LUZ ESPÍRITA
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Ave Luz - Shaolin/João Nunes Maia

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:35 am

O Nazareno, tranquilo e confiante, manifesta-se:
— Mateus! O que queres que eu faça para que tenhas confiança em Deus?
A Cura não é somente o restabelecimento do desequilíbrio orgânico das pessoas.
Não é somente devolver aos paralíticos os movimentos das pernas e braços.
Não é somente, Mateus, fazer ver aos cegos.
É também libertar almas que estão presas no cárcere da carne, talvez por medo de tornar a voltar para a região de onde vieram.
Quando se inicia um incêndio em uma casa e és chamado a cooperar; o muito que a tua inteligência atinge é procurar salvar as criaturas que moram na referida residência.
O mais, tudo vira cinza.
Vais ficar triste e desnorteado porque se queimou a casa e a mobília?
Deverias ficar sem condições para a alegria é se tivessem morrido as pessoas e somente salvado a casa e os utensílios.
O corpo, Mateus, é uma roupa de alma, que em muitos casos já aparece rota e com vários remendos.
Em determinadas circunstâncias, quanto mais a ciência mexe, piora a situação.
Fizeste bem de te aproximares daquela casa; foram as tuas mãos que desataram as amarras da alma ali presa.
Não deixa de ser um princípio de Cura, porque ela já partiu com acentuado alívio.
Tu sofreste porque querias que Deus te atendesse da maneira que julgavas melhor, ou seja, devolvendo o doente em perfeitas condições aos seus.
Esqueceste de pedir que Deus fizesse a vontade d’Ele e não a tua, pois nem sempre sabes o que queres.
O Mestre interrompe Seu discurso.
Ninguém ouve nada no salão.
Os mais curiosos ficam aflitos para conversar com Levi acerca do ocorrido.
O que teria se passado com o companheiro?
Acalmaram-se, pois mais tarde saberiam.
Mateus começa a se sentir melhor e espera o que o Mestre tem a mais para dar.
Jesus, sereno, prossegue:
— Na verdadeira acepção da palavra, ninguém Cura ninguém.
Nós podemos servir de alerta para que os enfermos se curem a si mesmos.
No entanto, essa realidade só poderá ficar em evidência para um futuro muito distante.
Por enquanto, é bom que a ilusão se manifeste, para que os enfermos, pela força da própria dor, conheçam a si mesmos e façam uso do que têm em seus corações, depositado por Deus, que é o Pai de todos, gerador do amor universal.
Quem espera a Cura fora de fora, ainda desconhece os remédios existentes por dentro que, por vezes, deixam parecer habilidades exteriores, que podem ser chamadas de alívio.
A verdadeira Cura, o restabelecimento completo da alma e do corpo, vem da fonte inesgotável do espírito, que não foi feito enfermo, mas com perfeita saúde.
Se queres ser, e a bem dizer vais ser, um terapeuta volante em nome da caridade, ao curares os corpos, não te esqueças das almas, de propiciar a elas meios de autoconhecimento, por ser esse meio um caminho ou uma semente de luz que cresce na temperatura do amor, concedido pelo coração.
Mas antes, meu filho, de pretender curar os outros, deves principiar a Cura de ti mesmo, com esforço próprio, na feição de disciplina e educação de costumes antigos, que o progresso não aceita mais.
Cristo abençoa a todos e levanta-se em direcção às portas, que já estavam sendo abertas.
Mateus, meio lá meio cá, ainda pensava na velha ideia de curar, mas curar os corpos.
A alegria parecia ser maior, mesmo que fosse meio transitória.
Entregava a Deus e a Jesus o que ele fizesse.
E levanta, partindo para maiores feitos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:35 am

25. — A dor
Melquisedeque era um personagem bíblico envolvido, por assim dizer, em certos mistérios, principalmente o seu nascimento, do qual não tinha a genealogia.
De certo modo, tais coisas eram comuns no oriente.
Ele foi um rei, chamado “da justiça” e, como tal, alcançou a posição de sacerdote pelos seus elevados conceitos da vida e pela vida honesta e sábia que levava.
Escreveu muita coisa que poderia colocá-lo em destaque nos dias presentes.
No entanto, o que existia dele na biblioteca da babilónia foi queimado por mãos inescrupulosas, por acharem que ele era da linhagem dos bruxos.
Certo de que Melquisedeque era uma interrogação para os que duvidavam das coisas espirituais, pelas características dos seus fenómenos e pela sabedoria — que nunca esquecera a justiça — o apóstolo Tomé encantava-se com esta personagem.
Surgiam na sua mente alguns laivos de dúvidas acerca do nascimento do rei, mas com o nascimento de Jesus, que era filho de Maria, mas não tinha José como pai, Tomé começou a justificar o aparecimento de Melquisedeque sem que seus pais fossem citados.
Deveria ter surgido por obra e graça de Deus, pelo homem que era — um grande profeta, um rei justo, um sacerdote que os céus enviaram para a antiga Jerusalém.
Tomé ascendia nos conhecimentos a cada dia.
Porém, a sua fé nas coisas transcendentais não conseguia a firmeza necessária, sendo-lhe indispensável o raciocínio.
Ele se esforçava para crer sem examinar, mas algo interior o advertia de que nascemos com os olhos para verificar por onde deveremos passar, apoiando os pés no chão sem perigo.
E raciocinava:
“Deus verdadeiramente nos ajuda, mas nos dá meios para andarmos por nós mesmos, para que não fiquemos inúteis dentro da criação”.
A razão, de certa maneira, exige provas da fé cega.
Dídimo escutava da boca de muitos profetas que conhecia, de muitos sábios da antiguidade e inclusive do Mestre Jesus, que a Dor desperta o homem para a verdadeira felicidade e que, sem ela, a alma humana não iria passar de um animal ambulante na inconsciência do tempo.
Pesquisava com os recursos disponíveis, pensava dia e noite no assunto, mas não encontrava essa filosofia na Dor.
Cada vez tinha mais aversão por ela, e haveria de lutar com todas as suas forças para expulsá-la do seu mundo íntimo e do seu caminho.
Tomé deduzia:
“A Dor é incompatível com a paz, não pode existir onde reina a felicidade, e nos faz tristes quando chega.
Ela é certamente um agente das trevas, porque no lugar onde está Jesus ela desaparece.
É verdadeiramente uma sombra que não suporta a luz”.
Tomé tinha grande interesse por Melquisedeque, porque suas histórias eram contadas de boca em boca no seio dos sacerdotes.
Ele era quem curava as pessoas assomadas de enfermidades, às vezes incuráveis, com simples palavras.
Orientava e encorajava muitas pessoas com uma feição de alegria muito própria.
Contava-se que, certa vez, dois leprosos entraram no templo embrulhados em longos mantos, burlando a proibição de ingressarem numa igreja.
Ao esbarrarem no sacerdote Melquisedeque, ficaram curados.
A mente de Tomé era um laboratório de análise dos fenómenos, porém só os aceitava depois de pensar muito sobre o assunto, submetendo-os todos aos rigores da razão.
Sofria com isso, mas o que fazer?
Foi a Cafarnaum e conversou longamente com Pedro acerca das suas conclusões e dúvidas.
Pedro não as tinha com referência a Jesus, pois assistira a muitas curas e prodígios do Mestre, sem que ele falhasse uma só vez.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:35 am

Acalentava arrojada fé naquele que era realmente o Cristo.
Tomé precisaria tomar outros caminhos diferentes da desconfiança que sempre lhe assaltava o coração.
Tomé se sentia sempre tranquilo junto a Pedro e João.
Betsaida era a meta de todos ao cair da tarde.
As reuniões se sucediam como forças que impulsionavam o progresso de novos e límpidos conceitos sobre as leis de Deus, daquele Deus único que Moisés pregara e que o próprio Melquisedeque ensinava nas suas iluminadas prédicas nas antigas sinagogas.
A casa dos pescadores se encontrava arejada, à espera dos discípulos e do Mestre.
Após a chegada de todos, Judas Tadeu conheceu a vontade do Nazareno e abriu a cerimónia espiritual com sentida súplica.
Tomé não espera ser chamado e levanta-se, falando com desembaraço:
Querido Mestre!
Deve caber a mim hoje a posição de inquiridor, pois a minha alma anseia pela verdade.
O diálogo é um princípio do saber, quem não conversa não aprende; e perguntar e responder, creio, é um processo insubstituível na arte de enriquecer a consciência.
Peço-Te perdão se, às vezes, fico intolerável, mas preciso me esclarecer hoje, tirando a dúvida que tenho sobre a Dor.
O que a Dor representa para o Senhor nos caminhos humanos?
O Cristo, envolvido em uma tranquilidade imperturbável, inicia Sua alocução:
— Tomé! Creio que a Dor, meu filho, é um anjo em favor da humanidade, que ainda desconhece seus benefícios.
O teimoso nas hostes do mal, aquele que não respeita os direitos alheios, que apressadamente julga seus semelhantes, que maltrata a quem quer que seja, por simples antipatia; o intolerante, que não mede sua brutalidade, nem as consequências que advêm da sua ignorância; a pessoa para quem o egoísmo tornou-se uma veste da vaidade, que maltrata e apedreja, querendo prevenir a sua própria hipocrisia; que tem prazer em escravizar companheiros por mera invigilância de outrem; que nada cede, esse não há outro recurso para ele a não ser o sofrimento.
Não desejar aos outros o que não queremos para nós é isso.
E ser consciente de que, se não respeitarmos as leis harmonizadoras da criação, caímos nos braços desse anjo que vem nos socorrer em nome de Deus, anjo cujo nome é Dor.
A Dor nos previne de males maiores.
Tu tens pensado com aversão nos problemas, nos infortúnios, na Dor que visita a humanidade como bênçãos aparentemente escandalosas.
Não penses assim, Tomé!
A Dor, no estágio evolutivo em que te encontras, abre uma visão maior a todas as criaturas, para uma vida melhor.
A inteligência te mostrou que os alimentos levados ao fogo e ao tempero ficam com melhor sabor, além de ser um meio de ajudar o trabalho da sensibilidade orgânica.
Pois bem, a Dor é esse fogo para os alimentos da alma, que vêm para nós um tanto grosseiros, revestidos de muitas indumentárias.
E os sofrimentos, os problemas e os infortúnios aguçarão a nossa sensibilidade de maneira a entendermos com mais eficiência o chamado da vida maior.
E é nesse impacto que sentimos o sabor e passamos a valorizar a saúde.
O esforço próprio passa a ser um trabalho que nos traz alegria na conquista dos valores eternos.
Os que se revoltam com a Dor desconhecem seus valores.
Jesus deixa cair uma interrogação na sua fala e os discípulos se vêem meio confusos.
Tomé espera o desenrolar do raciocínio do Mestre.
O Cristo, dinâmico na Sua exposição, continua:
— Tomé! Todo extremo é constrangedor.
Se eu falo aqui da mensagem que a Dor transmite, não te animo a ir buscá-la.
Acho que ela é divina, por não ser cega, por ter excelente visão, tem a sabedoria do grande entendimento e é portadora da matemática celestial.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:36 am

