LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - Esmeralda / ZÍBIA GASPARETTO

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:37 am

Esmeralda
Psicografado por Zibia M. Gasparetto

Pelo Espírito Lucius
Índice

Prólogo


Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:39 am

Prólogo
Todos nós escolhemos livremente nossos caminhos.
Pressionados pelas emoções, baseados em nossos sentimentos, envolvidos em nossas ilusões.
Escolhemos ao preferir esta ou aquela oportunidade, ao fazer este ou aquele conceito, ao colocarmos em nossos próprios olhos as lentes com as quais preferimos enxergar a vida, as pessoas, as coisas.

Tudo é escolha nossa.
Apesar disso, muitas vezes, nos revoltamos quando, ao toque da realidade que sempre toma o nome de desilusão, o reflexo de nossas escolhas nos atinge o coração, com resposta diferente da que esperávamos, porém a única possível como reacção de nossos actos.

Enganar-se na escolha é facto tão comum a nós todos como a presença do sofrimento e da dor, instrumentos de reajuste a que por isso fizemos jus.
Revoltar-se diante das consequências de nossos próprios actos é tão ingénuo e inadequado quanto nossa teimosia em conduzir a vida como se ela pudesse obedecer-nos, servindo a nossas fantasias e infantilidades.

A vida é perfeita porquanto é criação de Deus.
Assim sendo, suas respostas guardam a sabedoria divina.
Nenhum homem poderá controlá-la.

Ao contrário, há necessidade de compreender-lhe a essência e procurar harmonizar-se a seu movimento, que é a garantia de nossa felicidade, porquanto sua meta única e objectiva é a de tornar-nos espíritos mais conscientes das verdades eternas que guarda em seu seio, e felizes participantes da alegria divina que tudo movimenta e harmoniza no belíssimo concerto universal.

Ao trazermos neste livro pedaços de nossa memória, relembrando acontecimentos de outros tempos, temos o objectivo de mostrar, através dos factos reais onde cada um dos protagonistas escolheu seu rumo, as respostas que tiveram da vida.

É claro que, tanto eles quanto nós próprios continuamos em nossa trajectória, escolhendo novos rumos e recebendo as respostas e estímulos da vida.

Porém, neste "flash" que relatamos de suas vidas, podemos, quem sabe, encontrar em suas emoções e lutas reflexos de nossos anseios mais íntimos e, desta forma, percebermos por antecipação as respostas que a vida nos daria, neste ou naquele roteiro, e podermos assim nortear nossas escolhas para colocar nu nossos caminhos mais alegria, mais felicidade e mais paz.

Estes são meus votos.
Lucius

São Paulo, 13 de julho de 1983
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:40 am

Capítulo I
Espanha! Terra do sonho! Sol, flores, músicas, colorido.
Valença! Cidade do sol, das mulheres, dos amores e da música.
Suas mas estão cobertas pelas lembranças dos tempos e pela poeira dos séculos.

Agosto, 1812.
A cidade em festa e o ruído alegre dos romeiros que demandavam à Praça para o Dia de Graças.

Carlos caminhava alegre, tinha asas nos pés, música nos lábios, flores no chapéu e alegria no coração.
Mocidade: tudo muda a seu toque mágico, todas as coisas se embelezam!
Agosto, 1812. Festa em Valença, vinte anos, juventude, força e beleza. Como não sorrir?
Como não brincar com o amor das mulheres ardentes da Andaluzia, como não tanger a guitarra em ritmos loucos? Como?

Agosto, 1812. Espanha. Valença. Festa. Luz.

Praça regurgitando.
Cheiro gostoso das castanhas na brasa, dos biscoitos rosqueados e das brincadeiras ingénuas.
O moço galgou a praça sentindo na boca o gosto de viver.

O mundo era seu. Ele era o dono de tudo.
No meio, as barracas coloridas de San Agustin, no pregão dos leilões o alarido alegre e a fumaça das fogueiras, onde as carnes eram assadas.
No centro, as pipas de vinho e os bebedores inveterados contando seus chasqueados e mitos.

Carlos queria dançar.
O som da guitarra e da música cigana o animava.
Vestira a roupa colorida dos moços da rua, longe do palácio escuro dos seus e da disciplina dos parentes.
Seus muros pesavam, sua severidade o esmagava.

Era verão e havia festa entre o povo.
Ele queria estar entre eles. Vestira roupa plebeia.
Ninguém o vira sair. Caminhou contente.
Dançar! Era isso.

De passagem, pegou uma caneca de vinho e bebeu deliciado.
Até o vinho comum pareceu-lhe infinitamente melhor do que o de sua adega.

Uma cigana rodopiava entre os pares que dançavam na rua.
Mergulhou na música e nos braços dela.
Seu corpo jovem e belo parecia ter asas e em seu rosto corado havia satisfação e êxtase.

Parecia irreal e distante.
Carlos a enlaçou, dançaram juntos, quanto tempo?
Uma, duas, três, quatro horas?
Até que a noite desceu e se atiraram rindo, exaustos e felizes, ao chão.

A festa prosseguia e os lábios da cigana tinham a cor e a frescura dos botões de rosa.
A certa altura ele não se conteve, levou-a para um local deserto e no campo ermo, à luz das estrelas, amaram-se loucamente.

Depois, olhando-a nos olhos, Carlos indagou:
— Como te chamas?
— Esmeralda.
— Esmeralda! Jóia preciosa.
— E tu, como te chamas?
— Ricardo — mentiu ele por força do hábito.

Ela alisou-lhe o rosto com suavidade.

— Não és cigano. Quem és?
— Ninguém. Um pobre-diabo. Mas eu te amo.
Ela riu deliciada.
— Não nos deixaremos mais — sentenciou decidida.
Virás connosco. Se não és ninguém, podes ser cigano.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:40 am

Ele sorriu enlevado.
Se ele pudesse! Por que não?
Talvez fosse possível ficar uns tempos com eles. Seria fascinante.
Afagou a cabeça morena da cigana, cujos cabelos sedosos e ondulados levantavam delicados caracóis que a dança liberara.

— Posso ir contigo?
— Claro. Miro não vai importar-se.
Quanto ao resto, deixa comigo.
Ficaremos juntos para sempre.
Amanhã, depois da festa, seguiremos para Madrid. Vens comigo?

— Vou. Mas antes preciso pegar minhas roupas e algum dinheiro.
Tenho pouco, não me demoro.
— Não te vás ainda — pediu ela.

Abraçaram-se de novo.
Só de madrugada, o dia amanhecendo, ele pôde deixá-la com a promessa de que voltaria quando o sol saísse e juntos partiriam para sempre.

Cansado e feliz, Carlos regressou.
A abertura secreta por onde ele entrava e saía do castelo cheirava a mofo e provocou-lhe náuseas.
Não bebera muito vinho, mas embriagara-o o amor de Esmeralda.

Entrou no quarto onde seu valete dormia largado.
Pobre-diabo. Uma caneca de vinho e pronto, não incomodava mais.
Abriu as cortinas, pegou umas roupas e colocou-as num saco.
Seu pai já se levantara, por certo. Tinha que lhe falar.

O sol já ia alto quando Carlos entrou no salão e o viu ocupado no exame de uma caixa com armas de caça que estava aberta a sua frente.

— Carlos!
— Deus vos salve, meu pai.
— Deus vos abençoe, meu filho.
— Pai, preciso de vossa ajuda.

O rico senhor, alto, moreno, caprichosa barba descendo-lhe sobre o peito alcançando o elegante gibão de veludo, seu olhar frio e meticuloso examinando as armas com atenção, respondeu:
— Fala.
— Preciso de vossos préstimos.
— Para quê?
— Preciso de vossa licença para ir a Madrid.
— Que queres de lá? Por acaso a corte te chama?

Conhecendo-lhe o fraco, o moço aduziu:
— Meu amigo Álvaro está em casa de D. Hernandez.
Vão às festas de verão e por certo D. Maria estará lá.
O velho pareceu agradavelmente surpreso.
— Queres lá ir?
— Sim. Com vossa permissão.
Serei hóspede de D. Hernandez, pai de D. Maria.
Tenho vossa permissão?

— Com gosto.
Leva este saco de ouro para tuas necessidades.

