinha também uma responsabilidade a cumprir, porque fora eleito para um cargo para o qual se candidatara! Esqueceu-se desta particularidade?
— Eu o reconheço, não fui um bom parlamentar!
Não gostava de participar do Congresso, não estava em mim!
Não gostava de compartilhar com tantos, de actos com os quais não concordava!
— Pois então!
Se assim reconhece, por que o quis?
— Sem falarmos do orgulho, havia uma outra finalidade!
— E qual foi?
— Queria verificar, no termómetro da aclamação popular, como estava o meu conceito perante eles, após ter perdido o cargo de Presidente!
Eu tive que sufocar o orgulho e esquecer humilhações, para novamente enfrentar o povo e meus adversários, na realização da campanha.
Queria mais uma vez impor o meu nome!
A receptividade foi muito grande e deixou-me feliz!
Quando Getúlio achou por terminada a conversa com o seu orientador, e satisfeito com os esclarecimentos e a condução de suas reflexões, retirou-se.
Ficando só, Irmão José voltou a pensar em todas as ocorrências do acompanhamento daquele irmão.
Ligou o seu aparelho, e visualizou muitos factos que Getúlio ainda desconhecia, mas que estava próximo dele tomar conhecimento.
Por aquelas imagens, pelos seus pensamentos, concluiu que, no momento em que aquele trabalho terminasse, deveria ter uma nova entrevista com irmão Fabrício, e receber as directrizes para a condução do que haveria de lhe ser mostrado.
Não sabia qual a reacção de Getúlio, e precisava estar preparado para ajudá-lo, dar-lhe explicações, dar-lhe apoio para o seu completo refazimento, após a conscientização de tudo.
Nesses pensamentos, desligou o aparelho e começou a imaginar a melhor forma de proporcionar essa ajuda, naquele período, ao companheiro sob a sua responsabilidade!
Getúlio, ao se retirar, fez uma caminhada pelo parque, como a realizava sempre, tomou conhecimento de que naquela noite haveria palestra no salão principal, e ficou atento para não perdê-la.
Eram-lhe muito salutares, estava aprendendo bastante e sentindo-se melhor!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 10, 2018 8:06 pm

OPORTUNIDADES
Quando novo dia se mostrou, no horário aprazado, lá estava Getúlio, na sala, junto do Irmão José, para dar continuidade ao que deveria ver.
As imagens confirmaram a falta de entusiasmo que ele próprio já reconhecera, e mostraram-no rodeado pelo Ministério que tivera que formar, satisfazendo acordos e compromissos com partidos políticos.
Viu, com o passar do tempo, a substituição de muitos de seus Ministros, e a chegada de antigos companheiros e amigos para a sua composição.
Viu ainda aquele jovem amigo que trouxera para ajudá-lo, no Ministério do Trabalho, assim como os recursos utilizados por ele, alertando as forças armadas e a UDN, até quando fora obrigado a demiti-lo, para que complicações maiores não adviessem ao seu governo.
Tudo desfilava à sua frente, e ele via que nada do que fazia ou mesmo do que não fazia, ficava sem comentários e ataques.
As suas atitudes estavam sendo muito bem observadas, para que nada passasse despercebido, principalmente aos olhos da UDN, que procurava ensejo de afastá-lo do governo.
Pôde ver ali, já no ano de 1954, o quanto o seu governo estava desgastado, atacado e caluniado.
Nenhuma iniciativa de maior importância era tomada! Para um governo que tanto prometera, muito pouco estava realizando.
Mais um período de actividades de Getúlio, à frente da chefia desta Nação, passou, para que ele tivesse não só as lembranças, mas que, aliadas às imagens, pudesse reviver mais intensamente, essa época que lhe fora de capital importância na sua vida de encamado.
Quantos anseios levara do Mundo Espiritual, e quase tudo havia feito de forma contrária, apesar de ter permanecido naquele posto por tantos anos!
Atravessou o melhor tempo de sua vitalidade física, lá, desde que fora empossado, em 1930, como Presidente Provisório.
O tempo passou, os anos decorreram, tantas oportunidades se lhe apresentaram...
Muito também realizou, pois que os seus propósitos permaneciam latentes no Espírito, mas desviou-se bastante.
Lutara sempre muito, mais para os seus propósitos imediatos de continuidade, que para os nobres, trazidos do Mundo Espiritual.
Todavia, para a felicidade do seu Espírito, em meio aos actos indevidos, pôde ajudar a Nação a crescer, a se organizar e a progredir.
Depois retornara, diante de uma segunda oportunidade, mais autêntica, pois a conquistara pela aclamação popular.
Se assim o conseguiu era porque o povo ainda tinha na lembrança o que lhe fizera de bem.
O povo, aparentemente, nunca sabe o que vai nas atitudes, no íntimo de seus governantes, e quase nunca consegue apreender-lhes as verdadeiras intenções, mas estimava-o, e por isso o levara de volta à Presidência.
Contudo, também ele soubera trabalhar o povo, que novamente se empolgou.
E o que fizera ele, em reconhecimento?
Já estava no cargo há alguns poucos anos, e verificou que muito pouco havia realizado.
Sentia-se apático, indiferente, diante da Nação dependente dele, de seus actos.
E, naquela oportunidade, tudo era diferente!
A democracia dava direito a muitos de criticar abertamente, e até de exacerbarem cada ocorrência, mostrando-as à Nação, de forma exagerada, com finalidades demolidoras.
Sim, os adversários, aqueles que se sentiram prejudicados em seus anseios de conseguirem o poder, estavam revoltados, observavam-no e ameaçavam-no.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 10, 2018 8:06 pm

— Como se sente, irmão?
— Parece que já estou tão cansado como me sentia naquela época!
— Por que esse abatimento hoje?
Tem sabido superar bem o que tem visto!
— Não sei, mas uma sensação estranha está dentro de mim, parece que um receio muito grande está me tomando!
— E qual a razão?
— Talvez uma premonição do que ainda há-de vir! Sinto que algo terrível me está reservado, e tenho medo!
— Nada deve temer!
Seja o que for, já foi praticado, não é mesmo?
Não pensemos no que há-de vir, e sim, no que vimos hoje!
— Pretendo, se possível, me retirar daqui!
— Sim, poderemos sair!
— Quero ficar só, com os meus pensamentos!
— Mas não é o melhor caminho!
Quando temos preocupações e ficamos sós, elas crescem muito e tomam conta de nós, perturbando-nos mais ainda!
Conversemos, coloque tudo o que achar que deve, e sentir-se-á melhor!
— Eu sei disso!
O senhor tem sempre uma palavra que me conforta!
— Pois então, fale!
Quem sabe o nosso Pai me inspire alguma palavra para amenizar-lhe o sofrimento!
Onde vamos, onde acha que se sentirá melhor?
— Vamos caminhando, pode ser assim?
— Como desejar, mas fale!
— Estou preocupado, pois que pude ver como me sentia naquele período!
Talvez eu nunca devesse ter querido voltar!
Eu o fiz com uma única intenção, que já lhe expus, mas não estava disposto a enfrentar as implicações todas que o cargo requeria.
Reconheci-me, naquelas circunstâncias, muito vulnerável, e sinto que acontecimentos muito piores ainda virão!
Não tenho todas as lembranças, que elas vão até certo ponto e depois não consigo continuar!...
Parece que uma barreira muito forte se interpõe entre mim e os acontecimentos seguintes.
— Falemos apenas do que vimos hoje!
Não há nada que valha a pena ser comentado?
— Sim, nós sempre temos muito a comentar!
Quando comecei a minha gestão, estava esperançoso, mais animado, porém, com o passar do tempo, vendo-me tão cerceado, vendo-me ter que governar de forma tão diferente da que sempre estivera acostumado, e talvez pela própria idade mais avançada, fui me desencorajando, não obstante ainda me interessasse em tomar alguma medida em favor do meu País!
— Continue!
— Nem sei o que devo dizer!
— Lembra-se do episódio do seu Ministro do Trabalho?
— Trouxe-o para me ajudar junto das massas trabalhadoras, e ele estava desempenhando as funções exactamente como eu necessitava!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 10, 2018 8:07 pm

