LUZ ESPÍRITA
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Criticando Kardec

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 06, 2013 10:44 pm

Uma auto-crítica:
Tinha escrito na versão antiga introdução que este portal se propunha a avaliar o espiritismo kardecista por meio de uma análise dos erros de suas comunicações.

Bem, isto na verdade jamais chegou a ser feito, pois nunca se comparou se houve algum acerto ou não, muito menos um tratamento estatístico da coisa.

Portanto digo o que este portal sempre foi e talvez continue sendo por muito tempo:
uma colectânea de equívocos, falsos-positivos, e análises duvidosas.

Enfim, muito do que passa despercebido pelos seguidores desta religião.

Pode-se alegar que o espiritismo nunca reclamou para si a infalibilidade protestante e católica, mas acho que entre a teoria e a prática há uma distância muito grande, sendo comum os espíritas indulgentes com as rachaduras de seu credo e prontos a catalogar as aboborinhas dos outros.

Poderá o conteúdo deste portal ser usado por cristãos fundamentalista?


Sim, há o risco disto, principalmente no que se refere à reencarnação na Bíblia e racismo.

Porém deixo um alerta aos que assim procederem:
cuidado para o tiro não sair pela culatra.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 06, 2013 10:44 pm

Criticando Kardec
O objectivo deste Site é discutir de forma crítica o aspecto científico de uma das vertentes do espiritismo em especial: o espiritismo "kardecista".

Os conteúdos incluídos neste Site partem dos seguintes pressupostos:

1- O espiritismo é uma fonte válida de acesso ao conhecimento da realidade objectiva.
Contudo, há que se ver com grande cautela aquilo que é tido como "informações a nós transmitidas por espíritos".

2- Há, na verdade, várias "correntes" dentro do que se poderia, com alguma precisão, chamar de "espiritismo" (mesmo havendo elementos apontando para o facto do termo "espiritismo" em si ter, de facto, sido criado por Allan Kardec na França em meados do século XIX), justificando a identificação da existência de um "espiritismo kardecista".

3- O espiritismo kardecista possui, mesmo em seus postulados mais básicos, aspectos mal avaliados, e conclusões equivocadas.

Na verdade, este Site busca, tomando por modelo a tentativa de uma abordagem crítica à faceta científica do espiritismo kardecista, contribuir para o esforço de entendimento e de interpretação do conjunto dos fenómenos "mediúnicos" de um modo mais geral: suas características, potencialidades, e limitações.

Nota Reflexiva especial:
Este site se destina exclusivamente à avaliação e crítica do aspecto científico do espiritismo kardecista e dos fenómenos mediúnicos de uma maneira geral.

Se a sua relação com o espiritismo-kardecismo for eminentemente religiosa, e não científica, talvez o conteúdo deste site não lhe seja recomendável.

Vivemos em uma época em que a ciência é vista como a verdadeira "dona da verdade", a única ferramenta capaz de nos dar um conhecimento válido a respeito da realidade do mundo, de dizer o que é verdadeiro e o que é falso.

No meu entender, isso é um grande equívoco.
Vejo a ciência apenas como uma maneira a mais de olhar a realidade.

O olhar da religião, o olhar da Fé, também é, creio, uma maneira válida de entender o mundo, sendo talvez capaz de penetrar mistérios e compreender facetas do Universo que a ciência jamais será capaz de entender.

Críticas "científicas" podem, às vezes, enfraquecer injustificadamente a fé de certas pessoas.

Acredito firmemente que uma teoria científica, ou uma revisão crítica sob uma óptica científica, tem um valor que não deve ser colocado acima do valor das visões e intuições da Fé.

São talvez apenas maneiras diferentes de acessar a realidade, com características (erros e acertos, potenciais e limitações) diferentes.

Se você tem certeza de que a abordagem que faremos aqui lhe é apropriada, sua leitura deste site será para mim um prazer e uma honra.

E suas eventuais críticas e comentários serão bem vindos e enriquecedores.

(Júlio Siqueira. juliocbsiqueira@terra.com.br)

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 06, 2013 10:45 pm

 Criticando Kardec Fonte

O PORQUÊ DESTE SITE

Os textos incluídos neste site têm uma postura de crítica ao espiritismo kardecista.
Sou da opinião de que toda acção humana, em especial a apresentação e a defesa de ideias, possui motivos responsáveis pelo seu aparecimento, possui históricos que podem explicar em parte o seu desenvolvimento.

Expor abertamente tais motivos e históricos pode contribuir muito para o entendimento e avaliação do valor do trabalho apresentado.

Meu contacto inicial com o espiritismo kardecista se deu quase ao início da minha vida adulta, e nele passei a ver um conjunto de ideias e "provas" experimentais fabulosamente coerente e bem construído.

Contudo, após algum tempo, começou a parecer-me que havia alguns pontos mal resolvidos.

Parecia-me, também, que "de dentro" do kardecismo pouco havia de autocrítica e de busca de um desenvolvimento do lado científico do trabalho inicial de Kardec.

Algo como se Kardec tivesse sido um bom início, e que daí em diante nada ou quase nada se tivesse avançado, quando não retrocedido.

Foi preciso que se passassem quase duas décadas desse momento inicial para que eu tomasse contacto com dois elementos viabilizadores desse projecto de elaborar um trabalho com uma postura crítica ao kardecismo:

primeiro, a leitura de textos e artigos de autores kardecistas da actualidade que tentam (com um sucesso questionável) defender a cientificidade do kardecismo;

segundo, o contacto com materiais provenientes da "ciência tradicional" versando sobre questões que podem contribuir para o entendimento e a discussão de algumas das questões cruciais tratadas directa ou indirectamente dentro do kardecismo, e do espiritismo de uma forma mais ampla, questões essas como "existência e imortalidade da alma", "papel do corpo na sua relação com a mente", "determinismo e livre arbítrio", e "características do nosso universo relevantes para uma avaliação das proposições kardecistas-espíritas".

O elemento deflagrador dos meus estudos actuais, contudo, proveio de dois "eventos" diametralmente opostos (opostos entre si, e não em relação aos elementos descritos acima).

Em primeiro lugar, o contacto que travei com textos e artigos "defendendo" a cientificidade do kardecismo escritos por um pesquisador kardecista da actualidade, com formação académica na área da física, Sílvio Seno Chibeni, em diversos artigos escritos na revista "O Reformador", órgão oficial de divulgação da Federação Espírita Brasileira.

Em segundo lugar, a leitura de um livro escrito pelo falecido astrofísico norte-americano de renome, Carl Sagan, onde ele "ataca" as crenças em fenómenos paranormais, espíritas, e místicos de um modo geral, o livro "O Mundo Assombrado pelos Demónios: a Ciência Vista como uma Vela no Escuro"
(Editora Companhia das Letras, 1997; título em inglês "The Demon-Haunted World").

De facto, essas duas fontes acima possuem muitos pontos em comum.
São trabalhos bem elaborados, ricos em informações importantes, e respeitosos em relação aos oponentes em ideias.

Possuem em comum para mim, também, um facto curioso: bem analisadas, acabam provando justamente o contrário do que se propõe a provar.

O livro de Carl Sagan, tentando atacar as crenças no misticismo-espiritualismo, é uma arena onde ele desenvolve em extensão suas ideias e críticas que em obras anteriores, versando sobre outros temas, ele já havia introduzido de forma bem "homeopática".

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 07, 2013 10:58 pm

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Carl Sagan, além de mostrar-se em seus trabalhos como adepto do materialismo-ateísmo, mas normalmente declarando-se apenas como um "céptico", é um escritor claro e lúcido, excepcional divulgador dos conhecimentos científicos, humanista, e respeitoso para com seus oponentes, apesar de eventualmente sarcástico e levemente ácido em suas críticas.

Sem dúvida, ele seria um dos merecedores dos comentários de "Emmanuel" (entidade considerada nos meios kardecistas como de grande elevação espiritual que se "manifesta" psicograficamente através do médium Chico Xavier) sobre alguns ateus:

"Vós outros, os que me ouvis, sem jamais haverdes frequentado os núcleos do Espiritismo, não vos impressioneis com minhas assertivas.

No Espaço, uma das modernas tradições é a de que, ultimamente, chegam às portas do céu somente os ateus e materialistas generosos que trazem o bem pelo bem, alheios às convenções e aos sentidos das recompensas.

Com essa lembrança não desejo menosprezar os esforços da fé, mas quero lembrar a necessidade do trabalho sincero, perseverante, decidido e leal nas mais belas expressões de solidariedade real e de simplicidade na vida!"


(citado no livro "Allan Kardec: Pesquisa Bibliográfica e Ensaios de Interpretação", volume III - página 254, de Zeus Wantuil e Francisco Thiesen, editado pela Federação Espírita Brasileira - frase de "Emmanuel" datando, provavelmente, de 1939).

Profundo conhecedor dos assuntos sobre os quais fala, Sagan mereceu do famoso escritor e cientista Isaac Asimov a seguinte dedicatória em um livro deste último sobre astronomia e cosmologia:
"A Carl Sagan, que possui um conhecimento muito maior do que o meu sobre os assuntos deste livro!"

