Espiritismo, ética e moral / Jacira Jacinto da Silva - Milton Rubens Medran Moreira

A independência moral do ser, pregada pelo espiritismo, não o isola e nem o faz infenso à contribuição que lhe possa advir de fora para dentro, no seu processo de crescimento. Ninguém é uma ilha. Somos todos dependentes uns dos outros. A solidariedade é lei universal e o amor é a grande força que nos permite assimilar e vivenciar o sentido maior da vida. Mesmo assim – e esse é o grande desafio que a vida nos faz -, nada e ninguém podem nos substituir da íngreme, pertinaz e contínua luta de nossa transformação individual no rumo da plenitude, que a filosofia kardecista chama de “perfeição”.
Fique claro, porém: a chamada “moral espírita” não é, absolutamente, a moral de uma crença, de uma religião particular ou de uma seita que congrega uma pequena parcela da humanidade. É, pensamos, a ética que dimana das leis supremas do Universo, regidas por uma “Inteligência Suprema”, que foi e é “Causa primária de todas as coisas”.8
Os espíritas propomos e reivindicamos a atenção da Humanidade para a racionalidade dessas leis, escritas na consciência de cada indivíduo. O mundo conturbado e permanentemente em crise que nos abriga, à luz dessas leis, se capacitará a inaugurar uma nova realidade histórica, regida pela solidariedade entre os povos, pela cooperação de todos no sentido da paz, do progresso material e espiritual. Está aí a síntese da grande lei do Amor Universal. Sem uma plena concepção de fraternidade e de igualdade – porque proviemos todos de uma mesma origem e rumamos todos a um mesmo destino, independentemente de raças, de credos, de posições políticas ou ideológicas -, estaremos postergando o salto de qualidade que todos esperamos para o planeta Terra.
O espírito – princípio inteligente do Universo – guarda um imenso potencial capaz de conduzir a Humanidade a entender que a vida, sim, tem um sentido!

PROPOSIÇÃO FINAL DOS AUTORES
Os autores de “Espiritismo, ética e moral”, da Colecção Livre-Pensar: espiritismo para o século XXI, convictos da afirmação de Allan Kardec, no livro A Génese, capítulo “Os tempos são chegados”, segundo a qual o espiritismo “por seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange”, é uma filosofia inteiramente apta a “secundar o movimento de regeneração” da humanidade, e,
por isso, contemporânea de um período histórico marcado pela necessidade de profundas
transformações sociais no sentido da justiça, da liberdade, da igualdade, da fraternidade e do amor,

PROPÕEM:
como corolário das reflexões aqui expostas, o presente manifesto:

MANIFESTO ESPÍRITA POR UM MUNDO MELHOR
É essencial e urgente que:
1. Nos aliemos aos movimentos de defesa dos direitos humanos, criando ambiente ético a partir do respeito, sem o qual toda verbalização perde sentido, sendo, pois, imperioso colocar na prática diária a moralidade fundada na liberdade;

2. Nos unamos por causas humanistas, lutando pela implantação de sistemas universais de saúde, melhoramento e permanência de uma rede de saúde pública que atenda bem e igualmente a todos (Art.º XXV da DUDH);

3. Desejemos um sistema de justiça capaz de proporcionar segurança, contribuindo para a criação das condições necessárias ao desenvolvimento intelectual e moral de todas as pessoas, afastando do convívio social apenas quem, de fato, oferece perigo;

4. Optemos sempre pela democracia, buscando o amadurecimento das representações políticas para o império da liberdade com responsabilidade;

5. Tenhamos como meta a educação, e que ela seja abundante e prazerosa; atraente e capaz de formar cidadãos esclarecidos e amantes do conhecimento. E dessa forma, todos tenhamos oportunidade de aprender sempre, educando-nos para a vida;

6. Cultivemos permanente respeito a todo ser humano, independentemente da sua condição física ou económica, crença, identidade de género, etnia, cor, idioma, opinião política ou de outra natureza;

7. Estejamos abertos às descobertas científicas, em pleno apoio ao progresso da humanidade, nas mais diversas áreas do conhecimento;

8. Sejamos capazes de ofertar trabalho digno, em condições humanizadas, recompensado adequadamente e permeado pelo merecido descanso. Que não permitamos mais a exploração do trabalho infantil, ou a escravização de adultos, pelas diversas formas de trabalho indigno em troca do pão de cada dia
(Art.º XXIV DUDU e Q. 682 O L.E.*****).

9. Contribuamos para criar condições capazes de superar a desigualdade social, buscando debelar a miséria e a pobreza extrema, frutos de um nível de egoísmo incompatível com um processo civilizatório digno.

10. E que, enfim, o amor seja nossa bússola, incentivando-nos a cultivar a paz para um mundo mais solidário, fraterno e equitativo.

