LUZ ESPÍRITA
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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 3 Empty Re: O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 11:37 am

- 14 -
Faz uma semana que cheguei a Alverne. Octaviano tem sido um amigo paciente e agradável.
No dia seguinte a minha chegada, levou-me visitar a sede do Conselho, do qual ele era um dos directores.
Tratava-se de um palácio estilo francês, com três andares, erguido no meio de extenso jardim.
O saguão largo, rodeado de altas e belas janelas, tinha um piso composto de quadrados brancos e negros, igual aos que, me lembrava de ter visto no mundo.
No centro, uma espaçosa mesa redonda com um belíssimo arranjo de flores, as paredes ricamente adornadas e na que dividia o saguão com outra sala, havia um enorme quadro, belíssimo, que me encantou.
Aproximei-me para ver o nome, do pintor, estava assinado Renoir.
Emocionei-me diante de tanta beleza e não me cansava de olhar todos os detalhes.
Octaviano, olhos brilhantes, aproximou-se, dizendo:
- Foi um presente que esse grande artista fez a nossa cidade. Eu ainda não morava aqui quando ele desencarnou e depois de algum tempo foi trazido para cá.
- Ele morou aqui?
- Sim. O padrão de beleza dele era conservador. O mundo mudou muito nos últimos anos em que ele viveu na Terra e ele não aceitava isso. Pintou esse quadro durante o tempo em que ficou aqui. É um retrato da praça principal da nossa cidade, com as pessoas que viu ali. Quando vim para cá, esse quadro já estava aqui. Contaram-me a história. Quando ele partiu, deu-o de presente à cidade, como prova de gratidão.
Eu não me cansava de olhar o quadro, cuja delicadeza das cores casava-se com a beleza da paisagem.
Octaviano puxou-me pelo braço e convidou-me:
- Vamos, há muitas coisas que quero lhe mostrar. Você poderá voltar aqui quando quiser para contemplá-lo.
Acompanhei-o com prazer. Visitamos salões em que algumas pessoas trabalhavam, mas o ambiente era calmo e agradável. Havia flores nos vasos e móveis antigos artisticamente trabalhados.
As mesas de trabalho lembraram-me as escrivaninhas lavradas que eu conhecera em museus.
Não havia ali as máquinas que eu estava habituado nem os computadores tão a gosto das pessoas actualmente na Terra.
Eu não podia entender como eles conseguiam controlar toda a cidade sem esses recursos. Percebendo minha estranheza ele sorriu:
- Sei o que está pensando, mas depois de vermos tudo, você poderá fazer suas perguntas.
Concordei, não queria perder nenhum detalhe. Aquele lugar era a antítese de todos os meus conceitos de progresso.
Notei que as pessoas eram alegres, bem-humoradas, elegantemente vestidas.
O interessante era que não eram todas da mesma época. Havia alguns de fraque, de terno, outros ainda usavam trajes do século dezanove.
Com as mulheres acontecia a mesma coisa. Mas observei que elas davam preferência a roupas mais práticas. Nada de saias amplas, como na corte, mas vestidos do começo do século, dos anos trinta, quarenta e até cinquenta.
Isso dava um toque alegre ao ambiente, apesar de o mobiliário ser digno de um museu.
Percorremos a sala de reuniões do Conselho. Havia uma mesa redonda e eu contei doze cadeiras.
- Somos doze conselheiros. Aqui analisamos, discutimos e tomamos decisões sobre os problemas de organização, melhoria e relacionamento social.
- E os problemas individuais de progresso, também são tratados aqui?
- Somente no que se refere à adaptação, à convivência, ao relacionamento.
Quanto às dificuldades emocionais e espirituais temos especialistas, mentores categorizados que fazem esse serviço.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 11:37 am

O trabalho do Conselho é monitorado por esses mentores categorizados que residem nos planos mais altos e nos visitam quando julgam oportuno, o que é sempre uma festa.
- Sei como é. Em nossa cidade isso também ocorre.
Depois, saímos e fomos ao centro de lazer. Havia vários prédios, sempre rodeados de jardim, apesar de serem diferentes no estilo, todos tinham três andares.
Havia também três teatros, salões de festa, exposições de arte, curiosidades e artistas que se apresentavam no meio da rua, tocando, dançando e cantando, uma mistura curiosa e alegre que me fez lembrar do teatro de revista que criei quando estava no mundo.
Adorei esse lugar. O que me comoveu foi observar que mesmo sendo um movimento popular e alegre, havia em todos a intenção de passar alguma coisa nobre, boa, representando, cantando, contando histórias que abrangiam duas ou mais encarnações.
Era exactamente isso que eu pensava fazer no mundo. Acaricio esse projecto desde que voltei para o astral.
- É um trabalho terapêutico. - Informou Octaviano. - Alguns chegaram aqui frustrados, desiludidos. Você sabe como é, na Terra nem todos conseguem manter o sucesso, principalmente quando envelhecem. Estimulados a demonstrarem seus talentos, em pouco tempo tornaram-se alegres, criativos, remoçados.
- A criatividade desenvolve a inteligência e a arte, alimenta o espírito. Não há melhor motivação do que essas.
- Uma tarde destas vou levá-lo ao Círculo Literário. Você vai gostar. Concordei sem muito entusiasmo. Essa não era minha área. Prefiro a espontaneidade, sem as regras sofisticadas e formais da literatura.
Mas quando fomos a esse clube, percebi que estava enganado. Em uma sala enorme, as pessoas sentavam-se, formando círculos. Um deles apresentava um tema que podia ser em prosa, verso ou música. Então, trocavam ideias sobre o assunto, cada um enfocando do seu jeito, aprovando ou, discordando, apresentando suas opiniões.
O que chamou minha atenção foi que apesar de as roupas serem de diversas épocas, os grupos se formavam mais pela maneira de se apresentarem.
Os que preferiam a frísica apresentavam seu tema cantando e os outros, respondiam também cantando, improvisando.
Havia os que preferiam versejar e os que gostavam de discursar, mas as respostas eram conforme a pergunta, discursando ou versejando. Como sempre, a afinidade funciona em toda a parte.
Octaviano me contou que a maneira de vestir reflectia a fase temporária em que a pessoa estava. Embora ela tenha volta- do da Terra há pouco tempo, se ela gostava de um poeta do século passado, vestia-se como ele.
Em Alverne, as roupas expressavam a época em que eles estavam estudando. Mudavam o enfoque mental, escolhiam roupas diferentes.
Gostei da ideia. Experimentar, mudar, renova a mente. Mas isso me deixou ainda mais admirado. Por que então não aceitavam as facilidades que a ciência moderna oferece? Aproximei-me dos que discursavam. Um rapaz em pé, aparentando uns trinta anos, cabelos castanhos e crespos, que iam até a metade do pescoço, emoldurando um rosto bonito, olhos vibrantes, falava entusiasmado:
- É preciso controlar os excessos. Aprender o tamanho das nossas necessidades. Encontrar o ponto exacto. Nem mais nem menos. Para isso, creio ser necessário nos analisarmos constantemente para descobrir nossos limites.
O que exceder, certamente vai nos fazer mais mal do que bem.
Uma mulher de meia-idade levantou-se:
- Mas como saber se estamos analisando certo? Quando nosso discernimento está viciado vemos tudo de forma errada.
Um outro senhor levantou-se:
- Não concordo. Se pensarmos assim, nunca conheceremos nossas necessidades reais. Temos que tentar de qualquer jeito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 11:38 am

Uma jovem levantou-se:
- Acredito que com o discernimento viciado, ideias confusas, não temos condições de perceber nada além das ilusões que alimentamos. Por esse motivo, nesses casos é melhor esperar, silenciar a mente, buscar a paz interior.
Só quando conseguirmos acalmar os pensamentos, teremos condições de perceber melhor o que vai dentro do nosso coração.
- Eu concordo com ela. - Disse um rapaz alto e louro. - É preciso agir por etapas. Primeiro, controlar os pensamentos, acalmar os medos, activar a fé na vida, para depois ter lucidez e analisar nossas prioridades. Saber a medida certa dos nossos desejos, que vai nos dar equilíbrio e bem-estar, é uma conquista importante. Mas só a alcançaremos dessa forma.
- Eu já penso que só a experiência consegue nos dar essas medidas. Por esse motivo, em vez de meditar, eu prefiro agir, experimentar. Faço o que quero, mas arco com as consequências. - Colocou um homem grisalho.
- Assim você vai errar muito. Vai sofrer. - Tornou o rapaz que estava ao lado dele.
- Prefiro pagar o preço e aprender logo.
Octaviano, que estava a meu lado, perguntou:
- E você, o que acha?
- Antigamente eu gostava de experimentar, mas reconheço que às vezes o preço é muito alto. Hoje penso que se puder acalmar os pensamentos, harmonizar meu espírito, analisar meus sentimentos, terei um resultado melhor.
Octaviano sorriu e respondeu:
- Esse é um dos temas mais discutidos aqui nos últimos tempos. É que actualmente temos estudado muito nosso emocional e notado como ainda somos descontrolados. Quando analisamos nossos problemas, notamos que eles decorrem, em grande maioria, da nossa incapacidade de controlar as emoções.
- De fato - concordei -, temos muito que aprender nesse campo.
- Em nossa academia de ciências há um trabalho em andamento, muito bom.
- Gostaria de conhecê-lo.
- Iremos até lá. Trata-se de um estudo minucioso do nosso corpo emocional.
- Que interessante! Já li alguns estudos sobre isso.
- Eles desejam descobrir algumas causas e para isso se utilizam de fotos minuciosas do corpo emocional.
- Em nossa cidade, os cientistas estudam esse tema em profundidade. Já tive oportunidade de estudar algumas pesquisas que fizeram. Embora eles utilizem uma aparelhagem complexa, mas que regista integralmente as modificações emocionais das pessoas, ainda não temos um conhecimento profundo que rios permita determinar as causas do nosso descontrole. Como nós somos muito instáveis, é preciso muita dedicação para obter resultados.
- Bem, aqui nossos cientistas preferem trabalhar utilizando um espectro cujas cores em seus matizes particulares quando acoplado a determinadas glândulas das pessoas revelam o padrão emocional e que tipo de sensibilidade elas têm.
Eu conhecia esse espectro, mas eu sabia que há muito tempo ele não era utilizado em nossas academias de ciências. Indaguei curioso:
- E vocês têm conseguido bom resultado com esse sistema?
- Como você já disse, é preciso muita dedicação, porquanto os pensamentos que ainda não conseguimos disciplinar fluem sem parar, provocando emoções desencontradas, que ocasionam distúrbios em todos os nossos sistemas.- Por certo, esses recursos são utilizados para os tratamentos de casos mais graves, sendo que para conseguir algum resultado é preciso fazer uma amostragem, registando as reacções do paciente em vários momentos.
Interpretar tudo isso nem sempre é fácil.
- Sei que às vezes nossos médicos preferem não se aprofundar muito nas causas, mas sim ajudar a aliviar e reduzir os sintomas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 11:38 am

