LUZ ESPÍRITA
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Ave Luz - Shaolin/João Nunes Maia

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 11:05 am

8. — Solidariedade
Simão, o Zelador, foi um discípulo diferente de todos os outros, mesmo diante da personalidade inquieta de Judas Iscariotes, que muitos escritores espiritualistas têm como um político sagaz e premeditador.
A verdade não era esta.
A intenção de Judas era colocar Jesus como alvo de todas as atenções do mundo, para melhor salvar as criaturas, mas por meios que a consciência recta não aceitaria.
Além disso, os planos do Evangelho se encontravam organizados pela consciência divina e o amor seria a disposição poderosa do avanço espiritual, e não a violência, não o comércio, não as exigências.
Simão, o cananita, é que pertencia ao partido político nacionalista idealizado por Judas, o galileu.
Ele era uma das frentes de entusiasmo contra o jogo dos romanos.
Era revoltado por ver seu povo carregando um peso exorbitante de tributos que iam para os cofres da águia impiedosa.
Ainda mais, os romanos se classificavam como uma raça superior, pela posição que desfrutavam no reino que lhes pertencia pela força.
Simão não pensava muito em religião, porque nela notava algumas sombras perigosas de escravidão, e ele se debatia com todas as forças pela liberdade.
O clima desse homem de que vamos falar era mesclado de interesse pela pátria livre e de revolta diante da subjugação por um povo ganancioso e perverso, egoísta e fanático, guiado por ordens que partiam de um cérebro talvez manietado pelas presas da neurose irreversível.
Mentalizando a paz e o trabalho honesto para seu povo, o discípulo não sabia o que fazer, a não ser se reunir com homens do mesmo ideal.
Todavia, a revolta, mesmo aquela cheia de direitos, se perde para tornar-se companheira da intolerância, começando a usar as armas da violência, enfraquecendo as bases principais da Solidariedade.
E foi o que aconteceu!
Seu partido passou da defesa para o crime, da liberdade dos galileus para a imposição dos seus próprios patrícios que não comungavam com eles na mesclagem do ódio com a defesa.
E Simão viu frustrado todo seu ideal.
Não era isso que ele queria.
Varão portador de descomunal energia para o que desse e viesse, não concordava em destruir para defender-se.
A coragem em sua cabeça dava para ser percebida nas feições, sem que a dúvida se intrometesse.
E eis que, em uma manhã ensolarada, meio triste com os acontecimentos, procura um ancião curtidor que se dava ao trabalho na margem destampada de um córrego onde as águas cantavam as harmonias da criação.
O curtidor solfejava um hino que aprendera com seus ancestrais, portadores dessa preciosidade melódica da convicção dos retirantes judeus, na época em que saíram da casa de servidão do antigo Egipto, pela força e coragem de Moisés, o filho das águas e instrumento de Deus para a libertação de um povo.
Simão saudou-o, prestimoso, e Jonas-ben-Sabel, com reverência, responde, alegre:
— Jovem, quais os sopros que te trazem aqui, no ambiente de trabalho de um velho sem préstimo?
Vamos assentar e, se quiseres, podes nos dar o prazer de compartilhar connosco da ceia que a hora anuncia.
Aponta a mão mal cheirosa para um tosco banco e se desfaz de um roto avental, à beira de um tanque onde o asseio se dava.
E logo inicia a conversação.
O velho, ciente das ocorrências com o Zelote, passa a dar-lhe notícias do Messias, que ele próprio vira pregando às margens do Lago da Galileia.
Conta para o jovem político todos os fenómenos a que assistira e os que ouvira falar por pessoas idóneas.
O velho impressionou bastante a Simão, o cananita, que naquela mesma tarde procura o Nazareno que, junto à multidão que o cercava, convida-o para o seu partido de amor, aquele que não vinga, que não oprime, que não fere, que não julga, que não vende, que não mata.
E na mesma hora, Simão consegue segurar as mãos de Jesus, que sente lágrimas quentes molharem os seus dedos de luz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 11:05 am

Simão põe os seus pés às margens do Lago de Genesaré, descendo de um pequeno barco em companhia do velho curtidor.
Ao entrarem em Betsaida, o curtidor toma outra direcção e lhe deseja felicidades.
Daí a pouco, o impetuoso cananita se aproxima do grande rancho dos pescadores onde um lugar o esperava no seio da comunidade em Cristo.
João levanta-se suavemente, obedecendo ao sinal de Jesus e faz sentida oração. Nos céus, faiscavam milhões de estrelas, como que respondendo à sua súplica fervorosa.
Ao término do pedido do apóstolo, ergue-se com desembaraço o cananita e pergunta, com ansiedade:
— Mestre! Por favor, queira nos orientar sobre o que vem a ser Solidariedade.
Quero crer que a Solidariedade não se arrefece em nenhuma condição.
Apesar disso, a que eu alimentava junto a companheiros dos mesmos ideais enfraqueceu, quando eles começaram a mudar de rota.
Parece que se apagou em mim aquela chama pela causa que antes abraçara, a da liberdade de uma pátria a que tanto devemos, por ser o nosso berço.
Jesus ouviu pacientemente a dissertação de Simão e argumentou, com simplicidade:
— Simão! Simão!
A Solidariedade é princípio divino no coração humano.
Ela é uma argamassa de natureza superior que somente se ajusta em pilares da mesma formação.
Se queres saber, a tua Solidariedade não se acabou, pelo que vemos está mudando de direcção, assim como mudou o alvo no qual concentraste a tua atenção.
A política do mundo tem seus valores para aqueles que com ela se afinam.
No entanto, sua área é restrita e sua defesa é gananciosa e egoística.
O partido que ora tomaste como emblema da tua vida se alicerça em leis mais elevadas.
Ele não tem limites para fazer o bem, nem barreiras que demarcam tempo e espaço para servir.
E tão diverso dos outros que se empenha mais em favorecer os próprios adversários e, em vez de ofensa, perdão; no lugar do ódio, amor.
A Solidariedade que buscas, que chamas de verdadeira, pode ser bem diferente da que antes idealizavas, porque ela, na verdade, encontrando o mesmo clima, se unifica.
Porém, em caso nenhum, deves exigir que ela não seja revestida da usura.
Podes é afastar-te, depois de usares a tolerância, para onde melhor te acomodares, ampliando, cada vez mais, tua acção benfeitora.
Nunca deves desistir definitivamente de solidarizar-te com o movimento de que participaste e que tanto esforço exigiu em prol do bem-estar comum.
Separa com critério as atitudes valorosas dos companheiros.
Nunca um homem é inteiramente ruim, nem um grupo que se forma defendendo um ideal.
Aproveita, pois, o que é bom e distancia-te do que achas imprestável.
Se um teu inimigo está fazendo o bem no lugar que escolheu para viver, é justo desmerecê-lo, somente porque a presença dele não te agrada?
Jesus cala-se por instantes e deixa que os companheiros se demorem nas meditações, buscando algo mais nas suas próprias deduções espirituais.
E vem em socorro, trazendo novos reforços educativos:
— Meu filho, acho uma nobreza em teu carácter a procura da Solidariedade.
Podes notar, pelos benefícios que traz, que ela representa raios insofismáveis do amor.
Quem ajuda por caridade é o homem que o futuro espera, é a alma querendo se tornar anjo, para que o mal fique só na história do mundo.
Sabes, porventura, o que nos une neste instante e o que vai nos unir eternamente?
É a Solidariedade de princípios, porque as bênçãos do Nosso Pai Celestial nos convoca para tal.
Quando as pessoas que alvejaste com a tua Solidariedade falharem naquilo que antes mostravam como meta, não sejas como barco sem remador, entregando-te às ondas sem rumo, e não duvides da bondade de Deus que, por vezes, está te experimentando, para que possas assumir postos elevados na disseminação das verdades espirituais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 11:05 am

Quando isso acontecer contigo, renova a confiança e busca a frente, sem que o atrás te chame a atenção e te esfrie nos teus princípios.
Ainda existe uma Solidariedade mais importante: é aquela que deves ter para com o Senhor de todas as coisas, que mora fora e dentro de ti.
A atmosfera do ambiente palpita de emoção.
Somente se escuta dentro da igreja, em um ritmo de plena disciplina, o respirar daqueles homens de Deus.
O Cristo toma novamente a palavra:
— Meu amigo!
Que Deus te abençoe nos teus princípios de união dos que se encontram perseguidos e pela defesa de uma pátria, na qual nasceste.
Contudo não esqueças de saber até que ponto a assistência é benefício e até que ponto a ajuda é conivência.
Temos que nos preparar para a grande viagem da ascensão.
Se encontrarmos carruagem, melhor, vamos a ela.
Se faltar-nos essa condução, usaremos os pés sem esmorecer, por motivo nenhum.
Estamos aqui nos preparando para nos solidarizarmos com o bem que estiver sendo praticado em qualquer parte do mundo, e no meio de qualquer seita ou partido, reforçando o amor de Deus para com todas as criaturas.
E nesse trabalho em que a universalidade é o lema, anunciemos as nossas concepções das leis do Criador, que se eternizam com o amor puro.
Passam-se alguns minutos. Jesus, olhando para todos os presentes, levanta-se com elegância, fixando o olhar em Simão, que se aproxima sorrindo.
As portas se abrem.
O velho curtidor vai chegando em busca de Simão e tem a felicidade de falar frente a frente com o famoso Nazareno.
Beija as suas delicadas mãos e pronuncia, com emotividade:
— Graças a Deus! Graças a Deus!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 11:06 am

