LUZ ESPÍRITA
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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2024 8:41 pm

- 6 -
Sentado diante do meu “computador”, se é que posso chamar assim o aparelho que tenho diante de mim, eu tentava registar Uma história que haviam me contado.
Felizmente, como eu já disse, esse prodigioso aparelho faz isso apenas ouvindo minha voz, sem que eu precise digitar nada, coisa que continuo não gostando de fazer.
Ele é tão eficiente que regista não só as emoções dos personagens como também as minhas, no entusiasmo da representação.
É que apesar de não estar no palco, ainda não consigo narrar alguma coisa sem representar os personagens, o que de certa forma é motivo de gozação de alguns antigos companheiros.
Entre eles, é o Vianinha quem mais se diverte com esse meu costume. Tal qual nos tempos em que trabalhávamos juntos nos teatros da Terra, ele continua a brincar com meus cacoetes, engrossando a voz, tentando imitar um dos meus personagens.
Entre os muitos amigos daqueles tempos, o Vianinha consegue sempre me deixar de bem com a vida. Sou impaciente, mas não mal-humorado. Costumo fazer dessa minha fraqueza motivo de chacota, o que acaba por reverter qualquer momento desagradável.
Comecei a trabalhar, mas de repente senti que Vianinha se aproximava. Essa é uma vantagem do mundo onde vivo agora. Ele não pode mais me surpreender como quando estávamos encarnados.
Dirigi-me à porta e abri sorrindo. Ele aproximou-se, meneando a cabeça, inconformado por não ter conseguido surpreender-me. Entrou e foi logo dizendo:
- Pensei que estivesse trabalhando na nova peça.
- Eu estava.
- Pode continuar, não desejo cortar sua inspiração.
- Estava apenas registando uma história que Marta me contou. Talvez seja boa para o próximo trabalho.
- Pode continuar. Não quero atrapalhar.
- Não precisa fingir. Você está louco de curiosidade. Mas não vou contar-lhe. Ele riu contente e respondeu:
- Você está sendo vingativo comigo. Eu agora estou mudado.
- A quem pensa que vai enganar? Depois, para dizer a verdade, prefiro você gozador, caricaturando meus pontos fracos do que com esse ar de menino comportado. Esse papel não lhe cai nada bem.
- Vim aqui para lhe dar uma notícia. Ontem estive com o Alberto que chegou da Terra duas semanas atrás. Lembra-se dele?
- Claro. Era um músico razoável, embora alimentado a álcool. Tentava distribuir alegria, fingia não ligar para nada. Como ele veio?
- Depressão, tristeza, solidão. Entrou em um círculo vicioso, ficou cada vez mais fraco até que uma pneumonia o trouxe de volta.
Passei a mão pelo queixo em um gesto muito meu, velho hábito que ainda conservo, e disse:
- É a mania que as pessoas têm de olhar a vida pelo lado pior. Em vez de enxergar o bom, o bem, coleccionam tudo o que é desagradável. Como ele está?
- Por enquanto em tratamento. Foi socorrido e trazido para cá. Apesar de haver desperdiçado algumas oportunidades de progresso, é um homem bom, de certa forma até ingénuo, o que fez com que muitos abusassem dele.
- A ingenuidade tem um preço muito alto.
- -A malícia também.
- Não sei o que é pior. O ingénuo confia em todos, acredita em tudo o que as pessoas dizem. O maldoso vê perigo em toda a parte, atormenta-se, pensando que todos querem prejudicá-lo. O excesso de ingenuidade muitas vezes leva a pessoa a tornar-se maldosa.
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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2024 8:41 pm

De tanto ser usada pelos maldosos, a pessoa acaba se tornando um deles na esperança de nunca mais ser passada para trás.
- Tenho aprendido que agir assim é trocar de ilusão. Isso nunca acaba bem.
- De fato. Mas agora ele está tendo a chance de aprender um pouco mais.
- Ele continua procurando culpados para seu drama. Você sabe, o pai abandonou a família quando ele tinha dez anos, apaixonado por uma dançarina do teatro de revista.
- Conheço a história. Ele nunca se conformou. Culpa o pai por tudo. Diz que largou os estudos porque precisou trabalhar para ajudar a mãe e os irmãos.
Quando tornou-se adulto, apaixonou-se pela Isménia e não foi correspondido.
Essa foi a gota d’água; passou a culpar a ambos, Mergulhou na bebida para afogar as mágoas.
Vianinha abanou a cabeça concordando, e considerou:
- Que ilusão! Certa vez o surpreendi bebendo na coxia antes do início do espectáculo e fui forçado a impedi-lo de tocar. Envergonhado, tentou justificar-se, reclamando:
- Eu não presto para nada! Minha vida é uma porcaria. A culpa é da vida que colocou em meu caminho um pai relapso e uma mulher malvada. Se meu pai não nos tivesse abandonado, eu teria estudado, hoje não seria tão inútil.
Tentei formar uma família com a Isménia, mas ela não me quis. Preferiu ficar com o Nicolau. Acho que foi porque ele tinha mais dinheiro.
- Ele repetia isso sempre. - Ajuntei eu, penalizado.
- Naquela noite fiquei irritado. Era muita falta de responsabilidade beber antes do espectáculo. Você sabe como eu me esforçava para que tudo saísse bem.
A companhia toda estava tentando fazer o melhor. Alguns gostavam de tomar umas e outras, mas o faziam sempre depois do espectáculo, nunca antes.
- Foi por esse motivo que você brigou com ele?
- Foi. No dia seguinte, quando ele apareceu para se desculpar, eu ainda estava zangado. Veio com as mesmas desculpas de sempre, culpando o pai, a Isménia, a vida, e até Deus. Eu fui impiedoso. Depois até me arrependi, mas naquela hora estava indignado.
- O que você fez?
- Disse-lhe algumas, verdades. Chamei-o de preguiçoso, covarde, disse que culpava os outros para não ter de assumir a própria vida.
- O que era verdade.
- Ele a princípio olhou-me assustado. Estava habituado a fazer-se de coitado e receber a simpatia das pessoas que procuravam confortá-lo.
- Essa é uma atitude que reforça a carência.
- Hoje eu sei e acho até que minha atitude foi muito boa. Mas naquele dia eu estava apenas dizendo o que sentia sem nenhuma outra preocupação. Ele me olhava admirado, e eu continuei:
- Chega de culpar seu pai pela sua preguiça. Se não pôde continuar os estudos quando criança, por que não o fez mais tarde quando já trabalhava e, pelo que sei, ganhava bem? Porque não gostava de estudar, acomodou-se, transferindo a responsabilidade para seu pai. Com a Isménia fez o mesmo. Ela não correspondeu ao seu amor, foi sincera, casou-se com o homem que amava.
E você? Por que não procurou outra pessoa para compartilhar sua vida?
Certamente, porque gostava da boémia e não estava disposto a desistir dela para cuidar de uma família.,
- Você foi duro, mas verdadeiro. Como ele reagiu?
- Rompeu em soluços, chorou como uma criança.- Aí você amoleceu, sentiu culpa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2024 8:41 pm

- Foi. Senti culpa, mas não amoleci. Estava indignado demais para fraquejar. Não era a primeira vez que ele aprontava, e eu sempre o aconselhando, pedindo que tomasse juízo. Eu não podia prejudicar o desempenho dos outros por causa dele.
- Sei como é isso. Nem sempre é fácil lidar com as fraquezas dos outros.
Perdemos a confiança e ficamos sempre de sobreaviso, atentos, a fim de evitar maiores problemas.
- Por fim eu lhe disse que se continuasse a beber antes do espectáculo, seria despedido. Na hora ele concordou, mas continuou a beber.
- Você o despediu?
- Nem foi preciso. Ele foi embora, deixou-nos sem nenhuma explicação.
- Eu soube que ele foi tocar na noite, pelos bares.
- Isso mesmo. O resultado você sabe. Foi ficando mais triste e infeliz a cada dia. Morreu no abandono. Os irmãos cansaram-se dele.
- É triste ver uma pessoa desperdiçar os seus talentos dessa forma. Você foi vê-lo?
Seus olhos brilharam emotivos quando respondeu:
Há duas semanas mais ou menos, Jaime chamou-me e pediu-me que eu substituísse um companheiro que precisou ausentar-se. Estranhei o pedido porque não faço parte daquele grupo. Geralmente, quando precisam, escolhem alguém familiarizado com o trabalho.
Eu sorri e considerei:
- Ele sempre sabe o que faz.
- Isso mesmo. Desconfio que ele conhecia minhas diferenças com o Alberto, porque pouco depois de eu ter me juntado ao grupo que atenderia os que haviam sido trazidos do Umbral, divisei o Alberto, amparado por uma enfermeira. Estava abatido, pálido, parecia um fantasma.
- Ele é um fantasma! - Retruquei convicto.
- Eu não me considero um fantasma. Estou bem-disposto, saudável, corado, até mais jovem, assim como você.
- Ele o reconheceu?
- De imediato. Aproximou-se, dizendo admirado:
- Você! Até que enfim encontro alguém conhecido!
- Como vai, Alberto?
Ele fez uma careta tristonha e respondeu:
- Mal. Sou um cara sem sorte. Até para morrer eu sofri. Fiquei na enfermaria da Santa Casa, passei frio, fome, tive febre, delirava e os médicos não me socorriam. Também, eu estava ali de caridade. Não tinha dinheiro para o tratamento.
- Olhei-o sem saber o que fazer. Fazia tempo que eu não conversava com alguém tão negativo. Cheguei a sentir certo mal-estar. Mas reagi. Disse com firmeza:
- Você vai receber ajuda e melhorar, mas com uma condição. Não pode se queixar. Terá de aprender a controlar esse hábito se desejar ficar bem.
- É o que eu mais quero. Estou cansado de sofrer!
- Vou levá-lo a um lugar em que será muito bem atendido, mas tem um porém, sempre que formular uma queixa, voltará a passar mal.
- Eu sabia que tinha alguma coisa. Ninguém dá nada de graça.
- Aqui, não mesmo. Tudo tem seu preço. Se deseja ficar bem, terá de se esforçar para isso. A felicidade é uma conquista e depende apenas de você.
Ele ia objectar. Fixei meu olhar no dele com firmeza e ele se calou. Depois, conduzi-o ao lugar em que deveria ficar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2024 8:42 pm