Era com alegria que recebia a decisão do filho.
Há tempos sonhava com a união de sua casa com a de D. António Hernandez, nobre e conceituado senhor, rico e poderoso.
Carlos sempre se mostrara indiferente e agora estava disposto a cooperar.

— Leva teu valete. Não podes lá ir sem ginete.
Carlos coçou a cabeça contrariado.
Aquela mula poderia estragar tudo.
Porém não podia contrariar o pai.
Não desejava ter problemas.
Queria gozar a vida, mas não pretendia deixar de lado seu património familiar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:41 am

— Quando partes?
— Agora, se vossa senhoria permitir...
— Tanta pressa?
— Sim. Esperam-me lá para abrir as danças.
— Certo. Podes ir com meus préstimos a D. António.
Não podes partir sem mimos para a família.
Seria imperdoável.
Como hóspede, tens a obrigação de ser delicado.

Carlos disfarçou o enfado.
Tinha pressa em rever Esmeralda.

— Achais necessário?
— Por certo. Aqui tens esta pistola cravejada, leva-a para D. António.
Quanto a D. Engrácia e D. Maria, tua mãe te dará algumas jóias delicadas.
Vai ter com ela, que te vai servir.

Carlos apanhou a caixa com a pistola e apressou-se em procurar seu valete. Sacudiu-o com força.

— Acorda, diabo.
Anda, arruma tuas coisas que vamos para Madrid. Avia-te rápido.

O criado acordou assustado e sem perguntar nada apressou-se a obedecer.
— Prepara os cavalos, que tenho pressa.

Em seguida, dirigiu-se aos aposentos de sua mãe.
Seu rosto encheu-se de ternura fixando a figura robusta e agradável de D. Encarnação.
Era jovem ainda, cabelos castanho-escuros caprichosamente penteados, presos em coque na nuca, tez clara e delicada, olhos castanhos e alegres, vivos e expressivos;
porte erecto que o vestido severo afinava, dando-lhe gracioso aprumo.

— Deus vos salve, mãe querida.
D. Encarnação voltou-se surpresa.
Um brilho malicioso apareceu-lhe no olhar, tornando-a incrivelmente jovem.

— Que forças benditas arrancaram-te da cama tão cedo?
Ou será que não te deitaste?
Carlos tentou dissimular:
— Nada, preciosa. Vou viajar.
Acordei cedo. Vou a Madrid.
— A Madrid? A que vais?
— Às festas de verão.
Vou hospedar-me em casa de D. António Hernandez.

A mãe abanou a cabeça, pensativa.

— Por que queres lá ir?
Por acaso teu pai exigiu?
— Não. Mas cansei-me daqui e resolvi ir às festas.
Meu pai deseja ofertar mimos às damas na casa de D. Hernandez.
Vim despedir-me de ti e buscar algumas jóias de tua colecção.

A mãe abraçou-o com carinho.

— Certamente, meu filho.
Mas vê lá o que fazes em Madrid.
Tens muita gana de divertimentos e a corte traz muitos perigos a um jovem como tu.
Lá mata-se à espada por qualquer querela.
— Levo meu valete. Há-de proteger-me.
Depois, sabes que sou trocista. Não gosto de pelear.
Quero dançar e brincar.
Não entro em disputas ou brigas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:41 am

— É — suspirou ela —, isso me acalma.
Quanto tempo estarás por lá?
— Não te apures. Dois ou três meses.
Se não gostar, volto antes. Agora preciso ir.

D. Encarnação, resignada, apanhou uma caixa e dela escolheu dois regalos que acondicionou e entregou ao filho.

— Aí estão.
O broche para D. Engrácia e os brincos com o colar para D. Maria.
— Deus te bendiga, mãe querida. Sentirei tua falta.

Carlos era sincero.
Sua afinidade com a mãe era pronunciada.
Apanhou o saco com as jóias e beijando-lhe a face com carinho saiu apressado.

Pediu a bênção ao pai e deu-se pressa em alcançar o pátio onde o ginete o esperava com os cavalos, os sacos de cada um presos à sela do animal.
Montaram e saíram.

Assim que o castelo ficou para trás, Carlos parou e chamou seu valete:
— Inácio.
— Pronto, Dom Carlos.
— Quero que entendas.
Não me chames mais de Dom Carlos.

— Não?!
— Vais me chamar de Ricardo. Meu nome agora é Ricardo.
— Como pode ser? Sois Dom Carlos.
— Escuta. Se me chamares de Dom Carlos, mais uma vez que seja, parto teu pescoço e te arranco a língua. Entendeste agora?
— Sim, senhor. Sim, senhor.
— Vamos ao acampamento dos ciganos.

— Ciganos? Valha-nos Deus.
Vão assaltar-vos. Não podemos ir...
— Cala-te homem.
Se abres a boca para contar a D. Fernando, arranco-te a língua.
— Patrão, é perigoso.
D. Fernando quer que eu cuide do menino.
— Pois de mim cuido eu. Vais comigo e não vais abrir a boca.
Nem para os ciganos.
Eu agora sou Ricardo Álvares, moço aventureiro e sem família.

— Mas não sois. É mentira.
— Mas estou sendo e se me desmentires, se alguém souber meu nome certo, tua vida não vale mais nada.
— Ai, Deus meu! Que triste sorte!
Se D. Fernando souber, me mata;
se eu falar a verdade, o menino me mata.
Estou morto de todo jeito...

— Pára de lamentar-te.
Se me servires com devotamento, se me obedeceres, só tens a ganhar.
Estarás comigo e teremos muitas alegrias.
— Para vos servir vivo eu.
Minha vida por meu amo e senhor.
Mas ir aos ciganos é loucura!
Levam vida devassa.
Assaltam, roubam, meu amo não os conhece.

— Bobagens. Conheço-os muito bem.
Sei o que faço, e não me chames de amo.
Sou Ricardo e pronto.
Vigia-te para não me traíres.
A primeira marotada que fizeres, não te levo comigo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:41 am

Inácio baixou a cabeça magoado.
— Não podeis fazer isso comigo. Eu vos vi nascer.
— Não me venhas com essa história.
Se me obedeceres, tudo irá bem, ficaremos algum tempo e voltaremos para casa.
Agora vamos, tenho pressa.

Carlos esporeou o animal, que partiu a galope obrigando Inácio a correr para alcançá-lo.
O sol já ia alto quando chegaram ao acampamento cigano.

Este localizava-se em um belo bosque, onde tinham espalhado suas carroças, cada família fazendo sua própria comida.
Os cavalos pastavam sossegados, e as carroças sob as árvores estavam silenciosas, demonstrando que a maioria dormia.

Pelo chão, vestígios da festa, garrafas vazias, objectos, fitas coloridas, canecas, restos de fogueira e pedaços de carne ainda nos espetos, mostrando que tinham continuado a festa no acampamento.
Algumas crianças brincavam descuidadas.

— Acho que dormem — pensou Carlos, aspirando com delícia o cheiro de mato misturado ao odor particularmente excitante da aventura e do lugar.

Inácio olhava o amo, temeroso e aflito.

Carlos desceu do cavalo e dirigiu-se às crianças.
— Menino, podes me dizer onde é a carroça de Esmeralda?
— Posso. Ide por ali e no fim encontrareis três carroças: a do meio é a dela.
— Vamos embora, Dom Carlos... digo, Dom Ricardo...
— Cala-te, homem. Não é Dom, é só Ricardo.
E não facilites ou te arranco a língua, assim ficas mudo e nunca mais dirás o que não deves. Fica aqui e espera.
— Sim, senhor — disse Inácio amargurado.

D. Carlos segurando o animal pelas rédeas adiantou-se rumo à carroça de Esmeralda.
Ao lado, uma velha acendia uma fogueira colocando um tacho sobre ela.
A carroça de Esmeralda estava fechada. Era de bom tamanho, em comparação com as demais, seus varais descansavam no chão, mas, apesar disso, ela continuava em posição recta, pois havia um encaixe onde os varais se movimentavam, tinha uns dois metros e meio de comprimento por um e oitenta de largo e estava coberta por espécie de lona de cor indefinida.

Mas tanto na parte dianteira como na traseira, cortinas de panos coloridos colocavam uma nota alegre no acanhado veículo.