Fiquei pensativo durante alguns instantes. Eu mesmo havia visto pessoas que regressavam da Terra, envolvidas pelas formas pensamentos que haviam criado, não conseguindo um momento de paz.
- Concordo. - Respondi por fim. - Nós só conseguimos assimilar alguma coisa quando estamos relaxados e serenos. Primeiro, é preciso libertar a pessoa de seus conceitos ilusórios, conseguido isso, ela mesma partirá em busca do que está precisando.
Octaviano sorriu e respondeu:
- Exactamente. É por esse motivo que aqui não precisamos dessas máquinas complicadas que vocês gostam. Estamos lidando com o espírito e ele só precisa de paz e serenidade para progredir.
Não pude evitar um sorriso:
- Eu gostaria de ver as estatísticas e conhecer os resultados desse processo.
- Vou providenciar para que tenha acesso a todas essas informações.
Nós nos aproximamos de outro grupo. Eles expressavam- se por meio da música. Assim que chegamos mais perto, ouvi uma música suave que não sabia de onde vinha.
Octaviano percebeu minha admiração e disse:
- Vem daquele aparelho.
Olhei e vi um pequeno quadrado colocado em um canto dentro do círculo de pessoas. Nó centro, uma moça dançava, com gestos suaves, vestido leve de um azul-noite. Então, começou a cantar com uma voz linda, agradável. Seu rosto delicado e os olhos brilhantes de emoção fizeram-me lembrar uma gravura que eu vira quando era jovem na Terra.
As palavras da canção falavam a respeito do amor compartilhado, da compreensão e do perdão.
Diante de tanta beleza meus olhos marejaram. Todas as pessoas do círculo de mãos dadas observavam a cena, balançando-se suavemente. Pude ver que do peito de cada uma saíam energias coloridas, diferentes umas das outras, formando flores ao redor da moça.
Ela acabou, voltou ao seu lugar na roda e um rapaz foi para o meio. Ele era musculoso, atlético, trajava uma calça justa que ia até a metade da canela, um colete aberto que deixava a mostra seu corpo bem-feito, calçava botas amarradas que iam até a barra da calça.
A música começou assim que ele saltou para o meio da roda. Era em tom marcial e ele dançava com gestos fortes, pisando no chão com firmeza.
Começou a cantar com uma voz de barítono e as palavras da canção falavam da necessidade de reconhecer e acreditar em nossa própria força, porque quando conseguimos isso, todas as forças do Universo vêm nos ajudar.
Finalizou afirmando que a vida nos quer fortes e só assim pode nos levar às vitórias.
Quando ele terminou foi para ó meio da roda um jovem aparentando quinze anos, muito elegante, vestindo um fraque, que me lembrou alguns mágicos que se apresentavam em nosso teatro na Terra.
Seus cabelos lisos, colados na cabeça, terminavam em um birotinho na nuca. Suas mãos bem cuidadas e expressivas volteavam, enquanto ele dançava com uma leveza e agilidade invejáveis.
Era um lindo espectáculo, mas ficou ainda melhor quando ele começou a cantar com uma voz agradável uma música, cujo ritmo gostoso lembrava um pouco o Caribe.
As palavras da canção falavam da importância da ética em nossa vida, afirmando que a conquista do nosso amadurecimento espiritual só acontece quando assimilamos seus conceitos. Terminava garantindo que a ética é o caminho mais curto para a integração do nosso espírito com as leis cósmicas.
Não me contive, disse a Octaviano:
- Esse trabalho é maravilhoso! Ah! Se eu pudesse montar uma companhia teatral com esses artistas, reencarnarmos todos na Terra e apresentarmos esse espectáculo! Já imaginou o sucesso!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 11:38 am

Octaviano sorriu e respondeu:
- Não seria nada fácil. É que as pessoas nascem no mundo e sofrem muito as influências do meio.
- É verdade. Essas canções pertencem a algum compositor famoso?
- Não. Elas são compostas pelas pessoas que as estão apresentando.
Algumas preferem estudar por meio da música, assim como os outros grupos escolheram outros meios de expressão. Mas todos apresentam temas que estão estudando.
- São verdadeiros artistas. Quando reencarnarem não vão fugir a essa vocação.
- Talvez. É que em alguns casos, outras são as prioridades. Apesar de estarmos vivendo aqui, que é um lugar de refazimento e de paz, ainda carregamos alguns pontos fracos, assuntos mal resolvidos, que bloqueiam nosso progresso. Você sabe como é, na hora de reencarnar cada um precisa rever esses pontos, e descobrir o que precisará trabalhar melhor na Terra.
- Isso acontece mesmo. Mas que seria muito lindo um espectáculo assim, isso seria.
- Bem se vê que você continua gostando de teatro.
- Faz parte da vida. É uma forma de nosso espírito expressar suas emoções, suas ideias, seus sentimentos.
- Você é um idealista. Pena que no mundo poucos pensem dessa forma. Pelo que tenho visto por lá, actualmente, muitos desejam apenas aparecer, conquistar fama, dinheiro, sem se importar com os valores que estão exemplificando.
- É justamente por esse motivo que eu gostaria de poder apresentar lá um espectáculo de qualidade, cuja beleza possa fazer vibrar os mais nobres sentimentos da alma. Só o que é verdadeiro e elevado pode despertar esses sentimentos.
- E um indivíduo sensibilizado dessa forma, torna-se melhor, sente necessidade de ser bom.
- Ele fez uma pausa, fixou seus olhos nos meus, como se quisesse penetrar nos meus mais íntimos pensamentos e concluiu:
- Penso que algum dia você ainda vai fazer isso lá.
Fiquei comovido. Um sentimento de amor, de plenitude interior, brotou dentro de mim e não consegui responder.
Octaviano notou minha emoção, apertou meu braço levemente e eu senti que não só ele pensava como eu, mas também que nossa amizade iria se consolidar naquele momento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 11:39 am

- 15 -
Ao iniciar a segunda semana da minha visita a Alverne, interessei-me em conhecer os trabalhos de socorro da cidade.
Até então, eu havia visitado a comunidade em seus aspectos sociais Considerava que nesses lugares de convivência, os modernos aparelhos que eu conhecia e que facilitavam a vida na cidade em que eu vivia, não faziam muita falta.
Talvez por esse motivo, Octaviano teria me levado ao Círculo Literário, como a dizer que eles realmente não precisavam de certos recursos modernos que eu considerava necessários.
Disse-lhe isso em poucas palavras e conclui:
- Eu quero visitar os hospitais e prontos-socorros. Depois que conheci certos recursos, não imagino como prestar um bom atendimento sem eles.
Octaviano sorriu e respondeu:
- Você está viciado em facilidades, como muita gente que vive no mundo e que se considera infeliz se não tiver em casa as últimas novidades lançadas no mercado.
- Quando descobrimos uma maneira melhor e mais fácil de conseguir o que precisamos, por que não aproveitar? A vida está nos oferecendo uma coisa melhor exactamente para facilitar nossa vida.
- E também para que as pessoas disponham de mais tempo livre para trabalhar seu mundo interior. Essa é a finalidade do progresso.
- Isso mesmo.
- Mas não é o que está acontecendo no mundo. Tendo todas as facilidades, em vez de utilizarem o tempo livre no enriquecimento de seu espírito, o que está acontecendo? Estão se perdendo no consumismo, na revolta por não poder comprar os últimos modelos do mercado, assaltando, matando, afundando-se na bebida e nas drogas.
Apanhado de surpresa, tentei justificar:
- É que são tantas as novidades em tão pouco tempo que eles ainda não conseguiram lidar com isso de uma maneira equilibrada. Mas como a vida é sábia, estou certo de que com o tempo todos aprenderão a dar a cada coisa o sentido adequado.
- Mas enquanto isso não acontece, sofrerão as consequências dos seus desequilíbrios. Nós aqui, preferimos ir mais devagar, com menos turbulência.
Pelas pesquisas que tenho feito nos congressos regionais com outras cidades astrais que tenho participado, descobri que a ponderação, apesar de parecer um caminho mais lento, tem levado nossos moradores a conquistar um progresso mais rápido e com menos sofrimentos.
Meneei a cabeça negativamente. Era-me difícil aceitar isso e objectei:
- O que você está dizendo é que recusar as facilidades do progresso é um bem. Se admitirmos isso, estaremos regredindo, negando a evolução.
- Eu falei em ponderação, discernimento. Não em uma recusa dos benefícios reais do progresso. A ponderação nos ensina a observar se no momento estamos preparados para utilizarmos todos os recursos que a vida está nos oferecendo.
- Como vamos saber se não experimentarmos?
- Você sabe que há pessoas que reencarnam na Terra e não conseguem progredir financeiramente. Passam uma vida em uma profissão dura, trabalhando muito, ganhando pouco, sentindo falta das coisas essenciais. Por que a vida faz isso com elas? Porque precisam estar ocupados, pensando em como pagar as contas, cansar o corpo para dormir sem pensar em nada.
Octaviano fez uma pausa e, vendo que eu o ouvia atentamente, continuou:
- Essa é uma forma de defesa. Esses espíritos precisam de contenção. As facilidades que tiveram em outras vidas, levaram-nos a cometer actos desastrosos que lhe ocasionaram muitos sofrimentos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 11:39 am