Precisava continuar a contar com o apoio do povo!
A máquina administrativa tomou um rumo, cujo funcionamento, em relação à inflação que crescia, deteriorava os salários, o único meio de que os trabalhadores dispõem para proporcionar-lhes, pelo menos, um mínimo necessário à sua subsistência, e isso estava ficando difícil.
— Mas teve que demiti-lo, não é mesmo?
— Eu reconheço que seus actos não eram adequados, mas era o de que precisava, e estava já chamando a atenção de todos os olhos que me observavam, e fui obrigado a ceder!
— O irmão nunca pensou em poder se adaptar a essa nova forma de governo?
— Havia muitas interferências!
Era-me difícil governar!
— A palavra final, todavia, era sempre sua!
— Um tanto difícil de concordar com isso!
Mas as responsabilidades eram minhas, sempre foram minhas, embora muitos interferissem, e outros, às vezes, agissem à minha revelia, mas eu era o responsável!
Estou feliz amigo, pelo que tenho em mente e em meu Espírito, pela idade com que contava, estamos para terminar essa actividade!
Como terminará, não sei, como já lhe disse, mas sei que está para terminar!
— Não se preocupe!
Quando descortinar toda a verdade, não terá importância, porque o senhor já está aqui, e recebendo o amparo de que necessita!
— Mas o meu íntimo?
— Esse também se modificará!
Muitas oportunidades ainda se lhe achegarão, pela Misericórdia Divina, e você resgatará todos os débitos, como nós, mais dia, menos dia, resgataremos os nossos!
Deus não tem pressa e faz-nos pagar suavemente, o que, às vezes, praticamos de forma intempestiva!
O irmão ainda trará justificativas para muitos dos seus actos, embora não o eximam de suas responsabilidades!
Muito ainda se abrirá à sua frente!
Confie em Deus que Ele o ajudará, como o fez sempre e o está fazendo agora!
O abatimento de Getúlio, ao término do que vira, era mais em razão do que pressentia.
Um período bastante difícil, pelo qual passara na Terra, estava próximo de ser visualizado, e ele temia ter que novamente revivê-lo.
O ato final ainda lhe era vedado vislumbrar!
Ser-lhe-ia ali apresentado, sem que nada o prevenisse.
Seria o momento crucial das suas angústias, mas teria que enfrentá-lo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 10, 2018 8:07 pm

O ACTO FINAL
Aquele dia se encerrou, cheio de maus presságios para o seu Espírito, e uma nova manhã chegou.
Quando compareceu para o trabalho, desabafou com Irmão José, os seus receios:
— Parece que não descansei nem um pouco!
Minha mente trabalhou muito durante todo o tempo, desde que o deixei ontem, e o meu coração está confrangido!
— Já lhe recomendei mais de uma vez, que não tenha receios antecipados!
Deve analisar-se como se sentia antes de ter iniciado este trabalho!
— Aquele tempo era outro, não poderia compará-lo!
Tinha lembranças, mas eram diferentes!
Hoje vim, como se caminhasse para uma câmara de torturas!
— Não é essa a nossa intenção!
A finalidade maior é o seu refazimento total, mas para que ele seja possível, terá que tomar conhecimento do que se passou, para saber trabalhar em si mesmo os pontos negativos, e fazê-los transformar em virtudes para a aquisição do seu Espírito!
— Eu compreendo, e deveria ser grato pelo que me tem dispensado!
O senhor deve saber o quanto é difícil reviver as próprias culpas, e, muito mais, reviver aquelas que nos são imputadas, sem que sejamos culpados!
— É a carga que devemos carregar dos próprios débitos!
Não nos são imputadas culpas, se não as merecemos!
Se não somos devedores delas no momento em que as temos de suportar, certamente somos devedores daqueles que no-las imputaram em outras vidas!
Sabe que convivemos sempre com aqueles que o Pai permite, para ressarcir débitos antigos!
— O senhor está trazendo novidades ao meu Espírito, que ainda não posso alcançar!
— Tem razão!
Talvez eu tenha me antecipado!
Deixemos, então, de considerações, e vamos ao nosso trabalho de hoje!
— Se pudesse, fugiria desta sala!
— Terá de enfrentá-los para o seu próprio bem!
Um dia ainda conversaremos sobre tudo isso, e você irá agradecer a Deus, reconhecendo o bem que lhe fez!
— Queira Deus, isso aconteça!
Colocado o ponto final na conversa, as imagens começaram exactamente do ponto em que haviam sido interrompidas na véspera!
Ah, quanto sofrimento foi sendo acrescentado ao nosso irmão!
Sentia, pelo que visualizava, que um cerco muito grande e forte estava se fechando em torno dele, e o encurralando cada vez mais dentro de seus próprios sofrimentos.
Verificou a pressão dos udenistas para que ele abandonasse o governo, e todos os recursos dos quais se utilizaram.
A preparação para as eleições e a exploração do momento político, em torno de sua pessoa, quando foi o motivo principal de críticas e ataques, alguns até caluniadores.
Mas o que lhe causou um grande desconforto, foi quando visualizou aquela figura, o centro de onde partiam quase todas as acusações que lhe eram feitas.
Aquela figura cruel e obstinada que fazia de seus actos e de sua pessoa o motivo principal de sua vida de jornalista.
Sim, falamos do director da "Tribuna da Imprensa", o senhor Carlos Lacerda!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 10, 2018 8:07 pm

Quando ele foi mostrado, Getúlio torcia as mãos e ficou aterrado.
— Acalme-se! — pediu-lhe Irmão José, que naquele dia, observava mais Getúlio, que propriamente o discorrer dos fatos.
Todos já eram do seu conhecimento, e ali estava para ampará-lo.
— Não posso impedir de sentir o que estou sentindo!
— Procure ficar menos tenso, não fique assim, que será pior!
Aqui não deve haver lugar para ressentimentos!
É por isso que estamos trabalhando.
— Não são ressentimentos nem ódio, mas senti-me apavorado por tudo o que ainda virá!
As imagens continuaram, e ele, mais calmo, pôde ver o que aquele irmão lhe preparava.
Um facto muito comprometedor da sua dignidade foi mostrado, quanto aos recursos utilizados na instalação do jornal "Ultima Hora".
Verificou os receios que surgiram em relação à vida do jornalista e todas as providências para preservá-la.
Viu exactamente o que aconteceu, de um episódio do qual apenas tinha notícia e sofrera as consequências — o atentado ao jornalista, com a morte do jovem major que lhe dava protecção.
Irmão José, atento, verificou que Getúlio, naquele momento, prestava muita atenção para descobrir detalhes de como os factos haviam ocorrido, porque, a partir de então, tudo em sua vida mudara.
O cerco se fechara mais!
Viu a ferocidade com que o jornalista se lançou sobre ele, e o empenho da Aeronáutica em descobrir os causadores do crime, os elementos de sua guarda pessoal!
Embora tudo tivesse sido praticado à sua revelia, ele era o acusado!
Quando soube e, naquele instante comprovou, que o responsável maior fora aquele que lhe dava protecção, aquele que não via hora, nem dia nem noite para proteger-lhe a vida, sofreu muito naquela oportunidade e sofria agora.
A pessoa que não tem a formação e a inteligência adequada para medir as consequências de uma acção, e vê apenas o instante imediato, realiza-a, movido pela intenção de salvaguardar a tranquilidade de seu protegido, sem, contudo, ter o necessário discernimento para verificar o alcance da
sua atitude. Pratica-a dentro da sua capacidade — com boas intenções —, se é que assim se pode dizer, sem pensar que lidam com outro ser humano que também tem direito à vida.
É a falta da crença num Deus, que tudo vê, tudo sabe e tudo permite, através do livre-arbítrio, mas não nos exime da responsabilidade das nossas acções.
As imagens foram continuando, e ele foi verificando que cada vez mais o seu horizonte se fechava, caminhando para a sua deposição.
Viu a insistência para que ele renunciasse, viu a proposta do seu vice, Café Filho, e também quando o documento dos oficiais das Forças Armadas, pedindo a sua retirada do governo, lhe chegava às mãos.
Viu quando, no dia 23 de agosto, o seu Ministro da Guerra o procurou para lhe dar ciência do que ocorria nos meios militares.
Pôde ver como estava apreensivo e abatido, e viu a reunião ministerial que ele próprio determinara.
Ah, aquela reunião tão importante em sua vida e tão inútil ao mesmo tempo! Viu a participação de sua querida filha.
Viu a apresentação daquele recurso fatídico, com o qual concordara — o do seu licenciamento, para retomo posterior!
Viu também quando a notícia foi levada à reunião dos militares, obtendo como resposta que sua licença seria definitiva.
Nesse momento, Getúlio, um tanto confuso e desarvorado, pediu a Irmão José que interrompesse as imagens.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 10, 2018 8:07 pm