- Por esse motivo você não tem aparecido. Eu queria mostrar-lhe um roteiro.
- Fiquei por lá. Estive com ele todos os dias até que finalmente pude voltar.
- Como ele está?
- Mais lúcido. No começo tinha repentes de alheamento, mas está melhorando.
- Quando for visitá-lo irei também. Nessa fase ele precisa de alegria. Você sabe, rir é o melhor remédio para a depressão.
- Rir é o melhor remédio para tudo. Estive pensando que poderíamos preparar algum trabalho para apresentarmos no agrupamento onde ele está. É um lugar bonito, mas as ondas de tristeza o tornam sombrio.
- Não sei se seria possível.
- Informei-me. Há lugares de lazer onde se pode fazer música, dançar e, embora seja um simples auditório, poderíamos transformá-lo em teatro. Já que nosso projecto tem como fundamento a mudança interior, a conscientização, poderemos tentar.
- É. Talvez. Disseram-nos que o projecto era para ser implantado na Terra, mas de algum tempo para cá tenho pensado que ele pode ser muito mais abrangente. Aqui ou lá, todos precisamos aprender.
- A vida tem seus objectivos seja onde for. Nós trabalhamos em seu favor.
Senti brotar dentro de mim mais entusiasmo. Depois, talvez seja mais fácil começarmos por aqui. Os que regressaram da Terra há pouco tempo estão sensíveis e talvez mais interessados em aprender.
Quando estamos na carne, temos maior dificuldade de enxergar nossas necessidades. Por isso mesmo nos tornamos mais indiferentes, mais resistentes.
- Vamos pesquisar as características daquele agrupamento e saber as prioridades.
- Pelo que observei, a depressão, a tristeza, a saudade, a falta de motivação, são evidentes. Até nos que estão melhores, nota-se o esforço que fazem para não se deixar envolver pelo negativismo. Terá que ser uma comédia.
- Isso eu sei. Vamos criar personagens com essas atitudes e mostrar o lado caricato de cada um. Adoro fazer isso! Vai ser uma beleza!
- Você escreve e eu trabalho com os atores.
- Nada disso. Escreva seu roteiro e eu, o meu. Depois juntamos tudo. Vamos trabalhar como antigamente.
- Mal posso esperar. Vai ser um sucesso!
- Quando estivermos prontos, conversaremos com Jaime. Ele é quem decide e consegue permissão.
Imediatamente, começamos a trabalhar e nosso coração vibrava de alegria, imaginando os risos da plateia, a transformação de um ambiente triste em um lugar arejado, alegre, acolhedor.
Esse é o trabalho que eu amo, que adoro fazer. É o que traz realização e prazer para minha alma.
Como é bom continuar vivendo, aprendendo e podendo trabalhar!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2024 8:42 pm

- 7 -
Duas semanas depois, encontrei tempo para acompanhar Vianinha em uma visita ao Alberto.
Eu nunca havia ido àquela comunidade e comoveu-me verificar que ela era muito parecida com uma cidade do interior de São Paulo da qual eu gostava muito. Os jardins, os canteiros, as flores, o coreto, as casas simples, as ruas, tudo fazia lembrar a Terra.
A brisa, porém, era mais delicada, o ambiente mais claro, e tanto os jardins como as edificações muito bem cuidados.
Senti saudades da Terra e comentei:
- Que beleza! Parece que voltamos no tempo.
- Não conhecia este lugar?
- Não. É maravilhoso. Transmite calma, paz.
- Para nós. Muitos que estão aqui ainda não enxergam a beleza deste lugar.
Senti vontade de sentar-me no jardim, sob uma frondosa árvore e relembrar o passado. Vianinha notou e observou:
Vamos indo. Não temos muito tempo.
Respirei com prazer aquele ar agradável e o acompanhei, resignado.
Paramos diante de uma pequena casa de apenas uma porta e uma janela como muitas do Brasil. A porta e a janela eram pintadas de azul e as paredes de amarelo-claro.
Vianinha tocou a campainha e Alberto abriu. Ao ver-me arregalou os olhos surpreso e, em seguida, abriu um sorriso alegre.
- Você veio! Não acredito!
- Abracei-o com carinho.
- Pode crer. Sou eu mesmo!
- Como está bem! Parece até que remoçou. Enquanto eu estou um caco. - Suspirou triste e continuou: - também o que eu poderia esperar depois de tudo o que passei? Você teve vida boa, foi mais feliz do que eu.
Antes que ele enveredasse pelo caminho da queixa olhei em volta e adiantei:
- Adorei sua casa e o lugar em que está morando.
Ele baixou a cabeça e respondeu:
- Qual nada. É casa de pobre. Garanto que vocês moram em um lugar melhor. Mas não estou em condições de exigir nada. Estou aqui de favor e tenho que dar graças. Eu estava em um lugar muito pior.
- Você me parece muito melhor. - Interveio Vianinha. - Fiquei sabendo que já começou a trabalhar.
- Por enquanto eu estou aprendendo. Não tenho profissão.
- Você é músico e dos bons. - Disse eu, tentando animá-lo.
- Eu fui. Nos últimos tempos minhas mãos tremiam, não tinha fôlego. Ainda não consigo tocar nada. Depois, acho que aqui não tem orquestras.
- Claro que tem. - Tornou Vianinha.
- Eu não sei. Estou trabalhando como aprendiz de jardineiro. Eu não sabia nada sobre isso. É um milagre você plantar uma semente e algum tempo depois ela se transformar em planta, dar flores. Quando eu estava na Terra nunca prestei atenção nisso. Mas agora, observando bem, parece-me um verdadeiro milagre.
Sorri contente:
- É um milagre. A vida é mágica e cheia deles.
- Apesar do que eu disse, não acredito em milagres.
- Por esse motivo eles não aconteceram em sua vida. Eles são como as plantas, só acontecem se você plantar.
Alberto fixou-me surpreendido e não respondeu logo. Depois meneou a cabeça e tornou:
- Você está brincando! A planta eu sei que se plantar, cuidar, vai nascer.
Como é que alguém pode plantar milagres?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 10:59 am

- Da mesma forma que faz com a planta. O que precisa fazer quando vai plantar?
- Bem, primeiro limpar a terra, adubar, deixá-la bem fofa. Aí escolher o tipo de planta. Saber se gosta de sol ou de sombra, se o local em que ela vai ser plantada será favorável para que ela germine e cresça. Aprendi isso nas duas últimas aulas que tive.
- Então, é só fazer o mesmo com o milagre que você quer alcançar. Primeiro tem que meditar, jogar fora todos os pensamentos ruins que o aborrecem, pensar que você merece ser feliz. Quando for plantar, isto é, pedir seu milagre, precisa saber se o que deseja vai fazê-lo crescer, dar flores e frutos. Essa escolha é muito importante e tem que ser muito verdadeira. Porque se você plantar ilusões, a vida vai arrancar da mesma forma que se você plantar na sombra uma muda de rosa que gosta de muito sol, ela vai morrer.
- Do jeito que você fala até parece que acontecer um milagre em minha vida vai depender só de mim.
- Claro que a natureza vai dar uma forcinha, mas o principal é você quem faz. Porque ela tem leis que não mudam e é você que, sabendo disso, precisa agir de acordo com ela.
- Você sempre foi muito sabido. Sou seu admirador, sabia? Não sei de onde você tira essas coisas. Seja como for, um cara como eu nunca vai obter um milagre.
- Pensando assim, não mesmo. Vamos lá. Se agora entrasse aqui um espírito de luz e lhe dissesse: “vim ajudá-lo. Quero que seja feliz”. O que você pediria?
Ele passou a mão nos cabelos, meneando a cabeça com incredulidade:
- Comigo não acontecem essas coisas.
- Eu disse: imagine. Será que você é tão pobre que não consegue nem imaginar?
- É difícil. Eu não saberia. A vida inteira quis ser músico.
- Fui. Adorava tocar. A música me tocava a alma. Mas apesar disso nunca fui feliz. Às vezes penso que tocar me levou a frequentar ambientes onde rolava muita bebida e isso talvez tenha sido um mal.
- Você está enganado. Eu e Vianinha vivemos nos mesmos ambientes que você e nunca nos viciamos em bebida.
- - Mais uma vez você joga a culpa de suas fraquezas sobre os outros, sendo que você é o único responsável por tudo quanto lhe acontece. - Considerou Vianinha.
- Você fala como meu instrutor. Quer me dar uma força que eu não tenho.
- Tanto tem que se tornou um excelente músico e olha que tocar como você conseguiu, poucos conseguem.
- Tocar para mim sempre foi um prazer. Passava os dias tocando, nunca precisei fazer força.
- Aí é que você se engana. Passava os dias tocando porque desejava dominar não só o instrumento como os sons. Claro que colocou toda sua força de vontade porque acreditava que conseguiria, e o resultado apareceu.
- Aprender música pode ser trabalhoso porque é preciso dedicação, leva tempo. Mas eu sabia que um dia conseguiria chegar aonde queria, Mas eu estou me referindo à alegria, felicidade, ao bem-estar. Isso é diferente, difícil de alcançar e não depende de mim.
- Claro que depende. - Tornei com convicção. - Quem é que manda em sua cabeça, é você ou as energias das pessoas que estão em volta?- Como assim? Não estou entendendo.
- Você está prestando atenção aos pensamentos que lhe ocorrem?
- Isso não é possível! Pela minha cabeça passam os mais diferentes e inusitados pensamentos a cada segundo.
- Como você reage a eles?
Alberto suspirou triste:
- Como posso. Acontece de tudo. Recordo cenas dolorosas do passado, momentos de frustração e desespero que vivi, percebo o quanto fui errado, sinto impotência, culpa. E o que é pior: por mais que doa não tenho como voltar atrás.
- Já eu, quando penso em você, recordo-me de uma noite em que estávamos no palco representando e você fazia um solo como fundo musical. Você conseguiu expressar na música tanta emoção, criou um clima que levantou a plateia. Os aplausos irromperam tão intensos que tivemos de esperar um bom tempo para continuar o espectáculo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 10:59 am