9. — Companheiro
Simão Pedro Bar-Jonas, natural de Betsaida, conhecedor profundo do sistema de trabalho mais amigo, talvez o mais antigo do mundo, que é a pesca, era homem simples e bondoso, porém, quando irritado, enérgico e, por vezes, violento.
No entanto, passados alguns minutos, arrependia-se, chegando até as lágrimas.
Os seus sentimentos variavam como as ondas do mar.
Tinha muitas amizades por toda a redondeza.
Seu irmão André assessorava na pesca e era quem contemporizava em certas discussões.
Pedro fechava o cenho por meras brincadeiras e sorria por um simples olhar.
Eis alguns traços do apóstolo Pedro, o primeiro a ter o privilégio de ouvir o “segue-me” de Jesus.
Simão Pedro, ou Cefas, como queiram chamá-lo, mudou-se de Betsaida para Cafarnaum, passando de um para o outro lado do grande Lago da Galileia, que se chamava também Lago de Genesaré, ou Mar da Galileia, tendo ainda outros nomes, como se fossem sinónimos daquele imenso volume de águas, no sentido de acolher nas suas lindas margens várias cidades ou aldeias de camponeses, já que a agricultura e a pecuária se constituíam em seus maiores afazeres.
Cefas era grandalhão e forte.
Desconhecia dificuldades, suas e dos outros, que não estivesse pronto a resolver, somente com o interesse de servir.
Sabia que as águas têm seus segredos e era conhecedor deles.
Amava e respeitava as leis da natureza, pelo menos as que lhe eram dadas a conhecer.
Foi, primeiramente, grande admirador de João Batista, tanto que não perdia suas pregações à beira do Jordão e no deserto mais próximo do famoso rio.
Ao certificar-se da notícia do novo Messias que Filipe anunciara, André, embora com muito respeito a João Batista, insistiu, como inspirado pelos céus, para que Pedro fosse vê-lo.
E foi esse Pedro que o dedo de Cristo escolheu, apontando-o como pedra angular da nova doutrina que o mundo ia conhecer, fundamentada no amor e na paz.
Simão Pedro Bar-Jonas foi a porta pela qual os outros discípulos entraram.
Os prodígios operados por Jesus faziam-no disciplinar cada vez mais a sua força e o seu adestramento como homem do mundo, para que pudesse vir a ser um homem de Deus.
Quando raiava o sol e as redes bailavam nos ares, estendidas por braços musculosos, dois deles eram os de Pedro, que labutava entoando canções que o integrava, cada vez mais, no ambiente das águas, ou se podemos dizer, com os génios titulares do mundo líquido.
O apóstolo da fé tirou a tarde para meditar.
Esqueceu-se do trabalho da pesca para pensar na pesca espiritual, e começou a andar, meditativo, às margens do Mar da Galileia, parecendo não perceber quem passava.
Era um Pedro que vivia, naqueles momentos, nas raias do espírito.
Dentro d’água, deslizando num barco, encontravam-se igualmente meditando e por vezes lendo as escrituras sagradas, dois homens, Filipe e Bartolomeu, que encostam a embarcação, saudando o amigo, com alegria:
— A paz seja contigo!
Simão Pedro, voltando a si, sorri também e abraça os dois, que o convidam para irem logo em direcção a Betsaida.
Ao chegarem ao outro lado do lago histórico, notava-se grande tumulto.
Quem seria?
E o velho pescador logo reconheceu: era Jesus!
O Cristo, vindo de Tiberíades com João e Mateus, ao descer do barco viu uma mãe aflita lhe expor seu filho paralítico, com acentuado escândalo, gritando, chorando e pedindo socorro.
Reconhecendo o Messias, não queria perder a oportunidade de ser abençoada juntamente com seu filho.
Pedro avança para proteger o Mestre em meio à brutalidade peculiar das massas, e quando vê o carinho do Mestre para com a mãe do doente, ajuda-o a descobrir o enfermo que se postava deitado em um cesto, esquelético, pernas mirradas.
Simão, ao ver aquele morto-vivo, esfriou um pouco o coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 11:06 am

Sabia dos poderes do Cristo, mas aquele moço...
Jesus fala brandamente a Pedro:
— Cefas, põe o enfermo no teu colo e ama-o como se fosse o teu próprio filho, que o teu amor poderá curá-lo.
Foi o que fez o discípulo, com humildade e respeito.
Ao abraçar o doente, envolvido nos maiores sentimentos de paternidade e carinho, viu o Mestre sorrir levemente:
— Ajuda-o, Pedro, e anda com ele!
Nisto o rapaz esticou as finas pernas, apoiado no filho de Jonas, andando e gritando no colchão macio da areia:
— Mamãe! Mamãe!
Esse é o Cristo de que a senhora falou!
E a multidão também gritava:
— Viva! Viva Jesus e salve Deus!
Daí a pouco estavam todos reunidos com o Mestre na grande casa emprestada para que servisse de templo, de onde surgiu a nova e engenhosa mensagem espiritual capaz de provar à humanidade que existe o amor...
Judas é convidado a orar.
Depois da prece comovente do apóstolo, Simão Pedro Bar-Jonas, emocionado pelos recentes acontecimentos, sente que Jesus lhe fala na acústica da alma:
“Pedro, desliga-te um pouco da meditação, pois o que é demais costuma sobrar e a sobra, por vezes é desperdício de energia”...
Entendeu então que deveria falar alguma coisa. Começa então a dizer:
— Mestre! Há muito tempo que me integro em vários grupos de homens e em muitas modalidades me empenho e eles, esses amigos, me chamam, por gentileza, de Companheiro.
Na sua profundidade, o que quer dizer esse tratamento?
O homem de Nazaré, altivo e confiante, responde com habilidade:
— Pedro! Ser Companheiro não é apenas ser amigo dos que comungam dos nossos ideais.
E acompanhá-los em alguns dos seus também.
Não podemos dizer que é a fusão completa de todos os sentimentos de pessoas ou grupos de almas. Deixemos esse fenómeno difícil para o amor.
Acompanhar os outros é o que fazes, em alguns casos, no labor da tua pesca.
E ajudar sempre, dentro das possibilidades, aos que se envolvem em dificuldades, sem se empenhar no ganho.
O prazer de ajudar por ajudar é que nos torna verdadeiros Companheiros do beneficiado.
Quando somos os alvos da assistência é que nos certificamos de quanto é bom ter Companheiros fiéis ao lema: um por todos e todos por um.
O amor, Pedro, se divide em modalidades infinitas, e uma delas representa o assunto levantado por ti.
Essa virtude divina se ramifica em repartes sem conta, procurando despertar nos corações todos os tipos de sentimentos do bem, que uns vêem como companheirismo; outros, como tolerância; procurando analisar mais, encontramos a bondade; indo mais além, o trabalho, a coragem, o optimismo, a fé, a confiança, a fidelidade e muitas outras virtudes.
Pelas mencionadas, ficas sabendo as sequências das qualidades provindas do amor.
A resposta do Mestre deixa Pedro pensativo, monologando com rapidez:
“Então a gente pode deixar de ser Companheiro de alguém, sem que isso se torne, da nossa parte, um desprezo?
E aí, onde está a amizade?”
Jesus, inteirando-se dos pensamentos do apóstolo, fala, com segurança:
— Cefas, tu és Pedro, em quem deposito a minha confiança pela fé com que podes despertar para a aliança com o Evangelho.
Verdadeiramente te digo que podes deixar por algum tempo de seres Companheiro de alguém, ou de algum grupo de irmãos, quando estes se esfriarem em seus ideais mais nobres.
O Companheiro do bem é aquele que alimenta nos outros o entusiasmo pelas coisas que o bom senso sempre chancelou.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 7:24 pm

A amizade, pois, pode perdurar até que venha a se coadunar de novo com as qualidades de intenções.
Mesmo vivendo distante um do outro, o elo da fraternidade pode vibrar, e por esse caminho, algum dia, o amor é convidado a transitar.
É bom não esquecermos, meu filho, que há casos em que dois amigos, dedicados ao bem comum, não são Companheiros na extensão profunda da palavra, porque do dever a que um foi chamado, o outro foi dispensado, e vice-versa.
Porém, reconhecem que todo bem se converte para a felicidade.
O Evangelho pede dedicação de todos vós e, em casos apropriados, sacrifícios.
Sois os primeiros a se iluminarem.
Portanto, é justo que deveis dar o testemunho de fidelidade a Deus.
Nesta comunidade que ora se inicia e para a qual fostes escolhidos antes de nascerem, eu desejo que todos sejam meus Companheiros, e o regozijo é todo meu, se fizerdes o que eu faço.
Continua, Pedro, a aderir às boas acções dos que desejarem praticar e aprende com eles o que ainda não sabes.
E é bom que o faças com humildade, porque a pretensão escorraça o entendimento.
É a vez do silêncio!
Cada discípulo conversa com o mais próximo, sem que o barulho perturbe a harmonia.
Simão Pedro sorvia os ensinamentos, como homem sedento.
Mas não era somente ele.
O Cristo riscava seus olhos paternais em todas as direcções do templo, parecendo ver subir e descer anjos dos céus para a Terra e da Terra para os céus.
Deixou que o tempo falasse mais a respeito da conduta do homem diante da vida, e retoma seu discurso, com imperturbável serenidade:
— Pedro, o que quero acrescentar, para que tenhas maior confiança, é que não deves esmorecer nas lutas que abraças pela Boa Nova do reino de Deus.
Se porventura perderes alguns Companheiros ou deixares de acompanhá-los, por motivo de força maior, não perturbes o teu coração.
Se a tua consciência estiver tranquila pelo ideal do bem que alimentas no coração, segue avante, que algum dia, em nome de Deus, haverá um só rebanho e um só pastor, onde todos, mas todos, se unificarão na verdade, e a verdade vos levará ao amor.
É muito justo que a tua preocupação cresça diante de tanto desajuste que presencias no teu convívio com os outros.
Não obstante, é bem mais justo que não deixes que esta preocupação prejudique as tuas sensibilidades, que foram feitas para trabalhos mais nobres.
O que presencias é fracção dos acontecimentos do mundo, e se pudesses vê-los de uma só vez, esmorecerias, achando sem solução os problemas da humanidade.
Contudo, se queres dar a tua cooperação, podes fazê-lo logo, principiando por um sorriso aos enfermos, dividindo o teu alimento com o faminto e ofertando tua túnica ao nu, conversando com os desesperados e dando exemplo de trabalho aos preguiçosos.
Nunca deves alimentar ideias negativas, porque se Deus, na nossa compreensão, pensou para fazer o mundo, a razão nos diz que os nossos pensamentos podem fazer alguma coisa de bom ou de ruim, dependendo do nosso estado de alma.
A faculdade de pensar, que temos, é a maior que, por enquanto, desfrutamos, por misericórdia do Criador.
Em seguida, o Mestre se levanta em direcção à saída, e todos o acompanham, sem uma palavra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 7:25 pm