Jamais bate em porta errada.
Nós pedimos somente que entendas essa mensageira quando ela vier te visitar.
Se não a compreendemos, ela ficará por tempo indeterminado, até a hora em que formos beneficiados.
As coisas se complicam para nós quando a ignorância se faz nossa companheira.
O Mestre muda um pouco o tom de voz:
— Na verdade, meu filho, será uma maravilha ter connosco o dom de curar, que a bondade dos céus nos traz de vez em quando.
Todavia é bom que não ignores o objectivo maior dos prodígios.
Eles vêm abrir os caminhos dos corações para o alcance da Boa Nova.
Pelo que já falamos, os que sofrem têm maior sensibilidade e são esses que, de pronto, sendo beneficiados, aceitarão a minha palavra, que é a palavra de Deus.
Estou vos preparando para que todos possais curar enfermos, levantar caídos, dar vista aos cegos e fazer andar os paralíticos, mas não vos esqueçais de que eles, mais tarde, poderão vir a adoecer novamente se não tomarem o verdadeiro elixir.
Haverá simplesmente uma cura externa até que o doente encontre o Cristo interno, de quem depende toda a felicidade e toda a cura eterna de todos os males.
Para que esse Cristo aflore nos corações é necessária a vivência de todos os preceitos ensinados por mim.
Jesus faz uma pequena pausa, para arrematar:
— A Boa Nova não percorrerá o mundo, a não ser pelas vias dos sacrifícios, mas na verdade vos digo que, por sua natureza divina, ela é uma terapia de amor, que cura todos os males da alma e do corpo.
Ela vos mostra os caminhos da verdade, que vos libertará.
Não deveis duvidar da acção benfeitora da Dor, desde que não a busquemos por fanatismo.
No entanto, quando a Dor vem para nos despertar do sono da ignorância, tenhamos paciência e fé, pois ela é transitória e prenuncia, em todas as circunstâncias, a verdadeira saúde e nos mostra, com a sua engenhosa maestria, o amor de Deus.
Tome teve abalados seus princípios na compreensão da Dor, passando a encará-la de outra forma.
Sai do casarão com a mão no ombro de Pedro, com os pensamentos renovados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:36 am

26. — Inteligência
André era uma espécie de relações públicas na sociedade que mantinha com Pedro.
Conhecia muitas cidades que margeavam o Jordão e, nos dias de descanso, aproveitava o tempo para confraternizar com os amigos.
Indo a Betânia, cidadezinha ao sul do Jordão e, perto de Belém, passando por Jerico, era tentado ao lazer nas praias do Mar Morto.
Bastante social, André foi desembaraçando sua fala, seu modo de ser, sua gentileza e mesmo o entendimento da própria vida.
Em uma de suas viagens, o irmão de Pedro se aproxima de uma família em Betânia e passa a gostar da única filha de um casal que o acolhera com todo o carinho.
Essa moça chamava-se Bete-San.
Bete, que era seu nome mais comum, pele de jambo tostada ao sol do oriente, foi educada em Jerusalém e sua família era de procedência grega, pessoas dadas ao convívio com viajantes e sabedoras dos maiores e mais recentes acontecimentos de meio mundo.
Essa família gostava da lavoura e da pecuária. As tamareiras, em suas terras, eram cuidadas com extremo carinho, assim os olivais e o trigo.
Seu trabalho no campo não era extenuante, pois não precisavam desse afogo do dia a dia.
Suas economias eram suficientes para viverem bem.
O que seus ancestrais trouxeram da velha capital grega, bem cuidado, beneficiaria muitas gerações.
André já se sentia seguro pelo coração de Bete.
Não falara nada em casa, para não criar problemas com os familiares.
Bete era meio estrangeira.
Para ele, o que importava era a bondade da moça, seu sorriso fácil, suas maneiras delicadas, sua conversa bem posta.
Dava-se a qualquer trabalho, chegando ao ponto de, por vezes, receber admoestações dos pais pelo exagero de suas tarefas.
André começou a ir tanto a Betânia que dava para desconfiar.
No entanto, Pedro nada falara.
Vivia inteiramente dedicado ao trabalho e essas coisinhas pouco lhe interessavam.
Certa feita, André parte para Betânia, levando muito peixe seco da melhor qualidade.
Quando entra na cidade, seu coração bate mais forte.
Ouve uma terrível notícia:
Bete-San morreu!
Alguém lhe contara ao entrar na aldeia.
Quase não suporta o choque.
Seu sangue parecia ferver nos canais das veias.
Seu coração batia desordenadamente e sua cabeça se esquecia de pensar
A única coisa que lhe garantiu em pé foi a fé.
Apelou logo para que Deus lhe desse confiança e coragem.
Partiu calado em direcção à casa dos pais de Bete.
Lástimas das lástimas!
Os dois, presos ao leito, bem cuidados por duas criadas, quando viram André, engasgados, molharam os rostos de lágrimas, silenciosos.
O velho, que já não ia bem de saúde, naquela noite se despediu do mundo.
A mãe de Bete sofre um ligeiro derrame, que a deixa ficar presa na cama.
André toma todas as providências, inclusive avisando alguns parentes em Jerusalém, mas parece que ele havia morrido um pouco para o mundo, com a perda de Bete.
Volta para Cafarnaum e nada diz.
Todos notam sua tristeza, procuram saber, mas em vão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:36 am

O silêncio congela sua alegria.
Passados quase um ano da vida introvertida de André, ele sai, em uma linda manhã, para pescar com seu irmão no Mar da Galileia.
Pedro esquece algo em casa e volta.
Pela demora, André rompe as pequenas ondas do mar de águas doces, estendendo as redes, aqui e ali, apanhando peixes e lembrando-se fortemente de Bete-San, de Betânia, dos caminhos de Jerico, da praia do Mar Morto, das suas águas por demais salgadas, da vida, de Deus e, por fim, dele mesmo.
Meditativo, destampa as comportas da mente em chamas:
“Meu Deus, será que eu não tenho o direito nem o merecimento?”
Nisso as redes caem de suas mãos no barco, porque os braços não mais obedeciam à mente, ocupada na conversa.
A sós, senta-se na rude tábua traseira e baixa a cabeça, em terrível sofrimento.
O pequeno barco ia sendo agitado pelo vento.
Naquela depressão indizível, escuta os sons que o vento lhe trazia.
Abre os olhos lentamente e, por Deus!
Pelos céus e pelos anjos!
Ouve estático a voz de Bete-San:
“André! Trago-te a paz e a paz te dou!
Não sou eu que te dou, mas Aquele a que tudo pertence por amor”.
André conhece sua amada, sua voz, seus gestos, sua candura e o seu amor!
Instintivamente seus joelhos batem no duro casco do barco.
Seus olhos derramam lágrimas, com todo o anseio de vida, lágrimas que desatam toda a alegria de um ser que o sofrimento desposara.
André busca os pés de Bete e beija-os com afecto, falando baixinho:
“Graças a Deus! Graças a Deus!
Bete não morreu! Ela vive!”
Quando levantou, não viu mais o corpo da moça dentro da embarcação.
No entanto, ainda registou nitidamente suas últimas palavras: "André! André!
Eis que te espero por um pouco de tempo.
A tua oportunidade na Terra vai ser grandiosa.
Atende ao chamado da luz e torna-te uma claridade com ela, porque o mundo de amanhã agradecerá teu esforço.
As sementes lançadas no solo dos corações, aqui e agora, nunca morrerão, multiplicar-se-ão na eternidade.
Sempre estarei contigo, nas alegrias e nos sacrifícios”.
E acentuou, com meiguice:
“A paz seja contigo”, desaparecendo a seguir.
André, que não dera uma palavra para não perder as que estava ouvindo, temia perdê-la.
Começa a gritar.
Pergunta várias coisas mas o silêncio era a resposta. Só silêncio.
Já noite alta, Pedro e outros pescadores avistam o barco de André tocado pelas ondas, e ficam temerosos.
Cercam a embarcação e puxam-na para mais perto.
Pedro vê seu irmão desfigurado, em profundo sono, por sobre as redes.
Engata o barco de André ao seu e rema em direcção a Cafarnaum.
Betsaida estava em festa, por ser época de muitas comemorações.
À noite, todos os discípulos se encontram na igreja dos pescadores.
Bartolomeu pede a Deus, com ternura, as bênçãos para aquela noite.
André, que exercitava muito a inteligência, ávido por saber coisas que ainda não estavam ao seu alcance, levanta-se instigado por Pedro, e pergunta a Jesus:
— Mestre! Na verdade queria saber até que ponto poderemos desenvolver a nossa Inteligência, para que possamos alcançar maior saber.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:36 am

A Inteligência não nos livra da ignorância?
Cristo, na sua mansidão peculiar, responde, paciente:
— André! A Inteligência é um dom, por si só, grandioso.
Ela marca na personalidade um certo respeito que os outros nos concedem.
Ela mostra a altura que já atingimos na ciência, na filosofia e mesmo na religião.
Ela nos favorece ambiente propício para que possamos viver mais tranquilos.
É, porém, uma lâmina perigosa que pode ferir dos dois lados, sem assistência do coração.
Não resta dúvida, meu filho, que o saber do homem desvendou muitos segredos da natureza em seu próprio benefício, de sorte a tranquilizar os povos.
A razão fornece meios práticos para a lavoura produzir, na sua exuberância, frutos de melhor qualidade, pela selecção de sementes, pela irrigação das águas, pela silagem.
A Inteligência desenvolvida nos traz melhores sabores nas comidas.
Nas vestes, meios mais nobres de nos cobrirmos.
Nas casas, conforto e segurança, higiene no lar e nas cidades.
O ensino avança com mais desembaraço e as pessoas aprendem com mais facilidade.
Mas haveremos de ter cuidado com a Inteligência.
Sem ser acompanhada pela educação, essa Inteligência, André, pode transformar a paz dos homens em guerras fratricidas.
Pode matar milhares de criaturas, sem piedade.
Pode espalhar o choro e a tristeza, fazer crescer a orfandade, alastrar o ódio, empreender a vingança e até destruir tudo.
A Inteligência é, por assim dizer, um cavalo disparado que não atina pelos perigos, o cavaleiro é o progresso e o bridão é a disciplina, onde as mãos de Deus regulam a corrida e a direcção.
O Mestre para a conversa, passa os olhos de mansinho por todos os discípulos e espera que o tempo fermente os assuntos.
André compara os fatos que já conhece e balança a cabeça, dizendo a Pedro, ao pé do ouvido:
“Pedro! Pedro!
O Mestre tem razão, é isso mesmo”.
Pedro bate de leve em sua perna, dizendo:
“Vamos escutar mais, André, depois conversaremos”.
O Cristo prossegue com sabedoria:
— A Inteligência, André, nem sempre pode atingir onde marca a vaidade.
Ela tem limites, a verdade se move por força do Todo Poderoso, e se esconde onde o Senhor achar conveniente.
Basta dizer que não fazemos nada, tudo já esta feito; não descobrimos nada, tudo já está descoberto; não falamos nada, tudo já está falado; não crescemos nada, tudo já está crescido; não somos nada se não fosse a presença de Deus em nós.
Quem tem olhos para ver que veja, e quem tem ouvidos para ouvir que ouça.
E arremata:
— Cada um de vós é um elo que se interliga comigo, compondo uma fraternidade maior, para que possamos ajudar por amor, como a galinha faz quando, pela influência de alguma Inteligência, quebra os ovos de fora para dentro, para nascimento do pinto.
A Boa Nova é uma força divina, que não é imposição, mas um convite aos homens para a sua disseminação, porque ele é a chuva, é o sol, a terra fértil.
Ela é a mãe que quebra a casca dos filhos que têm preguiça de nascer.
Se quereis meus filhos, desenvolver as Inteligências, acho muito bom que não percais a oportunidade.
Se quereis vos comparar aos sábios — não sou contrário a essa ideia — se invejais os mestres, sede um deles.
Mas não rejeiteis os mesmos caminhos por que passaram os verdadeiros sábios e os verdadeiros mestres, porque o saber sem a educação é qual a água do mar que fosse despejada na terra sem os lugares mais baixos para se acomodar.
A Inteligência com amor nos dá a visão do paraíso e nos faz começar a viver nele, mesmo aqui na Terra.
André puxa Pedro pelo braço, querendo conversar fora da igreja.
Quando a porta se abre, Judas, um pouco longe dos dois discípulos, avista uma mulher de beleza inconcebível abraçar e beijar a fronte de André.
Este lembra-se fortemente da sua Bete, de Betânia e se alegra mais naquele momento, dizendo ao irmão:
— Pedro, parece que estou vendo coisas que me fazem muito feliz.
Graças a Deus!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:37 am