Sentia-se esgotado e não queria ver mais nada.
— Não devemos, irmão!
Mais um pouco e terminaremos.
O que está acontecendo?
— Não sei, daqui para a frente não sei mais nada, mas tenho um receio muito grande!
Sinto que algo tenebroso me aguarda!
— E o que será tenebroso para você?
— Não sei, não sei, não sei!...
Ele estava se desesperando, e o orientador, falando-lhe ternamente, incitou-o a que terminassem, e logo se retirariam.
— Tenha calma! Lembre-se de que é apenas uma visão, de que o irmão está aqui no Mundo Espiritual, recebendo o amparo e o auxílio para o seu Espírito e não se preocupe com o que poderá ver!
Não tenha receio de nada!
Como lhe disse, seja o que for, já aconteceu!
— Por que não consigo saber de nada mais?
Se não me lembro, é porque algum fato terrível está me aguardando!
Sinto-me como que à beira de abismo muito profundo, e, se caminhar mais um passo, me arremessarei nele, entende-me, irmão?
— Compreendo sim!
Nada deve recear, mesmo que seja um abismo! Podemos continuar, então?
— Se não há outro meio, continuemos, mas me ajude que tenho muito medo!
— Estou aqui para isso!
As imagens continuaram a desfilar, e ele viu-se em seus aposentos, tendo terríveis pensamentos após a notícia do seu afastamento definitivo, levada pelo irmão.
Viu-se sentado a uma pequena mesa, escrevendo alguma coisa; viu-se caminhando à procura de uma arma, e viu-se ali, com ela na mão.
Viu-se sentado em sua cama, colocando a arma em direcção ao peito e, num esforço muito grande, disparando-a nele mesmo, viu-se tombar...
— Era isso que devia ver?
Foi o que pratiquei?
Foi isso que cometi?
— O irmão viu tudo em detalhes, não viu?
— Sim, mas eu preciso que me esclareça!
O abismo no qual eu próprio me devia arremessar era esse?
— Acho que agora devemos sair daqui!
Tudo está terminado!
Você, de facto, tinha pressa que esta parte se completasse, e nada mais importa que veja!
Lá apenas ficou o seu corpo.
O Espírito aqui está e continua vivendo!
Muito ainda conversaremos, você entenderá, e não sofrerá tanto quanto sofre agora!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 11, 2018 8:22 pm

LEGADO DE MORTE
O desespero interior tomava conta do nosso irmão, e, deixando-se levar, acompanhava o orientador e amigo, sem se interessar pela direcção que tomavam.
Irmão José sabia que, naquele momento, o melhor lugar seria a Natureza aberta!
Muito mais adequado que um compartimento fechado, onde poderia se sentir oprimido!
Assim caminhando, chegaram ao parque.
— Respire fundo, amigo!
Procure ver a beleza deste céu tão azul, as árvores tão belas, esta sombra agradável com um ar tão puro!
Respire fundo diversas vezes, e isto lhe fará muito bem!
Getúlio obedeceu, mas demonstrava bastante nervosismo.
Irmão José convidou-o a sentar-se num banco, recomendando-lhe:
— Você precisa acalmar-se, que o seu sofrimento será menor!
Não entendo porque ficou tão agitado!
— Foi a surpresa do acto!
Toda a carga de ressentimento que experimentava, naquela oportunidade, retomou toda!
— Muito maior foi a decepção, a frustração por nada mais poder fazer!
E, para que não saísse pela porta da frente, por seus próprios pés, procurou para si aquele final, como se ele representasse uma represália que fazia aos outros!
— O senhor tem razão, e me entendeu perfeitamente!
Era como se com aquele acto, eu me vingasse de todos os que me forçavam de lá sair!
Eu não me sentia culpado do que me imputavam!
Aquele infeliz que queria me proteger, e promoveu aquele crime, não teve o meu assentimento!
Jamais concordaria com uma acção que voltasse contra mim mesmo!
— Estou entendendo!
— Eu não tinha outra saída!
— Teria tido, sim, uma saída muito honrosa!
— Como saída honrosa, naquelas circunstâncias?
Seriam capazes até de me atirarem pedras, quando surgisse à porta!
— A saída honrosa teria sido para o seu Espírito!
Naquela oportunidade, ser-lhe-ia a maior das humilhações, mas, para o seu Espírito, teria sido glorioso!
Deixaria de ter assumido compromissos tão sérios como assumiu!
Mas isso tudo é passado!
— Eu não via nada disso!
Apenas o meu orgulho ferido, e o fiz como uma espécie de vingança aos que me forçavam àquela situação!
Eu nunca cederia à vontade deles!
Já tinha tudo em mente!
Bastava uma vez em que fora obrigado a sofrer aquela humilhação!
Quando eu quis voltar, foi justamente para lhes mostrar que o povo ainda me queria!
Mas o povo é muito facilmente conduzido!
Sabia de tudo o que se passava, e aqueles mesmos que sempre me aclamaram, mantinham-se mudos a tudo o que me atribuíam, e, talvez, até esperassem que eu fizesse o que tantos desejavam e forçavam!
— Sempre o orgulho, o maior mal que ainda grassa no coração do ser humano!
O orgulho, às vezes, é até certo ponto aceitável se aplicado a grandes descobertas, a grandes empreendimentos no bem, mas o orgulho ferido, com propósitos demolidores, esse, sim, é o mal maior que ainda vive nos corações!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 11, 2018 8:22 pm

— Tem razão, e movidos por ele, praticamos actos que, às vezes, não teríamos coragem de enfrentá-los de outra forma.
O irmão sabe, quando nada mais via que pudesse atenuar o sentimento tão forte de decepção, de dor, de mágoa e, ao mesmo tempo de revolta que sentia em mim, ainda enderecei-lhes aquele pequeno bilhete, que ficou marcado na Terra, como a minha vingança!
Agora recordo-me de tudo!
— Sei, era aquele que falava do seu legado aos seus inimigos!
— Ainda me lembro dele, neste momento, palavra por palavra:
"À sanha dos meus inimigos, deixo o legado de minha morte.
Levo o pesar de não ter podido fazer pelos humildes tudo aquilo que eu desejava."
— Sim, eu deixei o Catete, deixei o governo, mas deixei para eles o meu legado macabro!
Deixei-os livres de minha presença física, mas teriam em seu coração o peso do legado de minha morte!
— Você acha que tendo lhes deixado esse legado, diminuiu a sua culpa?
E que a responsabilidade, a partir daquele momento, caberia somente a eles?
— Eu não entendo disso, mas sei que não seria possível, embora eles se sentissem um pouco responsáveis por ela, a partir do bilhete.
A responsabilidade do ato e suas consequências, eu sei, foram só minhas!
— Por que diz foram só minhas, ao invés de dizer: são?
— Por que me lembro do quanto já padeci, após aqueles acontecimentos, e não tenho noção ainda do tempo que permaneci sofrendo, ao léu, vivendo em meios tão infelizes, onde só tormentos havia!
Não tenho noção de quanto tempo fiquei inconsciente de mim mesmo, até que me vi aqui, adquirindo, aos poucos, a minha consciência, e depois, aos poucos, também, fui tomando conhecimento de tudo!
O irmão pode me dizer quanto tempo faz que aqui cheguei, em que ano estamos, se estivéssemos na Terra?
— Isso ainda não lhe é importante!
Continue o seu desabafo, que está lhe fazendo bem!
— Eu não sei o que se passou depois, mas toda a Nação deve ter se sentido chocada com o meu ato!
— Isso também não tem importância agora, não é mesmo?
Procure lembrar-se de algum fato ou situação em referência aos seus últimos dias lá, anteriores àqueles tão fatídicos!
— Sim, eu tenho uma pergunta a lhe fazer!
Por que aquele jornalista, lá na Terra, tomou a minha pessoa, os meus actos, só para atacar?
Eu era o motivo das suas atitudes e dos seus artigos no jornal!
Caluniou-me muito, irmão!
Ofendeu muito a minha dignidade a até a minha moral!
Duvidou da minha correcção de carácter no comando da economia da Nação, e tudo fazia para que o meu governo, a cada dia, ficasse aberto ao povo, através do que lia, mas nem tudo era verdade!
Estava já velho, cansado e muito magoado!
Nada mais fazia que pudesse me condenar.
Reconheço que, em outras oportunidades de meu governo, nem sempre agi como devia — já analisamos e conversamos sobre isso —, mas o que ele afirmava, nem sempre retratava a realidade!
Um facto insignificante e despercebido de todos, ele o fazia reboar, com as cores das pinceladas com que o pintava.
— Você saberá no momento adequado!
Penso que agora está mais calmo, não é mesmo?
— Estou mais calmo, mas não significa que meu coração não sofra muito!
Sabe o que gostaria? De correr para os braços de Darci!
Ela sempre soube me ajudar, me estimular e me compreender!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 11, 2018 8:22 pm