10. — Igualdade
André, irmão de Pedro, também de Betsaida, era pescador de profissão, como seu irmão.
Nascera naquela aldeia sob o beneplácito estrutural da religião judaica, modelada pelo famoso profeta judeu-egípcio Moisés, escolhido entre milhões para compor o livro mais conhecido do mundo, no qual todas as religiões, ou quase todas, se baseiam.
Todos os escritores consultam esse livro, ou quase todos.
Todas as nações o respeitam, ou quase todas.
Todas as leis da Terra nele se assentam, ou quase todas.
O próprio Moisés talvez não imaginasse a fama que esse livro sagrado poderia fazer de seu nome, nem que as escrituras servissem de ponto indicativo das pregações do grande Messias.
André de Betsaida tinha um carácter formado nesse ambiente que tinha como lei central os dez mandamentos, para que todos pudessem disciplinar seus impulsos por eles, amando a Deus para amar o próximo.
André, quando conheceu Jesus, já era discípulo de João, o Baptista.
Convidado pelo seu primeiro Mestre, passara com ele aquela noite no deserto, conversando sobre as coisas de Deus, sobre a vida futura, sobre o dever do homem para com a vida na terra, o caminho do arrependimento, no sentido de alcançar melhor e mais profundo entendimento sobre os preceitos de Deus.
Ali, certa hora da madrugada, André, já cochilando, é tocado por João que, com os olhos fitos no infinito, como se estivesse conversando com as estrelas, fala, sorrindo:
— André, meu filho, queres saber realmente quando o Messias terá de vir para salvar a humanidade?
Eu te falo como se fosse a boca do Senhor que está nos céus.
Ele já se encontra na Terra, e eu, em primeiro lugar, já o conheço há muito tempo, sem, contudo, ter a ciência de que Ele era o salvador do mundo.
E se queres saber mesmo, esse de que te falo é Jesus de Nazaré, filho de Maria, que tem por companheiro José, o carpinteiro.
André estremeceu nos seus alicerces!
Pensara muitas vezes que o Salvador era João Baptista.
E João fala ao irmão de Pedro com segurança:
— Eu, André, vim primeiro abrir as veredas, dar o sinal, abrir as portas dos corações pelo arrependimento, para que o amor encontre acesso na alma faminta das gerações.
Esse Messias de que te falo tem a assistência de grande movimento de anjos nos céus, que tomam providências no sentido de que sua palavra seja cumprida.
Não sou digno de ser seu servo.
Tudo o que foi dito dele há de se cumprir, para que reconheçamos a sua missão na Terra.
André perdeu totalmente a vontade de dormir naquela noite.
Não tirava os olhos dos céus, para ver se via alguma coisa, relacionada com o que ouvira de João Batista, acerca de Jesus.
André foi visitar o novo profeta e cientificou-se da verdade, tendo feito todo o empenho para levar Pedro a Jesus.
Quem guiou os dois ao Mestre foi Filipe.
Foi o guia dos dois irmãos de Betsaida, para depois ser um dos convidados do grande Mestre.
André conversava bastante, mas com pessoas da sua amizade.
Logo que começasse a juntar mais gente, calava-se, era introvertido.
O acanhamento era uma barreira que o impedia, às vezes, de realizar muitas coisas.
Em meio à multidão, mesmo que dominasse um assunto, perdia totalmente a inspiração e corava com facilidade.
O seu estado emocional tirava-o de muitas alegrias.
Conversara com João sobre isso e o homem do deserto o aconselhara que esperasse, dizendo que poderia ser uma porta fechada por Deus, para que ele, André, pudesse crescer em determinadas virtudes e saber controlar, mais tarde, suas próprias emoções.
O irmão de Pedro já se encontrava em Betsaida há semanas, em casa de parentes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 7:25 pm

Não quisera sair dali enquanto se processavam as reuniões com o Divino Mestre e era o primeiro a chegar todas as noites ao casarão.
Suas andanças se limitavam ao trabalho da pesca, no Lago de Genesaré.
Enquanto as estrelas piscavam no infinito, emprestando suas claridades à lua, André coloca o seu pé direito dentro do grande rancho dos pescadores, saudando-os com a frase:
“A paz seja nesta casa”.
Daí a pouco, todos tomavam assento em torno do Mestre de Nazaré.
A visão do Cristo envolve de cheio a Tiago, que logo compreende e ergue aos céus fervorosa oração.
André já havia conversado com Pedro acerca de suas dúvidas na maneira pela qual entendia a igualdade e, na hora, sentiu que alguém que ele não via, pedia-lhe para perguntar a Jesus sobre esse tema que tanto fascina os humildes e pequeninos, quanto é desprezado pelos latifundiários.
E foi o que fez, com constrangimento, assim discorrendo:
— Mestre! Tomo a liberdade, nesta noite que melhor poderia ser aproveitada por irmãos mais conscientes da verdade, de perguntar ao Senhor qual o papel da Igualdade no seio da comunidade humana e, por assim dizer, no nosso meio, tendo a Tua presença como se fosse o próprio Deus.
Abaixa a cabeça e espera escutar a verdade.
Olha várias vezes para Pedro, sorridente, e o discípulo da fé aprova seu gesto e senta-se tranquilo.
Jesus, com a ternura peculiar, responde, compreensivo:
— André, meu filho!
Sendo Deus todo amor e justiça, não poderíamos acreditar em desigualdade no mundo e no grande rebanho do seu coração.
Contudo, assim como tu não és capaz de encontrar uma folha igualzinha à outra, na imensidão da floresta, nem árvores, nem animais, nem insectos, também não encontraste nunca um rosto, chorando, sorrindo ou em estado normal, igual ao outro na sua estrutura física.
E no carácter, na disposição do bem?
No fundo, todos somos feitos iguais, como, certamente, as coisas que nos cercam.
Porém, cada um de nós e cada coisa se encontra como expressa no sonho de Jacó, em forma de escada:
cada um e cada coisa vive em um degrau da vida, expressando o mundo em que vive.
Jesus faz uma pausa, esperando a assimilação dos companheiros, com serenidade.
André procurava gravar tudo o que ouvira, mas pouco entendia das comparações do Mestre.
Olhava muito para o irmão, que era mais avançado no entendimento.
Este, devagarinho, muda de lugar, assentando-se junto a ele e falando ao seu ouvido:
— Não te desesperes, André.
Deixa primeiro cozinhar para que tu tenhas maior sabor na comida.
Ainda não temos capacidade de entender o Cristo com a mesma facilidade com que perguntamos sobre os nossos problemas.
Por vezes, eu tenho dificuldade até de formular as perguntas, e muito pior, entender o que Ele fala.
Não te aflijas, espera.
André sentiu-se consolado.
Jesus retoma a palavra, com sabedoria e discrição:
— André, será que quando alimentas o ideal de Igualdade, não pensas somente em seres igual aos que se encontram bem situados no mundo da riqueza e no domínio dos poderes da Terra?
Já pensaste na Igualdade daqueles que se encontram nos vales dos leprosos, sem esperança, para que possas, com a fé que tens, consolá-los?
Será que já passou pela tua cabeça seres igual, na posição em que te encontras, aos andarilhos sem destino e, às vezes, sem pátria, passando as maiores necessidades que o destino lhes impõe, para que, junto a eles, possas idealizar meios e movimentar recursos, pelo que já sabes, para aliviá-los dos seus sofrimentos?
Será que pretendes igualar-te aos velhos sem tecto e às crianças órfãs, para que, junto a eles, venhas a colocar a tua inteligência a serviço da segurança desses que sofrem o desprezo na carne e no coração?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 7:25 pm

Por certo que não.
A Igualdade que todos, ou quase todos, pretendem, meu filho, tem algo de egoísmo, tem muito de bem-estar próprio.
Todo homem revoltado na vida o é porque não conseguiu atingir o lugar que outros desfrutam nos píncaros dos poderes de César.
Seria muito mais justo e humano, se ele quisesse beneficiar os outros, desfrutando também, que ele trabalhasse em silêncio, em qualquer labor em que a dignidade fosse a meta, em que a sinceridade fosse o comando, em que o amor fosse o interesse.
Mesmo assim, não serias igual aos teus semelhantes, por existirem detalhes que não percebes, impedindo essa possibilidade.
Faiscava a expectativa nos corações dos apóstolos.
Fervia a ansiedade de todos pelo desfecho de Jesus acerca de Igualdade.
André tocara em um assunto que não sabia tão complicado.
Pedro esfregava as mãos, por saber que o Mestre colocaria o tema às claras, ao fim da conversa.
O Nazareno dá continuidade, com mansuetude:
— Quando o impulso de desigualdade ascende no coração de um homem, é para ser desigual aos pobres, aos párias, aos incultos, mesmo pertencendo a essa faixa de testemunhos.
Devemos lutar com todas as nossas forças no sentido de que todas as camadas da vida, ao se aproximarem de nós, sintam no coração que estamos nos apresentando como se fôssemos eles, em benefício deles, esquecendo posições, caso haja; esquecendo sabedoria, caso a tenhamos; esquecendo fortuna, caso desfrutemos dela.
E sendo igual por amor, pois a caridade se estende sem barreiras.
Na verdade vos digo que todos somos iguais em Deus, mas diversificamo-nos ao infinito, para que possamos fazer parte da criação, na melodia harmoniosa e universal.
E Cristo finaliza, com ênfase:
— André, procura o amor e ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo, e não queiras modificar as coisas feitas por Deus, porque, por ora, não te é dado entender.
Simão! Abraça teu irmão com entusiasmo e conversa com ele mais longamente.
Muito bem, meu amigo, pergunta, pergunta, que todos nós aprendemos com os teus problemas mais urgentes.
O colóquio estava encerrado.
Os dois irmãos saem confabulando sobre o assunto da reunião inesquecível.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 7:25 pm