- Mas nem todos estão nesse nível.
- Concordo. Por esse motivo é que falei em ponderação. Nosso espírito precisa de acção, logo, as facilidades só serão úteis para quem consegue aproveitar o tempo livre, dedicando- se ao progresso interior.
- Eu ainda penso que, sem experimentar, nunca saberemos se estamos preparados.
- Você talvez seja daqueles que preferem pagar o preço. Nós aqui, preferimos escolher. A cada situação nos recolhemos interiormente e perguntamos: “estamos preparados para escolher isso?”.
- São formas diferentes de pensar. Eu gostaria de conhecer os recursos dos hospitais de Alverne.
Octaviano sorriu e considerou:
- Vou agendar uma visita. Você vai gostar. Esta noite vamos ter um sarau em casa. Engrácia pediu que o convidasse.
Assenti com prazer. Estava interessado em fazer amigos, conhecer mais sobre os costumes de Alverne.
Minutos antes da hora combinada lá estava eu, vestido com um dos ternos que encontrara no armário e que provocava em mim a sensação de estar vivendo ainda na Terra.
Assim que cheguei, Engrácia veio me receber sorrindo. Depois dos cumprimentos, apresentou-me às pessoas que estavam ali presentes.
Calculei umas dez pessoas, e o interessante é que havia apenas dois casais, contando com os anfitriões. Além deles, três mulheres e dois homens.
Simpatizei logo com uma senhora que aparentava mais idade que as demais.
Tinha um porte elegante e o rosto bonito e delicado. Os olhos me fitaram com doçura. Senti a sensação de que nos conhecíamos. Mas de onde?
Eu lhe havia sido apresentado na chegada, mas pão lembrava seu nome.
Aproximei-me dizendo:
- Sinto que nos conhecemos, mas não consigo saber de onde.
Ela ficou alguns segundos pensativa, depois disse olhando firme em meus olhos:
- Não se lembra de mim?
Notando meu embaraço, ela riu gostosamente:
- Eu mudei muito depois daqueles tempos, mas sou capaz de reconhecer o Zito, meu amigo de infância.
Então veio a lembrança da figura de Doroteia, uma garota dois anos mais velha que eu que morava vizinha da nossa casa, onde cresci e com a qual passara horas em brincadeiras na calçada, junto com outros amigos.
Zito era um apelido que a turminha havia me dado porque seu Manoel, o português, dono da padaria da esquina, chamava-me de Zezito.
- Doroteia! - Exclamei emocionado, abraçando-a.
- Sabia que havia chegado a Alverne e estava ansiosa para encontrá-lo. Que saudade!
- Bons tempos aqueles!
- É mesmo. Brincávamos de passa anel, de pular corda, de piques, de contar histórias de fantasmas.
- As melhores histórias de fantasmas que ouvi foram as suas. Você tinha o dom de contá-las com tal suspense que nós ouvíamos sem piscar.
- Já você era muito engraçado imitando os trejeitos das pessoas. Conseguia tirar delas seus traços mais característicos e os reproduzia fielmente. Não posso esquecer quando fazia a d. Zuleica, nossa professora de canto. Ela tinha um jeito especial de reger e de apontar os que estavam fora do tom, arqueando as sobrancelhas, entortando a boca, e você fazia igualzinho.
Lembrei-me da figura especial de nossa professora de canto no colégio e desatei a rir.
- Eu era muito crítico, hoje procuro não fazer mais essas coisas.
- Nós éramos crianças, não havia maldade em nossas brincadeiras. Você tinha esse talento, era seu traço forte.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 11:39 am

Tanto que nem a medicina conseguiu tirá-lo do teatro. Mesmo morando longe e não tendo mais encontrado você, acompanhei seu sucesso e nunca esqueci da nossa amizade.
- De fato, eu não fazia por mal, mas levei muitos pitos de minha mãe que preferia um filho educado, sério. Ela se esforçou muito por isso e nunca conseguiu. Mas me fale de você. Depois que vocês se mudaram para São Paulo, nunca mais nos vimos.
O rosto dela ficou sério, notei em seus olhos um pouco de tristeza, que não durou mais que um segundo, mas eu consegui captar.
- Não tenho muita coisa para contar. Nossa vida em São Paulo foi de altos e baixos. Problemas de família. Nós nos mudamos para lá porque meu pai havia conseguido um bom emprego, ganhava muito bem. Todavia, ele não estava preparado para ter dinheiro. Envolveu-se com outra mulher e acabou se separando de mamãe. Essa mulher consumia todo o dinheiro dele, que dizia não ter nada para nos dar. Não pude continuar os estudos, comecei a trabalhar em um escritório. Meu irmão, não estava disposto a trabalhar e foi morar com meu pai. Mamãe não se conformava por ele também ter nos deixado.
- Pois é, são os desafios que a vida prepara para nos ajudar a crescer.
- É verdade. Hoje sei disso. Mas naquele tempo, revoltei-me e, para fugir dos problemas, meti-me em outro maior. Casei com o primeiro rapaz rico que me quis.
- Você tentou mudar de vida.
- É. Eu mudei mesmo, mas para pior. Eu não amava meu marido. Ele não era mau, mas eu não tinha paciência para tolerar seu temperamento retraído, medroso.
- Viver junto não é fácil e sem amor fica ainda pior.
- Isso mesmo. Mas apesar de tudo, tentei ser uma boa esposa, fiel, dedicada, infeliz, mas conformada. Tive duas filhas que se tornaram a razão de minha vida. Mas elas cresceram, cada uma seguiu seu caminho. Você sabe como é. Os pais sempre gostam mais dos filhos do que os filhos dos pais. É um conceito natural. Nós fizemos o mesmo com nossos pais. Assim, cada uma foi viver sua vida. Acabei viúva e sozinha. O que me ajudou muito foi conhecer avida espiritual.
- Como foi isso?
- Depois que minha segunda filha nasceu, senti-me deprimida, insatisfeita, triste. Apesar de tudo o que tinha passado até então, nunca havia me deixado dominar pela tristeza. Sempre fui uma pessoa alegre. Mas naqueles tempos, minha alegria foi embora. Nem ânimo para cuidar das meninas eu tinha.
Perambulei por consultórios médicos e o que consegui foi apenas uma lista de remédios que me faziam sentir pior.
- Você estava infeliz e atraiu espíritos infelizes.
- Isso mesmo. Eu sou uma pessoa amorosa e tendo me casado sem amor, estabeleci um conflito interior que contribuiu para que minha sensibilidade aflorasse de maneira desequilibrada.
- Você frustrou seu temperamento que é seu lado verdadeiro. Quando suas filhas nasceram você tornou-se mais mulher e o conflito ficou mais forte.
- Gomo você disse, tendo me deprimido, atrai a companhia de espíritos infelizes como eu. Chorava por qualquer coisa, dormia mal, acordava cansada, sentia mal-estar, falta de ar, irritação. Uma amiga levou-me a um Centro Espírita e foi um alívio. Passei a frequentar, trabalhar com a mediunidade tornei-me voluntária em um hospital. Com isso, consegui me equilibrar e minha vida mudou. Entendi muitas coisas, aprendi com elas, entendi-me melhor com meu marido, vivi bem com minhas filhas, genros e netos. E, apesar de ter levado uma vida comum, encontrei um pouco de paz.
- Apesar do esforço que você faz para cultivar a alegria, sinto em você um traço de insatisfação do qual ainda não conseguiu se livrar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 11:40 am

- Deu para notar? É que nos últimos tempos tenho reflectido muito sobre minhas atitudes passadas e notei alguns lados que não havia percebido anteriormente. Olhar para trás, descobrir que se tivesse tido mais coragem para agir de acordo com meus verdadeiros sentimentos, teria sido mais feliz, ainda me incomoda.
- Isso acontece com todos nós quando voltamos para cá e revemos nossas escolhas.
- É que quando estamos encarnados nos iludimos muito com as regras do mundo. Veja só, eu me casei sem amor, não sentia prazer com a proximidade do meu marido nem com nosso relacionamento íntimo. Depois de alguns anos de casamento, tendo amadurecido um pouco mais, dei-me conta de que não era isso o que eu desejava para mim.
- Mas você continuou casada.- Eu achei que havia prometido ficar ao lado dele “até que a morte separe”.
Não tive coragem para romper o casamento. Depois, já tinha duas filhas, o que me fez pensar que precisava suportar as consequências da minha escolha até o fim.
- Foi uma atitude digna.
- Na ocasião achei que estava me sacrificando pela felicidade de minha família. Hoje sei que estava me castigando por ter agido errado. O que eu sentia era culpa por não poder ser ao meu marido, que dizia me amar muito, o que ele esperava de mim. Essa culpa levou-me a suportar os desacertos dele sem reclamar.
- Você fez o que achou melhor na época. Não adianta culpar-se por isso.- Não me culpo pelo casamento, eu era muito imatura quando casei. O que me incomoda é que houve um momento em que me dei conta de que não éramos felizes juntos. Ele, não sendo correspondido como esperava, procurou fora outro amor e tornou-se mal-humorado, irónico, crítico em tudo o que eu fazia. Acabamos como dois inimigos dentro de casa. Nossas filhas cresceram nesse ambiente e ambas se casaram muito cedo.
- Talvez tenham feito o mesmo que você.
- Isso também me incomoda. Fugi da casa materna e acabei fazendo a mesma coisa que meus pais. Não fui capaz de criar um lar feliz, como sempre sonhei.
- Agora você está preparada para escolher melhor.
- Não desejo voltar tão cedo. Quero primeiro me conhecer mais, ir fundo em meus sentimentos, vencer essa insatisfação que de vez em quando brota dentro de mim, fazendo com que eu tenha de me esforçar muito para conservar a alegria.
- Talvez seja bom você procurar ajuda de um terapeuta.
- Eu faço terapia desde que cheguei aqui.
- Há quanto tempo está vivendo aqui?
- Dez anos. Mas não é um atendimento seguido, como no mundo. Eu só o procuro quando estou com dificuldade de entender meus sentimentos. Ele quer que eu aprenda a lidar com as emoções.
- Essa é a forma melhor.
- Mas apesar dos problemas que ainda carrego, tive bons momentos na Terra. Como eu disse, ao desabrochar a mediunidade, trabalhei em um Centro Espírita, fui voluntária em um hospital. Foram as melhores escolhas da minha vida. Eu pensava que ia ajudar os outros, mas cheguei à conclusão de que a maior beneficiada fui eu. Praticar um ato de bondade, por mais insignificante que seja, provoca dentro do nosso espírito uma sensação de felicidade, de realização, que não há palavras para descrever. Não depende de retribuição nem do reconhecimento dos outros.
- É que nossa alma e essencialmente boa e quando praticamos o bem ela se alegra. O bem é o alimento do nosso espírito.
- Notei que Octaviano havia se distanciado discretamente e fiz-lhe sinal para que se aproximasse.
- Estou feliz por rever Doroteia. Fomos muito amigos na infância.
- Foi uma surpresa muito boa. Vivemos um tempo bom juntos.
- Recordar os bons tempos alimenta o espírito. - Concordou Octaviano, sorrindo.
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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 3 Empty Re: O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 11:40 am