— Também ainda não o pode, amigo!
Terá que se contentar com a minha companhia!
Não sei se lhe agrada tanto quanto ela o faria, mas estou à disposição para ajudá-lo em todos os momentos!
— Não sei o que seria, se não o tivesse comigo!
Não suportaria o desespero!
— Se assim o sente, pode dispor desse amigo todas as vezes que o desejar!
— O senhor me disse que este trabalho estava terminado!
O que faremos agora?
Não irá me abandonar, não é mesmo?
— Não, absolutamente! Ficaremos juntos até quando Jesus permitir!
Quando não precisar mais de mim, continuaremos a ser amigos, e poderemos estar juntos o quanto nos for permitido!
Acostumei-me à sua companhia, e, no que puder ajudá-lo, eu o farei!
Ainda estaremos ambos felizes, quando você estiver mais despreocupado!
Getúlio estava mais confortado, mais calmo e seguro.
Sentira-se apoiado em Irmão José, que tanto o auxiliara naquele período tão difícil como todos o haviam sido, desde que deixara o seu corpo e ficara perdido, em sofrimento, apenas ouvindo vozes e gemidos, em escuridão tenebrosa!
Depois, sem que soubesse quanto tempo passou, viu-se naquela Colónia, sendo tratado com carinho, por auxiliares e por Irmão Fulgêncio.
Mais tarde, quando transferido para o novo departamento, o dos Recuperados, iniciando essa actividade tão dolorosa, tivera sempre o carinho, o auxílio, e a compreensão de Irmão José, que se dispunha agora, como amigo, a continuar a ajudá-lo no que lhe fosse necessário.
Contudo, estava sofrendo ainda, e, se comparado ao sofrimento anterior, não saberia dizer qual o mais amargo.
Não era a aflição do nada, da inconsciência total, mas a da consciência plena, da responsabilidade reconhecida!
Porém, agora não estava só.
Retomando ao prédio principal da Colónia, ao se despedirem, Irmão José ainda acrescentou:
— Querido amigo, sabe que desejo auxiliá-lo em tudo o que me for permitido, e gostaria de vê-lo feliz!
Sabe que pode contar sempre com este companheiro, e amanhã nos veremos novamente!
Entretanto, se precisar, pode me procurar a qualquer hora, mesmo durante a noite!
É só pedir a um auxiliar do seu departamento, que ele saberá onde me encontrar!
No entanto, aconselho-o a que ore muito a Deus, e peça-Lhe o conforto da paz para o seu Espírito, e o repouso que o fará esquecer as angústias que o oprimem!
— Tentarei orar e repousar!
Amanhã devo estar melhor, e aí, eu o procurarei em sua sala.
Esforçar-me-ei por não pensar em mais nada, embora saiba que será difícil!
— Isso mesmo!
Nós muito conseguimos através do esforço!
Quanto maior ele for, maior será a ajuda que recebemos de Deus!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 11, 2018 8:22 pm

ORIENTAÇÕES
Ao deixar Getúlio, Irmão José recolheu-se em seu gabinete, para também pensar.
Tinha cumprido a tarefa que lhe propuseram e agradecia a Deus o poder tê-la realizado, mas não dava por encerrado o seu trabalho.
Estava disposto a acompanhar o irmão, ainda nesse período de bastante necessidade, e, após, continuar com ele como amigo, que sentia, já o eram.
Precisava dar ciência a Irmão Fabrício de tudo o que ocorrera, e assim, na manhã seguinte, logo cedo, foi ao seu encontro.
Ao término das suas informações, o bondoso Mentor indagou:
— E como reagiu ele?
— Ficou muito chocado, porque não conseguia lembrar-se de nada, como fora programado!
Surpreendeu-se muito!
— E como reagiu depois, nas reflexões e comentários, em relação às suas responsabilidades?
Irmão José referiu-se a todas as conversas que mantiveram no dia anterior, todos os comentários e revelações feitas por Getúlio, quanto aos sentimentos que o moveram à consumação daquele acto, e terminou pedindo novas instruções de como proceder daí em diante.
— Alguns dias mais deverão passar, até que ele se coloque mais em paz!
Se puder, será bom que o acompanhe, de modo informal e sem compromissos assumidos com nenhuma actividade!
Apenas far-lhe-á companhia, como um amigo, para distraí-lo!
Deixe também que ele o procure, e assim a serenidade irá retornando ao seu coração.
Ele já sofreu bastante, embora não tivesse plena consciência do sofrimento — não sabia onde estava, nem como passou aquele período longo, naquelas regiões infelizes.
— Procederei como me pede, e até mesmo já havia lhe oferecido a minha companhia!
Ele sente-se muito só, aqui, eu o reconheço!
Lembra-se sempre da esposa, com quem gostaria de estar!
— Quando for oportuno e benéfico, ela virá!
— É o que sempre lhe digo!
E a respeito do outro período, como faremos?
— O irmão perceberá quando chegar o momento adequado, e saberá como fazer!
Mas procure-me antes!
No transcorrer desses dias, terão oportunidade de conversar bastante e, sempre que houver ensejo, peço-lhe que lhe passe instruções sobre as verdadeiras finalidades do Espírito, e aconselhe-o a que leia, estude e ore, em seu próprio benefício!
Quando chegar a hora em que ele próprio requisitar, e se sentir que está preparado, mostrar-lhe-emos a vida pregressa, a fim de que seja auxiliado ainda mais, a compreender todos os seus erros.
Talvez lhe seja pior, mas espero que possa ajudá-lo!
— Agradeço-lhe bastante a atenção, a sua orientação, e farei o que me recomenda, para que ele vá adquirindo a sua plenitude espiritual, e um dia possa retomar em condições melhores de espírito, em conceitos e aprendizados mais concretos e solidificados em si, para cumprir bem o que lhe for determinado.
Nada havia programado e nem marcado para aquele dia, entre o orientador e Getúlio, mas era sabido que, nas condições em que se encontrava, ele não ficaria só, ser-lhe-ia muito difícil.
Com certeza procuraria Irmão José, em quem se apoiava, ultimamente, e nem seria possível que fosse diferente.
De facto, quando ele voltou da entrevista com Irmão Fabrício, já o encontrou à porta de seu gabinete, visivelmente preocupado, dizendo não ter conseguido dormir.
Irmão José convidou-a a entrar, indagando o motivo da sua aflição.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 11, 2018 8:22 pm