Contraditoriamente, porém, nos momentos em que criticava o "misticismo-espiritualismo" (e a parapsicologia também, rotulada de "pseudo-ciência"), Sagan sempre se mostrava estranhamente superficial, salvo em algumas poucas críticas técnicas em relação à astrologia.

Quando finalmente resolveu escrever um livro inteiro sobre suas críticas a esses assuntos, ao invés de realizar uma obra ao nível de seus trabalhos anteriores em áreas de sua especialidade, apenas repetiu a superficialidade de suas abordagens pregressas
(400 páginas de superficialidades; apesar de haver conteúdos muito valiosos, inclusive o que eu considero como a segunda possível prova já vista por mim da não existência de vida após a morte...).

Simplesmente nada do que eu esperava encontrar.
Nada de avaliações profundas e sagazes de fenómenos como os descritos no espiritismo já há mais de cem anos, como a "clarividência", a "escrita directa", a "psicografia", as indicações (provas) de reencarnações, etc., para os quais a hipótese da "fraude consciente ou inconsciente", apesar de válida em muitos casos, simplesmente não parece conseguir explicar a totalidade das evidências.

Do lado oposto do front "materialismo versus espiritualismo", os artigos escritos pelo pesquisador kardecista Sílvio Chibeni apresentam uma clareza e riqueza de informações notáveis com relação à discussão do que é ciência, qual seu valor e limitações, e que correntes filosóficas e ideológicas fluem ocultas por sob sua cândida face de mera descobridora e expositora da realidade objectiva.

Quase todos seus artigos com os quais pude ter contacto se encontram acessíveis no site do "Grupo de Estudos Espíritas da Unicamp" – GEEU – (http://www.geocities.com/chibeni/), juntamente com artigos de outros autores, igualmente de boa qualidade quanto ao conteúdo e clareza de exposição.

Basicamente, defendem que o kardecismo ("espiritismo", como é citado pelos artigos) possui uma sólida base científica, e que esse lado científico do "espiritismo" surgiu e se desenvolveu (muito decorrente dos trabalhos de Allan Kardec) obedecendo a uma verdadeira "excelência metodológica".

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 07, 2013 10:58 pm

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Conforme afirmado acima, os artigos de Sílvio Chibeni (bem como os artigos de outros autores do Site do GEEU) são ricos em informações importantes, especialmente quanto à filosofia da ciência.

Com relação à defesa da cientificidade do "espiritismo" propriamente dita, porém, o efeito que causou em mim a leitura de seus artigos foi justamente o oposto do objectivado.

Passei a achar que a base científica do kardecismo é bem mais frágil do que eu havia anteriormente julgado.

Para explicar de forma objectiva o porque dessa minha opinião, teria que discorrer mais explicitamente sobre os vários conteúdos argumentativos presentes nos diversos artigos
(tarefa que pretendo realizar em parte em secções deste site a serem escritas posteriormente).

O facto é que a leitura desses artigos remetia a algumas obras kardecistas, basicamente algumas de Kardec e de Chico Xavier, cuja leitura só fez aumentar ainda mais minha "desconfiança" na "base científica" do kardecismo e do espiritismo de um modo mais geral.

Vi-me, então, em uma situação sui generis.
Havia procurado a obra de um céptico-materialista para conhecer seus argumentos contra a cientificidade do espiritismo, e emergi da leitura dessa obra com um "cepticismo quanto ao cepticismo".

Procurei a obra de um pesquisador espírita para conhecer as bases da cientificidade kardecista, e saí do contacto com essa obra com uma "impressão científica da fragilidade da cientificidade espírita".

Nesse momento então, identifiquei (talvez equivocadamente...) que minha posição era realmente um tanto quanto sui generis (na verdade, não tão sui generis, nem original, conforme tentarei demonstrar posteriormente), e que se quisesse acessar o tipo de conhecimento que pareço intuir que há no universo, eu teria que começar a buscá-lo por mim mesmo, rompendo com as interpretações ortodoxas espíritas-kardecistas, me inteirando o máximo possível a respeito do "conhecimento" já estabelecido nesse campo, e tentando identificar quais as possíveis falhas nos sistemas desenvolvidos até agora.

Dentro desse contexto, portanto, o alvo dos meus estudos nessa área que poderia ser definida como "misticismo", "espiritualismo-espiritismo", e "kardecismo" passou a ser principalmente a interpretação dos fenómenos mediúnicos, tendo eu escolhido o "kardecismo" principalmente devido à sua forte presença no Brasil, à sua construção teórica "elegante" e (aparentemente) "coerente", e a sua origem ligada a um homem bastante perceptivo quanto à realidade e engenhosamente racional: Allan Kardec.

Não sei até que ponto o estudo do kardecismo, seus erros e acertos, poderá me levar a adoptar uma interpretação dos fenómenos mediúnicos diferente da professada no kardecismo
(iniciada com "O Livro dos Espíritos", "codificado" por Kardec em 1857).

Mas sinto como se nesse assunto (como em tantos outros da história do conhecimento humano do Universo) a Natureza não houvesse entregado ainda seus segredos tão facilmente quanto muitos têm imaginado nos últimos 140 anos...

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 08, 2013 10:57 pm

A Ciência, a Fé, e os Factos
O kardecismo é uma religião, ou talvez fosse melhor dizer "uma corrente de pensamento", sui generis.

Com certeza é uma das poucas religiões que diz ser também uma "Ciência".

Isso já era afirmado por Allan Kardec desde o início de suas publicações a respeito do tema, e tem sido reafirmado por seus continuadores desde então até a presente data.

Na nossa sociedade ocidental actual, uma afirmação como essa tem diversas implicações.
A Ciência passou a ser a principal (para alguns mesmo a única) fonte de validação do conhecimento sobre o mundo objectivo (e talvez até sobre o mundo subjectivo...).

A "Fé", em oposição, apesar de respeitada, é vista quase que somente como "crença"[i], fonte de uma convicção baseada apenas em necessidades ou carências emocionais, resultado de um pensamento não racional, ou melhor, [i]"irracional", "mágico", "fantástico".

Em suma: Fé não é Conhecimento; Fé é crença!
Aliás, crença cega e, bem possivelmente, errónea a respeito da verdade factual do mundo objectivo.

Essa visão acima possui um desdobramento curioso.

A Fé, que no passado era imposta a todos, como por exemplo a Fé Católica em diversos países da Idade Média, sendo portanto invasiva, passou a ser predominantemente (mas não exclusivamente) algo privado e de foro íntimo, não imposto aos outros.

Quando alguém faz uma "afirmação de Fé", como por exemplo "Jesus Cristo é Deus, junto com o Deus Pai e o Espírito Santo", entende-se que isso é verdade para aquela pessoa, que ela crê nisso, e não que isso faça parte do mundo objectivo comum a nós todos.

Contrariamente a isso, quando alguém faz uma afirmação "científica", entende-se que aquilo é um fato da realidade objectiva;
e mesmo que possa ser um conhecimento incompleto da realidade, é, contudo, o conhecimento alcançado pela humanidade até aquele momento.

A Ciência é, portanto, "Conhecimento", "Facto", pertence ao mundo objectivo comum a todos nós, é pública, e também invasiva no sentido que, independente de a aceitarmos ou não, o que ela diz é "certo".

A Ciência portanto assumiu na nossa sociedade actual, paradoxalmente, um pouco (ou muito...) do papel exercido pela Religião no passado.

Num certo sentido, a Ciência é a Religião do mundo moderno.

Um dado curioso nessa dinâmica é que a própria Ciência erra com frequência, e se reformula mesmo com relação a pontos e teorias razoavelmente bem sedimentadas.

Isso sem dúvida é, em grande medida, uma virtude da Ciência, pois ela própria é a promotora de sua constante revisão.

Porém, tal facto também deveria, ao mesmo tempo, relativizar a maneira como a Ciência é "vista e reverenciada" pela Sociedade enquanto fornecedora de informações factuais sobre o mundo objectivo, mas, estranhamente, isso parece não se dar de tal forma.

Seria o caso, penso, de nos perguntarmos se, ao invés de constituir-se na única fonte de conhecimento válido sobre o mundo real, a Ciência não seria na verdade apenas mais uma forma de olhar a realidade, o olhar da Ciência, que teria suas virtudes, seus métodos, seus pontos de excelência, e seus pontos vulneráveis.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 08, 2013 10:57 pm

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Talvez até mesmo, seus pontos cegos (ou seja, haveria coisas que a ciência talvez jamais seria capaz de abordar).

Ao contrário do que me parece ser a visão predominante nas nossas Sociedades actuais, penso que a Visão da Fé é, também, igualmente como a Visão da Ciência, uma fonte válida de conhecimento sobre o mundo objectivo.

Algo como uma Fé-Intuição (ao invés da Fé-crença), capaz de guiar-nos de algum modo pelos caminhos e descaminhos desse estranho Universo que habitamos;
uma outra fonte de acesso à realidade dos factos, assim como a Ciência, na qual podemos beber da água do proibido conhecimento do bem e do mal.