27. — Bondade
Judas Tadeu, de certo modo, era um homem viajado.
Conhecia muitos lugares.
Quando rapazinho, de uns quatorze para quinze anos, acompanhou seus tios a uma excursão que se tornou inesquecível para ele.
Saíram de Magdala, onde moravam os tios, foram margeando o Rio Jordão até Jericó.
Daí a Betânia, Jerusalém, Emaús, Lida, chegando ao fim da linha, que é o porto de Jope, no Grande Mar Mediterrâneo.
Tadeu, pelos anos que tinha, não deveria ter o corpo que possuía.
Era exagerado no tamanho.
O porto, para ele, significava um encanto.
Teve a oportunidade de ver embarcações de outros países e pessoas com diferentes costumes, vendendo e comprando objectos que ele nunca sonhara existir.
Mulheres de outras terras, de formosura incomparável, vestimentas diferentes e linguagem que ele ignorava.
Os estrangeiros mais frequentes eram os gregos e os romanos.
Os tios de Tadeu ficaram em uma estalagem muito sua conhecida, pelo ramo de comércio que exploravam, mas Tadeu parava pouco na pensão, aproveitando o que Jope oferecia de estranho, para se divertir.
Em uma certa hora de distracção pelas ruas de Jope, depara com um velho que estava bem posto em roupagem oriental.
Pelo seu aspecto, notava-se sua posição como mago.
O ancião olha para o rapagão e acena a mão, com suavidade.
Tadeu, curioso, aproxima-se do mago e diz:
— Senhor, que queres de mim?
O homem indica uma cabana e pede para segui-lo.
O jovem, meio temeroso e assustado entra em uma nave improvisada.
O ancião desliza uma cortina como porta e acomoda-se em um coxim de sedas coloridas.
O menino assenta-se acanhado, olhando para o senhor.
Pergunta o seu nome.
O velho, delicado, responde:
— Meu filho, o meu nome é Basílio.
Tenho noventa e oito anos e nunca me esqueço do amor de Deus para com as criaturas.
Não sei como vais receber-me na posição em que me encontro e, pelo que vou falar-te, diante da pouca idade, que tens.
No entanto, é meu dever te revelar algo que a vida guarda para o teu coração.
O menino entendeu mais ou menos, pois frequentava as sinagogas e ouvia falar muito dos destinos das pessoas e das coisas, de Deus, dos profetas e dos anjos.
Tudo passou rapidamente pela sua cabeça infantil.
O homem, sereno, descobre em sua frente um volume que brilhava mais na claridade.
Era um cristal muito polido e bonito.
Tadeu nunca tinha visto antes uma beleza daquela.
O mago fita seus olhos lúcidos em Tadeu, e fala com sabedoria:
— Meu filho, te chamei porque, de longe, vi em volta da tua cabeça uma promessa para o teu futuro, coisa difícil de explicar por palavras.
A minha posição me obrigou a te revelar algo de bom para o teu coração, mesmo se isso te custar a própria vida.
Fechando os olhos, pôs as mãos bem devagar por sobre a pedra, fala algumas palavras estranhas e o menino vê, assustado, desenrolar-se a vida de uma pessoa desde o nascimento, em uma estrebaria, até a morte, pendurado no madeiro, em um monte. Depois de assistir a todo o drama, o velho Basílio pondera com tristeza.
— Meu filho, viste tudo?
Pois tu és um desses que vai acompanhar esse Mestre.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:37 am

Ele vai te chamar para Seu apostolado.
Ele é a luz do mundo que veio nos salvar.
Ele é o Cristo anunciado pelos antigos profetas.
Podemos chamá-Lo de Pai na ausência de Deus, se é que sentimos a Sua ausência de vez em quando.
O rapaz, movido pelos sentimentos de bondade, chora quase aos soluços, e o velho Basílio acrescenta:
— Chora, meu filho, chora, para que essa advertência não saia da tua mente, e quando encontrares esse personagem divino, acompanha-0 em todos os Seus acertos e sejas portador da Sua voz, para que os homens entendam esse homem.
É o homem do amor.
Tornou a cobrir a pedra com delicadeza.
Serviu um doce de figo para o menino, pegou sua mão e saiu de novo pela rua, dizendo:
— Queres ouvir um conselho, Tadeu?
— Sim, senhor, quero.
Quero ouvir muito do senhor.
— Então não digas nada do que viste e ouviste de mim, porque a vida tem segredos dispensados a poucos e que exigem silêncio aos ouvidos de muitos.
Dá um sorriso e termina:
— Vai, meu filho, vai à procura dos teus, que já devem se encontrar impacientes com a tua demora. Vai, Tadeu.
Por um impulso do coração Tadeu tomou as mãos do reverendo ancião e beijou-as com ternura, dizendo ao mago:
— Deus te pague, meu velho.
E saiu correndo para a estalagem onde estavam os tios.
No meio do caminho é que se lembrou de que não havia falado o seu nome ao velho.
“E como ele me chamou pelo nome?”
Mas logo isso passou, porque as crianças se distraem facilmente.
E encontrou-se com os parentes, na porta da casa, já aflitos.
Passam-se os anos...
Tadeu nunca se esquecera do velho Basílio, mas como o que ouvira dele era segredo, somente ele próprio desfrutava das lembranças da palavra do mago de Jope.
No dia em que encontrou Jesus reconheceu o mesmo personagem da bola de cristal.
Acendeu-se em seu coração a maior certeza da imortalidade da vida e do desempenho da missão de Cristo na Terra.
Tadeu pensava muito na Bondade.
Achava essa virtude uma segurança para os sofredores.
Nos caminhos da verdade, ele já havia encontrado muita gente possuidora desse clima de Deus no coração.
Na igreja dos pescadores, João, irmão de Tiago, filho de Zebedeu, apruma o corpo e a mente para Deus e ora com simplicidade e amor.
Judas Tadeu, acompanhando a oração do companheiro, sente, naquela noite, a obrigação de perguntar alguma coisa ao Senhor.
Obedecendo à inspiração, indaga:
— Mestre, pelo pouco que faço não cabe a mim tomar o teu precioso tempo com perguntas que podem não ser ideais.
Mas ficaria agradecido se pudesses responder-me acerca do que é a Bondade e qual a sua acção benfeitora na Terra.
O Nazareno, tranquilo, responde com alegria:
— Judas Tadeu, a Bondade é uma marca de Deus em nossos corações.
O homem bom sempre sabe de onde veio a sua Bondade e o que fazer para conservá-la.
Essa virtude é uma das cordas do grande instrumento da vida, é uma das cordas do amor.
Se queres irradiar uma melodia perfeita da vida que levas, deves afinar todas as cordas sonoras da alma, para que os dedos de Deus toquem em teu favor.
A Bondade é, sem dúvida, um princípio da escrita divina em nós, que nos leva à procura de outras da mesma linha.
Contudo, o senso de equilíbrio nos leva a disciplinar essa disposição inspirada pela caridade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:37 am

A Bondade não pode querer suprir as deficiências que somente o trabalho pode fazer, ou a dor que desperta, ou a corrigenda que conscientiza as pessoas.
Quem chega ao ponto de conciliar a Bondade com a justiça, faz muitos prodígios na arte de educar as criaturas e, ao invés, como pensas, de afastar as pessoas, elas sentirão, mais tarde, a eficiência de mestre daqueles que andam sempre no fio da balança divina, dando o que devem dar, na hora certa; tirando o que devem tirar, no momento exacto.
Houve silêncio no salão.
Muitos dos discípulos andavam exagerando nos serviços de assistência.
A Bondade, em certos casos, estava virando fanatismo, que logo pode passar a ser conivência com certo tipo de vida contrária à moralidade e avessa à lei do trabalho. Jesus volta a dissertar:
— Nós, meus filhos, temos muitas coisas que poderemos destinar aos outros, sem envernizá-las com mesquinhos interesses.
Todavia, mesmo que o desprendimento acompanhe as dádivas, a sabedoria e o amor nos asseguram que deveremos vigiar o que vamos entregar aos nossos semelhantes e a quem vamos dar.
A bondade, no lugar certo, é luz que se acende nas trevas, mas onde não chegou a hora, pode ser incentivo para a miséria da alma.
Já pensaste em te condoeres dos insectos de todas as espécies que vivem ao léu, nos campos, e levá-los para dentro de casa?
Dos animais que, por vezes, estão enfermos?
Dos mendigos que encontrais pelas ruas e estradas, levá-los para o vosso convívio, dos doentes, ou dos assassinos ou leprosos, ou dos inconscientes às leis do país?
Pois essa seria uma Bondade que se tornaria um distúrbio muito grande, de modo a impedir que alcanceis a vossa paz no lar e na consciência.
É muito grandioso ser bom, mas é muito melhor saber ser bom pelas linhas da fraternidade e da razão objectiva.
Não estou querendo que esmoreçais na aquisição dessa virtude iluminada por excelência, porém que aprendais a dignificar a Deus, pela inteligência que ele vos deu, amparada pelos sentimentos.
É bom que não passeis para nenhum dos extremos da sabedoria e do amor, porque nas margens sempre encontrareis desequilíbrios.
No centro das correntezas dos rios, as águas são mais puras.
Após ligeira pausa, Jesus prosseguiu:
— Tadeu, se encontraste muita Bondade nos teus caminhos, e estas facilitaram o teu bom desempenho, sê grato aos teus benfeitores, não com palavras, pois nem sempre eles podem ouvir, mas sendo bom na mesma temperatura da Bondade que recebeste. Fica sabendo que toda virtude desordenada é ninho de serpentes para o futuro.
Por isso é que meu Pai que está nos céus me enviou a vós, para que fundásseis na Terra um educandário onde podereis, com a ajuda da Boa Nova que vos trago da parte d’Ele, equilibrar as vossas emoções e enobrecer as vossas ideias.
Controlar os pensamentos e iluminar a fala.
Todas as virtudes que ensinamos já são largamente conhecidas na Terra, pois os profetas e os sábios as espalharam por toda a parte.
Mas a Boa Nova de Deus é o educador comum que propicia, com mais amplitude, disciplina para todas as virtudes.
Havereis de dar graças a Deus, mesmo que entregueis a vida como semente de luz para esplender nos corações, pelo sangue que derramastes, o interesse maior, de viver, mas de viver bem.
Quero e espero que todos vivais pela Bondade.
Não obstante, que essa Bondade não ultrapasse as divisas do seu município, evitando perturbar a capital do coração e o comando da inteligência.
Notava-se um leve perfume no salão, aroma já familiar a todos os presentes.
Todos dão graças a Deus pela manifestação de luz naquele ambiente de paz.
Judas Tadeu procura sair, lembrando os seus exercícios de Bondade, para ver se algum deles não tomou rumo diferente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:36 pm