Doroteia assentiu e em seguida me perguntou:
- Quanto tempo ficará aqui?
- Mais duas semanas.
- É pouco tempo para conhecer melhor nossa cidade. É muito bom viver aqui.
- De facto, é um lugar muito agradável, mas quando acabar minhas férias, terei de ir. Estou trabalhando em alguns projectos que envolvem outras pessoas.
- Eu sabia que você não ia descansar. Sempre foi muito activo. Mesmo criança inventava mil coisas para se ocupar. Não conseguia ficar parado.
- Naquele tempo eu era muito agitado, sem paciência para esperar nada.
Hoje, tornei-me um pouco mais calmo, contudo continuo cada vez mais activo.
- Faz parte do seu temperamento. - Tornou Octaviano. - Você pode melhorar a maneira de lidar com suas emoções, progredir espiritualmente, mas jamais será passivo. Seu temperamento é criar, fazer, experimentar.
- Nada me dá mais prazer que projectar alguma coisa, executá-la e estudar os resultados.
- Eu já sou diferente. - Confidenciou Doroteia. - Prefiro a contemplação, observar a natureza me faz ficar em paz. Adoro a calma da nossa cidade, que nos faz recordar os tempos em que a vida em sociedade era mais pacata. Por esse motivo, não gostaria de reencarnar tão cedo. Fico horrorizada observando a moderna sociedade terrestre.
- É bom não esquecer que tudo tem uma boa razão. - Comentou Octaviano.
- Eu sei. - Contestou ela. - Mas eu não gostaria de estar vivendo lá agora.
Tanta agitação. As pessoas correm de um lado a outro sem saber para onde ir.
A violência impera, o medo domina, a corrupção gera miséria e desconfiança. Sei que um dia tudo vai mudar, mas, enquanto isso, espero poder continuar aqui. Olhei-a e tive a nítida sensação de que ela iria reencarnar dentro de pouco tempo, mas não disse nada. Há muito aprendi a ficar calado.
Engrácia aproximou-se, dizendo:
- Gostaria que tomassem assento no salão de música. A apresentação vai começar.
Engrácia passou o braço no de Doroteia e ambas foram para a outra sala. Eu e Octaviano acompanhamo-las um pouco atrás.
Foi quando eu comentei com ele:
- Ela não quer, mas noto que Doroteia deverá reencarnar em breve. Ela sabe?
- Ela sente todos os sintomas, mas procura ignorá-los. O cerco está apertando e logo terá de ir.
- Alguma tarefa especial?
- Ela teme, porque pressente que terá algumas dificuldades. Uma de suas filhas fez um casamento infeliz, escolheu uma vida desregrada, tornou-se revoltada. Culpa a mãe pela sua infelicidade. Doroteia tem feito o possível para auxiliá-la, mas tem sido em vão. Janice não a perdoa nem aceita a ajuda que oferecemos. Actualmente, vive em um núcleo próximo à Terra, em péssima companhia.
- O que dizem os orientadores?
- Que só reencarnando ela poderá se recuperar.
- Isso se tiver uma boa ajuda familiar.
- Em breve Doroteia terá que decidir se reencarna para receber Janice como filha e poder auxiliá-la de uma forma directa ou se a deixa nascer entre os que estão no mesmo nível dela.
- Garanto que Doroteia vai preferir reencarnar. Se Janice nascer entre pessoas na mesma situação dela, vai sofrer muito mais para aprender e Doroteia sentirá uma culpa muito maior.
Entramos no salão e nos calamos, tomando rapidamente assento nas duas poltronas vazias ao lado de Engrácia e Doroteia. O recital ia começar.
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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 3 Empty Re: O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 8:07 pm

Engrácia levantou-se, dizendo da alegria em receber os amigos e anunciou o primeiro número. Duas senhoras, vestidas com roupas antigas, levantaram-se, enquanto uma delas sentou-se ao piano a outra, postou-se ao lado dela.
Uma começou a tocar uma valsa muito bonita, que eu não conhecia e a outra, começou a cantar com voz suave, inspirando pensamentos de paz. As duas pareciam fazer parte de um quadro do século passado e a música, de grande beleza, tocou-me. Comecei a sentir uma grande saudade, de alguma coisa perdida no tempo e da qual não conseguia relembrar.
Cantaram duas músicas, depois foi a vez de um jovem, cabelos castanhos soltos ao vento, declamar um poema, questionando a diferença entre orgulho e dignidade, com graça e bom humor que me encantou.
Um mestre do violão tocou uma música clássica e por fim Engrácia abriu um espaço livre para quem quisesse apresentar-se.
Doroteia tomou a palavra:
- Peço ao Dr. Silveira Sampaio que nos brinde com uma apresentação, Tentei escapar, mas as pessoas em coro juntaram-se a ela pedindo a mesma coisa.
Há muito tempo que eu não me apresentava a uma plateia, à moda do mundo. Fiquei um pouco embaraçado. Mas, notando o interesse deles, resolvi ceder.
- Sempre gostei de conversar com o público. Vou mostrar-lhes como eu fazia um programa de televisão. A vida no mundo é ainda muito conturbada e eu decidi tocar nessas feridas de maneira bem-humorada, tentando conscientizar as pessoas. Falava sobre comportamento, e os políticos eram sempre um prato cheio.
Fiz uma pausa, olhei para a plateia que ouvia atentamente e me concentrei, revivendo a aparência que tinha naquele tempo, tomei a postura da época. E comecei a falar como se estivesse no ar, iniciando meu programa.
Dialogava com eles, enfocando situações que estão acontecendo actualmente no Brasil, conversando ao telefone com um senador da oposição, ao qual dei minhas sugestões para melhorar o partido. Depois, como quem não quer nada, liguei para o Presidente da República, usando os argumentos dos opositores, sempre com bom humor e alegria.
Notei que as pessoas riam e divertiam-se com meus trejeitos e ditos irreverentes. Quando terminei, aplaudiram-me eu me senti feliz por perceber que, apesar dos anos, das mudanças pelas quais havia passado, ainda conseguia me comunicar.
Por várias razões, essa foi uma noite inesquecível em Alverne.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 8:07 pm

-16 -
Na tarde seguinte Octaviano foi buscar-me para irmos visitar um hospital.
Não era um local como os hospitais do mundo, porquanto apesar dos centros de atendimento especializados, os atendimentos eram direccionados não só aos problemas físicos como aos emocionais.
Octaviano informou-me que lá eles cuidavam do espírito em suas múltiplas necessidades. Todos os tratamentos priorizavam o equilíbrio emocional e, consequentemente, o espiritual.
Era um prédio amplo, o verde imperava em todos os tons, seja nas plantas como na decoração.
Octaviano apresentou-me a um dos directores do hospital, um clínico geral que havia regressado da Terra havia mais de trinta anos. Doutor Barcelos aparentava uns cinquenta anos, era alto, forte, tinha o rosto quadrado, cabelos grisalhos, sorriso fácil e muito carisma.
Simpatizei com ele de imediato. Notando minha curiosidade, ele esclareceu:
- Vou levá-lo a conhecer nosso trabalho. Devo dizer que apesar de ter voltado há mais de trinta anos, tenho acompanhado o progresso científico, não só que ocorre na Terra como em alguns planos mais evoluídos que tive oportunidade de visitar.
Fomos caminhando por um corredor e ele continuou:
- Este hospital dedica-se ao atendimento dos problemas da memória. É surpreendente como as pessoas conseguem bloquear lembranças que não desejam cultivar.
- É natural. Todos nós desejamos esquecer situações desagradáveis.
- Era o que eu pensava. Porém, é mais que isso.
Olhei-o surpreendido e ele prosseguiu:
- A maioria faz a mesma coisa também com o que é bom e agradável.
- Eu procuro gravar na memória os momentos bons. Eles servem de alento quando precisamos enfrentar situações difíceis.
- Isso é o que parece. Mas, na maioria dos casos, o bem pressiona muito o comodismo contumaz, e quando a pessoa não está atenta, isso costuma esconder sua utilidade para que ela não tenha de se esforçar e mudar.
- Olhei-o um tanto inquieto, perguntando-me se eu também teria feito isso.- Ele sorriu e disse:
- Vamos entrar nesta sala.
Acompanhei-o pensativo. Era uma sala espaçosa, havia duas macas, algumas cadeiras, um aparelho simples com uma tela e alguns botões coloridos.
- É aqui que estudamos os mecanismos da memória e sua conscientização.
Olhei em volta e não me contive:
- Aqui? Não estou vendo aparelhos de pesquisa.
- Engana-se. Temos tudo o que precisamos. Temos conseguido resultados muito positivos, o que nos indica que estamos no caminho certo.
- Gostaria de assistir a um tratamento desses.
- Você está estranhando porque não possuímos aqui máquinas modernas que já existem em outras dimensões. Mas nós, que residimos em Alverne, optamos pelo desenvolvimento dos sentidos. Uma máquina pode lhe dar conceitos, estatísticas, descrever camadas do corpo astral, mostrar inclusive órgãos em desequilíbrio, porém, só a percepção do espírito, direccionada ao conhecimento, pode penetrar no emaranhado do emocional humano e trazer à tona as subtilezas que uma máquina nunca conseguiria.
Em suma, os aparelhos podem facilitar um diagnóstico, mas o caminho mais rápido para a cura, só o espírito desenvolvido tem como conseguir. Por esse motivo, nosso trabalho aqui é mais voltado ao desenvolvimento da percepção intuitiva e ao estudo das energias que nos cercam.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 8:08 pm