11. — Respeito
Retornamos, com prazer indizível, a falar de Filipe, o apóstolo maravilhoso que, com Pedro e André, forma a trilogia fecundante, ou seiva pura oriunda de Deus e cultivada em Betsaida.
Filipe tornou-se o que, nos dias de hoje, classificam de repórter.
Vamos encontrar o discípulo de Jesus andando em Betsaida, tendo aos ombros um pequeno alforje que certamente acolhia a matulagem do dia.
As ruas, bem cedo, se mostravam movimentadas pelas notícias dos fenómenos produzidos pelo Divino Mestre.
Camelos e jumentos enchiam as encostas, à procura de capim e folhagem que os abastecessem e os refizessem das grandes marchas.
Filipe, solfejando algumas das suas canções predilectas, brinca com uma bengala improvisada, como se fosse um artista anunciando as suas mágicas.
Para em frente a uma oliveira, cuja maviosa sombra e aroma convidavam para meditação.
Mas, debaixo dela, já se encontrava, sentado e apoiado em velho bastão um ancião de quase um século de existência.
Os cabelos faziam lembrar as neves, o rosto denunciava o mau trato de sua existência e os olhos, meio apagados, eram como que despidos de todo o desejo de ver a natureza, pelo cansaço e o enfado de somente contemplar, todos os dias, a mesma coisa.
O discípulo de Jesus toca o velho com a sua destra, de mansinho, dizendo:
— A paz seja contigo, meu Senhor!
Esse, com muito custo, levanta a cabeça e responde:
— Quem sois?
Quem ousa tirar-me do descanso que, se é que existe Deus, Ele me proporcionou?
— Sou eu, meu velho, Filipe!
Um simples homem.
Em que poderei servir?
— Servir, servir, servir!
E o velho deu uma gargalhada meio forçada, desdenhando das boas intenções do companheiro de André e Pedro.
Mas a veneração que tinha pelos velhos e crianças fê-lo ouvir, com paciência, a longa história do antigo judeu.
A revolta fez o velho se esquecer da bondade alheia e desacreditar até da existência de Deus.
Filipe falara com carinho ao pé do ouvido, para que ele pudesse escutar melhor sobre o Messias, anunciado pelos antigos e novos profetas, esclarecendo que o Cristo já estava na Terra.
— E sabes onde, meu velho? Aqui!
Aqui, em Betsaida, por acréscimo de misericórdia do Criador, desse Pai de bondade em que não acreditas, por não encontrá-Lo.
Filipe, com todo o carinho, passa de leve as mãos pela cabeleira vasta do ancião e fala mais ao seu coração:
— Meu amigo, como te chamas?
O velho, meio sem graça, não nega sua identidade.
— Podes me chamar de Sultão, se queres colocar-me, ao menos pelo nome, onde nunca pude chegar.
Filipe compreendeu tratar-se de pessoa prejudicada, no passado, pela política, a quem os próprios companheiros se encarregaram de sacrificar, até que ele chegasse ao ponto onde estava.
— Meu velho Sultão!
Notando certa claridade nas enrugadas feições do homem, Filipe continuou:
— Eu estou aqui para te falar de Deus, um Deus que talvez não soubeste procurar, um Deus que não persegue nem calunia, que não ambiciona, não odeia, não rouba, não fala mal de ninguém, não despreza, não desdenha, não é egoísta nem orgulhoso!
O velho Sultão, interrompendo, diz:
— Esse Deus que pregas não existe!
E o discípulo, com redobrada paciência, responde com convicção:
— Esse Deus, meu amigo, é o que existe, eu poderei te levar, não a Ele, mas Aquele que o representa na Terra, o Messias que estou tentando te revelar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 7:26 pm

O ancião toma a falar novamente, apressado:
— Messias... Messias...
Nós estamos na época dos Messias, eles estão por toda a parte.
Só aqui, na Galileia, eu conheço centenas, a quantidade é igual à dos peixes nos rios.
Filipe, aproveitando o silêncio, termina sua argumentação, dizendo:
— Sultão, meu Senhor!
Esse de quem te quero falar é diferente desses outros, porque Ele opera prodígios nunca antes vistos por nenhum profeta:
dá vista aos cegos, levanta paralíticos, faz ouvir os surdos e devolve a vida àqueles que já consideramos mortos.
Esse de quem te falo é Nosso Senhor Jesus Cristo.
O velho Sultão levantou-se com dificuldade e saiu, apoiado no bastão, praguejando contra Deus e Cristo, e chamando Filipe de cão sem dono, que não tinha nem respeito pelos velhos que queriam descansar.
O discípulo repórter teve vontade de ir atrás e procurar outros meios de convencê-lo, mas algo na consciência lhe dizia:
“Basta, Filipe, basta!”
Mesmo assim gritou ao velho, procurando saber se ele queria alguma coisa para comer.
Este nada respondeu e ergueu em riste seu cajado.
O apóstolo baixou a cabeça e tomou outra direcção.
À noite, Filipe se encontrava com os outros discípulos, na já famosa igreja dos pescadores de Betsaida.
O Mestre, como de costume, fixa seu manso olhar em Tomé, e este, conhecendo a Linguagem de Jesus, levanta uma conversa com Deus, buscando entender Cristo.
Pedro, que estava perto de Tomé, sentindo o entusiasmo do discípulo na oração, abre devagar os olhos que cerrara por submissão ao momento, e ver o rosto do amigo banhado de lágrimas.
Tomé estava, acima de outras coisas, pedindo ao Senhor que lhe arrancasse do coração a dúvida sobre as coisas espirituais que sentia, de momento a momento.
Pedro, meio assustado, monologa:
“De onde não se espera é que sai”.
Filipe ainda não dera uma palavra naquela tarde.
Levanta-se, como se se sentisse comandado a perguntar e interroga:
— Jesus, podes nos ajudar, principalmente hoje, a entender o que deve ser o Respeito aos outros?
Senhor, encontro-me assustado, pensando no que devo fazer para entender e praticar o que chamas de amor ao próximo.
Assenta-se no banco liso dos velhos pescadores e limpa a mente, como uma bateia nas mãos do garimpeiro, em busca de pedras preciosas.
O Cristo, cintilando seu tranquilo olhar nos seus seguidores, inicia sua resposta:
— Filipe! Que a paz de Deus esteja em teu coração!
O apreço que devemos ter às pessoas e, em certo ponto, até aos animais, exige de nós muita acuidade, muito senso espiritual, cabendo dentro da máxima que sempre repetimos:
“Não fazer aos outros aquilo que não queremos que eles façam connosco”.
Coloca-te no lugar daqueles que esperam o teu respeito, que logo saberás como deves agir para com eles.
Nem sempre os conceitos da vida que abraçamos são certos para nossos semelhantes.
E importante quando atingimos determinado progresso na engenhosa arte de viver bem.
No entanto, é meio perigoso o fanatismo.
Vestir a capa de missão ou de cumprimento do dever é criar situações melindrosas, fazendo, por vezes, inimizades.
Sei que tens grande dedicação aos velhos e pelas crianças órfãs que atravessam o teu caminho.
Porém, não deixes que a piedade se exagere, para que ela não se torne em desespero ou revolta.
Procura ajudar à altura das tuas possibilidades e na medida do interesse que o necessitado te mostrar.
Sair procurando a esmo a quem socorrer ou a quem doutrinar fará com que a mágoa se instale em teu coração, podendo até enraizar-se, tornando difícil a desapropriação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 7:26 pm

O Mestre se cala, olhando para a própria túnica que refulgia em cores variadas, reflectindo no ambiente um clima de paz.
— Filipe, não esqueces o velho Sultão um só momento, achando que foste por demais exagerado com o ancião.
Poderias ter conversado sobre outros assuntos, sem levares o velho à irritação.
Com pouco espaço de tempo, ficarias sabendo da opinião dele acerca da vida espiritual.
Assim não fizeste, foste logo tocando no assunto e o teu tribunal íntimo te acusa, pedindo reparo e sugerindo que não procedas mais assim.
Jesus, dono de uma sensibilidade altamente desenvolvida, tocara mais ou menos no assunto que preocupava o discípulo e o deixara bastante deprimido.
Com habilidade, prossegue:
— Meu filho!
O acatamento às pessoas é distinção da alma nobre.
Mas saber como respeitar é inspiração da caridade integrada ao amor.
Não queiras impor, a quem quer que seja, o teu ponto de vista.
Não deves forçar as consciências, a título da vontade de Deus, pois Ele, que é o soberano, que não precisava esperar pela harmonia de tudo o que ele mesmo fez, espera o trigo crescer e prosperar, espera os olivais ficarem no ponto da colheita, espera as fases certas de recolher as uvas, espera por algum tempo a procriação das ovelhas, e espera, sorrindo, pela natureza que nos cerca e pela nossa transformação, da ignorância para a sabedoria.
E tu, quem és que não podes esperar?
Não te preocupes com a velhice do corpo, no tocante à necessidade urgente de lazer com que a alma que o anima desperte para o Criador, pois, em verdade te digo que, em muitos casos, a que está vivendo como criança é verdadeiramente mais velha e amadurecida para as coisas do espírito.
Se queres entrar nos corações alheios para levar a boa nova do reino de Deus, isso nos dá muita alegria.
Todavia, Filipe, espera que os corações abram as portas dos sentimentos.
O fruto verde dificilmente tem sabor e, acima de tudo, é nosso dever respeitar o ambiente alheio.
Espera, espera, mesmo sendo convidado, para adentrar o lar que não seja o teu.
Os assistentes regozijavam-se com os ensinamentos do Mestre.
Todos tinham um caso semelhante e alguns poucos sentiam mesmo vontade de partir para a agressão, quando alguém que eles provocavam na imposição doutrinária blasfemava contra Cristo.
E Jesus finaliza:
— Filipe! É bom que guardes isso na tua cabeça.
Ninguém se perde, todos somos filhos do mesmo Pai, criados com o mesmo amor.
Se alguém reluta e não aceita a verdade agora, o tempo será o portador dela mais tarde.
Eu acho que existe tanta lavoura à espera de colheita, que parece perda de tempo preocupar-te com plantios novos, cujos frutos se encontram verdes.
Filipe, procura mais um pouco de meditação, procura a oração que o fanatismo não perturbe e abraça a Deus, meu filho, esperando e trabalhando com fé, que esse mesmo Deus te guiará por todos os caminhos, para que sejas um homem recto, com recta justiça, com recto respeito e com recto amor.
O apóstolo tinha vontade de escrever tudo o que ouvira do Mestre, mas não conseguia.
Gravou na memória toda a mensagem, restabelecendo a tranquilidade na alma para, quando saísse dali, tivesse deferência com os outros, sabendo como proceder.
A lua despedia-se da terra, sumindo no horizonte, e as estrelas, como olhos de Deus, ficavam mais vivas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 7:26 pm