28. — Oração
Simão Pedro Bar Jonas novamente em nossas mãos.
Vamos buscá-lo no tempo e no espaço que esconde esse personagem maravilhoso, que nos deu tanto incentivo, através de sua vida, para o aprimoramento espiritual que nos leva à fé e ao amor.
Pedro, quando era mais moço, via contar, pelos seus ancestrais, a vida de Jacó e sua família, a história de José e de seus irmãos, que o venderam por inveja aos comerciantes que se destinavam ao Egipto.
Pedro tinha imensa vontade de conhecer a terra onde aquele varão de Deus morara e, principalmente, o poço que construíra, que tomou o seu nome.
E como não podiam sair os dois, André ficara dirigindo a pesca.
Parte Simão com mais dois companheiros que gostavam de viagens, principalmente com o pescador da Galileia.
Em uma madrugada chuvosa, sai a caravana de Betsaida a Cafarnaum, daí a Magdala, Nazaré, Naim, Samaria, Siquém e por fim chega a Sicar, onde existia o Poço de Jacó.
Poderiam Pedro e seus companheiros fazer essa viagem pelas águas do Jordão. Contudo, já estavam cansados de águas, preferiam espichar as pernas em uma boa marcha, como peregrinos do dia e da noite.
Essas andanças se processavam muito no oriente, encontravam-se caravanas e mais caravanas de pessoas, no que hoje se chama de turismo.
O Poço de Jacó ficava em um cruzamento de águas ou de veios de águas, a mais de trinta metros de profundidade, com as paredes rochosas conservando o líquido precioso, como bênção de Deus.
Era de utilidade comum para os samaritanos.
Os judeus eram pessoas estrangeiras que a ignorância separava.
Porém, podiam transitar nos arredores, sem se misturarem com os filhos da terra.
Pedro era sabedor dessa separação racial.
Ao ver o poço feito pelo personagem bíblico, sentiu uma emoção diferente.
Não via naquele trabalho um rude feito das mãos humanas, mas uma glória onde mãos espirituais abençoavam aquelas águas.
Teve oportunidade de beber do líquido e nele saborear coisas diferentes das águas comuns.
Aquilo o pôs a pensar.
Tinha vontade de conversar com os samaritanos, mas era difícil.
Os samaritanos fugiam dos judeus.
Passeando uma noite com seus companheiros nos arredores de Sicar, avista uma choupana, onde se vendiam muitas coisas.
E Pedro pensa:
“Onde se vende, qualquer um compra, vamos lá falar aos companheiros”.
E parte para a cabana, onde a cortesia estava presente no velho grego que ali residia há muitos anos.
Confraternizaram-se em poucos minutos e passaram ao principal.
Pedro estava ansioso por saber todas as informações sobre o Poço de Jacó.
O velho grego já tinha ouvido muita gente do lugar falar sobre o poço, e Pedro não estava errado.
Muitas pessoas de carácter afirmavam ter visto, nas bordas do poço, um anjo abençoando as águas.
Eis a razão por que vinha gente de todo o lugar buscar e beber dessa água, afirmava o comerciante.
Pedro nota nas encostas da parede alguns molhos de plantas e aponta, com interesse, ao comerciante:
— Essa planta é de venda nesta região?
E para que serve?
Como se chama?
— Parece que conheço — responde o velho grego.
— Deve conhecer, pois ela é cultivada em toda a Palestina, chama-se peganon3.
Parece que os fariseus pagavam o dízimo com ela, serve de tempero para as comidas e é um remédio de muita virtude para a vista cansada, aliviando ainda os homens agitados, pois o cansaço do trabalho e das ideias se reflecte no corpo.
— Dizem por aqui que o seu cheiro afasta os males espirituais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:37 pm

Pedro se interessou muito quando o grego lhe falou que ela servia para vista cansada, o que ele não sabia.
Pedro sofria desse mal de cansaço visual.
O velho acrescenta:
— Meu filho, machuca essas folhas, juntamente com água do Poço de Jacó, e lava os olhos, que ficarás curado.
Pedro pega um molho das mãos do grego e, pela manhã, à beira do poço do antigo patriarca, faz o preparado, pingando-o nos olhos e bebendo um pouco.
Repetiu esse tratamento muitos dias, enquanto ali permaneceu.
Uma noite foi aplicar o unguento pela última vez na vista e sentiu ligeira sonolência.
Como se fosse um sonho, viu aparecer diante dele um ancião, todo de branco, com um cajado na mão, a lhe falar serenamente:
— Meu filho a tua fé te curou.
Eu sou Jacó e muito te quero.
Deus te abençoe.
À beira deste poço mantemos um trabalho de vigilância constante, em nome de Deus, e essa água, quando é acrescentada à fé, faz maravilhas e constitui remédio para todos os males.
Pedro acorda do ligeiro sono, falando aos seus companheiros:
— Quem estava aqui, conversando connosco?
— Ninguém, Pedro, ninguém — responderam sorrindo.
Você dormiu um pouco nestas lajes; deve ter sido o cansaço ou o remédio que você passou nos olhos.
Pedro, passando as mãos nos olhos, compreendeu que deveria ficar calado e, daquele dia em diante, o cansaço sumiu de sua vista.
Quando abre e fecha os olhos, experimentando a visão, ainda ouve, bem longe ou dentro da cabeça, a voz mansa do patriarca bíblico:
“Quando lembrares deste poço e de mim, Pedro, pede a Deus Todo Poderoso para manter essa misericórdia, em benefício de todas as criaturas sofredoras”.
Simão Pedro volta a Betsaida com seus companheiros, que nada pescaram, nas águas espirituais, sobre o que se passou com ele.
Era um segredo que ficou somente com ele.
Na hora costumeira, na igreja dos pescadores, lá estavam todos os companheiros do Mestre.
Tiago Menor lembra-se e faz a oração da noite.
Simão Pedro Bar Jonas, instigado pelo olhar de Jesus, levanta-se e propõe, com desembaraço:
— Mestre! Estou ansioso por saber qual o valor real da Oração.
Muitos sacerdotes, inclusive alguns sábios, quase todas as mulheres e Tu mesmo, têm na oração um princípio e por princípio a súplica a Deus.
Será mesmo indispensável para o nosso dia a dia?
O Cristo, revestido de energia mesclada com paciência, instrui, com segurança:
— Pedro, a Oração devia anteceder a todos os encontros dos homens, em qualquer sentido de conversação, pois ela é uma força reguladora das nossas emoções.
A prece é uma manifestação de gratidão ao nosso Pai Celestial; é como se estivéssemos pedindo sua orientação para os nossos feitos.
Quando feita com humildade, estabelecemos, em torno de nós, um ambiente parecido com o dos anjos, e estes, por simpatia, nos visitam, incentivando mais as qualidades que Deus guardou nos nossos corações.
“Pedi e obtereis”, esta é a lei do Senhor.
No entanto, é necessário saber pedir, para que o pedido abra caminhos compatíveis com a dádiva que mora no reino do amor.
Quem não gosta de orar, certamente não acordou para as realidades do espírito.
Se manifesta algum interesse pelas coisas espirituais, é só aparentemente.
No fundo do coração é como aquele poço que o sedento furou, mas não encontrou água para beber.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:37 pm

É o homem seco de sentimentos, capaz de fazer escândalos em nome da religião e dos bons princípios.
É bom que vejamos este exemplo: a criança quando chora — é uma forma de Oração que faz a sua mãe que, como anjo tutelar, aparece imediatamente, já sabendo da necessidade do filho.
Pois assim é o nosso Pai Celestial; ele sabe bem mais do que nós de que precisamos.
Mas espera por nós, porque quem pede desenvolve em si certa humildade, tonificando as almas pelo carinho e abrindo diálogo entre as criaturas.
O Mestre para sua conversação, deixa o tempo preparar o entendimento e prossegue, instruindo:
— Pedro! Tocaste em um assunto dos mais lindos que a vida nos apresenta: os segredos da Oração.
Essa força que nos impulsiona a todos é instinto, inspiração e intuição em todos os reinos da natureza.
É que Deus já nos fez assim, com certa predisposição para conversarmos com Ele através dos meios de que dispomos, de conformidade com o grau que atingimos na escala da vida.
Quem não ora e desconhece a acção benfeitora da prece, mesmo o Senhor estando nele, por meios que ele próprio desconhece, sente-se distanciado de Deus pela ignorância.
Toda alma que reconhece os altos benefícios da vida espiritual e trabalha para o auto-aperfeiçoamento não despreza a Oração.
Tem nela uma arma que previne e que ajuda no combate a todos os tipos de imperfeições materiais e espirituais.
Negar a sua claridade é negar a própria existência do Criador.
A prece é o prefácio da vida.
Quando uma alma esquece a Oração, ela, por si mesma, é atrofiada.
Na verdade, eu vos digo para não esquecerdes de orar em todos os trabalhos que Deus vos confiou nos caminhos da Terra.
No entanto, deveis fugir dos exageros, do fanatismo, das lamentações sem sentido, principalmente os que já conhecem e entendem a Boa Nova do Reino.
Quando orardes, não o façais em público, pois esse acto é muito sagrado para que o jogueis aos que passam.
Não façais como orienta a hipocrisia, o farisaísmo.
Ser dado à Oração para satisfazer amizades e mostrar à sociedade que se reverencia a Deus é típico de hipócritas.
Orar, acima de tudo, é trabalhar no coração para que todos os sentimentos de ódio desapareçam, deixando de existir a vingança; é perdoar as ofensas, é doar sem que a recompensa circule em nossa mente como troca.
E amar constantemente.
O silêncio era completo diante da pausa do Mestre.
Reconfortado pela atenção de todos, Jesus prosseguiu:
— O Evangelho, da primeira à última letra, é uma Oração.
E aquele que começar a vivê-lo está orando nos moldes que a vida espera.
A prece, Pedro, tem várias modalidades e a que mais agrada ao Criador é a que tem a forma do Bem.
Quando estamos orando, emitimos luz de vida, que traz de volta a luz de Deus.
E, nesse ambiente de permuta divina, sentimo-nos felizes; a felicidade de quem ora, que poderá se transformar em cura de enfermos, em alegria para os tristes, em paz para os atribulados e poderá ajudar muito na aquisição da sabedoria.
Quando oramos por um determinado objectivo, enriquecemos a área em que desejamos servir.
Orar é muito grande para a alma e saber orar é muito maior.
Pedro lembra-se fortemente do patriarca Jacó, quando este lhe pediu que orasse em intenção do poço famoso.
Comparando com o que Jesus acabava de dizer, descobre a realidade da Oração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:37 pm