Quando o Kardecismo diz ser uma Ciência (ou melhor, quando os kardecistas dizem que o Kardecismo é também uma Ciência, além de ser uma Religião e uma Filosofia), isso leva, dentro de tudo que foi exposto acima, a uma série de situações bem especiais.

Em primeiro lugar, sem dúvida há no Kardecismo elementos científicos ([i]bem como também há tais elementos em algumas outras "religiões" ou actividades humanas similares
):
no Kardecismo existe a presença de fenómenos, como por exemplo a psicografia, que são passíveis de um olhar e um tratamento científico.

Penso porém que alguns kardecistas, devido a essa faceta científica da sua Religião, vêem o Kardecismo como algo que é mais do que uma crença ou convicção pessoal e privada, mas sim um facto da realidade comum a nós todos, uma verdade científica, um Facto do Mundo Objectivo.

Visto desse modo, o Kardecismo passa a constituir-se em um elemento "invasivo" e "público", conforme exposto anteriormente.

A dupla consequência disso seria, primeiro, que o aspecto "invasivo" actuaria de um modo agressivo e desrespeitoso para com as crenças alheias (sem entrarmos em detalhes a respeito de como tais agressividades e desrespeitos se materializariam), e segundo, que o aspecto "público" colocaria o Kardecismo em uma arena igual à qual estão situadas as demais Ciências, ou seja, uma arena onde qualquer pessoa (minimamente bem informada) tem pleno direito de discuti-lo e questioná-lo em seus aspectos fenoménicos e factuais, e em suas interpretações a esses fenómenos e factos.

Minha abordagem na análise e discussão do Kardecismo é unicamente uma abordagem científica.

Ou seja, partindo de um ponto de vista no qual a Ciência não é a fonte exclusiva de conhecimento válido a respeito do mundo objectivo, mas apenas uma das fontes nas quais podemos absorver conhecimentos, pretendo identificar pontos "errados" cientificamente dentro das afirmações kardecistas, e tentar olhar e entender tais "erros", seus significados e revelações.

Essa abordagem não pretende ter competência para discutir a , que a meu ver é na verdade mais que a Fé-crença, e mais até mesmo que a ilusória Fé raciocinada, conforme descrita por Allan Kardec
(aliás, julgo mesmo a Fé incompatível com o modo de pensar racional, e muitas vezes me parece que a Fé raciocinada mais parece algum tipo de Fé envergonhada...).

A Fé como a vejo actualmente, a Fé-Intuição, expressão de algum tipo de conhecimento possuído a respeito do Universo por nós, que somos produtos complexos de um processo evolutivo de biliões de anos, com capacidades e percepções ainda precariamente conhecidas, seria uma Fé a ser contemplada com um respeito todo especial: o respeito e a humildade que devemos ter ao observarmos o desconhecido.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 08, 2013 10:57 pm

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Por isso acho que, mesmo que meus questionamentos afectem alguns itens do conjunto de verdades factuais kardecistas, esses questionamentos não devem ser jamais vistos como verdades absolutas que tencionem ou que sejam capazes de esmagar as afirmações da Fé kardecista.

Aquilo que alguma pessoa sente como sendo verdadeiro pode muito bem sê-lo em algum sentido muito real, mesmo que seja aparentemente contraditório com o conhecimento científico estabelecido
(uma consulta a modernos e respeitados filósofos da ciência, como Alan Chalmers, Thomas Kuhn e Paul Feyerabend, fornece, creio, um envasamento bem forte às principais afirmações dos parágrafos anteriores).

Ao pensar nessas duas fontes de acesso ao conhecimento dos Fatos (a Ciência e a Fé), frequentemente me vejo remetido a um trecho de uma música popular brasileira de alguns poucos anos atrás que me parece expressar de modo fiel e tocante essa realidade em uma frase simples:

"A voz da fé é a sombra que te guia."
(Unicamente - Débora Blando.).

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 09, 2013 11:42 pm

Kardecismo ou Espiritismo?
Neste site usarei de forma quase constante o termo "kardecismo", ou "espiritismo kardecista", me referindo à forma de espiritismo que tenta seguir as directrizes expostas por Allan Kardec em meados do século dezanove.

Creio que esse uso, apesar de bastante disseminado, requer alguns comentários especiais.

Há dentro do espiritismo kardecista uma polémica que nem sempre é muito clara, e da qual muitos espíritas nem mesmo participam (sabiamente, diga-se de passagem!).

Segundo alguns, só haveria um único espiritismo: o espiritismo criado, ou melhor, "codificado" e sistematizado, por Allan Kardec.

Variações disso seriam deturpações, mudanças, crenças derivadas, mais ou menos aceitáveis, mas nunca podendo ser denominadas "espiritismo".

Quaisquer práticas similares que não sigam a "ortodoxia kardequiana" deveriam ser definidas como "espiritualismo" ou "mediunismo", mas nunca "espiritismo".

Isso incluiria, por exemplo, toda uma infinidade de matizes sincréticos que se pode observar em grupos que mesclam as visões kardequianas com as tradições e os conhecimentos vindos das religiões africanas.

Para as pessoas que professam essa ideia de que "espiritismo é só aquele segundo preconizado por Kardec, sem desvios", o termo "espiritismo kardecista" ou "kardecismo" seria, consequentemente, redundância e erro.

Muitas vezes, elas reforçam seu argumento dizendo que foi Kardec que criou o termo "espiritismo" e "espírita", invocando, explícita ou implicitamente um certo direito a monopólio do uso destes termos.

Creio que há algumas considerações a serem expostas com relação a isso.

Em primeiro lugar, realmente parece ser correcto dizer que Kardec criou os termos "espírita" e "espiritismo".

Uma consulta a alguns dicionários etimológicos (que tratam da origem das palavras de uma determinada língua, tentando registar o momento em que elas primeiramente apareceram) parece corroborar tal afirmação.

O "Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa" (de António Geraldo da Cunha e colaboradores, Rio de Janeiro - RJ, Editora Nova Fronteira, 1982.) regista: espiritismo - 1875, do Fr. spiritisme, o que indica o aparecimento do termo no português brasileiro em 1875, remetendo à origem anterior francesa.

De modo complementar, o dicionário etimológico francês "Dictionaire Etymologique de la Langue Française" (Albert Dauzat - 7e édition - Librairie Larousse - Paris, 1938 - Imprimerie Larouse, 1947) regista: spirite (1858, Legoarant), ellipse de l'angl. sprit - rapper, esprit frappeur (spirit, du lat. spiritus). Dér.: spiritisme (1872, L.), o que parece indicar uma origem francesa para o termo "espírita", em meados do século dezanove.

Corroborando os dados acima, o próprio Kardec alude ao facto de ter criado tal termo, e de ter sido inclusive criticado por isso por contemporâneos seus, devido à introdução de "barbarismos", segundo alguns (ou "neologismos", em uma apreciação técnica mais isenta).

Em "O Livro dos Espíritos", logo no primeiro parágrafo da introdução, Kardec apresenta a obra por ele "codificada" justificando o uso do termo "espiritismo":
"Para se designarem coisas novas são precisos termos novos...
Os vocábulos espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida...
...o espiritualismo é o oposto do materialismo.


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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 09, 2013 11:42 pm

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Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista.
Não se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível.

Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo..."
.

Igualmente, Kardec discorre da seguinte maneira em "O que é o Espiritismo?" (página 66 da edição 38; Federação Espírita Brasileira).

Em hipotético diálogo com um céptico, Kardec recebe a seguinte pergunta:
"Pergunto-vos, em primeiro lugar, qual a necessidade da criação de novos termos:
espírita e espiritismo, para substituir:
espiritualista e espiritualismo, que são da língua vulgar e por todos compreendidos?
Já ouvi alguém classificar tais termos de barbarismos.".


Finalmente, em "Obras Póstumas" (página 381; edição 27 - F.E.B.):
"Criamos a palavra Espiritismo, para atender às necessidades da causa,...".

Muita coisa leva a crer que realmente Kardec, ou o movimento espírita francês de meados do século passado a ele intimamente ligado, criou os termos espírita e espiritismo.

Há, contudo, algumas peculiaridades com relação a essa criação que fazem com que tais termos possam, de todo direito, ter um uso e uma significação bem mais elástica do que querem os kardecistas ortodoxos mais extremados.

Em primeiro lugar, ao criar-se o termo espírita, e espiritismo, foram utilizados radicais "vivos" da língua francesa.

É muito comum nos meios científicos evitar-se tal prática, preferindo-se o uso de radicais que remetam à língua grega antiga, ou ao latim (às vezes rotuladas de "línguas mortas"), de modo a garantir um certo monopólio com relação ao termo que se criou, e de modo também a manter tais termos distantes do "domínio público" e das flutuações semânticas da língua viva onde o novo termo está aparecendo.

A regras de taxonomia, nomeando e classificando as diversas espécies de seres vivos, são um exemplo disso.

Na verdade, o próprio Kardec parece ter tido justamente isso em mente, criando um termo que pudesse ser claramente entendido e utilizado por qualquer francês de sua época.