— Nada novo, mas não desejava estar só!
Não via a hora de vê-lo e ter alguma palavra de conforto, algum ensinamento!
— Estou às suas ordens!
Você me disse que não conseguiu repousar muito bem, por quê?
— Tudo o que me ocorreu, vem como uma avalanche sobre mim, perturbando-me o coração, e fazendo-me sofrer muito.
— Qual o fato, qual a lembrança que o martiriza mais?
— São tantos, que ainda não consegui separar e especificar nenhum!
É difícil, em meio a tanto sofrimento, separar-se o que dói mais, mas fico angustiado quando me lembro de tudo o que me fizeram, no meu último governo.
Quantos problemas ficaram sem solução!
Quantos ataques não me permitiam agir como pretendia!
Quantas ameaças, quantas calúnias e quanta pressão para eu abandonar o governo!
— Se você tivesse suportado com resignação, com compreensão, apoiado em Deus e nos ensinamentos de Jesus, muito teria lucrado, muito o seu Espírito teria evoluído e ressarcido débitos antigos!
— Como débitos antigos?
— Ainda conversaremos detalhadamente sobre isso, mas o que sofremos em uma encarnação, quase sempre é reflexo do que já fizemos outros sofrerem em uma outra! Compreende-me?
— O irmão quer dizer que sofri, porque já fiz outros sofrerem, aquilo mesmo?
— Não significa que tenha feito a eles exactamente o que lhe fizeram!
Mas você sabe que temos muitas vidas.
Já vivemos muitas existências!
O Espírito é eterno e assim vamos à Terra e retomamos ao Mundo Espiritual, muitas vezes.
Você sabe disso! Já examinou os propósitos que foram feitos e levados para execução na Terra, e lembra-se ainda de ter partido para a sua última encarnação!
— Sim, mas não me lembro do que possa ter feito antes e nem de como tenha vivido em outras vidas!
— Isso também ser-lhe-á mostrado, no momento certo!
Mas voltemos ao que conversávamos!
— O senhor dizia que nem sempre o que sofremos é exactamente o que fizemos outros sofrerem!
— Sim, compreendeu bem!
O que ocorre em uma vida, nem sempre acontece do mesmo jeito em outra.
A Terra progride, as condições de vida são outras, e não podemos repetir a mesma situação que tivemos em outra oportunidade.
Porém, o sofrimento fica marcado no Espírito, e, se não
conseguiu perdoar, quando retoma e tem a oportunidade de conviver na mesma época com quem lhe fez sofrer, seja perto ou mais afastado, sem nem mesmo saber como, aquele ódio retoma e, dentro das condições que lhe são oferecidas, persegue a sua presa o mais que pode.
Ao mundo parece uma injustiça, mas perante Deus é a Sua Justiça em acção!
— Quer dizer que tudo o que sofri era porque já havia feito sofrer?
— É isso mesmo!
As vezes não são os mesmos que atingimos, mas Deus permite que outros o façam, como forma de ressarcir os débitos e progredirmos mais!
Mas isso também não livra aquele que nos faz sofrer, de suas responsabilidades, entendeu, irmão?
— Sim, e estou com medo, porque muito realizei também em desfavor de tantos, no cumprimento de minhas atribuições de governante.
Muitas vezes agi, ou melhor, consenti que agissem sem piedade, para afastar perturbadores da paz, para retirar aqueles que pretendiam atrapalhar o bom andamento do governo.
— Todos os nossos actos têm que ser ressarcidos um dia, mas não significa que vamos encontrar, frente a frente, os que prejudicamos!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 11, 2018 8:22 pm

Deus nos dá uma infinidade de oportunidades, para trabalharmos em favor de muitos, e desfazermos males antigos!
Existem muitos meios para resgatarmos os débitos!
Penso que estamos nos afastando um pouco do assunto central!
Continue a falar dos seus receios e lembranças!
O que mais o aflige ainda?
— Pelo que compreendi, através do que me explicou, a responsabilidade que assumimos, ao retirarmos, com nossas próprias mãos, a vida que Deus nos concedeu, é muito grande!
— Sim, é o maior crime que praticamos contra nós próprios!
A vida é o maior bem que Deus nos concede, é a oportunidade de crescimento espiritual!
Contudo, não o realizamos só para nós, mas para muitos que convivem connosco e, se a retiramos, poderemos retomar, um dia, em condições difíceis, querendo muito fazer, sem nada poder!
— Não me amedronte mais!
— Não o estou fazendo, apenas explicando!
Há muitos meios de resgatar débitos, perante Deus!
Ele tem diversos caminhos que são, às vezes, desconhecidos por nós, mas nos são mostrados no momento certo.
O irmão deve lembrar-se de que já resgatou muito, por ter estagiado em regiões infelizes, como se lembra!
— Sim, tenho ainda em mim todo o sofrimento pelo qual passei, todos que me cercavam e gritavam:
suicida, suicida, suicida!...
Eu não compreendia naquela ocasião, mas, aos poucos, aquele tempo está retomando todo!
Ficamos numa região escura, onde apenas sombras negras transitavam, choravam e gritavam muito!
Foi muito triste, irmão!
Só não tenho a noção do quanto lá permaneci!
— E como saiu desse lugar, não se lembra?
— Apenas lembro-me de ter tomado consciência de mim, quando me vi aqui, sendo ajudado!
— Muitas coisas devem ter acontecido até que aqui retomasse!
— Eu não me lembro!
Às vezes ouvíamos, nesse lugar, um sino batendo, e irmãos que nos diziam palavras confortadoras.
Era como se fosse uma pequena delegação que nos levava um pouco de alento.
Convidavam-nos a ouvir, e pediam a Deus que nos amparassem!
Mas nem todos davam ouvidos ao que diziam, tão mergulhados nos seus próprios sofrimentos se encontravam!
Quem sabe foram eles mesmos que me trouxeram aqui!
O senhor deve saber!
— Sim, eu sei, mas pretendo que o irmão mesmo se recorde!
Foram eles que o recolheram nessas expedições e o trouxeram!
Lembra-se do que lhe foi falado, que amigos desta Colónia o acompanhariam na sua encarnação na Terra, para ajudá-lo?
— Lembro-me, mas eu nunca, talvez, tenha percebido!
— Mas eles lá estavam!
Muito sofriam quando você não realizava o que devia, afastando-se dos objectivos que planificou!
Pois então, amigo, nesta Colónia estávamos sempre informados de tudo, inclusive do seu ato final, do qual procuraram demovê-lo, mas o irmão não conseguiu perceber!
— Por que eles, então, não me recolheram e me trouxeram para cá, no momento em que deixei o meu corpo?
— Exactamente pelos débitos adquiridos no uso do seu livre-arbítrio, e na execução do ato final que encerrou lá a sua vida! Compreende-me?
— É muito difícil!
— É a execução da Justiça Divina, irmão!
Deus não pune ninguém, somos nós próprios que nos punimos, pelos nossos actos e pela nossa vontade!
Deus é bom e nos proporciona sempre o ressarcimento dos débitos, em novas oportunidades!
Se não as aproveitamos, vamos acumulando mais débitos para nós!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 11, 2018 8:23 pm

SURPRESA RECONFORTANTE
A união entre Getúlio e Irmão José tornava-se cada vez maior, pois que das conversas, das confidências, das reflexões, dos ensinamentos e ponderações que o generoso instrutor lhe transmitia ou estimulava-o a realizar, propiciava-lhes a oportunidade de estarem cada vez mais chegados um ao outro.
Terminada aquela actividade em que deveriam estar atentos às imagens que lhes eram mostradas, aquela união fraterna e amiga passou a dispor de mais tempo para mais estreitamente se solidificar.
Quantas vezes Getúlio o procurou!
Queria esclarecimento, queria trazer-lhe alguma lembrança mais, para ter uma palavra de Irmão José!
Era já uma amizade muito bonita, que vinha do coração, da satisfação de auxiliar e da alegria de ver que tudo Getúlio assimilava e compreendia!
O seu Espírito estava mais calmo, mais ponderado, embora se percebesse ainda o sofrimento que abrigava em si!
Este, só com o tempo, só com alguma tarefa, no desempenho da qual se sentisse útil, só com novas oportunidades, iria se desfazendo.
Alguns dias se passaram, até que Irmão José sentiu que ele estava preparado para conhecer quem fora, o que fizera no seu passado, para que tantos entraves tivesse encontrado, sobretudo no seu último período de governo.
Assim pensando, voltou a se entrevistar com Irmão Fabrício, para levar-lhe a sua opinião, as suas conclusões, informando-o de que Getúlio já se encontrava preparado para o que ainda lhe faltava mostrar.
— Como ele passou esses dias todos? — indagou o Mentor, depois de receber as primeiras notícias.
— Estivemos sempre juntos e, de acordo com as suas orientações, transmiti-lhe alguns ensinamentos, conforme a oportunidade do assunto, e ele pareceu-me assimilá-los e compreendê-los bem!
— Se o irmão entendeu que já é o momento, providenciaremos, mas antes quero também conversar com ele!
Não que descreia do que me está transmitindo, não é isso, mas será importante para ele que conversemos!
Eu próprio preciso verificar como se encontra, como estão os seus pensamentos, como está o seu íntimo!
— Ser-lhe-á muito útil!
Ele aprenderá bastante e depois, poderá partir para as actividades que lhe temos reservadas, de forma um tanto mais segura e determinada, compreendendo melhor que tudo o que realizar aqui, será em seu próprio benefício!
— Poderemos marcar!
O irmão o trará e permanecerá connosco, durante o tempo em que estivermos juntos.
Ele se sentirá melhor, tendo um amigo consigo!
— Compreendo!
Quando o trarei?
— Daqui a três dias!
O irmão receberá o aviso quanto ao horário, e até lá continue a dar-lhe o apoio para o seu maior fortalecimento.
— Não poderíamos, até que esse dia chegue, permitir-lhe um encontro com a esposa, que ele tanto aguarda?
— Acredito que sim, e até lhe fará bem!
Pode autorizar a sua vinda para amanhã, e, quanto à surpresa ou contar-lhe, deixo a seu critério, que já o conhece o bastante para saber o que será melhor!
— Preciso falar-lhe sobre outro assunto!
— Sim, todos os que desejar!
— Quando terminar esse trabalho com Irmão Getúlio, o que eu farei?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 11, 2018 8:23 pm