12. — Gratidão
Tiago e João, dupla de homens, dupla de discípulos, dupla que abriu e fechou o testemunho de fidelidade a Nosso Senhor Jesus Cristo.
A mulher de Zebedeu, certa feita, procura Jesus, conscientizada de que ele era verdadeiramente o Messias anunciado pelos profetas.
Com os seus dois filhos do coração, pede ao Mestre, na sua ingenuidade, que João e Tiago pudessem tomar lugar no reino que lhe pertencia, um à direita e outro à esquerda.
Jesus deu a entender que somente a Deus caberia aceita-los ou não.
No entanto, responde com lealdade à mãe que exagera no zelo pelos filhos:
— Será que eles poderão beber do cálice que eu vou beber?
Instintivamente, responderam os dois:
— Podemos!
A história mostra-nos que beberam e que o Pai Celestial concedeu, na figuração que lhe é própria, um à esquerda do Mestre, e o outro à direita, só que não foi da maneira que a mãe extremosa idealizava, mas como a vida achou mais acertado.
Tiago foi o primeiro mártir do colégio apostolar, selando com o seu sangue a fidelidade e a gratidão pelo Mestre que tanto prezava.
Este figurou pela esquerda.
E João foi o último dos doze que selou o Evangelho com uma longa vida de disciplina e de dor, derramando maior cota de amor pela humanidade, sorrindo nos caminhos difíceis, por ser fiel ao seu Senhor.
Salomé! o teu pedido foi realizado!
Zebedeu e Salomé tiveram a honra de ter dois de seus filhos libertados das amarras da ignorância, pela sapiência do Messias.
Foram chamados, aceitando, sem pensar nos abrolhos que poderiam surgir, pela transformação dos seus costumes.
Decidiram, por amor, pela causa de servirem ao bem comum, sem nada pedir para si, tendo o Cristo como meta de pureza espiritual e Deus como segurança que pulsa na eternidade.
Tiago era muito amigo de Pedro e André, principalmente no labor das pescarias, pois o peixe era o alimento mais procurado naquela região.
Era com o peixe que centenas daqueles homens sustentavam famílias inteiras.
A vida nas águas constituía uma emoção agradável para os profissionais, mormente para os que amavam a natureza.
Tiago tinha uma sensibilidade à flor da pele e era por demais agitado, carecendo, por bem dizer, de certa educação.
Ao conhecer Jesus, pela insistência de João, já ficou inseguro, achando que no encontro com um homem de tal pureza, as suas emoções se tornariam piores.
Tinha medo de um desequilíbrio mental.
Contudo, a razão reforçava o ânimo:
“Como as coisas dos céus podem ser motivo de medo?
Se esse for verdadeiramente o Messias, é justo colocar a educação e a disciplina de todas as forças da alma em primeiro plano na vida”.
Tiago estava super-emocionado, mas, constrangido, não deixava escapar nada dos seus conflitos íntimos para que os outros não percebessem, nem seus próprios pais.
João é que, de vez em quando, notava as lutas que seu irmão travava consigo mesmo; esse era um dos motivos que levavam João a conduzir seu irmão ao Divino Mestre.
Tiago segue pelas ruas de Betsaida.
Além da carga indispensável ao que sai cedo e volta à noite, brinca com os dedos com um cordão que se achava ligado a uma bolsa de couro, onde algumas moedas tilintavam.
O discípulo pensava na reunião da noite.
De vez em quando, Tiago agitava as ideias e colocava-se a si mesmo, pela visualização, já em plena madrugada, perguntando a Jesus sobre a Gratidão, virtude que sempre o fascinava e que lhe trazia um pouco de paz no coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 7:26 pm

Um homem sai correndo ao avistar Tiago, e grita:
— Tiago! Tiago! Tiago, filho de Zebedeu, espera, espera, meu filho...
O discípulo, serenamente, interrompe sua caminhada e alegremente abraça o seu velho amigo que o chamara.
Este, cansado, repete:
— Tiago! Tiago!
Aconteceu uma desgraça comigo, meu filho!
Perdi mulher e filhos na viagem que empreendi a Corinto.
Meu Deus, perdi tudo, não tenho mais nada, nem dinheiro, nem companhia.
As lágrimas fáceis molharam o ombro do pescador.
Este, passando as mãos na prematura cabeleira esbranquiçada do amigo, consola com toda a ternura o sofredor, depois oferta a bolsa com todas as moedas, para que ele possa começar a vida novamente.
E pela oportunidade que o amigo lhe dera, de ansiedade pela paz, por coisas reais na vida, fala de Jesus, suscitando um enorme interesse da parte do comerciante decadente.
Por instantes, parecia que as palavras de Tiago colavam-se na sensibilidade do seu amigo que, num arrojo de sentimentos, beija suas mãos, e fala com a voz trémula:
— Tiago! Pelo que me dizes, se for verdade, e não posso duvidar, por te conhecer, a minha mulher amada e meus filhos do coração não morreram!
Eles vivem! Que beleza!
Que grandeza! Se assim for, eu sou feliz!
Quero conhecer esse Cristo de que falas e quero segui-Lo! onde posso encontrá-Lo?
Tiago, sorridente por encontrar uma ovelha à procura do pastor, conversa com ele mais um pouco e despede-se, realizado.
Dentro do templo, onde Tiago já se instalara, tudo era paz.
Alguém ao seu lado pronunciou a prece de abertura da reunião.
Ao abrir os olhos, vê um dedo de luz indicando para ele, como se falasse:
“Pergunta, Tiago, o que quiseres, a Jesus”.
E o discípulo não se fez esperar, inquirindo o Mestre, desta forma:
— Jesus! Se me permites saber, queria que o Senhor ampliasse para o meu conceito, o que seria exactamente a Gratidão.
O Cristo, sereno e lúcido, responde, com sabedoria:
— Tiago! A Gratidão é um modo de ser das pessoas que a usam, muito importante na vida!
É saber cuidar com zelo daquilo que recebemos dos nossos semelhantes, e lembrar dos nossos benfeitores com respeito e amor.
Apesar disso, a experiência nos reclama certa vigilância, para que o reconhecimento não se transforme em subserviência, que é o adubo principal da vaidade.
O maior recife que vais encontrar na Gratidão aos outros é dentro de cada um mesmo.
As pessoas, por mais que se esforcem para serem reconhecidas, encontram alguma coisa rodando no seu coração, dizendo ser filha do egoísmo e parecendo muito com o zelo próprio.
Mas, ao tirar a capa, é a mesma vaidade querendo florescer, é a auto grandeza que não se conforma que alguém seja maior.
Não deixa de ser o orgulho procurando se expressar como o comandante da vida.
A Gratidão prescinde da humildade e jamais deixa de usar o bom senso.
Essa Gratidão é valorosa e enriquece a amizade.
É, por assim dizer, o amor que mostra, ao benevolente, que vale a pena amar.
Tudo no mundo tem uma resposta.
O reconhecimento é a resposta da prática da caridade.
Se fazes o bem constantemente e ainda não foste alvo da Gratidão, não esmoreças com isso.
Ela deve estar a caminho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 7:27 pm

Se não for pelo objecto visado pelo teu amor, será pelos meios que Deus sempre usa para nos premiar, mas sempre receberás em troca aquilo que dás.
E se queres ter um lugar de maior relevo no coração da vida, nunca deves pensar no comércio dos próprios dons espirituais.
A exigência desnorteia os valores da alma e a troca interesseira entorpece a dádiva.
Tiago escuta sensibilizado.
Tomé, que parecia meditativo, desperta, analisando o que ouviu.
Judas Iscariotes não perde uma só palavra do Mestre, encontrando dificuldade, não no entendimento e sim na prática dessa virtude, pensando:
“Então ficaremos devedores para sempre dos nossos benfeitores?
A vida não era uma troca natural de actos e coisas?
Por que esse empenho em ser reconhecido”?
Não obstante, nada falou.
Ficou remoendo suas comparações e esperou o resto.
Jesus, psicólogo incomparável da natureza humana e espiritual das criaturas, esclarece com firmeza:
— Gratidão, meus filhos, não significa compromisso com o benfeitor.
É completamente ao contrário.
Ela nos liberta da dívida, quando a consciência exige de nós alguma paga.
Quando fazeis alguma coisa mal feita, não é o arrependimento que abre as portas da reparação?
Ao receber algo de bom dos outros, é o reconhecimento que desperta em vós o amor que existe em todas as almas e que, por vezes, dorme.
O amor é a verdade e a verdade sempre liberta as criaturas das amarras da ignorância.
Não vamos ficar repetindo Gratidão em voz alta para todos os que passam a reconhecer em nós virtudes que às vezes não existem, eis a falsa Gratidão.
Ela opera no silêncio da conduta e, quando a oportunidade chega, é bom que se prove, com a naturalidade que a sinceridade expressa, que não somos petrificados, mas sim sensíveis àqueles que nos ajudam no caminho e procuram aliviar a nossa cruz.
A caridade é Deus se fazendo visível para nós por intermédio dos outros e a Gratidão é o mesmo Deus se expressando aos outros pelo que eles fizeram por nós.
E é por essas vias que o amor que temos a Deus sobre todas as coisas começa a nos fazer sentir que devemos tê-lo para com o próximo, amando-o como a nós mesmos.
O silêncio era a tónica do ambiente.
Jesus deu um pequeno descanso para as mentes em intenso trabalho de raciocínio. Em seguida, continuou:
— Sou grato a todos que vos reunis aqui comigo, por amor a Deus.
Quantos esforços são feitos pelos companheiros para não faltar aos compromissos assumidos pela consciência?
Eu sou eternamente grato e peço ao Pai que vos dê a felicidade como recompensa de tamanha dedicação.
Meus filhos, se soubésseis, na profundidade da expressão, o que é servir por servir, amar por amar, seríeis reconhecidos do fundo dos corações a Deus Todo Poderoso, por nos ter permitido trabalhar uns pelos outros.
Judas parecia mastigar alguma coisa que não estava em sua boca.
Tomé balançava a cabeça, tentando limpar a mente e colocar nela o Cristo falando sempre para ele.
Tiago, embebido nos argumentos do Mestre, na sua simplicidade divina, não pressentiu quando os seus companheiros saíam do templo com Jesus.
Foi o último que deixou a igreja, satisfeito com a vida e disposto a trabalhar, sem sentir escravidão no labor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:02 am

