LUZ ESPÍRITA
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O mundo em que eu vivo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

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O mundo em que eu vivo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 4 Empty Re: O mundo em que eu vivo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 27, 2024 8:41 pm

O TEMPO
Ouço o relógio do tempo dando horas. Sempre pensei que ele contasse só na Terra, onde os costumes, apesar de diversificados, obedecem-no inexoravelmente.
Acreditei que depois de morto finalmente eu o vencesse na corrida desigual, marcada não só pela movimentação do sol, mas pelo movimento de todas as coisas que andam sempre sem jamais parar ou voltar atrás.
Mas não foi assim. E, aqui estou eu, novamente, como nunca deixei de estar, na luta para vencê-lo. Mas, pensando bem, vencê-lo por quê? Que vaidade é essa que temos em querer comandá-lo, como se ele nos obedecesse? Vocês não acham que tenho razão?
Quantas vezes, quando estamos felizes, tentamos deter-lhe a marcha para que nossa alegria não se acabe? Quantas outras, quando a dor nos visita, em suas múltiplas formas, e os minutos se tornam horas, queremos que ele passe depressa?
Ilusão. Apenas ilusão: Ele, tanto quanto a vida, obedece indiferente e inalterado às determinantes das leis de Deus. Não é bom nem mau, e se esquecermos nossas mágoas passadas, olhando-o com realismo, chegaremos até a encará-lo como um amigo que sempre tem contribuído para nosso amadurecimento.
Duvidam? Pois eu acho que é assim. Já pensaram se um dia, por conta e obra do dono de tudo, do Pai Criador, o tempo parasse e tudo parasse com ele, permanecendo como está? Os iludidos, os maus, os justos, os injustos, as fantasias, os erros, a ignorância, tudo, parando, sem mudar nem seguir? Já imaginaram o caos que seria?
Há quem diga que o mundo já está no caos, e pode até ser verdade, se levarmos em conta apenas o que os homens estão fazendo dele. Porém, e sempre existe um porém, o mundo tem um governo espiritual através do qual Deus continua no leme. Se assim não fosse essa nave tumultuada há muito já teria naufragado. E esse governo usa o tempo, uma das sábias determinações de Deus, para ir ensinando aos homens, refiro- me a todos nós, espíritos desencarnados ou não.
Que diferença faz? Apenas estamos em dimensões diferentes, sem o corpo mais denso e pesado da carne, usufruindo por isso alguns recursos de percepção mais subtis. Porém, somos os mesmos. Os mesmos sonhos, os mesmos afectos, as mesmas lutas. Tudo.
É por isso que para mim todos somos homens, seres humanos. Quando estava na Terra, preocupava-me em vencer o tempo. Tinha tudo planejado e muita pressa em tudo quanto fazia. Contava levá-lo de vencida.
Quem já não sonhou, por exemplo, com o elixir da longa vida e da mocidade eterna? Quem já não imaginou, apesar da realidade ser outra, que seu momento de felicidade era para sempre?
Quando vim para cá, tão antes do que tinha imaginado, fiquei ressentido com ele. Afinal, tinha tantas coisas ainda por fazer. Tantos sonhos a realizar.
Por que fora forçado a regressar tão cedo? Nessas horas, recordava-me dos amigos que tinham vivido mais de oitenta anos na Terra e esquecia- me dos jovens e até das crianças que vira partir antes de mim. Estava até um pouco revoltado. Quando compreendi os problemas passados, que tinham determinado minha partida, acalmei-me, porque tudo tinha acontecido da maneira certa, de acordo com as minhas necessidades. Mas meu ressentimento com o tempo permaneceu.
Acossado pela saudade, pensava. Por que ele passou tão depressa? Por quê? Porém, à medida que eu aceitava a nova vida e trabalhava procurando novos valores de progresso, fui aprendendo a enxergar o outro lado. A sabedoria da vida, a expressar-se no tempo. A partir daí, meditando, comecei a perceber a inutilidade de querer combatê-lo, comandá-lo.
Como todas as leis de Deus, ele é mais sábio do que nós. E comecei a pensar o que aconteceria se, em vez de temê-lo ou conduzi-lo, eu procurasse viver com ele. Nunca lhes ocorreu esse pensamento? A mim ele parece lógico.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 27, 2024 8:42 pm

Já que ele é sempre sábio, conduzindo-nos ao progresso, com sabedoria, porque temê-lo? Por que recear as mudanças, se elas ocorrem justamente provocadas pela nossa necessidade de aprender? Por que recear a maturidade, a morte?
Tudo é estabelecido pela vida e pelo tempo. São leis das quais ninguém conseguirá fugir. Agora, posso confiar-lhes um segredo? Desde que descobri isso, tento valorizar todos os meus minutos, deixando para o passado apenas as lições é as coisas boas, e vivendo o presente sem medo do futuro.
Sabendo que o tempo é nosso aliado, mesmo sendo imparcial, quando ele ocasiona mudanças em minha vida, sempre me pergunto o que estará a vida querendo me ensinar. Como poderei viver melhor, dentro da nova situação?
E o melhor, ele sempre leva no referencial as leis divinas, para que eu possa evitar os malogros e os desvios tão dolorosos em que tantas vezes me envolvi. Afinal, se eu seguir por outros caminhos, no fim terei de voltar mesmo sobre meus passos e recomeçar. Então, por que temer? Por que não seguir procurando perceber o rumo a tomar?
E como o tempo continua andando, aprenderemos com menos sofrimento e iremos pouco a pouco aumentando nosso coeficiente de bons momentos de felicidade.
Estava tão absorto, meditando nesses assuntos, que não percebi que alguém se tinha aproximado do banco de jardim onde eu estava sentado. Surpreendi-me ouvindo uma voz de mulher indagar:
- Posso sentar-me aqui?
Olhei-a, admirado.
- Por certo - respondi mais por hábito do que conscientemente. Olhei-a. Era mulher madura, muito elegante, e seu aspecto revelava finura e educação.
- Perdoe-me. Estava distraído.
- Sou eu quem lhe pede perdão. Estava meditando e eu o interrompi. Porém, preciso conversar com alguém. Não aguento mais a solidão.
Interessado, perguntei:
- E nova em nossa cidade?
- Sou. Faz dois anos apenas que deixei a Terra. Sinto-me só.
- Não tem parentes aqui?
- Não. Meus pais estão reencarnados na Terra. Voltaram pouco antes de eu chegar. Meus avós estão em outro plano. Ainda não tenho licença para ir à Terra. Deixei lá uma família numerosa. Sou mãe de seis filhos, todos criados, e oito netos. Sinto-me muito só. Estava habituada a viver com eles. A cada filho que casava, dávamos uma casa junto à nossa. Por isso, nunca nos separamos.
Fiquei intrigado. Afinal, mesmo não tendo parentes em nossa cidade, poucos são os que se sentiam sós. Apesar da saudade que todos sentimos, há muita fraternidade e afecto, principalmente para os que não têm ali ninguém.
- A senhora não tem amigos?
Ela fez um gesto vago.
- As pessoas tratam-me com afecto. Mas não quero ser- lhes pesada. Afinal, não têm obrigação de aturar-me, nem de aguentar minhas saudades.
- Se a senhora os evita, é claro que respeitam a sua escolha.
- Não acha que faço bem?
- Não sei - respondi, sincero.
Ela prosseguiu:
- Afinal, de que adianta relacionar-me com eles se nem os conheço? Prefiro ficar só, em casa, recordando. Ah! Como eu fui feliz! Apesar de estar aqui fisicamente, meu pensamento está lá com os meus. Meu pobre marido, coitado, que não fazia nada sem mim, meus filhos, que jamais tomaram uma decisão sem consultar-me. Como estarão?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 27, 2024 8:42 pm