— Por enquanto continuará naquela sua actividade, aquela que tem sido a razão do seu próprio Espírito, mas não deixe de estar com ele sempre que lhe for permitido, porque, quando lhe dermos uma actividade, também terá necessidade de uma orientação, e penso que ninguém melhor que o próprio irmão, no qual ele se apoia muito, para fazê-lo!
— Entendi! Obrigado, por permitir que realize o de que tanto gosto, não obstante nesse período, nos momentos em que me foi possível, sempre continuei o meu trabalho!
Mas saber que terei mais tempo para realizá-lo, é-me extremamente agradável e por isso agradeço-lhe muito!
— Sabe que trabalho nunca nos falta, e actividades sempre as temos!
Mas, até que aquele companheiro esteja completamente bem e possa caminhar por si só, desempenhando com segurança uma tarefa, e enquanto não surgirem novos encargos para santificar as suas horas disponíveis, o irmão estará mais livre.
— Obrigado, muito obrigado!
— Agora pode ir e espere a minha comunicação quanto ao horário para trazê-lo até mim!
Irmão José de lá se retirou, bastante feliz com a bondade e compreensão de Irmão Fabrício, e foi até o seu gabinete.
Ao chegar, encontrou Getúlio à sua espera.
— Como está, meu caro amigo?
— Estou bem, muito bem, graças a tudo o que tem me proporcionado!
— Venho de uma entrevista com Irmão Fabrício, o nosso Mentor, e ele quer vê-lo!
— A mim, mas por quê?
— Quer conversar, verificar como se encontra.
E uma felicidade poder ter uma conversa com ele!
— Mas eu não mereço!
— Se pediu que o levasse à sua presença, é porque o merece, e não nos cabe julgar!
Você ficará feliz, aprenderá muito, e terá directrizes para a continuidade de suas actividades depois.
— Então me será importante?
E como deverei me portar em sua presença?
Quando o vejo nas prelecções, no salão, admiro-o muito!
Parece-me um ser inatingível, e agora que deverei estar em sua presença, emociono-me bastante.
Terei que pedir forças a Deus para controlar-me, e poder apreender tudo o que ele tem a me dizer!
Getúlio, preocupado com a deferência de Irmão Fabrício, em recebê-lo, formulava muitos pensamentos, e externava-os ao seu querido instrutor.
— Terá ele alguma reprimenda a me fazer, agora que o nosso trabalho está terminado, e eu, consciente de todos os meus actos, esteja preparado para receber dele a minha sentença?
— Aqui, não mantemos nenhum tribunal!
Não estamos para acusar e nem julgar ninguém, já lhe disse isso uma vez!
A nossa sentença, somos nós próprios que a determinamos, por nossas acções!
Não há julgamentos, nem sentenças!
— Desculpe-me, mas preocupei-me!
— Não o devia!
A entrevista com Irmão Fabrício, tenho certeza, será em seu próprio proveito!
Ele tem sempre a cada um de nós, palavras sábias de orientação, de força e encorajamento!
Jamais o acusaria, jamais lhe daria alguma sentença!
Ele quer verificar como se encontra, quer também ter com você uma conversa informal, e, após, quem sabe, alguma directriz para o seu próprio refazimento!
— Eu entendo e agradeço muito!
Vou me esforçar bastante para estar preparado, no momento em que lá devamos comparecer!
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Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti - Página 5 Empty Re: Getúlio Vargas em Dois Mundos - Eça de Queirós/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 11, 2018 8:23 pm

E quando será?
— Ainda não tenho a hora certa, mas será depois de amanhã!
— Sou grato pela sua aquiescência em me receber, mas agora devo me retirar!
O senhor tem o que fazer, e não quero atrapalhar!
— Não me atrapalha, mas será benéfico que também procure aprender alguma coisa que não parta das nossas conversas!
Por que não vai à Biblioteca?
Através de alguma leitura salutar, sobretudo daquelas que esclarecem sobre as verdades espirituais e trazem exemplos edificantes, poderá aprender muito!
Depois, então, teremos mais sobre o que conversar!
Se algo não entender, ou quiser maiores esclarecimentos, procure-me!
— Eu farei isso, com prazer, e muito obrigado!
Irmão José nada lhe disse da permissão que tivera para trazer Irmã Darci.
Gostava de surpresas, e queria fazê-la!
Tomou as providências necessárias e, no dia imediato, à hora aprazada, ela já se encontrava no jardim, esperando por ele.
Desta vez foi Irmão José que o procurou, logo cedo, convidando-o a um passeio.
Ao se encontrarem no lado de fora, descortinando aquele belo jardim, Irmão José induziu-o a que caminhassem em direcção ao ponto que sabia, ela os aguardava.
Tão distraído estava do ambiente e atento à conversa, que Getúlio, ao aproximar-se, não percebeu, de pronto, a sua presença.
Irmão José, porém, interrompeu o que dizia, chamando-lhe a atenção:
— Irmão, parece que conheço aquela senhora que ali está, olhe!
— É Darci, é Darci!
Reconhecendo-a, apressou o passo para encontrá-la.
Ela, que o aguardava, fez o mesmo, e ainda puderam, num abraço, trocar a ternura da saudade que os envolvia.
Irmão José também se aproximou, perguntando-lhes:
— Felizes?
— Muito, irmão, muito! — responderam os dois.
— Que Deus os abençoe, e possam, na companhia um do outro, desfrutar desses momentos que Jesus permitiu, fossem só seus! — e dirigindo-se a Darci, completou:
O nosso querido Getúlio estava muito ansioso pela sua visita.
Ele tem muito que conversar com a senhora!
Peço-lhe que o compreenda como sempre o fez, que o reanime e lhe dê forças para que o seu Espírito seja revigorado com a sua presença!
Agora deixo-os a sós, e, se mais tarde necessitar, caro Getúlio, procure-me!
De fato, ele tinha muito que lhe contar — tudo que descortinara de si próprio, e os comprometimentos que sentia, havia assumido.
O tempo decorreu célere, Darci precisou se retirar, e Getúlio voltou ao seu compartimento.
Vinha mais leve, mais feliz, mais revigorado e preocupava-se agora, com a visita que faria a Irmão Fabrício.
Naquela noite haveria prelecção, e seria ele quem lá estaria, levando a todos a sua palavra de conforto e de ensinamento.
Getúlio compareceria, e procuraria vê-lo, não com olhos de algum ser inatingível e distante, mas conforme o encontraria no dia seguinte, e ficou mais confiante.
Não seria possível mesmo, que alguém, falando com tanto amor a tantos necessitados que lá se encontravam, fosse criticá-lo ou acusá-lo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 11, 2018 8:23 pm