Jacira Jacinto da Silva
Milton Rubens Medran Moreira

***** Declaração Universal dos Direitos Humanos / O Livro dos Espíritos.

INDICAÇÕES DE LEITURAS DE INTERESSE
Três livros básicos:
Manuel Porteiro. Espiritismo dialéctico.
Paulo Henrique de Figueiredo. Revolução Espírita.
Fábio Konder Comparato. A afirmação histórica dos direitos humanos.
Para se aprofundar no estudo do tema:
Dora Incontri. Educação, espiritualidade e transformação social.
Emmanuel Lévinas. Humanismo de outro homem.
Jon Aizpúrua. Os fundamentos do Espiritismo Colecção Livre-Pensar: espiritismo para o século XXI 161

INDICAÇÕES DE SITES DE INTERESSE
https://www.recantodasletras.com.br/ensaios/2198064
Capturado em 17/04/19, 22h13.
https://www.pensador.com/frase/MTMxODI/
Capturado em 04/05/2020, 19h30.
https://www.todamateria.com.br/etica-e-moral/
Capturado em 04/07/2021, 22h.162 Espiritismo, Ética e moral

65. Porteiro, Manuel S. Espiritismo doctrina de vanguardia, las mejores paginas del humanismo espírita. Caracas Venezuela: CIMA, 2002.
66. Reis, Ademar Arthur Chioro. A reencarnação como dispositivo de construção de autonomia: uma visão laica e livre-pensadora. Perspectivas contemporâneas da reencarnação. Santos: CPDoc / CEPABrasil, 2016, p. 183. Reis, Ademar Arthur Chioro dos; Nunes, Ricardo de Morais [Org.].
67. Figueiredo, Paulo Henrique de. Revolução espírita: a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: MAAT, 2016.
68. Kardec, Allan. Obras Póstumas. São Paulo: LAKE, 1979.
69. Arbex, Daniela. Holocausto brasileiro. São Paulo: Geração Editorial, 2013.
70. Porteiro, Manuel S. Conceito espírita da sociologia: origem das ideias morais. Caracas: CIM, 1998.
71. Rivail, Hippolyte Léon Denizard (Allan Kardec). Textos pedagógicos. [trad.] Dora Incontri. São Paulo: Comenius, 1998.
72. Molfi no, Gustavo. A reencarnação e o desenvolvimento sustentável do planeta. [A. do livro] Ademar Arthur Chioro dos Reis e Ricardo de Morais Nunes, org. Perspectivas contemporâneas da reencarnação. Santos: CPDoc / CEPABrasil, 2016.
73. Aizpúrua, Jon. El pensamiento vivo de Porteiro. Caracas: CIMA, 1998.
74. Espinosa, baruch. Colecção Grandes Pensadores: Baruch Espinosa. São Paulo: Nova Cultural, 1989.

SOBRE OS AUTORES
Jacira Jacinto da Silva
Nascida em lar espírita em dezembro/1957, na cidade de Palmeira D’Oeste-SP, Brasil. Casada, cinco fi lhos e três netos.
Graduação em Ciências Biológicas, Matemática e Direito.
Mestrado em Direito Processual.
Especializações: Violência Doméstica contra crianças e adolescentes (USP); Direito Sanitário (IDISA e Instituto Sírio Libanês de Ensino e Pesquisa
Extensão universitária: Integração de competências no desempenho da actividade judiciária com usuários e dependentes de drogas (SENAD – CNJ – USP: Medicina e Direito); 1º Curso de engenharia comunitária, com apoio do Departamento de Produção da Escola Politécnica da USP; Políticas sobre Drogas - Interfaces com o Poder Judiciário.
Actuação profissional: Recepcionista, Auxiliar de escritório, Bancária, Servidora do Judiciário, Professora Universitária, Juíza de direito do Tribunal de Justiça de São Paulo aposentada. Advogada, Empresária e Consultora.
Actuação social: (a) Em Birigui-SP, participou da fundação da APAC (Associação de Protecção e Assistência Carcerária); do IPIS (Instituto de Protecção e Inclusão Social); Instituto de Cultura Espírita Hernani Guimarães Andrade. (b) Em Bragança Paulista participou da fundação do ECOA – Espaço Comunitário de Aprendizagem – Programa de Educação Integral. (c) Em São Paulo participa da Fundação Porta Aberta.
Participou activamente da infância e da mocidade espíritas.
Membro do CPDoc – Centro de Pesquisa e Documentação Espírita e da CEPABrasil – Associação de Delegados e Amigos da Cepa no Brasil. Participante do Centro de Estudos Espíritas José Herculano Pires. Actual presidente da CEPA - Associação Espírita Internacional (2016-2021). Autora do livro Criminalidade: Educar ou punir?

Milton Rubens Medran Moreira
Procurador de Justiça aposentado do Rio Grande do Sul.
Advogado. Jornalista.
Integrou os quadros directivos da Federação Espírita do Rio Grande do Sul, onde ocupou o cargo de Director do Departamento de Comunicação Social, tendo dirigido a revista “A Reencarnação” daquela federativa.
Desde 1983, é membro do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre do qual foi Presidente. Fundou e dirige, há 26 anos, o jornal CCEPA OPINIÃO, órgão oficial dessa instituição espírita.
Autor de vários livros espíritas, entre os quais “Direito e Justiça, um Olhar Espírita”, “Se Todos Fossem Iguais”, “O Espírito de um Novo Tempo ou Um Novo Tempo para o Espírito”.
Traduziu para o português “História da Parapsicologia”, de Jon Aizpúrua. Ex-Presidente da CEPA (2000-2008).Sobre o Livro

COLECÇÃO LIVRE-PENSAR: ESPIRITISMO PARA O SÉCULO XXI
Série 1 – Temas Fundamentais
Livro 1 - O espiritismo na perspectiva laica e livre-pensadora
Livro 2 - A imortalidade da alma
Livro 3 - Mediunidade: intercâmbio entre dois mundos
Livro 4 - Reflexões sobre a ideia de Deus
Livro 5 - Reencarnação: um revolucionário paradigma existencial
Livro 6 - A evolução dos espíritos, da matéria e dos mundos
Livro 7 - Espiritismo, ética e moral
Livro 8 - Allan Kardec: o fundador do espiritismo

§.§.§- Ave sem Ninho