Fico angustiada pensando. Eu sei que Deus faz tudo certo, sou pessoa de fé. Dediquei muitos anos de minha vida ao trabalho em favor do próximo. Sou espírita. Compreendo que devo aceitar esta mudança. Deus não erra; entretanto, como é dolorosa!
- Suspirou comovida, e eu senti lágrimas virem-me aos olhos, lembrando-me dos que tinha deixado na Terra. Ela continuou:
- Desde que cheguei, não tenho conseguido trabalhar. As saudades não deixam. O que fazer?
Foi então que sugeri:
- Melhor esquecer o passado. Afinal, tudo é temporário. Se aceita que Deus não erra, deve saber que o melhor momento para nós é o hoje, o agora.
- Acha que eu posso? Como ignorar que eles, a esta hora, não têm quem os oriente na vida?
- Não disse que crê em Deus?
- Por certo que creio.
- Nunca lhe ocorreu por que a senhora foi chamada antes dos outros? - Vendo-lhe a admiração, continuei. - Nem meditou que, sem sua experiência, seus familiares vão aprender a resolver seus próprios problemas? Se confia em Deus, por que duvida que, assim como ele lhe ensinou, os ensinará também?- Mas eles vão sofrer.
- Por que se preocupa com isso? Não é o sofrimento benéfico? Não amadurece as pessoas? Depois, acha que poderá evitá-lo?
- E isso que me dói. Eu não vou poder evitá-lo.
- Não acha que vive fora da realidade?
- Não compreendo...
- Compreende sim. Guarde o seu amor, que ele é força abençoada em seu coração. Mas deixe os seus entes queridos viverem a vida que escolheram.
Não sou ninguém para aconselhar, mas sinto-me muito bem aqui, apesar dos entes que amo na Terra. Procuro fazer do tempo um aliado, aprendendo a ler em suas entrelinhas as lições da vida. E não tenho medo algum. Fiz muitos amigos. Trabalho com alegria e até já posso visitar os meus. Não acha que sou muito feliz?
Ela sorriu mais animada, e eu concluí:
- Por que não tenta fazer o mesmo?
Vocês não pensam como eu?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 27, 2024 8:42 pm

A INSPIRAÇÃO
Relâmpagos de brilhantismo, ideias luminosas, chistes bem achados, rimas delicadas, prosa agradável, facetas do génio, inspiração. Quem não as gostaria de ter?
Enquanto quebramos a cabeça em busca do tema, da musa, da mensagem, da arte, nada nos ocorre no turbilhão acolchetado das nossas ideias comuns, nos lugares-comuns, na ordem do cotidiano. Mas eis que, de repente, sopra uma brisa mais leve, e zás, encontramos tudo de uma vez, o tema, o texto, a linguagem, tudo. E aí, produzimos, temos inspiração.
Nesse momento, tudo nos fica claro, como se estivéssemos iluminados por uma centelha de génio, e tocamos os corações com a força da nossa arte, transmitindo com o código certo, além do comum, coisas geniais. Nessa hora temos a inspiração do génio.
Assim, muitos de nós, que já sentimos, nem que seja por breves segundos, essa fagulha genial, acreditamos ter em mãos a capacidade de criar. Somos artistas. Somos inspirados, compositores, pintores, escritores, poetas, músicos, atores, cantores, oradores, administradores, etc., etc.
Infelizmente, porém, a inspiração não é estável. Parece caprichosa. Aparece quando menos se espera e não há quem a comande; ela é livre como um pássaro.
Vai daí que a nossa genialidade, mesmo contra nossa vontade, torna-se sua dependente. E não faltam, por toda parte, “inspirados” autores génios, ou líderes seja do que for, que sem ela, decepcionados e insatisfeitos, enquanto ela não aparece procuram disfarçar a própria incapacidade, pretextando cansaço, desequilíbrio e até tédio para não confessar abertamente que ela, a inspiração, os abandonou, sem dar-lhes a mínima satisfação, nem disse quando volta (se é que vai voltar!).
Apesar disso, sempre esperamos, porque, por mais que ela tarde, sempre há de vir, ela é imprevisível. Quando menos se espera, zás, eis que acontece e brilhamos de novo, criando, realizando.
Ultimamente tenho pensado muito nela. Vocês não acham uma injustiça? Por mais que alguém se esforce, não conseguirá nada por si mesmo, e sempre dependerá dela?
Afinal, quem é essa dama instável, inconstante? Que poderes ela tem para dominar os grandes da Terra e acenar para os pequenos que dela apenas recebem, esporadicamente, alguns “flashs” ocasionais?
Tenho pensado muito, e, afinal, observo que aqui, no mundo onde estou vivendo, apesar de ter aprendido muitas coisas, a inspiração continua a ser dama misteriosa, que aparece inesperadamente, acendendo luzes dentro de nós, abrindo-nos a visão para determinados ângulos mais profundos, e desaparecendo de repente, deixando-nos por largo tempo a viver em função desse minuto de revelação e de sabedoria.
Se pudéssemos, de alguma forma, segurá-la connosco durante algum tempo, já pensaram o que faríamos? Seja qual for nossa especialidade, tendo-a permanentemente, que beleza!
Eu por certo escreveria de tal forma que conseguiria mostrar aos leitores da Terra tudo quanto desejo. Teria a genialidade de escrever histórias onde cada um conseguiria enxergar-se e ajudar-se, libertando-se dos medos, dos fantasmas perigosos da ilusão. Encontrariam rapidamente o caminho da felicidade. Ah! Se eu pudesse! Encontraria palavras certas, onde cada um seria tocado no coração, aprendendo como conseguir a felicidade.
Estou sendo utópico? Pode ser. Mas esse é um sonho que eu tenho. Ver a humanidade feliz. Estou fora da realidade? Pode ser.
Mas, eu sei que é possível ser feliz. Eu sei que o homem já, hoje, agora, tem nas mãos a possibilidade de acabar com 80% dos seus sofrimentos, se aprendesse algumas coisas, não tão difíceis, que nós já sabemos aqui. Estou tentando dizer, mas quantos entenderão? Quantos experimentarão?
E por isso que eu queria que a inspiração, essa musa difícil e inconstante, me ajudasse. Procurei Jaime para saber o que deveria fazer para tentar encontrá-la. Argumentei:- Deve haver um jeito para isso. E injusto pensar que ela não leva em conta nosso esforço, e é caprichosa.
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O mundo em que eu vivo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 4 Empty Re: O mundo em que eu vivo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 27, 2024 8:42 pm