- Em nossa cidade, embora tenhamos também treinamento e desenvolvimento de nossa sensibilidade, nós nos utilizamos dos aparelhos que facilitam esse trabalho, poupando tempo e energia.
- São métodos de trabalho. Nós aqui preferimos os recursos espirituais, porque com a>utilização desses aparelhos, com o tempo, tornamo-nos dependentes deles. É o que está acontecendo actualmente na Terra. A maioria dos médicos só consegue fazer diagnósticos por meio desses aparelhos.
- Isso é progresso. Poupa tempo, trabalho e o diagnóstico tem menos probabilidade de erro.
- É verdade. Mas por outro lado, o médico vai bloqueando seu sexto sentido. Fica limitado, não tem mais a mesma sensibilidade para agir em um momento de crise.
- Em tudo é preciso bom senso. Um bom profissional usará os recursos do progresso com discernimento, sem descuidar da intuição.
- Isso seria maravilhoso. Mas aqui, temos recebido espíritos que trabalharam como médicos no mundo. Ficaram a tal ponto bloqueados em sua sensibilidade natural que foram trazidos para este hospital a fim de reverter esse problema. Gostaria que você pudesse vê-los. Estavam incapazes do mais simples diagnóstico sem o auxílio de um aparelho.
- É surpreendente como o ser humano consegue fazer uso errado de tudo.- Por causa disso, temos nossos métodos. Afinal, as pessoas não são iguais e há que suprir todas as necessidades delas.
- Gostaria de assistir a um tratamento desses.
- Amanhã é dia de atendimentos. Se quiser poderá vir e participar.
- Obrigado. Virei, com certeza.
- Vamos à outra sala. Desejo mostrar-lhe o arquivo dos pacientes no qual estão documentados os casos e os progressos alcançados.
Eu não estava muito convencido do que ele dizia e o seguia, observando todos os detalhes. Na outra sala, havia um aparelho muito parecido com os computadores terrenos.
Ele convidou-me a sentar ao seu lado e accionou o aparelho. Então, começou a mostrar-me as fichas de pacientes e pude acompanhar vários casos.
Confesso que fiquei surpreendido com os resultados.
A recuperação das pessoas havia sido acima da média que eu estava costumado a observar em nossa cidade.
Eu estava bastante intrigado. Não podia aceitar que eles, utilizando-se de métodos tão simples, houvessem conseguido mais sucesso que nós, com todos os aparelhos de que dispúnhamos.
Depois de algum tempo tive de render-me às evidências. Então fui acometido do desejo de assistir de fato a alguns tratamentos.
No dia seguinte, compareci ao hospital no horário combinado. O Dr. Barcelos já me aguardava. Conduziu-me a um pequeno salão, onde algumas pessoas esperavam.
Atravessamos o salão e nos dirigimos à sala contígua. Meia dúzia de pessoas, sentadas em círculo, permaneciam em prece.
A sala estava em penumbra e ouvia-se uma música suave. Doutor Barcelos designou uma cadeira para que eu me sentasse.
Olhei em volta. Não queria perder nenhum detalhe. Havia alguns móveis brancos, uma maca e uma mesa com um aparelho, igual aos outros que eu vira e que se assemelhava muito a um computador terreno. Sentada ao lado da mesa, uma mulher de jaleco branco, igual a todos os presentes.
Doutor Barcelos ligou o aparelho e um rosto de homem apareceu. No mesmo instante, a moça levantou-se e foi até o salão. Pouco depois, voltou com um jovem que aparentava uns vinte anos.
Ela colocou o rapaz deitado na maca e ficou ao seu lado. Doutor Barcelos colocou a mão na testa dele, que adormeceu prontamente. Então, fez-me sinal para que me aproximasse.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 8:08 pm

Obedeci. Ele levantou as mãos e concentrou-se. Seu rosto modificou-se e do seu peito começou a sair uma luz rosa que envolveu o rapaz adormecido na maca.
Senti uma onda de carinho me envolver e fiquei comovido. De repente, vi que o homem cujo rosto estava no computador, apareceu em pé, no meio do círculo de pessoas.
Doutor Barcelos colocou ambas as mãos sobre o corpo do jovem na maca e as movimentou. Agora, as energias que saiam de suas mãos eram azuis, enquanto as pessoas do círculo envolviam o homem no centro, com energias verdes.
De repente, o rapaz começou a soluçar e gritou em desespero:
- Ele está aqui! Eu sinto. Quer vingar-se. Já não chega o que fez comigo?
O homem, no meio da roda, estendia a mão e queria sair do círculo e aproximar-se, mas as energias à sua volta continham-no.
Doutor Barcelos colocou a mão na nuca do rapaz, e disse:
- Vamos, sente-se. Vou ajudá-lo.
- Não. Tenho medo.
- Somos seus amigos, estamos aqui. Levante-se.
Ele estava pálido, olhos esbugalhados. Obedeceu contraindo a fisionomia.„
- Olhe para ele. Veja que não há o que temer. Ele está arrependido do que fez e também já o perdoou. Não há o que temer. É hora de se reconciliarem.
- Não posso. Tenho medo. Ele vai me perseguir.
- Ele já o perdoou. Não há o que temer. Vamos enfrentar o inevitável e acabar de uma vez por todas com seu tormento. Olhe para ele, veja como está mudado.
O rapaz fixou durante alguns segundos o homem, que de mãos estendidas parecia implorar, e gritou:
- Não posso!
Perdeu os sentidos.
Então, o homem no meio do círculo desapareceu e a um gesto do Dr. Barcelos, as pessoas se levantaram e rodearam á maca, onde o rapaz permanecia desmaiado. A um sinal do Dr. Barcelos uma das moças postou-se na cabeceira da maca, colocou a mão sobre a testa dele, concentrou-se durante alguns segundos, depois começou a falar:
- Embora não pareça, finalmente ele cedeu. As formas pensamentos que o atormentam perderam a força. Em minha opinião, ele está pronto para reencarnar.
- Está certa disso? - Indagou alguém ao lado dela. - A mim pareceu que se tentarmos de novo, poderá acontecer como das outras vezes.
- Precisamos esclarecer melhor. - Pediu Dr. Barcelos.
Todos se concentraram. A moça colocou a mão sobre o coronário dele. Permaneceu assim durante algum tempo. Aos poucos, seu rosto foi se transformando e ela ficou mais madura e mais rarefeita, quase transparente.
Eu, apesar de sentir que o momento requeria concentração e auxílio, não conseguia desviar a atenção deles.
Então, surpreendido, notei que sobre a cabeça dela formou-se um clarão dentro do qual apareceu o rosto do jovem dizendo:
- Eu não quero ir embora daqui. Farei tudo para retardar minha reencarnação. Não sinto mais medo do Bernardo. Ele já me perdoou e eu não guardo rancor pelo que me fez. Mas por que voltar ao mundo, enfrentar a vida na matéria se posso ficar aqui onde desfruto de uma vida boa? Mas isso eles não podem descobrir. Tenho que ser esperto.
Em seguida a cena desapareceu e Dr. Barcelos tornou:
- Gravou na ficha?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 8:09 pm

Uma das moças assentiu, e ele continuou:
- Caso resolvido. Encaminhe-o para a reencarnação. Ainda dá tempo de o Bernardo recebê-lo como filho.
Dr. Barcelos pediu que continuássemos concentrados e eles atenderam mais dois casos. Um de uma mulher, que apesar de ter evoluído, melhorado seu padrão de energias, de tempos em tempos era acometida por ausências, permanecendo algum tempo apática, desmemoriada.
Ela trazia esse problema desde quando estava encarnada, e apesar do progresso alcançado lá, no astral, não havia conseguido solucioná-lo.
Desde que chegara a Alverne, há mais de cinquenta anos, passara por diversos tratamentos e embora as crises tinham se espaçado, voltavam. Depois de cada crise; ela entrava em depressão, angustiada e custava para reagir.
Dr. Barcelos assumira o caso há mais de dez anos, tentando descobrir a causa desse desequilíbrio.
Ela foi colocada na maca e ele colocou a mão sobre a cabeça dela dizendo:
- Feche os olhos Nice, relaxe, você está entre amigos.
Ela suspirou e obedeceu. A um sinal do Dr. Barcelos, duas assistentes aproximaram-se, sendo que uma ficou na cabeceira e a outra do lado oposto ao do médico.
- Vamos começar. - Pediu ele.
Uma colocou a mão sobre a testa, a outra sobre o peito da paciente. Então, uma luz branca, transparente formou-se entre eles, unindo-os, e, aos poucos, foi se transformando em um vértice transparente de fumaça, que circulando rapidamente foi subindo e desaparecendo no tecto da sala.
Admirado e atento, eu permanecia observando. Não sei dizer quanto tempo eles continuaram-assim. Até que Dr. Barcelos disse suavemente:
- Vamos voltar:
Eles abriram os olhos e Dr. Barcelos, colocando a mão sobre a testa de Nice, chamou:
- Nice, acorde.
- Ela acordou e olhou assustada à sua volta.
- Você está bem? - Indagou ele.
- Agora estou.
- Como se sentiu?
- Houve um momento que tive muito medo. Parecia que, uma coisa horrível ia acontecer. Ainda bem que me acordou. Foi só um pesadelo.
- Está tudo bem. Você está muito melhor.
Ela saiu e eu, curioso, queria fazer algumas perguntas. Doutor Barcelos olhou-me e disse com voz firme:
- Agora não. Depois fará quantas perguntas quiser.
Em seguida, outra mulher entrou para tratamento. Apesar de querer demonstrar calma, seus olhos percorriam a sala, inquietos.
- Venha Dalva. - Disse Dr. Barcelos, tomando-a pelo braço. - Você é uma pessoa forte, poderosa. Não precisa temer a sua força. Já melhorou muito.
Deite-se e relaxe.
Ela obedeceu e ele colocou a mão sobre sua cabeça, mas ela demorou um pouco para adormecer.
Mesmo dormindo, de vez em quando seu corpo estremecia. Seu espírito não estava em paz.
Desta vez o Dr. Barcelos chamou dois rapazes e colocou- os um na cabeceira e o outro nos pés da paciente. Por sua vez, o médico colocou uma das mãos no peito e a outra no baixo-ventre.
Concentraram-se e eu vi que uma energia dourada saía da testa dos dois assistentes, formando um fio luminoso e ligando-os. Depois, esse fio rodeou-os há uns vinte centímetros de distância, isolando-os.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 8:09 pm