29. — Dois ou mais
João Evangelista foi aquele que ficou realmente à direita de Jesus, no reino do seu amor, pois foi o último a se despedir da Terra, dando os mais difíceis testemunhos diante dos poderes de César e da incompreensão humana.
Findou seus dias em Éfeso, com quase um século de existência e oitenta anos de vivência cristã.
Entregou sua vida para a vida de Cristo, compreendendo que se Deus e Jesus eram um, ele e Cristo eram dois, que poderiam também ser um.
João e Tiago nasceram em um lar de fé.
Sua mãe, Salomé, era uma senhora que dignificava uma família, pela estrutura espiritual que possuía.
Acompanhou Jesus em muitas pregações e foi uma das que assistiu à sua despedida no calvário juntamente com Maria e João, o discípulo do amor, como havia sido apelidado aquele que, de facto, possuía, nas entranhas do seu ser, amor por tudo.
João não tinha conflitos íntimos.
Seus problemas eram só exteriores.
Os que vinham ao seu encontro por dentro, imediatamente eram sanados, por não encontrarem ressonâncias em seu modo de ser.
Por vezes se admirava de reconhecer o quanto alguns dos seus companheiros eram amarrados, na intimidade, por simples factores que, para ele, não tinham maior importância.
Mas o tempo o ensinou a respeitar os direitos alheios, na sequência que a vida propõe a todos, nas múltiplas diferenciações.
O irmão de Tiago gostava muito de Jerusalém.
Passava horas e horas, desde menino, dentro dos templos, sondando as belezas e sentindo algo que somente os místicos podem compreender.
Em certos casos, os olhos deixam escapar muitas verdades espirituais.
No entanto, a sensibilidade da alma parece ser olhos que enxergam além dos olhos físicos, com uma precisão absoluta.
João sentia o ambiente dos anjos nas sinagogas e parecia que conversava com a atmosfera do ambiente religioso.
Certa vez, o sacerdote Azia-Car, vendo o menino dentro do templo em hora imprópria, advertiu-o que saísse nestes termos:
“Meu filho, aqui é uma casa de Deus.
É bom que não fiques muito tempo dentro dela, para que não venhas a te esquecer do teu dever para com teus pais”.
João, com um porte encantador, fala tranquila, ainda irradiando inocência nos gestos e no modo de ser, replica, com candura:
— Doutor, se esta é a casa de Deus, como pode fazer mal às pessoas?
Eu sei que este ambiente tem de ser respeitado por todos nós, e isso faço com toda a alegria.
Quanto às minhas obrigações, elas não são atrapalhadas, porque não sou daqui.
Estamos eu e minha mãe visitando o Santuário e agradecendo a Deus pelo que recebemos da parte da Sua misericórdia.
Parou um pouquinho e terminou, sorrindo:
— Isso é errado, meu Senhor?
— Não, não...
Claro que não, pode ficar.
Eu pensei que...
E foi saindo o sacerdote, que se identificava como doutor da lei pelos anéis dos dedos.
João cresceu em tamanho e ascendeu, igualmente, em virtudes evangélicas.
Encontramos o moço elegante e alegre na principal rua de Betsaida.
Passava debaixo das árvores que o convidavam, com suas sombras, a uma paradinha.
E quando ali já havia alguma criança, não deixava de atender: conversava animadamente com os meninos.
Contava histórias e ensinava-lhes, de modo a também distraí-los, a moral da Boa Nova, dando a conhecer às crianças sobre a presença de Jesus na Terra, como o Príncipe da Paz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:38 pm

Na bolsa de couro, sempre trazia alguma coisa que entretinha os futuros homens da nação.
João vê um homem passando apressadamente e reconhece nele Judas Iscariotes.
Chama-o com gentileza:
— Judas! Judas!
Quais os ventos que te levam tão depressa, e o que buscas?
Judas para, vira-se para trás e reconhece o seu companheiro de apostolado.
Estava com o cenho cerrado ao encontrar o filho de Zebedeu.
Dá um sorriso meio fechado, mas tem satisfação em encontrar o irmão em Cristo.
Conversam baixinho e saem os dois em direcção à casa dos pescadores.
Judas, às vezes, passava horas sem dialogar com ninguém, vivendo intimamente.
Isso era muito mal.
A comunicação, em muitos casos, é uma verdadeira terapia espiritual, que nos faz esquecer de muita coisa que nos atormenta.
Eis porque a amizade é uma bênção de Deus, que o amor nos faz sustentar.
Judas ia apressado para não dar a ninguém a oportunidade de chamá-lo.
João, porém, não deixava por menos.
Gostava de conversar, principalmente com aqueles a quem a fala poderia servir de alegria.
Mas no fundo, Judas gostava muito de seu companheiro e de sua presença.
Passados momentos, os dois discípulos do Divino Mestre se encontram dentro da igreja dos pescadores.
Jesus toma assento na famosa cepa que servira de apoio ao porte mais esbelto do mundo, ao espírito mais iluminado da Terra, ao Cristo de Deus.
E o Mestre passa os olhos em todos e para em Judas.
Este entende sua linguagem pelo olhar e, pondo-se de pé, começa a orar.
Daí a instantes, o Nazareno mostra o reflexo dos seus lindos dentes para João, como se falasse baixinho:
“Meu filho, fala, pergunta.
Agrada-me que entendas que deves falar por amor.”
E o apóstolo expõe, com clareza:
— Meu Senhor Jesus Cristo!
Há tempos que queria perguntar-te sobre esse assunto que a curiosidade me faz lembrar.
Anunciaste, certa vez, que onde houvesse duas ou mais pessoas em teu nome, estarias no meio delas.
Para nós, da tua família do coração, o que significa isso?
Como poderias estar no meio dos que se reunissem em teu nome, se os discípulos se dividissem e saíssem a pregar por muitos lugares?
E aumentando os que te acompanham, o que farias?
O Messias, tranquilo, acciona o verbo, com facilidade:
— João! Quando as coisas que eu falo não fazem sentido ao pé da letra, é necessário que busques o espírito, para que possas entender.
Tu bem sabes que vim da parte de Deus e que legiões de anjos estão a me servir, no que tange à Boa Nova da vida que trago às criaturas, por amor de Deus.
Não falo de mim, mas d’Aquele que me enviou.
Eu e Ele somos verdadeiramente um.
Onde eu estiver, Ele estará comigo.
É bom que saibas que a vontade do Nosso Pai Celestial é uma ordem, em todos os reinos celestiais.
Eis que falo que quando se reunirem em meu nome duas ou três pessoas, porque aí se trava um diálogo compensador, eu estarei no meio delas por meio das luzes celestiais, dando-lhes apoio, inspirando-as e motivando-as para o amor de Deus e de uns para com os outros.
Ainda mais, qualquer dos anjos que servem comigo à grande causa de Deus, pode tomar a minha presença e se apresentar como se fosse eu, porque nós somos iguais pelos sentimentos de amor que nos unem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:38 pm

Certamente podemos estar em lugares onde as pessoas não se reúnem em nosso nome e é provável que nos achemos em ambientes até contrários às leis anunciadas pela Boa Nova do reino de Deus.
Entretanto, estar no meio daqueles que falam a nossa mesma linguagem espiritual, que deixam pulsar os corações pelo bem-estar alheio, que se alegram em matar a fome, que têm prazer em visitar e consolar os presos, que vestem os nus, que procuram entender os problemas das viúvas, ajudando-as, sem que o interesse distorça as boas intenções.
Estar no meio dos irmãos que procuram doar as instruções espirituais e do mundo, visando somente o prazer de servir por amor, com esses estamos neles e eles em nós, para que possamos juntos gozar as delícias da vida, nas delícias de Deus.
Uma estrela cai do céu da boca do Mestre como silêncio.
João entende as paradas do amigo incomparável.
Procura repassar ou reviver o que Ele tinha dito e vê como o prazer é extraordinário nessa recordação, a mente ganha poderes que desconhecemos, os seus recursos são inumeráveis.
Há que dar tempo para a fermentação da massa espiritual, para que o pão do céu venha à nossa mesa do coração e da inteligência.
Jesus prossegue, com amabilidade:
— João, não leves tudo para os extremos, porque ouviste de mim o que foi dito.
Em se tratando do meu maior interesse na referência da mensagem de Deus, de que a Boa Nova é portadora, eu sou eu mesmo e estou no meio dos que se reúnem em meu nome, porque é o mesmo nome do Pai que está nos céus.
Deixo este corpo à hora que aprouver ao Senhor e o tomo, quando quiser e a conveniência propuser.
Não há barreiras para quem está de posse da verdade e não existe dificuldade para quem se faz uno com o Todo Poderoso.
Posso aparecer em milhares de lugares, dividir-me ao infinito, sem perder a consciência de onde me apresento e lembrar-me de tudo o que o dever me exige.
Vós todos podeis fazer o que eu faço, dependendo de alcançar a minha morada e pagar o preço que eu cedi pela força do despertar espiritual.
Não penseis que vos darei qualidades que somente o Senhor pode dar.
O que faço é despertar o que já existe na alma de cada criatura.
Eu sou alguém de fora, mas posso ser algo de dentro, com mais realidade, no sentido de que vos liberteis para sempre e que a eternidade possa fazer-vos mais felizes, juntamente comigo.
À ciência do amanhã podereis dar testemunho das coisas que eu vos falo mas nunca podereis fazer na perfeição em que podemos viver.
O meu prazer de levar a fé aos vossos corações é muito grande, para que possais crer sem vacilar, de que não vos abandonarei, nem vos deixarei órfãos nas perseguições e nos sacrifícios que requerem todas as subidas.
Boa Nova, meus filhos, é muito cara para os corações.
Custa alto preço a sua disseminação no mundo, por encontrar resistência de todos os lados em que a ignorância se faz presente.
Mas eis a melhor maneira de ser propagada: quem combate anuncia mais alto.
Aquele que perseverar até o fim será salvo das impurezas da Terra.
E eis que, daqui a pouco, podereis pregar as novas que eu estou anunciando por toda parte.
Estarei convosco eternamente.
Quando eu for para meu Pai, pedirei a Ele e Ele enviará para vós outros consoladores, que ficarão com todos no alinho da eternidade, como sendo eu em vós e vós em mim, e eu em Deus.
A João parecia que se tinha acendido uma lâmpada no seu coração.
Os demais discípulos festejavam Cristo pelo verbo bem posto naquela noite e todos davam graças ao Senhor dos céus e da terra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:38 pm