Ele olhou-me sério, enquanto dizia:
- Se você se refere à inspiração divina, essa nunca foi caprichosa. Está à disposição de todos.
- Isso eu sei. Refiro-me à inspiração genial. Aquele “click” que nos dá uma visão certa, num segundo. Que anima os génios, as artes, os grandes homens.
Nunca vi ninguém controlá-la. Não a acha caprichosa?
- Não. Acho até que você está invertendo posições.
- Como assim?
- Na vida cada um tem sempre o que procura.
- Sei da lei de acção e reacção. Entretanto, conheci autores, artistas, oradores, etc., que tinham momentos de inspiração magistral; alguns criavam nesses instantes sua obra-prima. Depois, a inspiração desaparecia e eles desgastavam-se inutilmente tentando obtê-la de novo. Ela dificilmente voltava.
Eu mesmo gostaria de tê-la para ajudar-me a escrever meus artigos para a Terra. Contudo, ela não aparece com facilidade. Por quê?
Jaime alisou os cabelos, pensativo, e esclareceu:
- A inspiração pode chegar até nós de diversas formas. Muitas vezes ela se manifesta através da voz de um amigo espiritual que procura transmitir suas ideias.
- Mediunidade?
- Telepatia. E claro que para isso eles devem ter um motivo justo, que sempre é o de ajudar, fazer o bem. Não vamos falar dos objectivos negativos, dos irmãos ignorantes que também costumam inspirar os homens.
- Esses quase sempre são ouvidos.
- Infelizmente. Porém, não conseguem inspirar senão mediocridade. Mesmo conseguindo poder entre os homens, dominando os ambiciosos e os desonestos. Porém, acredito que você deseje além desses exemplos. Você gostaria de ter a sabedoria. A lucidez profunda da verdade maior, de uma parcela de percepção, além do plano onde estamos.
- Isso - concordei com entusiasmo. - As vezes, sinto um pequeno toque dessa verdade. Um “flash” rápido e indescritível, porém dura tão pouco que acende o desejo de querer mais. Oferece tanta plenitude em tão pouco tempo que fico maravilhado. Durante anos esse segundo alimenta e trabalha dentro de mim. Gostaria de estar sempre assim para poder ajudar, ter lucidez, escrever para os homens, incentivar. A felicidade existe e é possível. Não acha uma maravilha?
Jaime colocou a mão no meu ombro, e em seus olhos havia um brilho intraduzível quando disse:
- Todos nós gostaríamos de tê-la para sempre. A inspiração que procura é a maior de todas. A única, a total e verdadeira.
- Como consegui-la? Compreendo que a inspiração de nossos maiores, ou da telepatia obedeça planos, ideias, objectivos, mas essa, a maior, a inspiração profunda e verdadeira, como consegui-la para sempre?
- Não há nada que nos impeça, teoricamente. Porém, ela tem um preço que todos precisamos pagar.
- Qual é? - perguntei, interessado.
- Amadurecimento. Conhecimento. Experiência. Essa inspiração é a vida, e a vida é obra de Deus. A medida que você vai conhecendo, vivendo suas experiências, ela vai levantando a ponta do véu que a cobre e mostrando um pouco mais.
- Mas mostra tão pouco, leva tanto tempo para aparecer...
- E que ela é muito grande e nós ainda tão pouco desenvolvidos que uma parcela maior nos enlouqueceria. Quem reencarnaria na Terra tendo sentido a vibração pura dos planos mais reais da vida? Quem suportaria a aprendizagem, dia a dia, desenvolvendo conceitos, renovando ideias, conhecendo que eles estão ultrapassados e obsoletos?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 28, 2024 11:22 am

- Qualquer um havia de querer viver lá, da maneira que se vive na vida mais pura - considerei, pensativo. Jaime sorriu:
- Sem preparo adequado, sem estar à altura, além de perturbar os outros, não seríamos felizes. Temos de desenvolver nossos recursos; sem isso, é inútil.
- Quer dizer que os caprichosos, os instáveis, somos nós?
- Por certo - aduziu ele, rindo. - E ela, a vida, já faz muito dando-nos alguns “flashs” de sua grandeza. Mesmo assim, há quem perca a cabeça por causa disso.
Ele se foi, fiquei pensando, pensando. Será por isso que muitos ainda correm atrás da inspiração sem conseguir nada? Querem ser génios, conseguir poder, pavonear-se com esses conhecimentos e, naturalmente, tomar-se um poço de vaidade! Não resta dúvida de que isso é verdade. Eu, porém, não queria ser vaidoso, embora escrever para vocês, ver meu nome lembrado, sempre me emociona. Afinal, o que eu queria mesmo é estreitar os laços que nos une. Vou contar-lhes um segredo: agora que eu sei o que é a verdadeira inspiração, e como ela atua, vou fazer o possível para conquistá-la. Acham que estou sendo pretensioso?
Pode ser Mas, já que ela não é caprichosa, e que à medida em que eu tenha condições ela se irá revelando, ou melhor; eu irei conseguindo ligar-me a ela, não acham que vale a pena tentar?
Um dia, ainda poderei, inspirado e seguro, escrever, criar, produzir, sob o apoio da vida, histórias que toquem o coração humano, que o elevem a Deus, que o façam enxergar e o tornem feliz.
Acham que estou sendo optimista?
Estou. Mas, tenho a certeza de que conseguirei. Não temos toda a eternidade pela frente?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 28, 2024 11:22 am

O APÊNDICE
Todos nós vamos aprendendo a viver, e caminhando para a frente, não raro, ao sabor de novas experiências, vamos modificando nossa maneira de pensar, de ser.
Ficamos mais experientes, mais conscientes, mais vividos. H, dessa forma, apreciando nossos actos passados, criticamos atitudes mais ingénuas, actos inseguros, momentos de indecisão.
Quem já não usou, num suspiro fundo e sincero, a frase: “Ah! seu eu pudesse voltar à minha juventude com a experiência que tenho hoje!”.
O que ninguém se lembra por certo, é que isso sempre tem acontecido, e ninguém se dá conta. Isto é, nós temos sempre voltado à vida na Terra com a experiência toda sintetizada em nosso arquivo mental, que está no corpo espiritual, e não nos damos por isso.
E olhem que esse arquivo é utilizado em todos os momentos de nossa vida terrena. Sempre que optamos por um caminho, que escolhemos alguma coisa, recorremos a ele. Há até quem faça isso conscientemente, pedindo informações ao que chama seu subconsciente, e adormecendo para acordar com uma solução. Como se seu subconsciente fosse um semideus, a saber tudo, a oferecer todas as respostas. Não é fascinante?
É como se nós tivéssemos a personalidade dividida; acordados somos simples mortais, mas quando mergulhamos no nosso subconsciente, somos génios, sabemos tudo, todos os segredos da vida.
Um pouco como aquele velho filme, “O médico e o monstro”, onde o protagonista tinha duas personalidades, com a diferença que ele, ao contrário de nós, se transformava no pior. Nós nos transformamos no maior, no ser superior, no semideus. Acham que estou fantasiando?
Pode ser. Mas quem de nós já conseguiu conscientemente saber o que existe no nosso subconsciente? Complicado, não é?
Um assistente amigo, a quem confiei minhas dúvidas, esclareceu-me, tranquilo:
- Há dois lados que já podemos conhecer sobre o subconsciente ou o inconsciente. O primeiro é para nós o campo a que temos acesso, e gradativamente vamos nos recordando dele na medida do necessário, da utilidade que isso nos possa trazer. Trata-se do arquivo das nossas vidas passadas. Das experiências que vivemos e que estão todas ali, guardadas, bem ordenadas, e onde sempre vamos buscar directrizes e orientação para nossas escolhas na vida.
- Quer dizer que esse arquivo influencia nossos actos de agora?
- Certamente. As experiências marcaram nossa vida. Só ficam em nós guardados os fatos vividos.
- Quer dizer que nossas reacções sempre se prendem a nossas vidas passadas?
- Nunca ouviu dizer que gato escaldado tem medo da água fria?
- Nesse caso, seremos como robôs condicionados pelos fatos que vivemos?
Jaime sorriu percebendo-me a malícia.
- Seria assim, não fosse a nossa curiosidade contumaz. O desejo de fazer coisa diferente, o fato de inovar.
- Nisso eu concordo, Afinal, o que seria de nós sem a novidade, sem o original, sem o diferente? Já pensaram como seria enfadonho viver em um mundo onde tudo fosse reflexo condicionado e ninguém pudesse experimentar coisas novas?
- É isso - continuou Jaime, bem-humorado. - A curiosidade, o desejo do desconhecido, a própria fantasia, sempre mal-sucedida, impele-nos a criar novos caminhos, independentemente das experiências passadas.
Fiquei pensando, pensando e considerei:
- A vida tem estimulado essa curiosidade de mil maneiras, não acha?
- Claro. Não se esqueça que o progresso é meta que ela objectiva. Assim sendo, precisa estimular-nos a curiosidade e o desejo de conhecer coisas novas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 28, 2024 11:22 am