Aproximando-se, Carlos chamou:
— Esmeralda, Esmeralda! — Não obteve resposta.
Esmeralda! — continuou, elevando a voz.

A velha continuava ao pé do fogo indo e vindo na carroça contígua.
Depois de chamar algumas vezes, Carlos dirigiu-se a ela.

— Mulher, podes me dizer onde está Esmeralda?
— Para que a queres?
— Ela me espera. Combinamos ontem em San Agustin.
Ela não está?

A velha sacudiu os ombros.
— Deve estar. Mas está cansada e dorme.
Melhor não chamar. Ela não vai acordar. É capaz de dormir o dia todo.
— Disse que ia me esperar — retrucou ele, um pouco contrariado.
— Disse? É, pode ser.
Mas quando dorme, ninguém se arrisca a acordá-la.
Fica contrariada e perde a alegria.
E quando Esmeralda perde a alegria, tudo pode acontecer.

— Queres dizer que devo esperar?
— É. Deves.
Se queres mesmo falar com ela, espera que ela mesmo te chame quando acordar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:41 am

Apesar de contrariado, Carlos resolveu esperar.
Não era de seu feitio ceder, mas Esmeralda dançara muito e bebera muito vinho também, certamente não possuía sua resistência e não conseguia acordar.

Chamou Inácio.
— Vamos dormir um pouco.
— Mas eu não tenho sono.
Dormi muito bem esta noite.
— Eu vou dormir.
Se queres ficar acordado, não fales com ninguém, nem saias daqui.
Quando Esmeralda acordar, chama-me.

Apesar de não saber quem era Esmeralda, Inácio concordou.
Já suspeitava que devia ter rabo de saia na aventura. Apanhou a manta.

— Onde desejais repousar?
— Deixa que eu me arrumo.
— E se esses homens acordarem?
— O que tem?
— Não vão nos expulsar?

Vários ciganos dormiam a sono solto espalhados pelas moitas, alguns ainda conservavam entre os dedos a caneca vazia.

— Não tem perigo. Deixa-me dormir. Estou cansado.

Escolhendo uma moita de capim macio, estendeu a manta e estirou-se com gosto.
Afinal, estava mesmo cansado.
Um bom sono lhe faria muito bem.
Olhou as nesgas de céu azul que apareciam por entre as copas das árvores.

Era feliz. Vinte anos, alegria, aventura, amor!
O rosto de Esmeralda, corado e brilhante, surgiu-lhe na mente entre volteios de dança, o gosto de seus beijos ardentes aqueceu-lhe o coração.

Embalado por doce amolecimento, adormeceu.
Despertou horas depois com um retinir de ferros e um alarido.
Esfregou os olhos tentando lembrar-se de onde se encontrava.
Avistou Inácio encolhido atrás da árvore.

— Que diabo fazes aí? — indagou ainda sonolento.
— Nada. Estava esperando que acordásseis. Tive medo deles.
— Falaram contigo?
— Não. Parece que nem nos notaram, mas tive medo.
Falam aos berros.
Soltam pragas, dão altas risadas, não agem como gentis-homens.
— Claro que não. Viste Esmeralda?

Inácio sacudiu a cabeça.
— Não saiu da carroça?
— Não saiu ninguém.

Carlos perpassou o olhar pelo acampamento.
Os homens tinham acordado e movimentavam-se de um lado a outro.
As mulheres e as crianças circulavam ao redor das fogueiras comendo batatas e milho verde assados e restos de carne da noite anterior.

Alguns bebiam borra de milho.
Os homens cuidavam dos animais e dos arreios.
Pelo jeito preparavam-se para levantar acampamento.

— Preciso achar Esmeralda — pensou Carlos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:42 am

Sentiu fome.
Tinha provisões que trouxera para viagem.
Pedaços de carneiro e pão.
Inácio trouxera vinho, mas Carlos estava um pouco enjoado.
Comeu e impacientou-se. Dirigiu-se à carroça de Esmeralda.

— Esmeralda! Esmeralda!

Não obteve resposta. Não ia esperar mais.
Colocou a mão na cortina para abri-la.

Violenta chicotada atingiu-lhe a mão crispada.
Carlos deu um grito de dor e de susto, e furioso procurou a mão que o vergastara.
Um cigano alto e muito forte estava de pé ao lado da carroça tendo ainda na mão o chicote que o castigara.

— Esmeralda dorme.
Não pode ser perturbada.
E não deves tentar entrar.
Se puseres a mão de novo aí, vou usar a espada e garanto que nunca mais terás mão para pôr em lugar algum.

O cigano falava sem altear a voz, mas seus olhos brilhavam como aço.
Carlos percebeu que ele não brincava. Resolveu contemporizar.

— Ela combinou comigo.
Mandou que eu viesse e quer me ver.
Somos amigos. Não vou lhe fazer nenhum mal.

O cigano riu sonoramente.
— Fazer mal a Esmeralda? Tem graça.
Mas se continuares amigo dela e ficares por aqui, tens que fazer o que ela quer.
Quando Esmeralda dorme, eu vigio e só quando ela acorda e quer é que se levanta.
Agora sai daí e espera, se quiseres.

A contragosto, Carlos afastou-se da carroça, indo deitar-se novamente em sua manta.
Inácio estava pálido.

— Vamos embora, amo, enquanto é tempo.
Isto não é lugar para nós. Esses ciganos vão nos matar.
— Não vou embora sem falar com Esmeralda.
Se ela não me quiser, voltaremos.
Mas por enquanto vou esperar.
— Por que não vamos à vila e voltamos mais tarde?
— Não adianta. Não saio daqui. Vamos aguardar.

Resignado, Inácio sentou-se.
Mas apesar de fingir descansar, observava os ciganos entre preocupado e temeroso.
As horas foram passando e Carlos cada vez se impacientava mais.

Sentado sob uma árvore, cerrava os olhos fingindo dormir, mas as cortinas da carroça da cigana o atraíam e não conseguia desviar dali sua atenção.
A actividade do acampamento prosseguia e algumas carroças já atrelavam os cavalos, preparando-se para viajar.

Carlos irritava-se que ninguém se preocupasse com a cigana.
Ela podia até estar doente.
Será que ela não pretendia partir?

A tarde já começava a declinar quando finalmente uma mão nervosa correu a cortina da carroça.
A figura graciosa da cigana surgiu fresca como uma flor de manhã.
Carlos levantou-se de um salto.

— Finalmente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:42 am

Ela saltou da carroça com agilidade.
E passou por Carlos parecendo não vê-lo.
Dirigiu-se aos ciganos com alegria, apanhou uma espiga de milho e a trincou com gosto.

Carlos mal se continha.
Será que Esmeralda não mais se lembrava dele?
Irritado, acompanhou-a com o olhar. Ela pareceu ignorá-lo.

Brincava com as crianças, chasqueava com os homens, abraçava as mulheres.
Essa mulher parecia-lhe distante.
Não era a mesma que suspirara de amor em seus braços.
Certamente já o tinha esquecido.

Profundamente decepcionado, Carlos, vendo-a abraçada ao moço cigano que o chicoteara, decidiu:
— Acho que tens razão, Inácio. Vamos embora.

O ginete suspirou aliviado. Graças a Deus!
Apanhou os cavalos, Carlos juntou seus pertences e desanimado começou a preparar-se para partir.
Afinal, sua aventura durara pouco.
Puxando o animal pelas rédeas, foi se afastando vagaroso, lançando um último olhar para os ciganos.
Não viu Esmeralda.
Cabisbaixo, começou a andar pelo bosque, puxando o animal e seguido por Inácio aliviado.

— Vamos montar para ir mais depressa.
Chegaremos antes que escureça.
— Não podemos voltar para casa.
Melhor seguirmos para Madrid.
— Procurar D. Hernandez? Estás louco?
Quero liberdade. Deixe-me pensar.

— Melhor era voltar ao castelo...
— Cala-te. Quem decide sou eu.
Caminharam mais um pouco até que Carlos decidiu:
— Sim. Vamos para Madrid.
— Vamos viajar à noite?
— O que tem?
— É perigoso, amo.
— Vamos seguir.

Montaram os animais e rumaram para a estrada que os levaria a Madrid.
Pelo caminho Carlos ia pensativo.
Sua aventura começara mal. Estava exasperado.