Voltamos a falar de Mateus, o publicano que, durante algum tempo, exerceu suas actividades em Cafarnaum, cidade que margeava o Mar da Galileia.
Ele era também chamado, como já dissemos alhures, de Levi.
Tinha muitas pretensões no mundo dos negócios.
Como cobrador de impostos do Império Romano, tornara-se independente.
No entanto, essa independência o tornara ainda mais devedor do seu próprio povo, porquanto os romanos não tiravam do tributo arrecadado alguma quantia ou fracção que correspondesse ao trabalho de seu funcionário.
Quando se tratava de país estrangeiro, era aumentado o peso da arrecadação e o aumento seria do publicano.
Eis aí o porquê do ódio que seus patrícios manifestavam aos publicanos, que se faziam amigos dos romanos, tirando o pão da boca de famintos para seus desperdícios em festas impróprias à dignidade de um país.
Também Zaqueu era um desses publicanos.
Dar um banquete a alguém, naquela época, era manifestação de honra à personagem escolhida, geralmente pessoa de alta hierarquia social e política.
No caso de Mateus e Zaqueu, ambos ofereceram banquetes a Jesus, tendo o Mestre comparecido.
O motivo era a admiração que tinham pelo Mestre, a honra de recebê-Lo em casa e, principalmente, a acusação da consciência por viverem às custas dos sofrimentos alheios.
Era, em grande parte, a força do arrependimento.
É bom notar que, no Evangelho, figure Zaqueu disposto a repor tudo aquilo que ele tinha tirado do seu próprio povo.
E o próprio Cristo disse sobre o transformado lar de Zaqueu:
“Nesta casa hoje entrou a salvação!”
O certo é que os dois publicanos, Zaqueu e Levi, depois que conheceram Jesus, distribuíam com amor os recursos que possuíam, dando a todos tudo o que podiam.
Mateus havia encontrado um império maior que o dos romanos, o Império do Reino de Deus, e um símbolo mais significativo que a águia, o do coração, que manifestava sem limites a vontade de ajudar, pelo prazer de ser útil.
Mateus já se cansara de ouvir abafadas revoltas contra os opressores romanos, de cujo sistema fazia parte.
A multiplicação dos lamentos do povo já estava torturando seus mais profundos sentimentos.
Não era isso que ele queria, na verdade.
Tanto que foi entendido pelo Divino Mestre, que o chamou, tirando-o da imposição de Roma para a liberdade, para o prazer de sentir a felicidade dos outros, dando tudo o que podia para os necessitados.
A cultura de Mateus ajudou-o muito na disseminação do Evangelho.
Era conhecedor dos costumes e o exercício de lidar com pessoas de todas as classes fez desenvolver nele o dom de falar e a disciplina de ouvir.
O publicano era escolhido, por sabedoria dos romanos, no seio do próprio povo dominado, entre os mais abastados e de família mais ilustre.
Bem, esqueçamos Mateus como publicano e vamos falar de Mateus renovado, que pergunta e ouve sobre a renovação doutrinária de Jesus.
Intrigava ao discípulo a maneira mais apropriada de ouvir os outros.
Cada pessoa era um mundo diferente, com suas ideias próprias.
Será que tínhamos a obrigação de ouvir os outros?
Não seria isso uma violência contra nós mesmos, não seria violentar o organismo, comendo um alimento cujo sabor não nos agradava?
Sempre remoía tais ideias.
Aproxima-se a noite e Mateus procura a casa doutrinária onde todos já se encontravam reunidos.
Bartolomeu, de pé, começa uma oração.
Mateus senta-se com a subtilidade que a educação exige, com a mente agitada de vontade de perguntar a Jesus acerca de suas dúvidas.
Ao seu lado uma fala amiga, de André, propõe:
— Mateus, tu foste o último a chegar, sê o primeiro a inquirir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:02 am

Como todos permaneciam em silêncio, o ex-publicano levanta-se de mansinho, olha para o Mestre que já o fitava com cordialidade, e acentua, com discrição:
— Jesus, por gentileza, responde-nos, se a hora for oportuna, qual é a melhor maneira e o modo mais adequado de ouvir as pessoas.
Como proceder, meu Senhor, diante de irmãos cuja fala não agrada, que vivem pensando que somente eles estão certos e que devemos aceitar o que eles aceitam como verdade.
Talvez eu não esteja preparado para propor esta noite o que realmente quero ouvir.
Mas é bem provável que já te inteiraste das minhas intenções.
O Nazareno, afectuoso e simples, assinala com sabedoria:
— A fala, Mateus, é, por assim dizer, um dom extraordinário que a vida nos outorgou como um bem de Deus.
O ser humano se distingue dentre os demais viventes pela harmonia da fala e o modo mais claro de comunicação.
Destarte, ele tem imenso campo para se disciplinar.
A força da conversa pode pairar em altitudes inconcebíveis para os que andam na Terra, constituindo um instrumento da alma para grandes realizações.
Podes envolver teu verbo com a força de Deus e curar enfermos, consolar os tristes e dar rumo aos perdidos, podes desfazer motins, paralisar guerras e criar ou despertar, nas pessoas, os mais louváveis ideais.
Porém, sem a educação que corresponde à lei do Pai Celestial, a fala pode dar início, igualmente, a terríveis preocupações.
Se te aprouver entrar no auta-adestramento da tua fala, se quiseres dela fazer melodias de encanto e de esperança, não deixes que falte em li o entusiasmo pelo aperfeiçoamento em tudo.
E, antes de falares alguma coisa, começa a atingir, com bastante critério, o reino da lua mente, para que dela saiam os pensamentos já com certa civilização.
A nossa boca constitui uma glória da natureza.
Fazei com que ela possa dar música aos teus pensamentos, para que estes sejam de paz e de felicidade.
Começa a fazer o bem com a palavra, para que o bem aporte a ti, obedecendo à lei do intercâmbio.
Os ouvidos vieram por consequência da fala.
Se não fossem eles, ela não existiria. Se saber falar é uma ciência difícil, ouvir exige maiores esforços.
A meditação parecia a preocupação de todos os discípulos.
Mateus, que começou o assunto, dava mostras de muita alegria.
Todavia, permanecia calado.
O Mestre deu continuação, com cordialidade:
— Mateus! A conversa girou mais sobre a fala, parecendo que estamos fugindo à tua pergunta.
No entanto, essa não é a intenção, é somente por estarem ligados os dois dons, de falar e de ouvir.
Um não pode existir sem o outro.
Tu achas imprudência para contigo mesmo ouvir e dar atenção a assuntos que não dizem respeito a teus ideais.
Na verdade, tua vontade é livre para ouvir ou falar.
No entanto, se não podes ceder alguma coisa para teus interlocutores, e quando for a tua hora de dizer?
Quem poderá te ouvir?
Existe em nós uma força de selecção daquilo que falamos e do que ouvimos dos outros.
E essa escolha haverá de funcionar permanentemente, porque sempre estamos ouvindo ou querendo falar coisas com que as boas maneiras não concordam.
Não existem somente coisas imprestáveis na fala alheia.
Observa melhor que notarás muita, mas muita coisa boa.
Com toda a educação que podes atingir, perante tua consciência e perante Deus sempre há algo a corrigir.
Certamente muitas pessoas vão ser testemunhas da tua conduta e da tua conversa, e quem sabe se não estão fazendo grande esforço para te suportarem?
Faz o mesmo, porque ninguém sobe, meu filho, sem sacrifício.
Todo tipo de embelezamento do coração e mesmo do corpo carece de labor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:03 am

Não vamos nos sentar o dia todo com um irmão desajustado para falar e ouvi-lo, crendo que essa é a vontade de Deus, que essa paciência é filha da caridade.
Notadamente que não!
Poderemos ouvi-lo, até onde o tempo não se torne um desperdício.
Todos nós sabemos e conhecemos os momentos de ouvir e de desconversar com habilidade ajudando ainda a quem fala, para que sejam refreados alguns desequilíbrios.
Poucos notaram que o Cristo havia parado de falar, dada a concentração nas palavras ouvidas, que eram levadas à razão e em seguida entregues às sensibilidades, para que pudessem, alimentar com abundância a fome que as pedia.
Mateus pensava... pensava no que tinha ouvido do Mestre antes, uma grande verdade:
“Não façais aos outros o que não quereis que os outros vos façam”.
Se não podemos viver sós, temos de respeitar os direitos dos semelhantes, e o respeito podia começar por saber ouvir, até bem entendido, os limites que a verdadeira caridade delimitar.
E neste pensar colectivo dos discípulos, desenvolvendo a extensão sem limites do raciocínio, o auditório volta a ouvir o Mestre:
— Mateus! Nós poderemos ajudar os nossos irmãos em situações difíceis, ouvindo-os.
Nós poderemos tranquilizar os desesperados, pelo ouvido.
Nós poderemos amenizar as cores dos doentes, ouvindo suas histórias.
Porém, é necessário, acima de tudo, saber ouvir, pois esta é uma das grandes ciências só dominada pelos anjos.
Os homens estão a caminho, quando não esmorecem na educação e na disciplina, permanentemente.
Saber falar, Mateus, é muito bom, mas saber ouvir é bom demais.
Desfaz-se a assembleia, toda enriquecida de conhecimentos espirituais.
Rangem os gonzos, a porta se abre e os primeiros raios de sol anunciam para os homens, nesse falar sem dizer, a hora de trabalhar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:03 am

14. — Falar
Voltemos a Judas-Tadeu-Lebeu, o discípulo misterioso, que mais parece um gigante, de qualidades exuberantes de coração.
Depois de passar certa fase de obscuridade mental, no seu esforço desumano de compreender a Jesus, abre o seu entendimento e, como por encanto, torna-se um astro, desvendando os segredos das mais intrincadas parábolas do Mestre.
Nascido na Galileia, defendia o seu torrão natal com todas as suas forças.
Conhecendo Jesus, cientificou- se de que a sua pátria era o Universo, que a Galileia era todo o mundo e Deus a luz universal, Pai de todas as coisas e de todas as criaturas.
O Cristo jamais falava em termos regionais, quando se referia à doutrina.
Para Jesus, tanto a Galileia quanto o mais longínquo ponto do infinito merecia o mesmo carinho e o mesmo respeito.
As leis se faziam portadoras do mesmo amor de Deus por toda a criação.
Tadeu passou de Galileu a cidadão universal.
O amor de Cristo o sustentava.
Estava encantado com as reuniões em Betsaida, achando aquilo o maior de todos os prémios que a vida poderia lhe oferecer, principalmente a ele, homem simples que se tornava grande em Cristo.
Também os outros discípulos apoiavam suas ideias e a fé os elevava até os cimos da vida humana, atingindo o inconcebível.
Tadeu prestava muita atenção quando Jesus estava falando.
Tinha em conta de perfeição o tom de fala do Mestre e perguntava aos seus companheiros de apostolado se eles já tinham observado os sons emitidos pelo Messias, quando falava.
Vários deles sentiam prazer em ouvir o Mestre, no entanto, não haviam atinado com a beleza da fala, nem o porquê disso.
E daí é que Tiago apresenta ideias mais avançadas sobre Jesus, dizendo:
— Tadeu! Em Jesus, o fenómeno não é somente na fala, é em tudo.
Vejamos os gestos dele, seu andar tem uma cadência que fascina ate a própria natureza, Seu olhar diz tudo o que Ele pensa, sem contudo manifestar suas ideias pela fala.
O Seu modo de ser, os seus cabelos, parecem dizer alguma coisa.
Enfim, toda a Sua presença é uma mensagem.
Daí, todos começaram a examinar o Cristo naquilo em que antes não haviam pensado, descobrindo a nova feição do Senhor como sendo o verdadeiro Messias prometido pelos céus.
Reafirmou Tadeu o que ouvira do seu companheiro, dizendo:
— Não sei se os irmãos já observaram que todos os animais entendem o Mestre e Ele, igualmente, fala e compreende suas línguas.
Isto é muito profundo para nós.
— É muita responsabilidade para simples homens do povo.
Agradeçamos a Deus por tantas dádivas — complementou João.
Judas Tadeu, depois dessa conversação com os seus irmãos em Cristo, passou a fazer exercícios com a fala a sós, usando o Lago de Genesaré como espelho.
Às primeiras arrancadas da sua voz de trovão, os pequenos peixes deslocavam-se das margens, apavorados.
Insectos e batráquios também fugiam de perto dele.
Mas o homem de Deus continuou experimentando as teclas da fala, esperando, como aluno paciente, que algum dia a nota sairia.
Tiago, que já tinha encanto com o andar dos nobres, passou a exercitar gestos e a fazer todo tipo de esforço para dominar seu fardo grosseiro, irradiando candura e leveza.
Pedro nada fez, esperando a oportunidade de falar com Jesus sobre o assunto e João já sentia muitas faculdades despontarem em seu coração, com o amor se fazendo de portador.
Gostava mais das coisas naturais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:03 am