- Quer dizer então que tudo isso funciona junto? A vida estimula, motiva nossos anseios de progresso, atiça nossa curiosidade. E nós vamos avançando, prudentes, pelos reflexos de experiências passadas, ou aguçados ainda por elas, entre o desejo de progredir e o medo de arriscar, de sofrer, de errar!
- Esse é só um lado do subconsciente. Há o outro.
- Você mencionou dois, é verdade.
- O outro é exactamente aquele que não conhecemos.
- Como assim? - perguntei, decepcionado.
- São potencialidades que ainda vão desabrochar. Hoje já podemos imaginar que elas existem. Já que estamos em desenvolvimento e que um dia seremos espíritos puros, por certo elas já estão em nós.
Senti-me emocionado.
- Acredita nisso?
- Claro. Ninguém pode desenvolver o que não tem. Se fomos criados para evoluir até a perfeição, temos em nós todas as condições para isso.
- Eu estava empolgado. Ele prosseguiu:
- Somos como o arbusto tenro que um dia se transformará em frondosa e produtiva árvore. Como ela, guardamos recursos de desenvolvimento, que o tempo se encarregará de fazer despontar no momento certo. Com a diferença que nós podemos participar activamente do processo, escolhendo e orientando nosso crescimento.
- Você acredita que essas reservas estejam na parte desconhecida do nosso inconsciente?
- Acredito. E uma suposição a que muitos dos nossos estudiosos chegaram.
Devemos ter essas energias armazenadas em algum lugar. Como desenvolvê-las sem tê-las?
- E - concordei, maravilhado. - Quer dizer que temos dentro de nós essa capacidade, essa força de ser perfeitos?
- E claro que o nosso processo ainda se encontra longe do seu desenvolvimento máximo. Mas, em princípio, só pode ser assim. Guardamos dentro de nós todas as capacidades, todos os conhecimentos, todas as conquistas eternas do espírito.
- Seria mais ou menos como uma programação divina. Assim como o corpo humano guarda em seu desenvolvimento físico na Terra, em sua origem biológica, as fases evolutivas que passou em todos os reinos da natureza?
- Mais ou menos. Porém, se a programação fetal é um ato compulsório da vida, do qual ele como ser pouco participa, o nosso caso encontra lugar para a livre escolha, a compreensão e o respeito à dignidade, à liberdade de cada um.
Senti-me valorizado. Que bom se o homem aprendesse com Deus esse respeito pelo outro, pelo direito que cada um tem de escolher o próprio caminho, desde que não atrapalhe o direito do outro.
Saí dali feliz e bem-humorado. Quem diria que nós, no fundo, no fundo, somos mesmo génios, sábios e perfeitos?
Pena que existe sempre o relativismo da nossa condição ainda natural.
Como eu gostaria de já ter percorrido todo o caminho que ainda me falta e poder ter aquela sabedoria que me permitiria ser tão maravilhoso quanto eu gostaria.
Mas é reconfortante saber que está tudo aqui dentro do meu subconsciente e que só falta eu conseguir, aos poucos, botar tudo isso em acção.
Nessas horas fico imaginando como seria puro, perfeito, humilde e bom.
Que beleza! Desceria para ajudar a Terra sofredora e seria um grande foco de luz. Já pensaram a confusão que isso provocaria?
Se meus amigos, conhecidos, pudessem ver-me e deslumbrar-se com meu radioso aspecto! Não se falaria noutra coisa por muitos dias. Recordariam minha figura, reivindicariam minha participação, teriam orgulho de terem gozado de minha companhia quando eu estava na Terra, e até, se fosse possível, arranjariam uma máquina com lentes especiais para fotografar-me.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 28, 2024 11:23 am

Apareceria com grande alarde na televisão. O homem-luz! O espírito perfeito.
Seria o sucesso! Arrebataria todos os pontos do Ibope.
Foi aí que, de repente, lembrei-me de uma história simples que minha ama costumava contar:
“Era uma vez um macaco tão inteligente, tão sabido, tão vivo, que fazia tudo igualzinho ao homem. Foi tão aplaudido, tão estimulado, tão lisonjeado, que um dia pensou: vou ser um homem. Vestiu-se com roupas da época e preparou-se para arranjar um emprego. Queria ser independente. Olhando-se no espelho, porém, reconheceu que havia uma diferença incómoda. O rabo. O rabo que aparecia desagradavelmente por baixo de uma das pernas da calça. Mas não era por um simples apêndice caudal que o inteligente animal se daria por vencido. Usou a criatividade dos tempos de floresta e arranjou um jeito de amarrar bem amarrado seu rabo ao redor do corpo. Feito isso, vestiu-se e suspirou satisfeito. Estava pronto. Tinha virado homem. Saiu à rua, orgulhoso e bem-posto, sem importar-se com os olhares das pessoas que, admiradas, voltavam-se para vê-lo. Estava indo bem, pensava ele. E, satisfeito, procurava imitar os gestos e atitudes dos homens que encontrava. Até que, numa esquina, viu um homem beijando a face de uma mulher em despedida. Não teve dúvidas; juntou uma senhora que passava e, esticando seus grossos beiços escuros, beijou-a na face. A mulher, assustada, gritou apavorada, e o povo acudiu aos gritos de “agarre o macaco!”. E a perseguição começou. O corre-corre, polícia, e quando ele se viu acuado, não teve dúvidas: arrancou as calças, soltou o rabo e com ele conseguiu safar-se, subindo em muros, galgando quintais, voltando para casa humilde e assustado, como um macaco arrependido”.
Compreendi. Afinal quem poderia acreditar que um espírito perfeito, puro, ainda fosse tão vaidoso? Nem eu mesmo.
Por mais vontade que eu tivesse de ser bom, grande, perfeito, o que fazer do incómodo apêndice da vaidade e dos múltiplos problemas que luto resolver e que me distanciam da perfeição?
Acham que fiquei triste? Pois se enganam. Querer aparentar o que não é só acarreta dissabores e nos conduz a apuros desnecessários.
Afinal, conforta-me saber que, embora ainda eu não seja perfeito, ainda não tenha desenvolvido completamente minha força superior, ela já está lá. E uma dádiva de Deus. Eu posso trabalhar para ajudar seu desenvolvimento. Não dá uma sensação de segurança? De certeza? Não é estimulante essa confiança?
Vocês com certeza pensam como eu.
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O mundo em que eu vivo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 4 Empty Re: O mundo em que eu vivo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 28, 2024 11:23 am