Dentro do espaço em que eles estavam, formou-se uma névoa branca, rarefeita, enquanto seus corpos brilhavam coloridos, das mãos do médico saíam energias também coloridas que penetravam no frontal da paciente.
Era um espectáculo maravilhoso, que eu nunca havia visto, apesar de estar trabalhando havia muito tempo. Aos poucos, notei que o corpo da paciente, que estava opaco, começou também a brilhar e transformou-se em luz durante alguns minutos.
Depois, Dr. Barcelos levantou as mãos e imediatamente tudo desapareceu.
Calmo, chamou Dalva, que abriu os olhos, sorriu e disse:
- Que pena que acabou.
- Está se sentindo bem?
- Foi maravilhoso.
Ela saiu e ele pediu que continuássemos concentrados, desta vez para agradecer a ajuda conseguida.
O trabalho foi encerrado, saímos da sala e o Dr. Barcelos pediu-me:
- Vamos conversar. Venha comigo.
- Acompanhei-o até uma sala simples, mas muito agradável.
- Esta é minha sala. Sente-se. O que quer saber?
Tudo. Os problemas dos lapsos de memória sempre me interessaram.
Ele sorriu:
- Venho estudando esse assunto há muito tempo. Mas confesso que ainda tenho muito a aprender. Gostaria de saber sua opinião sobre os casos que presenciou.
- Bem, o primeiro pareceu-me mais simples. Claro que o rapaz estava com medo de enfrentar a vida na Terra. Mas nesse caso não seria mais produtivo esperar um pouco mais, a fim de que ele se tornasse mais seguro?
- No caso dele, não. Ele tem necessidade de experimentar a própria força.
Só assim conseguirá vencer o medo. Nas suas últimas encarnações, usufruiu muito poder político, habituou-se a mandar e a dispor de pessoas que o bajulavam, favorecendo-o de modo que ele não precisava fazer nada a não ser pedir. Acomodou-se. Anulou a própria força e acabou mergulhado no tédio e na falta de confiança da própria capacidade. Ele já sabe que na próxima encarnação vai atrair muitos desafios para obrigá-lo a resgatar a própria força. Está preparado para isso. Penso que se ele continuar aqui, poderá ter uma recaída.
- Entendo. Ele pode acomodar-se de novo.
- Isso. Ele tem todas as possibilidades de aproveitar muito essa encarnação.
Mas, é claro, tudo vai depender de como ele escolher o próprio caminho.
- Já o caso da Nice é mais complicado.
- É desafiador. Mas penso que estamos progredindo bastante.
- Já tentaram a regressão?
Quando meu grupo começou a atendê-la, nossos antecessores já haviam tentado, mas os resultados não aconselhavam continuar. Ela ficava pior em vez de melhorar.
- Curioso. A regressão localiza a causa dos problemas e facilita sua solução.
- Não no caso dela. Desde o começo, sentimos que deve ter vivenciado um fato tão terrível que preferiu esquecer.
- Foi o que pensei. Todos fazemos isso para evitar o sofrimento. Talvez uma busca nos arquivos das encarnações dela pudesse dar uma pista.
- Foi o que fizemos. Mas aí constatei uma coisa inexplicável. Ao recorrer aos arquivos gerais, descobri que em determinado tempo, também havia um lapso.
- Como assim?
- Fui conferindo as datas e os eventos e descobri que em uma encarnação na Europa, há mais de duzentos anos, havia uma brecha. Faltavam os fatos de dez dias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 8:09 pm

- Isso não pode ser. Esses arquivos são completos.
- Não os de Nice. Procurei ajuda dos nossos maiores e eles informaram-nos que foi a força de Nice que criou esse lapso. Eu queria uma solução, mas fui informado de que era preciso esperar que ela mesma fizesse isso para não prejudicar ainda mais seu estado emocional.
- Ela ignora a própria força, o que acontece com muita gente, mas seria bom que ela descobrisse isso.
- Estamos tentando há anos, acredito que estamos conseguindo. Quando, não poderia determinar.
- O que o faz pensar que estão progredindo?
- Os videntes que acompanham cada sessão, informam- nos das mudanças que vêm ocorrendo. Em especial a Mirela. Ela possui a capacidade de penetrar fundo na memória inconsciente das pessoas e nos tem auxiliado muito.
- De que forma?
- Nas primeiras sessões de tratamento, quando chegávamos perto do ponto de suas ausências, Nice, que estava adormecida, acordava apavorada, passava tão mal que não oferecia condições de continuar. Depois de cada sessão custava a se recuperar. Tanto que chegamos a pensar em não continuar, uma vez que não lhe estava fazendo bem. Consultamos nossos superiores que nos estimularam a prosseguir.
- Sob que alegação?
- De que o medo de enfrentar aquela lembrança estava tão vivo em seu inconsciente que ao nos aproximarmos da causa do seu problema ela sentia-se na eminência de passar tudo de novo e repelia o fato com tal força que acordava daquela forma.
Fiquei pensativo por alguns instantes, depois disse:
- Que espírito forte o dela! Conseguiu até apagar os arquivos akásicos.
Nunca pensei que isso fosse possível.
- Não é possível mesmo. Eles ainda estão lá. O que ela fez, tentando acabar com eles, foi ocultá-los por um determinado tempo.
- Mas hoje ela não acordou apavorada.
- Por esse motivo eu disse que estamos progredindo. Um dia ela vai desejar enfrentar essa realidade, então estará curada. Como você sabe, essa é a melhor solução.
- Estou pensando nos casos complicados que a medicina encontra na Terra.
Se ao menos eles soubessem de todas essas coisas.
- Ajudaria, mas como você vê, mesmo aqui nem sempre temos como resolver certos casos.
- Eu tenho uma dúvida: será que um dos computadores de que dispomos na cidade onde vivo não ajudaria a esclarecer este caso? Não mostraria o facto que provocou esse problema?.
- Não creio. Eu mesmo fiz essa pergunta a alguns amigos que tenho lá e eles não conseguiram. Aconselharam uma pesquisa mais profunda no corpo astral, dizendo que essa disfunção poderia ser provocada por uma causa física. Não aceitei essa hipótese.
- Apesar de complexo não podemos esquecer de que o corpo astral ainda é matéria. Isso poderia ser verdade.
- Doutor Barcelos sorriu e respondeu:- Não poderia. Temos estudos da matéria do corpo astral em várias densidades, conforme o nível de evolução do espírito, e sabemos que o que une as energias e materializa esse corpo é o estado do espírito, suas atitudes, suas necessidades emocionais. Logo, sempre que se revele uma disfunção nesse corpo, a causa será invariavelmente fruto do espírito. É o espírito a grande força que move a matéria em qualquer dimensão do Universo.
Tive de concordar. Doutor Barcelos sabia o que estava dizendo.
- Gostaria de acompanhar melhor esse caso. Ficaria grato se depois que eu fosse embora você pudesse me manter informado.
- Será um prazer.
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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 3 Empty Re: O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 8:10 pm

- Temos o caso da Dalva. Nunca havia visto um tratamento como esse. Qual é o caso dela?
- Depressão profunda, devastadora.
- Ela não me pareceu tão mal.
- Está se recuperando bem. Logo terá alta.
- Aquele rapaz que ficou na cabeceira da paciente tem uma luz poderosa.
- De facto. Mário desenvolveu a capacidade de atrair e distribuir energias vitais. Ele vem trabalhando há muitos anos na preservação da natureza, não só na Terra como em algumas dimensões astrais. Tem nos auxiliado muito quando está entre nós. É muito ligado aos devas e a todas as espécies de seres elementais.
- O corpo da paciente antes opaco, criou vida.
- Isso vai durar enquanto ela conseguir manter pensamentos elevados. Você sabe como é isso. O pensamento bom ilumina, o negativo apaga, .
- É a eterna luta que temos para dominar nosso pensamento. Se as pessoas soubessem como um pensamento ruim machuca o corpo, atrai doenças, tomariam muito mais cuidado.
- É verdade. Mas mesmo sabendo nem sempre conseguimos vencê-los.
- É o que tentamos aprender quando reencarnamos.
- A densidade da atmosfera de lá permite que nossos pensamentos sejam mais lentos e que possamos estudá-los de uma forma melhor.
Levantei-me sorrindo:
- Obrigado por tudo. Quando eu for embora, gostaria de continuar mantendo contacto com seu trabalho.
- Terei prazer em trocar experiências com você.
Despedi-me e saí. Octaviano me esperava do lado de fora e indagou:- E então, foi bom?
- Foi óptimo. O grupo do Dr. Barcelos é muito bom. É difícil encontrar pessoas tão bem-dotadas.
- É verdade. É que aqui confiamos mais na potência do espírito que nas facilidades que as máquinas oferecem.
- Já sei. - Respondi sorrindo. - Você acha que o uso das máquinas acaba por bloquear nosso potencial.
- Não disse isso. Nós também temos algumas delas aqui e usamo-las com sucesso. O que não aceitamos é que elas possam substituir a criatividade do nosso espírito. Essas pessoas que você viu preferem confiar mais no que sentem do que no que muitas pesquisas afirmam como verdadeiras.
- Neste caso vocês estariam anulando a ciência.
- Não. Nós estamos verificando se o que os cientistas afirmam é verdade mesmo. Se suas teorias são verdadeiras.
- É uma forma de pensar. Também penso que não podemos aceitar tudo o quê os cientistas dizem como verdade absoluta. Tenho visto que o mundo científico evolui e, conforme avançamos no conhecimento, vai modificando suas afirmações.
- O que prova que eles, apesar de suas teorias, enganam- se também.
Não é que ele tinha razão? Nós temos forte tendência em aceitar as opiniões de pessoas que consideramos abalizadas sem questionar. Contudo, o próprio progresso da ciência demonstra o quanto seus adeptos já se enganaram.
Então você vai dizer: nesse caso em quem confiar? Eles estudaram o assunto no qual opinam, pesquisaram, experimentaram. Se eles não estão aptos a nos ensinar, ninguém está.
Eu sempre pensei assim, mas agora, diante do que estava aprendendo naquela comunidade, começo a pensar deforma diferente.
Não é que devemos deixar a ciência de lado, mas sim agirmos com bom senso. O progresso nos trouxe várias facilidades, mas também o risco de nos entregarmos ao comodismo, deixando de questionar e nos tornando dependentes dos outros.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 8:10 pm