Esperar por uma cigana como se fosse um criado!
Se não estivesse no meio de sua gente, ela não teria sido tão petulante.
Haveria de dar-lhe uma lição.
Iria a Madrid e certamente lá teria oportunidade de vê-la.

Talvez tivesse sido um pouco precipitado.
Já que tinha esperado tanto, podia ter ficado um pouco mais para ver o que acontecia.

Claro que ela o tinha visto, e era ainda mais claro que o tinha reconhecido.
Apesar de ter bebido, ela não se embriagara.
Estivera lúcida todo o tempo.

Mas então, como entender?
Seria mulher daquele brutamontes?
A figura do cigano com o chicote na mão enraiveceu-o.
Não podia ser. Se fosse assim, ela não teria abertamente namorado e se exibido com ele.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:42 am

Então como entender?
Ela o tinha convidado com insistência para seguir com eles no acampamento.
Por que fingira não vê-lo?
Apesar de tudo, a figura da moça cigana não lhe saía da mente.

Que mulher! Jamais conhecera alguém como ela!
Apesar de muito jovem, Carlos tivera incontáveis aventuras amorosas.
Desde menino demonstrara acentuada vocação para o amor, possuindo aquele encanto que fazia as mulheres se tornarem submissas e apaixonadas, e não se lembrava de nenhuma que tivesse durante muito tempo resistido a suas investidas.

O inconstante era ele.
Espírito sonhador e apaixonado, mas adulto e mimado, acabava por cansar-se e o que de início fora uma paixão irresistível e avassaladora se transformava em tédio e insatisfação.

— Ela pensa que sou um pobre-diabo — pensou Carlos com raiva.
Se soubesse quem sou na realidade, iria cair a meus pés.
Aquela interesseira!

Mas ao mesmo tempo sentiu-se derrotado.
Se Esmeralda o amasse por seu dinheiro, certamente ele se sentiria um incapaz de conquistar-lhe a preferência, e seu orgulho se feriria ainda mais.

Mas seu romance com a cigana não estava encerrado.
Ela ainda havia de ser dele.
Ainda a teria submissa e apaixonada nos braços e teria o prazer de ser seu amo e senhor.

"Esmeralda acorda à hora que quer", pensou irritado.
Parecia uma rainha. Ninguém ousava perturbar-lhe o sono ou desobedecer-lhe a vontade.
Teria o gosto de acordá-la quando bem quisesse e determinar o que ela iria fazer.

A esse pensamento, sentiu-se mais calmo.

Foi quando, de repente, ao dobrar uma curva da estrada, viu um vulto e sentiu violenta dor na cabeça, tombando sobre o animal, sem sentidos.
Inácio berrava por socorro, quando violenta pancada também o prostrou.
Três homens montados e vestindo escuro burel procuraram prender os animais de suas vítimas.

Desceram e brutalmente jogaram os dois cavaleiros no chão.
E ávidos procuraram os haveres que pretendiam roubar.
Encontraram as jóias e o saco com o ouro.
Levaram tudo, inclusive os animais.

Carlos, ainda tonto, abriu os olhos no exacto momento em que um deles lhe vasculhava as algibeiras e percebendo a situação reagiu agarrando-o pelo pescoço.
Sentindo-se sufocar, o assaltante começou a golpeá-lo com ambas as mãos enquanto os outros dois, em socorro ao companheiro, aplicaram-lhe pontapés.
Um deles pespegou-lhe violenta pancada na cabeça.

Carlos estrebuchou e perdeu os sentidos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:43 am

Capítulo II
Era uma noite estrelada e agradável quando os ciganos começaram a deixar a cidade.

Iam alegres e bem-dispostos. Os bolsos cheios e, o estômago farto.
Tinham-se divertido nas festas, mas tinham também amealhado recursos para o futuro.
Pode parecer que eles tivessem vida livre e descontraída, o que até certo ponto era verdade.

Seus preconceitos, porém, eram outros, bem diferentes das outras raças.
Apesar de nômadas, não eram imprevidentes e aproveitavam a primavera e o verão para angariar os recursos para o inverno e os tempos difíceis.

Sergei era um cigano forte e decidido.
Príncipe da raça, possuía o mesmo rigor de seus antepassados na liderança de seu povo.
Sua palavra era lei.
Seu clã contava com mais de cem componentes, e ele exercia a função de chefe, juiz e autoridade suprema.
Era muito respeitado por seu povo e tido como homem astuto e capaz.

Alguns o consideravam sábio.
Sabia ler, e isso exercia incrível fascínio em seus subalternos.
Cantava bem como poucos e tocava a guitarra como ninguém antes o soubera fazer.
Dançava com leveza e elegância, apesar de seus cinquenta anos, e ninguém se atrevera jamais a desobedecer-lhe uma determinação.

Era tido por homem justo e sem proteccionismo a qualquer deles.
Cuidava zelosamente dos interesses do grupo.
Talvez por isso eles fossem menos belicosos entre si, e embora se tratassem grosseiramente por serem homens rudes, estimavam-se e conviviam pacificamente.

Suas brigas tinham o sabor de uma disputa esportiva, eram assistidas e festejadas pelo bando todo, que tinha suas preferências, cada um torcia por seu favorito.

Mas muitos problemas da vida comunitária deles eram resolvidos assim no murro e na lei do mais forte, de frente e sem favoritismo.
Quando alguém incorria em falta que se reputava grave, muitas vezes Sergei reunia os chefes de família, os mais velhos, e faziam um verdadeiro julgamento do culpado, sendo-lhe aplicada a pena que deliberavam necessária.

Durante a chefia de Sergei, tinham aplicado apenas duas penas de morte, e isso em trinta anos de autoridade.
Isso representava nada em uma época em que se matava com muita facilidade, principalmente nas cortes e no mundo tido por civilizado.
Foram casos de traição violenta, e embora tivessem sido executados os dois ciganos, suas famílias não foram responsabilizadas e continuaram vivendo na comunidade e ninguém jamais mencionou sua vergonha nem se referiu aos dois traidores.

Ordens de Sergei.
Mas nem sempre o grupo era tão pacato.
Ficavam furiosos e perigosos quando alguém ameaçava a segurança do grupo ou feria um de seus membros.

Eram muito unidos. A vingança de um era de todos.
O sofrimento de um era de todos.
Embora levassem vida livre, misturando-se ao povo e dele arrancando seus meios de subsistência, intimamente não gostavam de conviver com eles.

Votavam aos homens de outras raças um desprezo enorme que levantava grandes barreiras e preconceitos.
Na verdade, para sermos justos, tinham seus motivos.
Olhados como seres inferiores, raros se aproximavam para entreter laços de amizade sincera.

Suas mulheres, preparadas desde a infância para exercerem a arte de agradar, dançando, mascateando tachos de cobre, lendo a "buena dicha", eram motivo de grande atracção para os homens de todas as classes.

E muitos havia querendo corrompê-las ou usá-las ao capricho de suas paixões sórdidas.
Muitos deles perderam a vida por isso.
Apareciam mortos em locais ermos e se supunha que houvessem sido vítimas de assaltantes, coisa muito comum naqueles tempos.
Contudo, eram afáveis com todos, desde que não transpusessem o limiar de seus preconceitos ou de sua intimidade.

Não admitiam casamentos com homens de outra raça.
Nos poucos casos que houvera, as ciganas tinham fugido e nunca mais voltado.
Eram tidas por mortas e o caso encerrado.
Nunca mais poderiam voltar ao clã.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:43 am

Uma a uma as carroças em fila indiana se puseram a caminho ganhando a estrada.
Alguns cantavam, outros tocavam e o cortejo seguia tranquilamente.
Dois homens de confiança iam à frente, ao lado da carroça de Sergei, que puxava a caravana.

Esmeralda, sentada na boleia, tagarelava alegre.
A seu lado, conduzindo as rédeas, o cigano cujo chicote castigara a impaciência de Carlos.

— Tu o feriste?
— Um pouco na mão.
Ia perturbar teu sono. Fiz mal?
— Por certo que não.
Fazia tempo que tinha chegado?
— Logo que clareou o dia. Fiquei de olho.
Não tirava os olhos de tua porta.
— Não falou com ninguém?
— Só com Zilma. Mas ela o mandou esperar.
Parecia impaciente. Gostas dele?