Foi um momento inesquecível, lembra-se?
Os olhos de Alberto brilharam emocionados e ele respondeu:
- Claro! Puxa, foi incrível! Naquela noite, brilhei tanto quanto você. Como poderia esquecer?
- Em vez de ficar se lembrando das coisas ruins, por que não se recorda dos momentos bons? - Perguntou Vianinha, sorrindo.
- Eu tive bons momentos, mas passaram, e no fim só restou sofrimento.
- Claro que quando estamos na Terra temos que enfrentar alguns desafios.
Mas se você observar bem vai notar que os momentos bons aconteceram em maior número.
- Ele ia objectar, mas não lhe dei tempo e continuei:
- Depende do modo como você olha. Já percebeu quanto tempo gastou com medo de coisas que nunca aconteceram? Depois, um minuto de dor, dependendo do modo como você o vê, pode multiplicar-se infinitas vezes.
- Não entendo o que quer dizer.
- Falo de aceitação. Há coisas que não podemos mudar. Aconteceram, doeram, mas não há nada que possamos fazer para modificar os acontecimentos. Quando não aceitamos essa realidade e ficamos ruminando o mesmo fato, estamos multiplicando nossa dor. Quando a deixamos ir, conformamo-nos, esquecemos mais depressa.
- Sem falar - ajuntou Vianinha - que só depois disso é que começamos a notar o quanto aprendemos com essa experiência.
- Parece fácil a vocês - retrucou Alberto, não querendo dar-se por vencido -, porque tiveram uma vida boa, não passaram pelo que passei.
- Como pode avaliar nossa vida? Como pode saber nossos medos, nossos momentos de dor e nossas indecisões? - Perguntei convicto. - Creia, meu amigo, todos estamos experimentando atitudes, escolhas, plantando e colhendo os resultados. Ninguém escapa ao processo de evolução.
- De facto. - Considerou Vianinha pensativo, recordando-se de alguns momentos difíceis que enfrentou no mundo. - A vida nos empurra para frente e não há como resistir.
- É por esse motivo que tanto lá como cá eu procuro resolver rapidamente minhas dificuldades. - Eu disse. - Para ser sincero tenho me dado muito bem.
É curioso observar que quando encarnados, vivemos muitos dias sem que nada de extraordinário aconteça e, dentro dessa rotina, não observamos que exactamente esses dias foram os mais felizes.
- É difícil se contentar com uma vida monótona. - Reclamou Alberto.
- Aí é que você se engana. Em um dia como esse, em seus momentos de lazer, você pode escolher fazer muitas coisas que lhe agradam, como ler um bom livro, ouvir música, cantar, bater um bom papo com os amigos.
- Isso é melhor do que ficar entediado pensando nas dificuldades e nas coisas que não têm remédio. - Filosofou Vianinha.
- Pois eu ainda não consigo. Quando não estou trabalhando fico lembrando de todos os meus problemas e tentando resolvê-los.
- Você fica se torturando com eles. Não é assim que vai encontrar a solução.
- Isso me desespera. Ainda bem que consegui um trabalho. Enquanto estou lá no meio das plantas, esqueço de tudo.
- O trabalho é abençoado. - Concordei alegre. - Mas diga, como é a vida nesta comunidade?
Eu queria desviar um pouco o pensamento dele das lembranças desagradáveis e enquanto ele contava suas experiências, eu pensava em como é difícil para algumas pessoas sair do círculo vicioso da ilusão que mergulharam no mundo e perceber que a verdade é muito diferente do que imaginaram.
Seja como for, apesar disso, tenho certeza de que o Alberto vai aprender.
Claro que do jeito dele, no ritmo que lhe é próprio.
Saí de lá pensando na sabedoria da vida que sabe trabalhar cada pessoa conforme seu temperamento, criando situações, fatos, experiências que a conduzam seguramente aonde ela deve ir.
Vocês não acham que ela sabe muito mais do que nós?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 10:59 am

- 8 -
A tarde ia morrendo lentamente, enquanto eu caminhava admirando embevecido á beleza da paisagem. Intimamente agradecia a Deus poder viver em um lugar tão lindo e harmonioso.
Eu sempre fui sensível à beleza e mesmo quando no mundo, onde quer que eu estivesse, procurava dentro do possível embelezar o lugar pelo prazer de contemplar o belo, seja aproveitando os caprichos da natureza ou colocando à minha volta coisas bonitas e inspiradoras.
Você pode dizer que isso só é possível no mundo a quem tem dinheiro suficiente para criar um ambiente bonito, repleto de obras de arte etc.
É claro que o dinheiro pode comprar beleza, mas não a sensibilidade para sentir o belo.
Você já entrou num ambiente luxuoso, requintado, dentro das regras do bom gosto, mas que lhe pareceu frio, sem alma?
Enquanto outras vezes, diante de um pôr do sol, de um . pequeno canteiro cheio de flores, de uma música bem executada, de uma cena surpreendida entre pessoas que se amam, você sentiu no coração uma satisfação gloriosa, que não dá para explicar?
Quem possui sensibilidade para o belo, sabe transformar tudo o que toca em beleza, tem olhos para ver o encanto e dispor as coisas de tal forma que torna o ambiente acolhedor, amigo.
Essa é uma capacidade do espírito que sabe olhar a vida e extrair dela o que tem de melhor.
Saber ver é uma capacidade que está em todos nós como potencial e, como em todos os nossos talentos, cabe-nos desenvolvê-la.
Quanto mais desenvolvido seu senso de beleza, mas você tem condições de melhorar sua qualidade de vida, valorizar o melhor, procurar o bem em tudo.
Quem tem esse senso mais desenvolvido, torna-se caprichoso no que faz.
Muitos começam esse desenvolvimento pela profissão, motivados pela vontade de progredir na vida, usufruir mais conforto, enriquecer.
Dedicam-se atentos e muitas vezes conseguem seus objectivos, mas apesar da satisfação e do progresso conquistado, não alcançam a realização interior.
É preciso lembrar que apesar de viver no mundo e ser válido o desejo de progresso material, a realização interior é um sentimento da alma que deseja muito mais.
Ela quer desenvolver sua sensibilidade para o belo, em todos os sentidos.
É por esse motivo que a natureza valoriza tanto a beleza. Há quem diga que no Universo, o feio mistura-se ao belo. Isso pode ser uma verdade aparente para quem não consegue enxergar além do que parece.
Mas para quem tem sensibilidade, o que parece feio é o complemento do belo tornando-o mais evidente.
Quando vim morar nesta cidade, vi logo que se tratava de um lugar agradável, onde as pessoas procuravam cuidar de tudo com amor.
Fiz novos amigos, reencontrei outros, mas depois de algum tempo notei que alguns tinham mais Capacidade para ver as belezas que nos cercam.
Conversando com eles, muitas vezes fui surpreendido pela descrição que faziam de determinados lugares, onde eu já estivera e não vira nada disso.
Protestei. Como eles haviam visto tantas coisas que eu não vira?
- Então fomos juntos a esses lugares e aos poucos foram me mostrando pequenos detalhes que eu não notara.
Um antigo morador da nossa cidade, Lourenço, despertou minha admiração.
Adoro visitá-lo e conversar um pouco. Com ele tenho aprendido a olhar a beleza e a ver além do que parece.
Será que você consegue entender o que quero dizer? Olhar com os olhos da alma muda tudo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 10:59 am