O ARQUÉTIPO
Vocês por certo já ouviram falar em arquétipos. Há até pelo mundo quem se dedique com muita perseverança ao seu estudo, procurando encontrar nessas figuras fundamentos e explicações para tantos desacertos do comportamento humano.
Até certo ponto eu sempre fiquei intrigado com eles. Essa teoria muitas vezes pareceu-me fundamentada em argumentos sérios e com base na nossa maneira de ser. Mas daí a responsabilizá-los pelas nossas preferências, ou qualidades atuais, vai grande distância.
Quando cheguei aqui e vi-me obrigado a reformular muitos conceitos estudados no mundo, lembrei-me dessa teoria. Se ela fosse verdadeira, eu não poderia escolher os meus arquétipos e reencarnar dentro dessa estrutura?
Seria muito interessante, porque assim eu poderia, nessa escolha, contrapesar minhas preferências, meu lado negativo, reforçando as qualidades pela influência de arquétipos equilibrados e perfeitos.
Seria assim como um modelo, básico, muito bem estruturado, onde eu pudesse compor minha personalidade na nova encarnação, fortalecendo minhas virtudes (é claro), para que minhas falhas não me dessem muito trabalho.
Que beleza! Poder realçar o que tenho de bom e ter condições de realizar tudo quanto venho desejando há longo tempo! Já pensaram como seria ideal?
Porém, pelo que percebi, isso não é coisa fácil. Sempre que quero ter acesso a esse assunto tenho encontrado barreiras. Até parece que é segredo indevassável.
Alguns dizem que nem sabem o que seja isso. Outros, que essa teoria é ultrapassada, e outros ainda que quando eu estiver maduro a verdade aparecerá.
Isso deu voltas a minha cabeça. Se depende de minha maturidade, significa que ainda não consigo enxergar, que ainda não vejo as coisas que estão diante de mim.
Reconheço que é difícil admitir que somos limitados. Em teoria, admito até que sabemos disso muito bem. É claro que ainda não posso conhecer tudo e que ainda necessito caminhar muito na senda da evolução, mas quando percebo esse limite, alguém me diz que estou incapacitado para perceber, choco-me profundamente.
Apesar de tudo, no fundo, bem no fundo, parece-me que sou capaz de entender tudo, de saber tudo e de compreender tudo. Será autoconfiança, orgulho ou certeza das nossas possibilidades de um dia nos tornarmos perfeitos?
Não sei. Só sei que sinto isso, e às vezes é frustrante não ter capacidade para se ser melhor e mais lúcido do que se é.
É por isso que sempre sou aconselhado a não me apressar. A não meter os pés pelas mãos, na ânsia de penetrar tudo, saber tudo, ver tudo. Mas, quando desejo estudar alguma coisa, vou até o fundo.
Apesar das respostas evasivas, não desisti. Na verdade, se Deus, para criar o homem estabeleceu um arquétipo, por certo este teria de ser perfeito.
Ninguém pode imaginar Deus fazendo algo imperfeito. Assim sendo, se pudéssemos seguir esse modelo máximo, com certeza chegaríamos mais depressa à perfeição. Não perderíamos tanto tempo em divagações e fantasias.
E, se, como dizem os mais esclarecidos, só conseguirei vê-lo quando estiver maduro, por certo, é claro que ele já se encontra dentro de nós, a ditar normas, a nos esclarecer sobre o nosso futuro.
Pena que só chegamos a vê-lo quando amadurecemos, porque senão, já pensaram como poderíamos apressar nosso caminho? Era só fazer o que ele propusesse.
Discutindo o assunto com um amigo, propus essa teoria. Um processo a fim de localizar esse arquétipo divino que deve estar em nós, para seguido. Não seria ideal? Meu amigo, porém, coçou a cabeça, admirado:
- Não concordo com isso. Se fosse para procedermos assim, obedecendo apenas a uma forma, a um modelo preestabelecido, por certo Deus permitiria que o tivéssemos bem consciente, sempre à frente, para copiarmos. Nesse caso, seríamos apenas cópias inexpressivas de um boneco. Se fosse para isso, melhor seria Deus já ter-nos criado prontos, sem necessidade de evolução, sem lutas, sem escolhas, sem discernimento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 28, 2024 11:23 am

- Então acha que não existe um arquétipo? Que Deus não estabeleceu modelo?
- Acho. Deus não gosta de monotonia. Já reparou como ele é versátil?
Tantas pessoas e nenhuma é igual à outra? Tantos mundos, tantas e tantas diferenciações em todas as coisas. Até sua aparência física... se reparar bem, um lado do corpo não é exactamente igual ao outro. Há sempre alguma diferença.
- Nisso eu concordo - respondi, bem-disposto. - A vida é rica em todos os aspectos. Um minuto não é igual ao outro.
- E isso. Acha que Deus faria um modelo para o homem?
- Bem, eu pensei, talvez uma base para estabelecer a espécie.
- Claro. O homem, com dois olhos, um nariz, uma boca, dois braços, etc., etc. Esse é o modelo básico. Assim mesmo, para ele ser estabelecido, levou séculos de experimentações na evolução anímica. Isso falando da forma apenas.
Fiquei parado, pensando. Não é que ele tem razão? A história dos arquétipos será uma criação do homem tentando explicar determinados factos?
Pode ser. Durante alguns dias pensei, repensei, sem encontrar maiores esclarecimentos.
Certa tarde, conversando com uma amiga devotada aos misteres da reencarnação, ela confidenciou-me com certa apreensão:
- Estou preocupada por causa do Ernestinho.
D. Doroteia era pessoa equilibrada e muito esforçada. Trabalhava com dedicação na orientação e preparação das pessoas da nossa cidade que iam reencarnar, acompanhando-as até que a ligação fetal, se tivesse se consumado.
Considerava a vida na Terra preciosa chance de reajuste e crescimento espiritual. Por isso especializara-se nesse mister, conhecedora dos problemas naturais que sempre antecedem uma nova encarnação.
O temor, a insegurança, os problemas que possam impedir a efectuação da encarnação, as incompatibilidades espirituais ou congénitas, etc. Tanta era sua dedicação em mais de trinta anos de trabalho abnegado nessa área que muitos a procuravam pedindo-lhe os préstimos e a interferência em suas necessidades de regressar à Terra. Por isso, vendo-a falar assim, perguntei, solícito:
- O que aconteceu?
- Veio procurar-me. Encontra-se em vias de nova encarnação. Mas seu estado não é muito bom. Intercedi por ele, para que pudesse adiar, esperando mais algum tempo. Não consegui nada. Nossos maiores acham que se ele ficar será pior. E como se fosse uma escolha, onde se procurasse dos males o menor.
- A reencarnação não é sempre um bem? - indaguei, admirado.
- Claro - respondeu ela -, sempre será um bem, ainda que ele faça tudo errado e agrave seus débitos.
- Como assim?
- Se ele errar, se agravar seus débitos, é porque ainda não sabe ser diferente. A reacção por certo o alcançará violentamente na mesma proporção, mas, é justamente essa a sua necessidade para começar o reajuste em bases mais firmes.
- Então, não há com o que se preocupar - objectei, mais para confortá-la.
- É, respondeu num suspiro. Tudo o que Deus determina está certo. O remédio pode ser amargo, mas sempre trará a cura. Contudo...
- Contudo...
- Se ele pudesse esperar mais um pouco...
- Por que acha isso?
- Acompanho o caso dele há muitos anos. Tenho por ele particular afecto. Já fomos ligados pelos laços de família.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 28, 2024 11:24 am