Na mesma Introdução de "O Livro dos Espíritos" (primeiro parágrafo) já citada mais acima, Kardec afirma claramente:
"...empregamos, para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de serem perfeitamente inteligíveis,...".

Fica claro que Kardec, ou o movimento espírita ao qual ele estava ligado, quis criar um termo que tivesse um carácter "público".

É contraditório querer criar um termo com feições públicas num momento inicial e, posteriormente, querer dar a tal termo um uso monopolizado
(como querem alguns kardecistas, e como, aparentemente, quis o próprio Kardec mais para o fim de sua vida...).

O segundo problema na criação dos termos espiritismo e espírita, que aliás complementa o que foi dito logo acima, é que juntamente com sua "criação" veio sua "definição" nas obras iniciais da "codificação" kardequiana.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 09, 2013 11:42 pm

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Na introdução de "O Livro dos Espíritos", primeiro parágrafo, Kardec afirma:
"Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível.
Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.".


Também, em "O que é o Espiritismo?" (página 66, edição 38 - F.E.B.) Kardec responde em seu hipotético diálogo com um céptico:
"De há muito tem já a palavra espiritualista uma acepção bem determinada;
é a Academia que no-la dá: Espiritualista, aquele ou aquela pessoa cuja doutrina é oposta ao materialismo.

Todas as religiões são necessariamente fundadas sobre o espiritualismo.
Aquele que crê que em nós existe outra coisa, além da matéria, é espiritualista, o que não implica a crença nos Espíritos e nas suas manifestações.

Como o podereis distinguir daquele que tem esta crença?
Ver-vos-eis obrigado a servir-vos de uma perífrase e dizer:
É um espiritualista que crê ou não crê nos Espíritos.".

E ainda na mesma obra "O que é o Espiritismo?", página 59, em hipotético diálogo com um visitante crítico, Kardec responde:
"Em resumo, senhor, todos têm completa liberdade de aprovar ou censurar os princípios do Espiritismo, de deduzir as consequências boas ou más que lhes aprouver, porém a consciência impõe ao crítico a obrigação de não dizer o contrário do que ele sabe que é;
ora, para isso, a primeira condição é não falar do que não conhece.".


Kardec chega a dar uma definição extensa do que é o espiritismo neste livro, quando, na página 50 - preâmbulo, ele afirma (as letras maiúsculas são conforme aparecem no próprio livro):
"O ESPIRITISMO É, AO MESMO TEMPO, UMA CIÊNCIA DE OBSERVAÇÃO E UMA DOUTRINA FILOSÓFICA.
COMO CIÊNCIA PRÁTICA ELE CONSISTE NAS RELAÇÕES QUE SE ESTABELECEM ENTRE NÓS E OS ESPÍRITOS;
COMO FILOSOFIA, COMPREENDE TODAS AS CONSEQUÊNCIAS MORAIS QUE DIMANAM DESSAS MESMAS RELAÇÕES.


Podemos defini-lo assim:
O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.".

É importante ressaltar que as definições expostas nos três parágrafos acima se deram em uma época em que o espiritismo já se encontrava extremamente bem desenvolvido.

Se referem aos dois primeiros livros da "codificação", "O Livro dos Espíritos" e "O que é o Espiritismo?".

O Livro dos Espíritos é uma obra que desenvolve os aspectos científico, filosófico, e moral (religioso) do espiritismo em um nível de profundidade bastante pleno.

Do meu ponto de vista, muito pouco se acrescentou além dele.
Não se justificaria, portanto, definições imaturas a respeito do tema.

Como pode alguém querer criar um termo com características "públicas", lhe dar uma definição bastante flexível (nessas definições iniciais do termo "espiritismo" se enquadrariam sem nenhum problema qualquer adepto do umbandismo brasileiro, já que Kardec restringe o significado de "espírita" apenas ao facto de crer-se na existência dos espíritos e na possibilidade de comunicação com eles) e posteriormente querer reverter tal situação?

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 10, 2013 10:24 pm

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Na verdade, isso é o que é pretendido pelos que negam a umbandistas, por exemplo, o direito de (e o acerto ao) se auto intitularem "espíritas".

Isso também foi o que pretendeu Kardec mais para o fim de sua vida, quando afirmou, em um tom um tanto quanto metódico e autoritário:
"Criamos a palavra Espiritismo, para atender às necessidades da causa;
temos, pois, o direito de lhe determinar as aplicações e de definir as qualidades e as crenças do verdadeiro espírita."

("Obras Póstumas"; página 381; edição 27, F.E.B.).

Nessa ocasião, Kardec deixou à mostra algumas de suas contradições internas, além de expor uma faceta de sua personalidade por vezes excessivamente metódica e autoritária (características essas que sem dúvida exerciam efeitos maléficos em determinadas situações, mas também benéficos em muitas outras, e que além disso eram bastante compatíveis com a época e o lugar onde viveu Kardec).

Creio que toda essa situação que cerca a criação dos termos "espiritismo" e "espírita" torna justo e acertado denominarmos de "espiritismo" qualquer actividade ou prática científico-religiosa que tenha por base os pré-requisitos inicialmente expostos por Kardec, ou seja:
que haja uma crença na existência de espíritos;
e "que haja uma crença na possibilidade de comunicação com eles.


Tal facto, consequentemente, levaria à conclusão ou ao ponto de vista de haver várias "correntes" ou "linhas" diferentes dentro do que se poderia chamar de espiritismo.

Uma linha que tente se aproximar o máximo possível dos postulados desenvolvidos por Kardec ao longo de sua vida deveria, portanto, ser com maior precisão denominada de "kardecismo".

E é obedecendo a tais requisitos de precisão e clareza que utilizo o termo "kardecista" em meus artigos ao me referir a tal vertente do espiritismo.

É curioso assinalar que talvez quem  tenha utilizado pela primeira vez o termo "espiritismo kardecista" foi justamente um dos principais seguidores imediatos de Kardec, Henri Sausse, autor da Biographie d'Allan Kardec (que consta da edição brasileira do livro "O que é o Espiritismo" editado pela FEB), tendo fundado em 1915 o jornal "Le Spiritisme Kardéciste"
(citado no livro "Allan Kardec, Pesquisa Bibliográfica e Ensaios de Interpretação"; de Zeus Wantuil e Francisco Thiessen; volume 3 - página 300 - FEB).

Finalmente, é importante ressaltar que registos dicionarizados da língua portuguesa no Brasil incluem verbetes como "kardecismo" e "kardecista" já de longa data.

Em "Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa" (segunda edição, Editora Nova Fronteira, 1986), temos:
kardecismo - Doutrina religiosa de Allan Kardec;
kardecista - 1. pertencente ou relativo a Allan Kardec ou ao kardecismo.
3. adepto do kardecismo.

E em "Enciclopédia Universal" (Editora Pedagógica Brasileira LTDA, - São Paulo - 1969) temos:
kardecismo - Doutrina de Allan Kardec, espiritismo;
kardecista - aquele que adopta as doutrinas de Allan Kardec. Relativo a kardecismo.

E como seria naturalmente esperado dentro de qualquer movimento ou actividade humana, o próprio kardecismo possui determinadas subdivisões.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 10, 2013 10:25 pm

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Um exemplo curioso disso pode ser encontrado no site do Grupo Espírita Bezerra de Menezes - São José do Rio Preto - SP ( http://www.novavoz.org.br/).

Neste site pode ser encontrada uma página remetendo a "temas polémicos" (http://www.novavoz.org.br/reforma-03.htm - verifiquei, em Novembro de 2007, que este link específico está inválido) e dentre os artigos abordando tais temas polémicos há um em especial que critica uma das vertentes do espiritismo kardecista, os "laicos", como são denominados no artigo.

(http://www.novavoz.org.br/os_laicos.htm).
Os autores da página, por sua vez, seriam adeptos da "reforma", sendo "reformistas".

Espero que a maioria dos kardecistas julgue o assunto deste artigo, as polémicas e minúcias expostas aqui, sem importância.

Na verdade é isso que eu mesmo penso a respeito disso. (recomendo, contudo, uma interessante discussão sobre o tema, em dois artigos com os títulos: Porque Não Sou Espírita Kardecista, neste link,http://www.espirito.org.br/portal/artigos/geae/porque-nao-sou.html e Porque Sou Espírita Kardecista, neste linkhttp://www.espirito.org.br/portal/artigos/geae/porque-sou.html)

Acho importante, contudo, discorrer sobre esse tema para buscar um certo grau de exactidão no  uso de determinadas palavras neste site, e também por sentir que existe frequentemente, por parte dos que querem o monopólio do uso dos termos "espiritismo" e "espírita", uma postura de injustificável desvalorização para com o ponto de vista de outros grupos, dissimulada em explicações erroneamente construídas quanto à etimologia e correcção no uso de tais termos.
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[púrpura]"Quando me deparo com uma imprecisão escrita em um livro por alguma pessoa, fico desencorajado e me pergunto se posso realmente aprender alguma coisa de um autor que já provou estar errado em pelo menos um ponto."