Contemplar é ir mais fundo, chegando na essência do que se olha. Pode ser um objecto, uma paisagem, um animal, uma pessoa, seja o que for.
Tenho aprendido que cada coisa guarda em sua essência tudo o que ela viveu, sentiu, experimentou.
Tudo tem história, e a cada dia amplia sua gama de memória. Um botânico, por exemplo, pode estudar uma espécie de planta, as mutações que ela sofreu com o tempo, as reacções que ela teve diante das variáveis externas e como lidou com isso.
Esse é o lado prático. Todo ser busca a vida, foge do sofrimento, evolui, cresce.
Hoje, por exemplo, enquanto caminho e admiro a beleza da paisagem, quantas coisas sinto, vendo os pássaros em bandos alegres passando ligeiros, os galhos verdes das árvores, levemente oscilando na brisa leve, bebendo os últimos raios do sol que se despede para iluminar outros lugares.
Eu fico pensando o que passará pela cabeça de um ser evoluído, tendo desenvolvido um alto grau de sensibilidade, quando olha um ser humano, um lugar, um animal ou uma paisagem?
Tenho a sensação de que em um segundo ele consegue ver e sentir tudo o que há nos arquivos de cada um e muito mais. Pode perceber as variáveis do futuro, suas prováveis escolhas e reacções.
Mas, embora essa seja uma conquista que todos nós gostaríamos de obter, pelo que tenho observado por aqui, ela tem o preço do esforço próprio, da dedicação e da persistência.
Em nossa cidade existem alguns deles, e tenho notado que dedicam largo tempo na contemplação, o que de certa forma pressupõe uma harmonia interior que desde já confesso não possuir.
Gosto de movimento e apesar de já haver disciplinado melhor minha vida interior, é difícil para mim o exercício da contemplação.
Tenho a impressão de estar perdendo tempo, tornando-me preguiçoso.
Talvez no fundo ainda guarde resquícios da educação rígida que recebi em minha última passagem pela Terra, na qual, para ser eficiente, precisava estar sempre fazendo alguma coisa útil.
Por outro lado, sempre tive dificuldade de controlar a mente, dominar impulsos, fechar a boca quando é preciso.
Como é que eles conseguiram tanto controle? Para descobrir, inscrevi-me em um curso de um mestre famoso por seu carisma e capacidade, vindo de outra cidade com essa finalidade. Apressei-me em fazer a inscrição, pois ele queria apenas vinte alunos.
Nosso professor era alto, aparentava cerca de quarenta anos, tinha cabelos castanhos soltos sobre os ombros, olhos brilhantes e alegres, vestia uma túnica de seda cor de palha, calçava sandálias cravejadas de pedras brilhantes e um colar sobre o peito que reluzia e mudava de cor conforme ele falava.
Ele fascinou a todos nós de imediato. Não sei se eram os olhos ou o sorriso.
Falou algumas palavras de agradecimento por estarmos ali e imediatamente propôs um passeio, a fim de iniciarmos nossa aprendizagem prática.
Conduziu-nos à beira de um lago em que cada um escolheu onde desejava sentar. Quando nos viu acomodados, deu-nos alguns minutos para contemplarmos a paisagem, findo os quais pediu que cada um relatasse o que vira.
Surpreendi-me com o relato de alguns companheiros, descrevendo detalhes que eu não vira. Nosso mestre intervinha, fazendo-nos repetir a observação até que todos estivéssemos conscientes daqueles detalhes.
Quando todos terminaram a descrição, ele, por suã vez, mostrou-nos alguns detalhes que ninguém havia notado. Abraçou-nos um a. um com carinho e encerrou a aula.
Foram apenas três aulas com ele, que nos garantiu que estávamos aptos para prosseguirmos treinando. Quando sentisse que tínhamos assimilado tudo, voltaria para continuar.
Gostaria que vocês sentissem o que é contemplação. Eu que imaginava ser algo estático, descobri que é o oposto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 11:00 am

Quando você deixa de lado tudo o mais e foca a atenção sobre algo, disposto a ver o que é, com naturalidade, vai percebendo coisas, descobrindo detalhes reveladores que vão além das formas aparentes e descortinam a essência.
Nesses momentos, pode-se ultrapassar o tempo, viajando para o passado ou percebendo as muitas probabilidades do futuro.
Confesso que no exercício da contemplação não alcancei tudo isso, mas uma coisa é certa, nossa lucidez aumenta e nos tornamos mais serenos.
Quem se agita, agita também as energias à sua volta e acaba ficando confuso. A conquista da serenidade passa pelos exercícios de contemplação, com certeza.
Depois disso, sinto mais prazer em caminhar pelas ruas, principalmente nesta linda cidade onde vivo agora.
Acho que estou melhorando meu senso de realidade, pois vejo muito mais coisas do que via antes. Sinto-me mais calmo, mais feliz. E, por incrível que pareça, venho conseguindo controlar mais a boca.
Conhecendo minha irreverência, você duvida que eu tenha conseguido?
Pois eu afirmo que sim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 11:00 am

- 9 -
Na semana passada, quando saía de uma reunião, uma pessoa aproximou-se:
- Não acredito! Você é quem eu estou pensando?
Surpreendido, parei e olhei homem alto, encorpado, cabelos brancos, rosto simpático, lábios abertos em um sorriso largo que me olhava admirado.
- Não sei.
- Silveira Sampaio! É você mesmo?
- Sim. Sou eu.
- Puxa! Sou seu admirador.
- Obrigado.
- Não faz muito tempo que regressei da Terra. Trabalhei em um Posto de Socorro do Umbral e na semana passada pude me mudar para cá.
- Vai gostar da nossa cidade.
- Por enquanto não conheço ninguém aqui. Meus parentes, alguns estão encarnados e os outros ainda não sei onde estão. Mas encontrá-lo aqui foi maravilhoso!
Ele me olhava encantado e eu querendo confortá-lo respondi:
- A vida social aqui é muito agradável. Tenho certeza de que em breve fará amigos e se sentirá à vontade.
- Vida social? Depois que recobrei a consciência, morei no Posto de Socorro, onde trabalhei e vivi até agora. Lá é uma comunidade, mas a disciplina é muito rígida.
- Eu sei. É permitido apenas reuniões para estudos. Mas há concertos, shows, cinema.
- É verdade. Mas tudo é bem controlado, permissões para ir, horários. Eles dizem que é para aprendermos a utilidade da disciplina que, quando observada, facilita muito nossa vida.
- De facto. Mas a maioria das pessoas que vive aqui já aprendeu as vantagens da ordem e da disciplina. Por esse motivo, usufruímos mais liberdade.
- Quando cheguei recebi o manual de regulamento.
- É de praxe. Ele nos ensina a conviver em harmonia com todos.
- E se alguém fizer alguma coisa fora do regulamento, o que acontece?
- Será imediatamente descoberto e chamado para conversar com as autoridades. Esse manual foi criado para preservar e manter nosso ambiente em determinada frequência. Temos sensores que cuidam disso. Quando alguém faz alguma coisa não permitida, interfere nessa frequência e eles registam. A pessoa é advertida e se persistir, é transferida para outro local.
- Puxa. Isso sim que é controle.
- É muito bom viver assim. Temos liberdade absoluta para o que desejarmos fazer. Só não é permitido interferir no meio ambiente, pois prejudicaria todos os outros. O controle do meio ambiente aqui é muito sério!
- Seria bom se pudéssemos ter um controle assim na Terra. Já pensou?
- Não funcionaria. Aliás, lá não faltam regras e conhecimentos que, se
respeitados, poderiam melhorar muito o ambiente. Mas a maioria ainda não aprendeu a utilidade deles. Agora preciso ir.
- Não antes de ouvir o que tenho á lhe dizer. Sou muito agradecido por tudo o que você me ensinou.
- Você também gosta de teatro?
- Teatro? Não. Nunca pude ir. Minha vida na Terra foi pobre. O que ganhava dava para sustentar minha família, sem grandes luxos.
- Acho que me conhece da televisão.
- Televisão? Não. Meu pai me falou que assistia você pela televisão, mas eu era muito criança, não.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 11:01 am

- Nesse caso, como me conhece?
- Eu li seus livros! Bate-papo com o Além, O mundo em que eu vivo!
Sorri alegre. E ele continuou:
- Eu era indiferente. Mas a minha mulher um dia levou o Bate-papo com o
Além para casa e começou a ler. A princípio não me interessei. Para dizer a verdade essa coisa de espírito não era o meu forte.
- Ela gostou do livro?
Se gostou? Ela lia e ria, depois me contava com entusiasmo pedaços do livro. Acabei me interessando. Li. Depois fui saber quem você havia sido.
Pesquisei e descobri várias coisas sobre você. Mas eu gostei muito das histórias de O mundo em que eu vivo. Elas mudaram minha vida.
- Como assim?
- Comecei a ver a vida de uma outra forma e então todas as coisas mudaram para mim. Você abriu minha mente para a espiritualidade. Por esse motivo, quando sofri o acidente e acordei no pronto-socorro, percebi logo que não estava mais na Terra.
- Acreditar na vida após a morte facilita a passagem. - Foi o que aconteceu. Fiquei triste, mas reagi. Sabia que precisava aceitar e seguir em frente. Depois, minha mulher não ficaria desamparada. Tinha fé.
Foi o que aconteceu. Logo eu estava trabalhando no Posto de Socorro. E, agora, fui transferido para cá.
- Você foi promovido. Aqui há vários recursos de ajuda. Tenho certeza de que vai progredir rapidamente.
- É o que mais quero. Quando puder pretendo ajudar meus dois filhos que ficaram no mundo. Só vou quando tiver condições. Tudo isso devo a você. Por esse motivo, encontrá-lo aqui para mim foi um prémio!
- O mérito é só seu. Foi você que colocou em prática os esclarecimentos que passei. Você mereceu o prémio, ele é todo seu.
Abracei-o comovido.
- Preciso ir. Mas terei o maior prazer em contar com você em nosso grupo.
Apareça lá e o apresentarei a todos.
Ele prometeu ir e eu saí de lá de bem com a vida. Ele pensou ter recebido um prémio, mas confesso a vocês que quem o recebeu fui eu.
Um trabalho feito com persistência e amor deu frutos e eu me sinto realizado, feliz. Espero que Zibia também esteja.
A vida é mágica. Vocês não acham que tenho razão?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 11:02 am