O Ernestino, no século passado, reencarnou em uma família de ricos fidalgos, na Espanha. Desde jovem, bonito e rico, deu vazão a sua vaidade, encontrando prazer em mandar e em ser poderoso. Ingressou nas lides do governo, e na Corte usufruiu da amizade do primeiro-ministro, onde conseguiu aumentar seu prestígio, seus haveres, seu poder. Esse ministro, homem culto e carismático, exerceu sobre Ernestino o fascínio de um Deus. Espírito fraco e adulado, invejava a segurança, a força, o traquejo do ministro, junto ao qual se postava, sempre pronto a obedecer e a seguir suas determinações. Para Ernestino, só existia esse homem. Era a única pessoa que ele atendia. Era o seu Deus, seu modelo, seu guia.
Infelizmente para ele, esse homem era ambicioso e déspota. Manipulou o poder, não hesitando, para isso, em recorrer ao crime e ao suborno Nesses actos, Ernestino esteve sempre à frente, certo de que estava prestando grandes serviços ao seu país. Desencarnou violentamente, em sangrenta revolução, onde também esse ministro pereceu. Continuou a segui-lo, mesmo depois da morte, dementado e iludido, certo de que estava defendendo sua pátria e o direito. Está claro que esse ex-ministro pretendeu continuar exercendo seu poder contra os encarnados responsáveis pela queda do seu governo.
Formaram triste exército de obscuros propósitos. Fizemos tudo que nos foi possível para esclarecer Ernestino, tirá-lo de lá. Cansado de sofrer, muitas vezes, ele, escondido dos seus companheiros, chorava, cansado desse mar de revolta e ódios em que se metera.
- Não conseguiram afastá-lo? - perguntei, emocionado.
- Sim. Algumas vezes fomos ao seu encontro, e com a sustentação da prece conseguimos recolhê-lo a um posto de socorro. Ele chorava, reconhecendo-me, abraçava-me pedindo paz e ajuda. Recebia energia curadora e melhorava seu estado, porém, quando se sentia melhor, a velha atracção voltava. A figura do ministro pedindo-lhe ajuda, e ele, sem resistir, acabava fugindo, largando tudo para seguir novamente esse companheiro infeliz.
- É triste - considerei, sério.
- É. Agora ele está recolhido no posto nove, depois de violenta crise de depressão. Estava arrasado. Porém, nossos maiores acreditam que ele não deve melhorar tão depressa. De certa forma, Ernestino se sente confortado ao pensar que não vai lutar pela causa porque está doente.
- Ele ainda não compreendeu seu engano?
- Não. Estudando o caso, nossos instrutores são de opinião que precisamos aproveitar essa fase para induzi-lo a nova encarnação. Mergulhado no esquecimento, poderá libertar- se um pouco mais da perniciosa influência.
- E esse ex-ministro, não vai reencarnar também?
- Não pode. Ainda necessita certas aquisições que lhe permitam descer à Terra. Ainda não tem permissão. Só pensa em vingança.
- Está com medo que a influência continue apesar de separados?
- Vamos fazer o possível para evitar, mas acredito que possa acontecer.
- Seria uma pena...
- Eu sei. Vamos ocultar bem o Ernestino. Não renascerá na Espanha.
- Então, do que tem medo?
- Do próprio Ernestino. Ele conserva muito gravada na mente a figura do ministro. Vai pensar nele, apesar de reencarnado, vai ter sua figura na mente e, por certo, como ainda não se libertou desse fascínio, vai continuar fantasiando, pensando nele, e eu temo que acabe atraindo de novo sua presença. Se dispuséssemos de mais tempo, até que Ernestino tirasse esse homem da cabeça, ou pudesse enxergar seus erros, tirá-lo do pedestal de herói em que o colocou, seria mais fácil sua encarnação.
- Não pediu aos instrutores?
- Pedi. Mas eles acreditam que, se Ernestino não reencarnar logo, voltará para o companheiro, e a solução será mais demorada. Estão procurando afastar todos os companheiros do ex-ministro para que ele também se sinta só e acorde para a verdade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 28, 2024 11:24 am

- Se eles disseram isso, têm razão. Eles conhecem sempre mais do que nós.
- É verdade - concordou ela, num suspiro. - Mas, se ele estivesse melhor, aproveitaria mais. Peço ao amigo que nos ajude com suas preces. Lembre-se do Ernestino. Ele vai precisar.
- Irei visitá-lo de vez em quando para orar e para inspirar-lhe bons pensamentos.
- Ela agradeceu, o rosto delicado, sereno, onde duas lágrimas silenciosas aumentavam-lhe o brilho do olhar.
Foi aí que compreendi. Que seriam os arquétipos senão uma criação nossa?
Que seriam as influências boas ou más senão escolhas que incorporamos ao nosso modo de ser?
Pensando bem, por que esse gosto de seguir sempre um modelo, de fazer o que os outros disseram? Para melhor informação nossa, antes de seguir qualquer modelo não seria mais lógico e melhor tentar discernir? Qual o critério?
Por certo que o mais perfeito é o mais justo, das leis que jamais mudam porque nasceram perfeitas. Nisso reside sua segurança. São as leis de Deus.
Jesus é o modelo.
Bom, se vocês acham mesmo que não podemos viver sem nenhum, é melhor escolher certo. Não acham que tenho razão?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 28, 2024 11:24 am

A DESTRUIÇÃO
Em meio ao progresso do mundo actual, onde as necessidades básicas se tornaram mais amplas, fico pensando se dentro dessa maratona em que ficou transformada a vida no mundo ainda há lugar para a apreciação das coisas essenciais, onde o contra-senso não compareça à guisa de colheita indesejada, porém útil.
Aliás, nos dias que correm, difícil se torna delimitar o necessário, o essencial, o básico, no torvelinho do progresso, onde o conforto e a utilidade nos acenam com recursos novos e fascinantes.
A máquina a serviço do homem, ou o homem a serviço da máquina. Eis o que não posso separar. Quem serve a quem nessa trajectória em que se transformou a vida no mundo? Difícil responder.
Se, por um lado, temos as utilidades, os aparelhos, os recursos que facilitam a vida, ajudando o homem, liberando-o de tarefas mais rudes, por outro temos o custo dessas utilidades, a luta para possuí-las, que não recua nem diante dos prejuízos que causam ao meio ambiente natural, destruindo as defesas que a natureza sabiamente elaborou em séculos de trabalho de organização paciente e perseverante.
Em seu requinte, o homem moderno, dono de conhecimentos novos, no campo da Física, da energia, da Química, da Biologia, não recua diante de obstáculo algum e manipula tudo isso, sem receio ou bom-senso e, ao fim dessas incursões científicas, atira, indiferente, os resíduos letais nos rios, na terra, nos lugares ermos, nos oceanos, sem pensar que a Terra é um todo onde todos os corpos se influenciam e se relacionam, e por isso mesmo, toda actuação desastrosa é reabsorvida pela própria terra, que procura defender-se como pode, devolvendo ao homem o resultado de sua actuação, já que não lhe resta outro recurso.
Ultimamente, tenho questionado se vale a pena o progresso tecnológico a esse preço. Alardear conhecimento, novas descobertas, recursos assombrosos de controlo das forças que circulam ao seu redor e depois, como a criança estouvada e simplória, com esse brinquedo colocar em risco a própria vida. Não é um absurdo? Estou sendo drástico?
Estou. Alguns dirão que exagero, mas se vocês vissem do mesmo ângulo que eu, se pudessem conhecer a luta dos espíritos dedicados ao trabalho de preservação natural da vida na Terra, concordariam comigo.
Alguns dirão, como a dividir responsabilidade:
- Se Deus permitiu ao homem conhecer certas leis, é porque ele já pode utilizá-las bem.
Concordo. E acho até que eles poderiam fazer isso. Só que como existe o livre arbítrio, eles optam ambiciosamente pelo avanço nos benefícios, sem nenhuma preocupação em preservar os bens que já possuem.
E lá até os que, cientes desses perigos, protestam e tentam impedi-los, concitando-os à prudência e ao respeito à mãe natureza. Quem os ouve? Entre os lauréis da fama e a ambição do poder e do dinheiro, quem se preocupa com o futuro?
Cada geração que cuide de si, e trate de resolver seus próprios problemas quando aparecerem. O que interessa agora são os resultados imediatos, a movimentação dos recursos, sem preocupações ou cuidados.
Confesso que fiquei preocupado. Na verdade, nós, que amamos a Terra, que temos nossos entes queridos vivendo nela, que um dia a ela voltaremos renascendo em seu seio, vivenciando seus problemas, nos preocupamos com a agressão sistemática de suas defesas naturais, que possibilitam a vida.
Como eu gostaria que os homens compreendessem e pudessem acordar para a realidade.
Esta preocupação conseguiu entristecer-me, porquanto de que adiantaria o esforço dos interessados em fazer o melhor, se os homens sistematicamente lhes anulam os esforços?
Tanto despreparo, tanta ambição! Não seria bom mobilizar uma providência mais enérgica dos espíritos sábios, dos planos superiores, coibindo tais abusos.
Afinal, o livre arbítrio por certo tem um limite, e certos homens, no meu entender, transpuseram tais limites. Não que eu esteja criticando, mas, pensando bem, não seria chegada a hora do “basta”, com uma reacção que os ensinasse a respeitar o sagrado trabalho da natureza?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 28, 2024 11:25 am