Esmeralda deu de ombros.

— É um belo homem.
Pode ser que ainda esteja com ele algumas vezes.
— Cuidado. Pareceu-me arrogante e impetuoso.
— Sei cuidar deles muito bem.
Não queiras agora dar-me conselhos.
O outro riu gostosamente.
— Nunca precisaste deles.
És livre como um pássaro.
— É. Não gosto de nada que me aprisione.
Posso gostar, mas amar, nunca!

O cigano riu e pilheriou:
— Cuidado, que podes cair.
— Não, jamais. Esmeralda vai viver!
Vai arrancar tudo da vida, mas vai ser protegida sempre. Amar, nunca!
— Ele me pareceu de linhagem. É nobre?
— Diz que não. Mas não acredito.
Se é rico, não sei. Tem mãos finas e a pele delicada.
É homem de trato. Uma coisa posso afirmar: nunca trabalhou.

— Então só pode ser gentil-homem.
— É. Quanto a ser rico, não sei, mas descobrirei.
Ele me agrada por agora.
Se tiver dinheiro, será ainda melhor.
O cigano de repente tornou-se sério.
— Deixa-o de lado.
— Por quê? Nunca te intrometeste em minha vida!
— Sou teu amigo, amo-te como filha.
Quando ficaste órfã, eu te aceitei como se fosse teu pai.
— Sim. Eu te amo mais que a um pai, embora sejas ainda moço.
Mas nunca me pediste nada assim antes. Por que agora?

O cigano abanou a cabeça indeciso:
— Não sei, Esmeralda.
Alguma coisa me diz que deves deixá-lo em paz.
Há tantos moços ricos e belos que seriam felizes por verem teu sorriso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:43 am

Esmeralda riu sonoramente.

— Estás falando como um velho pai.
És muito supersticioso. Acho...

As carroças pararam uma após a outra e Miro puxou as rédeas.

— Por que paramos?
Um dos cavaleiros percorria as carroças avisando:
— Dois homens no chão. Quase mortos. Foram assaltados.

Miro desceu rápido e Esmeralda foi atrás.
Chegou ao local onde já um grupo cercava os dois infelizes.

Sergei curvado sobre um deles ajuntou:
— Está mal. Se o deixarmos, morre;
se o levarmos, não sei se aguenta a viagem. O que acham?

Esmeralda aproximou-se abrindo caminho.

— Sergei. Quero cuidar desse moço.
Devemos levá-lo.
— Acaso o conheces?
— Sim. É um moço gentil e alegre que conheci nas festas.
— Achas que podes ajudá-lo?
— Acho. Se me autorizas, agradeço muito.

Falava com doçura e sinceridade.
Nem parecia a mesma de momentos antes.

— Está bem. Como queiras.
Os ladrões levaram tudo.
Levem-no à carroça de Esmeralda.
O outro não está tão ruim, Zilma cuida dele.

Em poucos minutos colocaram Carlos nas almofadas coloridas da cigana.
Ela tinha alguma água e começou logo a limpar-lhe o ferimento da testa enquanto o moço gemia, apesar de desacordado.
Miro, conduzindo a carroça, ia absorto nos próprios pensamentos.

A uma ordem de Sergei, as carroças puseram-se a caminho.
Na carroça, Esmeralda limpara os ferimentos e, percebendo que o moço gemia, derramou-lhe nos lábios uma bebida forte.
Em seguida, com cuidado, tirou-lhe a roupa empoeirada e salpicada de sangue, vestindo-o com algumas peças de Miro que estavam ali.

Tinha grande estima pelo cigano, e sua carroça era como uma continuidade da dele.
A cigana olhou bem o jovem e arrepiou-se toda.
Rápida, correu as cortinas que protegiam a boleia e sentou-se ao lado de Miro.

— Miro, precisas olhar para ele.
— Por quê?
— Acho que tem espíritos morando com ele.
— Acha que tem feitiço?
— Não sei. Talvez não.
Mas ele não está sozinho lá dentro. Tem alguém com ele.

Miro não se perturbou.

— Acho que tem mesmo.
Caiu em poder dos ladrões.
— Achas que foi por isso?
— Acho. Os espíritos do mal prepararam as ciladas, já que eles não têm corpo para atacar alguém.
Se estivesse bem guardado, não teria acontecido.
— Tens poderes. Podes dar um jeito.
Se não expulsares os maus espíritos, ele pode morrer.
— Isso faria Esmeralda triste?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 31, 2013 11:44 am

Ela deu de ombros.

— Acho que sim.
Ele é muito moço e alegre.
Cheio de vida para morrer.
Depois, sabes que não gosto de perder.
— Às vezes é perdendo que se ganha — concluiu Miro, pensativo.
— Não gostas dele?
— Não se trata disso.
Deixemos de lado o mau agouro, o que tem que ser tem força.
Ninguém pode vencer o destino.
Se te sentes feliz, posso afirmar que ele vai ficar bom.
Não precisas temer.
— Vais vê-lo?
— Sim. Podes tomar as rédeas e deixar comigo.

Esmeralda assumiu a direcção e Miro entrou na carroça.
Olhou a fisionomia inchada do moço e seus olhos anuviaram-se.
Mas apesar do que sentia, aproximou-se de Carlos colocando uma das mãos em sua testa.
Sua fisionomia enrijeceu e ligeiro tremor o sacudiu.

— Eu te ordeno que o abandones — tornou o cigano com firmeza.

Carlos estremeceu e contorceu-se como se estivesse sofrendo um ataque.
Tentava, mesmo inconsciente, libertar-se da mão do cigano, que por sua vez parecia pregada em sua testa.

— Eu te ordeno que deixes o moço — tornou ele enérgico.
Carlos empalideceu, estremeceu mais violentamente e depois ficou imóvel.
— Graças dou a nosso Deus.

Em seguida, benzeu o corpo do jovem murmurando palavras estranhas.
Depois tirou uma corrente do próprio pescoço e a colocou no pescoço de Carlos.
Feito isso, observou satisfeito que o moço dormia tranquilo. Tornou à boleia.

— E então? — quis saber Esmeralda.
Como está ele?
— Já te disse que ficará bom.
Tinhas razão. Estava possuído.
Agora está livre. Vamos ver até quando.
— Ele tem o corpo aberto?
— Tem. Se não se prevenir, pode entrar outro.

Esmeralda sorriu:
— Eles pensam que sabem tudo e não crêem nos espíritos.
Acham que nós somos ignorantes só porque não vivemos como eles.
Mas quando estão mal, vêm buscar nossa ajuda.
A muitos desses empafiados prestaste serviços.
Se quisesses, podias ganhar fortuna.

Miro sorriu tranquilo.

— Tenho o que preciso e vivo muito bem.
Se carregasse muito dinheiro, talvez os assaltantes me matassem em qualquer esquina.
— Nem pareces cigano.
Se não te conhecesse, duvidaria de ti.
— Porque não quero arrancar dinheiro dos outros?
— Sabes que, se eles pudessem, arrancavam não só nosso dinheiro, mas até nossa vida.
Os homens não toleram os de nossa raça.
Têm medo de nós e é por isso que nos respeitam.
Pois eu, enquanto puder, hei-de arrancar-lhes tudo que tiver chance.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 01, 2013 11:02 am

— Apesar disso, não tens muito mais do que eu.
Não és rica.
Ela deu de ombros.
— Ainda. Mas vou ser. Quero ser feliz!

Miro olhou-a com benevolência.
— Isso, Esmeralda.
Aproveita enquanto podes.
Ser feliz é bom.

Ela sorriu deliciada e confiante e não viu o travo de amargura nas palavras do, cigano.

Chegaram a Madrid ao entardecer.
Já tinham o local onde costumavam acampar e assim que o encontraram foram instalando-se, de preferência perto de um riacho que cortava o bosque.

Enquanto as mulheres cuidavam das roupas e dos utensílios, os homens faziam o fogo e cuidavam da carne.
Durante o trajecto tinham parado para negociar com pequenos comerciantes e adquirir géneros e carne em troca de suas panelas e tachos, canecas e colares que fabricavam durante os meses de inverno.