Eminente físico do século XX, ganhador do prémio Nobel pela descoberta dos Quarks.  

"A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular."

Obscuro carpinteiro de Nazaré do início da era cristã.

Haveria alguma semelhança entre lugares como Nazaré, Brooklyn, bairros pobres do Rio de Janeiro, e Abdera?

Muitos talvez, ao tomarem contacto inicial (e superficial) com os conteúdos deste Site, pensem da seguinte forma:
"Bem, já que há erros no kardecismo, podemos pô-lo de lado, esquecê-lo, execrá-lo.
Mais uma criação do lado falho e fraco da alma humana que vai para a lata de lixo da História!"


Temos em geral em nossas sociedades uma postura bastante eugénica com relação ao erro.
Erro é para ser jogado fora, execrado.

Já não podemos chegar mais aos extremos de Esparta, jogando fora os humanos fisicamente defeituosos, mas talvez não tenhamos avançado tanto assim no entendimento de que talvez haja, pelo menos muitas vezes, valor em coisas que podemos considerar "erradas".

Mesmo não concordando com muitas das conclusões de Kardec, e de kardecistas posteriores, quanto à interpretação dos fenómenos mediúnicos, vejo muito valor no kardecismo e no espiritismo de uma maneira geral.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 10, 2013 10:26 pm

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E a existência de erros, ao invés de me levar a abandonar o estudo desses fenómenos, me leva, paradoxalmente, a ter um maior interesse nesses estudos.

Pessoalmente, já há muito tempo venho tendo contactos bem peculiares com o erro.
E acabei desenvolvendo uma postura de julgar o erro algo repleto de mistérios, potenciais e funções muitas vezes insuspeitadas.

Um exemplo curioso é a nossa própria língua falada (e a escrita também).
Muitas vezes percebemos "erros" na fala de crianças ou de pessoas com pouca "cultura", e julgamos tais erros como falta de conhecimento, falta de capacidade (ou até... burrice).

Dificilmente imaginamos rotineiramente que tais erros possam ser efectuados com uma intenção consequente (ainda que inconsciente) e uma lógica interna, e serem fruto de um conhecimento acertado a respeito do mundo.

Imagine frases infantis como, "Eu sabo" ao invés de "Eu sei", construída porque a criança na verdade percebeu a regra da segunda conjugação dos verbos:
comer - eu como; vender - eu vendo; logicamente então saber - eu sabo!

Ou repare os erros "de falta de cultura", como:
"Os homem tá tudo com fome" ao invés de "Os homens estão todos com fome".

Esse exemplo, sem dúvida, precisaria da análise científica de um linguista ou de um sociolinguista experiente.
Mas como falante do português brasileiro (carioca) posso aventar algumas possibilidades.

Se você falar "os homens estão todos com fome", você estará usando o plural quatro vezes em uma única frase.

Aí poderíamos perguntar:
quantas vezes eu tenho que assinalar que estou falando no plural para que você perceba isso?
Sem dúvida, menos que quatro!

Curiosamente, erros oriundos das classes "incultas" acabam frequentemente sendo incorporados na norma culta após algum tempo:
décadas, séculos, enfim...

O pleno reconhecimento da lógica anteriormente repudiada (a pedra angular), e sem direito a indemnizações, royalties ou lápides comemorativas!

O historiador brasileiro Daniel Aarão dos Reis Filho retrata em seu livro "A Revolução Alemã, Mitos e Versões" um outro tipo de erro tão execrado ao ponto de ser esquecido:
as revoluções fracassadas (quantos sabem que a Primeira Grande Guerra Mundial terminou com os soldados alemães se recusando a ir à guerra e assumindo o poder no país em conselhos de soldados, operários, e camponeses, bem aos moldes dos soviets russos?).

Ele aponta os riscos da visão idealizada estimulada pelas revoluções vitoriosas, que acabam sendo vistas de modo esquemático e empobrecido, quase como receitas de bolo.

E, no pólo oposto, ele ressalta a possibilidade que o estudo das revoluções fracassadas abre a uma análise menos dogmática e consequentemente mais reveladora a respeito dos processos sociais, suas possibilidades e limites.

O nosso próprio corpo é um palco onde o erro interage com o acerto até mesmo na manutenção da saúde física.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Nov 11, 2013 10:45 pm

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Várias doenças são causadas por anticorpos que sintetizamos contra nós mesmos, doenças essas conhecidas como auto-imunes.

Curiosamente, todos possuímos esses auto-anticorpos em quantidades mínimas, mesmo que não tenhamos tais doenças.

Nas pessoas saudáveis, esses auto-anticorpos, produzidos por células chamadas às vezes de "clones proibidos", exercem importantes funções de regulação do funcionamento do sistema imunológico, em verdadeiras redes de interacções moleculares.

Igualmente, coisas tão indesejáveis quanto a presença de vermes intestinais em nosso corpo, podem ser, paradoxalmente, mantenedoras da saúde.

Há uma curiosa relação de muitos processos alérgicos com verminoses, ou melhor, com a ausência de verminoses!

Ao ponto de certa vez eu assistir a um impressionante programa no canal de TV a cabo "discovery channel" onde um médico inglês estava estudando o uso de pequenos vermes intestinais no tratamento de enterocolites hemorrágicas (graves inflamações intestinais crónicas acompanhadas de forte sangramento) de fundo alérgico.

O sucesso de sua terapia na maioria dos casos era excepcional.

Um fenómeno cujo entendimento talvez tenha sofrido fortemente com nossa aversão ao erro, atrasando possivelmente o progresso do conhecimento humano por décadas, é o das mutações cromossomiais.

Durante muito tempo, mutações eram quase que exclusivamente sinónimo de "erro" na mente dos cientistas.

Pelo menos desde o início da década de 40 (do século XX), já havia indícios e recursos para identificar neste fenómeno algo mais do que desprezíveis "equívocos" da maquinaria celular.

Contudo, só em fins da década de 80 começou-se a vislumbrar de forma mais plena a impressionante riqueza de como as células se utilizam de mutações, controlando-as, limitando-as, deflagrando-as, e às vezes, aparentemente (pelo menos aparentemente...) planeando-as com finalidades específicas.

Em uma área radicalmente diferente, a Informática, o erro, ou a possibilidade de erro, parece estar relacionada à criatividade, enquanto que a ausência dele seria inibidora de tal criatividade, em uma curiosa imitação da vida.

Pelo menos segundo o relato de alguns profissionais de informática que pude ouvir em algumas ocasiões (analistas de sistema, engenheiros de computação), era, há alguns anos atrás, muito mais fácil fazer programas criativos do tipo "jogos" para sistemas operacionais mais permissivos com relação a erros, como o sistema DOS, do que para sistemas altamente intolerantes para com os erros, como o sistema Windows NT (verdadeiro general prussiano).

Alguns chegavam a afirmar, em tom informal (e talvez não rigorosamente técnico), que os programadores de jogos de computador precisavam, muitas vezes, poder trapacear com os próprios códigos de seus programas...

A psicóloga brasileira Leila Dupret, em seu livro "Errar é Humano", faz análises e exposições muito interessantes a respeito da natureza do erro e de como nos posicionamos com relação a ele.

Uma primeira (e talvez a mais disseminada) postura com relação ao erro é a de ver nele um desvio.
Esse erro-desvio deve unicamente ser corrigido, extirpado.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Nov 11, 2013 10:46 pm

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Talvez seja melhor até esquecê-lo;
lembrá-lo, só para evitá-lo!

Uma segunda postura seria a de ver no erro um desafio, uma etapa necessária, mas que deve em última instância ser rectificado e superado.
Esse seria o erro-desafio.

Uma postura radicalmente diferente, seria a de ver o erro com erro-informação, algo que pode ser por vezes indispensável e, além disso, pode vir a ser incorporado na construção de coisas que dão certo, que funcionam com sucesso.

Ou seja, esse erro se transubstancia em acerto!
Se há coisas erradas no Universo, sem dúvida nada pode personificar mais a imagem do erro e dos desvios do que os... demónios.

Curiosamente, a pesquisadora de assuntos bíblicos estado-unidense Elaine Pagels, em um livro intitulado "As Origens de Satanás", mostra que no início dos períodos e relatos bíblicos os demónios tinham caracterizações e funções muito diferentes do que nos acostumamos a ver nos últimos séculos (ou milénios).

Eles eram quase que enviados de Deus, não necessariamente maus, e nem indutores do mal, apenas apresentadores de desafios a serem vencidos, sendo tão "bons" e divinos quanto qualquer anjo, e desempenhando funções indispensáveis à manutenção da ordem e do funcionamento do Universo.

Há muitos profissionais que trabalham nas fronteiras da sociedade.

Mais ou menos como uma célula biológica, a sociedade humana possui extensas regiões centrais onde só chegam notícias do que se passa nas fronteiras através dos tenebrosos noticiários das TVs e jornais.

No centro da sociedade se encontram a família, as escolas, os jardins, os cinemas, a maioria das empresas.