30. — Dar o que tem
Dídimo, o famoso apóstolo Tomé, que não acreditou na aparição de Jesus — e para aceitá-la teve que tocar o dedo na abertura que um cravo teria feito na pele de Jesus — foi um dos grandes batalhadores da Boa Nova, selando com testemunhos difíceis a sua fé nas lições imortais de Jesus Cristo.
Muitos escritores ou pessoas que se dispõem a falar sobre esse apóstolo deixam-se impressionar somente pelo facto de que ele duvidou do Cristo, quando Este lhe apareceu em espírito.
No entanto, esquecem-se de seus grandes feitos e da fidelidade que o fez guardião dos preceitos evangélicos, servindo à causa em detrimento da sua própria pessoa.
Esquecera de si, em favor da colectividade.
Tomé se encontrava em Caná da Galileia, predisposto à meditação com profunda sinceridade.
Era sua disposição buscar, pela razão, a essência espiritual dos elevados princípios formulados pelo Mestre dos mestres.
Em uma tarde em que o poente esquecera de mostrar sua beleza, em virtude das turvas nuvens que vagueavam pacientemente nos céus de Caná, o discípulo de Jesus também vagueava pelas ruas simples dessa cidade, deixando que o destino o tocasse, deixando livre seu coração em eterna confabulação com os sentimentos. Sentia Tomé que, quando nós premeditamos um passeio ou uma viagem, desviamos as sensibilidades, e a inspiração divina pode comandar-nos.
Pois foi o que ocorreu.
Tomé se entregou às forças que acreditara invisíveis e inteligentes, capazes de guiar os homens para a verdadeira compreensão das coisas e dos factos, da vida e de Deus.
Dídimo faz como a onda do mar que o vento carrega para onde quer que seja, e ela rasteja na superfície, de lambadas a lambadas, cantando, por vezes, a canção que o movimento propicia, em louvor ao Todo Poderoso.
Ele poderia ser também uma onda humana, ao vicejar das ideias que sua mente fértil tirava do inconcebível, manifestando o poder de Deus e a Sua existência nas simples formas do existir.
Tomé, como que isolado do mundo e das coisas materiais, encontra-se como se fosse guiado por mãos humanas, às portas de um casebre que a fumaça coruscava por acanhada chaminé, como que fazendo letras enigmáticas, o que para o futuro místico era um chamado.
Chega à porta e saúda a família, de sorte a sentirem que ele pretendia conversar.
A intuição lhe segredou que era ali, sugerindo-lhe a ideia de que deveria dar o que estivesse ao seu alcance, e algo, por dentro, lhe falava:
“Tomé! Dá tudo o que possuis, que alcançarás algo mais... sem que penses naquilo que vais receber em troca, para que não desfigures o teu amor”.
Os sofredores sempre abrem os braços para todos os que se propõem consolá-los.
Era uma família triste que perdera uma filha que lhes dava grande prazer pela estima aos pais e irmãos, e pela conduta sábia.
O corpo estava exposto em uma pequena sala ao lado.
O apóstolo é recebido como gente da família e fica à vontade.
É cientificado do caso e começa a dar ânimo aos familiares, falando assim:
— Por que chorais tanto, reclamando de um facto comum, desde que o mundo é mundo?
Por Deus, meus irmãos, não queirais impedir a vontade de Deus por esse processo que as leis se dispuseram a fazer.
Eu quero vos falar com toda a força de minha alma, que quando morremos aqui no corpo físico, nascemos em corpo espiritual, e a vida continua com mais amplitude, pelo amor de Deus e d’Aquele que Ele enviou para nos guiar a todos: Jesus Cristo.
As quatro pessoas que lamentavam a morte da moça calaram-se e escutaram com interesse a palavra do apóstolo.
Aquele assunto fazia efeito extraordinário no coração daqueles que tinham na simplicidade o primeiro toque da vida.
E Dídimo continuou:
— Sereis abençoados por Deus se aceitardes a Sua vontade.
Não deveis fazer escândalos pelo simples facto de uma pessoa da vossa família obedecer ao chamado do Senhor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:39 pm

Creio que deve estar nos céus, como os anjos.
Tomé se cala e sente que alguém beija as suas mãos.
Estava de olhos cerrados ao pronunciar as últimas frases.
Toda a família reverenciou a sua presença como sendo a visita de um anjo.
Tomé entrou na sala onde o corpo da moça se encontrava, pôs as mãos na cabeça da morta e pediu ao Senhor Todo Poderoso para que aquela alma pudesse abrir os olhos no Reino da Glória com a alegria de ter vivido na Terra, por misericórdia de Deus. Quando o discípulo terminou a oração, ouviu nitidamente uma voz suave falar dentro da sua cabeça, nestes termos:
— Meu Senhor!
Deus te abençoe no labor de confortar as criaturas.
Eu te agradeço em nome d’Aquele de quem és discípulo e que se acha no mundo por amor do Senhor Todo Poderoso, pelo que fizeste por essa gente que me acolheu por trinta anos e a quem muito devo.
Fez uma pequena pausa e prosseguiu:
— Estou, graças ao Pai Celestial, já livre deste fardo que vai ser logo entregue à terra, mas não estou livre e nem quero ficar, do amor por esses que acabo de deixar pela presença física.
Peço-te que, quando puderes, se não for muito o que peço, passes por aqui, orientando esta família acerca da doutrina que já começaste a pregar por intermédio d’Aquele enviado dos céus.
Obrigada.
E parecendo que tinha se esquecido, volta a falar:
— O meu nome é Maria Celeste. Adeus!...
Tomé abre os olhos, quase sorrindo com o fenómeno, e pergunta ao velho pai da moça que acabara de morrer como ela se chamava.
O ancião, já tranquilo, responde para a admiração de Tomé:
— O nome dela, senhor, é Maria Celeste.
O discípulo foi dormir pensativo e custou a conciliar o sono, contrariado consigo mesmo por não ter pedido ao espírito que falara dentro da sua cabeça para se tornar visível, a fim de que ele, Tomé, desse aprovação do facto e sentisse a realidade da existência do espírito depois do fenómeno da morte.
Esquecera... que pena!
Tomé se encontra em Betsaida, contente como de costume.
O apóstolo tinha, de vez em quando aquele arroubo de alegria que a procedência denunciava.
Era o do coração.
E quando entrava nesse estado, procurava por todos os meios a sua conservação e também meditar e conversar com os outros sobre esse fenómeno, a fim de compreendê-lo.
À noite, todos estavam na igreja de Betsaida.
Tadeu sente alguém lhe falando para orar e acede com simplicidade.
Finalizada a súplica, esvoaçavam ao ar, aos olhos espirituais, minúsculas estrelas, cujo brilho encantador dava a entender sua origem.
Essas claridades se dividiam em grupos na mesma quantidade dos discípulos e cada constelação micro estelar era absorvida pelo coração de cada discípulo.
Tomé se levanta conscientemente e pergunta, com serenidade, a Jesus:
— Mestre! Porventura podes nos explicar, principalmente a mim, o que podemos entender sobre esse assunto — Dar o Que Tem — de modo a nos justificarmos com justiça perante os deveres que temos para connosco mesmos e para com a nossa família? Que queres dizer com isso, quando nos pedes para darmos o que temos?
Jesus, compreendendo em profundidade as intenções do discípulo, lê na sua mente os fenómenos mais recentes ocorridos com ele, analisa os fatos e responde, com segurança c carinho:
— Tomé! O usurário não é somente aquele que junta o ouro, os bens terrenos e que quer se sentir seguro dos poderes públicos, mas, muito mais, quem já começou a ser rico com Deus, na Sua ciência espiritual e na dinâmica do Seu amor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:39 pm

A sabedoria é qual um rio que se expressa por grande volume de águas e que necessita dessa água para ser útil à colectividade.
Haverá de percorrer centenas ou milhares de quilómetros, contornando todos os tipos de obstáculos, ajudando sem cessar e encontrando nisso maior motivo de vida, até se integrar de onde procedeu, pois a alma tem as mesmas funções.
A inteligência é muito mais expressiva, muito maior do que todos os rios da terra e pode fazer benefícios maiores.
Ela é uma fonte inesgotável e, quando educada nas hostes do amor, ela é Deus mais presente, consolando e instruindo os mais necessitados de tais bênçãos do Criador.
E bom que compreendas, meu filho, que “Dar o Que Tem”, no trabalho que vamos operar entre os seres humanos, está sujeito às perseguições, aos ataques, às calunias.
Serve de instrumento sem nem de leve apresentar exigências, que aparecem nas ideias disfarçadas, de modo que até os escolhidos são enganados por suas vestes.
Faze o bem pelo prazer de fazê-lo. Se ainda não podes executar essa linha do amor, faze o que podes fazer, mas nunca te esquecendo de pensar e fazer por onde a tua conduta se encaminhe para a perfeição.
O silêncio se fez, por instantes.
Cristo perpassa os olhos como um sol que aquece a todos e prossegue, com interesse:
— Tomé! Já pensaste se alguma coisa pudesse interromper o Rio Jordão, no Mar da Galileia, impedindo-o de chegar até o seu destino, que é o Mar Morto?
As águas, ao invés de beneficiarem muitas aldeias pelo trajecto, onde residem e trabalham milhares de famílias, com sua ausência, tornariam a lavoura impraticável, acabariam os animais, as pastagens, enfim, toda a vida da comunidade.
Represar egoisticamente o que se tem para dar é morrer.
Pois é isso que acontece com a alma que tem para dar e se faz esquecida pelo amor próprio, pela ganância de viver sozinha.
Fizeste muito bem quando entraste naquela casa onde a maior preocupação era a dor, o sofrimento.
Procuraste dar consolo que muito agradou.
Foi um gesto tocado pelo coração.
No entanto, desvalorizaste muito a tua dádiva, ao ficares contrariado pela não aparição do anjo que deixava aquele ninho familiar.
Esqueceste de que já estavas recebendo testemunho que ultrapassa os limites do existir.
A tua dúvida é como fogo que queima as tuas próprias vestes, embriaga a tua mente, de tal forma que não agradeces à cama onde dormiste, nem dás graças a Deus pela água que bebeste todos os dias. Tomé!
Volta àqueles que ficaram sofrendo pela ausência do familiar que partiu e repara, com todo o desprendimento, o que fizeste no silêncio e o que te pede o dever.
Já tiveste, meu filho, muitos testemunhos e havereis de ter mais ainda, mas provavelmente a tua exigência vai continuar na sequência do tempo, porque a dúvida, no ser humano, é uma espécie de enfermidade da alma, que somente os milénios têm o poder de curar.
Não basta ver para crer, é preciso, acima de tudo, conhecer a verdade sentindo-a e amando-a.
É muito lindo contemplar a vida no além, desde que a espontaneidade seja a força dessa presença.
É sempre justo que peçamos ao Senhor que faça a vontade d’Ele e não a nossa, ou que esperemos por Ele, que sabe mais do que todos nós juntos, o que devemos suportar e que caminhos devemos percorrer.
O Mestre muda o tom de voz, dando sequência à conversa com habitual carinho:
— Tomé! Quanta coisa bela falaste àquela família!
Foste inspirado pelo anjo familiar.
A tua presença naquela casa não foi obra do acaso, como queiras talvez pensar.
Alguém te levou, foi a própria morta que, livre do fardo físico, encontrou em ti melhores condições para servir aos que ficaram.
Não sejas qual o agricultor descuidado que lança a semente no solo e esquece de cuidá-la, deixando que os pássaros, percebendo a falta de vigilância, desenterrem e comam a semente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:39 pm