-10 -
Alguns amigos que regressaram recentemente da Terra me contaram entusiasmados os últimos progressos da ciência no mundo.
Computadores de última geração, nos quais se pode não só gravar imagens como sons, fazer fotos, retocá-las ao gosto de cada um e, a maravilha maior, um correio electrónico que coloca o usuário rapidamente em contacto com - pessoas de qualquer país do mundo.
Claro que eu tinha conhecimento de que um dia isso aconteceria. Quando cheguei aqui e encontrei essas facilidades todas e outras mais, minha imaginação foi a mil.
Deslumbrado, desejei cooperar para que esses conhecimentos fossem logo desenvolvidos no mundo.
Mas fui logo informado de que havia uma programação superior em andamento para esse fim e que em prazo curto estaria em prática.
Para isso havia sido preparada a reencarnação de espíritos com bastante conhecimento técnico, afim de materializar essas máquinas.
Nesses quase cinquenta anos que deixei a Terra, o progresso tecnológico tem sido vertiginoso.
Mesmo não tendo colaborado directamente com esses acontecimentos, fico imaginando a revolução que eles causaram nos costumes.
Recordo-me de quando apareceu a televisão, modesta, em preto e branco, mas ainda assim espectacular, muitas mudanças ocorreram.
As famílias se reuniam diante do aparelho, e os que não o possuíam, eram convidados a assistir no vizinho, o que gerou o curioso apelido de “televizinho”.
Agora, com a internet, as distâncias diminuíram e a cada dia aparecem novas descobertas, inclusive em outras áreas do conhecimento, incentivando a busca de novas conquistas que possam beneficiar a qualidade de vida das pessoas.
Finalmente, estão descobrindo que a conquista da felicidade passa pelo conhecimento das leis universais que regem o planeta.
Claro que ainda há muitos que acreditam que as leis físicas sejam as determinantes de todas as coisas e que, portanto, dominá-las significa viver melhor. Não nego que conhecê-las tem sua função positiva, mas há outros factores que interferem na programação delas, determinando sua movimentação prática.
Você acha que eu estou complicando? Vou explicar melhor.
Para funcionarem as leis físicas dependem do campo propício. O que significa que precisam de determinadas condições para entrar em acção.
Os factores a que me referi anteriormente, são os que criam esse campo conforme as necessidades do momento.
Esses factores se manifestam, tanto no campo colectivo como no individual, e em ambas situações funcionam com bastante precisão.
Entretanto, fica difícil ao pesquisador comprovar esses factores, porquanto são subjectivos, embora existam, atuem e sejam determinantes.
Fala-se em campos favoráveis e desfavoráveis, registam-se diferentes aspectos e condições, mas ainda não conseguem em suas experiências reproduzir todas às circunstâncias que condicionam uma pesquisa científica, sendo por isso mesmo muitas vezes deixados de lado.
É a inteligência universal que coordena esses elementos, obedecendo seus objectivos de progresso da humanidade.
É por esta razão que eu afirmo: enquanto o homem não aprender as leis espirituais que regem todas as outras; enquanto o materialismo imperar na sociedade humana, embora o progresso científico esteja facilitando a vida, a felicidade será uma conquista distante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 11:02 am

É o conhecimento e a observação da ética espiritual que determinam todas as conquistas humanas, porque conduzem à realização interior, da alegria, paz e felicidade.
As virtudes do bem são qualidades da alma que como essência divina que é, anseia desenvolvê-las. Ela vibra diante de um ato de generosidade, desprendimento, bondade, fé.
Então, por que a maldade ainda é cultivada na Terra? Por que, apesar de pagar um preço caro por elas, as pessoas ainda continuam a agir assim?
Todos sabem que o mal causa sofrimento, mas a grande maioria não consegue afastar-se dele.
Conversando aqui com a maioria dos amigos que voltam da Terra cheios de remorso pelo mal praticado, infelizes diante das consequências que estão colhendo, notei que todos sabiam que estavam errados e ainda assim continuaram.
Perguntei-lhes o porquê.
- Eu sabia que estava errado, mas a tentação aparecia e quando eu caia em mim já havia agido mal.
Fiz essa pesquisa durante algum tempo, principalmente nos prontos-socorros dos que regressam e onde prestei serviço. Todos afirmavam ã mesma coisa.
Então cheguei à conclusão de que a causa de tudo é nosso pensamento descontrolado. As pessoas acreditam que pensar não tem importância, uma vez que não façam o que estão pensando.
Acontece que, quando alimentado, o pensamento se materializa, toma forma e num momento de indecisão pode impulsionar a acção.
Ultimamente tenho pensado muito em uma máquina que existe aqui em nossas sessões de terapia. É muito eficiente e interessante.
O paciente fica ao lado dela durante uma hora e não precisa fazer nada, pode até estar se ocupando com outra coisa, mas ela registra todos os pensamentos e grava em uma fita.
Tem o curioso nome de “espelho da mente”. Quando o paciente tem alguma lucidez, ganha uma cópia para estudar, enquanto o assistente que cuida do caso, fica com outra. Depois conversam sobre isso.
É surpreendente o que podemos descobrir a nosso respeito com essa experiência.
Perguntei ao meu amigo Jaime e ele me disse que essa máquina ainda não chegou à Terra.
Se eu tivesse conhecimento técnico tentaria passá-lo a algum inventor para que a materializasse. Não acham que seria útil?
Mas Jaime me fez desistir, afirmando que eu não saberia fazer isso. Também garantiu que não preciso me preocupar, porque logo ela será descoberta e estará funcionando no mundo.
Isso me acalmou e deixou-me feliz. O dia em que isso acontecer você vai lembrar-se de mim. Tenho certeza!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 11:03 am

- 11 -
Apesar de estar aqui há certo tempo e de ter aprendido muitas coisas, ainda me surpreendo com a sabedoria da vida que dispõe os acontecimentos magistralmente, sempre em benefício de todos os envolvidos.
Quando estamos vivendo na Terra isso se torna difícil, não só porque temporariamente estamos limitados em nossas lembranças, como também porque nossa visão se circunscreve aos acontecimentos do momento actual.
Uma visão mais ampla desses acontecimentos é mais completa quando podemos abranger várias encarnações dos envolvidos e quando temos a oportunidade de acompanhar de perto esse processo.
É fascinante! Muito mais do que se estivéssemos assistindo a um filme. Os fatos se desenrolam diante de nós e, sem querer, nos sentimos participantes, mesmo que as pessoas que os estão vivenciando nos sejam desconhecidas.
É que as energias agem e colocando nossa atenção no que estamos vendo, absorvemo-las. Contudo, isso não acontece de maneira igual para todos. Cada um reage a elas captando maior ou menor quantidade com variações de qualidade.
Como sempre, tudo depende da maneira como você olha as coisas.
Isso se dá, porquanto cada um em seu nível de evolução vive o próprio processo, tendo suas crenças e usando o livre-arbítrio de acordo com suas convicções, que são determinantes das reacções energéticas.
Acham que estou complicando? Posso explicar melhor. Se você é dramático, inseguro, pensa que é difícil ser feliz, certamente, diante dos dramas dos outros, ainda que lhe sejam desconhecidos, vai absorver mais energias dolorosas e sofrer muito mais.
Ao passo que uma pessoa mais realista, que acredita na vida, que cuida para não se preocupar com o futuro, porque sabe que tudo vai mudar para melhor, colocada nas mesmas circunstâncias, vai absorver menos energias dolorosas e mais inspiração na forma de ajudar.
Ao tomar conhecimento do drama dos outros, todos nós nos sentimos tomados pela compaixão, desejamos auxiliar de alguma forma.
Aí você vai dizer que sem a lembrança das vidas passadas e diante do sofrimento que grassa no mundo, é difícil aceitar que a sabedoria da vida trabalhe em benefício de todos, sempre para o melhor. Mas vale dizer que isso só acontece a quem possui crenças limitantes e não consegue enxergar essa realidade.
Como desejava trabalhar nos grupos de socorro aos encarnados, pude frequentar cursos que me abriram a visão, ajudando-me a observar os fatos de maneira mais realista.
Nessas aulas, recebemos um caso para estudar, com as fichas dos envolvidos podemos visitar alguns arquivos nos quais estão registados todos os acontecimentos, não só de suas vidas pregressas como das actividades que desempenharam no astral. Sendo que algumas dessas pessoas estão encarnadas, vivendo suas experiências.
Depois, somos colocados directamente ao lado delas para observar e nos actualizarmos.
Nessa altura, não podemos intervir a não ser transmitir energias de amor e pensamentos positivos.
Conforme vamos nos familiarizando, nossas opiniões são analisadas e conseguimos autorização para intervenções mais objectivas.
Confesso a você que é uma experiência fascinante. Logo, sentimos que simpatizamos mais com uns do que com outros e quando isso acontece, nosso professor intervém.
Claro que antipatizamos com alguém que está mal-intencionado, sendo cruel, enganando, sendo rude, principalmente com uma pessoa bondosa, sincera, ingénua até.
É natural. Sempre torcemos pelo bem. Mas quem deseja auxiliar precisa ir além do que parece e perceber o que está por trás dessas atitudes.
Isso aconteceu algumas vezes comigo e, em todos os casos, o professor provou que eu não estava vendo toda a verdade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 8:18 pm

Acabei descobrindo que em todos os casos nos quais o mal aparece é para fazer pano de fundo, a fim de que o bem possa ser valorizado.
Claro que quem escolhe o mal como padrão de vida, vai colher a dor e acabar descobrindo seu engano, mas a sabedoria da vida transforma uma atitude ruim de uma pessoa maldosa em amadurecimento de alguém que precisava dessa experiência para evoluir.
Tudo isso acontece naturalmente. Quem precisa passar por um processo doloroso, acaba atraindo uma pessoa mais perversa.
Essa sabedoria me encanta, apesar de que a dor não é a melhor escolha.
Mas, infelizmente, as pessoas são muito resistentes e ignoram as oportunidades que a inteligência da vida lhes oferece para não sofrer. É claro que você pode alegar que para mim, com os recursos de que disponho aqui no astral, fica fácil enxergar essa perfeição. Mas eu respondo que mesmo estando limitado pela vida carnal, você pode perceber tudo o que eu mencionei.
Basta observar as pessoas à sua volta e verá como a vida está trabalhando com elas, procurando ensinar-lhes o que precisam aprender.
E se você, como eu, gosta de ajudar os outros, tenha cautela, observe muito, não interfira directamente, espere que a vida lhe ofereça uma oportunidade que deixe claro a melhor atitude a tomar.
Hoje eu procuro intervir o menos possível na vida alheia. Possuo as minhas responsabilidades pessoais e não desejo arcar com as que não me dizem respeito.
Agora, amor, pensamentos positivos, isso eu posso distribuir fartamente a todos e me atrevo a dizer que o maior beneficiado sou eu mesmo. Sinto-me muito feliz fazendo isso.
Não acha que estou sendo inteligente? Não gostaria de fazer o mesmo?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 8:18 pm