Vendo-me inconformado, preocupado, meu amigo Jaime considerou:
- Você precisa conhecer o Antero. Acredito que ele, estudioso desses assuntos, possa dar-lhe algumas ideias.
O Antero não era bem a figura que eu tinha imaginado. Moreno, atarracado, meia-idade, cearense de sorriso largo e olhos vivos. Conversa fácil e interessante, ganhou de pronto minha simpatia.
Informado de minhas dolorosas preocupações, suspirou fundo ao dizer:
- Também como você preocupei-me com tais problemas. Mas nossa preocupação, embora justa, não resolve o assunto.
- É verdade - respondi um pouco acanhado, reconhecendo que nada fizera para ajudar.
Ele sorriu, gentil:
- Sei que pretende fazer, e como cada um ajuda com os recursos de que dispõe, o seu por certo será contar aos homens fatos que os convidem a pensar e a compreender.
Sorri, aliviado.
- Tenho essa intenção.
- Então ouça, talvez lhe seja útil. Tudo começou quando, levado pela ambição, embarquei para o Brasil numa expedição colonizadora. Era jovem, e naquela época, Amsterdão não oferecia muitas oportunidades de enriquecer.
Fascinado, ouvira falar das riquezas do novo continente, onde as minas de ouro e pedras preciosas abundavam, e segui com eles. A dureza da luta, a aridez da terra e o desejo de poder e riqueza inundaram-me o espírito. Uma vez em Recife, desliguei-me da expedição e juntei-me a um grupo de aventureiros portugueses. Inútil recordar minha vida daqueles tempos.
Consegui apossar-me de terras, onde depressa compreendi que não havia minério e que o melhor seria explorá-las para acumular bens. Instruído e vindo de um país mais evoluído socialmente, logo liderei o grupo e coloquei todos a meu serviço, explorando-lhes o trabalho, em meu próprio favor. Foi nessa época que estabeleci laços de ligação com espíritos que até hoje ainda não consegui dissolver. O crime, a ambição e o gosto do poder estavam dentro de mim, e bebi esse prazer até o fim. Reencarnei no norte do Brasil três vezes consecutivas, e ao final tornei-me um coronel respeitado e acatado, temido pelos inimigos e endeusado pelos amigos. Meu canavial perdia-se de vista e o braço escravo contribuía para locupletar meus celeiros e enriquecer-me a casa. Só pensava em amealhar, em colher, em lucrar. As terras eram vastas, e eu não me preocupava em refazê-las. Explorava-as; quando não produziam mais, simplesmente abandonava-as, derrubando novas matas para abrir novas terras, mais rentáveis. Assim, fui deixando no Ceará larga faixa de destruição atrás de mim. Meus homens, brancos ou escravos, eram subnutridos e miseráveis, reduzidos à escravidão, uns pela cor outros pela necessidade. Eu seguia sempre sem importar-me com o futuro. Desencarnei entre o choro inconsolável dos inúmeros afilhados, deixando órfãos os políticos e todos os apadrinhados. Dura sorte me esperava nesse regresso. Pela primeira vez consegui perceber o abismo em que me atirara. Vaguei sem rumo, acossado pelas almas das minhas vítimas, escravos que tinham morrido devido a minha indiferença e crueldade. Muito tempo estive assim qual duende enlouquecido.
Por onde quer que fosse só via devastação, seca. Sofria sede, fome, mas não encontrava sequer uma fruta para comer ou um pouco de água para matar a sede. Arrependi-me e compreendi. Claro que fui socorrido, auxiliado. Fui sincero. Desejei melhorar, comecei a aprender ajudado por amigos, fui levado a estudar e percebi todo o dano que tinha causado ao país que me tinha generosamente abrigado. Descobri as verdadeiras razões que determinaram minha ida ao Brasil. Eu dispunha de conhecimentos e experiências que poderiam ajudar a desenvolver esse novo continente e tinha voluntariamente concordado em fazer isso, para resgatar erros passados, quando fora aventureiro e pirata, cometendo arbitrariedades que prejudicaram outros povos. Mas a ambição mais uma vez me fez cair e consegui novos encargos diante da lei.
- Felizmente você percebeu - retruquei, aliviado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 28, 2024 11:25 am

Ele prosseguiu:
- Graças a Deus. Mas, você sabe, entre saber e ser vai grande distância.
Estabeleci, junto com nossos maiores, um plano para recuperar-me, bem como ajudar na recuperação dos danos que causei à mãe Terra.
- Como assim? - indaguei, admirado.
- Claro, como conseguir equilíbrio tendo sempre diante dos olhos as terras secas e devastadas; a luta dos meus conterrâneos na terra seca; a morte das crianças, do gado, dos animais? O êxodo e o sofrimento do povo, marginalizado, mendigando na cidade grande, perdendo seus valores culturais sem aculturar-se aos novos padrões que lhes são impostos? Como conciliar tudo isso?- Considera-se responsável por tudo isso? - indaguei, assustado.
- Sim. Claro que outros dividiram comigo essa responsabilidade. Os madeireiros, que também devastaram tudo sem nada repor, os corruptos que instigaram o vício (a aguardente), negando a instrução, o acesso aos bens existentes. Claro que, nesse caso, muitos respondem perante as leis, mas eu sinto minha parcela de culpa, e não posso estar em paz até que reponha tudo quanto destruí. Enquanto não fizer retomar a essas terras que devastei o verde e o bem que depredei.
- Puxa - retruquei, entusiasmado -, quem dera todos pensassem assim! No futuro, tudo seria resolvido.
Antero sorriu quando respondeu:
- Pode crer que um dia todos compreenderão. Mas, para que isso ocorra, há que se viver o problema. Essa foi a primeira parte do meu plano. Voltei a nascer na terra que há tantos anos levara à exaustão e a ruína. Como lavrador paupérrimo, tentei tirar da terra seca e endurecida o sustento da minha família e sofri todos os tormentos de uma vida miserável, sem reclamar. Assim aumentei minha compreensão, depois de alguns anos de preparação aqui, onde fiz estudos aperfeiçoados de Geologia. Voltei novamente à Terra no mesmo local, como filho de família modesta, e consegui pôr em prática algumas ideias, possibilitando uma melhoria do solo e levando alguns benefícios à região. Regressei e ainda uma vez voltei à Terra, sempre no mesmo local, e consegui cursar uma escola de Agronomia, onde desenvolvi estudos sérios de Ecologia e recuperação do solo, drenagem, irrigação, etc. Ingressei na política, com seriedade e boa vontade. E consegui implantar alguns melhoramentos. É difícil, você sabe. A força contrária é muito grande.
Enfrentar a ambição do homem é duro e leva tempo.
- E agora? - indaguei, respeitoso.
- Agora completo meus estudos e dentro de pouco tempo deverei reencarnar na mesma cidade. E, desta vez, levo programa extenso. Acredito que, se me esforçar, poderei finalmente recuperar aquelas terras e amparar muitas criaturas.
- Qual será seu campo específico de acção?
- Considerando tudo quanto pretendo realizar e as possibilidades que tenho no campo da liderança, deverei ser político, e por certo chegarei a governar meu Estado.
Senti um calafrio.
- Não tem medo? - indaguei.- Tenho. Muito. Mas por outro lado, tenho muita chance de acertar. Você não acha?
- Acho - respondi com entusiasmo.
Vocês não acham que a vida é bela e sabe defender-se? Meus receios desvaneceram-se. Um dia, toda a devastação, a poluição, a destruição, vão acabar. Todos aqueles que a estão ocasionando, se reunirão para recolocar tudo no seu lugar.
Que alívio! Porém, apesar de tudo, eu continuo achando que seria bem melhor acordar desde agora e começar a compreender e a trabalhar.
Vocês não pensam como eu?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 28, 2024 11:25 am