Cada um manifestava ponto de vista diferente sobre o assunto, porém, era uma verdadeira escola de aperfeiçoamento da criatura.
Era uma força poderosa que estava se mesclando aos discípulos: aperfeiçoar para ajudar melhor, certamente com alguns cuidados para que a vaidade não se intrometesse na área de luz onde o amor seria o rei e a caridade a princesa.
Qualquer encontro dos discípulos de Jesus era motivo de muitos assuntos referentes ao Mestre e todos giravam em torno de ideias elevadas, que a compreensão e a ciência não dominavam.
E a fé se fazia presente para sustentar a esperança.
Lebeu estava com a cabeça cheia de perguntas, principalmente em torno de como falar e usar o verbo, na sua mais elevada expressão.
A igreja estava repleta de emoções nobres e admiráveis.
Um gesto de Jesus em direcção a Bartolomeu, e este dá início a uma rogativa ao Senhor do Universo, com toda a humildade.
Terminada a prece, parecia que os discípulos tinham prazer em respirar aquela atmosfera incomparável.
Tadeu depara com o manso olhar do Mestre e entende que é sua hora, expressando-se assim:
— Senhor, já ouvi a tua opinião acerca da palavra e da audição, que muito me comoveu.
Se não fosse isso, talvez não ousasse perguntar-te novamente quase sobre o mesmo assunto.
Mas como a tua sabedoria é uma fonte inesgotável, se não for ousadia, queria e ficaria muito agradecido com uma tua dissertação em que o verbo fosse novamente o tema.
Jesus iniciou a resposta:
— Tadeu! Bem sabes que as escrituras nos contam, através de agentes de Deus, como o nosso Pai Celestial fez o mundo: falando!
Fez a luz falando, e assim os animais e o homem.
E ainda os céus e os anjos.
A palavra tem um poder incalculável na formação das coisas, partindo do Todo Poderoso até nós.
É justo que purifiquemos o verbo, para que ele possa iluminar a Alma.
Mas na verdade vos digo que ele é filho de Deus sob a administração do tempo.
É no percorrer de milénios e milénios de um esforço sem fuga que a caridade vai se amoldando a palavra, no calor de todas as qualidades do amor.
E pela palavra que ficamos sabendo da existência da grande luz que mora em nós e que se expressa pela sabedoria do amor.
Chegareis em um ponto, todos vós que estais comigo, de usar os dons que começam a crescer em vossas almas e, se contrariardes a natureza, respondereis pelos impactos de forças que não conheceis ainda.
Os meios de fazer-vos crescer mais estão sendo dados dia a dia, na mesma marcha de que o tempo cuida.
Exercitar o modo pelo qual deveis falar aos outros é de carácter nobre.
Porém, resta-nos saber se esses meios não irão trazer-vos um certo rigor que o fanatismo aproveita para desmerecer os frutos do trabalho.
Os ensinos dos céus, muitas vezes, chegam ao mundo dos homens por parábolas, para que não venham a servir de fogo na boca de incautos.
O segredo, até hoje, constitui a segurança das coisas.
Já imaginastes se os homens tivessem desenvolvido qualidades a ponto de alcançar o poder de viver como os peixes dentro das águas?
Acabariam desequilibrando o ambiente aquático ou transformando os mares e rios em refúgio de malfeitores.
Por isso, esse segredo ainda perdurará muitos anos.
Já imaginastes se os homens pudessem dominar a ciência, de forma a que esta lhes oferecesse todos os tipos de frutos, com abundância que as árvores desconhecem?
O que seria do equilíbrio da alma, desprezando o trabalho cada vez mais?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:03 am

Já pensastes se os homens tivessem em suas mãos o poder de aparecer e desaparecer onde e a hora que lhes aprouvesse?
Essa chave divina é guardada somente para abrir as portas na hora em que a bondade de Deus disser: Pode.
Todos os discípulos se perdiam nas meditações.
Alguns estampavam na feição serena aquela alegria que somente o amor é capaz de irradiar.
Tadeu, o mais alegre, procurava guardar tudo no coração, começando a pensar em muitos segredos da natureza.
O Mestre, compassivo e enérgico, retoma a palavra:
— Meus filhos!
A palavra abre muitas glórias em nossa ascensão, e destampa muita luz, de sorte a iluminar os nossos caminhos, mas quando é educada.
E bom que saibais que a educação é fruto de inenarráveis séculos de disciplina.
Se começardes a conhecer alguns segredos do verbo, aplicando-os na satisfação orientada pelo egoísmo, se deixardes que a palavra seja escrava dos instintos inferiores, se não houver a vigilância evitando que a fala vos sirva como agente entorpecedor dos semelhantes, para que estes cedam à vossa usura e vos dêem o que não mereceis, no comércio, havereis de responder por esses desastres morais, materiais e espirituais.
Se ainda vos sentis fracos, é justo que não queirais ficar fortes no verbo, pois este pode tomar caminhos inconfessáveis.
Assim como não podeis pegar peixe nas águas com um só quadrado de barbante, não podeis, igualmente, ter o equilíbrio das vossas emoções somente com a educação da fala.
A rede que lançais ao mar tem centenas de quadrados firmes e unidos uns aos outros; na verdade vos digo que o mesmo haveis de fazer com os dons espirituais, todos unidos, uns amparando os outros, dando condições ao espírito de trabalhar na verdadeira paz e na consciência do exercício das leis divinas.
Jesus deixou passar alguns segundos, para que os pensamentos dos discípulos se alinhassem com a dignidade do ambiente, e tornou à sua dissertação: dissertação:
— Tadeu! Se pudesses ver o que sai da boca de um homem quando está irado, quando a maledicência é a cogitação e quando a vingança se transforma em ódio, terias muito mais cuidado no falar e no pensar.
A panela que fabrica as tuas ideias, é a tua própria cabeça que faz canalizar para os lábios o seu verbo, deve ser limpada da mesma forma como limpas a vasilha depois da comida.
Haveis de limpai a cabeça depois de pensamentos maus e impuros.
Assim como não nos sentimos bem com comida e roupa mal cheirosas, não podemos sentir alegria com a cabeça imunda de restos mentais que nos incomodam muito mais.
Não queiras compreender essa ciência de falar bem de um momento para o outro.
O Mestre de todos nós é Deus, que é o dono do tempo.
Jesus fez silêncio.
Quando os discípulos notaram que ele ia saindo pela porta, acordaram de suas meditações e deram-se a acompanhá-lo.
Recendia, de leve, um perfume encantador na igreja dos pescadores, convidando a mais um pouco de permanência.
Mas era hora de sair.
As estrelas brilhavam nos céus, mas na Terra brilhavam doze delas, em torno de um sol maior: Jesus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:04 am

15. — Pureza
Por haver dois Tiagos figurando no Colégio Apostolar do Mestre, passemos a chamar o que agora focalizamos de Tiago Menor, não por ser menor que os outros discípulos de Jesus, pois esse Tiago foi grande demais, mantendo sempre um certo equilíbrio nas horas mais difíceis do Cristianismo.
Tinha certas pretensões e alimentava algumas esperanças sob forma de ideias.
Compreendia que o homem de bem não podia participar da ignorância e que toda alma iluminada o era pela sabedoria, que transcende a todas as prerrogativas.
Para Tiago Menor, o saber não ocupa lugar; ele é dono de todos os lugares.
Tiago Menor tinha, por amor, zelo pela pureza que, no seu entender, não deixa de ser irmã da sabedoria.
E como via muitas falhas na sabedoria terrena, procurava outra melhor: os conhecimentos espirituais.
Era muito conhecedor das antigas ideias de Hermes, o homem que se acreditava três vezes sábio.
Jamais deixara de folhear algumas escrituras antigas, da índia e da China e se encantava pelo saber de Sócrates e Platão.
Diante desses conhecimentos, é que Tiago Menor entendia com maior eficiência as escrituras sagradas que Moisés compilou, armazenando em um arrojo de sabedoria a síntese de tudo o que o mundo ansiava.
Com os conhecimentos que possuía, tirava dos antigos escritos tudo o que desejava em apenas alguns arrancos filosóficos.
Esse homem, que más interpretações julgam obscuro, comporta-se como um verdadeiro sábio.
Entrega-se ao silêncio, por reconhecer que poucos o ouvem e, dentre os poucos, menos ainda o entendem.
Quem faz parte da escola do saber e ama a pureza se dá mais ao trabalho mental e selecciona muito o que fala.
É conhecedor de que, depois que as palavras saem dos lábios, o seu emissor responde pelas consequências ou respira aliviado com a alegria ou a paz que transmitiu ao falar.
Tiago nunca tomava uma resolução pelo impulso exclusivo da fé cega como na decisão de acompanhar a Jesus — sem que a sua razão participasse.
Era altamente discreto e sempre deixava fermentar a massa para assar o pão.
E foi isso que lhe deu a maior alegria na vida.
Ao analisar os feitos do Cristo, ao comparar a vida do Nazareno com os anúncios proféticos que tanto conhecia, deu-se o encaixe de duas forças que os profetas anunciaram há tantos séculos:
a vinda do Cordeiro de Deus na feição humana.
Tiago envidou esforços no trabalho para que o Evangelho fosse pregado às nações e às criaturas de todo o mundo.
O Cristo, dizia ele, era sempre o prenuncio, senão a felicidade em evidência na face da Terra.
Assistira a muitos prodígios do Mestre, que vieram confirmar o que já se encontrava plantado em seu coração e, no tribunal da própria consciência, tinha a convicção de que Aquele era verdadeiramente o Cristo que haveria de vir.
Passemos a acompanhar Tiago nas ocorrências desse dia que precede a noite de encontrar com Jesus.
Depois de uma rápida pescaria com alguns companheiros, seguida da higiene corporal, começa a perambular pelas ruas de Betsaida.
Conversando aqui e ali, abre o seu dom de gentileza como luz que atrai ou espanta os que vivem nas sombras, dependendo do estado íntimo de cada um.
Aproxima-se de sua roda uma velhinha que ficara paralítica.
Seus gritos, frutos da ânsia de ver o discípulo do Cristo fazem a massa humana abrir alas e a velha é posta aos pés do apóstolo pedindo que ele a curasse daquele mal que tanto a fazia sofrer.
Tiago se constrange, ela insiste!
Tiago calado, ela pede!
Tiago pensativo, ela implora pelo amor de Deus... que impusesse as mãos em seu corpo.
Pressionado pelo povo, Tiago cede.
Logo a velha sai correndo como se estivesse curada, a gritar:
“Vede, amigos! Isso tudo é mentira!”
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:04 am