Não podemos nos esquecer de que somos espíritos eternos e que ainda desenvolvemos muito pouco nossos potenciais. O progresso veio para nos auxiliar, não para que atrofiemos nossa capacidade, confiando mais no que os outros ensinam.
Você vai dizer que eles vivenciaram e tiraram conclusões das próprias experiências e, portanto, sabem o que estão dizendo. Até certo ponto sim, mas eu pergunto: com que olhos será que eles viram tudo o que estudaram? Que tipo de vida e de momentos viveram ao longo das encarnações que formaram suas crenças? Quais foram suas escolhas e até que ponto suas emoções influenciaram suas conclusões?
Difícil dizer. Mil pensamentos brotavam em minha mente e eu senti que precisava pensar melhor. Rever algumas crenças que prazerosamente alimentara até então.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2024 8:11 pm

- 17 -
Olhando os raios solares que penetravam através das cortinas da janela eu pensava em tudo quanto aprendera em Alverne.
- Eu fiquei envolvido em múltiplas actividades e o tempo passou rápido.
Faltava apenas uma semana para acabar aquela viagem e eu sentia que gostaria de ficar um pouco mais.
As experiências do Dr. Barcelos me interessavam bastante. Eu havia voltado ao hospital e com ele estudado mais alguns, casos. Perceber a capacidade dos seus assistentes, alguns dos quais tão especializados na captação de energias e na forma de distribuí-las, conseguindo resultados tão positivos que eu não imaginava ser possível,, deixava- me encantado.
Conversei com Octaviano sobre isso, ao que ele esclareceu alegre:
- Esse resultado, qualquer pessoa de nossa cidade que se interesse em desenvolver suas capacidades poderá conseguir. Claro que cada um em seu nível e em sua vocação.
- Eu sei que é preciso ter um bom padrão energético para morar aqui. Mas o que me chama atenção é que na cidade onde resido, temos o mesmo padrão daqui, no entanto, não vi lá qualidades pessoais como as que existem aqui. - Como assim?
- Em alguns auxiliares do Dr. Barcelos notei pessoas com alto desenvolvimento no trato com as energias, provocando transformações incríveis com excelentes resultados.
- Do que se admira? Nosso espírito é dotado de imensa capacidade.
- De facto, essa é uma verdade que todos acreditamos. Mas eu confesso que nunca havia encontrado pessoas com tanta capacidade.
- Na verdade, tudo está em nosso interior, mas temos que trabalhar para aprender a usá-las. Para isso, precisamos exercitar muito. E o resultado aparece. .
Calei-me envergonhado. Eu chegara àquela cidade pretendendo provar-lhes que os métodos usados em nossa comunidade, além de mais modernos, eram superiores. Que pretensão!
Eu que pensava ter vencido meus repentes de vaidade, notei o quanto ainda estava enrolado nela. Eu que pensara em ensinar-lhes alguma coisa, acabara descobrindo que eles é que podiam ensinar-me que há outros modos de fazer as coisas, tão bons ou até melhores que os nossos.
Apesar dessa constatação, uma coisa ficou clara na minha cabeça: a vida é tão rica, tão criativa, trabalha com tal diversidade e perfeição que dá a cada um ã possibilidade de escolher como desenvolver seus conhecimentos.
Que beleza! Que maravilha! Uma onda de emoção me acometeu e eu abri as cortinas, deixei o sol entrar na sala e não contive um pensamento de gratidão à fonte da vida por ter me deixado perceber tudo isso.
Um leve sinal indicou-me que havia alguém do lado de fora. Senti a presença de Octaviano e fui abrir alegre.
Depois dos abraços, ele me disse contente:
- Vim avisá-lo de que Joaquim vai chegar hoje.
- Que bom! - Exclamei. - Tenho muita vontade de conhecê-lo.
- Ele esforçou-se para vir, sabendo que você tem apenas mais uma semana para ficar aqui.
- Estava pensando nisso quando você chegou. Minha estada, além de prazerosa tem me ensinado muito.
- Se desejar prolongar um pouco mais, fique à vontade.
- Talvez em outra ocasião. No momento não posso. Preciso voltar ao trabalho. Deixei alguns projectos em andamento e preciso dar continuidade.
- Nesse caso, não vamos insistir. Joaquim só deverá chegar mais tarde. Dispomos de algum tempo. Gostaria de conhecer o Instituto de Pesquisas Naturais, no qual Engrácia realiza suas experiências?
- Gostaria muito.
- Nesse caso, vamos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2024 10:57 am

Saímos. O dia estava lindo e a temperatura agradável. O sol em Alverne, apesar de tornar o dia muito claro, não era tão forte como o da Terra. Não sei se por causa da atmosfera daquele lugar ou se pela composição do nosso corpo astral, muito diferente de quando estamos encarnados.
O que posso afirmar é que aqui a claridade do dia é mais limpa, sem nuvens, o que faz sobressair o colorido de tudo. As flores são mais vivas, o branco é mais branco e todas as cores são mais bonitas e puras.
Olhando em volta é como se estivéssemos andando dentro de um cartão postal, daqueles que comprávamos na Terra, sonhando com essa beleza que naquele tempo só era possível em nossa imaginação.
Não é que elas existiam mesmo? Quando eu estava no mundo nunca imaginei que elas existissem em algum lugar e que eu poderia contemplá-las ao vivo e a cores. Que maravilha! Pensando nisso, andando pelas ruas de Alverne, tenho certeza de que os artistas que criam esses cartões na Terra já devem ter passado por aqui. Claro.
Materializaram no mundo essas belezas.
Aliás, segundo sei, quando reencarnamos, embora esquecidos temporariamente do passado, guardamos no inconsciente essas reminiscências e procuramos materializá-las. É saudade da nossa vida astral, onde está nossa verdadeira casa e de onde nos afastamos para novas experiências, porém sempre voltamos para prosseguir em busca do nosso aprimoramento interior.
- Você está pensativo. - Comentou Octaviano, sorrindo.
- A beleza deste lugar me torna romântico.
- Eu sei. Eu também adoro este lugar.
- Nós somos pessoas felizes. Temos o privilégio de desfrutar de tudo isso.
- Estive de passagem em sua cidade. Gostaria de conhecê-la melhor.
- Quando quiser. Terei o maior prazer em recebê-lo em minha casa e mostrar-lhe as belezas que há por lá.
- Irei assim que puder. É aqui. Chegamos.
Paramos diante de um enorme portão, igual aos de ferro trabalhado que existem na Terra, rodeado por um muro alto. Ele disse o nome, o portão abriu.
Entramos em um jardim muito bem cuidado; no centro havia um prédio de três andares, linhas rectas, janelas altas, estilo dos que havia no Brasil no começo do século vinte.
Fomos para um hall, um porteiro nos cumprimentou atencioso. Octaviano conduziu-me a um salão; as paredes eram transparentes, permitindo que os raios solares entrassem sobre os tapumes que de tamanhos diversos, forravam o chão.
Sobre eles havia plantas de diferentes espécies e tamanhos, algumas floridas, outras de folhagens ornamentais.
O que me chamou a atenção foi que o solo de cada tapume, onde elas estavam plantadas, era diversificado. Isto é, cada um de uma cor diferente.
Algumas tinham uma cobertura de um véu delicado, meio azulado. Curioso indaguei:
- Por que o solo é tão colorido e diferente dos jardins da cidade?
Octaviano explicou:
- São pesquisas em andamento. Como você sabe, Engrácia demorou um pouco para conseguir bom resultado nesta cidade; não havia jardins como agora. Para conseguir isso, ela juntou-se com alguns cientistas interessados e começaram a pesquisar. Tiveram a ideia de misturar com o solo alguns elementos que filtravam da atmosfera, juntaram alguns recursos já existentes e conseguiram chegar ao que é boje.
- Excelente resultado. Os jardins são lindos.
- Mas eles não pararam no sucesso. Continuaram as pesquisas como você pode ver aqui.
- A beleza é fundamental, eleva o espírito.
- É verdade. O esforço deles, porém, atraiu a atenção dos médicos da cidade que se juntaram a eles e criaram neste Instituto um departamento de pesquisas voltadas à cura, com excelentes resultados.
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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 3 Empty Re: O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2024 10:57 am

- Eu estava pensando exactamente nisso. Apesar de quando eu estava no mundo haver deixado a medicina pelo teatro, ainda sinto vontade de curar as pessoas. Acredito que na natureza há elementos para curar todas as doenças.
Em nossa cidade continuo acompanhando todos os progressos nessa área.
- Nesse caso vamos passar ao departamento de cura.
Acompanhei-o, pensando na generosidade, da vida. Seja onde for que você for chamado a viver, seja na Terra ou em outras dimensões, sempre haverá alguma coisa para aliviar seus sofrimentos, sejam físicos ou emocionais.
Ao entrar no imenso salão, notei logo que era completamente diferente do anterior. Havia filtros transparentes em que os líquidos coloridos passavam, alguns efervescentes, outros gelatinosos. Sobre um balcão, formas que continham massas cada uma de uma cor. Algumas mais densas, outras transparentes.
Era um espectáculo tão lindo, difícil de descrever a vocês, mas me fez lembrar uma confeitaria muito apetitosa e agradável:
- Que bonito! - Exclamei admirado.
- Também acho. Eu poderia chamar isto de nossa farmácia. Temos remédios para todos os males. Inclusive placebo.
Sorri satisfeito. Eu já havia encontrado pessoas que, mesmo depois da morte, desejavam continuar tomando remédios que se habituaram no mundo.
- Em nossa cidade também temos esse tipo de auxílio.
- Mas não pense que todos os nossos remédios são para isso. Mesmo aqui, onde para poder morar é preciso certo padrão espiritual, há pessoas que são tão impressionáveis que não conseguem esquecer os problemas que passaram no mundo. Com isso, sentem dores, angústias, pesadelos, remorsos, culpas etc.
Por tudo isso, além do socorro psicológico, espiritual, há a necessidade de ajudar com algum medicamento.
Sorri satisfeito.- As pessoas no mundo não pensam que a vida aqui seja assim, mas depois da morte, cada um continua sendo o que foi. As mudanças ocorrem, mas a vida não dá saltos. Tudo tem continuidade, seja onde quer que você viva.
- Depois da morte física, a vida continua de maneira natural, sempre nos oferecendo condições de aprendizagem e de desenvolvimento.
Fui apresentado ao encarregado que satisfez todas as minhas curiosidades, explicando como eram realizadas as pesquisas e quais eram as mais recentes descobertas.
Por se tratar de um assunto técnico, cujas bases são diferentes das que se usam no mundo, uma vez que as condições desta dimensão são específicas, não vou transcrevê-las para vocês. Só posso dizer que fiquei encantado com o trabalho deles.
Eu que imaginara que na cidade em que moro tínhamos um padrão de conhecimentos científicos superior ao de Alverne, tive de reconhecer que estava enganado.
Embora eles trabalhassem de outra forma, utilizando mais o potencial das pessoas do que os aparelhos considerados as últimas descobertas da ciência, tão em moda em minha cidade, os resultados eram iguais ou até melhores que os nossos.
Esse sistema também fora positivo para os pesquisadores, fazendo com que desenvolvessem uma capacidade muito grande de captação, o que tornava muito mais rápido os atendimentos e o que me surpreendeu, com um percentual maior de acerto.
Eu ainda não havia encontrado pessoas tão intuitivas, com tanta capacidade de trabalhar com as energias, como as que conhecera em Alverne, o que deu voltas em minha cabeça, fazendo-me imaginar as coisas que eu faria quando regressasse a minha cidade.
Depois de visitarmos Engrácia na administração, onde trocamos ideias sobre o Instituto, despedimo-nos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2024 10:58 am