Ficou até feliz por compreender que aquela entrevista ser-lhe-ia realmente uma dádiva do Alto, e aproveitou para agradecer a Deus o ter permitido.
No término da prelecção, quando deixava o local, sentindo-se leve e abençoado, encontrou Irmão José, que também comparecera.
— Que alegria, irmão! Também aqui vem?
— Sim, é sempre uma bênção a oportunidade de desfrutarmos de tantos ensinamentos e de tantas palavras de encorajamento!
— Mas o senhor não precisa mais disso!
— Como não! Todos nós precisamos sempre haurir alento para o nosso próprio Espírito!
Todos somos falíveis, e devemos estar preparados e escudados nas palavras de Jesus, para a defesa contra o mal que em suas teias queira nos envolver, e o que parte das nossas próprias imperfeições!
Eu o esperei, porque tenho a hora em que devemos comparecer perante ele, amanhã!
— Será amanhã, então?
— Sim, amanhã, à tarde, Irmão Fabrício nos aguarda!
Eu irei buscá-lo ou, se preferir, procure-me por volta de três horas, e iremos à sua presença!
Como se sente, agora?
— Hoje estou muito feliz pela visita de Darci, pelo que conversamos, e agora, por estas palavras tão belas e tão importantes que Irmão Fabrício nos dirigiu!
E, completando o meu dia, tive a alegria de encontrá-lo também!
Hoje devo agradecer muito mais a Deus, o que tem me concedido, e cada vez mais estou convicto de que não o mereço!
— A misericórdia de Deus é sempre muito maior do que merecemos, mas até dela precisamos nos fazer dignos, e certamente você a está merecendo!
Se precisar de mim, pode me procurar mesmo antes do horário que já combinamos!
— Amanhã devo deixá-lo um pouco às suas próprias actividades!
Farei o meu passeio, e depois irei à Biblioteca
Estou lendo um livro que está me atraindo muito!
— Que livro é?
— É a história de um governante!
Foi-me indicado pela pessoa que lá permanece para nos auxiliar!
Estou gostando muito!
— E como era esse governante?
— Penso que me foi indicado justamente porque nele há pontos que se assemelham com as minhas próprias atitudes, e, por isso, estou interessado, querendo ver o que lhe acontecerá no final!
— Depois poderemos conversar, se for do seu interesse!
Agora devemos nos retirar, você precisa repousar.
O seu dia foi cheio de emoções diferentes e o repouso far-lhe-á bem!
— É o senhor, não vai repousar também?
— Ainda não! Tenho um trabalho para realizar e quero aproveitar algumas horas para isso!
— Qual é sua outra ocupação aqui, além da que exerce com necessitados como eu?
— Tenho uma actividade que venho realizando há muito tempo, e que está já em meu Espírito!
enho muita satisfação em desenvolvê-la!
— Posso saber de que se trata?
— Há algumas encarnações, que lá na Terra tenho tido, como actividade principal, esta capacidade que Deus me deu, e que me traz muita felicidade — a de escritor!
— O senhor tem sido um escritor em suas últimas encarnações?
— É a minha actividade maior, é a que desenvolvo com muito amor, e procuro aqui também desempenhá-la!
Numa outra ocasião, conversaremos mais sobre isso!
Agora deve ir para o seu repouso que ainda lhe é muito necessário!
— Ao senhor não o é?
— Logo entenderá melhor as minhas palavras!
Que Deus o abençoe, o ilumine sempre, e esteja com você em todos os momentos, dando-lhe a paz, a alegria e a reflexão, que lhe serão muito benéficas!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 12, 2018 8:34 pm

ENTREVISTA COM O MENTOR
No dia seguinte, até antes do horário determinado, ansioso, Getúlio estava à porta do gabinete de Irmão José.
O tempo demorava a decorrer, por isso chegou antes mesmo do esperado.
Aguardou alguns instantes antes de bater e, quando ia fazê-lo, eis que o querido instrutor abre a porta com a intenção de ir buscá-lo.
— Que surpresa, não contava encontrá-lo aqui!
— Cheguei há pouco, não quis incomodá-lo!
— Podemos ir, então, mas devia ter entrado!
Chegaram à sala onde Irmão Fabrício os aguardava, cuja porta até se encontrava entreaberta.
A uma leve batida de Irmão José, tiveram a permissão de entrar.
Getúlio, um tanto acanhado, seguia o seu orientador, mas observava atentamente aquela figura tão sublime ali sentada.
Aquela mesma que estava habituado a ver nas prelecções do salão, mas um tanto diferente, talvez pela proximidade e pela situação.
— Esse é o nosso Getúlio, Irmão Fabrício!
— Que Deus o abençoe, e que a sua presença aqui connosco, esteja sendo agradável e edificante ao seu Espírito!
Getúlio nada respondeu, sentou-se na cadeira que lhe foi indicada, e Irmão José fez o mesmo.
— Tenho acompanhado o seu progresso desde que chegou, e agora, concluído o que havíamos programado, era necessário que conversássemos, para uma avaliação mais directa de como se encontra.
— A bondade de todos, aqui, tem me proporcionado muito bem-estar, e, a cada dia, sinto-me melhor, apesar da carga tão pesada que consegui juntar para mim próprio!
— Todos nós sempre erramos, meu filho!
Aqueles que já se desfizeram das imperfeições e conseguiram superar todas as faltas, também erraram muito!
No entanto, como fomos criados pelo nosso Pai, para sermos seres perfeitos, um dia ainda todos nós seremos Espíritos puros, e as imperfeições e os erros ficarão tão longe, que nos parecerá impossível que os tenhamos carregado em nós!
— Entendo! Antes de tudo quero lhe agradecer pelo que me tem proporcionado aqui.
Agora consigo pensar, reflectir e analisar, após um período de tanta inconsciência de mim mesmo, quando deixei o meu corpo na Terra, de forma tão irreflectida e irresponsável!
— Deus sempre tem caminhos que nos trarão novas oportunidades, mas, se não as aproveitarmos, os débitos irão se acumulando e o progresso espiritual se retardando cada vez mais!
O irmão já errou muito em outra época em que lá na Terra esteve, e muito prometeu para esta sua última encarnação, a fim de ressarcir seus erros.
Muito realizou lá também, que teve grandes oportunidades!
Ajudou de certa forma o seu País a progredir, a estar mais organizado, abrindo caminho a muitos, depois!
Mas, a par disso, também errou muito, e nem sempre os métodos que usava eram os mais adequados perante Deus!
O que realizou de bom, propiciou-lhe o amparo que vem tendo aqui, e, novas oportunidades, um dia, poderão lhe ser dadas!
Não sabemos ainda em que condições, principalmente pelo fim que deu à própria vida!
Mas o irmão pôde já resgatar muitos de seus débitos, no período em que estagiou naquelas regiões de onde foi trazido para cá!
— Tenho muito receio do que ainda me aguarda!
Estou consciente dos meus erros, e nem sei se sou merecedor de tudo o que recebo aqui.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 12, 2018 8:35 pm

— Somos merecedores, pois sempre temos algo a nosso favor, e o irmão também tem!
O País, a partir do seu governo, tomou um novo rumo, partiu para uma completa remodelação e valorização mais integral de suas potencialidades, ao invés de estar segregado apenas a um sector!
Foi a partir de suas ideias, da sua implantação de directrizes, que o Brasil muito mudou, propiciando também a outros que prosseguissem!
Mas, como já dissemos, na sua caminhada lá, muitos compromissos assumiu!
Tudo lhe é contado, e as coisas boas serão a atenuante das más!
Não fosse o ato final que praticou, estaria em muito melhores condições!
Getúlio ouvia todas as suas palavras, mas não as sentia como um julgamento, nem disso se lembrou.
A bondade e a serenidade com que Irmão Fabrício lhe falava, dera-lhe a impressão de que conversava com um grande amigo.
Irmão José permanecera apenas para apoiá-lo com a sua presença, mas não deveria interferir, a menos que fosse solicitado.
A conversa continuou assim, por muito tempo, mas Irmão Fabrício, sempre muito calmo e prudente, deixava-o à vontade.
No transcorrer do assunto, em determinado momento, Getúlio perguntou-lhe:
— Agora, o que acontecerá comigo?
Irmão José, que tem sido não somente um orientador, mas sinto nele um grande amigo, disse-me que eu deverei desempenhar alguma tarefa, algum trabalho que possa me ajudar a saldar um pouco dos meus débitos.
Quero lhe dizer que estarei pronto para o que me determinarem, e pretendo realizá-lo o melhor que puder!
— No momento adequado, terá uma tarefa!
Mas antes deveremos ainda mostrar-lhe alguma coisa que será importante para a sua consciência plena e total!
— O que é, irmão?
— Estamos providenciando para que tenha conhecimento de encarnações anteriores, particularmente daquela que lhe foi muito importante, e está relacionada com a função que desejou desempenhar na Terra!
Após, uma actividade lhe será dada, e o irmão, simultaneamente, poderá estudar e aprimorar o Espírito, não só pelo trabalho, mas pelo conhecimento.
Quanto maior o conhecimento, mais o Espírito caminhará dentro das suas responsabilidades, e se esforçará por cumprir as tarefas com correcção, apoiado nos ensinamentos de Jesus e com os olhos voltados para Deus, que é a nossa meta final! Compreendeu-me, irmão?
— Sim, e sinto que minhas iniquidades aumentam, pois estive sempre muito afastado daquilo que deveria ter sido o meu objectivo maior!
— Sempre há um recomeço, e não é necessário martirizar-se tanto, pensando no que ficou para trás!
Apoie-se nas suas faltas, apenas no que elas possam lhe servir de lição para um aprendizado maior!
Não devemos ficar parados, lamentando, mas nos esforçarmos para progredir, é o que o irmão deve ter em mente agora!
Do esforço, do estudo, do desempenho de um trabalho aqui, em favor dos mais necessitados, é que o progresso irá se fazendo!
Acima de tudo, apoie-se sempre em Deus e ligue-se a Ele em orações, a fim de que a sua mente e o seu coração estejam protegidos e fortificados para a nova caminhada, até que Deus permita o seu regresso!
— Obrigado, por todas estas instruções, e, tenha a certeza, de tudo o que conversamos, terei comigo um vasto material para reflectir e analisar, em confronto com as minhas próprias tendências.
Esforçar-me-ei bastante por corresponder a todo o carinho, atenção e ensinamentos que tenho recebido aqui!
— Que Deus o abençoe e lhe dê forças para caminhar em direcção a Ele!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 12, 2018 8:35 pm