Na periferia, na membrana celular que separa a ordem e o funcionamento interno, do caos e da loucura externa, se encontram profissões, ou ocupações, como a dos profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, auxiliares, paramédicos), psicólogos, pesquisadores, filósofos, policiais, magistrados.

Também na fronteira, se bem que do lado de fora, se encontram os loucos, os criminosos graves...

Essas profissões, ocupações, e actuações do género humano encontram, muito mais do que quaisquer outras mais centrais ao corpo celular da sociedade, uma ambiguidade muito maior entre o erro e o acerto, o válido e o inválido.

Curar, matar; descobrir, ocultar; seguir a lei, ou fugir dela.

São extremos que talvez estejam mesmo na base de nossa visceral aversão sequer à possibilidade de erro, como se nos lembrassem de que o erro, apesar de poder trazer avanço e prosperidade (erro-informação), pode também trazer destruição, dor e desagregação profunda (erro-desvio), como o rompimento da membrana de uma célula.

Na nossa incansável e insana busca da superação do erro, do feio, e do relativo, estamos sempre tentando construir e alcançar o acerto, o belo, e o absoluto.

Muitos já afirmaram que Deus é uma construção humana motivada por sentimentos similares aos que descrevi nos parágrafos acima.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Nov 11, 2013 10:46 pm

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Há muitos, porém, para quem Deus não basta.
É necessário algo mais absoluto ainda.

Um bom candidato seria a Matemática.
Afinal, ela é exacta, abstracta, absoluta, incorruptível, e isenta de erros ou contradições.
Bem, disso todos sabemos.

Mas o ideal seria ir além de reconhecer todos esses divinos atributos da Matemática.

O ideal seria poder escrever todos esses atributos em uma maravilhosa equação matemática, um axioma, essas coisas cheias de números e letras que só os matemáticos entendem, e na maioria das vezes, nem eles.

Pois bem, foi exactamente isso que (segundo consta em um belíssimo relato feito pelo físico-matemático Roger Penrose em seu livro "A Mente Nova do Rei") um grupo de matemáticos, liderados pelo brilhante matemático Hilbert, tentou fazer em fins do século XIX e inícios do século XX.

Seria a própria Torre de Babel da matemática.
Acho que daria mesmo para alcançar os céus e jogar Deus lá de cima, rolando escadas abaixo.

Contudo, como sempre tem de acontecer, apareceu um jovem matemático-lógico austríaco, Kurt Gödel, que fez uma demonstração que eu pessoalmente julgo um dos maiores triunfos da mente humana.

Uma verdadeira Teoria da Relatividade para a Matemática, assim como Einstein (de quem, aliás, Gödel era amigo) havia feito para a Física.

Gödel demonstrou que a verdade matemática (e talvez, consequentemente, toda e qualquer verdade) não pode ser contida em nenhuma equação ou teorema que a demonstre de modo independente da observação e julgamento humano.

A verdade matemática não é absoluta, ela é relativa.

Até mesmo a Matemática, o supra-sumo da abstracção e do absoluto, não escapa à esta temática que diz que tudo esta relacionado entre si, de que nada se basta por si só, e de que talvez nada, absolutamente nada, possa ser retirado deste Universo sem consequências catastróficas!

No livro "Cosmos", o astrofísico estado-unidense Carl Sagan fala em um capítulo sobre alguns filósofos gregos pré-socráticos, e um relato curioso em especial é com relação a Demócrito.

Demócrito era da cidade ultramarina de Abdera, e Sagan diz que, naquela época, Abdera era vista com grande desprezo pela comunidade grega.

Era um local de onde não se esperava que pudesse surgir nada de grande valor.

Bem similar ao que é dito de Jesus no Evangelho de João, capítulo I, versículo 46:
"Alguma coisa boa pode vir de Nazaré?".

Sagan afirma ter vivenciado um estigma similar, pois seu próprio bairro natal, o bairro nova iorquino do Brooklyn, é (ou era) visto de modo pejorativo, uma verdadeira Abdera nova-iorquina.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Nov 12, 2013 11:19 pm

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Achar que as coisas não são absolutas, mas sim relativas e relacionadas umas às outras, está na base de pensamentos como o do psicólogo (discípulo e, depois, dissidente de Freud) Carl G. Jung, que discorreu inclusive sobre o que chamou de (ou nos chegou através das traduções como) "sincronicidade", que poderia talvez ser retratado como as curiosas coincidências que parecem revelar uma trama temática subjacente ao funcionamento do Universo.

Curiosamente, estava eu certa vez justo em Abdera, ou melhor, em um bairro pobre do Rio de Janeiro, e havia justamente terminado de dar uma aula para alunos do município onde, por motivos que não me lembro bem, falei sobre a dicotomia entre o atomismo (de Demócrito de Abdera) e o holismo, quando, iniciando meu retorno para casa e próximo à uma decaída e empoeirada estação de trem, encontrei o mais improvável dos objectos:
uma pequena tira de pano, uma etiqueta como que de roupa, escrita Abdera.

Nunca havia ouvido falar de qualquer fábrica ou indústria com esse nome, nem pude encontrar qualquer pessoa que houvesse.
E da Abdera grega, só havia ouvido falar uma vez, quando li o livro Cosmos!

Coincidência? Sem dúvida. Mas... um pouquinho em demasia!

 Criticando Kardec Abdera

As profundidades do desconhecimento humano são abissais.

Por isso, respeito e humildade são dois sentimentos que nunca são demais ao olharmos qualquer coisa deste mundo, em especial se quisermos criticar (ou até condenar).

E é sob esta óptica que vejo os erros em geral, e também este estudo de "erros kardecistas-mediúnicos" em especial.

Bem aos moldes daquela saudação originária do misticismo hindu, onde se afirma que "o meu Deus interior saúda o seu Deus interior", acho que devemos ter sempre em mente que somos fruto de mais de três biliões de anos de evolução biológica, e quase vinte biliões de anos de "evolução", ou melhor, de desenvolvimentos e de movimentos cósmicos (e isso unicamente sob o ponto de vista científico-materialista.

Se incluirmos a possibilidade de existência e desenvolvimentos-evolução de princípios espirituais, a situação se complica consideravelmente
).

Talvez levemos milénios, ou até mesmo milhões de anos, para ter consciência do que verdadeiramente significa essa herança de bilhões de anos de interacção evolutiva.

Uma das imagens divinas que mais aprecio é a do Deus hindu Shiva Nataraja, O Senhor da Dança Cósmica.

Shiva é, verdadeiramente, um Deus poderoso.
Mais poderoso talvez que o Deus Católico, ou que o Deus Kardecista
(eu sei, eu sei... Tem aquela história de que o Deus é um só. Pode ser que seja de facto assim, quem sabe?).

Ele é o Deus da criação e da destruição, sustentando com sua dança o infindável ritmo do Universo.

Talvez ele exista verdadeiramente, de um modo muito mais real do que possamos cientificamente aceitar
(ou mesmo teologicamente, dentro das nossas concepções ocidentais).

Suas representações em pinturas e esculturas são altamente ricas em simbolismos, como é regra na cultura indiana.

Ele aparece encenando uma dança, de criação e destruição, segurando em uma de suas quatro mãos o tambor da criação universal (big bang?), e em outra o fogo da destruição dos mundos.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Nov 12, 2013 11:20 pm

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As suas duas outras mãos não são efectoras de trabalhos práticos (sim: ao contrário do asséptico Deus kardecista que não interage com a matéria, e juntamente com os "espíritos puros" se dedica unicamente a tarefas mentais "superiores", Shiva põe a mão na lama quando necessário).

Essas duas outras mãos são mãos teológico-terapéuticas, e interagem não com a matéria, mas com a consciência que habita esta matéria (e que talvez seja mesmo uma propriedade dela).

A mão aberta em nossa direcção nos diz para que não tenhamos medo (medo de Shiva, e do fluxo dos processos de criação e de destruição).

A última das quatro mãos aponta para a perna levantada, uma perna que viola todos os princípios das leis físicas conhecidas e demonstra a realidade que transcende aos ilusórios sentidos e conhecimentos (ciências) humanos.

Mas a perna que me interessa aqui é a última.
Ela está praticando a menos provável atitude que se poderia esperar de um Deus: a tortura!

Observem na figura que incluí no fim desta página como sofre a pobre criatura sob o cósmico peso de Shiva.
Deve realmente doer...

Essa figura é por vezes definida como um demónio, ou como a ignorância.
Sem dúvida é a personificação do próprio erro.
Curioso que o Deus que lhe está por cima tem seis membros.

Não conheço outras criaturas vivas na Terra além dos insectos que possuam seis membros...
Como os hindus julgam todas as criaturas vivas possuidores da Divindade, pode até haver um simbolismo inconsciente nesse sentido em tal imagem.

Coloque-a de cabeça para baixo, e veremos o ápice da evolução na Terra:
o homem, com seus desconhecimentos e ignorâncias, sobre os insectos, biologicamente quase divinos.

Mas deixemos Shiva em pé mesmo (não é aconselhável irritar um Deus como esse...).

Agora, imaginemos que, muito rapidamente, alguém (um louco ou uma criança) puxe rápida e vigorosamente o demónio da ignorância sobre o qual Shiva realiza sua dança.