Quando puderes, junta-te aos que sofrem e lança a semente da imortalidade, do perdão, da caridade e do amor, da crença em Deus e na imortalidade.
Porém, não deixes de cuidar dessas sementes de luz, para que cada criatura que ajudares se torne uma estrela nos céus de Deus.
E o mais importante é que cuides dessas sementes de luz em ti mesmo, para que não venhas a duvidar daquilo que falas com os outros e nem desacreditar, pelo exemplo, do que dispões a ensinar por palavras.
Dar o que tens para dar, Tomé, não tira o teu dever para contigo e para com os teus.
Amplia mais ainda esse teu trabalho.
Escuta bem essa verdade:
bem-aventurado aquele que tem para dar com abundância.
Se a inteligência e o coração são rios espirituais que encontram na sua frente o imenso campo humano para servir, faz com que as tuas luzes clareiem as trevas, pois a paz maior será a tua.
Quem trabalha por amor carrega consigo a paz da consciência, e quem tem paz de consciência, tem paz na consciência universal.
E não te esqueças, Tomé, de alimentar no teu coração a fé, pois ela é a alavanca capaz de remover o mundo das imperfeições, ainda mais quando é acompanhada pelas obras que testemunham a sabedoria, de mãos dadas com o amor.
Eu estou aqui, meus filhos, para vos ajudar.
Estou na Terra para dar o que tenho para dar, de mim e da parte do Nosso Pai Celestial.
É muito bom que aprendais a receber.
Sei que as vossas intenções são nobres, mas não bastam só boas intenções no campo de aprendizado em que estais.
As condições em que vos encontrais requerem algo mais, e esse algo mais é executar o que pensais e o que falais aos outros daquilo que ouvistes de mim, daquilo que aprendestes no código universal revelado pela misericórdia de Deus, a Boa Nova.
Dar o Que Tem para dar, não se refere somente às coisas, aos bens terrenos.
Estes podem ser portas que se abrem para que venham os outros.
O desprendimento em relação ao ouro pode ser prenuncio da dádiva do coração.
Uma palavra na hora certa, nascida do coração, pode valer muito mais que toneladas de ouro.
Um silêncio no momento exacto vale muito mais que vestes caríssimas, e uma solidariedade, quando o espírito se encontra em duros testemunhos, tem mais valor que todos os postos na hierarquia política de uma nação.
Na dimensão em que falamos, Tomé, todos vós sois ricos.
A fortuna que ora acumulastes na consciência é daquela que quanto mais dá, mais tem para distribuir, ela se multiplica com o ato generoso da caridade.
Que Deus abençoe a todos!
Jesus levanta-se do cepo de cedro em que estava sentado, enfileirando os discípulos em sua companhia.
Contudo, Tomé esquecera-se do tempo e não percebeu a hora de ir embora.
Quando alguém, lá fora, nota a sua falta, volta e segreda baixinho em seus ouvidos, dizendo:
— Tomé! Tomé! o Mestre já se foi...
Esse alguém era Judas Iscariotes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:39 pm

31 — Esperar
O apóstolo Mateus, como já dissemos era publicano.
Seus trabalhos variavam de cidade a cidade e a experiência levou-o a conhecer junto aos romanos, até mesmo portos famosos, como Jope, Cesareia, Tiro e outros da mesma linha de movimentação.
No entanto, a sua actuação deveria se restringir à Galileia, por motivos especiais de Roma.
Serviu com mais intensidade no Mar da Galileia, largueza de águas abençoadas, filhas do Jordão, centro de águas que foi o maior motivo da existência de nove cidades que as circundavam, com mais de duzentas mil pessoas.
Mateus era um cobrador de impostos da parte dos romanos, dos mais famosos em todo o Mar da Galileia.
Por vezes exigente com pessoas que se descuidavam e davam a entender a ideia de sonegação, às vezes manso e até bondoso com aqueles que cooperavam com a lei de César.
Vamos chamá-lo aqui Mateus ou Levi, tanto quanto nos aprouver, pois é o mesmo apóstolo do Senhor.
Levi acalentava sonhos de grandeza, mas sempre de posse dos seus poderes no mesmo sonho.
Ajudava aos que se encontravam em dificuldades, vestia os nus e dava de comer aos famintos.
No fundo do coração, era um homem bom.
As circunstâncias da vida que queria levar é que o colocaram naquela posição, como também o domínio da Águia, que se alastrara na Ásia, com suas asas quase cobrindo o mundo inteiro.
Mateus, quando em serviço no Mar da Galileia, da de encontro com um homem que muito o impressionara.
Antes que abrisse seus fardos de mercadoria, ele se dispôs a mostrar, com intensa alegria, que o dever o formara.
Seu nome era Haruano, portador de uma conversa que fazia faiscar luzes de sabedoria.
Depois de agradecer ao cobrador de impostos pela chance de cooperar com o Império Romano, bateu de leve em seu ombro e disse, com certa suavidade:
— Judeu-romano, queres saber, pelos deuses que nos escutam, que tens no coração e na inteligência muito mais para dar do que tirar, como fazes.
No entanto, as tuas medidas estão para derramar e a tua consciência haverá de sufocar, com o pastoso suor dos que sofrem o jugo arbitrário dos fariseus estrangeiros, impondo-te a alimentar guerras e rumores de guerras, escândalos e rumores de escândalos, luxúrias e rumores de luxúrias.
Sou um andante por profissão e é por dever espiritual que falo com alegria. Haveremos de tornar a nos encontrar, por força da lei que nos une. Adeus...
Fixou o olhar bem fundamente nos olhos de Mateus e, se esse for o termo, escreveu alguma coisa na mente do cobrador de impostos, que cada vez mais enchia a barriga da Loba, que na história precisava de muito ouro para alimentar os seus dois filhos adoptivos: Rómulo e Remo.
Levi nunca mais se esqueceu daquele personagem que passara por ele na alfândega do Mar da Galileia: Haruano.
Quando escutava e obedecia o “vinde a mim” de Jesus, lembrava-se fortemente dele e, ao passo em que ia entendendo a mensagem do Senhor, foi nele despertada cada vez mais a vontade de encontrar aquele homem que o impressionara tanto.
Mas onde encontrá-lo, como procurá-lo, se não dera endereço?
Pedia informações, mas tudo em vão.
Lembrou-se de que ele dissera ser andarilho e comerciante, o que tornava difícil a sua procura, a não ser por milagre.
Um dia feliz para Mateus foi quando saiu em um barco às margens do Lago de Genesaré, sozinho, carregando algo de comer em um cesto e na bolsa de couro uma preciosidade: as escrituras sagradas.
Não estava pescando peixes, estava pescando as belezas imortais do espírito.
Estava buscando um suprimento maior, o saber, o motivo de viver a vida, a paz da consciência.
Estava buscando Deus, estava querendo integrar seu eu com a suprema sabedoria universal, pelo que ouvira de Jesus.
Não sentiu passar o tempo.
Já as estrelas brilhavam, o infinito parecia faiscar nas profundezas do além.
Fez-se algum barulho diferente nas águas, era outro barco.
Levi corta a meditação e sente um pequeno espanto com a presença de alguém, e quem era esse alguém?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:39 pm

Com a suavidade peculiar aos artistas da sabedoria, chega um barco colando-se ao de Mateus, era o mestre Haruano, que o cumprimenta:
— A paz seja contigo, Mateus, a quem prometi novamente ver.
Sê feliz, não te assustes, eu sou de paz...
Mateus teve ímpetos de rir, de chorar...
As suas mais nobres emoções sufocavam o que ele poderia expressar de contentamento.
Mas Haruano compreendeu as dificuldades do amigo e lhe propôs, pela presença serena, que ele ficasse à vontade.
E assim ficou Mateus, o discípulo de Jesus avança com humildade, pega as mãos de Haruano e fala, com delicadeza:
— Senhor, como podes aparecer por aqui?
De onde vens e a que ramo de filosofia pertences?
Como sabes que eu estava aqui?
E onde estavas?
O que falaste comigo há tempos passados, aconteceu.
Eu morri e nasci de novo, troquei o modo de ser e estou feliz.
Em vez de tirar dos outros para dar a quem já tinha muito, estou tentando dar aos que carecem aquilo que, por vezes, tenho.
Haruano, sorrindo com discrição, tira as mãos das de Mateus, para que ele não as beijasse e, usando da palavra fácil, dentro da sua peculiaridade, pediu que o ex-cobrador de impostos se sentasse e expôs com habilidade:
— Mateus, pertencemos, pelo amor de Deus, a uma seita denominada de Essénios, muito pouco divulgada, por não se interessar pela quantidade de homens, optando pela qualidade dos mesmos.
Não porque tenhamos orgulho, ou porque o egoísmo nos leve a isso.
Somos poucos, mas trilhamos caminhos dos mais nobres, na conduta, e a verdade, para nós é condição diária.
O dever é coisa sagrada.
As criaturas são todas nossas irmãs.
Temos um ideal: o de servir sem que sejamos servidos.
Somos homens que entregamos a vida para que a paz e o amor sejam disseminados no mundo dos corações.
Sabemos que a evolução das criaturas é demorada, mas que elas haverão de conquistar essa meta, pois nos dispusemos a ajudá-las, somente por amor.
Agora quero te dizer que estás sendo discípulo de um Mestre que também é nosso Mestre.
Ele nos vê quando é necessário e sabe nos procurar.
Essa comunidade a que pertenço, há muitos séculos vem abrindo caminhos para a descida desse Cristo, há muito prometido pelos céus, e eis que estamos desfrutando da Sua presença divina na Terra.
Quero afirmar para o teu coração que já te conheço bem antes que me conheceste.
Já te vi antes que me viste. Falo de coisas que ainda não podes entender, mas o tempo servirá de profeta, revelando, no futuro, o que te falo no presente.
Quando Mateus pensou em fazer mais perguntas, Haruano notou, lendo os seus pensamentos, e disse:
— Não faças perguntas.
Ainda não é hora.
Sê feliz e considera-te como tal, por seres discípulo do Mestre dos mestres, e recebe o meu adeus sem nenhuma manifestação de gratidão por mim, pois te trago o que ouvi de outros.
Deus te abençoe...
E desapareceu, nas brumas do tempo...
Mateus volta para casa meditativo e conversando pouco, de modo a que outros notassem seu silêncio. Betsaida estava sendo varrida por tempestades, desafiando a coragem dos transeuntes, mas os companheiros do Cristo deixavam com que o dever espiritual ultrapassasse todos os receios e, na hora certa, estavam postados como sempre em seus lugares para ouvir o Mestre.
Natanael, ao sentir o gesto do Senhor, abre a reunião com uma sentida súplica.
Mateus levanta-se, talvez como cobrador, porque queria cobrar de Jesus uma explicação: o que significava, no seu estado actual, Esperar?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:40 pm