Era fora de dúvida que valorizavam ao máximo cada peça, conseguindo preços muito além de seu real valor.
Durante os meses de inverno montavam acampamento em Toledo e lá compunham seu trabalho artesanal e quando chegava a primavera já se organizavam para sair pelas cidades, acompanhando as festas tradicionais e tornando-as mais pitorescas.

É claro que só se desfaziam de suas peças quando não tinham outros recursos, porque geralmente as mulheres, as ledoras de "buena dicha", os músicos, as danças, tudo lhes rendia dinheiro e géneros, que eles arrepanhavam com presteza.

Alguns também surripiavam o que podiam, com astúcia e ligeireza.
Viviam assim na fartura, dentro das limitações de povo nômada.
Cobriam-se de jóias, de preferência ouro e prata, alguns mais caprichosos incrustando enfeites na madeira de suas carroças e nos arreios dos animais.

Por isso, o movimentar dos ciganos, dos animais e de suas carroças era sempre acompanhado de muito ruído, do tilintar dos metais, das correntes e das esporas.
Adoravam esporas e alguns havia que as coleccionavam com orgulho e capricho.

Depois de instalados, Esmeralda foi ver Carlos.
O moço acordara, mas, ainda meio atordoado e vencido pela fraqueza, tinha dormido novamente.
Seu rosto desinchara, mas sua fisionomia parecia pior.
Estava pálido e com várias manchas arroxeadas, os lábios intumescidos e rachados.

Perdera muito sangue.
A cigana tentou fazê-lo ingerir um pouco de caldo que pedira a Zilma, quando, assustado e aflito, Inácio apareceu na carroça.
Esmeralda olhou-o com um brilho alegre nos olhos.

— Podes entrar.
Inácio aproximou-se lívido.
— Ele está mal.
Precisamos de um médico.
Achas que posso levá-lo?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 01, 2013 11:02 am

Esmeralda sacudiu a cabeça.

— Não podes ainda. Melhor é descansar.
Não precisa de médico.
Miro cuidou dele. Não vai morrer.
— Como sabes? — indagou Inácio assustado.

— Miro sabe mais que médico.
Se disse que ele vai sarar, é porque vai.
Não precisas ficar com medo.
Teu patrão não vai morrer — arriscou ela, astuta.

Inácio pareceu aliviado.

— Pobre moço! — suspirou a cigana com fingida tristeza.
Tão belo e tão rico, ser maltratado assim.
Inácio, sem perceber o jogo dela, tornou convicto:
— Nem diga! Se D. Fernando souber, me mata!
— Levaram muitos haveres?

— Claro — respondeu Inácio, animado pela súbita atenção da cigana.
Tinha até jóias para a família de D. Hernandez em Madrid.
Sacos de ouro. Levaram tudo, Deus meu!
E quase nos mataram.
Se D. Carlos me tivesse ouvido, não se teria metido nessa estrada no escuro da noite.

— Podes ir agora que eu tomo conta dele.
Vai, Zilma te dará o que comer.
— Tens certeza de que ele vai sarar?

— Tenho — ajuntou Esmeralda, e continuou com ar misterioso:
— Miro é mago. Se ele disse que D. Carlos vai sarar, é porque vai.
Podes acreditar.

Inácio pareceu menos aflito.
O ar alegre e descontraído da moça, sua beleza, sua atenção para com ele, seus cuidados para com seu patrão o tranquilizaram em parte.

Mas não via a hora de poder deixar aquele lugar estranho e aquela gente perigosa.
Só se sentiria seguro quando voltassem para casa.

A azáfama no acampamento era grande.
Água para os animais, lavar roupas no rio, panelas, e banhar-se.
Eles podiam viajar vários dias sem se preocupar com a higiene, mas quando paravam perto de um rio, principalmente no verão, não resistiam ao prazer do banho.

Os homens eram terrivelmente ciumentos de suas mulheres e por isso convencionavam um lugar mais discreto para elas, onde nenhum cigano pudesse chegar, ao passo que eles podiam utilizar-se do rio à vontade.

Na verdade, muitos havia que não apreciavam o banho.
Mas Sergei, com sua autoridade, os obrigava, alegando que o mau cheiro incomodava a comunidade.
Alguns havia que eram a contragosto atirados na água, com roupa e tudo, a fim de se lavarem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 01, 2013 11:02 am

Esmeralda, contudo, adorava o banho.
Para ela era verdadeiro ritual, onde permanecia horas inteiras, deliciando-se com a água.

Mas ninguém no acampamento se atrevia a espiá-la.
Sergei era enérgico e justo.
Não tolerava a menor desobediência.

Assim, depois que acamparam, enquanto Miro cuidava dos cavalos, Esmeralda procurou um lugar sossegado e tranquilo, despiu-se e atirou-se no rio.

Levara um sabão de banho que trocara por uma pulseira em Valença e carregara amarrado em um cordão em volta do pescoço.

Depois do mergulho, sentou-se na margem e o esfregou pelo corpo todo, inclusive nos cabelos.
Depois, atirou-se novamente à água, onde nadou com prazer, deliciando-se com o aroma particularmente perfumado das flores das margens e com o alegre cantar dos pássaros.

Uma hora depois, a cigana deixou o rio, descansada e feliz, vestiu-se e secou os cabelos, deixando o sol quente da tarde bater em seu rosto.
Estava com fome. Esmeralda não gostava de cozinhar.
Quase sempre, servia-se da comida dos companheiros, que a mimavam oferecendo-lhe as coisas das quais gostava.

Esmeralda era muito querida pelos ciganos.
Orgulhosa e bela, voluntariosa e altiva, astuciosa e inteligente, era bem um símbolo da raça que os homens admiravam e que as mulheres gostariam de ser.

Órfã, era filha de todos. Sergei a estimava como filha.
Ninguém dançava e cantava tão bem quanto ela.
Os homens morriam por ela e os ciganos tinham muito trabalho para protegê-la.
Até tentativa de rapto já tinha sofrido.

Porém ninguém a dominava.
Livre e voluntariosa, tirava dos homens o que podia, sem importar-se com eles quando não mais estivesse com vontade de vê-los.
Fora ameaçada de morte várias vezes por amantes desprezados, mas todo o bando a protegia, principalmente Miro, que jamais a deixava.

Sempre que Esmeralda saía ou tinha contacto com o povo, Miro ficava por perto.
Quando ela dormia, vigiava seu sono.
Às vezes chegava ao exagero, a ponto de os companheiros caçoarem dele.

Mas Miro não se importava.
Havia em seu olhar determinação e um certo receio que procurava não demonstrar.
Esmeralda, andando de fogueira em fogueira, comeu carne, milho, bebeu chá.
Depois, pegando com Zilma uma tigela de caldo, subiu na carroça.

Carlos, ouvindo-a entrar, abriu os olhos:
— É verdade! És tu! — murmurou enlevado.
— Sou. Agora beba.
Estiveste mal, mas vais ficar bom.
Esmeralda cuidou de ti.

Ele sorveu o caldo com prazer.
Seu rosto cobriu-se de leve suor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 01, 2013 11:02 am

— Estás enfraquecido. Perdeste muito sangue.
— O que aconteceu? — indagou ele.
— Foste assaltado. Roubaram-te tudo quanto levavas.

— Lembro-me deles surgindo de repente. Lutamos e desfaleci.
— Passamos pela estrada onde estavas semimorto e te recolhemos.
— E Inácio?
— Está muito bem.

Carlos suspirou aliviado.
— Onde estamos?
— Em Madrid. Não fales muito, que estás fraco.
— Contigo aqui sinto-me muito bem.
Ansiava por este momento, estar a teu lado tem sido meu maior desejo.
— Não parecia. Deixaste o acampamento sem te importares comigo.

Ele tomou-lhe o pulso, segurando-a com força.

— Sabes que não é verdade.
Vim a teu encontro conforme o combinado, mas tu fingiste nem me conhecer.
Pensei que não quisesses estar comigo.
Ela riu provocante.
— Não te emociones, ainda estás fraco.
— Esta é tua carroça?
— É.
— Estive aqui todo o tempo? Dormiste aqui?
— Sim... a teu lado. Não te deixei um só momento.

Ele suspirou contente:
— E eu dormindo. Como pude?
— Deliravas.
— Vem mais perto, dá-me um beijo.