- 12 -
A noite estava linda e o céu cheio de estrelas que brilhavam intensamente, povoando minha imaginação de pensamentos loucos.
Olhando o céu enluarado eu me perguntava o que haveria, nas outras dimensões, as quais ainda não tive acesso, e nem sei quando terei.
Mas sou um homem progressista, curioso, que adora descobrir os mistérios do universo. Se eu pudesse viajaria por toda a galáxia, conheceria os outros povos que elevem viver por lá, trataria de me relacionar com eles para saber tudo.
Fico pensando que se na cidade astral onde resido; há tanto progresso científico e particular, o que encontraria em outras dimensões mais evoluídas?
Talvez você ainda não saiba que mesmo entre as cidades do mesmo nível espiritual há muitas diferenças, seja no sistema social e na organização da sociedade, como no padrão de vida e nas oportunidades de aprendizagem.
Quando descobri isso, discordei. Não achei justo que pessoas do mesmo nível espiritual fossem colocadas em situações tão diversas, sendo que algumas dessas cidades deixam a desejar dentro dos padrões da cidade onde moro.
Por causa disso, fui convidado a estagiar um tempo naquelas que eu julgara menos adiantadas.
A ideia de deixar durante algum tempo minha casa, os amigos e até o trabalho no qual tenho me empenhado, e ir para um lugar estranho, de hábitos diferentes dos meus, não me agradou muito.
Conversei com Jaime:
- Acho que não vou aceitar o convite.
Ao que ele respondeu:
- Pois eu penso que deve aceitar. Será uma boa experiência, vai ajudá-lo muito em seus projectos. Você não pode esquecer que embora essas pessoas estejam vivendo em um meio um pouco diferente do seu, fazem parte da humanidade terrestre. Um dia, tanto quanto nós, elas voltarão a reencarnar na Terra.
- Talvez você tenha razão. - Comentei pensativo. - Vou pensar melhor.
- Pense e se resolver ir procure trabalhar um pouco o julgamento.
Olhei-o surpreendido:- Por que diz isso? Acha que ainda não deixei esse velho hábito?
Ele sorriu alegre e considerou:
- Eu pedi apenas para meditar um pouco sobre esse tema. Tente descobrir por que, ao conhecer como vivem as pessoas nessas dimensões, você ficou tão contrariado.
Naquele instante senti como se uma campainha soasse chamando minha atenção.
Até então eu me sentia seguro do progresso alcançado e acreditava, sem falsa modéstia, que havia conseguido vencer alguns pontos fracos que faziam parte da minha personalidade quando estava no mundo.
Querendo que ele fosse mais claro retruquei:
- Em que você se baseia para me dizer isso?
- É que você emitiu uma opinião sem nunca ter estado lá. Nessa hora entendi. Ele estava certo. Eu fiz um julgamento sem pesquisar a fundo por que elas foram chamadas a viver lá e quais os resultados dessa experiência.
Então, dentro de mim brotou uma vontade forte de ir a esses lugares, de saber mais, descobrir até que ponto o meio, à convivência, o sistema social, interferem em cada um e de que maneira.
- Você tem razão. Vou pensar melhor sobre o assunto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 8:18 pm

- 13 -
Depois de muito pensar, procurei o amigo Jaime:
- Aquela oferta de estágio ainda está de pé?
Ele sorriu:
- Claro. Aonde deseja ir primeiro?
- Em Alverne. Pelas informações que colhi, essa é uma das cidades cuja organização mais me chocou.
- É um bom começo. Você terá um mês para fazer parte daquela sociedade.
Sabe que lá não terá o conforto nem o mesmo progresso tecnológico daqui.
Tem certeza de que quer começar por Alverne?
- Tenho. Quem vive lá está no mesmo nível espiritual que nós, talvez eu possa levar-lhes algumas informações práticas que os ajude a viver melhor.
- Não se iluda. Se eles estivessem prontos, a vida já teria se encarregado disso. É você que precisa entender por que as coisas lá são assim.
- Sei disso. Não consigo entender que embora tenham progredido ainda vivam em uma cidade tão atrasada.
Jaime sorriu e seus olhos brilharam maliciosos quando respondeu:
- É bom você saber que não poderá voltar antes do prazo. Uma vez lá, deverá ficar o tempo programado.
- Já fui informado. Seja como for, estou preparado.
- Está bem. Vou informar nosso correspondente de lá que você irá. Ele vai recebê-lo e se encarregar de sua instalação e de todas as providências necessárias.
- Quando deverei partir?
- Dentro de dois dias deverá passar perto daqui um comboio que recolhe os desencarnados na crosta terrestre e os leva a Alverne. Vou entrar em contacto e marcar um local onde eles vão apanhá-lo.
- Dois dias, terei tempo de preparar minha bagagem.
- Nessa viagem não poderá levar nada daqui.
Surpreendido objectei:
- Eu gostaria de levar material para pesquisa.
- Não será possível. Mas Octaviano cuidará para que nada lhe falte. Como eu disse, ele é nosso correspondente e, além de chefe de um grupo naquela cidade, faz parte do conselho director.- E se lá não tiver o que preciso?
- Terá de arranjar-se com o que encontrar.
Meneei a cabeça com certa preocupação. E Jaime continuou:
- Onde está sua criatividade? Depois, lembre-se de que, embora haja diferenças materiais e até comportamentais, você estará entre pessoas do mesmo nível espiritual que temos aqui.
- É. Mas eu tinha pensado em levar pelo menos meu computador.
- Não é compatível. Depois, se quer entender o porquê de eles viverem daquela forma, terá de tornar-se um deles.
- É. Faz sentido. Bem, então está combinado. Basta apenas me dizer a que horas devo estar pronto.
- Vou tomar as providências e assim que estiver tudo arranjado, avisarei você.
Fui para casa e convoquei alguns participantes do nosso grupo, encarregando-os das providências que deveriam tomar durante minha ausência.
Com tudo pronto, só me restava esperar pela hora da partida.
No dia marcado, Jaime me avisou que logo mais, às dez da noite, eu iria ao encontro dos viajantes para Alverne.
Pouco antes de partir, olhei em volta. Aquela casa tinha já a minha cara.
Tudo estava disposto do meu jeito. Os livros espalhados sobre a mesa, o computador que obedecia a minha voz, escrevendo tudo, a cadeira confortável onde eu lia. A decoração que Marta me ajudara a fazer e que eu mudava conforme meu humor, os vasos cheios de flores, os quadros que eu escolhera e gostava de ficar olhando de vez em quando.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 8:19 pm

Até os chinelos macios e folgados que eu gostava de calçar, mesmo sem necessidade, mas que me davam uma sensação de conforto deliciosa. Vocês podem estranhar que eu, apesar de estar no astral há tantos anos, ainda conserve os mesmos hábitos que tinha quando vivia no mundo.
Acho até que haverá os que vão duvidar do que estou dizendo, mas me conforta saber que um dia eles também virão para cá e descobrirão que aqui a vida continua, quase igual ao que era na Terra.
A diferença é que aqui nos tornamos mais sensíveis e muito mais rápidos.
Tanto que no começo, torna-se difícil controlar as atitudes. Os pensamentos, conforme o tanto de energias que colocamos neles, tomam forma rapidamente, tomando-se vivos.
Tanto que muitos recém-desencarnados ao verem suas formas pensamentos, acreditam que sejam organismos com vida própria e não criação deles mesmos.
Eu acredito que esse controle seja o mais difícil de conseguir, quando depois da morte do corpo físico regressamos ao astral.
É por esse motivo que os mensageiros encarregados de auxiliar as pessoas encarnadas, estão sempre aconselhando para que aprendam a controlar o pensamento e comandar a própria cabeça.
O que dizer então daqueles que odeiam, perseguem, vivem na maldade? É triste, mas muitas vezes os temos visto ainda encarnados, no emaranhado de formas pensamentos horripilantes, das quais gastarão muito tempo para se livrar.
O que dizer da loucura? Eles não estarão vendo apenas as formas pensamentos que criaram? É bom lembrar que sempre terão um reforço das entidades que pensam igual e que certamente os envolvem, tentando explorar-lhes as energias.
Mas deixando de lado essa circunstância, a cidade onde estou morando agora, poderia ser comparada a um bairro de luxo. As largas ruas são arborizadas, as casas graciosas, os jardins cheios de flores.
O ar é mais leve que na Terra, e o ambiente mais claro que um dia de sol. A brisa é suave, as noites são lindas e podemos também ver a lua e alguns planetas.
A maior diferença está nas pessoas. Há os mais motivados, alegres, os introspectivos, sisudos e os sorridentes. Os amáveis e os discretos. Mas todos se esforçando para cuidar de si mesmo e não dar trabalho a ninguém.
Estava na hora de ir. Lancei um olhar agradecido sobre aquela casa que me abrigava, saí e fui ao encontro de meu amigo Jaime.
A noite estava linda e eu, apesar de saber que ia para um lugar diferente do meu, sentia o prazer da aventura.
Vendo-me entrar Jaime tornou:
- Está quase na hora. Vou acompanhá-lo até o local.
Ele segurou no meu braço e fomos volitando pelo espaço. Rapidamente nossa cidade ficou para trás, e apenas a luz da lua nos mostrava o caminho.
Depois de algum tempo avistamos uma estrada com uma luz amarelada:
- É aqui. Não devem demorar. Vamos esperar.
Eu olhei em volta, mas ao redor só havia escuridão. Pouco depois, vislumbramos dois faróis que se aproximavam. Não havia nenhum ruído.
Então pude ver um enorme vagão, parecido com os de trem, mas sem rodas, que parou à nossa frente. Uma porta se abriu e Jaime disse:
- Pode entrar. Deus o acompanhe.
Entrei e olhei em volta. Iluminado fracamente por uma luz amarelada, havia assentos, todos ocupados por pessoas de vários aspectos.
Alguns dormiam recostados, outros, apesar dos olhos abertos pareciam alheios ao ambiente.
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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 8:19 pm