O CHEFÃO
Navegamos em um mundo e sabemos pouco sobre ele. Isto os atemoriza?
Não é para menos! Suspensos no espaço sobre uma bola imensa que ninguém sabe como começou, nem quem teve a ideia de colocá-la ali, é de supor-se que muitos estejam mesmo amedrontados.
Antigamente, poucos podiam conhecê-la, dar uma volta em seu redor. Claro, ignoravam até que se tratava de uma bola, e que se mexia. Porém, com o tempo, tudo foi evoluindo e pudemos perceber isso. Hoje, esse conhecimento, longe de nos deixar tranquilos, aumentou nossa perplexidade. Pudera, nós estamos na crosta dessa bola a rolar ininterruptamente nesse espaço imenso!
Vai daí o desejo de sair, conhecer outros mundos, outras galáxias, onde pudéssemos, quem sabe, conhecer o chefão, aquele que comanda tudo isso.
Claro que essa harmonia, esse ritmo, esse movimento, deve ter um comandante, um chefe, que por certo estará com o leme de tudo e conduzirá sempre nossos destinos dentro desse equilíbrio. Porém, até agora, não sei de ninguém que o tivesse encontrado por essas galáxias, embora alguns possam até, deslumbrados com o que viram no espaço, ter pressentido sua presença.
Será tão difícil assim ver esse Criador? Será ele tão ocupado e está tão distante que nós não conseguimos vê-lo? Será que o desejo do homem de sair da Terra, de viajar pelo espaço prende-se a esse pensamento, a essa vontade de poder confiar, de saber que ele sempre esteve lá, mesmo quando na Terra as coisas não estão do nosso gosto?
Há aqueles que desejariam, como num conto de fadas, ou num melodrama de novela, que ele descesse dos céus, num carrinho de fogo, como o Elias da Bíblia, e com uma espada chamejante fosse exercendo sua justiça. Assim, diante de todos, humilhando os maus, os traidores, os falsos, e elevando os bons, os humildes, os sofridos. Há quem sonhe com isso de verdade.
As injustiças no mundo são tantas e tão patentes que há uma torcida para que Deus em pessoa venha desmascarar os impostores, premiando os bons e virtuosos, colocando as coisas nos seus devidos lugares!
Mas acho que o chefão não pensa assim, porque, apesar de tantos admiradores torcerem, ele ainda não usou de seus poderes dessa forma. Há outros ainda que, temerosos de tudo, acreditam que é preciso ser puro, e lutam para encontrar a pureza da alma, macerando-se nos templos, afastando-se dos pecadores. Assim pensam eles: se Deus não vem ao mundo por causa do homem pecador, então eles (os puros) subirão até Deus. Naturalmente crêem na imortalidade da alma e do espírito. Um dia, em se tomando puros, eles irão para um lugar especial, nesse universo infinito, e terão a felicidade eterna, que eles conquistaram a duras penas.
Enquanto isto é sofrer neste mundo mesmo, e lutar, perdendo sempre, diante dos homens para ganhar diante de Deus.
Vendo quantas pessoas pensam dessa forma, fico meio triste de vez em quando. Porque, nesse caso, se eles estiverem certos, eu ainda deverei sofrer muito neste vale de lágrimas. E o pior é que eu não considero a Terra um “vale de lágrimas”.
Está certo que há muitos momentos duros para nós, de lutas, de sofrimentos, de pessimismo ou de exaustão, mas será mesmo que é isso o que a vida realmente tem para nos dar? Será que é só isso que ela tem para nos oferecer?
As vezes fico pensando, pensando. Afinal, que saudade! Quantos momentos bons vivemos na Terra! Ah! Se eu pudesse vivê-los de novo! Os maus momentos? Foram tão poucos que já os esqueci. O que ficou mesmo foi uma grande, uma louca saudade!
Como é belo o nosso mundo! Como são perfumadas nossas tardes de primavera, como são belos os nossos entardeceres.
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O mundo em que eu vivo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 4 Empty Re: O mundo em que eu vivo - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 28, 2024 11:26 am

Pensando nisso, gostaria de dizer: será que enquanto os homens continuam procurando o chefão de tudo em outros mundos, em outros planetas, ele não estará dentro do nosso próprio mundo? Não estaria nos abraçando na brisa cálida que passa, nos alimentando na seiva quente das plantas, nos apascentando, nos guiando os passos desde sempre, e até agora?
Pois eu penso assim. Descobri que Deus é tão actuante, tão vivo, tão activo e tão bom, tão perfeito e tão amoroso que ele palpita em tudo, e até dentro de mim. Acham-me pretensioso? Por que não?
Ele está dentro de você também, se se der ao trabalho de perceber. E isso nos toma confiantes, felizes! O nosso mundo, a Terra, só é “vale de lágrimas” para os que estão cegos e temerosos, para aqueles que não enxergam e não ouvem os constantes chamamentos da natureza. Acham-me optimista?
Vendo o que eu vejo e sentindo o que sinto, como posso ser diferente? Em meio a tantos conflitos que o homem conseguiu criar, tantas dificuldades, tantas lutas inglórias, não seria muito bom, muito útil, muito prático que ele descobrisse isso?
Nem viagens espaciais, nem auto-flagelação, nem pessimismo, nem auto-piedade, nem auto-condenação, nem misticismo, nem fanatismo. Só certeza, uma profunda, uma verdadeira certeza, uma fé absoluta e clara, uma confiança firme de que tudo vai muito bem porque Deus está no leme até aqui dentro da Terra e em nosso coração. Pensando assim, quem poderá não ser feliz? Quem terá receio de lutar?
Afinal, o chefão é mesmo extraordinário. Não criou tudo isto? E olhem que para isso ele deve ser muito eficiente. Assim sendo, o que devemos temer? O que nos parece ruim não será, afinal, um bem? Não queremos a verdade?
Ela sempre chega, mas com a protecção que a vida nos dá, tudo será sempre o que há de melhor Será que acabamos de descobrir Deus?

Abraços do amigo
Silveira Sampaio

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