E tirando os rotos panos da cabeça e da cintura, torna a falar:
“Eu sou a dona da estalagem de Belém.
Esses homens não adivinham nada!
Eles são iludidos por um tal de Cristo que nunca existiu e se regozijam com fábulas que somente interessam às crianças”.
Tiago, mudo e trémulo... e ela vociferando:
“Fora o mentiroso! Fora o mentiroso”!
A massa, revoltada, começa a jogar pedras e excrementos de cavalo em Tiago.
O discípulo, a passos lentos, retira-se, sentindo que suas costas eram alvo da multidão inconsciente.
Olha para o horizonte e vê que o sol já se despedia da Terra, e sente, amargurado, que dentro dele se escondia, no horizonte da sua esperança, o sol da alegria.
Instala-se a reunião na casa dos pescadores.
Pedro é convidado a orar, o que fez com simplicidade e carinho.
Terminada a prece, os discípulos notam a insistência do olhar do Mestre em direcção a Tiago Menor que, desajeitado pelo ocorrido momentos atrás, levanta-se, entendendo o pedido silencioso de Jesus, e expressa-se, melancólico:
— Mestre! Porventura podes nos falar esta noite sobre o que entendes sobre a Pureza?
E por que eu me preocupo tanto com esta virtude?
Não tenho direito de te pedir tanto, mas ficaria muito agradecido se pudesses responder-me, porque certos esforços meus parecem ficar em vão nessa conquista a que tanto almejo.
Tiago senta-se, sem conseguir desvencilhar-se da tristeza.
Cristo, compreendendo o que se passava com o discípulo, faz-se ouvir, com grandeza d’alma:
— Meu filho! Jamais penses que se perde o que já se ganhou.
Todo o teu trabalho buscando a perfeição é abençoado por Deus e os resultados ficarão contigo eternamente, crescendo com a força do progresso.
O sol desponta com toda a sua pujança divina, ilumina o mundo e depois desaparece.
Mas torna a nascer de novo, na sua missão incomparável.
Assim são os nossos dons.
De vez em quando, eles deparam com as trevas da incompreensão humana e desaparecem.
Não obstante, tornam a brilhar em obediência à lei do bom esforço.
Não turbes o coração com simples ruídos que se desfazem minutos depois.
A Pureza de que falas é a nossa meta principal: perfeição em tudo.
No entanto, exige de nós muito trabalho, muita dor e imensuráveis sacrifícios.
O preço de alcançá-la turba qualquer cálculo da razão.
Passaste por um vexame passageiro nesta tarde, por confiares somente na vigilância.
Esqueceste da oração, porque vigiar é de competência do saber, mas orar é força que movimenta a inspiração divina.
Vigilância e oração se completam no esforço de evitar novas tentações.
De qualquer maneira, o escândalo te fez lembrar que é preciso algum reparo no modo como proceder diante dos outros.
Estamos em uma marcha que não pode sofrer interrupções.
Se queres a Pureza, hás de te submeter às tuas exigências para contigo mesmo.
Os primeiros dias da criança junto ao professor que estabelece planos de ensino e se entrega durante toda a vida para o esclarecimento de jovens e crianças, seriam de brincadeiras, de ouvir contos de fadas, de sorrir nas suas ingenuidades que marcam as características infantis.
Eis que o mestre, diante de tais circunstâncias, poderá falar coisas sérias aos homenzinhos em formação.
Todavia, é hem provável que eles comecem a correr, a gritar e a sorrir da luz que esta começando a aparecer em suas vidas.
O perdão é o apanágio natural do professor, sem que dele se apodere a intolerância.
O faltoso compreende o erro e procura repará-lo e a vingança assusta e distancia cada vez mais as trevas da luz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:04 am

Tiago Menor deixa transparecer no semblante alguns raios de alegria, sentindo a sabedoria de Jesus acerca do que se passara com ele.
“O Mestre tinha razão” — pensou.
O Cristo, majestoso na sua sabedoria de falar na hora certa, descortina com elegância:
— Tiago! Todos temos, de certo modo, razão, como todos somos úteis, de certa forma.
Se não fossem os que nos atacam, os que nos apedrejam, os que nos caluniam, como experimentar o coração, que antes sorria?
Como testar a alegria da paz interior?
Como experimentar o amor ao próximo?
Eis que é necessário o escândalo, mas ai daquele que ainda é escravo dele.
Se te consideras livre pelas linhas da verdade que pretendes dominar e seguir, não dês muita atenção aos ruídos exteriores, pois eles somente espantam os que desconhecem as leis de Deus.
E continua, sincero e firme:
— Quando nós nos preocupamos em nos servir dos extremos com alguma virtude, é devido à sua escassez no reino da nossa alma, e é bom que as providências sejam tomadas, mas, escuta bem, sem exagero, para que não se torne uma imposição para nós e para os outros.
Se procuras a Pureza em todas as suas nuances, não esqueças de vigiar todas as fraquezas, de vigiar todas as ideias, a começar por manter guarda, permanentemente, sobre o que falas e fazes, porque a Pureza é a unidade de todos os dons da vida.
Certifica-te no entanto, de que muito depende de ti, do teu esforço no auto-aprimoramento.
As bênçãos de Deus, pelo tempo, conferir-te-ão esse estado de espírito como glória de um bom lutador.
Após ligeira pausa, o Mestre prossegue:
— Tiago! Não esmoreças, meu filho.
Segue avante nas tuas pesquisas e no teu impulso de ser grande, sem esquecer que, para seres maior, é de lei que deves aprender a ser também, o menor de todos.
O homem de valor é aquele que tira das decepções ensinamentos, das ofensas lições maiores e, sentindo a violência dos outros nota, com urgência, o quanto vale o amor.
Aprendamos, pois, com os métodos que a vida nos propõe.
Levantando se Jesus, todos o acompanham.
E muitos dos discípulos procuram Tiago Menor para se inteirarem do que se passara com ele na tarde daquele dia.
Tiago, já sorridente, abraça a Pedro e sai contando a cura que ele operou, sem ter operado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:04 am

16. — Aceitar
Pedro, o gigante de Betsaida, o pescador famoso do Mar da Galileia, convidado pelo Cristo para pescar almas na Galileia do mundo era homem de sensibilidade incomum, grande coração, enérgico por vezes, e manso quando seus sentimentos eram tocados, alma afinada como instrumento espiritual no qual deveriam tocar os anjos.
— Pedro! Pedro!
Tu és pedra, em quem deposito toda a minha fé!...
Alguém lhe disse certa vez, marcando com isso seu roteiro na definição de alicerce doutrinário do Cristianismo crescente.
Simão Pedro Bar Jonas foi o primeiro escolhido dentre os homens do mundo para discípulo do Divino Amigo de todas as criaturas.
Pedro gozava de grande prestígio entre os homens que pescavam no Mar da Galileia, como os de Betsaida — sua terra natal — Tiberíades, Magdala, Corazim, Cafarnaum, além de muita gente que vinha de Nazaré e de Caná, a serviço da pesca.
Essa gente não vivia somente de pesca, como poderão pensar os leitores.
Era um povo laborioso.
Nessas localidades, havia artesãos de grande habilidade no trato com madeira, barro ou pedra.
Vendiam suas peças aos comerciantes, viajantes, não sendo raro algumas delas irem parar até em Roma e Grécia.
Teciam seu próprio linho e trabalhavam os couros de cabra e carneiro.
Aproveitavam a lã em variados processos de vestimentas e enfeites.
Cultivavam o trigo em algumas regiões e eram hábeis na produção de pão, que saboreavam com mel e leite, segundo arte herdada dos amigos profetas.
Pedro já estava morando em Cafarnaum.
Ali fizera, com os demais pescadores, uma sociedade, para dela nascer, como em Betsaida, um grande rancho, onde pudessem descansar juntos, fazer reuniões e se inteirar de tudo que se tratasse sobre a pesca naquela região.
Daqueles encontros, nasceram muitas histórias.
Cada pescador contava a sua e alguns criavam fantasias, à falta de factos.
O pescador sempre teve boa imaginação, o que justifica o que se diz quando se tem dúvida de alguma notícia:
“Isso é história de pescador”.
Mas existem muitas histórias reais e bem reais.
Vejamos o que um dos pescadores mais novos da sociedade narrava, na presença de Pedro, contando o que vira no Mar da Galileia:
— Eu ia atravessando o grande lago ao romper da madrugada, a lua prateava as águas mansas e também iluminava a gente.
De vez em quando, notava-se um barulhinho aqui e ali, pois no calor da noite os peixes procuram a flor das águas.
Mas, de repente, ouvi alguns estalos no casco do barco.
Sem assustar, continuei a remar.
Comecei a fazer uns ziguezagues, provocando maior barulho nas águas para deixar de ouvir os estalos, que já começavam a me incomodar.
Ah, companheiros, os estalos aumentaram cada vez mais.
Começou a estalar em cima do barco, passou a estalar no ar.
Pensei em fazer alguma coisa, pular na água, gritar, voltar para trás, mas nada disso era o certo, o melhor era esperar...
E foi o que fiz.
Tive uma ideia rara para mim e que me deu uma certa coragem.
Sabem o que foi?
Pensar em Deus.
Já tinha ouvido falar que é a solução melhor quando a gente está com medo, e eu já estava quase doido de medo.
Ah, seu Pedro, que coisa bonita aconteceu!
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