Uma voz que não sei de onde veio disse:
Sente-se. Vamos partir.
Sentei-me no único lugar que estava vazio. Sentia uma enorme curiosidade, vontade de conversar com aquelas pessoas, mas assim que me acomodei, uma sonolência tomou conta de mim. Sem saber como, adormeci.
Acordei e olhei em volta tentando situar-me. Não sei quanto tempo dormi, mas vi que ainda era noite e continuava sentado naquele veículo, viajando.
Tudo continuava igual, mas, instantes depois, vislumbrei uma luz amarelada e um enorme portão que abriu quando nos aproximamos.
Agora, apesar da luz fraca eu podia ver a paisagem. Estávamos em um grande parque, cheio de árvores que se enfileiravam nos dois lados da estrada.
Depois, apareceram algumas construções, que me pareceram familiares, porquanto eram muito semelhantes às que existiam no meu Rio de Janeiro, nos alegres anos da minha infância.
Uma onda de entusiasmo me invadiu. Aquela aventura prometia ser melhor do que eu podia esperar.
Finalmente, paramos em uma estação. Em uma placa pintada estava escrito:
ALVERNE.
A lateral do veículo se abriu de ponta a ponta e a mesma voz que me mandara sentar, convidou-nos a descer. Levantamo-nos e fomos saindo devagar.
Notei que meus companheiros de viagem continuavam um tanto alheios. Na plataforma havia algumas pessoas que se aproximavam deles, segurando-os pelo braço e levando-os para outro veículo estacionado próximo.
Um homem de estatura média, usando um terno escuro, gravata, à moda do mundo, aproximou-se de mim estendendo a mão e dizendo:
- Você deve ser o Silveira Sampaio. Eu sou Octaviano.
- Sim. Prazerem conhecê-lo. - Respondi, apertando a mão que ele me oferecia.
Ele aparentava cerca de cinquenta anos, era forte, tinha o rosto enérgico, queixo quadrado, testa larga, lábios grossos e usava óculos. Por instantes me perguntei se estava diante de uma pessoa encarnada.
- Fiquei emocionado quando Jaime me disse que você desejava conhecer nossa cidade. Fui seu contemporâneo na Terra e seu admirador. Assisti a muitos dos seus programas na TV.
- Bons tempos aqueles! Você morava no Rio?
- Sim. Deixei a Terra em 1975. Fiquei triste quando você desencarnou. Mas vamos falar de coisas alegres. Espero que goste da nossa cidade.
- Quero conhecer tudo.
- Jaime disse que veio estudar nossos costumes. Sinto-me honrado com sua presença e me coloco à sua disposição para o que precisar.
- Obrigado.
Deixamos a estação e fomos andando por uma rua larga, arborizada, onde havia alguns casarões, se é que posso chamá-los assim, assobradados, sempre com jardins à volta, e embora fossem diferentes entre si, lembravam a arquitectura do começo do século vinte no Brasil.
Eu sabia que Alverne era uma dimensão astral cujos habitantes eram em grande maioria de pessoas que regressavam do- Brasil. Havia núcleos de outros países da América do Sul e os imigrantes da Europa que, tendo vivido no Brasil seus últimos anos, haviam se ligado a esta cidade.
- Olhando essas casas, sinto muita saudade da Terra. - Murmurei.
- Tudo por lá está mudado. Essas coisas modernas são feias, sem graça.
Eles dizem que é o progresso. Mas a verdade é que em nosso tempo havia mais respeito, tranquilidade. As pessoas tinham tempo para conversar, sentar-se na calçada, conhecer os vizinhos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 8:19 pm

- Olhando por esse lado. - Comentei surpreso. - Será que havia encontrado a razão daquela cidade ser como era?
- Nós somos conservadores. O excesso de conforto favorece a acomodação.
Em nossa comunidade, quando nosso conselho director deseja introduzir alguma novidade, o povo não permite. Gostamos da nossa vida.
- Vocês não têm curiosidade de conhecer os progressos da ciência?
- Depende. Se somos felizes como estamos, por que vamos querer mudar? A vida inteira procuramos conquistar a felicidade. Não é isso o que importa?
- É. - Respondi convicto.
- Então, para que ir atrás das novidades? Elas podem confundir nossa cabeça, fazendo-nos desejar coisas das quais não precisamos. Não é o que está acontecendo no mundo todos os dias? Lá, as pessoas sentem-se infelizes se não podem comprar todas essas novidades. Estão sempre insatisfeitas, não aproveitam as coisas boas que já têm. Aqui, não queremos nada disso.
Não é que ele estava certo? Por alguns instantes sua lógica quase me convenceu de que o progresso é um mal. Dei-me conta de que se eu fosse por aí, acabaria Voltando à idade da pedra.
Logo eu, que me considero pra frente, querendo sempre o melhor.
De repente, Octaviano parou, colocou a mão no meu braço e perguntou:
- Eu achei que o amigo desejava caminhar para conhecer um pouco da cidade. Mas deve estar cansado e desejando ir para a casa descansar.
- Não estou cansado. Dormi no caminho. -
Octaviano sorriu e respondeu:
- Claro. Você veio no comboio.
- Como assim?
Esse veículo transporta os recém-desencarnados, por esse motivo possui alguns recursos. Ao tomar assento, você abre um dispositivo em que há um sonífero.
Eu sorri alegre:
- Esse é um recurso científico.
- Claro. Mas é um bem necessário. Contam que antigamente, esse transporte ocasionava muitos problemas entre os viajantes. Alguns, ainda muito ligados às emoções que viveram no mundo, não se controlavam. Brigavam, discutiam, queriam ensinar os outros, enfim, era uma confusão. Então, nosso conselho director decidiu implantar esse recurso e desde essa época, tudo ficou bem.
- De fato, é maravilhoso. Eu dormi e acordei na chegada, bem-disposto e descansado.
- Embora não esteja cansado, é melhor irmos para casa. Engrácia deve estar ansiosa a sua espera.
- Quem?
- Minha esposa. Vamos embora.
Ambos nos elevamos e volitamos sobre a cidade adormecida. Eu olhava embevecido para as luzes que brilhavam embaixo, quais pirilampos accionando minha curiosidade.
Eu estava iniciando uma jornada nova. Não sabia bem o que iria encontrar nem o que aconteceria nesse tempo que deveria viver ali, mas eu estava disposto a aproveitar muito bem essa estada.
A um sinal de Octaviano, descemos em uma rua larga e arborizada. Olhei em volta e notei as casas térreas, com jardim na frente e varanda.
O que as diferenciava eram as janelas e a arte com que haviam sido construídas, algumas com jardineiras embaixo, outras com caprichosos relevos ao redor ou em volta do telhado, e a cor de suas paredes.
Elas fizeram-me recordar a cidade de Petrópolis, onde eu costumava ir com minha família durante as férias escolares.
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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 8:19 pm

- Que lugar agradável! - Murmurei admirado.
- Concordo. Eu e Engrácia agradecemos todos os dias por morarmos aqui.
Ele parou diante de uma delas dizendo:
- Chegamos. Vamos entrar.
Acompanhei-o contente. Uma senhora nos esperava na varanda, sorrindo.
Era baixa, forte, tinha o rosto redondo, lábios grossos, grandes e expressivos olhos castanhos.
Assim que nos viu aproximou-se, dizendo:
- Que prazer recebê-lo, Dr. Silveira!
- Encantado. - Respondi, apertando a mão que delicadamente ela me estendia.
- Desde que soube que viria, ela não falava em outra coisa. - Esclareceu Octaviano.
- De fato. Estou muito contente com sua visita.
- Vamos entrar.
Acompanhei-os satisfeito. Senti que ela estava sendo sincera e fiquei sensibilizado. É difícil explicar o que estava acontecendo comigo.
Aquela cidade fazia-me recordar a infância, a adolescência, até meus anos de juventude. Parecia que havia voltado no tempo.
Sentamo-nos na sala mobiliada com simplicidade, mas com capricho. Havia vasos com flores que perfumavam suavemente o ambiente.
Engrácia nos serviu um delicioso refresco. Comentei sobre o agradável perfume das flores e ela contou-me que as cultivava em uma estufa, atrás da casa.
- Quando viemos para esta casa não havia nada plantado. Nem aqui nem nas outras casas. Apenas uma espécie de graminha sem graça e inodora. Eu adoro flores. Quando vivia no mundo, elas nunca faltavam em minha casa.
Ela fez ligeira pausa e, vendo que eu a escutava atentamente, continuou:
- Eu resolvi plantar alguma coisa, mas os vizinhos me disseram que seria inútil, que alguns haviam tentado, porém o clima não permitia. Inconformada, resolvi estudar. Matriculei-me em uma das nossas universidades e fui aprender biologia. Depois de analisar o solo e o clima, construí a estufa e comecei minhas experiências. O resultado é visível.- De fato, observei que há lindos e floridos jardins em todas as casas.
Octaviano olhou para a esposa com os olhos brilhantes e comentou:
- Engrácia tem mãos divinas. Tudo o que ela faz é maravilhoso.
Ela sorriu alegre e respondeu:
- Não é isso não. A natureza é maravilhosa. Tem tudo o que precisamos, agasalha-nos, alimenta e cura, só precisamos estudar suas leis e encontrar o caminho.
Conversamos durante mais algum tempo. Eu me sentia bem-disposto, muito à vontade naquele ambiente simples é bastante acolhedor.
A certa altura, Octaviano tornou:
- Você deve estar querendo descansar. Vou levá-lo à casa onde deverá ficar.
Concordei e despedi-me de Engrácia, após prometer voltar para conhecer sua estufa e suas experiências.
Saímos. O dia estava amanhecendo, colorindo o céu de diversos matizes que iam do lilás ao rosado, vestindo a paisagem de uma beleza delicada e agradável.
- Que lindo! - Murmurei sensibilizado.
Ele concordou com a cabeça e tornou:
- Vamos caminhando, é perto.
Fomos andando e eu não me cansava de admirar a beleza do lugar; a brisa leve que nos acariciava provocava uma grande sensação de bem-estar.
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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 8:20 pm