E fala com desembaraço:
— Senhor, queria que aceitasses esta oportunidade de instruir-me acerca da palavra que muito ouço nas minhas caminhadas, principalmente espirituais.
O que significa Esperar?
Jesus, virando um pouco o corpo, para ficar frente a frente com o discípulo, contempla-o com graça e responde, com benevolência:
— Mateus! A palavra é fácil de pronunciar: Esperar.
Todavia, traz consigo conceitos altamente significativos.
Quem sabe Esperar, Mateus, cria condições para melhor servir e ser servido.
Quando lanças ervilhas ao fogo, o tempo te pede para Esperar, para que possas comer com mais facilidade.
Quando elas se encontram cozidas, é indispensável esperar para que não queimem a tua boca nem disturbe o teu estômago.
Quando conversas com uma pessoa, se não esperas a fala do teu semelhante, não podes compreender o que ele te tenta transmitir.
Quando plantas uma semente, o teu dever, diante do tempo, é Esperar a natureza, para que ela tenha o tempo conveniente para dar crescimento à planta.
Quando convidas alguém para uma viagem ou trabalho, é conveniente que esperes a resposta, sem violentar os direitos de escolha do convidado.
Na verdade, digo-vos que esperei muito mais para vos fazer meus discípulos.
E agora, com as bênçãos de Deus e do tempo, estais aqui todos reunidos, para que possamos Esperar mais a hora de pregar a Boa Nova a toda a parte e a todas as criaturas.
Tudo o que vos ensino da parte de Deus são sementes de luz nas vossas consciências e eu estou esperando mais, que elas se frutifiquem e comecem a crescer, para que possais testemunhar, com a vida, pela vida imortal.
Esperar é nota harmoniosa na vida de todos e saber Esperar é melodia divina que se faz ouvir em todos os corações sábios.
E Jesus, falando sobre o tema “Esperar”, espera um pouco, para que as consciências registem com mais eficiência o que os discípulos ouviram.
Levi lembra-se muito de Haruano, da sua paciência e do que ele falou, pedindo para não perguntar, porque não era hora.
Não era hora, com certeza, de Mateus saber.
Não iria entender certas coisas que somente o futuro poderia revelar.
“Isso mesmo... Isso mesmo...”, pensava Levi e sentia que era a verdade.
O Mestre dos mestres retoma a palavra e fala, com sabedoria:
— Mateus! Existe também o exagero da espera, que se transforma, por sua vez, em preguiça.
O preguiçoso pertence à escola muito falada, do desculpismo.
Procura assuntos, senão argumentos, que lhe dão o direito de Esperar de modo a desculpar a própria inércia.
Eis que aí está o perigo de passarmos dos limites que o bom senso nos traça com sabedoria.
O sol, todos os dias, se esconde para que caia a noite, mas volta quase nas mesmas horas, sem que deixe passar muitos dias.
Precisamos aprender essa disciplina da natureza, pois ela tem uma consciência perfeita do dever e da harmonia.
Vejamos os mundos que circulam o infinito, sem que se perca um til na esquematização divina.
O nosso Pai que está no céu, esperou muito no preparo dos vossos corações.
No entanto, no momento exacto, enviou Seu filho mais velho para vos orientar acerca da vida e de como podeis viver melhor.
Saber com grandeza é Esperar com dignidade.
Não vos cientificastes de que a terra está cheia de anjos enviados pela bondade divina para preparar caminhos para a minha chegada?
Se não fossem os preparadores de terrenos, como poderia lançar as sementes com tanta segurança?
A Boa Nova é a semente, vós os semeadores, eu o Jardineiro e Deus o dono da vinha; a Humanidade é o terreno que espera das nossas mãos a disposição de trabalhar em favor dela.
Eis que vos digo: esperai mais um pouco e lançai mãos ao arado, pois servir de instrumento de paz, por amor, é o melhor lazer na terra e na vida.
Vamos, trabalhemos juntos em nome de Deus!
Pedro, que era muito afoito nas suas decisões, começa a pensar nos ensinamentos do Mestre sobre Esperar.
E Mateus, acostumado a não esperar na cobrança dos impostos, quando publicano, também pensa na grande arte benfeitora: Esperar.
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32 — Optimismo
É bom que falemos um pouco das cidades históricas neste livro, principalmente no campo que abordamos, sobre as coisas do espírito.
Falar em Tiberíades é recordar tempos que nos fazem muito bem.
É lembrar Moisés, os profetas e, principalmente, Jesus Cristo.
É nome de uma cidade famosa por muitos aspectos, que já descreveremos.
Tiberíades se encaixa às margens do Mar da Galileia, a quase um quilómetro das suas praias.
Foi construída por Herodes Tetrarca, consagrada com esse nome em honra de Tibério César, na época imperador romano.
Foi palco de muitos acontecimentos notáveis, tendo sido, em certa época, a capital da Judeia.
Foi uma das cidades mais expressivas da Palestina.
Para lá mudou-se o Sinédrio e foi ali que o Velho Testamento foi adaptado para melhor e maior entendimento do povo.
Era, por assim dizer, uma cidade sagrada.
Visitaram Tiberíades grandes personagens da política romana e grega, e profetas, incluindo o Cristo.
Ali se abriram, mais tarde, escolas somente comparáveis às dos grandes centros mundiais, como Roma, Grécia e Egipto. Era uma Mênfis moderna.
Os cidadãos de Tiberíades passaram a chamar o Mar da Galileia de Mar de Tiberíades, pelo seu valor e sua força no concerto dos grandes centros comerciais.
Riscavam o Mar da Galileia, desde a manhã até altas horas da noite, luxuosas galeras romanas e gregas, em missões especiais ou em trabalhos comerciais que o ambiente requeria.
Porém, deixemos a fama, o fulgor de Tiberíades, para falar dela na sua mais pura simplicidade da primeira metade do primeiro século do Cristianismo.
Aqui certamente não haveria espaço para que relatássemos tudo com eficiência.
Para isso seria preciso escrever um livro somente dedicado a Tiberíades.
Todavia, o nosso objectivo é outro.
É buscar os efeitos fornecidos pelo sol espiritual que passou por ali, na presença dos seus discípulos.
E aqui vamos lembrar do apóstolo Judas Tadeu.
Judas se encontrava nos arredores de Tiberíades, meditando sobre seu dever, querendo conciliar os trabalhos materiais com os espirituais, mas não podia se inclinar para um lado nem para o outro.
O que fazer? Como buscar entendimento para tal situação?
Começava a fraquejar, precisava de Optimismo, e como encontrar essa força?
Pensando? Já o tinha feito antes, sem nada conseguir.
E agora? Sente-se abatido.
Deslizavam em sua mente muitos amigos cujas feições demonstravam alegria em todos os momentos, cheios de vida, cheios de optimismo.
E ele, Tadeu?
O que fazer, meu Deus?
Mas uma esperança raiou na sua cabeça.
Procurar Jesus, pois Ele era o Mestre dos mestres, o Filho de Deus, o Profeta dos profetas, haveria de mostrar-lhe o caminho de alcançar o Optimismo, a coragem para enfrentar todos os caminhos difíceis.
E andando, depara com um velho casarão escondido pelos braços recuados de antigos arvoredos no Sítio de Tálium, velho morador e famoso mago negro daquela região.
A porteira já o esperava uma senhora de traços grosseiros, saudando Tadeu.
Esta convida-o para entrar com amabilidade forçada pela sua posição.
Tadeu, espantado, pensa firmemente em Deus.
Medita um pouco o que poderia ser aquilo, mas entra, acompanhando a esquelética mulher.
Quando entrou em um grande salão subterrâneo, reconheceu a cilada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 7:40 pm

Poderia, com suas próprias forças físicas desbaratar aquelas mulheres que ali se encontravam, embebidas em certos rituais a que o fanatismo e a ignorância as amarravam mas, por já conhecer a verdade com Jesus, cedeu um pouco e disse, meio ofuscado com o ambiente:
— Que quereis de mim?
Nada responderam.
Alguém sai do círculo, vestida de preto, rosto encoberto, e levam-no para o centro do espectáculo trevoso.
Depois dá uns gritos sibilinos, que ecoam por toda a casa e Tadeu vê, com os próprios olhos da carne, uma forma estranha às suas sensibilidades aparecer ao seu lado, com palavras que não merecem ser repetidas nesta mensagem, querendo tirar o discípulo do Mestre do rebanho de luz, prometendo a ele o céu e o mar, as coisas mais atractivas, o mundo, a fortuna, a posição, a sabedoria e a coragem.
Tadeu sentiu as mais estranhas sensações que nunca pudera imaginar.
Pensou, mesmo sem disposição, em Cristo.
Tentou orar, mas não conseguiu. Tadeu era um médium de efeitos físicos e para que os trabalhos naquele antro de perversidade se processassem, o discípulo de Jesus era a chave com que as trevas poderiam abrir muitas portas.
No entanto, o agente das sombras tinha que afastar Tadeu das hostes de Jesus.
Usou argumento, ofereceu tudo.
Demonstrou seus poderes diante do discípulo, que se sentiu abismado, mas não vencido.
Ofereceu a Tadeu o que ele estava querendo:
Optimismo e coragem para tudo em um passe de mágica, mas que ele fizesse um pacto de ser um dos seus comandados.
Tadeu sentiu na hora um impulso diferente da consciência e falou com segurança:
— Nunca! Nunca serei um dos teus agentes para espalhar o mal.
Fica com os teus, pois eu já sou de Cristo e Ele habita em mim.
Estou fazendo força para achá-Lo com mais eficiência.
Estás perdendo tempo.
E balbucia uma oração com todo o fervor, naquele quinhão das trevas, impulsionado pela força do bem e do amor.
Desfaz-se a figura animalesca e um cheiro esquisito embriaga os presentes, que estremecem nas suas posições.
Tadeu levanta-se sem despedir-se, trémulo, mas sai para fora com o pensamento fixo em Cristo e em Deus.
Custou a achar a saída para Tiberíades.
Todos os caminhos o traziam novamente ao mesmo local, até que conseguiu, dando graças a Deus.
Judas Tadeu, desconcertado, mas feliz, aparece em Betsaida, deixando transparecer indiferença para os companheiros em Cristo.
Contudo, aparece na igreja dos pescadores.
Essa noite, João é convidado para abrir a assembleia e eleva aos céus uma oração que o amor se encarregou de impulsionar.
Judas Tadeu, pelo seu estado depressivo, somente vê uma saída para a sua paz:
pedir directamente a Jesus seu conceito de Optimismo.
Pergunta, com certo constrangimento:
— Mestre, perdoa-me a intromissão, pois preciso como nunca da sua fala a respeito do Optimismo.
Em dados momentos, sinto-me como folha seca ao vendaval, como um rio que perdeu o contacto com sua fonte.
Enfim, Senhor, quero mesmo é Te ouvir.
Fala-me o que queres que eu ouça.
O Mestre, ponderado e altivo, considera a situação do discípulo e aborda o assunto, com amabilidade:
— Judas Tadeu! Que Deus te abençoe, meu filho.
É justo o que queres saber e, por certo, conquistar.
O Optimismo é, certamente, uma feição divina que pode se apoderar das criaturas e fazer parte delas nas suas caminhadas para a eternidade.
O Optimismo e a coragem são quase idênticos.
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