O que acontece?
Esse é um dos lados curiosos do simbolismo.
Nós podemos saber onde ele começa, mas nunca saberemos onde ele acaba.

Não creio que, originalmente ou conscientemente, os hindus tenham tido a intenção simbólica de retratar isso, de falar desta faceta que eu creio firmemente haver no Universo. No entanto, ela está lá, viva e clara!

Shiva cairá.
Toda a dança da criação e da destruição ruirá de forma desastrosa!

Acho que, dentro de sua sabedoria milenar, e sua capacidade de acessar, através das práticas místicas, essa herança que todos possuímos de biliões de anos de conhecimento interactivo, a cultura hindu quis passar, ou mesmo sem querer acabou passando, também essa riqueza de visão sobre o funcionamento do Cosmos.

Uma riqueza bizarra e paradoxal, mas talvez tão básica quanto qualquer lei da física, ou postulado teológico sacro:

"Sem o Erro, o nosso Universo não se sustenta!"
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§.§.§- O-canto-da-ave
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 13, 2013 10:25 pm

Aviso: Esta Página Está Sofrendo Alterações e Revisões (novembro 2007)

Erros em Algumas Obras Psicografadas por Chico Xavier e Divaldo Franco

* Por favor, leitores, entendam o termo "erros" por "itens que possivelmente estão errados".

Em algumas situações, tudo parece de facto indicar que se tratam de erros mesmo.

Em outras, a situação é mais difícil de assegurar, ou por falta de robustez no meu conhecimento (ou no conhecimento da ciência actual), ou por falta de clareza na exposição do "espírito" em questão, o que, nesse último caso, pode tornar o texto específico em análise passível de ser interpretado de diversas maneiras diferentes. (15 de novembro de 2007).

As páginas contendo exposição de "erros científicos" do kardecismo, ou contendo críticas ao aspecto científico do mesmo, serão precedidas sempre de três breves secções:
uma chamada à reflexão com relação a se esta abordagem é ou não adequada ao leitor;

uma explicação resumida de como vejo o aspecto científico do kardecismo;

e uma avaliação inicial de como devem ser interpretados os
"erros" ou os "acertos" do kardecismo.

Este texto se destina exclusivamente à avaliação e crítica do aspecto científico do espiritismo kardecista e dos fenómenos mediúnicos de uma maneira geral.

Se a sua relação com o espiritismo-kardecismo for eminentemente religiosa, e não científica, talvez o conteúdo deste texto não lhe seja recomendável.

Vivemos em uma época em que a ciência é vista como a verdadeira [vermelho]"dona da verdade"[preto], a única ferramenta capaz de nos dar um conhecimento válido a respeito da realidade do mundo, de dizer o que é verdadeiro e o que é falso.
No meu entender, isso é um grande equívoco.

Vejo a ciência apenas como uma maneira a mais de olhar a realidade.

O olhar da religião, o olhar da Fé, também é, creio, uma maneira válida de entender o mundo, sendo talvez capaz de penetrar mistérios e compreender facetas do Universo que a ciência jamais será capaz de entender.

Críticas "científicas" podem, às vezes, enfraquecer injustificadamente a fé de certas pessoas.

Acredito firmemente que uma teoria científica, ou uma revisão crítica sob uma óptica científica, tem um valor que não deve ser colocado acima do valor das visões e intuições da Fé.

São talvez apenas maneiras diferentes de acessar a realidade, com características (erros e acertos, potenciais e limitações) diferentes.

Se você tem certeza de que a abordagem que faremos aqui lhe é apropriada, sua leitura do texto desta página será para mim um prazer e uma honra.

E suas eventuais críticas e comentários serão bem vindos e enriquecedores.

(Júlio Siqueira. juliocbsiqueira@terra.com.br)

O objectivo deste texto é discutir de forma crítica o aspecto científico de uma das vertentes do espiritismo em especial: o espiritismo "kardecista".

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 13, 2013 10:26 pm

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Os conteúdos incluídos neste texto partem dos seguintes pressupostos:

1- O espiritismo é uma fonte válida de acesso ao conhecimento da realidade objectiva.
Contudo, há que se ver com grande cautela aquilo que é tido como "informações a nós transmitidas por espíritos".

2- Há, na verdade, várias "correntes" dentro do que se poderia, com alguma precisão, chamar de "espiritismo"[i] (mesmo havendo elementos apontando para o facto do termo "espiritismo" em si ter, de facto, sido criado por Allan Kardec na França em meados do século XIX), [i]justificando a identificação da existência de um "espiritismo kardecista".

3- O espiritismo kardecista possui, mesmo em seus postulados mais básicos, aspectos mal avaliados, e conclusões equivocadas.

Na verdade, este texto busca, tomando por modelo a tentativa de uma abordagem crítica à faceta científica do espiritismo kardecista, contribuir para o esforço de entendimento e de interpretação do conjunto dos fenómenos "mediúnicos" de um modo mais geral:
suas características, potencialidades, e limitações.

Há uma enorme diferença entre, de um lado, identificar erros no kardecismo e, de outro lado, interpretar o significado de tais erros.

De modo similar, é também difícil, e complexo, interpretar os acertos do kardecismo.

Os erros podem ser interpretados como uma indicação de que o kardecismo (ou o espiritismo e o "mediunismo") é falso?

Os acertos podem ser interpretados como uma indicação de que o kardecismo é verdadeiro?

Ou seriam os erros, ao contrário, indicadores de que há inúmeras complexidades e "interferências" actuando nas comunicações mediúnicas, sem necessariamente invalidá-las?

Ou, também ao contrário, seriam os acertos
(mesmo se algum espírito tiver dito no século XIX que "Em uma das luas de Júpiter há vulcões activos como na Terra") apenas golpes de sorte?

E para piorar, será que o que identificamos
(à luz do nosso falho conhecimento e à luz do falho conhecimento da "ciência" actual) como "erros", ou como "acertos", são realmente erros e acertos?

Todas essas questões nos levam, forçosamente, a uma posição de grande cautela com relação a como nos posicionamos diante da identificação de "erros no kardecismo".

A única coisa que parece claramente certa nisso tudo é que "a pressa é, também, um erro".

Erros em Algumas Obras Psicografadas por Chico Xavier e Divaldo Franco

Comentários Iniciais Sobre As Obras Analisadas:

Chico Xavier e Divaldo Franco, além de serem médiuns, têm exercido acções assistenciais de grande valor humano por muitas décadas.

São também personalidades sem dúvida da mais alta idoneidade moral e de grande desprendimento em suas dedicações à causa espírita e ao auxílio às pessoas necessitadas.

Divaldo manifestou também o fenómeno da Xenoglossia (conhecimento inato de idiomas não aprendidos nesta vida), psicografando textos em alemão, francês, italiano
(informação obtida no site de Divaldo e da Mansão do Caminho: http://www.mansaodocaminho.com.br).

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 13, 2013 10:27 pm

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A mediunidade de Chico Xavier é, também, fonte de "acertos" notáveis, incluindo comprovações da autenticidade gráfica de textos psicografados por ele confrontados com a grafia do espírito autor quando encarnado (relatados no livro "A Psicografia à Luz da Grafoscopia", do perito em grafoscopia Carlos Augusto Perandréa).

Além disso, vários textos assinados por Emmanuel passam, a meu ver, mensagens de sabedoria de vida singular.

Todos esses factos fazem, paradoxalmente, com que o estudo de "erros" nessas obras seja algo muito rico, como se se tratasse de um verdadeiro paradoxo, merecedor de um tratamento muito especial e de conclusões cautelosas.

De uma maneira geral, esse é o mesmo pensamento que tenho com relação a todo o objecto de estudo desse Site, ou seja, os erros nas obras de Kardec e de vários de seus continuadores no espiritismo.

Chico Xavier
Emmanuel
Emmanuel
- Dissertações Mediúnicas sobre Importantes Questões que Preocupam a Humanidade. - 1937-38
FEB - Federação Espírita Brasileira

- Emmanuel [i]afirma, segundo Chico Xavier, ter sido Publio Lentulus
- na parte anterior ao texto do livro propriamente dito.

Comentário:
Algumas fontes afirmam que Publio Lentulus seria uma figura fictícia, uma fraude.

Existem algumas cartas datando de depois do ano 1000 D.C. assinadas por um certo Publio Lentulus que teria sido um representante do governo de Roma em visita à Judeia no tempo de Cristo, e que teria sido testemunha ocular de Jesus e de alguns de seus aptos.

Emmanuel afirma ter sido este Publio Lentulus, segundo ele um senador romano, e conta sua encarnação como tal no livro "Há Dois Mil Anos".

Na internet, os sites "Answers in Action" (http://answers.org/bible/description.html) e "Catholic Encyclopedia" (http://www.newadvent.org/cathen/09154a.htm) apresentam dados que me parecem bastante convincentes no sentido de Publio Lentulus ser realmente uma fraude.

- Marte e Saturno mais evoluídos que a Terra (contraditório com Kardec) - na parte anterior ao livro.