Duas quadras depois, paramos.
- É aqui. Vamos entrar.
Era uma casa térrea, construída no meio de espaçoso jardim, cujas flores me encantaram de pronto. Havia algumas diferentes que eu nunca tinha visto.
- Que beleza! - Exclamei admirado.
- Esse jardim é o resultado de algumas experiências de Engrácia.
- Eu não conhecia aquelas azuis: - Apontei curioso.
- Essas são criação dela. Já ganharam vários prémios, não só em nossa cidade. Cientistas de várias dimensões têm vindo conhecê-las.
- São lindas. Irradiam uma energia serena e transmitem muita paz.
Atravessamos a varanda e Octaviano deu seu nome; a porta se abriu.
Entramos no hall e os ladrilhos portugueses do piso me encantaram.
Octaviano explicou:
- Esta casa foi projectada por um português que em sua última encarnação viveu muitos anos no Brasil. Assim que veio para cá, depois de viver muito tempo em outra cidade, mais perto da crosta terrestre, conseguiu permissão para fazer sua casa. Ele estava saudoso de sua juventude em Portugal onde se casou. Algum tempo depois o casal mudou-se para o Brasil em busca de uma vida melhor.
- A colónia portuguesa no Rio de Janeiro era muito grande.
- De facto. Eles trabalharam duro, estabeleceram-se com um armazém de secos e molhados, criaram quatro filhos; Ele - desencarnou antes, mas desde o primeiro momento só pensou em receber a-família, quando chegasse a hora.
- Ele conseguiu?
- Não. Contudo, Joaquim nunca deixou de acompanhá-los em seus problemas, sempre que podia. Eu o recebi no dia em que chegou a Alverne.
- Você recebe todos os que chegam?
- Não. Apenas os que vêm para viver na zona em que sou o responsável.
Joaquim, desde que chegou, trabalhou duro até conseguir construir esta casa.
Maria, sua esposa, estava para desencarnar e ele tinha esperanças de poder trazê-la para cá.
- Deu tempo de acabar a casa?
- Deu. Ela, porém, demorou mais do que ele imaginava. Por se tratar de uma mulher muito boa, caridosa, sempre disposta a ajudar os outros, ele acreditou que ela teria créditos para vir directo para cá. Mas não aconteceu assim.
Nós havíamos caminhado até a sala, mobiliada com conforto e uma elegância discreta. Percorremos a casa que, além de uma grande sala de estar, possuía três quartos, uma cozinha para preparo de alimentos e uma sala íntima para higiene pessoal.
Parece que estou vendo vocês balançarem a cabeça duvidando do que estou dizendo. Mas é verdade. Os desencarnados se alimentam. Não à moda de mundo. Claro que de acordo com as necessidades do nosso corpo astral.
O perispírito não vive apenas de prana, mas de elementos encontrados também nos alimentos que são consumidos na Terra. Quando estamos encarnados, extraímos dos alimentos que ingerimos no dia-a-dia, não só as substâncias necessárias ao nosso corpo físico, mas também as que o corpo astral necessita.
É por esse motivo que quanto mais natural for a alimentação, mais elementos oferecemos ao nosso corpo astral, incluindo vitalidade e saúde.
A natureza tem tudo o que precisamos para manter a saúde. A doença é fruto da nossa falta de conhecimento, do mau uso que fazemos dos alimentos, dos excessos que cometemos na alimentação e do descontrole de nossa mente.
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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 8:20 pm

A vida na Terra é uma continuidade da vida no astral e vive- versa. Quem vive na faixa da reencarnação, como nós, mesmo fora da carne, precisa manter os elementos do corpo astral em funcionamento, uma vez que precisará deles quando tiver de voltar à Terra.
Não se admire ao saber que nas dimensões próximas ao planeta, os espíritos exercem as mesmas funções que tinham no mundo.
A diferença está apenas nas condições da matéria que, mesmo possuindo as mesmas características, são mais leves e mais adequadas às dimensões e às necessidades de quem vive nelas.
- Gostou da casa?
- Muito. Mas e o Joaquim?
- Ele acabou a casa, ela desencarnou, mas ficou retida no Umbral. Joaquim pediu-me para interceder. Fui vê-la, mas não consegui nada. Muito religiosa, querendo ganhar o céu, fazia tudo para ajudar os outros.
- E esqueceu de si mesma. Já vi muitos casos assim.
- São casos difíceis. Pensam que serão poupadas pela vida por terem ajudado a muitos, julgam-se imunes ao sofrimento e, ao chegarem aqui, percebendo o engano, revoltam-se. Foi o que aconteceu com Maria. Estava em péssimo estado. Tentei fazê-la entender que a ajuda aos outros só funciona quando é inteligente e não prejudica quem a faz. Granjeia-nos a amizade deles, é verdade, mas não acrescenta nada ao nosso progresso pessoal. Nós encarnamos para aprender a lidar com nossas emoções e comandar nossa vida. E isso está em primeiro lugar.
- Por esse motivo, tenho medo de religião. Elas pregam meias verdades, oferecendo recompensas a quem fizer o que elas pregam. As pessoas seguem tudo, fanatizam-se, certas de que estão se libertando dos sofrimentos. Quando a verdade aparece, não querem aceitar.
- Com Maria foi pior. Intrometeu-se na vida dos filhos, dos amigos, tentando resolver todos os problemas deles, criou confusão. Pagou caro por isso. Julgou-se uma mártir, vítima da ingratidão de todos. Amargurada, passou anos doente, queixando-se. Acabou sozinha.
- Passar por cima da sabedoria da vida, sempre acaba mal.
- É verdade. Mas Joaquim não desanimou. Continuou tentando ajudá-la como pôde. Quando ela finalmente enxergou o que havia feito de sua vida, aceitou a ajuda que lhe oferecemos. Mas, apesar disso, ela não conseguiu alcançar o padrão energético que lhe permitisse vir residir aqui ao lado de Joaquim.- Nem sempre as coisas acontecem como gostaríamos.
- Ela se preparou para reencarnar e, mesmo sabendo que devido às circunstâncias, sua vida seria cheia de dificuldades, aceitou.
- Era de se prever. As dificuldades representam o maior incentivo para desenvolver a criatividade e aprender a usar a própria força.
- Joaquim queria reencarnar também para ficar ao lado dela, mas não obteve permissão. Então se engajou em uma equipe de socorro que trabalha directamente na crosta para acompanhar todos os passos de Maria e ajudá-la como fosse possível.
- Você acha que ela, desta vez, depois de desencarnar, conseguirá vir para cá?
- Não dá para saber. Tudo foi disposto para isso, mas o resultado depende exclusivamente dela.
- Faço votos que ela consiga.
- -Joaquim encarregou-me de lhe pedir desculpas por não estar aqui para recebê-lo. Ele tem trabalhado muito. Às vezes permanece na crosta dois ou três meses sem voltar.
- Sei como é. Já trabalhei em uma equipe dessas.
- Mas ele deseja que aprecie sua estada e faça de conta que está em sua casa.
- Eu gostaria muito de conhecê-lo. Será que ele voltará enquanto eu estiver aqui?
- Vou verificar e responderei depois. Fique à vontade, descanse. Mais tarde voltarei para levá-lo a conhecer alguns lugares interessantes.
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O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: O repórter do outro mundo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2024 8:20 pm

- Obrigado. Estarei esperando.
Depois que ele se foi, olhei em volta para me familiarizar com o lugar. Fui para o quarto, abri um dos armários e encontrei roupas, iguais as que eu usava quando estava vivendo na Terra.
Sorri ao reconhecer uma camisa de linho que era a minha preferida quando ensaiava os personagens para minhas peças de teatro.
Era folgada, leve, permitia-me movimentos livres. Eu havia me habituado tanto com ela que acabou se tornando indispensável.
Há quanto tempo eu não a via. Senti-me comovido, saudoso do tempo em que havia vivido intensamente minha paixão pelo teatro.
Só quem viveu esses momentos pode-avaliar o que é isso. Estar no palco, diante de uma plateia que reage ao que você diz é um momento mágico, em que o actor veste o personagem, cria uma situação e estabelece um clima para dizer suas falas.
Vivendo um drama ou uma comédia, ele pode tudo. Nesse momento é o condutor das emoções. Pode levar a plateia do riso às lágrimas, despertar sentimentos sublimes e fazer as pessoas esquecerem os problemas do dia-a-dia.
Pena que, algumas vezes, certos atores se esquecem de que têm esse poder, usam seu talento de maneira inadequada. Desejam apenas conquistar o próprio sucesso, sem se preocupar com a reacção que podem estar provocando nos outros.
Embora alguns desses tenham conseguido fama, a esse preço, acabam seus dias doentes, sem trabalhe), na solidão.
Não importa em que sector alguém actue, mas sim como faz isso. A vida responde conforme as atitudes de cada um. Promove as lições conforme a necessidade.
Felizmente, há os que respeitam a vida, a plateia que os acolhe, fazem seu trabalho com dedicação, levando entretenimento sadio e elevados conceitos que fazem pensar.
Recordando momentos do meu passado, sentei-me em uma poltrona e agradeci a Deus por poder estar aqui, nesse lugar de paz, fazendo novos amigos e aprendendo um pouco mais sobre a vida.
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