A cigana curvou-se sobre ele, beijando-lhe delicadamente os lábios ressequidos.
Os braços de Carlos envolveram Esmeralda apertando-a de encontro ao peito.

— Esmeralda! Deste-me a vida!
Renasci para ti. Serás minha, viverei para ti.

Ela deixou-se ficar ali, abraçada, ouvindo as palavras loucas e amorosas que Carlos lhe sussurrava aos ouvidos.
Naquele momento, estava submissa e tranquila, como uma gatinha no colo do dono.

Nos dias que se seguiram, Carlos foi melhorando rapidamente.
A presença de Esmeralda era como um néctar que o chamava para a força da vida.

Entretanto, as festas na cidade tiveram início e Carlos desesperado tentou dissuadir a cigana a participar.
Seu amor por ela era imenso e exigia-lhe a presença todos os minutos.
Juntos, na carroça dela, entregavam-se ao amor sem que ninguém do bando interferisse. Eram plenamente livres.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 01, 2013 11:03 am

Mas a cigana explicou a Carlos que precisava trabalhar na festa.
Sua presença era indispensável para o bando.
Carlos tentou inutilmente dissuadi-la.
Esmeralda tornou-se fria e indiferente.

— Carlos, vou dançar com os meus.
Sem Esmeralda não tem festa. Esmeralda é livre.
Não podes obrigar Esmeralda a nada.
É bom que saibas. Se queres perder-me, tenta segurar-me.
Ninguém diz o que Esmeralda deve fazer.

— Então não me amas.
Vais dançar para outros homens, e eu não vou deixar. És minha.
Se outro homem olhar para ti, eu mato.

Irritado, Carlos levantou-se segurando-a pelos ombros.
Apesar de fraco, suas mãos pareciam de ferro.

— Não gosto de homem ciumento.
Se me atormentas, te deixo.
Esmeralda é livre e é preciso que saibas.
Vou dançar com os meus na festa hoje à noite.
Se tentas me impedir, terás que te haver com nossos homens.

Carlos recordou-se do chicote de Miro.
Sabia que Esmeralda não estava brincando.
Por outro lado, não tolerava ficar ali, ainda enfraquecido enquanto ela se exibia, toda tentação e beleza, aos outros homens.

Seus olhos expeliam chispas.
Aproximou-se dela, abraçando-a com violência.

— Esmeralda! És minha!
Se não posso obrigar-te pela força, fraco e indefeso, nem enfrentar a ira dos teus, posso dobrar-te com a força de meu amor.
Sentirás o fogo que me consome, estarei tão dentro de ti como estás em mim, que nunca mais desejarás outros homens, nem poderás arrancar-me de teu coração.

Verás como sei amar.
Sei que me pertences, desde que te encontrei.
Não me poderás esquecer. Verás.

Começou a beijá-la com doçura e ao mesmo tempo arrebatamento.
A cigana, tensa, fria, toda concentrada na defesa de sua liberdade, sentiu-se estremecer.

As palavras ardentes de Carlos penetravam-lhe o íntimo vibrantes e fortes.
Esmeralda lutava resistindo, procurando repeli-lo, mas os braços de Carlos pareciam de ferro e fogo queimando-lhe o corpo e um calor brando e irresistível banhou o coração de Esmeralda, derrubando o muro de sua resistência.

Suas ideias se perderam nos beijos de Carlos, e suas emoções como uma avalanche irreprimível desabaram sobre seu ser e Esmeralda, pela primeira vez em sua vida, perdeu o domínio da situação, entregou-se deslumbrada e sem pensar ao enlevo daquele instante.
Durante algumas horas, emocionados e trocando carícias, não conseguiram falar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 01, 2013 11:03 am

Depois, deitados nas almofadas coloridas da carroça dela, Esmeralda, rosto encostado no peito moreno de Carlos, tornou submissa:
— Carlos. Estar contigo é festa para Esmeralda.
Se me amares sempre assim, fico contigo.

Carlos olhou-a nos olhos sem poder falar.
Jamais sentira tanta emoção por mulher alguma.
Parecia-lhe vibrar a cada momento, só com a proximidade dela.

Olhou-a nos olhos, querendo devassar-lhe o íntimo:
— Esmeralda — disse num sussurro —, nenhuma mulher me fez sentir tanto amor.
Digo-te que nenhum outro homem poderá dar-te o que te dei.
Somos um do outro, concordas?

Um lampejo de luta perpassou pelos olhos da cigana.
Ela fechou os olhos, sentiu o calor de seus beijos, suas carícias, sua força e cedeu.
Por agora deixaria de lutar. Queria estar com ele.
Desejava isso com todas as forças de sua alma voluntariosa e livre.

— Enquanto morares dentro de mim com essa força, estarei contigo.

E os dois permaneceram abraçados, corações batendo descompassados frente à violência do sentimento impetuoso e forte que brotara neles.

No acampamento, o movimento era grande.
Os ciganos que iam à cidade participar das festas de rua aprontavam-se com suas roupas mais bonitas e seus adereços mais brilhantes.
Duas carroças especialmente preparadas, cobertas de panos coloridos, com sua mercadoria pendurada para vender.

As mulheres, alegres e falantes;
e os homens, com seus cavalos enfeitados e bem cuidados.
Levavam guitarras e pandeiros, e algumas pinhas secas e preparadas, pintadas com arte, que eles batiam umas nas outras no compasso do ritmo.

Esse era um instrumento antigo que eles conservavam por tradição e sabiam preparar muito bem, ao qual davam o nome de "cascuri" ou "cascurra", como vulgarmente era conhecida entre eles.

Miro estava pronto, com uma túnica bordada e as botas luzindo.
Porém havia em seu olhar um brilho triste.
Seus olhos não conseguiam distanciar-se da carroça de Esmeralda, que silenciosa parecia estar vazia.

Entre os ciganos havia um tácito acordo de liberdade.
Ninguém obrigava ninguém a nada, porém certos deveres da raça eram exigidos.

Ganhar a vida, para eles, era dever.
Assim como cuidar dos doentes e incapacitados pela idade, com carinho e dedicação.
Estavam diante de uma novidade.
Esmeralda jamais se esquivara da participação no trabalho do bando.

Era um ponto forte de atracção.
Fosse qual fosse a situação, a cigana sempre participara com entusiasmo e alegria.
Sergei passou uma vista de olhos no grupo preparado para sair.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 01, 2013 11:03 am

— E Esmeralda? — perguntou a Miro.
— Não saiu ainda — respondeu ele procurando aparentar naturalidade.
— Temos que ir. Vá saber o que há.
A passos lentos, Miro aproximou-se da cortina, chamando-a.
— Esmeralda!

Sua voz era tímida.
Não gostava de perturbá-la quando ela não desejava.
O rosto corado da cigana apareceu entre os panos coloridos.

— Miro — tornou baixinho —, diz a Sergei que não estou bem para trabalhar hoje.
Sinto náuseas e arrepios.
— Esmeralda! — exclamou o cigano com voz triste.
Cuidado! Não entregues teu coração assim.
Não te deixes dominar! Tu és livre!

Ela riu despreocupada:
— Não te preocupes. Não tem perigo.
Hoje não quero ir, é só. Amanhã será outro dia.

Miro saiu procurando espantar os pensamentos sombrios que lhe ocorriam e dentro em pouco o bando alegre e barulhento se afastava rumo à cidade.
Na carroça, Carlos, extasiado, não se cansava de cortejar a cigana, que, sem se dar conta, mais e mais se enlaçava nas chamas daquele sentimento de amor.

Nos dias que se seguiram, o falatório e o descontentamento se alastraram pelo acampamento.
Esmeralda, a flor da raça, a dançarina principal, o "mito" do grupo, se recusava a trabalhar.
Não se importavam com sua vida amorosa, porém o trabalho era sagrado.

A contribuição dos mais dotados era exigida como dever à comunidade.
Carlos exigia, Esmeralda se entregava às emoções novas e alguns passaram a hostilizá-la.
Esmeralda procurou Sergei em sua carroça.

— Sergei, Esmeralda precisa falar.
— Entra, Esmeralda. Também quero falar contigo.
Faz muito tempo que não conversamos.
— És como meu pai. És chefe de nosso povo.
Esmeralda sofre, precisa tua ajuda.