Por agora pode ir, e, se alguma necessidade tiver, fale com Irmão José a quem está mais directamente ligado!
Ele terá as orientações a respeito do que deve ser feito, e quanto à sua actividade também!
Irmão José agradeceu, e, convidando Getúlio, retiraram-se.
Aliviado da tensão, e com o coração abastecido de energias novas que lhe seriam muito salutares, Getúlio caminhou alguns passos em silêncio, mas logo Irmão José perguntou-lhe:
— Então, amigo, como está o seu coração?
— Como há muito não me sentia!
contacto com figura tão elevada, de quem se percebe irradiar tanto amor, fez-me um grande bem!
Mas ele falou em actividade, falou que eu tomarei conhecimento de encarnação anterior, quando isso se realizará?
— Aqui, tudo tem um tempo certo, mas será logo!
Por enquanto continuará as leituras, os passeios, e, muito mais que isso, os seus raciocínios e análises!
— Eu o farei, mas não desejaria me furtar também da sua companhia, quando puder dispor de algum tempo para mim!
— Sabe onde me encontrar!
Terei o maior prazer em atendê-lo!
— O irmão é muito bondoso!
— E agora, o que faremos? — perguntou-lhe o orientador.
— Deixo-o livre!
É tarde, e vou repousar um pouco e pensar!
— Que Deus o abençoe, e esteja sempre em seu pensamento, amparando-o nas suas reflexões!
— Obrigado, companheiro de jornada, e que Deus o ilumine sempre, também, e o inspire cada vez mais na sua actividade, para que cada vez mais o seu trabalho lhe traga muitas alegrias!
— Certamente! Um dia este trabalho me trará muitas alegrias!
Ainda conversaremos sobre ele também!
Alguns dias mais passaram.
As vezes Getúlio procurava Irmão José, e de outras era o próprio orientador que o procurava, até que a sua nova actividade foi permitida.
Chegado era o momento em que visualizaria uma encarnação pregressa, que lhe traria muitos esclarecimentos, se colocada em confronto com esta última que havia passado na Terra.
Irmão José procurou Getúlio no seu compartimento, para lhe dar a notícia, porém, não o encontrou.
No caminho de volta, avistou-se com Irmã Cíntia que, após trocarem algumas palavras sobre suas próprias tarefas, o informou de que vira aquele irmão caminhando em direcção ao parque.
— Então irei ao seu encontro, e aproveitarei também para dar o meu passeio!
Até mais ver, irmã!
Passando pelo jardim florido, encontrou-o caminhando no parque, devagar, mãos para trás, meio cismarento.
— Alguma preocupação, meu caro Getúlio?
— Que bom vê-lo!
Há quanto tempo não estávamos juntos neste local!
— Procurei-o, e Irmã Cíntia informou-me que o vira dirigindo-se para cá, resolvi também vir!
É sempre muito bom desfrutarmos dessa maravilha que é a Natureza aqui!
— Deseja alguma coisa comigo, de especial?
— Tenho uma notícia que talvez lhe agrade muito!
— O que é?
— Irmão Fabrício permitiu que veja uma encarnação sua, que lhe trará muitos esclarecimentos a algumas das suas indagações e ressentimentos!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 12, 2018 8:35 pm

— Quando isso ocorrerá?
— Poderemos marcar para amanhã cedo!
— E onde a realizaremos?
Como será?
— Da mesma forma como visualizou toda a sua última encarnação lá na Terra!
— É no mesmo lugar?
— Sim, utilizaremos a mesma sala e a mesma aparelhagem, mas verá uma época diferente!
— E eu me reconhecerei nela?
— Com certeza!
— O senhor não poderá me adiantar alguma coisa?
— Não me é permitido, pois já começaria a fazer julgamentos que poderiam ser inadequados, por não ter a totalidade do que lhe é necessário.
— Amanhã, então, no horário de sempre?
— Sim, no mesmo horário, logo cedo!
Assim teremos o resto do dia para analisarmos e compararmos, se sentir necessidade.
Dadas essas informações, ainda permaneceram no parque por algum tempo, e Irmão José, sempre aproveitando todas as oportunidades, transmitiu a Getúlio ensinamentos baseados na vida cristã,
e no conhecimento da vida espiritual.
Retomaram mais tarde, e Getúlio, ansioso, já aguardava o dia seguinte.
Terminara a leitura do livro que lia, e muito verificou a respeito da personalidade central, diferente de si próprio, e gostaria também de conversar com Irmão José sobre isso, quando houvesse oportunidade, ainda mais que sabia ser ele um escritor.
O dia se encerrou, e nova manhã surgiu, aquela em que deveria estar em confronto novamente consigo mesmo, só que não trazia em si nenhuma lembrança que pudesse ajudá-lo.
Assim, encaminhou-se à sala indicada, onde Irmão José o aguardava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 12, 2018 8:35 pm

NUM TEMPO REMOTO
Dirigiram-se ambos frente à aparelhagem.
Não mais aquela, mas outra semelhante, e outro jovem fora encarregado de atendê-los.
Como se tratava de um tempo desconhecido de Getúlio, uma aparelhagem pequena foi acoplada ao aparelho principal, e colocada, como um pequeno capacete, na cabeça do nosso companheiro.
Esse engenho lhe proporcionaria, no momento em que se deparasse com as imagens, também as lembranças, reconhecendo-se naquela nova situação, reconhecendo, também, aqueles que o rodearam e tiveram influência importante, e, muitas vezes, decisiva, em fatos de sua vida pública.
Ele estranhou um pouco, mas Irmão José deu-lhe todas as explicações, recomendando-lhe ainda que as imagens deveriam ser paradas, quando necessário, para melhor serem fixadas e trabalhadas.
Seria um discorrer mais vagaroso e que ele ficasse atento a tudo!
— Podemos começar?
Está confortável?
— Sim, a minha ansiedade é grande, mas sinto algo estranho!
Parece-me que vamos ver actos e pessoas que não me dizem respeito!
— Isso é natural! Mas no momento em que começarmos, sentirá como se estivesse vivendo a sua última encarnação, tão próximos ficarão de você!
A uma ordem de Irmão José, o aparelho foi ligado, e começaram a ser mostradas imagens de um tempo longínquo, pelo apanhado feito daquele pequeno reinado.
Era um país distante! As imagens foram caminhando vagarosamente, e fixaram-se em um palácio real.
Adentradas que foram no palácio, muitas pessoas por ele circulavam, muito trabalho era efectuado e os que serviam estavam em actividade.
Todos que o protegiam, mantinham-se a postos! Grande vala ao seu redor, dava-lhe segurança, e ninguém se atreveria ultrapassá-la, porque era toda habitada por répteis peçonhentos e animais aquáticos de maior porte, com suas mandíbulas abertas e ávidas de conseguir uma presa.
Chegamos agora a um grande salão, onde algumas pessoas circundavam um trono, no qual estava instalado um rei, que discutia com os que o rodeavam, planos para uma conquista.
Nesse momento, Irmão José procurava perscrutar a fisionomia de Getúlio, ao mesmo tempo que, a um pequeno sinal, a imagem foi fixada, para que nela pudesse examinar os que ali se encontravam.
— O que me diz, irmão?
— Estou estupefacto!
— Por quê? O que aconteceu?
— Estou me vendo ali, sentindo-me como naquela época!
— Quem era o irmão, ali?
— Eu sou aquele rei!
E o que me deixa mais surpreso, é que já vi essa cena!
— Como, irmão?
— Sim, lembra-se de quando lhe contei ter sonhado que era um rei muito mau, e que segurava um ceptro com mãos de ferro?
— Lembro-me! Naquela ocasião não podia lhe dizer nada, mas sabia que fora uma visualização permitida, e que se tratava desta sua vida pregressa!
— Agora entendo muitas coisas!
— Podemos prosseguir?
— Ainda não!
Deixe-me examinar essas pessoas com quem converso!
— Fique à vontade!
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