Comentário:
No Livro dos Espíritos, é afirmado justamente o contrário com relação a Marte, ou seja, que Marte seria muito inferior à Terra!

- Emmanuel afirma:
"Todas as teorias que pretendem elucidar os fenómenos mediúnicos, alheios à Doutrina Espiritista, pecam pela sua insuficiência e falsidade." - página 81.

Comentário:
a rigor, Emmanuel deve ter querido dizer que "todas as teorias que pretendem elucidar os fenómenos mediúnicos alheias à Doutrina Espiritista pecam pela sua insuficiência e falsidade".

Do jeito que está escrito no livro, está sendo afirmado que os fenómenos mediúnicos são alheios à doutrina espiritista, o que não creio ser o que Emmanuel quis dizer, obviamente, porque seria um absurdo.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 14, 2013 9:58 pm

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O que ele quis de facto dizer é, também, a meu ver um absurdo, pois da existência de muitos erros nas obras kardecistas, podemos no mínimo concluir que o espiritismo kardecista também peca pela insuficiência e falsidade.

- Emmanuel afirma que:
"em contraposição aos assertos dos negadores, podeis notar que, cientificamente, a Terra é o local no Universo onde a vida encontra mais dificuldades para se estabelecer." - p.89/90.

Comentário:
Se, cientificamente, a Terra é o único lugar onde até hoje pudemos encontrar "vida", fica difícil entender como uma afirmação desta de Emmanuel pode sequer ser feita.

- Emmanuel afirma ser estudioso da evolução das espécies. - p.95.

Comentário:
esta afirmação aumenta consideravelmente suas responsabilidades com relação a quaisquer erros seus em comentários sobre tais matérias.

- Emmanuel chama a atenção para o facto de que doenças infecciosas como a lepra, a tuberculose, e outras permanecerem tão intratáveis quanto há 200 anos antes;
de que os investigadores puderam vislumbrar o mundo microbiano sem saber eliminá-lo por sondarem os fenómenos sem lhes auscultarem as causas divinas;
e de que a saúde humana nunca será o produto de comprimidos...
- p.125.

Comentário:
Esta curiosa afirmação foi feita justamente às vésperas da implantação do uso dos antibióticos no tratamento de diversas doenças infecciosas, tuberculose inclusive, o que sem dúvida revolucionou a saúde humana no século XX.

- Emmanuel parece afirmar que na reprodução das espécies a célula embrionária primeira (fruto da fusão do espermatozóide com o óvulo) seria igual em todos os vertebrados (completamente igual!).

Afirma de facto que a diferenciação de tal célula embrionária primária em um organismo desenvolvido se daria não por nenhuma determinação físico-química, mas únicamente devido ao corpo espiritual preexistente, molde do desenvolvimento do embrião. - p.129/130.

Comentário:
Tal afirmação é contrária ao conhecimento científico actual.
"Erros" similares podem ser vistos nas páginas 138/139.

- Emmanuel deu em 1985 uma nova redacção para uma frase que consta da página 177, segundo nota da FEB no fim da página.

Poderia também, igualmente, ter corrigido os demais erros no conteúdo do livro, admitindo seus desconhecimentos e sua falibilidade, mas não o fez. - p.177.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 14, 2013 9:59 pm

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Chico Xavier
Emmanuel
A Caminho da Luz
- 1938
FEB

- Narrando a criação do sistema solar, e após a descrição da criação da Lua, Emmanuel diz:
"Na grande oficina surge, então, a diferenciação da matéria ponderável, dando origem ao hidrogénio." - p.20.

Comentário:
se realmente é isso o que é pretendido com essa frase, situando criações de átomos de hidrogénio após a consolidação da Terra e da Lua, me parece que há erro aí, pois o hidrogénio é elemento preexistente mesmo aos sistemas solares mais primitivos.

- Emmanuel afirma que na criação da Terra a pressão atmosférica adequada ao homem foi criada já de antemão pelos espíritos (Jesus e colaboradores), contrariando a ideia actual de que houve significativas alterações na atmosfera nos biliões de anos seguidos à solidificação da crosta do planeta.

Ademais, um factor talvez sem grande importância para a vida, ou de importância relativamente contornável, é a pressão, haja vista que mesmo o homem consegue sobreviver a grandes variações de pressão atmosférica - p.21.

- Emmanuel afirma que o ideal de beleza foi sempre um dos norteadores dos escultores do nosso orbe (Jesus e colaboradores), o que nos leva fatalmente à questão de se a beleza é, de facto, uma realidade estética absoluta ou apenas um juízo de valor relativo. p.25/26.

- Emmanuel afirma que os primeiros seres vivos eram similares às amebas e demais unicelulares, e que tais seres encontravam nos oceanos tépidos de então o oxigénio necessário ao entretenimento da vida, oxigénio esse que em terra firme só viria a ser encontrado após o advento das grandes vegetações. p.26/27.

Comentário:
uma posição que parece predominante na ciência actualmente é a de situar a solidificação da crosta planetária por volta de 3,8 biliões de anos atrás, e o aparecimento das primeiras células há 3,5 biliões de anos.

Mas não seriam seres como amebas, pois estas têm núcleo.
Seriam bactérias, seres sem núcleo e bem mais simples.

Seres nucleados só viriam a aparecer há 1,8 biliões de anos atrás ( 1,7 biliões de anos após a origem da vida em nosso planeta!!!).

Ao contrário do que afirma Emmanuel, o oxigénio não só era desnecessário à vida como era também letal para os seres de então.

Só muito mais tarde as células desenvolveram mecanismos bioquímicos para lidar com o altíssimo poder destrutivo do oxigénio.

Igualmente, não foram as vegetações de terra firme que produziram o oxigénio atmosférico que possuímos actualmente, mas sim bactérias fotossintetizantes, que praticamente oxidaram a superfície do planeta inteiro.

Há 1,8 biliões de anos os níveis de oxigénio já teriam subido de praticamente 0 % para 3 % (actualmente são 21 %, aproximadamente).

- Emmanuel afirma que cada espécie viva teve sua linhagem própria desde o início da criação, contrariando a visão da ciência evolutiva actual.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 14, 2013 10:02 pm

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Diz que a semelhança sorológica entre os homens e alguns outros primatas (apenas um exemplo, o macaco Rhesus possui as proteínas de Rh sanguíneas, Rh positivo ou Rh negativo, assim como o homem) se devem não à existência de um ancestral comum, mas sim à convergência evolutiva. p.30/31.

- Com relação à época do "homem primitivo" (possivelmente há 40 mil anos atrás ou menos) afirma que:
"...se as observações do mendelismo fossem transferidas àqueles milénios distantes, não se encontraria nenhuma equação definitiva nos seus estudos de biologia.
A moderna genética não poderia fixar, como hoje, as expressões dos genes..."
- p.36.

Comentário:
Isso equivaleria a dizer o seguinte: se um homem com sangue O negativo se casasse com uma mulher com sangue também O negativo, poderia ter filhos AB positivo, já que as equações da genética mendeliana não se encontravam definidas!

À luz do conhecido e considerado pela ciência actual, isto é um absurdo.[/i]

- Emmanuel afirma que no passado realmente existiram os lendários continentes de Atlântida e de Lemúria (respectivamente no oceano Atlântico e no oceano Pacífico).

Independente de terem de facto existido ou não, Emmanuel afirma que a China e a América do Sul, nesta época, quase eram unidas entre si pelo continente da Lemúria.

Creio que hoje em dia já há mapeamentos submarinos que parecem refutar a possibilidade de existência e destruição no passado de tal continente, pelo menos um continente com as características descritas por Emmanuel.

No link ao lado (clique aquihttp://www.criticandokardec.com.br/lemuria.gif - tamanho: 250 kbytes) inclui um tal mapeamento, que pode ser encontrado nas contracapas da Enciclopédia Conhecer, editada no Brasil em fins da década de 70. p.50/84.

- Afirma que Jesus é crucificado "por imposição do judaísmo", e que "Roma colabora no doloroso acontecimento com a indiferença fria de Pôncio Pilatos". - p.118.

Comentário:
Actualmente, muitos estudiosos afirmam ser mais provável que Jesus tenha sido crucificado por iniciativa dos romanos.

Se de facto isso for assim, a afirmação acima de Emmanuel é muito grave, em especial por se dar às vésperas da Segunda Grande Guerra Mundial e do genocídio dos judeus, e de já estar então provavelmente em andamento as perseguições preliminares aos judeus na Alemanha de Hitler, que subiu ao poder em 1933.

- Emmanuel apresenta uma visão altamente idílica da colonização das Américas.
Igualmente, fala de forma muito idealizada dos Estados Unidos, aos quais se refere frequentemente como "América".
Apresenta a colonização das Américas como um plano divino (de Jesus) com vistas a melhorar espiritual e materialmente a humanidade, e fala dos Estados Unidos quase que exclusivamente como uma terra de virtudes. p.172/173/174/184/185/208/209.

Comentário:
A colonização das Américas foi um verdadeiro genocídio.
Guerras, dominações e doenças exterminaram incontáveis povos e suas ricas culturas.

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