— O que aconteceu com Esmeralda?
— Sergei. Estou amando! Amo com todas as minhas forças.
Vivo e respiro com ele. Nunca passei isso antes!
Podes me entender?

— Ele não é um dos nossos.
Não te fará feliz!
— Por que dizes isso?
Achas que não posso prendê-lo para sempre a meu lado?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 01, 2013 11:03 am

Sergei a olhou com firmeza:
— Acho. Hoje ele está aqui, contente e bem-disposto.
Mas, um dia, sentirá a força do sangue, quererá regressar aos seus.
É nobre de estirpe. O que farás, então?

Pretendes impedi-lo?
Queres nos abandonar? Eles te aceitarão?
Serás feliz, presa em um castelo sombrio, sem ver as belezas do céu ou viajar por nossos bosques?

O rosto de Esmeralda sombreou-se de tristeza, porém esforçou-se por afastar esses pensamentos.

Sorriu e ajuntou confiante:
— Sergei, Carlos ama Esmeralda com muita força.
Não vai embora. Quem sabe um dia aprenda a ser um dos nossos.
Quero que aproves nossa vida. És nosso chefe.

— Como chefe, tenho o dever de prevenir-te.
Ser cigano é carregar toda a força de nossa raça no sangue.
Ele não é dos nossos. Se quiser ficar para sempre, podemos ensinar-lhe nossos costumes, porém ele será feliz vivendo como nós?
Pretendes aprisioná-lo fora dos seus por toda a vida?

— Ele gosta daqui. É feliz ao meu lado.
Os pais são severos e duros e Carlos ama a liberdade, a dança, o sol, a música.
Será feliz aqui. Dançarei e ele estará também junto trabalhando pelos nossos nas festas.
Se deres tua aprovação e teu consentimento, ficaremos felizes aqui, e tudo estará bem.

Sergei olhou-a bem nos olhos.

— É o que queres?
— É. Hoje eu o quero. Amanhã, não sei.
Mas é a primeira vez que quero um homem assim.
Não posso perdê-lo. Tu me compreendes?

A voz da cigana era doce e suave.
— Se eu o perder agora, nunca mais poderei dançar, nem cantar, nem ser feliz.
— Tu o amas tanto?
— Amo. Acho que amo.

— Pois seja, Esmeralda. Amo-te muito.
Quero que sejas feliz enquanto podes. Vive tua vida com ele.
Falarei a nosso povo para que o aceite.
Porém peço-te que participes do grupo, que dances para o povo, mesmo que vivas para teu amor.

Eles sentem muito tua falta e não gostam de trabalhar sozinhos.
Acham que não foram muito felizes nesses dias porque não foste com eles.
Precisas compreender.

— Querem obrigar-me?
— Não é por isso.
Eles sentem tua falta e mostram-se enciumados do amor que sentes por Carlos.
Se queres que eles o aceitem, trata de fazer as pazes com eles, afinal tens o dever de trabalhar com o grupo.
Sabes bem que isto é verdade.
Nunca te obriguei a nada, apesar de teu chefe e senhor, mas sabes que tenho razão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 01, 2013 11:04 am

Sergei falava com calma e delicadeza.
Esmeralda sentia por ele respeito e acatamento.
O apoio que lhe dera, compreendendo seus sentimentos, a deixava grata e solícita.

— Tens razão — concordou —, vou voltar ao trabalho.
Não posso ficar parada para sempre.
Esmeralda cumpre seu dever.
Carlos tem que pensar como um dos nossos.

— Isso, minha filha.
Se fizeres isso, certamente ele será aceito por todos.
Eles te amam. Não querem perder-te.
Sabes como adoram ver-te dançar e cantar.
Não podes tirar-lhes esse prazer.
— Vou trabalhar, prometo. E te agradeço a bondade.
És mesmo como um pai.

Beijou a mão do cigano, que procurou esconder um brilho emotivo no olhar.
Sergei tivera mulheres, mas vivia só.
Tinha um filho de quinze anos que procurava educar dentro dos padrões puros da raça e que era seu orgulho.

Esmeralda tocava-lhe o coração de forma especial.
Amara profundamente sua mãe, Tânia, a linda cigana que um dia saíra do acampamento apaixonada, em companhia de um jovem nobre e belo.
Sergei sofrera rude golpe com a fuga da cigana e, durante vários dias, fechou-se em sua carroça desesperado, bebendo sem parar.

Porém Tânia se fora, feliz e descuidada.
Cinco anos depois, foram encontrá-la no sul da Itália, sombra do que fora, doente e com a filha nos braços.
Apareceu no acampamento ardendo em febre e desesperada.

— Sergei, peço-te perdão.
Se podes perdoar-me, não me escorraces.
Sei que não mereço, mas sofri muito.
Os outros não aceitam nossa raça e fui desprezada e infeliz.
Não voltei de vergonha.

Mas agora estou doente e peço-te que aceites minha filha.
Em suas veias corre nosso sangue!
É cigana! Não tem lugar para ela no mundo.
Só entre os nossos será feliz.
Ah! Como me arrependo do que fiz...

Um acesso de tosse a acometeu, e o sangue colorindo sua boca mostrou a Sergei seu estado.
Apesar de ter acariciado a vingança, de ter odiado, sofrido, chorado, Sergei não pôde ficar insensível à transformação daquela mulher.

O espectáculo de sua desgraça feriu-lhe o coração e recordando a beleza daquele rosto que amara tanto, o sorriso alegre e contagiante, a frescura daquela pele morena e bela, sentiu forte emoção.

O amor que sempre sentira ressurgiu sofrido e forte.
Ela voltara! Sofrida e triste.
Quem sabe haveria tempo para salvá-la?
Quem sabe poderia fazê-la reviver?
Agora era experiente, quem sabe ela o pudesse amar?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 01, 2013 11:04 am

Olhou-a curvada, com a criança nos braços e um pano comprimindo a boca contraída.
— Tânia! Eu te perdoo. Não vais mais sofrer.
Eu ainda te amo!

Lágrimas grossas corriam pelas faces dela.

— Como fui injusta contigo! Não mereço teu perdão!
Mas posso dizer-te que, quando a ilusão passou, teu rosto não saía de minha frente.
Sei o que vales. Como és bom e justo.
Por isso quis ver-te antes de morrer.

Apesar de tudo, quero confiar-te minha filha.
Ela não tem culpa de nada.
Quero que a eduques como os nossos para que ela seja feliz como eu era e poderia ter sido até hoje. Toma-a, é tua.

Sergei segurou a criança nos braços com emoção.
— Vê como é linda. Esmeralda tem três meses.
Peço-te que a adoptes.
Preciso ir-me embora, não quero que ela apanhe minha doença!

Sergei, assustado, colocou a criança adormecida sobre o leito e segurou Tânia apertando-a nos braços.
Em sua voz havia dor e angústia.

— Tânia, não te deixarei ir.
Se voltaste, não te quero perder mais.
Se te arrependes de teres partido, fica.
Teu lugar é aqui, entre os de teu povo, que te ama e que nunca te esqueceu!

Tânia soluçava.
— Não posso. Fui ingrata, não mereço.
Sergei, estou muito doente. Vou morrer!
Não quero contaminar ninguém. Deixa-me morrer como mereço.

— Não posso, Tânia. Quero que vivas.
Vamos curar-te. Seremos felizes.
Ainda criarás tua filha, que será nossa.
Eu te amo, Tânia, com desespero. Não quero que morras.
— A felicidade não é para mim, Sergei.
Não soube apreciá-la. Agora é tarde.

Sergei não quis ouvir.
Entregou Esmeralda aos cuidados de Zilma e instalou Tânia em sua carroça, cuidando abnegadamente de sua saúde.

Entretanto, a doença da cigana se adiantara muito e um mês depois Tânia veio a falecer.
Mas os cuidados, o carinho, a dedicação do cigano estabeleceram no coração sofrido de Tânia um amor profundo, intenso, que ela procurou expressar de todas as formas e que deu a ele uma gratificação profunda.

Esmeralda lembrava muito a figura da mãe.
Sergei amava-a como filha.
Vendo-a envolver-se tal como Tânia nas tramas de um amor perigoso, sofria e preocupava-se por ela.
Contudo, não queria ser intolerante como fora com Tânia, que por isso fugira do acampamento.
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