Eu estava encantado, meditando sobre a maravilha do Universo, a perfeição da Inteligência Divina, que tudo organizou de maneira perfeita em nosso benefício.
Foi com o coração cheio de gratidão que voltamos para casa. Octaviano despediu-se:
- Joaquim deverá chegar mais ou menos dentro de uma hora. Vou sair agora, mas voltarei a tempo de recebê-lo.
Depois que ele se foi, sentei-me ao lado da janela e, observando os raios de sol que se despediam na tarde que morria, voltei meu pensamento à Divina fonte que tão inteligentemente cuida de todos nós, sentindo dentro de mim o calor da gratidão e do respeito para com a vida.
É uma bênção podermos participar deste banquete, melhor ainda, de sermos parte integrante e actuante de tudo o que nos rodeia, sem perder nossa individualidade!
Lembrei-me das pessoas que eu amo, algumas distantes ainda, mas outras com as quais convivo com alegria, e agradeci a Deus por ter me dado a vida, uma consciência capaz de perceber, uma sensibilidade capaz de sentir.
Nesse momento de introspecção, muitas lembranças que me eram caras reapareceram, fazendo-me sentir as mesmas emoções de quando as vivi.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2024 10:58 am

- 18 -
O carrilhão da sala deu oito badaladas, fazendo-me despertar. Levantei-me olhando em , volta e querendo me situar, notei logo vozes alegres que vinham da porta.
Várias pessoas conversavam alegremente no hall de entrada e, depois de recompor minha aparência, fui ao encontro delas.
Doroteia estava entre essas pessoas e aproximou-se de mim, sorrindo:
- Como vai? Viemos abraçar nosso amigo Joaquim.
- Vou bem. É muito bom vê-la novamente. Estou ansioso para conhecê-lo.
Um dos presentes virou-se, estendeu os braços e sorriu. Era alto, magro, elegante, usava calça justa, camisa de mangas compridas e um colete. Tinha testa larga, vastos cabelos ondulados que lhe cobriam a nuca, olhos verdes e vivos, dentes claros e bem distribuídos.
Fixei-o e senti logo que era uma pessoa especial. Abracei-o, dizendo:
- Seja bem-vindo na volta ao lar.
- Obrigado por ter cuidado com carinho de tudo enquanto estive fora.
- Eu é que agradeço sua hospitalidade.
- Eu queria ter voltado antes para poder usufruir sua companhia por mais tempo. Mas não foi possível.
- Ainda temos uma semana.
- Vamos aproveitar cada minuto. Eu já tinha ouvido falar de você e estava ansioso para encontrá-lo. Mas vamos passar para a sala.
Éramos sete pessoas e nos acomodamos na sala. Um dos presentes perguntou a Joaquim:
- Você deve ter estado na crosta. Que notícias traz?
- Infelizmente; não são as que gostaríamos. Há muita violência e o sofrimento continua, principalmente para aqueles que resistem ao bem. - Respondeu Joaquim. - Mas, apesar disso, há no meio deles muitas pessoas do bem, interessadas em viver melhor.
- É que aqui só temos ouvido falar do horror que há por lá, onde a vida humana parece que não vale mais nada. - Acrescentou uma das mulheres.
- As pessoas prestam mais atenção ao mal do que ao bem. Falam mais do que é ruim e não comentam o que é bom. - Esclareceu Joaquim. - Eu prefiro falar das coisas boas. Actualmente, na Terra, as pessoas estão despertando para sua própria responsabilidade diante da vida. Estão descobrindo que, em primeiro lugar, cada um precisa cuidar de si mesmo. Esse conceito está abrindo as portas da consciência para a verdade.
Joaquim fez ligeira pausa, e notando o interesse com que era ouvido, continuou:
- Todas as escolas que trabalham pelo progresso da humanidade, seja no astral ou na Terra, estão se empenhando em conscientizar as pessoas de que só conquistarão a felicidade pelo esforço próprio.
- Estou aprendendo isso a duras penas. - Interveio uma senhora.
- Todos estamos. - Respondeu outro companheiro. - Ainda não nos libertamos dos conceitos do mundo, cujos valores estão invertidos. As pessoas estão cansadas de sofrer, desiludidas, sem rumo.
- Joaquim retomou a palavra:
- É por essa razão que o momento é favorável ao esclarecimento da verdade. Notei muita movimentação nesse sentido. Várias cidades astrais, mais esclarecidas, deslocaram grupos de pessoas interessadas em renovar as ideias, reformar a sociedade terrena. É a Nova Era em acção. Vários deles, reencarnados no mundo, estão formando grupos de educação emocional, inspirados por companheiros astrais. Os resultados já se fazem sentir na mudança de opiniões de muitos que acordaram para a sua própria responsabilidade diante da vida. Nosso amigo Silveira, que está nos dando o prazer de sua companhia, já realiza esse trabalho com bastante sucesso. Conte-nos sua experiência.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2024 10:58 am

- Há alguns anos, juntei-me a um grupo que reencarnou para trabalhar nessa área e temos desenvolvido um trabalho que, embora modesto, tem obtido resultados muito positivos.
Notando que ouviam com interesse, continuei:
- Escrevi alguns livros que foram publicados na cidade de São Paulo, mas que hoje percorrem todo o Brasil. Quando o primeiro livro foi publicado, eu e o grupo que trabalha comigo, dedicamo-nos a uma pesquisa dos resultados.
Acompanhamos cada livro e as reacções das pessoas que os liam. Com muitas delas, entramos em contacto com os espíritos que eram ligados a elas, pedindo-lhes que no momento da leitura, envolvessem-nas para inspirar- lhes novas ideias, ajudando no processo de esclarecimento.
- Deve ter sido interessante. - Tornou Joaquim.
- Confesso que foi emocionante. Muitas vezes acompanhei amigos meus que ainda estavam no mundo, querendo abrir-lhes os olhos para a vida espiritual. Principalmente aqueles cujo desencarne eu sabia que estava próximo.
- Conte-nos alguns. - Pediu uma senhora.
Bem, eu vivi na cidade do Rio de Janeiro. Residia lá um artista famoso, humorista de nome, cuja esposa era pessoa de fé, lia os livros espiritualistas.
Ela insistia para que o marido lesse esses livros, porém ele não queria. Não se preocupava com espiritualidade, não acreditava em vida após a morte. Fiquei sabendo que ele deveria desencarnar em breve de uma forma inesperada e, embora eu não soubesse a data certa, achei que seria muito bom para ele se preparar, conhecer o que acontece quando o corpo morre etc.
Eu sabia que ele desejava escrever uma peça de teatro e o inspirei para que lesse um dos meus livros. Ele começou a ler e nós aproveitamos o enfoque mental dele para inspirá-lo de tal sorte que ele entusiasmou-se e resolveu escrever a peça sobre o tema do livro.
Eu e meu grupo ficamos ao lado dele até momento em que, estando dormindo em sua cama, uma bala perdida o fez regressar. Fomos recebê-lo muito emocionados. No início ele não entendeu bem o que havia acontecido, confundia o sonho com a realidade, mas pouco tempo depois melhorou, entendeu a nova situação e ficou bem.
Confessou-me emocionado. A leitura do meu livro, pouco tempo antes de sua morte, fez com que ele reflectisse sobre o destino dos seres, ajudando-o a encarar esse momento com coragem, auxiliando-o a aceitar a maneira brusca e inusitada que lhe tirara a vida física.
É maravilhoso saber que quando estamos encarnados, esquecidos do passado, existem pessoas que se dedicam a nos proteger, esclarecer. - Comentou uma senhora.
De facto - tornou Joaquim -, é confortador. Mas por outro lado, todos nós estamos ligados à vida terrena, de uma forma ou de outra. Alguns deixaram lá seus entes queridos, outros se preparam para voltar. Em ambos os casos, é nosso interesse contribuir para a melhoria da sociedade no mundo, trabalhando na construção do bem.
Nesse momento, Octaviano e Engrácia chegaram, abraçando a todos, e a conversa continuou alegre e agradável.
Uma hora depois, as pessoas foram se despedindo. Finalmente fiquei sozinho com Joaquim.
Apesar da boa disposição que ele demonstrava, discorrendo sobre as novidades na Terra de maneira positiva, senti que alguma coisa não estava bem. Contudo, não me atrevi a perguntar. Foi ele que, com naturalidade, tocou no assunto que o incomodava.
- Há momentos na vida em que é preciso parar, respirar fundo, renovar o ânimo antes de prosseguir.
- Sinto que o amigo está triste.
- Estou. Triste e frustrado. Não sei o que fazer.
- Nesse caso é melhor não fazer nada. Quando me sinto assim, espero a crise passar para que as ideias possam clarear.
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